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Para fundamentar o seu pedido, a reclamante alega que, em que pese seu contrato
de trabalho tenha sido formalizado após a reforma trabalhista, o art. 58 §2º da CLT
não se aplica aos trabalhadores rurais, conforme determina o art. 7º “b” da CLT.
Assim, afirma que para a classe de trabalhadores rurais existe normativa própria,
qual seja, lei nº 5.889/1973 Decreto nº 73626/74.
Por primeiro, é obvio que qualquer colaborador que se desloque para seu trabalho
dispende de algum tempo em seu trajeto, todavia, o tempo narrado pela
reclamante é extremamente exacerbado, de modo que fica expressamente
impugnado o tempo de 03h50min.
Ora, não há qualquer previsão legal para o pagamento de horas in itinere, nem em
norma coletiva, ou na legislação vigente, uma vez que após a reforma trabalhista,
não há de se falar em pagamento das horas de trajeto.
Logo, a legislação especifica trazida pela reclamante também não prevê qualquer
pagamento a título de horas in itinere, inclusive, as relações de trabalho rural são
regidas pela Lei 5.889/73, no que com ela colidirem, pelas normas da CLT (art. 1º
da referida lei).
Assim, a nova redação do artigo 58, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) extinguiu o cômputo das chamadas horas in itinere, isto é, o tempo de
deslocamento do empregado até o local de trabalho de difícil acesso e vice-versa,
da jornada de trabalho, tornando obsoletas as Súmulas 90, 320 e 429 que tratam
sobre o tema.
Nesse sentido, conforme bem preceituado por Rayane Silva Mello 1, “horas in itinere
é aquela em que o trabalhador aguarda, dentro de transporte fornecido pelo
empregador, a chegada ao seu local de trabalho de difícil acesso ou não servido por
transporte público regular e vice-versa”.
Dito isso, é importante reforçar que a verba pleiteada pela reclamante é facilmente
caracterizada como “horas in itinere” e não como tempo à disposição ou horas
extras e, por conta disso, deve ser julgada improcedente em virtude de amparo
legal para seu deferimento.
1
Revista TST, São Paulo, vol. 84, nº 1, jan/mar 2018
de horas de trajeto (in itinere), de modo que, ainda que os requisitos legais (local
de difícil acesso ou não servido de transporte público) anteriores a reforma
trabalhista, estejam presentes, não haverá que se falar em pagamento de horas in
itinere.
Registre-se que inexiste subsídio legal (art. 5º, II, CF/88), ou possibilidade de
aplicação do pretendido, uma vez que a Lei 5.889/1973 nada fala sobre o
pagamento de horas in itinere, e o decreto 73626/74 se encontra revogado.
Assim, não tendo previsão na lei específica, tampouco na CLT, o período de trajeto,
entre sua residência e o trabalho, e vice-versa, possui natureza jurídica de “horas
in itinere”, de modo que a reclamante não está à disposição da reclamada, ou
recebendo ordens para tal, descaracterizando qualquer viés que se tente vincular
esse fato ao disposto no artigo 4º da CLT.
Significa dizer que mesmo sob a vigência da redação anterior da lei, o ordenamento
Jurídico não admitia o reconhecimento irrestrito da obrigação ao pagamento das
horas de percurso, visto que mesmo naquela altura era imprescindível que
houvesse o preenchimento das hipóteses de cabimento legal.
Nos termos do art. 6º, caput, da LINDB, a lei em vigor tem efeito imediato,
disciplinando para o presente e para o futuro, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
Assim, deverá ter em mente o disposto no §2º, do art. 58, da CLT, que estabelece
que o tempo despendido pelo empregado da sua residência até o trabalho NÃO
pode ser computado na sua jornada de trabalho, uma vez que durante este período
o empregado não se encontra aguardando ou executando ordens do seu
empregador.
Posto isto, o pleito da reclamante deve ser julgado totalmente improcedente, nos
termos da fundamentação acima.
Todavia, sem razão o reclamante, o que beira a sua má-fé e absurdo em alegar
tese já superada há anos nesse sentido e, convalidada recentemente pelo
julgamento do Tema 1.046 do STF.
Isso porque, deve ser observada a precariedade da matéria na CLT mesmo antes
da reforma, haja vista que os pagamentos das horas in itinere sempre foram
condicionados a existência de pressupostos negativos, qual seja, não prestação de
serviços de transportes por empresa concessionária de serviço público, tornando-o
como local de difícil acesso.
Nos termos do art. 6º, caput, da LINDB, a lei em vigor tem efeito imediato,
disciplinando para o presente e para o futuro, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
Nesse passo, o princípio da irretroatividade da lei é, sem dúvida, o mais importante
princípio do direito intertemporal, sendo erigido em norma constitucional, devendo
ser observado pelo próprio legislador, nos termos do art. 5º, inciso XXXVI.
Assim, deverá ter em mente o disposto no §2º, do art. 58, da CLT, que estabelece
que o tempo despendido pelo empregado da sua residência até o trabalho não
pode ser computado na sua jornada de trabalho, uma vez que durante este período
o empregado não se encontra aguardando ou executando ordens do seu
empregador.