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OZIMO COSTA PEREIRA

Advogado

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR ABRAHAN LINCOLN CALIXTO – DD.


RELATOR DO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0786048-2 – QUARTA CÂMARA CÍVEL
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ.

ODAIR CORDEIRO, brasileiro, casado, vereador, na qualidade de


Presidente da Câmara Municipal de Campo Magro(PR), com endereço na Rua Silvestre
Jarek, 120, Centro, CEP 83535-000, fone (41) 3677-1253, em Campo Magro, Estado do
Paraná, através de advogados, adiante assinados ( procuração inclusa), vem perante Vossa
Excelência apresentar CONTRA-RAZÕES ao Agravo de Instrumento acima interposto por
JOSÉ ANTONIO PASE, oportunidade que pede juntada e demais providencias.

Campo Magro-PR, 07 de junho de 2011.

NATANIEL RICCI
OAB/PR 12176

OZIMO COSTA PEREIRA


OAB/PR 37.375

Rua Flavio Johnsson, 81, centro, Rio Branco do Sul – Pr – fone 3652-1040 – CEP 83.540-000
OZIMO COSTA PEREIRA
Advogado

CONTRA-RAZÕES
(em Agravo de Instrumento)

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,

Eminente Desembargador Relator:

1) O agravante José Antonio Pase, na qualidade de Prefeito


Municipal de Campo Magro, impetrou Mandado de Segurança sob nº 3062-
72.2011.8.16.0024, com pedido de liminar com efeito suspensivo ativo, junto ao Juízo Cível
do Foro Regional de Almirante Tamandaré, Comarca da Região Metropolitana de Curitiba,
alegando, em síntese, (1) a Câmara Municipal de Campo instalou naquela Casa Comissão
Processante para investigar denuncias de infrações político-administrativas, com base no
Decreto 201/67; (2I) informa que devido a ilegalidades, ajuizou Mandado de Segurança no
Juízo competente, cuja liminar foi indeferida; (3) decorrente desse indeferimento, interpôs
Agravo de Instrumento alegando os seguintes motivos: (a) incompetência da Câmara
Municipal para julgar infrações político-administrativa do Prefeito Municipal - não incidência
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do Decreto-Lei 201/1967; (b) desrespeito à proporcionalidade partidária de vereadores na


CP; (c) impedimento de vereadores que votaram pelo recebimento da denúncia contra o
Prefeito/agravante; (d) cerceamento de defesa; (e) arbitrariedades do Presidente da
Comissão Processante (alega, provas inexistentes...); (f) abuso do Presidente da Câmara
Municipal ao designar Sessão para deliberação sobre o relatório da CP.
Essa douta Relatoria, examinando o pedido, inaudita altera parte,
houve por bem em deferir liminar, determinando a suspensão da sessão extraordinária do
Plenário da Câmara Municipal que em andamento no dia 01 de junho de 2011 (com início às
14hs00min), declarando nulo qualquer ato do Plenário eventualmente já praticado.
Todavia, com o devido respeito, referida liminar é equivocada e
não pode subsistir ante a regularidade formal e material dos atos do Poder Legislativo
Municipal.

2) HISTÓRICO (necessário) DOS FATOS:

Muito embora, nessa fase recursal não se incursiona no mérito


das questões discutidas na demanda, todavia, como elas são trazidas integralmente pelo
agravante, cabe ao agravado estabelecer o contraditório, sob pena de incorrer em omissão.
É voz corrente na comunidade de Campo Magro que o Prefeito
Municipal (agravante) administra o Poder Executivo de modo irresponsável e desonesto,
praticando atos de lesa a Fazenda Pública, resultando em improbidades administrativas
escancaradas e, via de conseqüência, práticas de infrações político-administrativas em
desfavor do erário público e da boa administração pública.
No final da legislatura passada o cidadão Hildor Foster, morador
local, valendo-se do artigo 5º do DL 201/67, apresentou DENÚNCIA junto à Câmara
Municipal argüindo 08 (oito) graves irregularidades cometidas pelo Prefeito Municipal,
sendo elas: 1) não prestação de Contas à Câmara Municipal do exercício de 2009, conforme
determina a LOM; 2) não disponibilização à Câmara Municipal e a sociedade em geral do
veículo oficial de publicação dos atos oficiais do Executivo; 3) locação de duas salas para
uso da Secretaria Municipal de Promoção Social e Cidadania, as quais permaneciam
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fechadas, sem utilização durante vários meses; 4) contratação de empresa especializada de


roçada urbana e rural em vias públicas, terrenos baldios no valor de R$ 324.000,00
(trezentos e vinte e quatro mil reais), sem que o serviço tenha sido prestado num único metro
quadrado do Município; 5) contratação temporária de empresa para fornecimento de
profissionais qualificados nas áreas da saúde, educação, ação social e administrativa, com
valor claramente superfaturado; 6) locação de 01 (um) veículo tipo utilitário, caminhoneta,
zero km, com capacidade para cinco pessoas, pelo valor anual de R$ 62.400,00 (sessenta e
dois mil e quatrocentos reais), com valor claramente superfaturado; 7) locação de diversos
veículos Kombi (VW), pelo valor mensal (cada uma) de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos
reais), com valor escancaradamente superfaturado; 8) locação de 03 (três) unos (FIAT), com
valor unitário mensal de R$ 2.766,66 (dois mil, setecentos e sessenta e seis reais e sessenta
e seis centavos), escancaradamente superfaturado.
A vereadora presidente da Mesa Diretiva anterior recebeu a
denúncia e, quando deveria encaminhá-la na forma da lei, preferiu engavetá-la, aguardando
a posse da futura Mesa Diretora da Câmara cujos membros, tão logo investidos nos cargos,
encaminharam referida denúncia para o Plenário.
Após discussão e votação, a denuncia foi recebida e em seguida
realizado o sorteio dos membros da CP, cujos trabalhos tiveram inícios logo após.
A CP encerrou seus trabalhos, apresentou relatório para o
Presidente da Câmara e, assim, designou-se Sessão extraordinária para seu exame e
votação, sendo que por duas vezes foi suspensa (uma pelo Juízo a quo, por entender que
teria havido irregularidade na sua convocação e a segunda, por esse douto Relator).
São estes, rigorosamente, os fatos.

3) AS INCABÍVEIS RAZÕES DO AGRAVO:

Argumenta o agravante que a decisão agravada (do Juízo de


primeiro grau) não apresenta fundamento, sustenta ainda que apenas tergiversou
sobre os fundamentos invocados no Mandamus e que por isso, teria agredido a mais
elementar lógica, ignorando, inclusive a prova testemunhal, todavia, sem nenhuma
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razão, por se tratar de decisão interlocutória que examina pedido liminar em Mandado de
Segurança.
É ressabido que o exame de pedido de liminar deve limitar-se à
prospecção da existência (ou não) dos requisitos necessários para seu deferimento (ou não),
sem se adentrar na profundidade e na extensão do direito líquido e certo alegado pelo
impetrante, sob pena de se confundir fundamentação de liminar (art. 7º, III, Lei 12.016/2009) com
fundamentos de mérito (da sentença) (art. 13 da Lei 12.016/2009, c/c art. 458, III, do CPC).
Quanto ao argumento de que a decisão agravada teria ignorado
provas, com o devido respeito, o impetrante não comprovou nenhum dos pontos que indicou.
Assim, o agravado refuta os argumentos incabíveis e
improcedentes do agravante.

3.1) Aplicação do Decreto-Lei 201/1967:

O agravante/impetrante insiste que, nesse caso, não se aplica o


Decreto-Lei 201/67, uma vez que, segundo ele, não há previsão na LOM para esse fim
(apuração e julgamento do Prefeito por infrações político-administrativas), contudo, labora
em equívoco.
Cópia da ATA (fls. 76/79) da primeira sessão ordinária da Câmara
Municipal de Campo Magro é cristalina, o Plenário aprovou o recebimento da denúncia na
forma e conforme o Decreto-Lei 201/67, segundo os fatos narrados e os tipos legais
existentes naquele Diploma Legal, de sorte que não se pode falar em desconhecimento ou
inobservância de formalidades por parte da Sessão que recebeu a denúncia.
O Decreto-Lei 201/67 foi recepcionado pela atual Constituição
Federal, com manifestações reiteradas do Supremo Tribunal Federal, conforme se vê no
julgamento do HC nº 71991/MG, 1 onde a Alta Corte definiu claramente que os atos definidos
1
STF – HC nº 71991/MG, rel. Min. Sidney Sanches, 1ª Turma, DJ 03/03/1995, pp. 04105. “Ementa – Penal. Processual
Penal. Prefeito. Crime de Responsabilidade. D.L. 201 de 1967, art. 1º - Crimes comuns. I – Os crimes denominados de
responsabilidades, tipificados no art. 1º do DL 201/67, sã o crimes comuns, que deverã o ser julgados pelo Poder
Judiciá rio, independentemente do pronunciamento da Câ mara de Vereadores (art. 1º), sã o de açã o pú blica e punidos
com pena de reclusã o e de detençã o (art. 1º, § 1º) e o processo é o comum, do CPP, com pequenas modificaçõ es (art.
2º). No artigo 4º, o DL 201 de 1967, cuida das infraçõ es político-administrativas dos prefeitos, sujeitos ao julgamento

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no artigo 1º do DL 201/67, denominados de crimes de responsabilidades, são julgados pela


Justiça Pública comum, regidos pelo CPP, independentemente do pronunciamento da
Câmara de Vereadores.
De outro vértice, os atos oficiais previstos no artigo 4º do mesmo
DL 201/67, também denominados de infrações político-administrativas dos prefeitos, estão
sujeitos ao julgamento das Câmaras de Vereadores e sancionados com a cassação do
mandato.
Os atos do agravante estão tipificados no artigo 4º do DL 201/67,
especialmente as infrações previstas nos incisos IV, VII e VIII desse instrumento legal,
descabendo, portanto, a tese de não aplicação do DL 201/67.
Os entendimentos acima não demandam controvérsias.
O agravante agarra-se ao disposto no inciso XIII do artigo 16 da
LOM para tentar retirar das competências do Legislativo Municipal o poder/dever de receber
denúncias, apurá-las e julgá-las na forma da lei e, se for o caso, aplicar as sanções cabíveis
que pode ser até a cassação do mandato do Prefeito.
O disposto no artigo 16, inciso XIII, da LOM refere-se ao
poder/dever que tem o Legislativo Municipal de, em conhecendo de práticas de crimes
comuns (em tese) de autoria do Prefeito (art. 1º do DL 201/67 e outras tipificações legais),
deve comunicar o Procurador-Geral da Justiça sobre os fatos, cuja competência para
julgamento é do Tribunal de Justiça, enquanto ocupante do cargo.
De outro lado, a tese de que não consta na LOM que as infrações
político-administrativas do Prefeito serão julgadas na forma do DL 201/67 e por isso, não se
aplicaria este instrumento legal, com o devido respeito, não pode prosperar.
O próprio STF, em seus inúmeros julgados, não vinculou a
condição indispensável dessa providência, sob pena de derrogação do DL 201/67.
A Câmara Municipal teve o cuidado de indicar na ata que recebeu
a denúncia que o processo seria conduzido pelo DL 201/67, providência que supre a suposta
ilegalidade.

pela Câ mara de Vereadores e sancionadas com a cassaçã o do mandato. Essas infraçõ es é que podem, na tradiçã o do
direito brasileiro, ser denominadas de crimes de responsabilidade. (...)”.

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De se observar que o agravante em nenhum momento tratou


das gravíssimas denuncias as quais responde perante o Legislativo Municipal (muito
embora é sabido que em sede de agravo de instrumento discute-se mais acentuadamente as
questões processuais/liminares), confiante que pode obter salvo-conduto por detalhes
processuais junto ao Judiciário.
Não se pode descuidar que “O ADMINISTRADOR É UM MERO GESTOR
DO INTERESSE PÚBLICO E, COMO TAL, NÃO É DONO DESSE INTERESSE. POR ISSO DEVE GERIR
AQUELE BEM NO SENTIDO DE SATISFAZER O INTERESSE PÚBLICO E DEVE ESTAR SUJEITO A UMA
FISCALIZAÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO. SERÁ ÓTIMO SE LE CUMPRIR BEM A SUA FINALIDADE,
MAS SE ASSIM NÃO FIZER? SE ELE SE DESVIAR DO CAMINHO QUE LHE É IMPOSTO PELA LEI? QUE

ACONTECE? AQUI TEMOS A FIGURA DA RESPONSABILIDADE”2.

Assim, conclusivamente, no tocante a esse ponto, nenhuma razão


assiste ao agravante, posto que a Câmara Municipal tem competência para processar e
julgar atos do Prefeito por infrações político-administrativas, aplicando o DL 201/67, cujo
instrumento acha-se em pleno vigor.

3.2) Suposto desrespeito à proporcionalidade dos partidos


políticos da Câmara Municipal:

Pela matemática do agravante, o PMN com dois vereadores na


Casa, teria assegurado, obrigatoriamente, uma vaga por indicação e uma participação pelo
sorteio.
A tese do agravante é insustentável.
O quadro é bem mais singelo que o cenário barroco que o
agravante descrever.

Diz o inciso II, do artigo 5º, do DL 201/67 que,


“DE POSSE DA DENÚNCIA, O PRESIDENTE DA CÂMARA, NA PRIMEIRA
SESSÃO, DETERMINARÁ SUA LEITURA E CONSULTARÁ A CÂMARA

2
DALLARI, Adilson Abreu. Responsabilidade dos prefeitos e vereadores, RDP 39/40, p. 250 (in A Defesa dos Prefeitos e
Vereadores em face do DL 201/67. José Nilo de Castro, Del Rey. BH, 1995, p. 112).

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SOBRE O SEU RECEBIMENTO. DECIDIDO O RECEBIMENTO, PELO VOTO
DA MAIORIA DOS PRESENTES, NA MESMA SESSÃO SERÁ CONSTITUÍDA
A COMISSÃO PROCESSANTE, COM TRÊS VEREADORES SORTEADOS
ENTRE OS DESIMPEDIDOS, OS QUAIS ELEGERÃO, DESDE LOGO, O

PRESIDENTE E O RELATOR” (grifamos).

O texto legal é claro e não faz as exigências e não apresenta os


critérios matemáticos que o agravante desse ver instituído.
A lei aplicável ao caso prescreve que haverá sorteio entre três
vereadores desimpedidos e, FOI EXATAMENTE ESSE O PROCEDIMENTO ADOTADO
PELA MESA DO LEGISLATIVO MUNICIPAL, sem alterar, sem contornar, sem omitir,
sem proteger e sem prejulgar.
A tese do agravante soa até mesmo maliciosa, pois sabendo
quem são os vereadores do PMN (e que ambos formam a base de seu governo), sendo que
um deles não passaria pelo sorteio geral, seria apenas indicado, estaria, na prática política,
escolhendo qual seria pelo menos um dos vereadores que estaria julgando as denuncias
contra ele (?!?).
Noutras palavras, o agravante quer a todo custo escolher seus
julgadores. Não aceita que os membros da CP tenham sido escolhidos, publicamente, de
modo transparente, por sorteio entre todos os integrantes do Legislativo (?).
A propósito, nesse tocante, lúcidos e judiciosos os fundamentos
da decisão agravada,verbis:
“Quanto ao suposto cálculo da proporcionalidade dos
partidos, não se encontra nos argumentos do impetrante, fundamento relevante para a
concessão liminar, uma vez que, em cognição sumária, PMN possuindo dois
vereadores não atingiu o quociente partidário para obter vaga obrigatória na Comissão
Processante. A princípio, o quociente partidário é obtido pela divisão do número de
vereadores (09), pelo número de vagas em cada comissão (03). Assim sendo, mostra-
se prima facie correto o sorteio realizado com todos os vereadores, conforme
documento às fls. 50 e 53/56.” (fls. 232/236 - grifos originais).
Desse modo, é de se concluir que os atos da Câmara Municipal
são regulares e não apresentam abusos ou ilegalidades, restando improcedentes as
alegações do agravante.

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3.3) Inexistência de impedimentos de vereadores:

O agravante sustenta que fez prova na CP de que os verdadeiros


autores da denuncia seriam os “vereadores Sergio Martins, Valdir Batista, Augusto
Constantino, Álvaro Bueno de Lara e Izael Ferreira” e que teriam usado a pessoa de Hildor
Foster para subscrever a peça acusatória.
Os depoimentos foram feitos por quatro pessoas, sendo uma
delas, vereadora da base política do Prefeito que tentaram desqualificar o cidadão
denunciante, todavia, chegando mesmo a insinuar que o denunciante não seria capaz de
produzir a peça de denúncia.
Trata-se de cidadão residente na cidade há mais de 10 anos, com
curso superior de filosofia, cursou 03 (três) anos de economia e 01 (um) ano de
administração, ex-servidor municipal na gestão do agravante, detentor de informações
preciosas, fez valer seu direito de cidadão e promoveu a denúncia, as quais couberam à
Câmara Municipal apurar.
As testemunhas que vieram tentar desacreditar a credibilidade da
denúncia são conhecidamente partidárias do agravante e vieram trazer tão somente opiniões
e fofocas políticas (ouviu dizer, estão dizendo, alguém disse....), sem apontar uma fonte com
credibilidade para comprovar os fatos.
A situação reclama objetividade: sendo denunciante um cidadão
do povo e na ausência de outras provas, nenhum vereador estava impedido para deliberar
sobre o recebimento (ou não) da denuncia, como de resto, não estavam impedidos de
participar da CP e também da votação final do relatório no Plenário.
A hipótese sugere que estaria impedido de participar da
votação de recebimento da denúncia somente vereador que tivesse subscrito a

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denúncia, todavia, nesse caso, a denúncia tem origem na denominada iniciativa popular,
deixando livre todos os vereadores para deliberar sobre a mesma. 3
Contudo, para os demais atos, o vereador autor da denúncia
estaria livre para atuar nos demais atos da Casa, inclusive participar da CP, pois não se deve
perder de vista que trata-se de julgamento de infrações político-administrativas e que deve
obedecer regras próprias.
A decisão agravada é suficientemente clara a esse respeito: não
há prova cabal sobre impedimentos de vereadores, posto que a denúncia é subscrita por
cidadão do povo.
Também nesse ponto, por falta de amparo legal e comprovação
de fatos incontroversos, a pretensão do agravante é insustentável.

3.4) Ausência de cerceamento de defesa:

(a) O agravante alega que sofreu cerceamento de defesa,


lastreando sua argumentação em alguns pontos: (i) a CP tinha o propósito de ouvir algumas
testemunhas (empresários que mantém contratos de prestação de serviços e equipamentos
com o Município) e que, posteriormente, decidiu que não mais seriam tomados tais
depoimentos.
Nesse ponto o agravante vai além do direito de defesa, pratica
abuso do direito de defesa: alega que sofreu cerceamento de defesa pela desistência da CP
em ouvir testemunhas que poderiam esclarecer sobre as acusações de contratos
superfaturados.
Verifica-se que a defesa arrolou testemunhas em numero inferior
ao permitido no artigo 5º, inciso III, do DL 201/67, pois a lei permite que a defesa arrole até
10 testemunhas, a defesa arrolou oito e, ainda, desistiu espontaneamente de ouvir quatro
testemunhas.

3
“A denúncia escrita da infração poderá ser feita por qualquer eleitor com exposição dos fatos e a indicação das provas.
Se o denunciante for Vereador, ficará impedido de votar sobre a denúncia e de integrar a Comissão processante,
podendo, todavia, praticar todos os atos de acusação. (...)”. (José Nilo de Castro, A Defesa dos Prefeitos e Vereadores..., Dey
Rey. Pág. 179/180).

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Das quatro testemunhas ouvidas pela defesa, todas, sem


exceção, disseram que sobre os fatos narrados na denúncia nada sabiam e, portanto
nada podiam declarar perante a CP (apenas fizeram comentários aleatórios, fofocas
políticas) e, estranhamente, o agravante comparece em Juízo, via Mandado de Segurança e
em sede de recurso, para reclamar que sua defesa sofreu cerceamento porque a CP
informou que pretendia ouvir algumas testemunhas e, logo após, desistiu (?).
Se aquelas pessoas que foram mencionadas pela CP que
possivelmente seriam ouvidas (e não foram) eram importantes para a defesa, pergunta-se:
POR QUE A DEFESA NÃO ARROLOU TEMPESTIVAMENTE AQUELAS PESSOAS
COMO SUAS TESTEMUNHAS?
Ou ainda, porque a defesa não substituiu as testemunhas que
desistiu de ouvir por aquelas que não foram ouvidas pela CP?4
Ressalte-se que as testemunhas que seria ouvidas por iniciativa
da comissão, somente não foram inquiridas por insurgência da defesa que alegou inversão
da ordem das provas.
Falta coerência e lealdade processual nas afirmações do
agravante.
(b) O suposto agravo de instrumento que o agravante teria
interposto em face de suposta inversão da ordem das testemunhas (inversão que não
houve), é mais um equívoco praticado pela defesa.
A defesa, dentre outras, pretendia na fase de alegações finais,
requerer produção de provas periciais (?), pretensão não amparada pelo processo
previsto no DL 201/67.
Ora, o momento de requerer produção de provas já havia se
passado por ocasião da apresentação da defesa prévia.

4
A reclamação do agravante, na espécie, equivale, mutatis mutandi (no presente caso a CP não acusa, apenas investiga e
finaliza relatório para votação do Plenário) à hipótese em que o Promotor de Justiça desiste de ouvir determinada
testemunha e, em seu favor, a defesa alega que sofrera cerceamento de defesa em face dessa desistência (?). Seria, como é,
uma alegação absurda e teratológica.

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Na verdade, o agravante pretende mesmo é tumultuar o máximo


que puder o andamento das investigações e da votação do relatório final da CP, a fim de
evitar uma possível (mas não certa) cassação de mandato.
A defesa, quando deveria apresentar suas alegações finais,
protocolizou na Câmara expediente que denominou agravo de instrumento.
A defesa concordou com a decisão do Presidente da CP em
dispensar testemunhas que o órgão processante havia anunciado que ouviria.
A defesa, em contrapartida, ato contínuo, de modo espontâneo,
desistiu das outras quatro testemunhas que restavam para serem ouvidas, de modo que os
atos se passaram de modo regular, sem protestos, reclamações ou mesmo recursos.
Não há previsão legal ou regimental para interposição de
agravo de instrumento no âmbito da CP e o despacho do Presidente não tratou da
intempestividade do Agravo, posto que, repita-se, não havendo previsão legal desse
recurso, não há que se indagar de sua (in)tempestividade.
Só há recurso intempestivo ou tempestivo quando há
previsão legal sobre a interposição desse recurso. Não se pode analisar o que não existe
no mundo jurídico.
Eventuais discordâncias de atos da Comissão, a defesa deve
argüir por ocasião de suas alegações finais e sustentação oral no Plenário da Câmara,
oportunidades adequadas e indicadas para apontar todas as suas teses de defesa.
Demonstrando total imparcialidade e boa vontade para com a
defesa, o Presidente da CP recebeu o Agravo, indeferiu sua pretensão e, num gesto de
liberalidade, devolveu o prazo integral à defesa para apresentar suas alegações finais, o que
fez em seguida no prazo legal.
Repita-se, AO OUVIR EM PLENÁRIO A DECISÃO DA MESA DA
CP QUE NÃO MAIS OUVIRIA ALGUMAS TESTEMUNHAS QUE HAVIAM SIDO
NOMINADAS ANTES, A DEFESA, SEM NENHUM PROTESTO E SEM NENHUMA
RECLAMAÇÃO, DESISTIU ESPONTANEAMENTE DE SUAS OUTRAS QUATRO
TESTEMUNHAS (!), quando poderia, caso assim pretendesse, ter requerido suas
substituições.
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Destarte, em mais esse ponto, nenhuma razão cabe ao agravante.

3.5) Supostas arbitrariedades do Presidente da CP:

Alegou o impetrante e agravante que o Presidente da Comissão


Processante teria agido com arbitrariedade e que os demais membros da CP são
“mancomunados com o sumário, arbitrário e prejulgado afastamento do impetrante”.
Infere-se da petição inicial do Agravo a repetição de praticamente
todos os atos ordinatórios e decisórios do Presidente da CP, tentando fazer crer que o
agravante está sendo vítima de uma brutal violência jurídica, entretanto, tudo não passa de
tática da defesa para tentar barrar na Justiça o andamento da CP e obstruir a realização da
Sessão da Câmara Municipal que apreciará o relatório final.
É evidente que o Presidente da CP atuou nessa condição e, nos
termos do art. 34, inciso XV, do Regimento Interno da Casa 5, recebeu expedientes e decidiu
sobre eles de pronto. O fato de desenvolver linguagem na primeira pessoa do singular
não significa arbitrariedade ou usurpação de competências. Praticou atos ordinatórios, bem
como proferiu decisões interlocutórias, a exemplo da intimação do denunciado e de seus
defensores, como também decidiu expedientes que estavam no raio de suas competências.
O Presidente de uma Comissão Processante atua,
comparativamente, como o relator de um processo judicial, cuja instrução está ocorrendo em
segundo grau de jurisdição.
Não consta do Regimento Interno que todo e qualquer expediente
ou decisão o Presidente da CP deve convocar o Colegiado, mesmo porque essa prática

5
Art. 34 – Ao Presidente da Comissão compete, além do que lhe foi atribuído neste Regimento: (...) XV – RESOLVER
DE ACORDO COM E REGIME (sic) AS QUESTÕES DE ORDEM OU RECLAMAÇÕES SUSCITADAS NA
COMISSÃO”.

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poderia causar graves atrasos no andamento das investigações, extrapolando o prazo legal, 6
incidentes que interessaria somente ao agravante.
Assim, sem nenhuma razão em mais este ponto.
No tocante ao Edital convocando reunião da Comissão para oitiva
de testemunhas, é importante ressaltar que as formalidades legais foram cumpridas.
Os vereadores membros da CP foram convocados para a reunião
pelos meios disponíveis, inclusive telefone. Ocorre que o Presidente da CP recebeu notícia
de que o vereador Arlei de Lara estaria ausente da cidade e, para evitar alegações futuras,
expediu edital que foi afixado no local de costume.
Com relação a falta de assinatura nos depoimentos das
testemunhas, é mais uma argumentação vazia, sem fundamento.
A defesa do agravante não só teve, como tem a qualquer
momento, acesso a todo o processo, como foi-lhe dito em reunião da CP, que os
depoimentos e manifestações encontram-se impressos nos autos e gravados em áudio,
todos nos arquivos da Câmara Municipal e juntadas as mídias no procedimento originário.
O agravante aduz em seu Agravo que há necessidade de periciar
as gravações para se chegar a alguma conclusão.
As testemunhas ouvidas pela defesa (num total de quatro), todas,
repita-se, DISSERAM QUE SOBRE OS FATOS NARRADOS NA DENUNCIA NADA
SABIAM E POR ISSO, NADA TINHAM A DECLARAR e sobre tais depoimentos a defesa
diz que necessita fazer perícia nos áudios da Câmara (?).
A Câmara Municipal de Campo Magro é uma instituição legislativa
que conhece suas exatas dimensões, é formada por vereadores humildes, cidadãos pacatos
e honestos, porém como Poder que representa a população local, merece respeito por parte
do agravante.
Alegar nulidade do processo porque os depoimentos não estão
assinados e as gravações necessitam de serem periciadas, com o devido respeito, resultam

6
Consta do artigo 5º, inciso VII, do Decreto-Lei 201/67, que o processo deve se encerrar no prazo de 90 (noventa) dias,
contados da data do recebimento da denuncia.

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OZIMO COSTA PEREIRA
Advogado

em desrespeito ao devido processo legal e afronta ao Poder Legislativo local e acintoso


abuso do direito de defesa.
Assim, como o próprio Juízo singular também já entendeu, a
ausência de assinatura não invalida o ato e não causa nulidade, posto que as gravações são
de conhecimento público e encontram-se à disposição de qualquer interessado, inclusive da
defesa nos autos do procedimento.
Mais um ponto sem razão.
Alega a defesa que tão logo protocolou suas alegações finais (em
23/05/2011), o Presidente da CP designou reunião da Comissão Processante para o dia
24/05/2011 com o objetivo de votar o relatório final da Comissão.
Alega que o vereador Arlei de Lara (o mesmo que faltou à reunião
da CP, cuja falta tem sido motivo para argüição de nulidade) pretendia apresentar voto
contrário ao relatório, mas foi impedido pela exigüidade de prazo e que, pelo curto espaço de
tempo, o relatório final já estaria pronto antes da apresentação das alegações finais.
A alegação é pueril, pois trabalha com hipótese e faz afirmações
irreais, sem comprovação dos fatos.
O fato é que a Comissão trabalhou com o calendário apertado e,
diante do pouco tempo que dispunha, procurou cumprir todas as formalidades processuais.
O prazo solicitado pelo vereador Arlei de Lara para apresentar
voto em separado não tem respaldo regimental, por esse motivo, também, seu pedido foi
rejeitado.
A Sessão da Câmara designada para o dia 26/05/2011 também
atendia o calendário apertado do processo, sendo que teve seu andamento suspenso pelo
Juízo a quo, nos termos do Mandado de Segurança nº 0003244-58.2011, devido os
percalços criados pelo agravante que fugia insistentemente das intimações dos
representantes da Câmara Municipal.
O agravante e seus defensores foram comunicados sobre a
Sessão Extraordinária da Câmara, porém, alegando que não teriam sido intimados e que não
poderiam comparecer na Sessão, obtiveram sucesso na segunda impetração, ordem judicial,
aliás, que foi cumprida prontamente.
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OZIMO COSTA PEREIRA
Advogado

Ocorre que, por ocasião da segunda sessão de julgamento do


relatório, mais uma vez, impetrou o agravante MANDADO DE SEGURANÇA nº 0003297-
84.2011.8.16.0024, sob os mesmos argumentos de ausência de intimação do defensor e do
denunciado, que, por sua vez, teve a seguinte decisão: “...Assim, tendo sido notificado
pessoalmente um dos defensores, verifica-se que foi cumprido o disposto no inciso IV do
artigo 5º do Dec. Lei 201/67: (...) Assim, ao menos por ocasião deste mero juízo de cognição
sumária, não se verifica tenha sido desrespeitado o texto legal mencionado, razão pela qual
a liminar não merece ser deferida. Expostas essas razões, INDEFIRO A LIMINAR...” (cópia
inclusa).
Como se pode ver, o segundo mandado de segurança alegava
ausência de intimação do defensor, sendo que desde o início do procedimento o denunciado
conta com dois defensores nos autos, tratando-se de respeitáveis e ilustres causídicos,
sendo eles irmãos, sócios e contam com endereço no mesmo local.
Assim, impugnados todas as alegações do agravante,
restabelecida a verdade, pede-se pela revogação da liminar a fim de que os trabalhos do
Poder Legislativo local prossigam na forma da lei.

4) AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA O DEFERIMENTO DA


LIMINAR E PROVIMENTO DO AGRAVO:

O artigo 527, inciso II, do CPC prescreve que poderá ser deferida
quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação,
todavia, embora o pedido apresentasse o caráter de urgência, mas nem de longe o
agravante detém a fumaça do bom direito e, ao final, o direito líquido e certo.

Primeiro, porque a fumaça do bom direito inexiste.

O fumus boni juris é requisito necessário para deferimento de


liminares, todavia não bastam meras alegações de ilegalidades ou abusos. A pretensão deve

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OZIMO COSTA PEREIRA
Advogado

apresentar razoável plausividade do bom direito violado e as provas devem ser irrefutáveis,
hipóteses que não se vislumbram no presente caso.
Segundo, porque o direito líquido e certo deve ser demonstrado de
plano e o agravante não cuidou de desincumbir-se dessa tarefa.

Mesmo porque,

“Direito líquido e certo é o que resulta de fato certo, e fato


certo é aquele capaz de ser comprovado de plano (SRTJ
4/1247, 27/140, 147/386. (...) É necessário que o pedido seja
apoiado ‘em fatos incontroversos, e não em fatos complexos,
que reclamam produção e cotejo de provas”.
Não se admite a comprovação “a posteriori” do alegado na
inicial (RJTJESP 112/225)...”.7.

Como se pode ver, a jurisprudência orienta que os fatos sejam


comprovados de plano e o agravante não o fez, apenas alegou abusos, arbitrariedades,
ilegalidades, porém, sem nenhuma comprovação.

Ademais, não apontou eventuais normas legais as quais estariam


sendo violadas tanto pela Comissão Processante quanto pela Presidência da Câmara
Municipal.
O Legislativo local tão somente pretende cumprir com seu dever
constitucional de fiscalizar o Poder Executivo e, se for o caso, aplicar sanções legais, na
forma da Lei e conforme o devido processo legal, qualquer outra interpretação que se
pretenda dar ao legislativo de Campo Magro é mera especulação e suposição, sem nenhum
amparo em fatos e no direito.

7
CPC Comentado, Theotonio Negrão.38ª edição, pág. 1748.

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OZIMO COSTA PEREIRA
Advogado

Por mais esta razão, impõe-se a revogação da liminar e


improvimento do Agravo de Instrumento.
Junta peças do processo investigatório, procuração ad judicia e
cópia do arquivo de mídia com a gravação de todas as sessões realizadas, inclusive dos
depoimentos colhidos.

Campo Magro - PR, 07 de junho de 2011.

NATANIEL RICCI
OAB/PR 12176

OZIMO COSTA PEREIRA


OAB/PR 37.375

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