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FERREIRA LEÃO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 7ª VARA CÍVEL


DO FÓRUM REGIONAL DE CAMPO GRANDE

TJRJ CGR CV07 202007085144 05/10/20 21:12:48136243 PROGER-VIRTUAL


Processo nº 0024138-32.2019.8.19.0205

SUPERVIA – CONCESSIONÁRIA DE TRANSPORTE


FERROVIÁRIO S.A., nos autos da ação ordinária que, perante esse MM. Juízo,
lhe move ESPÓLIO DE ALINE MACEDO FRANÇA, vem, por seu advogado
abaixo assinado, em atendimento ao r. despacho de fls. 338 (indexador
0000338), com fundamento no artigo 1.010, §1º, do CPC, apresentar suas
contrarrazões à apelação de fls. 319/336 (indexador 0000336), mediante as
inclusas razões.

Cumpridas as formalidades legais, requer a V. Exa. se digne a


remeter o presente recurso à instância superior, para ser distribuído à Eg.
Décima Primeira Câmara Cível, preventa em razão do julgamento anterior do
agravo de instrumento nº 0057701-50.2019.8.19.0000.

Nestes termos,
Pede deferimento

Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2020.

João Cândido Martins Ferreira Leão


OAB/RJ Nº 143.142

Rua da Assembléia, nº 19, 14º andar, centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20.011-000. Tel –
(21) 2215-7995 – (21) 31782281
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Contrarrazões da Apelada,
Supervia – Concessionária de
Transporte Ferroviário S.A.

Egrégia Décima Primeira Câmara Cível,

I – TEMPESTIVIDADE

1. Do despacho de fls. 338 (indexador 0000338), a Apelada foi


intimada eletronicamente em 01/10/2020, quinta-feira, conforme a certidão de
fls. 341 (indexador 0000341). Logo, o prazo de 15 (quinze) dias úteis iniciou-se
em 02/10/2020, sexta-feira, e que terminará em 22/10/2020, quinta-feira, nos
termos dos artigos 219, caput, 221, 224, §§ 2º e 3º, e 1.010, §1º, do CPC.

2. Desse modo, são manifestamente tempestivas as presentes


contrarrazões apresentadas hoje, 09/10/2020, sexta-feira.

II – SÍNTESE DA DEMANDA E DA R. SENTENÇA

3. A Autora ajuizou ação ordinária em face da Apelante, cuja causa


de pedir mediata (fatos) é alegada ausência de rampas e elevadores, itens de
infraestrutura de acessibilidade, na estação ferroviária de Campo Grande, o que
não lhe permitiria acessar o sistema ferroviário sem o auxílio de terceiros ou de
prepostos da própria Apelante.

4. Já a causa de pedir imediata (fundamentos legais) a imediata seria


o alegado não cumprimento pela Apelante das Leis Federais nº 10.048/00 e nº
10.098/00, regulamentadas pelo Decreto nº 5.296/04, da Lei Federal nº

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13.146/15, do Decreto Federal nº 6.949/09 e do Decreto Municipal nº


29.896/2008.

5. A partir dessa causa de pedir, requereu inicialmente, com


fundamento no artigo 300, § 2º, do CPC, c/c artigo 84 do CDC, que lhe fosse
concedida, inaudita altera parte, a tutela de urgência, satisfativa e irreversível,
para compelir a Apelante na obrigação de fazer consistente em realizar as
adequações necessárias a tornar acessível a estação ferroviária de Campo
Grande. Ao final da petição inicial, formulou os pedidos de fls. 20/22 (cf.
indexador 0000003), dos quais dá-se destaque:

(a) Confirmação da tutela de urgência – obrigação de fazer;

(b) A condenação da Apelante ao pagamento de danos morais.

6. Nesse momento, é importante fixar as seguintes premissas eis que


produzem efeitos ao longo de todas as questões que serão aqui expostas: ao se
analisar os elementos subjetivos e objetivos da petição inicial de fls. 03/24 (cf.
indexador 0000003), tem-se, in casu, a ocorrência da pluralidade de demandas
em uma única peça, na medida em que houve cumulação sucessiva de pedidos,
i.e., o pedido de danos morais somente poderia ser apreciado e acolhido se, e
somente se, for julgado procedente o pedido de obrigação de fazer consistente
em realizar adequações na estação ferroviária de Campo Grande.

7. Dito de outro modo para facilitar a visualização, permita-se fazer a


seguinte ilustração:

(i) demanda individual: figurando no polo ativo a Autora, que era


portadora de deficiência física, enquanto no polo passivo a Apelante,
cujos pedidos sucessivos são: (a) o pedido anterior consistente na
reforma da estação de Campo Grande e (b) o pedido posterior, a

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condenação da Apelante para pagar-lhe indenização por danos morais


no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais);

8. Há, pois, inegável cumulação sucessiva de pedidos, matéria que


justificará a declaração de nulidade da r. sentença ou, caso assim não se
entenda, sua reforma. Prossegue-se.

9. Depois de recebida e analisada da petição inicial, a i. magistrada a


quo indeferiu a tutela de urgência (cf. indexador 0000064) e determinou a citação
da Apelante. Cumprida esta diligência, a Apelante apresentou tempestivamente
sua contestação, peça na qual arguiu, dentre outros, a preliminar de ilegitimidade
ativa as causam e a existência de questão prejudicial a justificar a suspensão do
processo, nos termos do artigo 313, V, “a”, do CPC.

10. Ato contínuo, o i. representante do Ministério Público foi intimado


para lhe dar ciência acerca da demanda (cf. indexador 0000079); a Autora não
se manifestou em réplica; a i. magistrada a quo foi oficiada pela i. representante
do Ministério Público acerca do ajuizamento de ação coletiva nº 0167632-
82.2019.8.19.0001 (cf. indexador 0000073), o que justifico a suspensão do feito
(indexador 0000168); posteriormente, os sucessores da Autora informaram
sobre o seu falecimento (cf. indexador 0000205).

11. Sendo essa síntese de toda a tramitação do processo, então a i.


magistrada a quo prolatou a sentença de fls. 270/273 (cf. indexador 0000270)
por meio da qual, acolhendo a preliminar de ilegitimidade, rejeitou o pedido
principal de obrigação de fazer e, apesar disto, acolheu a pretensão de danos
morais, cujo capítulo do dispositivo restou assim redigido, in verbis:

“Em face de todo o exposto, JULGO EXTINTO O FEITO, SEM SOLUÇÃO


DE MÉRITO EM RELAÇÃO AO PEDIDO DE CONDENAÇÃO DA PARTE
RÉ À OBRIGAÇÃO DE FAZER, na forma do artigo 485, VI do Código de
Processo Civil. Outrossim, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO DE
CONDENAÇÃO DA PARTE RÉ AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS, na forma do artigo 487, inciso I do Código de
Processo Civil e, como consequência, condeno-a ao pagamento da

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quantia de R$ 3.000,00 (três mil reais), corrigida em conformidade com os


índices do TJERJ e acrescida de juros de mora de 1% (um por cento) ao
mês a partir da publicação desta sentença.”

12. Contra essa sentença se insurge o Apelante, para majorar


desproporcionalmente o valor dos danos morais, eis que houve a perda do objeto
do primeiro pedido, muito embora essa perda afete o pedido secundário de
danos morais.

13. Passa-se, agora, a expor as razões pelas quais a r. sentença


merece ser prestigiada pela Eg. Décima Primeira Câmara Cível, quais sejam:

(a) O Apelante é manifestamente parte ilegítima para pleitear a reforma da


estação ferroviária de Campo Grande, eis que a natureza jurídica deste
direito é coletivo transindividual e indivisível, nos exatos termos do artigo
81, parágrafo único, II, do CDC, cuja legitimidade é exclusive dos entes a
quem a legislação atribuiu poderes para a defesa em juízo, conforme
entendimento do Eg. STF e Eg. STJ, situação que não se altera à hipótese
de se considerar direito homogêneo, o qual não introduziu a class action
do direito norte-americano, mas, sim, e tão somente a possibilidade de
ser tutelado coletivamente pelos mesmo órgãos com legitimidade
extraordinária;

(b) Havendo cumulação sucessiva de pedidos, sendo o pedido de danos


morais subordinado ao pedido de obrigação de fazer, no momento em
que este é julgado improcedente, aquele também deveria ter seguido o
mesmo destino;

(c) Não comprovação da condição de efetiva passageira, nos termos do


artigo 373, I, do CPC, e da Lei Estadual nº 4.510/2005, além do que a i.
magistrada a quo ressaltou que o patrono do Apelante utilizar
desavergonhadamente as mesmas fotos, de terceiros, em todos os
processos;

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(d) Fortes indícios de fraude processual praticada pelos patronos do


Apelante, pois, além da inexistência do cartão de Vale Social e de outras
provas, o patrono da Apelante ajuizou dezenas de demandas idênticas,
instruídas com as mesmas fotos de terceiros, o que reforça ainda mais os
indícios de fraude processual prevista no artigo 347 do Código Penal,
sendo necessária a expedição de ofício ao Ministério Público para que se
instaure procedimento para averiguar a ocorrência deste tipo penal
versando sobre a estação ferroviária de Campo Grande; e

(e) Caso não seja provida a apelação interposta pela Apelada, foi
corretamente fixada pela i. magistrada a quo o valor dos danos morais.

III - ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM


DIREITO COLETIVO TRANSINDIVIDUAL E INDIVISÍVEL

14. Como se destacou, o Apelante ajuizou ação ordinária em face da


Apelada, cuja causa de pedir mediata (fatos) é alegada ausência de rampas e
elevadores, itens de infraestrutura de acessibilidade, em todo o sistema
ferroviário, com atenção à estação ferroviária de Campo Grande, o que não lhe
permitiria o acesso ao sistema ferroviário sem o auxílio de terceiros ou de
prepostos da própria Apelada, havendo cumulação sucessivo de pedidos: o
primeiro e principal, obrigação de fazer reformas naquela estação, enquanto o
segundo e subordinado, o de pagar indenização por danos morais.

15. Dito de outro modo para facilitar a visualização, permita-se fazer a


seguinte ilustração:

 demanda individual: figurando no polo ativo o Apelante, enquanto no polo


passivo a Apelada, cujos pedidos sucessivos são: (a) o pedido anterior
consistente na reforma da estação ferroviária de Campo Grande e (b) o

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pedido posterior, a condenação da Apelada para pagar-lhe indenização


por danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais);

16. Isto é: o elemento principal, senão único, da causa de pedir de


ambas as demandas individuais é a alegada inexecução do contrato de adesão
de transporte público ferroviário de passageiros, a partir do qual se cria um amplo
vínculo jurídico que uniria não só a Apelada com a Apelante, mas antes e
principalmente à coletividade com a Apelada, não sendo passível sua divisão,
pois o alegado descumprimento decorreria da ausência de infraestrutura de
acessibilidade no sistema ferroviário, especialmente na estação ferroviária de
Campo Grande.

17. É inequívoco que se está diante de direito coletivo previsto no artigo


81, II, do CPC, dispositivo que é assim comentado pelo eminente Ministro
Antonio Herman V. Benjamin, in verbis:

“Define-se os art. 81, parágrafo único, inciso II do CDC como ‘os


transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base’. Embora o seu objeto
seja indivisível, à semelhança do que ocorre com os interesses
difusos, destes se diferenciam pela determinabilidade dos sujeitos
titulares, seja pela relação jurídica-base que os liga a parte
contrária, seja pelo vínculo jurídico-associativo que mantêm entre
si.”1 (grifou-se)

18. Neste sentido, permite-se também transcrever os comentários de


Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, in verbis:

“Direitos coletivos. Aqui os titulares são indeterminados, mas


determináveis, ligados entre si, ou com a parte contrária, por
relação jurídica base. Assim como nos direitos difusos, o objeto
desse direito também é indivisível. É coletivo, por exemplo: o direito

1BENJAMIN, Antonio Herman V. Et al. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, 4ª ed., p. 1.551.

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de alunos de determinada escola de ter assegurada a mesma


qualidade de ensino em determinado caso”.2

19. Não há, pois, divergência na doutrina mais especializada.


Compartilha do mesmo entendimento o eminente Desembargador Sergio
Cavalieri Filho, in verbis:

“Em suma, enquanto nos direitos difusos os sujeitos estão ligados


por circunstâncias de fato e por isso são indetermináveis, nos
direitos coletivos os sujeitos estão ligados por um vínculo jurídico,
uma relação jurídica base, por exemplo, consumidores de um
contrato de massa, sócios ou acionistas de uma empresa,
membros de uma sociedade esportiva, condôminos de um edifício
etc. Por isso os titulares desses direitos são determinados ou
determináveis”.3 (grifos do original)

20. De outro lado, poder-se-ia entender, a princípio, que o direito


alegado seria homogêneo, o que conferiria legitimidade ativa ad causam ao
Apelante, de maneira que o artigo 81, III, do CDC, permitiria a eles formular a
pretensão de compelir a Apelada a reformar a estação de Campo Grande.

21. Mesmo nessa hipótese, há equívoco nessa interpretação. O real


conteúdo e extensão do artigo 81, III, do CDC, é assim fornecido por Nelson Nery
Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, in verbis:

“Direitos individuais homogêneos. São os direitos individuais cujo


titular é perfeitamente identificável e cujo objeto é divisível e
cindível. O que caracteriza um direito individual comum com
homogêneo é sua origem comum. A grande novidade trazida
pelo CDC no particular foi permitir que esses direitos
individuais pudessem ser defendidos coletivamente em juízo.
Não se trata de pluralidade subjetiva de demandas (litisconsórcio),
mas de uma única demanda, coletiva, objetivando a tutela dos
titulares dos direitos individuais homogêneos. A ação para a

2 NERY JUNIOR, Nelson; ANDRADE, Rosa Maria de Andrade. Leis Civis comentadas e
anotadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019, 5ª ed., p. 592.
3 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Direito do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2019, 5ª

ed., p. 408.

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defesa de direitos individuais homogêneos é, grosso modo, a class


action brasileira” 4. (grifou-se)

22. Na verdade, o artigo 81, III, do CDC, introduziu no sistema jurídico


uma nova modalidade de defesa coletiva em juízo, ao conferir legitimidade
extraordinária a determinadas entidades para defesa do direito homogêneo por
meio de ação civil pública, e não em sentido inverso de atribuir a um único
indivíduo (pessoa natural) a possibilidade de ajuizar uma demanda individual
cujo provimento judicial também atenderia a pretensão de outras pessoas
indeterminadas. Quer dizer, o referido dispositivo não consagrou o clássico
modelo de class action norte-americana.

23. Sendo assim, o Apelante não é detentora de legitimidade ativa ad


causam no que diz respeito ao pedido principal de condenar a Apelada a adequar
a estação ferroviária de Campo Grande, tendo em vista que o direito discutido é
inegavelmente direito coletivo transindividual e indivisível, a teor do artigo 81, II,
do CDC.

24. Se o pedido principal de reforma não pôde ser acolhido pela perda
do objeto, o pedido sucessivo de danos morais também não pode ser acolhido,
eis que este segue obrigatoriamente a sorte daquele. Isto porque está-se diante
da ocorrência de conexão entre os dois pedidos nascida de uma única questão
– a existência ou não da obrigação de reformar a estação ferroviária de Campo
Grande - classificada como cumulação sucessiva de pedidos, cujo acolhimento
do segundo pressupõe por lógica a necessária e obrigatória procedência do
primeiro.

25. A propósito, o Eg. Tribunal de Justiça já teve oportunidade de


enfrentar essa questão e decidiu pela extinção do processo, in verbis:

“Agravo de instrumento. Ação de obrigação de fazer c/c


indenização por danos morais. Supervia. Parte autora que pleiteia

4 NERY JUNIOR, Nelson; ANDRADE, Rosa Maria de Andrade. Leis Civis comentadas e
anotadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019, 5ª ed., p. 592.

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a condenação da ré na obrigação de proceder às adequações


necessárias e impostas por lei para acessibilidade, além da
condenação ao pagamento de indenização por danos morais.
Decisão de antecipação de tutela. Extinção do processo, de
ofício, nos termos do art. 485, inciso VI, do Código de Processo
Civil, em razão da ilegitimidade da parte autora. Pedido de
índole coletiva. Tendo o direito invocado natureza indivisível.
Se todas pessoas possuem o direito a um transporte digno - o
que não se questiona - o caminho a ser percorrido não é o
ajuizamento de inúmeras ações individuais, como se tem visto,
mas sim a provocação de cobrança das agências reguladoras, do
ministério público, defensoria pública e demais entidades
associativas que possuem atribuição para regular e/ou postular em
juízo tal direito em nome de todos a coletividade. Instrumento
adequado para a defesa que é a ação civil pública (art. 81, II, CDC),
cuja titularidade não é atribuída ao particular, mas a entidades
de representação coletiva. Extinção do processo que se impõe
por se tratar de matéria de ordem pública.” 5

* * *

“Agravo de instrumento. Supervia. Acessibilidade. Tutela de


urgência deferida. Decisão que deferiu a tutela antecipada para
determina que a ré proceda as adequações necessárias na
infraestrutura de acesso da Estação Jardim Primavera, no prazo de
60 dias, de modo a possibilitar o embarque e desembarque de
pessoas com deficiência física, sob pena de multa de R$50.000,00
para a hipótese de descumprimento. Recurso exclusivo da parte ré.
Não se trata de hipótese de litisconsórcio necessário diante da
personalidade jurídica da concessionária de serviço público para
responder face ao particular pelos atos de seus agentes, na forma
do art. 37, §6º da CRFB. Contudo, merece ser acolhida a
alegação de ilegitimidade ativa. Controvérsia diz respeito à
garantia da acessibilidade na estação ferroviária Jardim
Primavera em sede de tutela de urgência. Fato narrado que tem
reflexo na esfera jurídica de toda a coletividade local,
especialmente aos portadores de deficiência física. Questão
típica de ação civil pública. Não cabe pretensão individual para
casos dessa similitude. Art. 5º da Lei nº 7.347/85. Art. 3º da Lei
nº 7.853/1989. Reforma da decisão agravada para acolher a
preliminar de ilegitimidade ativa da parte agravada e extinguir
o feito na forma do art. 485, inciso VI, do CPC. Provimento ao
recurso.”6

5 Agravo de instrumento nº 0055297-26.2019.8.19.0000, rel. Desembargador Antônio Carlos


Arrabida Paes, Vigésima Terceira Câmara Cível, j. em 27/11/2019, DJ 02/12/2019 (grifou-se)
6 Agravo de instrumento nº 0042178-95.2019.8.19.0000, rel. Desembargadora Sônia de Fátima

Dias, Vigésima Terceira Câmara Cível, j. em 25/09/2019, DJ 27/09/2019 (grifou-se)

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26. Resumindo, além da ausência de legitimidade ativa ad causam, o


pedido principal foi julgado improcedente, o que implica na impossibilidade de se
apreciar e julgar o pedido sucessivo. Se o é assim, a pretensão recursal de
majoração dos danos morais não merece prosperar.

IV – DIREITOS COLETIVO TRANSINDIVIDUAL E HOMOGÊNEO


DEFESA SOMENTE POR MEIO DE AÇÕES COLETIVAS
ENTENDIMENTO DO EG. STF E DO EG. STJ

27. Esse capítulo reforça as violações ao artigo 81, II e III, do CDC. Isto
é: mesmo na hipótese de se considerar que a questão versa sobre direito
homogêneo, este não pode ser defendido de maneira coletiva por meio de
demanda individual.

28. Ao se fazer uma interpretação sistemática bem como teleológica


dos artigos 127 e 129, III, da CRFB, bem como a interpretação das Lei nº
7.347/85 e a Lei nº 8.078/90 por meio da filtragem constitucional, chega-se à
conclusão de que apenas e tão somente aos entes legitimados por lei, incluindo
o Ministério Público, foi conferida legitimidade para a defesa dos direitos
coletivos.

29. Relembre-se que a principal pretensão então formulada pelo


Apelante é no sentido de a Apelada ser condenada a realizar as adequações
necessárias à estação ferroviária de Campo Grande a fim de conferir a esta
plena acessibilidade. Isto é, trata-se de direito (conferir acessibilidade a estação
ferroviária), cujos titulares são indeterminados, mas passíveis de determinação
(portadores de necessidades especiais), e que são vinculados com a parte
contrária, a Apelada, por meio de relação jurídica base (o contrato de adesão de
transporte ferroviário). Isto é, está-se diante manifesto direito coletivo
transindividual e indivisível previsto no artigo 81, II, do CDC.

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30. Se é assim, tem-se que a CRFB estabeleceu a regra de conferir


legitimidade extraordinária ao Ministério Público para a defesa dos direitos
difusos e coletivos e, excepcionalmente, dos direitos homogêneos, mas em
todas essas hipóteses tal defesa somente se dá por meio da ação civil pública,
jamais por meio de ação individual ajuizada por um único consumidor.

31. Esse é o entendimento do eg. STF. Essa tese foi fixada quando
julgamento do RE 631.111/GO, com repercussão geral, tendo sido relator o
eminente e saudoso Ministro rel. Ministro Teori Zavascki. A propósito,
transcreve-se a ementa, in verbis:

“Constitucional e processual civil. Ação civil coletiva. Direitos


transindividuais (difusos e coletivos) e direitos individuais
homogêneos. Distinções. Legitimação do Ministério Público.
Arts. 127 e 129, III, da CF. Lesão a direitos individuais de
dimensão ampliada. Comprometimento de interesses sociais
qualificados. Seguro DPVAT. Afirmação da legitimidade ativa.
1. Os direitos difusos e coletivos são transindividuais, indivisíveis e
sem titular determinado, sendo, por isso mesmo, tutelados em juízo
invariavelmente em regime de substituição processual, por
iniciativa dos órgãos e entidades indicados pelo sistema normativo,
entre os quais o Ministério Público, que tem, nessa legitimação
ativa, uma de suas relevantes funções institucionais (CF art. 129,
III).
2. Já os direitos individuais homogêneos pertencem à categoria dos
direitos subjetivos, são divisíveis, tem titular determinado ou
determinável e em geral são de natureza disponível. Sua tutela
jurisdicional pode se dar (a) por iniciativa do próprio titular, em
regime processual comum, ou (b) pelo procedimento especial da
ação civil coletiva, em regime de substituição processual, por
iniciativa de qualquer dos órgãos ou entidades para tanto
legitimados pelo sistema normativo.
3. Segundo o procedimento estabelecido nos artigos 91 a 100 da
Lei 8.078/90, aplicável subsidiariamente aos direitos individuais
homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva desses direitos se
dá em duas distintas fases: uma, a da ação coletiva propriamente
dita, destinada a obter sentença genérica a respeito dos elementos
que compõem o núcleo de homogeneidade dos direitos tutelados
(an debeatur, quid debeatur e quis debeat); e outra, caso
procedente o pedido na primeira fase, a da ação de cumprimento
da sentença genérica, destinada (a) a complementar a atividade
cognitiva mediante juízo específico sobre as situações individuais
de cada um dos lesados (= a margem de heterogeneidade dos
direitos homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum

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debeatur), bem como (b) a efetivar os correspondentes atos


executórios.
4. O art. 127 da Constituição Federal atribui ao Ministério Público,
entre outras, a incumbência de defender ‘interesses sociais’. Não
se pode estabelecer sinonímia entre interesses sociais e interesses
de entidades públicas, já que em relação a estes há vedação
expressa de patrocínio pelos agentes ministeriais (CF, art. 129, IX).
Também não se pode estabelecer sinonímia entre interesse social
e interesse coletivo de particulares, ainda que decorrentes de lesão
coletiva de direitos homogêneos. Direitos individuais
disponíveis, ainda que homogêneos, estão, em princípio,
excluídos do âmbito da tutela pelo Ministério Público (CF, art.
127).
5. No entanto, há certos interesses individuais que, quando
visualizados em seu conjunto, em forma coletiva e impessoal, têm
a força de transcender a esfera de interesses puramente
particulares, passando a representar, mais que a soma de
interesses dos respectivos titulares, verdadeiros interesses da
comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses interesses
individuais acaba não apenas atingindo a esfera jurídica dos
titulares do direito individualmente considerados, mas também
comprometendo bens, institutos ou valores jurídicos superiores,
cuja preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas. Em
casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de
interesse social qualificado, o que legitima a propositura da
ação pelo Ministério Público com base no art. 127 da
Constituição Federal. Mesmo nessa hipótese, todavia, a
legitimação ativa do Ministério Público se limita à ação civil
coletiva destinada a obter sentença genérica sobre o núcleo
de homogeneidade dos direitos individuais homogêneos.
6. Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas funções
institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos
individuais homogêneos compromete também interesses sociais
qualificados, sem prejuízo do posterior controle jurisdicional a
respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra final sobre a
adequada legitimação para a causa, sendo que, por se tratar de
matéria de ordem pública, dela pode o juiz conhecer até mesmo de
ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e § 4.º).
7. Considerada a natureza e a finalidade do seguro obrigatório
DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de
Via Terrestre (Lei 6.194/74, alterada pela Lei 8.441/92, Lei
11.482/07 e Lei 11.945/09) -, há interesse social qualificado na
tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos dos seus
titulares, alegadamente lesados de forma semelhante pela
Seguradora no pagamento das correspondentes indenizações. A
hipótese guarda semelhança com outros direitos individuais
homogêneos em relação aos quais - e não obstante sua natureza
de direitos divisíveis, disponíveis e com titular determinado ou
determinável -, o Supremo Tribunal Federal considerou que sua

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tutela se revestia de interesse social qualificado, autorizando, por


isso mesmo, a iniciativa do Ministério Público de, com base no art.
127 da Constituição, defendê-los em juízo mediante ação coletiva
(RE 163.231/SP, AI 637.853 AgR/SP, AI 606.235 AgR/DF, RE
475.010 AgR/RS, RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ). 8.
Recurso extraordinário a que se dá provimento.”7

32. A esse entendimento do Eg. STF acresce-se o entendimento do


Eg. STJ. Para esta Corte Superior, quando a defesa de direito coletivo e direito
homogêneo atingir a coletividade, exatamente como na hipótese dos presentes
autos, tal defesa somente se dá por meio de ações coletivas, e não individuais.
A propósito, confira-se a ementa que consolidou a questão, in verbis:

“Reclamação. Juizados especiais. Direito do consumidor. Agência


bancária. ‘Fila’. Tempo de espera. Ação de indenização por danos
morais. Condenação por danos sociais em sede de recurso
inominado. Julgamento ultra petita. Reclamação procedente.
1. Os artigos 2º, 128 e 460 do Código de Processo Civil
concretizam os princípios processuais consabidos da inércia e da
demanda, pois impõem ao julgador - para que não prolate decisão
inquinada de vício de nulidade - a adstrição do provimento
jurisdicional aos pleitos exordiais formulados pelo Autora,
estabelecendo que a atividade jurisdicional está adstrita aos limites
do pedido e da causa de pedir.
2. Na espécie, proferida a sentença pelo magistrado de piso,
competia à Turma Recursal apreciar e julgar o recurso inominado
nos limites da impugnação e das questões efetivamente suscitadas
e discutidas no processo. Contudo, ao que se percebe, o acórdão
reclamado valeu-se de argumentos jamais suscitados pelas partes,
nem debatidos na instância de origem, para impor ao réu, de ofício,
condenação por dano social.
3. Nos termos do Enunciado 456 da V Jornada de Direito Civil
do CJF/STJ, os danos sociais, difusos, coletivos e individuais
homogêneos devem ser reclamados pelos legitimados para
propor ações coletivas.
4. Assim, ainda que o Autora da ação tivesse apresentado
pedido de fixação de dano social, há ausência de legitimidade
da parte para pleitear, em nome próprio, direito da
coletividade.
5. Reclamação procedente.”8

7 RE 631.111/GO, rel. Ministro Teori Zavascki, Tribunal Pleno, j. em 07/08/2014, DJ 30/10/2014


(grifou-se)
8 Rcl 13.200/GO, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 08/10/2014,

DJe 14/11/2014 (grifou-se)

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33. É indiscutível, pois, que o Apelante não era detentora de


legitimidade ativa ad causam para individualmente pleitear a defesa coletiva de
direito, seja transindividual, seja homogêneo, que atingirá inevitável e
inegavelmente a esfera jurídica de outros indivíduos.

V – NÃO COMPROVAÇÃO DA CONDIÇÃO DE PASSAGEIRO


INDÍCIOS DE FRAUDE PROCESSUAL

34. Sem adentrar na questão das peculiaridades físicas do Apelante


nem deprecia-las, fato é que se trata de mais uma das milhares demandas
individuais ajuizadas pelo mesmo grupo de advogados que utiliza petições
iniciais idênticas, com os mesmo documentos, alterando-se apenas o nome da
parte, e que foram distribuídas ao longo do Estado do Rio de Janeiro por onde
há estação ferroviária após o tema acessibilidade ser veiculado pela mídia e
contemporaneamente o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ter
ajuizado a ação civil pública nº 0167632-82.2019.8.19.0001.

35. Não se acusa, mas chama-se atenção para os indícios de


demandas artificiais. Tanto o é que em nenhuma das demandas ajuizadas
individualmente os autores apresentaram o cartão de Vale Social, política
pública instituída pelo Estado do Rio de Janeiro quando da promulgação da Lei
Estadual nº 4.510/2005, por meio do qual é concedida gratuidade desde 2005
ao transporte público intermunicipal a toda qualquer pessoa portadora de
necessidades especiais.

35. Essa ausência é muito contraditória com a declaração feita


aqui pelo Apelante que seria hipossuficiente financeiramente para arcar
com as despesas do processo e, apesar dito, pagaria, sem problemas,
diariamente o valor da tarifa!

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36. A situação tornou-se insustentável com que fez que inúmeros


juízes passassem a oficiar o Procurador Geral de Justiça.

37. Esses foram os reais e sérios motivos pelos quais as. i.


representantes do Ministério Público que assinaram a petição inicial da ação civil
pública nº 0167632-82.2019.8.19.0001 formularam, dentre outros, o pedido de
tutela de urgência no sentido de serem suspensas todas as demandas
individuais, além, é lógico, uniformizar o tratamento a ser conferido à questão, a
fim de evitar decisões judiciais conflitantes acerca da obrigação de adequar
estações ferroviárias.

38. E aqui não é diferente. Há a completa ausência de prova de que o


Apelante é de fato usuária regular do sistema. Coube a ele demonstrar tal
condição, nos termos dos artigos 320, 373, I, e 434 do CPC.

39. Somente o Apelante tem de fato a possibilidade de provar que faz


jus à política pública instituída de inclusão social pela Lei Estadual nº 4.510/2005,
que prevê o vale social, que não é o cartão RioCard nem Bilhete Único, a
todos os portadores de deficiência, ou seja, gratuidade. Essa prova pré-
constituída lhe coube quando do ajuizamento da petição inicial, a qual deveria
ter sido instruída com o cartão gratuidade, concedido pelo Estado do Rio de
Janeiro, que é individual, personalíssimo e, portanto, intransferível. Este
documento não foi fornecido nem juntado tempestivamente.

40. Acresce-se a isso que o patrono do Apelante ajuizou dezenas de


demandas idênticas versando sobre a estação de Campo Grande. Todas as
petições iniciais apresentaram o mesmo defeito probatório: ausência do Vale
Social ou qualquer outra prova relativa à parte autora. Por isso é imprescindível,
mesmo em sede recursal, seja expedido ofício ao Ministério Público para que
instaure procedimento investigativo sobre a ocorrência de fraude processual.

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41. Além do mais, a pretensão do Apelante de receber indenizações


por danos morais decorreria da alegada violação do contrato de transporte então
celebrado com a Apelada.

42. De acordo com Caio Mário da Silva Pereira, “o direito subjetivo se


decompõe em três elementos fundamentais: sujeito, objeto e relação jurídica”9.
E, ao expor o conceito de cada um desses elementos do direito subjetivo, assim
define

“relação jurídica traduz o poder de realização do direito subjetivo, e


contém a sua essência. É o vínculo que impõe a subordinação do
objeto ao sujeito. Mas não existe relação jurídica entre o sujeito e
o objeto. Somente entre pessoas é possível haver relações,
somente entre sujeitos, nunca entre o ser e a coisa.”10

43. Sob a perspectiva constitucional, Gustavo Tepedino e Milena


Donato Oliva expõem que

“a relação jurídica, mais que regular o poder entre o indivíduo e o


bem jurídico ou entre credor e devedor, apresenta-se como
regulamento de situações jurídicas subjetivas, que disciplina a
conexão entre centros de interesse atribuíveis às titularidades
atuais e futuras”11.

44. Isso significa afirmar que a caberia ao Apelante ter cumprido seu
ônus, que lhe é imposto pelo artigo 320 do CPC 12, de ter trazido elementos
mínimos a partir dos quais fosse possível aferir, ainda que de maneira
perfunctória, sua situação jurídica, qual seja, de passageira, nascida da relação
jurídica decorrente do contrato de transporte.

9 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2020, vol.
01, 33ª ed., p. 32.
10 Op. cit. p. 36.

11 TEPEDINO, Gustavo; OLIVA, Milena Donato. Fundamentos do Direito Civil. Rio de Janeiro:

Forense, 2020, 1º ed., p. 102.


12 “Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura

da ação.” (grifou-se)

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45. Sobre a formação do contrato de transporte de pessoas, Nelson


Nery Junior e Rosa Maria e Andrade Nery asseveram que “o contrato de
transporte de pessoas se aperfeiçoa com a entrega do bilhete mediante
paga”13.

46. Frise-se que não se está exigindo o impossível nem prova


documental cuja produção acarrete esforço desproporcional ao Apelante. Mas
apenas simples prova, ou indício, de que de fato celebrou contrato de transporte
com a Apelada.

47. Como se depreende da petição inicial, os documentos que a


instruíram não comprovam a condição de passageira do Apelante, muito menos
que o alegado evento danoso ocorreu por falha da prestação do serviço de
transporte.

48. Fornecendo mais indícios da eventual fraude processual prevista


no artigo 347 do Código Penal, o patrono do Apelante anexou fotos de terceiros,
fotos essas que são as mesmas que constam nas dezenas de processos
ajuizadas pelo mesmo patrono.

49. São também por esses motivos que a r. sentença merece ser
prestigiada pela Eg. Décima Primeira Câmara Cível, expedindo-se, ainda, ofício
ao Ministério Público para apurar a ocorrência do tipo penal do artigo 347 do CP.

VI - PEDIDOS SUCESSIVOS

50. É indiscutível que a causa de pedir consiste na alegação de que o


sistema ferroviário não seria acessível, especialmente a estação ferroviária de
Campo Grande que não conteria todos os itens suficientes a considerá-la

13NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil. São Paulo: Revista dos
Tribunais: 2019, 13ª ed., p. 1142.

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acessível a fim de atender as peculiaridades para conferir mobilidade a pessoa


com deficiência. A partir dessa única causa de pedir, eles formularam dois
pedidos, ambos de natureza condenatória, contra a Apelada: (i) o primeiro,
obrigação de fazer consistente na realização de intervenções visando conferir
acessibilidade àquela estação; e (ii) o segundo, pagamento de indenização a
título de danos morais pela inexistência da referida acessibilidade.

51. Ao se fazer a análise desses pedidos, chega-se à conclusão que


há entre eles um vínculo indissolúvel que os une, uma relação de causa e efeito
de precedência lógica. Isto porque, um dos elementos, senão o principal, a
fundamentar o acolhimento do segundo pedido de pagar indenização por danos
morais é justamente a prévia condenação da Apelada de realizar intervenções
na estação ferroviária de Campo Grande, de modo a conferir a esta estrutura de
acessibilidade. Caso contrário, se inexistente este dever, nada haverá a
indenizar a título de danos morais, pois não configurado ato ilícito imputável à
Apelada que afete a mobilidade do Apelante.

52. Está-se, então, diante da ocorrência de conexão entre os dois


pedidos nascido de uma única questão – a existência ou não da obrigação de
reformar a estação ferroviária de Campo Grande - classificada como cumulação
sucessiva de pedidos, cujo acolhimento do segundo pressupõe por lógica a
necessária e obrigatória procedência do primeiro. Sobre o tema, Paulo Cezar
Pinheiro Carneiro afirma que, in verbis:

“Distinta é a hipótese de pedido sucessivo, que somente poderá


ser examinado se o pedido for acolhido. Na realidade, o exame e o
eventual acolhimento dos pedidos sucessivos somente ocorrerão
se o autor obtiver êxito no seu pedido principal, v.g. ação de
reconhecimento de sociedade de fato com o consequente pedido
de partilha de bens. Esse último pedido somente poderá ser
examinado se o pedido principal for acolhido.”14

14CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O Novo Processo Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p.15.

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53. A propósito, Fredie Didier Jr., ao posicionar-se no mesmo sentido


de que há “a cumulação sucessiva quando os exames dos pedidos guardam
entre si um vínculo de precedência lógica: o acolhimento de um pedido
pressupõe o acolhimento do anterior”15, expõe o conceito de precedência lógica
a ser empregado quando do julgamento da questão, in verbis:

“Essa dependência lógica pode ocorrer de duas formas: a) o


primeiro pedido é prejudicial ao segundo: o não acolhimento do
primeiro pedido implicará a rejeição (e, portanto, julgamento) do
segundo; b) o primeiro pedido é preliminar ao segundo: o não
acolhimento do primeiro implicará a impossibilidade de exame
do segundo (que não será julgado, pois). O acolhimento do
primeiro pedido, em qualquer caso, não implicará necessariamente
o acolhimento do segundo”.16 (grifou-se)

54. Justamente por isso não merece ser provida a apelação de fls.
319/336 (indexador 0000319). Caso contrário, mostra-se adequado o valor
fixado pela i. magistrada a quo.

VII - PEDIDO

55. Ante o exposto, requer a V. Exa. se digne a desprover a apelação


de fls. 319/336 (indexador 0000319).

Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2020

João Cândido Martins Ferreira Leão


OAB/RJ Nº 143.142

15 DIDIER JR, Fredie. Curso de Processo Civil. Salvador: Editora JusPodivm, 2019, 21ª ed., v. 1,
p. 663.
16 Op. cit. p. 663.

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