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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

1a TURMA - 2a CÂMARA
PROCESSO nº: 0010541-30.2023.5.15.0136 (ROT)
RECURSO ORDINÁRIO TRABALHISTA (1009)
RECORRENTE: MIGUEL SANDRO MAFFRA
RECORRIDO: MUNICIPIO DE PIRASSUNUNGA
ORIGEM: VARA DO TRABALHO DE PIRASSUNUNGA
JUIZ SENTENCIANTE: ANDRE LUIZ TAVARES DE CASTRO PEREIRA

Inconformado com a r. sentença (Idcf78722) que declarou a


incompetência material desta Especializada, recorre ordinariamente o autor.

Insurge-se o reclamante em suas razões recursais (Id5185ce5), pugnando


pela análise dos seguintes tópicos: justiça gratuita, competência material, adicional por tempo de serviço
e honorários advocatícios.

Parecer da Douta Procuradoria, pelo conhecimento e prosseguimento do


feito.

É o relatório.

VOTO

ADMISSIBILIDADE

Conheço do recurso, eis que preenchidos os pressupostos extrínsecos e


intrínsecos de admissibilidade.

DIREITO INTERTEMPORAL E A APLICAÇÃO DAS NORMAS


EXPRESSAS NA LEI N. 13.467/2017

Assinado eletronicamente por: WILTON BORBA CANICOBA - 11/08/2023 08:58:12 - 9c8ec69


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Número do processo: 0010541-30.2023.5.15.0136 ID. 9c8ec69 - Pág. 1
Número do documento: 23062619240453900000102043530
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A presente ação foi ajuizada já na vigência da Lei 13.467/2017, mas


refere-se a contrato de trabalho que teve vigência, total ou parcial, no lapso temporal que antecedeu ao
implemento da reforma trabalhista.

Embora o julgamento do recurso interposto se dê na vigência da Lei nº


13.467/17, as regras de direito material aplicáveis são aquelas vigentes à época dos fatos narrados,
conforme as regras de direito intertemporal.

Já no que se refere às regras de direito processual com efeitos materiais


(relativas a honorários advocatícios, honorários periciais, custas processuais, justiça gratuita entre
outros), serão observadas aquelas vigentes ao tempo do ajuizamento da ação, com base nos princípios do
devido processo legal e da segurança jurídica, evitando-se eventual e indesejada decisão "surpresa".

Por fim, as regras de direito processual em sentido estrito serão aquelas


vigentes ao tempo da prática de cada ato processual, observado o princípio tempus regit actum.

COMPETÊNCIA MATERIAL

O autor ajuizou a presente demanda em face do MUNICÍPIO DE


PIRASSUNUNGA pleiteando adicional por tempo de serviço (ATS) - quinquênio - com base na Lei
Municipal 765/1964.

O Juízo de origem declarou a incompetência material da Justiça do


Trabalho para dirimir a questão, declinando o feito ao juízo competente (Justiça Estadual de Pirassununga
/SP) nos termos do art. 109, I, da CF c.c art. 64, §§ 1º e 3º, do CPC/2015, conforme precedente RE
1288440 (Tema 1143) do E. STF.

Contra a decisão recorre o autor.

Pois bem.

A questão posta em debate no presente feito diz respeito à preensão de


empregado público, em que pleiteia pagamento de parcela prevista em lei municipal.

O tema, nesse cenário, se amolda ao que apreciado pelo STF ao analisar o


tema 1.143 da repercussão geral.

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Número do documento: 23062619240453900000102043530
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No caso, emerge da Ata de Julgamento da sessão virtual finalizada em 30


de Junho de 2023 (Sexta-feira), às 23:59 e publicada no Diário oficial de 12/7/2023, decisão vinculante
da Suprema Corte do seguinte teor:

Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.143 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso extraordinário, vencida a Ministra Rosa Weber (Presidente). Em
seguida, por unanimidade, foi fixada a seguinte tese: "1. A Justiça Comum é competente
para julgar ação ajuizada por servidor celetista contra o Poder Público, em que se pleiteia
parcela de natureza administrativa", modulando-se os efeitos da decisão para manter na
Justiça do Trabalho, até o trânsito em julgado e correspondente execução, os processos
em que houver sido proferida sentença de mérito até a data de publicação da presente ata
de julgamento. Tudo nos termos do voto do Relator. Impedido o Ministro Luiz Fux.
Plenário, Sessão Virtual de 23.6.2023 a 30.6.2023.

Portanto, a competência da justiça comum se restringe à apreciação de


ações em que se requer parcelas de natureza administrativa.

Restando incontroverso o regime celetista a reger a relação jurídica posta,


remanesceria a análise acerca da natureza da parcela postulada, ou seja, se ostenta a condição de parcela
de cunho administrativo.

O critério identificador da natureza da parcela foi externado no próprio


julgamento do RE 1288440 (Tema 1143), eis que ali foram tratadas como parcelas de natureza
administrativa o sistema remuneratório e benefícios / adicional de tempo de serviços e base de cálculo,
eis que previstos em Lei Estadual.

Assim, a distinção partiu do reconhecimento de que questões previstas em


leis municipais ou estaduais que regulam o contrato de trabalho de empregados públicos ostentam
natureza administrativa, já que em relação às questões relativas a legislação federal sobre Direito do
Trabalho só a União pode legislar (art. 22, I, da C.F.).

Nesse cenário, mantenho a decisão de origem, que declarou a


incompetência material da Justiça do Trabalho para dirimir a questão, declinando o feito ao juízo
competente (Justiça Estadual de Pirassununga/SP) nos termos do art. 109, I, da CF c.c art. 64, §§ 1º e 3º,
do CPC/2015, conforme precedente RE 1288440 (Tema 1143) do E. STF.

PREQUESTIONAMENTO

Nesses termos, restam consignadas as razões de decidir para fins de


prequestionamento. Observe-se, a propósito, o que dispõem as Orientações Jurisprudenciais nº 118 e nº
256 da SDI-1 do C.TST:

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ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 118. PREQUESTIONAMENTO. TESE


EXPLÍCITA. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 297. Havendo tese explícita sobre a
matéria, na decisão recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa do
dispositivo legal para ter-se como prequestionado este.

ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 256 DA SDI-1 DO TST.


PREQUESTIONAMENTO. CONFIGURAÇÃO. TESE EXPLÍCITA. SÚMULA Nº
297. Para fins do requisito do prequestionamento de que trata a Súmula nº 297, há
necessidade de que haja, no acórdão, de maneira clara, elementos que levem à conclusão
de que o Regional adotou uma tese contrária à lei ou à súmula.

Diante do exposto, decido: CONHECER do recurso de MIGUEL


SANDRO MAFFRA e NÃO O PROVER, ficando mantida, integralmente, a r. decisão de origem, nos
termos da fundamentação.

Em sessão realizada em 08 de agosto de 2023, a 2ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª


Região julgou o presente processo.

Presidiu o julgamento o Exmo. Sr. Desembargador do Trabalho Wilton Borba Canicoba.

Tomaram parte no julgamento os(as) Srs. Magistrados:

Desembargador do Trabalho Wilton Borba Canicoba (relator)

Desembargadora do Trabalho Larissa Carotta Martins da Silva Scarabelim

Desembargador do Trabalho Helio Grasselli.

Julgamento realizado em Sessão Virtual, conforme os termos da Portaria Conjunta GP-VPA-VPJ-CR n.º
003/2020 deste E. TRT (artigo 3º, §1º) e art. 6º, da Resolução 13/2020, do CNJ.

RESULTADO:

ACORDAM os Magistrados da 2ª Câmara - Primeira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da


Décima Quinta Região em julgar o processo nos termos do voto proposto pelo (a) Exmo (a). Sr (a).
Relator (a).

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Votação por maioria, vencida a Exma. Sra. Desembargadora do Trabalho Larissa Carotta Martins da
Silva Scarabelim, nos seguintes termos: "Penso que seria o caso de manter a sentença. A presente ação
versa sobre pagamento de ATS previsto em Lei Municipal. Em 12.7.23 houve publicação da ata de
julgamento do STF(Tema 1143): Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.143 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário, vencida a Ministra Rosa Weber
(Presidente). Em seguida, por unanimidade, foi fixada a seguinte tese: 1. A Justiça Comum é competente
para julgar ação ajuizada por servidor celetista contra o Poder Público, em que se pleiteia parcela de
natureza administrativa, modulando-se os efeitos da decisão para manter na Justiça do Trabalho, até o
trânsito em julgado e correspondente execução, os processos em que houver sido proferida sentença de
mérito até a data de publicação da presente ata de julgamento. Tudo nos termos do voto do Relator.
Impedido o Ministro Luiz Fux. Plenário, Sessão Virtual de 23.6.2023 a 30.6.2023.".

Procurador ciente.

WILTON BORBA CANICOBA


Desembargador Relator

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Número do documento: 23062619240453900000102043530

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