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CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

CASO GOMES LUND E OUTROS (“GUERRILHA DO ARAGUAIA”)


VS. BRASIL
BREVE RESUMO DA CAUSA
 A Guerrilha do Araguaia foi um movimento  Os combates no Araguaia começariam em abril
armado desenvolvido pelo Partido Comunista de 1972, seis anos depois da chegada dos
do Brasil, PCdoB, na região da divisa entre os primeiros militantes do PC do B, quando o
Estados do Pará, Maranhão e Goiás (hoje Exército iniciou o ataque aos destacamentos
Tocantins). guerrilheiros.

 O movimento começou a ser organizado nos  As Forças Armadas realizaram três campanhas
anos de 1966 e 1967, com a chegada dos militares e operações de inteligência na região,
primeiros militantes do PCdoB à região do mobilizando cerca de 10 mil homens. No ano
Sudeste do Pará e proximidades, com o de 1972, foram feitos prisioneiros, mas, depois
objetivo de realizar projeto de “guerra popular disso, a ordem do comando militar era
prolongada”, inspirado na Revolução Chinesa. “eliminar” todos os envolvidos.

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RESUMO PROCEDIMENTAL PERANTE A CORTE

 Na CIDH  Na Corte
7 de agosto de 1995
26 de março de 2009
Petição
Submissão pela CIDH
6 de março de 2001
Relatório de
Admissibilidade 24 de novembro de 2010
Sentença
31 de outubro de 2008
Relatório de Mérito
Supervisão do Cumprimento
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ATORES PERANTE A CORTE

 Centro pela Justiça e o Direito  Grupo Tortura Nunca Mais do Rio


Internacional – CEJIL de Janeiro – GTNM/RJ
 Human Rights Watch/Americas  Angela Harkavy
 Comissão de Familiares de Mortos  Estado brasileiro
e Desaparecidos Políticos do  Testemunhas
Instituto de Estudos da Violência
do Estado  Peritos

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ALEGAÇÕES DO ESTADO: EXCEÇÕES PRELIMINARES

 Incompetência temporal do Tribunal


Estado: alegou a incompetência da Corte Interamericana, pois as supostas violações teriam
ocorrido antes do reconhecimento da competência contenciosa do Tribunal Internacional de Direitos
Humanos - 10 de dezembro de 1998.

Corte: alegou que o caráter contínuo ou permanente do desaparecimento forçado de pessoas foi
reconhecido reiteradamente pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos, e que ele se inicia
“com a privação da liberdade da pessoa e a subsequente falta de informação sobre seu destino”, e
permanece “até quando não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e os fatos não tenham
sido esclarecidos”.

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ALEGAÇÕES DO ESTADO: EXCEÇÕES PRELIMINARES

 Falta de Interesse Processual


Estado: Alegou falta de interesse processual, destacando o pouco tempo entre a apresentação de
relatório parcial de cumprimento das recomendações e o envio do caso à Corte pela CIDH – três dias.
Iniciativas do Estado: promulgação da Lei dos Desaparecidos Políticos do Brasil, reparações
econômicas a famílias de vítimas, publicação de livros, realização de atos de natureza simbólica e
campanhas para ajudar na localização dos desaparecidos, entre outras.
Corte: rejeitou a alegação brasileira, afirmando que as medidas adotadas pelo Brasil foram
insuficientes e sustentando que a avaliação que faz com que a Comissão decida sobre o envio de um
caso à Corte é uma atribuição que lhe é própria e autônoma e, por conseguinte, os motivos que
determinam esse envio não podem ser objeto de exceção preliminar.

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ALEGAÇÕES DO ESTADO: EXCEÇÕES PRELIMINARES

 Falta de Esgotamento dos Recursos Internos


Estado: Alegou que a Comissão “deixou de avaliar adequadamente” essa questão, tendo em vista que
uma série de processos que se encontravam em aberto, incluindo uma Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), uma ação
ordinária e uma ação civil pública, entre outros.
Regra de esgotamento dos recursos internos

Corte: manifestou expressamente que as ações levavam anos sem uma decisão definitiva e que essa
demora não podia ser considerada razoável. Com base nisso, negou a exceção preliminar interposta
pelo Brasil.
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ALEGAÇÕES DO ESTADO: EXCEÇÕES PRELIMINARES

 Regra da 4ª Instância
Estado: o Brasil fez menção à decisão do STF em relação à ADPF que tentava derrubar a Lei de Anistia
– o Supremo declarou a ação improcedente em 29 de abril de 2010. Para a defesa brasileira, a Corte
Interamericana funcionaria como “tribunal de quarta instância” se revisasse uma decisão da mais alta
Corte brasileira.

Corte: considerou que a demanda apresentada pela CIDH não pretendia revisar a sentença do
Supremo Tribunal Federal, mas que se estabelecesse que o Estado violou determinadas obrigações
internacionais dispostas em diversos preceitos da Convenção, afirmando ainda a incompatibilidade
da lei de anistia com as obrigações internacionais do Brasil contidas na Convenção Americana.
Rejeitando a exceção. 
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DIREITO RELEVANTE AO CASO

 Dever de adotar disposições de  Garantias Judiciais (art. 8º)


direito interno (art. 2º)  Liberdade de Pensamento e de
 Direito ao Reconhecimento da Expressão (art. 13)
Personalidade Jurídica (art. 3º)  Proteção Judicial (art. 25)
 Direito à Vida (art. 4º)
 Direito à Integridade Pessoal (art.
5º)  Todos os artigos são da Convenção
 Direito à Liberdade Pessoal (art. Americana sobre Direitos Humanos de
1969 (Pacto de São José da Costa Rica)
7º)
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QUESTÕES RESOLVIDAS PELA CORTE
 Obrigação de investigar os fatos, julgar e, se  Tipificação do delito de desaparecimento
for o caso, punir os responsáveis forçado
 Determinação do paradeiro das vítimas  Acesso, sistematização e publicação de
 Atenção médica e psicológica documentos em poder do Estado
 Publicação da Sentença  Criação de uma Comissão da Verdade
 Ato público de reconhecimento de  Dano material
responsabilidade internacional
 Dano imaterial
 Dia dos desaparecidos políticos no Brasil e
memorial  Custas e gastos
 Educação em direitos humanos nas Forças  Modalidade de cumprimento dos
Armadas pagamentos ordenados
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RESUMO DA DECISÃO

 Para a CIDH, o Estado brasileiro é  O Estado violou os direitos ao


responsável pelo desaparecimento forçado reconhecimento da personalidade jurídica,
das pessoas ligadas à Guerrilha do Araguaia à vida, à integridade pessoal, à liberdade
pessoal, garantias judiciais, liberdade de
e precisa garantir os direitos à justiça,
pensamento e de expressão e proteção
verdade e memória.
judicial, estabelecidos nos artigos 3º, 4º, 5º,
7º, 8º, 13 e 25, todos da CADH.
 A CIDH reconheceu assim, a existência do
desaparecimento forçado e que tal ato
 As disposições da Lei de Anistia brasileira
violou os direitos humanos em nível
que impedem a investigação e sanção de
internacional.
graves violações de direitos humanos são
incompatíveis com a CADH.
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COMENTÁRIO CRÍTICO SOBRE O CASO

 Amparados pela Lei da Anistia (Lei nº  Os acordos de paz aprovados pelas Nações Unidas
6.683/1979) nenhum militar foi julgado nunca podem prometer anistias por crimes de
genocídio, de guerra, ou de lesa-humanidade, ou
pelos crimes cometidos durante a por infrações graves dos direitos humanos.
Guerrilha do Araguaia.
 Os autores de violações não poderão beneficiar-se
 Em virtude dessa lei, o Estado não da anistia, enquanto as vítimas não tenham obtido
justiça.
investigou, processou ou sancionou
penalmente os responsáveis pelas
 O Brasil, comparado aos demais países da América
violações de direitos humanos cometidas
Latina, ainda não estabeleceu uma política de
durante o regime militar, inclusive as do direitos humanos.
presente caso.
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