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JOSÉ LUIS HERNÁNDEZ x ARGENTINA

1. EXAME DE ADMISSIBILIDADE
Os Relatórios de Admissibilidade são aprovados se uma petição atender aos requisitos de admissibilidade
estabelecidos nos artigos 46 e 47 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de acordo com o
procedimento estabelecido nos artigos 30 a 36 do Regulamento da Comissão. No caso de um Relatório de
Admissibilidade ser aprovado, a petição se torna um caso, recebe um número de caso e entra no estágio de
Mérito.

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS

Artigo 46

1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os


artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário:

a. que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo


com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;

b. que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o
presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

c. que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo


de solução internacional; e

d. que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão,


o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade
que submeter a petição.

2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão


quando:

a. não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo


legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;

b. não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos


recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c. houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

Os peticionários alegam que o Estado violou os direitos do senhor José Luis Hernández à
integridade física, liberadade, garantias judiciais, proteção da honra e da dignidade, proteção da
família, igualdade perante a lei e proteção judicial, direitos contidos nos artigos I, II, V, XVIII, XXV e
XXVI da Declaração Americana de Direitos Humanos, assim como nos artigos 5, 7, 8, 11, 17, 24 e
25, da Convenção Americanda, além da violação ao artigo 7 da Convencão Interamericana para
Prevenir e Sancionar a Tortura.
A petiação aponta que em 7 de fevereiro de 1989 o Senhor José Luis Hernández foi detido
na Provincia de Buenos Aires por tentativa de roubo qualificado. Ficou preso por 1 ano e 6 meses em
condições inadequadas, local onde contraiu a doença meningite e nunca foi assistido devidamente, o
que ocasionou a piora do estado de saúde e danos permanentes, tais como perda da visão de um
olho, incapacidade parcial e permanente do membro superior esquerdo e perda da memória. Em
liberdade, o senhor Hernández demandou do Estado reparação, mas a ação foi rejeitada por estar
prescrita. Alega que a proteção judicial que teria direito foi negada.
O Estado, por sua vez, sustenta que o senhor Hernández foi hospitalizado em diversas
ocasiões e recebeu atenção médica. Alega que os tribunais indeferiram a demanda por ter excedido
o prazo estabelecido pela legislação interna para sua interposição e que a pretensão do autor e que a
Comissão revise resoluões internas que foram adversas à pretenção da vítima. Por isso o Estado
sustenta que o caso deve ser inadmitido.
Diante dos argumentos e provas apresentados a Comissão conclui que:
- É compentente para decidir sobre a reclamação apresentada e que a petição está
admitida à luz do disposto no artigo 46 da Conveção Americana, nos termos dos
artigos 5 (integridade), 7 (liberdade), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteções judiciais)
da Conveção Americana, mas não quanto aos artigos 11, 17 e 24 da mesma;
Também admite quanto ao artigo 7 da Convenção Interamericana para prevenir e
Sancionar a tortura;
- En consequência, a Comissão notificará as partes, continuará a análise de mérito
relativa às supostas violações da Convenção Americana e publicará o presente
informe de admissibilidade.

2. RELATÓRIO DE MÉRITO
Na etapa de mérito, a CIDH decide se houve ou não violações de direitos humanos no caso analisado. O
procedimento da fase de mérito é regulado nos artigos 48 e 50 da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos e nos artigos 37, 38, 39, 43 e 44 do Regulamento da Comissão. O estágio de mérito culmina com a
aprovação de um "relatório de mérito". Se o relatório de mérito concluir que os fatos do caso constituem
violações dos direitos humanos, também inclui recomendações ao Estado. Os relatórios de mérito aprovados
não são publicados imediatamente. Quando um relatório sobre o mérito é aprovado em conformidade com o
artigo 50 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ele é confidencial e a Comissão o notifica apenas
às partes (Estado e peticionário).

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS

Artigo 48

1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação na qual se alegue violação de


qualquer dos direitos consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:

a. se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará informações


ao Governo do Estado ao qual pertença a autoridade apontada como responsável pela
violação alegada e transcreverá as partes pertinentes da petição ou comunicação. As
referidas informações devem ser enviadas dentro de um prazo razoável, fixado pela
Comissão ao considerar as circunstâncias de cada caso; [...]

Artigo 50

1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da
Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. [...]
2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será facultado
publicá-lo.
3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e
recomendações que julgar adequadas.
A - Sobre a falta de tratamento adequado constituindo tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes:

1. São obrigações essenciais do Estado frente a saúde das pessoas privadas de


libertade: i) uma atenção médica oportuna que permita um diagnóstico médico
integral; e ii) um tratamento adequado em conformidade com o princípio da
igualdade.
2. No presente caso, as autoridades se omitiram de prover atenção médica que
permitisse o diagnóstico correto e, assim, o tratamento adequado e especializado.
Em que pese a ordem judicial de atenção ao Sr. Hernández, não se realizou nem
o diagnótico nem o tratamento adequado;
3. A Comissão considera que frente aos sintomas apresentados pelo senhor
Hernández, era obrigação das autoridades adotar todas as medidas necessárias
para um diagnóstico pontual da situação de saúde naquele momento, com vistas
a promover um tratamento específico. O tratamento oferecido al senor Hernández
não cumpriu com os padrões internacionais considerando o princípio da igualdade,
uma vez que o fato de estar recluso em um centro penitenciário foi um obstáculo
para que recebesse o referido tratamento. Como afirmado pelos peticionários e
não contestado pelo Estado, a médica do Hospital San Martín manifestou “se
atendido corretamente, o senhor Hernandez não haveria padecido de sequelas”.
4. A Comissão conclui que o Estado Argentino não cumpriu com sua
obrigação de efetuar um diagnótico tempestivo de maneira a oferecer
um tratamento especializado que evitaria as graves sequelas. Além do
mais, além do diagnóstico tardio o tratamento não foi adequado como princípio da
igualdade.
5. A Comissão reitera que o Estado deve cumprir com suas obrigações na posição de
garante dos direitos das pessoas privadas de liberdade. Nete caso existe uma
omissão absoluta da Argentina quanto à atenção médica, diagnóstica e
tratamento do senhor Hernández enquanto permaneceu sob a sua custódia.
6. Pelas razões expostas, considera o Etado Argenino responsável pelas
violações do direito a integridade pessoal do senhor Hernández, e a não
ser submetido a tratamentos cruéis, desumanos e degradantes.
B - Sobre o acceso a um recurso efetivo enquanto a suposta vítima se econtrava
detida:

1. A Comissão reitera que o Estado tem função de garante de direitos das pessoas
privadas de liberade, em particular, por meio do juiz da causa que estava
obrigada o oferecer proteção judicial em relação às violações declaradas
anteriormente.
2. O papel do juiz da causa se limitou a ordenar atenção médica quando a mãe
denunciou suas doenças sem checar a realização do tratamento correspondente.
Aém disso, após denúncia das forte dores da vítima, o juiz demorou semanas
para ordenar atenção médica especializada. O juiz tinha conhecimento da piora do
quadro, mas não deu uma resposta oportuna e efetiva.

C - Direito a liberdade e presunção de inocência.


1. A detenção preventiva está limitada pelos princípios da legalidade, presunção de
inocência, necesssidade e proporcionalidade. É uma medida cautelar e não
punitiva, devendo ser aplicada apenas excepcionalmente. A regra deve ser a
liberdade do processado enquanto se resolve sua responsabilidade penal.
2. Toda medida que restrinja a liberdade por meio da prisão preventiva deve ter
motivação suficiente e individualizada, com fundamento claro e motivado,
considerando o caso concreto. Só assim se respeita a presunção de inocência.
3. Não foram anexados aos autos a decisão que decretou a prisão preventiva e por
isso a Comisssão não pode analisar a motivação. Além disso, a lei da prisão
temporária faz uma inversão do ônus da prova, sendo a prisão preventiva a regra
e a liberdade uma exceçao a ser provada pelo réu. Essa regra se mostra
incompatíveis com os padrões estabelecidos pela Comissão e pela Corte.
4. A Comissão conclui que a prisão preventiva arbitrária e o Estado Argentino violou
o direito a liberdade e a presunção de inocência.

D- Derecho a las garantías judiciales y protección judicial (relacionada à


demanda de danos civis)
1. A parte alegou que o cômputo da prescrição foi equivocado. A Comissão entende
que as decissões desfavoráveis se deram em razão de normas processuais do
Estado argentino e que isso não e mostra violador de qualquer direito
estabelecido na Convenção Americana. Assim, não é papel da Comissão
determinar como o prazo deve ser contado já que corresponde a direito interno.
2. A Comissão conclui que em relação aos danos civis, o Estado não é responsável
por violação aos arigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana.
3.

3. RECOMENDAÇÕES

A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS RECOMENDA AO


ESTADO ARGENTINO,
1. Reparar integralmente a vítima mediante compensação pecuniária que inclui o dano
material e imaterial ocasionado à vítima como consequência das violações declaradas no
presente informe;
2. Oferecer de forma gratuita, imediata e pelo tempo que seja necessário o tratamento
de saúde física ou mental da vítima sempre que solicitado;
3. Dispor de medidas para que o presente caso não se repita, assegurando que as
pessoas privadas de liberdade contem com diagnóticos de sua situação de saúde, asssim
como tratamentos e atenção especializada que requeiram.

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