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EXCELENTISSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 15.

ª VARA DO
TRABALHO DE FORTALEZA-CE

PROCESSO Nº: 0000497-80.2022.5.07.0015

RECLAMANTE: ROBSON BATISTA DOS SANTOS

RECLAMADO: INFLUENCE CAR COMERCIO DE VEÍCULOS LTDA

INFLUENCE CAR COMERCIO DE VEÍCULOS LTDA-EPP,


qualificado no instrumento procuratório incluso, por seu advogado que esta subscreve,
nos autos da RECLAMAÇÃO proposta por ROBSON BATISTA DOS SANTOS,
vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar sua DEFESA, nos
seguintes termos:

1. PRELIMINARES

1.1. DA INÉPCIA – AUSÊNCIA DE CAUSA DE PEDIR

A informalidade que rege o processo do trabalho minimiza a rigidez


inerente ao processo civil, o que implica no acolhimento da inépcia da inicial apenas
em casos especiais.

Contudo, essa simplicidade não se dilata a ponto de permitir


formulação de pedido que dificulte a parte contrária articular sua defesa ou, o mais
grave, articule pedido sem a correspondente fundamentação. Imprescindível, assim, a
indicação do fundamento, do título jurídico ou da causa que enseja a pretensão.
O direito brasileiro positivou a teoria da substanciação da causa de
pedir, para a qual interessa a descrição do contexto fático em que as partes se
encontram envolvidas.

Assim sendo, se há incerteza e indeterminação da descrição dos fatos,


bem como de suas consequências, prejudica, em muito, o direito de defesa da
reclamada, prejudicando, ainda mais, a justa prestação jurisdicional, na medida em que
obriga o julgador a analisar o desconhecido, a julgar o incerto e a quantificar o
nebuloso.

O pedido tem de ser certo e determinado.

O reclamante em sua exordial não trouxe a causa de pedir fundante


dos pedidos que realiza em sua reclamação trabalhista.

Ora, o reclamante elenca inúmeros pedidos (aviso prévio, saldo de


salário, férias vencidas dobradas, férias proporcionais, 1/3 de férias, décimo
terceiro e proporcional, horas extras, FGTS e 40% do FGTS, seguro desemprego,
multa do artigo 467 e 477 da CLT), porém não dispõe em sua causa de pedir o
conteúdo mínimo para a apreciação do seu pleito em juízo.

A vista do exposto deve o MM. Juiz, diante do vício apresentado


indeferir de plano a petição inicial, julgando extinto o processo sem resolução do
mérito, como preconiza o art.485, I c/c o art. 300, inciso I e §1º, incisos I, II e III,
todos do CPC, e todos c/c o art. 769 da CLT.

1.2. DA INÉPCIA – INCONGRUÊNCIA ENTRE CAUSA DE


PEDIR E PEDIDO – CESSAÇÃO CONTRATUAL
O pedido do autor igualmente permanece inepto na medida em que
não dispõe com a lógica necessária a sua causa de pedir e pedido.

O reclamante na exordial sinaliza a pretensão de um vínculo de


emprego com a empresa reclamada e consigna na causa de pedir que foi demitido
sem justa causa, porém, no pedido delimita sua pretensão sob o manto da rescisão
indireta, como se verifica no item “5” do pedido “(... declarando a rescisão
indireta do contrato de trabalho ...).

Como visto, não há na petição inicial do autor a lógica necessária


e fundamental entre causa de pedir e pedido, pelo que o pleito é inepto.

A vista do exposto deve o MM. Juiz, diante do vício apresentado


indeferir de plano a petição inicial, julgando extinto o processo sem resolução do
mérito, como preconiza o art.485, I c/c o art. 300, inciso I e §1º, incisos I, II e III,
todos do CPC, e todos c/c o art. 769 da CLT.

1.3. DA INÉPCIA – HORAS EXTRAS

O autor indica na exordial que laborava três horas extras por dia, de
segunda à sexta-feira, mas o mesmo não trouxe os elementos necessários para a
delimitação da sua jornada de trabalho.

O pedido tem de ser certo e determinado. O reclamante em sua


exordial não indicou com precisão a sua jornada de trabalho: “Que o Reclamado
trabalhava no Horário de trabalho 8:00 as 18:00 segunda a sexta-feira, e Folga de 1
hora, e que tinha horário para lanche era no momento entre uma tarefa e outra, desta
feita a jornada se estendeu por 3 horas extras por dia.”.
Como se observa, o autor indica que tinha folga de 1 hora e ainda
usufruía de horário para lanche, porém, o que se acredita é que seu desejo foi
expressar que usufruía de intervalo intrajornada de uma hora, além de outros
intervalos concedidos pela empresa. O autor não definiu de forma certa e
determinada o tempo fruído de intervalo intrajornada e acabou por não ter a
certeza da jornada praticada na empresa.

Ora, tudo isso demonstra a imprecisão e incerteza da jornada


declinada na exordial, o que torna o pedido inepto.

No mais, pela jornada declinada na exordial, ainda que dentro de


uma análise abstrata, impossível se chegar as 3 (três) horas extras por dia
pleiteada, uma vez que na exordial consta labor de 08h às 18h, com uma hora de
intervalo intrajornada de segunda à sexta-feira.

Nesse sentido a lição de Carlos Zangrando:

O pedido deve ser certo e determinado (CPC art.286).


Certo, está na lei como sinônimo de expresso, evidente,
indubitável. Significa dizer que não há pedido ´tácito´. A
certeza supõe estar fora de dúvida sobre o que se pede, quer
no tocante à qualidade, quer à quantidade. Só se admite
como pedido o que está lá na petição inicial, em gênero,
número, quantidade ou qualidade. O que se pretende
pedir, e não se pediu, não será objeto de tutela
jurisdicional. Por exemplo, é incerto o pedido efetuado
na seguinte forma:´pagamento de horas extras
laboradas até as 23:30/1:30h, de 3 a 4 dias na semana.´
Também incerto o seguinte pedido:´pagamento de
plantões efetuados 3 a 4 vezes na semana´. Ora, entre as
23:30 e 1:30 horas temos uma variação de duas horas.
Qual o horário, afinal, de saída: 23:30 ou 1:30? E
quantos ´plantões´ nos finais de semana laborava?
Seriam três ou quatro? O juiz terá dificuldade, senão
impossbilidade, de prolatar sentença líquida, em
relação a esses pedidos. (Processo do Trabalho: processo
de conhecimento, tomo I. São Paulo, LTr, 2009, p.185/186)
(g.n)

A vista do exposto deve o MM. Juiz, diante do vício apresentado


indeferir de plano a petição inicial, julgando extinto o processo sem resolução do
mérito, no tocante aos pleitos relacionados a jornada laboral, como, por exemplo,
horas extras, como preconiza o art.485, I c/c o art. 300, inciso I e §1º, incisos I, II e III,
todos do CPC, e todos c/c o art. 769 da CLT.

2. DA IMPUGNAÇÃO AOS DADOS E VALORES LANÇADOS


NA INICIAL – LIMITAÇÃO AOS IMPORTES PLEITEADOS

Impugna a empresa demandada os dados declinados na inicial que


estiverem em desacordo com os dados e documentos consignados na defesa
apresentada, havendo os últimos, por isso, de prevalecer sobre os relatados pelo autor.
Logo, em inteligência ao artigo 818, da CLT e 373, I, do CPC, cabe ao demandante
o ônus de comprovar suas alegações, sem o que, deve ser julgada improcedente a
presente reclamação.
Impugnam-se ainda todos os valores indicados na inicial, eis que
aleatórios e incorretos. Aliás, o autor NÃO cuidou sequer de apresentar memória
correta dos cálculos, impossibilitando até mesmo a verificação da base de cálculo
utilizada. De todo modo, toda e qualquer verba eventualmente deferida deverá ser
apurada em regular liquidação de sentença, sendo certo, que os montantes
apresentados na exordial serão sempre o valor máximo – mas não o mínimo – de
qualquer apuração.

É o necessário para o presente tópico de impugnação.

3. DA REALIDADE DOS FATOS

3.1. DA AUSÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATICIO

Com efeito, Exª, não tem fundamento fático à pretensão autoral. Na


verdade, tratou o reclamante de construir um arcabouço de fatos inverídicos,
levantados com intuito claro de enriquecer ilicitamente a custa da demandada.

Excelência, as alegações do autor não devem prosperar!

O reclamante pretende uma vinculação empregatícia que nunca


existiu.

Em verdade, o reclamante era trabalhador autônomo e prestou


serviços nesta condição de forma eventual, esparsa, em dias esporádicos, sem
qualquer contingência de permanência à reclamada como lavador/polidor de
veículos, tendo isso ocorrido de forma eventual entre janeiro de 2021 e abril de 2022,
pelo que fica de pronto impugnado a alegativa do vínculo de emprego, período e
atividades executadas.
Desse modo, fica negado o vínculo de emprego, assim como o
exercício de qualquer outra atividade daquela indicada pela empresa quando o
reclamante prestou serviços como trabalhador autônomo de forma eventual como
lavador/polidor.

Nesse contexto, improcede a alegação do reclamante quanto ao


vínculo empregatício, tendo em vista que o mesmo era autônomo e prestou serviços
esporádicos para a reclamada, assim como também realizava para diversos lojistas de
automóveis, bem como a terceiros (particulares).

Demonstrando o reclamante como trabalhador autônomo e prestando


serviços ainda de forma esporádica entre janeiro de 2021 e abril de 2022, o próprio
autor junta o seu extrato bancário onde comprova que recebeu importes da reclamada
quando prestou serviços nos meses de maio e abril do ano de 2022, pelo que fica mais
uma vez impugnado o pretendido vínculo de emprego e período de prestação de
serviços.

É mister evidenciar que a inverdade declarada pelo reclamante é


tamanha, inclusive quando se observa que no período indicado na exordial e suposto
horário de trabalho, o comércio de Fortaleza/CE perpassava uma torrente de
restrições de funcionamento, inclusive com suspensão total das atividades e
limitação de horários de funcionamento, por conta da pandemia do COVID-19,
falecendo assim a alegativa do autor.

Em 30 de janeiro de 2020 houve a declaração de emergência de saúde


pública pela Organização Mundial de Saúde em 30 de janeiro de 2020, resultante da
COVID-19.
Em 03 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde declarou por meio
da Portaria nº 188, emergência em saúde pública de importância nacional (ESPIN) em
decorrência da infecção humana pelo COVID-19.

Com o passar dos dias, o surto da referida pandemia não retrocedeu e


mais medidas impositivas foram tomadas pelo Governo Federal e Governos Estaduais.

Há de se consignar que inúmeros estados da Federação


determinaram a suspensão total das atividades não essenciais, procedimento
conhecido por “lockdown”, com o intuito de conter o avanço da pandemia do
COVID-19.

No estado do Ceará o Governo Estadual (poder executivo) por


meio do Decreto 33.519, de 19 de março de 2020, intensificou as medidas para o
enfrentamento da infecção humana pelo COVID-19 e suspendeu diversas
atividades em todo território, acometendo o mencionado “lockdown”, com regras
restritivas de funcionamento do comércio, deslocamentos, determinações de
isolamento, quarentena, entre outros.

Tal situação se prolongou entre os anos de 2020 e 2021.

No ano de 2021, o Governo do Estado do Ceará mais uma vez


decretou para o comércio restrições rígidas, pelo que suspendeu totalmente as
atividades, tendo isso ocorrido no mês de Março (Decreto Estadual 33.965, de 04
de março de 2021).
Já a partir do mês de abril de 2021 1 o comércio ainda estava
submetido a restrições de várias naturezas, inclusive horário de funcionamento,
pelo que se pode mencionar que os Decretos Estaduais impuseram o
funcionamento do comércio, nos seguintes horários: 10h às 15h, Decreto em 10 de
abril; 10h às 19h, Decreto em 05 de junho; 09h às 19h, Decreto em 10 de julho; 09h
às 19h, Decreto em 21 de agosto, entre outros.

Como visto, impossível, até mesmo por inverossímil o reclamante


ter se ativado para a empresa no período e horário declinado na exordial, uma
vez que a reclamada sempre cumpriu com as determinações legais.

Fato de nodal importância é o reclamante ter confessado na exordial


que prestava serviços para outra pessoa no mesmo período em que alega ter
vínculo de emprego com a reclamada, pois indicou o Sr. Bruno Lima Castro como
beneficiário da prestação de serviço de lavador/polidor do reclamante, além do que se
comprova pelo extrato bancário juntado pelo autor que o Sr. Bruno, o pagou no mês de
1
DECRETO Nº34.475, de 16 de dezembro de 2021, DECRETO Nº34.458, de 11 de dezembro de
2021, DECRETO Nº34.418, de 27 de novembro de 2021, DECRETO Nº34.399, de 13 de novembro
de 2021
DECRETO Nº34.324, de 30 de outubro de 2021, DECRETO Nº34.298, de 16 de outubro de 2021
DECRETO Nº34.279, de 02 de outubro de 2021, DECRETO Nº34.254, de 18 de setembro de 2021
DECRETO Nº34.222, de 04 de setembro de 2021, DECRETO Nº34.199, de 21 de agosto de 2021,
DECRETO Nº34.196, de 07 de agosto de 2021., DECRETO Nº 34.173, de 24 de julho de 2021,
DECRETO Nº34.149, de 10 de julho de 2021., DECRETO Nº34.128, de 26 de junho de 2021.,
DECRETO Nº34.107, de 19 de junho de 2021, DECRETO Nº34.103, de 12 de junho de 2021.,
DECRETO Nº34.094, de 05 de junho de 2021., DECRETO Nº34.089, de 29 de maio de 2021.,
DECRETO Nº34.067, de 15 de maio de 2021., DECRETO Nº34.061, de 08 de maio de 2021,
DECRETO Nº34.058, de 01 de maio de 2021, DECRETO Nº34.043, de 24 de abril de 2021,
DECRETO Nº34.037, de 17 de abril de 2021, DECRETO Nº34.031, de 10 de abril de 2021,
DECRETO Nº34.021, de 04 de abril de 2021, DECRETO Nº34.005, de 27 de março de 2021,
DECRETO Nº33.992, de 20 de março de 2021, DECRETO Nº33.980, de 12 de março de 2021,
DECRETO No33.965, de 04 de março de 2021, DECRETO Nº33.955, de 26 de fevereiro de 2021,
DECRETO Nº 33.939, de 20 de fevereiro de 2021, DECRETO Nº33.936 , de 17 de fevereiro de 2021,
DECRETO Nº33.928, de 10 de fevereiro de 2021, DECRETO Nº 33.927, de 07 de fevereiro de 2021,
DECRETO Nº33.927, de 06 de fevereiro de 2021, DECRETO Nº33.918, de 02 de fevereiro de 2021,
DECRETO Nº33.913, de 30 de janeiro de 2021, DECRETO Nº33.904, de 21 de janeiro de 2021,
DECRETO Nº33.899, de 09 de janeiro de 2021, DECRETO Nº33.884, de 02 de janeiro de 2021;
março de 2022, o importe de R$105,00 (cento e cinco reais) e em abril de 2022, o
valor de R$50,00 (cinquenta reais).

O referido Sr. Bruno não é empregado da ré e muito menos


mandatário da empresa ou seus sócios, pelo que essa confissão autoral não pode deixar
de ser desprezada pelo juízo para o julgamento improcedente da reclamatória.

O reclamante prestava serviço autônomo e de forma eventual nunca


tendo recebido salário, muito menos de forma mensal. O único valor percebido
quando executava sua prestação de serviço era ajustado com a ré, sendo, em média, o
valor de R$50,00 (cinquenta reais) a R$100,00 (cem reais) por carro lavado/polido
pelo autor.

Nesse contexto, encontra-se também elidido o requisito da


onerosidade típico da relação empregatícia.

Não houve relação de emprego e o reclamante não estava


subordinado a reclamada, eis que esta não tinha a disponibilidade acerca da
atividade do autor.

Repita-se, que além de o reclamante ser autônomo a sua contratação


era eventual e somente ocorria quando o reclamante queria. Ademais, caso o
reclamante não comparecesse à empresa não sofria nenhuma punição, podendo até,
se quisesse mandar outra pessoa em seu lugar, porquanto não influenciaria em nada,
caracterizando assim, a inexistência de pessoalidade.

O reclamante poderia ao seu alvedrio desenvolver sua atividade


para qualquer outra pessoa ou empresa, sem sujeição ao poder diretivo da
demandada, uma vez que inexistia o vínculo laboral caracterizador desta
particularidade, portanto é patente a ausência de continuidade na prestação dos
serviços e a ausência de fixação jurídica a uma fonte de trabalho.

O autor detinha total autonomia para definir a sua atuação e a forma


com a qual desempenhava a sua atividade. Não havia sequer ingerência quanto a
habitualidade na prestação dos serviços do demandante.

O autor dentro do período declinado pela ré passou mais de dois


meses sem sequer ofertar sua prestação de serviços à reclamada.

Não havia, portanto, a habitualidade na prestação dos serviços.

No presente caso estão ausentes os requisitos caracterizadores da


relação de emprego, tais como pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e
subordinação jurídica.

Conforme previsto no artigo 3º da CLT, “considera-se empregado


toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a
dependência deste e mediante salário”.

No caso em tela, percebe-se que o reclamante nunca foi empregado da


reclamada.

Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial dominante:

VÍNCULO DE EMPREGO - NÃO CONFIGURAÇÃO


- AUSÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO - A subordinação
jurídica constitui elemento indispensável para a
caracterização da relação de emprego, a teor do disposto
nos artigos 2º e 3º da Consolidação das Leis do Trabalho.
Se o conjunto probatório indica que o reclamante prestava
serviços de forma autônoma, não se sujeitando ao poder
diretivo da reclamada, não há como ser reconhecido o
vínculo de emprego Recurso improvido. (Proc.nº.TRT.RO.
0000580-56.2010.5.06.0141, 1ª T., Rel. Desª Nise Pedroso
Lins de Sousa, pub 09/11/2011)

RECURSO ORDINÁRIO. VÍNCULO


EMPREGATÍCIO. NÃO CONFIGURAÇÃO.
AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DISPOSTOS NO
ARTIGO 3º DA CLT. Restando provado, pelo cotejo das
provas trazidas aos autos, que não houve o preenchimento
concomitante dos requisitos caracterizadores do contrato de
emprego entre os litigantes, nos moldes do artigo 3º da
Consolidação das Leis do Trabalho, não se configura o
vínculo empregatício. Recurso Ordinário ao qual se nega
provimento. (Proc.nº.TRT.RO.0000849-24.2010.5.06.0003,
2ª T., Rel. Desª Eneida Melo Correa de Araújo , pub
15/04/2011)

Ademais, não foi juntado pelo reclamante nenhuma prova que torne
válida sua alegação. Ressalte-se que o autor não juntou tal comprovação, porque esta
não existe. E fato alegado no Direito e não provado, é fato INEXISTENTE, não
alegado:
VÍNCULO DE EMPREGO. NEGADA A
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA DO
AUTOR. NÃO SATISFEITO. Negado o liame
empregatício, cabe à parte autora a prova do fato
constitutivo do direito, na linha dos artigos 818, da
CLT, e 333, I, do CPC, trabalho executado nos moldes do
artigo 3º, Consolidado. No caso dos autos, o conjunto
probatório não autoriza o reconhecimento da existência de
contrato de emprego entre as partes, pelo que se impõe a
manutenção do decisum de primeiro grau que julgou
improcedente a reclamação trabalhista. Recurso ordinário
improvido.” (Proc.nº.TRT.RO. 0000574-
19.2013.5.06.0311, 3ª T., Rel. Des. Valdir José Silva de
Carvalho, pub 13/06/2014)

Provar é dar ao juiz elementos para que forme a sua convicção. O que
não o fez o reclamante ao arrepio dos artigos 818, I, da Consolidação das Leis do
Trabalho, bem como o artigo 373, inciso I, do Digesto Processual Civil, este aplicável
ao Processo do Trabalho de forma subsidiária, por força do artigo 769 da
Consolidação.

Portanto, diante da realidade existente, não há que se falar em


vínculo empregatício entre as partes, devendo ser julgado improcedente o pedido
da inicial.

Em consequência, são totalmente improcedentes os pedidos


elencados na vestibular, diante da notória ausência da relação de emprego. Indevido
o principal, os acessórios também seguem o mesmo mote, nos exatos termos do
disposto no artigo 92, do Código Civil.

3.2. DA RESILIÇÃO DO PACTO

Inexiste contrato de emprego!

De fato, o reclamante manteve com a reclamada um contrato de


prestação de serviços de forma autônoma.

Dessa forma, inexistindo vínculo empregatício não há o que se falar


em rescisão do contrato de trabalho. Contudo, na remota hipótese de o vínculo de
emprego ser reconhecido, o que verdadeiramente não se acredita, necessário então
se perscrutar acerca do modus da cessação da avença.

Destaca-se que inepto o pedido do reclamante, pois em causa de pedir


narra uma demissão sem justa causa, porém no pedido eleva em relação ao mesmo
fato, a cessação contratual por rescisão indireta.

Ora, o próprio reclamante não dispôs a forma da cessação contratual,


de modo que improcede o seu reclamo.

No mais, ainda de forma eventual, deve ser considerado que o próprio


reclamante ingressou deliberadamente em juízo com a pretensão em tela, pelo que o
mesmo não teve o contrato cessado pela ré, por uma suposta demissão sem justa causa
e muito menos rescisão indireta.

Assim, não tendo o reclamante sequer comprovado que a empresa


cessou a avença, que seja entendido o pedido de cessação contratual do reclamante
como pedido de demissão.
Improcede, portanto, o pedido de reconhecimento de vínculo
empregatício e verbas rescisórias, bem como os demais consectários.

3.3. DAS VERBAS RESCISÓRIAS – SEGURO DESEMPREGO

Reconhecida a inexistência de vínculo empregatício, devem ser


julgados totalmente improcedentes os pedidos elencados pelo reclamante (saldo de
salário, aviso prévio, 13º salário, férias, 1/3 de férias, FGTS, multa rescisória do
FGTS e multa prevista nos artigos 467 e 477 da CLT), uma vez que inexistiu
relação de emprego a motivar o pagamento de verbas oriundas de pacto laboral.

No que diz respeito à indenização pelo não recebimento do Seguro-


Desemprego, o mesmo não merece prosperar, pois sequer há causa de pedir. Porém,
ainda em nome da eventualidade, em caso de reconhecimento de vínculo, o Juízo pode
naturalmente expedir ofício para habilitar o reclamante no programa, na forma que
estabelece o art. 4º, IV, da Resolução 467/2005 do CODEFAT. Portanto, indevida a
multa pleiteada.

3.4. DA IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS RELACIONADOS


A JORNADA DE TRABALHO

O reclamante pretende a condenação da reclamada ao pagamento de


horas extras.

O reclamante mais uma vez realiza pedido completamente inepto.

No mais, o autor sequer delimita de forma jurídica válida a sua


pretensão de horas extras.
Na exordial, o autor declina que executava uma jornada de 08h às 18h,
com uma hora de intervalo intrajornada, de segunda à sexta-feira, e consigna que tem
direito a 3 (três) horas extras por dia.

Por simples cálculo matemático se verifica a impropriedade do


pedido autoral, uma vez que impossível dentro da jornada declinada, ainda que
seja analisada de forma abstrata, o mesmo ter direito a 3 (três) horas extras por
dia.

Ora, a jornada de 08h às 18h, com uma hora de intrajornada, de


segunda à sexta, encontra abstratamente, o número de 1 (uma) hora extra por dia.
E mais, se for apreciado eventual compensação de jornada, tacitamente autorizada por
força de lei, o autor teria 12 minutos por dia de hora extra.

Neste diapasão improcede o pagamento das horas extras


requestadas na reclamatória.

No entanto, em caso de condenação em horas extras, o que não se


espera, a reclamada requesta pelo atendimento da Súmulas 85 do TST.

Ademais, por ser a reclamada uma pequena empresa, com menos de


10 funcionários, cabe ao trabalhador o ônus de comprovar sua jornada de trabalho.

Cumpre-se destacar que a reclamada não detinha obrigatoriedade da


implementação de registro de frequência, por existirem menos de 10 funcionários na
empresa, de acordo com o art. 74, §2º da CLT, sendo ônus do autor provar as horas
extraordinárias, de acordo a Súmula 338, I do TST.
Incumbe ao autor o ônus probante, consoante o disposto no art. 818, I,
do Texto Consolidado c/c art. 373, I do CPC, aplicado subsidiariamente, contudo a
mesmo não se desincumbiu do seu encargo.

De toda sorte, a empresa ré pugna pela improcedência dos pedidos


exordiais.

3.5. DAS MULTAS DO ART. 467 E 477, DA CLT

O reclamante nunca foi empregado da contestante, sendo, desta forma,


improcedente o pedido de aplicação da multa em razão do não pagamento de verbas
rescisórias.

Todas as parcelas estão controvertidas, pelo que improcede a multa do


artigo 467 da CLT.

A aplicação da multa do artigo 477, § 8º, da CLT somente tem razão


de incidir quando o empregador não cumpre o prazo estabelecido para a quitação das
verbas constantes no instrumento de rescisão. Essa é a redação do texto legal, veja-se:

Art. 477 - É assegurado a todo empregado, não existindo


prazo estipulado para a terminação do respectivo contrato,
e quando não haja ele dado motivo para cessação das
relações de trabalho, o direto de haver do empregador uma
indenização, paga na base da maior remuneração que tenha
percebido na mesma emprêsa. (Redação dada pela Lei nº
5.584, de 26.6.1970)
§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo
sujeitará o infrator à multa de 160 BTN, por trabalhador,
bem assim ao pagamento da multa a favor do empregado,
em valor equivalente ao seu salário, devidamente corrigido
pelo índice de variação do BTN, salvo quando,
comprovadamente, o trabalhador der causa à mora.
(Incluído pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989)

No caso em comento, há discussão no tocante à própria relação


jurídica existente entre as partes, havendo, portanto, controvérsia quanto a existência
das verbas rescisórias, o que impede se falar em mora:

"MULTA. ARTS. 467 E 477, § 8°, DA CLT.


INAPLICABILIDADE. VÍNCULO EMPREGATÍCIO.
VERBAS RESCISÓRIAS. CONTROVÉRSIA.
Tratando-se de litígio cujo objeto é a própria existência da
relação de emprego, nos moldes celetistas, a controvérsia
recai sobre a totalidade das verbas rescisórias, eis que tais
verbas decorrem da existência de relação de trabalho
subordinado entre as partes. Assim, questionada a
existência do vínculo empregatício, tem-se que a "res
dubia" afasta a mora, sendo indevido o pagamento das
multas previstas nos arts. 467 e 477, § 8°, da CLT. (TRT da
9ª Região. Processo 005250016.2003.5.09.0017. Julgado
em 17/5/2005. Publicado em 07/06/2005 sob
nº13613/2005)
Pelo que requer a improcedência.

4. DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Frente a total improcedência desta reclamação trabalhista, não são


devidos honorários advocatícios em favor do reclamante, contudo são devidos
honorários sucumbenciais em favor da reclamada.

É cediço que, com a nova redação da CLT, em razão da Reforma


Trabalhista, passou-se a prever a possibilidade de honorários advocatícios em favor
dos advogados, vejamos:

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria,


serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o
mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15%
(quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação
da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).

§ 3o Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará


honorários de sucumbência recíproca, vedada a
compensação entre os honorários. (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017).

Veja Excelência que o supracitado artigo autorizou a cobrança de


honorários advocatícios para ambas as partes, devendo o reclamante ser condenado,
frente a total improcedência de seus pedidos, no pagamento de honorários
sucumbenciais no importe de 15% do proveito econômico obtido ou, não sendo
possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

Mesma sorte merece no caso improvável de parcial procedência.

Ainda que beneficiário da justiça gratuita deva a parte vencida ser


condenada ao pagamento dos honorários sucumbenciais, nos termos do §4º do artigo
791-A da CLT, vejamos:

§ 4o Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que


não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo,
créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações
decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição
suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser
executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em
julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar
que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos
que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se,
passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

Assim, em razão do trabalho do procurador da parte ré, dos custos


assumidos para a representação nesta demanda e diante dos aspectos do presente caso,
requer a fixação em 15% sobre o valor que resultar do proveito econômico obtido ou,
não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

5. DA DECLARAÇÃO
Atesta o advogado subscritor da presente, que todos os documentos
acostados a presente defesa refletem cópia fiel do original. Permissão contida no art.
830 da CLT.

6. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, a reclamada requer a V.Exa. que se digne de:

1) Acolher as preliminares erguidas pontualmente nesta


defesa;

2) No mérito, julgue a reclamação trabalhista


absolutamente improcedente, condenando o reclamante
no ônus decorrente de sua sucumbência e custas
processuais;

Requer ainda provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitido, mormente o depoimento das partes, a ouvida de testemunhas, a juntada
posterior de documentos, tudo de logo requerido.

Por fim, requer que todas as notificações, intimações e publicações


oficiais dos atos processuais sejam feitas única e exclusivamente em nome de
EDUARDO HENRIQUE AGUIAR, inscrito na OAB/CE 12.736, ou enviada ao
escritório profissional à Rua Albert Sabin, nº 60, bairro Guararapes,
Fortaleza/CE, CEP 60.810-060, sob pena de nulidade nos termos da Súmula 427 do
TST.

Termos em que,
Pede e Espera Deferimento.

Fortaleza/CE, 26 de julho de 2022.

EDUARDO HENRIQUE AGUIAR,


OAB/CE 12.736

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