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E.E.E.

M Vila Prado

Vigiar e punir Sociologia

Turma: 204
Nome: Arthur Martins
Sapucaia do Sul, agosto de 2022
Biografia do Autor:

Michel Foucalt nasceu no dia 15 de outubro de 1926 em Poitiers, na França, no seio de


uma família de médicos. Licenciado em Filosofia e graduado em Psicologia Patológica, foi
psicólogo em hospitais e em penitenciárias. Também foi professor universitário na Alemanha,
Estados Unidos, Suécia, Tunísia, entre outros países. Deu conferências em muitos lugares no
mundo, dentre os quais no Brasil, onde esteve em 1965 pela primeira vez. Escreveu para
vários jornais e publicou diversos livros. Faleceu em Paris, no dia 25 de junho de 1984 em
decorrência da AIDS. Obras A primeira obra de Foucault foi Doença Mental e Psicologia, que
data de 1954. Na sequência, publicou: • História da Loucura (1961), sua tese de doutorado •
Doença Mental e Psicologia (1962) • O Nascimento da Clínica (1963) • As Palavras e as
Coisas (1966) • A Arqueologia do Saber (1969) • Isto não é um Cachimbo (1973) • Vigiar e
Punir (1975) História da Sexualidade é o livro cujo projeto compreendia a publicação de 6
volumes que, entretanto, não conseguiu acabar. Publicou o primeiro volume, A Vontade de
Saber, em 1976. Em 1984, ano da sua morte, publicou O Uso dos Prazeres e O Cuidado de Si.
Resenha:

Michel Foucault (1926/1984) foi um pensador e filósofo francês, que possui um acervo
considerável de trabalhos publicados durante a carreira de escritor. Foucault também
desenvolveu, no Collège de France, a importante pesquisa e o estudo sobre a estrutura das
instituições judiciais e penitenciárias antigas e modernas. A obra objeto desta resenha, qual
seja, “Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões”, é sem dúvida de grande importância
para o meio jurídico e social, em especial no âmbito penal, pois faz um verdadeiro estudo
filosófico e histórico sobre o surgimento da prisão e sobre as penas enquanto meio de suplício
e coerção, meio de disciplina e aprisionamento do ser humano, revelando a face social e
política desta forma de controle social aplicado ao direito e às sociedades de antigamente,
especialmente naquelas em que perdurou por muitos séculos o regime monárquico. Apesar de
passados mais de 40 anos desde a publicação da obra supracitada, as considerações feitas por
Michel Foucault continuam extremamente relevantes e recentes para a contemporaneidade,
visto que o livro trata de temas que são de suma importância para a sociedade e que geram
grandes discussões tanto no plano acadêmico quanto no plano social. “Vigiar e Punir: História
da Violência nas Prisões” está construída em quatro partes, sendo elas o “suplício”, a
“punição”, a “disciplina” e a “prisão”. 1. Suplício Foucault apresenta inicialmente o estudo e
explanação do suplício no século XVIII como maneira de punição aos condenados. Ele narra
com riqueza de detalhes a tortura, suplício e esquartejamento de um parricida chamado
Damiens, em 1757, e expõe dois documentos que evidenciam dois estilos penais diferentes. O
primeiro documento é a explanação de um suplício, que segundo o autor, eram “penas
corporais, dolorosas, mais ou menos atroz [excesso de crueldade]”. Ainda segundo o autor,
“era um fenômeno inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a
crueldade”. Já o segundo documento expõe alguns artigos do código de execução penal, com
toda a sua utilização limitada do tempo e sua sutileza cruel e punitiva. Os suplícios eram a
marca do período compreendido entre os séculos XVI e XVIII, no qual as penas privativas de
liberdade eram totalmente desconsideradas. Obviamente, o sofrimento é um dos pontos vitais
deste tipo de pena, mas não é o único, posto que o objetivo dos suplícios ultrapassava a mera
punição do condenado. Michel Foucault afirma que para uma pena ser considera um suplício
ela deve obedecer três critérios principais: “[...] uma pena, para ser considerada um suplício,
deve obedecer a três critérios principais: em primeiro lugar, produzir uma certa quantidade de
sofrimento que se possa, se não medir exatamente, ao menos, apreciar, comparar e
hierarquizar; [...] o suplício faz parte de um ritual. É um elemento na liturgia punitiva, e que
obedece a duas exigências, em relação à vítima, ele deve ser marcante: destina-se a [...] tornar
infame aquele que é a vítima. [...] e pelo lado da justiça que o impõe, o suplício deve ser
ostentoso, deve ser constatado por todos, um pouco como seu triunfo. [...]” (p. 36 – 37) O
suplício tinha como característica predominante o poder do Estado sobre o corpo do
sentenciado, sendo este o principal alvo da repressão penal. Por ser um espetáculo punitivo, o
suplício era meticulosamente orquestrado para demonstrar o poder do soberano – monarca –
sobre os seus súditos, como forma de mostrar toda a sua força e a sua intolerância para com
aqueles que ousavam desafiar as leis impostas ou mesmo desafiar o seu poder. Dessa forma, o
repúdio público à que o corpo dos acusados era exposto constituía não só uma violência
física, mas também uma violência psicológica em todos os atores do ato de penalização. Vale
ressaltar que a participação popular era fundamental nos rituais de suplício, pois conferiam-
lhe legitimidade. Pelo fato de as pessoas não serem meras espectadoras, o ritual que seria
inicialmente considerado ilegal, tornava-se legalizado. Visto que os suplícios eram uma forma
de aprazer o soberano e seus interesses e, portanto, tinham um conteúdo muito mais político
do que jurídico, uma parcela da sociedade se voltou contra esta forma condenatória. Assim, o
pensamento e o desafio do momento era encontrar novas formas de punir, pois o suplício
havia se tornado intolerável. A tarefa de encontrar novas maneiras de punir ficou à cargo dos
legisladores, juristas, pensadores e filósofos do século XVIII. Punição A segunda parte de
“Vigiar e Punir” é composta por dois capítulos, sendo eles: a “punição generalizada” e a
“mitigação das penas”. No primeiro capítulo, Foucault versa sobre a mudança da forma de
punição e trata sobre os protestos contra os suplícios durante o século XVIII, pois os cidadãos
da época passaram a acreditar que a justiça criminal deveria punir o criminoso e não apenas se
vingar dos condenados. Neste período houve uma transformação nos tipos de crime, que
passaram de agressões e homicídios para crimes patrimoniais, pois houve grande aumento de
riquezas, e com o grande crescimento econômico, o alvo principal dos crimes eram os bens. A
classe política dominante da época, qual seja, a burguesia, não se interessava se a pena fosse
empregada como uma forma de espetáculo, de modo que era necessário uma repressão
efetiva, a fim de diminuir a prática de tais desvios e, portanto, buscou-se uma forma mais
humanitária de aplicação da sanção penal. O período humanitário foi guiado pelos
pensamentos de Cessare Beccaria. Ele abandona o caráter cruel e irracional da aplicação da
pena, trazendo, portanto, uma maior proporcionalidade entre o crime e a respectiva sanção.
Assim sendo, as punições vão diminuindo de intensidade, tendo intervenções, pois há uma
considerada diminuição nos crimes de sangue. Apesar disso, o autor faz severas críticas a este
movimento, pois para ele o discurso dos humanitaristas tratou-se meramente de um discurso
político e econômico sustentado pelos burgueses, que buscavam a diminuição dos crimes
patrimoniais. Disciplina Para o autor, a ideia, e até mesmo a missão de acabar por completo
com o sistema penitenciário é deveras complexa e chega a ser irrealizável. O motivo é que,
segundo Foucault, a prisão como conhecemos hoje é apenas uma etapa em direção ao
disciplinamento do indivíduo, o qual passaria por várias etapas, como por exemplo a família,
a escola e as estações de trabalho. Desta forma, a prisão seria a última medida de controle
sobre o indivíduo, a qual seria empregada apenas quando as demais instituições disciplinares
fracassassem, de modo que, em resumo, derrubar a prisão seria o mesmo que derrubar as
instituições disciplinares. Foucault lembra, em determinado momento no livro, que “[...] a
disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos ‘dóceis’. A disciplina
aumenta as forças dos corpos (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas
forças (em termos políticos de obediência) [...].” (p. 164 – 165) Assim, é necessário entender
que é impossível dissociar a existência das instituições disciplinares com o lado econômico,
em especial com a burguesia. Foucault diz que a disciplina era (e ainda é) utilizada como uma
forma impedir que o subordinado se voltasse contra as ordens emanadas pelo “superior”. Ora,
o mundo ideal para um burguês é justamente aquele em que o seu subordinado faz o que ele
manda sem questionamentos, de modo que trabalha sem revolta e gera, por consequência,
mais riquezas para ele. Esta parte do livro sob análise é subdivida em três capítulos, sendo
eles os “corpos dóceis”, os “recursos para o bom adestramento” e o “panoptismo”. Na visão
do autor, um corpo dócil é aquele que pode ser utilizado, submetido a transformações e
aperfeiçoamentos, ou seja, um corpo dócil é aquele que é facilmente manipulável,
disciplinável, subjugável. No subcapítulo “corpos dóceis” o autor descreve quatro
mecanismos disciplinares na formação de corpos dóceis. O primeiro é o chamado de “arte das
distribuições”. Deste subcapítulo pode-se retirar o entendimento de que a produção de um
corpo dócil só é possível através de uma distribuição no espaço físico. Aqui, Foucault
certifica que a massa (popular) confusa se torna ferramenta de trabalho eficiente, o que deixa
evidente a ligação da disciplina como um mecanismo de controle a ser utilizado a favor da
burguesia. O segundo mecanismo seria o “controle das atividades”, de forma a limitar o
horário e controlar o tempo. Em síntese, o correto seria pregar pela a ausência de ociosidade,
de modo que não eram permitidas distrações e “vagabundagem” por parte dos vigiados. A
“organização das gêneses”, por sua vez, determina que o indivíduo a ser docilizado passa por
várias etapas de formação, seu processo é dividido em classes, medido por provas, melhorado
por exercícios. Por fim, a “composição das forças” estabelece que todo treinamento converge
para um ponto máximo onde a composição de forças gera o máximo de eficiência, sendo que
a máquina articulada não permite refletir, o corpo treinado se liga e se reproduz. Na última
parte o livro, que talvez seja a mais conhecida da obra, Foucault disserta sobre o panoptismo,
que foi desenvolvido por Jeremy Bentham no final do século XVIII, mais precisamente em
1791, sendo que a sua a expressão deriva da palavra grega “Panopticon”, a qual significa “o
que tudo vê”. Este sistema acreditava na hierarquia e no constrangimento espacial como
estratégias para atingir o controle sobre as pessoas. Ele induz na pessoa observada um estado
consciente e permanente de visibilidade, o que, segundo declarou Foucault, assegura o
funcionamento automático do poder. O panoptismo encontra-se presente não só no nosso
sistema penitenciário, mas também nos locais em que há convivência social, com a utilização
de câmeras. Prisão Atualmente, diversas são as críticas a respeito da situação carcerária
brasileira, sendo inclusive falado na falência do sistema carcerário, que é falho não só no seu
papel de ressocialização dos condenados, mas na oferta de condições minimamente dignas de
humanidade. Diante disso, resta indagar o motivo da pena privativa de liberdade continuar
sendo a principal forma de expressão do poder punitivo estatal, mesmo com um sistema
falido. Foucault tem uma boa explicação para isso. Segundo ele, a função real (oculta) da
pena, ao contrário do que pregaram os juristas, não tem por objetivo o combate à
criminalidade, mas simplesmente busca criá-la. “Se tal é a situação, a prisão, ao
aparentemente “fracassar”, não erra seu objetivo; ao contrário, ela o atinge na medida em que
suscita no meio das outras uma forma particular de ilegalidade, que ela permite separar, pôr
em plena luz e organizar como um meio relativamente fechado mas penetrável. Ela contribui
para estabelecer uma ilegalidade, visível, marcada, irredutível a um certo nível e secretamente
útil — rebelde e dócil ao mesmo tempo; ela desenha, isola e sublinha uma forma de
ilegalidade que parece resumir simbolicamente todas as outras, mas que permite deixar na
sombra as que se quer ou se deve tolerar. [...]” (p. 304) Em outras palavras, a prisão não é um
fracasso, mas sim, um sucesso, porque ela consegue, como nenhuma outra instituição,
produzir uma espécie de delinquência organizada, que normalmente é violenta. É pensando
nisso, que se procurou durante muito tempo implementar o sistema panóptico dentro do
sistema penitenciário, pois este tem por objetivo exercer a disciplina sobre os condenados, a
fim de limitar o espaço do desviante, de modo a coibi-los de elaborem planos e montarem
rebeliões contra o próprio sistema penitenciário. É na parte final do livro que Foucault resume
a tese principal de seu livro ao mostrar que antes da prisão ser inaugurada como peça das
punições, ela já havia sido gestada na sociedade a partir do momento em que os mecanismos
de poder repartiam, fixavam, classificavam, extraíam forças, treinavam corpos, codificavam
comportamentos, mantinham sob visibilidade plena, constituíam sobre eles um saber que se
acumulava e se centralizava sobre os indivíduos. Foucault encerra o livro com um texto
anônimo publicado no jornal La Phalange, de 1836, para mostrar que os mecanismos
apresentados em “Vigiar e Punir” não são o funcionamento unitário de um aparelho
(finalizado e vencedor), mas são estratégias postas em uma batalha que até hoje não cessou.
Considerações Finais:

Em Vigiar e Punir, Michel Foucault mostra por que a Justiça deixou de aplicar torturas
mortais e passou a buscar a "correção" dos criminosos. Embora esteja longe de ser um
romance, o livro Vigiar e Punir começa com uma narrativa eletrizante, capaz de revirar os
estômagos mais sensíveis. O livro traz a compreensão de que o poder não é só uma força
exercida verticalmente, de cima para baixo, mas atravessa e constitui cada espaço das relações
no interior das sociedades. Em Vigiar e Punir, Foucault debruça-se sobre os processos
disciplinares nas prisões, em especial na França. Reflete o motivo pelo qual as torturas deram
lugar ao encarceramento das prisões, pretendendo que essa fosse a forma mais adequada de
correção. Pode-se falar que, segundo Foucault, a lei é simbolizada no corpo punido. A mesma
lei que é desrespeitada é a que impõe suplícios e expressa a vontade do soberano, segregando,
também, o agressor (criminoso). A lei aplicada é executada procedimentalmente, num
verdadeiro teatro político a condição de aceitação da prisão é a coerção: uma sociedade inteira
baseada no princípio de que vigiar é mais produtivo que punir. Em suma, este novo plano de
imanência, que brota de determinadas condições históricas, estabelece o nexo entre a punição
e o cotidiano moral.
Autor da Resenha:

Lorena Povoas Advocacia militante e combativa Advogada com atuação em Direito Penal e
Direito de Família na cidade de Salvador - Ba, formada pela Universidade Católica do
Salvador e pós-graduanda em Direito Penal e Processual Penal. Atendimento personalizado e
focado em uma advocacia combativa e militante.

Referências Bibliográficas:
https://lorepovoas.jusbrasil.com.br/artigos/828900881/vigiar-epunir-resenha-critica

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