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EXMO. SR. DR.

JUIZ DO TRABALHO DA VARA DO TRABALHO DA


COMARCA DE CAPIVARI/SP

RECLAMANTE, por meio de seu advogado e procurador que esta


subscreve, vem à presença de V. Excelência com fulcro no art. 840 da CLT propor a
presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

contra RECLAMADA, pelos motivos de fato e de direito que seguem


abaixo.

DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA

Prescreve o art. 790, §3º da CLT, alterado pela lei 13.467/17, que o
juiz poderá conceder as benesses da gratuidade judiciária ao empregado que perceber
salário inferior a 40% sobre o teto dos benefícios do regime geral. O parágrafo 4º
também prevê a concessão do benefício caso comprovada a situação de hipossuficiência
do requerente.

No caso em tela, muito embora o reclamante percebesse na época do


contrato, salário superior ao limite previsto no artigo citado, atualmente encontra-se
desempregado não possuindo renda suficiente e compatível com o pagamento das
despesas processuais.

Vide a sua CTPS fls 18 que consta o contrato de trabalho com a


reclamada e a fls. 19 que encontra-se em branco até o momento.

Logo, requer a concessão das benesses da gratuidade judiciária.

DA LIMITAÇÃO A APLICAÇÃO DA LEI 13.467/17


O art. 5º, inciso XXXVI da Carta Maior, dispõe que a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. No mesmo
sentido, o art. 6º da LINDB.

Com efeito, aplicação da lei 13.467/17 aos contratos celebrados antes


da sua vigência é afrontar o direito adquirido e configurar alteração contratual em
prejuízo ao empregado, o que é vedado pelo art. 468 da CLT.

Ademais, pensar de modo diferente, seria afrontar o preceito do art. 5º,


parágrafo 2º (vedação ao retrocesso social) e o princípio da norma mais favorável
previsto no art. 7º ambos da CF. Por fim, traria prejuízo financeiro ao empregado que
teria sensivelmente redução salarial após a vigência da reforma, o que é vedado pelo
inciso VI do artigo 7º da CF.

Portanto, reconhecido direitos previstos anteriores a reforma, deverão


ser deferidos por todo o pacto laboral não se aplicando a lei 13.467/17.

DO CONTRATO DE TRABALHO

O reclamante foi admitido pela reclamada em 24/02/2000 como fiscal


de turmas com jornada 5x1 e salário inicial de R$ 1,51 a hora trabalhada. Em
21.04.2015 passou a exercer a função de Fiscal de Operações Mecanizadas e em
01.05.2017 passou a função de Gestor de Operações Agrícolas II.

Foi dispensado em 03.10.2019 com salário de R$ 16,49 por hora,


ocasião em que recebeu R$ 51.120,24 de verbas rescisórias.

Durante o pacto laboral a reclamada não realizou o pagamento dos


minutos residuais, intervalo intrajornada, horas in itinere, adicional noturno após as 5hs
e diferenças salariais em decorrência de equiparação, além de outras verbas que serão
aqui pleiteadas, razão pela qual, vem à presença deste juízo requerer o que lhe é de
direito.

DA EQUIPARAÇÃO SALARIAL

O reclamante foi contratado como Fiscal de Turma, sendo que, nos


últimos 2 anos, passou a exercer a função de Gestor de Operações Agrícolas. Na prática,
era o mesmo trabalho, não havendo distinção.
Por determinação interna seu cargo foi renomeado para Gestor que
consistia em organizar os trabalhos nas frentes da colheita nos períodos de safra e entre-
safra.

Chegava na empresa e de imediato, fazia o diálogo de segurança com


o pessoal do turno, fazendo o direcionamento para as máquinas iniciarem o processo de
colheita. Vez ou outra fazia a gestão da manutenção das máquinas, bem como o
abastecimento.

A frente de trabalho era composta de 6 tratores e 3 colheitadeiras,


sendo que o número de empregados sob sua gestão era de 10 a 12. Os locais onde seria
feita a colheita, eram delegados por um rapaz que fazia o turno do dia e comunicavam
aos empregados com 2 dias de antecedência.

Em resumo do que consta no PPP em anexo, o obreiro era responsável


por acompanhar as necessidades operacionais, identificando, quantificando e planejando
as atividades de safra e entressafra, apresentar semanalmente na reunião de produção e
acompanhar a sua correta execução. Assegurar o monitoramento da qualidade e prazo
das operações, verificando atendimento dos padrões de qualidade de todas as atividades
realizadas na sua área de atuação.

Ocorre que, haviam outros gestores de operação que ganhavam mais


que o reclamante, realizando a mesma função no gerenciamento de equipe nos cortes de
cana.

Esses gestores eram Vitor Hugo e Alcimar, cujo cargo tinha como
nomenclatura Gestor de Operações Agrícolas I e percebiam por hora o valor de R$
20,00 mais ou menos e mantinham menos tempo de contrato de trabalho em
comparação com o reclamante.

Diante desse contexto, importante avaliar o preceito do art. 461 da


CLT antes da reforma que prevê salário igual quando houver idêntica função, trabalho
de igual valor, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade. Após a lei
13.467/17 o conceito de mesma localidade foi alterado para o mesmo estabelecimento, o
que não difere no caso dos autos.
No presente caso, não havia diferença no serviço prestado pelo
reclamante e os paradigmas. Todos eram gestores de operações agrícolas, realizando a
fiscalização e organização das frentes de trabalho nas fazendas e locais de colheita.

Ocorre que os paradigmas percebiam salários maiores que o


reclamante sem qualquer diferença na prestação de serviço que justificasse a
discrepância salarial.

Pois bem. Para o período anterior a reforma, devem ser observados os


preceitos do art. 461 da CLT e a súmula 6 do TST. Já para o período após 11/11/2017,
não há que se falar em afastar a equiparação pela diferença do tempo na função e no
emprego, bem como a existência de pessoal organizado em quadro de carreira, uma vez
que a reclamada não possui tal quadro e o obreiro contar com mais tempo de contrato
que os paradigmas.

No tocante aos salários, o reclamante recebeu nos últimos meses o


valor de R$ 16,49 a hora trabalhada enquanto os paradigmas recebiam na média R$
20,00 a hora, havendo uma diferença de R$ 3,51.

Para fins de liquidação de pedidos, será levada em consideração essa


diferença por todo o pacto laboral, sem prejuízo de apuração em sede de liquidação de
sentença, valores superiores assinalados nos contracheques dos paradigmas que deverão
ser trazidos aos autos por força do art. 400 do NCPC.

Portanto, requer seja a reclamada condenada no pagamento da


diferença de R$ 3,51 a hora com reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias
acrescidas de 1/3, adicional noturno, 13º salário e FGTS acrescido de multa de 40%.

DAS HORAS IN ITINERE

O reclamante foi contratado para jornada 5x1 sendo que trabalhou nos
turnos das 22hs às 06hs, e no período de entressafra, das 06hs às 15hs e das 07hs às
14hs.

Ocorre que a reclamada não mantinha um posto fixo de trabalho, de


maneira que fornecia o transporte dos seus empregados sendo os locais de difícil acesso
como os que serão apontados a seguir.
Por exemplo. O reclamante laborou na Fazenda Furlan, localizada na
cidade de Santa Bárbara D’oeste cujo período de deslocamento era de 44 minutos entre
a residência do reclamante até o local. Porém, há de se observar que além do
reclamante, o ônibus recolhia outros empregados fazendo com que o trajeto demorasse
1 hora e meia a 2 horas.

Além do local acima, o reclamante laborou nas Fazendas Rio Acima,


perto de Monte Mor e Fazenda da Serra, região de Piracicaba, sendo que todos os locais
são de difícil acesso, por estarem localizadas em zonas rurais, bem como não servidas
de transporte público.

Destarte, aplica-se no caso em tela o art. 58, parágrafo 2º da CLT, que


trata como tempo de serviço, aquele despendido pelo empregado até o local de trabalho
e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte, quando local for de difícil acesso
ou não servido de transporte público e o empregador fornecer a condução.

Tendo em vista que o reclamante levava em média 1h30m a 2h para


chegar ao trabalho e retornar a sua residência, a depender do trajeto, esse período
extrapolava a jornada contratual de 7:20 horas diárias, logo, deverão ser pagas como
horas extras nos termos do item V da Súmula 90 do C. TST.

Portanto, requer a condenação da reclamada no pagamento de 4 horas


extras diárias considerando o período prescricional de 5 anos, com reflexos em DSR e
com este, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS acrescido de multa
de 40%.

DO INTERVALO INTRAJORNADA

A jornada de trabalho do reclamante teve variações entre jornadas,


sendo que, durante o período de safra, realizava jornada das 22hs às 06hs e das 21hs às
05hs. Já no período de entressafra, prestava serviços das 06hs às 15hs

Ocorre que, muito embora esteja anotado nos cartões de ponto, o


reclamante não gozava de fato do intervalo intrajornada e a marcação era realizada pelo
RH da reclamada. Senão vejamos.

Verifica-se da imagem abaixo correspondente ao cartão de ponto do


período entre 21/08/2019 a 30/09/2019 que há marcação do intrajornada, parcialmente
de forma “britânica”.

No dia 23/08, o RH da empresa lançou a saída para o intrajornada às


01:54 e o retorno as 02:24. Analisando um dia somente parece ser normal a marcação
com suas variações, ocorre que, analisando os demais dias, verifica-se que os minutos
finais sempre coincidem entre horário de saída e retorno.

O reclamante reafirma que NUNCA anotou o intervalo para descanso


e refeição, pois não poderia sair do seu posto de trabalho para descansar. Sempre havia
uma diligência para atender como a quebra de uma máquina, falta de combustível,
demanda de algum colaborador, enfim.

Caso V. Excelência entenda de forma diversa dando validade aos


cartões de ponto ora apresentados, requer seja analisado os dias que o período mínimo
de 1 hora não fora respeitado, ou seja, todos os dias se verifica que pela marcação do
ponto, o obreiro supostamente fazia 30 minutos de intervalo.
Sequer havia local para refeição, pois se tratava de canaviais que a
reclamada fazia colheita da cana. Logo, extrai-se que o reclamante não gozava do
intervalo intrajornada previsto no art. 71, da CLT.

Verifica-se que não havia autorização ministerial e tampouco norma


coletiva que autorizava a redução intervalar o que resulta no pagamento do intervalo
integral de 1 hora com acréscimo de 50% e reflexos, dada a natureza salarial da referida
verba com força no art. 71, §4º da CLT e súmula 437, itens I e III do C. TST.

Com efeito, não há de se aplicar as mudanças trazidas com a lei


13.467/17, pois se trata de contrato iniciado antes da sua vigência e aplicar as novas
regras seria ferir o direito adquirido do obreiro.

Portanto, requer a condenação da reclamada no pagamento de 1 hora


extra por dia com acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio,
adicional noturno, férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS acrescido de multa de
40%.

DOS MINUTOS RESIDUAIS

A jornada de trabalho do reclamante teve variações entre jornadas,


sendo que, durante o período de safra, realizava jornada das 22hs às 06hs e das 21hs às
05hs. Já no período de entressafra, prestava serviços das 06hs às 15hs

Depreende-se dos cartões de pontos carreados que diariamente o


reclamante anotava a entrada e saída com variações na jornada que ultrapassam 5
minutos no início e no término da sua jornada. Vejamos.

No dia 14/09/2019 sua jornada inicia às 21:44hs e encerra-se às


06:06hs sendo que a jornada contratual era das 22hs às 06hs, resultando numa diferença
de 17 minutos além da jornada de 7hs e 20 min por dia considerando que o obreiro não
gozava do intervalo intrajornada que é objeto de pedido próprio.

Do mesmo modo, no dia 31/05/2019 o obreiro iniciou sua jornada às


21:51hs e encerrou às 06:14hs com variação de 23 minutos excedentes a jornada
normal.
Com efeito, prescreve o art. 58, §1º da CLT que não serão descontadas
nem computadas como jornada extraordinária as variações de horário no registro de
ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de 10 minutos
diários.

Nesse mesmo sentido a súmula 366, do C. TST que prevê o


pagamento desse período excedente se ultrapassado os 10 minutos, de maneira que,
considera-se tempo à disposição do empregador.

Portanto, requer a condenação da reclamada no pagamento dos


minutos residuais que em média perfazia-se entre 20 a 30 minutos diariamente, devendo
ser pago com acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias
acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS acrescido de multa de 40%.

DO ADICIONAL NOTURNO APÓS ÀS 05HS

A jornada de trabalho do reclamante teve variações entre jornadas,


sendo que, durante o período de safra, realizava jornada das 22hs às 06hs e das 21hs às
05hs. Já no período de entressafra, prestava serviços das 06hs às 15hs

Infere-se dos contracheques em anexo que a reclamada pagava


adicional noturno no importe de 30% sobre o período laborado entre às 22hs e às 05hs,
contudo, muito embora a jornada do obreiro se estendesse após as 5hs a reclamada não
pagava o referido adicional até o horário de saída conforme delimita a súmula 60 item II
do C. TST.

Logo, requer a condenação da reclamada no pagamento do adicional


noturno de 30% conforme norma coletiva, pelas horas laboradas após às 05hs e com
reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS
acrescido de multa de 40%.

DA ESTABILIDADE PRÉ-APOSENTADORIA

O reclamante estava a 7 (sete) meses de completar o tempo de


contribuição de 35 anos para solicitar a sua aposentadoria nos termos da lei
previdenciária, porém foi dispensado antes do requerimento junto ao INSS.
Verifica-se do protocolo em anexo, que o reclamante realizou o
pedido em 27.05.2020, e que devido a pandemia, tal requerimento não foi analisado
ainda.

Entretanto, não poderia ser dispensado imotivada, visto que há acordo


coletivo celebrado com o sindicato da categoria, prevendo a estabilidade pré-
aposentadoria para aqueles empregados que possuíam período para requerer o benefício
em até 12 meses, ou seja, aqueles que estiverem a um máximo de 12 meses da aquisição
do direito à aposentadoria, não poderiam ser dispensado ou teriam que ser indenizados
do período restante.

No caso em tela, o reclamante teria que recolher por mais 7 meses


para dar entrada no requerimento da sua aposentadoria e assim o fez em maio de 2020.

Portanto, nos termos da cláusula 24ª da ACT de 2019/2020, requer a


condenação da reclamada no pagamento dos salários correspondentes a 7 meses de
estabilidade pré-aposentadoria.

DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto acima requer:

1 – A concessão da gratuidade judiciária pelos termos do art. 790, §3º


da CLT;

2 – A notificação da reclamada para que, querendo, apresente defesa


no momento oportuno sob pena de incorrer em revelia e seus efeitos jurídicos;

3 – A condenação da reclamada no pagamento da diferença de R$


3,51 a hora com reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3,
adicional noturno, horas extras, 13º salário e FGTS acrescido de multa de
40%................................................................................................................R$ 67.523,62
(sessenta e sete mil quinhentos e vinte e três reais e sessenta e dois centavos);

4 - A condenação da reclamada no pagamento de 4 horas extras


diárias considerando o período prescricional de 5 anos, com reflexos em DSR e com
este, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS acrescido de multa de
40%..............................................................................................................R$ 267.300,00
(duzentos e sessenta e sete mil e trezentos reais);

5 - A condenação da reclamada no pagamento de 1 hora extra por dia


com acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio, adicional noturno,
férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS acrescido de multa de 40%........R$
66.825,00 (sessenta e seis mil oitocentos e vinte e cinco reais);

6 - A condenação da reclamada no pagamento dos minutos residuais


que em média perfazia-se entre 20 a 30 minutos diariamente, devendo ser pago com
acréscimo de 50% e reflexos em DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3,
13º salário e FGTS acrescido de multa de 40%.......................................R$ 50.118,75
(cinquenta mil cento e dezoito reais e setenta e cinco centavos);

7 - A condenação da reclamada no pagamento do adicional noturno de


30% conforme norma coletiva, pelas horas laboradas após às 05hs e com reflexos em
DSR e com este, aviso prévio, férias acrescidas de 1/3, 13º salário e FGTS acrescido de
multa de 40%..................................................................................................R$
13.365,00 (treze mil trezentos e sessenta e cinco reais);

8 – A condenação da reclamada no pagamento dos salários


correspondentes a 7 meses de estabilidade pré-aposentadoria...................R$ 26.600,00
(vinte e seis mil e seiscentos reais);

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitido em especial, prova documental que encontra-se anexo, sem prejuízo de outra
que se fizer necessária durante a instrução processual.

Requer ainda a condenação da reclamada no pagamento de honorários


de sucumbência previstos no art. 791-A da CLT em 15% sobre o resultado final da
liquidação de sentença.

Por fim, requer seja a reclamada compelida a trazer nos autos os


cartões de ponto, contracheques do obreiro e dos paradigmas, bem como todo e
qualquer documento inerente ao contrato de trabalho sob pena de confissão.
Caso a reclamada prove que pagou alguma das verbas requeridas nesta
ação, requer seu imediato abatimento a fim de evitar o enriquecimento ilícito do
reclamante.

Dá-se a causa o valor de R$ 491.732,27 (quatrocentos e noventa e


um mil setecentos e trinta e dois centavos);

Termos em que

Pede deferimento

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