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Giovanna Silva

Cirurgiã-Dentista - CRO 100.000

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 11ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SANTOS
– ESTADO DE SÃO PAULO

ORIGEM:
Processo Digital nº 10182575820198260562
11ª Vara Cível da Comarca de Santos
Procedimento Comum Cível

Autora: Suelen Santana Vieira


Advogado: Antônio Cassemiro de Araújo Filho - OAB/SP 121.428
Advogado: Leandro Martins Araujo - OAB/SP 313.094

Réus: Eduardo Gomes, Cristiano de Carvalho Beretta,


Odonto Company (EJRPG Odontologia Ltda.)
Advogado: Lilian Viana Franco - OAB/SP 420.986

Giovanna Silva a, especialista em Periodontia pela Universidade de São Paulo - USP e em


Endodontia pela Universidade Santa Cecília - Unisanta, RG nº 34.645.817-1, inscrita no CPF sob o nº
000.000.000-00, e no Conselho Regional de Odontologia sob o nº 000.000, com endereço
profissional sito à Avenida Conselheiro, Bairro Boqueirão, cidade de Santos, Estado de São Paulo,
telefones: (00) 0000-0000 e 0000-0000, celular: (00) 0000-0000, perita devidamente nomeada na
presente lide, vem perante Vossa Excelência apresentar

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LAUDO PERICIAL

o qual passa a expor:

INTRODUÇÃO

A periciada, Suelen, promove a presente ação de indenização por


danos materiais e morais contra os RÉUS EDUARDO SILVA , CRISTIANO DE CARVALHO e ODONTO
COMPANY, alegando, em síntese, que: a) A periciada possuía um plano dentário com os RÉUS; b)
dentro deste plano dentário estariam inclusos alguns procedimentos e tratamentos, c) efetuou uma
contratação à parte do plano dentário que possuía com os RÉUS para a extração de um dente; d) tal
extração fora mal feita, tendo em vista que parte da raiz do dente 45 não fora retirada, o que
causou infecção e dor na AUTORA; e) como os RÉUS não resolveram o problema para o qual foram
contratados, a AUTORA teve que contratar outro profissional, Dr. Jose Alcides , que concluiu a
extração da raiz e resolveu o problema, finalizando o tratamento; f) tais fatos estão provados pelos
documentos que acompanham a inicial, em fls. 19-27, fls. 28-30 e fls. 31-46. Busca a periciada, por
fim, a indenização dos danos materiais (gastos com os tratamentos) no valor de R$ 519,20
(quinhentos e dezenove reais e vinte centavos), e danos morais (decorrentes do sofrimento e dor
experimentados pela autora) no importe de R$ 10.000 (dez mil reais).

Os RÉUS, em sua contestação, alegam em síntese que: a) a periciada


procurou os RÉUS para realizar diversos tratamentos, dentre eles a extração do dente 45; b) o dente
estava quebradiço, o que dificultou sua extração; c) executou a extração do que fora possível,
suturando o local e receitando medicamentos para a dor; d) após 3 (três) meses da cirurgia, a
periciada informou que estava com dores no dente extraído, retornando ao consultório; e) que fora
realizado um raio-x do dente, e identificado que existia raiz residual, bem como que a periciada
retornou para retirada desta raiz, não conseguindo, tendo em vista a anestesia não funcionar,
devido à inflamação; f) que havia suturado o local e aguardava o retorno da periciada, tendo a
mesma procurado outro profissional para realizar o procedimento. Por fim, pedem a improcedência

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total da ação, tendo em vista não haver qualquer erro no procedimento dos mesmos.
Tendo em vista a discordância entre as partes, foi solicitada Perícia
Técnica, deferida por este juízo, motivo este da apresentação do presente Laudo.

01 - QUESITOS

A) Quesitos do Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito:

A.01 - Erro em saturar um dente com a raiz inteira do dente;


A.02 - Correção da operação prestada pelo réu;
A.03 - Consequências do erro da operação, caso constatados.

B) Quesitos do representante legal da parte ativa:

B.01 - Diante dos documentos apresentados pelos réus junto a defesa, as fls 61 e pelo Dr José
Alcides, as fls 31 e 32, pode a Sra Perita informar qual o problema/ disfunção apresentada pela
periciada antes do inicio do tratamento?
B.02 - Sra Perita, a luz do protocolo odontológico, quais foram os procedimentos clínicos adotado no
tratamento realizado pelos réus? Eram condizentes com o problema?
B.03 - Os procedimentos adotados encontram respaldo na boa técnica odontológica?
B.04 - A periciada correu riscos mais graves diante dos procedimentos adotados pelos réus? Se sim,
quais?

C) Os réus não realizaram quesitos.

02 - HISTÓRICO

Esta Perita foi convocada pelo juízo, marcando-se data e horário para a perícia em questão
no dia 18 de março de 2020, às 17 horas, em meu consultório indicado.

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Em petição foram solicitados documentos às partes, caso os possuíssem e tivessem interesse


em apresentá-los à Sra. Perita, sendo os seguintes:

01 - Ficha(s) de anamnese realizada(s) pelos Doutores Eduardo e Cristiano, em


letra legível;
02 - Ficha de anamnese realizada pelo Doutor José Alcides, em letra legível;
03 - Todas as radiografias da Requerente pertinentes ao presente caso,
especialmente de quando a mesma iniciou o tratamento com os Requeridos, e de
quando retornou para checar o tratamento com os mesmos;
04 - Radiografia final do caso realizada pelo Dr. José Alcides;
05 - Caso existam e não estejam nos autos, cópia da ficha e quaisquer outros
documentos referentes ao caso em tela, do prontuário, e de todos os
procedimentos realizados na Requerente;
06 - Caso exista, prova de que a Requerente foi avisada sobre a existência de raiz
residual na região bucal alvo da presente lide;
07 - Fotos do caso se os Requeridos as tiverem.

No dia 18 de março de 2020, em meu consultório particular, situado na Avenida Conselheiro


Nébias, nº 726, conjunto 31, compareceu a periciada Sra. Suelen Santana Vieira, desacompanhada.

Às 17 horas foi iniciada a perícia, quando a periciada, Sra. Suelen Santana , respondeu a um
questionário de Anamnese correspondente ao Documento 01, anexado ao final do presente Laudo
Pericial, e respondeu às perguntas referentes à sua saúde geral e hábitos que possam servir para a
análise realizada pelo cirurgião-dentista.

Seguiu-se a análise da radiografia panorâmica e periapical do Dr. José Alcides (dentista


contratado para finalizar o tratamento pela periciada). Por fim, fotos realizadas extra-bucal e intra-
bucal e, por último, radiografia periapical realizada no dia da perícia.

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A pedido da Sra. Perita, a secretária do consultório estava presente a fim de auxiliar o


registro radiográfico, e para que não houvesse quebra da biossegurança.

Durante a perícia, a periciada, Sra. Suelen Santana, relatou que procurou a clínica dos RÉUS
para que fizesse um tratamento de todos os dentes onde houvesse necessidade. Então, o mesmo
ofereceu um plano de saúde odontológico, o qual foi aceito pela Periciada, pois a mesma não
possuía condições financeiras de arcar com todos os procedimentos os quais necessitava serem
realizados.

Quanto ao dente 45 (segundo pré-molar inferior do lado direito da periciada), o dente em


questão na presente lide, foi sugerido pelo RÉU, Dr. Eduardo, um tratamento de canal, porém,
segundo a paciente, em razão da demora do profissional na realização do procedimento, o referido
dente foi quebrando, até que o único procedimento possível foi realizar a exodontia (remoção do
dente).

Então, foi marcada a cirurgia de exodontia, realizada pelo Dr. Cristiano, o qual informou a
periciada que tal dente estava ‘difícil de remover’, e que os Réus terminaram o procedimento, e
receitaram-lhe um antibiótico e um antiinflamatório.

A Periciada relatou também que, em menos de uma semana, ela retornou ao consultório do
Dr. Eduardo, pois haviam saído “pedacinhos” de dente, e o profissional disse-lhe que era normal.

A Periciada relatou que tomou as medicações prescritas, porém, quando passava o efeito
das mesmas, a dor retornava.

Após 15 (quinze) dias contados da data dos procedimentos, conforme relata a Periciada, saiu
um novo “pedacinho” de dente, e a Periciada retornou ao consultório do Dr. Eduardo, e quando
este retirou, aliviou a dor, sendo que a Periciada seguiu realizando outros tratamentos na clínica do
Dr. Eduardo (fls 80).

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Foi realizado um tratamento de canal no dente 26 (primeiro molar superior do lado


esquerdo da Periciada), e feita uma coroa, e depois a Periciada retornou ao consultório, pois a dor
também voltou. O Dr. Eduardo realizou uma radiografia e informou à Periciada que nada havia de
errado, o que se relaciona à radiografia solicitada e que não foi anexada aos autos e nem levada
pela Periciada por ocasião da perícia. (Refere-se aos itens 01 e 03 do histórico).

A Periciada relata que retornou no dia seguinte, e o Dr. Eduardo abriu o local e raspou-o
diversas vezes, nada encontrando. A Periciada disse que se contorcia de dor. Novamente o local foi
suturado (dado ponto) e a Periciada foi medicada (receituário às fls. 28 e 30 dos autos).

No mesmo dia, a Periciada foi ao consultório do Dr. José Alcides, o qual realizou uma
radiografia periapical (anexada aos autos às fls. 44-45), e constatou que havia uma raiz dentro do
osso, e que havia outros procedimentos que a Periciada precisava realizar para que pudesse ter a
saúde bucal em dia. A Periciada, então, dirigiu-se ao Instituto Médico Legal, onde foi realizado
exame de corpo de delito (fls. 43).

No dia seguinte, a Periciada relata que retornou ao consultório do Dr. Jose Alcides, e que ele
checou o que precisaria ser feito em relação ao caso, e pediu que a Periciada retornasse ao
consultório no dia seguinte para realizar o procedimento.

Conforme pedira o Dr. José Alcides na véspera, a Sra. Suelen retornou ao consultório e o Dr.
José Alcides realizou a exodontia (retirada da raiz residual), e com a retirada da raiz residual, a dor
melhorou.

03 - DESCRIÇÃO

Conforme se verifica na petição inicial, a Periciada contratou o plano odontológico para


realizar múltiplos tratamentos dentários, porém, em questão está o dente 45 (segundo pré-molar
inferior do lado direito da Periciada).

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No dia da perícia, realizada em 18 de março de 2020, a periciada apresentava-se


visualmente como na foto a seguir:

Fotografia em repouso.

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Fotografia de sorriso forçado.

Fotografia frontal utilizando afastador fotográfico e indicando os números dos dentes


próximos do dente em questão. No círculo vermelho, está indicada a região onde o dente
está ausente.

Vista oclusal (de cima) do arco inferior, mostrando a numeração dos dentes vizinhos, e a
região circulada em vermelho, mostrando o espaço que deveria estar sendo ocupado pelo

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dente 45 (segundo pré-molar inferior do lado direito da Periciada).

Vista lateral direita mostrando os dentes numerados e, no círculo vermelho, indicada a


região do dente 45 (segundo pré-molar inferior do lado direito da Periciada).

04 - EXAME RADIOGRÁFICO

Para as radiografias, são utilizados dois termos: radiopaco (imagem branca) e radiolúcido
(imagem escura). As imagens radiopacas são aquelas que absorvem maiores quantidades de raio-x,
apresentando-se como imagens brancas nas radiografias (núcleos, coroas em cerâmica, tratamento
de canal, restauração em resina composta que apresenta a cor do dente). Radiolúcidas são aquelas
onde os raio-x incidem diretamente no filme, ou seja, não são absorvidas por nenhuma estrutura,
apresentando-se escuras, enegrecidas (próteses provisórias, interior do canal do dente sem
tratamento de canal).

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Imagens radiopacas (brancas) denotam a EXISTÊNCIA de estruturas. Imagens radiolúcidas


(escuras) denotam AUSÊNCIA de estrutura.

Assim, é possível interpretar mais acuradamente a radiografia inicial, ou seja, como a


Periciada chegou ao consultório do Dr José Alcides após o tratamento feito pelos RÉUS (mesma
radiografia anexada aos autos – fls. 44-45).

Circulado em azul, está o espaço radiolúcido (escuro) mostrando que não há presença de
coroa de dente.

Circulada em vermelho, encontra-se a raiz residual, mostrando a raiz dentro do osso.

Circulada em verde, encontra-se a região apical da raiz (pontinha da raiz), e junto à mesma,
uma região radiolúcida (escura) que demonstra lesão periapical (próxima à raiz do dente em
questão). Essa região radiolúcida (escura) indica um processo infeccioso que pode se encontrar em
fase aguda, que estaria gerando dor, ou em fase crônica que não estaria gerando dor, no entanto,

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através do exame da radiografia, não é possível determinar em que fase a infecção se encontrava.

De acordo com o histórico e com o laudo do IML (fls. 31-46), o dente em questão
apresentou fases agudas (com dor) e fases crônicas (sem dor).

Radiografia panorâmica solicitada pelo Dr. José Alcides, mostrando a região de onde foi
removida a raiz residual, circulada em vermelho.

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Radiografia periapical realizada no dia 18 de março de 2020, data da perícia, mostrando que
foi realizada a exodontia (remoção da raiz), pois não consta mais a raiz residual na região
circulada em vermelho.

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No relatório acima, exarado pelo Dr. José Alcides, levado em mãos pela Periciada na data da
perícia, relata o profissional que a Periciada o procurou com dor na região do dente 45, e
que estava suturado (com ponto), foi realizado a radiografia periapical e constatada a
presença da raiz residual.

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Laudo exarado pelo Dr. José Alcides, reforçando o que a Periciada relatou à Sra. Perita, sobre
a suposta necessidade de outros tratamentos, a fim de ter a saúde bucal em dia.

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05 - DISCUSSÃO

O Código de Ética Odontológica, em seu artigo 2º, estabelece que:

A Odontologia é uma profissão que se exerce em benefício da saúde do ser


humano e da coletividade,... Assim, o cirurgião-dentista deve ter uma visão global
do paciente e não somente preocupar-se com a saúde da boca, pois vários são os
fatores ou procedimentos que durante o tratamento odontológico podem
repercutir de maneira sistêmica no organismo do indivíduo.

Quando ocorre a presença de uma raiz residual, como no caso da periciada, esta raiz residual
pode ser causada por acidentes, por cárie, ou mesmo por um procedimento cirúrgico no qual, por
algum motivo, não tenha sido possível remover o fragmento de raiz.

Quando o cirurgião-dentista realiza uma cirurgia de exodontia (remoção do elemento), o


ideal é pedir uma radiografia inicial (a qual foi solicitada pela Sra. Perita através de petição, porém
não consta nos autos e nem foi levada pela periciada, nem pelos RÉUS), sendo que tal exame
permite um estudo da anatomia do dente em questão e possibilita ao profissional um planejamento
de técnicas e instrumentos a serem utilizados durante o procedimento, para que decresçam
chances de intercorrência.

A fratura da coroa do dente durante o processo de exodontia (remoção do dente), é o


acidente mais comum, e ocorre principalmente devido ao incompleto estudo clínico e radiográfico
do dente a ser extraído.

A raiz residual nada mais é do que um fragmento de raiz preso ao osso que pode ter
ocorrido por algum dos motivos já alegados a cima. A raiz residual pode vir a se tornar perigosa,
pois pode ficar embaixo da gengiva sem que seja vista clinicamente por um profissional, sendo
então possível diagnosticá-la apenas utilizando uma tomada radiográfica.

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Quando o paciente possui uma raiz residual, é normal que este paciente apresente alguns
sintomas, tais como: mau hálito, pois alimentos podem se depositar no local e pela dificuldade de
correta higienização do mesmo, dor no local e dificuldade de alimentação.

Para cada caso, existe um tipo de reabilitação mais indicada, o qual será definido de acordo
com o exame físico, anamnese (questionário sobre a saúde geral do paciente) e exame radiográfico.
Quando ocorre tentativa de remoção da raiz residual sem sucesso, sendo impossibilitada a
instalação de uma prótese, é indicada a exodontia (remoção cirúrgica do fragmento).

Mesmo que o paciente não tenha qualquer sintomatologia quanto à presença de uma raiz
residual, o problema não pode ser ignorado, pois tal problema pode causar concentração interna de
bactérias e outros micro-organismos que podem vir a ser nocivos até mesmo ao coração, podendo
causar uma doença chamada endocardite bacteriana, que em 40% dos casos tem origem em
infecções bucais.

Quanto à opção para se restabelecer a saúde, mastigação e fonética adequada, existem


algumas opções de tratamentos como: próteses fixas e implantes.

Há três condições para que uma raiz seja deixada dentro do osso alveolar, são elas:

1ª) A raiz deve ser pequena, não ultrapassando o tamanho de 4-5mm (não sendo
o caso da Periciada, visto na radiografia que possui um tamanho maior);

2ª) A raiz deve estar inserida profundamente no osso alveolar (também não é a
condição da Periciada, visto que a borda do osso alveolar está próxima à raiz
residual).

3ª) A raiz em questão não deve ter qualquer área radiolúcida (escura) próxima ao
ápice (ponta) da raiz (também não é a situação da Periciada, visto que na

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radiografia periapical realizada pelo Dr José Alcides, é vista uma região radiolúcida
(escura) próxima ao ápice (ponta) da raiz.

Como se conclui, as três condições que justificariam deixar a raiz residual no local não estão
presentes na Periciada, portanto, o correto seria o procedimento de exodontia, com posterior
reabilitação protética (colocação de prótese no local da raiz).

06-CONCLUSÃO

Após a leitura dos autos, análise de todos os documentos juntados, e perícia


propriamente dita com a periciada, Sra Suelen, esta perita constatou que não fora anexada aos
autos, pelos réus, em nenhum momento, uma radiografia inicial realizada pré-atendimento, e
sequer foi levada no dia da perícia.
Essa radiografia é de suma importância, pois com ela seria possível fazer a indicação
correta do procedimento, planejar para que esse procedimento ocorra da melhor forma possível,
com o mínimo de danos à paciente.

Portanto, esta Perita avaliou a indicação de tratamento nos presentes autos de


acordo com a radiografia inicial do Dr. José Alcides, dentista contratado pela periciada para finalizar
o procedimento, e, naquela situação, o procedimento indicado era a exodontia (retirada do dente
de forma total), portanto, se anteriormente a isso, fosse possível realizar outro tipo de
procedimento, a avaliação ficou prejudicada pela falta desse importante documento.

Vale ressaltar que a radiografia faz parte do prontuário da paciente e deve ser
guardada pelo cirurgião-dentista.

Portanto, a indicação do procedimento de exodontia foi correta, porém, a execução


desse procedimento não atendeu às boas técnicas da odontologia, tendo em vista que, após os
procedimentos realizados pelos RÉUS, ainda existiam resíduos da raiz do dente 45 na periciada.

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Conforme análise desta Perita, pode-se atestar não há qualquer indicação que
justificasse a permanência desta raiz dentro do osso, e que tal permanência da mesma poderia ou
não causar problemas secundários, como a endocardite bacteriana, entre outros.

Nota-se também que a periciada alegou que sentia muitas dores no local após o
tratamento inicial, muito provavelmente causada por esta raiz residual que lá se encontrava.

Se eventualmente, durante o procedimento, houvesse uma intercorrência que


impossibilitasse a retirada desta raiz por completo, o passo correto seria suturar (dar pontos) no
local, mesmo que provisoriamente, medicar e orientar a paciente, com linguagem clara e objetiva
da impossibilidade da retirada da raiz naquele momento, marcando uma nova consulta para que o
procedimento fosse novamente executado por completo, sem deixar qualquer raiz residual.

Portanto, embora a indicação de tratamento fosse a correta, a execução não foi


completa, visto que mesmo após retorno da paciente ao consultório dos RÉUS, os mesmos não
detectaram esta raiz residual e nem a retiraram da paciente.

Vale frisar que uma simples radiografia feita pelos RÉUS na paciente encontraria o
problema, podendo ser sanado com a retirada da raiz residual, que seria visualizada na periciada.

A sutura (ato de dar pontos), por mais que tenha sido temporária, foi correta para o
momento, pois sempre que se realiza uma abertura do tecido gengival deve-se realizar a sutura para
manutenção do coágulo, evitando que aconteça uma hemorragia, aproximando-se as bordas da
ferida, facilitando assim a cicatrização.

Quanto à medicação dada à paciente, também foi correta, pois como era possível
observar na radiografia, havia presença de uma lesão periapical, que pode indicar a presença de
bactérias, e portanto, o antibiótico é o indicado para controlar essa situação, assim como o
antiinflamatório, para controle da dor e da inflamação.

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Por fim, se após a cirurgia de exodontia, a periciada voltou ao consultório dos RÉUS
sentindo dores e incômodos, não se tratou de uma sintomatologia normal, visto que já havia
passado um tempo considerável do procedimento.

Nota-se também que foi necessário a atuação de outro profissional no tratamento da


periciada, tendo em vista que os RÉUS durante todo o tempo, após a cirurgia e em todos os outros
retornos, não terem visualizado a problemática encontrada na periciada, a raiz residual do dente 45,
objeto do tratamento, demonstrando claramente a deficiência deles no procedimento impugnado
pela periciada.

Portanto, esta Perita conclui que houve erro por parte dos RÉUS no presente
procedimento, tendo em vista a não finalização de forma integral da cirurgia de exodontia praticada
na periciada, com a retirada de toda a raiz residual no dente 45, deixando a paciente com dores e à
mercê de contrair alguma enfermidade perigosa, causada por esta raiz residual.

07 - RESPOSTAS AOS QUESITOS

07.a) QUESITOS DO JUÍZO:

07.a.01) Erro em saturar um dente com a raiz inteira do dente:

A probabilidade é de que a palavra tenha sido “suturar”.

Sutura é o nome que se dá ao ato de dar pontos, uma prática comum quando se realiza um
procedimento cirúrgico. A sutura facilita a manutenção do coágulo, evita que aconteça eventual
hemorragia e facilita a cicatrização, pois aproxima as bordas da ferida.

No caso da AUTORA, foi errado o fato de não ter sido realizada a exodontia (remoção do
fragmento de raiz) total, mas, uma vez que o tecido gengival foi aberto, ele não poderia continuar

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aberto, portanto, não houve erro em realizar a sutura, mesmo que ela tenha sido temporária, para
que, em um segundo passo cirúrgico, fosse realizada a remoção completa da raiz.

07.a.02) Correção da operação prestada pelo réu:

Tendo em vista a não retirada de todo o fragmento de osso pelos RÉUS, foi realizada
posteriormente, pelo Dr. José Alcides, finalizando o tratamento e realizando a exodontia (remoção
da raiz residual), sendo posterior e ideal o restabelecimento protético, com utilização de prótese
fixa ou implante.

07.a.03) Consequências do erro da operação, caso constatados:

O fragmento de raiz deixado no local em questão pode causar uma série de problemas como
dor, infecção, mau hálito, e até problemas cardíacos, como explicado ao longo deste laudo. Por isso,
deveriam os RÉUS ter retirado por completo toda a raiz do dente 45, objeto da presente perícia.

Pelo fato de não ser proteticamente restabelecido, o dente faltante pode ocasionar
problemas de oclusão (modo como os dentes se encaixam), pois os dentes vizinhos podem vir a se
movimentar procurando um ponto de contato, e os dentes do arco antagonista (oposto) podem
erupcionar (sair um pouco mais do osso), para procurar contato nos dentes do arco antagonista
(oposto).

07.b) QUESITOS DA AUTORA:

07.b.01) Diante dos documentos apresentados pelos réus junto a defesa, as fls 61 e pelo Dr José
Alcides, as fls 31 e 32, pode a Sra Perita informar qual o problema/ disfunção apresentada pela
periciada antes do inicio do tratamento?

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Requisitada através de petição da Sra. Perita, a radiografia inicial não foi anexada aos autos
por nenhuma das partes. Portanto, a radiografia disponível para avaliação, no presente caso, foi a
radiografia inicial realizada pelo Dr. José Alcides após o primeiro procedimento feito pelos RÉUS.
Portanto, não há como informar qual o problema/disfunção apresentada, tendo em vista não haver
elementos para tal.

07.b.02) Sra Perita, a luz do protocolo odontológico, quais foram os procedimentos clínicos
adotados no tratamento realizado pelos réus? Eram condizentes com o problema?

É importante ressaltar que, a radiografia inicial é imprescindível antes de iniciar qualquer


tipo de tratamento, pois, ela possibilita o correto planejamento, e um bom planejamento realizado
minimiza as chances de intercorrências. Também é função do Cirurgião- Dentista o armazenamento
dessa radiografia juntamente com a ficha clínica da paciente.

De acordo com a radiografia inicial realizada pelo Dr. José Alcides, o tratamento de exodontia
era o caminho para resolver o problema, visto que o dente apresentava uma destruição grande que
impossibilitaria a confecção de uma prótese em cima daquela raiz, e conforme relatado, não foi
anexada por nenhuma das partes, e nem levada no dia da perícia, qualquer radiografia inicial
realizada pelos Requeridos, e assim, caso houvesse a possibilidade de outra opção de tratamento, a
avaliação neste sentido foi impossibilitada pela falta da radiografia inicial.

A medicação combinada de antibiótico e antiinflamatório prescrita pelos Requeridos foi


correta e é protocolo após um procedimento cirúrgico.

A sutura (dar ponto) também é uma prática utilizada após um procedimento cirúrgico,
facilitando a união das bordas da ferida, ajudando a manter o coágulo e evitando hemorragias.

Nota-se, portanto, que o procedimento cirúrgico adotado pelos RÉUS, apesar de ser o

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correto (retirada do dente) não foi feito de forma completa, deixando resquícios de raiz que não
foram retirados pelos mesmos no retorno da paciente, o que demonstra o erro na aplicação do
procedimento adotado, tendo em vista a não finalização do mesmo.

07.b.03) Os procedimentos adotados encontram respaldo na boa técnica odontológica?

Como informado, o procedimento adotado e iniciado pelos RÉUS, de acordo com a


análise do caso e do RAIO-X do Dr José Alcides, visualizado nos autos é o correto, porém, os
mesmos falharam em sua execução, não sendo o procedimento seguido até o fim de forma correta
e realizado de forma integral, tendo em vista a não retirada total dos fragmentos de raiz do dente,
ocasionando prejuízo à paciente.

É dever do dentista escolher o procedimento correto bem como finalizar o


procedimento, e, portanto, uma vez que o procedimento iniciado não foi finalizado, não há respaldo
na boa técnica odontológica.

07.b.04) A periciada correu riscos mais graves diante dos procedimentos adotados pelos réus? Se
sim, quais?

Conforme explicado ao longo do presente laudo, havia um foco de infecção na boca da


AUTORA. Mesmo que a raiz estivesse embaixo da gengiva, ela não poderia ser ignorada, pois
poderia causar problemas secundários, como foi explicado ao longo deste laudo..

Se tal infecção evoluirá para algo sistêmico, não se pode afirmar, pois que depende do
organismo de cada pessoa, e a ciência biológica não é exata. Existem casos relatados na literatura de
que pode evoluir para uma endocardite bacteriana.

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Documento 01 - Ficha de anamnese realizada na data da perícia.

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8- TERMO DE ENCERRAMENTO

O presente laudo pericial consta de 30 ( trinta) folhas.

Santos, 20 de abril de 2020

Giovanna Silva
Cirurgiã- dentista
CRO/SP 116.000

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