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3.

Das horas in itinere e reflexos

Infere-se na petição inicial que, a reclamante afirma que dispendia de


aproximadamente 01h50min na ida, e cerca de 02h00min na volta, entre sua
residência, até os plantios de cana-de-açúcar da reclamada, totalizando 03h50min
diárias de percurso.

Assim, requer que a reclamada seja condenada ao pagamento de horas in itinere


como horas extraordinárias, com adicional de 50%, cujo valor aproximado é de R$
13.622,40 (treze mil, seiscentos e vinte e dois reais e quarenta centavos), devendo
ser corrigido monetariamente, e incidindo os reflexos sobre as demais verbas (13º
salário, DSR, férias com adicional de um terço, FGTS, acrescido de multa fundiária,
aviso prévio).

Para fundamentar o seu pedido, a reclamante alega que, em que pese seu contrato
de trabalho tenha sido formalizado após a reforma trabalhista, o art. 58 §2º da CLT
não se aplica aos trabalhadores rurais, conforme determina o art. 7º “b” da CLT.
Assim, afirma que para a classe de trabalhadores rurais existe normativa própria,
qual seja, lei nº 5.889/1973 Decreto nº 73626/74.

Por primeiro, é obvio que qualquer colaborador que se desloque para seu trabalho
dispende de algum tempo em seu trajeto, todavia, o tempo narrado pela
reclamante é extremamente exacerbado, de modo que fica expressamente
impugnado o tempo de 03h50min.

Além disso, sem qualquer razão o pedido da reclamante, visto que a


fundamentação trazida por esta se encontra totalmente desarrazoada, haja vista
que não há diferenciação da norma para trabalhadores rurais ou não, tampouco
que o art. 7º, alínea “b” conceda este direito a classe.

Ora, não há qualquer previsão legal para o pagamento de horas in itinere, nem em
norma coletiva, ou na legislação vigente, uma vez que após a reforma trabalhista,
não há de se falar em pagamento das horas de trajeto.

Logo, a legislação especifica trazida pela reclamante também não prevê qualquer
pagamento a título de horas in itinere, inclusive, as relações de trabalho rural são
regidas pela Lei 5.889/73, no que com ela colidirem, pelas normas da CLT (art. 1º
da referida lei).
Assim, a nova redação do artigo 58, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) extinguiu o cômputo das chamadas horas in itinere, isto é, o tempo de
deslocamento do empregado até o local de trabalho de difícil acesso e vice-versa,
da jornada de trabalho, tornando obsoletas as Súmulas 90, 320 e 429 que tratam
sobre o tema.

O que a reclamante pleiteia é na verdade, uma tentativa vã de “driblar” o Poder


Judiciário, realizando pedido com fundamentos totalmente infundados,
fundamentando com jurisprudência que já tem tema pacificado e com súmula
revogada, tudo na busca de almejar valores pelos quais sabe não ter direito.

Importante esclarecer que o pedido da reclamante nesse tópico possui a natureza


jurídica de horas in itinere e não de “horas extras”, como requer, inclusive com
fundamento de jurisprudência condenando por “tempo à disposição”.

Nesse sentido, conforme bem preceituado por Rayane Silva Mello 1, “horas in itinere
é aquela em que o trabalhador aguarda, dentro de transporte fornecido pelo
empregador, a chegada ao seu local de trabalho de difícil acesso ou não servido por
transporte público regular e vice-versa”.

Por outro lado, a natureza jurídica do “tempo à disposição” extrai-se do artigo 4º


da CLT que preceitua que: “considera-se como de serviço efetivo o período em que
o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando
ordens, salvo disposição especial expressamente consignada”. Ou seja, no caso de
o empregado estar executando ordens, esta será considerada sua jornada de
trabalho regular, já para o caso de o empregado estar aguardando ordens, esta
será considerada o seu tempo à disposição do empregador.

Dito isso, é importante reforçar que a verba pleiteada pela reclamante é facilmente
caracterizada como “horas in itinere” e não como tempo à disposição ou horas
extras e, por conta disso, deve ser julgada improcedente em virtude de amparo
legal para seu deferimento.

A fim de corroborar, a Reforma Trabalhista, especialmente trazida pela Lei


13.467/2017, impõe um marco para concessão do referido direito ao recebimento

1
Revista TST, São Paulo, vol. 84, nº 1, jan/mar 2018
de horas de trajeto (in itinere), de modo que, ainda que os requisitos legais (local
de difícil acesso ou não servido de transporte público) anteriores a reforma
trabalhista, estejam presentes, não haverá que se falar em pagamento de horas in
itinere.

Registre-se que inexiste subsídio legal (art. 5º, II, CF/88), ou possibilidade de
aplicação do pretendido, uma vez que a Lei 5.889/1973 nada fala sobre o
pagamento de horas in itinere, e o decreto 73626/74 se encontra revogado.

Assim, não tendo previsão na lei específica, tampouco na CLT, o período de trajeto,
entre sua residência e o trabalho, e vice-versa, possui natureza jurídica de “horas
in itinere”, de modo que a reclamante não está à disposição da reclamada, ou
recebendo ordens para tal, descaracterizando qualquer viés que se tente vincular
esse fato ao disposto no artigo 4º da CLT.

Deve se observar ainda, a precariedade da matéria na CLT mesmo antes da


reforma trabalhista, haja vista que os pagamentos das horas in itinere sempre
foram condicionados a existência de pressupostos negativos, qual seja, não
prestação de serviços de transportes por empresa concessionária de serviço
público, tornando-o como local de difícil acesso.

Nestes termos, é precário o direito, na acepção jurídica do termo, pois não é


possível considerar um “direito”, menos ainda “adquirido”, sem que haja previsão
legal neste sentido, no trilho do que já reconheceu a jurisprudência, mormente em
atenção ao princípio da legalidade.

Significa dizer que mesmo sob a vigência da redação anterior da lei, o ordenamento
Jurídico não admitia o reconhecimento irrestrito da obrigação ao pagamento das
horas de percurso, visto que mesmo naquela altura era imprescindível que
houvesse o preenchimento das hipóteses de cabimento legal.

Noutro turno, a despeito de todo o esforço do d. Patrono da reclamante, nenhuma


interpretação “extensiva” ou de qualquer outra espécie poderá implicar em uma
interpretação contra legem.

Com isso em mente, a redação da CLT, ora em vigor, é clara e inequívoca ao


registrar que:
Art. 58. Omissis. [...] § 2º O tempo despendido pelo empregado
desde a sua residência até a efetiva ocupação do posto de trabalho
e para o seu retorno, caminhando ou por qualquer meio de
transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, NÃO SERÁ
COMPUTADO NA JORNADA DE TRABALHO, POR NÃO SER TEMPO À
DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR. (grifou-se).

Nos termos do art. 6º, caput, da LINDB, a lei em vigor tem efeito imediato,
disciplinando para o presente e para o futuro, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.

Nesse passo, o princípio da irretroatividade da lei é, sem dúvida, o mais importante


princípio do direito intertemporal, sendo erigido em norma constitucional, devendo
ser observado pelo próprio legislador, nos termos do art. 5º, inciso XXXVI.

E igualmente em relação aos efeitos da Lei nº 13.467/2017 (Reforma Trabalhista),


incide a regra tempus regit actum, aplicável aos direitos obrigacionais.

Assim, o pagamento de minutos residuais de horas in itinere a partir de


11.11.2017, data da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, deixaram de ter
obrigatoriedade, não havendo que se falar em ultratividade da norma anterior em
relação às matérias discutidas na presente reclamação trabalhista, haja vista que a
reclamante não possui direito adquirido aos pagamentos pretendidos, mormente
pelo fato de que seu contrato de trabalho com a reclamada fora celebrado nos anos
de 2021 e 2022, ou seja, período deveras superior à vigência da mencionada
legislação que “reformou” a legislação trabalhista neste ponto.

Em outras palavras, a lei nova abrange as relações jurídicas em curso, devendo


respeitar os atos já praticados e as situações jurídicas consolidadas na vigência da
norma revogada, para evitar a retroatividade (art. 5º, XXXVI, da CRFB).

Portanto, diante da aplicabilidade imediata da Lei nº 13.467/2017 a partir de


11.11.2017, são aplicáveis a presente demanda, as alterações de cunho material
nela previstas. Não se verificando, portanto, o direito em tese adquirido com base
em artigo distinto.

Apesar de todo fundamento apresentado, na eventualidade de se entender pela


condenação da reclamada, o que se admite apenas por argumentação, conforme
amplamente exposto, há de se atentar no presente caso que, nenhuma manobra
jurídica é capaz de superar a expressa redação da lei.

Assim, deverá ter em mente o disposto no §2º, do art. 58, da CLT, que estabelece
que o tempo despendido pelo empregado da sua residência até o trabalho NÃO
pode ser computado na sua jornada de trabalho, uma vez que durante este período
o empregado não se encontra aguardando ou executando ordens do seu
empregador.

Posto isto, o pleito da reclamante deve ser julgado totalmente improcedente, nos
termos da fundamentação acima.

5. Das horas in itinere e reflexos

Infere-se na petição inicial que, o reclamante afirma que dispendia de


aproximadamente 00h60min/00h90min entre sua residência, localizada na cidade
de Lupionópolis/PR até os plantios de cana-de-açúcar da reclamada.

Assim, requer que a reclamada seja condenada ao pagamento de 120/180 minutos


diários de horas extras, com os mesmos reflexos pretendidos nos tópicos
anteriores.

Para fundamentar o seu pedido, o reclamante alega, em pese seu contrato de


trabalho tenha sido formalizado, após a reforma trabalhista, que o TST já havia
sedimentado entendimento no sentido de que o tempo de trajeto deveria ter sido
incorporado na jornada de trabalho. Afirmando que tal posicionamento
supostamente uníssono do TST teria se verificado desde 10.11.1978.

Todavia, sem razão o reclamante, o que beira a sua má-fé e absurdo em alegar
tese já superada há anos nesse sentido e, convalidada recentemente pelo
julgamento do Tema 1.046 do STF.

Nesse sentido, a Reforma Trabalhista, especialmente trazida pela Lei 13.467/2017,


impõe um marco para concessão do referido direito, de modo que, ainda que os
requisitos legais (local de difícil acesso ou não servido de transporte público)
anteriores a reforma trabalhista, estejam presentes, não haverá que se falar em
pagamento de horas in itinere, uma vez que inexiste subsídio legal (art. 5º, II,
CF/88), ou possibilidade de aplicação da pretendida “interpretação topológica”.

Isso porque, deve ser observada a precariedade da matéria na CLT mesmo antes
da reforma, haja vista que os pagamentos das horas in itinere sempre foram
condicionados a existência de pressupostos negativos, qual seja, não prestação de
serviços de transportes por empresa concessionária de serviço público, tornando-o
como local de difícil acesso.

Nestes termos, é precário o direito, na acepção jurídica do termo, pois não é


possível considerar um “direito”, menos ainda “adquirido”, sem que haja previsão
legal neste sentido, no trilho do que já reconheceu a jurisprudência, mormente em
atenção ao princípio da legalidade.

Significa dizer que mesmo sob a vigência da redação anterior da lei, o


Ordenamento Jurídico não admitia o reconhecimento irrestrito da obrigação ao
pagamento das horas de percurso, visto que mesmo naquela altura era
imprescindível que houvesse o preenchimento das hipóteses de cabimento legal.

Noutro turno, a despeito de todo o esforço do d. Patrono do reclamante, nenhuma


interpretação “topológica”, ou de qualquer outra espécie poderá implicar em uma
interpretação contra legem.

Com isso em mente, a redação da CLT, ora em vigor, é clara e inequívoca ao


registrar que:

Art. 58. Omissis. [...]


§ 2º O tempo despendido pelo empregado desde a sua residência
até a efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno,
caminhando ou por qualquer meio de transporte, inclusive o
fornecido pelo empregador, não será computado na jornada de
trabalho, por não ser tempo à disposição do empregador. (grifou-
se).

Nos termos do art. 6º, caput, da LINDB, a lei em vigor tem efeito imediato,
disciplinando para o presente e para o futuro, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
Nesse passo, o princípio da irretroatividade da lei é, sem dúvida, o mais importante
princípio do direito intertemporal, sendo erigido em norma constitucional, devendo
ser observado pelo próprio legislador, nos termos do art. 5º, inciso XXXVI.

E igualmente em relação aos efeitos da Lei nº 13.467/2017 (Reforma Trabalhista),


incide a regra tempus regit actum, aplicável aos direitos obrigacionais.

Assim, o pagamento de minutos residuais de horas in itinere a partir de


11.11.2017, data da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, deixaram de ter
obrigatoriedade, não havendo que se falar em ultratividade da norma anterior em
relação às matérias discutidas na presente reclamação trabalhista, haja vista que o
reclamante não possui direito adquirido aos pagamentos pretendidos, mormente
pelo fato de que seu contrato de trabalho com a reclamada fora celebrado somente
no ano de 2021, ou seja, período deveras superior à vigência da mencionada
legislação que “reformou” a legislação trabalhista.

Em outras palavras, a lei nova abrange as relações jurídicas em curso, devendo


respeitar os atos já praticados e as situações jurídicas consolidadas na vigência da
norma revogada, para evitar a retroatividade (art. 5º, XXXVI, da CRFB).

Portanto, diante da aplicabilidade imediata da Lei nº 13.467/2017 a partir de


11.11.2017, são aplicáveis a presente demanda, as alterações de cunho material
nela previstas. Não se verificando, portanto, o direito em tese adquirido.

Apesar de todo fundamento apresentado, na eventualidade de se entender pela


condenação da reclamada, o que se admite apenas por argumentação, conforme
amplamente exposto, há de se atentar no presente caso que, nenhuma manobra
jurídica é capaz de superar a expressa redação da lei.

Assim, deverá ter em mente o disposto no §2º, do art. 58, da CLT, que estabelece
que o tempo despendido pelo empregado da sua residência até o trabalho não
pode ser computado na sua jornada de trabalho, uma vez que durante este período
o empregado não se encontra aguardando ou executando ordens do seu
empregador.

Destarte, e sem maiores delongas, o pleito do reclamante deve ser julgado


totalmente improcedente, nos termos da fundamentação acima.

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