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CÂMARA DOS DEPUTADOS

Procuradoria Parlamentar

PARECER 02/2022 - PROPA


(EM 16/05/2022)

DEPUTADO VICENTINHO JÚNIOR. RELATOR NA


COMISSÃO ESPECIAL DA PEC Nº 397/2017. EC
Nº 110/2021. CONVALIDAÇÃO DE ATOS
ADMINISTRATIVOS DO TOCANTINS. PGR.
ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
MATERIAL POR SUPOSTA VIOLAÇÃO À DECISÃO
PROFERIDA NA ADI Nº 598/TO. INEXISTÊNCIA.
CARGAS DE EFICÁCIAS DISTINTAS. PODER
CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR.
EXERCÍCIO LEGÍTIMO DE JUÍZO MERITÓRIO.
PONDERAÇÃO DE VALORES CONSTITUCIONAIS.

D O O BJETO : CONS TITUCIONALIDADE DA EC Nº 110/2021

Trata-se de pleito de sua Excelência o Deputado VICENTINHO JÚNIOR


(PP/TO), dirigido ao Procurador Parlamentar o Deputado Luís Tibé
(AVANTE/MG), por intermédio do e.Doc nº 457.957/2022, solicitando a
elaboração de parecer sobre a constitucionalidade da Emenda Constitucional (EC)
nº 110/2021, que acrescentou o art. 18-A ao Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Carta da República, cujo teor é:

ADCT, Art. 18-A. Os atos administrativos praticados no Estado do


Tocantins, decorrentes de sua instalação, entre 1º de janeiro de 1989 e 31 de
dezembro de 1994, eivados de qualquer vício jurídico e dos quais decorram
efeitos favoráveis para os destinatários ficam convalidados após 5 (cinco)
anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
Relata que a EC nº 110/2021 é oriunda da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) nº 48/2015 de autoria do ex-senador Vicentinho Alves
(PL/TO), a qual, após aprovada em dois turnos pelo Senado Federal, foi enviada
à Câmara dos Deputados, onde passou a tramitar como PEC nº 397/2017.

Informa ainda que, no âmbito da Comissão de Constituição, Justiça e


Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, foi designado Relator da PEC nº
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397/2017, tendo, na oportunidade, analisado a matéria e apresentado Parecer


favorável, quanto à sua admissibilidade. Com aprovação de seu Parecer pela CCJC,
foi criada a Comissão Especial destinada a proferir parecer à PEC nº 397/2017 -
Convalidação dos atos administrativos praticados no Estado do Tocantins, onde
novamente foi designado Relator, tendo apresentado novo Parecer de mérito pela
aprovação, o qual restou integralmente aprovado pela referida Comissão Especial,
na reunião do dia 11/12/2018. Aprovada em dois turnos pela Câmara dos
Deputados, a EC nº 110/2021 foi publicada pelas Mesas de ambas as Casas em
13/07/2021.1

Por fim, sua Excelência o Deputado Vicentinho Júnior destaca que foi
surpreendido pelo ajuizamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº
7143/DF, proposta pelo Procurador-Geral da República, visando à declaração de
inconstitucionalidade das disposições da EC nº 110/2021.

Em virtude disso requer a manifestação da Procuradoria Parlamentar em


forma de parecer sobre a constitucionalidade do novel diploma constitucional, que
ingressou ao Ordenamento Jurídico por obra do Poder Constituinte Derivado
Reformador, para com a qual o Parlamentar solicitante contribui como relator no
âmbito da CCJC e no da Comissão Especial.

D O D ELIMITAÇÃO DO E SCOPO : ATRIBUIÇÃO DA P ROCUR ADORIA

Atentos às premissas postas no Requerimento, impõe-nos considerações


prévias, a fim de delimitar o escopo do Parecer, circunscrevendo-o aos limites das
atribuições institucionais da Procuradoria Parlamentar.

1 Diário Oficial da União, Edição 130, Seção 1, pg. 5. Disponível em: https://in.gov.br/en/web/dou/-/emenda-
constitucional-n-110-331548813
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No bojo do controle concentrado de constitucionalidade de atos e de


omissões legislativas, atribuído exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal
(sistema europeu), a legitimidade para manifestação nos autos do processo
objetivo é atribuída ao Procurador-Geral da República-PGR (§ 1º do art. 103,
CF/88); ao Advogado-Geral da União-AGU (§ 3º do art. 103, CF/88); e aos
órgãos ou às autoridades das quais haja emanado a lei ou o ato normativo
impugnado (art. 6º da Lei n. 9868/99).

No caso da ADI nº 7143/DF, tendo sida ajuizada pelo PGR, demandará a


manifestação das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, órgãos
de onde emanou o texto (§ 3º do art. 60, CF/88), por meio das informações a que
alude o art. 6º da Lei nº 9868/99, e do AGU para defesa do texto impugnado.

Por outro lado, in casu, a manifestação opinativa da Procuradoria


Parlamentar decorre exclusivamente do pleito de um membro da Casa, formulado
em razão da impugnação do ato normativo (EC nº 110/2021) por ele relatado
durante o processo legislativo na CCJC e na Comissão Especial.

Nada obstante já esgotado o processo legislativo, verificamos que o pleito


exsurge vinculado aos esforços legislativos empreendidos por sua Excelência o
Deputado Vicentinho Júnior, enquanto representante eleito pelos cidadãos
tocantinenses, no decorrer da gestação da Emenda Constitucional que ora é
impugnada pelo PGR.

Tais contornos nos levam a concluir que a solicitação se insere entre as


atribuições da Procuradoria Parlamentar2, na medida em que o Parecer requerido
materializar-se-á como forma de representação dos interesses de um membro

2 Ato da Mesa n. 98/2019


Art. 4º São atribuições institucionais da Procuradoria Parlamentar da Câmara dos Deputados:
I – representar a Câmara dos Deputados, seus órgãos e membros, judicial e extrajudicialmente, postulando a defesa da
honra, da imagem, das prerrogativas e das imunidades dos parlamentares por atos praticados em razão de suas funções
institucionais.

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da Casa, em questão afeta à prerrogativa parlamentar para, enquanto Relator


na CCJC, opinar sobre a constitucionalidade, legalidade, juridicidade,
regimentalidade e técnica legislativa; e, enquanto Relator da Comissão Especial,
opinar sobre o mérito da PEC nº 397/2017.

Com essa delimitação dos contornos das atribuições deste Órgão de


representação, destacamos que a manifestação opinativa da Procuradoria
Parlamentar neste Parecer não caracteriza qualquer manifestação da Câmara
dos Deputados ou de seus órgãos. Caracteriza, como já explicitamos,
manifestação em representação de sua Excelência o Deputado Vicentinho Júnior,
formal e expressamente requerida por meio do e.Doc nº 457.957/2022.

Isto posto, passamos à análise das fundamentações exaradas pela douta


Procuradoria-Geral da República, na Inicial da ADI nº 7143/DF. O Órgão
ministerial sustenta que a inconstitucionalidade da EC nº 110/2021 adviria das
supostas afrontas “[...] às cláusulas pétreas da Constituição Federal (art. 60, § 4º, III e IV)
que consagram a separação de poderes (art. 2º), a autonomia dos entes federados (art. 18, caput),
os princípios da segurança jurídica e da coisa julgada (arts. 1º e 5º, XXXVI), o direito
fundamental de acesso a cargos e empregos públicos em condições de igualdade (arts. 5º, caput, e
37, II) e os princípios da moralidade, da probidade administrativa e da impessoalidade (art. 37,
caput).”

Passamos a opinar.

D OS E FEITOS : ADI Nº 598/TO VS . EC Nº 110/2021

O cerne da questio iuris versada na ADI nº 7143/DF diz com a suposta


ofensa à separação dos poderes e com a violação da coisa julgada operada em
25/11/1993 no bojo da ADI nº 598/TO, em razão do advento da EC nº 110/2021

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publicada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal em


13/07/2021.

A Inicial afirma que “[...] a finalidade primordial visada pela EC 110/2021 foi a
de reverter os efeitos da declaração de inconstitucionalidade proferida pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento da ADI 598/TO...”. Com essa premissa, sustenta que emenda
constitucional superveniente (no caso, a EC nº 110/2021) não é apta a convalidar
uma inconstitucionalidade já declarada pelo Supremo Tribunal Federal (no caso, a
ADI nº 598/TO) em sede de controle concentrado, na medida em que
configuraria usurpação e burla à jurisdição constitucional da Corte.

Impõe-nos questionar: a EC nº 110/2021 produziu o efeito jurídico de


convalidar a inconstitucionalidade declarada na ADI nº 7143/TO?

Definitivamente, não!

A ADI nº 7143/TO foi manejada pelo então governador do Estado do


Tocantins, Moysés Nogueira Avelino, visando à declaração de
inconstitucionalidade do art. 25 da Lei estadual nº 157/1990 e do art. 29 do
Decreto nº 1520/1990.

Sob a relatoria do então Ministro Paulo Brossard, a Corte julgou a ação


procedente para declarar a inconstitucionalidade de expressões que ofendiam o
preceito constitucional do amplo acesso aos cargos públicos. Assim constou da
ementa:

“[...] Declaração de inconstitucionalidade da expressão "inclusive para fins


de concurso público de títulos e provas" contida no par. único do art. 25
da Lei n. 157/90, do art. 29 e seu parágrafo único do Decreto n. 1.520, de
08.08.90, e da expressão "cabendo ao "Pioneiro do Tocantins", como
título, 30 (trinta) pontos, nos termos do art. 25, único, da Lei n. 157, de
27 de julho de 1990 e seu regulamento", contida no item 4.4 do edital de
concurso público de 15.10.90, publicado no D.O.E. de 16.10.90”. Sem grifos
no original
(ADI 598, Rel. Min. Paulo Brossard, Tribunal Pleno, publicado em
12/11/93).

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A declaração de inconstitucionalidade, por meio do processo objetivo de


controle concentrado de constitucionalidade, produz o efeito de retirar do
ordenamento jurídico a lei ou ato normativo incompatível com a Constituição.

Isso implica dizer que, com a declaração de inconstitucionalidade da ADI


nº 598/TO, as expressões contidas na Lei nº 157/1990 e no Decreto nº
1520/1990, que conferiam vantagens em concursos públicos aos Pioneiros do
Tocantins, foram extirpadas da ordem jurídica vigente.

Por sua vez, a EC nº 110/2021 versou sobre atos administrativos limitados


temporalmente (entre 1º de janeiro de 1989 e 31 de dezembro de 1994) e
necessariamente vinculados à situação excepcionalíssima e transitória da criação
do Estado do Tocantins. Vale retomarmos ao texto outorgado pelo Poder
Constituinte Derivado Reformador:

ADCT, Art. 18-A. Os atos administrativos praticados no Estado do


Tocantins, decorrentes de sua instalação, entre 1º de janeiro de 1989 e 31 de
dezembro de 1994, eivados de qualquer vício jurídico e dos quais decorram
efeitos favoráveis para os destinatários ficam convalidados após 5 (cinco)
anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
Extraímos cristalinamente desse texto constitucional tão somente o efeito
de convalidação de atos administrativos, que cumpram os seguintes requisitos: i)
tenham sido praticados pelo Estado do Tocantins decorrente de sua instalação; ii)
tenham ocorrido entre 1º janeiro de 1989 e 31 de dezembro de 1996; iii) tenham,
apesar da eiva de vício jurídico, gerado efeitos favoráveis aos destinatários; iv)
tenham produzido efeitos por cinco anos; e v) não haja comprovada má-fé do
destinatário.

Esse cotejo analítico dos efeitos da ADI nº 598/TO com os efeitos da EC


nº 110/2021 afasta absolutamente a alegada convalidação da inconstitucionalidade,
máxime em razão da distinção dos objetos: de um lado, a lei estadual impugnada
pelo controle concentrado; e, de outro, os atos administrativos do Estado do
Tocantins convalidados pela Emenda à Constituição.
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Ainda que, de forma diversa da situação em testilha, a reforma do


Constituinte Derivado Reformador houvesse criado norma para reestabelecer
vantagens aos Pioneiros do Tocantins em afronta ao princípio do amplo acesso
aos cargos públicos, não haveria de se cogitar qualquer desrespeito à separação dos
poderes ou à coisa julgada.

Isso na medida em que a eficácia erga omnes das decisões em controle


concentrado de constitucionalidade não vinculam o Legislativo e muito menos o
Poder Constituinte Derivado Reformador, consoante intelecção do § 2º do art.
102, CF/883 e do entendimento pretoriano construído pelo Supremo Tribunal
Federal.4

D A C ONSTITUCIONALIDADE M ATERIAL

Ao contrário da alegação ministerial na Inicial da ADI nº 7143/DF, a EC


nº 110/2021 teve por efeito a retirada da insegurança jurídica que inquinava alguns
dos atos praticados pelo Estado do Tocantins nos primeiros 5 anos de sua criação.

A convalidação efetuada almejou, assim, a segurança jurídica, primando pela


razoabilidade e proporcionalidade da medida que melhor se adequasse à situação
singular dos atos administrativos praticados nos anos inaugurais do Tocantins,
consoante se pode verificar dos anais da elaboração normativa.

Vejamos.

Durante o processo legislativo, o Constituinte Derivado Reformador


considerou a peculiaridade da situação ímpar da criação do Estado do Tocantins
e, em especial, de sua capital Palmas: uma imensa área de pasto foi, naqueles anos

3 Art. 102. [...] § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual
e municipal.
4 STF, Pleno, Rcl 2617 AgR/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 23.2.2005. (Rcl-2617), Inf. 377.

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de vida do novo ente federado, transformada pelas mãos dos Pioneiros que
ergueram – com “suor e sangue” e com muita determinação dos primevos gestores
administrativos – toda a estrutura da malha viária urbana e das centenas de
edificações que acolheram a sede do governo estadual em Palmas.

Do alto de sua legitimidade constitucional, o Constituinte Reformador


captou e considerou essa situação excepcional oriunda da obra do Constituinte
Originário que, por meio do art. 13 do ADCT da Carta de Outubro,5 conferiu a
“certidão de nascimento” ao Estado do Tocantins, cuja localização territorial6 até
então inóspita deu ensejo às hercúleas dificuldades que os desbravadores Pioneiros
vieram a enfrentar.

Durante a tramitação da PEC nº 48/2015 perante a CCJ do Senado Federal,


o Relator, o então Senador Valdir Raupp, assentou em seu Parecer (In.:
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3961063&ts=1630444988117&disposition=inline)

todo esse contexto histórico excepcional que deu ensejo à EC nº 110/2021.


Colacionamos este significativo excerto do Parecer:

“[...] Com a promulgação da Constituição Federal de 1998, foi criado, por


desmembramento de uma parcela de Goiás, o Estado do Tocantins. De
forma ainda mais brusca e abrupta do que aconteceu com os ex-
territórios, que foram transformados em estados, Tocantins teve que se
estruturar do zero, sendo toda a estrutura física e humana dos órgãos
públicos construída concomitantemente à criação do próprio estado.
No caso do Estado do Tocantins, há uma peculiaridade que justifica a emenda
em tela, que é a criação do Estado praticamente do nada. No novo Estado
recém-criado, somente a BR 153 era pavimentada, e o acesso a Porto
Nacional era viabilizado somente por uma ponte. O sistema de saúde era
inexistente, a rede de ensino era precária, assim como a de saneamento. As
terras não eram legalizadas e a segurança pública dependia dos coronéis da
época.

5 ADCT, Art. 13. É criado o Estado do Tocantins, pelo desmembramento da área descrita neste artigo, dando-se sua
instalação no quadragésimo sexto dia após a eleição prevista no § 3º, mas não antes de 1º de janeiro de 1989.
6 ADCT, Art. 13. [...] § 1º O Estado do Tocantins integra a Região Norte e limita-se com o Estado de Goiás pelas divisas
norte dos Municípios de São Miguel do Araguaia, Porangatu, Formoso, Minaçu, Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e
Campos Belos, conservando a leste, norte e oeste as divisas atuais de Goiás com os Estados da Bahia, Piauí, Maranhão,
Pará e Mato Grosso.
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A existência de uma conjuntura precária e incipiente teve que se


ajustar ante às necessidades do povo tocantinense. O aparato estatal
tinha que funcionar e, para tanto, diversas medidas foram tomadas, tais como:
(i) concessão de certidões de registro civil; (ii) edição de decretos de
nomeação de servidores; (iii) desapropriação de imóveis; etc. Naquele tempo,
os atos foram praticados em um contexto de premente necessidade de
melhoramento das condições sociais do estado recém-criado. Destaca-
se que foram atos praticados com boa-fé e com vistas ao interesse público.
Analisando a história do Estado do Tocantins, observa-se realmente que o
Estado foi criado a partir de uma situação peculiar, ou seja, a partir do
nada, o que ensejou providências imediatas. [...]
Isso porque, embora a situação de Tocantins tenha sido realmente a mais
dramática de todas, casos semelhantes ocorreram em todos os outros Estados
da Federação, em especial nos que foram criados mediante a transformação
de Territórios Federais. A rigor, em todas as unidades da Federação, com a
revolução jurídica trazida pela Constituição de 1988, surgiram várias e
relevantes dúvidas sobre a aplicação do novo texto, o que deu origem a
situações que, praticadas de boa-fé, foram, depois, consideradas irregulares.”
Sem grifos no original
(https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3961063&ts=1630444988117&disposition=inline)
Durante a tramitação na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, a
Proposta, renumerada para PEC nº 397/2017, foi relatada por sua Excelência o
Deputado Vicentinho Júnior, que, de maneira semelhante, assentou em seu
Parecer (In: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2040966&filename=PPP+1+PEC39717+%3D%3E+PEC+397/2017) as
condições singulares dos anos iniciais do Estado do Tocantins. Vejamos:

“[...] A conjuntura administrativa precária e incipiente contrastava com


a premência na adoção de diversos atos administrativos voltados ao
melhoramento das condições sociais da população do Estado recém-
criado.
Nesse sentido, não foram poucos os desafios na prestação dos mais
variados serviços públicos, na organização do aparato estatal, inclusive
a contratação de novos servidores, na emissão das certidões de registro
civil, na adoção de atos fazendários, entre tantos outros voltados ao
atendimento dos interesses da população em geral.
Os honrosos administradores e servidores públicos que aceitaram o desafio
de construir um novo Estado, da fundação até a laje como se diz no popular,
o fizeram mediante sacrifício pessoal e de seus familiares, consideradas as
severas condições a que foram submetidos esses pioneiros, desde as
incertezas da empreitada, à carência de alimentação, hospedagem e

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atendimento médico, aos parcos recursos materiais ou tecnológicos e às


instalações laborais precárias.
Tais agentes públicos não apenas cumpriram com louvor essa missão, como
também praticaram os competentes atos administrativos com vistas ao
interesse público, o que justifica a proposta de sua convalidação, notadamente
aqueles praticados em decorrência da criação do Estado. [...]” Sem grifos no
original
(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2040966&fil
ename=PPP+1+PEC39717+%3D%3E+PEC+397/2017)

A Lei Estadual nº 157, publicada em 27 de junho de 1990, veio a lume


justamente no contexto dos esforços administrativos para viabilizar o implemento
da força de trabalho que iria compor os quadros de pessoal do Poder Executivo
do Estado do Tocantins.

Entre as diversas outras disposições da Lei nº 157/1990, fato é que a


previsão de vantagens em concursos públicos aos Pioneiros foi declarada
inconstitucional pela ADI 548/TO e, assim, o permanece, de modo que não se
remanesce qualquer cogitação no sentido de os detentores do título de Pioneiro
utilizarem a qualificação para fins de concursos públicos.

Por outro lado, certo é que diversos atos administrativos foram praticados
com base nas disposições – que posteriormente viram a ser declaradas
inconstitucionais – da Lei nº 157/1990, à época em que elas ainda integravam o
ordenamento jurídico e, portanto, eram presumidamente válidas e eficazes.

A situação jurídica dos destinatários de boa-fé, que nada mais fizeram a não
ser cumprir a legislação então vigente e presumidamente válida e eficaz, passou a
ser inquinada de uma enorme insegurança jurídica.

As discussões em relação à situação jurídica desses destinatários de boa-fé


até hoje não se encontram pacificadas, na medida em que ainda são discutidas
judicialmente, como ocorre no caso da Ação Declaratória de Nulidade (Processo
nº 0009957-51.2020.8.27.2700) ajuizada em 30/60/2020 – data bem anterior à da
publicação da EC nº 110/2021 – por 92 auditores fiscais.
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Captando tanto a mens legis da EC nº 110/2021 quanto a mens legislatoris do


Constituinte Reformador, o Tribunal de Justiça tocantinense deferiu tutela
provisória de urgência para determinar a reintegração dos 92 auditores fiscais ao
cargo do qual foram exonerados após mais de cinco anos de exercício, a qual, nada
obstante, encontra-se suspensa por decisão proferida nos Autos da STP 855/TO
pelo Ministro Presidente do STF Luiz Fux.

É exatamente essas discussões judiciais advindas da insegurança jurídica dos


atos administrativos daqueles anos inicias que o Constituinte Reformador buscou
pacificar, fazendo-o de maneira a preservar a justa expectativa dos destinatários de
boa-fé e de maneira a promover o reconhecimento mais do que merecido aos
Pioneiros tocantinenses.

Entendemos que todo esse recorte fático singular foi captado legitimamente
pelo Constituinte Reformador, que, de forma pertinente e perspicaz, inseriu
cirurgicamente o Art. 18-A ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
da Carta Constitucional, para conferir segurança jurídica aos atos administrativos
inaugurais do novo ente federado que foi concebido pelo Art. 13 do mesmo
diploma.

Preocupação essa que foi altivamente registrada por sua Excelência o


Deputado Vicentinho Júnior em seu Parecer de mérito.

“[...] Com esse desiderato, observa-se que a proposta ora analisada


concretiza os princípios constitucionais da segurança jurídica e da
boa-fé subjetiva.
O princípio da segurança jurídica ou da boa-fé dos administrados (também
denominado de proteção à confiança dos administrados), ao lado da
legalidade, representa um dos componentes fundamentais do Estado de
Direito, razão pela qual ele pode ser considerado como um princípio implícito
do Estado Democrático de Direito, preconizado pelo art. 1º da Carta Magna.
A segurança jurídica tem por objetivo proteger situações já
definitivamente consolidadas no passado, sob o manto do direito então
vigente e devidamente chancelada por atos da administração pública.
[...]

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Entende-se que, salvo nos casos de dolo ou fraude, é possível a convalidação


de atos administrativos, em homenagem aos princípios constitucionais da
segurança jurídica e da boa-fé dos administrados.
O próprio Supremo Tribunal Federal já assentou entendimento que a
anulação de atos administrativos após decurso de prazo razoável, excetuados
os casos de má-fé do administrado, viola a segurança jurídica, como no
julgamento do Mandado de Segurança no 22.357 (DJ de 05.11.2004), entre
outros.
Ora, a PEC no 397, de 2017, ressalva as situações de má-fé, as quais não
poderão ser objeto de convalidação administrativa. Com a ressalva dessas
situações, a convalidação dos atos praticados pelo Estado do Tocantins
decorrentes de sua instalação, entre 1º de janeiro de 1989 e 31 de dezembro
de 1994, concretizará os princípios constitucionais da boa administração
pública, tendo em vista o interesse social preponderante na manutenção de
tais atos praticados com o objetivo de organizar a Unidade Federada recém-
inaugurada e prover o bem-estar e o desenvolvimento social de sua
população.”
(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2040966&fil
ename=PPP+1+PEC39717+%3D%3E+PEC+397/2017)

Toda essa dinâmica singular, captada e legitimamente outorgada, implica: i)


de um lado, a demonstração inequívoca da análise meritória efetivada, válida e
eficazmente, pelo Constituinte Derivado Reformador, por meio de juízos de
ponderação, consagrando-se a solução necessária, adequada e proporcional em
sentido estrito; ii) e, de outro, que a alta densidade de carga normativa conferida
ao dispositivo impugnado impõe relevo ao self restraint, na medida em que o judicial
review revestir-se-ia em indisfarçável revisão do mérito político, em excesso aos
limites da jurisdição constitucional.

D AS C ONCLUSÕES

Com essas digressões, por primeiro, a Procuradoria Parlamentar destaca


que o Parecer ora formulado se materializa exclusivamente em representação de
sua Excelência o Deputado Vicentinho Júnior, consoante solicitação feita, formal
e expressamente, por meio do e.Doc nº 457.957/22 e, portanto, não caracteriza
qualquer manifestação da Câmara dos Deputados ou de seus órgãos.
Câmara dos Deputados, Anexo I, 17º Andar, Sala 1704 - Brasília/DF - CEP 70.160-900
Fone +55 (61) 3215-8530 / Fax +55 (61) 3215-8535
E-mail: juridico.propa@camara.leg.br
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Procuradoria Parlamentar

Por segundo e à vista dessas constatações fático-meritórias que imantam


densidade normativa ao conteúdo da EC nº 110/2021, a Procuradoria Parlamentar
adota os seguintes entendimentos:

1º) As cargas de eficácia da ADI nº 598/TO e da EC nº 110/2021 são


diversas e, portanto, a publicação do Art. 18-A do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias não afetou a inconstitucionalidade declarada pela
ADI nº 598/TO;

2º) A Obra do Constituinte Derivado Reformador, analisada em seu


aspecto material, é plenamente constitucional, porquanto não afeta qualquer dos
vetores principiológicos protegidos pelo manto das cláusulas pétreas do § 4º do
art. 60 da CF/88.

É o parecer.
Câmara dos Deputados, 18 de maio de 2022
THIAGO Assinado de forma
digital por THIAGO
ELIZIO LIMA ELIZIO LIMA
PESSOA:7182 PESSOA:71820973115
Dados: 2022.05.18
0973115 10:14:56 -03'00'

THIAGO ELIZIO LIMA PESSOA


OAB-DF 48.973

PATRICIA DAHER Assinado de forma digital por DIANA Assinado de forma digital
por DIANA SEGATTO
PATRICIA DAHER RODRIGUES
SEGATTO 14:50:58 -03'00'
RODRIGUES Dados: 2022.05.25
SANTIAGO
SANTIAGO Dados: 2022.05.25 14:52:24 -03'00'

PATRÍCIA DAHER R. SANTIAGO DIANA SEGATTO


OAB-DF 20.865 OAB-DF 38.190

De acordo:

Deputado LUÍS TIBÉ


Procurador Parlamentar
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