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Caríssimos, segue um modelo de impugnação que foi objeto de cobrança no

exame da OAB.
Observem que para o caso que informei, haverá necessidade de proceder
adaptações, especialmente, em razão da alegação de nulidade de citação
(artigo 525, § 11 do CPC) mas percebam que a estrutura da peça é muito
similar.

MODELO DE IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

(OAB/SP Exame 130º – adaptado)


Deustêmio, de posse de uma sentença condenatória contra Zílio, dá início à
competente fase de cumprimento de sentença perante a 30ª Vara Cível da
Comarca de São Paulo. Ocorre que o bem penhorado não é da propriedade de
Zílio, pois se trata de veículo de propriedade da empresa em que ele trabalha,
estando na sua posse para exercício da profissão. Além do mais, os cálculos
elaborados pelo credor estão em desconformidade com o disposto na
sentença.

QUESTÃO: Como advogado de Zílio, elabore a defesa cabível.


GABARITO OFICIAL (adaptado)

COMENTÁRIOS SOBRE A PEÇA PRÁTICA


Zílio deve apresentar impugnação perante a 30ª Vara Cível
de São Paulo alegando
a) excesso de execução, em razão de a execução estar se
processando em valor diverso daquele constante no título,
devendo o devedor indicar qual é o valor devido e
demonstrar os valores apresentando os cálculos. Com relação
ao referido argumento, deve requerer que a execução se
processe pelo valor apontado por ele; e
(b) é nula a penhora, por se tratar de bem de terceiro,
devendo, assim, ser levantada e constritos bens de
propriedade do devedor.
Outras observações sobre a impugnação
1. Endereçamento da impugnação é para a própria vara onde
tem trâmite o cumprimento de sentença.
2. Encaminhamento para o mesmo juízo que proferiu a
sentença. Não há necessidade de requerer a distribuição por
dependência, pois se trata de simples protocolo nos autos
em que há o cumprimento de sentença. A impugnação sempre
tramitará nos mesmos autos do cumprimento.
3. A rigor, na impugnação não há necessidade de qualificar
as partes. Porém, nada impede que isso seja feito.
4. Considerando que a impugnação pode ser recebida com ou
sem efeito suspensivo (CPC/2015, art. 525, § 5º),
conveniente
que desde o início já se indique se há requerimento nesse
sentido, e que depois, faça o pedido expressamente.
5. Tal qual ocorre em relação aos embargos à execução,
basta
apresentar em breve resumo do que se passou na fase de
cumprimento de sentença – além de trazer os fatos que são
pertinentes para a defesa do devedor.
6. No CPC/1973, a apresentação da impugnação dependia de
penhora; agora, não mais. O prazo para impugnar é contado
da
seguinte forma (15 + 15): (i) com o trânsito em julgado e
requerimento do exequente, o executado será intimado para
pagar, em 15 dias, sob pena de multa de 10% (15 dias úteis,
como já exposto no item 9.8 acima); (ii) transcorrido o
prazo
para pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias
para
apresentação de impugnação (15 dias úteis, por se tratar de
um prazo processual).
7. Considerando que dois são os argumentos de defesa, pode-
se separar em tópicos;
8. Se houver uma penhora indevida, deve ocorrer o
levantamento de tal ato constritivo. E, na sequência, deve
ocorrer nova penhora, recaindo sobre bem do devedor.
9. Quando a hipótese for de excesso de execução, necessário
que se apresente exatamente o valor que o impugnante
entende
devido, sob pena de rejeição liminar da impugnação (§ 5º).
10. Se o argumento for excesso de execução, não haverá a
extinção do processo – mas o prosseguimento da fase de
cumprimento de sentença, com base no valor que se entende
devido (ou seja, o impugnante reconhece parte do débito).
11. Requisitos para concessão da tutela provisória.
12. No caso analisado, requerer o levantamento da penhora
realizada, tendo em vista ser o bem constrito de
propriedade de terceiro;
13. Requerer a procedência da impugnação. No caso, se
procedente, não haverá a extinção do processo, mas o
prosseguimento com base na diferença apontada.
14. Deve haver também o requerimento de provas.
Normalmente, a questão é só decidida na base documental,
mas nada impede que haja a instrução.
15. Como não se trata de uma petição inicial, não há valor
da causa.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 30ª VARA1 CÍVEL DO FORO


CENTRAL DA COMARCA DA CAPITAL – SP.
ZÍLIO (sobrenome), (estado civil), (profissão), portador da cédula de identidade RG n. (número),
inscrito no CPF/MF sob o n. (número), residente e domiciliado em (endereço), com endereço
eletrônico (e-mail), neste ato representado por seu advogado que esta subscreve (procuração
em anexo), vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 525 do
Código de Processo Civil (CPC/2015) e mais disposições aplicáveis à espécie, apresentar a
presente IMPUGNAÇÃO com requerimento de atribuição de efeito suspensivo contra
DEUSTÊMIO (sobrenome), (estado civil), (profissão), portador da cédula de identidade RG n.
(número), inscrito no CPF/MF sob o n. (número), com endereço eletrônico (e-mail), residente e
domiciliado em (endereço), pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

I – DOS FATOS
Deustêmio, ora impugnado, reconhecido titular de débito contra Zílio por meio de sentença
condenatória, deu início à fase de cumprimento de sentença em face de Zílio, ora impugnante.
Houve a efetivação de penhora de um veículo pelo oficial de justiça.
Considerando o prazo do art. 525, caput, do CPC/2015, apresenta o impugnante,
tempestivamente, a presente impugnação.
É de se destacar que (i) o bem penhorado não é de propriedade do impugnante e (ii) os cálculos
elaborados pelo impugnado não estão de acordo com o disposto na sentença.
É a síntese do necessário.

II – DOS ARGUMENTOS QUE DEVEM LEVAR AO PROVIMENTO DESTA IMPUGNAÇÃO


1) DA NULIDADE DE PENHORA: CONSTRIÇÃO JUDICIAL DE BEM DE TERCEIRO E NÃO DO
DEVEDOR (CPC/2015, art. 525, § 1º, IV)
Consoante se depreende do auto de penhora em anexo, houve a constrição do veículo (dados
do veículo).
Contudo, nos termos do documento ora anexado, percebe-se claramente que tal bem não é de
propriedade do impugnante.
O veículo, como facilmente se depreende do certificado de registro, é de propriedade da
empresa (nome), da qual o impugnante é empregado.
Conforme se verifica do ofício em anexo, o veículo está na posse de Zílio para o exercício de sua
profissão.
Assim, considerando que houve penhora de bem de terceiro, é indubitável que a mesma é
INDEVIDA, devendo ser prontamente LEVANTADA.
2) DA DESCONFORMIDADE DOS CÁLCULOS APRESENTADOS PELO CREDOR: EXCESSO
DE EXECUÇÃO (CPC/2015, art. 525, § 1º, V)
É de se apontar, também, a ocorrência de excesso de execução, tendo em vista que a fase de
cumprimento de sentença está sendo processada por valor diverso daquele constante no título
(CPC/2015, art. 525, § 1º, V).
Destarte, nos termos da planilha em anexo, o valor correto do débito, a partir dos critérios fixados
na r. sentença, é de R$ (valor), e não de R$ (valor), como pretende o impugnado.
A apresentação da planilha anexa dá cumprimento ao disposto no CPC/2015, art. 525, § 4º.9
(indicação, pelo impugnante, do valor que este entende devido).
A diferença entre os valores deve-se a (...) (explicar quais são os critérios de cálculo que
acarretam a diferença).
Assim, a fase de cumprimento de sentença deve prosseguir com base no valor aqui indicado.
III – DA CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO À PRESENTE IMPUGNAÇÃO
Esta impugnação deve ser recebida no efeito suspensivo, tendo em vista a presença de todos os
requisitos necessários para isso.
Nos termos do CPC/2015, art. 525, § 6º, três são os requisitos para que seja atribuído efeito
suspensivo à impugnação: (i) juízo garantido por penhora, (ii) relevância dos fundamentos de
defesa e (iii) grave dano no prosseguimento da execução.
A documentação anexa demonstra cabalmente que o veículo não é de propriedade do devedor e
que os cálculos do credor estão equivocados.
Assim, está claramente presente a relevância dos argumentos.
De seu turno, a penhora de bem de terceiro, empregador do impugnante, acarreta a existência
de grave dano se prosseguir a execução. Afinal, o impugnante é depositário judicial do bem e
pode, a qualquer momento, ter de devolver o bem a seu empregador – o que lhe pode causar
uma situação de risco, já que não mais terá a guarda do bem depositado.
Outrossim, há risco de dano pelo simples fato desta fase de cumprimento de sentença
prosseguir por um valor superior ao devido, já que o nome do impugnado é colocado como
devedor de quantia superior à efetivamente devida.
IV – DOS REQUERIMENTOS
Diante do exposto, requer-se:
a) liminarmente, a atribuição de efeito suspensivo a esta impugnação;
b) a intimação do impugnado, na pessoa de seu procurador, para que, querendo, apresente
resposta a esta impugnação;
c) o levantamento da penhora realizada, tendo em vista ser o bem constrito de propriedade de
terceiro;
d) a procedência desta impugnação, reconhecendo-se como correto o valor apontado pelo
impugnante e não aquele apontado pelo impugnado (excesso de execução);
e) a condenação do impugnado ao pagamento de custas, honorários advocatícios e demais
despesas;
f) requer provar o alegado, por todos os meios em direito admitidos, especialmente pelos
documentos ora juntados, mas também, caso V. Exa. entenda necessário, por perícia contábil
(divergência nos cálculos) e outros meios previstos em lei.
Termos em que pede deferimento.
Local/Data
Nome e assinatura do Advogado/OAB n. (número)

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