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EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

Ao lado das execuções gerais alinhadas no CPC (execução por quantia certa, execução das
obrigações de fazer e de não fazer e execução para entrega de coisa) temos execuções especiais
previstas no próprio CPC e em legislação esparsa, como tal na Lei n. 6.830/80, que disciplina a
execução fiscal.
Também a chamada Lei de Alimentos (n. 5.478/68) fornece alguns parâmetros especiais de
execução. Vale ressaltar que a Lei 13.105/2015 (CPC) revogou expressamente os artigos 16, 17 e
18 da referida lei, conforme dispõe o art. 1072, V do CPC.

A obrigação de prestar alimentos em favor de determinada pessoa pode se originar de vários


atos ou fatos jurídicos, dentre elas:
a) alimentos decorrentes de relação de parentesco (jus sanguinis)
b) alimentos decorrentes de relação matrimonial desfeita
c) alimentos decorrentes de união estável desfeita
d) alimentos decorrentes do descumprimento de regra contratual
e) alimentos decorrentes da prática de ato ilícito

Na matéria de família, (dever de prestar alimento: de pais em favor de filhos e de cônjuge ou


de companheiro em favor do outro, e vice-versa), autoriza-se a propositura da ação de alimentos,
regrada pela Lei 5.474/68, que é demanda de rito especial, reclamando prova pré-constituída da
relação de parentesco ou da obrigação que justifica o exercício do direito de ação.
Na dinâmica da ação de alimentos, em ato contínuo à apresentação da petição inicial, o juiz
arbitra alimentos provisórios. (art. 4º, LA)1.

Alimentos concedidos liminarmente, na ação de alimentos em rito especial, denominam-se


alimentos provisórios (Lei de Alimentos, art. 4º).
Lembrando que na ação de alimentos busca-se o reconhecimento judicial da exigibilidade
de prestar alimentos, visando constituir um título judicial. Não se trata ainda de execução de
alimentos.

O credor de alimentos reconhecido em um título executivo pode, em caso de


descumprimento da obrigação por parte do devedor, ajuizar AÇÃO DE EXECUÇÃO de alimentos
provisórios e definitivos, conforme seja o título a que disponha.
A depender da espécie do título, a execução será autônoma, se baseada em título
executivo extrajudicial; ou cumprimento de sentença, se o título for judicial.
Os alimentos podem ser fixados tanto por sentença ou decisão interlocutória, como também
por escritura pública ou acordo extrajudicial (art. 13 do estatuto do idoso 2, separação/divórcio por
escritura pública e acordo referendado pelo MP ou pela defensoria pública, vide art. 784, IV).
Assim, no NCPC há tanto o processo autônomo de execução de alimentos, fundado em
título executivo extrajudicial (art. 911 a 913), quanto a modalidade de cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos (art. 528 a 533).

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Observação: se nós recebemos um “assistido” no Núcleo de Prática Jurídica, que traz em mãos um
mandado de citação de ação de alimentos, tem-se que fazer contestação e deixá-la pronta para a 1ª
audiência. O alimentante/réu deverá ficar ciente de que constitui devedor desde a citação (art. 13, §
2º LA) e poderá ser executado e até ser preso, conforme o caso. Devemos orientá-lo sobre a
conciliação. Caso prospere a conciliação, não será necessário entregar a contestação. (rito especial).
2
Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça
ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos
termos da lei processual civil.
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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE


OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS

A obrigação legal, voluntária ou indenizatória de prestar alimentos pode ser fixada por
intermédio de sentença transitada em julgado (alimentos definitivos) ou em decisão interlocutória
(alimentos provisórios), proferida em ação de separação ou de divórcio, reconhecimento e
dissolução de união estável, sentença declaratória de reconhecimento de paternidade,
sentença penal condenatória.

Modos de executar alimentos:

a) coerção (prisão civil), pelo rito do art. 528, §§ 1º a 7º)3;


b) desconto em folha de pagamento da prestação alimentícia (art. 529).
c) expropriação de bens do devedor, pelo rito do art. 523 e § 8º do art. 528);
Vale esclarecer que o crédito de natureza alimentar não deixa de ser uma dívida pecuniária,
ou seja, que se satisfaz, em regra, com a entrega de dinheiro. Todavia, o sistema processual dotou o
credor de alimentos de outros mecanismos destinados à satisfação do crédito, mais ágeis do que os
disponíveis para os créditos de outra natureza, porque os alimentos não se equiparam às dívidas
comuns. O inadimplemento da prestação alimentar não ocasiona meramente diminuição
patrimonial, mas risco à própria sobrevivência do alimentando. O bem jurídico envolvido remete
diretamente à dignidade humana (um dos fundamentos da República – art. 1º, III, da CF). Daí a
necessidade de meios mais eficazes para a essa modalidade de execução.
De acordo com o § 7º do art. 528 do NCPC, o débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende até as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as
que se vencerem no curso do processo.
Podem ocorrer sucessivos decretos de prisão, tantos quantos forem as prestações que
eventualmente venham a ser inadimplidas, no futuro. O fato de ter sido preso não exime o devedor
de pagamento.
As prestações anteriores às três últimas devem seguir o rito do cumprimento de sentença de
obrigação de pagar, não sendo admissível a prisão do devedor, e processando-se pela penhora e
expropriação de bens. Assim, se o devedor demonstrar que inadimpliu por fatores estranhos à sua
vontade, estará afastada a hipótese de prisão.
Outra opção de execução está no art. 529, em que a lei confere a possibilidade de desconto
em folha, caso o executado for funcionário público ou outro empregado em que se sujeita à
legislação trabalhista. Trata-se de providência executiva que vai além de penhora (veja que o § 2º
do art. 833 traz ressalva expressa no sentido de que a regra da impenhorabilidade dos salários não
alcança os alimentos).
A novidade é está no § 3º do art. 529. Traz expressa possibilidade de se proceder ao
desconto em folha de pagamento não só das prestações vincendas como também das prestações
vencidas. Pode-se, assim, descontar dos rendimentos salariais do devedor, de forma parcelada, as
parcelas em atraso, desde que somadas ao desconto da parcela devida naquele mês, não ultrapasse
50% do valor líquido de seus rendimentos.
Tratando-se, pois, de prestações com caráter alimentar, está expressamente permitido excutir
até 50% dos rendimentos salariais líquidos do executado.
SE mesmo diante dos meios executivos diferenciados previstos nos artigos antecedentes
(528 e 529) – prisão civil e desconto em folha – não se lograr êxito no recebimento dos alimentos,
restará ao exequente os meios executivos normais previstos para a execução de uma obrigação de
pagar, iniciando-se com a penhora e caminhando para os meios expropriatórios regulares (art. 530).

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A norma constitucional expressa: “inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia” (art. 5º, LXVII,
CF).
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PROCEDIMENTO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE ALIMENTOS

O cumprimento do título judicial que reconhece uma obrigação alimentícia inicia-se a


requerimento do exequente. O executado será intimado pessoalmente para em três dias:

a) efetuar o pagamento. Fato que determinará a extinção da execução;


b) provar que já pagou, produzindo prova através de advogado. Extingue por sentença.
c) justificar a impossibilidade de pagamento. Sendo impossível o adimplemento, a execução não se
extingue, uma vez que o crédito persiste e a impossibilidade pode ser apenas momentânea. Apenas
a prisão será afastada. Consulta-se o credor e suspende o processo até que o credor encontre outros
meios capazes de viabilizar a execução (encontre emprego, adquira bem capaz de rendimento ou
penhorável, etc,).
A justificativa ou prova de que já adimpliu a prestação não representam impugnação, mas
defesa que não se destina atacar o título executivo.
Se o devedor não pagar, nem justificar, o pronunciamento será protestado, nos termos do art.
517.
Assim, mediante o NÃO pagamento, além do protesto, o juiz ordenará a prisão do executado
pelo período de uma a três meses, em regime fechado, devendo ficar separado dos outros.
O exequente pode optar por esta execução especial, com a possibilidade de prisão, ou pela
execução normal, sem a coerção da prisão e voltada exclusivamente aos atos expropriatórios.
Havendo necessidade de se executar prestações alimentícias de um período longo, devem ser
manejadas duas execuções: uma especial, relativa aos três últimos meses e outra normal, regulada
pelos arts. 523 e ss.
Na hipótese de ser utilizada a execução normal, ressalva-se expressamente pelo § 8º que
eventual efeito suspensivo concedido à impugnação do executado não impedirá o levantamento
mensal da importância da prestação.
No que se refere á competência, o § 9º do art. 529, acrescenta ao lado das opções
catalogadas no art. 516, parágrafo único, mais uma opção: o exequente pode optar pelo juízo de seu
domicílio.
O art. 531 dispõe que se os alimentos forem definitivos (de caráter permanente, embora
possam ser revistos), o cumprimento definitivo da obrigação será processado nos mesmos autos em
que tenha sido proferida a sentença (§ 2º do art. 531).
Em caso a execução dos alimentos provisórios (fixados liminarmente, a título de antecipação
da tutela, em ações de alimentos, ou cuja sentença não transitou em julgado), a execução processa-
se em autos apartados (§ 1º do art. 531).
O art. 532 do NCPC dispõe que em caso de conduta procrastinatória do executado o juiz
deverá dar ciência ao MP dos indícios da prática de crime de abandono material. Trata-se de crime
tipificado pelo art. 244 do CP. Caso o MP, na condição de titular da ação penal pública, entender ter
havido o delito, deve denunciar o executado, instaurando-se a competente ação penal. Uma vez
instaurada a ação penal, caberá o juiz criminal decidir se houve ou não o crime e, se condenado, o
réu sofrerá as sanções penais decorrentes.
Registre-se que tal possibilidade só se abre para a hipótese de alimentos legítimos, referindo-
se ao dever de assistência familiar, circunscrevendo tal dever ao cônjuge, descendentes ou
ascendentes.
Por outro lado, quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o art. 533
confere à possibilidade de o alimentando requere que o juiz determine ao executado constituir
capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão (art. 533). Trata-se de norma
voltada precipuamente aos alimentos indenizativos, reconhecidos por título judicial ou extrajudicial.

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