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AO MM.

JUÍZO DE UMA DAS VARAS TRABALHISTAS DA COMARCA DE


(NOME DA CIDADE/ESTADO)

Reclamação Trabalhista

Reclamante: Harry Potter Miranda da Silva

Reclamada: Organizações Tabajara

Rito ordinário

HARRY POTTER MIRANDA DA SILVA, brasileiro, solteiro, estudante, portador


da Carteira de Identidade RG-XXXXXXX e CPF XXX.XXX.XXX-XX, CTPS nº XXXX,
série nº. XXXX, nascido em XX/XX/XXX, natural de (cidade/estado), filha de
Thiago Potter Miranda e de Maria Potter da Silva, residente e domiciliado à rua
X, n.º XXXX, bairro dos Bruxos, cidade de XXXXXX, CEP-XXXXX-XXX, Estado de
XXXXXX, por seu advogado que esta subscreve, com escritório no endereço sito
ao rodapé, vêm, com a devida vênia, a ilustre presença de Vossa Excelência, com
fulcro nos artigos 769 e 840 § 1º da CLT c.c. 282 do CPC, e 5º, inciso X, da
Constituição Federal c/c arts. 186 e 927 do Código Civil, propor a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

em face de ORGANIZAÇÕES TABAJARA, pessoa jurídica de direito privado


registrado sob o CNPJ n. XXXXXXXX, com endereço para citação à rua (colocar
endereço e, se possível, colocar também telefone e e-mail. Se não tiver as
informações suficientes para citar a reclamada, é preciso abrir um tópico na
Peça e pedir ao juiz que realize diligências via SISBAJUD (antigo Bacenjud),
INFOJUD e DOI para identificar endereços da empresa), pelos fundamentos de
fato e de direito que passa a expor.

1 -PRELIMINARMENTE
1.1 - DO CONTRATO DE TRABALHO INICIADO E EXTINTO ANTES DA
INCIDÊNCIA DA NOVA LEI 13.467/2017 (REFORMA TRABALHISTA)

(Este é um tópico APENAS caso a relação de emprego tenha ocorrido ANTES da


reforma trabalhista, em que você vai requerer ao juiz a aplicação das normas
materiais que estavam em vigor à época da realização do trabalho. Isso é muito
importante, pois alguns direitos que eram devidos antes da reforma, já não
eram mais DEPOIS. Desta forma, você vai defender o seu cliente utilizando toda
a legislação em vigor À ÉPOCA DO CONTRATO DE TRABALHO, mesmo que
tenham sido revogadas pela reforma. Se a relação de emprego se deu de forma
INTERTEMPORAL (pegou um trecho ANTES da reforma e outro trecho DEPOIS
da reforma, você pode usar este mesmo tópico, neste caso será aplicado o
direito INTERTEMPORAL: as matérias de fato que se consolidaram na lei
antiga, serão regidos por ela, e as matérias de fato que se consolidaram na
nova lei, serão regidos pela nova lei). Outro ponto importante: Apesar da
legislação material (de fato) aplicável ser aquela à época do contrato de
trabalho, a legislação formal (processual) aplicável será a legislação À ÉPOCA
DO PROCESSO, pelo princípio do “tempus regit actum” (o tempo rege o ato).
Ou seja: a legislação material aplicada será àquela que estava em vigor à época
da consolidação dos fatos, e a legislação formal (procedimentos processuais)
serão os contemporâneos, ou seja, a legislação em vigor à época do processo. A
seguir o tópico, sendo necessário adaptá-lo ao caso concreto).

Primeiramente, quanto à matéria de fato, requer a aplicação das normas


celetistas ANTES da incidência da Lei 13.467/2017 (reforma trabalhista), posto
que, conforme consolidado pelos tribunais, a aplicação da lei material deve ser
observada de acordo com a legislação em vigor à época de consolidação dos
fatos, ao passo que, pelo princípio do “Tempus Regit Actum”, a lei formal
aplicável é aquela da realização do ato processual. Neste aspecto, o E. TST já
consolidou tal questão, pois vejamos:

RITO SUMARÍSSIMO - APLICAÇÃO PELO ACÓRDÃO RECORRIDO E PELO


DESPACHO DENEGATÓRIO - INCIDÊNCIA DO DIREITO INTERTEMPORAL -
REGRA TEMPUS REGIT ACTUM. A Lei nº 9.957, de 12 de janeiro de 2000,
publicada no DOU de 13/01/2000, que passou a vigorar após 60 (sessenta) dias
da data da sua publicação, instituiu o procedimento sumaríssimo no processo do
trabalho, para os dissídios individuais cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes
o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da ação trabalhista (CLT, art.
852-A). Instituiu várias exigências, que não constavam no procedimento
ordinário. Com efeito, no rito ordinário, não se exige, entre outros pressupostos, o
da liquidez do pedido, tendo como objetivo maior rapidez na solução dos conflitos
trabalhistas. A referida lei somente é aplicável às causas trabalhistas
ajuizadas a partir de sua vigência, sob pena de ofensa aos princípios da
irretroatividade das leis, do direito ao contraditório e da ampla defesa e do
ato jurídico perfeito. Sendo, pois, a ação trabalhista ajuizada, instruída e
julgada sob as regras do procedimento comum então vigente em dezembro 99 (fl.
12), este é o rito que deve ser observado, porquanto a Lei nº 9.957/2000 não
alterou apenas o rito procedimental já existente, criou, também, novo
procedimento judicial. A lei processual, é claro, tem aplicação imediata e
alcança os processos em curso. Mas a lei nova terá de observar os atos
processuais já praticados e consumados, pois são atos jurídicos perfeitos e
acabados (CF, art. 5º, XXXVI). Consumado, assim, o ato na vigência da lei
anterior, não pode mais ser desfeito pela legislação posterior, sob pena de
ofensa ao preceito constitucional previsto no art. 5º, XXXVI, da CF. Na
hipótese destes autos, no entanto, não há que se falar em nulidade do processo,
porque o acórdão recorrido, na verdade, aplicou o rito ordinário, porque a decisão
não contém, tão-somente, a certidão de julgamento, conforme faculta o artigo
895, 1º, IV, da CLT. Agravo a que se nega provimento [1].

Não obstante, vejamos a jurisprudência mais recente dos tribunais:

RECURSO ORDINÁRIO. DIREITO INTERTEMPORAL. CONTRATO VIGENTE ANTES


E DEPOIS DA REFORMA TRABALHISTA. O contrato de estágio entre as litigantes
perdurou durante o interregno entre 18/04/2017 e 17/04/1019, de forma que, em
11/11/2017, início da vigência da chamada Lei da Reforma Trabalhista (Lei nº
13.467/2017), a contratualidade ainda subsistia. à vista disso, serão aplicadas à
relação contratual submetida a exame as normas de direito material de acordo
com sua vigência na época em que ocorridos os fatos, de modo que, até
10/11/2017, deve incidir, na hipótese, o regramento contido na CLT antes da
Reforma Trabalhista, e somente a partir daí serão observadas as alterações
sucedidas. CONTRATO DE ESTÁGIO. DIFERENÇAS DE BOLSA-ESTÁGIO.
CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO X ACORDO COLETIVO DE TRABALHO.
INCIDÊNCIA DO ART. 620 DA CLT. Uma vez que a Convenção Coletiva de
Trabalho, em oposição ao Acordo Coletivo de Trabalho, garante o piso salarial de
ingresso dos empregados bancários aos estagiários sem vínculo de emprego,
ainda que a autora não tenha sido representada na negociação coletiva por
qualquer ente sindical por não deter a condição de bancária, sendo regida por lei
específica, qual seja, a de nº 11.788/2008, ocupa posição, ante à CCT, de terceiro
interessado em prol do qual se fixou a obrigação de pagar os pisos salariais
convencionados, motivo por que, nos termos do art. 436, do Código Civil
Brasileiro vigente, pode exigir o cumprimento da norma coletiva. Nessa situação,
devem ser observadas as disposições que emanavam do art. 620 da CLT antes de
sua alteração decorrente da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017,
relativamente ao período contratual anterior à reforma. Sentença reformada.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. AÇÃO AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.467/2017. Em se tratando de ação ajuizada após 11/11/2017, faz-se aplicável
o novo regramento trazido pela Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) acerca dos
honorários advocatícios. Nessa situação, impõe-se razoável a condenação das
partes em honorários advocatícios pela sucumbência recíproca, na forma prevista
no art. 791-A, § 3º, da CLT, bem como a determinação para suspensão da
exigibilidade em relação ao beneficiário da justiça gratuita, haja vista a
declaração de inconstitucionalidade material da expressão "desde que não tenha
obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a
despesa", contida no § 4º, do art. 791-A, da CLT, com redação dada pela Lei nº
13.467/2017, por este Regional, nos autos do processo nº 0080026-
04.2019.5.07.0000, na sessão plenária ocorrida no dia 8.11.2019. Sentença
reformada. Recurso conhecido e parcialmente provido [2].

Posto isto, é imprescindível ressaltar que a relação de emprego se deu de


(data de início) a (data final), o que torna imperiosa a aplicação das normas
(direito intertemporal) nos termos que se expôs, o que fica requerido
desde já.

1.2 - DO PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA

Nos termos da Lei nº 1060/50, c/c com as alterações inseridas pelo art. 790 da
Lei n. 13.467/2017, assim como o art. 98 e seguintes do CPC, a parte autora
informa ser pobre na acepção jurídica do termo, não podendo assumir os
dispêndios processuais sem prejuízo ao seu próprio sustento. Ante a isso,
requer os benefícios da justiça gratuita, pelo que anexa declaração de
Hipossuficiência, nos termos legais.

2 - DOS FATOS
2.1 - DO CONTRATO DE TRABALHO

(Neste tópico você vai descrever a data de entrada, data de saída, carga horária,
remuneração, progressão de cargo, etc. Vai dar uma visão geral do emprego.
Ainda não é o momento de explorar as especificidades das situações. Lembre-
se que, para cada ponto a ser debatido, é preciso abrir um tópico novo, para
encadear as ideias de forma organizada. Neste momento, você vai fazer uma
descrição geral dos fatos que, posteriormente, nos respectivos tópicos, serão
devidamente aprofundados. Neste caso em questão – em que elaborei esta
petição – era o caso de uma reclamante que trabalhou anos sem registro formal
na CTPS. Vou deixar a integralidade da Inicial a título de exemplo, mas você terá
que adaptá-la ao seu caso concreto). Segue o tópico.

A reclamante não se recorda do dia exato em que iniciou o contrato de


trabalho, porém esclarece que se deu em meados de (ano). Isso se deve ao fato
desse contrato ter sido firmado meramente de forma oral, não tendo a
reclamada procedido ao registro na CTPS da reclamante, em clara ofensa ao art.
29 da CLT. Não obstante, foi dispensada sem justa causa em (data), sem sequer
aviso prévio. O seu último salário foi de R$ XXX,XX.

Ressalta-se que a relação de emprego será comprovada durante o deslinde da


ação, através de provas testemunhais, documentais e o que mais for de direito.
Por ora, destaca-se a fotografia abaixo, onde se denota a reclamante entre os
demais funcionários do estabelecimento comercial:

(FOTOGRAFIA COM DESTAQUE NA RECLAMANTE)


Além disso, observamos que imagem semelhante era usada para a divulgação
de propagandas comerciais do estabelecimento nas redes sociais. A seguir,
vemos a reclamante, dentre demais funcionários, numa fotografia em página da
rede social Facebook:

(FOTOGRAFIA JUNTADA)

Desta forma, resta manifestada a relação da reclamante com a reclamada.


Demais questões serão levantadas oportunamente.

Ademais, é necessário ressaltar que quando começou o trabalho na reclamada,


a autora exercia a função (nome da função), e nesse cargo permaneceu durante
(tempo na função), o qual recebia uma diária de R$ (valor). Após esse período,
foi "promovida" a (nome da função), onde então percebia uma renda de R$
XXXXX ao mês, nesse cargo ficou, sem alteração do salário, até o seu
afastamento.

O horário de trabalho da Autora dava-se de (explicar carga horária), inclusive


todos os feriados do ano, sem exceção, sem nenhum tipo de adicional ou
compensação por isso, com exceção do fim-do-ano, em que, na véspera de
Natal, cada trabalhador recebia R$ 50,00 como uma “gratificação”.

Ressalte-se, excelência, que a reclamante trabalhava sozinha em diversos dias


da semana, principalmente às segundas e quartas-feiras, sendo que nos demais
dias era ajudada esporadicamente por terceiros que eram contratados também
sem qualquer tipo de registro formal. O seu trabalho consistia basicamente em
(explicar a função). Quando não havia terceiros para ajudá-la, ocasionalmente
também fazia as vezes de garçonete. Além disso, ao fim do expediente,
precisava deixar o estabelecimento preparado para o dia seguinte, tendo que
limpar o salão, a cozinha, o forno elétrico e o que mais fosse necessário para
deixar o ambiente adequado. Nessa última tarefa, também, nem sempre havia
quem a ajudasse, motivo de que por várias ocasiões a desempenhou sozinha,
durante todo o período de trabalho na reclamada.

Sua responsabilidade era tal, que, por vezes, chegou a desempenhar a tarefa de
gerente, pois o patrão, Sr. (nome do gerente), viajava e, enquanto estava fora,
deixava a Autora responsável por tudo que dizia respeito ao estabelecimento:
nessas ocasiões ela cuidava do caixa, das mercadorias, dos pedidos, escalar os
demais funcionários para o trabalho, etc. Quando ficava nessa função também
não recebia qualquer tipo de abono ou adicional pela tarefa desempenhada.

Destarte, não havia controle de ponto, em ofensa direta ao parágrafo 2º, do Art.
74 da CLT. Além disso, o pagamento dos funcionários era feito mediante um
caderno de anotação: os funcionários eram chamados, recebiam, colocavam a
data e assinavam esse caderno, que ficava com o Sr. (gerente). Não era emitido
nenhum tipo de comprovante, recibo, ou controle de pagamento para os
funcionários.

A reclamante nunca gozou de férias durante todo o seu período de trabalho. Às


vezes, principalmente no fim do ano, solicitava ao Sr. (gerente) alguns dias de
afastamento, ocasião em que se afastava por, mais ou menos, X dias, e esses
dias, ressalte-se, ERAM DESCONTADOS EM SEU SALÁRIO. Isso era o mais
próximo de “férias” que a reclamante gozava.

Saliente-se, ainda, excelência, que ao ser desvinculada da empresa em (data), a


reclamante não recebeu o salário referente ao mês XXXXXX, estando até hoje
sem o pagamento. Ademais, durante todo o período em que trabalhou, além de
não gozar das férias, como já relatado, a autora não fazia intervalo intrajornada,
nunca recebeu 13 º salário, adicional noturno, horas extras e as verbas
rescisórias, direitos que serão evidenciados no decorrer desta demanda.

Diante de tais violações, não resta à reclamante outra opção senão a guarida
junto ao poder judiciário para socorrer os seus direitos.

3 - DO DIREITO
3.1 - DA NECESSIDADE DE FIXAÇÃO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO

É necessário, excelência, a fixação do lapso de tempo, pois, conforme dito, a


reclamante não se lembra com exatidão da data de contratação, ante a ausência
de um contrato formal entre as partes. Esclarece, porém, que tal relação teve
início em meados do ano de 2016. Desta forma, pede-se que seja considerado
como marco inicial de emprego a data de 01/06/2016 e o marco final aquele
em que efetivamente foi afastada da empresa, prorrogado por mais 30 dias,
segundo aviso prévio devido nos termos do art. 7º, XXI da Constituição Federal,
qual seja a data de 05/11/2018. Reitera que o período empregatício será
comprovado oportunamente mediante testemunhas, prova documental e o
próprio testemunho da Autora.

3.2 - DO RECONHECIMENTO DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA

Como sabemos, a "Relação de trabalho" é gênero que comporta a espécie


"Relação de emprego". Nesse ínterim, a relação de emprego se configura
quando estão presentes os requisitos do art. 3º, do decreto-lei nº 5.452, de 1º
de maio de 1943 [3], e a relação de trabalho se dá na ausência de um daqueles
requisitos. A saber:

“Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços


de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e
mediante salário”.

Não há de se falar em relação de trabalho, entretanto, se todos os requisitos do


citado artigo estão presentes, mas sim em relação de emprego e, daí, a
cominação de todas as legalidades da relação Empregado X Empregador. Neste
sentido, DELGADO [4] explana:

“De fato, a relação empregatícia, enquanto fenômeno sociojurídico, resulta da


síntese de um diversificado conjunto de fatores (ou elementos) reunidos em um
dado contexto social ou interpessoal. Desse modo, o fenômeno sociojurídico da
relação de emprego deriva da conjugação de certos elementos inarredáveis
(elementos fático-jurídicos), sem os quais não se configura a mencionada
relação”.

Sem destoar da doutrina, corroborando o que está expresso no art. 3º do


diploma ora citado, o Autor traz à baila a melhor classificação dos requisitos
que configuram a relação de emprego:

“Os elementos fático-jurídicos componentes da relação de emprego são cinco: a)


prestação de trabalho por PESSOA FÍSICA a um tomador qualquer; b) prestação
efetuada com PESSOALIDADE pelo trabalhador; c) também efetuada com NÃO
EVENTUALIDADE; d) efetuada ainda sob SUBORDINAÇÃO ao tomador dos
serviços; e) prestação de trabalho efetuada com ONEROSIDADE”.

Com efeito, ao dissecarmos tais requisitos e reduzi-los à aplicação no caso em


comento, não resta dúvida da relação existente entre a reclamante e a
reclamada. Analisamos, sem sombra de dúvida, que a reclamante prestava
serviço à reclamada como pessoa natural, qual seja, pessoa física, uma vez que
sequer existe um cadastro de Pessoa Jurídica relacionado a si.

Observe que esse elemento, pessoa física, não se confunde com o da


Pessoalidade. Esse último “trata-se de elemento obviamente vinculado ao
anterior, mas que perante ele guarda importante distinção. O fato de ser o
trabalho prestado por pessoa física não significa, necessariamente, ser ele
prestado com pessoalidade. {...} É essencial à configuração da relação de emprego
que a prestação do trabalho, pela pessoa natural, tenha efetivo caráter de
infungibilidade, no que tange ao trabalhador” (DELGADO). Como já denotado da
narração dos fatos, não há dúvida que a reclamante também se enquadrava em
tal requisito.

Não obstante, o elemento da habitualidade configura-se na não-


eventualidade. Circunstância essa em que o trabalhador apresenta determinada
rotina laboral, não sendo essa de forma esporádica. No caso em tela, a
reclamante trabalhava de segunda à sábado, inclusive feriados, durante,
aproximadamente, 2 anos. Não há aqui de se falar em não-habitualidade.

Ainda segundo DELGADO, é “trabalhador subordinado desde o humilde e


tradicional obreiro que se submete à intensa pletora de ordens do tomador ao
longo de sua prestação de serviços [...], como também aquele que realiza, ainda
que sem incessantes ordens diretas, no plano manual ou intelectual, os
objetivos empresariais [...], a par do prestador laborativo que, sem receber
ordens diretas das chefias do tomador de serviços e até mesmo nem
realizar os objetivos do empreendimento [...], acopla-se, estruturalmente, à
organização e dinâmica operacional da empresa tomadora, qualquer que seja
sua função ou especialização, incorporando, necessariamente, a cultura cotidiana
empresarial ao longo da prestação de serviços realizada [...]”.

Podemos ir mais além e reduzirmos também a esse caso concreto o elemento


essencial da onerosidade, compreendido como a prestação pecuniária pelo
trabalho realizado pelo empregado. Como bem disse DELGADO, “ao valor
econômico da força de trabalho colocada à disposição do empregador deve
corresponder uma contrapartida econômica em benefício obreiro,
consubstanciada no conjunto salarial, isto é, o complexo de verbas
contraprestativas pagas pelo empregador ao empregado em virtude da relação
empregatícia pactuada”.

Desta forma, é evidente que a Autora se submetia a todos os requisitos da


relação de emprego, nos termos do ar. 3º da CLT. Diante disso, é
imprescindível o reconhecimento de seu Direito e de todas as cominações
legais, conforme restará provado no deslinde desta demanda.

3.3 - DAS ANOTAÇÕES NA CTPS DA RECLAMANTE

Como se observou anteriormente, excelência, fica manifesto que no caso em


comento não há de se falar em relação de trabalho, mas em relação de emprego,
e, por consequência, deve tal relação ser reconhecida, nos termos do art. 3º, do
decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

Dessa forma, requer que seja reconhecido o vínculo empregatício, para que
a reclamada proceda à anotação da CTPS da reclamante no período de
01/06/2016 a 05/11/2018, nos termos explanados no tópico 3.1 desta
demanda, surtindo assim todos os efeitos legais, como pagamento
referente a todas as verbas rescisórias e indenizatórias, advindas da
rescisão do contrato de trabalho sem justa causa, bem como a liberação
das guias de seguro-desemprego ou pagamento de indenização
correspondente.

4. DAS VERBAS RESCISÓRIAS


4.1 - DO SALDO DE SALÁRIO DEVIDO

A Reclamante trabalhou todo o mês de setembro de 2018, sendo dispensada no


dia (data), sem justa causa, nada recebendo a título de saldo de salário desse
último período, estando até hoje sem esse pagamento.

De acordo com o art. 4º da CLT, considera-se como tempo de serviço o


tempo efetivamente trabalhado pelo empregado, integrando-se os dias
trabalhados antes de sua dispensa injusta a seu patrimônio jurídico,
consubstanciando-se direito adquirido de acordo com o inciso IV do art. 7º e
inciso XXXVI do art. 5º, ambos da CF/88.

Dessa forma, faz a reclamante jus ao saldo salarial referente ao período


trabalhado entre (data) a (data), com juros e correção monetária na forma
da lei.

4.2 - DO AVISO PRÉVIO INDENIZADO

Tendo em vista a inexistência de justa causa para a rescisão do contrato de


trabalho, surge para a reclamante o direito ao Aviso Prévio indenizado.
Contudo, no caso em apreço houve evidente afronta ao disposto no artigo 487
do texto consolidado, in fine:

CLT - art. 487. Não havendo prazo estipulado, a parte que, sem justo motivo,
quiser rescindir o contrato, deverá avisar a outra da sua resolução, com a
antecedência mínima de:

I - oito dias, se o pagamento for efetuado por semana ou tempo inferior;


(Redação dada pela Lei nº 1.530, de 26.12.1951)

II - trinta dias aos que perceberem por quinzena ou mês, ou que tenham
mais de doze meses de serviço na empresa. (Redação dada pela Lei nº 1.530,
de 26.12.1951)

§ 1º. A falta do aviso prévio por parte do empregador dá ao empregado o


direito aos salários correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre a
integração desse período no seu tempo de serviço.

Cabe salientar, ainda, que o direito ao título em comento tem previsão


constitucional, estampada no inciso XXI, do artigo 7º da CF.

Sendo assim, considerando que o período correspondente ao aviso prévio


deverá integrar como tempo de serviço na relação de emprego, a
reclamante faz jus ao recebimento, sendo esse correspondente a mais 30
dias de tempo de serviço para efeitos de cálculo do 13º salário, férias +
40% nos termos dos dispositivos legais ora citados.

4.3 - DO PAGAMENTO DAS FÉRIAS VENCIDAS E PROPORCIONAIS + 1/3

A Reclamante prestou serviços para a reclamada de 01/06/2016


(presumidamente, conforme exposto no tópico 3.1) até, prospectivamente,
05/11/2018, no entanto, sem ter gozado as férias no período que foi
integralizado em 31/05/2017; 31/05/2018 e, proporcionalmente, de 01/07/2018
a 05/11/2018.

Desta feita, requer a condenação da reclamada, ao pagamento das férias


vencidas em dobro, referente aos períodos integrais não gozados de
2016/2017 e 2017/2018, conforme estabelece o art. 137 da CLT, e as
proporcionais, referente ao período 01/07/2018 a 05/11/2018, nos termos
do art 146, CLT, todas com adicionais de 1/3 constitucional, conforme art.
7º, XVII da CF.

4.4 - DO 13º SALÁRIO INTEGRAL

As leis 4090/62 e 4749/65 preceituam que o décimo terceiro salário será pago
até o dia 20 de dezembro de cada ano, sendo ainda certo que a fração
igual ou superior a 15 dias de trabalho será havida como mês integral para
efeitos do cálculo do 13% salário.

Entretanto, excelência, a reclamante nunca recebeu tal gratificação. Assim,


requer o pagamento dos valores devidos entre 01/06/2016 e 05/11/2018, com
juros e correção monetária na forma da lei.

4.5 - DOS RECOLHIMENTO DO FGTS E FUNDO COMPENSATÓRIO DA


MULTA DE 40%

Preceitua o art. 15 da lei 8036/90 que todo empregador deverá depositar até
o dia 7 de cada mês na conta vinculada do empregado a importância
correspondente a 8% de sua remuneração devida no mês anterior.

Tal obrigação, entretanto, não era cumprida pelo empregador. Requer, assim,
nos termos das leis 8.036/90 em regulamento á lei 5.107/66 c/c Art. 7o inc.
III da Const. Federal, o recolhimento direto ao reclamante, das parcelas não
depositadas, INCLUSIVE, do depósito referente ao Aviso Prévio, acrescidos
das multas, correções monetárias e juros na forma acima mencionada.

Ademais, o art. 18 da Lei nº 8.036/90, estabelece o pagamento referente ao


depósito do último mês trabalhado, e, segundo o parágrafo primeiro do mesmo
artigo, o pagamento da importância no valor igual a 40% do valor dos
depósitos realizados. Requer assim o seu pagamento, acrescido da MULTA
(20)% + TOTAL (FGTS), a sofrerem os acréscimos legais, como juros de
1,0% ao mês e correção monetária na forma da Lei.

4.6 - DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 477 § 8º DA CLT

Reconhecida a inexistência do aviso prévio não concedido a demandante, é


patente a mora da reclamada em relação à satisfação da verba rescisória
consubstanciada no respectivo título.

Assim, pelo que dispõe o artigo 477 § 8º do texto consolidado, requer a


reclamante o pagamento da multa pertinente, a ser convertia em seu favor,
no valor equivalente a seu último salário devido.

4.7 - DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 467 DA CLT


A Reclamada deverá pagar a Reclamante, no ato da audiência, todas as verbas
incontroversas, sob pena de acréscimo de 50%, conforme art. 467 da CLT, in
verbis:

Art. 467. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia


sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao
trabalhador, à data do comparecimento a Justiça do Trabalho, a parte
incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinquenta por
cento.

Dessa forma, protesta a Reclamante pelo pagamento de todas as parcelas


incontroversas logo na primeira audiência.

4.8 - DA TUTELA ANTECIPADA PARA EXPEDIÇÃO DE GUIAS DE SEGURO


DESEMPREGO

Visto que o rompimento contratual se deu pela dispensa sem justa causa, ainda,
ausentes as guias de SEGURO DESEMPREGO E DE TRCT, etc... certamente que o
rompimento do vínculo também pode ser reconhecido pela VIA INDIRETA.

Em assim sendo, pede que sejam expedidas as guias de seguro-


desemprego imediatamente na forma de TUTELA ANTECIPADA para fins
de permitir que a reclamante as receba antes do trânsito em julgado, haja
vista a existência de todos os elementos do artigo 300 do CPC. Vejamos:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.

§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir


caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa
vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após


justificação prévia.

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida


quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante
arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de
bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.

Desta forma, por tudo que já foi exposto, e considerando a natureza alimentar
do crédito trabalhista, requer a TUTELA ANTECIPADA para a expedição de
GUIAS DE SEGURO DESEMPREGO, OU, na IMPOSSIBILIDADE DE EMITI- LAS, que
seja convertido em INDENIZAÇÃO em favor da autora nos termos da
SÚMULA n. 389 do C. TST [5].

4.9 - DOS RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS

O reclamado não recolheu o INSS devido (patronal e empregado), configurando


uma afronta a Lei 8213/91.

Desta forma, pede-se assim seja o empregador compelido a recolher O


INSS EMPREGADO E EMPREGADOR de todo o contrato de trabalho, para
fins de contagem de período de carência mínima para concessão de
benefícios previdenciários.

4.9.1 - DA SUPRESSÃO DOS REPOUSOS INTRAJORNADAS

À luz do que dispõe o caput do artigo 71 da CLT, “em trabalhos contínuos,


cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um
intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de uma
hora...”, sendo que tal previsão legal não foi atendida pela reclamada, que
como exposto, concedia a reclamante EM TORNO DE 15 a 20 minutos atinentes
ao intervalo legal em comento.

Neste sentido, o art. 71 da CLT consagra este instituto, e ainda prevê, em seu
parágrafo 4º, acrescentado pela Lei nº 8.923/94, indenização no caso do seu
descumprimento. Vejamos:

Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis)


horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou
alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo
escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas)
horas (...)

§ 4º - Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste


artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a
remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50%
(cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de
trabalho

Diante do exposto, requer a condenação da reclamada ao pagamento das


horas intrajornadas não usufruídas, acrescidas do adicional de 50%,
durante todo o período contratual, nos termos do artigo 7º, XVI da CF/88,
§ 4º do artigo 71 da CLT e súmula 437, I do TST, bem como, reflexos, por se
tratar de verba de natureza salarial (súmula 437, III do TST), em verbas
contratuais e rescisórias, 13º salário integrais e proporcional, férias
acrescidas de 1/3 integrais e proporcional e depósito de FGTS.
4.9.2 - DA DIFERENÇA SALARIAL

Como já exposto, em todo o seu período contratual, além de não ter a CTPS
assinada, em violação aos preceitos legais, a reclamante somente tinha uma
remuneração de R$ XXXXX, que passou a ser recebida a partir de (data),
quando foi promovida de (função) para (função), o que manifestadamente é
uma afronta à Constituição Federal, que garante o salário-mínimo como um
direito fundamental do trabalhador em seu art. 7º. Inciso IV. A saber:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:

IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de


atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com
moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem
o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.

Diante disso, tendo em vista que em todo período contratual não houve
pagamento de forma regular do salário da trabalhadora, que recebia
aquém do mínimo estabelecido, requer-se a diferença dos últimos 26
meses devendo essa ser paga com todos os acréscimos e reflexos legais.

4.9.3 - HORAS EXTRAS EM RAZÃO DO TRABALHO EM FERIADOS

A reclamante ativou-se em todos os feriados ocorridos durante seu contrato de


trabalho, sem, contudo, receber o competente adicional devido e sem folga
compensatória. O único “adicional” que recebia era na véspera do Natal, em
que os empregados recebiam 50,00 como uma “gratificação”. Salta aos olhos o
descaso com o trabalhador e o nível de constrangimento a que era submetido
com tal atitude. Cite-se a Lei 605 de 05/01/49, que em seu art. 9º prescreve:

"Nas atividades em que não for possível, em virtude das exigências técnicas das
empresas, a suspensão do trabalho, nos dias feriados civis e religiosos, a
remuneração será paga em dobro, salvo se o empregador determinar outro dia
da folga"

Tal dispositivo evidentemente não era cumprido, tolhendo de forma brutal


tal direito do trabalhador, motivo pelo qual requer o pagamento do
adicional de horas extras em razão dos trabalhos em feriados com seus
devidos reflexos legais, ou seja, o reflexo em repousos semanais
remunerados, férias acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário e FGTS com
multa de 40%.

4.9.4 - DO ADICIONAL NOTURNO / CÔMPUTO DA HORA REDUZIDA

(Neste tópico eu coloquei as horas calculadas, como você vai observar. Para
fazer o cálculo – que manualmente demanda muito trabalho – há diversas
ferramentas de cálculo de horas trabalhadas on-line. Eu usei a calculadora de
horas neste link: https://www.calculo-exato.com/calculo-de-horas-
trabalhadas/ ). Segue o tópico.)

A reclamante trabalhava de segunda a sábado. Entrava, em média, entre 16:30


às 17:20 e saía, em média, à 00:00/00:30 hrs.

De acordo com o artigo 73 e parágrafos da CLT, a jornada de


desempenhada das 22 horas às 5 horas é considerada trabalho noturno,
sendo a hora computada como de 52 minutos e 30 segundos e devendo ser
paga com acréscimo de no mínimo 20%.

Desta forma, a reclamante realizava, em média, 03:10 hrs de trabalho


noturno por dia, de segunda a sábado. Entretanto, a reclamada jamais
efetuou o pagamento do adicional noturno devido. Portanto, requer seja a
reclamada condenada ao pagamento do referido adicional correspondente
a 62 horas mensais, além de reflexos sobre férias, décimo terceiro salário,
aviso prévio, DSR e FGTS.

4.9.5 - DO ACÚMULO DE FUNÇÕES

Como já explanado, a reclamante foi contratada sem nenhum tipo de registro


na CTPS, o que configura grave descumprimento ao artigo 29 da CLT. Como
demonstrado, a mesma era diarista, sendo posteriormente, contratada como
pizzaiolo.

Entretanto, excelência, não obstante a Autora exercer tal função, também, ao


fim do expediente, tinha que limpar o estabelecimento para deixá-lo organizado
para o expediente do dia seguinte.

É sabido que cada função compreende o desempenho de determinadas


atividades a ela inerentes ou correlatas que o empregado deve desempenhar,
sendo por tudo isso remunerado com o valor salarial ajustado. Entretanto, o
exercício cumulado de outra função ou atividade notadamente desvinculada da
função contratada enseja a infração ao art. 468 da CLT.

Ressalte-se, aqui, que a falta de registro da CTPS não afasta a aplicação de tal
artigo, muito menos a propriedade do que se pleiteia, uma vez que o Princípio
da Primazia da Realidade nos coloca diante do fato concreto, levando em
consideração a verdade material em detrimento da verdade formal.

Nesse aspecto, a postulante foi contratada para a função de pizzaiolo,


entretanto, também exercia a função de serviços gerais, tendo que limpar não
apenas o forno, o que seria uma atividade inerente a função, mas também todo
o salão dos clientes ao fim do expediente.
Ademais, quando não havia quem a ajudasse, também fazia as vezes de
garçonete, o que ocorria pelo menos duas vezes por semana. Notoriamente tal
função em nada guarda relação com o exercício da função de pizzaiolo.

Não obstante, excelência, por vezes o patrão, sr. (nome do gerente), viajava e
deixava sob a responsabilidade da reclamante o estabelecimento. Ocasião em
que a mesma era responsável por todas as atividades, tais como: organizar a
escala dos demais empregados, cuidar dos pedidos, controlar o caixa, etc. Nota-
se que a Autora, nessas ocasiões, respondia como se gerente fosse, sem,
contudo, receber qualquer tipo de adicional por isso.

Aliás, a reclamante jamais recebeu por quaisquer dessas atividades


desvinculadas de sua função qualquer gratificação, recompensa, compensação
ou promoção. Sempre recebeu o salário de R$ XXXXX de forma fixa,
independentemente das funções que desempenhava e o quanto eram
cumuladas com sua função primária.

Desta forma, o acúmulo de funções enseja o pagamento de acréscimo salarial


pelo acúmulo de funções, conforme consolidado pela jurisprudência deste
tribunal, pois vejamos:

ACÚMULO DE FUNÇÕES. ACRÉSCIMO SALARIAL DEVIDO. Cada função


compreende o desempenho de determinadas atividades a ela inerentes ou
correlatas que o empregado deve desempenhar, sendo por tudo isso
remunerado com o valor salarial ajustado. Nisso residem, então, as
características sinalagmáticas, comutativas e onerosas do contrato de trabalho e
é exatamente em razão delas que não se pode atribuir ao empregado, ainda que
dentro da mesma jornada de trabalho, o exercício cumulado de outra função ou
outra atividade substancialmente desvinculada da função contratada (CLT, 456,
parágrafo único), sem caracterização de infração ao art. 468 da CLT. [6]

ACÚMULO DE FUNÇÃO - ACRÉSCIMO SALARIAL - CABIMENTO. 1. Ao alterar


unilateralmente o contrato de trabalho, exigindo do trabalhador serviços
alheios ao pacto, o empregador pratica ato ilegal e lesivo ao empregado
(art. 468 da CLT), pelo que surge o direito de repará-lo, consoante exegese
dos arts. 186 e 927 do Código Civil, aplicados subsidiariamente com fulcro
no art. 8º, p. único, CLT. 2. Sob outro ângulo, exigir do trabalhador a
realização de função não constante no contrato de trabalho, sem a devida
contraprestação, enseja o enriquecimento sem causa do empregador. Logo,
a teor do art. 884 do Código Civil, aplicados subsidiariamente por força do art. 8º,
parágrafo único, CLT, o empregador deve restituir o indevidamente auferido [7].

Pelo exposto, requer-se a condenação da reclamada ao pagamento do


adicional de no mínimo 20% por desvio ou acúmulo de função por todo o
contrato, com incidência em horas extras, DSRs, feriados, 13º salário, férias
+ 1/3, aviso prévio, INSS, complementação salarial e FGTS + 40%.
4.9.6 - DOS DESCONTOS INDEVIDOS NO SALÁRIO

O artigo 462 da CLT estabelece que o empregador está proibido de efetuar


qualquer desconto nos salários do empregado, exceto quando resultar de um
adiantamento salarial, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo. Tal
disposição encontra respaldo constitucional no art. 7º, VI e X da CF, em primazia
ao Princípio da Irredutibilidade Salarial.

Entretanto, excelência, como já mencionado, não era o que ocorria em relação a


reclamante. Já foi demonstrado que a mesma não gozava de férias, sendo que
às vezes, geralmente no fim do ano, a autora pedia ao patrão, Sr. (nome do
gerente), “licença” para se afastar alguns dias do trabalho. Esses dias eram o
único período do ano que dispunha para descansar e viajar com o marido e
família, já que também trabalhava todos os feriados do ano. Concedida tal
“licença”, ela se afastava, em média, cinco dias. Esses dias eram descontados de
seu salário. Isso era o mais próximo de “férias” que ela tinha.

Observa-se, excelência, o descaso da reclamada com o trabalhador, sendo


privado de seus direitos mínimos, e, já não obstante toda a violação dos
direitos, ressaltando a remuneração abaixo do salário-mínimo, ainda tinha que
suportar o desconto salarial pelos pouquíssimos dias de descanso que
dispunha.

Por ser um direito diretamente ligado à saúde, cujo objetivo é proporcionar


descanso ao trabalhador após um período determinado de atividade, as férias
não podem ser suprimidas, sendo tal direito resguardado na Constituição
Federal, pelo artigo 7º, inciso XVII, e na CLT, que regula a matéria nos artigos
129 a 153.

Ainda neste aspecto, estudiosos do Direito, como Arnaldo Sussekind e Mozart


Victor Russomano, descrevem os fundamentos que norteiam o instituto de
férias: o fisiológico, relacionado ao cansaço do corpo e da mente; o econômico,
no sentido de que o empregado descansado produz mais; o psicológico, que
relaciona momentos de relaxamento com o equilíbrio mental; o cultural,
segundo o qual o espírito do trabalhador, em momentos de descontração, está
aberto a outras culturas; o político, como mecanismo de equilíbrio da relação
entre empregador e trabalhador; e o social, que enfatiza o estreitamento do
convívio famíliar [8].

A jurisprudência assim concorda:

DESCONTOS SALARIAIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE HIPÓTESE


AUTORIZADA PELO ART. 462 DA CLT. DEVOLUÇÃO DE VALORES. Em
observância ao princípio da intangibilidade e com vistas à proteção do
salário, é vedado ao empregador efetuar quaisquer descontos no salário do
empregado, nos termos do art. 462 da CLT. Descontos somente são
admissíveis nas situações previstas neste dispositivo ou mediante autorização
prévia, por escrito e livremente consentida. Acaso o empregador não comprove a
incidência de uma destas hipóteses, é devida a condenação à devolução dos
valores descontados [9].

Desta forma, denota-se que a reclamada efetuou descontos ilegais no


pagamento dos salários, motivo pelo qual a reclamante requer a devolução
dos valores devidamente corrigidos e com juros aplicáveis na forma da lei.

5. DOS PEDIDOS
5.1 - DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer:

1. Que seja deferido o benefício da gratuidade processual, por ser a


reclamante pobre na acepção jurídica do termo, conforme se expôs;
2. A aplicação das normas celetistas ANTES da reforma, pelo contrato de
trabalho ter se iniciado e encerrado antes da entrada em vigor da nova Lei,
conforme se expôs;
3. A condenação da reclamada ao pagamento da multa prevista no art. 55
da CLT, a ser revertida para a DRT, tendo em vista o não registro do
contrato de trabalho na CTPS;
4. O reconhecimento do vínculo de emprego entre a Reclamante e a
empresa Reclamada;
5. A condenação da Reclamada em proceder a anotação do contrato de
trabalho na CTPS da Reclamante do período de 01/06/2016 a
05/11/2018;
6. O pagamento do período referente ao aviso prévio, com juros e correção
na forma da lei, bem como sua integração no tempo de serviço da
reclamante;
7. Pagamento de multa de 40%, tendo em vista a demissão sem justa causa;
8. Liberação das guias AM (guias para saque do FGTS), pelo código 01,
acrescidas de multa de 40%, sob pena de execução direta;
9. A expedição das guias de seguro-desemprego, em sede de tutela
antecipada, sob pena de conversão em indenização, em ocorrendo essa
segunda, a fixação de indenização no importe de R$ XXXXXXXXX;
10. Requer, também (Neste ponto, pode colocar uma tabela com a liquidação
dos pedidos, como abaixo):

13o salário, férias vencidas e verbas rescisórias    R$ XXXXX

Diferença Salarial                 R$ XXXXX

Reflexos da diferença salarial nas demais verbas   R$ XXXXX


Adicional noturno                 R$ XXXXX

Reflexos das Horas Noturnas nos DSRs       R$ XXXXX

Reflexos do adicional noturno nas demais verbas   R$ XXXXX

Horas Intrajornada                R$ XXXXX

Reflexos das Horas Intrajornada nos DSRs      R$ XXXXX

Reflexos das horas intrajornada nas demais verbas   R$ XXXXX

Horas extras em razão do trabalho nos feriados    R$ XXXXX

Adicional por acúmulo de funções          R$ XXXXX

Restituição dos descontos indevidos         R$ XXXXX

Aviso prévio                    R$ XXXXX

Saldo de salário do período trabalhado entre 01/09/2019 a 5/10/2019


                    R$ XXXXX

A multa prevista no art. 477, § 8º, CLT        R$ XXXXX

A multa prevista no art. 467, CLT          R$ XXXXX

Recolhimento do FGTS                R$ XXXXX

40 % da multa (sobre o valor do FGTS)        R$ XXXXX

Recolhimento previdenciário do período        R$ XXXXX

Honorários advocatícios               R$ XXXXX

Seguro-desemprego em eventual conversão em multa R$ XXXXX

Total                       R$ XXXXX

5.2 - DA PROCEDÊNCIA DA AÇÃO

Requer a notificação da reclamada para que compareça à audiência que for


designada e querendo, apresente sua defesa, sob os efeitos da revelia e pena de
confissão quanto à matéria de fato.

Requer também a procedência da presente ação, com a condenação da


reclamada no pedido e nas custas processuais, tudo devidamente atualizado e
acrescido de juros legais e honorários advocatícios.

5.3 - DOS REQUERIMENTOS FINAIS


REQUER QUE A RECLAMADA SEJA COMPELIDA A JUNTAR NA PRIMEIRA
OPORTUNIDADE, SOB AS SANÇÕES DOS ARTS. 9º DA CONSOLIDAÇÃO
DAS LEIS DO TRABALHO, O CADERNO DE CONTROLE DE PAGAMENTO
DOS FUNCIONÁRIOS, QUE ERA ASSINADO PELOS MESMOS AO
RECEBEREM.

Requer ainda condenação da Reclamada, a pagamento de honorários


advocatícios no importe de 20% sobre o valor da causa a título de indenização,
bem como o pagamento de despesas processuais e custas processuais.

Requer que, ao final, seja a presente Reclamatória julgada totalmente


procedente, condenando-se o Reclamado ao pagamento de todas as verbas
pleiteadas, com a devida atualização monetária, juros, honorários advocatícios,
custas processuais e demais cominações legais.

Protesta o reclamante por todos os meios de prova em direito admitidos,


especialmente pelo depoimento pessoal do reclamado, juntada de documentos,
inquirição de testemunhas, perícias e tantas outras quantas forem necessárias
para provar tudo o quanto aqui foi afirmado.

Protesta, também, pela intimação do reclamado para comparecer à audiência


para prestar depoimento pessoal, com a expressa cominação de aplicação da
confissão, para o caso de não comparecer (Súmula 74 do TST) ou se recusar a
depor.

Restam impugnados, desde já, quaisquer documentos apresentados a


arredio dos fatos narrados, nos termos do art. 9º, CLT.

Dá-se a causa o valor de R$ XXXXX para os efeitos fiscais.

Termos em que pede e espera deferimento.

Cidade/Estado, data.

(Nome do advogado)

(n. da OAB)

1. TST - AIRR: 7935869620015155555 793586-96.2001.5.15.5555, Relator:


Rider de Brito, Data de Julgamento: 12/02/2003, 5ª Turma. ↑
2. TRT-7 - RO: 00010884420195070016, Relator: DURVAL CÉSAR DE
VASCONCELOS MAIA, Data de Julgamento: 06/08/2020, 1ª Turma, Data de
Publicação: 06/08/2020. ↑

3. Aplicação da lei antiga, conforme explorado no tópico 1.1 desta demanda.


4. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. LTr editora.


2018. 16ª ed. ↑

5. SÚMULA Nº 389 - SEGURO-DESEMPREGO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO


TRABALHO. DIREITO À INDENIZAÇÃO POR NÃO LIBERAÇÃO DE GUIAS

I - Inscreve-se na competência material da Justiça do Trabalho a lide entre


empregado e empregador tendo por objeto indenização pelo não-
fornecimento das guias do seguro-desemprego.

II - O não-fornecimento pelo empregador da guia necessária para o


recebimento do seguro-desemprego dá origem ao direito à indenização. ↑

6. (TRT-24 00016107320125240071, Relator: JÚLIO CÉSAR BEBBER, 1ª TURMA,


Data de Publicação: 27/11/2014) ↑

7. (TRT-24 00004666820125240005, Relator: NICANOR DE ARAÚJO LIMA, 2ª


TURMA, Data de Publicação: 20/05/2014) ↑

8. Fonte: < https://tst.jusbrasil.com.br/noticias/2760896/ferias-direito-


ao-descanso-reune-costume-leiejurisprudencia> Acesso em 27/09/2019.

9. (TRT-5 – RecOrd: 00009853020115050030 BA 0000985-30.2011.5.05.0030,


Relator: LÉA NUNES, 3ª. TURMA, Data de Publicação: DJ 05/04/2013). ↑

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