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JURIS:CV:TRS:2018:114

http://jurisprudencia.cv/ecli/JURIS:CV:TRS:2018:114

Relator Nº do Documento
Rosa Martins Vicente

Apenso Data do Acordão


15/01/2018

Data de decisão sumária Votação

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso


Público

Meio Processual Decisão


Apelação

Indicações eventuais Área Temática


laboral

Referencias Internacionais

Jurisprudência Nacional

Legislação Comunitária

Legislação Estrangeira

Descritores
contrato de trabalho; salários em atraso; prescrição de créditos do trabalhador; aplicação da lei no tempo; remissão
abdicativa;

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Sumário:
I. O Código Laboral aplica-se a contratos de trabalho iniciados/celebrados em data anterior à sua
entrada em vigor (que subsistem à data do seu início de vigência) no tocante às situações relativas
a prazos prescricionais constituídas ou iniciadas após a sua entrada em vigor.II. O Código
Laboral não se aplica às situações que aquando da sua entrada em vigor o prazo prescricional já
se tinha constituído ou iniciado o que significa dizer que o regime deste diploma não se aplica a
prazos já consumados ou iniciados no domínio do RJGRT.III. A prescrição é uma forma de extinção
de direitos de crédito, na área dos direitos das obrigações, direitos que deixam de ser judicialmente
exigíveis, passando a obrigação civil a obrigação natural.IV. Os créditos laborais são imprescritíveis
na vigência da relação de trabalho, dado que o prazo prescricional só começa a contar da data da
cessação do contrato de trabalho.

Decisão Integral:
Acordam, em conferência, no Tribunal da Relação de Sotavento: 1. Z, com os demais sinais nos
autos, intentou acção emergente de contrato de trabalho, contra a W, SARL representada pelo seu
administrador X, pedindo que se condene a Ré a pagar-lhe todos os salários devidos no valor de
4.929.840$00 acrescidos de juros à taxa de 8% desde a data em que deveriam ser pagos.Mais
pede a condenação da Ré a proceder à regularização da sua situação junto do INPS e fisco
relativamente aos anos em falta.Alega para tanto e em síntese ser portador **** e que celebrou com
a Ré um contrato de trabalho a 7.12.98 para exercer a actividade de * auferindo o salário de
72.000$00.Diz que por vir acumulando salários em atraso desde outubro de 2006 (juntou folha de
salário e caderno) rescindiu o seu contrato de trabalho em 2013.Acrescenta que relativamente aos
referidos salários não foram enviados descontos para o INPS.Afirma que na sua grande maioria
foram feitos os correspondentes descontos do IUR que, todavia, deixou de ser remetido às
Finanças a partir de 2012. 2. Regularmente citada, a ré contestou excepcionando a incompetência
material do juízo laboral para conhecer do pedido alegando que o contrato celebrado entre as
partes não é um contrato de trabalho sendo pelo contrário um contrato de mandato para exercício
de um cargo amovível.Invoca também a prescrição dos créditos do autor alegando que este
exerceu as funções de Director da ** entre Novembro de 1998 e Setembro de 2013. Realça que à
data em que o A. iniciou tais funções, as relações de trabalho subordinado eram reguladas pelo
Regime Jurídico Geral das Relações do Trabalho aprovado pelo Dec. Lei n° 62/87, de 30 de Junho
que previa no seu art. 41° que os créditos do trabalhador, emergentes do contrato do trabalho e de
sua violação prescreviam no prazo de um ano a contar da sua cessação. Afirma que com a entrada
em vigor, em Abril de 2008, do Código Laboral, esse prazo alterou-se, tendo passado a ser, de
acordo com o art. 6º desse código, de cinco anos, a contar da data da cessação do contrato de
trabalho. Esclarece que o art. 15º do Dec. Leg. n.º 5/2007, de 16 de outubro que aprovou o Código
Laboral estabelece que o regime nele estabelecido relativamente aos prazos de prescrição e
caducidade não se aplica ao conteúdo das situações constituídas ou iniciadas, por contrato de
trabalho, antes da sua entrada em vigor. Alega que na revisão do Cód. Laboral levada a cabo
através do Dec. Legislativo n.º 5/10, de 16 de junho, foi dada uma nova redacção ao art. 15º.Diz
que os alegados créditos em cobrança na presente acção reportam-se a uma situação de contrato
de trabalho constituída e iniciada antes da entrada em vigor do Cód. Laboral defendendo que
continua a reger-se, em matéria de prescrição, pelo disposto no art. 41º do DL n.º 65/87 de 30 de
junho; ou seja, pelo prazo prescricional de um ano a contar da cessação do contrato de

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trabalho.Refere que a presente acção deu entrada no juízo de trabalho em 10.11.14, depois de
estarem prescritos os créditos nela reclamados.À cautela impugna, referindo que o A. renunciou
expressamente às suas remunerações em atraso, numa altura em que já se tinha reformado pelo
INPS, não podendo agora vir dar o dito por não dito e enjeitar a responsabilidade que tem também
na situação de ruptura financeira em que se encontra a **.Conclui que conhecidas as excepções
invocadas sejam as mesmas declaradas procedentes ou a não entender-se assim, seja a acção
considerada improcedente sendo ela R. absolvida dos pedidos. 3. Na audiência de discussão e
julgamento (acta constante de fls. 94 a 98), o Mmº Juiz deu a palavra ao mandatário do A. para se
pronunciar sobre as excepções invocadas pela R. tendo o mesmo dito que “… deve-se ter em
consideração que as normas relativas às prescrições são normas de ordem pública e, enquanto
tais, essas norma caem no âmbito do n.º 2 do art. 12º do CPC, mais especificamente, são normas
relativas a alterações que não dependem do facto que dá origem à relação, sendo por conseguinte
normas de aplicação imediata. É certo que o art. 15º da lei de aprovação do CL veio limitar a
aplicação temporal das normas relativas às prescrições, mas deve-se igualmente reconhecer que o
art. 15º da lei de aprovação do CL quando interpretado nesta perspectiva não deixa de ser inválido
e inconstitucional porquanto coloca trabalhadores em igualdade de circunstâncias em situações
diversas. Por isso mesmo corre no STJ, enquanto TC um pedido de declaração de
inconstitucionalidade desta norma, pedido este que infelizmente ainda não foi decidido”.Conclui
que “seja como for, é tese do A. que a norma do art. 15º constitui várias inconstitucionalidades, daí
não poder ser aplicado a este caso”.Nessa audiência foi proferido despacho remetendo para a
sentença o conhecimento da excepção relativa à qualificação jurídica do contrato e à prescrição.
Em relação aos pedidos de regularização da situação do A. junto do INPS e Fisco julgou-se
procedente a excepção de incompetência absoluta absolvendo a R. da instância. 4. Realizada a
audiência de discussão e julgamento foi proferida sentença considerando-se que “o vínculo
mantido entre as partes é de um verdadeiro contrato de trabalho” concluindo-se pela competência
do juízo de trabalho”.Mais se conclui que “atento aos factos provados o A. acumulou salários em
atraso como peticiona, facto de resto não impugnado pela R.”.Por fim, em relação à
inconstitucionalidade suscitada decidiu-se que “tal aplicação nos termos estatuídos pelo art. 15º
supra referenciado de todo não viola o princípio da igualdade como propugna o A. … quer formal ou
materialmente não se vislumbra qualquer inconstitucionalidade pois o legislador quis diferenciar
situações deveras diferentes”. Conclui que não há como acolher a tese do A. da
inconstitucionalidade do art. 15º em referência.Finalmente, julgou procedente por provada a
invocada prescrição de créditos absolvendo-se a R. do pedido. 5. Inconformado, recorreu o A.
apresentando doutas alegações com as seguintes conclusões:I - As normas sobre a prescrição dos
créditos laborais são normas sobre o conteúdo das relações jurídicas. II - Fundando-se tais normas
no interesse na adaptação, trata-se de normas de ordem pública e, como tal, a sua alteração
abstrai dos factos que dão origem a essa mesma relação. III - A alteração legislativa que se funda
no interesse na ?adaptação é de aplicação imediata! IV - O art. 12° do CC é uma norma
materialmente constitucional. Como tal, a sua inobservância equivale a incumprimento da
Constituição. V - O art°. 15° da Lei de aprovação do Código laboral quando interpretado no sentido
de que estabelece regimes diferenciados de prescrição de créditos laborais para diferentes
categorias de trabalhadores em razão do facto que dá origem a essa mesma relação - o contrato
de trabalho - viola o princípio da igualdade e de proteção da confiança. VI - Como tal a norma
aplicável, no caso dos autos, é o art. 6° do CL que estabelece um prazo de prescrição dos créditos
do recorrente em 5 anos. 6. A ré apresentou contra-alegações, igualmente doutas – fls. 135 e 136,

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com as seguintes conclusões:a) As disposições do artigo 12.° do CC não são materialmente
constitucionais, nem de aplicação obrigatória, independentemente das circunstâncias de cada caso.
b) São do mesmo nível hierárquico que as demais disposições de uma qualquer lei ordinária, pelo
que não prevalecem sobre disposições especificas de uma lei ordinária diferente. c) Concretizando,
as disposições do artigo 12.° do CC não prevalecem sobre as disposições do artigo 15.° do
Decreto - Legislativo n.º 5/2007, com as alterações que posteriormente lhe foram introduzidas,
relativas à lei aplicável aos prazos de prescrição e caducidade das relações laboral constituídas ou
iniciadas antes da sua entrada em vigor. d) A aceitação da tese do Recorrente de
inconstitucionalidade do artigo 15.º do Código Laboral por violação do princípio da igualdade de
tratamento, garantido ao trabalhador, inviabilizaria a aplicação do próprio Código, pois ter-se-ia que
reconhecer aos trabalhadores contratados após a sua entrada em vigor o direito de invocar a
aplicação da lei antiga em tudo o que ela fosse mais favorável do que o novo regime, em nome do
mesmo princípio da igualdade do trabalhador. De entre os FACTOS considerados assentes na
decisão recorrida, para a apreciação da questão sob recurso - considerada a fundamentação da
mesma e a argumentação do recorrente - relevam os seguintes: (..) …2. A 07.12.1998 o A. e o R.
celebraram um contrato de trabalho para exercício de actividade de *;?… 6. Desde Outubro de 2006
que o A., vem acumulando atrasos no pagamento da sua contraprestação; 7. Assim em 2006 o A.,
não recebeu a sua contraprestação nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro; 8. No ano de
2007 nos meses de Janeiro a Maio e Julho a Dezembro; 9. Em 2008 e 2009 o A., não recebeu sua
contraprestação no mês de Dezembro; 10. Em 2010 o A., deixou de receber da R., a sua
contraprestação nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março e de Maio a Dezembro; 11. Em 2011
recebeu as seguintes contraprestações relativas aos meses de Janeiro, Fevereiro e Julho, não
recebendo nos demais meses; 12. A mesma situação ocorreu em 2012 e 2013; …16. O A. cessou
as suas actividades para a R. em 05.09.2013;17. A 10.11.2014 o A. deu entrada na Secretaria
deste juízo à presente acção;18. A R. foi citada a 02.12.2014. C) FACTOS NÃO PROVADOS Não
se provaram outros factos com interesse para a causa designadamente que:O A., acompanhou os
demais sócios na renuncia de seus créditos para com a R. Não vindo impugnada a decisão
proferida sobre a matéria de facto e não se vislumbrando que a mesma padeça dos vícios a que se
refere o artigo 577º do Código de Processo Civil, é com base no quadro factual supra descrito que
hão-de resolver-se as questões suscitadas no presente recurso. Atento o referido acervo
conclusivo, delimitativo do objecto do recurso, a questão essencial que vem trazida a este Tribunal
em recurso é a de saber se o tribunal a quo errou ao considerar estar verificada a prescrição dos
créditos reclamados pelo Autor o que pressupõe a determinação do regime legal aplicável.Com os
vistos, cumpre apreciar e decidir.Da decisão recorridaPela sentença recorrida o Tribunal a
quo julgou improcedente a ação, absolvendo o Réu do pedido, decisão que tendo por base a
factualidade que nela foi dada como provada, vertida supra, assentou no seguinte discurso
fundamentador, que se passa a transcrever (fls. 118 a 118/v ):“Resultou provado que a relação
laboral havida entre o A., e a R., data-se de 07 de Dezembro de 1998 até o dia 05 de Setembro do
ano de 2013, portanto a relação material litigiosa foi constituída antes da entrada em vigor do
Código Laboral em vigor, aprovado pelo Dec-Leg. n° 5/2007,16.10 alterações pelo Dec. Leg. n°
5/2010, de 16.06. Ora, como se sabe, o problema da sucessão de leis no tempo tem de ser
resolvido, em primeiro lugar, através das normas de direito transitório especial (normas da lei nova
que disciplinem a sua aplicação no tempo), depois pelas normas ele direito transitório sectorial
(normas que regulam a aplicação no tempo elas leis sobre certa matéria) e, finalmente, pelas
normas de direito transitório geral (que definem o modo de aplicação no tempo da generalidade das

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leis, independentemente da matéria sobre que versam) como é o caso da norma ínsita no artigo
12° do Código Civil. O diploma que aprovou a Código Laboral (Dec. Leg n° 5/2007, de 16.10, com
as alterações introduzidas pelo Dec-Leg. N.º5/2010, de 16.06) indica a data da entrada em vigor
dessa Lei (art. 16°) e contém nos seus art. 15° uma norma de direito transitório formal que
disciplina a aplicação no tempo do Código Laboral quanto às matérias aí concretamente
especificadas, designadamente no que toca à prescrição, exceptuado no ?regime do Novo Código
laboral às relações constituídas e iniciadas antes da sua entrada em vigor. Igual regime consta do
art. 4° do Código Laboral em vigor.Esta regra constitui um desvio à regra geral sobre a aplicação
da lei no tempo prevista no art.s 4º do Código Laboral e 12° do Código Civil, mas é explicado por
evidentes razões de protecção das expectativas dos trabalhadores que se encontrarem nessa
situação (explicado por razões de ordem lógica para compatibilizar regime que transitaram do
antigo Regime Jurídico das Relações do Trabalho e no novo Código Laboral. Donde decorre que é
perfeitamente possível, no nosso sistema jurídico, aplicar normas de conteúdo laboral
compreendidas em diferentes diplomas (lei antiga e a lei nova) a uma relação ou situação jurídica
de natureza laboral duradoura, não podendo o efeito imediato da lei nova ser considerado, em tais
situações. E em consequência dizer que tal aplicação nos termos estatuídos pelo art. 15° supra
referenciado de todo não viola o princípio da igualdade como propugna o A., pelo que, salvo melhor
opinião, porque quer formal ou materialmente não se vislumbra qualquer inconstitucionalidade, pois
o legislador quis diferenciar situações deveras diferentes efectivamente que não há como acolher a
tese do A., da inconstitucionalidade do art. I5° em referência. Ø “Aqui chegados, cumpre apreciar
a excepção da prescrição arguida pela R.. porém antes dizer que estabelece o art. 41°[1] do Dec.
Lei n° 65/87, de 30 de Junho "Os créditos resultantes do contrato de trabalho e de sua violação ou
cessação pertencentes ao trabalhador, prescrevem no prazo de um ano a contar da data da
cessação do contrato de trabalho." Considera que tendo o A. cessado as suas funções a 3.09.2013
e a acção dado entrada a 10.11.2014 e tendo a R. sido citada no dia 02.12.2014 não “ocorreu
qualquer circunstancia interruptiva da prescrição” concluindo que “nos termos do art. 41º do
RJGRT os créditos do A. encontram-se prescritos pelo decurso do prazo”, jugando “procedente por
provada a excepção peremptória de prescrição e, em consequência absolve-se a R. do pedido”.Da
tese do recorrentePugna o recorrente pela revogação da sentença recorrida com substituição por
decisão que julgue a ação procedente, condenando a Recorrida a pagar-lhe todos os salários
devidos no valor de 4.929.840$00, sustentando que a sentença recorrida padece de erro de
julgamento quanto à solução jurídica da causa por errada interpretação e aplicação de direito –
estão em causa as disposições dos arts. 15º da Lei de aprovação do Código Laboral, o art. 4º do
C.L. e o 12º do CC.Defende que se aplique o art. 6º do CL que estabelece o prazo de prescrição
deste seu crédito em cinco anos. Argumenta que este preceito é de aplicação imediata e que o art.
15° da Lei de aprovação do Código laboral quando interpretado no sentido de que estabelece
regimes diferenciados de prescrição de créditos laborais para diferentes categorias de
trabalhadores em razão do facto que dá origem a essa mesma relação - o contrato de trabalho -
viola o princípio da igualdade e de proteção da confiança. Da análise e apreciação do recurso
Liminarmente é de referir ter a recorrida razão quando alega que as disposições do artigo 12° do
CC “não são materialmente constitucionais, nem de aplicação obrigatória, independentemente das
circunstâncias de cada caso”. Assim, no domínio do direito laboral, o princípio consagrado no art.
12º do CC não tem força de princípio constitucional, o que significa que o legislador ordinário bem
pode resolver os problemas suscitados pela sucessão de leis de forma diferente; isto é, não está
constitucionalmente impedido de conferir retroactividade às leis que edita, salvo se através da

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retroactividade vier a violar direitos fundamentais constitucionalmente tutelados ou qualquer outro
princípio ou garantia constitucional.Apesar do exposto, cumpre esclarecer que tal entendimento não
ditará o desfecho do presente recurso, como veremos infra. Ora, como decorre da decisão sub
judicio no caso em análise resultou provado que “a 07.12.1998 o A. e o R. celebraram um contrato
de trabalho para exercício de actividade de *” (1) e que “o A. cessou as suas actividades para a R.
em 05.09.2013” (16). Afigura-se-nos importante atentar devidamente nas pretensões formuladas
pelo Autor no quadro da presente ação e no que ficou provado a esse respeito.Assim, o pedido
formulado dimana de uma alegada violação do contrato de trabalho, mais concretamente da
violação por parte da entidade patronal do dever de pagar pontualmente a retribuição, tendo a
sentença recorrida referido que “atento os factos provados, o A. acumulou salários em atraso como
peticiona, facto de resto não impugnado pela R.”.Ficaram, pois, provados os créditos reclamados
pelo A. nos presentes autos, a saber:“7. … em 2006 o A., não recebeu a sua contraprestação nos
meses de Outubro, Novembro e Dezembro; 8. No ano de 2007 nos meses de Janeiro a Maio e
Julho a Dezembro; 9. Em 2008 e 2009 o A., não recebeu sua contraprestação no mês de
Dezembro; 10. Em 2010 o A., deixou de receber da R., a sua contraprestação nos meses de
Janeiro, Fevereiro e Março e de Maio a Dezembro; 11. Em 2011 recebeu as seguintes
contraprestações relativas aos meses de Janeiro, Fevereiro e Julho, não recebendo nos demais
meses; 12. A mesma situação ocorreu em 2012 e 2013”.Assim, estamos perante o seguinte
cenário (contexto temporal):- O contrato de trabalho foi celebrado na vigência do RJGRT (10 anos
antes do início de vigência do Cód. Laboral) e cessou em plena vigência do Cód. Laboral (a sua
vigência reporta-se a 16 de abril de 2008) – a relação laboral vigorou entre 1998 e 2013.- In casu, o
A. está a cobrar créditos provenientes de salários que não lhe foram pagos relativamente aos
meses de Outubro, Novembro e Dezembro do ano de 2006; Janeiro a Maio e Julho a Dezembro do
ano de 2007; dezembro do ano de 2008 e 2009; Janeiro, Fevereiro e Março e de Maio a Dezembro
do ano de 2010. Em 2011 recebeu as seguintes contraprestações relativas aos meses de Janeiro,
Fevereiro e Julho, não recebendo nos demais meses; A mesma situação ocorreu em 2012 e
2013.Podemos, pois, afirmar que o período de formação do direito em causa decorreu de outubro
de 2006 a setembro de 2013 (os salários não pagos e reclamados nesta acção). Ora, como referido
em cima, no âmbito do presente recurso discute-se se o direito que o A. exerce nesta acção
encontra-se prescrito.Assim, há que decidir se ocorreu a prescrição dos créditos do A.; créditos
esses derivados da falta de pagamento pontual da retribuição a que o A. tem direito por trabalho
prestado nos meses de OUT/06 a SET/13. É, pois, esta situação – falta de cumprimento da
retribuição iniciada em out/2006 e que persistiu até set/2013, relativa a contrato de trabalho iniciado
em 1998 e cessado no ano de 2013 – que funciona como referência para a determinação do âmbito
de competência do RJGRT e do CL - que ditará qual a duração do prazo prescricional a aplicar à
situação em causa nestes autos. E, face à situação aqui em análise, pensamos, salvo o devido
respeito, que o regime jurídico aplicável ao prazo de prescrição vencido a 6 de setembro de 2013
não será o da data de constituição do vínculo do A.Isso porque, como veremos infra, o regime do
prazo de prescrição é regulado tanto no RJGRT como no CL sem atender ao momento da
celebração do contrato de trabalho. Em ambos os diplomas se estatui que o prazo de prescrição de
créditos laborais do trabalhador apenas inicia-se a partir da cessação do contrato de trabalho.Trata-
se de um caso de mera política legislativa [o legislador é que sabe qual o prazo dentro do qual
entende que, não exercido um direito, considera de presumir tal falta de diligência, sancionável com
a prescrição], sem qualquer conexão (dissociado) com o facto que dá origem à relação jurídico-
laboral – cfr. Geraldo Almeida … pg. 255.Se entendermos que o momento da cessação do contrato

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é que determina a lei aplicável relativamente ao prazo de prescrição e não a data da celebração do
contrato de trabalho, atenderíamos apenas à data do vencimento do prazo de prescrição (depois da
cessação do contrato de trabalho) – 6 de setembro de 2013, seria evidente, salvo o devido respeito
por opinião em contrário, que se aplicaria o Cód. Laboral - a lei nova. A questão da sucessão de
leis no tempo[2] só se coloca apelando ao período de formação do direito (meses em que o salário
não foi pago) pois foi neste período, decorrido entre outubro de 2006 e setembro de 2013 é que que
se verificou uma sucessão de leis.Dito de outro modo, atendendo ao facto de estarem em causa
salários relativos a out/2006 a set/2013 importa apurar qual o regime legal aplicável (o RJGRT ou o
CL) no que tange à disciplina atinente ao prazo prescricional, aqui em causa.Até abril de 2008
esteve em vigor o RJGRT[3] e a norma que regulava a prescrição de créditos do trabalhador
resultante da violação do contrato de trabalho no quadro deste diploma era o art. 56º-A (aditado
pelo D.L. n.º 51-A/89, de 26 de junho) que estabelecia "Os créditos resultantes do contrato de
trabalho e de sua violação ou cessação pertencentes ao trabalhador, prescrevem no prazo de um
ano a contar da data da cessação do contrato de trabalho."O RJGRT veio a ser revogado pelo
Decreto-Legislativo nº 5/2007, de 16 de outubro que aprovou o Código Laboral (adiante CL) que
entrou em vigor 180 dias depois.Assim, ao RJGRT sucedeu-se o Cód. Laboral que entrou em vigor
em 16 de abril de 2008 cujo art. 6º sob a epígrafe “Prescrição de créditos do trabalhador”
estabelece:“Os créditos resultantes do contrato de trabalho, da sua violação ou cessação,
pertencentes ao trabalhador, prescrevem no prazo de cinco anos, a contar da data da cessação do
contrato de trabalho …” Para se decidir a questão da sucessão de lei no tempo (determinar qual a
lei aplicável ao prazo prescricional em análise) impõe-se observar o disposto no art. 4º do Código
Laboral, no art. 12º do CC e ainda, no art. 15º do Decreto-Legislativo nº. 5/2007, de 16 de Outubro -
regras destinadas a regular os conflitos de leis no tempo no domínio do Direito do Trabalho, cujo
teor a seguir se transcreve.Artigo 4º do CLAplicação da lei no tempo“A norma laboral é de
aplicação imediata observando-se o disposto no artigo 12º do Código Civil cabo-verdiano e demais
regras sobre a aplicação da lei no tempo, sem prejuízo do disposto no artigo 15º do decreto
legislativo que aprova o presente Código”. O legislador fixou, como regra, que a norma laboral é de
aplicação imediata. Quiçá, por o contrato de trabalho se destinar a instituir uma situação duradoura
pela sua própria natureza. Assim, em princípio, a norma laboral tem aptidão para regular tanto as
situações passadas (as constituídas antes da sua entrada em vigor), como todas aquelas que se
constituírem na sua vigência (as constituídas em momento posterior à sua entrada em vigor).Isto
significa que, quanto à norma laboral, o legislador quis alterar o disposto no n.º 1 do art. 12º do CC,
segundo o qual a lei só dispõe para o futuro, estabelecendo a sua faculdade de dispor, em regra,
tanto para o presente como para o passado. Por isso, o art. 9º da Lei de aprovação do Código
Laboral manda ajustar os contratos de trabalho existentes aos novos comandos previstos no
Código Laboral. Assim, a regra é a de que ficam sujeitos ao Código Laboral os contratos de
trabalho que embora nascidos no domínio da lei antiga (RJGRT) continuaram em vigor após o início
de vigência do Cód. Laboral; dito de outro modo, o CL regula mesmo as situações constituídas
antes da sua entrada em vigor (a sua vigência reporta-se a 16.04.2008). Esta regra de aplicação
imediata da lei laboral nova funda-se no interesse no ajustamento às novas concepções e
valorações da comunidade e do legislador, bem como a exigência de unidade do ordenamento
jurídico, que seria posta em causa e com ela a segurança do comércio jurídico pela subsistência de
um grande número de situações jurídicas duradouras, ou até de carácter perpétuo, regidas por uma
lei há muito ab-rogada. Art. 12º do Cód. Civil(Aplicação das leis no tempo. Princípio geral)1. “A lei
só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja atribuída eficácia retroactiva, presume-se que ficam

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ressalvadas os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.2. Quando a lei
dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os seus
efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os factos novos; mas quando dispuser
directamente sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhe deram
origem, entender-se-á que a lei abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data
da sua entrada em vigor”.No Decreto-Legislativo nº. 5/2007, de 16 de Outubro – diploma que
aprovou o Cód. Laboral, o legislador cuidou expressamente de estabelecer uma regra especial
Artigo 15º“Disposição transitória”“O regime estabelecido no Código Laboral não se aplica ao
conteúdo das situações constituídas ou iniciadas, por contrato de trabalho, antes da sua entrada
em vigor, relativamente aos prazos de prescrição e de caducidade." A redacção deste preceito foi
alterado pelo Decreto-Legislativo n.º 5/2010 de 16 de Junho que teve como objectivo melhorar
alguns aspectos relativos à sua aplicação no tempo, que estabelece: Artigo 15º“Disposição
transitória”“1. O regime estabelecido no Código Laboral não se aplica às situações constituídas ou
iniciadas, por contrato de trabalho, antes da sua entrada em vigor e relativas aos prazos de
prescrição e de caducidade.2. Exceptuam-se do disposto no número anterior:a) Os contratos de
trabalho a prazo, de duração igual ou superior a 5 (cinco) anos, incluindo as respectivas
renovações, os quais convertem-se automaticamente em contratos por tempo indeterminado, no
prazo de 30 (trinta) meses, a contar da entrada em vigor do Código Laboral; e b) Os contratos de
trabalho a prazo, de duração inferior a 5 (cinco) anos, incluindo as renovações, os quais ficam
sujeitos ao regime estabelecido no Código Laboral sobre a conversão dos contratos de trabalho a
prazo em contratos por tempo indeterminado, não podendo, no entanto, aquela conversão ocorrer
antes do prazo previsto na alínea anterior.” O n.º 1 corresponde ao art. 15º (redacção original) com
eliminação da expressão “conteúdo” quiçá aderindo ao entendimento defendido por Geraldo
Almeida, in Direito do Trabalho Cabo-verdiano, (Praia, 2010, pg. 252): “XII – A interpretação deste
artigo 15º da Lei de Aprovação do Código Laboral implica conhecer, por um lado, o que sejam
situações constituídas ou iniciadas por contrato de trabalho antes da entrada em vigor do Código
Laboral e qual o conteúdo dessas relações. Tenha-se em atenção que a lei faz uma delimitação
material dessas situações: trata-se, apenas, daquelas situações que dizem respeito aos prazos de
prescrição e caducidade. A norma contém, todavia, uma redundância: na verdade, os prazos de
prescrição e caducidade integram o conteúdo das situações jurídicas. Para a referida delimitação
material bastava a simples referência aos prazos de prescrição e caducidade, sem necessidade de
referência ao conteúdo das situações jurídicas”.Foi aditado o n.º 2 e duas alíneas, que não
interessam para o caso em análise. In casu, a determinação do âmbito de actuação do CL e do
RJGRT (a definição com nitidez da linha de confins que separa o âmbito de competência destes
dois diplomas) depende da interpretação que se fizer do art. 15º do D. Leg. n.º 5/2007, de 16 de
outubro.Interpretando, conjugadamente, o artigo 15º do diploma que aprovou o Cód. Laboral, com o
art. 4º do CL e com a parte final do n.º 2, do art. 12º do CC não pode deixar de concluir-se que
aquele artigo 15º limita-se a consagrar uma excepção à regra estabelecida no art. 4º do CL,
afastando a aplicação imediata do CL “ao conteúdo das situações constituídas ou iniciadas, por
contrato de trabalho, antes da sua entrada em vigor relativamente aos prazos de prescrição e de
caducidade”.Dito de outro modo: - O art. 4º do CL manda aplicar imediatamente o regime do CL a
todos os contratos de trabalho subsistentes à data da sua entrada em vigor - assim, o CL, em
princípio, se aplica a contratos de trabalho iniciados antes do seu início de vigência. - E o art. 15º
consagra uma excepção a essa regra - em conformidade com a ressalva constante na parte final do
n.º 2 do art. 12º do CC, alargando-a também ao conteúdo das situações iniciadas; afastando-se,

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porém, da regra geral de aplicação das leis no tempo relativamente à alteração de prazos
estabelecida no art. 297º do CC. Pensamos que este artigo em análise (15º) pretende afastar
qualquer regime “misto” nos casos em que os efeitos jurídicos decorrem de situações de facto que
se constituíram ou iniciaram ao abrigo da lei anterior e que perduraram com a lei nova. Há, pois,
que interpretar o art. 15º.Note-se que o art. 15º afasta a aplicação do CL às situações jurídicas
constituídas ou iniciadas antes da sua entrada em vigor, em determinadas matérias[4].Decisivo
para saber se o regime estabelecido no CL relativamente ao prazo de prescrição se aplica ou não é
não existir ou existir já uma situação jurídica constituída ou iniciada a quando da sua entrada em
vigor (16.04.2008).Assim,- o CL se aplica se não existir uma situação jurídica constituída ou iniciada
a quando da entrada em vigor do CL (16.04.2008).- o CL não se aplica se já existir já uma situação
jurídica constituída ou iniciada a quando da entrada em vigor do CL (16.04.2008).Fundamental é,
pois, apurar se na situação jurídica em análise - relativa à prescrição de créditos – não existia ou
existia já uma situação jurídica constituída ou iniciado em 16 de abril de 2008.Para tal há que
interpretar o art. 15º e apurar o critério estabelecido pelo legislador que nos permitirá definir a
retroactividade do Cód. Laboral no tocante à matéria da prescrição.Ora, como bem realça a
recorrida esta norma encontra paralelismo em solução idêntica adoptada pelo artigo 7.º da Lei
portuguesa n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, que aprovou o Código de Trabalho, que dispõe:“1. Sem
prejuízo do disposto no presente artigo e nos seguintes, ficam sujeitos ao regime do Código do
Trabalho aprovado pela presente lei os contratos de trabalho e os instrumentos de regulamentação
coletiva de trabalho celebrados ou adotados antes da entrada em vigor da referida lei, salvo quanto
a condições de validade e a efeitos de factos ou situações totalmente passados anteriormente
àquele momento.…5. O regime estabelecido no Código de Trabalho, anexo à presente lei, não se
aplica a situações constituídas ou iniciadas antes da sua entrada em vigor e relativas a:…Prazo de
prescrição e de caducidade;… ”.Em anotação a essa norma com idêntico conteúdo prevista na lei
que aprovou o Código do Trabalho, referem Pedro Romano Martinez e outros (cfr. Código do
Trabalho Anotado, Almedina, 9.ª edição, 2013, pág. 74 e ss.) que “Como resulta do princípio geral
de aplicação da lei no tempo “A lei só dispõe para o futuro”, mas em relação às situações jurídicas
duradouras, constituídas antes da entrada em vigor do Código de Trabalho, a lei nova aplica-se-
lhes; deste modo, um contrato de trabalho … celebrado antes da entrada em vigor do Código de
Trabalho, subsistindo a sua execução, passa a ser disciplinado pelo disposto neste diploma após a
data de início de vigência.…Esta regra de aplicação do Código de Trabalho às situações jurídicas
em execução, mas constituídas antes da sua entrada em vigor, sofre duas excepções: - as
condições de validade são aferidas no momento da sua constituição (p. ex., quanto às exigências
de forma deve atender-se às que vigoravam ao tempo em que a situação jurídica se constituiu).- os
factos já produzidos ou situações totalmente passadas antes da entrada em vigor do Código de
Trabalho são regidos pela lei anterior, pois este diploma não se lhes aplica (assim, o Código de
Trabalho não regula as retribuições ou as férias vencidas antes da sua entrada em vigor). A
expressão “totalmente passadas” tem de ser entendida na sua amplitude: o Código de Trabalho
não se aplica a situações constituídas e extintas no âmbito da lei anterior, pelo que, se subsistem
sequelas, nomeadamente relacionadas com o incumprimento, neste ponto, pode aplicar-se a lei
nova (vg. se a falta de cumprimento da retribuição se verificou no domínio da lei antiga, mas
persiste durante a vigência do Código de Trabalho, aplicam-se, por exemplo as garantias de
cumprimento nestas previstas; do mesmo modo que se o contrato de trabalho cessa depois da
entrada em vigor do Código de Trabalho por motivo ocorrido antes dessa data, aplica-se o disposto
neste diploma).Deste regime não resulta a aplicação retroactiva da lei nova (Código de Trabalho) a

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situações antigas. - Aos factos totalmente
passados antes de fevereiro de 2009, que não repercutam em aspectos posteriores do contrato de
trabalho, não se aplica o Código de Trabalho. - Aos factos ocorridos antes, mas que se repercutam
em questões jurídicas ocorridas ou apreciadas depois da entrada em vigor do diploma, aplica-se o
Código de Trabalho.Neste caso, estar-se-á perante a designada “retroconexão”, diferente da
retroatividade, em que se verifica a ultra-atividade de factos passados, em razão da conexão com
situações futuras”. Dito de outro modo, a ultra-atividade permite que um facto passado, por se
encontrar relacionado com factos ocorridos posteriormente – não sendo, portanto, “totalmente
passados” – seja regido pela lei nova (Código do Trabalho)”.Mais à frente dizem os mesmos
autores que “Na sequência das regras comuns e dos entendimento geral, sabendo-se que
qualquer alteração legislativa pode ser fonte de iniquidades e desigualdades, pretende-se que o
Código do trabalho se aplique a todas as relações laborais, independentemente da data da
respectiva constituição, evitando assim assimetrias entre os diferentes sujeitos laborais. Ainda que
as expectativas de uns possam ser postas em causa é preferível que não se estabeleçam
desigualdades em função da data da constituição do vínculo laboral”.Acompanhamos a
argumentação desses autores e consideramos que o art. 15º não pode ser interpretado no sentido
de que:- as normas do CL relativas à prescrição não se aplicam a contratos de trabalho celebrados
antes da sua entrada em vigor do CL; ou seja, que o novo regime (CL) não se aplica aos contrato
de trabalho iniciados antes da sua entrada em vigor, que assim continuam a regular-se pela lei
antiga (RJGRT).- as normas do CL relativas à prescrição apenas se aplicam a contrato de trabalho
nascidos no domínio do CL / celebrados após o seu início de vigência. Não foi isso que o legislador
disse nem quis dizer! Salvo o devido respeito, considera-se que o CL pode pois aplicar-se a
contratos de trabalho iniciados/celebrados em data anterior à sua entrada em vigor (que subsistem
à data do seu início de vigência) no tocante às situações relativas a prazos prescricionais
constituídas ou iniciadas após a sua entrada em vigor.O CL será aplicável a factos ou situações
que, embora iniciados antes da sua entrada em vigor, se prolonguem no tempo para além do
referido dia 16 de Abril de 2008.Assim, a interpretação que fazemos desta “disposição transitória”
é no sentido de que o CL não se aplica às situações em que aquando da sua entrada em vigor o
prazo prescricional já se tinha constituído ou iniciado. Ora, in casu, o contrato de trabalho estava
em curso à data do início de vigência do CL e o prazo de prescrição apenas começou a correr em 6
de setembro de 2013 (em 16 de abril de 08 sequer havia iniciado, muito menos se havia esgotado)
pelo que se lhe aplica o CL.Em consonância com tudo o encima referido, podemos fixar a seguinte
entendimento:- o CL apenas não se aplica às situações relativas ao prazo de prescrição
constituídas ou iniciados antes da sua entrada em vigor (Abril/2008); ou seja, o CL não se aplica às
situações que aquando da sua entrada em vigor o prazo prescricional já se tinha constituído ou
iniciado o que significa dizer que o regime deste diploma não se aplica a prazos já consumados ou
iniciados no domínio do RJGRT.Sobre esta questão refere Geraldo Almeida in obra citada, pg. 253:
“Segue-se, assim, que o essencial desta disposição é a referência aos prazos de prescrição e
caducidade: pretende o legislador que as normas relativas aos prazos de prescrição e caducidade
adotadas pelo Código Laboral não se apliquem às situações jurídicas iniciadas, por contrato de
trabalho, antes da entrada em vigor do Código Laboral, donde resultam duas consequências: - as
situações jurídicas relativas à prescrição e à caducidade constiuídas ou iniciadas, por contrato de
trabalho, antes da entrada em vigor do Código Laboral, continuam a ser reguladas pelo Regime
Jurídico Geral das Relações de Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei nº. 62/87, de 30 de Junho; - e
só às situações jurídicas (relativas à prescrição e à caducidade) constituídas ou iniciadas depois da

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entrada em vigor do Código Laboral se aplica este diploma, na parte respeitante ao regime dos
prazos de prescrição e caducidade”. Face ao supra referido importa tecer algumas considerações
acerca do instituto da prescrição.A prescrição é uma forma de extinção de direitos de crédito, na
área dos direitos das obrigações, direitos que deixam de ser judicialmente exigíveis, passando a
obrigação civil a obrigação natural. Na verdade, o decurso do tempo é um facto jurídico não
negocial, é um acontecimento natural juridicamente relevante, ou seja, produtor de efeitos jurídicos.
E um dos seus efeitos mais importantes consiste, precisamente, em fazer cessar a exercitabilidade
dos direitos subjetivos - depois de decorrido o prazo da prescrição e de esta ser invocada pelo
devedor, o crédito não fica propriamente extinto, mas a obrigação passa de civil a natural.O
verdadeiro alcance do instituto prescricional reside, pois, em tornar o cumprimento da obrigação
inexigível ou incoercível. A transformação da obrigação civil em obrigação natural equivale, afinal, à
extinção da obrigação civil - e a outra, a obrigação natural, só procede caso o devedor a queira
satisfazer.Quanto aos fundamentos em que assenta a prescrição, deve dizer-se que a doutrina
dominante aponta a punição da negligência do titular do direito em exercê-lo durante o período de
tempo indicado na lei.No que concerne ao curso da prescrição, estabelece o artigo 306.º do CC sob
a epígrafe “Início do curso da prescrição” que:1 - O prazo da prescrição começa a correr quando o
direito puder ser exercido;…2 - A prescrição de direitos sujeitos a condição suspensiva ou termo
inicial só começa depois de a condição se verificar ou o termo se vencer.…Cabe dizer que, regra
geral, o início do curso da prescrição dá-se quando o direito puder ser exercido, conforme
determina o art. 306.º, n.º 1. do CCiv. Em princípio, para que o prazo da prescrição comece a
correr, torna-se necessário, mas também suficiente, que a dívida seja exigível, que a obrigação se
vença.O respetivo início pode, no entanto, ser impedido por determinados motivos, isto é, pelas
chamadas causas suspensivas da prescrição. Consiste tal suspensão em não se contar para o
efeito da prescrição o tempo decorrido enquanto durarem certos factos ou situações. Fala-se em
suspensão do curso quando ela impede o início ou o curso da prescrição (que a prescrição comece
a correr ou que prossiga) e em suspensão do tempo quando ela impede que o tempo da prescrição
se complete.Munidos que estamos destas ideias sumárias sobre o instituto da prescrição, cumpre
analisar o disposto nos arts. 56ºA do RJGRT e art. 6º do CL.E a leitura de ambos logo nos revela
que os créditos laborais são imprescritíveis na vigência da relação de trabalho, dado que o prazo
prescricional só começa a contar da data da cessação do contrato de trabalho. Note-se que o art 6º
do CL apesar de alargar a duração do prazo de prescrição mantém o momento a partir do qual
esse prazo começa a correr, pelo que enquanto vigorar o contrato de trabalho/enquanto se não
extinguir o contrato de trabalho, o prazo de prescrição não começa nem corre.Assim, depara-se-
nos em ambos os preceitos uma verdadeira suspensão do curso da prescrição enquanto vigorar o
contrato de trabalho. E a solução de suspender o curso da prescrição na constância da relação
laboral logra fácil explicação, se atendermos à desigualdade das forças em presença nesta relação.
Com efeito, à normal superioridade económica e social do empregador acrescenta-se, ao celebrar-
se o contrato de trabalho, a subordinação jurídica do trabalhador (o qual, como se sabe, presta a
sua atividade em moldes heterodeterminados), o que tudo vai ter importantes reflexos a nível
psicológico, originando - e, o que é mais, justificando - fenómenos de inibição e receio do
trabalhador face ao empregador.Destarte, constituindo fundamento específico da prescrição a
penalização da inércia negligente do titular do direito, a lei entendeu não ser exigível ao trabalhador-
credor que promova a efetivação do seu direito na vigência do contrato, demandando judicialmente
o empregador. Digamos que, neste caso, o não exercício expedito do direito por parte do seu titular
não faz presumir que este a ele tenha querido renunciar, nem torna o credor indigno de proteção

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jurídica (dormientibus non sucurrit ius). Retomando a análise do caso em causa verificamos que
apesar do estabelecido no art 200º do CL[5] quanto ao “vencimento e tempo de cumprimento” da
retribuição, o prazo de prescrição relativo à situação jurídica em apreço apenas pode ser contado a
partir da cessação do contrato de trabalho. Assim, o facto que faz iniciar o prazo de prescrição (o
facto gerador) é a cessação do contrato de trabalho – facto esse que, in casu, ocorreu em
5.09.2013, mais de 5 anos após o início de vigência do CL.Considera-se, pois, que a quando da
entrada em vigor do CL (16.04.2008) ainda sequer havia iniciado a situação jurídica relativa à
prescrição agora em análise - o prazo prescricional em causa não havia iniciado – pelo que, salvo o
devido respeito, não faz sentido a não aplicação do Cód. Laboral. Abre-se um parentese para
realçar que mesmo que se atenda à data de vencimento resultante do art. 200º os mesmos terão
ocorrido quer na vigência do RJGRT (out/06 a 16 de abril de 2008) quer na vigência do CL (de
abril/08 a set/13) pelo que vem a propósito citar Baptista Machado, introdução ao direito e ao
discurso legitimador, Almedina, 18ª Reimpressão, 1983, pg. 243) “… tendo o decurso global do
prazo o valor de um facto constitutivo (ou extintivo) de um direito ou de uma situação jurídica se tal
prazo ainda se achava em curso no momento do IV (inicio de vigência) da LN (lei nova) é porque tal
situação jurídica ainda se não achava constituída (ou extinta) neste momento. Logo cabe à LN (lei
nova) a competência para determinar os requisitos da constituição da mesma situação jurídica.
Achando-se uma situação jurídica em curso de constituição, passa o respectivo processo
constitutivo a ficar imediatamente subordinado à LN (lei nova)”. In casu, mesmo atendendo-se ao
disposto no art. 15° do Dec. Leg. n° 5/2007, de 16.10, com alteração introduzidas pelo Dec. Leg.
n° 5/2010, de 16.06, porque a relação laboral entre o Autor e a R cessou em 2013 iniciando-se a
partir daí a contagem do prazo de prescrição aplica-se o Código laboral – que já estava em vigor e
que estabelece um prazo de prescrição dos créditos laborais de 5 anosNote-se que não está em
causa desaplicar o art. 15º com fundamento em inconstitucionalidade. Este preceito bem
interpretado não viola nenhum princípio constitucional. Isto é, não estabelece distinções
discriminatórias ou desigualdades de tratamento materialmente infundadas, sem fundamento
razoável ou sem qualquer justificação ou exigências.Pelo contrário, consideramos que o art. 15º
não obsta à aplicação do art. 6º do CL à situação dos autos; dito de outro modo, entendemos não
ser aplicável ao caso concreto a regra resultante do art. 15º porquanto o contrato de trabalho não
cessou e o subsequente início da contagem do prazo prescrição sequer se iniciou em data anterior
à da entrada em vigor do CL.Mais é de realçar que esse entendimento não significa aplicar
retroactivamente o CL (não implica uma retroactividade) pois o início do prazo de prescrição
ocorreu na vigência do CL. Assim, o “efeito imediato” do CL não pode ser considerado, nesta
situação concreta em análise, como representando um efeito retroactivo. O prazo de prescrição
sempre teria de ser contado a partir da data da cessação do contrato de trabalho e porque tal
ocorreu em 2013 –plena vigência do CL é este que se aplica ao caso dos autos.Conclui-se, pois,
que à apreciação da invocada prescrição é aplicável, ao caso em apreço, o CL, atenta a data da
cessação do contrato de trabalho (16.set.2013) – mais de cinco anos após a entrada em vigor
desse diploma. Conclui-se, portanto, que porque a relação laboral entre A. e R. cessou em set/2013
- momento a partir do qual deverá iniciar-se a contagem do prazo de prescrição – a situação em
apreço deve ser regida pela lei vigente ao tempo da cessação do contrato de trabalho, isto é, pelo
art. 6º do CL, que entrara em vigor mais de cinco anos atrás (abril/08) e que alargou a duração
desse prazo para 5 anos.Retornando ao caso em apreço e estabelecido que ficou que o prazo
prescricional aplicável é o de 5 anos previsto no art. 6º do CL (beneficiando o recorrente deste
prazo alargado) concluímos que a sentença recorrida, que fez a opção pelo prazo de 1 ano previsto

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no art. 56º-A do RJGRT, não pode ser confirmada.Cumpre agora verificar se tal prazo se consumou
ou não.Iniciando-se a contagem do prazo de prescrição a 6.09.13 (uma vez que “O A. cessou as
suas actividades para a R. em 05.09.2013) não pode considerar-se verificada/esgotada em
dezembro de 2014 a prescrição dos créditos laborais peticionados pelo A.; isto é, em dezembro de
2014 os créditos peticionados nesta acção ainda não estavam prescritos, pois o prazo de 5 anos
estava ainda longe de completar-se.O recurso não pode, pois, deixar de proceder, revogando-se a
sentença recorrida. Por fim, temos que retirar as devidas consequências do decidido
supra.Impugnando alega a R. que o A. concordou em renunciar a eventuais créditos (art. 39º da
contestação) acompanhando os sócios na renuncia a eventuais créditos sobre a R., tendo
expressamente renunciado às suas remunerações em atraso como director da ** (42º da
contestação).Diz que as remunerações reclamadas não são devidas porque o A. renunciou a elas.
Em relação a esta matéria relativa a sentença recorrida deu como não provados que “o A.
acompanhou os demais sócios na renuncia de seus créditos para com a R.” pelo que declara-se
improcedente a excepção de remissão abdicativa.Assim, e uma vez que este tribunal dispõe de
todos os elementos necessários para conhecer da causa, provado os créditos peticionados –
salários em atraso no montante descrito na petição inicial - condena-se a Recorrida a pagar ao
Recorrente o valor de 4.929.840$00 acrescidos de juros à taxa legal, desde a data em que interpôs
esta acção. DISPOSITIVOTermos em que se concede provimento ao recurso revogando-se a
decisão recorrida, declara-se improcedente a excepção de prescrição e de remissão abdicativa
condenando-se a W, SARL a pagar a Z o valor peticionado acrescido de juros.Custas pela
Recorrida, com taxa de justiça que se fixa em 40.000$00.R e N.Assomada, 15 de janeiro de 2018.
Rosa Martins Vicente [1] Preceito tacitamente revogado pelo srt. 56º-A, aditado pelo Dec. Lei n.º
51º-A/89, de 26.06.[2] Sobre esta matéria v. João Baptista Machado, Introdução ao Direito e ao
Discurso Legitimador, Almedina, 18ª Edição – pg 220 e ss.[3] Aprovado pelo D.L. n.º 62/87, de 30
de junho, com as sucessivas alterações que lhe foram introduzidas até à ultima versão resultante
da L. n.º 101/IV/93 de 31 de dezembro.[4] O regime especial constante deste preceito só se aplica
nas três situações especialmente previstas (duração de período experimental, prazos de prescrição
e caducidade e procedimentos para a cessação do contrato de trabalho). [5] A obrigação de
retribuir vence-se por períodos certos e iguais, os quais não podem exceder os 31 dias, devendo a
retribuição ser paga até ao último dia útil do período a que respeita.

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