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2º ESTÁGIO - PROCESSO CIVIL II

ALUNO(A): ___________________________________________

OBSERVAÇÃO: Para cada questão – decisão judicial – informe qual recurso é cabível e
liste seus requisitos intrínsecos e extrínsecos, de preenchimento necessário, para que
o mesmo seja conhecido, bem como informe quais efeitos o recurso, em tese, pode
produzir, explicando fundamentadamente. OBS.: Não vale informar Embargos de
Declaração.

1) DECISÃO JUDICIAL 01 (3,0 pontos):


Trata-se, na origem, de Ação Ordinária de Obrigação de Fazer, ajuizada em face
do município X, através da qual o requerente Francisco pleiteia que o demandado
custeie um procedimento cirúrgico no valor de 1 Milhão de reais.
O requerente juntou procuração ad judicia, documentos pessoais e
comprovante de endereço, bem como juntou parecer médico.
No mérito pediu a procedência de todos os pedidos contidos na inicial, pediu,
ainda, o deferimento da Tutela Antecipada de Urgência inaudita altera pars.
Embora existisse atestado médico, afirmando que a boa eficácia do
procedimento cirúrgico dependia que o mesmo fosse realizado no prazo máximo de 30
(trinta) dias, e, por isso, foi reconhecido pelo magistrado de primeira instância o
periculum in mora, o magistrado não vislumbrou a plausibilidade jurídica do pedido,
sob o argumento de se tratar de um município com pouco mais de 5 mil habitantes,
certamente, com um orçamento muito pequeno destinado à saúde, para o fim de
custear uma única cirurgia no valor de 1 Milhão de reais, razão porque reservou a
faculdade de apreciar o pedido de Tutela Antecipada de Urgência em momento mais
oportuno, especialmente quando houvesse manifestação nos autos da parte ré.
Foi deferido o pedido de justiça gratuita.
Insatisfeito com a decisão de primeiro grau, Francisco, então interpôs Agravo
de Instrumento com pedido de efeito ativo, a fim de que o Município X seja condenado
através de Tutela Antecipada de Urgência a custear o procedimento cirúrgico
pretendido.
Chegando o presente Agravo ao Tribunal, o mesmo foi distribuído para uma das
Câmaras competentes e por sorteio coube a este desembargador relatar o presente
recurso de Agravo de Instrumento.
Intimou-se o Município X para apresentação de contrarrazões ao Agravo de
Instrumento, o que foram apresentadas.
De ínicio, entendo que é caso que pode (e deve) ser decidido
monocraticamente na forma do art. 932 do CPC/15.
Pois bem, ao contrário do magistrado de primeira instância, vislumbro, sim, a
plausibilidade jurídica do pedido. A Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no
sentido de que o poder público tem a responsabilidade de garantir o direito à saúde,
inclusive, de adquirir os medicamentos necessários para certos tratamentos ou custear
procedimentos cirúrgicos, mesmo de alto custo, porque se encontram em jogo os
valores constitucionais e democráticos de maior relevência, como o direito à saúde e à
vida das pessoas (STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ).
Ademais, a responsabilidade pela garantia da saúde pública é solidária de todos
os entes da federação, de modo que pode o interessado demandar todos os entes da
federação ou mesmo qualquer deles. Então, não se sustenta o argumento utilizado
pelo município em suas contrarrazões de que não seria parte legítima e pelas
circunstâncias não é razoável exigir que o promovente inclua no pólo passivo o Estado
e a União, especialmente porque demandaria deslocar a competência para a Justiça
Federal e tomaria ainda mais tempo (STF. Plenário. RE 855178 ED/SE).
E a espera por uma decisão judicial após a instrução processual pode tornar a
demanda judicial inócua, sem qualquer utilidade. Assim, é irrazoável, pelas
circunstâncias, exigir que o demandante aguarde mais tempo, quando sua vida
encontra-se em risco.
Posto isso, dou provimento ao presente Agravo de Instrumento para o fim de
condenar o município X a custear o procedimento cirúrgico a que se refere à presente
demanda, no prazo de 10 dias, sob pena de penhora do numerário necessário, nos
termos do art. 932, inciso V, alínea “b” do CPC/15.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se com urgência!
João Pessoa, 13 de setembro de 2021.

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FULANO DE TAL
Desembargador/Relator do Tribunal de Justiça

RESPOSTA:

2) DECISÃO JUDICIAL (3,0 pontos):


Trata-se de Recurso Especial interposto por Francisco em face do acórdao
oriúndo do julgamento de Apelação, que confirmou sentença de primeiro grau, que
não reconheceu uma resposta por carta do devedor/recorrido, como suficiente para
configurar renúncia de prescrição, na forma do artigo 191 do Código Civil brasileiro.
Ou seja, tanto pela sentença do juizo de primeiro grau como também pelo
acórdão recorrido, uma carta enviada pelo devedor reconhecendo uma dívida não
possui o condão de configurar renúncia da prescrição, para o fim de admitir a cobrança
da quantia de 10 mil reais, devidos desde dezembro de 2005.
O Recurso veio acompanhado da documentação necessária e a justiça gratuita
foi deferida na oriegem.
Intimado, o recorrido apresentou suas contrarrazões no prazo legal. Em
seguida, vieram-me os autos conclusos para decisão.
Verifico de plano que o recurso foi interposto fora do prazo legal de 15 dias
úteis, previsto no CPC/15, como muito bem alerta o recorrido em suas contrarrazões.
O recorrente até argumenta que o recurso é tempestivo, porque houve feriado local, e
por isso o prazo recursal ficou prorrogado para o primeiro dia útil subsequente. Mas,
ao que se sabe, nesta capital do estado não houve nenhum feriado nos 3 meses que
antecederam a interposição do recurso e o recorrente não apresentou nenhuma prova
de feriado no município em que reside ou mesmo no município onde seu causídico
possui escritório profissional. A jurisprudência do STJ (STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no
AREsp 1539007/RJ) e também do STF (STF. 1ª Turma. RE-AgR 1.198.084) é no sentido
de ser necessária a comprovação de feriado local no ato de interposição do recurso,
para que o prazo recursal possa ser prorrogado, o que não comprovou o recorrente.
Verifico, ainda, que o acórdão recorrido está em conformidade com
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, exarado no regime de julgamento de
recursos repetitivos.
Posto isso, NEGO SEGUIMENTO ao Recurso Especial interposto.
João Pessoa-Pb, 13 de setembro de 2021.

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FULANO DE TAL
Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça

3) DECISÃO JUDICIAL (4,0 pontos):


Trata-se de Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais ajuizada por
Emanuela em face do Estado Nacional do Peru.
Emanuela é brasileira, residente e domiciliada no Brasil e alega que em uma
viagem de turismo realizada no ano de 2014 sofreu violência física e moral praticada
por agentes policiais peruanos. Afirma que ao sair de um restaurante da capital do
país, Lima, acompanhada de duas amigas, foi abordada na rua por 6 policiais peruanos,
que do absolutamente nada passaram a proferir insultos, xingamentos, socos e
pontapés, que resultaram em lesões graves, fraturas do maxilar e do braço, além do
abalo psicológico, que a requerente alega ter sofrido.
A promovente afirma que compareceu a uma delegacia de polícia no Perú, para
registrar o ocorrido, levando as duas amigas que presenciaram o ocorrido, para
servirem como testemunhas. Registrou a demanda também no consulado brasileiro
em Lima, trazendo consigo documentos, que comprovam tais registros e que se
encontram em anexo.
A promovente juntou procuração ad judicia, documentos pessoais e
comprovantes de endereços, bem como comprovante de pagamento das custas
processuais. A requerente, fez prova, ainda, do direito estrangeiro, conforme exige o
art. 376 do CPC/15, mostrando que a Constituição peruana e sua legislação
infraconstitucional responsabilizam objetivamente o Estado pelas ações e omissões de
seus agentes públicos.
Ao analisar a petição inicial e os documentos que a acompanha, verifica-se que
da data do ocorrido até o momento do ajuizamento da presente ação, passaram-se
mais de 5 anos, portanto, está prescrito o direito de ação da interessada. É pacífica a
jurisprudência do STJ de que o prazo prescricional em ações contra a Fazenda Pública é
sempre de cinco anos, conforme dispõe o Decreto 20.910/1932. Não se verificou
também qualquer causa interruptiva da prescrição.
De fato, merece o registro de que a demandante comprovou que no direito
peruano – norma infraconstitucional – o prazo prescricional para ações dessa natureza
em face do estado é de 10 (dez) anos, ocorre que no Brasil é de apenas 5 (cinco) anos,
conforme dispõe o Decreto 20.910/1932, já mencionado.
Se as demandas contra o estado brasileiro, no Brasil, prescrevem em 5 anos,
não pode esse prazo ser diferente para outros estados nacionais, sob pena de ofensa à
própria Constituição brasileira de 1988, que preza pela igualdade entre os estados
nacionais, conforme preconiza o Art. 4º, inciso V, da Carta Magna brasileira.
Ora mais, está prescrito! No Brasil, pelo menos, não há como levar adiante uma
ação dessa natureza, de modo que a mesma deve ter seu mérito resolvido de forma
improcedente, haja vista a prescrição patente. A promovente, se assim desejar, pode
deslocar-se até o Perú e ajuizar sua demanda por lá, para o fim de obter o que bem
interessar.
Prescreve o novo Código de Processo Civil, que: “O juiz também poderá julgar
liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de
decadência ou de prescrição” (CPC/15, Art. 332, § 1º).
Posto isso, julgo POR SENTENÇA LIMINARMENTE IMPROCEDENTES os pedidos
formulados pela autora; e assim o faço com resolução de mérito nos termos do art.
487, inciso II do CPC/15.
Defiro o pedido de Justiça Gratuita.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Sousa-Pb, 13 de setembro de 2021.

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FULANO DE TAL
Juiz Federal da X Vara Federal – da Sessão Judiciária da Paraíba.

RESPOSTA:

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