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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DO TRABALHO DE ...

Processo nº: 0101010-50.2020.5.02.0200

BETA S/A, já devidamente qualificada nos autos em epígrafe, vem respeitosamente,


perante Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado que este subscreve, nos termos da
procuração anexa, com escritório profissional à Rua ..., nº ..., bairro ..., CEP ..., com base no art.
847, da CLT, oferecer:

CONTESTAÇÃO

À Reclamação Trabalhista proposta por JOSE PAES, já devidamente qualificado, pelas


razões de fato e de direito a seguir expostos:

I- DOS FATOS

O Reclamante foi admitido em 14/02/2018, nos quadros da Reclamada como auxiliar


de escritório e dispensado sem justa causa em 11/04/2023. O Reclamante aduz que trabalhava
de segunda a sexta das 8h às 17h, quando trabalhava na sede da empresa. Afirmando ainda
que três vezes por semana, os inventários eram realizados em clientes de outros municípios. O
inventário era realizado em média das 10h às 14h, sendo certo que, às 17h, o ônibus já estava
de volta à sede da empresa Reclamada com os funcionários.

O trabalho consistia na coleta de dados, notadamente a quantidade de mercadorias, o


que obtinha por informação pessoal e telefônica dos funcionários dos clientes, lançando a
quantidade em um programa específico, que comparava estes dados com o de anos
anteriores.

Por fim, aduziu que tinha, em parte da jornada, funções similares às de digitador, razão
pela qual requere intervalo de 10 minutos a cada 90 minutos trabalhados. Pelas mesmas
razões o Reclamante pleiteia receber um plus salarial de 30%, alegando acúmulo de função de
auxiliar de escritório e digitador.

II- DAS PRELIMINARES

Inicialmente, vem o Reclamante, anteriormente a discussão do mérito, requerer que seja


julgado improcedente o pedido autoral, nos termos precisos do art. 330, I, do CPC. Como
disposto no artigo supracitado, é exigido que o pedido seja claro, coerente, certo e
determinado, não se admitindo pedido implícito, ou seja, aquele reputado formulado, mesmo
sem ter sido feito expressamente.
Na peça inicial do Reclamante, não ficou claro qual função adicional no trabalho ele estava
exercendo, muito menos o motivo de causar transtornos, uma vez que apenas se tratou de
exercícios já expressados explicitamente no contrato de trabalho e em anotações na sua CTPS,
o qual o Reclamante exerceu pelos anos trabalhados sem objeções ou contestações.

Em relação ao tema de hora extra, o Reclamante não foi capaz de definir de forma certa e
objetiva o motivo que deveria ganhar, uma vez que a jornada de trabalho estava
completamente regular com as 8 (oito) horas diárias de trabalho e 1 (uma) hora para intervalo
para repouso ou alimentação.

Pelo exposto, resta claro, a toda evidência, que o pedido deduzido na inicial não é certo.
Assim, diante da evidente inépcia da inicial, impõem-se a extinção do feito sem julgamento do
mérito, como preconiza o Art. 485, I, c/c Art. 330, I e §1º, II, ambos do CPC, c/c Art. 769, CLT.

III- DO MÉRITO

1. DO ACÚMULO DE FUNÇÃO. INEXISTÊNCIA.

O Reclamante requer o pagamento de um adicional no salarial no valor de 30% (trinta por


cento) sobre o seu salário, pois como alega foi contratado como auxiliar de escritório, mas
aduz que possuía funções similares às de digitador, por precisar lançar os dados que coletava
em um programa específico e os comparava com anos anteriores. Segundo alega, esse
procedimento caracteriza acúmulo de função.

Não faz jus ao pedido, pois esse fato de apenas digitar dados e compará-los não
caracteriza acúmulo de função, já que era função do Reclamante registrar os dados coletados
para que seja possível a comparação com anos anteriores, seja em planilhas, agenda e/ou
programas diversos, como consta no contrato de trabalho do autor e de acordo com Art. 456,
parágrafo único, da CLT.

Diante do exposto requer a improcedência do pedido de acúmulo de função.

2. DA INEXISTÊNCIA DOS DANOS MORAIS

Sabe-se que a indenização se encontra à luz dos ditames dos arts. 186 e 927, ambos do CC.
Neste sentido, faz-se necessário mencionar o Sílvio De Salvo Venosa:

Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. Sua atuação
e dentro dos direitos da personalidade. Nesse campo o prejuízo transita pelo imponderável, daí
porque aumentam dificuldades de se estabelecer ajusta recompensa pelo dano. E muitas
situações, cuida-se de indenizar o inefável. Não é também qualquer dissabor comezinho da
vida que pode acarretar indenização. [ ... ]

Por tanto, com efeito, a situação fática, descrita na inicial, nem de longe representa
qualquer forma de dano ao Autor, pois não há qualquer prova mínima de ofensa efetiva à
honra, à moral ou imagem da parte prejudicada, como in casu. Os danos ventilados nos fatos
da inicial não passam de conjecturas.
Não fosse isso o suficiente, afirma-se que a dor moral, decorrente da ofensa aos
direitos da personalidade, conquanto subjetiva, deve ser diferenciada do mero aborrecimento.
Isso qualquer um está sujeito a suportar. Apenas o ato de exercer função a qual foi expressa
claramente no contrato de trabalho não é suficiente para se enquadrar nos artigos
mencionados e assim, consequentemente, gerar indenização.

Por fim, entende-se que os transtornos levantados na inicial não passam de meros
aborrecimentos. E esses, vem como quaisquer chateações do dia a dia, desavenças ou
insatisfação pessoal são fatos corriqueiros e NÃO podem ensejar indenização por danos
morais. Afinal, faz parte da vida cotidiana, com seus incômodos normais.

Neste prisma, percebe-se a não configuração dos danos morais e, portanto, requer a
improcedência de pedido.

3. DO SEGURO DESEMPREGO, CTPS e FGTS

O Reclamante sequer soube defender seu direito no que se refere a transcrever os reais
salários, alegando que o mesmo não o fez, ficando claro a criação de situação irreal.

A Reclamada procedeu corretamente todos os depósitos em conta vinculada, nos exatos


termos legais. No que tange à multa rescisória, na hipótese de o contrato ter sido rescindido
sem justa causa por iniciativa da empresa reclamada, este igualmente foi corretamente
depositado.

Ademais, é importante salientar que cabe ao reclamante a conferência dos depósitos do


FGTS em conta vinculada, haja vista que ele dispõe de mecanismos para verificar a exatidão
dos depósitos fundiários, através de simples extratos bancários, não havendo razão para que a
Reclamada seja onerada com a obrigação de juntar enormes quantidades de documentos, que
inclusive prejudicam a própria comodidade processual.

Assim, consoante ao melhor entendimento manifestado pelo Colendo Tribunal Superior do


Trabalho, no caso de pedido genérico feito por empregado, sem especificar a suposta
irregularidade no recolhimento do FGTS e o período em que teria ocorrido, inverte-se ônus da
prova, incumbindo assim a reclamante comprovar sua afirmação.

4. DA HORA EXTRA

O labor do Reclamante era de 2ª a 6ª feira das 8h às 17h, com intervalo de uma hora para
refeição. Dessa maneira o pedido de horas extras é indevido haja vista que a jornada não
excede o módulo constitucional, conforme art. 7º, XIII da CF e art. 58 da CLT, já que o horário
de trabalho é de 8 horas por dia, com pausa de almoço de 1 hora, cumprindo assim a jornada
regular e não possibilitando o pagamento de horas extras.

Diante o exposto, requer a improcedência do pedido de horas extras.

5. DAS VERBAS RESCISÓRIAS E LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

No que tange as verbas rescisórias, falta com verdade o Reclamante, alegando que as
verbas rescisórias e indenizatórias (aviso prévio, saldo de salário, 13º salário, férias
proporcionais + 1/3 constitucional, FGTS + 40%) foram pagas incorretamente observando o
acúmulo de função, intervalo intrajornada e horas extras, pedidos em questão considerados
inválidos como demostrado no presente processo com provas fundamentadas e anexas.

De qualquer forma, há de se falar que o Reclamante recebeu integralmente todas as


verbas a que fazia jus por ocasião da rescisão do contrato de trabalho, sendo certo que
qualquer condenação neste sentido ensejaria enriquecimento sem causa e bis in idem,
situações estas completamente repudiadas pelo ordenamento jurídico pátrio.

Assim, a Reclamada pugna pela improcedência dos pedidos de pagamento de saldo de


salário, aviso prévio indenizado, 13º salário, férias, acrescidas do terço constitucional,
depósitos fundiários e multa de 40%, bem como indenização correspondente ao seguro
desemprego.

Por consequência das inverdades narradas, onde o Reclamante requer todos os seus
pedidos sobre direitos não devidos ou já quitados anteriormente, a mesma deverá ser
condenada a Litigância de Má-Fé com a devida aplicação de multa.

6. DA MULTA DO ARTIGO 467 E 477 DA CLT

Não são devidas as multas referidas, vez que a rescisão fora realizada conforme os ditames
da lei e ao seu tempo, provado ainda que o pagamento foi realizado de maneira correta, como
consta em provas anexas, além de que a presente peça contestatória torna controversas todas
as verbas requeridas na petição inicial, motivo pelo qual requer o seu total indeferimento.

7. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Observando a Lei 13.467/2017, nos termos do art. 791, A, da CLT, veja que caso à parte
vencida seja beneficiária da Justiça gratuita e não tenha condições de arcar com as obrigações
decorrentes da sucumbência, ou não tenha créditos trabalhistas a receber no âmbito da justiça
do trabalho, os honorários advocatícios poderão ser cobrados pela parte vencedora no prazo
de até dois anos do trânsito em julgado, desde que nesse período a parte vencedora comprove
que a parte vencida perdeu a condição de beneficiária da Justiça gratuita.

Portanto, com a previsão dos honorários advocatícios de sucumbência na Justiça do


Trabalho, mesmo que parte seja beneficiária da Justiça gratuita, caso vencida, poderá arcar
com os honorários advocatícios de sucumbência, a bem da verdade é que, além de fazer
justiça ao advogado trabalhista, deverá diminuir ou mesmo eliminar as reclamações
trabalhistas e os pedidos aventureiros, o que ocorre in casu, diante da possibilidade de a ação
ser julgada improcedente, o vencido pagará os honorários de sucumbência ao vencedor, ou
procedente em parte, por serem as partes parcialmente vencidas e vencedoras, pagam os
honorários advocatícios na medida de sua proporcionalidade.

Desta forma, requer que seja arbitrado honorários sucumbenciais em favor do patrono da
Reclamada no importe de 15%, ou quantum Vossa Excelência achar necessários, sobre o valor
da causa, visto a total improcedência dos pedidos da inicial.

Alternativamente, caso vossa excelência entenda ser devido alguma verba ao Reclamante,
que seja arbitrado honorários sobre o valor dos pedidos indeferidos da inicial.
IV- DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) O acolhimento da preliminar de mérito para que seja determinada a extinção do


processo sem resolução do mérito, nos moldes dos Art. 485, I, c/c Art. 330, I e §1º, II,
ambos do CPC, c/c Art. 769, CLT;
b) Que sejam julgados totalmente improcedentes TODOS os pedidos narrados na inicial
pelo Reclamante;
c) O recebimento da presente contestação escrita, nos termos do art. 847, §ú, da CLT;
d) Que seja julgado improcedente o pedido de adicional salarial por acúmulo de função,
uma vez que não é dada a razão para a caracterização, conforme o art. 456, parágrafo
único, da CLT;
e) O julgamento improcedente do pedido, quanto ao pagamento do dano moral,
porquanto não comprovados, condenando o autor ao pagamento das custas processuais
e honorários advocatícios.
f) Que seja julgado improcedente o pedido de hora extra feito nos pedidos da inicial, por
se tratar de uma jornada de trabalho regular, nos termos do art. 7º, XIII da CF e art. 58
da CLT.
g) Que o Reclamante seja condenado em litigância de má-fé, pelas inverdades alegadas na
reclamação trabalhista, que serão todas esclarecidas em momento oportuno, para que,
assim, iniba o reclamante de tomar atitudes como a que fora tomada, devendo pagar a
multa máxima a Reclamada, conforme dispõe o art. 793-C da CLT;
h) Que o pedido de multa dos arts. 467 e 477 da CLT sejam indeferidos por falta de
méritos, uma vez provada na presente ação adimplemento das verbas.
i) Que o Reclamante seja condenando ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios, no importe de 15%, nos termos do art. 791-A, da CLT;
j) Caso a reclamada seja condenada a pagar alguma verba indenizatória ao reclamante, o
que somente admitimos hipoteticamente, por amor ao contraditório, que o valor
arbitrado por esse juízo se ajuste a patamares estabelecidos pela jurisprudência,
minorando significativamente as pretensões aduzidas pelo Reclamante em sua peça
vestibular;
k) A produção de todos os meios de prova, em especial a documental e testemunhal,
inclusive com depoimento pessoa do autor, sob pena de confissão.

Nestes termos, pede deferimento.

Local ..., Data ...

ADVOGADO
OAB nº ...

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