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INFORMATIVO esquematizado

Informativo 511 – STJ


Márcio André Lopes Cavalcante

Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.103.224-MG; REsp 1.103.769-MG; AgRg no
REsp 1.110.017-SP; REsp 1.218.859-ES; REsp 1.238.965-RS; REsp 1.139.785-PR; REsp 834.487-MT; REsp
1.052.781-PA.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público (candidatos aprovados fora do número de vagas)

Algumas assertivas válidas segundo a jurisprudência atual sobre concursos públicos:

1) O candidato aprovado dentro do número de vagas previsto no edital tem direito subjetivo à
nomeação no prazo de validade do certame. A Administração Pública tem a
discricionariedade de identificar a melhor oportunidade ou conveniência para realizar as
nomeações durante o período de validade do concurso. O que ela não pode fazer é deixar de
nomear o candidato aprovado dentro do número de vagas (RMS 33.875/MT).

2) O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas previsto no edital tem
mera expectativa de direito à nomeação (STJ MS 17.147/DF).

3) O candidato aprovado fora do número de vagas, em princípio, não tem direito subjetivo à
nomeação, mesmo que surjam ou sejam criadas vagas durante o prazo de validade do
concurso. Assim, o fato de terem sido criados novos cargos enquanto ainda vigente o
concurso não obriga, por si só, a Administração a nomear o candidato aprovado fora do
número de vagas (STJ AgRg no REsp 1263916/PR).

4) O candidato aprovado fora do número de vagas do edital adquire direito subjetivo à


nomeação caso consiga comprovar que:
a) surgiram novas vagas durante o prazo de validade do concurso público; e
b) existe interesse da Administração Pública em preencher essas vagas.

5) De igual modo, a Administração não está obrigada a prorrogar o prazo de validade dos
concursos públicos. Trata-se de ato discricionário, submetido ao juízo de oportunidade e
conveniência; porém, se novos cargos vêm a ser criados, durante tal prazo de validade,
mostra-se de todo recomendável que se proceda a essa prorrogação.

6) A mera expectativa de nomeação dos candidatos aprovados em concurso público (fora do


número de vagas) convola-se em direito líquido e certo quando, dentro do prazo de
validade do certame, há contratação de pessoal de forma precária para o preenchimento de
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vagas existentes, com preterição daqueles que, aprovados, estariam aptos a ocupar o
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mesmo cargo ou função.

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Conclusão:
Os candidatos aprovados fora do número de vagas previsto no edital, em princípio, não tem
direito subjetivo à nomeação. No entanto, caso surjam novas vagas e o concurso ainda esteja no
prazo de validade, esses candidatos adquirem direito subjetivo de serem nomeados desde que
fique comprovado que há interesse público na nomeação.

Essa comprovação pode ser feita de diversas formas, como, por exemplo:
a) quando há contratação de pessoal, de forma precária, para o preenchimento de vagas
existentes, com preterição dos aprovados (STJ RMS 34.319-MA);
b) quando a Administração está utilizando servidores requisitados de outros órgãos para
desempenharem as funções dos candidatos aprovados (STF RE 581.113/SC);
c) quando logo após (seis meses) o término de validade do concurso, a Administração realiza
novo certame para os mesmos cargos dos aprovados que não foram chamados, sendo que
havia vagas abertas mesmo antes do concurso expirar (STJ RMS 27.389-PB);
d) quando o edital previa expressamente que o concurso se destinava também para as vagas
que surgissem durante o prazo de validade do certame (STJ MS 18.881-DF). Esse é o caso, por
exemplo, dos concursos que preveem cadastro de reserva;
e) quando as vagas surgem por conta da desistência de candidatos nomeados e que decidiram
não assumir ou pediram exoneração (STJ AgRg no REsp 1225356 / AM).

Dessa feita, caso haja vagas disponíveis e a Administração decida pela não nomeação dos
candidatos, ela deverá motivar esse ato.

Não serve como motivação o simples argumento de que tais candidatos ficaram mal
posicionados no concurso, considerando que, segundo já decidiu o STJ, do primeiro ao último
aprovado, todos foram considerados aptos pela Administração (STJ RMS 27.389-PB).
Comentários A situação decidida pelo STJ foi a seguinte:
Determinado órgão abriu concurso público para selecionar servidores para seus quadros.
O edital de abertura previu que o concurso se destinava ao provimento de 49 vagas, bem
como daquelas que viessem a surgir durante o período de validade do certame.
Ao final de todas as etapas do concurso, a impetrante ficou na 81ª posição.
Durante o prazo de validade do concurso, foram abertas 45 novas vagas.
O órgão nomeou, no total, 71 candidatos.
O STJ, ao analisar a questão, em sede de recurso, considerou que a impetrante foi aprovada
dentro do número de vagas oferecidas, considerando que o edital afirmava que o concurso
seria destinado a 45 vagas, “acrescidos dos cargos que vagarem durante o período de
validade do concurso público”.
Eram, inicialmente, 45 vagas e, durante o prazo de vigência, surgiram mais 49. Logo, são 94
vagas no total. Para o STJ, todos os candidatos classificados nestas vagas têm direito
subjetivo à nomeação porque o próprio edital assim previu.
O princípio da moralidade impõe obediência às regras insculpidas no instrumento
convocatório pelo Poder Público, de sorte que a oferta de vagas vincula a Administração,
segundo, ainda, o princípio da legalidade.
Precedentes Dentro do prazo de validade do concurso, a Administração poderá escolher o momento no
do STF qual se realizará a nomeação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação, a qual, de
relacionados acordo com o edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e, dessa forma,
com o tema um dever imposto ao poder público. Uma vez publicado o edital do concurso com número
específico de vagas, o ato da Administração que declara os candidatos aprovados no
certame cria um dever de nomeação para a própria Administração e, portanto, um direito à
nomeação titularizado pelo candidato aprovado dentro desse número de vagas.
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(RE 598099, Relator Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/08/2011/MS)
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INFORMATIVO esquematizado
A Administração não está obrigada a prorrogar o prazo de validade dos concursos públicos;
porém, se novos cargos vêm a ser criados, durante tal prazo de validade, mostra-se de todo
recomendável que se proceda a essa prorrogação.
(RE 581113, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 05/04/2011)
Precedentes Primeira Seção (1ª e 2ª Turmas)
do STJ A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que os candidatos
relacionados classificados em concurso público fora do número de vagas previstas no edital possuem
mera expectativa de direito à nomeação, apenas adquirindo esse direito caso haja
comprovação do surgimento de novas vagas durante o prazo de validade do concurso
público, bem como o interesse da Administração Pública em preenchê-la, o que não
ocorreu no caso dos autos. (...)
(MS 17.147/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 27/06/2012)

Primeira Turma
O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas previsto no edital tem
mera expectativa de direito à nomeação. Com isso, compete à Administração, dentro do
seu poder discricionário e atendendo aos seus interesses, nomear candidatos aprovados de
acordo com a sua conveniência, respeitando-se, contudo, a ordem de classificação, a fim de
evitar arbítrios e preterições. (...)
(RMS 33.875/MT, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, julgado em 19/06/2012)

Segunda Turma
1. A mera criação de novos cargos enquanto ainda vigente o concurso não garante, por si só,
o direito do candidato aprovado, mas não classificado dentre as vagas ofertadas, à nomeação.
Tampouco obriga, a princípio, a administração a prorrogar o prazo de validade do concurso,
ato discricionário, submetido ao juízo de oportunidade e conveniência administrativas.
2. No entanto, em recente julgado, o Supremo Tribunal Federal decidiu, com relação aos
cargos criados pela Lei nº 10.842/2004, que "na hipótese de haver novas vagas, prestes a
serem preenchidas, e razoável número de aprovados em concurso ainda em vigor quando
da edição da Lei que criou essas novas vagas, não são justificativas bastantes para o
indeferimento da prorrogação da validade de certame público por razões de política
administrativa interna do Tribunal Regional Eleitoral que realizou o concurso" (RE
581113/SC, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 31/05/2011).
3. Não obstante o Tribunal Superior Eleitoral tenha determinado o aproveitamento dos
novos cargos pelos candidatos habilitados em concurso público, realizado ou em
andamento na data de publicação da Lei n.º 10.842/2004 (art. 2º da Resolução nº
21.832/2004), a Administração manteve-se inerte, deixando de nomear os candidatos
aprovados para, assim que exaurido o prazo de validade, realizar novo procedimento para o
mesmo fim.
4. Afasta-se excepcionalmente a discricionariedade da Administração quanto à nomeação
de candidatos aprovados em concurso público fora das vagas previstas no edital,
considerando que a edição da Lei n.º 10.842/2004 teve um propósito específico, qual seja, a
regularização do quadro de pessoal da Justiça Eleitoral, com a maior brevidade possível.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1263916/PR, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 14/08/2012)

O STJ adota o entendimento de que a mera expectativa de nomeação dos candidatos


aprovados em concurso público (fora do número de vagas) convola-se em direito líquido e
certo quando, dentro do prazo de validade do certame, há contratação de pessoal de forma
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precária para o preenchimento de vagas existentes, com preterição daqueles que,


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aprovados, estariam aptos a ocupar o mesmo cargo ou função. (...)


(AgRg no RMS 36.831/MA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 22/05/2012)

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Sexta Turma
1. Os aprovados em concurso público têm apenas expectativa de direito, em virtude da
discricionariedade administrativa, submetendo a nomeação dos candidatos ao juízo de
conveniência e oportunidade da Administração, e não viola, destarte, os princípios da
isonomia e legalidade. Não há, portanto, qualquer direito líquido e certo aos demais
candidatos que, fora das vagas indicadas no edital, seguiram como suplentes na ordem de
classificação do certame.
2. Não restaram comprovadas as hipóteses excepcionais como, por exemplo, quando
ocorre preterição na ordem de classificação dos candidatos, criação de novos concursos
enquanto vigente o anterior, ou na hipótese de contratação de servidores precários para
mesmas funções do cargo em que o concurso esteja em andamento.
3. Ainda que novas vagas surjam no período de validade do concurso, - por criação de lei, ou
mesmo por força de vacância -, o seu preenchimento está sujeito a juízo de conveniência e
oportunidade da Administração. (...)
(AgRg no RMS 21.362/SP, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do
TJ/RS), Sexta Turma, julgado em 10/04/2012)

A prática de ato, pela Administração, que evidencie a necessidade de preenchimento de


cargos vagos gera direito subjetivo à nomeação dos candidatos aprovados e classificados em
concurso público inicialmente além do número de vagas ofertado pelo edital do certame.
Na espécie, ao promover a nomeação de candidatos classificados além do número de vagas
previsto no certame, bem como ao realizar contratação temporária de professores, a
Administração revelou a existência de cargos vagos e a necessidade do serviço, de maneira
que a desistência de alguns convocados não poderia ensejar a preterição dos
remanescentes. (...)
(REsp 1185379/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 15/03/2012)
Cuidado Trata-se de tema ainda polêmico e que pode sofrer novas alterações em breve. Esse é o
panorama atual. Caso haja modificações, eu aviso a vocês.
Processo Primeira Seção. MS 18.881-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 28/11/2012.

Agentes públicos (ação de cobrança em caso de remuneração em atraso)

Se o autor ingressa com ação de cobrança contra o Poder Público provando que é servidor
público e que não está recebendo sua remuneração, incumbe à Administração Pública
demonstrar, enquanto fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora
(art. 333, II, do CPC), que o requerente não recebeu sua remuneração por não ter havido o
efetivo exercício no cargo.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
José é servidor público municipal e não recebe há 3 meses, razão pela qual propôs ação de
cobrança contra o Município.
Na contestação, a Fazenda Pública não negou que José seja realmente servidor público (fato
incontroverso), mas alegou que ele não recebeu porque não trabalhou durante esse período.
Desse modo, o réu alegou um fato novo (a não prestação dos serviços).

O que o autor teria que provar nesta ação?


O autor (José) teria que provar apenas o vínculo que mantém com a Administração Pública
municipal, ou seja, precisaria apenas comprovar sua condição de servidor público. Esse é o
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fato constitutivo de seu direito (art. 333, I, do CPC) uma vez que, sendo provado que o
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indivíduo é servidor público, isso significa que, em regra, ele tem direito à remuneração.

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Art. 333. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;

Isso foi provado, considerando que José alegou sua condição de servidor público, o que foi
demonstrado documentalmente e não negado pelo Município, tornando-se incontroverso
(art. 334, III, do CPC).

E o réu?
Tendo o autor provado o fato alegado, caberá ao requerido provar o fato novo por ele
alegado. Logo, incumbe ao réu provar que o servidor não estava no efetivo exercício do
cargo durante o período (art. 333, II, do CPC).

Esse é o entendimento do STJ:


Consoante reiterada jurisprudência desta Corte, "o recebimento da remuneração por parte
do servidor público pressupõe o efetivo vínculo entre ele e a Administração Pública e o
exercício no cargo. Incontroversa a existência do vínculo funcional, é ônus da Administração
Pública demonstrar, enquanto fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte
autora, que não houve o efetivo exercício no cargo. Inteligência do art. 333 do CPC." (AgRg
no AREsp 149.514/GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 29/5/12)
Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 116.481-GO, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 4/12/2012.

Processo administrativo disciplinar (controle jurisdicional da sanção aplicada)

É possível que o Poder Judiciário, no julgamento de mandado de segurança, faça a revisão da


penalidade imposta no processo administrativo disciplinar (PAD), sob o argumento de que a
punição aplicada violou o princípio da proporcionalidade?

1ª corrente: NÃO. É inviável em MS a revisão de penalidade imposta em PAD, sob o argumento


de ofensa ao princípio da proporcionalidade, por implicar reexame do mérito administrativo.

2ª corrente: SIM. É possível anular judicialmente o ato demissional que ocorre em desatenção
ao acervo probatório dos autos e com desatenção à proporcionalidade na sanção, sem
prejudicar eventual aplicação de diversa penalidade administrativa (MS 15.810/DF, Rel. Min.
Humberto Martins, Primeira Seção, julgado em 29/02/2012, DJe 30/03/2012)
Comentários É possível que o Poder Judiciário, no julgamento de mandado de segurança, faça a revisão
da penalidade imposta no processo administrativo disciplinar (PAD), sob o argumento de
que a punição aplicada violou o princípio da proporcionalidade?
NÃO SIM
No âmbito do controle jurisdicional do É possível anular judicialmente o ato
processo administrativo disciplinar, é demissional que ocorre em desatenção ao
vedado ao Poder Judiciário adentrar no acervo probatório dos autos e com
mérito do julgamento administrativo, desatenção à proporcionalidade na sanção,
cabendo-lhe, apenas, apreciar a sem prejudicar eventual aplicação de
regularidade do procedimento, à luz dos diversa penalidade administrativa (Primeira
princípios do contraditório e da ampla Seção. MS 15.810/DF, Rel. Min. Humberto
defesa (Primeira Seção. MS 17.479-DF, Rel. Martins, julgado em 29/02/2012, DJe
Min. Herman Benjamin, julgado em 30/03/2012)
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28/11/2012).
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Outro julgado no sentido da 1ª corrente:
2. Segundo a pacífica jurisprudência desta Corte Superior de Justiça "o controle jurisdicional
dos processos administrativos se restringe à regularidade do procedimento, à luz dos
princípios do contraditório e da ampla defesa, sem exame do mérito do ato administrativo
(RMS 22.567/MT, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 28/04/2011,
DJe 11/05/2011). (...)
(MS 11.053/DF, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/RS), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/04/2012, DJe 31/08/2012)

Outro julgado no sentido da 2ª corrente:


(...) 1. No caso de demissão imposta a servidor público submetido a processo administrativo
disciplinar, não há falar em juízo de conveniência e oportunidade da Administração, visando
restringir a atuação do Poder Judiciário à análise dos aspectos formais do processo
disciplinar. Nessas circunstâncias, o controle jurisdicional é amplo, no sentido de verificar se
há motivação para o ato demissório, pois trata-se de providência necessária à correta
observância dos aludidos postulados.
(...)
6. Os comportamentos imputados à Impetrante são aptos a alicerçar a decisão de demissão,
porquanto passíveis de subsunção ao tipos previstos nos arts. 117, inciso IX, e 132, incisos
IV, IX e XIII, da Lei n.º 8.112/90 e, portanto, mostra-se perfeitamente razoável e
proporcional a pena aplicada à ex-servidora. (...)
(MS 14.140/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/09/2012, DJe
08/11/2012)

É frustrante porque não consigo dizer a posição que você deve adotar em um concurso. Em
minha opinião, isso não deveria ser cobrado em uma primeira fase. Sendo exigido em uma
prova discursiva ou prática, deve-se explicar as duas correntes e “defender” a posição mais
favorável ao cargo para o qual está prestando o concurso.
Se fosse, no entanto, necessário arriscar uma posição majoritária, penso ser a 1ª corrente.
Processo Primeira Seção. MS 17.479-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/11/2012.

DIREITO CIVIL
Responsabilidade civil
Se a pessoa sofrer uma lesão que reduzir ou impossibilitar a sua capacidade de trabalho, o
autor do dano deverá pagar, como indenização, uma pensão correspondente à importância do
trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ela sofreu, nos termos do art. 950 do CC.
Vale ressaltar que o art. 950 do CC não exige que tenha havido também a perda do emprego ou
a redução dos rendimentos da vítima para que fique configurado o direito ao recebimento da
pensão. O dever de indenizar decorre unicamente da perda temporária da capacidade laboral.
Comentários Neste julgado, a 3ª Turma do STJ fez algumas considerações sobre os arts. 949 e 950 do
Código Civil. Vejamos as conclusões expostas no julgado:

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
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Exemplo de aplicação desse dispositivo:


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O caminhão de uma empresa bateu no carro de uma mulher, causando-lhe lesões


corporais.

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A indenização deverá abranger:
 Despesas do tratamento de saúde;
 Lucros cessantes até ao fim da convalescença;
 Qualquer outro prejuízo sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou
profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e
paga de uma só vez.

Lesão que cause incapacidade ou dificuldade para o ofício ou profissão:


O art. 950 afirma que, a se lesão provocada reduzir ou impossibilitar a capacidade de
trabalho, o autor do dano deverá pagar como indenização:
 Despesas do tratamento de saúde;
 Lucros cessantes até ao fim da convalescença;
 Pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu.

No caso concreto julgado pelo STJ, a vítima ficou um ano sem trabalhar, no entanto, ela era
servidora pública. Logo, recebeu normalmente sua remuneração no período. Diante disso,
indaga-se: mesmo assim ela terá direito à pensão de que trata o art. 950 do CC?
SIM. Para o direito à pensão, o dispositivo legal não exige que a vítima tenha perdido o
emprego ou tenha reduzido os seus rendimentos. O dever de indenizar decorre unicamente
da perda ou redução da capacidade laboral.
Esta indenização é de cunho civil e não se confunde com o benefício previdenciário. Assim,
para fins de indenização civil do art. 950, é irrelevante o fato de que a vítima, durante o
período do seu afastamento do trabalho, tenha continuado a auferir renda através do
sistema previdenciário dos servidores públicos. O que importa é que ela ficou, durante um
ano, impossibilitada de trabalhar, devendo ser indenizada por esse simples fato.
Processo Terceira Turma. REsp 1.306.395-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Plano de saúde e cirurgia de gastroplastia

Plano de saúde não pode negar o custeio de cirurgia de gastroplastia (indicada para
tratamento de obesidade mórbida)
Assim, é abusiva a negativa do plano de saúde em cobrir as despesas de intervenção cirúrgica
de gastroplastia, necessária à garantia da sobrevivência do segurado.
Comentários A gastroplastia, indicada para o tratamento da obesidade mórbida, bem como de outras
doenças dela derivadas, constitui cirurgia essencial à preservação da vida e da saúde do
paciente segurado, não se confundindo com simples tratamento para emagrecimento.
Os contratos de seguro-saúde são contratos de consumo submetidos a cláusulas contratuais
gerais, ocorrendo a sua aceitação por simples adesão pelo segurado (contratos de adesão).
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Nesses contratos, as cláusulas seguem as regras de interpretação dos negócios jurídicos


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estandardizados, ou seja, existindo cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve ser aplicada


a interpretação mais favorável ao aderente, conforme o art. 423 do CC e art. 47 do CDC:

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Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor.

Desse modo, mesmo que o contrato do seguro-saúde contenha uma cláusula que exclua da
cobertura securitária o tratamento estético de emagrecimento, isso não significa que
também esteja excluída a cirurgia para tratamento de obesidade mórbida (gastroplastia),
tendo em vista que esta não pode ser considerada apenas como procedimento para
emagrecimento, sendo, na verdade, tratamento indispensável à vida do paciente.
Interpretativo Segundo o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, a regra prevista no art. 423 do CC e no art. 47
contra do CDC é uma versão moderna do princípio que havia no direito romano chamado de
proferentem interpretativo contra proferentem ou interpretatio contra stipulatorem. Segundo este
postulado, como o predisponente teve a possibilidade de pré-estabelecer todo o conteúdo
do contrato, as imprecisões, dúvidas e ambiguidades das cláusulas predispostas
interpretam-se contrariamente aos seus interesses. Portanto, esta regra estabelece, em
síntese, que, na dúvida, a interpretação será contrária aos interesses do predisponente ou
de forma mais favorável ao do aderente.
As regras do art. 423 do CC e do art. 47 do CDC representam, no entanto, uma evolução do
interpretativo contra proferentem, considerando que são destinadas, atualmente, em
especial, para a contratação estandardizada, ou seja, negócios jurídicos em larga escala,
celebrados por grandes empresas com um número indeterminado de pessoas, situação
que, obviamente, não havia no direito romano.
Processo Terceira Turma. REsp 1.249.701-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2012.

Prática abusiva (envio de cartão de crédito sem solicitação do consumidor)

É vedado o envio de cartão de crédito, ainda que bloqueado, à residência do consumidor sem
prévia e expressa solicitação.
Comentários É vedado o envio de cartão de crédito, ainda que bloqueado, à residência do consumidor
sem prévia e expressa solicitação.
Essa prática comercial é considerada abusiva nos moldes do art. 39, III, do CDC,
contrariando a boa-fé objetiva:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou
fornecer qualquer serviço;

O referido dispositivo legal tutela os interesses dos consumidores até mesmo no período
pré-contratual, não sendo válido o argumento de que o simples envio do cartão de crédito à
residência do consumidor não configuraria ilícito por não implicar contratação, mas mera
proposta de serviço.
Processo Terceira Turma. REsp 1.199.117-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Veiculação de imagens constrangedoras de crianças e adolescentes

É vedada a veiculação de material jornalístico com imagens que envolvam criança em situações
vexatórias ou constrangedoras, ainda que não se mostre o rosto da vítima.
O MP detém legitimidade para propor ação civil pública com o intuito de impedir a veiculação
de vídeo, em matéria jornalística, com cenas de tortura contra uma criança, ainda que não se
mostre o seu rosto.
Comentários Um programa de TV pode divulgar imagens que mostram um adulto espancando e
torturando, de forma bárbara, uma criança (ainda que sem mostrar o rosto da vítima)?
NÃO. A 3ª Turma do STJ entendeu que a exibição de imagens com cenas de espancamento
e de tortura praticados por adulto contra infante afronta a dignidade da criança exposta na
reportagem, como também de todas as crianças que estão sujeitas à sua exibição.
O direito constitucional à informação e à vedação da censura não é absoluto e cede passo,
por juízo de ponderação, a outros valores fundamentais também protegidos
constitucionalmente, como a proteção da imagem e da dignidade das crianças e dos
adolescentes.

O MP pode ajuizar uma ação civil pública para impedir essa exibição?
SIM. O MP detém legitimidade para propor ACP com o intuito de impedir a veiculação de
vídeo, em matéria jornalística, com cenas de tortura contra uma criança, ainda que não se
mostre o seu rosto. A legitimidade do MP, em ação civil pública, para defender a infância e
a adolescência abrange os interesses de determinada criança (exposta no vídeo) e de todas
indistintamente, ou pertencentes a um grupo específico (aquelas sujeitas às imagens com a
exibição do vídeo).

ECA:
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
Processo Terceira Turma. REsp 509.968-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Princípio da boa-fé objetiva no direito processual

A eventual nulidade declarada pelo juiz de ato processual praticado pelo serventuário não
pode retroagir para prejudicar os atos praticados de boa-fé pelas partes.
Dessa forma, no processo, exige-se dos magistrados e dos serventuários da Justiça conduta
pautada por lealdade e boa-fé, sendo vedados os comportamentos contraditórios.
Em outras palavras, aplica-se também o venire contra factum proprium para atos do juiz e dos
serventuários da justiça.
Comentários Exemplo hipotético (diferente do caso julgado):
Serventuário da justiça (servidor público) fez uma certidão no sentido de que o mandado de
citação cumprido foi juntado aos autos no dia 12/03/2012. Logo, a partir desse dia,
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começou a correr o prazo de contestação do réu, conforme prevê o art. 241, I, do CPC.
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Em 27/03/2012, ou seja, 15 dias depois, o réu apresenta sua contestação.

INFORMATIVO esquematizado
O juiz, ao receber a contestação e analisar o processo, percebe que a juntada do mandado
de citação ocorreu no dia 08/03/2012. Diante disso, o juiz torna sem efeito a certidão do
serventuário, determinando que outra seja expedida com a data correta da juntada e
declarando intempestiva a contestação.

Agiu corretamente o juiz?


NÃO. Segundo já decidiu o STJ, em caso análogo, a eventual nulidade declarada pelo juiz de
ato processual praticado pelo serventuário não pode retroagir para prejudicar os atos
praticados de boa-fé pelas partes.
O princípio da lealdade processual, de matiz constitucional e consubstanciado no art. 14 do
CPC, aplica-se não só às partes, mas a todos os sujeitos que porventura atuem no processo.
Dessa forma, no processo, exige-se dos magistrados e dos serventuários da Justiça conduta
pautada por lealdade e boa-fé, sendo vedados os comportamentos contraditórios.
Em outras palavras, aplica-se também o venire contra factum proprium para atos do juiz e
dos serventuários da justiça. Nesse mesmo sentido: STJ. REsp 1.306.463-RS, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 4/9/2012.
Assim, eventuais erros praticados pelo servidor não podem prejudicar a parte de boa-fé.
Entendimento contrário resultaria na possibilidade de comportamento contraditório do
Estado-Juiz, que geraria perplexidade na parte que, agindo de boa-fé, seria prejudicada pela
nulidade eventualmente declarada.
Processo Quarta Turma. AgRg no AREsp 91.311-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/12/2012.

Competência no caso de ações propostas contra o Conselho da Justiça Federal


(obs: somente interessa a quem presta concursos para a Justiça Federal)

Compete ao STJ analisar a legalidade de decisão tomada em processo administrativo no CJF.


O CJF é órgão que funciona junto ao STJ e, segundo entendimento consolidado, os atos do
Conselho podem ser impugnados originariamente no STJ pela via do mandado de segurança.
Nesse panorama, a decisão de primeiro grau que analisa diretamente legalidade de decisão do
CJF viola o disposto no art. 1º, § 1º, da Lei n. 8.437/1992, que estabelece ser incabível, “no juízo
de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua liminar, quando impugnado ato de
autoridade sujeita, na via de mandado de segurança, à competência originária de tribunal”.
Assim, os atos do CJF, se nulos ou ilegais, devem ser apreciados obrigatoriamente pelo STJ.
Comentários Conselho da Justiça Federal (CJF)
O Conselho da Justiça Federal é um órgão colegiado, que funciona junto ao Superior
Tribunal de Justiça, cabendo-lhe a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça
Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes
correicionais, tendo suas decisões caráter vinculante (inciso II do parágrafo único do art.
105 da CF/88).

Regulamentação
A composição e competência do CJF foram regulamentadas pela Lei n. 11.798/2008.

Composição
O Conselho da Justiça Federal será integrado:
I – pelo Presidente e pelo Vice-Presidente do STJ;
II – por 3 (três) Ministros, eleitos entre os integrantes do STJ;
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III – pelos Presidentes dos TRF’s.


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Terão direito a assento no CJF, sem direito a voto, os Presidentes do Conselho Federal da
OAB e da AJUFE.
INFORMATIVO esquematizado
A Presidência do Conselho da Justiça Federal será exercida pelo Presidente do STJ.
Os Conselheiros terão mandato de 2 (dois) anos.
O CJF reunir-se-á ordinariamente 1 (uma) vez por mês, durante o ano judiciário, e,
extraordinariamente, sempre que for necessário, por convocação de seu Presidente.

Principais competências
Ao CJF compete:
I – aprovar sugestões de alteração legislativa relacionadas com a Justiça Federal;
II – expedir normas relacionadas ao sistema de administração judiciária da Justiça Federal;
III – apreciar, de ofício, ou a requerimento de magistrado federal, as decisões
administrativas dos Tribunais Regionais Federais que contrariarem a legislação vigente;
IV – aprovar as propostas orçamentárias e os pedidos de créditos adicionais relacionados
com a Justiça Federal;
V – avocar processos administrativos em curso;
VI – julgar processos administrativos disciplinares relativos a membros dos Tribunais
Regionais Federais, imputando, quando for o caso, as penalidades cabíveis, assegurados a
ampla defesa e o contraditório;
VII – decidir, em grau de recurso, as matérias relacionadas aos direitos e deveres dos
servidores de sua Secretaria e dos juízes, quando a esses for aplicada sanção em processo
disciplinar decidido pelo Tribunal Regional Federal;
VII – zelar pelo cumprimento das decisões do Conselho Nacional de Justiça, no âmbito da
Justiça Federal.

A quem compete julgar mandado de segurança impetrado contra ato do CJF?


R: Compete ao STJ porque se trata de ato praticado por órgão vinculado ao próprio Tribunal
(art. 105, I, b, da CF/88).

Diante disso, o STJ entendeu que a decisão de primeiro grau que analisa diretamente
legalidade de ato do CJF viola o disposto no art. 1º, § 1º, da Lei n. 8.437/1992, que
estabelece o seguinte:
§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua
liminar, quando impugnado ato de autoridade sujeita, na via de mandado segurança, à
competência originária de tribunal.

Segundo o STJ, se tais ações pudessem ser propostas em 1ª instância, seria aberta a
possibilidade das decisões do Conselho serem controladas pelos próprios destinatários e
interessados no ato (os juízes federais). Logo, os atos do CJF, se nulos ou ilegais, devem ser
apreciados obrigatoriamente pelo STJ.

Atenção. Não confundir:


Os atos praticados pela administração judiciária federal (exs: diretoria do foro, direção do TRF
etc.) tomados com base em decisões ou orientações do CJF também são julgados pelo STJ?
NÃO, considerando que, nesta hipótese, o ato diretamente atacado foi da administração
judiciária federal e não do CJF.

De acordo com o STJ:


(...) Não usurpa a competência do Superior Tribunal de Justiça a decisão do Juiz de primeira
instância que, antecipando os efeitos de tutela jurisdicional requerida no bojo de ação
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ordinária, suspende ato praticado pela administração judiciária com base em decisão do
Conselho da Justiça Federal (...)
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(Rcl 3.890/RO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, julgado em 09/06/2011)
Processo Corte Especial. Rcl 3.495-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgada em 17/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
Indeferimento da petição inicial
É possível a extinção de ação rescisória sem resolução do mérito na hipótese de indeferimento
da petição inicial, em face da ausência do recolhimento das custas e do depósito prévio, sem
que tenha havido intimação prévia e pessoal da parte para regularizar essa situação.
Comentários “X” ajuizou ação rescisória no Tribunal de Justiça, no entanto, não recolheu as custas nem
efetuou o depósito prévio de que trata o art. 488, II, do CPC:
Art. 488. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art.
282, devendo o autor:
II - depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título de multa,
caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou improcedente.

Diante disso, o Desembargador indeferiu a petição inicial.


O autor recorreu alegando que, antes de indeferir a petição inicial, o Desembargador
deveria ter intimado a parte para regularizar essa situação.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


Para a 3ª Turma do STJ, é possível a extinção de ação rescisória sem resolução do mérito na
hipótese de indeferimento da petição inicial, em face da ausência do recolhimento das
custas e do depósito prévio, sem que tenha havido intimação prévia e pessoal da parte para
regularizar essa situação.
Segundo decidiu a Turma, somente é necessária a intimação prévia da parte para a extinção
do processo nos casos previstos no § 1º do art. 267 do CPC.
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
I - quando o juiz indeferir a petição inicial;
II - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a
causa por mais de 30 (trinta) dias;
(...)
§ 1º O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e III, o arquivamento dos autos, declarando a
extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta
e oito) horas.

Logo, como a falta de recolhimento de custas e depósito na ação rescisória não se enquadra
nas hipóteses do § 1º do art. 267 do CPC, a intimação prévia da parte não era necessária
para que fosse possível a extinção do processo.
Cuidado Nesta hipótese específica, o STJ entendeu que não era necessária a intimação prévia do
autor para regularizar a situação. No entanto, em diversos outros casos, a 2ª Turma do STJ
tem reconhecido que, antes de indeferir a petição inicial, o juiz deve intimar o autor para
sanar a irregularidade detectada, nos termos do art. 284 do CPC:
Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos
arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o
julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10
(dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

Veja:
(...) O indeferimento liminar da petição inicial do mandado de segurança por ausência de
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documentos que comprovam o direito líquido e certo exige, primeiramente, a intimação do


autor para sanar a irregularidade, nos termos do artigo 284 do CPC. Precedentes.
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(REsp 1297948/MG, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 14/02/2012)

INFORMATIVO esquematizado
1. Na ação rescisória, faltando o pedido de novo julgamento, quando este se revele
obrigatório, cabe ao relator, nos termos do art. 284 do CPC, determinar a intimação do
autor para que emende a petição inicial e, aí, formule a pretensão ausente.
2. Apenas após o transcurso do prazo estabelecido para que o autor emende a inicial, sem
que este o tenha feito, é que poderá o relator indeferir a petição inicial.
Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1227735/RS, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
22/03/2011, DJe 04/04/2011)
Processo Terceira Turma. REsp 1.286.262-ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.

Impugnação à justiça gratuita

A impugnação à justiça gratuita deve ser feita em autos apartados. No entanto, caso tenha sido
feita nos próprios autos principais, isso, por si só, não gera nulidade, salvo se a parte contrária
conseguir provar que sofreu algum prejuízo em decorrência dessa irregularidade.
Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV:
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa jurídica, de
a) Assistência jurídica forma integral e gratuita, a ser prestada pela Defensoria Pública,
integral e gratuita em todos os graus, dos necessitados (art. 134 da CF).
Regulada pela Lei Complementar 80/94.
b) Benefício da Isenção das despesas que forem necessárias para que a pessoa
gratuidade judiciária necessitada possa defender seus interesses em um processo judicial.
(justiça gratuita). Regulada pela Lei n. 1.060/50.

Lei n. 1.060/50


A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:
I - das taxas judiciárias e dos selos;
II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e
serventuários da justiça;
III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação
dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do
empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo
contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder
público estadual, nos Estados;
V - dos honorários de advogado e peritos.
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VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado
pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.
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VII – dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e
demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

INFORMATIVO esquematizado
Obs: a assistência judiciária não abrange a isenção do pagamento de multa por litigância de
má-fé (STJ RMS 15.600-SP).

Quem é considerado necessitado para os fins legais?


É aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família (art. 2º, parágrafo
único, da LAJ).

Quem está abrangido por ela?


 Pessoas físicas (nacionais ou estrangeiras);
 Pessoas jurídicas.

O que é necessário para que se obtenha?


A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária mediante simples afirmação, na
própria petição inicial (se for autora) ou na contestação (se for ré), de que não está em
condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo
próprio ou de sua família (art. 4º da LAJ).

Se a pessoa física faz essa declaração, há uma presunção relativa de que ela seja necessitada
Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos da lei,
sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais (art. 4º, § 1º, da LAJ).
Não é necessário que a pessoa física junte nenhuma prova de que é necessitada, sendo
suficiente essa afirmação.
Vale ressaltar que, mesmo havendo essa presunção, o juiz pode indeferir o pedido:
“A afirmação de hipossuficiência, almejando a obtenção do benefício da assistência
judiciária gratuita, possui presunção legal juris tantum, ou seja, relativa, podendo o
magistrado, com amparo no art. 5º, da Lei n.º 1.050/60, infirmar a miserabilidade da
requerente.” (AgRg no AREsp 121.135/MS, DJe 27/11/2012).
Ainda de acordo com o STJ, o juízo pode, inclusive, investigar a real situação financeira do
requerente antes de deferir o benefício da assistência judiciária gratuita (AgRg no AREsp
181.573/MG, DJe 30/10/2012).

E no caso da pessoa jurídica?


Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, as pessoas jurídicas de direito privado, com ou
sem fins lucrativos, para obter os benefícios da justiça gratuita, devem comprovar o estado
de miserabilidade, não bastando a simples declaração de pobreza.
Em outras palavras, para que a pessoa jurídica de direito privado obtenha o benefício da
justiça gratuita é indispensável que demonstre (comprove) sua impossibilidade de arcar
com os encargos processuais, não sendo a ela aplicável a presunção de que trata o § 1º do
art. 4º da LAJ.
Súmula 481-STJ: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins
lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.

Qual é o momento em que esse pedido deverá ser formulado?


Normalmente o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do
autor) ou na contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da
jurisprudência é de que a assistência judiciária gratuita pode ser pleiteada a qualquer
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tempo (REsp 1261220/SP, DJe 04/12/2012).


Se for formulado no momento do recurso, o requerimento de gratuitade deve ser feito em
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petição avulsa, que deverá ser processada em apenso aos autos principais, conforme

INFORMATIVO esquematizado
previsto no art. 6º da LIA, e não no próprio corpo do recurso, constituindo erro grosseiro
essa prática (STJ REsp 1229778/MA, DJe 13/12/2012).

A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita?


SIM. Isso é comumente chamado de “impugnação à justiça gratuita” ou “impugnação à
concessão do benefício de assistência judiciária gratuita”, possuindo a natureza jurídica de
incidente do processo.
De acordo com a LAJ, a impugnação do direito à assistência judiciária:
 não suspende o curso do processo; e
 deve ser feita em autos apartados (§ 2º do art. 4º).

E se a impugnação à justiça gratuita for formulada e julgada nos próprios autos (ou seja,
não foram formados autos apartados)?
Segundo o STJ, não enseja nulidade o processamento da impugnação à concessão do
benefício de assistência judiciária gratuita nos mesmos autos do processo principal, se isso
não acarretar prejuízo à parte.
O processamento incorreto da impugnação nos mesmos autos do processo principal deve
ser considerado mera irregularidade. Conforme o princípio da instrumentalidade das
formas e dos atos processuais, consagrado no caput do art. 244 do CPC, quando a lei
prescreve determinada forma sem cominação de nulidade, o juiz deve considerar válido o
ato se, realizado de outro modo, alcançar sua finalidade. Assim, a parte interessada deveria
arguir a nulidade e demonstrar a ocorrência concreta de prejuízo, por exemplo, eventual
falta do exercício do contraditório e da ampla defesa. O erro formal no procedimento, se
não causar prejuízo às partes, não justifica a anulação do ato impugnado, até mesmo em
observância ao princípio da economia processual (STJ REsp 1.286.262-ES).

Se a pessoa afirma que é pobre, mas, ao final, descobre-se que ela tinha sim condições de
pagar as custas e que, portanto, fez uma declaração falsa, ela comete algum crime?
NÃO. Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, a apresentação de declaração de pobreza,
com informações falsas, para obter assistência judiciária gratuita não caracteriza crime de
falsidade ideológica ou de uso de documento falso.
Processo Terceira Turma. REsp 1.286.262-ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.

Astreintes (destinatário da multa)

O CPC permite que o juiz fixe multa cominatória para compelir o réu ao cumprimento de
obrigação de fazer. Essa multa é conhecida como astreinte.

É possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada?


ATENÇÃO 1ª corrente: 2ª corrente: 3ª corrente:
NÃO SIM SIM
Não é possível a execução É possível a execução provisória É possível a execução provisória
provisória das astreintes. das astreintes sem quaisquer das astreintes desde que:
É necessário o trânsito em condicionamentos, ou seja, com a) o pedido a que se vincula a
julgado para que elas sejam base até mesmo em uma mera astreinte seja julgado procedente
exigidas. decisão interlocutória ainda não na sentença ou acórdão;
confirmada. b) o recurso interposto contra
15

essa sentença ou acórdão não


Página

tenha sido recebido no efeito


suspensivo.

INFORMATIVO esquematizado
Existem precedentes do STJ para as três correntes. No julgado noticiado neste Informativo,
adotou-se a 3ª posição.

Comentários Se o autor ajuíza uma ação pretendendo que o réu seja obrigado a fazer ou não fazer alguma
coisa, o juiz, atendidos os requisitos legais, poderá conceder a tutela antecipada, na forma de
tutela específica, determinando que o réu adote o comportamento que é objeto da ação.

Exemplo (hipotético): “A”, atriz, ingressa com ação de obrigação de fazer contra o site “X”,
especializado em celebridades, tendo como pedido (objeto) que o referido site retire de
suas páginas fotos íntimas da autora e cuja publicação ela não autorizou.

O juiz analisa a petição inicial e entende que é relevante o fundamento da demanda e que
há justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual concede
liminarmente a tutela antecipada determinando que o site retire, em 24 horas, as fotos de
suas páginas. Essa decisão interlocutória está fundada no § 3º do art. 461 do CPC:
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
(...)
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação
prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer
tempo, em decisão fundamentada.

O juiz, para que a sua decisão tenha “força” e desperte no réu a ânsia de cumpri-la, deve
determinar alguma medida coercitiva. A mais conhecida delas é a multa cominatória,
prevista no § 4º do art. 461 do CPC:
§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Multa cominatória (astreinte). Principais características:


 Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de “astreinte” em
virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no
direito francês e que lá assim é chamado.
 A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação.
Trata-se de uma técnica judicial de coerção indireta.
 Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito
processual.
 Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com as perdas e danos
(§ 2º do art. 461).
 Pode ser imposta de ofício ou a requerimento, pelo juiz, na fase de conhecimento ou de
execução.
 Apesar do CPC falar em “multa diária”, a doutrina afirma que essa multa pode ser
estipulada também em meses, anos ou até em horas.
 O valor das astreintes é revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das
astreintes é o autor da demanda (REsp 949.509-RS).
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 A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito
ao valor da multa se sagrar-se vencedora. Se, no final do processo, essa parte sucumbir,
Página

não terá direito ao valor da multa ou, se já tiver recebido, deverá devolver.

INFORMATIVO esquematizado
O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do
trânsito em julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes
fixadas em tutela antecipada?

Havia duas posições antagônicas no STJ sobre o tema:


 1ª corrente: NÃO. Não é possível a execução provisória das astreintes. É necessário que
haja o trânsito em julgado para que elas sejam exigidas. Em suma, somente ao final do
processo o beneficiário da multa poderá executá-la. Nesse sentido: AgRg no AREsp
50.196/SP, Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª Turma, julgado em 21/08/2012.
 2ª corrente: SIM. É possível a execução provisória das astreintes sem quaisquer
condicionamentos, ou seja, com base até mesmo em uma mera decisão interlocutória.
Logo após o descumprimento da decisão que fixou a multa é possível ao beneficiário
executá-la. Nesse sentido: AgRg no AREsp 50.816/RJ, 2ª Turma, Min. Herman Benjamin,
julgado em 07/08/2012.

Como se percebe, eram duas posições em extremos opostos.

Surge, então, neste julgado, uma terceira corrente, intermediária entre as duas posições
acima explicadas. O que ela preconiza?
É possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada desde que
cumpridos dois requisitos:
a) o pedido a que se vincula a astreinte seja julgado procedente na sentença ou acórdão;
b) o recurso interposto contra essa sentença ou acórdão não tenha sido recebido no efeito
suspensivo.

Voltando ao nosso exemplo. O juiz concedeu liminarmente a tutela antecipada para que o
site retirasse as fotos em até 24 horas, sob pena de multa de R$ 1 mil por cada hora de
descumprimento.
A direção do site recebeu a intimação, mas somente retirou as fotos 48 horas depois. Logo,
terá que pagar uma multa de R$ 24 mil pelo atraso no cumprimento da obrigação de fazer
estabelecida pela decisão judicial. O processo continua e ainda não foi sentenciado.

É possível a execução provisória dessa multa de R$ 24 mil?


 Para a 1ª corrente: NÃO. Somente será possível a execução da multa se o pedido do
autor for julgado procedente e houver o trânsito em julgado.
 Para a 2ª corrente: SIM. É possível a execução provisória das astreintes sem quaisquer
condicionamentos, ou seja, com base até mesmo em uma mera decisão interlocutória
ainda não confirmada, como foi o caso do exemplo acima.
 Para a 3ª corrente: ainda não, considerando que não houve sentença julgando
procedente o pedido do autor.

Imagine, então, que é proferida sentença julgando procedente o pedido do autor. O réu
recorre e a apelação é recebida em seu duplo efeito (devolutivo e suspensivo), mas ainda
não julgada. Será possível a execução provisória das astreintes?
 Para a 1ª corrente: NÃO.
 Para a 2ª corrente: SIM.
 Para a 3ª corrente: ainda não, considerando que houve sentença julgando procedente o
17

pedido do autor, no entanto, foi interposto recurso contra essa decisão, tendo ele sido
Página

recebido no efeito suspensivo.

INFORMATIVO esquematizado
A apelação é improvida, sendo mantida, portanto, a sentença. O réu não se conforma e
interpõe recurso especial e recurso extraordinário, que são recebidos apenas no efeito
devolutivo. Será possível a execução provisória das astreintes?
 Para a 1ª corrente: NÃO.
 Para a 2ª corrente: SIM.
 Para a 3ª corrente: SIM, considerando que houve sentença julgando procedente o
pedido do autor, confirmada por um acórdão e os recursos interpostos não gozam de
efeito suspensivo.

Resumindo:
É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DAS ASTREINTES FIXADAS EM TUTELA ANTECIPADA?

1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM 3ª corrente: SIM

Não é possível a execução É possível a execução É possível a execução


provisória das astreintes. provisória das astreintes provisória das astreintes
É necessário o trânsito em sem quaisquer desde que:
julgado para que elas sejam condicionamentos, ou seja, a) o pedido a que se vincula
exigidas. com base até mesmo em a astreinte seja julgado
uma mera decisão procedente na sentença ou
interlocutória ainda não acórdão;
confirmada. b) o recurso interposto
contra essa sentença ou
acórdão não tenha sido
recebido no efeito
suspensivo.
Principais argumentos: Principais argumentos: Principais argumentos:
A multa só deve ser paga à Para que a multa possa Os dispositivos legais que
parte que sagrar-se cumprir sua função exigem o trânsito em julgado
definitivamente vencedora coercitiva é necessário que referem-se apenas aos
na demanda. Logo, deve-se ela possa ser exigida processos coletivos. Desse
aguardar o final do processo. imediatamente. modo, não há determinação
A mera ameaça de Condicionar a exigência da legal para que se aguarde o
aplicação da multa, ao final, multa ao trânsito em fim do processo para se
já é suficiente para julgado iria enfraquecer a cobrar as astreintes.
provocar uma pressão pressão psicológica que as Por outro lado, não é
psicológica no devedor. astreintes devem causar. admissível a execução da
multa com base em mera
decisão interlocutória (que
tem cognição sumária e
precária), sendo necessário
que a liminar que as fixou
seja confirmada em
sentença ou acórdão para
garantir maior segurança.
Na jurisprudência: Na jurisprudência: Na jurisprudência:
“Nos termos da reiterada “É desnecessário o trânsito “As astreintes serão exigíveis
18

jurisprudência do STJ, a em julgado da sentença para e, portanto, passíveis de


multa diária somente é que seja executada a multa execução provisória, quando
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exigível com o trânsito em por descumprimento fixada a liminar que as fixou for
julgado da decisão que, em antecipação de tutela” confirmada em sentença ou

INFORMATIVO esquematizado
confirmando a tutela (AgRg no AREsp 50.816/RJ, 2ª acórdão de natureza
antecipada no âmbito da T., DJe 22/08/2012) definitiva (art. 269 do CPC),
qual foi aplicada, julgar desde que o respectivo
procedente a demanda.” (...) É possível a execução recurso deduzido contra a
(AgRg no AREsp 50.196/SP, da decisão interlocutória decisão não seja recebido no
1ª T, DJe 27/08/2012) que determinou o efeito suspensivo. A pena
pagamento de astreintes no incidirá, não obstante, desde
caso de descumprimento a data da fixação em decisão
de obrigação (...) (AgRg no interlocutória.”
REsp 1299849/MG, 3ª T, (REsp 1347726/RS, 4ª T, DJe
DJe 07/05/2012) 04/02/2013)
Na doutrina: Na doutrina: Na doutrina:
Cândido Rangel Dinamarco Cássio Scarpinella Bueno Não encontrada referência.
Luiz Guilherme Marinoni Fredie Didier Jr.

Para fins de concurso, essa pergunta não poderia ser cobrada em uma primeira fase por
ainda representar divergência jurisprudencial. Para provas discursivas, é importante que
você conheça a existência das três correntes. Particularmente, entendo como mais razoável
a 3ª posição. De qualquer forma, havendo mudança no panorama acima, eu aviso a vocês.
Previsões Atenção. A explicação dada acima refere-se ao regramento do processo individual regulado
específicas pelo CPC. Existem, contudo, previsões em leis especiais estabelecendo que as astreintes
somente podem ser exigidas após o trânsito em julgado. Confira:

Lei n. 7.347/85 (Lei da ACP):


Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.
(...)
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da
decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o
descumprimento.

Esse dispositivo é aplicado pelo STJ:


(...) A exigibilidade da multa cominada liminarmente em ação civil pública fica condicionada
ao trânsito em julgado da decisão final favorável ao autor (art. 12, § 2º, da Lei 7.347/85) (...)
(EDcl no AgRg no REsp 756.224/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma,
julgado em 27/09/2011, DJe 04/10/2011)

Lei n. 8.069/90 (ECA):


Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
prévia, citando o réu.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
19

§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao


autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.
Página

INFORMATIVO esquematizado
O CESPE, em um concurso realizado em 2012, exigiu essa previsão específica. Veja:
(Juiz de Direito/AC – 2012) A respeito da proteção judicial dos interesses individuais, difusos
e coletivos das crianças e dos adolescentes, assinale a opção correta conforme disposição do
ECA e entendimento do STJ:
A) Ao deferir liminar ou proferir sentença, o juiz poderá impor, independentemente de
pedido do autor, multa diária ao réu, suficiente ou compatível com a obrigação. Nesse caso,
o pagamento da multa será exigível somente após o trânsito em julgado da sentença
favorável ao autor, mas o valor será devido desde o dia em que tiver sido configurado o
descumprimento da obrigação. (alternativa considerada CORRETA)

Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso):


Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o
juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem
o resultado prático equivalente ao adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
prévia, na forma do art. 273 do Código de Processo Civil.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao
autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado.

Processo Quarta Turma. REsp 1.347.726-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/11/2012.

Fornecimento de medicamentos por meio de mandado de segurança

Não é possível que o autor impetre um mandado de segurança para obter fornecimento de
medicamentos para tratamento da doença que o acomete.
MUITA Isso porque a instrução de MS somente com laudo médico particular não configura prova pré-
ATENÇÃO constituída da liquidez e certeza do direito do impetrante de obter do Poder Público
PGE
determinados medicamentos e insumos para o tratamento de enfermidade.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Pedro é portador de uma grave doença e seu médico prescreveu determinado
medicamento que não é fornecido pela rede pública de saúde, considerando que o SUS
adota outro tipo de tratamento que, segundo alegam as autoridades governamentais, é
igualmente eficaz.
Pedro impetrou, então, um mandado de segurança contra o Secretário Estadual de Saúde
pedindo o fornecimento do medicamento e juntando, como prova, um laudo médico
particular prescrevendo o tratamento não fornecido pelo SUS.

Sob o ponto de vista exclusivamente do direito processual, a ação proposta terá êxito?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, a instrução de mandado de segurança somente com laudo
médico particular não configura prova pré-constituída da liquidez e certeza do direito do
impetrante de obter do Poder Público determinados medicamentos e insumos para o
tratamento de enfermidade acometida por ele.
20

O laudo de médico particular, embora aceito como elemento de prova, não pode ser
imposto ao magistrado como se a matéria fosse, exclusivamente, de direito. Esse parecer
Página

não é espécie de prova suprema ou irrefutável, ainda mais quando a solução da

INFORMATIVO esquematizado
controvérsia, de natureza complexa, depende de conhecimento técnico-científico,
necessário para saber a respeito da possibilidade de substituição do medicamento ou sobre
sua imprescindibilidade.
Além do mais, o laudo médico, como elemento de prova, deve submeter-se ao
contraditório, à luz do que dispõe o art. 333, II, do CPC, principalmente quando, para o
tratamento da enfermidade, o Sistema Único de Saúde ofereça tratamento adequado,
regular e contínuo.
Nesse contexto, o laudo médico particular, não submetido ao crivo do contraditório, é
apenas mais um elemento de prova, que pode ser ratificado ou infirmado por outras provas
a serem produzidas no processo instrutório, dilação probatória incabível no MS.
Desse modo, o meio adequado ao reconhecimento do direito à obtenção de medicamentos
do Poder Público é a ação ordinária (e não o MS), uma vez que, como foi dito, apenas o
laudo médico atestado por profissional particular sem o crivo do contraditório não
evidencia direito líquido e certo para impetração do writ.
Atenção Não se trata de uma posição pacífica ou consolidada na jurisprudência, podendo acontecer
de, no caso concreto, ser admitido o MS por conta da desnecessidade de dilação probatória.
No entanto, para fins de concurso, este entendimento acima explicado deve ser adotado.
Processo Segunda Turma. RMS 30.746-MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 27/11/2012.

Pedido de suspensão de segurança

Não cabe recurso especial contra decisão proferida em pedido de suspensão de liminar.
O REsp tem como finalidade discutir argumentos referentes a exame de legalidade, e o pedido
de suspensão ostenta juízo político.
O REsp não se presta à revisão do juízo político realizado pelo tribunal para a concessão da
suspensão de liminar, notadamente porque decorrente de juízo de valor acerca das circunstâncias
fáticas que ensejaram a medida, cujo reexame é vedado nos termos da Súmula 7 do STJ.
Comentários PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA

Conceito
O pedido de suspensão é
- um instrumento processual (incidente processual)
- por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público
- requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento do recurso
- que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos
- sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

Natureza jurídica
Prevalece que se trata de um “incidente processual” (Leonardo José Carneiro da Cunha).

A decisão de suspensão de segurança possui caráter político ou jurisdicional?


1ª corrente: 2ª corrente:
Trata-se de um juízo político a respeito da 2ª) trata-se de decisão judicial,
lesividade do ato judicial à ordem, à saúde, considerando que uma decisão político-
à segurança e à economia públicas, sendo, administrativa não poderia atingir uma
por isso, impassível de recurso especial. É a decisão judicial anterior; além disso, se
21

posição pacífica do STJ. fosse política, poderia ser tomada de


ofício. É a posição de Marcelo Abelha e
Página

Leonardo Cunha.

INFORMATIVO esquematizado
A vedação ao Resp e ao RE decorreria,
segundo tais autores, do fato de que tais
recursos não admitem análise de matéria
de fato ou de prova.

Nomenclatura
Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de segurança”. Isso porque
ele foi previsto, originalmente, na lei, apenas para suspender as decisões liminares ou
sentenças proferidas em mandados de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão
para, praticamente, toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Por essa razão, atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em
“suspensão de liminar”, “suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc.

Previsão legal
Há cinco diferentes leis prevendo pedido de suspensão:
 Art. 12, § 1º da Lei n. 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP):
 Art. 4º da Lei n. 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em
ação popular ou em ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral
sobre o pedido de suspensão;
 Art. 1º da Lei n. 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda
Pública);
 Art. 16 da Lei n. 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
 Art. 15 da Lei n. 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).

Lei n. 8.437/92:


Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo
recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas
contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa
jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de
flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas.
§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação cautelar
inominada, no processo de ação popular e na ação civil pública, enquanto não transitada
em julgado.

Possibilidade de formular pedido de suspensão e interpor recurso:


Contra uma decisão interlocutória proferida por um juiz, em 1ª instância, poderão ser
interpostos o agravo de instrumento e, concomitantemente, o pedido de suspensão. Isso
porque o pedido de suspensão não é recurso. Logo, não há violação ao princípio da
singularidade ou unirrecorribilidade. Além disso, os objetivos do agravo e do pedido de
suspensão são diferentes.
Vale ressaltar que essa possibilidade é prevista expressamente:
Lei n.° 8.437/92
Art. 4º (...) § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações
movidas contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento
do pedido de suspensão a que se refere este artigo.
22

Lei n.° 12.016/2009


Art. 15 (...) § 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas
Página

ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o
julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

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Legitimidade
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
b) Autarquias e fundações;
c) Ministério Público;
d) Concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse público primário).

Competência
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do
Presidente do Tribunal que teria competência para julgar o
recurso contra a decisão.
Decisão prolatada por
Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de
juiz de 1ª instância:
suspensão será julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de
suspensão será julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
 Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
 Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
Decisão prolatada por
membro de TJ ou TRF:
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido
de suspensão será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não
ao Presidente do TJ/AM (art. 25 da Lei n. 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o
Decisão prolatada por
ajuizamento de pedido de suspensão dirigido ao Presidente do STF.
membro de Tribunal
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há
Superior:
possibilidade de pedido de suspensão.

Não se examina o mérito no pedido de suspensão:


Na análise do pedido de suspensão, é vedado o exame do mérito da demanda principal. O
que será examinado pelo Tribunal é se a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à:
a) ordem
b) saúde
c) segurança ou
d) economia públicas.

A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de grave lesão à


ordem, à segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de mérito da demanda
principal não podem ser examinados nessa medida, que não substitui o recurso próprio.
(AgRg na SLS 1.135/MA, Rel. Ministro PRESIDENTE DO STJ, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR
ASFOR ROCHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/04/2010, DJe 20/05/2010)

Apesar de não se examinar o mérito, deve ser realizado um juízo mínimo de delibação:
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é
preciso, para que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade
na tese da Fazenda Pública porque o pedido de suspensão funciona como uma
contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus boni iuris e periculum in mora inverso:
23

(...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de


um juízo mínimo de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal,
Página

quando da análise do pedido de suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro


Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel. Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001,

INFORMATIVO esquematizado
dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-
078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001)

A decisão no pedido de suspensão possui caráter político ou jurisdicional?


R: Político. Trata-se de um juízo político a respeito da lesividade do ato judicial à ordem, à
saúde, à segurança e à economia públicas. É a posição pacífica do STJ.

Recurso contra a decisão proferida no pedido de suspensão:


Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso?
SIM. Caberá agravo interno para o Plenário ou Corte Especial do Tribunal.

Cabe recurso da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
NÃO. Segundo entendimento pacífico, não cabe Recurso Extraordinário ou Recurso Especial
de decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão.
O recurso especial não se presta à revisão do juízo político realizado pelo tribunal a quo
para a concessão da suspensão de liminar, notadamente porque decorrente de juízo de
valor acerca das circunstâncias fáticas que ensejaram a medida, cujo reexame é vedado nos
termos da Súm. n. 7/STJ (AgRg no AREsp 126.036-RS).

No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou mantida a suspensão, a Fazenda
Pública ainda terá outro instrumento: apresentar novo pedido de suspensão, desta vez para
o STJ ou para o STF, a depender da natureza da matéria (se infraconstitucional ou
constitucional).

Lei n.° 8.437/92


Art. 4º (...) § 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o
restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de suspensão
ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou
extraordinário.

Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente
para o Plenário, que reforma a decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou
RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do
Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou
RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

A doutrina afirma que se trata de um pedido de suspensão “por salto de instância”.


Obra
CUNHA, Leonardo José Carneiro. A Fazenda Pública em Juízo. São Paulo: Dialética, 8ª ed., 2010.
consultada
Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 126.036-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 4/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
Ação demolitória

O possuidor ou dono da obra, responsável pela ampliação irregular do imóvel, é legitimado


passivo de ação demolitória que vise à destruição do acréscimo irregular realizado, ainda que
ele não ostente o título de proprietário do imóvel.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Carlos é possuidor de uma casa e resolveu ampliá-la, construindo um 2º andar.
Ocorre que essa construção foi feita em desacordo com as regras do direito de vizinhança e
com o plano diretor.
Diante disso, o Município ingressou com uma ação demolitória requerendo que Carlos seja
condenado a demolir a construção feita, respondendo, ainda, por perdas e danos, nos
termos do art. 1.312 do CC.
Carlos contestou a ação suscitando, como preliminar, sua ilegitimidade passiva ad causam,
sob o argumento de que é mero possuidor, não sendo, contudo, o proprietário do imóvel.
Afirmou que somente o proprietário poderia figurar como réu da ação.

O argumento de Carlos poderá ser acolhido?


NÃO. Segundo o STJ, o possuidor ou dono da obra, responsável pela ampliação irregular do
imóvel, é legitimado passivo de ação demolitória que vise à destruição do acréscimo
irregular realizado, ainda que ele não ostente o título de proprietário do imóvel.
As normas que impõem limites às construções não se destinam apenas aos proprietários,
mas também aos possuidores ou donos da obra (responsáveis pela obra).
Processo Segunda Turma. REsp 1.293.608-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/12/2012.

Arrematação

Efetuada a arrematação, descabe o pedido de desconstituição da alienação nos autos da


execução, demandando ação própria prevista no art. 486 do CPC.
Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:
a) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
b) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e,
caso não o faça, seus bens são penhorados.

O que é a penhora?
Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou
indiretamente, na satisfação do crédito executado.

Formas de utilizar o bem penhorado para satisfação da dívida:


Como visto, os bens do devedor são penhorados a fim de serem utilizados, direta ou
indiretamente, para a satisfação da dívida.

O que acontece com o bem penhorado?


Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação.
Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser:
a) Adjudicado;
25

b) Alienado por iniciativa particular;


c) Alienado em hasta pública;
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d) Concedido em usufruto ao exequente.

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A isso se dá o nome de expropriação, conforme previsto no art. 647 do CPC:
Art. 647. A expropriação consiste:
I - na adjudicação em favor do exequente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A
desta Lei;
II - na alienação por iniciativa particular;
III - na alienação em hasta pública;
IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel.

I – Adjudicação
A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado é transferida ao exequente
ou aos terceiros legitimados.
Art. 685-A. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer
lhe sejam adjudicados os bens penhorados.
§ 1º Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a
diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo
saldo remanescente.
§ 2º Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores
concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou
ascendentes do executado.
§ 3º Havendo mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação; em igualdade
de oferta, terá preferência o cônjuge, descendente ou ascendente, nessa ordem.
(...)

II – Alienação por iniciativa particular


Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exequente poderá requerer
sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado
perante a autoridade judiciária.
§ 1º O juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser efetivada, a forma de publicidade, o
preço mínimo (art. 680), as condições de pagamento e as garantias, bem como, se for o
caso, a comissão de corretagem.
§ 2º A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exequente,
pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do
imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao
adquirente.
§ 3º Os Tribunais poderão expedir provimentos detalhando o procedimento da alienação
prevista neste artigo, inclusive com o concurso de meios eletrônicos, e dispondo sobre o
credenciamento dos corretores, os quais deverão estar em exercício profissional por não
menos de 5 (cinco) anos.

III – Alienação em hasta pública


Se não houver interessados na adjudicação (inciso I do art. 647 do CPC) e se o credor não
requerer a alienação particular do bem (inciso II), então o destino do bem será a sua
alienação em hasta pública (inciso III).
A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento
organizado pelo Estado-juiz.
Existem duas formas de hasta pública (art. 686, IV):
26

a) Praça: quando a coisa a ser alienada for bem imóvel;


b) Leilão: quando a coisa a ser alienada for bem móvel.
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INFORMATIVO esquematizado
O que é arrematação?
Consiste na alienação do bem penhorado em hasta pública.

Se o bem penhorado é arrematado e, após isso, a impugnação ou os embargos do devedor


(embargos à execução) são julgados procedentes, essa alienação é anulada?
Em regra, não. Veja o que diz o art. 694 do CPC:
Art. 694. Assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário da justiça ou
leiloeiro, a arrematação considerar-se-á perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham
a ser julgados procedentes os embargos do executado.

Segundo o STJ, essa norma visa conferir estabilidade à arrematação, protegendo o


arrematante e impondo-lhe obrigação, como também buscando reduzir os riscos do
negócio jurídico, propiciando efetivas condições para que os bens levados à hasta pública
recebam melhores ofertas em benefício das partes do feito executivo e da atividade
jurisdicional na execução.

Excepcionalmente, o § 1º do art. 694 traz algumas hipóteses nas quais poderá ocorrer o
desfazimento ou dissolução da arrematação:
§ 1º A arrematação poderá, no entanto, ser tornada sem efeito:
I - por vício de nulidade;
II - se não for pago o preço ou se não for prestada a caução;
III - quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a existência de ônus real ou
de gravame (art. 686, inciso V) não mencionado no edital;
IV - a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação (art. 746, §§
1º e 2º);
V - quando realizada por preço vil (art. 692);
VI - nos casos previstos neste Código (art. 698).

No caso do inciso I (vício de nulidade), a doutrina sustenta que a invalidade da arrematação


pode ser requerida por “embargos à arrematação” ou por “ação anulatória autônoma” (art.
486 do CPC). Nesse sentido: DIDIER JR., Fredie; et. al. Curso de Direito Processual Civil.
Execução. Salvador: Juspodivm, 2011, p. 664).

IV – Usufruto de bem móvel ou imóvel


Se o juiz conceder o usufruto do bem penhorado ao exequente, significa que ele autoriza
que o credor fique recebendo os frutos ou rendimentos que a coisa produzir até que
consiga quitar a dívida.
Ex: foi penhorado um apartamento do executado que se encontra alugado a um terceiro;
pode o juiz conceder o usufruto judicial desse apartamento ao exequente, que passará a
receber o valor dos alugueis até que o débito da execução seja totalmente pago.
Apesar do CPC chamar esse inciso IV de “usufruto”, a doutrina afirma que, na verdade, não
se trata de usufruto, mas sim de uma forma de “anticrese”.
Art. 716. O juiz pode conceder ao exequente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o
reputar menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do crédito.
Art. 717. Decretado o usufruto, perde o executado o gozo do móvel ou imóvel, até que o
exequente seja pago do principal, juros, custas e honorários advocatícios.
27

Processo Quarta Turma. REsp 1.313.053-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/12/2012.
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DIREITO PENAL

Princípio da insignificância (contrabando)

Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes de contrabando de máquinas caça-


níqueis ou de outros materiais relacionados com a exploração de jogos de azar.
Comentários Aplica-se o princípio da insignificância no caso de descaminho?
SIM. O descaminho é também considerado um crime contra a ordem tributária, apesar de
estar previsto no art. 334 do Código Penal e não na Lei n. 8.137/90.
Desse modo, é possível a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho.

Aplica-se o princípio da insignificância no caso de contrabando?


NÃO. Não se aplica o princípio da insignificância no caso de contrabando, tendo em vista o
desvalor da conduta do agente (STF. HC 110.964, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda
Turma, julgado em 07/02/2012).

O contrabando e o descaminho estão previstos no mesmo tipo penal (art. 334 do CP). Por
que não pode ser utilizado o mesmo critério do descaminho para o contrabando no que
tange à insignificância?

Descaminho Contrabando
Corresponde à entrada ou à saída de Corresponde à conduta de importar ou
produtos PERMITIDOS, todavia elidido, no exportar mercadoria PROIBIDA.
todo ou em parte, o pagamento de direito
ou de imposto devido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo da mercadoria.

Desse modo, no delito de contrabando, o objeto material sobre o qual recai a conduta
criminosa é a mercadoria PROIBIDA (proibição absoluta ou relativa).
Em outras palavras, o objetivo precípuo dessa tipificação legal é evitar o fomento de
transporte e comercialização de produtos proibidos por lei.
No contrabando não se cuida, tão somente, de sopesar o caráter pecuniário do imposto
sonegado, mas, principalmente, de tutelar, entre outros bens jurídicos, a saúde pública.
Em suma, no contrabando, o desvalor da conduta é maior, razão pela qual se deve afastar a
aplicação do princípio da insignificância (STF HC 110.964).

No caso noticiado neste informativo, a 5ª Turma do STJ negou aplicação ao princípio da


insignificância para o crime de contrabando de máquinas caça-níqueis.
Para o STJ, há reprovabilidade desta conduta, considerando que os itens (máquinas)
introduzidos no território nacional prestam-se, única e exclusivamente, para a prática de
atividades ilícitas, afetando, portanto, diretamente, a ordem pública.
Assim, não é possível considerar tão somente o valor dos tributos suprimidos, pois essa
conduta tem, ao menos em tese, relevância na esfera penal. Permitir tal hipótese consistiria
num verdadeiro incentivo ao descumprimento da norma legal, sobretudo em relação
àqueles que fazem de atividades ilícitas um meio de vida.
Princípio da Para maiores informações, consulta nossa apostila sobre o princípio da insignificância nos
Insignificân- esquemas de aula do Dizer o Direito.
28

cia
Processo Quinta Turma. REsp 1.212.946-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 4/12/2012.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Roubo circunstanciado pelo emprego de arma
É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que incida a
majorante do art. 157, § 2º, I, do Código Penal?
NÃO. O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da apreensão e da
realização de perícia na arma, desde que provado o seu uso no roubo por outros meios de prova.

No entanto, se a arma é apreendia e periciada, sendo constatada a sua inaptidão para a produção
de disparos, neste caso, não se aplica a majorante do art. 157, § 2º, I, do CP, sendo considerado
roubo simples (art. 157, caput, do CP). O legislador, ao prever a majorante descrita no referido
dispositivo, buscou punir com maior rigor o indivíduo que empregou artefato apto a lesar a
integridade física do ofendido, representando perigo real, o que não ocorre na hipótese de
instrumento notadamente sem potencialidade lesiva. Assim, a utilização de arma de fogo que
não tenha potencial lesivo afasta a mencionada majorante, mas não a grave ameaça, que
constitui elemento do tipo “roubo” na sua forma simples.
Comentários O art. 157 do Código Penal prevê o crime de roubo:
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

O § 2º do art. 157 prevê cinco causas de aumento de pena para o roubo. Desse modo, se
ocorre alguma dessas hipóteses, tem-se o chamado “roubo circunstanciado” (também
conhecido como “roubo agravado” ou “roubo majorado”):
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

Repare na hipótese prevista no inciso I:


§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

Veja agora uma série de perguntas de prova sobre esse inciso:

1) O que pode ser considerado “arma”?


Para os fins do art. 157, § 2º, I, podem ser incluídos no conceito de arma:
 a arma de fogo;
 a arma branca (considerada arma imprópria), como faca, facão, canivete;
 e quaisquer outros "artefatos" capazes de causar dano à integridade física do ser
humano ou de coisas, como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um
espeto de churrasco, uma chave de fenda etc.

2) Se o agente emprega no roubo uma “arma” de brinquedo, haverá a referida causa de


aumento?
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NÃO. Até 2002, prevalecia que sim. Havia até a Súmula 174 do STJ afirmando isso. Contudo,
Página

essa súmula foi cancelada, de modo que, atualmente, no crime de roubo, a intimidação
feita com arma de brinquedo não autoriza o aumento da pena.

INFORMATIVO esquematizado
3) É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que incida a
majorante?
NÃO. O reconhecimento da causa de aumento prevista no art. 157, § 2º, I, do Código Penal
prescinde (dispensa) da apreensão e da realização de perícia na arma, desde que provado o
seu uso no roubo por outros meios de prova.
Se o acusado alegar o contrário ou sustentar a ausência de potencial lesivo na arma
empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova, nos termos do
art. 156 do Código de Processo Penal.

4) Se, após o roubo, foi constatado que a arma empregada pelo agente apresentava defeito,
incide mesmo assim a majorante?
Depende:
 Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja absolutamente
ineficaz, não incide a majorante. Ex: revólver que não possui mecanismo necessário
para efetuar disparos. Nesse caso, o revólver defeituoso servirá apenas como meio para
causar a grave ameaça à vítima, conforme exige o caput do art. 157, sendo o crime o de
roubo simples;
 Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja relativamente
ineficaz, INCIDE a majorante. Ex: revólver que algumas vezes trava e não dispara. Nesse
caso, o revólver, mesmo defeituoso, continua tendo potencialidade lesiva, de sorte que
poderá causar danos à integridade física, sendo, portanto, o crime o de roubo
circunstanciado.

5) O Ministério Público que deve provar que a arma utilizada estava em perfeitas condições
de uso?
NÃO. Cabe ao réu, se assim for do seu interesse, demonstrar que a arma é desprovida de
potencial lesivo, como na hipótese de utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou
arma incapaz de produzir lesão (STJ EREsp 961.863/RS).

6) Se, após o roubo, foi constatado que a arma estava desmuniciada no momento do crime,
incide mesmo assim a majorante?
NÃO. A utilização de arma desmuniciada, como forma de intimidar a vítima do delito de
roubo, caracteriza o emprego de violência, porém, não permite o reconhecimento da
majorante de pena, já que esta está vinculada ao potencial lesivo do instrumento,
pericialmente comprovado como ausente no caso, dada a sua ineficácia para a realização de
disparos (STJ HC 190.067/MS).

7) Além do roubo qualificado, o agente responderá também pelo porte ilegal de arma de fogo
(art. 14 ou 16, da Lei n. 10.826/2003)?
Em regra, não. Geralmente, o crime de porte ilegal de arma de fogo é absorvido pelo crime
de roubo circunstanciado. Aplica-se o princípio da consunção, considerando que o porte
ilegal de arma de fogo funciona como crime meio para a prática do roubo (crime fim),
sendo por este absorvido.

Você poderá encontrar assim no concurso:


(Promotor/MPRO – 2010) O delito de roubo majorado por uso de arma absorve o delito de
porte de arma (afirmativa CORRETA).
30

“A conduta de portar arma ilegalmente é absorvida pelo crime de roubo, quando, ao longo
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da instrução criminal, restar evidenciado o nexo de dependência ou de subordinação entre

INFORMATIVO esquematizado
as duas condutas e que os delitos foram praticados em um mesmo contexto fático,
incidindo, assim, o princípio da consunção” (STJ HC 178.561/DF).

No entanto, poderá haver condenação pelo crime de porte em concurso material com o
roubo se ficar provado nos autos que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em
outras oportunidades antes ou depois do crime de roubo e que ele não se utilizou da arma
tão somente para cometer o crime patrimonial.
Ex: “Tício”, às 13h, mediante emprego de um revólver, praticou roubo contra “Caio”, que
estava na parada de ônibus (art. 157, § 2º, I, CP). No mesmo dia, por volta das 14h 30min,
em uma blitz de rotina da polícia (sem que os policiais soubessem do roubo ocorrido),
“Ticio” foi preso com os pertences da vítima e com o revólver empregado no assalto. Em um
caso semelhante a esse, a 5ª Turma do STJ reconheceu o concurso material entre o roubo e
o delito do art. 14, da Lei n. 10.826/2003, afastando o princípio da consunção.

Veja trechos da ementa desse julgado mencionado acima:


1. O princípio da consunção é aplicado para resolver o conflito aparente de normas penais
quando um crime menos grave é meio necessário ou fase de preparação ou de execução do
delito de alcance mais amplo, de tal sorte que o agente só será responsabilizado pelo
último, desde que se constate uma relação de dependência entre as condutas praticadas
(Precedentes STJ).
2. No caso em apreço, observa-se que o crime de porte ilegal de arma de fogo ocorreu em
circunstância fática distinta ao do crime de roubo majorado, porquanto os pacientes foram
presos em flagrante na posse do referido instrumento em momento posterior à prática do
crime contra o patrimônio, logo, em se tratando de delitos autônomos, não há que se falar
em aplicação do princípio da consunção. (...)
(HC 199.031/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 21/06/2011)

Outro julgado recente do STF no mesmo sentido:


1. Caso no qual o acusado foi preso portando ilegalmente arma de fogo, usada também em
crime de roubo três dias antes. Condutas autônomas, com violação de diferentes bens
jurídicos em cada uma delas.
2. Inocorrente o esgotamento do dano social no crime de roubo, ante a violação posterior da
incolumidade pública pelo porte ilegal de arma de fogo, não há falar em aplicação do
princípio da consunção. (...)
(RHC 106067, Relatora Min. Rosa Weber, Primeira Turma, julgado em 26/06/2012)
Processo Sexta Turma. HC 247.669-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/12/2012.

Crime contra a ordem tributária

O início do prazo prescricional em relação ao crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990
é o momento da constituição definitiva do crédito tributário, elemento imprescindível para o
desencadeamento da ação penal.
Segundo o enunciado da Súmula 436/STJ, a entrega de declaração pelo contribuinte
reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra
providência por parte do fisco.
No caso concreto, o contribuinte declarou o débito por meio de GIA, remetendo-a ao Fisco
estadual, mas deixando de recolher, no prazo legal, o ICMS devido ao Erário estadual,
31

iniciando-se na data da declaração o prazo prescricional.


Comentários A Lei n. 8.137/90 define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as
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relações de consumo.
Os arts. 1º e 2º da Lei trazem os crimes praticados por particulares contra a ordem tributária.
INFORMATIVO esquematizado
Vejamos um pouco mais sobre o delito previsto no art. 2º, II:
Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado
ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres
públicos;
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Bem jurídico
O bem jurídico protegido é a ordem tributária, ou seja, o interesse do Estado na
arrecadação dos tributos. Alguns autores falam que o bem jurídico é o erário.

Apropriação indébita
O art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90 é uma forma especial de apropriação indébita.
É muito semelhante também com o delito de apropriação indébita previdenciária (art. 168-
A do CP), sendo a principal diferença a seguinte:
Art. 168-A do CP Art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90
O agente deixa de repassar contribuições O agente deixa de repassar quaisquer
previdenciárias recolhidas dos outros tributos (que não contribuições
contribuintes. previdenciárias) recolhidas dos
contribuintes.

Sujeito ativo
Comete o crime aquele que era o responsável por recolher aos cofres públicos o valor do
tributo ou da contribuição social descontado ou cobrado, mas não o faz.
Doutrinariamente, é classificado como crime comum considerando que não se exige
qualidade especial do sujeito ativo (pode ser qualquer pessoa que tinha responsabilidade
pelo recolhimento e não o fez dolosamente).

Sujeito passivo
Será a União, o Estado-membro ou o Município tributante.

Tipo objetivo
Algumas vezes a legislação estabelece que a pessoa tem, como obrigação tributária
acessória, que recolher o tributo ou a contribuição social devida por outra e depois repassar
esse valor ao ente tributante.
Ex1: o empregador, ao efetuar o pagamento do salário do empregado, deverá reter uma
parcela desse rendimento e repassar tal valor à Receita Federal.
Se a pessoa fizer o desconto e não recolher, no prazo legal, o valor do tributo ou da
contribuição social para o Fisco, haverá a prática desse crime.

Ex2: Rubens, sócio-gerente de uma sociedade comercial, deixou de recolher, de forma


consciente, no prazo legal, o ICMS, referente aos meses de março e abril de 2002,
escriturado nos livros fiscais e declarado à administração fazendária. Nessa situação,
Rubens praticou, em tese, crime contra a ordem tributária (AGU 2003).

Competência
A competência para julgar o crime irá variar de acordo com a competência tributária para
32

instituir o respectivo tributo. Assim, por exemplo, se for tributo de competência da União, a
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competência jurisdicional será da Justiça Federal. Se o tributo for instituído pelos Estados
ou Municípios, a competência jurisdicional será da Justiça Estadual.

INFORMATIVO esquematizado
Consumação e início da prescrição
No julgado noticiado neste informativo, a 6ª Turma discutia o início do prazo prescricional
do crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90.
Segundo entendeu a 6ª Turma, para que seja proposta ação penal pelo crime do art. 2º, II,
da Lei n. 8.137/90 é indispensável que, antes da denúncia ser oferecida, ocorra a
constituição definitiva do crédito tributário.
Logo, para o STJ, cabia discutir quando houve a constituição definitiva e, assim, poderia se
descobrir quando se iniciou o prazo prescricional.

Quando ocorreu a constituição definitiva?


Os Ministros entenderam que, no caso concreto, que envolvia o não recolhimento de ICMS,
a constituição definitiva do crédito tributário ocorreu com a entrega da declaração da Guia
de Informação e Apuração do ICMS (chamada de GIA) ao Fisco Estadual sem o recolhimento
do tributo devido.
De acordo com a jurisprudência consolidada do STJ, a entrega da GIA é o modo de
constituição do crédito tributário, dispensando a Fazenda Pública de qualquer outra
providência adicional. Esse entendimento gerou até a edição de uma súmula:
Súmula n. 436 do STJ: A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal
constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.

Dessa feita, no caso concreto julgado (envolvendo ICMS), o termo inicial do prazo prescricional
do crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990 foi a data da entrega da declaração GIA
pelo próprio contribuinte, e não a inscrição do crédito tributário em dívida ativa.
Atenção Cuidado. A posição defendida neste julgado, qual seja, a de que a ação penal pelo crime do
art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90 exige antes a prévia constituição definitiva do crédito
tributário não é pacífica. É importante conhecer o precedente, mas não se deve imaginar
que é algo tranquilo.
Processo Sexta Turma. HC 236.376-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/11/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Modificação de competência e ratificação de denúncia

Se o Ministério Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o réu e esta é
posteriormente encaminhada ao STJ, tal denúncia somente poderá ser processada e julgada se
for ratificada pelo Procurador-Geral da República ou por um dos Subprocuradores-Gerais.
A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do
feito, a denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada pelo STJ se for
ratificada pelo MPF, órgão que tem legitimidade para atuar nas ações penais de competência
originária do Tribunal da Cidadania.
Comentários Exemplo hipotético:
O Procurador Geral de Justiça (Ministério Público estadual) ofereceu denúncia, no Tribunal
de Justiça, contra “X” (prefeito).
Deve-se lembrar que os Prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de
Justiça (art. 29, X, da CF/88).
33

Antes que a denúncia fosse recebida, “X” foi eleito e diplomado Governador do Estado.
A competência para processar e julgar os Governadores pela prática de infrações penais
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comuns é do STJ (art. 105, I, a, da CF/88). Logo, o TJ perdeu a competência para analisar se
deveria ou não receber a denúncia, devendo remeter o processo ao STJ.

INFORMATIVO esquematizado
Chegando o processo ao STJ, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual somente
poderá ser examinada por aquela Corte se for ratificada pelo Procurador-Geral da República
(ou por um dos Subprocuradores-Gerais que atue por delegação), em homenagem ao
princípio do promotor natural. Isso porque o órgão ministerial que tem legitimidade para
atuar no STJ é o Procurador-Geral da República (ou um Subprocurador-Geral, mediante
delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido, confira o art. 48, II, da LC n. 75/93:
Art. 48. Incumbe ao Procurador-Geral da República propor perante o Superior Tribunal de
Justiça:
(...)
II - a ação penal, nos casos previstos no art. 105, I, "a", da Constituição Federal.
Parágrafo único. A competência prevista neste artigo poderá ser delegada a Subprocurador-
Geral da República.
Processo Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012.

Competência e uso de documento falso perante a Polícia Rodoviária Federal

Compete à Justiça Federal o julgamento de crime consistente na apresentação de Certificado de


Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) falso à Polícia Rodoviária Federal.
Comentários A competência para processo e julgamento do delito previsto no art. 304 do CP deve ser
fixada com base na qualificação do órgão ou entidade à qual foi apresentado o documento
falsificado, que efetivamente sofre prejuízo em seus bens ou serviços, pouco importando,
em princípio, a natureza do órgão responsável pela expedição do documento.
Assim, em se tratando de apresentação de documento falso à PRF, órgão da União, em
detrimento do serviço de patrulhamento ostensivo das rodovias federais, afigura-se
inarredável a competência da Justiça Federal para o julgamento da causa, nos termos do
art. 109, IV, da CF:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Processo Terceira Seção. CC 124.498-ES, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE),
julgado em 12/12/2012.

Competência da Justiça Federal e contravenções

É da competência da Justiça estadual o julgamento de contravenções penais, mesmo que


conexas com delitos de competência da Justiça Federal.
Comentários A competência da Justiça Federal para julgar crimes está prevista no art. 109 da CF:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
(...)
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VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
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IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da


Justiça Militar;

INFORMATIVO esquematizado
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

Como se vê pela redação literal, a Justiça Federal NÃO julga contravenções penais, uma vez
que o art. 109 da CF fala apenas em crimes. Nesse sentido, é a súmula 38 do STJ:
Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.

Desse modo, por exemplo, se for praticada uma contravenção penal a bordo de navio ou
aeronave, mesmo que esteja navegando ou em voo, a competência será da Justiça Estadual:
(...) 1. A Justiça Federal não tem competência para julgar contravenção penal, ainda que
praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, nos termos da Súmula
nº 38 desta Corte.
2. O artigo 109, inciso IX, da Constituição Federal de 1988, utilizado pelo Juízo suscitado
para embasar o declínio da competência para o Juízo Federal, refere-se tão somente aos
crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, excluídas, portanto, as contravenções
penais. (...)
(CC 117.220/BA, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Seção, julgado em 26/10/2011)

E se a contravenção penal for conexa com crime federal?


R: Haverá a cisão dos processos, de forma que o crime será julgado pela Justiça Federal e a
contravenção pela Justiça Estadual:
I - As contravenções, mesmo que praticadas em detrimento de interesse da União, são
apreciadas na Justiça Estadual (Súmula nº 38-STJ).
II - Na hipótese de conexão ou continência, prevalece a regra constitucional (art. 109, inciso
IV), indicando a necessidade do desmembramento.
Conflito julgado procedente.
(CC 20454/RO, Rel. Min. Felix Fischer, Terceira Seção, julgado em 13.12.1999)

A doutrina afirma que existe uma exceção na qual a Justiça Federal julgaria contravenção
penal: contravenção penal praticada, por exemplo, por juiz federal. Nesta hipótese, essa
contravenção penal seria julgada pelo TRF.
Processo Terceira Seção. CC 120.406-RJ, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE),
julgado em 12/12/2012.

DIREITO TRIBUTÁRIO
Incidência de juros moratórios sobre a multa punitiva
Em caso de inadimplemento do crédito tributário, os juros de mora deverão incidir sobre a
totalidade da dívida, ou seja, sobre o tributo acrescido da multa fiscal punitiva, a qual também
integra o crédito tributário.
Comentários Em caso de inadimplemento no pagamento do tributo, o Fisco aplica uma multa punitiva.
Assim, em decorrência do atraso, o sujeito passivo passará a ter que pagar o tributo mais a
multa. Isso constitui o crédito tributário.
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Se o contribuinte continuar inadimplente, haverá a cobrança também de juros de mora, que


deverão incidir sobre a totalidade do débito, ou seja, sobre o principal mais a multa.
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Em suma, segundo o STJ, é legítima a incidência dos juros de mora sobre a multa fiscal punitiva,
considerando que ela também integra o crédito tributário juntamente com o débito original.

INFORMATIVO esquematizado
O fundamento para essa conclusão está na combinação do art. 113, § 1º com o art. 161 do CTN.
Com efeito, o art. 113, § 1º do CTN determina que o crédito tributário engloba tanto o tributo
como a penalidade pecuniária (multa).
Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela
decorrente.

O art. 161 do CTN, por sua vez, determina que os juros de mora deverão incidir sobre o
crédito tributário, ou seja, sobre o tributo e mais a multa:
Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja
qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e
da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.

Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.335.688-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 4/12/2012.

Início do prazo prescricional no caso de exclusão do REFIS


(obs: somente interessa a quem presta concursos federais)

Quando interrompido pelo pedido de adesão ao Refis, o prazo prescricional de 5 anos para a
cobrança de créditos tributários devidos pelo contribuinte excluído do programa reinicia na
data da decisão final do processo administrativo que determina a exclusão do devedor do
referido regime de parcelamento de débitos fiscais.
Comentários O Programa de Recuperação Fiscal – Refis, regime peculiar de parcelamento dos tributos
devidos à União, é causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, VI, do
CTN) e, ao mesmo tempo, causa de interrupção da prescrição (art. 174, parágrafo único, IV,
do CTN), na medida em que representa confissão extrajudicial do débito.
Dessa forma, o crédito tributário submetido ao aludido programa será extinto se houver
quitação integral do parcelamento, ou, ao contrário, retomará a exigibilidade em caso de
rescisão do programa, hipótese em que o prazo prescricional será reiniciado, uma vez que,
como foi dito, a submissão do crédito ao programa representa causa de interrupção, e não
de suspensão, da prescrição.
Ocorre que, no caso do Refis, o Fisco, atento aos princípios do contraditório e da ampla
defesa, prevê a obrigatoriedade de instauração de processo administrativo para a exclusão
de tal regime de parcelamento, nos moldes da Resolução CG/Refis 9/2001, com as
alterações promovidas pela Resolução CG/Refis 20/2001.
Assim, considerando o fato de que o STJ possui entendimento de que a instauração do
contencioso administrativo, além de representar causa de suspensão da exigibilidade do
crédito tributário, amolda-se à hipótese do art. 151, III, do CTN – razão pela qual perdurará
a suspensão da exigibilidade até decisão final na instância administrativa –, deve ser
prestigiada a orientação de que, uma vez instaurado o contencioso administrativo, a
exigibilidade do crédito tributário – e, com ela, a fluência da prescrição – somente será
retomada após a decisão final da autoridade fiscal.
Logo, caso o devedor tributário tenha sido excluído do REFIS, o prazo prescricional para
cobrança do tributo somente se inicia com a decisão final da autoridade fiscal após o
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processo administrativo instaurado para a exclusão do programa.


Processo Segunda Turma. REsp 1.144.963-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/11/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Auxílio-acidente

O termo inicial para pagamento de auxílio-acidente é a data da citação do INSS se ausente


prévio requerimento administrativo ou prévia concessão de auxílio-doença.
Comentários O termo inicial para pagamento do auxílio-acidente não é a data do laudo pericial, mas sim
o dia em que o INSS foi citado na ação proposta contra ele.
O laudo pericial apenas norteia o livre convencimento do juiz quanto a alguma incapacidade
ou mal surgido anteriormente à propositura da ação, sendo que a citação válida constitui
em mora o demandado (art. 219 do CPC).
Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 145.255-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/11/2012.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (AGU 2012) Caso determinado desembargador federal conceda tutela antecipada em agravo de
instrumento, poderá a fazenda pública insurgir-se contra a decisão, mediante a interposição de
suspensão de segurança dirigida ao presidente do STJ, sendo a matéria infraconstitucional. ( )
2) (AGU 2012) Se determinado juiz, em ação civil pública, conceder liminar desfavorável à fazenda pública,
esta poderá interpor pedido de suspensão de segurança, ainda que esteja pendente de julgamento
agravo de instrumento interposto contra a mesma decisão. ( )
3) (Juiz Federal TRF1 2011) Se for interposto agravo de instrumento contra liminar concedida, não poderá
a parte se valer do pedido de suspensão de segurança. ( )
4) (Promotor/PI – CESPE – 2012) Tratando-se de crime de contrabando, aplica-se, conforme o montante
do imposto sonegado, o princípio da insignificância. ( )
5) (Juiz Federal/TRF2 – 2011) O crime de contrabando não se caracteriza enquanto não houver decisão
definitiva no processo administrativo fiscal acerca da constituição do tributo devido, admitindo-se, em
juízo, a incidência do princípio da insignificância. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. E
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