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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005A6ABE0F32DF0F1.
ACÓRDÃO
(7ª Turma)
CMB/maf/nsl
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A parte autora, não se conformando com o acórdão do Tribunal
Regional do Trabalho da 15ª Região, interpõe o presente recurso de revista, no qual
aponta violação de dispositivos de lei e da Constituição Federal, bem como indica
dissenso pretoriano.
Contrarrazões ausentes.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do
Trabalho, nos termos do artigo 95, § 2º, II, do Regimento Interno do TST. O Ministério
Público do Trabalho opinou pelo não provimento do Recurso de Revista.
É o relatório.
VOTO
TRANSCENDÊNCIA DA CAUSA
Nos termos do artigo 896-A da CLT, com a redação que lhe foi
dada pela Lei nº 13.467/2017, antes de adentrar o exame dos pressupostos intrínsecos
do recurso de revista, é necessário verificar se a causa oferece transcendência.
Primeiramente, destaco que o rol de critérios de transcendência
previsto no mencionado preceito é taxativo, porém, os indicadores de cada um desses
critérios, elencados no § 1º, são meramente exemplificativos. É o que se conclui da
expressão "entre outros", utilizada pelo legislador.
A parte autora insiste no processamento do seu recurso de
revista quanto aos temas "PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER - INTERVALO PARA
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DESCANSO - ARTIGO 384 DA CLT – LIMITAÇÃO A 11/11/2017", e " LIMITAÇÃO DA
CONDENAÇÃO ATÉ O INÍCIO DA VIGÊNCIA DA LEI 13.415/2017, QUE ALTEROU O
ARTIGO 318 DA CLT ".
Em relação a transcendência jurídica refere-se à interpretação
e aplicação de novas leis ou alterações de lei já existente. Na hipótese dos autos, a
discussão recai sobre regra de direito intertemporal para a incidência de dispositivo
revogado pela Lei nº 13.467/2017 e pela Lei 13.415/2017, e, por isso, amolda-se ao
mencionado indicador de transcendência, considerando, especialmente, a necessidade
de construir a jurisprudência uniformizadora desta Corte a respeito dos temas, a
justificar que se prossiga no exame do apelo.
Assim, admito a transcendência jurídica da causa.
CONHECIMENTO
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em apreço), entendo que o período relativo ao descanso de quinze
minutos, previsto no art. 384 consolidado, deve ser remunerado na
forma do art. 71, § 4º, com as repercussões pertinentes, na esteira da
Súmula nº 437 do C. TST e da Súmula nº 80 deste E. Regional, observando-se
os adicionais, reflexos e demais critérios definidos para as horas extras,
conforme o tópico anterior.
Ressalto que, em relação ao intervalo referido no item anterior desta
fundamentação, não há falar em bis in idem, pois a pausa em comento tem
natureza diversa daquela usufruída pela obreira durante o recreio. Conforme
já expendido alhures, o período do recreio sequer se presta a descaracterizar
o labor em aulas consecutivas dentro de um mesmo turno, configurando
tempo à disposição do empregador.
Pelo exposto, reformo, nos termos acima.
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horas de trabalho previstas no art. 318, da CLT, ainda que fosse tempo à
disposição do empregador. Fundamenta seu pleito na recente jurisprudência
do C. TST, bem como na Súmula nº 80 deste Tribunal.
Assiste-lhe razão.
Na exordial, informa a autora que laborou, durante o período
imprescrito, cinco horas diárias de forma ininterrupta, sem intervalo para
refeição e descanso, contrariando o disposto no art. 318, da CLT (texto
anterior à reforma trabalhista) e pugnou pela condenação do reclamado ao
pagamento como extras as horas trabalhadas acima da quarta aula
consecutiva. Sustentou, ainda, que tinha 15 minutos de "recreio", mas que
este período era insuficiente, pois muitas vezes tinha que receber pais de
alunos ou mesmo orientações pedagógicas da escola (ID 5c57a8a - Pág. 24).
Restou incontroverso que havia um intervalo de quinze minutos,
relacionado ao "recreio".
Com efeito, a antiga redação do art. 318 da CLT, anterior a 17/02/2017
(Lei nº 13.145/2017) assim previa:
"Num mesmo estabelecimento de ensino não poderá o professor dar,
por dia, mais de 4 (quatro) aulas consecutivas, nem mais de 6 (seis),
intercaladas."
De outra parte, o C. TST, firmou entendimento de que o tempo do
intervalo do "recreio" entre as aulas não é suficiente para quebrar a
continuidade da jornada.
Neste sentido, as recentes decisões da Corte Superior Trabalhista:
"(...) 4. PROFESSOR. INTERVALO. RECREIO. TEMPO À DISPOSIÇÃO. Esta
Corte Superior firmou entendimento no sentido de que o curto período de
intervalo conhecido como "recreio" constitui tempo à disposição do
empregador, devendo o período respectivo, portanto, ser contado como
tempo efetivo de serviço. Registre-se que esse curto intervalo é o que divide
duas aulas sequenciais, não se confundindo com o intervalo maior, que
separa dois turnos totalmente distintos de trabalho (matutino e noturno, por
exemplo). Recurso de revista conhecido e provido no aspecto."
(RR-2742600-73.2008.5.09.0011, 3ª Turma, Relator Ministro MAURICIO
GODINHO DELGADO, DEJT 07/01/2019) - destaquei.
"(...). PROFESSOR. INTERVALO ENTRE AS AULAS DENOMINADO
"RECREIO". TEMPO À DISPOSIÇÃO. HORAS EXTRAS. Esta Corte Superior é firme
no sentido de que o intervalo entre aulas conhecido como "recreio" constitui
tempo à disposição do empregador, nos termos do art. 4º da CLT, devendo,
pois, integrar a jornada de trabalho do professor. Precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido, no particular. (RR-218000-66.2009.5.09.0004, 1ª
Turma, Relator Ministro WALMIR OLIVEIRA DA COSTA, DEJT 08/11/2019).
"(...). INTERVALO - RECREIO - TEMPO À DISPOSIÇÃO Vislumbrada
violação ao artigo 4º da CLT, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento para
processar o Recurso de Revista. (ARR-1255-46.2011.5.09.0029, 8ª Turma,
Relatora Ministra MARIA CRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI, DEJT 20/09/2019).
Assim sendo, considerando a jurisprudência daquela Corte, entendo
que os intervalos de recreio usufruídos pela autora, de quinze minutos, não
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foram aptos a descaracterizar o caráter consecutivo das aulas ministradas por
ela e assim, mesmo o período posterior ao recreio deve ser considerado
consecutivo.
Quitado o pagamento regular das aulas já ministradas, é devido apenas
o adicional sobre as horas excedentes às quatro diárias, como remuneração
pelo trabalho suplementar, bem assim o tempo referente ao intervalo
intrajornada (15 minutos mais adicional), tendo em vista que não houve a
regular fruição do descanso.
Repiso que as alterações de direito material implementadas pela
Lei 13.467/2017 são aplicáveis a todos os contratos vigentes, mesmo
aqueles que tiveram início antes de sua vigência, conforme as regras de
direito intertemporal.
Assim, dou provimento ao recurso da reclamante para condenar o
Município ao pagamento de horas extras, acrescidas do adicional de 50%,
devendo ser consideradas, como tais, as horas trabalhadas acima da
quarta consecutiva, além dos 15 minutos de recreio até 17/02/2017,
observando a prescrição pronunciada pela Origem.
Deverão ser observados a frequência e os horários lançados nos
cartões de ponto acostados aos autos, e na ausência de algum documento,
deve-se considerar a média do período não prescrito; a base de cálculo de
acordo com a Súmula n.º 264 do C. TST e a evolução salarial da obreira; o
divisor 165, considerando que a autora é mensalista, que a carga horária
semanal é de 33 horas, conforme Lei Municipal n.º 7.236/2011, e os termos do
artigo 64 da CLT
Diante da habitualidade, as horas extras devem refletir nos DSRs, 13º
salário, férias + 1/3 e FGTS.” (fls.259/262)
Ao exame.
Tenho posição pessoal no sentido de que as alterações
promovidas pela Lei nº 13.467/2017, que representem supressão ou restrição de direito
material do empregado, não se aplicam aos contratos em curso no momento da sua
vigência.
Trata-se, a meu sentir, de respeitar o ato jurídico perfeito e dar
concretude aos princípios protetivos que permeiam as relações de emprego - em
especial o da condição mais benéfica, o da norma mais favorável ao trabalhador e o da
vedação ao retrocesso social.
Os fundamentos por mim adotados foram externados de forma
minuciosa no julgamento do recurso de revista nº 196-82.2018.5.11.0009, mas
culminaram em voto vencido.
Prevaleceu, no âmbito desta 7ª Turma, a tese da imediata
incidência das aludidas alterações, considerando que o contrato de trabalho
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envolve, precipuamente, prestações de natureza sucessiva. Ponderou-se, ainda, o
fato de que as partes não tiveram ingerência nas novas disposições, de origem
heterônoma.
Preservam-se, assim, apenas as prestações consumadas antes
da vigência da novel legislação.
No caso, discute-se a incidência da norma inserta no artigo 384
da CLT, que assim previa:
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ainda não há jurisprudência pacificada no âmbito do Tribunal Superior do
Trabalho ou em decisão de efeito vinculante no Supremo Tribunal Federal
(art. 896-A, § 1º, IV, da CLT). Reconhecida, portanto, a transcendência jurídica
da causa (art. 896-A, § 1º, IV, da CLT) e violação do art. 5º, II, da Constituição
Federal . V. Sob esse enfoque, fixa-se o entendimento no sentido de que a
ausência de limitação das parcelas vincendas, referentes ao pagamento das
horas extras decorrentes da não concessão do intervalo de 15 minutos que
era previsto no art. 384 da CLT, mas que foi revogado pela Lei nº 13.467/2017,
caracteriza ofensa ao disposto no art. 5º, II, da CF . VI. Recurso de revista de
que se conhece e a que se dá provimento" (RR-20544-28.2017.5.04.0664, 4ª
Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 19/12/2022);
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condenação às mencionadas parcelas a 10/11/2017 . Nesse contexto, como os
argumentos trazidos pela parte não são suficientes a alterar tal constatação,
resta íntegra a decisão atacada. Ademais, constatado o caráter
manifestamente inadmissível do recurso, impõe-se a aplicação da multa
prevista no artigo 1.021, § 4º, do CPC/2015, no percentual de 1% sobre o valor
da causa (R$ 18.019,07), o que perfaz o montante de R$ 180,19 (cento e
oitenta reais e dezenove centavos), a ser revertido em favor da Agravada ,
devidamente atualizado, nos termos do referido dispositivo de lei. Agravo não
provido, com aplicação de multa" (Ag-RR-20816-59.2018.5.04.0511, 5ª Turma ,
Relator Ministro Douglas Alencar Rodrigues, DEJT 18/03/2022);
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unanimidade, fixou a seguinte tese de repercussão geral: " O art. 384 da CLT,
em relação ao período anterior à edição da Lei n. 13.467/2017, foi
recepcionado pela Constituição Federal de 1988, aplicando-se a todas as
mulheres trabalhadoras ". De outra parte, cumpre examinar a alegação de
fato novo , aduzida pelo reclamado, por meio da qual requer a manifestação
da Eg. 7ª Turma acerca dos efeitos advindos da superveniência da Lei nº
13.467/2017 no julgamento destes recursos, notadamente quanto à limitação
da condenação à vigência daquele diploma legal, o qual extinguiu o direito ao
intervalo do art. 384 da CLT. De plano, oportuno registrar que, a teor da
Súmula/TST nº 394, " O art. 493 do CPC de 2015 (art. 462 do CPC de 1973), que
admite a invocação de fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito,
superveniente à propositura da ação, é aplicável de ofício aos processos em
curso em qualquer instância trabalhista. Cumpre ao juiz ou tribunal ouvir as
partes sobre o fato novo antes de decidir ". E, no termos do precedente da
SBDI-1 do TST, E-ARR-693-94.2012.5.09.0322, conhecido o recurso de revista,
há que se avançar no exame do fato novo. No caso , cinge-se a questão
incidental em saber se o advento da Lei nº 13.467/2017, que revogou
expressamente o art. 384 da CLT, teria o condão de impor limite à
condenação imposta ao banco reclamado. Pois bem, a meu sentir o art. 384
da CLT traduz norma geral de ordem pública destinada a tutelar a mulher
como gênero, e não como empregada. Por esse prisma, conclui-se que o
intervalo previsto no referido dispositivo legal não se classifica como um
direito trabalhista propriamente dito, pois é assegurado à trabalhadora em
decorrência do gênero feminino, e não da sua condição de empregada. É que
a nomogênese que deu ensejo à construção legislativa levou em consideração
fatores externos à relação de emprego, concernentes à posição de
discriminação da mulher na sociedade, no mercado de trabalho, da
sobrecarga de trabalho decorrente da dupla jornada (casa/trabalho), e etc.
Como já destacado, por opção legislativa, possivelmente em virtude dos
notórios avanços e conquistas das mulheres no meio social, o art. 384 da CLT
foi retirado do mundo jurídico, após o advento da Lei nº 13.417/2017. Dessa
forma, a revogação da referida norma geral em direito material, pela Reforma
Trabalhista, é imediata, por se tratar, repise-se, de direito garantido às
trabalhadores em função do gênero, e não como empregada, razão pela qual
não se há de cogitar de direito adquirido ou da incorporação ao contrato de
trabalho. Nesses termos, é o que se verifica da tese firmada pelo STF no Tema
528 , que limitou a incidência do preceito legal " ao período anterior à edição
da Lei n. 13.467/2017 ". Em suma, no presente caso, fica a condenação do
reclamado limitada à data da vigência da Lei nº 13.467/17, isto é, aos
intervalos do art. 384 da CLT não usufruídos até 11/11/2017 . Precedentes.
Recurso de revista conhecido e provido parcialmente. (...)"
(ARR-193-33.2012.5.15.0137, 7ª Turma, Relator Ministro Renato de Lacerda
Paiva, DEJT 02/09/2022);
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Embargos de declaração acolhidos para, acrescendo fundamentos ao acordão
embargado, tão somente prestar esclarecimentos adicionais, sem imprimir
efeito modificativo. Embargos de declaração acolhidos, sem efeito
modificativo. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO DE REVISTA DA 1ª
RECLAMADA. INTERVALO DO ART. 384 DA CLT - DIREITO INTERTEMPORAL -
FATO NOVO - ENTRADA EM VIGOR DA LEI Nº 13.467/17 - APLICAÇÃO DA TESE
VINCULANTE DO RE Nº 658.312 (TEMA Nº 528) - EFEITO MODIFICATIVO.
Embargos de declaração acolhidos, sob o efeito modificativo, para,
acrescendo ao acórdão embargado as razões consignadas nesta decisão,
acatar o fato novo alegado pela reclamada, alusivo à entrada em vigor da Lei
nº 13.467/17, que extinguiu o intervalo do art. 384 da CLT, devendo ser
aplicada aos contratos em curso, atingindo os intervalos não concedidos a
partir de 11/11/2017, assegurados, no entanto, aqueles não usufruídos antes
daquela data. Tudo nos termos da tese vinculante consagrada no RE nº
658.312 ( Tema nº 528 ) . Precedente ARR-193-33.2012.5.15.0137 desta 7ª
Turma. Embargos de declaração acolhidos, com efeito modificativo "
(ED-ARR-855-62.2012.5.02.0491, 7ª Turma , Relator Ministro Renato de
Lacerda Paiva, DEJT 09/09/2022);
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questão ser solucionada de acordo com a legislação em vigor em cada época,
conforme preceitua o art. 6.º, §§ 1.º e 2.º, da LINDB . 3. Da mesma forma, em
relação ao intervalo intrajornada, para os fatos ocorridos antes de
11/11/2017, incide a redação anterior da norma, bem como o disposto na
Súmula 437, I e III, do TST. Por sua vez, para os fatos ocorridos após essa data,
devem ser observadas as alterações materiais trazidas pela Lei 13.467/2017.
4. Desse modo, incidente os termos da Lei 13.467/2017 ao contrato de
trabalho da autora, observada a respectiva vigência . Agravo não provido"
(Ag-ED-RRAg-1001275-21.2019.5.02.0001, 8ª Turma, Relatora Ministra Delaide
Alves Miranda Arantes, DEJT 19/12/2022).
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Constata-se, assim, que o acórdão regional foi proferido em
consonância com o entendimento ora exposto, motivo pelo qual não conheço do
recurso de revista, no particular.
ISTO POSTO
CLÁUDIO BRANDÃO
Ministro Relator
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