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O Direito Penal Internacional e os crimes

contra a humanidade cometidos pelo


Estado ou por indivíduos com a conivência
estatal

Jorge Barrientos-Parra

Sumário
1. Introdução. 2. O caso Barrios Altos vs.
Peru. 2.1. Os fatos. 2.2. O Direito. 3. O caso Al-
monacid Arellano vs. Chile. 3.1. Os fatos. 3.2. O
Direito. 4. Conclusões.

“Son inadmisibles las disposiciones de amnis-


tía, las disposiciones de prescripción y el esta-
blecimiento de excluyentes de responsabilidad
que pretendan impedir la investigación y la
sanción de los responsables de las violaciones
graves de los derechos humanos tales como la
tortura, las ejecuciones sumarias, extralegales
o arbitrarias y las desapariciones forzadas,
todas ellas prohibidas por contravenir dere-
chos inderogables reconocidos por el Derecho
Internacional de los Derechos Humanos.”
Corte Interamericana de Derechos Humanos,
Causa Barrios Altos Serie C No 75.

1. Introdução
Um dos temas abordados no Terceiro
Programa Nacional de Direitos Humanos
– PNDH-3 – é o do direito à memória e à
verdade que todos os países1 que vivencia-
1
Sobre a violação dos Direitos Humanos no Bra-
sil, ver, entre outros: Direito... (2007); Gaspari (2002);
Brasil... (1985); CABRAL (1993). Sobre a violação
dos Direitos Humanos na Argentina, ver: Comisión
Nacional sobre la Desaparición de Personas (2006).
Jorge Barrientos-Parra é Mestre em Direto
Ver também: www.abuelas.org.ar. Sobre a violação
pela Universidade de São Paulo, Doutor pela de Direitos Humanos no Chile, ver entre outros: Co-
Université Catholique de Louvain. Leciona Direi- misión Nacional de Verdad y Reconciliación (1991);
to Constitucional no Curso de Administração Barrientos-Parra (1999); Dorfman (2003); Altamirano
Pública e Direito da Sociedade Tecnocrática no (1979); Exilio... (1993). Consultar ainda Cunha (2008);
Programa de Mestrado em Direito da Univer- Ekaiser (2003); González (2000); Verdugo; Hertz
sidade Estadual Paulista – UNESP. (1999); Ahumada (1989). Sobre o caso do Uruguai,

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ram regimes de exceção na América Latina Arellano vs. Chile3, que nos mostram como
na segunda metade do século passado ti- foram superadas a indiferença e a alienação
veram de enfrentar. Algumas das questões da sociedade diante das ações criminosas
colocadas nessa discussão são as seguintes: do Estado e depois como foram superados
pode o Estado, por seus funcionários, come- os obstáculos colocados diligentemente
ter violações dos direitos humanos e estas por este em prol da impunidade. Vejamos.
ficarem impunes em virtude da proteção
do próprio Estado? Pode o Estado negar o 2. O caso Barrios Altos vs. Peru
direito à informação às vítimas da repressão
política com base em leis de anistia? Pode 2.1. Os fatos
o Estado negar às famílias dos mortos pela Aproximadamente às 22h30 do dia
repressão o direito de dar enterro digno 3 de novembro de 1991, seis indivíduos
aos seus parentes? Pode o povo não ter re- fortemente armados adentraram o imóvel
conhecido o direito à verdade e à memória sito na rua Jirón Huanta no 840 em Barrios
sobre o acontecido entre o golpe militar de Altos na cidade de Lima, Peru. No momen-
64 e a eleição de Tancredo em 85? to da irrupção, celebrava-se uma festa para
Nesse sentido, assistimos a um movi- angariar fundos para fazer melhoramentos
mento de superação do positivismo come- no imóvel. Os criminosos chegaram ao
çado após a Segunda Guerra Mundial. Com local em dois veículos, um de marca Jeep
efeito, as inúmeras experiências de violação Cherokee e outro Mitsubishi, que portavam
dos direitos humanos praticadas com apoio sirenes e luzes policiais. Obrigaram as
estatal, mesmo depois do Holocausto, de- vítimas a estenderem-se no chão e depois
monstram que não basta a elaboração de dispararam indiscriminadamente sobre
normas jurídicas válidas de acordo com o elas por um período aproximado de dois
processo legislativo vigente no direito inter- minutos, matando 15 pessoas4 e ferindo
no. Tampouco são suficientes a organização gravemente outras quatro, uma das quais
e funcionamento formal do Poder Judiciá- ficou permanentemente incapacitada.
rio visando o controle social e a segurança Depois disso, com a mesma rapidez que
pública, ou a adequação dos atos e proce- chegaram, fugiram nos citados veículos
dimentos administrativos às formalidades com as sirenes ligadas. Os sobreviventes
exigidas nas leis e na Constituição. declararam que as detonações eram “se-
Por outro lado, a consciência ético-jurí- cas”, o que permite inferir que fizeram
dica universal, chocada pelas sistemáticas uso de silenciadores. No local do crime, a
violações aos direitos humanos em todos polícia encontrou projéteis correspondentes
os continentes, assiste comovida à fraqueza a pistolas metralhadoras.
do Estado e do Direito Positivo como fun-
damento desses direitos. 3
Sentença da Corte Interamericana de Direitos
Nesse contexto, parece-nos relevante Humanos (CIDH) de 26 de setembro de 2006.
4
Na ocasião foram assassinadas as seguintes pes-
e oportuno refletir sobre essas questões a soas: Placentina Marcela Chumbipuma Aguirre, Luiz
partir de alguns casos jurisprudenciais em- Alberto Díaz Astovilca, Octavio Benigno Huamanyau-
blemáticos no Direito Penal Internacional, a ri Nolazco, Luis Antônio León Borja, Filomeno León
saber: Barrios Altos vs. Peru2 e Almonacid León, Máximo León León, Lucio Quispe Huanaco,
Tito Ricardo Ramírez Alberto, Teobaldo Ríos Lira,
Manuel Isaías Ríos Pérez, Javier Manuel Ríos Rojas,
ver: Fernández (2006). Sobre a violação dos Direitos Alejandro Rosales Alejandro, Nelly María Rubina
Humanos no Paraguai, ver: Boccia Paz; Portillo; Ares- Arquiñigo, Odar Mender Sifuentes Nuñez e Benedicta
tivo (1992); Melinger (1994). Yanque Churo. Ficaram com graves lesões: Natividad
2
Sentença da Corte Interamericana de Direitos Condorcahuana Chicaña, Felipe León León, Tomás
Humanos (CIDH) de 14 de março de 2001. Livias Ortega e Alfonso Rodas Alvítez.

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Investigações judiciais e jornalísticas o Comandante-Geral do Exército estavam
revelaram que os envolvidos trabalhavam impedidos de prestar declarações perante
para a inteligência militar e eram membros qualquer outro órgão judicial uma vez que
do exército peruano, constituindo um a Justiça Militar estaria promovendo para-
esquadrão da morte denominado Grupo lelamente uma ação contra eles.
Colina, que levava a cabo seu próprio pro- Imediatamente após o início das inves-
grama antissubversivo. Diversas informa- tigações da Juíza Saquicuray, os tribunais
ções assinalaram que os fatos em análise militares apresentaram uma petição à Corte
realizaram-se contra presumíveis integran- Suprema reclamando competência sobre
tes do Sendero Luminoso (PCP-SL). o caso, argumentando que se tratava de
oficiais em serviço ativo.
2.2. O Direito Entretanto, antes que a mais alta Corte
Somente em abril de 1995, as autorida- peruana resolvesse esse incidente de com-
des judiciais iniciaram uma investigação petência, o Congresso sancionou uma lei
séria sobre os fatos quando a Fiscal Ana de anistia (Lei no 26.479) que beneficiava
Cecilia Magallanes, da 41a Fiscalía Provincial os militares, policiais e civis que tivessem
Penal de Lima, denunciou cinco oficiais5 do cometido violações aos direitos humanos
Exército como responsáveis pelos fatos, ou que tivessem participado nessas vio-
incluindo vários já condenados no Caso lações entre 1980 e 1995. A lei abrangia os
La Cantuta6. A denúncia foi formalizada integrantes das forças de segurança que
perante o 16o Juzgado Penal de Lima. Os mi- fossem objeto de denúncias, investigações,
litares responderam que a denúncia deveria procedimentos ou condenações e mesmo
dirigir-se a outra autoridade e assinalaram aqueles que estivessem cumprindo pena.
que o major Rivas e os suboficiais se en- Ressalte-se que o projeto de lei não foi
contravam sob a jurisdição do Conselho anunciado publicamente nem debatido.
Supremo da Justiça Militar. Por sua parte, Foi aprovado tal qual como foi apresen-
o General Julio Salazar Monroe se negou tado na madrugada do dia 14 de junho de
a responder a citação argumentando que 1995. Pasme o leitor, a lei foi sancionada e
tinha status de Ministro de Estado e con- promulgada de imediato pelo Presidente
sequentemente gozava dos privilégios que da República Alberto Fujimori, entrando
tinham os Ministros na matéria. em vigor já no dia seguinte (15 de junho
A Juíza Antonia Saquicuray do 16 o de 1995).
Juzgado Penal de Lima iniciou uma investi- De acordo com a Constituição peruana,
gação formal em 19 de abril de 1995. Muito os juízes têm o dever de não aplicar aquelas
embora essa magistrada tenha tentado leis que considerem contrárias às suas dis-
ouvir os presumíveis integrantes do “Gru- posições; dessa forma, em 16 de junho de
po Colina” que já cumpriam pena, o Alto 1995, a Juíza Antonia Saquicuray decidiu
Comando Militar a impediu. Diante disso que o artigo 1o da Lei de Anistia não era
o Consejo Supremo de Justicia Militar baixou aplicável aos processos penais pendentes
uma resolução dispondo que os acusados e na sua Vara contra os cinco membros do
Serviço de Inteligência Nacional (SIN), uma
5
Os cinco acusados foram o General de Divisão vez que a anistia violava as garantias cons-
Julio Salazar Monroe, Chefe do Serviço de Inteligência titucionais e as obrigações internacionais
Nacional (SIN); o Major Santiago Martín Rivas e os que a Convenção Americana de Direitos
suboficiais Nelson Carbajal García, Juan Sosa Saavedra Humanos impunha ao Peru. Horas depois
e Hugo Coral Goycochea.
6
Ver Corte Interamericana de Direitos Humanos,
de prolatada essa decisão, a Procuradora
Caso La Cantuta vs. Peru, sentença de 29 de novembro da República, em uma conferência de im-
(mérito, reparações e custas). prensa, declarou que a referida sentença

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constituía um erro; que o caso Barrios Altos ramericana de Direitos Humanos, que em
estava encerrado; que a Lei de Anistia tinha 7 de março de 2000 aprovou o relatório no
status de lei constitucional e que os pro- 28/00 com várias recomendações ao Peru8.
motores e juízes que não a aplicassem po- Como a resposta do Estado andino foi cla-
deriam ser processados por prevaricação. ramente insuficiente, a Comissão decidiu
Pouco depois, o Congresso peruano submeter o caso à Corte Interamericana
aprovou uma segunda lei de anistia (Lei no de Direitos Humanos pela violação pelo
26.492) destinada a interferir nas atuações Peru do art. 4o da Convenção Americana
judiciais do caso Barrios Altos. Essa nova de Direitos Humanos (direito à vida9); pela
lei estabeleceu que a anistia não era passível violação do art. 5o (direito à integridade
de revisão em sede judiciária e que era de pessoal10); pela violação dos arts. 2o (dever
aplicação obrigatória. Além disso, ampliou de adotar disposições de direito interno) e
o alcance da Lei no 26.479 concedendo uma 25 (proteção judicial) como consequência
anistia geral para todos os agentes do Esta- da promulgação e aplicação das leis de
do (policiais, militares ou civis) que eventu- anistia 26.479 e 26.492 e pelo não cumpri-
almente pudessem ser objeto de ações por mento do artigo 1.1 (obrigação de respeitar
violação dos direitos humanos cometidas os direitos) em virtude da violação dos
entre 1980 e 1995, ainda que não tivessem artigos da Convenção assinalados acima.
sido denunciadas. Claramente essa segun- Inicialmente o Estado peruano desco-
da lei de anistia teve como objetivo impedir nheceu a competência da Corte para conhe-
que os juízes se pronunciassem sobre a cer do caso. Entretanto, em 19 de fevereiro
legalidade ou aplicabilidade da primeira, de 2001 (após a assunção do presidente
invalidando dessa forma as decisões da Alejandro Toledo), o Estado reconheceu a
Juíza Antonia Saquicuray e impedindo sua responsabilidade internacional pelos
decisões similares no futuro. fatos, propôs um acordo aos peticionários
Em virtude da apelação dos acusados e declarou o seu compromisso de trabalhar
em 14 de julho de 1995, a 11a Sala Penal da para “dejar sin efecto las medidas adoptadas
Corte Superior de Justiça de Lima se pro- dentro del marco de la impunidad” e de impul-
nunciou no sentido de que a Lei de Anistia sionar “un procedimiento serio y responsable
não era antagônica com a Constituição
peruana nem aos tratados internacionais 8
A Comissão recomendou ao Estado que: A. [...]
de direitos humanos; que os juízes não deje sin efecto toda medida interna, legislativa o de otra
naturaleza, que tienda a impedir la investigación, proce-
podiam deixar de aplicar leis aprovadas
samiento y sanción de los responsables de los asesinatos y
pelo Congresso porque isso iria contra o lesiones resultantes de los hechos conocidos como operativo
princípio de separação dos poderes. Em “Barrios Altos”. Con ese fin, el Estado peruano debe dejar
função disso decidiu pelo arquivamento sin efecto las leyes de amnistías nos 26.479 y 26.492. B. [...]
definitivo do processo do caso Barrios Altos conduzca una investigación seria, imparcial y efectiva de los
hechos, con el objeto de identificar a los responsables de los
e ainda determinou que a Juíza Saquicuray asesinatos y lesiones de este caso, y continúe con el procesa-
fosse investigada pelo órgão de controle miento judicial de los señores Julio Salazar Monroe, Santiago
interno por haver interpretado as normas Martín Rivas, Nelson Carbajal García, Juan Sosa Saavedra,
incorretamente. y Hugo Coral Goycochea, y por la vía del proceso penal cor-
respondiente, se sancione a los responsables de estos graves
Diante disso, entidades peruanas7 de- delitos, de acuerdo con la ley. C. [...] proceda otorgar una
nunciaram o caso perante a Comissão Inte- reparación plena, lo que implica otorgar la correspondiente
indemnización a las cuatro víctimas que sobrevivieron y a
7
Entre outros, a Coordinadora Nacional de Derechos los familiares de las 15 víctimas muertas, por las violaciones
Humanos, a Fundación Ecuménica para el Desarrollo y la de los derechos humanos señalados en este caso.
Paz (FEDEPAZ), o Centro por la Justicia y el Derecho 9
Em prejuízo das pessoas assinaladas na nota
internacional (CEJIL) o Instituto de Defensa Legal (IDL) e 5 supra.
a Comisión de Derechos Humanos (COMISDEH). 10
Ver a relação das pessoas na nota 5 supra.

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de remoción de todos los obstáculos procesales” elas afetam direitos inderrogáveis, o mini-
colocados pelo governo Fujimori. mum universalmente reconhecido no âm-
Nesse novo contexto, a Corte declarou bito do jus cogens, definido pela Comissão
por unanimidade a admissão do reconhe- Interamericana de Direitos Humanos como
cimento da responsabilidade do Estado uma ordem superior de normas jurídicas
peruano pelos fatos acontecidos em 3 de que as leis do homem ou as nações não
novembro de 1991 e na parte resolutiva da podem infringir, necessárias para proteger
sentença estabeleceu que o Estado violou: a moral pública. Dito de outra forma, são
a) O direito à vida consagrado no artigo valores fundamentais defendidos pela co-
4o da Convenção em prejuízo das pessoas munidade internacional12.
assassinadas nesse caso. Vide a relação na Por último, quanto às reparações, es-
nota 5 supra; tabeleceu que seriam fixadas de comum
b) O direito à integridade pessoal con- acordo pelo Estado peruano, a Comissão
sagrado no artigo 5o da Convenção em Interamericana e as vítimas, seus familia-
prejuízo das pessoas gravemente feridas res ou representantes legais. O tribunal se
na ocasião. Vide a relação na nota 5 supra; reservou o direito de revisar e aprovar o
c) O direito às garantias judiciais con- acordo assinalado. Posteriormente em 22
sagrado no artigo 8o e 25 da Convenção de agosto de 2001, as partes apresentaram
em prejuízo dos familiares das pessoas o Acordo para Reparações, o qual foi ho-
assassinadas e dos gravemente feridos em mologado por sentença em 30 de novembro
virtude da promulgação e aplicação das leis daquele ano.
de anistia 26.479 e 26.492.
Declarou que as referidas leis de anis- 3. O caso Almonacid Arellano vs. Chile
tia eram incompatíveis com a Convenção
Americana de Direitos Humanos e conse- 3.1. Os fatos
quentemente careciam de efeitos jurídicos
e que o Estado peruano devia investigar Em 11 de setembro de 1973, uma junta
os fatos para identificar e punir as pessoas militar13 derrocou o governo constitucional
responsáveis pelas violações de direitos do Presidente Salvador Allende Gossens.
humanos e divulgar publicamente os re- As forças armadas e de ordem (carabineros)
sultados dessa investigação. Nas palavras assumiram primeiro o Poder Executivo
do juiz presidente Antônio A. Cançado mediante Decreto-lei no 1 e, posteriormen-
Trindade: te, o Poder Constituinte e o Legislativo
“Las llamadas autoamnistías son en (Decreto-lei no 128). A nova institucionali-
suma, una afrenta inadmisible al derecho dade se caracterizou pela soma de poderes
a la verdad y al derecho a la justicia (em- acumulados pelo general Augusto Pinochet
pezando por el propio acceso a la justicia). Ugarte, que governava e administrava,
Son ellas manifiestamente incompatibles integrava e presidia a Junta de Governo e
con las obligaciones generales – indi- era o comandante do Exército chileno. Por
sociables – de los Estados Partes en la meio do Decreto-lei no 5 de 22 de setembro
Convención Americana de respetar y de 1973, a junta militar declarou que “el
garantizar los derechos humanos por ella
protegidos, asegurando el libre y pleno
12
Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
Relatório no 62/02, Caso 12.285 Michael Domingues
ejercicio de los mismos”.11 contra Estados Unidos, 22 de outubro de 2002.
Um outro ponto importante em relação 13
Composta pelo Comandante do Exército: Au-
às denominadas leis de autoanistia é que gusto Pinochet Ugarte; pelo Comandante da Marinha:
José Toribio Merino; pelo Comandante da Força Aérea:
11
Voto concorrente do Juiz A. A. Cançado Trin- Gustavo Leigh Guzmán e pelo Comandante da polícia
dade, parágrafo 5. militar (carabineros): César Mendoza Durán.

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estado de sitio por conmoción interna que regía desses ferimentos, veio a falecer em 17 de
al país debía entenderse como ‘estado o tiempo setembro de 1973.
de guerra’”.
Desde o dia do golpe de Estado até o fim 3.2. O Direito
do governo Pinochet em 10 de março de Muito embora, desde outubro de 1973,
1990, o Chile viveu uma repressão generali- a família de Almonacid Arellano, por meio
zada contra as pessoas que o regime militar de sua viúva, Sra. Elvira Gómez Olivares,
considerava como opositores. Essa repres- tenha intentado, insistentemente, perante
são se caracterizou pela prática massiva e o Poder Judiciário a apuração dos fatos, a
sistemática de fuzilamentos e execuções su- identificação e a punição dos responsáveis,
márias, torturas (incluída a violação sexual, de acordo com os princípios da justiça, nada
principalmente contra mulheres), privação de positivo obteve até 1996. Em continua-
de liberdade à margem da lei, sequestros, ção relatamos os eventos mais destacados
desaparições e outras violações dos direitos da saga da família da vítima no âmbito do
humanos cometidas por agentes do Estado. Poder Judiciário chileno.
As vítimas dessas violações foram fun- Aos 3 de outubro de 1973, a Primeira
cionários do governo deposto, dirigentes Vara do Crime de Rancagua iniciou o
políticos de partidos de esquerda (Comu- processo no 40.184, para apurar a morte
nista, Socialista, Radical, MAPU, MIR e de Almonacid Arellano, o qual foi arqui-
Esquerda Cristã); dirigentes sindicais; de vado em 7 de novembro do mesmo ano.
organizações de estudantes e de movimen- Muito embora a Corte de Apelações tenha
tos sociais. Assinale-se ainda que muitos revogado a decisão de arquivar o feito,
foram assassinados, sofreram violências, a referida Vara do Crime de Rancagua
abusos e/ou viram atropelados os seus nunca demonstrou vontade de que queria
direitos humanos sem nunca terem milita- realmente apurar os fatos. Os autos foram
do em partido político ou participado em várias vezes arquivados. Por sua parte, a
movimentos sociais. Corte de Apelações mandava desarquivá-
Em geral, os executados extrajudicial- -los e dar prosseguimento às investigações.
mente foram pessoas que se encontravam Esse jogo durou até 4 de setembro de 1974,
detidas, isto é, não tinham a menor possi- ocasião em que a referida Corte confirmou
bilidade de defesa. Via de regra, essas exe- a decisão de primeiro grau.
cuções realizaram-se de noite e em lugares Em 18 de abril de 1978 a Junta de Gover-
afastados. Para encobrir os crimes, muitas no baixou o Decreto-lei no 2.191 concedendo
vezes os militares ou policiais simularam anistia:
fugas ou enfrentamentos. “Art. 1o – ...a todas las personas que,
Nesse contexto, aconteceu a execução en calidad de autores, cómplices o en-
de Luis Alfredo Almonacid Arellano, de 42 cubridores hayan incurrido en hechos
anos, casado, pai de três filhos, militante do delictuosos, durante la vigencia de la
Partido Comunista e dirigente do sindicato situación de Estado de Sitio, comprendi-
de professores da cidade de Rancagua (ao da entre el 11 de Septiembre de 1973 y
sul de Santiago). No dia 14 de setembro de el 10 de Marzo de 1978, siempre que no
1973, aproximadamente às 11h, policiais se encuentren actualmente sometidas a
(carabineros) invadiram sua residência e o processo o condenadas.
prenderam, porém, enquanto era conduzi- Art. 2o – Amnistíase, asimismo, a las
do ao furgão policial, sem haver qualquer personas que a la fecha de vigencia del
resistência ou reação por parte do preso, presente decreto ley se encuentren con-
foi vilmente metralhado diante da sua denadas por tribunales militares, con
família e dos vizinhos. Em consequência posterioridad al 11 de Septiembre”.

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Em 4 de novembro de 1992, a senhora caso, considerando que os réus “a la fecha
Gómez Olivares, por seu advogado, solici- de los hechos se encontraban en servicio activo,
tou a reabertura do processo no 40.184. Em estando sujetos al fuero militar”. Em 7 de ou-
virtude disso, a Primeira Vara do Crime de tubro de 1996, o Primer Juzgado del Crimen
Rancagua tomou os depoimentos dos réus negou a solicitude de inibição, suscitando
Manuel Segundo Castro Osório e de Raúl assim um incidente de competência que
Hernán Neveu Cortesi. Entretanto a referida subiu à Corte Suprema. No dia 5 de de-
Vara se declarou incompetente para conhe- zembro de 1996, o órgão máximo da justiça
cer os fatos e remeteu o processo à Justiça chilena resolveu que era competente para
Militar (Fiscalía Militar y de Carabineros de seguir conhecendo do assunto “el Segundo
San Fernando). A autora apelou dessa deci- Juzgado Militar de Santiago, al cual se deberá
são perante a Corte de Apelaciones que revo- remitir el expediente”.
gou as resoluções de incompetência do Juiz Em 14 de janeiro de 1997, os promotores
da Primeira Vara, considerando que não militares da Segunda Fiscalía de Ejército y
existia certeza suficiente sobre o status civil Carabineros solicitaram ao Segundo Juzgado
ou militar das pessoas que participaram Militar que procedesse ao encerramento to-
dos fatos. Assim mantiveram-se abertas as tal e definitivo do processo por encontrar-se
investigações, porém, apenas formalmente, extinta a responsabilidade penal de Castro
uma vez que as apurações não avançaram. Osorio e Neveu Cortesi em virtude da lei
Em 8 de fevereiro de 1995, o juiz de de anistia (Decreto Ley no 2.191).
primeiro grau declarou encerrado o caso, Em 28 de janeiro de 1997, a Segunda
mesmo estando inconclusas as investiga- Vara da Justiça Militar de Santiago aplicou
ções. Poucos dias depois, em 15 de fevereiro a referida lei de anistia argumentando,
de 1995, o mesmo juiz, aplicando a lei de entre outros, que:
anistia (Decreto-lei no 2.191), encerrou de- [...] “el derecho se inspira en dos valores
finitivamente o processo. que le son propios, a saber, la justicia y
Posteriormente, em novembro de 1995, la seguridad jurídica.
a Corte de Apelações revogou a sentença En la medida en que las normas jurídicas
de primeiro grau, determinando o pros- están basadas en estos valores el derecho
seguimento das investigações; contudo, o podrá lograr un fin último que es la paz
juízo “a quo”, novamente em 5 de junho de social.
1996, declarou encerrada a inquirição dos La amnistía es una institución que fun-
fatos. Em 28 de Agosto de 1996, a Corte dada en la seguridad jurídica, en cierta
de Apelações ordenou ao “a quo” promo- medida prescinde de la justicia, con el
ver a responsabilidade criminal contra o objeto de obtener la paz social, fin último
presumível responsável Neveu Cortesi. y esencial del derecho que [da] razón a su
Assim pela primeira vez, em 31 de agosto existência.
de 1996, mais de vinte anos após o início [...] Un Estado de Derecho como el de
do processo, o “Primer Juzgado del Crimen Chile se expresa entre otras conductas
de Rancagua” expediu mandado de prisão básicas en el império de la ley, por lo que
contra Raúl Hernán Neveu Cortesi como el mandato de la ley de amnistía no puede
autor e contra Manuel Segundo Castro quebrantarse sin alterar el orden consti-
Osório como cúmplice do homicídio de tucional y la legalidad inscrito en él.
Luis Alfredo Almonacid Arellano. El efecto de la amnistía se retrotrae al
Entretanto, em 27 de setembro de 1996, o momento mismo en que el delito fue
Segundo Juzgado Militar de Santiago solicitou cometido, por lo [que] dictada una lei de
ao Primer Juzgado del Crimen de Rancagua amnistía y establecido que el hecho quedo
que se inibisse de seguir conhecendo do comprendido dentro del período por ella

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cubierto deben sobreseerse definitivamen- dad de la ley penal, puesto que ello equi-
te los procesos pendientes. valdría a sostener que responsabilidades
[...] Con la amnistía el delito deja de serlo, penales definitivamente extinguidas
por lo que resulta absolutamente inútil en virtud de la amnistía han tenido la
[agotar] la investigación en el caso de un virtud de renacer después. Lo anterior
hecho respecto del cual está acreditado contradice la esencia de la amnistía que
que acaeció durante el período cubierto es siempre ley penal más benigna para
por la amnistía.” quienes resulten favorecidos por ella.”
Em 26 de fevereiro de 1997, a viúva Na ocasião a Ministra Morales foi voto
de Almonacid Arellano apelou dessa sen- vencido, ela considerou que o homicídio de
tença perante a Corte Marcial, que em 25 Almonacid Arellano ocorreu numa época
de março de 1998 confirmou a decisão do em que vigorava no Chile um estado de
Segundo Juzgado Militar. Entre os argumen- guerra interna e que o referido delito, con-
tos esposados, reproduziu elementos da siderando as circunstâncias e o modo em
jurisprudência da Corte Suprema de Justiça que foi cometido, é uma das ações proibi-
no sentido que: das pelo artigo 3 (comum) da Convenção
[...] “la amnistía es una causal objetiva de de Genebra de 1949, sobre a Proteção das
extinción de responsabilidad criminal y Vítimas de Conflitos Bélicos. Além disso,
sus efectos se producen de pleno derecho a Ministra sublinhou que o art. 52 da re-
a partir del momento establecido por ley, ferida Convenção estabeleceu claramente
sin que puedan ser rehusados por sus que os crimes de guerra não são passíveis
beneficiários [...], pues se trata de leyes de anistia e também são imprescritíveis.
de derecho público, que miran al interés Entretanto, vergonhosamente, o Ministério
general de la sociedad. Lo expresado Público Militar não impugnou a referida
significa, que una vez verificada la pro- sentença da Corte Marcial.
cedencia de la ley de amnistía deben los Em 9 de abril de 1998, a viúva de Al-
jueces proceder a declararla, sin que en monacid Arellano interpôs recurso contra
consecuencia tenga obligatoria aplicación essa sentença da Corte Marcial. Entretanto,
lo dispuesto en el artículo 413 [del Código a Corte Suprema de Justiça do Chile não
de Procedimiento Penal], que exige para conheceu do recurso por considerá-lo ex-
decretar el sobreseimiento definitivo que temporâneo e, no dia 11 de novembro de
esté agotada la investigación con que 1998, ordenou o arquivamento do processo.
se haya tratado de comprobar el cuerpo Nessas circunstâncias, em setembro
del delito y determinar la persona del de 1998, esgotados os recursos no âmbito
delincuente.” interno, a família da vítima apresentou de-
Quanto à aplicação das convenções in- nuncia perante a Comissão Interamericana
ternacionais de direitos humanos, a Corte de Direitos Humanos (que recebeu com o
Marcial entendeu que não eram idôneas no 12.057) por denegação de justiça. Em
para tirar eficácia à lei de anistia (Decreto novembro de 2002, a Comissão adotou o
Ley no 2.191 de 1978), uma vez que seriam Parecer no 44/02, declarando admissível a
posteriores, tendo em vista que o Pacto de petição. Quanto ao mérito, em 7 de março
San José de Costa Rica foi ratificado pelo de 2005, a Comissão aprovou o Parecer no
Chile em 21 de agosto de 1990 e o Pacto 30/05 concluindo que o Estado violou os
Internacional de Direitos Civis e Políticos direitos consagrados nos artigos 8 e 25 em
foi incorporado ao direito chileno em 29 de conexão com os arts. 1.1 e 2 da Convenção
abril de 1989. Por tudo isso, Americana de Direitos Humanos, efetu-
“no puede retrotraerse su aplicación, ando uma série de recomendações para
afectando al principio de la irretroactivi- sanar tais violações. Ante o mutismo do

38 Revista de Informação Legislativa


Estado, em 11 de julho de 2005, a Comissão masiva y sistemáticamente a sectores
submeteu o caso à Corte Interamericana de de la población civil considerados como
Direitos Humanos que, seguindo todos os opositores al régimen, mediante una
aspectos regulamentares e processuais, de- serie de graves violaciones a los derechos
cidiu por unanimidade, em 26 de setembro humanos y al derecho internacional,
de 2006, indeferir as exceções preliminares entre las que se cuentan al menos 3.197
interpostas e que efetivamente o Estado do víctimas de ejecuciones sumárias y desa-
Chile não cumpriu as obrigações derivadas pariciones forzadas, 33.221 detenidos, de
dos artigos 1.1 e 2 da Convenção Americana quienes una inmensa mayoría fue víctima
de Direitos Humanos, tendo violado os de tortura”.
direitos consagrados nos artigos 8.1 e 25 do Nesse contexto, é importante assinalar
referido tratado em prejuízo da esposa de que, de acordo com o Tribunal Penal In-
Almonacid Arellano, Sra. Elvira del Rosario ternacional ad hoc para a ex-Iugoslávia16,
Gómez Olivares, e de seus filhos, Alfredo, um único caso de violação dos direitos
Alexis e José Luis Almonacid Gómez. Sen- humanos, como no caso em tela, cometido
tenciou ainda que, ao pretender anistiar aos por um único agente, constitui crime con-
responsáveis por crimes contra a humani- tra a humanidade se o crime é cometido
dade, o Decreto-lei no 2.191 é incompatível num contexto de prática generalizada ou
com a Convenção Americana, portanto sistemática posta em vigor por um regime
carece de efeitos jurídicos. Por último, político baseado no terror e na persecução
elencou uma série de medidas tendentes contra a população civil. Esses elementos
a assegurar a execução da sentença bem estão presentes no crime cometido contra
como para servir de reparação do crime Almonacid Arellano.
em questão. Outro aspecto fundamental julgado
Sublinhe-se nesta sentença que o assas- neste caso é a impossibilidade de anistiar
sinato de Almonacid Arellano foi definido os crimes de lesa-humanidade.
como crime contra a humanidade14 porque
“formó parte de una política de Estado de repre- 4. Conclusões
sión a setores da sociedade civil, y representa
solo un ejemplo del gran conjunto de conductas Nos casos aqui analisados, chama a
ilícitas similares que se produjeron durante esa atenção a ferocidade da violência do Es-
época”15. No mesmo sentido, no parágrafo tado cometida sobre os próprios cidadãos
103, a Corte explicita: que por definição deveria proteger. Em
“Como se desprende del capítulo de segundo lugar, salta aos olhos o imenso
Hechos Probados [...] desde el 11 de lapso temporal que levaram as vítimas e/
septiembre de 1973 hasta el 10 de marzo ou seus familiares para obter justiça. No
de 1990 gobernó en Chile una dictadura caso Barrios Altos, desde a chacina até o
militar que dentro de una política de reconhecimento do Estado peruano de sua
Estado encaminada a causar miedo, atacó responsabilidade no caso e a homologação
por sentença do Acordo de Reparações,
14
Em vários parágrafos da sentença, a Corte se transcorreram mais de dez anos17. No caso
pronunciou sobre o conceito de crime contra a huma-
nidade; ver por exemplo os parágrafos 94, 95, 96, 97, 16
Sobre o assunto, ver o caso Prosecutor vs. Dusko
98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106 e 107. A noção Tadic, IT-94-1-T, Opinion and Judgement, May 7, 1997,
de crime contra a humanidade aparece pela primeira par. 649. No mesmo sentido, Prosecutor vs. Kupreskic,
vez no Estatuto do Tribunal Militar Internacional de et al, IT-95-16-T, Judgement, January 14, 2000, par. 550.
Nuremberg, anexado ao acordo de Londres de 8 de Ver também o caso Prosecutor vs. Kordic and Cerkez,
agosto de 1945. Sobre o assunto, ver Israel (2005, p. IT-95-14/2-T, Judgement, February 26, 2001, par. 178.
392-412). 17
Desde a noite da chacina, em 3 de novembro
15
Parágrafo 129 da sentença. de 1991, até o 30 de novembro de 2001, data da

Brasília a. 48 n. 192 out./dez. 2011 39


Almonacid Arellano, desde o fatídico dia formal, carecem de efeitos jurídicos e que
do seu assassinato em 14 de setembro de os respectivos Estados deviam investigar
1973 até a sentença da Corte Interamericana os fatos para identificar e punir as pessoas
de Direitos Humanos, 33 anos se passaram. responsáveis pelas violações de Direitos
Essa jurisprudência nos permite afir- Humanos e divulgar publicamente os re-
mar, em primeiro lugar, que o Direito veio sultados dessa investigação.
ao encontro do ser humano a partir da No caso Almonacid Arellano, foi deci-
reação da consciência jurídica universal dida a impossibilidade de anistiar os cri-
chocada diante dos frequentes abusos co- mes de lesa-humanidade ainda que sejam
metidos contra seres humanos muitas vezes cometidos por um único agente contra
agasalhados pela lei positiva. Em segundo uma só pessoa num contexto de prática
lugar, permite-nos afirmar também a soli- generalizada ou sistemática posta em vigor
dez teórica da tendência de superação do por um regime político baseado no terror
positivismo na busca de fundamentos para e na persecução contra a população civil.
a punição de crimes cometidos diretamen- Em função disso, as sentenças acima
te pelo Estado ou por indivíduos com a analisadas são exemplares, porque assina-
conivência deste. Como afirmou Cançado lam uma reversão da tendência à impuni-
Trindade: dade já tradicional na América Latina e o
“Con la desmistificación de los postula- valor do Direito Penal Internacional nesse
dos del positivismo voluntarista, se tornó processo no qual devemos afirmar enfatica-
evidente que sólo se puede encontrar una mente que o Estado é apenas um meio para
respuesta al problema de los fundamentos a realização do bem comum e que existe
y de la validez del derecho internacional para e em função do ser humano e não ao
general en la conciencia jurídica univer- contrário. Lembremos por derradeiro a
sal, a partir de la aserción de la idea de lição do festejado jusfilósofo italiano Felice
una justicia objetiva. Como una mani- Battaglia (1955, p. p. 184): “L’individuo ha
festación de esta última, se han afirmado dei diritti che non deve allo Stato, ma che gli
los derechos del ser humano, emanados ineriscono, espressione della sua stessa natura
directamente del derecho internacional, in quanto uscita dalle mani di Dio; diritti che
y no sometidos, por lo tanto, a las vicisi- lo Stato deve rispettare”.
tudes del derecho interno”.18
Por outro lado, constatamos a utilização
do Direito Internacional como uma barreira
Referências
contra a injustiça estatal em dois planos, um
substantivo, afirmando normas vinculantes AHUMADA, Eugenio et al. Chile, la memoria prohibida:
ou imperativas (jus cogens) com caráter las violaciones a los derechos humanos, 1973-1983.
universal, e outro processual, colocando à Texto Rodrigo Atria. Santiago de Chile: Pehuén,
disposição das vítimas mecanismos de pro- 1989. 3v.
teção supranacional (jurisdição universal). ALTAMIRANO, Carlos. Dialética de uma derrota: Chile
No âmbito dessa jurisdição, foi julgada 1970/1973. São Paulo: Brasiliense, 1979.
a incompatibilidade das leis de anistia AMBOS, K. Estudios de Derecho Penal Internacional.
com a Convenção Americana de Direitos Lima: Editorial Idemsa, 2007.
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muito embora completas do ponto de vista desarrollos post-Roma. Valencia: Tirant lo Blanch,
2002. 576 p.
homologação do Acordo de Reparações pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos. ______. La parte General del Derecho Penal Internacional:
18
Voto concorrente do Juiz A. A. Cançado Trin- bases para una elaboración dogmática. Montevideo:
dade, parágrafo 14. Konrad Adenauer: Oficina Uruguay, 2005.

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