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QUESTÃO B

a) A responsabilidade civil ou extracontratual do Estado corresponde à obrigação de reparar


danos causados a terceiros em decorrência de comportamentos comissivos ou omissivos,
materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos.
No dispositivo constitucional estão compreendidas duas regras: da Responsabilidade Objetiva e
da Responsabilidade Subjetiva do funcionário.
A responsabilidade objetiva está prevista no artigo 37, parágrafo 6º da Constituição Federal: “as
pessoas jurídicas de direito público respondem pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros”.
No entanto, a responsabilidade subjetiva está implícita na mesma norma quando dispõe “...
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”, pois não é
justo que o Estado assuma sozinho a reparação dos prejuízos.
O Estado pode causar danos a particulares por ação ou por omissão. Quando o fato
administrativo é comissivo, podem os danos ser gerados por conduta culposa ou não. A
responsabilidade objetiva do Estado se dará pela presença dos seus pressupostos – o fato
administrativo, o dano e o nexo causal.
Todavia, quando a conduta estatal for omissiva será preciso distinguir se a omissão constitui ou
não, fato gerador da responsabilidade civil do Estado. Nem toda conduta omissiva retrata um
desleixo do Estado em cumprir um dever legal; se assim for, não se configurará a
responsabilidade estatal. Somente quando o Estado se omitir diante do dever legal de impedir a
ocorrência do dano é que será responsável civilmente e obrigado a reparar os prejuízos.
A consequência dessa maneira reside em que a responsabilidade civil do Estado, no caso de
conduta omissiva, só se dará quando presentes estiverem os elementos que caracterizam a culpa.
A culpa origina-se, na espécie, do descumprimento do dever legal, atribuído ao Poder Público, de
impedir a consumação do dano. Resulta, por conseguinte, que, nas omissões estatais, a teoria da
responsabilidade objetiva não tem perfeita aplicabilidade, como ocorre nas condutas comissivas.
A responsabilidade subjetiva também ocorre quando o Estado deveria agir, mas não o faz, sendo
omisso, ou quando os danos são causados por atos de terceiros ou fenômenos da natureza.
Nessas hipóteses é necessário comprovar que houve culpa (omissão por imprudência, imperícia,
negligência) ou dolo do agente.

Há mais um dado que merece realce na exigência do elemento culpa para a responsabilização do
Estado por condutas comissivas. O artigo 927, parágrafo único do Código Civil estabelece:
“Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei”, o que indica que a responsabilidade objetiva, ou sem culpa, pressupõe menção expressa em
norma legal. Não obstante, o artigo 43, do CC que se dirige às pessoas jurídicas de direito
público, não inclui, em seu conteúdo, a conduta omissiva do Estado, ocorrendo o mesmo com o
artigo 37, parágrafo 6º, da CF.
Desse modo, é de interpretar-se que citados dispositivos se aplicam apenas a comportamentos
comissivos e que os omissivos só podem ser objeto de responsabilidade estatal se houver culpa.
Deste modo adota-se também que nos casos do estado não se apresentar tolerante ou se
apresentar omissivo quando deveria agir sobre atos de tolerância também poderá ser
responsabilizado.
b) Caso Guerrilha do Araguaia

O episódio de triste memória que remonta ao período da ditadura militar no Brasil e que ocorreu
na área geográfica do país conhecida como Bico do Papagaio, situada entre os estados do
Maranhão, Pará e do atual Estado de Tocantins (à época norte do Estado de Goiás), corresponde
a uma série de detenções ilegais e arbitrárias, prática de tortura e desaparecimento forçado de
pelo menos 70 pessoas, entre membros do Partido Comunista do Brasil e camponeses.
A demanda referente ao caso “Gomes Lund e outros vs. República Federativa do Brasil” foi
recebida perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos –doravante CIDH, em 7 de
agosto de 1995, sendo patrocinada inicialmente pela seção brasileira do Centro pela Justiça e o
Direito Internacional (CEJIL) e pelo escritório nas Américas do (HRW), tendo depois se juntado
aos peticionários outros grupos e instituições, a exemplo do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM),
do Rio de Janeiro, e da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos (CFMDP),
de São Paulo.
A CIDH expediu em 31 de outubro de 2008 o Relatório de Mérito nº 91, concluindo, dentre outras
coisas, que “o Estado brasileiro deteve arbitrariamente, torturou e desapareceu os membros do
PCdoB e os camponeses” durante a guerrilha do Araguaia, bem como em função da Lei de
Anistia, “não levou a cabo nenhuma investigação penal para julgar e sancionar os responsáveis
por estes desaparecimentos forçados”, infringindo, ademais, diversos dispositivos previstos na
Declaração Americana (artigos I, XXV, XXVI)e no Pacto de San José (artigos 1(1), 4, 8, 12, 13 e
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Também foram feitas algumas recomendações ao país no sentido de sanar com as violações até
então verificadas, sendo o caso por fim submetido à Corte IDH em 26 de março 2009, uma vez
que tais recomendações contidas no mencionado Relatório não foram atendidas
satisfatoriamente. Assim, em decisão unânime do dia 24 de novembro de 2010, a Corte
“condenou internacionalmente pela primeira vez o Estado brasileiro em caso envolvendo a
ditadura civil-militar”, delimitando preliminarmente a sua competência contenciosa somente para
os atos cometidos a partir de 10 de dezembro de 1998, adotando porém uma solução de
continuidade ou permanência em relação àquelas infrações cometidas antes, mas que persistiam
posteriormente à data em que o país passou a se submeter à Corte.
Importante salientar a esse respeito, aliás, que a utilização de cláusulas temporais como a que foi
alegada pelo Estado brasileiro tem sido prática recorrente, especialmente quando se trata de
regimes autoritários que ocorreram nas últimas décadas na América do Sul, sendo o objetivo
comum desses governos a tentativa de eximir o Estado por atos anteriores à ratificação da CADH
e ao reconhecimento da jurisdição obrigatória da Corte. Sobre o assunto, Bucci e Koch afirmam
que “tais alegações não eximem o dever de proteger assumido pelos Estados em prol dos Direitos
Humanos”. E completam dizendo:
“A Corte Interamericana tem entendido que, se a violação desses direitos se perpetuar no tempo,
o Estado poderá ser responsabilizado internacionalmente, uma vez que cabe a ele adotar normas
internas que deem efetividade aos direitos protegidos pela CADH. Isso significa que a
responsabilização do Estado será verificada pela violação aos direitos à proteção judicial e às
garantias judiciais que demonstrarão a obrigação do Estado de investigar e punir os responsáveis
pelas violações de direitos humanos perpetradas sob sua jurisdição e o direito das vítimas e de
seus familiares de ter a verdade revelada nessa investigação. “
Feitas essas considerações, destaque-se que a Corte IDH considerou que o Brasil é responsável
internacionalmente pela violação dos direitos ao reconhecimento da personalidade jurídica, à vida,
à integridade pessoal, à liberdade pessoal, às garantias judiciais, à liberdade de pensamento e de
expressão e à proteção judicial, especialmente “em razão da interpretação que foi dada à Lei de
Anistia, que impediu a investigação dos fatos e a punição dos responsáveis pelas condutas
indicadas, e da demora na tramitação da Ação Ordinária nº 82.0024682-5.
c) Art. 21. CPC: Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

Desse modo conforme o expresso no artigo acima, a justiça Britânica não possui competência
para julgar um fato ocorrido no Brasil.

d) A duplicidade de condenações pelo mesmo fato viola o princípio ne bis in idem, de modo que
deve prevalecer a condenação mais benéfica ao réu, independentemente da ordem cronológica
do trânsito em julgado. Uma condenação nesse sentido estaria violando os pressupostos contidos
no Pacto San José da Costa Rica então se tornando insubsistente.

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