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Jusbrasil Jurisprudência
16 de agosto de 2016
EMENTA
EXTRAORDINÁRIAS.
constitucionalidade duvidosa.
RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes
ALEXANDER FERREIRA, como recorrente, e TRANSPORTADORA GALMACCI
LTDA ME, como recorrida.
O autor, em suas razões (id. cca3f70), pretende a reforma do julgado quanto às horas
extraordinárias.
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É o relatório.
ADMISSIBILIDADE
MÉRITO
HORAS EXTRAORDINÁRIAS
):
"A petição inicial indica como jornada de trabalho das 07h às 23h, de segunda a
domingo, inclusive feriados, com quarenta minutos de intervalo para o almoço, sem
nenhuma folga semanal durante todo o período do contrato de trabalho. Afirma ainda
que realizava viagens por 4 dias durante cada semana, dirigindo de 07h às 13h e depois
de 13:40h às 24h, perfazendo apenas um intervalo de 40 minutos durante toda a
jornada declarada. Pleiteia ainda a não concessão do intervalo de 30 minutos a cada 4
horas dirigindo, bem como horas extras decorrentes dos intervalos intrajornada e
interjornada não gozados na sua plenitude. No que tange os domingos, feriados e
repousos semanais remunerados, requer o pagamento em dobro de todos eles durante o
pacto laboral. Em depoimento pessoal, o autor confirmou em parte os horários
narrados na Exordial, com o aumento da jornada durante as viagens: 'Que não possuía
nenhuma folga mensal e trabalhava de domingo a domingo; que sempre foi assim ao
longo do contrato; que laborava das 6h30 às 24h00 quando estava viajando e
das07h00 às 23h00 quando fazia entregas no Município do Rio; que nunca
tirou férias; que usufruía intervalo de quarenta minutos para almoço; que fazia entregas
tanto internamente no rio de janeiro como em outros Estados; que não tinha que
registrar o horário de trabalho (...)' Ata de folha 70. Sem adentrar ao ônus da prova, de
plano verifico que a jornada de trabalho indicada é absurdamente prolongada e foge
completamente aos limites da razoabilidade, na medida que não é crível o ser humano
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suportar os horários aventados pelo autor. Assim foi informado pelo autor em ata de fl.
70: 'que o autor ia trabalhar de ônibus; que o autor saía de casa às 05h00 da manhã e
chegava em casa às 24h00; que ia dormir aproximadamente 01h30 da manhã e
acordava às 04h30 quando as entregas eram no Município do Rio de Janeiro; que
quando estava viajando acorda às 06h20 e ia dormir às 24h20 (...)'. Nesta toada de
labor das 7h às 23h, ou até de 6:30h às 24h, como aduz o autor em depoimento
pessoal, teria apenas entre 3h e 6h diárias para as atividades fisiológicas regulares,
como se alimentar, higienizarse, dormir, além de conviver com a família e realizar os
deslocamentos para o trabalho, para citar apenas o básico. Não me parece nem um
pouco provável uma pessoa comum conseguir realizar todos seus afazeres necessários a
uma vida normal em tão pouco espaço de tempo, inclusive considerando a completa
ausência de folgas semanais ou mensais indicadas pelo trabalhador, bem como os
exíguos intervalos para gozar. Tratase de jornada extenuante e acredito que o obreiro
não a conseguiria suportar por mais de um mês, muito menos durante todo o contrato
de trabalho. É biologicamente impossível cumprir um horário de trabalho
deste por período tão longo e sem qualquer dano à saúde. Ser humano algum
suporta excessivo horário de trabalho, sem intervalos viáveis, principalmente entre uma
jornada e outra, pois necessária a reparação da fadiga pelo sono. As regras de
experiência comum, subministradas ao que ordinariamente acontece (artigos 335 e 126,
ambos do CPC), conduzem a uma presunção ordinária, relativa de ser humanamente
impossível o cumprimento de uma jornada fixa tão extensa, todos os dias da semana e
feriados, por mais de um ano. Seria até crível supor que em dia ou outro o
autor laborasse das 7h00 às 23h00, ou até às 24h como quando em viagem,
mas presumir que essa é a jornada diária média durante todo o contrato é
impossível . Se partirmos da premissa de que essa era a jornada média, também
chegaremos à conclusão de que havia dias em que o autor laborava inclusive após às
24h00! A inverossimilhança da jornada alegada leva à improcedência dos pleitos
relativo à jornada de trabalho, englobandose as horas extras, intervalos intrajornada e
interjornada, domingos, feriados e repouso semanal remunerado. A mesma sorte, por
serem acessórios, seguem os reflexos pleiteados..."
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Pois bem.
Com efeito, o simples fato de o trabalho ser prestado fora das dependências da
empresa, por si só, não atrai a aplicação do disposto art. 62, I, da CLT. Assim, de
acordo com o entendimento firmado sobre a norma consolidada acima transcrita,
somente se enquadram na exceção ali prevista os empregados cuja atividade externa
seja absolutamente incompatível com o controle de horário de trabalho. Portanto, não
basta que o empregado exerça atividade externa para que seja inserido na exceção do
inciso I, do art. 62 da CLT. É a incompatibilidade de fixação de horário de trabalho que
define se o reclamante exercia trabalho externo para fins de percebimento, ou não, de
horas extras.
Caso seja possível o controle do horário de trabalho, seja por meio de roteiros pré
estabelecidos, da entrega de relatórios pelos trabalhadores ao término da prestação de
serviços, uso de instrumentos telemáticos e informatizados, como telefone, tablet,
computadores, pager, bip, GPS, rastreador, inclusive com o emprego de ferramentas
modernas como o uso do Skype, WhatsApp MSN, redes sociais, não pode simplesmente
o sujeito empresarial absterse de fazêlo, com o desiderato de não arcar com a
sobrejornada, em total desrespeito aos direitos fundamentais trabalhistas específicos.
Caso seja possível o controle do horário de trabalho, não pode simplesmente o sujeito
empresarial absterse de fazêlo, com o desiderato de não arcar com a sobrejornada, em
total desrespeito aos direitos fundamentais trabalhistas específicos.
Não bastasse, a testemunha Carlos confirmou que "o gerente do autor era Adriano; (...)
que Adriano fazia contato com o autor enquanto ele fazia entregas; que sabe informar
porque Adriano fazia as ligações do pátio, perto do depoente e o depoente ouvia; que
Adriano fazia contato com o autor em média dez vezes por dia independentemente do
local da entrega" (id. 64204ee Pág. 2).
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Concluo que apesar das atividades do reclamante serem externas à sede da demandada,
sua função de motorista de caminhão era total e plenamente controlável pela
empregadora, não podendo ser acolhida a tese de exclusão do regime legal de jornada.
de 50% e de 100% para domingos e feriados, estes na forma da Súmula nº 146, do TST
("O
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trabalho prestado em domingos e feriados, não compensado, deve ser pago em dobro,
sem
III Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação
introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou
reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação,
repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.
CONCLUSÃO
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Para os efeitos do § 3º do art. 832 da CLT, com a redação dada pela Lei nº
10.035/2000, declaro que todos os títulos possuem natureza salarial, à exceção das
parcelas excepcionadas no art. 28, § 9º, da Lei 8212/91.
Inverto os ônus sucumbenciais, custas de R$1.000,00, pela ré, calculadas sobre o valor
de R$50.000,00 ora arbitrado à condenação.
ACÓRDÃO
Desembargadora do Trabalho
Relatora
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