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Reconvenção - XXXI EXAME DE ORDEM

PEÇA (Elaborada por Gustavo Cisneiros)


Mauro Duplo foi contratado pela empresa Mamilo Ltda. no dia 13/11/2017 para trabalhar na função de vendedor, mediante salário
fixo mais comissões sobre as vendas, cumprindo jornada das 9h às 18h, com 1h de intervalo para refeição e descanso, de segunda a
sábado, durante uma semana, e, na semana subsequente, no mesmo horário, folgando sábado e domingo, ou seja, laborava 48 horas
numa semana e 40 horas na semana seguinte, durante todo o pacto, o qual foi rescindido por justa causa, no dia 20/04/2018, pelo fato
de o obreiro ter sido flagrado fumando em local proibido no estabelecimento patronal, proibição prevista no Regulamento Interno da
empresa, cuja cópia o empregado recebeu quando de sua contratação. A rescisão contratual ocorreu dez dias antes do dissídio coletivo
da categoria profissional (que ocorre no mês de maio), oportunidade em que o empregado recebeu o pagamento das verbas rescisórias
e a empresa comunicou a ruptura contratual aos órgãos competentes, procedendo com a baixa contratual na CTPS. Por todo o
contrato, o trabalhador sempre utilizou transporte gratuito fornecido pela empresa, no trajeto casa-trabalho-casa, o qual durava 1h por
dia. No dia de sua demissão, Mauro Duplo saiu bradando, dentro do local de trabalho, para clientes e empregados, que a empresa era
caloteira e vendia produtos vencidos, fruto de roubo de carga, cena que assustou a todos, gerando burburinho entre a clientela.
Revoltado, o trabalhador ajuizou reclamação trabalhista no dia 06/05/2018, narrando, com impecável precisão, os fatos e requerendo:
(1) pagamento de horas extras, das semanas em que trabalhava 48h; (2) pagamento de uma indenização pela não concessão do vale-
transporte; (3) pagamento de horas extras pela incidência do tempo gasto no trajeto; (4) integração do transporte no salário para fins
de repercussão; (5) nulidade da demissão por justa causa, pois jamais praticou falta grave, e o pagamento de todas as verbas
rescisórias faltantes; (6) pagamento de multa pelo fato de ter sido dispensado no período de trinta dias que antecedeu o dissídio
coletivo da categoria; (7) pagamento de uma indenização do seguro-desemprego. A reclamação foi distribuída à 444ª Vara do
Trabalho de Olinda/PE e foi arquivada no dia 08/06/2018, pelo não comparecimento do reclamante à audiência, sendo certo que o
magistrado concedeu a gratuidade da justiça ao reclamante, o qual, em tempo algum, justificou a sua ausência à audiência. Dois meses
depois do arquivamento, o advogado de Mauro Duplo ajuizou uma nova reclamação trabalhista, distribuída à 999ª Vara do Trabalho
de Olinda/PE, sem comprovação do recolhimento de custas. Na condição de advogado da empresa Mamilo Ltda., elabore a peça
processual cabível, para defender todos os direitos do seu cliente, sem criar fatos. (5,0)

PROPOSTA DE SOLUÇÃO

EXMO SR JUIZ DO TRABALHO DA 999ª VARA DO TRABALHO DE OLINDA/PE

Processo nº...

MAMILO LTDA., já qualificada nos autos da Reclamação Trabalhista que lhe foi ajuizada por MAURO DUPLO, também
qualificado nos autos, vem, por seu advogado, com procuração anexa, apresentar CONTESTAÇÃO COM RECONVENÇÃO, com
fulcro no art. 847 da CLT e no art. 343 do CPC, em face das matérias de fato e de direito a seguir aduzidas, para, ao final, requerer a
IMPROCEDÊNCIA dos pedidos constantes da reclamação e a PROCEDÊNCIA dos pedidos elencados na reconvenção.

Da Contestação

Requer a remessa dos autos à 444ª Vara do Trabalho de Olinda/PE, pois o reclamante ajuizou uma primeira reclamação que para ela
foi distribuída, sendo arquivada, tornando aquele juízo prevento, nos termos do art. 286, II, do CPC, que determina a distribuição por
dependência quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio com
outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda.

Requer a extinção do processo sem resolução do mérito, pelo fato de o reclamante não ter recolhido custas da reclamação
anteriormente arquivada, pois, nos termos do § 2º do art. 844 da CLT, na hipótese de ausência do reclamante à audiência, este será
condenado ao pagamento das custas, ainda que beneficiário da justiça gratuita, sendo que o pagamento das custas é condição para a
propositura de nova demanda, como dispõe o § 3º do art. 844 da CLT.

Requer a improcedência do pedido de pagamento de horas extras das semanas em que o reclamante laborava 48h, pois este, ao laborar
40h em uma semana e 48h na semana subsequente, cumpria regime de compensação de horas extras, intitulado “Semana Espanhola”,
à luz da OJ 323 da SDI-1, não fazendo jus a qualquer pagamento. Pelo fato de a compensação ocorrer quinzenalmente, mostra-se
lícito o citado regime de compensação de jornada, que pode ser estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, nos termos do §
6º do art. 59 da CLT.

Requer a improcedência do pedido de indenização do vale-transporte, pois o reclamada sempre forneceu transporte para o trajeto de
ida e volta ao reclamante, sendo certo que está exonerado da obrigatoriedade do vale-transporte o empregador que proporcionar, por
meios próprios ou contratados, em veículos adequados ao transporte coletivo, o deslocamento, residência-trabalho e vice-versa, de
seus trabalhadores, como preceitua o art. 4º do Decreto 95.247/1987.
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Requer a improcedência do pedido de horas extras oriundas do tempo de duração do trajeto, pois o tempo despendido pelo empregado
desde a sua residência até a efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou por qualquer meio de
transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, não será computado na jornada de trabalho, por não ser tempo à disposição do
empregador, nos moldes do § 2º do art. 58 da CLT.

Requer a improcedência do pedido de integração do transporte ao salário, pois ele se destinava ao deslocamento para o trabalho e
retorno, não sendo, a utilidade, considerada salário, nos termos do art. 458, § 2º, III, da CLT.

Requer a improcedência do pedido de nulidade da demissão por justa causa e de pagamento de todas as verbas rescisórias faltantes,
pois o reclamante foi flagrado fumando em local proibido, descumprindo regulamento interno da reclamada, praticando ato de
indisciplina, falta grave prevista na alínea “h” do art. 482 da CLT, razão pela qual foi licitamente demitido por justa causa.

Requer a improcedência do pedido de pagamento de multa pelo fato de o reclamante ter sido dispensado no período de trinta dias que
antecedeu o dissídio coletivo da categoria, pois a referida multa, como preceitua o art. 9º da Lei 7.238/1984 c/c art. 9º da Lei
6.708/1979, só é devida quando o empregado for dispensado sem justa causa, o que não foi o caso, já que o reclamante foi demitido
por justa causa.

Requer a improcedência do pedido de pagamento de uma indenização do seguro-desemprego, já que este benefício só é devido no
caso de desemprego involuntário, nos termos do inciso II do art. 7º da CF, mostrando-se incompatível com a demissão por justa causa
aplicada sobre o reclamante. Com efeito, o inciso I do art. 2º da Lei 7.998/1990 reza que o seguro-desemprego tem por objetivo
prover assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa.

Da Reconvenção

No dia em que recebeu o pagamento das verbas rescisórias, o reconvindo saiu bradando, dentro do local de trabalho, para clientes e
empregados, que a empresa reconvinte era caloteira e vendia produtos vencidos, e fruto de roubo de carga, cena que assustou a todos,
gerando burburinho entre a clientela.

Nos termos do art. 223-B da CLT, causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou
existencial da pessoa física ou jurídica. No caso, o reconvinte sofreu dano moral, pois o reconvindo maculou a imagem, a marca e o
nome da empresa reconvinte, bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica, nos termos do art. 223-D da CLT. O ato ilícito
praticado pelo reconvindo dilacerou a imagem da reconvinte perante os seus clientes, surgindo, com isso, o direito à indenização pelo
dano decorrente de sua violação, à luz dos artigos 186, 187 e 927 do CCB. Diante da ofensa gravíssima, prevista no inciso IV do art.
223-G da CLT, e à luz do que dispõe o § 2º do art. 223-G da CLT, requer a condenação do reconvindo no pagamento de indenização
no valor de até cinquenta vezes o salário do ofensor, ora reconvindo.

DO PEDIDO

Diante do exposto, requer, em sede de CONTESTAÇÃO, a improcedência de todos os pedidos elencados na petição inicial da
reclamação trabalhista, protestando provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.

Requer a condenação do reclamante no pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais.

Diante do exposto, em sede de RECONVENÇÃO, vem o reconvinte requerer a condenação do reconvindo no pagamento das verbas
abaixo discriminadas, acrescidas de juros e correção monetária.

a) Indenização por dano moral no valor de R$...


b) Honorários advocatícios sucumbenciais no valor de R$...

Requer a citação do reconvindo para que este venha, sob pena de revelia e confissão ficta, contestar a presente reconvenção,
requerendo, por fim, a procedência dos pedidos, protestando provar o alegado por todos os meios em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$...

Pede deferimento.

Olinda, data...
Advogado..., OAB...

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