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INFORMATIVO esquematizado

Informativo 511 – STJ


Márcio André Lopes Cavalcante

Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.103.224-MG; REsp 1.103.769-MG; AgRg no
REsp 1.110.017-SP; REsp 1.218.859-ES; REsp 1.238.965-RS; REsp 1.139.785-PR; REsp 834.487-MT; REsp
1.052.781-PA.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público (candidatos aprovados fora do número de vagas)

Algumas assertivas válidas segundo a jurisprudência atual sobre concursos públicos:

1) O candidato aprovado dentro do número de vagas previsto no edital tem direito subjetivo à
nomeação no prazo de validade do certame. A Administração Pública tem a
discricionariedade de identificar a melhor oportunidade ou conveniência para realizar as
nomeações durante o período de validade do concurso. O que ela não pode fazer é deixar de
nomear o candidato aprovado dentro do número de vagas (RMS 33.875/MT).

2) O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas previsto no edital tem
mera expectativa de direito à nomeação (STJ MS 17.147/DF).

3) O candidato aprovado fora do número de vagas, em princípio, não tem direito subjetivo à
nomeação, mesmo que surjam ou sejam criadas vagas durante o prazo de validade do
concurso. Assim, o fato de terem sido criados novos cargos enquanto ainda vigente o
concurso não obriga, por si só, a Administração a nomear o candidato aprovado fora do
número de vagas (STJ AgRg no REsp 1263916/PR).

4) O candidato aprovado fora do número de vagas do edital adquire direito subjetivo à


nomeação caso consiga comprovar que:
a) surgiram novas vagas durante o prazo de validade do concurso público; e
b) existe interesse da Administração Pública em preencher essas vagas.

5) De igual modo, a Administração não está obrigada a prorrogar o prazo de validade dos
concursos públicos. Trata-se de ato discricionário, submetido ao juízo de oportunidade e
conveniência; porém, se novos cargos vêm a ser criados, durante tal prazo de validade,
mostra-se de todo recomendável que se proceda a essa prorrogação.

6) A mera expectativa de nomeação dos candidatos aprovados em concurso público (fora do


número de vagas) convola-se em direito líquido e certo quando, dentro do prazo de
validade do certame, há contratação de pessoal de forma precária para o preenchimento de
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vagas existentes, com preterição daqueles que, aprovados, estariam aptos a ocupar o
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mesmo cargo ou função.

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Conclusão:
Os candidatos aprovados fora do número de vagas previsto no edital, em princípio, não tem
direito subjetivo à nomeação. No entanto, caso surjam novas vagas e o concurso ainda esteja no
prazo de validade, esses candidatos adquirem direito subjetivo de serem nomeados desde que
fique comprovado que há interesse público na nomeação.

Essa comprovação pode ser feita de diversas formas, como, por exemplo:
a) quando há contratação de pessoal, de forma precária, para o preenchimento de vagas
existentes, com preterição dos aprovados (STJ RMS 34.319-MA);
b) quando a Administração está utilizando servidores requisitados de outros órgãos para
desempenharem as funções dos candidatos aprovados (STF RE 581.113/SC);
c) quando logo após (seis meses) o término de validade do concurso, a Administração realiza
novo certame para os mesmos cargos dos aprovados que não foram chamados, sendo que
havia vagas abertas mesmo antes do concurso expirar (STJ RMS 27.389-PB);
d) quando o edital previa expressamente que o concurso se destinava também para as vagas
que surgissem durante o prazo de validade do certame (STJ MS 18.881-DF). Esse é o caso, por
exemplo, dos concursos que preveem cadastro de reserva;
e) quando as vagas surgem por conta da desistência de candidatos nomeados e que decidiram
não assumir ou pediram exoneração (STJ AgRg no REsp 1225356 / AM).

Dessa feita, caso haja vagas disponíveis e a Administração decida pela não nomeação dos
candidatos, ela deverá motivar esse ato.

Não serve como motivação o simples argumento de que tais candidatos ficaram mal
posicionados no concurso, considerando que, segundo já decidiu o STJ, do primeiro ao último
aprovado, todos foram considerados aptos pela Administração (STJ RMS 27.389-PB).
Comentários A situação decidida pelo STJ foi a seguinte:
Determinado órgão abriu concurso público para selecionar servidores para seus quadros.
O edital de abertura previu que o concurso se destinava ao provimento de 49 vagas, bem
como daquelas que viessem a surgir durante o período de validade do certame.
Ao final de todas as etapas do concurso, a impetrante ficou na 81ª posição.
Durante o prazo de validade do concurso, foram abertas 45 novas vagas.
O órgão nomeou, no total, 71 candidatos.
O STJ, ao analisar a questão, em sede de recurso, considerou que a impetrante foi aprovada
dentro do número de vagas oferecidas, considerando que o edital afirmava que o concurso
seria destinado a 45 vagas, “acrescidos dos cargos que vagarem durante o período de
validade do concurso público”.
Eram, inicialmente, 45 vagas e, durante o prazo de vigência, surgiram mais 49. Logo, são 94
vagas no total. Para o STJ, todos os candidatos classificados nestas vagas têm direito
subjetivo à nomeação porque o próprio edital assim previu.
O princípio da moralidade impõe obediência às regras insculpidas no instrumento
convocatório pelo Poder Público, de sorte que a oferta de vagas vincula a Administração,
segundo, ainda, o princípio da legalidade.
Precedentes Dentro do prazo de validade do concurso, a Administração poderá escolher o momento no
do STF qual se realizará a nomeação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação, a qual, de
relacionados acordo com o edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e, dessa forma,
com o tema um dever imposto ao poder público. Uma vez publicado o edital do concurso com número
específico de vagas, o ato da Administração que declara os candidatos aprovados no
certame cria um dever de nomeação para a própria Administração e, portanto, um direito à
nomeação titularizado pelo candidato aprovado dentro desse número de vagas.
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(RE 598099, Relator Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/08/2011/MS)
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INFORMATIVO esquematizado
A Administração não está obrigada a prorrogar o prazo de validade dos concursos públicos;
porém, se novos cargos vêm a ser criados, durante tal prazo de validade, mostra-se de todo
recomendável que se proceda a essa prorrogação.
(RE 581113, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 05/04/2011)
Precedentes Primeira Seção (1ª e 2ª Turmas)
do STJ A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que os candidatos
relacionados classificados em concurso público fora do número de vagas previstas no edital possuem
mera expectativa de direito à nomeação, apenas adquirindo esse direito caso haja
comprovação do surgimento de novas vagas durante o prazo de validade do concurso
público, bem como o interesse da Administração Pública em preenchê-la, o que não
ocorreu no caso dos autos. (...)
(MS 17.147/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 27/06/2012)

Primeira Turma
O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas previsto no edital tem
mera expectativa de direito à nomeação. Com isso, compete à Administração, dentro do
seu poder discricionário e atendendo aos seus interesses, nomear candidatos aprovados de
acordo com a sua conveniência, respeitando-se, contudo, a ordem de classificação, a fim de
evitar arbítrios e preterições. (...)
(RMS 33.875/MT, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, julgado em 19/06/2012)

Segunda Turma
1. A mera criação de novos cargos enquanto ainda vigente o concurso não garante, por si só,
o direito do candidato aprovado, mas não classificado dentre as vagas ofertadas, à nomeação.
Tampouco obriga, a princípio, a administração a prorrogar o prazo de validade do concurso,
ato discricionário, submetido ao juízo de oportunidade e conveniência administrativas.
2. No entanto, em recente julgado, o Supremo Tribunal Federal decidiu, com relação aos
cargos criados pela Lei nº 10.842/2004, que "na hipótese de haver novas vagas, prestes a
serem preenchidas, e razoável número de aprovados em concurso ainda em vigor quando
da edição da Lei que criou essas novas vagas, não são justificativas bastantes para o
indeferimento da prorrogação da validade de certame público por razões de política
administrativa interna do Tribunal Regional Eleitoral que realizou o concurso" (RE
581113/SC, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 31/05/2011).
3. Não obstante o Tribunal Superior Eleitoral tenha determinado o aproveitamento dos
novos cargos pelos candidatos habilitados em concurso público, realizado ou em
andamento na data de publicação da Lei n.º 10.842/2004 (art. 2º da Resolução nº
21.832/2004), a Administração manteve-se inerte, deixando de nomear os candidatos
aprovados para, assim que exaurido o prazo de validade, realizar novo procedimento para o
mesmo fim.
4. Afasta-se excepcionalmente a discricionariedade da Administração quanto à nomeação
de candidatos aprovados em concurso público fora das vagas previstas no edital,
considerando que a edição da Lei n.º 10.842/2004 teve um propósito específico, qual seja, a
regularização do quadro de pessoal da Justiça Eleitoral, com a maior brevidade possível.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1263916/PR, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 14/08/2012)

O STJ adota o entendimento de que a mera expectativa de nomeação dos candidatos


aprovados em concurso público (fora do número de vagas) convola-se em direito líquido e
certo quando, dentro do prazo de validade do certame, há contratação de pessoal de forma
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precária para o preenchimento de vagas existentes, com preterição daqueles que,


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aprovados, estariam aptos a ocupar o mesmo cargo ou função. (...)


(AgRg no RMS 36.831/MA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 22/05/2012)

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Sexta Turma
1. Os aprovados em concurso público têm apenas expectativa de direito, em virtude da
discricionariedade administrativa, submetendo a nomeação dos candidatos ao juízo de
conveniência e oportunidade da Administração, e não viola, destarte, os princípios da
isonomia e legalidade. Não há, portanto, qualquer direito líquido e certo aos demais
candidatos que, fora das vagas indicadas no edital, seguiram como suplentes na ordem de
classificação do certame.
2. Não restaram comprovadas as hipóteses excepcionais como, por exemplo, quando
ocorre preterição na ordem de classificação dos candidatos, criação de novos concursos
enquanto vigente o anterior, ou na hipótese de contratação de servidores precários para
mesmas funções do cargo em que o concurso esteja em andamento.
3. Ainda que novas vagas surjam no período de validade do concurso, - por criação de lei, ou
mesmo por força de vacância -, o seu preenchimento está sujeito a juízo de conveniência e
oportunidade da Administração. (...)
(AgRg no RMS 21.362/SP, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do
TJ/RS), Sexta Turma, julgado em 10/04/2012)

A prática de ato, pela Administração, que evidencie a necessidade de preenchimento de


cargos vagos gera direito subjetivo à nomeação dos candidatos aprovados e classificados em
concurso público inicialmente além do número de vagas ofertado pelo edital do certame.
Na espécie, ao promover a nomeação de candidatos classificados além do número de vagas
previsto no certame, bem como ao realizar contratação temporária de professores, a
Administração revelou a existência de cargos vagos e a necessidade do serviço, de maneira
que a desistência de alguns convocados não poderia ensejar a preterição dos
remanescentes. (...)
(REsp 1185379/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 15/03/2012)
Cuidado Trata-se de tema ainda polêmico e que pode sofrer novas alterações em breve. Esse é o
panorama atual. Caso haja modificações, eu aviso a vocês.
Processo Primeira Seção. MS 18.881-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 28/11/2012.

Agentes públicos (ação de cobrança em caso de remuneração em atraso)

Se o autor ingressa com ação de cobrança contra o Poder Público provando que é servidor
público e que não está recebendo sua remuneração, incumbe à Administração Pública
demonstrar, enquanto fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora
(art. 333, II, do CPC), que o requerente não recebeu sua remuneração por não ter havido o
efetivo exercício no cargo.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
José é servidor público municipal e não recebe há 3 meses, razão pela qual propôs ação de
cobrança contra o Município.
Na contestação, a Fazenda Pública não negou que José seja realmente servidor público (fato
incontroverso), mas alegou que ele não recebeu porque não trabalhou durante esse período.
Desse modo, o réu alegou um fato novo (a não prestação dos serviços).

O que o autor teria que provar nesta ação?


O autor (José) teria que provar apenas o vínculo que mantém com a Administração Pública
municipal, ou seja, precisaria apenas comprovar sua condição de servidor público. Esse é o
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fato constitutivo de seu direito (art. 333, I, do CPC) uma vez que, sendo provado que o
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indivíduo é servidor público, isso significa que, em regra, ele tem direito à remuneração.

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Art. 333. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;

Isso foi provado, considerando que José alegou sua condição de servidor público, o que foi
demonstrado documentalmente e não negado pelo Município, tornando-se incontroverso
(art. 334, III, do CPC).

E o réu?
Tendo o autor provado o fato alegado, caberá ao requerido provar o fato novo por ele
alegado. Logo, incumbe ao réu provar que o servidor não estava no efetivo exercício do
cargo durante o período (art. 333, II, do CPC).

Esse é o entendimento do STJ:


Consoante reiterada jurisprudência desta Corte, "o recebimento da remuneração por parte
do servidor público pressupõe o efetivo vínculo entre ele e a Administração Pública e o
exercício no cargo. Incontroversa a existência do vínculo funcional, é ônus da Administração
Pública demonstrar, enquanto fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte
autora, que não houve o efetivo exercício no cargo. Inteligência do art. 333 do CPC." (AgRg
no AREsp 149.514/GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 29/5/12)
Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 116.481-GO, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 4/12/2012.

Processo administrativo disciplinar (controle jurisdicional da sanção aplicada)

É possível que o Poder Judiciário, no julgamento de mandado de segurança, faça a revisão da


penalidade imposta no processo administrativo disciplinar (PAD), sob o argumento de que a
punição aplicada violou o princípio da proporcionalidade?

1ª corrente: NÃO. É inviável em MS a revisão de penalidade imposta em PAD, sob o argumento


de ofensa ao princípio da proporcionalidade, por implicar reexame do mérito administrativo.

2ª corrente: SIM. É possível anular judicialmente o ato demissional que ocorre em desatenção
ao acervo probatório dos autos e com desatenção à proporcionalidade na sanção, sem
prejudicar eventual aplicação de diversa penalidade administrativa (MS 15.810/DF, Rel. Min.
Humberto Martins, Primeira Seção, julgado em 29/02/2012, DJe 30/03/2012)
Comentários É possível que o Poder Judiciário, no julgamento de mandado de segurança, faça a revisão
da penalidade imposta no processo administrativo disciplinar (PAD), sob o argumento de
que a punição aplicada violou o princípio da proporcionalidade?
NÃO SIM
No âmbito do controle jurisdicional do É possível anular judicialmente o ato
processo administrativo disciplinar, é demissional que ocorre em desatenção ao
vedado ao Poder Judiciário adentrar no acervo probatório dos autos e com
mérito do julgamento administrativo, desatenção à proporcionalidade na sanção,
cabendo-lhe, apenas, apreciar a sem prejudicar eventual aplicação de
regularidade do procedimento, à luz dos diversa penalidade administrativa (Primeira
princípios do contraditório e da ampla Seção. MS 15.810/DF, Rel. Min. Humberto
defesa (Primeira Seção. MS 17.479-DF, Rel. Martins, julgado em 29/02/2012, DJe
Min. Herman Benjamin, julgado em 30/03/2012)
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28/11/2012).
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Outro julgado no sentido da 1ª corrente:
2. Segundo a pacífica jurisprudência desta Corte Superior de Justiça "o controle jurisdicional
dos processos administrativos se restringe à regularidade do procedimento, à luz dos
princípios do contraditório e da ampla defesa, sem exame do mérito do ato administrativo
(RMS 22.567/MT, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 28/04/2011,
DJe 11/05/2011). (...)
(MS 11.053/DF, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/RS), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/04/2012, DJe 31/08/2012)

Outro julgado no sentido da 2ª corrente:


(...) 1. No caso de demissão imposta a servidor público submetido a processo administrativo
disciplinar, não há falar em juízo de conveniência e oportunidade da Administração, visando
restringir a atuação do Poder Judiciário à análise dos aspectos formais do processo
disciplinar. Nessas circunstâncias, o controle jurisdicional é amplo, no sentido de verificar se
há motivação para o ato demissório, pois trata-se de providência necessária à correta
observância dos aludidos postulados.
(...)
6. Os comportamentos imputados à Impetrante são aptos a alicerçar a decisão de demissão,
porquanto passíveis de subsunção ao tipos previstos nos arts. 117, inciso IX, e 132, incisos
IV, IX e XIII, da Lei n.º 8.112/90 e, portanto, mostra-se perfeitamente razoável e
proporcional a pena aplicada à ex-servidora. (...)
(MS 14.140/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/09/2012, DJe
08/11/2012)

É frustrante porque não consigo dizer a posição que você deve adotar em um concurso. Em
minha opinião, isso não deveria ser cobrado em uma primeira fase. Sendo exigido em uma
prova discursiva ou prática, deve-se explicar as duas correntes e “defender” a posição mais
favorável ao cargo para o qual está prestando o concurso.
Se fosse, no entanto, necessário arriscar uma posição majoritária, penso ser a 1ª corrente.
Processo Primeira Seção. MS 17.479-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/11/2012.

DIREITO CIVIL
Responsabilidade civil
Se a pessoa sofrer uma lesão que reduzir ou impossibilitar a sua capacidade de trabalho, o
autor do dano deverá pagar, como indenização, uma pensão correspondente à importância do
trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ela sofreu, nos termos do art. 950 do CC.
Vale ressaltar que o art. 950 do CC não exige que tenha havido também a perda do emprego ou
a redução dos rendimentos da vítima para que fique configurado o direito ao recebimento da
pensão. O dever de indenizar decorre unicamente da perda temporária da capacidade laboral.
Comentários Neste julgado, a 3ª Turma do STJ fez algumas considerações sobre os arts. 949 e 950 do
Código Civil. Vejamos as conclusões expostas no julgado:

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
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Exemplo de aplicação desse dispositivo:


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O caminhão de uma empresa bateu no carro de uma mulher, causando-lhe lesões


corporais.

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A indenização deverá abranger:
Despesas do tratamento de saúde;
Lucros cessantes até ao fim da convalescença;
Qualquer outro prejuízo sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou
profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e
paga de uma só vez.

Lesão que cause incapacidade ou dificuldade para o ofício ou profissão:


O art. 950 afirma que, a se lesão provocada reduzir ou impossibilitar a capacidade de
trabalho, o autor do dano deverá pagar como indenização:
Despesas do tratamento de saúde;
Lucros cessantes até ao fim da convalescença;
Pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu.

No caso concreto julgado pelo STJ, a vítima ficou um ano sem trabalhar, no entanto, ela era
servidora pública. Logo, recebeu normalmente sua remuneração no período. Diante disso,
indaga-se: mesmo assim ela terá direito à pensão de que trata o art. 950 do CC?
SIM. Para o direito à pensão, o dispositivo legal não exige que a vítima tenha perdido o
emprego ou tenha reduzido os seus rendimentos. O dever de indenizar decorre unicamente
da perda ou redução da capacidade laboral.
Esta indenização é de cunho civil e não se confunde com o benefício previdenciário. Assim,
para fins de indenização civil do art. 950, é irrelevante o fato de que a vítima, durante o
período do seu afastamento do trabalho, tenha continuado a auferir renda através do
sistema previdenciário dos servidores públicos. O que importa é que ela ficou, durante um
ano, impossibilitada de trabalhar, devendo ser indenizada por esse simples fato.
Processo Terceira Turma. REsp 1.306.395-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Plano de saúde e cirurgia de gastroplastia

Plano de saúde não pode negar o custeio de cirurgia de gastroplastia (indicada para
tratamento de obesidade mórbida)
Assim, é abusiva a negativa do plano de saúde em cobrir as despesas de intervenção cirúrgica
de gastroplastia, necessária à garantia da sobrevivência do segurado.
Comentários A gastroplastia, indicada para o tratamento da obesidade mórbida, bem como de outras
doenças dela derivadas, constitui cirurgia essencial à preservação da vida e da saúde do
paciente segurado, não se confundindo com simples tratamento para emagrecimento.
Os contratos de seguro-saúde são contratos de consumo submetidos a cláusulas contratuais
gerais, ocorrendo a sua aceitação por simples adesão pelo segurado (contratos de adesão).
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Nesses contratos, as cláusulas seguem as regras de interpretação dos negócios jurídicos


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estandardizados, ou seja, existindo cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve ser aplicada


a interpretação mais favorável ao aderente, conforme o art. 423 do CC e art. 47 do CDC:

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Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,
dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor.

Desse modo, mesmo que o contrato do seguro-saúde contenha uma cláusula que exclua da
cobertura securitária o tratamento estético de emagrecimento, isso não significa que
também esteja excluída a cirurgia para tratamento de obesidade mórbida (gastroplastia),
tendo em vista que esta não pode ser considerada apenas como procedimento para
emagrecimento, sendo, na verdade, tratamento indispensável à vida do paciente.
Interpretativo Segundo o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, a regra prevista no art. 423 do CC e no art. 47
contra do CDC é uma versão moderna do princípio que havia no direito romano chamado de
proferentem interpretativo contra proferentem ou interpretatio contra stipulatorem. Segundo este
postulado, como o predisponente teve a possibilidade de pré-estabelecer todo o conteúdo
do contrato, as imprecisões, dúvidas e ambiguidades das cláusulas predispostas
interpretam-se contrariamente aos seus interesses. Portanto, esta regra estabelece, em
síntese, que, na dúvida, a interpretação será contrária aos interesses do predisponente ou
de forma mais favorável ao do aderente.
As regras do art. 423 do CC e do art. 47 do CDC representam, no entanto, uma evolução do
interpretativo contra proferentem, considerando que são destinadas, atualmente, em
especial, para a contratação estandardizada, ou seja, negócios jurídicos em larga escala,
celebrados por grandes empresas com um número indeterminado de pessoas, situação
que, obviamente, não havia no direito romano.
Processo Terceira Turma. REsp 1.249.701-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2012.

Prática abusiva (envio de cartão de crédito sem solicitação do consumidor)

É vedado o envio de cartão de crédito, ainda que bloqueado, à residência do consumidor sem
prévia e expressa solicitação.
Comentários É vedado o envio de cartão de crédito, ainda que bloqueado, à residência do consumidor
sem prévia e expressa solicitação.
Essa prática comercial é considerada abusiva nos moldes do art. 39, III, do CDC,
contrariando a boa-fé objetiva:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou
fornecer qualquer serviço;

O referido dispositivo legal tutela os interesses dos consumidores até mesmo no período
pré-contratual, não sendo válido o argumento de que o simples envio do cartão de crédito à
residência do consumidor não configuraria ilícito por não implicar contratação, mas mera
proposta de serviço.
Processo Terceira Turma. REsp 1.199.117-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.
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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Veiculação de imagens constrangedoras de crianças e adolescentes

É vedada a veiculação de material jornalístico com imagens que envolvam criança em situações
vexatórias ou constrangedoras, ainda que não se mostre o rosto da vítima.
O MP detém legitimidade para propor ação civil pública com o intuito de impedir a veiculação
de vídeo, em matéria jornalística, com cenas de tortura contra uma criança, ainda que não se
mostre o seu rosto.
Comentários Um programa de TV pode divulgar imagens que mostram um adulto espancando e
torturando, de forma bárbara, uma criança (ainda que sem mostrar o rosto da vítima)?
NÃO. A 3ª Turma do STJ entendeu que a exibição de imagens com cenas de espancamento
e de tortura praticados por adulto contra infante afronta a dignidade da criança exposta na
reportagem, como também de todas as crianças que estão sujeitas à sua exibição.
O direito constitucional à informação e à vedação da censura não é absoluto e cede passo,
por juízo de ponderação, a outros valores fundamentais também protegidos
constitucionalmente, como a proteção da imagem e da dignidade das crianças e dos
adolescentes.

O MP pode ajuizar uma ação civil pública para impedir essa exibição?
SIM. O MP detém legitimidade para propor ACP com o intuito de impedir a veiculação de
vídeo, em matéria jornalística, com cenas de tortura contra uma criança, ainda que não se
mostre o seu rosto. A legitimidade do MP, em ação civil pública, para defender a infância e
a adolescência abrange os interesses de determinada criança (exposta no vídeo) e de todas
indistintamente, ou pertencentes a um grupo específico (aquelas sujeitas às imagens com a
exibição do vídeo).

ECA:
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
Processo Terceira Turma. REsp 509.968-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Princípio da boa-fé objetiva no direito processual

A eventual nulidade declarada pelo juiz de ato processual praticado pelo serventuário não
pode retroagir para prejudicar os atos praticados de boa-fé pelas partes.
Dessa forma, no processo, exige-se dos magistrados e dos serventuários da Justiça conduta
pautada por lealdade e boa-fé, sendo vedados os comportamentos contraditórios.
Em outras palavras, aplica-se também o venire contra factum proprium para atos do juiz e dos
serventuários da justiça.
Comentários Exemplo hipotético (diferente do caso julgado):
Serventuário da justiça (servidor público) fez uma certidão no sentido de que o mandado de
citação cumprido foi juntado aos autos no dia 12/03/2012. Logo, a partir desse dia,
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começou a correr o prazo de contestação do réu, conforme prevê o art. 241, I, do CPC.
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Em 27/03/2012, ou seja, 15 dias depois, o réu apresenta sua contestação.

INFORMATIVO esquematizado
O juiz, ao receber a contestação e analisar o processo, percebe que a juntada do mandado
de citação ocorreu no dia 08/03/2012. Diante disso, o juiz torna sem efeito a certidão do
serventuário, determinando que outra seja expedida com a data correta da juntada e
declarando intempestiva a contestação.

Agiu corretamente o juiz?


NÃO. Segundo já decidiu o STJ, em caso análogo, a eventual nulidade declarada pelo juiz de
ato processual praticado pelo serventuário não pode retroagir para prejudicar os atos
praticados de boa-fé pelas partes.
O princípio da lealdade processual, de matiz constitucional e consubstanciado no art. 14 do
CPC, aplica-se não só às partes, mas a todos os sujeitos que porventura atuem no processo.
Dessa forma, no processo, exige-se dos magistrados e dos serventuários da Justiça conduta
pautada por lealdade e boa-fé, sendo vedados os comportamentos contraditórios.
Em outras palavras, aplica-se também o venire contra factum proprium para atos do juiz e
dos serventuários da justiça. Nesse mesmo sentido: STJ. REsp 1.306.463-RS, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 4/9/2012.
Assim, eventuais erros praticados pelo servidor não podem prejudicar a parte de boa-fé.
Entendimento contrário resultaria na possibilidade de comportamento contraditório do
Estado-Juiz, que geraria perplexidade na parte que, agindo de boa-fé, seria prejudicada pela
nulidade eventualmente declarada.
Processo Quarta Turma. AgRg no AREsp 91.311-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/12/2012.

Competência no caso de ações propostas contra o Conselho da Justiça Federal


(obs: somente interessa a quem presta concursos para a Justiça Federal)

Compete ao STJ analisar a legalidade de decisão tomada em processo administrativo no CJF.


O CJF é órgão que funciona junto ao STJ e, segundo entendimento consolidado, os atos do
Conselho podem ser impugnados originariamente no STJ pela via do mandado de segurança.
Nesse panorama, a decisão de primeiro grau que analisa diretamente legalidade de decisão do
CJF viola o disposto no art. 1º, § 1º, da Lei n. 8.437/1992, que estabelece ser incabível, “no juízo
de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua liminar, quando impugnado ato de
autoridade sujeita, na via de mandado de segurança, à competência originária de tribunal”.
Assim, os atos do CJF, se nulos ou ilegais, devem ser apreciados obrigatoriamente pelo STJ.
Comentários Conselho da Justiça Federal (CJF)
O Conselho da Justiça Federal é um órgão colegiado, que funciona junto ao Superior
Tribunal de Justiça, cabendo-lhe a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça
Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes
correicionais, tendo suas decisões caráter vinculante (inciso II do parágrafo único do art.
105 da CF/88).

Regulamentação
A composição e competência do CJF foram regulamentadas pela Lei n. 11.798/2008.

Composição
O Conselho da Justiça Federal será integrado:
I – pelo Presidente e pelo Vice-Presidente do STJ;
II – por 3 (três) Ministros, eleitos entre os integrantes do STJ;
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III – pelos Presidentes dos TRF’s.


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Terão direito a assento no CJF, sem direito a voto, os Presidentes do Conselho Federal da
OAB e da AJUFE.
INFORMATIVO esquematizado
A Presidência do Conselho da Justiça Federal será exercida pelo Presidente do STJ.
Os Conselheiros terão mandato de 2 (dois) anos.
O CJF reunir-se-á ordinariamente 1 (uma) vez por mês, durante o ano judiciário, e,
extraordinariamente, sempre que for necessário, por convocação de seu Presidente.

Principais competências
Ao CJF compete:
I – aprovar sugestões de alteração legislativa relacionadas com a Justiça Federal;
II – expedir normas relacionadas ao sistema de administração judiciária da Justiça Federal;
III – apreciar, de ofício, ou a requerimento de magistrado federal, as decisões
administrativas dos Tribunais Regionais Federais que contrariarem a legislação vigente;
IV – aprovar as propostas orçamentárias e os pedidos de créditos adicionais relacionados
com a Justiça Federal;
V – avocar processos administrativos em curso;
VI – julgar processos administrativos disciplinares relativos a membros dos Tribunais
Regionais Federais, imputando, quando for o caso, as penalidades cabíveis, assegurados a
ampla defesa e o contraditório;
VII – decidir, em grau de recurso, as matérias relacionadas aos direitos e deveres dos
servidores de sua Secretaria e dos juízes, quando a esses for aplicada sanção em processo
disciplinar decidido pelo Tribunal Regional Federal;
VII – zelar pelo cumprimento das decisões do Conselho Nacional de Justiça, no âmbito da
Justiça Federal.

A quem compete julgar mandado de segurança impetrado contra ato do CJF?


R: Compete ao STJ porque se trata de ato praticado por órgão vinculado ao próprio Tribunal
(art. 105, I, b, da CF/88).

Diante disso, o STJ entendeu que a decisão de primeiro grau que analisa diretamente
legalidade de ato do CJF viola o disposto no art. 1º, § 1º, da Lei n. 8.437/1992, que
estabelece o seguinte:
§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua
liminar, quando impugnado ato de autoridade sujeita, na via de mandado segurança, à
competência originária de tribunal.

Segundo o STJ, se tais ações pudessem ser propostas em 1ª instância, seria aberta a
possibilidade das decisões do Conselho serem controladas pelos próprios destinatários e
interessados no ato (os juízes federais). Logo, os atos do CJF, se nulos ou ilegais, devem ser
apreciados obrigatoriamente pelo STJ.

Atenção. Não confundir:


Os atos praticados pela administração judiciária federal (exs: diretoria do foro, direção do TRF
etc.) tomados com base em decisões ou orientações do CJF também são julgados pelo STJ?
NÃO, considerando que, nesta hipótese, o ato diretamente atacado foi da administração
judiciária federal e não do CJF.

De acordo com o STJ:


(...) Não usurpa a competência do Superior Tribunal de Justiça a decisão do Juiz de primeira
instância que, antecipando os efeitos de tutela jurisdicional requerida no bojo de ação
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ordinária, suspende ato praticado pela administração judiciária com base em decisão do
Conselho da Justiça Federal (...)
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(Rcl 3.890/RO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, julgado em 09/06/2011)
Processo Corte Especial. Rcl 3.495-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgada em 17/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
Indeferimento da petição inicial
É possível a extinção de ação rescisória sem resolução do mérito na hipótese de indeferimento
da petição inicial, em face da ausência do recolhimento das custas e do depósito prévio, sem
que tenha havido intimação prévia e pessoal da parte para regularizar essa situação.
Comentários “X” ajuizou ação rescisória no Tribunal de Justiça, no entanto, não recolheu as custas nem
efetuou o depósito prévio de que trata o art. 488, II, do CPC:
Art. 488. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art.
282, devendo o autor:
II - depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título de multa,
caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou improcedente.

Diante disso, o Desembargador indeferiu a petição inicial.


O autor recorreu alegando que, antes de indeferir a petição inicial, o Desembargador
deveria ter intimado a parte para regularizar essa situação.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


Para a 3ª Turma do STJ, é possível a extinção de ação rescisória sem resolução do mérito na
hipótese de indeferimento da petição inicial, em face da ausência do recolhimento das
custas e do depósito prévio, sem que tenha havido intimação prévia e pessoal da parte para
regularizar essa situação.
Segundo decidiu a Turma, somente é necessária a intimação prévia da parte para a extinção
do processo nos casos previstos no § 1º do art. 267 do CPC.
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
I - quando o juiz indeferir a petição inicial;
II - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a
causa por mais de 30 (trinta) dias;
(...)
§ 1º O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e III, o arquivamento dos autos, declarando a
extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta
e oito) horas.

Logo, como a falta de recolhimento de custas e depósito na ação rescisória não se enquadra
nas hipóteses do § 1º do art. 267 do CPC, a intimação prévia da parte não era necessária
para que fosse possível a extinção do processo.
Cuidado Nesta hipótese específica, o STJ entendeu que não era necessária a intimação prévia do
autor para regularizar a situação. No entanto, em diversos outros casos, a 2ª Turma do STJ
tem reconhecido que, antes de indeferir a petição inicial, o juiz deve intimar o autor para
sanar a irregularidade detectada, nos termos do art. 284 do CPC:
Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos
arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o
julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10
(dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

Veja:
(...) O indeferimento liminar da petição inicial do mandado de segurança por ausência de
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documentos que comprovam o direito líquido e certo exige, primeiramente, a intimação do


autor para sanar a irregularidade, nos termos do artigo 284 do CPC. Precedentes.
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(REsp 1297948/MG, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 14/02/2012)

INFORMATIVO esquematizado
1. Na ação rescisória, faltando o pedido de novo julgamento, quando este se revele
obrigatório, cabe ao relator, nos termos do art. 284 do CPC, determinar a intimação do
autor para que emende a petição inicial e, aí, formule a pretensão ausente.
2. Apenas após o transcurso do prazo estabelecido para que o autor emende a inicial, sem
que este o tenha feito, é que poderá o relator indeferir a petição inicial.
Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1227735/RS, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
22/03/2011, DJe 04/04/2011)
Processo Terceira Turma. REsp 1.286.262-ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.

Impugnação à justiça gratuita

A impugnação à justiça gratuita deve ser feita em autos apartados. No entanto, caso tenha sido
feita nos próprios autos principais, isso, por si só, não gera nulidade, salvo se a parte contrária
conseguir provar que sofreu algum prejuízo em decorrência dessa irregularidade.
Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV:
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa jurídica, de
a) Assistência jurídica forma integral e gratuita, a ser prestada pela Defensoria Pública,
integral e gratuita em todos os graus, dos necessitados (art. 134 da CF).
Regulada pela Lei Complementar 80/94.
b) Benefício da Isenção das despesas que forem necessárias para que a pessoa
gratuidade judiciária necessitada possa defender seus interesses em um processo judicial.
(justiça gratuita). Regulada pela Lei n. 1.060/50.

Lei n. 1.060/50
A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:
I - das taxas judiciárias e dos selos;
II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e
serventuários da justiça;
III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação
dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do
empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo
contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder
público estadual, nos Estados;
V - dos honorários de advogado e peritos.
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VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado
pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.
Página

VII – dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e
demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

INFORMATIVO esquematizado
Obs: a assistência judiciária não abrange a isenção do pagamento de multa por litigância de
má-fé (STJ RMS 15.600-SP).

Quem é considerado necessitado para os fins legais?


É aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família (art. 2º, parágrafo
único, da LAJ).

Quem está abrangido por ela?


Pessoas físicas (nacionais ou estrangeiras);
Pessoas jurídicas.

O que é necessário para que se obtenha?


A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária mediante simples afirmação, na
própria petição inicial (se for autora) ou na contestação (se for ré), de que não está em
condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo
próprio ou de sua família (art. 4º da LAJ).

Se a pessoa física faz essa declaração, há uma presunção relativa de que ela seja necessitada
Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos da lei,
sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais (art. 4º, § 1º, da LAJ).
Não é necessário que a pessoa física junte nenhuma prova de que é necessitada, sendo
suficiente essa afirmação.
Vale ressaltar que, mesmo havendo essa presunção, o juiz pode indeferir o pedido:
“A afirmação de hipossuficiência, almejando a obtenção do benefício da assistência
judiciária gratuita, possui presunção legal juris tantum, ou seja, relativa, podendo o
magistrado, com amparo no art. 5º, da Lei n.º 1.050/60, infirmar a miserabilidade da
requerente.” (AgRg no AREsp 121.135/MS, DJe 27/11/2012).
Ainda de acordo com o STJ, o juízo pode, inclusive, investigar a real situação financeira do
requerente antes de deferir o benefício da assistência judiciária gratuita (AgRg no AREsp
181.573/MG, DJe 30/10/2012).

E no caso da pessoa jurídica?


Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, as pessoas jurídicas de direito privado, com ou
sem fins lucrativos, para obter os benefícios da justiça gratuita, devem comprovar o estado
de miserabilidade, não bastando a simples declaração de pobreza.
Em outras palavras, para que a pessoa jurídica de direito privado obtenha o benefício da
justiça gratuita é indispensável que demonstre (comprove) sua impossibilidade de arcar
com os encargos processuais, não sendo a ela aplicável a presunção de que trata o § 1º do
art. 4º da LAJ.
Súmula 481-STJ: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins
lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.

Qual é o momento em que esse pedido deverá ser formulado?


Normalmente o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do
autor) ou na contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da
jurisprudência é de que a assistência judiciária gratuita pode ser pleiteada a qualquer
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tempo (REsp 1261220/SP, DJe 04/12/2012).


Se for formulado no momento do recurso, o requerimento de gratuitade deve ser feito em
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petição avulsa, que deverá ser processada em apenso aos autos principais, conforme

INFORMATIVO esquematizado
previsto no art. 6º da LIA, e não no próprio corpo do recurso, constituindo erro grosseiro
essa prática (STJ REsp 1229778/MA, DJe 13/12/2012).

A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita?


SIM. Isso é comumente chamado de “impugnação à justiça gratuita” ou “impugnação à
concessão do benefício de assistência judiciária gratuita”, possuindo a natureza jurídica de
incidente do processo.
De acordo com a LAJ, a impugnação do direito à assistência judiciária:
não suspende o curso do processo; e
deve ser feita em autos apartados (§ 2º do art. 4º).

E se a impugnação à justiça gratuita for formulada e julgada nos próprios autos (ou seja,
não foram formados autos apartados)?
Segundo o STJ, não enseja nulidade o processamento da impugnação à concessão do
benefício de assistência judiciária gratuita nos mesmos autos do processo principal, se isso
não acarretar prejuízo à parte.
O processamento incorreto da impugnação nos mesmos autos do processo principal deve
ser considerado mera irregularidade. Conforme o princípio da instrumentalidade das
formas e dos atos processuais, consagrado no caput do art. 244 do CPC, quando a lei
prescreve determinada forma sem cominação de nulidade, o juiz deve considerar válido o
ato se, realizado de outro modo, alcançar sua finalidade. Assim, a parte interessada deveria
arguir a nulidade e demonstrar a ocorrência concreta de prejuízo, por exemplo, eventual
falta do exercício do contraditório e da ampla defesa. O erro formal no procedimento, se
não causar prejuízo às partes, não justifica a anulação do ato impugnado, até mesmo em
observância ao princípio da economia processual (STJ REsp 1.286.262-ES).

Se a pessoa afirma que é pobre, mas, ao final, descobre-se que ela tinha sim condições de
pagar as custas e que, portanto, fez uma declaração falsa, ela comete algum crime?
NÃO. Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, a apresentação de declaração de pobreza,
com informações falsas, para obter assistência judiciária gratuita não caracteriza crime de
falsidade ideológica ou de uso de documento falso.
Processo Terceira Turma. REsp 1.286.262-ES, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.

Astreintes (destinatário da multa)

O CPC permite que o juiz fixe multa cominatória para compelir o réu ao cumprimento de
obrigação de fazer. Essa multa é conhecida como astreinte.

É possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada?


ATENÇÃO 1ª corrente: 2ª corrente: 3ª corrente:
NÃO SIM SIM
Não é possível a execução É possível a execução provisória É possível a execução provisória
provisória das astreintes. das astreintes sem quaisquer das astreintes desde que:
É necessário o trânsito em condicionamentos, ou seja, com a) o pedido a que se vincula a
julgado para que elas sejam base até mesmo em uma mera astreinte seja julgado procedente
exigidas. decisão interlocutória ainda não na sentença ou acórdão;
confirmada. b) o recurso interposto contra
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essa sentença ou acórdão não


Página

tenha sido recebido no efeito


suspensivo.

INFORMATIVO esquematizado
Existem precedentes do STJ para as três correntes. No julgado noticiado neste Informativo,
adotou-se a 3ª posição.

Comentários Se o autor ajuíza uma ação pretendendo que o réu seja obrigado a fazer ou não fazer alguma
coisa, o juiz, atendidos os requisitos legais, poderá conceder a tutela antecipada, na forma de
tutela específica, determinando que o réu adote o comportamento que é objeto da ação.

Exemplo (hipotético): “A”, atriz, ingressa com ação de obrigação de fazer contra o site “X”,
especializado em celebridades, tendo como pedido (objeto) que o referido site retire de
suas páginas fotos íntimas da autora e cuja publicação ela não autorizou.

O juiz analisa a petição inicial e entende que é relevante o fundamento da demanda e que
há justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual concede
liminarmente a tutela antecipada determinando que o site retire, em 24 horas, as fotos de
suas páginas. Essa decisão interlocutória está fundada no § 3º do art. 461 do CPC:
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
(...)
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação
prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer
tempo, em decisão fundamentada.

O juiz, para que a sua decisão tenha “força” e desperte no réu a ânsia de cumpri-la, deve
determinar alguma medida coercitiva. A mais conhecida delas é a multa cominatória,
prevista no § 4º do art. 461 do CPC:
§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Multa cominatória (astreinte). Principais características:


Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de “astreinte” em
virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no
direito francês e que lá assim é chamado.
A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação.
Trata-se de uma técnica judicial de coerção indireta.
Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito
processual.
Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com as perdas e danos
(§ 2º do art. 461).
Pode ser imposta de ofício ou a requerimento, pelo juiz, na fase de conhecimento ou de
execução.
Apesar do CPC falar em “multa diária”, a doutrina afirma que essa multa pode ser
estipulada também em meses, anos ou até em horas.
O valor das astreintes é revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das
astreintes é o autor da demanda (REsp 949.509-RS).
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A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito
ao valor da multa se sagrar-se vencedora. Se, no final do processo, essa parte sucumbir,
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não terá direito ao valor da multa ou, se já tiver recebido, deverá devolver.

INFORMATIVO esquematizado
O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do
trânsito em julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes
fixadas em tutela antecipada?

Havia duas posições antagônicas no STJ sobre o tema:


1ª corrente: NÃO. Não é possível a execução provisória das astreintes. É necessário que
haja o trânsito em julgado para que elas sejam exigidas. Em suma, somente ao final do
processo o beneficiário da multa poderá executá-la. Nesse sentido: AgRg no AREsp
50.196/SP, Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª Turma, julgado em 21/08/2012.
2ª corrente: SIM. É possível a execução provisória das astreintes sem quaisquer
condicionamentos, ou seja, com base até mesmo em uma mera decisão interlocutória.
Logo após o descumprimento da decisão que fixou a multa é possível ao beneficiário
executá-la. Nesse sentido: AgRg no AREsp 50.816/RJ, 2ª Turma, Min. Herman Benjamin,
julgado em 07/08/2012.

Como se percebe, eram duas posições em extremos opostos.

Surge, então, neste julgado, uma terceira corrente, intermediária entre as duas posições
acima explicadas. O que ela preconiza?
É possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada desde que
cumpridos dois requisitos:
a) o pedido a que se vincula a astreinte seja julgado procedente na sentença ou acórdão;
b) o recurso interposto contra essa sentença ou acórdão não tenha sido recebido no efeito
suspensivo.

Voltando ao nosso exemplo. O juiz concedeu liminarmente a tutela antecipada para que o
site retirasse as fotos em até 24 horas, sob pena de multa de R$ 1 mil por cada hora de
descumprimento.
A direção do site recebeu a intimação, mas somente retirou as fotos 48 horas depois. Logo,
terá que pagar uma multa de R$ 24 mil pelo atraso no cumprimento da obrigação de fazer
estabelecida pela decisão judicial. O processo continua e ainda não foi sentenciado.

É possível a execução provisória dessa multa de R$ 24 mil?


Para a 1ª corrente: NÃO. Somente será possível a execução da multa se o pedido do
autor for julgado procedente e houver o trânsito em julgado.
Para a 2ª corrente: SIM. É possível a execução provisória das astreintes sem quaisquer
condicionamentos, ou seja, com base até mesmo em uma mera decisão interlocutória
ainda não confirmada, como foi o caso do exemplo acima.
Para a 3ª corrente: ainda não, considerando que não houve sentença julgando
procedente o pedido do autor.

Imagine, então, que é proferida sentença julgando procedente o pedido do autor. O réu
recorre e a apelação é recebida em seu duplo efeito (devolutivo e suspensivo), mas ainda
não julgada. Será possível a execução provisória das astreintes?
Para a 1ª corrente: NÃO.
Para a 2ª corrente: SIM.
Para a 3ª corrente: ainda não, considerando que houve sentença julgando procedente o
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pedido do autor, no entanto, foi interposto recurso contra essa decisão, tendo ele sido
Página

recebido no efeito suspensivo.

INFORMATIVO esquematizado
A apelação é improvida, sendo mantida, portanto, a sentença. O réu não se conforma e
interpõe recurso especial e recurso extraordinário, que são recebidos apenas no efeito
devolutivo. Será possível a execução provisória das astreintes?
Para a 1ª corrente: NÃO.
Para a 2ª corrente: SIM.
Para a 3ª corrente: SIM, considerando que houve sentença julgando procedente o
pedido do autor, confirmada por um acórdão e os recursos interpostos não gozam de
efeito suspensivo.

Resumindo:
É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DAS ASTREINTES FIXADAS EM TUTELA ANTECIPADA?

1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM 3ª corrente: SIM

Não é possível a execução É possível a execução É possível a execução


provisória das astreintes. provisória das astreintes provisória das astreintes
É necessário o trânsito em sem quaisquer desde que:
julgado para que elas sejam condicionamentos, ou seja, a) o pedido a que se vincula
exigidas. com base até mesmo em a astreinte seja julgado
uma mera decisão procedente na sentença ou
interlocutória ainda não acórdão;
confirmada. b) o recurso interposto
contra essa sentença ou
acórdão não tenha sido
recebido no efeito
suspensivo.
Principais argumentos: Principais argumentos: Principais argumentos:
A multa só deve ser paga à Para que a multa possa Os dispositivos legais que
parte que sagrar-se cumprir sua função exigem o trânsito em julgado
definitivamente vencedora coercitiva é necessário que referem-se apenas aos
na demanda. Logo, deve-se ela possa ser exigida processos coletivos. Desse
aguardar o final do processo. imediatamente. modo, não há determinação
A mera ameaça de Condicionar a exigência da legal para que se aguarde o
aplicação da multa, ao final, multa ao trânsito em fim do processo para se
já é suficiente para julgado iria enfraquecer a cobrar as astreintes.
provocar uma pressão pressão psicológica que as Por outro lado, não é
psicológica no devedor. astreintes devem causar. admissível a execução da
multa com base em mera
decisão interlocutória (que
tem cognição sumária e
precária), sendo necessário
que a liminar que as fixou
seja confirmada em
sentença ou acórdão para
garantir maior segurança.
Na jurisprudência: Na jurisprudência: Na jurisprudência:
“Nos termos da reiterada “É desnecessário o trânsito “As astreintes serão exigíveis
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jurisprudência do STJ, a em julgado da sentença para e, portanto, passíveis de


multa diária somente é que seja executada a multa execução provisória, quando
Página

exigível com o trânsito em por descumprimento fixada a liminar que as fixou for
julgado da decisão que, em antecipação de tutela” confirmada em sentença ou

INFORMATIVO esquematizado
confirmando a tutela (AgRg no AREsp 50.816/RJ, 2ª acórdão de natureza
antecipada no âmbito da T., DJe 22/08/2012) definitiva (art. 269 do CPC),
qual foi aplicada, julgar desde que o respectivo
procedente a demanda.” (...) É possível a execução recurso deduzido contra a
(AgRg no AREsp 50.196/SP, da decisão interlocutória decisão não seja recebido no
1ª T, DJe 27/08/2012) que determinou o efeito suspensivo. A pena
pagamento de astreintes no incidirá, não obstante, desde
caso de descumprimento a data da fixação em decisão
de obrigação (...) (AgRg no interlocutória.”
REsp 1299849/MG, 3ª T, (REsp 1347726/RS, 4ª T, DJe
DJe 07/05/2012) 04/02/2013)
Na doutrina: Na doutrina: Na doutrina:
Cândido Rangel Dinamarco Cássio Scarpinella Bueno Não encontrada referência.
Luiz Guilherme Marinoni Fredie Didier Jr.

Para fins de concurso, essa pergunta não poderia ser cobrada em uma primeira fase por
ainda representar divergência jurisprudencial. Para provas discursivas, é importante que
você conheça a existência das três correntes. Particularmente, entendo como mais razoável
a 3ª posição. De qualquer forma, havendo mudança no panorama acima, eu aviso a vocês.
Previsões Atenção. A explicação dada acima refere-se ao regramento do processo individual regulado
específicas pelo CPC. Existem, contudo, previsões em leis especiais estabelecendo que as astreintes
somente podem ser exigidas após o trânsito em julgado. Confira:

Lei n. 7.347/85 (Lei da ACP):


Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em
decisão sujeita a agravo.
(...)
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da
decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o
descumprimento.

Esse dispositivo é aplicado pelo STJ:


(...) A exigibilidade da multa cominada liminarmente em ação civil pública fica condicionada
ao trânsito em julgado da decisão final favorável ao autor (art. 12, § 2º, da Lei 7.347/85) (...)
(EDcl no AgRg no REsp 756.224/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma,
julgado em 27/09/2011, DJe 04/10/2011)

Lei n. 8.069/90 (ECA):


Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
prévia, citando o réu.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
19

§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao


autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.
Página

INFORMATIVO esquematizado
O CESPE, em um concurso realizado em 2012, exigiu essa previsão específica. Veja:
(Juiz de Direito/AC – 2012) A respeito da proteção judicial dos interesses individuais, difusos
e coletivos das crianças e dos adolescentes, assinale a opção correta conforme disposição do
ECA e entendimento do STJ:
A) Ao deferir liminar ou proferir sentença, o juiz poderá impor, independentemente de
pedido do autor, multa diária ao réu, suficiente ou compatível com a obrigação. Nesse caso,
o pagamento da multa será exigível somente após o trânsito em julgado da sentença
favorável ao autor, mas o valor será devido desde o dia em que tiver sido configurado o
descumprimento da obrigação. (alternativa considerada CORRETA)

Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso):


Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o
juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem
o resultado prático equivalente ao adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
prévia, na forma do art. 273 do Código de Processo Civil.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao
autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado.

Processo Quarta Turma. REsp 1.347.726-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/11/2012.

Fornecimento de medicamentos por meio de mandado de segurança

Não é possível que o autor impetre um mandado de segurança para obter fornecimento de
medicamentos para tratamento da doença que o acomete.
MUITA Isso porque a instrução de MS somente com laudo médico particular não configura prova pré-
ATENÇÃO constituída da liquidez e certeza do direito do impetrante de obter do Poder Público
PGE
determinados medicamentos e insumos para o tratamento de enfermidade.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Pedro é portador de uma grave doença e seu médico prescreveu determinado
medicamento que não é fornecido pela rede pública de saúde, considerando que o SUS
adota outro tipo de tratamento que, segundo alegam as autoridades governamentais, é
igualmente eficaz.
Pedro impetrou, então, um mandado de segurança contra o Secretário Estadual de Saúde
pedindo o fornecimento do medicamento e juntando, como prova, um laudo médico
particular prescrevendo o tratamento não fornecido pelo SUS.

Sob o ponto de vista exclusivamente do direito processual, a ação proposta terá êxito?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, a instrução de mandado de segurança somente com laudo
médico particular não configura prova pré-constituída da liquidez e certeza do direito do
impetrante de obter do Poder Público determinados medicamentos e insumos para o
tratamento de enfermidade acometida por ele.
20

O laudo de médico particular, embora aceito como elemento de prova, não pode ser
imposto ao magistrado como se a matéria fosse, exclusivamente, de direito. Esse parecer
Página

não é espécie de prova suprema ou irrefutável, ainda mais quando a solução da

INFORMATIVO esquematizado
controvérsia, de natureza complexa, depende de conhecimento técnico-científico,
necessário para saber a respeito da possibilidade de substituição do medicamento ou sobre
sua imprescindibilidade.
Além do mais, o laudo médico, como elemento de prova, deve submeter-se ao
contraditório, à luz do que dispõe o art. 333, II, do CPC, principalmente quando, para o
tratamento da enfermidade, o Sistema Único de Saúde ofereça tratamento adequado,
regular e contínuo.
Nesse contexto, o laudo médico particular, não submetido ao crivo do contraditório, é
apenas mais um elemento de prova, que pode ser ratificado ou infirmado por outras provas
a serem produzidas no processo instrutório, dilação probatória incabível no MS.
Desse modo, o meio adequado ao reconhecimento do direito à obtenção de medicamentos
do Poder Público é a ação ordinária (e não o MS), uma vez que, como foi dito, apenas o
laudo médico atestado por profissional particular sem o crivo do contraditório não
evidencia direito líquido e certo para impetração do writ.
Atenção Não se trata de uma posição pacífica ou consolidada na jurisprudência, podendo acontecer
de, no caso concreto, ser admitido o MS por conta da desnecessidade de dilação probatória.
No entanto, para fins de concurso, este entendimento acima explicado deve ser adotado.
Processo Segunda Turma. RMS 30.746-MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 27/11/2012.

Pedido de suspensão de segurança

Não cabe recurso especial contra decisão proferida em pedido de suspensão de liminar.
O REsp tem como finalidade discutir argumentos referentes a exame de legalidade, e o pedido
de suspensão ostenta juízo político.
O REsp não se presta à revisão do juízo político realizado pelo tribunal para a concessão da
suspensão de liminar, notadamente porque decorrente de juízo de valor acerca das circunstâncias
fáticas que ensejaram a medida, cujo reexame é vedado nos termos da Súmula 7 do STJ.
Comentários PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA

Conceito
O pedido de suspensão é
- um instrumento processual (incidente processual)
- por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público
- requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento do recurso
- que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos
- sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

Natureza jurídica
Prevalece que se trata de um “incidente processual” (Leonardo José Carneiro da Cunha).

A decisão de suspensão de segurança possui caráter político ou jurisdicional?


1ª corrente: 2ª corrente:
Trata-se de um juízo político a respeito da 2ª) trata-se de decisão judicial,
lesividade do ato judicial à ordem, à saúde, considerando que uma decisão político-
à segurança e à economia públicas, sendo, administrativa não poderia atingir uma
por isso, impassível de recurso especial. É a decisão judicial anterior; além disso, se
21

posição pacífica do STJ. fosse política, poderia ser tomada de


ofício. É a posição de Marcelo Abelha e
Página

Leonardo Cunha.

INFORMATIVO esquematizado
A vedação ao Resp e ao RE decorreria,
segundo tais autores, do fato de que tais
recursos não admitem análise de matéria
de fato ou de prova.

Nomenclatura
Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de segurança”. Isso porque
ele foi previsto, originalmente, na lei, apenas para suspender as decisões liminares ou
sentenças proferidas em mandados de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão
para, praticamente, toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Por essa razão, atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em
“suspensão de liminar”, “suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc.

Previsão legal
Há cinco diferentes leis prevendo pedido de suspensão:
Art. 12, § 1º da Lei n. 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP):
Art. 4º da Lei n. 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em
ação popular ou em ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral
sobre o pedido de suspensão;
Art. 1º da Lei n. 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda
Pública);
Art. 16 da Lei n. 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
Art. 15 da Lei n. 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).

Lei n. 8.437/92:
Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo
recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas
contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa
jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de
flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas.
§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação cautelar
inominada, no processo de ação popular e na ação civil pública, enquanto não transitada
em julgado.

Possibilidade de formular pedido de suspensão e interpor recurso:


Contra uma decisão interlocutória proferida por um juiz, em 1ª instância, poderão ser
interpostos o agravo de instrumento e, concomitantemente, o pedido de suspensão. Isso
porque o pedido de suspensão não é recurso. Logo, não há violação ao princípio da
singularidade ou unirrecorribilidade. Além disso, os objetivos do agravo e do pedido de
suspensão são diferentes.
Vale ressaltar que essa possibilidade é prevista expressamente:
Lei n.° 8.437/92
Art. 4º (...) § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações
movidas contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento
do pedido de suspensão a que se refere este artigo.
22

Lei n.° 12.016/2009


Art. 15 (...) § 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas
Página

ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o
julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

INFORMATIVO esquematizado
Legitimidade
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
b) Autarquias e fundações;
c) Ministério Público;
d) Concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse público primário).

Competência
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do
Presidente do Tribunal que teria competência para julgar o
recurso contra a decisão.
Decisão prolatada por
Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de
juiz de 1ª instância:
suspensão será julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de
suspensão será julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
Decisão prolatada por
membro de TJ ou TRF:
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido
de suspensão será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não
ao Presidente do TJ/AM (art. 25 da Lei n. 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o
Decisão prolatada por
ajuizamento de pedido de suspensão dirigido ao Presidente do STF.
membro de Tribunal
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há
Superior:
possibilidade de pedido de suspensão.

Não se examina o mérito no pedido de suspensão:


Na análise do pedido de suspensão, é vedado o exame do mérito da demanda principal. O
que será examinado pelo Tribunal é se a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à:
a) ordem
b) saúde
c) segurança ou
d) economia públicas.

A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de grave lesão à


ordem, à segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de mérito da demanda
principal não podem ser examinados nessa medida, que não substitui o recurso próprio.
(AgRg na SLS 1.135/MA, Rel. Ministro PRESIDENTE DO STJ, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR
ASFOR ROCHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/04/2010, DJe 20/05/2010)

Apesar de não se examinar o mérito, deve ser realizado um juízo mínimo de delibação:
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é
preciso, para que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade
na tese da Fazenda Pública porque o pedido de suspensão funciona como uma
contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus boni iuris e periculum in mora inverso:
23

(...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de


um juízo mínimo de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal,
Página

quando da análise do pedido de suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro


Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel. Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001,

INFORMATIVO esquematizado
dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-
078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001)

A decisão no pedido de suspensão possui caráter político ou jurisdicional?


R: Político. Trata-se de um juízo político a respeito da lesividade do ato judicial à ordem, à
saúde, à segurança e à economia públicas. É a posição pacífica do STJ.

Recurso contra a decisão proferida no pedido de suspensão:


Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso?
SIM. Caberá agravo interno para o Plenário ou Corte Especial do Tribunal.

Cabe recurso da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
NÃO. Segundo entendimento pacífico, não cabe Recurso Extraordinário ou Recurso Especial
de decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão.
O recurso especial não se presta à revisão do juízo político realizado pelo tribunal a quo
para a concessão da suspensão de liminar, notadamente porque decorrente de juízo de
valor acerca das circunstâncias fáticas que ensejaram a medida, cujo reexame é vedado nos
termos da Súm. n. 7/STJ (AgRg no AREsp 126.036-RS).

No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou mantida a suspensão, a Fazenda
Pública ainda terá outro instrumento: apresentar novo pedido de suspensão, desta vez para
o STJ ou para o STF, a depender da natureza da matéria (se infraconstitucional ou
constitucional).

Lei n.° 8.437/92


Art. 4º (...) § 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o
restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de suspensão
ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou
extraordinário.

Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente
para o Plenário, que reforma a decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou
RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do
Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou
RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

A doutrina afirma que se trata de um pedido de suspensão “por salto de instância”.


Obra
CUNHA, Leonardo José Carneiro. A Fazenda Pública em Juízo. São Paulo: Dialética, 8ª ed., 2010.
consultada
Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 126.036-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 4/12/2012.
24
Página

INFORMATIVO esquematizado
Ação demolitória

O possuidor ou dono da obra, responsável pela ampliação irregular do imóvel, é legitimado


passivo de ação demolitória que vise à destruição do acréscimo irregular realizado, ainda que
ele não ostente o título de proprietário do imóvel.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Carlos é possuidor de uma casa e resolveu ampliá-la, construindo um 2º andar.
Ocorre que essa construção foi feita em desacordo com as regras do direito de vizinhança e
com o plano diretor.
Diante disso, o Município ingressou com uma ação demolitória requerendo que Carlos seja
condenado a demolir a construção feita, respondendo, ainda, por perdas e danos, nos
termos do art. 1.312 do CC.
Carlos contestou a ação suscitando, como preliminar, sua ilegitimidade passiva ad causam,
sob o argumento de que é mero possuidor, não sendo, contudo, o proprietário do imóvel.
Afirmou que somente o proprietário poderia figurar como réu da ação.

O argumento de Carlos poderá ser acolhido?


NÃO. Segundo o STJ, o possuidor ou dono da obra, responsável pela ampliação irregular do
imóvel, é legitimado passivo de ação demolitória que vise à destruição do acréscimo
irregular realizado, ainda que ele não ostente o título de proprietário do imóvel.
As normas que impõem limites às construções não se destinam apenas aos proprietários,
mas também aos possuidores ou donos da obra (responsáveis pela obra).
Processo Segunda Turma. REsp 1.293.608-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/12/2012.

Arrematação

Efetuada a arrematação, descabe o pedido de desconstituição da alienação nos autos da


execução, demandando ação própria prevista no art. 486 do CPC.
Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:
a) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
b) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e,
caso não o faça, seus bens são penhorados.

O que é a penhora?
Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou
indiretamente, na satisfação do crédito executado.

Formas de utilizar o bem penhorado para satisfação da dívida:


Como visto, os bens do devedor são penhorados a fim de serem utilizados, direta ou
indiretamente, para a satisfação da dívida.

O que acontece com o bem penhorado?


Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação.
Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser:
a) Adjudicado;
25

b) Alienado por iniciativa particular;


c) Alienado em hasta pública;
Página

d) Concedido em usufruto ao exequente.

INFORMATIVO esquematizado
A isso se dá o nome de expropriação, conforme previsto no art. 647 do CPC:
Art. 647. A expropriação consiste:
I - na adjudicação em favor do exequente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A
desta Lei;
II - na alienação por iniciativa particular;
III - na alienação em hasta pública;
IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel.

I – Adjudicação
A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado é transferida ao exequente
ou aos terceiros legitimados.
Art. 685-A. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer
lhe sejam adjudicados os bens penhorados.
§ 1º Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a
diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo
saldo remanescente.
§ 2º Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores
concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou
ascendentes do executado.
§ 3º Havendo mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação; em igualdade
de oferta, terá preferência o cônjuge, descendente ou ascendente, nessa ordem.
(...)

II – Alienação por iniciativa particular


Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exequente poderá requerer
sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado
perante a autoridade judiciária.
§ 1º O juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser efetivada, a forma de publicidade, o
preço mínimo (art. 680), as condições de pagamento e as garantias, bem como, se for o
caso, a comissão de corretagem.
§ 2º A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exequente,
pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do
imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao
adquirente.
§ 3º Os Tribunais poderão expedir provimentos detalhando o procedimento da alienação
prevista neste artigo, inclusive com o concurso de meios eletrônicos, e dispondo sobre o
credenciamento dos corretores, os quais deverão estar em exercício profissional por não
menos de 5 (cinco) anos.

III – Alienação em hasta pública


Se não houver interessados na adjudicação (inciso I do art. 647 do CPC) e se o credor não
requerer a alienação particular do bem (inciso II), então o destino do bem será a sua
alienação em hasta pública (inciso III).
A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento
organizado pelo Estado-juiz.
Existem duas formas de hasta pública (art. 686, IV):
26

a) Praça: quando a coisa a ser alienada for bem imóvel;


b) Leilão: quando a coisa a ser alienada for bem móvel.
Página

INFORMATIVO esquematizado
O que é arrematação?
Consiste na alienação do bem penhorado em hasta pública.

Se o bem penhorado é arrematado e, após isso, a impugnação ou os embargos do devedor


(embargos à execução) são julgados procedentes, essa alienação é anulada?
Em regra, não. Veja o que diz o art. 694 do CPC:
Art. 694. Assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário da justiça ou
leiloeiro, a arrematação considerar-se-á perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham
a ser julgados procedentes os embargos do executado.

Segundo o STJ, essa norma visa conferir estabilidade à arrematação, protegendo o


arrematante e impondo-lhe obrigação, como também buscando reduzir os riscos do
negócio jurídico, propiciando efetivas condições para que os bens levados à hasta pública
recebam melhores ofertas em benefício das partes do feito executivo e da atividade
jurisdicional na execução.

Excepcionalmente, o § 1º do art. 694 traz algumas hipóteses nas quais poderá ocorrer o
desfazimento ou dissolução da arrematação:
§ 1º A arrematação poderá, no entanto, ser tornada sem efeito:
I - por vício de nulidade;
II - se não for pago o preço ou se não for prestada a caução;
III - quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a existência de ônus real ou
de gravame (art. 686, inciso V) não mencionado no edital;
IV - a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação (art. 746, §§
1º e 2º);
V - quando realizada por preço vil (art. 692);
VI - nos casos previstos neste Código (art. 698).

No caso do inciso I (vício de nulidade), a doutrina sustenta que a invalidade da arrematação


pode ser requerida por “embargos à arrematação” ou por “ação anulatória autônoma” (art.
486 do CPC). Nesse sentido: DIDIER JR., Fredie; et. al. Curso de Direito Processual Civil.
Execução. Salvador: Juspodivm, 2011, p. 664).

IV – Usufruto de bem móvel ou imóvel


Se o juiz conceder o usufruto do bem penhorado ao exequente, significa que ele autoriza
que o credor fique recebendo os frutos ou rendimentos que a coisa produzir até que
consiga quitar a dívida.
Ex: foi penhorado um apartamento do executado que se encontra alugado a um terceiro;
pode o juiz conceder o usufruto judicial desse apartamento ao exequente, que passará a
receber o valor dos alugueis até que o débito da execução seja totalmente pago.
Apesar do CPC chamar esse inciso IV de “usufruto”, a doutrina afirma que, na verdade, não
se trata de usufruto, mas sim de uma forma de “anticrese”.
Art. 716. O juiz pode conceder ao exequente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o
reputar menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do crédito.
Art. 717. Decretado o usufruto, perde o executado o gozo do móvel ou imóvel, até que o
exequente seja pago do principal, juros, custas e honorários advocatícios.
27

Processo Quarta Turma. REsp 1.313.053-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/12/2012.
Página

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PENAL

Princípio da insignificância (contrabando)

Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes de contrabando de máquinas caça-


níqueis ou de outros materiais relacionados com a exploração de jogos de azar.
Comentários Aplica-se o princípio da insignificância no caso de descaminho?
SIM. O descaminho é também considerado um crime contra a ordem tributária, apesar de
estar previsto no art. 334 do Código Penal e não na Lei n. 8.137/90.
Desse modo, é possível a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho.

Aplica-se o princípio da insignificância no caso de contrabando?


NÃO. Não se aplica o princípio da insignificância no caso de contrabando, tendo em vista o
desvalor da conduta do agente (STF. HC 110.964, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda
Turma, julgado em 07/02/2012).

O contrabando e o descaminho estão previstos no mesmo tipo penal (art. 334 do CP). Por
que não pode ser utilizado o mesmo critério do descaminho para o contrabando no que
tange à insignificância?

Descaminho Contrabando
Corresponde à entrada ou à saída de Corresponde à conduta de importar ou
produtos PERMITIDOS, todavia elidido, no exportar mercadoria PROIBIDA.
todo ou em parte, o pagamento de direito
ou de imposto devido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo da mercadoria.

Desse modo, no delito de contrabando, o objeto material sobre o qual recai a conduta
criminosa é a mercadoria PROIBIDA (proibição absoluta ou relativa).
Em outras palavras, o objetivo precípuo dessa tipificação legal é evitar o fomento de
transporte e comercialização de produtos proibidos por lei.
No contrabando não se cuida, tão somente, de sopesar o caráter pecuniário do imposto
sonegado, mas, principalmente, de tutelar, entre outros bens jurídicos, a saúde pública.
Em suma, no contrabando, o desvalor da conduta é maior, razão pela qual se deve afastar a
aplicação do princípio da insignificância (STF HC 110.964).

No caso noticiado neste informativo, a 5ª Turma do STJ negou aplicação ao princípio da


insignificância para o crime de contrabando de máquinas caça-níqueis.
Para o STJ, há reprovabilidade desta conduta, considerando que os itens (máquinas)
introduzidos no território nacional prestam-se, única e exclusivamente, para a prática de
atividades ilícitas, afetando, portanto, diretamente, a ordem pública.
Assim, não é possível considerar tão somente o valor dos tributos suprimidos, pois essa
conduta tem, ao menos em tese, relevância na esfera penal. Permitir tal hipótese consistiria
num verdadeiro incentivo ao descumprimento da norma legal, sobretudo em relação
àqueles que fazem de atividades ilícitas um meio de vida.
Princípio da Para maiores informações, consulta nossa apostila sobre o princípio da insignificância nos
Insignificân- esquemas de aula do Dizer o Direito.
28

cia
Processo Quinta Turma. REsp 1.212.946-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 4/12/2012.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Roubo circunstanciado pelo emprego de arma
É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que incida a
majorante do art. 157, § 2º, I, do Código Penal?
NÃO. O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da apreensão e da
realização de perícia na arma, desde que provado o seu uso no roubo por outros meios de prova.

No entanto, se a arma é apreendia e periciada, sendo constatada a sua inaptidão para a produção
de disparos, neste caso, não se aplica a majorante do art. 157, § 2º, I, do CP, sendo considerado
roubo simples (art. 157, caput, do CP). O legislador, ao prever a majorante descrita no referido
dispositivo, buscou punir com maior rigor o indivíduo que empregou artefato apto a lesar a
integridade física do ofendido, representando perigo real, o que não ocorre na hipótese de
instrumento notadamente sem potencialidade lesiva. Assim, a utilização de arma de fogo que
não tenha potencial lesivo afasta a mencionada majorante, mas não a grave ameaça, que
constitui elemento do tipo “roubo” na sua forma simples.
Comentários O art. 157 do Código Penal prevê o crime de roubo:
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

O § 2º do art. 157 prevê cinco causas de aumento de pena para o roubo. Desse modo, se
ocorre alguma dessas hipóteses, tem-se o chamado “roubo circunstanciado” (também
conhecido como “roubo agravado” ou “roubo majorado”):
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

Repare na hipótese prevista no inciso I:


§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

Veja agora uma série de perguntas de prova sobre esse inciso:

1) O que pode ser considerado “arma”?


Para os fins do art. 157, § 2º, I, podem ser incluídos no conceito de arma:
a arma de fogo;
a arma branca (considerada arma imprópria), como faca, facão, canivete;
e quaisquer outros "artefatos" capazes de causar dano à integridade física do ser
humano ou de coisas, como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um
espeto de churrasco, uma chave de fenda etc.

2) Se o agente emprega no roubo uma “arma” de brinquedo, haverá a referida causa de


aumento?
29

NÃO. Até 2002, prevalecia que sim. Havia até a Súmula 174 do STJ afirmando isso. Contudo,
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essa súmula foi cancelada, de modo que, atualmente, no crime de roubo, a intimidação
feita com arma de brinquedo não autoriza o aumento da pena.

INFORMATIVO esquematizado
3) É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que incida a
majorante?
NÃO. O reconhecimento da causa de aumento prevista no art. 157, § 2º, I, do Código Penal
prescinde (dispensa) da apreensão e da realização de perícia na arma, desde que provado o
seu uso no roubo por outros meios de prova.
Se o acusado alegar o contrário ou sustentar a ausência de potencial lesivo na arma
empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova, nos termos do
art. 156 do Código de Processo Penal.

4) Se, após o roubo, foi constatado que a arma empregada pelo agente apresentava defeito,
incide mesmo assim a majorante?
Depende:
Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja absolutamente
ineficaz, não incide a majorante. Ex: revólver que não possui mecanismo necessário
para efetuar disparos. Nesse caso, o revólver defeituoso servirá apenas como meio para
causar a grave ameaça à vítima, conforme exige o caput do art. 157, sendo o crime o de
roubo simples;
Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja relativamente
ineficaz, INCIDE a majorante. Ex: revólver que algumas vezes trava e não dispara. Nesse
caso, o revólver, mesmo defeituoso, continua tendo potencialidade lesiva, de sorte que
poderá causar danos à integridade física, sendo, portanto, o crime o de roubo
circunstanciado.

5) O Ministério Público que deve provar que a arma utilizada estava em perfeitas condições
de uso?
NÃO. Cabe ao réu, se assim for do seu interesse, demonstrar que a arma é desprovida de
potencial lesivo, como na hipótese de utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou
arma incapaz de produzir lesão (STJ EREsp 961.863/RS).

6) Se, após o roubo, foi constatado que a arma estava desmuniciada no momento do crime,
incide mesmo assim a majorante?
NÃO. A utilização de arma desmuniciada, como forma de intimidar a vítima do delito de
roubo, caracteriza o emprego de violência, porém, não permite o reconhecimento da
majorante de pena, já que esta está vinculada ao potencial lesivo do instrumento,
pericialmente comprovado como ausente no caso, dada a sua ineficácia para a realização de
disparos (STJ HC 190.067/MS).

7) Além do roubo qualificado, o agente responderá também pelo porte ilegal de arma de fogo
(art. 14 ou 16, da Lei n. 10.826/2003)?
Em regra, não. Geralmente, o crime de porte ilegal de arma de fogo é absorvido pelo crime
de roubo circunstanciado. Aplica-se o princípio da consunção, considerando que o porte
ilegal de arma de fogo funciona como crime meio para a prática do roubo (crime fim),
sendo por este absorvido.

Você poderá encontrar assim no concurso:


(Promotor/MPRO – 2010) O delito de roubo majorado por uso de arma absorve o delito de
porte de arma (afirmativa CORRETA).
30

“A conduta de portar arma ilegalmente é absorvida pelo crime de roubo, quando, ao longo
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da instrução criminal, restar evidenciado o nexo de dependência ou de subordinação entre

INFORMATIVO esquematizado
as duas condutas e que os delitos foram praticados em um mesmo contexto fático,
incidindo, assim, o princípio da consunção” (STJ HC 178.561/DF).

No entanto, poderá haver condenação pelo crime de porte em concurso material com o
roubo se ficar provado nos autos que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em
outras oportunidades antes ou depois do crime de roubo e que ele não se utilizou da arma
tão somente para cometer o crime patrimonial.
Ex: “Tício”, às 13h, mediante emprego de um revólver, praticou roubo contra “Caio”, que
estava na parada de ônibus (art. 157, § 2º, I, CP). No mesmo dia, por volta das 14h 30min,
em uma blitz de rotina da polícia (sem que os policiais soubessem do roubo ocorrido),
“Ticio” foi preso com os pertences da vítima e com o revólver empregado no assalto. Em um
caso semelhante a esse, a 5ª Turma do STJ reconheceu o concurso material entre o roubo e
o delito do art. 14, da Lei n. 10.826/2003, afastando o princípio da consunção.

Veja trechos da ementa desse julgado mencionado acima:


1. O princípio da consunção é aplicado para resolver o conflito aparente de normas penais
quando um crime menos grave é meio necessário ou fase de preparação ou de execução do
delito de alcance mais amplo, de tal sorte que o agente só será responsabilizado pelo
último, desde que se constate uma relação de dependência entre as condutas praticadas
(Precedentes STJ).
2. No caso em apreço, observa-se que o crime de porte ilegal de arma de fogo ocorreu em
circunstância fática distinta ao do crime de roubo majorado, porquanto os pacientes foram
presos em flagrante na posse do referido instrumento em momento posterior à prática do
crime contra o patrimônio, logo, em se tratando de delitos autônomos, não há que se falar
em aplicação do princípio da consunção. (...)
(HC 199.031/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 21/06/2011)

Outro julgado recente do STF no mesmo sentido:


1. Caso no qual o acusado foi preso portando ilegalmente arma de fogo, usada também em
crime de roubo três dias antes. Condutas autônomas, com violação de diferentes bens
jurídicos em cada uma delas.
2. Inocorrente o esgotamento do dano social no crime de roubo, ante a violação posterior da
incolumidade pública pelo porte ilegal de arma de fogo, não há falar em aplicação do
princípio da consunção. (...)
(RHC 106067, Relatora Min. Rosa Weber, Primeira Turma, julgado em 26/06/2012)
Processo Sexta Turma. HC 247.669-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/12/2012.

Crime contra a ordem tributária

O início do prazo prescricional em relação ao crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990
é o momento da constituição definitiva do crédito tributário, elemento imprescindível para o
desencadeamento da ação penal.
Segundo o enunciado da Súmula 436/STJ, a entrega de declaração pelo contribuinte
reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra
providência por parte do fisco.
No caso concreto, o contribuinte declarou o débito por meio de GIA, remetendo-a ao Fisco
estadual, mas deixando de recolher, no prazo legal, o ICMS devido ao Erário estadual,
31

iniciando-se na data da declaração o prazo prescricional.


Comentários A Lei n. 8.137/90 define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as
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relações de consumo.
Os arts. 1º e 2º da Lei trazem os crimes praticados por particulares contra a ordem tributária.
INFORMATIVO esquematizado
Vejamos um pouco mais sobre o delito previsto no art. 2º, II:
Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado
ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres
públicos;
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Bem jurídico
O bem jurídico protegido é a ordem tributária, ou seja, o interesse do Estado na
arrecadação dos tributos. Alguns autores falam que o bem jurídico é o erário.

Apropriação indébita
O art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90 é uma forma especial de apropriação indébita.
É muito semelhante também com o delito de apropriação indébita previdenciária (art. 168-
A do CP), sendo a principal diferença a seguinte:
Art. 168-A do CP Art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90
O agente deixa de repassar contribuições O agente deixa de repassar quaisquer
previdenciárias recolhidas dos outros tributos (que não contribuições
contribuintes. previdenciárias) recolhidas dos
contribuintes.

Sujeito ativo
Comete o crime aquele que era o responsável por recolher aos cofres públicos o valor do
tributo ou da contribuição social descontado ou cobrado, mas não o faz.
Doutrinariamente, é classificado como crime comum considerando que não se exige
qualidade especial do sujeito ativo (pode ser qualquer pessoa que tinha responsabilidade
pelo recolhimento e não o fez dolosamente).

Sujeito passivo
Será a União, o Estado-membro ou o Município tributante.

Tipo objetivo
Algumas vezes a legislação estabelece que a pessoa tem, como obrigação tributária
acessória, que recolher o tributo ou a contribuição social devida por outra e depois repassar
esse valor ao ente tributante.
Ex1: o empregador, ao efetuar o pagamento do salário do empregado, deverá reter uma
parcela desse rendimento e repassar tal valor à Receita Federal.
Se a pessoa fizer o desconto e não recolher, no prazo legal, o valor do tributo ou da
contribuição social para o Fisco, haverá a prática desse crime.

Ex2: Rubens, sócio-gerente de uma sociedade comercial, deixou de recolher, de forma


consciente, no prazo legal, o ICMS, referente aos meses de março e abril de 2002,
escriturado nos livros fiscais e declarado à administração fazendária. Nessa situação,
Rubens praticou, em tese, crime contra a ordem tributária (AGU 2003).

Competência
A competência para julgar o crime irá variar de acordo com a competência tributária para
32

instituir o respectivo tributo. Assim, por exemplo, se for tributo de competência da União, a
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competência jurisdicional será da Justiça Federal. Se o tributo for instituído pelos Estados
ou Municípios, a competência jurisdicional será da Justiça Estadual.

INFORMATIVO esquematizado
Consumação e início da prescrição
No julgado noticiado neste informativo, a 6ª Turma discutia o início do prazo prescricional
do crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90.
Segundo entendeu a 6ª Turma, para que seja proposta ação penal pelo crime do art. 2º, II,
da Lei n. 8.137/90 é indispensável que, antes da denúncia ser oferecida, ocorra a
constituição definitiva do crédito tributário.
Logo, para o STJ, cabia discutir quando houve a constituição definitiva e, assim, poderia se
descobrir quando se iniciou o prazo prescricional.

Quando ocorreu a constituição definitiva?


Os Ministros entenderam que, no caso concreto, que envolvia o não recolhimento de ICMS,
a constituição definitiva do crédito tributário ocorreu com a entrega da declaração da Guia
de Informação e Apuração do ICMS (chamada de GIA) ao Fisco Estadual sem o recolhimento
do tributo devido.
De acordo com a jurisprudência consolidada do STJ, a entrega da GIA é o modo de
constituição do crédito tributário, dispensando a Fazenda Pública de qualquer outra
providência adicional. Esse entendimento gerou até a edição de uma súmula:
Súmula n. 436 do STJ: A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal
constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.

Dessa feita, no caso concreto julgado (envolvendo ICMS), o termo inicial do prazo prescricional
do crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990 foi a data da entrega da declaração GIA
pelo próprio contribuinte, e não a inscrição do crédito tributário em dívida ativa.
Atenção Cuidado. A posição defendida neste julgado, qual seja, a de que a ação penal pelo crime do
art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90 exige antes a prévia constituição definitiva do crédito
tributário não é pacífica. É importante conhecer o precedente, mas não se deve imaginar
que é algo tranquilo.
Processo Sexta Turma. HC 236.376-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/11/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Modificação de competência e ratificação de denúncia

Se o Ministério Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o réu e esta é
posteriormente encaminhada ao STJ, tal denúncia somente poderá ser processada e julgada se
for ratificada pelo Procurador-Geral da República ou por um dos Subprocuradores-Gerais.
A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do
feito, a denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada pelo STJ se for
ratificada pelo MPF, órgão que tem legitimidade para atuar nas ações penais de competência
originária do Tribunal da Cidadania.
Comentários Exemplo hipotético:
O Procurador Geral de Justiça (Ministério Público estadual) ofereceu denúncia, no Tribunal
de Justiça, contra “X” (prefeito).
Deve-se lembrar que os Prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de
Justiça (art. 29, X, da CF/88).
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Antes que a denúncia fosse recebida, “X” foi eleito e diplomado Governador do Estado.
A competência para processar e julgar os Governadores pela prática de infrações penais
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comuns é do STJ (art. 105, I, a, da CF/88). Logo, o TJ perdeu a competência para analisar se
deveria ou não receber a denúncia, devendo remeter o processo ao STJ.

INFORMATIVO esquematizado
Chegando o processo ao STJ, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual somente
poderá ser examinada por aquela Corte se for ratificada pelo Procurador-Geral da República
(ou por um dos Subprocuradores-Gerais que atue por delegação), em homenagem ao
princípio do promotor natural. Isso porque o órgão ministerial que tem legitimidade para
atuar no STJ é o Procurador-Geral da República (ou um Subprocurador-Geral, mediante
delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido, confira o art. 48, II, da LC n. 75/93:
Art. 48. Incumbe ao Procurador-Geral da República propor perante o Superior Tribunal de
Justiça:
(...)
II - a ação penal, nos casos previstos no art. 105, I, "a", da Constituição Federal.
Parágrafo único. A competência prevista neste artigo poderá ser delegada a Subprocurador-
Geral da República.
Processo Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012.

Competência e uso de documento falso perante a Polícia Rodoviária Federal

Compete à Justiça Federal o julgamento de crime consistente na apresentação de Certificado de


Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) falso à Polícia Rodoviária Federal.
Comentários A competência para processo e julgamento do delito previsto no art. 304 do CP deve ser
fixada com base na qualificação do órgão ou entidade à qual foi apresentado o documento
falsificado, que efetivamente sofre prejuízo em seus bens ou serviços, pouco importando,
em princípio, a natureza do órgão responsável pela expedição do documento.
Assim, em se tratando de apresentação de documento falso à PRF, órgão da União, em
detrimento do serviço de patrulhamento ostensivo das rodovias federais, afigura-se
inarredável a competência da Justiça Federal para o julgamento da causa, nos termos do
art. 109, IV, da CF:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Processo Terceira Seção. CC 124.498-ES, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE),
julgado em 12/12/2012.

Competência da Justiça Federal e contravenções

É da competência da Justiça estadual o julgamento de contravenções penais, mesmo que


conexas com delitos de competência da Justiça Federal.
Comentários A competência da Justiça Federal para julgar crimes está prevista no art. 109 da CF:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
(...)
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VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
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IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da


Justiça Militar;

INFORMATIVO esquematizado
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

Como se vê pela redação literal, a Justiça Federal NÃO julga contravenções penais, uma vez
que o art. 109 da CF fala apenas em crimes. Nesse sentido, é a súmula 38 do STJ:
Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.

Desse modo, por exemplo, se for praticada uma contravenção penal a bordo de navio ou
aeronave, mesmo que esteja navegando ou em voo, a competência será da Justiça Estadual:
(...) 1. A Justiça Federal não tem competência para julgar contravenção penal, ainda que
praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, nos termos da Súmula
nº 38 desta Corte.
2. O artigo 109, inciso IX, da Constituição Federal de 1988, utilizado pelo Juízo suscitado
para embasar o declínio da competência para o Juízo Federal, refere-se tão somente aos
crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, excluídas, portanto, as contravenções
penais. (...)
(CC 117.220/BA, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Seção, julgado em 26/10/2011)

E se a contravenção penal for conexa com crime federal?


R: Haverá a cisão dos processos, de forma que o crime será julgado pela Justiça Federal e a
contravenção pela Justiça Estadual:
I - As contravenções, mesmo que praticadas em detrimento de interesse da União, são
apreciadas na Justiça Estadual (Súmula nº 38-STJ).
II - Na hipótese de conexão ou continência, prevalece a regra constitucional (art. 109, inciso
IV), indicando a necessidade do desmembramento.
Conflito julgado procedente.
(CC 20454/RO, Rel. Min. Felix Fischer, Terceira Seção, julgado em 13.12.1999)

A doutrina afirma que existe uma exceção na qual a Justiça Federal julgaria contravenção
penal: contravenção penal praticada, por exemplo, por juiz federal. Nesta hipótese, essa
contravenção penal seria julgada pelo TRF.
Processo Terceira Seção. CC 120.406-RJ, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE),
julgado em 12/12/2012.

DIREITO TRIBUTÁRIO
Incidência de juros moratórios sobre a multa punitiva
Em caso de inadimplemento do crédito tributário, os juros de mora deverão incidir sobre a
totalidade da dívida, ou seja, sobre o tributo acrescido da multa fiscal punitiva, a qual também
integra o crédito tributário.
Comentários Em caso de inadimplemento no pagamento do tributo, o Fisco aplica uma multa punitiva.
Assim, em decorrência do atraso, o sujeito passivo passará a ter que pagar o tributo mais a
multa. Isso constitui o crédito tributário.
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Se o contribuinte continuar inadimplente, haverá a cobrança também de juros de mora, que


deverão incidir sobre a totalidade do débito, ou seja, sobre o principal mais a multa.
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Em suma, segundo o STJ, é legítima a incidência dos juros de mora sobre a multa fiscal punitiva,
considerando que ela também integra o crédito tributário juntamente com o débito original.

INFORMATIVO esquematizado
O fundamento para essa conclusão está na combinação do art. 113, § 1º com o art. 161 do CTN.
Com efeito, o art. 113, § 1º do CTN determina que o crédito tributário engloba tanto o tributo
como a penalidade pecuniária (multa).
Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela
decorrente.

O art. 161 do CTN, por sua vez, determina que os juros de mora deverão incidir sobre o
crédito tributário, ou seja, sobre o tributo e mais a multa:
Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja
qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e
da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.

Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.335.688-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 4/12/2012.

Início do prazo prescricional no caso de exclusão do REFIS


(obs: somente interessa a quem presta concursos federais)

Quando interrompido pelo pedido de adesão ao Refis, o prazo prescricional de 5 anos para a
cobrança de créditos tributários devidos pelo contribuinte excluído do programa reinicia na
data da decisão final do processo administrativo que determina a exclusão do devedor do
referido regime de parcelamento de débitos fiscais.
Comentários O Programa de Recuperação Fiscal – Refis, regime peculiar de parcelamento dos tributos
devidos à União, é causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, VI, do
CTN) e, ao mesmo tempo, causa de interrupção da prescrição (art. 174, parágrafo único, IV,
do CTN), na medida em que representa confissão extrajudicial do débito.
Dessa forma, o crédito tributário submetido ao aludido programa será extinto se houver
quitação integral do parcelamento, ou, ao contrário, retomará a exigibilidade em caso de
rescisão do programa, hipótese em que o prazo prescricional será reiniciado, uma vez que,
como foi dito, a submissão do crédito ao programa representa causa de interrupção, e não
de suspensão, da prescrição.
Ocorre que, no caso do Refis, o Fisco, atento aos princípios do contraditório e da ampla
defesa, prevê a obrigatoriedade de instauração de processo administrativo para a exclusão
de tal regime de parcelamento, nos moldes da Resolução CG/Refis 9/2001, com as
alterações promovidas pela Resolução CG/Refis 20/2001.
Assim, considerando o fato de que o STJ possui entendimento de que a instauração do
contencioso administrativo, além de representar causa de suspensão da exigibilidade do
crédito tributário, amolda-se à hipótese do art. 151, III, do CTN – razão pela qual perdurará
a suspensão da exigibilidade até decisão final na instância administrativa –, deve ser
prestigiada a orientação de que, uma vez instaurado o contencioso administrativo, a
exigibilidade do crédito tributário – e, com ela, a fluência da prescrição – somente será
retomada após a decisão final da autoridade fiscal.
Logo, caso o devedor tributário tenha sido excluído do REFIS, o prazo prescricional para
cobrança do tributo somente se inicia com a decisão final da autoridade fiscal após o
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processo administrativo instaurado para a exclusão do programa.


Processo Segunda Turma. REsp 1.144.963-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/11/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Auxílio-acidente

O termo inicial para pagamento de auxílio-acidente é a data da citação do INSS se ausente


prévio requerimento administrativo ou prévia concessão de auxílio-doença.
Comentários O termo inicial para pagamento do auxílio-acidente não é a data do laudo pericial, mas sim
o dia em que o INSS foi citado na ação proposta contra ele.
O laudo pericial apenas norteia o livre convencimento do juiz quanto a alguma incapacidade
ou mal surgido anteriormente à propositura da ação, sendo que a citação válida constitui
em mora o demandado (art. 219 do CPC).
Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 145.255-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/11/2012.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (AGU 2012) Caso determinado desembargador federal conceda tutela antecipada em agravo de
instrumento, poderá a fazenda pública insurgir-se contra a decisão, mediante a interposição de
suspensão de segurança dirigida ao presidente do STJ, sendo a matéria infraconstitucional. ( )
2) (AGU 2012) Se determinado juiz, em ação civil pública, conceder liminar desfavorável à fazenda pública,
esta poderá interpor pedido de suspensão de segurança, ainda que esteja pendente de julgamento
agravo de instrumento interposto contra a mesma decisão. ( )
3) (Juiz Federal TRF1 2011) Se for interposto agravo de instrumento contra liminar concedida, não poderá
a parte se valer do pedido de suspensão de segurança. ( )
4) (Promotor/PI – CESPE – 2012) Tratando-se de crime de contrabando, aplica-se, conforme o montante
do imposto sonegado, o princípio da insignificância. ( )
5) (Juiz Federal/TRF2 – 2011) O crime de contrabando não se caracteriza enquanto não houver decisão
definitiva no processo administrativo fiscal acerca da constituição do tributo devido, admitindo-se, em
juízo, a incidência do princípio da insignificância. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. E
37
Página

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 512 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no Ag 1.428.564-DF; AgRg no REsp 1.304.317-
SP; AgRg no AREsp 242.466-MG; REsp 1.166.600-RJ; REsp 1.345.653-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Responsabilidade civil do Estado (prazo prescricional)

O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de


5 (CINCO) anos, conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código
Civil), por se tratar de norma especial, que prevalece sobre a geral.
Comentários Caso alguém tenha sofrido um dano causado pelo Estado, qual é o prazo que essa pessoa
dispõe para ajuizar ação de reparação? Em outras palavras, qual é o prazo prescricional
para a propositura de ação de indenização contra a Fazenda Pública?
Havia duas correntes sobre o tema:
1ª) 3 anos. Fundamento: art. 206, § 3º, V do Código Civil.
2ª) 5 anos. Fundamento: art. 1º do Decreto n. 20.910/1932.

O que prevaleceu?
O prazo prescricional é de 5 (cinco) anos (não há mais polêmica no STJ).

Qual é o argumento?
Segundo o STJ, o art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 é norma especial porque regula
especificamente os prazos prescricionais relativos às ações ajuizadas contra a Fazenda Pública.
Por sua vez, o art. 206, § 3º, V, do Código Civil seria norma geral, tendo em vista que regula
a prescrição para os demais casos em que não houver regra específica.
Logo, apesar do Código Civil ser posterior (2002), segundo o STJ, ele não teve o condão de
revogar o Decreto n. 20.910/1932, tendo em vista que norma geral não revoga norma especial.
Informações Veja, em resumo, os principais pontos abordados pelo Min. Mauro Campbell:
extras Os dispositivos do CC/2002, por regularem questões de natureza eminentemente de
direito privado, nas ocasiões em que abordam temas de direito público, são expressos
ao afirmarem a aplicação do Código às pessoas jurídicas de direito público, aos bens
públicos e à Fazenda Pública.
No caso do art. 206, § 3º, V, do CC/2002, em nenhum momento foi indicada a sua
aplicação à Fazenda Pública.
Não se pode falar que houve uma mera omissão legislativa neste caso, pois o art. 178, §
10, V, do CC/1916 estabelecia o prazo prescricional de cinco anos para as ações contra a
1

Fazenda Pública, o que não foi repetido no atual código, tampouco foi substituído por
Página

outra norma infraconstitucional.


Os defensores do prazo trienal invocam o art. 10 do Decreto n. 20.910/1932, que

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estabelece o seguinte “o disposto nos artigos anteriores não altera as prescrições de
menor prazo, constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas às
mesmas regras.”
Ocorre que esse dispositivo não pode ser utilizado para dizer que o prazo do CC-2002
deve ser aplicado à Fazenda Pública. Isso porque o art. 10 prevê expressamente que o
disposto no referido decreto “não altera” eventuais prescrições de menor prazo
constantes em leis e regulamentos, o que significa que essa previsão só excepcionava
da regra dos 5 anos as prescrições que estivessem em vigor quando surgiu o Decreto.
Logo, não serve para excepcionar o CC/2002, que surgiu posteriormente e que não era
específico para o Poder Público.
Ademais, vale consignar que o prazo quinquenal foi reafirmado no art. 2º do Dec.-lei n.
4.597/1942 e no art. 1º-C da Lei n. 9.494/1997, incluído pela MP n. 2.180-35, de 2001.
Processo Primeira Seção. REsp 1.251.993-PR, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 12/12/2012.

DIREITO CIVIL

Nome da pessoa natural

É possível a alteração no registro de nascimento para dele constar o nome de solteira da


genitora, excluindo o patronímico do ex-padrasto.
Comentários Exemplo hipotético (baseado no caso concreto):
No momento do nascimento de Aline, sua mãe (Maria Barbosa Carvalho) estava casada com
João Carvalho, que não era o pai biológico da recém nascida.
Aline foi registrada com o pai ignorado e o nome de sua mãe (Maria Barbosa Carvalho).
O nome completo de Aline ficou sendo “Aline Barbosa” já que o patronímico “Carvalho” era
de seu padrasto (João).
Após alguns anos, Maria e João se divorciam e, no processo judicial, a divorcianda opta por
voltar a usar seu nome de solteira, qual seja, Maria Barbosa.

Diante disso, nos documentos pessoais de Maria consta atualmente seu nome como sendo
“Maria Barbosa”, mas no registro de nascimento de sua filha Aline, no campo no qual é
mencionada a genitora, o nome que aparece é o de “Maria Barbosa Carvalho”. É possível a
retificação do registro de nascimento?
SIM. Segundo decidiu o STJ, é possível a alteração no registro de nascimento para dele
constar o nome de solteira da genitora, excluindo o patronímico do ex-padrasto.

O nome civil é reconhecidamente um direito da personalidade, porquanto é o signo


individualizador da pessoa natural na sociedade, conforme preconiza o art. 16 do CC.
O registro público da pessoa natural não é um fim em si mesmo, mas uma forma de
proteger o direito à identificação da pessoa pelo nome e filiação, ou seja, o direito à
identidade é causa do direito ao registro.
O princípio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança
jurídica, razão pela qual deve espelhar a realidade presente, informando as alterações
relevantes ocorridas desde a sua lavratura.
Assim, é possível a averbação do nome de solteira da genitora no assento de nascimento,
excluindo o patronímico do ex-padrasto.
2

Ademais, o art. 3º, parágrafo único, da Lei 8.560/1992 prevê expressamente a possibilidade
Página

de averbação, no termo de nascimento do filho, da alteração do patronímico materno em


decorrência do casamento:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 3º (...)
Parágrafo único. É ressalvado o direito de averbar alteração do patronímico materno, em
decorrência do casamento, no termo de nascimento do filho.

Logo, também deve ser reconhecida a possibilidade de fazer o inverso, ou seja, alterar o
patronímico da mãe da pessoa quando a genitora, em decorrência de divórcio ou
separação, deixa de utilizar o nome de casada.
Processo Quarta Turma. REsp 1.072.402-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/12/2012.

Contratos (doação)

A pessoa que tenha herdeiros necessários só pode doar até o limite máximo da metade de seu
patrimônio, considerando que a outra metade é a chamada “legítima” (art. 1.846 do CC) e
pertence aos herdeiros necessários.
Doação inoficiosa é a que invade a legítima dos herdeiros necessários, sendo vedada pelo
ordenamento jurídico (art. 549 do CC).
O excesso na doação (invasão da legítima) é apurado levando-se em conta o valor do
patrimônio do doador ao tempo da doação, e não o patrimônio estimado no momento da
abertura da sucessão do doador.
Comentários DOAÇÃO

Conceito
Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu
patrimônio bens ou vantagens para o de outra (art. 538 do CC).

Restrições à liberalidade de doar


Em regra, a pessoa sendo proprietária da coisa, pode doá-la para quem quiser.
A lei impõe, contudo, algumas restrições ao exercício desse direito. Veja:

SITUAÇÃO RESTRIÇÃO
O cônjuge que for casado, para doar,
precisa da autorização do outro, exceto:
a) no regime da separação absoluta;
1) Doação feita por pessoa casada b) na doação remuneratória;
c) nas doações propter nuptiaes de bens
feitos aos filhos quando casarem ou
estabelecerem economia separada.
O absolutamente incapaz não pode realizar
2) Doação feita por incapaz
doações. Se fizer, é nula.
3) Doação universal Art. 548. É nula a doação de todos os bens
Doação universal é aquela que engloba a sem reserva de parte, ou renda suficiente
totalidade de bens do devedor. para a subsistência do doador.
A pessoa que tenha herdeiros necessários
só pode doar até o limite máximo da
4) Doação inoficiosa
metade de seu patrimônio, considerando
Doação inoficiosa é a que invade a legítima
que a outra metade é a chamada
dos herdeiros necessários.
“legítima” (art. 1.846 do CC) e pertence aos
herdeiros necessários.
3
Página

A pessoa pode doar para seus ascendentes,


5) Doação colacionável
descendentes ou cônjuges. No entanto,

INFORMATIVO esquematizado
isso será considerado “adiantamento da
legítima”, ou seja, um adiantamento do
que o donatário iria receber como herdeiro
no momento em que o doador morresse.
6) Doação fraudulenta A doação nesses casos somente é válida se
É aquela realizada pelo devedor insolvente foi realizada com o consentimento de
ou que, com a doação, torna-se insolvente. todos os credores.
Obs: devedor insolvente é aquele cujo Se feita sem tal consentimento, configura
patrimônio passivo (dívidas) é maior que o fraude contra os credores, sendo,
ativo (bens). portanto, anulável.
Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao
seu cúmplice pode ser anulada pelo outro
7) Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice cônjuge, ou por seus herdeiros necessários,
até dois anos depois de dissolvida a
sociedade conjugal.

O pródigo pode realizar doações?


R: Sim, desde que assistido pelo curador.
Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar
quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que
não sejam de mera administração.

Doação inoficiosa
O julgado noticiado no informativo trata sobre doação inoficiosa.
Como visto acima, a pessoa que tenha herdeiros necessários só pode doar até o limite
máximo da metade de seu patrimônio, considerando que a outra metade é a chamada
“legítima” (art. 1.846 do CC) e pertence aos herdeiros necessários.
Se o doador não tiver herdeiros necessários, poderá doar livremente, contanto que não seja
doação universal.

Quem são os herdeiros necessários?


Ascendentes, descendentes e cônjuge supérstite, ou seja, cônjuge sobrevivente (art. 1.845).

Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no
momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

A nulidade abrange toda a doação, ou só a parte inoficiosa? Em outras palavras, tudo que
foi doado será anulado ou somente o montante que atingir a legítima?
A invalidade do ato só alcança o excesso, ou seja, o montante que a pessoa não poderia
doar por atingir a legítima.

O excesso na doação (invasão da legítima) é apurado levando-se em conta o valor do


patrimônio do doador ao tempo da doação ou ao tempo da abertura da sucessão (morte)?
Deve-se considerar o patrimônio existente no momento da liberalidade, isto é, na data da
doação, e não o patrimônio estimado no momento da abertura da sucessão do doador.

Exemplo:
João, viúvo e pai de dois filhos, possuía um patrimônio de um milhão de reais. Em um
4

determinado dia, decide doar uma casa de 500 mil reais para seu melhor amigo.
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Essa doação é possível? SIM, considerando que não invadiu a legítima, ou seja, não doou a
metade destinada aos herdeiros necessários (seus filhos).

INFORMATIVO esquematizado
Meses depois, os negócios empresariais de João começam a ruir e ele perde 400 mil reais
em dívidas.
Quando João morre, seu patrimônio era de 100 mil reais.
A doação feita por João continua sendo válida, tendo em vista que, quando foi realizada,
seu patrimônio era maior e não houve invasão da legítima.

A doutrina costuma utilizar a seguinte frase para explicar essa solução jurídica: o posterior
empobrecimento do doador não anula as doações feitas quando ainda era homem rico.

No julgado noticiado neste informativo, o STJ adotou esse raciocínio e afirmou, embora a
solução legal seja menos favorável para os herdeiros necessários, atende melhor aos
interesses da sociedade, pois não deixa inseguras as relações jurídicas, dependentes de um
acontecimento futuro e incerto, como o eventual empobrecimento do doador. O que o
legislador do Código Civil quis, afastando-se de outras legislações estrangeiras, foi dar
segurança ao sistema jurídico, garantindo a irrevogabilidade dos atos jurídicos praticados ao
tempo em que a lei assim permitia.
Processo Segunda Seção. AR 3.493-PE, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 12/12/2012.

Contrato de seguro de vida

A doença preexistente não informada no momento da contratação do seguro de vida não exime
a seguradora de honrar sua obrigação se o óbito decorrer de causa diversa da doença omitida.
Comentários Ainda que o segurado omita doença existente antes da assinatura do contrato e mesmo que
tal doença tenha contribuído indiretamente para a morte, enseja enriquecimento ilícito
permitir que a seguradora celebre o contrato sem a cautela de exigir exame médico, receba
os pagamentos mensais e, após a ocorrência de sinistro sem relação direta com o mal
preexistente, negue a cobertura.
Processo Quarta Turma. REsp 765.471-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgamento em 6/12/2012.

Responsabilidade civil (estado de necessidade)


O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do CC. No
entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a vítima quando
esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo (art. 929).
Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade, deverá indenizar
a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo que pagou (art. 930).

O art. 950 afirma que, se lesão provocada reduzir ou impossibilitar a capacidade de trabalho, o
autor do dano deverá pagar como indenização à vítima: a) despesas do tratamento de saúde; b)
lucros cessantes até ao fim da convalescença; c) pensão correspondente à importância do
trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
A pensão correspondente à incapacidade permanente, regulada pelo art. 950 do CC é vitalícia.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada do caso concreto):
José estava conduzindo normalmente seu veículo em uma via de mão dupla quando foi
“fechado” pelo carro de Paulo, que dirigia imprudentemente. Em razão desse fato, o veículo
de José entrou na contramão e atingiu Pedro, que pilotava uma moto.
Por conta do acidente, Pedro teve amputada uma das pernas.
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Ação de indenização
Pedro ingressou com ação de indenização contra José cobrando danos materiais, morais e

INFORMATIVO esquematizado
estéticos. No que tange aos danos materiais, o autor pediu que o réu fosse condenado a
custear as despesas com o tratamento de saúde e a pagar uma pensão mensal até o final da
vida de Pedro.

Contestação
Em sua contestação, José alegou que:
a) Não foi o culpado pelo acidente, tendo agido com base em estado de necessidade;
b) Ainda que fosse culpado, não havia fundamento jurídico para que fosse condenado a
pagar uma pensão mensal à vítima;
c) Ainda que fosse condenado a pagar uma pensão mensal, esta deveria ser fixada até o
dia em que a vítima completasse 65 anos;
d) Não seria possível a cumulação de danos morais e estéticos, considerando que este
estaria necessariamente abrangido por aquele.

Segundo a jurisprudência do STJ, veja como esta demanda seria resolvida:

a) José tem o dever de indenizar a vítima, mesmo tendo agido sob estado de necessidade?
SIM, persiste seu dever de indenizar.
O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do CC:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias
o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a
remoção do perigo.

No entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a vítima
quando esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo. É o que
preconiza o art. 929 do CC:
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem
culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade, deverá
indenizar a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo que pagou:
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao
lesado.

Logo, José, mesmo tendo agido em estado de necessidade, tem o dever de indenizar Pedro,
considerando que este não foi o autor do perigo. Após pagar a vítima, José poderá ajuizar
ação regressiva cobrando de Paulo o que pagou.

Repare que se trata de algo bem interessante: o autor do dano agiu de forma LÍCITA uma
vez que estava sob o manto do estado de necessidade, no entanto, mesmo assim tem o
dever de indenizar. E qual é o fundamento jurídico para este dever?
O Min. Sanseverino explica que o fundamento para essa opção legislativa é a equidade,
aplicando-se a chamada teoria do sacrifício, bem desenvolvida pelo doutrinador português
J.J. Gomes Canotilho (O problema da responsabilidade do estado por actos lícitos. Coimbra:
6

Almedina, 1974).
Página

Pela teoria do sacrifício, diante de uma colisão entre os direitos da vítima e os do autor do
dano, estando os dois na faixa de licitude (os dois comportamentos são lícitos), o
INFORMATIVO esquematizado
ordenamento jurídico opta por proteger o mais inocente dos interesses em conflito (o da
vítima), sacrificando o outro (o do autor do dano).

b) Há fundamento jurídico para que José seja condenado a pagar uma pensão mensal à vítima?
SIM, havendo previsão no art. 950 do CC:
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou
profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e
paga de uma só vez.

O art. 950 afirma que, a se lesão provocada reduzir ou impossibilitar a capacidade de


trabalho da vítima, o autor do dano deverá pagar como indenização:
Despesas do tratamento de saúde;
Lucros cessantes até ao fim da convalescença;
Pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu.

c) Até quando essa pensão deverá ser paga? Até 65 anos, com base na expectativa de vida
da vítima?
NÃO. Não se considera para efeito de concessão da pensão a expectativa de vida do
ofendido, como ocorre no caso de homicídio:
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a
duração provável da vida da vítima.

No caso de indenização por dano à saúde da vítima que gerou redução ou impossibilidade
permanente de trabalho, o fundamento para a indenização é o art. 950 do CC, que não
estabelece limite de tempo para essa pensão. Logo, entende-se que se trata de uma pensão
vitalícia, ou seja, que perdurará até a morte do ofendido.
Trata-se de uma solução legal justa e lógica, considerando que, após atingir essa idade-
limite (65 ou 70 anos de idade), o ofendido continuará necessitando da pensão e talvez de
modo ainda mais agudo, em função da velhice e do incremento das despesas com saúde.

É possível a cumulação de danos morais e estéticos?


Claro, trata-se de tema pacificado. Nesse sentido:
Súmula 387-STJ: É possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral.
Processo Terceira Turma. REsp 1.278.627-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2012.

Responsabilidade civil (assalto em banco)

A instituição financeira não pode ser responsabilizada por assalto sofrido por sua correntista
em via pública, isto é, fora das dependências de sua agência bancária, após a retirada, na
agência, de valores em espécie, sem que tenha havido qualquer falha determinante para a
ocorrência do sinistro no sistema de segurança da instituição.
Comentários Se o cliente é assaltado no interior da agência, o banco tem o dever de indenizá-lo?
7

SIM. Trata-se de responsabilidade objetiva do banco, em razão do risco inerente à atividade


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bancária (art. 927, parágrafo único do CC e art. 14 do CDC).


Art. 927 (...) Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de

INFORMATIVO esquematizado
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

O banco poderá alegar caso fortuito ou força maior?


NÃO. Para o STJ, em se tratando de instituição financeira, os roubos às agências são eventos
totalmente previsíveis e até esperados, não se podendo admitir que o banco invoque as
excludentes de responsabilidade do caso fortuito ou força maior e culpa de terceiros (REsp
1.093.617-PE).

Se o cliente é assaltado no estacionamento do banco, a instituição também terá o dever de


indenizá-lo?
SIM. Continua havendo responsabilidade civil objetiva do banco (REsp 1.045.775/ES). Com
efeito, o estacionamento pode ser considerado como uma extensão da própria agência.

E se o cliente é assaltado na rua, após sacar dinheiro na agência, haverá responsabilidade


civil do banco?
NÃO. Não há como responsabilizar a instituição financeira na hipótese em que o assalto
tenha ocorrido fora das dependências da agência bancária, em via pública, sem que tenha
havido qualquer falha na segurança interna da agência bancária que propiciasse a atuação
dos criminosos após a efetivação do saque, tendo em vista a inexistência de vício na
prestação de serviços por parte da instituição financeira.
A mera alegação do cliente de que o autor do roubo deve tê-la observado sacar dinheiro do
banco não é suficiente para imputar responsabilidade à instituição bancária.
Além do mais, se o ilícito ocorre em via pública, é do Estado, e não do banco, o dever de
garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos.
Processo Terceira Turma. REsp 1.284.962-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2012.

Direito de família (adoção à brasileira X paternidade biológica)

É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro de nascimento


na hipótese em que isso for pleiteado pelo filho que foi registrado conforme prática conhecida
como “adoção à brasileira”.
Caracteriza violação ao princípio da dignidade da pessoa humana cercear o direito de
conhecimento da origem genética, respeitando-se, por conseguinte, a necessidade psicológica
de se conhecer a verdade biológica
Comentários O que é a chamada “adoção à brasileira”?
“Adoção à brasileira” ou “adoção à moda brasileira” ocorre quando o homem e/ou a
mulher declara, para fins de registro civil, o menor como sendo seu filho biológico sem que
isso seja verdade.
Ex: Carla tinha um namorado (Bruno), tendo ficado grávida desse relacionamento. Ao
contar a Bruno sobre a gravidez, este achou que era muito novo para ser pai e “sumiu”, não
deixando paradeiro.
Três meses depois, Carla decide se reconciliar com André, seu antigo noivo, que promete à
amada que irá se casar com ela e “assumir” o nascituro. No dia em que nasce a criança,
André vai até o registro civil de pessoas naturais e, de posse da DNV (declaração de nascido
8

vivo) fornecida pela maternidade, declara que o menor recém nascido (Vitor) é seu filho e
Página

de Carla, sendo o registro de nascimento lavrado nesses termos.

INFORMATIVO esquematizado
Por que recebe esse nome?
Essa prática é chamada pejorativamente de “adoção à brasileira” porque é como se fosse
uma “adoção” feita sem observar as exigências legais, ou seja, uma adoção feita segundo o
“jeitinho brasileiro”.
Tecnicamente, contudo, não se trata de adoção, porque não segue o procedimento legal.
Consiste, em verdade, em uma perfilhação simulada.

A “adoção à brasileira” é permitida?


NÃO. Formalmente, essa conduta é até mesmo prevista como crime pelo Código Penal:
Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido
Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar
recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.

Vale ressaltar, entretanto, que, na prática, dificilmente alguém é condenado ou recebe


pena por conta desse delito. Isso porque, no caso concreto, poderá o juiz reconhecer a
existência de erro de proibição ou, então, aplicar o perdão judicial previsto no parágrafo
único do art. 242 do CP.

É preciso, no entanto, que seja investigada a conduta porque, embora a “adoção à


brasileira”, na maioria das vezes, não represente torpeza de quem a pratica, pode ela ter
sido utilizada para a consecução de outros ilícitos, como o tráfico internacional de crianças.
Situação 1: Imagine que, depois de alguns anos, André (o pai registral) termina seu relacionamento com
Pai registral Carla. Com raiva, ele procura um advogado pretendendo que seja reconhecido judicialmente
quer anular que ele não é o pai de Vitor.
o registro
Qual a ação que deverá ser proposta pelo advogado de André?
R: ação negatória de paternidade cumulada com nulidade do registro civil.

Contra quem a ação é proposta?


R: contra Vitor (não é proposta em face da mãe de Vitor).
Se Vitor for menor, será assistido (entre 16 e 18 anos) ou representado (menor de 16 anos)
por sua mãe.
Se Vitor já for falecido, a ação será ajuizada contra seus herdeiros. Não havendo herdeiros
conhecidos (lembre-se que a sua mãe é herdeira), André deverá pedir a citação, por edital,
de eventuais interessados.

Qual é o prazo desta ação?


R: é imprescritível (art. 1.601 do CC).

Onde esta ação deverá ser proposta (de quem é a competência)?


R: no foro da comarca onde reside o réu (Vitor), mais especificamente na vara de família
(não deve ser ajuizada na vara de registros públicos).

Participação do Ministério Público: atuará como fiscal da lei (custos legis), considerando que
se trata de ação concernente ao estado da pessoa (art. 82 do CPC).
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INFORMATIVO esquematizado
Provas produzidas:
Atualmente, a principal prova produzida nestas ações é o exame pericial de DNA.

Se o exame de DNA provar que Vitor não é filho biológico de André, o juiz terá que,
obrigatoriamente, julgar procedente o pedido, declarar/desconstituir a paternidade e anular
o registro?
NÃO. Segundo já decidiu o STJ, o êxito em ação negatória de paternidade, consoante os
princípios do CC/2002 e da CF/1988, depende da demonstração, a um só tempo, de dois
requisitos:
a) Inexistência da origem biológica;
b) Não ter sido construída uma relação socioafetiva entre pai e filho registrais.

Assim, para que a ação negatória de paternidade seja julgada procedente não basta apenas
que o DNA prove que o “pai registral” não é o “pai biológico”. É necessário também que
fique provado que o “pai registral” nunca foi um “pai socioafetivo”, ou seja, que nunca foi
construída uma relação socioafetiva entre pai e filho.
(STJ Quarta Turma. REsp 1.059.214-RS, Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/2/2012).

Em se tratando de adoção à brasileira, a melhor solução consiste em só permitir que o pai-


adotante busque a nulidade do registro de nascimento quando ainda não tiver sido
constituído o vínculo de socioafetividade com o adotado (REsp 1088157/PB).

Em alguns julgados mais rigorosos, o STJ já decidiu também que o pai que questiona a
paternidade de seu filho socioafetivo (não biológico), que ele próprio registrou
conscientemente, está violando a boa-fé objetiva, mais especificamente a regra da venire
contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório) (Terceira Turma. REsp
1.244.957-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/8/2012).

Percebe-se, portanto, que a paternidade, atualmente, deve ser considerada “gênero” do


qual são espécies:
a) a paternidade biológica e
b) a paternidade socioafetiva.

A doutrina familiarista moderna é unânime em reconhecer a filiação socioafetiva. Por todos,


cite-se o pioneiro e mais genial:
“a verdadeira paternidade pode também não se explicar apenas na autoria genética da
descendência. Pai também é aquele que se revela no comportamento cotidiano, de forma
sólida e duradoura, capaz de estreitar os laços de paternidade numa relação psico-afetiva,
aquele, enfim, que além de poder lhe emprestar seu nome de família, o trata
verdadeiramente como seu filho perante o ambiente social” (FACHIN, Luiz Edson.
Estabelecimento da Filiação e Paternidade Presumida. Porto Alegre: SAFE, 1992, p. 169).
Situação 2: Imagine agora que Vitor, já maior, descubra que André não é seu pai biológico, mas sim Bruno.
Filho deseja Vitor ajuíza ação de reconhecimento de paternidade cumulada com nulidade do registro
que seja contra André e Bruno. A ação terá êxito segundo o entendimento do STJ?
reconhecido SIM. É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro de
seu pai nascimento na hipótese em que pleiteados pelo filho adotado conforme prática conhecida
biológico como “adoção à brasileira”.
O direito da pessoa ao reconhecimento de sua ancestralidade e origem genética insere-se
10

nos atributos da própria personalidade.


Caracteriza violação ao princípio da dignidade da pessoa humana cercear o direito de
Página

conhecimento da origem genética, respeitando-se, por conseguinte, a necessidade


psicológica de se conhecer a verdade biológica (REsp 833.712/RS).
INFORMATIVO esquematizado
A prática conhecida como “adoção à brasileira”, ao contrário da adoção legal, não tem a aptidão
de romper os vínculos civis entre o filho e os pais biológicos, que devem ser restabelecidos
sempre que o filho manifestar o seu desejo de desfazer o liame jurídico advindo do registro
ilegalmente levado a efeito, restaurando-se, por conseguinte, todos os consectários legais da
paternidade biológica, como os registrais, os patrimoniais e os hereditários.

A ação será julgada procedente e o registro será anulado mesmo que tenha se estabelecido
uma relação socioafetiva entre Vítor e André?
SIM. O STJ entende que, mesmo que o filho tenha sido acolhido e tenha usufruído de uma
relação socioafetiva, nada lhe retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar
conhecimento de sua real história, de ter acesso à sua verdade biológica que lhe foi
usurpada, desde o nascimento até a idade madura. Presente o dissenso, portanto,
prevalecerá o direito ao reconhecimento do vínculo biológico (REsp 833.712/RS).
Dessa forma, a filiação socioafetiva desenvolvida com o pai registral não afasta o direito do
filho de ver reconhecida a sua filiação biológica.

Prazo para esta ação: imprescritível.


Aplica-se o art. 1.606 e não o art. 1.614 do CC.
“a regra que impõe o prazo de quatro anos para impugnar o reconhecimento da
paternidade constante do registro civil só é aplicável ao filho natural que pretende afastar a
paternidade por mero ato de vontade, com o objetivo único de desconstituir o
reconhecimento da filiação, sem contudo buscar constituir nova relação” (STJ. REsp
987.987/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 21/8/2008)

Comparação Vamos comparar as duas situações:

PAI registral ajuíza ação negatória de FILHO ajuíza ação de investigação de


paternidade e de nulidade do registro paternidade e de nulidade do registro
Para que seja julgada procedente é A ação poderá ser julgada procedente
necessário que não tenha sido construída mesmo que tenha sido construída uma
uma relação socioafetiva entre ele e o filho. relação socioafetiva entre ele e o pai
registral.
Fundamento: princípios do melhor interesse Fundamento: dignidade da pessoa humana e
do menor e da boa-fé objetiva (vedação ao reconhecimento da ancestralidade biológica
venire contra factum proprium). como direito da personalidade.
Processo Quarta Turma. REsp 1.167.993-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.

Ação de investigação de paternidade e coisa julgada material

É possível o ajuizamento de nova ação de investigação de paternidade caso a primeira


tenha sido julgada improcedente sem a realização de exame de DNA?
Regra geral: SIM Exceção:
É possível a flexibilização da coisa julgada Não se admite o ajuizamento de nova
material nas ações de investigação de ação para comprovar a paternidade
paternidade, na situação em que o pedido foi mediante a utilização de exame de DNA
julgado improcedente por falta de prova. em caso no qual o pedido anterior foi
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julgado improcedente com base em prova


pericial produzida de acordo com a
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tecnologia então disponível.

INFORMATIVO esquematizado
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Em 1995, Daniel ajuizou uma ação de investigação de paternidade contra Honofre, seu
suposto pai, tendo esta sido julgada improcedente.
Vale ressaltar que, na época, não foi realizado exame de DNA, que ainda era raro no Brasil.
A sentença transitou em julgado.

Daniel poderá ajuizar nova ação de investigação de paternidade contra Honofre pedindo
agora a realização do exame de DNA?

É possível flexibilizar a coisa julgada material formada em investigação de paternidade


julgada improcedente e na qual não foi feito exame de DNA?
SIM, é possível a flexibilização da coisa julgada material nas ações de investigação de
paternidade, na situação em que o pedido foi julgado improcedente por falta de prova.

Esse é o entendimento do Plenário do STF:


(...) Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de
paternidade em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético
a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de DNA, meio de prova que
pode fornecer segurança quase absoluta quanto à existência de tal vínculo. (...)
(STF RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 02/06/2011)

Cuidado: o STJ, até bem pouco tempo, vinha adotando entendimento diverso sob o
argumento de que haveria violação à segurança jurídica (nesse sentido: AgRg no REsp
1257855/RS, AgRg no REsp 1236166/RS). No entanto, como a decisão do STF foi tomada
pelo Plenário, o STJ vem, aos poucos, também decidindo que é possível a relativização da
coisa julgada nesses casos (AgRg no REsp 929.773-RS).

Exceção:
Não será cabível a nova propositura de ação de investigação de paternidade, caso a
primeira tenha sido julgada improcedente pelo fato de ter sido comprovado, segundo as
técnicas científicas existentes à época, que o autor não pode ser filho do réu (ex: o exame
de sangue atestou que o grupo sanguíneo do suposto pai é incompatível com o do autor):
“Não se admite o ajuizamento de nova ação para comprovar a paternidade mediante a
utilização de exame de DNA, em caso no qual o pedido anterior foi julgado improcedente
com base em prova pericial produzida de acordo com a tecnologia então disponível, a qual
excluiu expressamente o pretendido vínculo genético, em face da impossibilidade de duas
pessoas do tipo sanguíneo "O” gerarem um filho do grupo A. Hipótese distinta da julgada
pelo STF no RE 363.889.” (STJ AgRg no REsp 929773/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
Quarta Turma, julgado em 06/12/2012).
Resumo
É possível o ajuizamento de nova ação de investigação de paternidade caso a primeira
tenha sido julgada improcedente sem a realização de exame de DNA?
Regra geral: SIM Exceção:
É possível a flexibilização da coisa julgada Não se admite o ajuizamento de nova ação
material nas ações de investigação de para comprovar a paternidade mediante a
paternidade, na situação em que o pedido utilização de exame de DNA, em caso no
foi julgado improcedente por falta de prova. qual o pedido anterior foi julgado
improcedente com base em prova pericial
produzida de acordo com a tecnologia
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então disponível.
Processos Quarta Turma. AgRg no REsp 929.773-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 6/12/2012.
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REsp 1.223.610-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 6/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO NOTARIAL/REGISTRAL

Nome da pessoa natural


É possível a alteração no registro de nascimento para dele constar o nome de solteira da genitora,
excluindo o patronímico do ex-padrasto. Vide julgado indexado em Direito Civil.

Responsabilidade pela baixa do registro após o pagamento

Depois do título ter sido protestado, caso o devedor efetue a quitação da dívida, a
responsabilidade por promover o cancelamento do protesto não é do credor, mas sim do
devedor ou de qualquer outro interessado, bastando que faça a prova do pagamento junto ao
tabelionato de protesto.
Comentários O que é um protesto de título?
Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade
de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito
ou de outros documentos de dívida.

Regulamentação: o protesto é regulado pela Lei n. 9.492/97.

Procedimento até ser registrado o protesto do título:


1) O credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que
haja o protesto e informando os dados e endereço do devedor;

2) O tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;

3) Se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto


devedor no endereço apresentado pelo credor (art. 14);

4) A intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou


providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado;

Após a intimação, poderão ocorrer quatro situações:


4.1) o devedor pagar (art. 19);
4.2) o apresentante desistir do protesto e retirar o título (art. 16);
4.3) o protesto ser sustado judicialmente (art. 17);
4.4) o devedor ficar inerte ou não conseguir sustar o protesto.

5) Se ocorrer as situações 4.1, 4.2 ou 4.3: o título não será protestado;

6) Se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o protesto).

Imaginemos que o devedor foi intimado (etapa 4), mas não pagou nem conseguiu sustar o
protesto. O que aconteceu então?
O título foi protestado.
13
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Após um tempo, esse devedor quis comprar um carro financiado, no entanto, não conseguiu
porque o banco constatou a existência desse título protestado e, por essa razão, não liberou

INFORMATIVO esquematizado
o crédito. O devedor decidiu, então, pagar o título protestado. Com o pagamento do débito,
será possível retirar a anotação desse título protestado?
SIM.

Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade de
retirar o protesto lavrado?
NÃO.

A 4ª Turma do STJ entendeu que, no caso de protesto regularmente lavrado, não é do


credor a responsabilidade pela baixa do registro após a quitação da dívida.

Segundo o STJ, a Lei n. 9.492/97 não impõe esse dever ao credor. Veja:
Art. 26. O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato
de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento
protestado, cuja cópia ficará arquivada.

Desse modo, nos termos do art. 26 da Lei n. 9.492/1997, o cancelamento do registro de


protesto pode ser solicitado pelo devedor ou qualquer interessado, bastando que apresente
no tabelionato o título protestado ou a carta de anuência do credor, a fim de provar que
houve a quitação.

Já havia precedentes do STJ nesse mesmo sentido:


Protestado o título pelo credor, em exercício regular de direito, incumbe ao devedor,
principal interessado, promover o cancelamento do protesto após a quitação da dívida.
(REsp 842092/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado em 27/03/2007)

Esse entendimento vale mesmo que se trate de uma relação de consumo, ou seja, que o
devedor seja um consumidor e o credor um fornecedor.
Atenção A posição acima explicada vale para os casos de cancelamento de título protestado.
No caso de devedor inserido em cadastro de inadimplentes (ex: SERASA, SPC), a solução é
diferente. Veja:

CADASTRO DE INADIMPLENTES REGISTRO DE PROTESTO


Se a dívida é paga, quem tem o dever de Se o título é pago, quem tem o dever de
retirar o nome do devedor do cadastro retirar o protesto que foi lavrado?
negativo (exs: SPC ou SERASA)?
O CREDOR (no prazo máximo de 5 dias) O próprio DEVEDOR
Fundamento: art. 43, § 3º do CDC Fundamento: art. 26 da Lei n. 9.492/1997
(aplicável por analogia).

Para maiores informações sobre inclusão de consumidores em cadastro de inadimplentes,


veja o INFO Esquematizado 501 do STJ.
Processo Quarta Turma. REsp 959.114-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO DO CONSUMIDOR
Vide julgado sobre Responsabilidade Civil dos bancos indexado em Direito Civil.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos

Será cabível agravo regimental, a ser processado no Tribunal de origem, destinado a


impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial
com fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.
O recurso cabível contra essa decisão não é o agravo de instrumento.
Comentários Observou-se que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos
temas jurídicos. Em outras palavras, identificou-se que existiam inúmeros recursos
“repetitivos” endereçados aos Tribunais Superiores.
Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei n. 11.672/2008 acrescentou
os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos
recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento
em idêntica controvérsia ou questão de direito.
Vamos estudar, agora, o julgamento por amostragem no caso dos recursos especiais
repetitivos, o que é previsto no art. 543-C do CPC:
Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.

Procedimento (art. 543-C do CPC e Resolução n. 08/2008-STJ):

1) O Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar


todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações
contra a Fazenda Pública é de 3 ou 5 anos.

2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais recursos que


representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ.
Serão selecionados os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de
argumentos no recurso especial.

Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos
como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se
pronuncie sobre o tema central.

3) Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem não perceber que haja essa
multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e não tomar essas providências
explicadas acima. Nesse caso, o Ministro Relator do REsp, no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais
a controvérsia esteja estabelecida.
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4) Antes de decidir o Resp submetido ao regime de recurso repetitivo, o Ministro Relator


poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15 dias, aos tribunais federais
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ou estaduais a respeito da controvérsia.

INFORMATIVO esquematizado
5) Se o matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas,
órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae.

6) Após as informações prestadas pelos Tribunais e pelos amici curiae (plural de amicus
curiae), o Ministério Público será ouvido no prazo de 15 dias.

7) Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial do STJ, devendo
ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e
os pedidos de habeas corpus.

8) Após todas essas providências, o STJ irá julgar o recurso especial que foi submetido ao
regime de recurso repetitivo. Essa decisão irá afetar os recursos que ficaram suspensos nos
TJ’s ou TRF’s. Veja o que diz o § 7º do art. 543-C:
§ 7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados
na origem:
I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou
II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão
recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

Explicando melhor esse § 7º:


Inciso I: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que não foi aceita
pelo STJ, este recurso terá seu seguimento negado e, portanto, nem será enviado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 5 anos. A
Fazenda interpôs recurso especial alegando que esse prazo era de 3 anos. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, este recurso da Fazenda, que estava sobrestado, terá seu seguimento
negado e nem será mais apreciado pelo STJ.

Inciso II: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que foi acolhida
pelo STJ, o acórdão que estava sendo impugnado será novamente analisado pelo Tribunal de
origem que poderá modificar sua decisão para adequá-la ao entendimento firmado pelo STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 3 anos. O
particular interpôs recurso especial alegando que esse prazo era quinquenal. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, o TJ terá a oportunidade de analisar novamente esta questão e poderá
modificar sua decisão com base na orientação firmada pelo STJ. Em outras palavras, o TJ
poderá voltar atrás e decidir que o prazo prescricional é de 5 anos realmente. Vale ressaltar,
no entanto, que nesse reexame, o Tribunal poderá manter sua decisão, considerando que o
posicionamento adotado pelo STJ não é vinculante.

9) Se o tribunal de origem mantiver a decisão divergente, irá ser realizado o exame de


admissibilidade do recurso especial para que seja encaminhado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu manter seu entendimento de que o prazo prescricional é de 3 anos,
mesmo o STJ tendo afirmado que era quinquenal. Logo, o recurso especial interposto pelo
particular será examinado e, se preencher os pressupostos de admissibilidade, será
encaminhado ao STJ para análise do mérito.
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10) Voltando à hipótese do inciso I do § 7º do art. 543-C. Pode acontecer de o Presidente do


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tribunal de origem negar seguimento a um recurso especial aplicando o entendimento do

INFORMATIVO esquematizado
STJ e a parte recorrente não concordar com isso sob o argumento de que o caso que envolve
o seu processo é diferente do que foi examinado pelo STJ. Em outros termos, a parte afirma
que há um distinguishing.

A pergunta que surge é a seguinte:


Será possível que esta parte interponha algum recurso contra a decisão do Presidente do
tribunal de origem que negou seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º
do art. 543-C do CPC?
SIM. Será cabível agravo regimental, a ser processado no Tribunal de origem, destinado a
impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial com fundamento
no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.
Segundo entende o STJ, dessa decisão denegatória pode a parte interpor agravo regimental,
que será processado e julgado no Tribunal a quo.

Vale ressaltar que um erro muito comum tanto dos candidatos em concurso público como
dos profissionais na prática forense, é imaginar que seria possível o ajuizamento de agravo
de instrumento contra essa decisão. Na verdade, é firme o entendimento do STJ de que
“não cabe agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a recurso especial
com base no art. 543, § 7º, inciso I, do CPC” (QO no Ag 1154599/SP, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, Corte Especial, DJe 12/05/2011).
Para o STJ a mencionada decisão somente pode ser atacada por agravo regimental a ser
processado e julgado no tribunal de origem.
Processo Segunda Turma. REsp 1.346.362-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado 4/12/2012.

Embargos de divergência

Nos embargos de divergência, apenas as decisões proferidas em RECURSO ESPECIAL são


admitidas para comprovar os dissídios jurisprudenciais entre as Turmas do STJ, entre as
Turmas e a Seção ou entre as Turmas e a Corte Especial.
Logo, são inadmissíveis embargos de divergência na hipótese em que o julgado paradigma
invocado tenha sido proferido em sede de recurso ordinário em mandado de segurança.
Comentários Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 496, VIII e 546 do CPC, bem
como nos regimentos internos do STF e do STJ.

Este recurso possui dois objetivos:


1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões
conflitantes.

Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:


turma do STJ em julgamento de Recurso especial;
turma do STF em julgamento de Recurso extraordinário.

A decisão da turma do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma, da seção ou do órgão especial do STJ.
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A decisão da turma do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma ou do plenário do STF.
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INFORMATIVO esquematizado
Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal, provando que o acórdão recorrido
foi divergente do acórdão paradigma.

Neste julgado, a 1ª Seção do STJ reafirmou que, nos embargos de divergência, apenas as
decisões proferidas em recurso especial são admitidas para comprovar os dissídios
jurisprudenciais entre as Turmas deste Tribunal, entre estas e a Seção ou Corte Especial (art.
546, I, do CPC e art. 266 do RISTJ).

No caso concreto julgado, a parte queria opor embargos de divergência utilizando como
paradigma uma decisão proferida em recurso ordinário, razão pela qual não foi admitido
pelo STJ.
Processo Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.182.126-PE, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 17/12/2012.

Execução (penhora)

Não é possível equiparar, para os fins do art. 655, I, do CPC, as “cotas de fundos de
investimento” a “dinheiro em aplicação financeira” quando do oferecimento de bens à
penhora.
Comentários O Código de Processo Civil prevê a ordem de penhora nos seguintes termos:
Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;

Desse modo, a primeira opção de penhora segundo o CPC é dinheiro.


O dinheiro penhorado poderá ser em espécie. Ex: o juiz determina a penhora na “boca” da
bilheteria do estádio de futebol.
O dinheiro penhorado poderá estar depositado. Ex: penhora on line de valores presentes
em conta-corrente.
O dinheiro penhorado poderá estar em aplicação em instituição financeira. Ex: penhora de
valores que estão aplicados em CDB.

É possível que o devedor ofereça para penhora as suas “cotas de fundos de investimento”,
com base nesse inciso, alegando que se trata de dinheiro em aplicação financeira?
NÃO. Para o STJ, não é possível equiparar, para os fins do art. 655, I, do CPC, as “cotas de
fundos de investimento” a “dinheiro em aplicação financeira” quando do oferecimento de
bens à penhora.
Embora os fundos de investimento sejam uma espécie de aplicação financeira, eles não se
confundem com a expressão “dinheiro em aplicação financeira”.
Ao se proceder à penhora de dinheiro em aplicação financeira, a constrição processual
atinge numerário certo e líquido que fica bloqueado ou depositado à disposição do juízo da
execução fiscal. Por sua vez, o valor financeiro referente a cotas de fundo de investimento
não é certo e pode não ser líquido, a depender de fatos futuros imprevisíveis para as partes
e juízos.
Dessa forma, quando do oferecimento de bens à penhora, deve-se respeitar a ordem de
preferência prevista na legislação.
Processo Primeira Turma. REsp 1.346.362-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado 4/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
Bens impenhoráveis

Segundo o art. 649, IX, do CPC, são absolutamente impenhoráveis os recursos públicos
recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou
assistência social.
Assim, se ficar provado que os recursos recebidos por um hospital privado são oriundos dos
serviços por ele prestados ao SUS, tais valores são impenhoráveis.
Comentários O art. 649 do CPC estabelece um rol de bens que não podem ser penhorados.
Dentre eles, veja o que diz o inciso IX:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em
educação, saúde ou assistência social;

Exemplo:
O hospital privado “X” presta serviços ao SUS atendendo pessoas carentes e recebe,
mensalmente, determinada verba a título de contraprestação.

O STJ entendeu que esses valores não podem ser penhorados para pagar dívidas do
hospital. Isso por conta do art. 649, IX do CPC.

O STJ confere uma interpretação ampliativa ao dispositivo legal e afirma que, não importa
que o recebimento dos recursos públicos pelas entidades privadas tenham sido antes ou
depois dos serviços de saúde prestados pela instituição.

Logo, o fato do hospital já ter prestado os serviços de saúde e, após isso, receber os valores
correspondentes do SUS, não afasta a impenhorabilidade dessa verba. Isso porque a
transferência desses recursos só ocorre porque os serviços de saúde foram prestados pela
instituição, de forma que há uma efetiva aplicação dos recursos públicos na saúde,
conforme exige o art. 649, IX, do CPC.

A doutrina aponta no mesmo sentido:


“Em termos práticos, o art. 649, IX, protege o dinheiro recebido (...) por hospitais, seja a
fundo perdido (p. ex. para adquirir equipamentos), seja em contraprestação aos serviços
prestados no âmbito do SUS (Serviço Único de Saúde).” (Manual da Execução. 11ª ed., São
Paulo: RT, 2007, p. 224).
Processo Terceira Turma. REsp 1.324.276-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

Processo coletivo e legitimidade dos sindicatos

O sindicato tem legitimidade para ajuizar protesto interruptivo do prazo prescricional da ação
executiva de sentença proferida em ação coletiva na qual foram reconhecidos direitos da
respectiva categoria.
Comentários Os sindicatos podem propor ações coletivas em favor da categoria que representam?
SIM. A CF/88 autoriza que os sindicatos façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos
e interesses individuais e coletivos da categoria que representam. Veja:
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
19

inclusive em questões judiciais ou administrativas;


Página

Segundo a jurisprudência consolidada no STJ, o sindicato tem legitimidade para defender

INFORMATIVO esquematizado
em juízo os direitos da categoria mediante substituição processual, seja em ação ordinária,
seja em demandas coletivas (AgRg nos EREsp 488.911/RS).

O sindicato pode defender direitos difusos e individuais homogêneos da categoria?


SIM. A doutrina afirma que, quando o inciso III do art. 8º da CF/88 fala em “direitos e
interesses coletivos”, está utilizando a palavra “coletivo” em sentido amplo, de forma que
os sindicatos podem defender direitos difusos, coletivos (stricto sensu) e individuais
homogêneos da categoria.

O sindicato, ao propor uma ação coletiva defenderá o direito apenas dos filiados ou poderá
atuar em favor de toda a categoria (independente de pertencerem ou não ao sindicato)?
O sindicato tem legitimidade para defender judicialmente o interesse coletivo de toda a
categoria, e não apenas de seus filiados. Essa, inclusive, é a redação do inciso III do art. 8º da
CF/88 que menciona a palavra “categoria” (e não apenas “filiados”).

Atenção: a opinião acima é a majoritária. No entanto, a Fazenda Pública defende,


normalmente, tese em sentido contrário, pugnando que seja aplicado às ações coletivas
propostas por sindicatos o disposto no art. 2º-A da Lei n. 9.494/97:
Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator.
(Artigo incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 24.8.2001)

O STJ possui julgados determinando a aplicação do referido art. 2º-A aos sindicatos sob o
argumento de que a Lei, ao falar em “entidade associativa”, engloba toda e qualquer
corporação legitimada à propositura de ações judiciais, sem restringir-se às associações (STJ
AgRg no REsp 1279061/MT; AgRg no REsp 1.338.029-PR).

Ao mesmo tempo, o STJ afirma que os sindicatos defendem o interesse de toda a categoria
e não apenas dos filiados (AgRg no REsp 1303343/PE).

Há, portanto, uma contradição aparente entre os julgados do STJ. Sei que é um tema difícil
e para o qual ainda não há uma resposta definitiva.

Para fins de concurso, fiquem com a informação que me parece ser a mais segura e acertada:
(...) A jurisprudência do STJ está pacificada no sentido de que a coisa julgada formada em
ação coletiva ajuizada por sindicato não se restringe somente àqueles que são a ele filiados,
já que a entidade representa toda a sua categoria profissional. (...)
(AgRg no REsp 1303343/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
24/04/2012, DJe 02/05/2012)

O sindicato precisa da autorização dos membros da categoria (trabalhadores) para propor a


ação na defesa de seus interesses supraindividuais? O sindicato precisa apresentar a relação
nominal dos substituídos juntamente com a petição inicial da ação proposta?
NÃO. As associações e sindicatos, na qualidade de substitutos processuais, têm legitimidade
para a defesa dos interesses coletivos de toda a categoria que representam, sendo
dispensável a relação nominal dos afiliados e suas respectivas autorizações.
20

Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe


em favor dos associados independe da autorização destes.
Página

Por que os sindicatos não precisam da autorização dos membros?

INFORMATIVO esquematizado
Porque o sindicato, quando atua na defesa dos direitos supraindividuais da categoria, age
como substituto processual (legitimado extraordinário) e não como representante processual.
O substituto processual não precisa da autorização dos substituídos porque esta foi dada
pela lei (no caso do sindicato, esta autorização foi dada pela CF/88, art. 8º, III).

É a posição pacífica do STJ:


O sindicato, como substituto processual, tem legitimidade para defender judicialmente
interesses coletivos de toda a categoria, e não apenas de seus filiados, sendo dispensável a
juntada da relação nominal dos filiados e de autorização expressa.
(AgRg no REsp 1195607/RJ, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 10/04/2012)

A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que as entidades sindicais poderão atuar


como substitutas processuais da categoria que representam, sendo desnecessária a
autorização expressa do titular do direito subjetivo, bem como a apresentação de relação
nominal dos associados e a indicação de seus respectivos endereços.
A Lei 9.494/1997, ao fixar requisitos ao ajuizamento de demandas coletivas, não poderia se
sobrepor à norma estabelecida nos arts. 5º, LXX, e 8º, III, da Constituição Federal.
(AgRg no AREsp 108.779/MG, Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 17/04/2012)

Legitimidade extraordinária (substituição processual):


Ocorre quando alguém, em nome próprio, pleiteia em juízo interesse alheio (de outrem).
Confere-se legitimidade a alguém para discutir em juízo direito que não é dele.
A legitimidade extraordinária somente é admitida de forma excepcional no CPC.
A legitimação extraordinária somente pode ser estabelecida por meio de lei (art. 6º do CPC)
ou, em alguns casos, como uma decorrência lógica do sistema.
Ao contrário do CPC, na tutela coletiva, a legitimidade extraordinária é a regra geral.
Para a maioria da doutrina, substituição processual é sinônimo de legitimidade
extraordinária (nesse sentido: Dinamarco).

A legitimidade para que o sindicato atue em favor da categoria abrange apenas a fase
(“processo”) de conhecimento ou também a fase (“processo”) de execução?
Essa legitimidade abrange, também, as fases de liquidação e execução de título judicial.
Logo, o sindicato pode ajuizar a execução em favor da categoria.
Assim como o sindicato pode ajuizar a execução, ele também pode fazer o protesto
interruptivo do prazo prescricional da ação executiva. Em outras palavras, o STJ decidiu que
o sindicato, antes de ingressar com a execução, pode fazer o protesto do réu para que
cumpra a decisão, o que interrompe o prazo prescricional.
Processo Primeira Turma. AgRg no Ag 1.399.632-PR, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 4/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95)

Dentre as “outras condições” previstas no § 2º do art. 89, da Lei 9.099/95, o juiz poderá determinar
que o acusado cumpra PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA ou PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE?
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1ª corrente: SIM (5ª Turma do STJ e 1ª Turma do STF)


2ª corrente: NÃO (6ª Turma do STJ)
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Conceito Suspensão condicional do processo é:


- um instituto despenalizador

INFORMATIVO esquematizado
- oferecido pelo MP ou querelante ao acusado
- que tenha sido denunciado por crime cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano
- e que não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime,
- desde que presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da
pena (art. 77 do Código Penal)

Caso o acusado aceite a proposta, o processo ficará suspenso, pelo prazo de 2 a 4 anos
(período de prova), desde que ele aceite cumprir determinadas condições.
Período de prova é, portanto, o prazo no qual o processo ficará suspenso, devendo o
acusado cumprir as condições impostas neste lapso temporal. O período de prova é
estabelecido na proposta de suspensão e varia de 2 até 4 anos.

Obs: a proposta de suspensão somente é válida se aceita pelo acusado e seu defensor, na
presença do Juiz, desde que este entenda ser o caso de receber a denúncia.
Previsão A suspensão condicional do processo está prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95. No
entanto, vale ressaltar que não se aplica apenas aos processos do juizado especial
(infrações de menor potencial ofensivo), mas sim em todos aqueles cuja pena mínima seja
igual ou inferior a 1 ano, podendo, portanto, a pena máxima ser superior a 2 anos.
Condições Condições legais a que o acusado deverá se submeter:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar
suas atividades.

O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
Outras O § 2º do art. 89 da Lei n. 9.099/95 estabelece:
condições § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde
que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

Dentre estas “outras condições” previstas no § 2º do art. 89,


o juiz poderá determinar que o acusado cumpra PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA ou
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE?
1ª corrente: 2ª corrente:
SIM NÃO
(5ª Turma do STJ; 1ª Turma do STF; Mirabete) (6ª Turma do STJ; Pacelli)

Esta Corte já firmou o entendimento de ser Interpretando a Lei n. 9.099/1995, a Sexta


possível a imposição de prestação de Turma adotou o entendimento de que é
serviços à comunidade, ou prestação inadmissível a fixação de prestação de
pecuniária, como condição de suspensão serviços à comunidade ou de prestação
condicional do processo, desde que se pecuniária, que têm caráter de sanção
mostrem pertinentes ao caso concreto, penal, como condição para a suspensão
devendo-se observar os princípios da condicional do processo.
adequação e da proporcionalidade. (AgRg no HC 232.793/BA, Rel. Ministro
(HC 152.206/RS, Rel. Min. Adilson Vieira SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
Macabu (Des. Conv. do TJ/RJ), Quinta julgado em 18/12/2012, DJe 01/02/2013)
22

Turma, julgado em 25/10/2011).


Na doutrina, é a posição de Pacelli.
Página

Na doutrina, é o entendimento sustentado


no livro de Mirabete.

INFORMATIVO esquematizado
No julgado noticiado neste Informativo, a 5ª Turma do STJ reafirmou sua posição, que deve
ser considerada majoritária, no sentido de que “É cabível a imposição de prestação de
serviços à comunidade ou de prestação pecuniária como condição especial para a
concessão do benefício da suspensão condicional do processo, desde que observados os
princípios da adequação e da proporcionalidade.”
Processo Quinta Turma. RHC 31.283-ES, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2012.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Crédito tributário (pagamento indevido e repetição de indébito)


É cabível a repetição do indébito tributário no caso de pagamento de contribuição para custeio
de saúde considerada inconstitucional em controle concentrado, independentemente de os
contribuintes terem usufruído do serviço de saúde prestado pelo Estado.
Se o tributo pago era indevido, o contribuinte tem direito à restituição dos valores pagos
(repetição do indébito) sem qualquer empecilho ou outras considerações.
Comentários Ação de repetição de indébito (ou ação de restituição de indébito) é a ação na qual o
requerente pleiteia a devolução de determinada quantia paga indevidamente.
A ação de repetição de indébito, ao contrário do que muitos pensam, não é restrita ao
direito tributário. Assim, por exemplo, se um consumidor é cobrado pelo fornecedor e paga
um valor que não era devido, poderá ingressar com ação de repetição de indébito para
pleitear valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros legais, salvo hipótese de engano justificável (art. 42, parágrafo único do CDC).
No âmbito tributário, o direito à repetição de indébito está previsto no art. 165 do CTN.
Dessa feita, o contribuinte que pagar tributo indevido terá direito à repetição de indébito,
ou seja, poderá ajuizar ação cobrando a devolução do tributo pago indevidamente.
O mencionado art. 165 afirma que o sujeito passivo tem direito à restituição,
independentemente de prévio protesto (isto é, mesmo que na hora de pagar não tenha
“reclamado” do tributo indevido ou tenha feito qualquer ressalva).

Feitas estas considerações preliminares, vamos ao caso julgado pelo STJ:


Determinada Lei de Minas Gerais instituiu uma contribuição para o custeio da assistência à
saúde no Estado a ser pago pelos servidores estaduais.
Esta contribuição foi julgada inconstitucional pelo STF (ADI 3106).
Com a declaração de inconstitucionalidade, os servidores que haviam tido seus
vencimentos descontados durante vários meses ingressaram com ações de repetição de
indébito, afirmando que se tratava de uma contribuição social inconstitucional. Como a
contribuição era inconstitucional, os valores pagos pelos servidores eram indevidos e,
portanto, teriam direito à restituição.
O Estado de Minas Gerais alegou, em defesa, que os servidores somente teriam direito à
repetição de indébito caso provassem que não utilizaram os serviços de saúde oferecidos.
O STJ concordou com essa tese?
NÃO. A 2ª Turma do STJ afirmou que é cabível a repetição do indébito tributário no caso de
pagamento de contribuição para custeio de saúde considerada inconstitucional em controle
23

concentrado, independentemente de os contribuintes terem usufruído do serviço de saúde


prestado pelo Estado.
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A declaração de inconstitucionalidade de lei que instituiu contribuição previdenciária é


suficiente para justificar a repetição dos valores indevidamente recolhidos.
INFORMATIVO esquematizado
Além do mais, o fato de os contribuintes terem usufruído do serviço de saúde prestado pelo
Estado não retira a natureza indevida da exação cobrada.
O único pressuposto para a repetição do indébito é a cobrança indevida de tributo,
conforme dispõe o art. 165 do CTN.
O art. 165 do CTN traz regra clara: se o tributo pago era indevido, o contribuinte tem direito
à restituição sem qualquer empecilho ou outras considerações.
Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 242.466-MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 27/11/2012.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Pensão previdenciária de ex-combatente

Não é possível a cumulação de pensão previdenciária de ex-combatente com a pensão especial


prevista no art. 53 da ADCT, se possuírem o mesmo fato gerador.
Comentários A jurisprudência do STJ assegura a possibilidade de cumulação dos benefícios
previdenciários com a pensão especial de ex-combatente, desde que não possuam o
mesmo fato gerador.
Caso a pensão especial e o benefício previdenciário tenham o mesmo fato gerador, qual
seja, a condição de ex-combatente do de cujos, restará impossibilitada a cumulação,
conforme preceitua o art. 53, II, do ADCT.
Assim, por exemplo, a pensão especial, prevista no art. 53 do ADCT, não pode ser cumulada
com a pensão de ex-combatente, já concedida à filha de militar.
Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.314.687-PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/11/2012.

Pensão previdenciária de ex-combatente – 2

O absolutamente incapaz tem direito ao benefício de pensão por morte desde o óbito do
segurado, uma vez que não se sujeita aos prazos prescricionais.
Comentários As pessoas que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra
Mundial, assim como seus dependentes, possuem direito a uma pensão especial prevista no
art. 53, II e III, do ADCT da CF/88 e na Lei n. 8.059/90.
A pensão especial é devida ao ex-combatente e, somente em caso de sua morte, será
revertida aos dependentes (art. 6º da Lei).
No caso concreto, o autor, na condição de filho inválido de ex-combatente falecido em
05.11.2001, ajuizou ação ordinária para obter o reconhecimento do direito à pensão
especial titulada pelo seu genitor.
A Fazenda Pública alegou a prescrição.
Ocorre que a pensão de ex-combatente, nos termos do art. 53, II, do ADCT, pode ser
requerida a qualquer tempo. Além disso, o autor encontrava-se interditado em razão de sua
incapacidade mental. Logo, sendo pessoa absolutamente incapaz, contra ele não corre a
prescrição, nos termos do art. 198, I, do CC:
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
24

para a prática desses atos;


Página

Processo Sexta Turma. REsp 1.141.465-SC, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE),
julgado em 11/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 3 anos segundo
entendimento pacificado do STJ. ( )
2) (PGM/Maceió 2012) O prazo prescricional referente à pretensão de reparação civil contra a Fazenda
Pública é quinquenal. ( )
3) (Juiz Federal TRF1 2011) Segundo o STJ, as ações por responsabilidade civil do Estado não se submetem
ao prazo prescricional de cinco anos. ( )
4) É possível a alteração no registro de nascimento para dele constar o nome de solteira da genitora,
excluindo o patronímico do ex-padrasto. ( )
5) Doação inoficiosa é a que invade a legítima dos herdeiros necessários, sendo vedada pelo ordenamento
jurídico. ( )
6) O excesso na doação (invasão da legítima) é apurado levando-se em conta o valor do patrimônio do
doador ao tempo da doação, e não o patrimônio estimado no momento da abertura da sucessão do
doador. ( )
7) O ato praticado em estado de necessidade é um ilícito civil. ( )
8) O ato praticado em estado de necessidade, por não ser um ilícito civil, não gera o dever de indenizar a
vítima mesmo quando esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo. ( )
9) Se o cliente é assaltado no interior da agência, o banco tem o dever de indenizá-lo. ( )
10) Se o cliente é assaltado no estacionamento do banco, a instituição terá o dever de indenizá-lo. ( )
11) Se o cliente é assaltado na rua, após sacar dinheiro na agência, a instituição terá o dever de indenizá-lo.
( )
12) Se a dívida é paga, quem tem o dever de retirar o nome do devedor do cadastro negativo é o credor. ( )
13) Depois do título ter sido protestado, caso o devedor efetue a quitação da dívida, a responsabilidade por
promover o cancelamento do protesto é do credor. ( )
14) Será cabível agravo de instrumento para impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso
especial com fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC. ( )

Questões discursivas
1) Discorra sobre a adoção à brasileira e sua relação com a paternidade socioafetiva.
2) É possível o ajuizamento de nova ação de investigação de paternidade caso a primeira tenha sido julgada
improcedente sem a realização de exame de DNA?

Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. C 5. C 6. C 7. E 8. E 9. C 10. C 11. E 12. C 13. E 14. E
25
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 513 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.239.203-PR; AREsp 199.089-PE; AgRg no REsp
1.229.579-MG.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Termo inicial do mandado de segurança no caso de supressão de verbas

O ato que SUPRIME ou REDUZ vantagem de servidor é ato único ou prestação de trato sucessivo?
Para o STJ, é preciso fazer a seguinte distinção:
• Supressão: ato ÚNICO (prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado tomou
ciência do ato).
• Redução: prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo para o MS renova-se mês a mês).
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Determinado servidor recebia há anos a gratificação “X”.
A Administração Pública entendeu que esta gratificação era indevida e deixou de pagá-la a
partir do mês de janeiro de 2010.
Desse modo, em janeiro, o servidor não mais recebeu a gratificação. Nos meses que se
seguiram, ele continuou sem a verba em seu contracheque.
Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança contra o
administrador público, alegando que a retirada da gratificação foi um ato ilegal e
requerendo a sua reinclusão.
A Procuradoria do Estado ingressou no feito, apresentando contestação (art. 7º, I, da Lei n.
12.016/2009) e alegando, como preliminar, que houve decadência do MS porque este foi
proposto mais de 120 dias após a cessação do pagamento da verba (o que ocorreu em
janeiro de 2010).
O autor do MS já havia alegado, em sua petição inicial, que não havia decadência porque,
no caso, haveria uma prestação de trato sucessivo, de forma que o ato coator se renovaria
todos os meses. Em outras palavras, para o autor, a cada mês que a Administração deixou
de pagar a verba, reiniciou-se o prazo para impetrar mandado de segurança.

Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência do STJ, a do autor ou da Fazenda Pública?
1

R: A tese da Fazenda Pública. Assim, houve realmente decadência no caso exposto acima.
Página

Vamos explicar melhor a questão.

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PRAZO PARA IMPETRAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA
A Lei n. 12.016/2009 prevê um prazo para o ajuizamento do MS:
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e
vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Prazo do MS: 120 dias.


Natureza deste prazo:
A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial, apesar de alguns autores
defenderem que se cuida de prazo sui generis (Leonardo da Cunha).
Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.
Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo
para o mandado de segurança.

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que, se o marco final do prazo do MS terminar em
sábado, domingo ou feriado, ele deverá ser prorrogado para o primeiro dia útil seguinte:
(...) 4. O termo inicial para a impetração é a data da ciência do ato, mas a contagem só tem
início no primeiro dia útil seguinte e, caso o termo final recaia em feriado forense ou dia não
útil (sábado ou domingo), prorroga-se automaticamente o término do prazo para o primeiro
dia útil que se seguir. A observância do prazo inicial e final para o exercício do direito à ação
de mandado de segurança não deve se afastar do que dispõe o artigo 184 do CPC (...)
(MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 08/09/2010).

A previsão de um prazo para o MS é constitucional?


SIM. Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração
de mandado de segurança.

Termo inicial do prazo:


O prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o prejudicado toma ciência do ato
coator praticado.
(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a partir da
expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas sim do momento
em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a jurisprudência do STJ de
que o prazo decadencial no mandado de segurança tem início na data em que o interessado
teve ciência inequívoca do ato atacado. (...)
REsp 1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2008.

O ato que SUPRIME ou REDUZ vantagem de servidor é ato único ou prestação de trato sucessivo?
Quando começa o prazo para o MS no caso de a Administração Pública suprimir ou reduzir
determinada vantagem paga ao servidor?

Para o STJ é preciso fazer a seguinte distinção:

Ato que SUPRIME vantagem Ato que REDUZ vantagem


Ato único. Prestação de trato sucessivo.
O prazo para o MS é contado da data em O prazo para o MS renova-se mês a mês
que o prejudicado toma ciência do ato. (periodicamente).
O ato administrativo que suprime A redução de vencimentos sofrida por
vantagem de servidor é ato único e de servidores denota prestação de trato
efeitos permanentes, iniciando-se o prazo sucessivo, em que o prazo decadencial
2

decadencial para MS no dia em que ele renova-se mês a mês.


Página

tem ciência da supressão.

INFORMATIVO esquematizado
(...) 2. A Terceira Seção deste Superior (...) Esta Corte vem definindo que quando
Tribunal de Justiça firmou entendimento houver redução, e não supressão do valor
no sentido de que a supressão de de vantagem, fica configurada a prestação
vantagem pecuniária devida a servidor de trato sucessivo, que se renova mês a
público caracteriza-se como ato comissivo, mês, pois não equivale à negação do
único e de efeitos permanentes, não próprio fundo de direito, não havendo que
havendo, pois, que se falar em prestações se falar, portanto, em decadência do
de trato sucessivo. mandado de segurança. (...)
(AgRg no Ag 909.400/PA, Rel. Min. Maria (AgRg no REsp 1110192/CE, Rel. Min. Celso
Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, Limongi (Des. Conv. do TJ/SP), Sexta
julgado em 15/04/2010) Turma, julgado em 04/05/2010)

Em síntese:
Redução de vantagem: prestação de TRATO SUCESSIVO (prazo para o MS se renova).
Supressão de vantagem: ato ÚNICO (prazo para o MS não se renova).

Processo Segunda Turma. RMS 34.363-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012.

DIREITO CIVIL
Nome da pessoa natural

Admite-se, excepcional e motivadamente, após apreciação judicial, a retificação de registro


civil para inclusão de patronímico paterno no final do nome do filho, ainda que em ordem
diversa daquela constante do nome do pai, se comprovado que tal retificação se faz necessária
para corresponder, adequadamente, à forma como aquele e sua família são conhecidos no
meio social em que vivem.
Comentários A situação concreta foi a seguinte:
“Francisco Célio Campos Gonçalves” ajuizou ação de retificação de registro civil com o
objetivo de acrescentar, ao final de seu nome, o patronímico (sobrenome) “Benício” de seu
pai, por meio do qual o autor já é conhecido na sociedade. Desse modo, pretendia que seu
nome fosse alterado para “Francisco Célio Campos Gonçalves Benício”.
A sentença foi julgada procedente, autorizando a retificação como pedida.

O Ministério Público recorreu, alegando que o nome “Benício” deveria ficar antes de
“Gonçalves”. Para o MP, o nome do autor deveria ficar assim: “Francisco Célio Campos
Benício Gonçalves”. O Parquet justificou sua posição pelo fato do sobrenome do pai do
autor ser “Benício Gonçalves” e não “Gonçalves Benício”.
O autor, por sua vez, argumentou que sua família e ele próprio são conhecidos socialmente
pelo patronímico “Benício”, razão pela qual este sobrenome deveria ficar por último.
Após passar pelo TJ, a questão chegou até o STJ por meio de recurso especial.

O STJ decidiu que a alteração pretendida era possível. Vejamos os principais argumentos:
A regra geral, no direito brasileiro, é a da imutabilidade ou definitividade do nome civil, mas são
admitidas exceções. É o chamado princípio da imutabilidade relativa do nome civil. Uma das
situações em que é possível alterar o nome é no caso previsto no art. 57 da Lei de Registros
Públicos (Lei n. 6.015/73):
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após
3

audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o
Página

registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a


hipótese do art. 110 desta Lei.
INFORMATIVO esquematizado
Trata-se de processo judicial de jurisdição voluntária, sendo o pedido decidido por sentença.
Vale ressaltar que é obrigatória a oitiva do Ministério Público (arts. 57 e 109 da LRP).

Exemplos de alteração do nome com base nesse art. 57:


- Alterar o prenome caso exponha seu portador ao ridículo;
- Retificar o patronímico constante do registro para obter a nacionalidade de outro país
(o STJ já reconheceu o direito de suprimir incorreções na grafia do patronímico para que
a pessoa pudesse obter a cidadania italiana. REsp 1138103/PR)
- Alterar o nome em virtude de cirurgia de retificação de sexo.

Segundo o STJ, a inclusão do patronímico “Benício” ao nome do autor enquadra-se nesta


hipótese e está motivada pela forma como ele é conhecido no meio social em que vive.
Para o Tribunal, salvo nos casos de sobrenomes compostos (exs: Pontes de Miranda, Villa
Lobos etc.), é possível que haja a inversão da ordem dos sobrenomes dos filhos em relação
aos pais, desde que haja um motivo justificado para isso. No caso concreto, a justificativa
está no fato de que o sobrenome socialmente conhecido da família é “Benício”, sendo
explicado porque deve ficar ao final.

A Lei de Registros Públicos não exige que os sobrenomes obedeçam a uma determinada
ordem no que tange aos apelidos de família, seja no momento do registro do nome do
indivíduo, seja por ocasião da sua posterior retificação. Também não proíbe que a ordem do
sobrenome dos filhos seja distinta daquela presente no sobrenome dos pais.
Processo Terceira Turma. REsp 1.323.677-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/2/2013.

Prazo prescricional para cobrança de anuidades pela OAB


Após a entrada em vigor do CC/2002, é de 5 (CINCO) anos o prazo de
prescrição da pretensão de cobrança de anuidades pela OAB.
Comentários O art. 46, parágrafo único, da Lei n. 8.906/1994 (Estatuto da OAB) prevê que a certidão
exarada pelo Conselho da OAB de que o advogado está em débito com a anuidade constitui
título executivo extrajudicial:
Art. 46. Compete à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos, contribuições, preços de serviços e
multas.
Parágrafo único. Constitui título executivo extrajudicial a certidão passada pela diretoria do
Conselho competente, relativa a crédito previsto neste artigo.

Assim, quando a OAB executa o advogado cobrando a anuidade em atraso, o título que
embasa a referida cobrança é um instrumento particular que veicula dívida líquida.

Por essa razão, o prazo prescricional para esta execução é de 5 anos, conforme prevê o art.
206, § 5º, I, do CC/2002:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;

Antes do CC/2002, não havia norma específica regulando a prescrição da referida


4

pretensão, motivo pelo qual se aplicava o prazo geral de 20 anos previsto no CC/1916. Com
Página

o CC/2002 este prazo passou a ser de 5 anos (art. 206, § 5º, I).
Processo Segunda Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.267.721-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 11/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
Cláusula penal moratória cumulada com indenização por lucros cessantes
A cláusula penal moratória não é estipulada para compensar o inadimplemento nem para
substituir o adimplemento. Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora
não interfere com a responsabilidade civil. Logo, não há óbice a que se exija a cláusula penal
moratória juntamente com o valor referente aos lucros cessantes.

No caso de mora, existindo cláusula penal moratória, concede-se ao credor a faculdade de


requerer, cumulativamente:
a) o cumprimento da obrigação;
b) a multa contratualmente estipulada; e ainda
c) indenização correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.

Exemplo: o promitente comprador, no caso de atraso na entrega do imóvel adquirido, tem


direito a exigir, além do cumprimento da obrigação e do pagamento do valor da cláusula penal
moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela não
fruição do imóvel durante o período da mora.
Comentários Cláusula penal
- É uma cláusula do contrato
- ou um contrato acessório ao principal
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.

Outras denominações
Também é chamada de multa convencional, multa contratual ou pena convencional.

Natureza jurídica
A cláusula penal é uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal.
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento
separado.

Finalidades da cláusula penal


A cláusula penal possui duas finalidades:
1. Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento
culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor
não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para
evitar as dificuldades que o credor teria no momento de provar o valor do prejuízo
sofrido com a inadimplência do contrato.

2. Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a


obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a
multa convencional.

Espécies de cláusula penal


a) MORATÓRIA b) COMPENSATÓRIA
(compulsória): (compensar o inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor de Estipulada para servir como indenização no
incorrer em mora ou para evitar que deixe caso de total inadimplemento da obrigação
de cumprir determinada cláusula especial principal (adimplemento absoluto).
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da obrigação principal.
Página

É a cominação contratual de uma multa


para o caso de mora.

INFORMATIVO esquematizado
Funciona como punição pelo retardamento Funciona como uma prefixação das perdas
no cumprimento da obrigação ou pelo e danos.
inadimplemento de determinada cláusula.
Ex1: em uma promessa de compra e venda Ex: em um contrato para que um cantor
de um apartamento, é estipulada multa faça um show no réveillon, é estipulada
para o caso de atraso na entrega. uma multa de 100 mil reais caso ele não se
Ex2: multa para o caso do produtor de soja apresente.
fornecer uma safra de qualidade inferior ao
tipo “X”.
A cláusula penal moratória é cumulativa, A cláusula penal compensatória não é
ou seja, o credor poderá exigir o cumulativa. Assim, haverá uma alternativa
cumprimento da obrigação principal e mais para o credor: exigir o cumprimento da
o valor da cláusula penal (poderá exigir a obrigação principal ou apenas o valor da
substituição da soja inferior e mais o valor cláusula penal.
da cláusula penal).
Art. 411. Quando se estipular a cláusula Art. 410. Quando se estipular a cláusula
penal para o caso de mora, ou em penal para o caso de total inadimplemento
segurança especial de outra cláusula da obrigação, esta converter-se-á em
determinada, terá o credor o arbítrio de alternativa a benefício do credor.
exigir a satisfação da pena cominada,
juntamente com o desempenho da
obrigação principal.

Multa moratória = obrigação principal + multa


Multa compensatória = obrigação principal ou multa

Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal moratória, caso haja a mora, é
possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais os lucros cessantes que provar
ter sofrido?
SIM. A cláusula penal moratória não é estipulada para compensar o inadimplemento nem
para substituir o adimplemento.
Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora não interfere com a
responsabilidade civil correlata que já deflui naturalmente do próprio sistema.
Logo, não há óbice a que se exija a cláusula penal moratória juntamente com o valor
referente aos lucros cessantes.

No caso de mora, existindo cláusula penal moratória, concede-se ao credor a faculdade de


requerer, cumulativamente:
a) o cumprimento da obrigação;
b) a multa contratualmente estipulada; e ainda
c) indenização correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.

Ex: o promitente comprador, no caso de atraso na entrega do imóvel adquirido, tem direito
a exigir, além do cumprimento da obrigação e do pagamento do valor da cláusula penal
moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela não
fruição do imóvel durante o período da mora.
Processo Terceira Turma. REsp 1.355.554-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
Responsabilidade civil (estado de necessidade)

O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do CC. No
entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a vítima quando
esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo (art. 929).
Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade, deverá indenizar
a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo que pagou (art. 930).
Vale ressaltar, no entanto, que o o valor desta indenização deverá ser fixado com
proporcionalidade, evitando-se a imposição de valores abusivos (desproporcionais) para
alguém que estava agindo de forma lícita.
Comentários O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do CC:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias
o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a
remoção do perigo.

No entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a vítima
quando esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo. É o que
preconiza o art. 929 do CC:
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem
culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade, deverá
indenizar a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo que pagou:
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao
lesado.

Repare que se trata de algo bem interessante: o autor do dano agiu de forma LÍCITA, uma
vez que estava sob o manto do estado de necessidade, no entanto, mesmo assim tem o
dever de indenizar. E qual é o fundamento jurídico para este dever?
O Min. Sanseverino (no Resp 1.278.627-SC) explica que o fundamento para essa opção
legislativa é a equidade, aplicando-se a chamada teoria do sacrifício, bem desenvolvida pelo
doutrinador português J.J. Gomes Canotilho (O problema da responsabilidade do estado por
actos lícitos. Coimbra: Almedina, 1974).

Pela teoria do sacrifício, diante de uma colisão entre os direitos da vítima e os do autor do
dano, estando os dois na faixa de licitude (os dois comportamentos são lícitos), o
ordenamento jurídico opta por proteger o mais inocente dos interesses em conflito (o da
vítima), sacrificando o outro (o do autor do dano).

Vale ressaltar, no entanto, que o estado de necessidade, embora não exclua o dever de
indenizar, fundamenta a fixação das indenizações segundo o critério da proporcionalidade.
Em outras palavras, a pessoa que agiu em estado de necessidade deverá indenizar caso
tenha causado prejuízo à vítima que não deu causa ao perigo. No entanto, o valor desta
indenização deverá ser fixado com proporcionalidade, evitando-se a imposição de valores
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abusivos (desproporcionais) para alguém que estava agindo de forma lícita.


Processo Terceira Turma. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
Responsabilidade civil (dano moral)
Sempre que ocorrer ofensa injusta à dignidade da pessoa humana restará configurado o dano
moral, não sendo necessária a comprovação de dor e sofrimento.
Trata-se de dano moral in re ipsa (dano moral presumido).
Comentários Segundo a doutrina e a jurisprudência do STJ, quando se verifica a violação de um direito
fundamental, assim eleito pela CF/88, também haverá, como consequência, uma afronta à
dignidade da pessoa humana.
Haverá, nestes casos, dano moral e a sua compensação independe da demonstração de dor
da vítima. Trata-se de dano moral in re ipsa (dano moral presumido).
Processo Terceira Turma. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

Responsabilidade civil (Teoria da perda de uma chance)


A teoria da perda pode ser aplicada no caso de erro médico.
Segundo decidiu a 3ª Turma do STJ, a teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como
critério para a apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em
que o erro tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a
falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico
Comentários O que é a teoria da perda de uma chance?
Trata-se de teoria inspirada na doutrina francesa (perte d’une chance).
Segundo esta teoria, se alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca
uma oportunidade de obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja
indenização pelos danos causados.
Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima perca a
oportunidade de obter uma situação futura melhor.
Com base nesta teoria, indeniza-se não o dano causado, mas sim a chance perdida.

A teoria da perda de uma chance é adotada no Brasil?


SIM, esta teoria é aplicada pelo STJ que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e
CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano
potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável
(REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009).

Em outros julgados, fala-se que a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA, que proporcione
ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada.
(AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011)

O dano resultante da aplicação da teoria da perda pode ser classificado como dano
emergente ou como lucros cessantes?
Trata-se de uma terceira categoria. Com efeito, a teoria da perda de uma chance visa à
responsabilização do agente causador não de um dano emergente, tampouco de lucros
cessantes, mas de algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da
possibilidade de se buscar posição mais vantajosa que muito provavelmente se alcançaria,
não fosse o ato ilícito praticado.
(REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 16/11/2010)

Exemplo de aplicação desta teoria:


Aplica-se a teoria da perda de uma chance ao caso de candidato a Vereador que deixa de
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ser eleito por reduzida diferença de oito votos após atingido por notícia falsa publicada por
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jornal, resultando, por isso, a obrigação de indenizar.


(REsp 821.004/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 19/08/2010)
INFORMATIVO esquematizado
O simples fato de um advogado ter perdido o prazo para a contestação ou para a
interposição de um recurso enseja indenização pela aplicação desta teoria?
NÃO. Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas
como negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não
experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser
solucionadas a partir de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do
processo, eventualmente perdidas em razão da desídia do causídico.
Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como no
caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática
responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance.
É absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real - que
a parte teria de se sagrar vitoriosa.
(REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 16/11/2010)

A teoria da perda de uma chance pode ser aplicada nas relações de direito público?
SIM, existem alguns Ministros do STJ que defendem que a teoria da perda de uma chance
poderia ser aplicada também nas relações entre o Estado e o particular. Nesse sentido: Min.
Mauro Campbell Marques e Min. Eliana Calmon.

A teoria da perda pode ser aplicada no caso de erro médico?


SIM. Segundo o STJ, a teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a
apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro
tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em
razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico (REsp 1.254.141-PR).

Caso concreto julgado pelo STJ:


“R”, viúvo de “V” ajuizou ação de indenização contra “M”, médico responsável pelo
tratamento da falecida, que possuía um câncer no seio.
O autor alegou que, durante o tratamento da doença, “M” cometeu uma série de erros
médicos, entre os quais se destacam os seguintes: após o tratamento inicial da doença não
foi recomendada quimioterapia; a mastectomia realizada foi parcial (quadrantectomia),
quando seria recomendável mastectomia radical; não foi transmitida à paciente orientação
para não mais engravidar; com o desaparecimento da doença, novamente o tratamento foi
inadequado; o aparecimento de metástase foi negado pelo médico; entre outras alegações.
O laudo pericial apontou que houve, de fato, erro médico.
O réu foi condenado por danos morais e materiais, tendo sido aplicada a teoria da perda de
uma chance.

O caso chegou até o STJ, que manteve a condenação, em acórdão vazado nos seguintes termos:
1. O STJ vem enfrentando diversas hipóteses de responsabilidade civil pela perda de uma
chance em sua versão tradicional, na qual o agente frustra à vítima uma oportunidade de
ganho. Nessas situações, há certeza quanto ao causador do dano e incerteza quanto à
respectiva extensão, o que torna aplicável o critério de ponderação característico da
referida teoria para a fixação do montante da indenização a ser fixada. Precedentes.
2. Nas hipóteses em que se discute erro médico, a incerteza não está no dano
experimentado, notadamente nas situações em que a vítima vem a óbito. A incerteza está
na participação do médico nesse resultado, à medida que, em princípio, o dano é causado
por força da doença, e não pela falha de tratamento.
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3. Conquanto seja viva a controvérsia, sobretudo no direito francês, acerca da aplicabilidade


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da teoria da responsabilidade civil pela perda de uma chance nas situações de erro médico,

INFORMATIVO esquematizado
é forçoso reconhecer sua aplicabilidade. Basta, nesse sentido, notar que a chance, em si,
pode ser considerado um bem autônomo, cuja violação pode dar lugar à indenização de seu
equivalente econômico, a exemplo do que se defende no direito americano. Prescinde-se,
assim, da difícil sustentação da teoria da causalidade proporcional.
4. Admitida a indenização pela chance perdida, o valor do bem deve ser calculado em uma
proporção sobre o prejuízo final experimentado pela vítima. A chance, contudo, jamais
pode alcançar o valor do bem perdido. É necessária uma redução proporcional. (...)
(REsp 1254141/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 04/12/2012)

Perda de uma chance clássica X Perda de uma chance por conta de erro médico
A aplicação da teoria da perda de uma chance no caso de erro médico possui algumas
diferenças da aplicação tradicional da teoria da perda de uma chance às demais hipóteses
(baseado nas lições da Min. Nancy Andrighi):

Teoria da perda de uma chance Teoria da perda de uma chance


CLÁSSICA (TRADICIONAL) no caso de ERRO MÉDICO
Ocorre quando o agente frustrou a Ocorre quando o médico, por conta de um
oportunidade da pessoa de auferir uma erro, fez com que a pessoa não tivesse um
vantagem. tratamento de saúde adequado que
poderia tê-la curado e evitado a sua morte.
Há sempre certeza quanto à autoria do fato Aqui, a extensão do dano já está definida (a
que frustrou a oportunidade. Existe incerteza pessoa morreu), e o que resta saber é se esse
quanto à existência/extensão dos danos. dano teve como concausa a conduta do réu.

Processo Terceira Turma. REsp 1.254.141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

Locação
Se a ação renovatória for julgada improcedente e, com isso, a locação comercial não for
renovada, o juiz determinará a desocupação do imóvel alugado (despejo) no prazo de 30 dias.
O termo inicial deste prazo é a data da intimação pessoal do locatário realizada por meio do
mandado de despejo.
Comentários Ponto comercial
Algo muito importante na atividade empresarial é o “ponto comercial”.
Ponto comercial é a localização do estabelecimento empresarial.
Pensando nisso, o direito protege o ponto comercial. Uma das formas de proteção ocorre
por meio da ação renovatória.

Ação renovatória
A ação renovatória garante ao locatário o direito de renovar o contrato de locação
empresarial, mesmo contra a vontade do locador, desde que presentes certos requisitos.
Desse modo, a ação renovatória tem por finalidade a renovação compulsória, obrigatória,
do contrato de locação empresarial, estando prevista na Lei n. 8.245/91 (Lei de Locações).

Requisitos da ação renovatória


Segundo o art. 51 da referida Lei, nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
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locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que sejam cumpridos
os seguintes requisitos cumulativos:
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I - o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por escrito;
II - o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por prazo determinado;

INFORMATIVO esquematizado
III - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos
escritos deve ser de cinco anos;
IV - o locatário deve estar explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e
ininterrupto de três anos.

Para garantir este direito, caso o locador não queira renovar a locação, o locatário poderá
ajuizar a ação renovatória.

Se a ação renovatória for julgada procedente: a locação é renovada.

Se a ação renovatória for julgada improcedente:


Sendo julgada improcedente a ação, a locação comercial não será renovada e o juiz
determinará a desocupação do imóvel alugado no prazo de 30 dias, desde que haja pedido
na contestação:
Art. 74. Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de mandado de
despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver
pedido na contestação. (Redação dada pela Lei nº 12.112, de 2009)

A partir de quando é contado este prazo de 30 dias?


O termo inicial deste prazo é a data da intimação pessoal do locatário, realizada por meio
de mandado de despejo.

Segundo o STJ, a Lei n. 12.112/2009, que alterou o prazo previsto no art. 74 da Lei de
Locações, possui natureza processual, incidindo, portanto, sobre os processos em
andamento no estado em que se encontram quando do início da vigência da lei, ainda que
se refiram a contratos anteriores à alteração legislativa. Nesse sentido: REsp 1207161/AL,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 08/02/2011.
Súmula 370 Atenção. A Súmula 370 do STF dispunha o seguinte:
do STF “Julgada improcedente a ação renovatória da locação, terá o locatário, para desocupar o
imóvel, o prazo de seis meses, acrescido de tantos meses quantos forem os anos da
ocupação, até o limite total de dezoito meses.”

Este enunciado, apesar de não ter sido formalmente cancelado, não é mais aplicado porque
se baseava na Lei n. 1.300/1950, que foi revogada há tempos. Portanto, trata-se de súmula
completamente desatualizada e que deve ser ignorada.
Processo Terceira Turma. REsp 1.307.530-SP, Rpresel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Sidnei Beneti, julgado em 11/12/2012.

Adoção

É possível a adoção de uma criança por casal homoafetivo. É possível também a adoção
unilateral do filho biológico da companheira homoafetiva. Ex: João é filho biológico de Maria. A
criança foi fruto de uma inseminação artificial heteróloga com doador desconhecido. Maria
mantém união estável homoafetiva com Andrea, que deseja adotar o menor.
Comentários É possível a adoção de uma criança por casal homoafetivo (dois homens ou duas mulheres)?
SIM. O STF já decidiu que a união homoafetiva possui os mesmos direitos da união
heteroafetiva e está incluída no conceito de família (ADI 4277, Rel. Min. Ayres Britto,
Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011).
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Assim, é plenamente possível a adoção realizada por um casal homoafetivo, nos mesmos
moldes do que ocorre com casais heteroafetivos.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Melhor interesse da criança
A adoção (seja ela feita por homossexuais ou heterossexuais) somente será deferida
quando atender ao melhor interesse da criança, nos termos do art. 43 do ECA:
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e
fundar-se em motivos legítimos.

O juiz pode negar o pedido sob a alegação genérica de que adoção por casais homoafetivos
pode gerar problemas psicológicos na criança?
NÃO. Este argumento genérico não é acolhido pelos Tribunais Superiores porque “os
diversos e respeitados estudos especializados sobre o tema, fundados em fortes bases
científicas (realizados na Universidade de Virgínia, na Universidade de Valência, na
Academia Americana de Pediatria), não indicam qualquer inconveniente em que crianças
sejam adotadas por casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do
afeto que permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga a seus cuidadores”
(REsp 889.852/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 27/04/2010).

É possível a adoção unilateral do filho biológico da companheira homoafetiva? Ex: João é


filho biológico de Maria. A criança foi fruto de uma inseminação artificial heteróloga com
doador desconhecido. Maria mantém união estável homoafetiva com Andrea, que deseja
adotar o menor. É possível?
SIM, considerando que, se esta possibilidade é prevista para os casais heteroafetivos,
também deve ser estendida aos homoafetivos. A Min. Nancy Andrighi afirma que, se
determinada situação é possível à faixa heterossexual da população brasileira, também o é
à fração homossexual, assexual ou transexual (REsp 1.281.093-SP).
Processo Terceira Turma. REsp 1.281.093-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2012.

DIREITO EMPRESARIAL

Título de crédito

Em ação monitória fundada em cheque prescrito, ajuizada em face do emitente, é dispensável


menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
O autor da ação monitória não precisa, na petição inicial, mencionar ou comprovar a relação causal
(causa debendi) que deu origem à emissão do cheque prescrito (não precisa explicar porque o réu
emitiu aquele cheque). Cabe ao réu o ônus de provar, se quiser, a inexistência do débito.
Ação Ação monitória é...
monitória - um procedimento especial previsto no CPC
- por meio do qual o credor exige do devedor
- o pagamento de soma em dinheiro,
- a entrega de coisa fungível ou
- a entrega de determinado bem móvel
- com base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo.

Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.


Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura
de conta-corrente.
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Procedimento:
Página

1. Petição inicial

INFORMATIVO esquematizado
2. Juiz poderá adotar uma das seguintes condutas:
a) Determinar que o autor emende a Inicial;
b) Indeferir a petição inicial;
c) Receber a monitória como procedimento ordinário;
d) Aceitar a monitória: reconhece verossímil a prova trazida e manda expedir um mandado
monitório para que o réu pague a dívida.

CPC/Art. 1.102-B. Estando a petição inicial devidamente instruída, o Juiz deferirá de plano a
expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa no prazo de quinze dias.

3. O réu citado poderá assumir uma das seguintes posturas:


a) Cumprir a obrigação: se o réu cumprir o mandado monitório, ele está dispensado de
pagar custas e honorários advocatícios. Trata-se de técnica de coerção indireta pelo
incentivo (“sanção premial”).

b) Ser revel: se o réu é revel em ação monitória, aquela decisão inicial proferida pelo juiz
automaticamente torna-se definitiva e aquilo que era um mandado monitório (para pagar),
transforma-se em um mandado executivo.

c) Defender-se (embargos monitórios).


A defesa na ação monitória é denominada de “embargos monitórios”.

Art. 1.102-C. No prazo previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer embargos, que
suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos, constituir-
se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em
mandado executivo e prosseguindo-se na forma do Livro I, Título VIII, Capítulo X, desta Lei.
§ 1º - Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de custas e honorários advocatícios.
§ 2º - Os embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos
próprios autos, pelo procedimento ordinário.
§ 3º Rejeitados os embargos, constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial,
intimando-se o devedor e prosseguindo-se na forma prevista no Livro I, Título VIII, Capítulo
X, desta Lei.

Ação O cheque é título executivo extrajudicial (art. 585, I, do CPC).


monitória Assim, se não for pago, o portador do cheque poderá ajuizar ação de execução contra o
de cheque emitente e eventuais codevedores (endossantes, avalistas). Essa ação de execução é
prescrito conhecida como “ação cambial”.

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?


R: 6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque.
Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de
apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado.

O que é prazo de apresentação do cheque?


É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de
receber o valor determinado na cártula.
Ex: João passa um cheque de dois mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o
13

tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.
Página

INFORMATIVO esquematizado
De quanto é o prazo de apresentação?
30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do Se o cheque for de praça diferente
pagamento (município onde foi assinado é (município onde foi assinado é diferente
o município da agência pagadora). do município da agência pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão O prazo será de 60 dias se o local da
do cheque (preenchido pelo emitente) for o emissão do cheque (preenchido pelo
mesmo lugar do pagamento (local da agência emitente) for diferente do lugar do
pagadora impressa no cheque). Nesse caso, pagamento (local da agência pagadora
diz-se que o cheque é da mesma praça impressa no cheque). Nesse caso, diz-se
(mesmo município). que o cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Ex: em um cheque de uma agência de São
Paulo (SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP), o emitente datou e assinou
Paulo (SP) como local da emissão. Manaus (AM) como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para
pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação?


A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do
cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento
dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o
direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente do
cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de
pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n. 7.357/85).

Retomando: o prazo prescricional do cheque inicia-se com o fim do prazo de apresentação.


Logo, os 6 meses iniciam-se com o fim do prazo de 30 dias (mesma praça) ou com o término
do prazo de 60 dias (se de praças diferentes).

Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim é possível a sua cobrança?


SIM. Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque.
No entanto, ele ainda poderá cobrar esse valor.

Qual a primeira forma do beneficiário cobrar um cheque prescrito?


Por meio de uma “ação de enriquecimento sem causa” (também chamada de “ação de
locupletamento”), prevista no art. 61 da Lei do Cheque (Lei n. 7.357/85). Essa ação tem o
prazo de 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva.

Se for expirado o prazo da “ação de enriquecimento” (“ação de locupletamento”), o


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beneficiário do cheque ainda tem alguma alternativa para cobrar o valor?


SIM. Permite-se que ele ajuíze uma ação monitória para cobrar do sacado o valor
Página

consignado na cártula. Veja:


Súmula 299-STJ: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.
INFORMATIVO esquematizado
Na ação monitória, não irá se discutir a causa debendi, ou seja, a causa que deu origem à
emissão do título de crédito (no caso, o cheque). Desse modo, segundo o STJ, na ação
monitória fundada em cheque prescrito, é desnecessária a demonstração da causa de sua
emissão, cabendo ao réu o ônus de provar, se quiser, a inexistência do débito.

Dessa forma, de acordo com a jurisprudência consolidada no STJ, o autor da ação monitória
não precisa, na petição inicial, mencionar ou comprovar a relação causal (causa debendi)
que deu origem à emissão do cheque prescrito (não precisa explicar porque o réu emitiu
aquele cheque). Isso não implica cerceamento de defesa, pois o demandado poderá, nos
embargos à monitória (nome da “defesa” na ação monitória), discutir a causa debendi.
Percebe-se assim que, na ação monitória, há inversão da iniciativa do contraditório,
cabendo ao demandado a faculdade de opor embargos à monitória, suscitando toda a
matéria de defesa, visto que recai sobre ele o ônus probatório.

Qual é o prazo máximo para ajuizar a ação monitória de cheque prescrito?


5 anos, com base no art. art. 206, § 5º, I, CC:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

O cheque prescrito é considerado um instrumento particular que representa uma obrigação


líquida. Logo, enquadra-se nesse dispositivo acima.
Repetitivo Decisão proferida sob o regime de recurso repetitivo.
Processo Segunda Seção. REsp 1.094.571-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/2/2013.

Falência (ação ajuizada pela sociedade falida)


A sociedade empresária falida não tem legitimidade para o ajuizamento de ação cujo objetivo
seja o recebimento de valor que, segundo alega, deveria ter sido exigido pela massa falida,
mas não o fora. Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais
possui personalidade jurídica e não pode postular, em nome próprio, direitos da massa falida
Comentários Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui
personalidade jurídica e não pode postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem
mesmo em caráter extraordinário.
Os direitos e créditos que pertencem à sociedade empresária falida passam a ser de
interesse da massa falida e somente podem ser requeridos judicialmente pelo síndico
(administrador da massa falida).
A sociedade empresária falida tem o direito de fiscalizar a administração da massa falida,
mas isso não significa que possa ajuizar ações no lugar da massa falida. O máximo que a
sociedade empresária pode fazer é intervir como assistente nas ações em que a massa
falida esteja presente.
Sérgio Campinho, citado pelo Ministro Relator, explica o tema:
“o falido permanece proprietário do patrimônio arrecadado na falência. Enquanto não alienado, nos
termos da lei, tem legítimo interesse em preservá-lo. Contudo, permanece inibido de agir, como
autor, em postulações relativas às relações patrimoniais envolvidas na falência. Não tem ele a
administração de seus bens, que compete ao administrador judicial. Poderá, entretanto, intervir nos
processos em que a massa falida for parte ou interessada, requerendo o que for de seu interesse e
direito, fazendo uso, inclusive, da interposição dos recursos cabíveis (parágrafo único do artigo 103).
15

(...) sofre o falido, como se percebe, uma restrição em sua capacidade processual, referente às lides
que se refiram aos direitos patrimoniais envolvidos na falência” (Falência e Recuperação de
Página

Empresa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 315)


Processo Terceira Turma. REsp 1.330.167-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 5/2/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Falência (extensão da falência)

É possível, no âmbito de procedimento incidental, a extensão dos efeitos da falência às


sociedades do mesmo grupo, sempre que houver evidências de utilização da personalidade
jurídica da falida com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros, e desde que:
seja demonstrada a existência de vínculo societário no âmbito do grupo econômico; e
seja oportunizado o contraditório à sociedade empresária a ser afetada.

Esta extensão dos efeitos da falência às sociedades integrantes do mesmo grupo da falida
encontra respaldo na teoria da desconsideração da personalidade jurídica.
Comentários No julgamento do REsp 1259018/SP (DJe 25/08/2011), a Min. Nancy Andrighi, expôs as
seguintes considerações:
Se dois grupos econômicos, unidos em torno de um propósito comum, promovem uma
cadeia de negócios formalmente lícitos, mas com intuito de desviar patrimônio de
empresa em situação pré-falimentar, é necessário que o Poder Judiciário também inove
sua atuação, no intuito de encontrar meios eficazes de reverter as manobras lesivas,
punindo e responsabilizando os envolvidos;
Assim, é possível ao juízo estender os efeitos de sociedade falida a empresas coligadas
na hipótese em que, verificando claro conluio para prejudicar credores, há transferência
de bens para desvio patrimonial;
A extensão da falência a sociedades coligadas pode ser feita independentemente da
instauração de processo autônomo. A verificação da existência de coligação entre
sociedades pode ser feita com base em elementos fáticos que demonstrem a efetiva
influência de um grupo societário nas decisões do outro, independentemente de se
constatar a existência de participação no capital social;
Na hipótese de fraude para desvio de patrimônio de sociedade falida, em prejuízo da
massa de credores, perpetrada mediante a utilização de complexas formas societárias,
é possível utilizar a técnica da desconsideração da personalidade jurídica com nova
roupagem, de modo a atingir o patrimônio de todos os envolvidos.

No julgado noticiado neste informativo, foram expostas razões semelhantes às acima


indicadas.
Processo Quarta Turma. AgRg no REsp 1.229.579-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Informações processuais via internet

Se ocorrer alguma OMISSÃO, ATRASO ou EQUÍVOCO na divulgação da tramitação processual no


site do Tribunal, isso constitui justa causa a ensejar a devolução do prazo processual?
Omissão ou atraso: NÃO HÁ JUSTA CAUSA
Equívoco: PODE CONFIGURAR JUSTA CAUSA

No caso noticiado neste Informativo, houve a indicação equivocada de determinada data no


site do Tribunal, o que fez com que a parte perdesse o prazo. A Corte Especial do STJ entendeu,
nesta hipótese, é possível reconhecer a existência de justa causa.
16

Comentários É cada dia mais comum que os operadores do Direito, em especial os advogados,
acompanhem a tramitação dos processos de seu interesse por meio dos sites dos Tribunais
Página

na Internet.

INFORMATIVO esquematizado
Essa prática, no entanto, poderá se mostrar arriscada se o profissional não realiza também
o acompanhamento do processo pela Imprensa Oficial.

Existem duas grandes celeumas envolvendo a questão. Veja:

As informações processuais fornecidas pelos sites dos Tribunais ostentam caráter oficial?
NÃO. Conforme entendimento prevalecente no STJ, os dados processuais disponibilizados
via internet não possuem caráter oficial, mas meramente informativo. Essa é a posição mais
atual da Corte. Nesse sentido: AgRg no AREsp 76935/RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,
Quarta Turma, julgado em 18/10/2012, DJe 31/10/2012.

O que acontece se houver alguma OMISSÃO, ATRASO ou ERRO na divulgação da tramitação


processual no site do Tribunal e, com isso, a parte perder o prazo para a prática do ato?

A parte que perdeu o prazo poderá alegar que houve uma “justa causa” para isso e pedir a
sua devolução, nos termos do art. 183, caput e § 1º do CPC?
Art. 183. Decorrido o prazo, extingue-se, independentemente de declaração judicial, o direito de praticar o ato,
ficando salvo, porém, à parte provar que o não realizou por justa causa.
§ 1º Reputa-se justa causa o evento imprevisto, alheio à vontade da parte, e que a impediu de praticar o ato por
si ou por mandatário.
§ 2º Verificada a justa causa o juiz permitirá à parte a prática do ato no prazo que lhe assinar.

Na maioria dos julgados do STJ, é feita a seguinte diferenciação:

Em caso de OMISSÃO ou ATRASO na Em caso de ERRO (EQUÍVOCO) na


divulgação da informação no site: divulgação da informação no site:
NÃO há justa causa PODE configurar justa causa
O atraso ou omissão na divulgação sobre a Se o site do Tribunal divulgar uma
tramitação de processo no site NÃO informação processual errada (com
representa “justa causa” para fins de equívoco), neste caso, o STJ entende que a
permitir a devolução do prazo processual parte foi induzida a erro. Logo, isso
que a parte perdeu. representa “justa causa” para o ato
Segundo o STJ, a parte deveria ter adotado processual não ter sido praticado
as medidas necessárias ao tempestivamente. Deverá, portanto, ser
acompanhamento do processo pelos determinado o reinício do prazo para a
outros meios disponíveis. parte prejudicada.
A confiabilidade das informações prestadas
por meio eletrônico é essencial à
preservação da boa-fé objetiva, que deve
orientar a relação entre o poder público e
os cidadãos.

Ex: no site do Tribunal não foi divulgada a Ex: o site do Tribunal divulgou que o
data em que o mandado de intimação mandado de intimação cumprido foi juntado
cumprido foi juntado aos autos. no dia 22/03/2011, quando, na verdade, essa
juntada ocorreu em 17/03/2011.

No caso noticiado neste Informativo, houve a indicação equivocada de determinada data no


site do Tribunal, o que fez com que a parte perdesse o prazo. A Corte Especial do STJ
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entendeu que, nesta hipótese, é possível reconhecer a existência de justa causa.


Página

INFORMATIVO esquematizado
Afirmou-se que o equívoco nas informações processuais prestadas na página eletrônica dos
tribunais configura a justa causa prevista no art. 183 do CPC, o que autoriza a prática
posterior do ato sem prejuízo da parte, uma vez que, nesse caso, o descumprimento do
prazo decorre diretamente de erro do Judiciário. Ademais, a alegação de que os dados
disponibilizados pelos Tribunais na internet são meramente informativos e não substituem
a publicação oficial não impede o reconhecimento da justa causa no descumprimento do
prazo recursal pela parte. Além disso, a confiabilidade das informações prestadas por meio
eletrônico é essencial à preservação da boa-fé objetiva, que deve orientar a relação entre o
poder público e os cidadãos.
Processo Corte Especial. REsp 1.324.432-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/12/2012.

Ação anulatória

Se a transação celebrada entre as partes foi objeto de homologação judicial por sentença, os
efeitos deste negócio jurídico podem ser afastados mediante a propositura de ação anulatória,
nos termos do art. 486 do CPC.
Se a sentença limita-se a homologar a transação efetuada, não tratando sobre o conteúdo da
pactuação, a forma de desconstituí-la é por meio da ação anulatória.
Comentários Imagine que, em um processo judicial, autor e réu celebram uma transação. O juiz, então,
homologa a transação e extingue o processo (art. 269, III, do CPC). Posteriormente, o autor
entende que foi enganado pelo réu e deseja desfazer a transação pactuada. Qual o
instrumento jurídico deverá ser manejado pelo autor?
Ação anulatória, conforme prevê o art. 486 do CPC:
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.

Assim, os efeitos da transação podem ser afastados mediante ação anulatória sempre que
este negócio jurídico tiver sido objeto de sentença meramente homologatória.
Se a sentença não dispõe nada a respeito do conteúdo da pactuação (transação), não
avançando para além da mera homologação, a ação anulatória prevista no art. 486 do CPC é
adequada à desconstituição do acordo homologado.
Processo Quarta Turma. AgRg no REsp 1.314.900-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.

Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos


Será cabível agravo regimental, a ser processado no Tribunal de origem, destinado a
impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial
com fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.
O recurso cabível contra essa decisão não é o agravo de instrumento.

Se o Tribunal de origem mantém a decisão e nega seguimento ao recurso especial (com


fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC), não cabe nenhum outro recurso e também não é
possível a propositura de reclamação no STJ.
Comentários Observou-se que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos
temas jurídicos. Em outras palavras, identificou-se que existiam inúmeros recursos
“repetitivos” endereçados aos Tribunais Superiores.
Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei n. 11.672/2008 acrescentou
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os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos
recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento
Página

em idêntica controvérsia ou questão de direito.

INFORMATIVO esquematizado
Vamos estudar, agora, o julgamento por amostragem no caso dos recursos especiais
repetitivos, o que é previsto no art. 543-C do CPC:
Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.

Procedimento (art. 543-C do CPC e Resolução n. 08/2008-STJ):

1) O Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar


todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações
contra a Fazenda Pública é de 3 ou 5 anos.

2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais recursos que


representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ.
Serão selecionados os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de
argumentos no recurso especial.

Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos
como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se
pronuncie sobre o tema central.

3) Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem não perceber que haja essa
multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e não tomar essas providências
explicadas acima. Nesse caso, o Ministro Relator do REsp, no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais
a controvérsia esteja estabelecida.

4) Antes de decidir o Resp submetido ao regime de recurso repetitivo, o Ministro Relator


poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15 dias, aos tribunais federais
ou estaduais a respeito da controvérsia.

5) Se o matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas,


órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae.
6) Após as informações prestadas pelos Tribunais e pelos amici curiae (plural de amicus
curiae), o Ministério Público será ouvido no prazo de 15 dias.

7) Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial do STJ, devendo
ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e
os pedidos de habeas corpus.

8) Após todas essas providências, o STJ irá julgar o recurso especial que foi submetido ao
regime de recurso repetitivo. Essa decisão irá afetar os recursos que ficaram suspensos nos
TJ’s ou TRF’s. Veja o que diz o § 7º do art. 543-C:
§ 7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados
na origem:
I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
19

orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou


Página

II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão


recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

INFORMATIVO esquematizado
Explicando melhor esse § 7º:
Inciso I: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que não foi aceita
pelo STJ, este recurso terá seu seguimento negado e, portanto, nem será enviado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 5 anos. A
Fazenda interpôs recurso especial alegando que esse prazo era de 3 anos. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, este recurso da Fazenda, que estava sobrestado, terá seu seguimento
negado e nem será mais apreciado pelo STJ.

Inciso II: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que foi acolhida
pelo STJ, o acórdão que estava sendo impugnado será novamente analisado pelo Tribunal de
origem, que poderá modificar sua decisão para adequá-la ao entendimento firmado pelo STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 3 anos. O
particular interpôs recurso especial alegando que esse prazo era quinquenal. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, o TJ terá a oportunidade de analisar novamente esta questão e poderá
modificar sua decisão com base na orientação firmada pelo STJ. Em outras palavras, o TJ
poderá voltar atrás e decidir que o prazo prescricional é de 5 anos realmente. Vale ressaltar,
no entanto, que nesse reexame, o Tribunal poderá manter sua decisão, considerando que o
posicionamento adotado pelo STJ não é vinculante.

9) Se o tribunal de origem mantiver a decisão divergente, irá ser realizado o exame de


admissibilidade do recurso especial para que seja encaminhado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu manter seu entendimento de que o prazo prescricional é de 3 anos,
mesmo o STJ tendo afirmado que era quinquenal. Logo, o recurso especial, interposto pelo
particular será examinado e, se preencher os pressupostos de admissibilidade, será
encaminhado ao STJ para análise do mérito.

10) Voltando à hipótese do inciso I do § 7º do art. 543-C. Pode acontecer de o Presidente do


tribunal de origem negar seguimento a um recurso especial aplicando o entendimento do
STJ, e a parte recorrente não concordar com isso sob o argumento de que o caso que
envolve o seu processo é diferente do que foi examinado pelo STJ. Em outros termos, a parte
afirma que há um distinguishing.
A pergunta que surge é a seguinte:
Será possível que esta parte interponha algum recurso contra a decisão do Presidente do
tribunal de origem que negou seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º
do art. 543-C do CPC?
SIM. Será cabível agravo regimental, a ser julgado no Tribunal de origem, destinado a
impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial com fundamento
no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.

Vale ressaltar que um erro muito comum tanto dos candidatos em concurso público como
dos profissionais na prática forense, é imaginar que seria possível o ajuizamento de agravo
de instrumento contra essa decisão. Na verdade, é firme o entendimento do STJ de que
“não cabe agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a recurso especial
com base no art. 543, § 7º, inciso I, do CPC” (QO no Ag 1154599/SP, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, Corte Especial, DJe 12/05/2011).
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Para o STJ, a mencionada decisão somente pode ser atacada por agravo regimental, a ser
processado e julgado no tribunal de origem.
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INFORMATIVO esquematizado
Imagine agora que o Tribunal de origem, no julgamento do agravo regimental, manteve a
decisão monocrática do Presidente (ou Vice-Presidente), ou seja, aplicando o art. 543, § 7º,
I, do CPC. Nesta hipótese, cabe algum outro recurso contra esta decisão?
NÃO.

Seria possível, então, interpor uma reclamação ao STJ?


Também NÃO. Segundo o STJ, não há previsão legal para o ajuizamento de reclamação
neste caso.
Além disso, o cabimento da reclamação impediria a realização do fim precípuo da reforma
processual introduzida pela Lei n. 11.672/2008, qual seja, o de evitar a reiterada análise de
questão idêntica, otimizando o julgamento dos incontáveis recursos que chegam ao STJ
com o intuito de discutir a mesma matéria. Em outras palavras, se fosse admitida
reclamação, o “filtro” imposto para evitar a subida de uma enorme quantidade de
processos no STJ não teria eficácia, considerando que a Corte teria que examinar inúmeras
reclamações.

Em suma, contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do
CPC, aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos
recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso nem reclamação.
Processo Segunda Seção. AgRg na Rcl 10.805-RS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 4/2/2013.

Termo inicial dos juros de mora no caso de execução individual de sentença coletiva
Reconhecida a procedência do pedido em ação civil pública destinada a reparar lesão a direitos
individuais homogêneos, os juros de mora somente são devidos a partir da citação do devedor
ocorrida na fase de liquidação de sentença, e não a partir de sua citação inicial na ação coletiva.
Comentários Qual é o termo inicial dos juros de mora no caso de execução individual de sentença coletiva?
Os juros de mora somente são devidos a partir da citação do devedor na fase de liquidação
de sentença, e não a partir de sua citação inicial na ação coletiva.
Exemplo hipotético:
O Ministério Público ingressa com uma ação civil pública defendendo os direitos individuais
homogêneos de certos consumidores e pedindo a condenação do réu ao pagamento de 500
mil reais.
O réu é citado em 02/02/2002, apresenta resposta, são produzidas provas e, ao final, a
sentença é julgada procedente, havendo trânsito em julgado.
Inicia-se, então, a fase de liquidação da sentença, sendo o réu citado para tanto (em
03/03/2010). A liquidação também é julgada.
Como o requerido não paga voluntariamente o valor pelo qual foi condenado, passa-se à
fase de execução.
No cálculo do valor devido, devem ser incluídos os juros de mora. O percentual dos juros
será contado da data da citação do réu para a fase de liquidação da sentença (03/03/2010)
e não da citação da ACP (02/02/2002).

Por que os juros de mora são contados somente com a citação da fase de liquidação?
A ação coletiva que tenha por causa de pedir danos referentes a direitos individuais
homogêneos será genérica, não sendo possível especificar, na petição inicial, os nomes de
todos os lesados. Desse modo, a sentença que julgar esta demanda também será genérica,
21

conforme prevê o art. 95 do CDC.


Logo, será necessária a liquidação da sentença não apenas para apuração do valor do
Página

débito (quantum debeatur), mas também para descobrir quem são os titulares do crédito
(liquidação imprópria).
INFORMATIVO esquematizado
Ora, se na petição inicial da ação coletiva e na sentença desta demanda não constam os
nomes dos beneficiários da condenação, o réu não tem como, voluntariamente, pagar
aquilo que for devido para cada um deles. Se ele não tem como pagar, não se pode dizer
que está em mora. Não estando ainda em mora, não se pode dele cobrar juros moratórios.
Liquidação Vamos tecer mais alguns comentários sobre a liquidação imprópria e a execução das
imprópria sentenças proferidas em demandas coletivas.

Nas ações coletivas para a defesa de direitos individuais homogêneos, “a condenação será
genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados” (art. 95 do CDC).

Desse modo, a sentença nas ações coletivas é genérica e não define:


a) o valor da condenação a ser paga aos consumidores lesados;
b) quem são os consumidores lesados.

Assim, constata-se claramente que essa sentença precisará ser liquidada.

Diz-se que essa liquidação nas ações que envolvem direitos individuais homogêneos possui
natureza sui generis (expressão utilizada pelo STJ), também chamada de “liquidação
imprópria” (terminologia empregada por Cândido Rangel Dinamarco). Por quê?

Porque a liquidação tradicional, no processo civil individual, só serve para definir o quantum
debeatur (o quanto devido). Já no caso do processo coletivo, essa liquidação imprópria
servirá para apurar:
a) o quantum debeatur (a quantia devida); e
b) o cui debeatur (as pessoas que têm legitimidade para receber, ou seja, os credores).

Exemplo:
O Ministério Público ajuíza uma ACP contra determinada indústria de “salgadinhos” porque
os pacotinhos eram vendidos com a informação na embalagem de que continham 100g de
peso, mas na verdade só tinham 90g. Durante a ação, o MP consegue, por meio de perícia,
provar esse fato e a indústria é condenada a indenizar os consumidores lesados.
Trata-se de demanda envolvendo direitos individuais homogêneos.
A condenação imposta na sentença foi genérica e apenas fixou a responsabilidade da ré
pelos danos causados (art. 95 do CDC), sem definir quem são os consumidores lesados e o
quanto será devido a cada um (isso vai depender do quanto cada consumidor comprou de
salgadinho). Logo, essa sentença precisará passar pela fase de liquidação.

Quem tem legitimidade para fazer a liquidação dessa sentença que envolve direitos
individuais homogêneos?
a) A vítima (ou seus sucessores), devendo promover a liquidação, por meio de advogado,
provando ter sido um dos consumidores lesados e provando ainda o montante de seu
prejuízo; ou
b) Os legitimados previstos no art. 82 do CDC, que deverão provar quais foram os
consumidores (nome, qualificação, endereço) e o valor devido a cada um deles. Essa
hipótese “b” é mais difícil de ocorrer na prática, tendo em vista que os legitimados do
art. 82 do CDC normalmente não dispõem de meios para saber quem são as vítimas.

Isso está previsto no art. 97 do CDC:


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Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o artigo 82.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Tanto na hipótese “a” como na “b”, o valor da indenização será destinado a cada uma das
vítimas.

O art. 97 impõe uma gradação de preferência entre os legitimados.


Assim, quem tem preferência para liquidar e executar é a vítima e seus sucessores.
Somente se a vítima ou seus sucessores não fizerem é que os legitimados do art. 82
poderão agir. Diz-se, portanto, que a legitimidade coletiva para executar é subsidiária.
Isso ocorre porque a prioridade é ressarcir o dano pessoal sofrido pelas vítimas e o próprio
lesado tem melhores condições de demonstrar a existência do seu dano pessoal, o nexo
etiológico com o dano globalmente reconhecido, bem como o montante equivalente à sua
parcela.

No entanto, o que acontece se não aparecerem vítimas (pessoas lesadas) para liquidar a
sentença e os legitimados do art. 82 não conseguirem identificá-las?
Quando as pessoas beneficiadas pela decisão (vítimas) ficam inertes e não procuram a
Justiça para se habilitar, o Ministério Público (ou algum outro legitimado do art. 82 do CDC)
poderá liquidar e executar, de forma subsidiária, essa sentença condenatória. Tal
possibilidade está explicada no art. 100 do CDC:
Art. 100. Decorrido o prazo de 1 (um) ano sem habilitação de interessados em número
compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do artigo 82 promover a
liquidação e execução da indenização devida.

Obs: esse prazo de 1 ano é contado a partir da publicação de editais convocando os


interessados em liquidar e executar a sentença.
Quem são os legitimados do art. 82?
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, Direta ou Indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este Código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código,
dispensada a autorização assemblear.

Ocorre que, se a liquidação e execução for feita com base no art. 100, o dinheiro arrecadado
não vai para as vítimas (porque elas não foram identificadas), mas sim para um Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos. Essa regra está prevista no parágrafo único do art. 100:
Art. 100 (...) Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o Fundo
criado pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.

Recapitulando:
Se a liquidação e execução for feita com base no art. 97: O dinheiro vai para as vítimas
(ou seus sucessores).
Se a liquidação e execução for feita com base no art. 100: O dinheiro vai para o fundo.

E por que as pessoas beneficiadas não mostrariam interesse em liquidar e executar o valor
23

que teriam direito?


Isso pode ocorrer por falta de conhecimento ou então porque, na maioria das vezes, o
Página

benefício individual que a pessoa obteria seria pequeno, apesar de, coletivamente, ser alto.

INFORMATIVO esquematizado
Tomando ainda como exemplo o caso da fábrica de salgadinhos:
O juiz condena a fábrica por ela ter vendido salgadinhos com peso inferior ao anunciado.
Nesse caso, o dano, se considerado de modo individual, é irrisório, assim como também é
ínfimo o quanto cada consumidor terá direito de ser ressarcido (talvez alguns centavos por
cada pacote).
Desse modo, não haverá interesse dos consumidores em contratar um advogado para
buscar a liquidação e a execução da quantia que lhes seria devida.
No entanto, se encararmos o fato de forma coletiva, trata-se de um dano elevado, que,
portanto, merece ser liquidado e executado, o que poderá ser feito pelo Ministério Público
(ou outro legitimado do art. 82) após 1 ano da condenação na hipótese (provável) de não se
habilitarem interessados em número compatível com a gravidade do dano

Fluid recovery
A execução pelo Ministério Público (ou outro legitimado do art. 82) na forma do art. 100, ou
seja, com o valor destinado ao fundo, é chamado de fluid recovery (“indenização fluida” ou
“reparação fluida”).
A fluid recovery foi criada pela jurisprudência norte-americana e incorporada em nosso
ordenamento no art. 100 do CDC.

Vale explicar mais uma vez que a decisão na ACP poderia ser individualmente executada,
mas as pessoas interessadas não mostraram interesse em liquidar e executar.

Objetivo da fluid recovery: evitar o enriquecimento sem causa do condenado:


Caso não fosse possível esse instituto da fluid recovery, haveria o risco muito elevado de
enriquecimento indevido do causador do dano, considerando que dificilmente alguém iria
buscar a reparação por conta de valor tão pequeno.

Para finalizar, vejamos lição doutrinária sobre a fluid recovery exposta pelo Min. Antonio
Herman Benjamin, um dos maiores conhecedores de direito do consumidor no Brasil:
“Esta solução é extremamente representativa do espírito do CDC e introduz entre nós o que
no direito norte-americano se conhece como fluid recovery, ou reparação fluida, pela qual,
ao mesmo tempo em que se privilegia a tutela coletiva como instrumento da reparação dos
danos causados individualmente para a massa de consumidores, na hipótese destes não a
reclamarem, na medida do seu prejuízo, permite sua conversão para um Fundo, cujo
objetivo final é reverter em favor dos interesses lesados.
Suas vantagens basicamente são duas. Primeiro, não permitir que a falta de habilitação dos
consumidores lesados termine por liberar o fornecedor que atuou ilicitamente de suportar a
reparação pelos danos causados, reforçando a função de desestímulo que a indenização
deve possuir. Por outro lado, determina a possibilidade da reparação; não sendo
diretamente reclamada pelos lesados, a indenização pode ser utilizada em iniciativas e
projetos vinculados aos direitos que a ação coletiva buscou proteger.” (Comentários ao
Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: RT, 2010, p. 1.459)
Processo Quarta Turma. AgRg no REsp 1.348.512-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência

Compete à justiça estadual o julgamento de ação penal em que se apure crime de esbulho
possessório (art. 161, § 1º, II, do CP) efetuado em terra de propriedade do INCRA na hipótese
em que a conduta delitiva não tenha representado ameaça à titularidade do imóvel e em que os
únicos prejudicados tenham sido aqueles que tiveram suas residências invadidas.
Comentários O Código Penal prevê o delito de “esbulho possessório” no inciso II do § 1º do art. 161:
Art. 161. (...)
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
(...)
Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.

Imagine agora a seguinte situação:


Várias famílias residiam em lotes de terra do INCRA (autarquia federal) destinados ao
assentamento rural. Desse modo, os imóveis pertenciam ao INCRA e essas pessoas eram
possuidoras da terra (detinham a posse).
Determinado dia, alguns indivíduos invadiram a área de assentamento e expulsaram essas
famílias do local.

Indaga-se:
A competência para julgar este crime será da Justiça Federal pelo fato da terra pertencer ao
INCRA (autarquia federal), nos termos do art. 109, IV, da CF/88?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, neste caso, embora se verifique que a propriedade das terras
objeto do esbulho possessório seja do INCRA, autarquia federal, observa-se que a conduta
delitiva não apresentou ameaça à sua titularidade da terra, que mesmo invadida, continuou
sendo do INCRA. Os únicos prejudicados foram as vítimas, que tiveram suas residências
invadidas e de lá foram expulsas.
Logo, para o STJ, inexiste interesse jurídico que justifique a presença da União, suas
autarquias ou empresas públicas no processo, de forma que a competência é da Justiça
comum estadual.
Processo Terceira Seção. CC 121.150-PR, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJ-PE),
julgado em 4/2/2013.

Sequestro

Sequestro é uma medida cautelar, de natureza patrimonial, cabível no processo penal, por
meio da qual o juiz determina a retenção dos bens adquiridos pelo investigado ou acusado com
os proventos (lucros) do crime.
Não acarreta nulidade o deferimento de medida cautelar patrimonial de sequestro sem
anterior intimação da defesa. Na hipótese de sequestro, o contraditório será diferido em prol
da integridade do patrimônio e contra a sua eventual dissipação. Nesse caso, não se caracteriza
qualquer cerceamento à defesa, que tem a oportunidade de impugnar a determinação judicial,
25

utilizando os instrumentos processuais previstos na lei para tanto.


Comentários Medidas cautelares
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O CPP prevê diversas medidas cautelares, que são classificadas pela doutrina da seguinte
forma (Renato Brasileiro):
INFORMATIVO esquematizado
a) Medidas cautelares de natureza probatória (ex: prova antecipada);
b) Medidas cautelares de natureza pessoal (prisão preventiva);
c) Medidas cautelares de natureza patrimonial (sequestro, hipoteca legal, arresto).

Medidas cautelares de natureza patrimonial


As medidas cautelares de natureza patrimonial (medidas assecuratórias em sentido estrito)
têm como objetivo garantir que o acusado não se desfaça de seu patrimônio e, assim, se for
definitivamente condenado, possa arcar com os efeitos secundários extrapenais genéricos
da condenação, previstos no art. 91 do CP (indenização quanto aos danos causados pelo
crime e perda em favor da União dos instrumentos, produtos e proveitos do delito).
O sequestro é uma das medidas cautelares de natureza patrimonial.

Sequestro (arts. 125 a 133 do CPP)


Conceito
Sequestro é a retenção de bens adquiridos com os proventos (lucros) do crime.
Ex: apartamento adquirido pelo réu com o dinheiro obtido pela corrupção passiva.

Art. 125. Caberá o sequestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos
da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
Art. 132. Proceder-se-á ao sequestro dos bens móveis se, verificadas as condições previstas
no art. 126, não for cabível a medida regulada no Capítulo Xl do Título Vll deste Livro (será
cabível sequestro de bens móveis se não for caso de “busca e apreensão”).

A lei não prevê o sequestro do produto do crime (vantagem direta), uma vez que para esse
fim já prevê a busca e apreensão. Ex: ladrão de diamante. Haverá a busca e apreensão
desse diamante para servir de prova na instrução criminal. Se o meliante já tiver vendido o
produto do crime e comprado um apartamento, este bem imóvel será sequestrado.

Momento:
O juiz poderá ordenar o sequestro em qualquer fase do processo ou ainda antes de
oferecida a denúncia ou queixa (art. 127, CPP).

O juiz pode decretar o sequestro inaudita altera pars, ou seja, antes de ouvir o investigado
ou réu?
SIM. Não acarreta nulidade o deferimento de medida cautelar patrimonial de sequestro
sem anterior intimação da defesa. Na hipótese de sequestro, o contraditório será diferido
em prol da integridade do patrimônio e contra a sua eventual dissipação. Nesse caso, não se
caracteriza qualquer cerceamento à defesa, que tem a oportunidade de impugnar a
determinação judicial, utilizando os instrumentos processuais previstos na lei para tanto.

Defesa:
Após ser decretado o sequestro, o acusado poderá opor embargos (art. 130, I, do CPP).
Além disso, também são permitidos os embargos de terceiro (art. 130, II, do CPP).
Processo Sexta Turma. RMS 30.172-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
Tribunal do Júri (lista de jurados)

De acordo com o § 4º do art. 426 do CPP, não pode ser incluída na lista geral de jurados a
pessoa que tenha integrado Conselho de Sentença nos doze meses que antecederem à
publicação da lista.

Assim, deve ser reconhecida a nulidade absoluta de ação penal, desde a sessão de julgamento
em Tribunal do Júri, na hipótese em que um dos jurados do Conselho de Sentença tenha
integrado o júri de outro processo nos 12 meses que antecederam à publicação da lista geral
de jurados, considerando que o placar da votação tenha sido o de quatro a três em favor da
condenação do réu, ainda que a defesa tenha deixado de consignar a insurgência na ata de
julgamento da sessão.
Comentários “Jurado profissional”
O § 4º do art. 426 do CPP estabelece o seguinte:
§ 4º O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que
antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído.

O objetivo deste dispositivo, alterado pela Lei n. 11.689/2008, foi o de evitar o chamado
“jurado profissional”, ou seja, aquele indivíduo que todos os anos integrava a lista de
jurados. Isso era considerado nocivo porque acabava fazendo com que esta pessoa
adquirisse certos “vícios” e ideias pré-concebidas sobre os réus, defesa e acusação.

Desse modo, se uma pessoa tiver integrado o Conselho de Sentença (grupo de 7 jurados
que julga o caso), ela não poderá ser novamente sorteada para a lista geral de jurados pelo
período de 1 ano.

Lista geral de jurados


A lista geral de jurados é publicada anualmente, nos termos do art. 425 do CPP:
Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800
(oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um
milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de
100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor
população.

População da comarca Jurados alistados


Mais de 1 milhão de habitantes De 800 a 1.500 jurados
Mais de 100 mil e menos de 1 milhão De 300 a 700 jurados
Menos de 100 mil De 80 a 400 jurados

§ 2º O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro,


entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos,
repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as
condições para exercer a função de jurado.

No caso julgado pelo STJ, o jurado “X” havia integrado o Conselho de Sentença de outro
processo nos 12 meses que antecederam à publicação da lista geral de jurados. Logo, ele
não poderia figurar nesta nova lista. Apesar disso, ele fez parte e foi sorteado para integrar
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o júri.
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INFORMATIVO esquematizado
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publicada
pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta
do Tribunal do Júri.

Caso concreto julgado pelo STJ


No julgamento, o réu foi condenado, tendo o placar sido de 4 x 3.

Tratando-se de nulidade absoluta, é cabível o seu reconhecimento, mesmo que o advogado


do réu não tenha feito a impugnação no momento do júri e que isso não tenha sido
registrado na ata de julgamento da sessão.

Além do mais, é evidente o prejuízo ao réu, diante de uma condenação apertada, pelo
placar de quatro a três, tendo em vista que há possibilidade de o voto do jurado impedido
ter sido decisivo na condenação.

Logo, o STJ reconheceu que houve nulidade absoluta no caso e anulou o júri realizado.
Processo Sexta Turma. HC 177.358-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2013.

Nulidade

Não é nulo o julgamento colegiado de mandado de segurança por ausência de sustentação oral
no caso em que a defesa pede seu adiamento apenas na véspera da sessão, declinando, para
tanto, a necessidade de estar presente em outro compromisso profissional do qual já tinha
conhecimento há mais de um mês.
Comentários O réu impetrou, no TRF, mandado de segurança contra uma decisão do juiz federal em um
processo criminal. Na véspera do julgamento do MS, o advogado do acusado enviou um fax
ao Tribunal pedindo o adiamento da sessão pelo fato de que teria que participar de outro
compromisso profissional. Alegou ainda que o julgamento não poderia ser realizado sem a
sua presença porque gostaria de fazer sustentação oral. O Tribunal indeferiu o adiamento e,
quanto ao mérito, julgou improcedente o MS. Contra esta decisão, o réu interpôs recurso
ordinário ao STJ (art. 105, II, b, da CF/88) arguindo a nulidade do julgamento pelo fato de
não ter sido adiado para a sustentação oral de seu advogado. O que decidiu a Corte?
O STJ entendeu que não é nulo o julgamento colegiado de mandado de segurança por
ausência de sustentação oral no caso em que a defesa pede seu adiamento apenas na
véspera da sessão, declinando, para tanto, a necessidade de estar presente em outro
compromisso profissional do qual já tinha conhecimento há mais de um mês.
Em primeiro lugar, é facultativo o deferimento do pedido de adiamento da apreciação de
processo por órgão colegiado.
Além disso, não é possível acolher o referido pedido sem que se apresente motivação
adequada, apta a demonstrar a efetiva necessidade de modificação da pauta, o que não
ocorre na hipótese em que o requerente, incidindo em clara desídia, sequer apresenta sua
motivação em tempo hábil, não diligenciando nem mesmo em prol da apreciação
tempestiva da petição pelo relator do processo.
Por fim, é de destacar que, de acordo com o art. 565 do CPP, nenhuma das partes poderá
arguir nulidade a que haja dado causa, ou para a qual tenha concorrido.
Processo Sexta Turma. RMS 30.172-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
Suspensão condicional do processo

Dois julgamentos em destaque:

1) O que acontece se o Promotor de Justiça se recusa a oferecer a proposta e o juiz entender


que o acusado preenche os requisitos legais para a obtenção do benefício?

A posição majoritária é expressa na Súmula 696-STF:


Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.

Neste julgado da 5ª Turma do STJ, entendeu-se que, se perceber que os fundamentos utilizados
pelo Ministério Público para negar o benefício são insubsistentes e que o acusado preenche os
requisitos especiais previstos no art. 89 da Lei n. 9.099/95, o próprio juiz deverá oferecer a
proposta de suspensão condicional do processo ao acusado.

Vale ressaltar que existem julgados do STJ também aplicando a Súmula 696-STF, sendo o
precedente divulgado neste Informativo um caso isolado. Portanto, o entendimento
majoritário, para fins de concurso, é a posição do STF.

2) O benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado mesmo após ter
transcorrido o prazo do período de prova?
SIM. O STF e o STJ entendem que o benefício da suspensão condicional do processo pode ser
revogado mesmo após o período de prova, desde que os fatos ensejadores da revogação
tenham ocorrido antes do término do período de prova.
Conceito Conceito
Suspensão condicional do processo é:
- um instituto despenalizador
- oferecido pelo MP ou querelante ao acusado
- que tenha sido denunciado por crime cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano
- e que não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime,
- desde que presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da
pena (art. 77 do Código Penal)

Previsão
A suspensão condicional do processo está prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95. No
entanto, vale ressaltar que não se aplica apenas aos processos do juizado especial
(infrações de menor potencial ofensivo), mas sim em todos aqueles cuja pena mínima seja
igual ou inferior a 1 ano, podendo, portanto, a pena máxima ser superior a 2 anos.

Requisitos
Para que seja possível a proposta de suspensão condicional do processo é necessário o
preenchimento dos seguintes requisitos:
1) O réu deve estar sendo acusado por crime cuja pena mínima é igual ou inferior a 1 ano;
2) O réu não pode estar sendo processado ou ter sido condenado por outro crime;
3) Devem estar presentes os demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da
pena, previstos no art. 77 do Código Penal.
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Observações quanto ao primeiro requisito:


Página

Neste cálculo da pena, incluem-se eventuais qualificadoras, privilégios, causas de

INFORMATIVO esquematizado
aumento e de diminuição;
Súmula 723-STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo
de um sexto for superior a um ano.
Súmula 243-STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às
infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade
delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da
majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.
Aplica-se também nos casos em que a pena cominada for só de multa (STF HC 83.926) e
também nas hipóteses em que a pessoa for acusada da prática de contravenção penal.
Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não é possível
suspensão condicional do processo mesmo que a pena seja igual ou inferior a 1 ano.

Período de prova
Caso o acusado aceite a proposta, o processo ficará suspenso, pelo prazo de 2 a 4 anos
(período de prova), desde que ele aceite cumprir determinadas condições.
Período de prova é, portanto, o prazo no qual o processo ficará suspenso, devendo o
acusado cumprir as condições impostas neste lapso temporal. O período de prova é
estabelecido na proposta de suspensão e varia de 2 até 4 anos.

Condições impostas ao acusado


O acusado que aceitar a proposta de suspensão condicional do processo deverá se
submeter às condições impostas pela lei e a outras que podem ser fixadas pelo juízo.

Condições legais a que o acusado deverá se submeter:


I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar
suas atividades;
V - não ser processado por outro crime ou contravenção.

Outras condições
O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado (2º do art. 89).

Recusa do membro do MP em oferecer a proposta


O que acontece se o Promotor de Justiça se recusa a oferecer a proposta e o juiz entender
que o acusado preenche os requisitos legais para a obtenção do benefício?

Posição do STF (majoritária) Julgado do STJ divulgado neste Info 513


O juiz, aplicando por analogia o art. 28 do Se perceber que os fundamentos utilizados
CPP, deverá remeter os autos ao pelo Ministério Público para negar o
Procurador-Geral de Justiça, comunicando benefício são insubsistentes e que o acusado
as razões pelas quais discorda da recusa do preenche os requisitos especiais previstos no
membro do MP em oferecer a proposta. art. 89 da Lei n. 9.099/95, o próprio juiz
O PGJ irá decidir se os motivos da recusa deverá oferecer a proposta de suspensão
são pertinentes ou não. condicional do processo ao acusado. Isso se
30

Caso o PGJ entenda que o acusado não justifica porque a suspensão condicional do
tenha realmente direito ao benefício, o juiz processo representa um direito subjetivo
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nada mais poderá fazer, não podendo o do acusado na hipótese em que atendidos

INFORMATIVO esquematizado
próprio magistrado formular a proposta. os requisitos previstos na Lei. Tendo em
Se entender que o acusado tem direito ao vista que a proposta de suspensão é de
benefício, o PGJ determinará que outro interesse público, ela não pode ficar ao
membro do MP ofereça a proposta. alvedrio do MP.
Súmula 696-STF: Reunidos os pressupostos STJ. HC 131.108-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi,
legais permissivos da suspensão julgado em 18/12/2012.
condicional do processo, mas se recusando
o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz,
dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por
analogia o art. 28 do Código de Processo
Penal.

Vale ressaltar que existem julgados do STJ também aplicando a Súmula 696-STF, sendo o
precedente divulgado neste Informativo um caso isolado. Ademais, para a maioria, a
suspensão condicional do processo não é um direito subjetivo do acusado, mas sim um
poder-dever do Ministério Público (STJ. HC 218.785/PA). Portanto, o entendimento
majoritário, para fins de concurso, é a posição do STF.

Cumprimento das condições no período de prova


Imagine que o MP formulou a proposta de suspensão condicional do processo, tendo ela
sido aceita pelo acusado. Durante o período de prova, o réu cumpriu corretamente todas as
condições impostas. O que acontecerá?
O juiz irá proferir uma sentença declarando extinta a punibilidade do acusado (§ 5º do art.
89 da Lei n. 9.099/95).

Revogação da suspensão
E o que acontece caso o réu descumpra alguma condição durante o período de prova? É
possível que o benefício seja revogado?
SIM. A Lei prevê que, em caso de descumprimento de alguma condição imposta, deverá
haver a revogação do benefício. Dependendo da condição que foi descumprida, esta
revogação pode ser obrigatória ou facultativa. Vejamos:

Revogação obrigatória Revogação facultativa


A suspensão será obrigatoriamente A suspensão poderá ser revogada pelo juiz se:
revogada se, no curso do prazo:
a) o beneficiário vier a ser processado por a) o acusado vier a ser processado, no
outro crime; ou curso do prazo, por contravenção, ou
b) não efetuar, sem motivo justificado, a b) descumprir qualquer outra condição
reparação do dano. imposta.

A suspensão condicional do processo pode ser revogada após o período de prova?


O benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado mesmo após ter
transcorrido o prazo do período de prova?
SIM. O STF e o STJ entendem que o benefício da suspensão condicional do processo pode
ser revogado mesmo após o período de prova, desde que os fatos ensejadores da
revogação tenham ocorrido antes do término do período de prova.
31

Ex: Rafael foi denunciado pela prática do crime de descaminho (art. 334, caput, do CP).
Como a pena mínima deste delito é igual a 1 ano, o MP, na denúncia, ofereceu proposta de
Página

suspensão condicional do processo. O juiz recebeu a denúncia, designou audiência e neste

INFORMATIVO esquematizado
ato, o denunciado, acompanhado de seu advogado, aceitou a proposta em 05/05/2005 pelo
período de prova de 2 anos (ou seja, até 05/05/2007). Em 04/05/2007, Rafael praticou uma
lesão corporal e foi denunciado apenas 2 meses depois. Indaga-se: tomando conhecimento,
em 05/06/2007, do novo crime praticado por Rafael, poderá o juiz revogar a suspensão
concedida, mesmo já tendo passado o período de prova?
R: SIM, porque o fato que motivou a revogação ocorreu antes do término do período de
prova. Logo, o processo de descaminho retomará seu curso normal.

Obs: se Rafael tivesse praticado a lesão corporal no dia 06/05/2007, não poderia ser
revogada a suspensão e haveria extinção da punibilidade quanto ao delito de descaminho.

Desse modo, o simples fato de ter expirado o prazo de prova sem revogação não significa
que, automaticamente, a punibilidade do réu será extinta. Será necessário verificar se
houve algum descumprimento das condições durante o período.
Processos Quinta Turma. HC 131.108-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/12/2012.
Sexta Turma. HC 208.497-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 11/12/2012.

Execução penal

Em regra, não é cabível a impetração de habeas corpus em substituição


à utilização de agravo em execução.
Excepcionalmente, pode-se admitir o habeas corpus substitutivo de agravo em execução se o
ato impugnado consistir em uma ilegalidade manifesta relacionada com matéria de direito,
cuja constatação seja evidente e independa de qualquer análise probatória.
Comentários O que é o habeas corpus substitutivo?
Habeas corpus substitutivo consiste na possibilidade de o réu optar por impetrar habeas
corpus, dirigido à instância superior, ao invés de interpor o recurso próprio.
Na prática, os advogados preferem valer-se do HC substitutivo, sendo este mais simples e
rápido que o recurso.

O habeas corpus substitutivo é admitido pela jurisprudência?


STJ e 1ª Turma do STF: NÃO admitem. 2ª Turma do STF: ADMITE
Sustentam que não é possível a impetração Afirma que a eventual existência de
de habeas corpus substitutivo de recurso recurso cabível não constitui óbice à
próprio, mas que, se a ilegalidade exposta impetração de habeas corpus, desde que o
for flagrante, ou então a decisão combatida direito-fim se identifique direta ou
for teratológica, é possível que o Tribunal imediatamente com a liberdade de
conceda habeas corpus de ofício. locomoção física do paciente.

Qual é o recurso cabível contras as decisões proferidas pelo juízo das execuções penais?
R: agravo em execução (art. 197 da LEP).

Se o juízo das execuções profere uma decisão contrária ao réu, é possível que este impetre
um habeas corpus ao invés do agravo em execução? É possível o habeas corpus substitutivo
na execução penal?
NÃO. Em regra, não é cabível a impetração de habeas corpus em substituição à utilização de
agravo em execução.
Excepcionalmente, pode-se admitir o habeas corpus substitutivo de agravo em execução se
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o ato impugnado consistir em uma ilegalidade manifesta relacionada com matéria de


direito, cuja constatação seja evidente e independa de qualquer análise probatória.
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Processo Sexta Turma. HC 238.422-BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder público, de
gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato comissivo, de efeitos permanentes,
e não de trato sucessivo, razão pela qual a impetração de mandado de segurança para impugnar o ato
deve ocorrer no prazo de cento e vinte dias contados da sua edição. ( )
2) (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) O STJ entende que, se for estipulada cláusula penal moratória, a parte
que inadimplir o contrato não terá a obrigação de indenizar lucros cessantes. ( )
3) (Juiz TJPB 2011 – CESPE) Estipulada cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, o
credor poderá exigir cumulativamente do devedor a pena convencional e o adimplemento da
obrigação. ( )
4) (Juiz TJES 2012 – CESPE) Ainda que possível cláusula penal compensatória estipulada para o caso de a
inexecução ser insuficiente para compensar os prejuízos sofridos, não será lícito ao contratante ajuizar
ação buscando perdas e danos. ( )
5) (DPE/AM 2013 – FCC) De acordo com entendimento sumulado, reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la,
o Juiz, dissentindo, poderá propô-la de ofício. ( )
6) (Juiz Federal TRF2 2013 – CESPE) A suspensão condicional do processo pode ser concedida para cada
crime isoladamente, desde que para cada um deles, individualmente, a pena mínima cominada não
seja superior a um ano, mesmo que o somatório das penas ultrapasse esse limite. ( )
7) (Juiz TJDF 2012) A suspensão condicional do processo é um direito público subjetivo do acusado e não
um poder-dever do Ministério Público. ( )
8) (AGU 2012 – CESPE) De acordo com a jurisprudência do STJ, o instituto da suspensão condicional do
processo corresponde a um poder-dever do MP, não sendo, pois, direito público subjetivo do acusado. ( )
9) (OAB IX 2012 – FGV) Se, no curso da suspensão condicional do processo, o acusado vier a ser
processado por contravenção penal, o benefício poderá ser revogado pelo juiz. ( )
10) (Juiz Federal TRF2 2013 – CESPE) A suspensão condicional do processo poderá ser revogada se o
acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção penal. ( )
11) (DPE/TO 2013 – CESPE) A suspensão condicional do processo, após o término do período de prova, sem
revogação, enseja a automática decretação da extinção da punibilidade do acusado. ( )
12) (Juiz TJDF 2012) O benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado mesmo após o
período de prova, desde que motivado por fatos ocorridos até o seu término. ( )
13) (MP/RR 2012 – CESPE) Ao juiz impõe-se o dever de revogar o benefício da suspensão condicional do
processo caso o beneficiário seja processado pela prática de outro crime no curso da sobredita medida
processual, considerando, para tanto, o simples oferecimento da peça acusatória como marco para a
revogação obrigatória e irreversível da medida, ainda que o acusado seja absolvido no segundo feito. ( )

Questão discursiva
(Promotor MP/ES – 2005) Disserte sobre a liquidação imprópria.

Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C 5. E 6. E 7. E 8. C 9. C 10. C
11. E 12. C 13. E (vide STJ HC 162.618/SP)
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 514 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.230.532-DF; REsp 1.308.878-RJ; AgRg nos EDcl
no AREsp 254.007-RS; REsp 1.263.500-ES.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Prazo prescricional para pleitear indenização por férias não gozadas

Se um servidor público federal passar à inatividade no serviço público, o prazo prescricional


para pleitear indenização referente a férias não gozadas por ele tem início na data da sua
inatividade. Isso porque o termo inicial do prazo prescricional para pleitear indenização
referente a férias não gozadas inicia-se com a impossibilidade de o servidor usufruí-las.
Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 255.215-BA, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/12/2012.

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR


(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

Reforma por invalidez

Para que seja concedida a reforma por invalidez de militar, é necessário que fique
demonstrada a incapacidade para o serviço castrense e que esta incapacidade seja decorrente
de doença surgida durante o período de prestação do serviço militar.
No entanto, não se exige que a moléstia incapacitante tenha sido causada pelo serviço militar.
Comentários Segundo entende o STJ, o militar temporário ou de carreira que, por motivo de doença ou
acidente em serviço, tornou-se definitivamente incapacitado para o serviço ativo das Forças
Armadas, faz jus à reforma, sendo desnecessária a existência do nexo causal entre esta
moléstia e o serviço castrense.
Para que seja concedida a reforma basta que a enfermidade tenha se manifestado durante
o período de prestação do serviço militar.
Processo Quinta Turma. AgRg no REsp 980.270-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/12/2012.
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DIREITO CIVIL

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Plano de saúde: prazo prescricional para ressarcimento de tratamento recusado pelo plano

O plano de saúde recusou-se a custear o tratamento do paciente e este foi obrigado a pagar o
procedimento. De quanto é o prazo prescricional para que este paciente exija do plano de
saúde o ressarcimento pelos valores pagos?
R: 10 anos

Não há previsão específica de prazo prescricional para este caso.


Logo, aplica-se a regra geral de 10 anos prevista no art. 205 do CC.
Comentários Marcos precisou fazer uma cirurgia cardíaca para a implantação de stent, no entanto, seu
plano de saúde não autorizou o procedimento, alegando que não estava incluído na
cobertura contratual. Diante disso, o paciente pagou 6 mil reais pela cirurgia.

Marcos deseja agora ingressar com uma ação de ressarcimento contra o plano de saúde.
Qual é o prazo prescricional para este tipo de demanda?
10 anos.

A relação jurídica em tela é de natureza contratual. Logo, não se aplica o prazo de 3 anos
previsto no art. 206, § 3º, V, do CC, pois este é destinado aos casos de responsabilidade
extracontratual ou aquiliana:
Art. 206. Prescreve:
§ 3º Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;

De igual forma, não se aplica o prazo de 1 ano previsto no art. 206, § 1º, II, do CC, uma vez
que, segundo o STJ, a causa de pedir no presente caso não decorre de contrato de seguro,
mas sim da prestação de serviço de saúde, que deve receber tratamento próprio e não
pode ser equiparado a um contrato de seguro:
Art. 206. Prescreve:
§ 1º Em um ano:
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado
para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a
este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

Desse modo, não havendo previsão legal específica de prazo prescricional para demandas
envolvendo prestação de serviços de saúde, deve-se aplicar a regra geral de prescrição
prevista no art. 205 do CC:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Processo Terceira Turma. REsp 1.176.320-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 19/2/2013.

Compra e venda

Para que a venda de ascendente para descendente seja anulada (art. 496 do CC), é
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imprescindível que o autor da ação anulatória comprove, no caso concreto, a efetiva


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ocorrência de prejuízo aos herdeiros necessários, não se admitindo a alegação de prejuízo


presumido. Isso porque este negócio jurídico não é nulo (nulidade absoluta), mas sim

INFORMATIVO esquematizado
meramente anulável (nulidade relativa).

Logo, não é possível ao magistrado reconhecer a procedência do pedido no âmbito de ação


anulatória da venda de ascendente a descendente com base apenas em presunção de prejuízo
decorrente do fato de o autor da ação anulatória ser absolutamente incapaz quando da
celebração do negócio por seus pais e irmão.
Comentários Contrato de compra e venda
Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de
certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro (art. 481 do CC).

Restrições à compra e venda


O Código Civil prevê quatro situações em que a liberdade de comprar e vender é
restringida. São elas:

a) Venda de ascendente Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os


a descendente outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido.
b) Compra por pessoas Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em
que estão exercendo hasta pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens
certos encargos confiados à sua guarda ou administração;
II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa
jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou
indireta;
III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros
serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se
litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se
estender a sua autoridade;
IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam
encarregados.
c) Venda a cônjuge Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens
excluídos da comunhão.
d) Venda por condômino Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte
de coisa indivisível a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a
quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço,
haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de 180
dias, sob pena de decadência.

Este julgado trata sobre a venda de ascendente a descendente. Vamos estudar um pouco
mais sobre isso:

VENDA DE ASCENDENTE A DESCENDENTE

Previsão no Código Civil


Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros
descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.
Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime
de bens for o da separação obrigatória.

Finalidade da restrição:
O objetivo da previsão é o de resguardar o princípio da igualdade das cotas legítimas contra
eventual simulação.
Quando a pessoa morre, a metade da herança do falecido (chamada de “legítima”) deve
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ser, obrigatoriamente, dividida entre os herdeiros necessários (art. 1.789 do CC). No que se
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refere à “legítima”, um herdeiro necessário não pode receber mais que o outro.
Este art. 496 tem por objetivo evitar que o patriarca/matriarca, antes de morrer, simule que
INFORMATIVO esquematizado
está vendendo bens valiosos para um de seus filhos (herdeiro necessário), quando, na
verdade, ele está doando. Isso porque se ele vender o bem para este filho (por um preço
irrisório, por exemplo), ele estará beneficiando este descendente em detrimento dos
demais. O ascendente estará violando o princípio da igualdade das cotas legítimas.

Natureza: a venda sem observância desse artigo é anulável (nulidade relativa).

Móveis ou imóveis: a restrição abrange tanto a venda de bens imóveis quanto móveis.

Este artigo não se aplica no caso de doação:


No caso de doação de ascendente para descendente não é necessário consentimento dos
outros descendentes. Isso porque aquilo que o ascendente doou para o descendente será
considerada como “adiantamento da legítima”, ou seja, um adiantamento do que o
donatário iria receber como herdeiro no momento em que o doador morresse.
Assim, em caso de doação, não há necessidade desse consentimento porque, futuramente,
quando da morte do doador, o herdeiro/donatário deverá trazer o bem à colação, com a
finalidade de igualar as legítimas. Quando se diz que ele trará o bem à colação, significa
dizer que este bem doado será calculo, no momento do inventário, como sendo parte da
legítima recebida pelo herdeiro.
No caso de venda, o herdeiro/comprador não precisa trazer à colação o bem quando o
ascendente/vendedor morrer. Em outras palavras, aquele bem “comprado” não será
descontado do valor que o herdeiro tem a receber como herança. Justamente por isso é
indispensável a fiscalização e anuência por parte dos demais herdeiros quanto ao preço, a
fim de evitar que esta venda seja apenas simulada para enganá-los.

Descendentes: os descendentes que devem anuir à venda são aqueles que figuram como
herdeiros imediatos ao tempo da celebração do contrato.

Cônjuge do vendedor: o CC não exige a anuência do cônjuge do comprador, somente do


cônjuge do vendedor (cuidado com essa “pegadinha” em uma prova objetiva).

Regime de bens:
O art. 496, parágrafo único, dispensa o consentimento do cônjuge se o regime for o da
separação obrigatória:
“Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime
de bens for o da separação obrigatória.”

Já o art. 1.647, I, dispensa o assentimento do cônjuge para a alienação se o regime for o da


separação absoluta:
“Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;”

Separação obrigatória é o mesmo que separação absoluta? Há diferença entre essas duas
expressões?

Separação obrigatória: é aquela imposta por lei, sendo sinônimo de separação legal.
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;
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II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;


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III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

INFORMATIVO esquematizado
O que significa separação absoluta?
2ª corrente:
1ª corrente:
Separação absoluta (gênero):
Separação absoluta = separação convencional
Separação convencional
Separação absoluta ≠ separação legal/obrigat
Separação legal (obrigatória)
A separação absoluta é apenas a separação A separação absoluta é tanto a separação
convencional (estipulada pelas partes – art. obrigatória (legal) como a separação
1.687 do CC). convencional (estipulada pelas partes).
Para esta corrente, a Súmula 377 do STF Separação absoluta é um gênero e abrange
continua em vigor: “No regime de tanto a hipótese do art. 1.641 (legal) como
separação legal de bens, comunicam-se os a convencional (estipulada
adquiridos na constância do casamento.” voluntariamente pelas partes).
Logo, na separação legal (ou obrigatória), Para esta corrente, a Súmula 377 do STF
comunicam-se os bens havidos pelos não está mais em vigor.
cônjuges durante o casamento pelo
esforço comum. Já na separação absoluta
(convencional), não há esta comunicação.
Assim, somente haverá separação absoluta
(incomunicável) na separação convencional.
É a posição de Tartuce, Rolf Madaleno, É a posição de Silvio Rodrigues, Francisco
Cristiano Chaves, sendo amplamente Cahali e Inácio de Carvalho Neto.
majoritária. Parece ser também o
entendimento do STJ (REsp 1163074/PB).

Voltando à análise do art. 496:


É necessária a autorização do companheiro do vendedor no caso de união estável?
NÃO. Não há necessidade de autorização do companheiro para os referidos atos (outorga
convivencial). Segundo a doutrina, o art. 496 é uma norma restritiva de direitos, que não
pode ser aplicada por analogia aos casos de união estável.

Herdeiros menores: se houver herdeiros menores, a anuência destes deverá ser dada por
curador especial, nomeado pelo juiz por meio de alvará judicial.

E se um dos herdeiros não concordar?


Para a maioria da doutrina, nesse caso, pode o alienante recorrer ao Poder Judiciário para
obter um suprimento judicial, em caso de recusa injustificada. Trata-se de analogia uma vez
que não há regra expressa.

De que forma os herdeiros devem dar o consentimento à venda?


Utiliza-se o art. 220 do CC. Assim, segundo este dispositivo legal, a anuência ou a
autorização de outrem, necessária à validade de um ato, provar-se-á do mesmo modo que
este, e constará, sempre que se possa, do próprio instrumento.
Logo, tratando-se de bem imóvel superior a 30 salários-mínimos, esta anuência deve ser feita
por meio de escritura pública. Já no caso de bens móveis, não há, em regra, esta exigência.
De qualquer modo, este consentimento deve ser expresso, não valendo se for tácito.

Consequências pelo fato de a venda ser meramente anulável:


Poderá ser ratificada posteriormente, mesmo tendo sido feita sem o consentimento;
O juiz não pode decretar de ofício esta anulabilidade;
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O oficial de Registro de Imóveis não pode se opor ao registro (deixar de registrar a


transferência do domínio), suscitando a falta de anuência dos demais herdeiros.

INFORMATIVO esquematizado
O descendente que não anuiu pode ingressar com ação anulatória da venda mesmo quando
o ascendente/vendedor ainda não faleceu?
R: Sim. Está cancelada a súmula 152 do STF: A ação para anular venda de ascendente a
descendente, sem consentimento dos demais, prescreve em quatro anos a contar da
abertura da sucessão.

Desse modo, vigora o termo inicial de prescrição previsto na súmula 494 do STF:
Súmula 494-STF: A ação para anular venda de ascendente a descendente, sem
consentimento dos demais, prescreve em vinte anos, contados da data do ato, revogada a
súmula 152.

Vale ressaltar, no entanto, que o prazo previsto nessa súmula foi revogado e agora é de 2
anos (prazo decadencial), contados da data do ato, nos termos do art. 179 do CC:
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para
pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.

Legitimidade para a ação anulatória: somente os descendentes e o cônjuge do alienante. O


MP não possui.

Requisitos para que haja a anulação (STJ REsp 953.461/SC):


a) Venda de ascendente para descendente;
b) falta de consentimento dos outros descendentes ou do cônjuge do vendedor;
c) configuração de simulação, consistente em doação disfarçada ou, alternativamente, a
demonstração de prejuízo;
d) ação ajuizada pelo herdeiro prejudicado.

Neste julgado, o STJ reafirmou que, para que a venda de ascendente para descendente seja
anulada (art. 496 do CC), é imprescindível que o autor da ação anulatória comprove, no
caso concreto, a efetiva ocorrência de prejuízo aos herdeiros necessários, não se admitindo
a alegação de prejuízo presumido.
Assim, na situação julgada pelo STJ, o autor da ação alegava que a venda deveria ser
anulada pelo simples fato de que, quando este negócio jurídico ocorreu, ele era menor e,
portanto, absolutamente incapaz. No entanto, fora esta alegação genérica, não provou
nenhum prejuízo, razão pela qual a venda não foi anulada (REsp 1.211.531-MS).

O que significa a expressão “em ambos os casos” no parágrafo único do referido art. 496?
Esta expressão deve ser desconsiderada, pois houve erro de tramitação, sendo certo que o
projeto original da codificação trazia no caput tanto a venda de ascendente para
descendente quanto a venda de descendente para ascendente, apontando a necessidade
da referida autorização nos dois casos. Porém, a segunda hipótese (venda de descendente
para ascendente) foi retirada do dispositivo. Mas esqueceu-se, no trâmite legislativo, de
alterar o parágrafo único.

O consentimento dos herdeiros e do cônjuge é ainda necessário: na permuta desigual, na


dação em pagamento, no compromisso de compra e venda, na cessão onerosa de direitos
hereditários, e em outros negócios onde for possível a fraude. Caso não haja, o negócio é
anulável.
Obra TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Vol. 3. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie. 6ª
6

consultada ed., São Paulo: Método, 2011.


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Processo Quarta Turma. REsp 1.211.531-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/2/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

Regime de tributação do ISS sobre os serviços notariais e registrais

Os “serviços de registros públicos, cartorários e notariais” não gozam de imunidade tributária,


devendo pagar, portanto, o ISS.
ATENÇÃO A regra geral é que a base de cálculo do ISS é o preço do serviço (art. 7º, LC 116/2003).
O § 1º do art. 9º do DL n.° 406/68 traz uma exceção a essa regra e prevê que os contribuintes que
prestam serviço sob a forma de trabalho pessoal (pessoas físicas) têm direito ao regime do
chamado “ISSQN Fixo”, segundo o qual é fixada uma alíquota sem relação com o preço do serviço.
Para o STJ, NÃO SE APLICA à prestação de serviços de registros públicos cartorários e notariais
a sistemática de recolhimento de ISS prevista no § 1º do art. 9º do DL 406/68.
Desse modo, os serviços notariais e registrais sofrem a incidência do ISS e a base de cálculo do
imposto é o preço do serviço, ou seja, o valor dos emolumentos.
Serviços A Lei Complementar n.° 116/2003 previu que os “serviços de registros públicos, cartorários
notariais e e notariais” deveriam sofrer a tributação de ISS (item 21 da lista de serviços anexa).
registrais A Associação dos Notários e Registradores do Brasil – ANOREG ingressou, então, com uma
estão ADI no STF questionando esta tributação.
sujeitos ao A Corte Suprema julgou improcedente a ação:
ISS (...) As pessoas que exercem atividade notarial não são imunes à tributação, porquanto a
circunstância de desenvolverem os respectivos serviços com intuito lucrativo invoca a
exceção prevista no art. 150, § 3º da Constituição. O recebimento de remuneração pela
prestação dos serviços confirma, ainda, capacidade contributiva. A imunidade recíproca é
uma garantia ou prerrogativa imediata de entidades políticas federativas, e não de
particulares que executem, com inequívoco intuito lucrativo, serviços públicos mediante
concessão ou delegação, devidamente remunerados. Não há diferenciação que justifique a
tributação dos serviços públicos concedidos e a não-tributação das atividades delegadas.
Ação Direta de Inconstitucionalidade conhecida, mas julgada improcedente.
(ADI 3089, Relator p/ Acórdão: Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, julgado em 13/02/2008)

No referido julgamento não foram discutidas, pelo menos de forma explícita, a base de
cálculo e a alíquota do ISS que deveriam incidir sobre os referidos serviços.

Como regra geral, a base de cálculo do ISS sobre a qual incide a alíquota é o preço do
serviço (art. 7º, da LC 116/2003). Com fundamento nisso, os Municípios, em geral, têm
cobrado o ISS dos serviços notariais e registrais aplicando a alíquota sobre o valor dos
emolumentos.

Emolumento é o valor pago pelo usuário do serviço pelos atos praticados na serventia
notarial e de registro. Ex: o tabelionato de notas do Estado X cobra 2 reais a título de
emolumentos pelo serviço notarial de autenticação de documentos.

Desse modo, os municípios têm cobrado a alíquota do ISS (normalmente 5%), valendo-se
como base de cálculo o valor dos emolumentos. Em nosso exemplo, os 5% de ISS seriam
cobrados sobre os 2 reais de emolumentos.

Os titulares das serventias não concordam com este parâmetro e defendem que fazem jus
ao regime especial de tributação previsto no § 1º do art. 9º, do Decreto-Lei n.° 406/68.
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Regime A regra geral é que a base de cálculo do ISS é o preço do serviço (art. 7º, LC 116/2003).
Página

especial de O § 1º do art. 9º do DL n.° 406/68 traz uma exceção a essa regra e prevê que os
tributação contribuintes que prestam serviço sob a forma de trabalho pessoal (pessoas físicas) têm

INFORMATIVO esquematizado
do ISS direito ao regime do chamado “ISSQN Fixo”, segundo o qual é fixada uma alíquota sem
previsto no relação com o preço do serviço. Vejamos o que diz o DL n. 406/68:
DL 406/68 Art. 9º A base de cálculo do imposto é o preço do serviço.
§ 1º Quando se tratar de prestação de serviços sob a forma de trabalho pessoal do próprio
contribuinte, o imposto será calculado, por meio de alíquotas fixas ou variáveis, em função
da natureza do serviço ou de outros fatores pertinentes, nestes não compreendida a
importância paga a título de remuneração do próprio trabalho.

Segundo a tese sustentada pelos serventuários, os serviços registrais e notariais são


considerados “trabalho pessoal”, uma vez que atendem às seguintes características:
a) Exigem-se conhecimentos intelectuais pessoais para o exercício de tais atividades, como
a formação jurídica e a habilitação em concurso (art. 14, Lei n.° 8.935/94);
b) A serventia não possui personalidade jurídica ou judiciária, não sendo empresa;
c) O titular da serventia assume responsabilidade pessoal pelo serviço prestado.

Vale ressaltar que esse regime de “ISSQN Fixo” do DL n. 406/68 foi previsto para ajudar as
pessoas que exercem “trabalho pessoal”, sendo muito mais vantajoso que a regra geral.
Assim, na prática, se fosse acolhido o entendimento dos notários e registradores, ele iriam
pagar, em regra, menos ISS.
Argumentos As Fazendas Públicas municipais refutam a tese dos notários e registradores, ancorando-se
da Fazenda em duas vigas fundamentais:
Pública a) o § 1º do art. 9º do DL n.° 406/68 não estaria mais em vigor;
municipal b) ainda que estivesse vigente, os serventuários não se enquadrariam nesse regime
especial de tributação em razão de não prestarem serviço de natureza pessoal.

O primeiro argumento do Fisco é, a nosso sentir, absolutamente insubsistente. A LC 116/03,


em seu art. 10, revogou expressamente apenas os arts. 8º, 10, 11 e 12 do DL n.° 406/68,
mantendo, a contrario sensu, a vigência do art. 9º. De igual sorte, não houve revogação
tácita, considerando que LC 116/03 não tratou inteiramente da matéria prevista no § 1º do
art. 9º do Decreto-Lei. Essa é também a opinião da doutrina e da jurisprudência do STJ
(REsp 713752/PB) e do STF (Súmula 663-STF).

Alegação bem mais forte sustentada pela Municipalidade é a de que os serviços prestados
pelas serventias não são necessariamente pessoais. Para tanto, ressaltam que atividades
como o reconhecimento de firma, a emissão de certidões, a elaboração de escrituras, entre
outras, podem (e, na prática, são) prestadas tanto pelo titular das serventias como por seus
funcionários, indicados como substitutos (art. 20, caput e § 1º, da Lei n.° 8.935/94). O § 4º
do mesmo art. 20, por sua vez, preconiza que os substitutos poderão praticar todos os atos
que sejam próprios dos notários e registradores, exceto, lavrar testamentos.

Tais dispositivos são utilizados pela Fazenda Municipal para reafirmar a tese de que os
serviços notariais e registrais não são necessariamente pessoais, eis podem ser
desempenhados pelos substitutos (terceiros).

Os Municípios sustentam ainda que o art. 14, da Lei n.° 8.935/94 somente exige requisitos
pessoais para o ato administrativo de delegação, dispensando, contudo, qualquer exigência
pessoal para o exercício das atividades, tanto que o art. 20, do Diploma em questão,
autoriza, sem amarras formais, a livre contratação dos substitutos.
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O Poder Público municipal contradita o argumento da ausência de personalidade jurídica


das serventias, afirmando que elas preenchem perfeitamente os elementos do conceito de

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empresa trazido pelo art. 966, do Código Civil eis que exercem profissionalmente atividade
econômica organizada para a prestação de serviços. A atividade das serventias seria
profissional porque exercida com habitualidade; organizada porque conjugaria, de forma
metodológica, os fatores de produção; por fim, econômica, uma vez que objetivaria lucro,
conforme, inclusive, ressaltado pelo E. STF quando do julgamento da ADI 3.089.

Quanto ao argumento de que a responsabilidade dos serventuários seria pessoal, a Fazenda


sustenta que isso ocorre porque a serventia seria uma pessoa jurídica de direito privado,
sob a forma de empresário individual (sic), sendo, portanto, apenas uma decorrência da
responsabilidade patrimonial pessoal pelos atos da pessoa jurídica.
Decisão do A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?
STJ Para o STJ, NÃO SE APLICA à prestação de serviços de registros públicos cartorários e
notariais a sistemática de recolhimento de ISS prevista no § 1º do art. 9º do DL n. 406/68.
O referido preceito legal impõe, como condição para o enquadramento no regime especial
de recolhimento de ISS, a “prestação de serviços sob a forma de trabalho pessoal do
próprio contribuinte”. No entanto, a prestação dos serviços cartoriais não importa em
necessária intervenção pessoal do notário ou do oficial de registro, tendo em vista que o
art. 236 da CF e a legislação que o regulamenta permitem a formação de uma estrutura
economicamente organizada para a prestação do serviço de registro público,
assemelhando-se ao próprio conceito de empresa. Nesse sentido, o art. 236 da CF
determina a natureza jurídica da prestação do serviço como privada, sem determinar,
contudo, a unipessoalidade da prestação de serviço cartorário, e o art. 20 da Lei n.
8.935/1994 autoriza, de forma expressa, o notário ou oficial de registro a contratar, para o
desempenho de suas funções, escreventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e
auxiliares como empregados.
Além do mais, a realidade comprova que, em regra, a atividade cartorária não é prestada de
modo direto apenas pelo tabelião, mas também por atendentes, principalmente nos
grandes centros urbanos.

Desse modo, os serviços notariais e registrais sofrem a incidência do ISS e a base de cálculo
do imposto é o preço do serviço, ou seja, o valor dos emolumentos.
Bibliografia BELIZÁRIO, Michele Cristine. Serviços notariais, cartorários e registros públicos e a forma
de tributação do ISSQN. Disponível em: <http://www.finan.com.br/revista/artigo/11>.
Acesso em: 04 março 2011.

MELO, José Eduardo. PAULSEN, Leandro. Impostos Federais, Estaduais e Municipais. 5ª.
ed., 2ª tir., Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2010.

SANT’ANNA, Gilson Carlos. Resumo sobre o ISS. Disponível em:


<http://www.anoreg.org.br>. Acesso em: 04 março 2011.
Processo Primeira Seção. REsp 1.328.384-RS, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL / ECONÔMICO

Importação paralela e recusa do direito de vender

A “importação paralela” (“mercado cinza”) consiste na importação de determinado produto,


por uma pessoa física ou jurídica, sem que isso ocorra por meio do importador ou distribuidor
exclusivo daquela marca.
A “importação paralela”, mesmo que de produtos originais (não piratas), é, em regra, proibida,
se não houver consentimento do titular da marca (art. 132, III, da Lei n. 9.279/96).
No caso concreto, durante vários anos, o titular da marca consentiu que houvesse a
“importação paralela”. De maneira súbita, o titular passou a recusar a importação do produto
por quem não fosse distribuidor exclusivo da marca.
O antigo importador tentou continuar comercializando o produto, mas o STJ entendeu que,
tendo sido manifestada a oposição do titular da marca, não é mais possível que tais produtos
continuem sendo importados e comercializados por outra pessoa que não a distribuidora
exclusiva do bem.
Por outro lado, o STJ considerou que esta recusa de vender ocorrida de forma repentina gerou
o direito do antigo importador ser indenizado pelos lucros cessantes experimentados.
Comentários Amigos, temos uma notícia boa e uma ruim. A ruim é que este julgado é muito difícil. A boa
é que ele somente deverá ser cobrado nos concursos que exijam, com muita profundidade,
direito empresarial ou econômico.
Vamos tentar explicá-lo, alertando, mais uma vez, que exigiria mais tempo e linhas para ser
adequadamente exposto.

A situação concreta, com algumas adaptações, foi a seguinte:


A empresa “X”, desde 1967, importava uma famosa marca de uísque (bebida) para revender
no mercado brasileiro.
Em 2004, a empresa “Y” (detentora da marca do uísque no exterior) e a empresa “Z”
(distribuidora exclusiva do uísque no Brasil) ajuizaram uma ação contra a empresa “X” com
a finalidade de que esta cessasse a importação, distribuição e comercialização daquela
marca de uísque no Brasil. O principal fundamento da demanda foi o instituto da vedação
da “importação paralela”.
Diante disso, em 2005, “X” propôs uma ação contra as empresas “Y” e “Z” com o objetivo
de que fosse reconhecido seu direito de importar o uísque. “X” requereu, ainda,
indenização pelos lucros cessantes em virtude da abrupta recusa à continuação das vendas.
As duas ações foram julgadas em conjunto, por conexão.

Após sentença em 1ª instância e decisão do TJCE, a questão chegou até o STJ por meio de
recurso especial. Vejamos os principais pontos decididos pela Corte:

O fundamento da ação proposta pelas empresas “Y” e “Z” foi a vedação da “importação
paralela”. Em que consiste isso?
De maneira bem simples, a “importação paralela” (“mercado cinza”) consiste na importação
de determinado produto, por uma pessoa física ou jurídica, sem que isso ocorra por meio
do importador ou distribuidor exclusivo daquela marca.
No caso concreto, a compra do famoso uísque no exterior e sua venda no Brasil somente
podia ser feita pela empresa “Z” por conta de uma cláusula de exclusividade. No entanto, a
empresa “X” realizava a “importação paralela” do produto.
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A “importação paralela” (ou “mercado cinza”) também é conhecida pelas suas expressões
em inglês parallel market ou gray-market.
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A “importação paralela” é permitida em alguns países e proibida em muitos outros.

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A “importação paralela”, sem o consentimento do titular da marca, é admitida pela
legislação brasileira?
NÃO. A “importação paralela” de produtos originais, sem consentimento do titular da
marca ou de quem autorizado a concedê-la, é, em regra, proibida, com base no art. 132, III,
da Lei n. 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial):
Art. 132. O titular da marca não poderá:
III - impedir a livre circulação de produto colocado no mercado interno, por si ou por
outrem com seu consentimento, ressalvado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 68; e

Assim, o titular da marca poderá pleitear que seja impedida a livre circulação de produto
colocado no mercado interno SEM o seu consentimento.

Obs1: situações excepcionais em que a “importação paralela” é permitida.


Como regra, a “importação paralela” sem consentimento do titular da marca não é
permitida. Contudo, é possível, excepcionalmente, que seja admitida a “importação
paralela” mesmo sem este consentimento em alguns poucos casos por conta de
peculiaridades, como no caso de ser necessário fornecer determinados produtos à
população, estimular a concorrência para evitar a formação de monopólios ou cartéis ou,
então, para atender determinadas áreas do consumo. Como exemplo de situação
excepcional, podemos mencionar a importação de medicamentos.

Obs2: princípio da exaustão


Vale ressaltar que este art. 132, III, da LPI também consagra o “Princípio da exaustão”
(“exaustão dos direitos sobre a marca”).
Segundo este princípio, após a primeira venda do produto no mercado, o direito sobre a
marca se esgota, de modo que o titular da marca não poderá mais invocar o direito de
exclusividade para impedir as vendas subsequentes. Esse princípio é também chamado de
“doutrina da primeira venda” (first sale doctrine) (BASSO, 2009, p. 204).
Assim, a partir da primeira venda do produto no mercado, com consentimento do titular da
marca, ocorre a “exaustão” ou “esgotamento” do uso da marca, de forma que o referido
titular não pode mais impedir que outras pessoas vendam/revendam o produto.
O princípio da exaustão foi adotado no Brasil, contudo, apenas quanto ao mercado interno
(e não no mercado internacional). Tanto que o art. 132, III, da LPI é expresso ao falar em
mercado “interno”. Isso significa que, somente “Z” pode importar o uísque, mas após ter
trazido para o mercado interno, qualquer outra pessoa poderá comercializá-lo aqui
livremente, sem precisar de autorização de “Y” ou “Z”.
Dessa feita, a legislação brasileira, ao adotar o princípio da exaustão quanto ao mercado
interno, permitiu a comercialização paralela interna (ou nacional), hipótese em que, após a
primeira venda do produto no mercado interno, o direito sobre a marca se esgota, de modo
que o titular da marca não poderá mais invocar o direito de exclusividade para impedir as
vendas subsequentes.
A Lei de Propriedade Industrial não adotou, contudo, o princípio da exaustão quanto ao
mercado internacional. Por esta razão é que a “importação paralela” somente é permitida
se for feita com o consentimento do titular da marca.
Se o Brasil tivesse adotado o princípio da exaustão internacional, tendo sido introduzido o
produto, no mercado interno ou externo (em qualquer lugar do mundo), qualquer pessoa
poderia comercializá-lo sem autorização do titular da marca.
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A “importação paralela”, com o consentimento do titular da marca, é admitida pela


legislação brasileira?
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SIM. Uma vez consentida pelo titular da marca ou por quem por ele autorizado para tanto,

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a entrada do produto original no mercado nacional, não há que se falar em “importação
paralela” ilícita.

A empresa “X” poderá continuar realizando a “importação paralela” do uísque?


NÃO. Para o STJ, tendo sido manifestada a oposição do titular da marca, não é mais possível
que tais produtos continuem sendo importados e comercializados por “X”, mas apenas pela
distribuidora exclusiva (“Z”).

A empresa “X” terá direito de ser indenizada pela “recusa de vender” determinada pelas
empresas “Y” e “Z”?
SIM. No caso concreto, como vimos, durante vários anos houve a “importação paralela”
consentida, tendo a recusa de vender ocorrido de forma repentina.
Diante disso, o STJ considerou que a empresa “Y” (titular da marca estrangeira) e a empresa
“Z” (sua distribuidora exclusiva no Brasil) deveriam, solidariamente, indenizar a empresa
“X” pelos lucros cessantes experimentados com a abrupta recusa à continuação das vendas
após longo período em que esta foi permitida mesmo sem nenhum contrato de distribuição
entre eles.
A longa aquiescência das empresas “Y” e “Z” na realização das compras pela empresa “X”
gerou, para esta última, um “direito de comprar”.
Assim, a “recusa de vender” foi considerada um ato ilícito, nos termos do art. 186 do CC,
fazendo surgir, dessa maneira, o direito à indenização.
Ressalte-se, mais uma vez, que, para o STJ, o “direito de comprar” deveria ser resolvido em
perdas e danos, não podendo ser reconhecido o direito ao prosseguimento da importação
paralela.
Obra citada BASSO, Maristela. A Importação Paralela e o Princípio da Exaustão. Especial Referência às
Marcas. In: Ensaios sobre o Direito Imaterial – Estudos Dedicados a Newton Silveira. KUNZ,
Karin Grau; BARBOSA, Denis Borges. Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2009).
Processo Terceira Turma. REsp 1.200.677-CE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 18/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Interposição de recurso por meio de fax e inaplicabilidade do benefício de prazo

Ainda que o recorrente detenha o privilégio do prazo em dobro, será de cinco dias o prazo,
contínuo e inextensível, para a protocolização dos originais do recurso na hipótese em que se
opte pela utilização de sistema de transmissão de dados e imagens do tipo fac-símile.
Comentários A parte pode interpor o recurso por meio de fax?
SIM. A Lei n. 9.800/99 permite às partes a utilização de sistema de transmissão de dados e
imagens tipo fac-símile, ou outro similar, para a prática de quaisquer atos processuais que
dependam de petição escrita, inclusive os recursos.

Qual é a providência que a parte terá que adotar após interpor o recurso?
Deverá juntar os originais do recurso no prazo de 5 dias, conforme prevê o art. 2º, da Lei n.
9.800/99.

Esse prazo de 5 dias é contado da data em que a parte interpôs o recurso ou da data em que
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se encerraria o prazo recursal?


O prazo de 5 dias é contado da data em que se encerraria o prazo do recurso.
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INFORMATIVO esquematizado
Este prazo de 5 dias é contínuo, iniciando no dia imediatamente subsequente ao termo final
do prazo recursal, ainda que não haja expediente forense. Nesse sentido:
1. Os originais da petição recursal interposta via fac-símile devem ser protocolados em juízo
em até 5 (cinco) dias da data final do prazo do respectivo recurso, sob pena de
intempestividade. Inteligência do art. 2º, caput, da Lei 9.800/1999.
2. Por ser o prazo para a apresentação dos originais um mero prolongamento do prazo
recursal, ele é contínuo, não havendo suspensão ou interrupção por ocorrência de feriado,
sábado ou domingo. (...)
(AgRg no AREsp 47.172/RJ, Rel. Ministro Vasco Della Giustina (Desembargador convocado
do TJ/RS), Sexta Turma, julgado em 17/11/2011, DJe 28/11/2011)

O art. 188 do CPC prevê que a Fazenda Pública e o MP possuem prazo em quádruplo para
contestar e em dobro para recorrer. A isso se dá o nome de “benefício de prazo”.

Indaga-se: o art. 188 aplica-se no caso do prazo conferido pela Lei n. 9.800/99? Em outras
palavras, se o MP ou a Fazenda Pública interpõem o recurso por meio de fax, eles terão 5 ou
10 dias para apresentar os originais?
5 dias. O prazo para apresentação dos originais após envio da contestação ou do recurso
por meio de fax NÃO é ampliado por força do art. 188 do CPC. Assim, se no último dia de
seu prazo (30º dia) a Fazenda Pública apresenta seu recurso por fax, ela terá 5 dias para
apresentar os originais, como qualquer outra parte.
Este é o entendimento pacífico do STJ.
Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.308.916-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2012.

Ação rescisória

O termo inicial do prazo decadencial de dois anos para a propositura, por particular, de ação
rescisória, é a data do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa.
Se a Fazenda Pública participou da ação, este prazo bienal somente se inicia após ter se
esgotado o prazo em dobro que a Fazenda Pública tem para recorrer, ainda que o ente público
tenha sido vencedor na última decisão proferida na demanda.
Comentários Ação Rescisória é uma ação (não é um recurso!) que tem como objetivo desconstituir
sentença transitada em julgado.

A ação rescisória possui prazo de dois anos, contados do trânsito em julgado da decisão.
CPC/Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do
trânsito em julgado da decisão.

Imagine agora a seguinte situação:


João ajuizou uma ação contra a União, tendo o pedido sido julgado improcedente.
O autor interpôs apelação, mas a sentença foi mantida pelo TRF.
João ainda poderia, em tese, interpor recursos especial e extraordinário no prazo de 15 dias.
O prazo para João interpor RE ou REsp terminaria no dia 10/03/2010.
A Fazenda Pública, em tese, também poderia interpor RE ou REsp. No entanto, como o seu
prazo para recorrer é dobrado (art. 188 do CPC), ele somente terminaria no dia 25/03/2010.
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O art. 495 do CPC determina que o direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois)
anos, contados do trânsito em julgado da decisão.
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Quando ocorreu o trânsito em julgado desta decisão? Caso João queira interpor ação
rescisória, qual é o último dia do seu prazo (10/03/2012 ou 25/03/2012)?
O trânsito em julgado ocorreu em 25/03/2010, de forma que o prazo para a ação rescisória,
seja para a Fazenda Pública, seja para João, terminaria apenas em 25/03/2012.
O trânsito em julgado da decisão ocorre quando não é mais passível de qualquer recurso.
Assim, para o STJ, se uma das partes possui o privilégio de prazo em dobro (como no caso
da Fazenda Pública), tão-somente após o escoamento deste é que se poderá falar em coisa
julgada, ocasião em que começará a fluir o prazo para ambas as partes pleitearem a
rescisão do julgamento.

Para o STJ, a ação (no sentido de “processo”) é una e indivisível, de modo que não se tem
como falar em fracionamento de suas decisões. Logo, não há possibilidade de haver trânsito
em julgado parcial (antes para o particular e depois para a Fazenda Pública).

Além disso, não se pode alegar que a Fazenda Pública (que tem o prazo em dobro) não
tenha interesse recursal sob o argumento de que ela foi vitoriosa na demanda. Isso porque
até mesmo a parte vitoriosa pode ter, ainda que em tese, interesse recursal em impugnar a
decisão judicial que lhe foi favorável. Dessa forma, para que haja trânsito em julgado, deve-
se aguardar o término do prazo que a Fazenda dispõe para recorrer.
Agradeci- Agradeço à leitora Sattva Batista pelos debates que me fizeram evoluir em meus parcos
mento conhecimentos sobre ação rescisória.
Processo Primeira Turma. AREsp 79.082-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 5/2/2013.

Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos


Não é cabível a interposição de agravo, ou de qualquer outro recurso, dirigido ao STJ com o
objetivo de impugnar decisão proferida no Tribunal de origem que tenha determinado o
sobrestamento de recurso especial com fundamento no art. 543-C do CPC.
Não existe previsão de recurso contra esta decisão. Além disso, também não é cabível
reclamação constitucional, pois não há, no caso, desobediência à decisão do STJ, tampouco
usurpação de sua competência.
Por fim, a permissão de interposição do agravo em face da decisão ora impugnada acabaria por
gerar efeito contrário à finalidade da norma, multiplicando os recursos dirigidos a esta
instância, pois haveria, além de um recurso especial pendente de julgamento na origem, um
agravo no âmbito do STJ.
Comentários Observou-se que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos
temas jurídicos. Em outras palavras, identificou-se que existiam inúmeros recursos
“repetitivos” endereçados aos Tribunais Superiores.
Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei n. 11.672/2008 acrescentou
os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos
recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento
em idêntica controvérsia ou questão de direito.
Vamos estudar, agora, o julgamento por amostragem no caso dos recursos especiais
repetitivos, que é previsto no art. 543-C do CPC:
Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.
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INFORMATIVO esquematizado
Procedimento (art. 543-C do CPC e Resolução n. 08/2008-STJ):

1) O Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar


todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações
contra a Fazenda Pública é de 3 ou 5 anos.

2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais recursos que


representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ.
Serão selecionados os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de
argumentos no recurso especial.

Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos
como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se
pronuncie sobre o tema central.

Cabe algum recurso contra a decisão proferida no Tribunal de origem que tenha
determinado o sobrestamento do Resp com fundamento no art. 543-C do CPC?
NÃO. Não é cabível a interposição de agravo, ou de qualquer outro recurso, dirigido ao STJ
com o objetivo de impugnar decisão proferida no Tribunal de origem que tenha
determinado o sobrestamento de recurso especial com fundamento no art. 543-C do CPC.
Não existe previsão de recurso contra esta decisão. Além disso, também não é cabível
reclamação constitucional, pois não há, no caso, desobediência à decisão do STJ, tampouco
usurpação de sua competência.
Por fim, a permissão de interposição do agravo em face da decisão ora impugnada acabaria
por gerar efeito contrário à finalidade da norma, multiplicando os recursos dirigidos a esta
instância, pois haveria, além de um recurso especial pendente de julgamento na origem, um
agravo no âmbito do STJ.

3) Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem não perceber que haja essa
multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e não tomar essas providências
explicadas acima. Nesse caso, o Ministro Relator do REsp, no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais
a controvérsia esteja estabelecida.

4) Antes de decidir o Resp submetido ao regime de recurso repetitivo, o Ministro Relator


poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15 dias, aos tribunais federais
ou estaduais a respeito da controvérsia.

5) Se a matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas,


órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae.

6) Após as informações prestadas pelos Tribunais e pelos amici curiae (plural de amicus
curiae), o Ministério Público será ouvido no prazo de 15 dias.

7) Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial do STJ, devendo
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ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e
os pedidos de habeas corpus.
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8) Após todas essas providências, o STJ irá julgar o recurso especial que foi submetido ao
regime de recurso repetitivo. Essa decisão irá afetar os recursos que ficaram suspensos nos
TJ’s ou TRF’s. Veja o que diz o § 7º do art. 543-C:
§ 7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados
na origem:
I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou
II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão
recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

Explicando melhor esse § 7º:


Inciso I: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que não foi aceita
pelo STJ, este recurso terá seu seguimento negado e, portanto, nem será enviado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 5 anos. A
Fazenda interpôs recurso especial alegando que esse prazo era de 3 anos. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, este recurso da Fazenda, que estava sobrestado, terá seu seguimento
negado e nem será mais apreciado pelo STJ.

Inciso II: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que foi acolhida
pelo STJ, o acórdão que estava sendo impugnado será novamente analisado pelo Tribunal de
origem, que poderá modificar sua decisão para adequá-la ao entendimento firmado pelo STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 3 anos. O
particular interpôs recurso especial alegando que esse prazo era quinquenal. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, o TJ terá a oportunidade de analisar novamente esta questão e poderá
modificar sua decisão com base na orientação firmada pelo STJ. Em outras palavras, o TJ
poderá voltar atrás e decidir que o prazo prescricional é de 5 anos realmente. Vale ressaltar,
no entanto, que nesse reexame, o Tribunal poderá manter sua decisão, considerando que o
posicionamento adotado pelo STJ não é vinculante.

9) Se o tribunal de origem mantiver a decisão divergente, irá ser realizado o exame de


admissibilidade do recurso especial para que seja encaminhado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu manter seu entendimento de que o prazo prescricional é de 3 anos,
mesmo o STJ tendo afirmado que era quinquenal. Logo, o recurso especial, interposto pelo
particular será examinado e, se preencher os pressupostos de admissibilidade, será
encaminhado ao STJ para análise do mérito.

10) Voltando à hipótese do inciso I do § 7º do art. 543-C. Pode acontecer de o Presidente do


tribunal de origem negar seguimento a um recurso especial, aplicando o entendimento do
STJ, e a parte recorrente não concordar com isso, sob o argumento de que o caso que
envolve o seu processo é diferente do que foi examinado pelo STJ. Em outros termos, a parte
afirma que há um distinguishing.
A pergunta que surge é a seguinte:
Será possível que esta parte interponha algum recurso contra a decisão do Presidente do
tribunal de origem que negou seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º
do art. 543-C do CPC?
SIM. Será cabível agravo regimental, a ser julgado no Tribunal de origem, destinado a
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impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial com fundamento
no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.
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INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar que um erro muito comum tanto dos candidatos em concurso público como
dos profissionais na prática forense, é imaginar que seria possível o ajuizamento de agravo
de instrumento contra essa decisão. Na verdade, é firme o entendimento do STJ de que
“não cabe agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a recurso especial
com base no art. 543, § 7º, inciso I, do CPC” (QO no Ag 1154599/SP, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, Corte Especial, DJe 12/05/2011).
Para o STJ, a mencionada decisão somente pode ser atacada por agravo regimental, a ser
processado e julgado no tribunal de origem.

Imagine agora que o Tribunal de origem, no julgamento do agravo regimental, manteve a


decisão monocrática do Presidente (ou Vice-Presidente), ou seja, aplicando o art. 543, § 7º,
I, do CPC. Nesta hipótese, cabe algum outro recurso contra esta decisão?
NÃO.

Seria possível, então, interpor uma reclamação ao STJ?


Também NÃO. Segundo o STJ, não há previsão legal para o ajuizamento de reclamação
neste caso.
Além disso, o cabimento da reclamação impediria a realização do fim precípuo da reforma
processual introduzida pela Lei n. 11.672/2008, qual seja, o de evitar a reiterada análise de
questão idêntica, otimizando o julgamento dos incontáveis recursos que chegam ao STJ
com o intuito de discutir a mesma matéria. Em outras palavras, se fosse admitida
reclamação, o “filtro” imposto para evitar a subida de uma enorme quantidade de
processos no STJ não teria eficácia, considerando que a Corte teria que examinar inúmeras
reclamações.

Em suma, contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do
CPC, aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos
recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso nem reclamação.
Processo Quarta Turma. AREsp 214.152-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/2/2013.

Execução (redirecionamento)

Não é cabível o redirecionamento da execução previsto no art. 135 do CTN na hipótese em que
a referida execução tem por objetivo a cobrança de contribuições para o FGTS. Isso porque não
é cabível o redirecionamento previsto no art. 135 do CTN na hipótese de execução de dívida
não tributária.
O redirecionamento de que trata o art. 135 do CTN somente vale para dívidas tributárias.
Comentários Quando a Fazenda Pública ajuíza uma execução fiscal contra a “empresa” (rectius:
empresário ou sociedade empresária) e não consegue localizar bens penhoráveis, o CTN
prevê a possibilidade do Fisco redirecionar a execução para algumas pessoas físicas que
tenham relação com a “empresa” e hajam atuado com excesso de poderes ou infração de
lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art. 135 do CTN:

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações


tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
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II - os mandatários, prepostos e empregados;


III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.
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INFORMATIVO esquematizado
O STJ entende que não é cabível o redirecionamento da execução previsto no art. 135 do
CTN na hipótese em que a referida execução tem por objetivo a cobrança de contribuições
para o FGTS. Isso porque não é cabível o redirecionamento previsto no art. 135 do CTN na
hipótese de execução de dívida não tributária.
Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 242.114-PB, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 4/12/2012.

DIREITO PENAL

Lei de Drogas

O magistrado não pode deixar de aplicar a minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei n.


11.343/2006 se utilizando exclusivamente dos elementos descritos no núcleo do referido tipo
penal para concluir que o réu se dedicava à atividade criminosa.
Comentários Traficante privilegiado
A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também
chamada de “traficância menor” ou “traficância eventual”:
Art. 33 (...)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de
um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa.

Natureza jurídica: causa de diminuição de pena.

Redução: de 1/6 a 2/3


O magistrado tem plena autonomia para aplicar a redução no quantum que reputar
adequado de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Vale ressaltar, no entanto,
que essa fixação deve ser suficientemente fundamentada e não pode utilizar os mesmos
argumentos adotados em outras fases da dosimetria da pena (STF HC 108387, 06.03.12).
Dito de outra forma, não se pode utilizar os mesmos fundamentos para fixar a pena-base acima
do mínimo legal nem para aplicar a redução prevista neste dispositivo, sob pena de bis in idem.

Vedação à conversão em penas restritivas de direitos:


O STF já declarou, de forma incidental, a inconstitucionalidade da expressão “vedada a
conversão em penas restritivas de direitos”, constante deste § 4º do art. 33, de modo que é
possível, segundo avaliação do caso concreto, a concessão da substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos, desde que cumpridos os requisitos do art. 44 do CP.

Requisitos:
Para que tenha direito à causa de diminuição, o agente (réu) deverá:
a) Ser primário
b) Possuir bons antecedentes
c) Não se dedicar às atividades criminosas;
d) Não integrar organização criminosa.

Requisitos cumulativos: os requisitos acima são cumulativos, ou seja, se um deles não


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estiver presente, não poderá ser aplicada a causa de diminuição ao réu.


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INFORMATIVO esquematizado
Recusa deve se basear em circunstâncias concretas:
O juiz somente pode negar a aplicação desta causa de diminuição se fundamentar sua
decisão em dados concretos.
Assim, não pode, por exemplo, o magistrado afirmar que o réu se dedica a atividades
criminosas usando como argumento para provar isso o simples fato de ter cometido o crime
de tráfico de drogas. Ora, se isso fosse possível ninguém poderia ser beneficiado pelo § 4º,
considerando que sempre o juiz poderia alegar que ele estava envolvido com tráfico de
drogas.
Dessa forma, é necessário que o julgador possua outros elementos que provem que aquele
réu se dedica a atividades criminosas.
Processo Quinta Turma. HC 253.732-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência

Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar crime de estelionato
cometido por particular contra particular, ainda que a vítima resida no estrangeiro, na
hipótese em que, além de os atos de execução do suposto crime terem ocorrido no Brasil, não
exista qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União.
Comentários O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte:
“João”, morador de Luanda (Angola), adquiriu, por meio da internet, um produto que
pertenceria a “Pedro”, residente em Ituverava/SP (Brasil).
O pagamento foi efetuado mediante transferência bancária da conta corrente de João para
a conta de Pedro.
Ocorre que tudo não passava de um “golpe” de Pedro, sendo sua conduta classificada como
“estelionato” (art. 171 do CP).

O juízo de direito de Ituverava/SP declinou de sua competência e remeteu os autos à Justiça


Federal por considerar que parte da execução do crime ocorreu em Luanda/Angola, local de
residência da vítima que efetuou a transferência eletrônica para a conta bancária do
suposto criminoso. O juízo federal, por sua vez, também entendeu que não era competente
para a ação penal.

Na situação em tela, o que o juízo federal deverá fazer?


Suscitar conflito negativo de competência, nos termos do art. 114, I, do CPP:
Art. 114. Haverá conflito de jurisdição:
I - quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerarem competentes, ou
incompetentes, para conhecer do mesmo fato criminoso;

Obs: apesar do CPP utilizar a expressão “conflito de jurisdição”, a doutrina é uníssona em


afirmar que a nomenclatura tecnicamente correta é “conflito de competência”.

Quem irá julgar o conflito, ou seja, quem irá decidir qual o juízo competente para a causa?
O STJ, pois o conflito ocorreu entre juízes vinculados a tribunais diversos (juiz de direito,
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vinculado ao TJSP e juiz federal, vinculado ao TRF3). É o que prevê o art. 105, I, d, da CF/88:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
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I - processar e julgar, originariamente:


d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102,

INFORMATIVO esquematizado
I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a
tribunais diversos;

Qual o juízo competente para o julgamento da ação penal no caso concreto?


O juízo de direito de Ituverava/SP.
Segundo o STJ, não houve qualquer ato de execução do crime em Angola, local de
residência da vítima, visto que o produto foi adquirido por meio da internet, sendo o
pagamento efetuado mediante transferência eletrônica da conta corrente da vítima para a
conta do beneficiário da fraude, cuja agência é localizada na cidade de Ituverava/SP, local
de consumação do delito e de obtenção da vantagem ilícita.
Vale ressaltar, ainda, que, conforme se verifica do art. 69 do CPP, o local de residência da
vítima não é fator de determinação da competência jurisdicional.
Dessa forma, não havendo qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União e sendo o
crime de estelionato cometido por particular contra particular, a competência para
processar e julgar o delito é da Justiça Estadual.

Todo crime praticado pela internet é de competência da Justiça Federal?


Claro que não. Segundo entendimento pacífico da jurisprudência, o fato do delito ter sido
cometido pela rede mundial de computadores não atrai, por si só, a competência da Justiça
Federal. Para que o delito cometido por meio da internet seja julgado pela Justiça Federal, é
necessário que se amolde em umas das hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

Processo Terceira Seção. CC 125.237-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/2/2013.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


(obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem a matéria)

Homicídio praticado por militar em serviço contra militar reformado

A Justiça Militar é competente para julgar crime de homicídio


praticado por militar em serviço contra militar reformado.
Comentários Se um militar, em serviço, pratica crime contra militar reformado, qual será o juízo
competente?
JUSTIÇA MILITAR, considerando que se trata de crime militar (art. 9º, II, c, do CPM).

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando
praticados:
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura,
ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
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Embora os militares na inatividade sejam considerados civis para fins de aplicação da lei
penal militar, o próprio CPM fixa a competência da Justiça Militar quando o crime é
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praticado por militar em serviço contra outro na inatividade.

INFORMATIVO esquematizado
Vejamos agora outras situações importantes:

Se um militar, no exercício de sua função, pratica lesão corporal contra vítima civil, qual será
o juízo competente?
JUSTIÇA MILITAR, considerando que se trata de crime militar (art. 9º, II, c, do CPM)

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando
praticados:
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura,
ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;

Se um militar, no exercício de sua função, pratica tentativa de homicídio (ou qualquer outro
crime doloso contra a vida) contra vítima civil, qual será o juízo competente?
JUSTIÇA COMUM ESTADUAL, por força do parágrafo único do art. 9º do CPM.

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão
da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do
art. 303 da Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica.

Atenção para recente alteração promovida neste parágrafo único do art. 9º, que será
cobrada nas provas:
Redação anterior à Lei n. 12.432/2011 Redação atual
(dada pela Lei n. 12.432/2011)
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo
quando dolosos contra a vida e cometidos contra quando dolosos contra a vida e cometidos contra
civil, serão da competência da justiça comum. civil serão da competência da justiça comum, salvo
quando praticados no contexto de ação militar
realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19
de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica.

Se um militar, no exercício de sua função, pratica tentativa de homicídio ou homicídio


consumado contra vítima civil em ação militar relacionada à abordagem e eventual abate
de aeronave (“Lei do Abate”), qual será o juízo competente?
JUSTIÇA MILITAR (trata-se de exceção à regra do parágrafo único do art. 9º do CPM).

RESUMINDO:
SITUAÇÃO JUÍZO COMPETENTE
Militar, no exercício de sua função, pratica
Justiça Militar
homicídio contra militar reformado.
Militar, no exercício de sua função, pratica
Justiça Militar
lesão corporal contra vítima civil.
Militar, no exercício de sua função, pratica Justiça Comum Estadual
tentativa de homicídio contra vítima civil. (salvo se foi praticado em abate de aeronave – art. 303, CBA)
Militar, no exercício de sua função, pratica
tentativa de homicídio ou homicídio contra
Justiça Militar
vítima civil ao abater aeronave hostil (Lei
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do Abate (art. 303 do CBA)


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Processo Quinta Turma. HC 173.131-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO TRIBUTÁRIO
SÚMULA 499-STJ
As empresas prestadoras de serviços estão sujeitas às contribuições ao Sesc e Senac,
salvo se integradas noutro serviço social.
Assunto Direito Tributário (Contribuição para os serviços sociais autônomos).
Precedentes Resp 895.878, REsp 1.255.433
Serviços Serviços sociais autônomos são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos,
sociais criadas por lei, e que se destinam a prestar assistência ou ensino a certas categorias sociais
autônomos ou grupos profissionais. Não integram a Administração Pública direta ou indireta, sendo
considerados entes paraestatais.
Os serviços sociais autônomos são também conhecidos como “sistema S” pelo fato de
geralmente começarem com a letra “S” e por estarem ligadas aos Sindicatos.
Exemplos: SESI, SENAC, SESC, SENAI, SEBRAE, SEST, SENAT etc.
Contribuição Os serviços sociais autônomos são mantidos por meio de contribuição compulsória paga
para os pelos empregadores com base na folha de salários. Esta contribuição possui natureza
serviços jurídica de tributo, sendo chamada de “Contribuição para os serviços sociais autônomos” e
sociais está prevista no art. 240 da CF/88:
autônomos Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais contribuições compulsórias dos
empregadores sobre a folha de salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e
de formação profissional vinculadas ao sistema sindical.

A contribuição de que trata a Súmula 499 do STJ é justamente a “Contribuição para os


serviços sociais autônomos” (art. 240 da CF/88), que é classificada como “contribuição
social geral”.

Sesc e Senac Sesc significa “Serviço Social do Comércio” e Senac é a sigla de “Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial”.
O Sesc e o Senac são mantidos por contribuições pagas pelas empresas que desenvolvem
comércio de bens e serviços.
Em regra, as Em regra, as empresas prestadoras de serviços contribuem para o Sesc e Senac
empresas Algumas empresas prestadoras de serviços recusavam-se a pagar a contribuição para o Sesc
prestadoras e Senac, alegando que não desenvolviam comércio, mas sim prestação de serviço.
de serviços O STJ pacificou o tema afirmando que, em regra, as empresas prestadoras de serviços estão
contribuem sujeitas às contribuições ao Sesc e Senac.
para o Sesc Em um dos precedentes que deu origem à súmula, a Min. Eliana Calmon afirmou o
e Senac seguinte:
“as empresas prestadoras de serviço que auferem lucros, e com esse produto remuneram
os seus sócios, são inquestionavelmente estabelecimentos comerciais, à luz do conceito
moderno de empresa” (STJ. Resp 895.878).

Em outro precedente, o STJ decidiu que as empresas prestadoras de serviços educacionais


(exs: faculdades, colégios) estão sujeitas às contribuições destinadas ao Sesc e Senac.
Segundo o Min. Mauro Campbell (REsp 1.255.433) isso se justifica para que os empregados
dessas empresas não sejam excluídos dos benefícios sociais proporcionados pelo Sesc e
Senac, considerando que não existe entidade específica que ampare a categoria profissional
a que pertencem.
Assim, na ausência de uma entidade que abranja os trabalhadores das empresas de serviços
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educacionais, há que fazer o seu enquadramento na Confederação Nacional do Comércio, ainda


que submetida a atividade respectiva a outra confederação, incidindo as contribuições ao Sesc e
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Senac, que se encarregarão de fornecer os benefícios sociais correspondentes.

INFORMATIVO esquematizado
Exceção As empresas prestadoras de serviços só não irão pagar a contribuição ao Sesc e Senac se
estiverem vinculadas a outro serviço social autônomo.
Ex1: as empresas prestadoras de serviços rurais não contribuem para o Sesc e Senac porque
integram e contribuem para o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).
Ex2: as empresas prestadoras de serviços de transporte rodoviário, locação de veículos,
transporte de valores e distribuição de petróleo não contribuem para o Sesc e Senac porque
integram e contribuem para o Sest (Serviço Social de Transportes) e Senat (Serviço Nacional
de Aprendizagem em Transportes).

Leia novamente agora a súmula e veja como ficou mais fácil de entendê-la:
Súmula 499-STJ: As empresas prestadoras de serviços estão sujeitas às contribuições ao
Sesc e Senac, salvo se integradas noutro serviço social.

Amigos, esta súmula não deve ter tanta incidência nos concursos públicos por se tratar de
tema muito específico, no entanto, sempre é bom se manter atualizado.

Impossibilidade de extensão de isenção fiscal pelo Poder Judiciário

O Poder Judiciário não pode, por meio de uma decisão judicial, estender isenção fiscal a uma
categoria não abrangida pelo benefício, mesmo que sob o argumento de que haveria na
hipótese uma situação discriminatória e uma ofensa ao princípio da isonomia.
Comentários Ex: a categoria “X” é beneficiada, por lei, pela isenção do IR. A categoria “Y”, que não é
contemplada pela lei, ingressa com uma ação pedindo que este benefício seja estendido a
eles, sob o argumento de que não há razão para este tratamento diferenciado e postulando
que lhes seja estendida a isenção. O juiz não poderá julgar procedente este pedido.

Segundo a jurisprudência, a concessão de isenção fiscal é ato discricionário, fundado em


juízo de conveniência e oportunidade do Poder Público, de forma que não pode o Poder
Judiciário, sob o pretexto de tornar efetivo o princípio da isonomia, reconhecer situação
discriminatória de categorias não abrangidas pela regra isentiva, estendendo, por via
transversa, benefício fiscal sem que haja previsão legal específica (STF RE 405.579/PR, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, DJe de 3/8/2011).
Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 248.264-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/11/2012.

Tarifa de esgotamento sanitário

A concessionária de água e esgoto pode cobrar “tarifa de esgotamento sanitário” mesmo na


hipótese em que realiza apenas a coleta e o transporte dos dejetos sanitários, sem fazer o
tratamento final dos efluentes.
Comentários A concessionária “X” presta o serviço de esgotamento sanitário no Município “X”.
Ocorre que a concessionária realiza a coleta e o transporte dos dejetos, mas não o
tratamento final dos efluentes (resíduos).

Pode a concessionária “X” cobrar a “tarifa de esgotamento sanitário” mesmo realizando


apenas a coleta e o transporte dos dejetos, sem promover o seu tratamento final?
SIM. Para o STJ, a cobrança da tarifa não pressupõe a prestação integral do serviço de
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esgotamento sanitário, sendo lícita quando realizada a coleta, a conexão e o escoamento


dos dejetos, ainda que sem tratamento final.
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INFORMATIVO esquematizado
O art. 3º, I, b, da Lei n. 11.445/2007 trata sobre o serviço de esgotamento sanitário:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I - saneamento básico: conjunto de serviços, infra-estruturas e instalações operacionais de:
(...)
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações
operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos
sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;

O art. 3º, I, b, da Lei n. 11.445/2007 deixa claro que o serviço de esgotamento sanitário é
constituído por diversas atividades, dentre as quais a coleta, o transporte e o tratamento
final dos dejetos, mas não estabeleceu que somente exista o serviço público de
esgotamento sanitário na hipótese em que todas as etapas estejam presentes, nem proibiu
a cobrança de tarifa pela só prestação de uma ou algumas destas atividades.

Assim, não pode o usuário do serviço, sob a alegação de que não há tratamento dos
efluentes, querer deixar de pagar a tarifa.
Processo Segunda Turma. REsp 1.330.195-RJ, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 6/12/2012.

IR (incidência sobre juros de mora decorrentes de benefício previdenciário recebido com atraso)

Incide imposto de renda da pessoa física (IRPF) sobre os juros moratórios decorrentes de
benefícios previdenciários pagos em atraso.
Comentários João requereu junto ao INSS sua aposentadoria, tendo-lhe sido negada. Ele, então, ajuizou
uma ação pleiteando o benefício, que foi concedido pela Justiça. Na sentença, o juiz
condenou o INSS a pagar as verbas de aposentadoria de forma retroativa à data do
requerimento administrativo, cumulado com correção monetária e juros de mora.

Sobre o valor recebido por João a título de juros moratórios incidirá IRPF?
SIM. Segundo entendimento pacífico do STJ, incide imposto de renda da pessoa física sobre
os juros moratórios decorrentes de benefícios previdenciários pagos em atraso.

Regra geral: incide imposto de renda sobre os juros de mora (art. 16, parágrafo único, da Lei
n. 4.506/1964.

Exceções:
Não há pagamento de IR sobre os juros de mora:
a) incidentes sobre as verbas remuneratórias ou indenizatórias que são pagas ao
trabalhador demitido ou que teve rescindido seu contrato de trabalho (art. 6º, V, da Lei
n. 7.713/1988);
b) decorrentes de verba principal isenta ou fora do seu campo de incidência (tese do
acessório que segue o principal). Ex: não incide IR sobre indenização por dano moral;
logo, não incide IR sobre os juros de mora decorrentes de indenização por dano moral.
Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 248.264-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/11/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
ISS (regime de tributação incidente sobre serviços notariais e registrais)
(para maiores informações, vide julgado indexado em Direito Notarial e Registral)

Os “serviços de registros públicos, cartorários e notariais” não gozam de imunidade tributária,


devendo pagar, portanto, o ISS.
A regra geral é que a base de cálculo do ISS é o preço do serviço (art. 7º, LC 116/2003).
O § 1º do art. 9º do DL n.° 406/68 traz uma exceção a essa regra e prevê que os contribuintes que
prestam serviço sob a forma de trabalho pessoal (pessoas físicas) têm direito ao regime do
chamado “ISSQN Fixo”, segundo o qual é fixada uma alíquota sem relação com o preço do serviço.
Para o STJ, NÃO SE APLICA à prestação de serviços de registros públicos cartorários e notariais
a sistemática de recolhimento de ISS prevista no § 1º do art. 9º do DL 406/68.
Desse modo, os serviços notariais e registrais sofrem a incidência do ISS e a base de cálculo do
imposto é o preço do serviço, ou seja, o valor dos emolumentos.
Processo Primeira Seção. REsp 1.328.384-RS, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2013.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Contribuição previdenciária

Incide contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de horas extras.


A incidência decorre do fato de que o adicional de horas extras integra o conceito de remuneração.
Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.222.246-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/12/2012.

Aposentadoria especial (ruído)

O Decreto 4.882/2003 reduziu de 90dB(A) para 85dB(A) o nível máximo de ruídos que o
trabalhador pode estar submetido no seu trabalho. Se ele trabalhar durante 25 anos acima
desse nível de ruído terá direito à aposentadoria especial.
Mesmo o Decreto 4.882/2003 sendo favorável ao trabalhador por ter reduzido o limite de
ruído, ele não pode retroagir para alcançar situações ocorridas antes de sua vigência.
Comentários Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são
mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.

O art. 57 da Lei n. 8.213/91 trata sobre a aposentadoria especial no Regime Geral da


Previdência Social (RGPS) e prevê que esta será concedida às pessoas que trabalhem em
condições que prejudiquem a sua saúde ou integridade física:
Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta
Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a
saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,
conforme dispuser a lei.

Desse modo, se a pessoa fica exposta a agentes nocivos que tornem suas condições de
trabalho insalubres, perigosas ou penosas, ela poderá ter direito à aposentadoria especial.
Esses agentes nocivos estão previstos em Decretos do Presidente da República, conforme
autoriza a Lei n. 8.213/91:
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Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da
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aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo.

INFORMATIVO esquematizado
Um dos agentes considerados nocivos e que dão direito à aposentadoria é o ruído. Assim,
se ficar comprovado que o indivíduo trabalhou durante 25 anos sujeito a ruído em níveis
superiores aos que são permitidos pela legislação, ele terá direito à aposentadoria especial.

A partir de quantos decibéis o ruído é considerado atividade especial?


Antes do Decreto 2.171/97 Acima de 80 decibéis.
Depois do Decreto 2.171/97 Acima de 90 decibéis.
e antes do Decreto 4.882/2003
A partir do Decreto 4.882/2003 Acima de 85 decibéis.

O STJ decidiu que o limite de ruído estabelecido pelo Decreto 4.882/2003 (85dB), mesmo
sendo mais favorável ao trabalhador, não pode retroagir para ser aplicado em trabalhos
ocorridos no período de vigência do Decreto 2.171/97.
Em outras palavras, o limite de 85 dB não vale para os trabalhos realizados antes da
vigência do Decreto 4.882/2003.
Nesse contexto, deve-se aplicar a lei vigente à época em que a atividade foi exercida para
embasar o reconhecimento do tempo de serviço prestado sob condições especiais, em
observância ao princípio do tempus regit actum.

Ex: Joaquim trabalhou de 1994 a 2006 em uma indústria operando máquina que produzia
ruídos de 87dB(A). Quanto tempo ele trabalhou em atividade especial?
De 1994 a 1997 (na vigência do Decreto 2.171/97) e de 2003 a 2006 (quando entrou em
vigor o Decreto 4.882/2003). No período entre 1997 e 2003, seu trabalho não foi
considerado especial e o fato do Decreto 4.882/2003 ter reduzido o limite não serve para
retroagir e alcançar situações ocorridas antes de sua vigência.
Processo Segunda Turma. REsp 1.355.702-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012.

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO


(obs: somente interessa a quem presta concursos federais)

As instituições financeiras captadoras de depósitos à vista e que operem crédito imobiliário,


inclusive a Caixa Econômica Federal, estão AUTORIZADAS, e não obrigadas, a promover
contrato de “Arrendamento Imobiliário Especial com Opção de Compra” dos imóveis que
tenham arrematado, adjudicado ou recebido em dação em pagamento por força de
financiamentos habitacionais por elas concedidos.
Comentários O art. 38 da Lei n. 10.150/2000 estabelece o seguinte:
Art. 38. Ficam as instituições financeiras captadoras de depósitos à vista e que operem
crédito imobiliário autorizadas a promover Arrendamento Imobiliário Especial com Opção
de Compra dos imóveis que tenham arrematado, adjudicado ou recebido em dação em
pagamento por força de financiamentos habitacionais por elas concedidos.
§ 1º Entende-se por Arrendamento Imobiliário Especial com Opção de Compra a operação
em que o arrendatário se compromete a pagar ao arrendador, mensalmente e por prazo
determinado, contraprestações pela ocupação do imóvel com direito ao exercício de opção
de compra no final do prazo contratado.
26

Apesar do art. 38 ser claro ao mencionar a palavra autorização, havia posições no sentido
de que, se a instituição estaria obrigada a promover o Arrendamento Imobiliário Especial
Página

dos imóveis que tivessem arrematado, adjudicado ou recebido em dação em pagamento.

INFORMATIVO esquematizado
O STJ pacificou a questão, reafirmando que se trata de uma mera autorização e não
obrigação.
Processo Segunda Seção. REsp 1.161.522-AL, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/12/2012.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (MP/RR 2012 – CESPE) De acordo com a Lei Federal n.º 9.800/1999, é possível a prática de qualquer ato
processual escrito por meio de sistema de transmissão de dados e imagens do tipo fac-símile ou outro
similar, entendendo o STJ que o prazo de juntada dos originais em juízo deve ser contínuo, não se
interrompendo nos sábados, domingos e feriados. ( )

2) (Juiz TJGO 2012) A venda de ascendente para descendente sem o expresso consentimento dos demais
descendentes constitui
A) negócio jurídico nulo de pleno direito.
B) negócio jurídico anulável.
C) adiantamento de legítima.
D) negócio jurídico ineficaz.
E) sempre doação simulada.

3) (DPE/RR 2013 – CESPE) Em 19/12/2012, Elias, divorciado, e sua irmã, por parte de pai, Joana, solteira,
procuraram a DP para saber o que poderia ser feito a respeito da venda de um imóvel urbano, realizada
pelo pai de ambos, Aldair, a seu neto, Miguel, filho de Cláudio, irmão dos assistidos, o qual havia
passado a residir no imóvel com o pai alienante após a morte da companheira deste, Vilma. Afirmaram
que não haviam consentido com a venda, muito embora dela tivessem sido notificados previamente,
sem que, contudo, apresentassem qualquer impugnação. A alienação consumou-se em escritura
pública datada de 18/10/2002 e registrada no dia 11/11/2002.
Considerando aspectos relativos a defeitos, validade, invalidade e nulidade do negócio jurídico, assinale
a opção correta com referência à situação hipotética acima descrita.
A) Segundo a jurisprudência do STF, a ação para anular venda de ascendente a descendente, sem
consentimento dos demais, prescreve em vinte anos, contados da data do ato. Assim, a pretensão
anulatória de Elias e Joana não foi atingida pela prescrição.
B) Se, em lugar de vender, Aldair tivesse doado o bem a seu neto, seria imprescindível a anuência
expressa dos demais herdeiros ao negócio.
C) De acordo com o Código Civil, a alienação feita por ascendente a descendente é ato jurídico nulo.
Dessa forma, poderia ser ajuizada ação anulatória da venda realizada por Aldair a seu neto Miguel.
D) Nos termos da jurisprudência do STJ, para que a compra e venda de Aldair a Miguel possa ser
anulada, é necessária a configuração de simulação, consistente em doação disfarçada ou,
alternativamente, a demonstração de prejuízo.
E) De acordo com o Código Civil, o silêncio importa anuência, razão por que, se Joana e Elias,
previamente notificados, não apresentaram qualquer discordância a respeito da compra e venda
celebrada entre avô e neto, é correto inferir que ambos consentiram tacitamente com o negócio e, por
isso, não poderiam pleitear a invalidade do contrato.

4) (Cartório TJRO 2012 – IESES) O ascendente pode realizar compra e venda a um descendente
independentemente da concordância dos demais, porém na doação tal concordância é indispensável. ( )
5) (MP TO 2012 – CESPE) Em caso de venda de imóvel de ascendente a descendente, a ausência de
27

autorização dos outros descendentes gera direito potestativo, aplicando-se o prazo geral de prescrição
de dez anos para o ajuizamento de ação anulatória. ( )
Página

INFORMATIVO esquematizado
6) (Cartório TJSP 2012 – FUVEST) Na troca ou permuta de valores desiguais entre ascendentes e
descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante, o ato é
A) ineficaz.
B) inexistente.
C) anulável.
D) nulo.

Gabarito
1. C 2. Letra B 3. Letra D 4. E 5. E 6. Letra C

28
Página

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 515 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no REsp 1.110.226-PR; AgRg no AREsp 238.740-
RS; REsp 996.352-PR; REsp 1.332.376-PR; REsp 1.321.610-SP; REsp 739.286-DF; RCDesp no REsp 1.347.420-DF.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público (convocação do candidato por meio de publicação no Diário Oficial)

Viola os princípios da razoabilidade e da publicidade a convocação para determinada fase de


concurso público ou para nomeação de candidato aprovado apenas mediante publicação do
chamamento em Diário Oficial quando passado muito tempo entre a realização ou a divulgação
do resultado da etapa imediatamente anterior e a referida convocação, uma vez que é inviável
exigir que o candidato acompanhe, diariamente, com leitura atenta, as publicações oficiais.
Comentários Determinada candidata foi aprovada em cadastro de reserva na 92ª colocação em concurso
que previu apenas 10 vagas no edital de abertura.
A candidata foi nomeada para o cargo, no entanto, somente ficou sabendo tempos depois,
quando ligou para o órgão com o objetivo de obter informações sobre o concurso.
Inconformada, protocolou recurso administrativo, que foi indeferido sob o argumento de
que foi convocada por meio do Diário Oficial.
Contra este indeferimento administrativo, a candidata impetrou mandado de segurança.

O STJ, analisando a questão em sede de recurso, entendeu que a candidata tinha razão e
que ela deveria ter sido comunicada pessoalmente da nomeação por carta ou outro meio,
além da publicação no DOE.

A Corte considerou que o edital do concurso continha previsão implícita de comunicação


pessoal, uma vez que obrigava a candidata a manter atualizado seu endereço e número
telefônico.

Além disso, considerou-se que a candidata foi aprovada para compor o cadastro de reserva,
não havendo como prever se teria a real condição de surgir vaga, bem como a sua
1

convocação para a posse. Assim, com mais razão seria necessário o envio de comunicação
Página

pessoal, para que pudesse exercer o seu direito à nomeação e posse.

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Situação O STJ possui entendimento consolidado de que, se já transcorreu longo lapso de tempo, é
análoga indispensável que a Administração Pública convoque pessoalmente o candidato para as
novas etapas do concurso:
ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CONVOCAÇÃO
PARA NOVA ETAPA. EDITAL PUBLICADO EM DIÁRIO OFICIAL. LONGO LAPSO TEMPORAL ENTRE O TAL
CHAMAMENTO E A REALIZAÇÃO DA FASE IMEDIATAMENTE ANTERIOR. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE.

1. Trata-se de mandado de segurança impetrado por candidato aprovado em concurso público contra ato que o
teria excluído do certame. O impetrante recorrente alega que, apesar de ter tomado conhecimento da sua
aprovação na primeira etapa do concurso por meio de edital, somente nove meses após isso é que houve a
convocação para a perícia médica. Entende violado seu direito, por não ter sido intimado pessoalmente para a
avaliação médica.
2. Há entendimento pacífico nesta Corte no sentido de que caracteriza violação ao princípio da razoabilidade a
convocação para determinada fase de concurso público apenas mediante publicação do chamamento em diário
oficial quando passado considerável lapso temporal entre a realização ou a divulgação do resultado da etapa
imediatamente anterior e a referida convocação, uma vez que é inviável exigir que o candidato acompanhe,
diariamente, com leitura atenta, as publicações oficiais.
3. Na espécie, o recorrente foi convocado para a avaliação de títulos do certame em edital publicado em
27.1.2009, sendo convocado genericamente nesse mesmo edital para avaliação médica em 1.9.2009.
4. E, mesmo não havendo previsão expressa no edital do certame de intimação pessoal do candidato acerca de
sua nomeação, em observância aos princípios constitucionais da publicidade e da razoabilidade, a Administração
Pública deveria, mormente em face do longo lapso temporal decorrido entre as fases do concurso (mais de 8
meses), comunicar pessoalmente o candidato sobre a nova fase, para que pudesse exercer, se fosse de seu
interesse, o exame médico.
5. Recurso ordinário em mandado de segurança provido.
(RMS 34304/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/09/2011, DJe
14/09/2011)

Este entendimento acima exposto também é aplicável quando a Administração Pública


demora muito tempo para nomear o candidato aprovado. Tendo passado longo período,
deve-se realizar a comunicação pessoal, não sendo suficiente a publicação no DOE:
Não é razoável exigir de aprovado em concurso público o acompanhamento da publicação
da sua nomeação, por mais de dois anos, no Diário Oficial.
(AgRg no Ag 1.369.564/PE, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, julgado em
22.2.2011, DJe 10.3.2011)
Processo Segunda Turma. AgRg no RMS 37.227-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2012.

Concurso público (candidata gestante e exames médicos entregues posteriormente)

I – Ainda que o edital do concurso expressamente preveja a impossibilidade de realização


posterior de exames ou provas em razão de alterações psicológicas ou fisiológicas temporárias, é
ilegal a exclusão de candidata gestante que, seguindo a orientação médica de que a realização de
alguns, dos vários exames exigidos, poderia causar dano à saúde do feto, deixe de entregá-los na
data marcada, mas que se prontifique a apresentá-los em momento posterior.

II – O encerramento do certame, o término do curso de formação ou a homologação do


resultado final do concurso público não acarretam perda do objeto de mandado de segurança
impetrado em face de suposta ilegalidade ou abuso de poder praticados durante uma de suas
etapas. Entender como prejudicado o pedido nessas situações seria assegurar indevida
perpetuação da eventual ilegalidade ou do possível abuso praticado.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Juliana foi aprovada no concurso para a Polícia Militar.
A 3ª etapa do certame consistia na apresentação de exames médicos.
2

O andamento do concurso acabou atrasando e, na data prevista para a realização e entrega


Página

dos exames médicos, Juliana estava no 8º mês de gestação. Diante disso, ela deixou de

INFORMATIVO esquematizado
apresentar 3 dos 28 exames exigidos, justificando que a radiografia, o teste ergométrico e o
preventivo seriam prejudiciais à saúde do feto, conforme laudos médicos juntados por ela.
Pediu para apresentar tais exames após o nascimento da criança.
O requerimento foi indeferido administrativamente e Juliana excluída do concurso.

Ante o exposto, a candidata impetrou mandado de segurança contra sua exclusão. A


questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?
O STJ entendeu que a impetrante tinha direito líquido e certo a permanecer no certame,
devendo-lhe ser oportunizada uma nova data para apresentação dos exames
remanescentes exigidos.

Ainda que o edital do concurso expressamente preveja a impossibilidade de realização


posterior de exames ou provas em razão de alterações psicológicas ou fisiológicas
temporárias, é ilegal a exclusão de candidata gestante que, seguindo a orientação médica
de que a realização de alguns, dos vários exames exigidos, poderia causar dano à saúde do
feto, deixe de entregá-los na data marcada, mas que se prontifique a apresentá-los em
momento posterior.

É certo que, segundo a jurisprudência do STJ, não se pode dispensar tratamento


diferenciado a candidatos em virtude de alterações fisiológicas temporárias, mormente
quando existir previsão no edital que vede a realização de novo teste, sob pena de ofensa
ao princípio da isonomia, principalmente se o candidato deixar de comparecer na data de
realização do teste, contrariando regra expressa do edital que preveja a eliminação
decorrente do não comparecimento a alguma fase. Todavia, diante da proteção conferida
pelo art. 6º da CF à maternidade, deve-se entender que a gravidez não pode ser motivo
para fundamentar qualquer ato administrativo contrário ao interesse da gestante, muito
menos para impor-lhe qualquer prejuízo.

Assim, em casos como o presente, ponderando-se os princípios da legalidade, da isonomia e


da razoabilidade, em consonância com a jurisprudência do STF, há de ser possibilitada a
remarcação da data para a avaliação, buscando-se dar efetivo cumprimento ao princípio da
isonomia, diante da peculiaridade da situação em que se encontra a candidata
impossibilitada de realizar o exame, justamente por não estar em igualdade de condições
com os demais concorrentes.

Se o resultado final do concurso já tivesse sido homologado e somente depois deste fato o
MS fosse julgado, haveria perda do objeto do writ?
NÃO. O STJ possui entendimento firmado no sentido de que, quando a ação busca aferir a
suposta ilegalidade de uma das etapas do concurso, a homologação final deste não conduz
à perda de objeto do mandamus.
O encerramento do certame, o término do curso de formação ou a homologação do
resultado final do concurso público não acarretam perda do objeto de mandado de
segurança impetrado em face de suposta ilegalidade ou abuso de poder praticados durante
uma de suas etapas.
Entender como prejudicado o pedido nessas situações seria assegurar indevida perpetuação
da eventual ilegalidade ou do possível abuso praticado.
Tema Candidata grávida e exame físico: vide INFORMATIVO Esquematizado 502 STJ.
correlato
Processo Sexta Turma. RMS 28.400-BA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/2/2013.
3
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INFORMATIVO esquematizado
Concurso público (nomeação tardia e inexistência do dever de indenizar)

A nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial


NÃO gera direito à indenização.
Comentários Candidato que postergou a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração
tem direito a receber a remuneração retroativa?
NÃO. É indevida a indenização por danos materiais a candidato aprovado em concurso
público cuja nomeação tardia decorreu de decisão judicial.

O STJ mudou o entendimento sobre a matéria e passou a adotar a orientação do STF no


sentido de que não é devida indenização pelo tempo em que se aguardou solução judicial
definitiva para que se procedesse à nomeação de candidato para cargo público.
Assim, não assiste ao concursado o direito de receber o valor dos vencimentos que poderia
ter auferido até o advento da nomeação determinada judicialmente, pois essa situação
levaria a seu enriquecimento ilícito em face da inexistência da prestação de serviços à
Administração Pública.
Posição Durante alguns anos houve intensa divergência quanto a este tema.
pacífica Em julgamento de embargos de divergência (quando se resolve dissenso entre as Turmas
no STJ do STJ), o STJ consolidou a posição de que não há direito à indenização em tais casos.
Vale ressaltar que não há direito à indenização nem mediante o pagamento da
remuneração atrasada nem a título de “perda de uma chance”. Simplesmente não há
pagamento de qualquer valor. Nesse sentido: EREsp 1117974/RS, julgado em 21/09/2011;
AgRg no AgRg no RMS 34792/SP, julgado em 17/11/2011.
Processo Sexta Turma. AgRg nos EDcl nos EDcl no RMS 30.054-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/2/2013.

Lei n. 8.112/90 (Licença para acompanhamento de cônjuge)

É cabível a concessão de licença a servidor público para acompanhamento de cônjuge na


hipótese em que se tenha constatado o preenchimento dos requisitos legais para tanto, ainda
que o cônjuge/companheiro a ser acompanhado não seja servidor público e que o seu
deslocamento não tenha sido atual.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Eduardo e Mônica são companheiros (vivem em união estável). Ela é servidora pública
federal e ele trabalha na iniciativa privada. Eduardo consegue ser aprovado em um
Doutorado a ser cursado na Inglaterra.

Existe a previsão de alguma licença para que Mônica possa acompanhar seu companheiro?
SIM. A Lei n. 8.112/90 estabelece o direito à licença para o servidor público afastar-se de
suas atribuições, por prazo indeterminado e sem remuneração, com o fim de acompanhar
cônjuge ou companheiro:
Da Licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge
Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompanhar cônjuge ou
companheiro que foi deslocado para outro ponto do território nacional, para o exterior ou
para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo.
§ 1º A licença será por prazo indeterminado e sem remuneração.

O servidor terá direito a esta licença mesmo que o companheiro ou cônjuge não seja
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servidor público e tenha sido deslocado por “interesse particular”?


Página

SIM. O art. 84 acima visto não exige a qualidade de servidor público do


cônjuge/companheiro do servidor que pleiteia a licença, tampouco que o deslocamento

INFORMATIVO esquematizado
daquele tenha sido atual, não cabendo ao intérprete condicionar a respectiva concessão a
requisitos não previstos pelo legislador.

Sendo preenchidos os requisitos legais, esta licença ainda assim poderá ser negada pela
Administração?
NÃO. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que a referida licença é um direito
assegurado ao servidor público, de sorte que, preenchidos os requisitos legais, não há falar
em discricionariedade da Administração quanto a sua concessão.
Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.243.276-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 5/2/2013.

Responsabilidade civil

NÃO é cabível indenização por danos morais/estéticos em decorrência de lesões sofridas por
militar das Forças Armadas em acidente ocorrido durante sessão de treinamento, salvo se ficar
demonstrado que o militar foi submetido a condições de risco excessivo e desarrazoado.
Comentários Determinado militar do Exército, ao participar de manobra de treinamento militar,
operando rádio em veículo blindado, recebeu, acidentalmente, choque da rede elétrica, que
lhe ocasionou parada cardíaca e diversas queimaduras pelo corpo.
O militar ajuizou ação contra a União pleiteando, dentre outros pedidos, indenização por
danos morais.
Após julgamento pelo juiz federal em 1ª instância e pelo TRF, a questão chegou até o STJ
por meio de recurso especial.

O que decidiu a Corte?


O STJ rejeitou o pedido do autor, considerando que NÃO é cabível indenização por danos
morais/estéticos em decorrência de lesões sofridas por militar oriundas de acidente
ocorrido durante sessão de treinamento, salvo se ficar demonstrado que o militar foi
submetido a condições de risco excessivo e desarrazoado.

Para o STJ, os militares, no exercício de suas atividades rotineiras de treinamento, são


expostos a situações de risco que ultrapassam a normalidade dos servidores civis, tais como
o manuseio de armas de fogo, explosivos etc.

As sequelas físicas decorrentes de acidente sofrido por militar em serviço não geram, por si
sós, o direito à indenização por danos morais, os quais devem estar vinculados à
demonstração de existência de eventual abuso ou negligência dos agentes públicos
responsáveis pelo respectivo treinamento, de forma a revelar a submissão do militar a
condições de risco que ultrapassem aquelas consideradas razoáveis no contexto no qual foi
inserido.

No caso concreto, o STJ entendeu que não houve demonstração de abuso ou negligência no
treinamento nem que o militar tenha sido exposto a um risco excessivo e desarrazoado,
razão pela qual foi negada a indenização por danos morais.
Processo Primeira Turma. AgRg no AREsp 29.046-RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 21/2/2013.
5
Página

INFORMATIVO esquematizado
Improbidade administrativa (indisponibilidade de bens)

Para a decretação da indisponibilidade de bens pela prática de ato de improbidade


administrativa que tenha causado lesão ao patrimônio público, não se exige que seu
requerente demonstre a ocorrência de periculum in mora.
Nesses casos, a presunção quanto à existência dessa circunstância milita em favor do
requerente da medida cautelar, estando o periculum in mora implícito no comando normativo
descrito no art. 7º da Lei n. 8.429/1992, conforme determinação contida no art. 37, § 4º, da CF.
Comentários Se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa, estará sujeita às sanções previstas
no § 4º do art. 37 da CF/88, quais sejam:
suspensão dos direitos políticos
perda da função pública
indisponibilidade dos bens e
ressarcimento ao erário.

A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no


caso da prática de atos de improbidade administrativa.

A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam
improbidade administrativa.

Art. 9º: atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do agente público
Art. 10: atos de improbidade que causam prejuízo ao erário
Art. 11: atos de improbidade que atentam contra princípios da administração pública

Para garantir que a pessoa que praticou ato de improbidade responda pelas sanções do § 4º
do art. 37, da CF, os arts. 7º e 16 da Lei n. 8.429/92 preveem a possibilidade de ser decretada
a indisponibilidade (art. 7º) e o sequestro (art. 16) dos seus bens. Veja o que diz a Lei:
Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar
enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito
representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens
que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial
resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao


Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a
decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente
ou causado dano ao patrimônio público.
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825
do Código de Processo Civil.
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens,
contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos
da lei e dos tratados internacionais.

Algumas perguntas relacionadas ao tema:

1) Quem decreta essa indisponibilidade?


O juiz, a requerimento do Ministério Público.
6

A redação do art. 7º não é muito clara, mas o que a lei quer dizer é que a autoridade
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administrativa irá comunicar a suposta prática de improbidade ao MP e este irá analisar as


informações recebidas e, com base em seu juízo, irá requerer (ou não) a indisponibilidade
INFORMATIVO esquematizado
dos bens do suspeito ao juiz, antes ou durante o curso da ação principal (ação de
improbidade). Em outras palavras, a indisponibilidade pode ser requerida como medida
preparatória ou incidental.
Quando o art. 7º fala em “inquérito”, está se referindo a inquérito administrativo, mas essa
representação pode ocorrer também no bojo de um processo administrativo ou de um
processo judicial.
Além disso, o MP poderá requerer a indisponibilidade ainda que não tenha sido provocado
por nenhuma autoridade administrativa, desde que, por algum outro modo, tenha tido
notícia da suposta prática do ato de improbidade (ex: reportagem divulgada em jornal).
De qualquer forma, muito cuidado com a redação dos arts. 7º e 16 porque muitas vezes são
cobrados na prova a sua mera transcrição, devendo este item ser assinalado, então, como
correto.

2) Essa indisponibilidade pode ser decretada em qualquer hipótese de ato de


improbidade?

Redação dos arts. 7º e 16 da LIA Julgado do STJ e doutrina


NÃO. A indisponibilidade é decretada SIM. Não se pode conferir uma
apenas quando o ato de improbidade interpretação literal aos arts. 7º e 16 da
administrativa: LIA, até mesmo porque o art. 12, III, da Lei
a) causar lesão ao patrimônio público; ou n. 8.429/92 estabelece, entre as sanções
b) ensejar enriquecimento ilícito. para o ato de improbidade que viole os
princípios da administração pública, o
Assim, só cabe a indisponibilidade nas ressarcimento integral do dano - caso
hipóteses do arts. 9º e 10 da LIA. Não cabe exista -, e o pagamento de multa civil de
a indisponibilidade no caso de prática do até cem vezes o valor da remuneração
art. 11. percebida pelo agente. Logo, em que pese
o silêncio do art. 7º, uma interpretação
sistemática que leva em consideração o
poder geral de cautela do magistrado induz
a concluir que a medida cautelar de
indisponibilidade dos bens também pode
ser aplicada aos atos de improbidade
administrativa que impliquem violação dos
princípios da administração pública,
mormente para assegurar o integral
ressarcimento de eventual prejuízo ao
erário, se houver, e ainda a multa civil
prevista no art. 12, III, da Lei n. 8.429/92
(AgRg no REsp 1311013/RO, DJe
13/12/2012).
Na doutrina, esta é a posição de Emerson
Garcia e Rogério Pacheco Alves
(Improbidade Administrativa. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011).

3) A indisponibilidade pode ser decretada antes do recebimento da petição inicial da ação


de improbidade?
SIM.
7
Página

INFORMATIVO esquematizado
4) Tendo sido instaurado procedimento administrativo para apurar a improbidade,
conforme permite o art. 14 da LIA, a indisponibilidade dos bens pode ser decretada antes
mesmo de encerrado esse procedimento?
SIM.

5) Essa indisponibilidade dos bens pode ser decretada sem ouvir o réu?
SIM. É admissível a concessão de liminar inaudita altera pars para a decretação de
indisponibilidade e sequestro de bens, visando assegurar o resultado útil da tutela
jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário.
Desse modo, o STJ entende que, ante sua natureza acautelatória, a medida de
indisponibilidade de bens em ação de improbidade administrativa pode ser deferida nos
autos da ação principal sem audiência da parte adversa e, portanto, antes da notificação
para defesa prévia (art. 17, § 7º da LIA).

6) Para que seja decretada a indisponibilidade dos bens da pessoa suspeita de ter
praticado ato de improbidade exige-se a demonstração de fumus boni iuris e periculum in
mora?
NÃO. Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido
(implícito). Assim, é desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que
os réus estejam dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas
a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de
improbidade.
A medida cautelar de indisponibilidade de bens, prevista na LIA, consiste em uma tutela de
evidência, de forma que basta a comprovação da verossimilhança das alegações, pois, pela
própria natureza do bem protegido, o legislador dispensou o requisito do perigo da demora.

Conforme explica o Ministro Mauro Campbell Marques, em trechos de seu brilhante voto:
“as medidas cautelares, em regra, como tutelas emergenciais, exigem, para a sua
concessão, o cumprimento de dois requisitos: o fumus boni juris (plausibilidade do direito
alegado) e o periculum in mora (fundado receio de que a outra parte, antes do julgamento
da lide, cause ao seu direito lesão grave ou de difícil reparação). (...)
No entanto, no caso da medida cautelar de indisponibilidade, prevista no art. 7º da LIA, não
se vislumbra uma típica tutela de urgência, como descrito acima, mas sim uma tutela de
evidência, uma vez que o periculum in mora não é oriundo da intenção do agente dilapidar
seu patrimônio e, sim, da gravidade dos fatos e do montante do prejuízo causado ao erário,
o que atinge toda a coletividade. O próprio legislador dispensa a demonstração do perigo
de dano, em vista da redação imperativa da Constituição Federal (art. 37, §4º) e da própria
Lei de Improbidade (art. 7º). (...)
O periculum in mora, em verdade, milita em favor da sociedade, representada pelo
requerente da medida de bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior já apontou pelo
entendimento segundo o qual, em casos de indisponibilidade patrimonial por imputação de
conduta ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao comando normativo do art.
7º da Lei n. 8.429/92. (...)
A Lei de Improbidade Administrativa, diante dos velozes tráfegos, ocultamento ou
dilapidação patrimoniais, possibilitados por instrumentos tecnológicos de comunicação de
dados que tornaria irreversível o ressarcimento ao erário e devolução do produto do
enriquecimento ilícito por prática de ato ímprobo, buscou dar efetividade à norma
afastando o requisito da demonstração do periculum in mora (art. 823 do CPC), este,
intrínseco a toda medida cautelar sumária (art.789 do CPC), admitindo que tal requisito seja
8

presumido à preambular garantia de recuperação do patrimônio do público, da


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coletividade, bem assim do acréscimo patrimonial ilegalmente auferido (REsp 1319515/ES,


Rel. p/ Acórdão Min. Mauro Campbell Marques, 1ª Seção, julgado em 22/08/2012).
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7) Então, pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja
se desfazendo de seus bens?
SIM. A indisponibilidade dos bens visa, justamente, a evitar que ocorra a dilapidação
patrimonial. Não é razoável aguardar atos concretos direcionados à sua diminuição ou
dissipação. Exigir a comprovação de que tal fato esteja ocorrendo ou prestes a ocorrer
tornaria difícil a efetivação da medida cautelar e, muitas vezes, inócua (Min. Herman
Benjamin).
Vale ressaltar, no entanto, que a decretação da indisponibilidade de bens, apesar da
excepcionalidade legal expressa da desnecessidade da demonstração do risco de
dilapidação do patrimônio, não é uma medida de adoção automática, devendo ser
adequadamente fundamentada pelo magistrado, sob pena de nulidade (art. 93, IX, da
Constituição Federal), sobretudo por se tratar de constrição patrimonial (REsp 1319515/ES).

8) Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da
suposta prática do ato de improbidade?
SIM. A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes como depois da
prática do ato de improbidade.

9) A indisponibilidade é decretada para assegurar apenas o ressarcimento dos valores ao


Erário ou também para custear o pagamento da multa civil?
Para custear os dois. A indisponibilidade de bens deve recair sobre o patrimônio do réu de
modo suficiente a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se
em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma (STJ. AgRg no
REsp 1311013 / RO).
Vale ressaltar que é assegurado ao réu provar que a indisponibilidade que recaiu sobre o seu
patrimônio foi muito drástica e que não está garantindo seu mínimo existencial.

10) É necessário que o Ministério Público (ou outro autor da ação de improbidade), ao
formular o pedido de indisponibilidade, faça a indicação individualizada dos bens do réu?
NÃO. A jurisprudência do STJ está consolidada no sentido de que é desnecessária a
individualização dos bens sobre os quais se pretende fazer recair a indisponibilidade prevista
no art. 7º, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92 (AgRg no REsp 1307137/BA, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 25/09/2012). A individualização somente é
necessária para a concessão do “sequestro de bens”, previsto no art. 16 da Lei n. 8.429/92.

11) A indisponibilidade de bens constitui uma sanção?


NÃO. A indisponibilidade de bens não constitui propriamente uma sanção, mas medida de
garantia destinada a assegurar o ressarcimento ao erário (DPE/MA – CESPE – 2011).
Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.229.942-MT, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2012.

DIREITO CIVIL

Prescrição (cobrança de honorários periciais)

A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o prazo prescricional para a cobrança de


honorários periciais arbitrados em processo judicial em que a parte é beneficiária da
gratuidade da justiça é de cinco anos, seja em razão do art. 12 da Lei 1.060/1950, seja por força
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do art. 1º do Decreto 20.910/1932, o qual deve prevalecer sobre os prazos prescricionais


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estipulados pelo Código Civil.

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Comentários Fundamento legal:
Lei n. 1.060/1950:
Art. 12. A parte beneficiada pela isenção do pagamento das custas ficará obrigada a pagá-
las, desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família. Se, dentro de
cinco anos, a contar da sentença final, o assistido não puder satisfazer tal pagamento, a
obrigação ficará prescrita.

Decreto n. 20.910/1932:
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e
qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, estadual ou municipal, seja qual for a
sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se
originaram.
Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.337.319-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012.

Locação (legitimidade ativa na ação de despejo)

O locador, ainda que não seja o proprietário do imóvel alugado, é parte legítima para a
propositura de ação de despejo fundada na prática de infração legal/contratual ou na falta de
pagamento de aluguéis.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro, rico empresário, entregou a posse de um de seus apartamentos para ser
administrado por seu irmão João, podendo este morar no imóvel ou alugá-lo para outras
pessoas e, assim, ficar com o valor dos aluguéis.
Dessa forma, Pedro é o proprietário do apartamento e João o possuidor.

João aluga o apartamento para Marcos. Ocorre que, após alguns meses, este começa a não
mais pagar os aluguéis.
João, como locador, ajuíza uma ação de despejo contra Marcos, objetivando a rescisão do
contrato de locação, com a consequente retomada do imóvel e a cobrança os aluguéis
atrasados.
Na contestação, Marcos suscita a ilegitimidade de João para integrar o polo ativo da lide em
virtude de ele não ser o proprietário do apartamento.

A tese defendida por Marcos pode ser acolhida?


NÃO. O locador, ainda que não seja o proprietário do imóvel alugado, é parte legítima para
a propositura de ação de despejo fundada na prática de infração legal/contratual ou na falta
de pagamento de aluguéis.

A Lei n. 8.245/1991 (Lei de Locações) especifica as hipóteses nas quais é exigida a prova da
propriedade para o ajuizamento da ação de despejo. Nos demais casos, entre os quais se
encontram a falta de pagamento, é desnecessária a condição de proprietário para a
propositura da demanda.

Ademais, cabe invocar o princípio da boa-fé objetiva, em especial o venire contra factum
proprium, considerando que o locatário aceitou celebrar contrato de locação com alguém
que não era o proprietário (mas apenas possuidor) e agora vem alegar esta circunstância
para evitar a discussão judicial sobre o pagamento dos aluguéis.
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Processo Terceira Turma. REsp 1.196.824-AL, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/2/2013.
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Locação (venda de imóvel locado)

O comprador de imóvel locado não tem direito a proceder à denúncia do contrato de locação
ainda vigente sob a alegação de que o contrato não teria sido objeto de averbação na matrícula
do imóvel se, no momento da celebração da compra e venda, tivera inequívoco conhecimento
da locação e concordara em respeitar seus termos.
Comentários O que acontece se determinado imóvel, que está alugado, for vendido, para outra pessoa
que não o locatário? Ex: Carlos é proprietário de um apartamento que está alugado para
Sheila. Carlos vende o imóvel para Reginaldo.
Regra: o adquirente poderá denunciar o contrato de locação, tendo o locatário que
desocupar o imóvel no prazo máximo de 90 dias.

Exceção: o contrato não poderá ser denunciado e a locação continuará em vigor se


estiverem presentes os seguintes requisitos cumulativos:
a) o contrato de locação for por tempo determinado;
b) o contrato de locação contiver cláusula de vigência em caso de alienação;
c) o contrato de locação estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

Neste caso, o adquirente, ao comprar o imóvel, já estava ciente da existência da locação e,


portanto, terá que respeitar o contrato, que irá vigorar até que termine o seu prazo.

O que foi explicado acima está previsto expressamente na Lei n. 8.245/91:


Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o
contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por
tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e
estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

Imagine agora que o contrato de locação é por tempo determinado e que nele há uma
cláusula de vigência em caso de alienação. Ocorre que este contrato não foi averbado junto
à matrícula do imóvel. Dessa forma, estão presentes os requisitos “a” e “b” (acima listados)
mas não o “c”. Ocorre que o locatário conseguiu provar, por outros meios, que o adquirente
sabia da existência do contrato quando comprou o imóvel. Neste caso, o contrato de
locação poderá ser denunciado pelo comprador?
NÃO. A 3ª Turma do STJ decidiu que, apesar de o contrato não ter sido averbado na
matrícula do imóvel, se ficar provado, por outros meios, que o adquirente sabia da
existência da cláusula de vigência do contrato de locação, este comprador terá a obrigação
de respeitar a locação até o seu termo final, em homenagem ao princípio da boa-fé. Isso
porque a finalidade da averbação é apenas a de dar publicidade erga omnes da existência
da locação. Se, mesmo sem a averbação, consegue-se dar esta ciência ao comprador, está
suprida a finalidade precípua do registro público.

O STJ construiu, portanto, uma nova ressalva à regra do art. 8º da Lei de Locações. Vejamos
como fica:

O que acontece se determinado imóvel, que está alugado, for vendido, para outra pessoa
que não o locatário?

Regra: o adquirente poderá denunciar o contrato de locação, tendo o locatário que


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desocupar o imóvel no prazo máximo de 90 dias.


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Exceção: o contrato não poderá ser denunciado e a locação continuará em vigor se
estiverem presentes os seguintes requisitos cumulativos:
a) o contrato de locação for por tempo determinado;
b) o contrato de locação contiver cláusula de vigência em caso de alienação;
c) o contrato de locação estiver averbado junto à matrícula do imóvel OU ficar provado,
por outros meios, que o adquirente sabia da existência da locação e da cláusula de
vigência em caso de venda.
Processo Terceira Turma. REsp 1.269.476-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 5/2/2013.

Responsabilidade civil (ação ajuizada contra pai por ato ilícito de filho menor)

O filho menor não tem interesse nem legitimidade para recorrer da sentença condenatória
proferida em ação proposta unicamente em face de seu genitor com fundamento na
responsabilidade dos pais pelos atos ilícitos cometidos por filhos menores.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (com adaptações em relação ao caso concreto):
Em uma festa, Eduardo (16 anos) agride Marcelo.
A vítima ajuíza uma ação de indenização contra Antônio (pai do agressor).
A ação foi proposta contra o pai com fundamento no art. 932, I, do CC:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

Reparem como as formalidades podem ser imprescindíveis no processo civil:


Na peça de contestação oferecida, ao invés de aparecer o nome de Antônio (réu) como
contestante, figurou o de Eduardo:
“Eduardo da Silva vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar
CONTESTAÇÃO aos fatos articulados na petição inicial, fazendo-o nos seguintes termos...”

Ocorre que a ação havia sido proposta somente contra Antônio (e não contra Eduardo,
mesmo ele tendo sido o autor das agressões). Diante disso, o que o juiz fez? Decretou a
revelia de Antônio por ausência jurídica de contestação. Os argumentos apresentados na
contestação de Eduardo não foram considerados.

A sentença foi de procedência, condenando Antônio a indenizar a vítima.

Contra esta sentença, houve recurso. Quem recorreu?


Eduardo.

O recurso foi conhecido?


NÃO, porque quem sucumbiu não foi Eduardo, mas sim Antônio.

Quem tem legitimidade para interpor recurso?


Em regra, quem tem legitimidade para recorrer é a parte sucumbente. No entanto, o art.
499 do CPC permite que o recurso seja interposto também pelo terceiro prejudicado.

Vale ressaltar, porém, que, para que o terceiro prejudicado possa interpor o recurso, é
indispensável que ele demonstre “o nexo de interdependência entre o seu interesse de
intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial” (§ 1º do art. 499 do CPC).
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Em outras palavras, para que seja admissível o recurso de terceiro, é necessário que este
explique qual foi o prejuízo sofrido para si em razão da decisão judicial proferida, ou seja, o
terceiro deve demonstrar seu interesse recursal, caracterizado pelo binômio “necessidade-
utilidade” do recurso.

Este interesse deve ser jurídico, não se admitindo o recurso do terceiro prejudicado quando
seu interesse é meramente econômico.

No caso concreto, o STJ entendeu que o menor não tinha interesse jurídico em recorrer
porque a ação não foi proposta contra ele. Logo, o patrimônio do menor não seria atingido
pelos efeitos da condenação.

O STJ ressaltou que, mesmo que o pai do menor pague a indenização fixada na sentença
condenatória, ainda assim o patrimônio deste menor não será atingido porque, embora nos
outros casos de atribuição de responsabilidade, previstos no art. 932, seja cabível o direito
de regresso em face do causador do dano, o art. 934 afasta essa possibilidade na hipótese
de pagamento efetuado por ascendente. Dito de outra forma, o pai que pagar a indenização
por ato do seu filho menor, não tem direito de regresso contra seu descendente.

A situação seria diferente caso a vítima já tivesse proposto a ação de indenização contra o
pai e o menor, invocando o art. 928 do CC, hipótese na qual o menor também seria parte.
No entanto, não foi isso que aconteceu.
Processo Terceira Turma. REsp 1.319.626-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013.

Responsabilidade civil (legitimidade da mãe para ação de indenização pela morte de filho casado)

A mãe tem legitimidade para ajuizar ação objetivando o recebimento de indenização pelo dano
moral decorrente da morte de filho casado e que tenha deixado descendentes, ainda que a
viúva e os filhos do falecido já tenham recebido, extrajudicialmente, determinado valor a título
de compensação por dano moral oriundo do mesmo fato.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Ruy faleceu, em decorrência de uma falha do hospital, deixando uma mulher e dois filhos.
A mulher celebra um acordo extrajudicial com o hospital e recebe uma indenização por
danos morais e materiais para ela e os filhos.
Após ter sido firmado este pacto, a mãe de Ruy, ainda viva, ajuíza uma ação de indenização
por danos morais contra o hospital. Este alega que a mãe não teria direito porque o falecido
já era casado.

A discussão jurídica passa, portanto, pela seguinte indagação: a mãe do falecido possui
legitimidade para ajuizar ação de indenização por danos morais mesmo que ele já fosse
casado e tivesse filhos?
SIM.

Segundo decidiu o STJ, a mãe tem legitimidade para ajuizar ação objetivando o recebimento
de indenização pelo dano moral decorrente da morte de filho casado e que tenha deixado
descendentes, ainda que a viúva e os filhos do falecido já tenham recebido,
extrajudicialmente, determinado valor a título de compensação por dano moral oriundo do
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mesmo fato.
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É certo que existem parentes mais próximos que a mãe na ordem de vocação hereditária,
os quais, inclusive, receberam indenização e deram quitação, o que poderia, à primeira
vista, levar à interpretação de estar afastada sua legitimidade para o pleito indenizatório.

Ocorre que, não obstante a formação de um novo grupo familiar com o casamento e a
concepção de filhos, é de se considerar que o laço afetivo que une mãe e filho jamais se
extingue, de modo que o que se observa é a coexistência de dois núcleos familiares com os
quais o falecido tinha ligação.

Assim, em regra, os pais/mães têm legitimidade para propor ação de indenização em


decorrência da morte do filho, ainda que este já tenha constituído o seu grupo familiar
imediato. O fato do filho morto já ter se casado servirá apenas para balizar (ponderar) o
valor global da indenização devida.
Processo Quarta Turma. REsp 1.095.762-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/2/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Contrato de fidelidade com empresa de telefonia

A cláusula de fidelização prevista em contrato de telefonia é, em regra, legítima.


O prazo máximo de fidelidade que as empresas de telefonia podem exigir do cliente é de 12 meses.
Comentários É muito comum o consumidor comprar um aparelho na loja de uma operadora de telefonia
celular a preços mais baratos e, em contrapartida, ter que assinar um contrato de fidelidade
de 12 meses. Esta cláusula de fidelização é abusiva ou válida?
Válida. A jurisprudência do STJ entende que a cláusula de fidelização em contrato de
telefonia é legítima, na medida em que o assinante recebe benefícios e em face da
necessidade de garantir um retorno mínimo em relação aos gastos realizados.

Sobre o tema, o Min. Marco Buzzi já pontuou:


“no caso do contrato de prestação de serviços de telefonia móvel, a vinculação do
consumidor a um prazo mínimo é legítima sempre que este obtiver, durante a vigência
desse período, vantagem pecuniária decorrente da cobrança de valores reduzidos (em
comparação ao consumidor que contrata os mesmos serviços, sem, entretanto, vincular-se
à cláusula de fidelidade)” (REsp 1097582/MS, DJe 08/04/2013).

Vale ressaltar, no entanto, que o prazo máximo de fidelidade que as empresas de telefonia
podem exigir do cliente é de 12 meses (Resolução 477/2007 da ANATEL). Acima disso, a
cláusula será considerada abusiva por atentar diretamente contra a liberdade de escolha do
consumidor (REsp 1097582/MS, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em
19/03/2013).
Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 253.609-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2012.

DIREITO EMPRESARIAL

Classificação dos créditos de falência


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É possível a inclusão de multa moratória de natureza tributária na classificação dos créditos de


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falência decretada na vigência da Lei n. 11.101/2005, ainda que a multa seja referente a
créditos tributários anteriores à vigência da lei mencionada.

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Comentários Conceito
Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade
empresária cuja recuperação mostra-se inviável.

Finalidade
A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do
falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os
credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.

Legislação aplicável
Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária é regida pela Lei n.
11.101/05.
Antes da Lei n. 11.101/05, a falência era regulada pelo Decreto-Lei n. 7.661/45.

Procedimento:
I – PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR II – PROCESSO FALIMENTAR
O procedimento pré-falimentar vai do O processo falimentar vai da sentença
pedido de falência até a sentença do juiz. declaratória de falência até a sentença de
Engloba, resumidamente, três atos encerramento.
principais:
1) Pedido de falência; É no processo falimentar propriamente
2) Resposta do devedor; dito que ocorre a verificação e habilitação
3) Sentença. dos créditos e o pagamento dos credores.

Ao final desta fase, a sentença pode ser:


• Denegatória: o processo se extingue sem
a instauração da falência.
• Declaratória: hipótese em que se iniciará
o processo falimentar propriamente dito.

Classificação dos créditos da falência:


Como vimos, o objetivo da falência é arrecadar valores para efetuar o pagamento dos
credores, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.

O art. 83 da Lei n. 11.101/05 estabelece a ordem em que os créditos concursais devem ser
organizados para serem pagos. O inciso VII prevê o seguinte:
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
(...)
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, inclusive as multas tributárias;

Ao falar em “multas tributárias” este inciso VII abrange também a “multa moratória de
natureza tributária”.

Na vigência da antiga Lei de Falências (Decreto-Lei n. 7.661/45), a multa moratória de


natureza tributária não podia ser habilitada como crédito na falência. Era o que dizia a
Súmula 565 do STF (atualmente superada): A multa fiscal moratória constitui pena
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administrativa, não se incluindo no crédito habilitado em falência.


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Antes da Lei n. 11.101/2005 Depois da Lei n. 11.101/2005
Multa moratória tributária não podia ser Multa moratória tributária pode ser
cobrada na falência. cobrada na falência (inciso VII do art. 83).

Se a multa moratória tributária é referente a período anterior à Lei n. 11.101/2005, mas a


falência somente foi decretada após a vigência da referida Lei, é possível que esta multa
seja cobrada na falência?
SIM. O STJ decidiu que é possível a inclusão da “multa moratória de natureza tributária”
decretada na vigência da Lei n. 11.101/2005, ainda que a multa seja referente a créditos
tributários anteriores à vigência da lei mencionada.

É comum que o operador do Direito fique na dúvida se, no caso concreto, deverá aplicar as
regras do Decreto-Lei n. 7.661/45 (antiga Lei de Falências) ou da Lei n. 11.101/2005.
Vamos tentar sintetizar a resposta:

Falência ajuizada e decretada antes da Aplica-se o antigo DL 7.661/45


vigência da Lei 11.101/05
Falência ajuizada e decretada após a Aplica-se a Lei 11.101/05
vigência da Lei 11.101/05
Aplica-se o DL 7.661/45 até a sentença.
Falência requerida antes, mas decretada
A partir da sentença, incide a Lei
após a vigência da Lei 11.101/05
11.101/05.

Em outras palavras, não importa a fase pré-falimentar.


O marco para saber se será aplicado o revogado DL 7.661/45 ou a Lei 11.101/05 é a
sentença declaratória da falência, que inicia o processo falimentar propriamente dito. Se
esta foi prolatada após o dia 9 de junho de 2005, inclusive, a falência será regida pela Lei
11.101/05.

Estas são as conclusões que se extraem do art. 192, caput e § 4º da Lei n. 11.101/05:
Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados
anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-Lei n.
7.661, de 21 de junho de 1945.

§ 4º Esta Lei aplica-se às falências decretadas em sua vigência resultantes de convolação de


concordatas ou de pedidos de falência anteriores, às quais se aplica, até a decretação, o
Decreto-Lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, observado, na decisão que decretar a
falência, o disposto no art. 99 desta Lei.

Este é o entendimento do STJ:


3ª Turma. REsp 1.096.674-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
13/12/2011.
4ª Turma. REsp 1.105.176-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/12/2011.
Processo Segunda Turma. REsp 1.223.792-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/2/2013.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos


É irrecorrível o ato do presidente do tribunal de origem que, com fundamento no art. 543-C, §
1º, do CPC, determina a suspensão de recursos especiais enquanto se aguarda o julgamento de
outro recurso encaminhado ao STJ como representativo da controvérsia. Com efeito, este ato
não ostenta conteúdo decisório, tendo em vista que não há efetivo juízo de admissibilidade
neste momento processual. Em verdade, a referida manifestação judicial é um despacho, de
modo que tem incidência o regramento previsto no art. 504 do CPC, segundo o qual “dos
despachos não cabe recurso”.
Haverá possibilidade de interposição de recurso após o julgamento do recurso representativo
da controvérsia no STJ, ocasião em que poderá ser manejado agravo regimental, no tribunal de
origem, contra eventual equívoco no juízo de admissibilidade efetivado na forma do art. 543-C,
§ 7º, do CPC.
Comentários Observou-se que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos
temas jurídicos. Em outras palavras, identificou-se que existiam inúmeros recursos
“repetitivos” endereçados aos Tribunais Superiores.
Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei n. 11.672/2008 acrescentou
os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos
recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento
em idêntica controvérsia ou questão de direito.
Vamos estudar, agora, o julgamento por amostragem no caso dos recursos especiais
repetitivos, que é previsto no art. 543-C do CPC:
Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.

Procedimento (art. 543-C do CPC e Resolução n. 08/2008-STJ):

1) O Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar


todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações
contra a Fazenda Pública é de 3 ou 5 anos.

2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais recursos que


representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ.
Serão selecionados os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de
argumentos no recurso especial.

Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos
como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se
pronuncie sobre o tema central.

Cabe algum recurso contra a decisão proferida no Tribunal de origem que tenha
determinado o sobrestamento do Resp com fundamento no § 1º do art. 543-C do CPC?
NÃO. É irrecorrível o ato do presidente do tribunal de origem que, com fundamento no art.
543-C, § 1º, do CPC, determina a suspensão de recursos especiais enquanto se aguarda o
julgamento de outro recurso encaminhado ao STJ como representativo da controvérsia.
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Com efeito, este ato não ostenta conteúdo decisório, tendo em vista que não há efetivo
juízo de admissibilidade neste momento processual. Em verdade, a referida manifestação
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judicial é um despacho, de modo que tem incidência o regramento previsto no art. 504 do
CPC, segundo o qual “dos despachos não cabe recurso”.

INFORMATIVO esquematizado
Haverá possibilidade de interposição de recurso após o julgamento do recurso
representativo da controvérsia no STJ, ocasião em que poderá ser manejado agravo
regimental, no tribunal de origem, contra eventual equívoco no juízo de admissibilidade
efetivado na forma do art. 543-C, § 7º, do CPC.

3) Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem não perceber que haja essa
multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e não tomar essas providências
explicadas acima. Nesse caso, o Ministro Relator do REsp, no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais
a controvérsia esteja estabelecida.

4) Antes de decidir o Resp submetido ao regime de recurso repetitivo, o Ministro Relator


poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15 dias, aos tribunais federais
ou estaduais a respeito da controvérsia.

5) Se a matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas,


órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae.

6) Após as informações prestadas pelos Tribunais e pelos amici curiae (plural de amicus
curiae), o Ministério Público será ouvido no prazo de 15 dias.

7) Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial do STJ, devendo
ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e
os pedidos de habeas corpus.

8) Após todas essas providências, o STJ irá julgar o recurso especial que foi submetido ao
regime de recurso repetitivo. Essa decisão irá afetar os recursos que ficaram suspensos nos
TJ’s ou TRF’s. Veja o que diz o § 7º do art. 543-C:
§ 7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados
na origem:
I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou
II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão
recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

Explicando melhor esse § 7º:


Inciso I: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que não foi aceita
pelo STJ, este recurso terá seu seguimento negado e, portanto, nem será enviado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 5 anos. A
Fazenda interpôs recurso especial alegando que esse prazo era de 3 anos. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, este recurso da Fazenda, que estava sobrestado, terá seu seguimento
negado e nem será mais apreciado pelo STJ.

Inciso II: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que foi acolhida
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pelo STJ, o acórdão que estava sendo impugnado será novamente analisado pelo Tribunal de
origem, que poderá modificar sua decisão para adequá-la ao entendimento firmado pelo STJ.
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Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 3 anos. O

INFORMATIVO esquematizado
particular interpôs recurso especial alegando que esse prazo era quinquenal. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, o TJ terá a oportunidade de analisar novamente esta questão e poderá
modificar sua decisão com base na orientação firmada pelo STJ. Em outras palavras, o TJ
poderá voltar atrás e decidir que o prazo prescricional é de 5 anos realmente. Vale ressaltar,
no entanto, que nesse reexame, o Tribunal poderá manter sua decisão, considerando que o
posicionamento adotado pelo STJ não é vinculante.

9) Se o tribunal de origem mantiver a decisão divergente, irá ser realizado o exame de


admissibilidade do recurso especial para que seja encaminhado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu manter seu entendimento de que o prazo prescricional é de 3 anos,
mesmo o STJ tendo afirmado que era quinquenal. Logo, o recurso especial interposto pelo
particular será examinado e, se preencher os pressupostos de admissibilidade, será
encaminhado ao STJ para análise do mérito.

10) Voltando à hipótese do inciso I do § 7º do art. 543-C. Pode acontecer de o Presidente do


tribunal de origem negar seguimento a um recurso especial, aplicando o entendimento do
STJ, e a parte recorrente não concordar com isso, sob o argumento de que o caso que
envolve o seu processo é diferente do que foi examinado pelo STJ. Em outros termos, a parte
afirma que há um distinguishing.
A pergunta que surge é a seguinte:
Será possível que esta parte interponha algum recurso contra a decisão do Presidente do
tribunal de origem que negou seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º
do art. 543-C do CPC?
SIM. Será cabível agravo regimental, a ser julgado no Tribunal de origem, destinado a
impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial com fundamento
no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.

Vale ressaltar que um erro muito comum tanto dos candidatos em concurso público como
dos profissionais na prática forense, é imaginar que seria possível o ajuizamento de agravo
de instrumento contra essa decisão. Na verdade, é firme o entendimento do STJ de que
“não cabe agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a recurso especial
com base no art. 543, § 7º, inciso I, do CPC” (QO no Ag 1154599/SP, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, Corte Especial, DJe 12/05/2011).
Para o STJ, a mencionada decisão somente pode ser atacada por agravo regimental, a ser
processado e julgado no tribunal de origem.

Imagine agora que o Tribunal de origem, no julgamento do agravo regimental, manteve a


decisão monocrática do Presidente (ou Vice-Presidente), ou seja, aplicando o art. 543, § 7º,
I, do CPC. Nesta hipótese, cabe algum outro recurso contra esta decisão?
NÃO.

Seria possível, então, interpor uma reclamação ao STJ?


Também NÃO. Segundo o STJ, não há previsão legal para o ajuizamento de reclamação
neste caso.
Além disso, o cabimento da reclamação impediria a realização do fim precípuo da reforma
processual introduzida pela Lei n. 11.672/2008, qual seja, o de evitar a reiterada análise de
questão idêntica, otimizando o julgamento dos incontáveis recursos que chegam ao STJ
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com o intuito de discutir a mesma matéria. Em outras palavras, se fosse admitida


reclamação, o “filtro” imposto para evitar a subida de uma enorme quantidade de
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processos no STJ não teria eficácia, considerando que a Corte teria que examinar inúmeras
reclamações.
INFORMATIVO esquematizado
Em suma, contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do
CPC, aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos
recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso nem reclamação.
Processo Segunda Seção. AgRg na Rcl 6.537-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013.

Execução (recurso contra decisão que exclui um dos litisconsortes passivos)

A decisão que exclui um dos litisconsortes passivos da execução não extingue o processo e,
portanto, é impugnável mediante agravo de instrumento. Se a parte, neste caso, interpõe
apelação, trata-se de erro grosseiro, não podendo ser aplicado o princípio da fungibilidade.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Carla ajuizou ação de execução contra João e Pedro.
O juiz excluiu Pedro do polo passivo da lide, mantendo a execução contra João.
Inconformado com esta decisão, João interpôs recurso de apelação.

João interpôs o recurso correto?


NÃO. O recurso cabível na espécie seria o agravo de instrumento, uma vez que a exclusão
de um dos litisconsortes da lide não põe termo ao processo.

Esta apelação poderá ser aproveitada como se fosse um agravo de instrumento, aplicando-
se o princípio da fungibilidade?
NÃO, porque neste caso trata-se de erro grosseiro.

(...) É pacífico nesta Corte Superior que a decisão que exclui do processo um dos
litisconsortes, prosseguindo-se a execução com relação aos demais co-executados, é
recorrível por meio de agravo de instrumento, caracterizando-se erro grosseiro a
interposição de apelação. (...) (AgRg no Ag 1236181/PR, Rel. Min. Vasco Della Giustina
(Desembargador convocado do TJ/RS), Terceira Turma, julgado em 02/09/2010)
Processo Quarta Turma. AgRg no REsp 1.184.036-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 7/2/2013.

Execução fiscal e indisponibilidade de bens do devedor

Para que seja efetuado o bloqueio de ativos financeiros do executado por meio do sistema Bacen
Jud, é necessário que o devedor tenha sido validamente citado, não tenha pago nem nomeado bens
à penhora e que tenha havido requerimento do exequente nesse sentido.
Comentários Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos
(tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.

A execução fiscal é regida pela Lei n. 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.

Qual é o procedimento da execução fiscal até chegar à penhora?


1) Petição inicial da execução (art. 6º);
2) Despacho do juiz deferindo a inicial e determinando a citação do executado (art. 7º);
3) Citação do executado para, em 5 dias, pagar a dívida ou garantir a execução (art. 8º);
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4) Executado pode: a) pagar; b) garantir a execução; c) não pagar nem garantir;


5) Se pagar, extingue-se a execução;
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6) Se garantir a execução, poderá opor embargos à execução;


7) Se não pagar nem garantir a execução, o juiz determinará a penhora de bens;

INFORMATIVO esquematizado
Penhora on line
Atualmente, uma das formas mais eficazes de se realizar a penhora é o sistema BACEN-JUD
(conhecido como penhora on line) no qual o magistrado consulta, eletronicamente, a
existência de saldo em contas bancárias do devedor e, em caso positivo, efetua o bloqueio e
a transferência dos valores para satisfação do crédito.

No âmbito da execução fiscal, o CTN prevê a penhora on line nos seguintes termos:
Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não pagar nem
apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz
determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão,
preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de
transferência de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades
supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de
suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial.

É possível que seja realizada a penhora on line antes do devedor ser citado sobre a
existência da execução?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, para que seja efetuado o bloqueio de ativos financeiros do
executado por meio do sistema Bacen Jud, é necessário que o devedor tenha sido
validamente citado, não tenha pago nem nomeado bens à penhora e que tenha havido
requerimento do exequente nesse sentido.
De acordo com o art. 185-A do CTN, apenas o executado validamente citado que não pagar
nem nomear bens à penhora poderá ter seus ativos financeiros bloqueados por meio do
sistema Bacen Jud, sob pena de violação do princípio do devido processo legal.

É possível a decretação da penhora on line de ofício pelo juiz, ou seja, sem requerimento do
executante?
NÃO. A constrição de ativos financeiros do executado pelo referido sistema depende de
requerimento expresso do exequente, não podendo ser determinada de ofício pelo
magistrado, aplicando-se a regra contida no art. 655-A do CPC:
Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o
juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema
bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos
em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o
valor indicado na execução.

Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.296.737-BA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 5/2/2013.

Execução fiscal (reavaliação dos bens penhorados)

Na execução fiscal, impugnada a avaliação realizada por ocasião da penhora, faz-se necessária
a nomeação de um avaliador oficial para nova avaliação.
Assim, ainda que a avaliação dos bens penhorados em execução fiscal tenha sido efetivada por
Oficial de Justiça, caso o exame seja objeto de impugnação pelas partes antes de publicado o
edital de leilão, é necessária a nomeação de avaliador oficial para que proceda à reavaliação. O
referido entendimento deriva da redação do art. 13, § 1º, da Lei n. 6.830/1980, estando
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consagrado na jurisprudência do STJ.


Comentários Como vimos no julgado acima, execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda
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Pública (União, Estados, DF, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para
cobrar do devedor créditos (tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.
INFORMATIVO esquematizado
A execução fiscal é regida pela Lei n. 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.

Qual é o procedimento da execução fiscal até chegar à avaliação dos bens penhorados?
1) Petição inicial da execução (art. 6º);
2) Despacho do juiz deferindo a inicial e determinando a citação do executado (art. 7º);
3) Citação do executado para, em 5 dias, pagar a dívida ou garantir a execução (art. 8º);
4) Executado pode: a) pagar; b) garantir a execução; c) não pagar nem garantir;
5) Se pagar, extingue-se a execução;
6) Se garantir a execução, poderá opor embargos à execução;
7) Se não pagar nem garantir a execução, o juiz determinará a penhora de bens;
8) O executado será intimado da penhora, mediante publicação, no órgão oficial, do ato de
juntada do termo ou do auto de penhora;
9) O termo ou auto de penhora conterá a avaliação dos bens penhorados, efetuada por
quem o lavrar. Normalmente, quem faz esta avaliação é o próprio Oficial de Justiça,
podendo o juiz nomear outra pessoa habilitada para realiza-la (§ 2º do art. 13).
10) O executado ou a Fazenda Pública (exequente) poderão impugnar a avaliação feita em
relação aos bens penhorados.
11) O juiz, ouvirá a parte contrária, e nomeará um avaliador oficial para que realize uma
nova avaliação dos bens penhorados. Esta regra consta do § 1º do art. 13 da LEF:
Art. 13 (...) § 1º - Impugnada a avaliação, pelo executado, ou pela Fazenda Pública, antes de
publicado o edital de leilão, o Juiz, ouvida a outra parte, nomeará avaliador oficial para
proceder a nova avaliação dos bens penhorados.

No caso concreto julgado pelo STJ, o Oficial de Justiça, no âmbito da execução fiscal, ao
efetuar a penhora de determinado imóvel, realizou a avaliação deste bem no auto de
penhora.
O executado não concordou com o valor atribuído e impugnou a avaliação feita, pedindo
uma reavaliação do bem constrito.
A Fazenda Pública foi ouvida sobre esta impugnação e manifestou-se contrariamente ao
pedido alegando que o Oficial de Justiça, no exercício de suas atribuições, goza de fé pública
e que suas certidões presumem-se verdadeiras, só podendo ser repelidas por prova cabal
em sentido contrário, inexistente nos autos.

Este debate chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


Assiste razão ao executante. Segundo o STJ, impugnada a avaliação realizada por ocasião da
penhora, faz-se necessária a nomeação de um avaliador oficial para nova avaliação.
Assim, ainda que a avaliação dos bens penhorados em execução fiscal tenha sido efetivada
por Oficial de Justiça, caso o exame seja objeto de impugnação pelas partes antes de
publicado o edital de leilão, é necessária a nomeação de avaliador oficial para que proceda
à reavaliação. O referido entendimento deriva da redação do art. 13, § 1º, da Lei n.
6.830/1980, estando consagrado na jurisprudência do STJ.
Processo Segunda Turma. REsp 1.352.055-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2012.

Prazo prescricional para ajuizamento da execução individual de sentença proferida em ACP

O prazo para o ajuizamento da ação civil pública é de 5 anos, aplicando-se, por analogia, o
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prazo da ação popular, considerando que as duas ações fazem parte do mesmo microssistema
de tutela dos direitos difusos.
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É também de 5 anos o prazo prescricional para ajuizamento da execução individual em pedido


de cumprimento de sentença proferida em ACP.
INFORMATIVO esquematizado
Comentários A Lei n. 7.347/85 (Lei da ACP) não previu um prazo prescricional para o ajuizamento da
ação civil pública. Diante disso, qual prazo deverá ser aplicado segundo o STJ?

Regra geral:
O prazo para o ajuizamento da ação civil pública é de 5 anos, aplicando-se, por analogia, o
prazo da ação popular (art. 21 da Lei n. 4.717/65), considerando que as duas ações fazem
parte do mesmo microssistema de tutela dos direitos difusos (REsp 1070896/SC).

Exceções:
a) ACP para exigir o ressarcimento de dano ao erário é imprescritível (art. 37, § 5º, CF/88).
b) ACP em caso de danos ambientais também é imprescritível (Resp 1120117/AC).

Execução individual de sentença proferida em ação coletiva:


O prazo também é de 5 anos, contados do trânsito em julgado da sentença coletiva. Isso
porque a execução prescreve no mesmo prazo de prescrição da ação (Súmula 150-STF).

Neste julgado do STJ, reiterou-se o entendimento acima explicado. No caso concreto,


contudo, havia uma peculiaridade: na fase de conhecimento, o juiz, com base no CC-1916,
reconheceu que o prazo para ajuizamento da ação era vintenário (20 anos). Em razão desta
decisão, qual será o prazo da execução individual desta sentença coletiva?
R: Continua sendo de 5 anos. O prazo prescricional para o ajuizamento da execução
individual em cumprimento de sentença proferida em ACP é de 5 anos, mesmo na hipótese
em que, na ação de conhecimento, já transitada em julgado, tenha sido reconhecida a
prescrição vintenária. Em outras palavras, não importa que o juiz tenha adotado um outro
prazo prescricional para a ação de conhecimento. Isso não irá obrigar que o prazo da ação
de execução seja alterado, devendo ser adotado o prazo consagrado pela jurisprudência.
Recurso Julgamento proferido sob a sistemática de recurso repetitivo.
repetitivo
Processo Segunda Seção. REsp 1.273.643-PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/2/2013.

Medida cautelar (sequestro)

Não é cabível o deferimento de medida cautelar de sequestro no caso em que se busque apenas
assegurar a satisfação futura de crédito em ação a ser ajuizada, inexistindo disputa específica
acerca do destino dos bens sobre os quais se pleiteia a incidência da constrição. O sequestro é
medida destinada à apreensão de bens determinados com o objetivo de assegurar a futura
efetivação de provimento judicial que os tenha como objeto. Para o deferimento da medida, é
necessário que o juiz se convença de que, sobre o bem objeto da ação principal cujo sequestro
se pleiteia, tenha-se estabelecido, direta ou indiretamente, uma relação de disputa entre as
partes da demanda. Assim, se a ação principal versa sobre pretensão creditícia, não se
identifica a presença dos requisitos exigidos pelo art. 822, I, do CPC, pois inexiste, em tal caso,
específica disputa sobre posse ou propriedade dos bens que seriam objeto da referida medida.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
A empresa “X” propôs ação cautelar contra a empresa “Y” objetivando o sequestro de
determinada máquina agrícola pertencente a “Y”, afirmando que ajuizaria, no prazo legal de
30 dias, a ação principal, que seria uma ação de cobrança de dívida não relacionada com
esta máquina.
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O sequestro do maquinário seria para garantir a satisfação do crédito.


O juiz deferiu o sequestro com base no art. 822, I, do CPC.
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INFORMATIVO esquematizado
A decisão foi correta, segundo o STJ?
NÃO. A medida cautelar de sequestro está prevista no art. 822 do CPC.

Art. 822. O juiz, a requerimento da parte, pode decretar o sequestro:


I - de bens móveis, semoventes ou imóveis, quando lhes for disputada a propriedade ou a
posse, havendo fundado receio de rixas ou danificações;
II - dos frutos e rendimentos do imóvel reivindicando, se o réu, depois de condenado por
sentença ainda sujeita a recurso, os dissipar;
III - dos bens do casal, nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, se o
cônjuge os estiver dilapidando;
IV - nos demais casos expressos em lei.

Segundo o STJ, o caso em tela não se enquadra no art. 822, I, do CPC e em nenhuma das
outras hipóteses de sequestro.

Se a ação principal versa sobre pretensão creditícia, não se verifica a presença dos
requisitos exigidos pelo art. 822, I, do CPC, pois não há, em tal caso, disputa sobre posse ou
propriedade do bem que seria objeto da referida medida. Em outras palavras, a ação de
cobrança nada tem a ver com a máquina em questão que foi objeto do sequestro.

Diferente seria a situação se, na ação principal, estivesse sendo discutida a posse ou
propriedade da máquina agrícola. Se assim fosse, o sequestro seria, em tese, possível.
Processo Terceira Turma. REsp 1.128.033-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/2/2013.

DIREITO PENAL

Crime de dano

O art. 163, parágrafo único, III, do CP prevê que o dano será qualificado no caso de ter sido
praticado contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de
serviços públicos ou sociedade de economia mista.
Como o inciso III não fala no “Distrito Federal”, o STJ decidiu que a conduta de destruir,
inutilizar ou deteriorar o patrimônio do DF não configura, por si só, o crime de dano
qualificado, subsumindo-se, em tese, à modalidade simples do delito.
É inadmissível a realização de analogia in malam partem a fim de ampliar o rol contido no art.
163, III, do CP, incluindo o Distrito Federal.
Comentários O crime de dano é previsto no art. 163 do CP:
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

No parágrafo único estão previstas as hipóteses de dano qualificado.


Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais
grave;
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços
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públicos ou sociedade de economia mista;


IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
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Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.

INFORMATIVO esquematizado
Repare na situação prevista no inciso III:
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços
públicos ou sociedade de economia mista;
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.

Atente para o fato de que o inciso III não menciona o Distrito Federal. Diante disso, indaga-
se: caso seja praticado o crime de dano contra o patrimônio do DF, haverá dano qualificado
com base neste inciso III?
NÃO. Para o STJ, a conduta de destruir, inutilizar ou deteriorar o patrimônio do Distrito
Federal não configura, por si só, o crime de dano qualificado, subsumindo-se, em tese, à
modalidade simples do delito.
É inadmissível a realização de analogia in malam partem a fim de ampliar o rol contido no
art. 163, III, do CP, cujo teor impõe punição mais severa para o dano “cometido contra o
patrimônio da União, Estados, Municípios, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista”.
Assim, na falta de previsão do Distrito Federal no referido preceito legal, impõe-se a
desclassificação da conduta analisada para o crime de dano simples, nada obstante a mens
legis do tipo, relativa à necessidade de proteção ao patrimônio público, e a discrepância em
considerar o prejuízo aos bens distritais menos gravoso do que o causado aos demais entes
elencados no dispositivo criminal.
Autarquias Repare que, por erro do legislador, o inciso III não menciona expressamente autarquias,
e fundações fundações e empresas públicas. Assim, se o dano é cometido contra o patrimônio dessas
entidades, sejam elas federais, estaduais, municipais ou distritais, não há dano qualificado,
mas sim dano simples. Isso porque não se pode fazer analogia in malan partem.
Ação penal Qual é a ação penal no caso do crime de dano?
Art. 163, caput (dano simples): ação penal privada.
Art. 163, parágrafo único, incisos I, II, III: ação penal pública incondicionada.
Art. 163, parágrafo único, inciso IV: ação penal privada.
Processo Sexta Turma. HC 154.051-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012.

Venda de CDs e DVDs falsificados (art. 184, § 2º do CP)

O ato de vender ou expor à venda CDs e DVDs falsificados é conduta formal e materialmente
típica, estando prevista no art. 184, § 2º, do Código Penal.
Assim, não se pode alegar que tal conduta deixou de ser crime por conta do princípio da
adequação social.
Comerciali- A pessoa que vende CD ou DVD pirata pratica qual fato típico?
zação de R: Esta conduta amolda-se ao § 2º do art. 184 do CP:
CDs e DVDs Violação de direito autoral
piratas Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
configura Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
crime?
Qual? § 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou
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indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou


fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do
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produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:


Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

INFORMATIVO esquematizado
§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto,
distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito,
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de
autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de
fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a
expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite,


ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou
produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem
formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa,
conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma,
ou de quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao


direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº
9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só
exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.

No caso concreto julgado pelo STJ, o réu foi denunciado por ter sido encontrado logo após
adquirir e ocultar, em sua mochila, centenas de CDs e DVDs “piratas” que seriam por ele
revendidos. Desse modo, o agente praticou o § 2º do art. 184 do CP, considerando que
adquiriu e ocultou fonogramas reproduzidos com violação dos direitos autorais.
Não se pode Como essa prática é cada vez mais comum, havendo, inclusive, “feiras” fiscalizadas pelo
invocar o Poder Público onde esse comércio ocorre livremente, é possível afirmar que não haveria
princípio da crime com base no princípio da adequação social?
adequação NÃO, não é possível afirmar isso. Tanto o STF como o STJ entendem que é típica, formal e
social materialmente, a conduta de expor à venda CDs e DVDs falsificados. Em suma, é crime.

O fato de, muitas vezes, haver tolerância das autoridades públicas em relação a tal prática
não significa que a conduta não seja mais tida como típica, ou que haja exclusão de
culpabilidade, razão pela qual, pelo menos até que advenha modificação legislativa, incide o
tipo penal, mesmo porque o próprio Estado tutela o direito autoral. Não se pode considerar
socialmente tolerável uma conduta que causa sérios prejuízos à indústria fonográfica
brasileira e aos comerciantes legalmente instituídos, bem como ao Fisco pelo não
pagamento de impostos. Nesse sentido: STF HC 98898, julgado em 20/04/2010.

O tema já foi, inclusive, apreciado pela Terceira Seção deste Sodalício em recurso
submetido ao regime do art. 543-C do CPC, ocasião em que se confirmou que pratica o
crime previsto no § 2º do art. 184 do CP aquele que comercializa fonogramas falsificados ou
"pirateados". REsp 1.193.196-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
26/9/2012.

Trata-se, portanto, de matéria pacífica.


O que é o O princípio da adequação social, desenvolvido por Hanz Welzel, afasta a tipicidade dos
princípio da comportamentos que são aceitos e considerados adequados ao convívio social. De acordo com
26

adequação o referido princípio, os costumes aceitos por toda a sociedade afastam a tipicidade material de
social determinados fatos que, embora possam se subsumir a algum tipo penal, não caracterizam
Página

crime justamente por estarem de acordo com a ordem social em um determinado momento
histórico (Min. Jorge Mussi).

INFORMATIVO esquematizado
A adequação social é um princípio dirigido tanto ao legislador quanto ao intérprete da norma.
Quanto ao legislador, este princípio serve como norte para que as leis a serem editadas não
punam como crime condutas que estão de acordo com os valores atuais da sociedade.
Quanto ao intérprete, este princípio tem a função de restringir a interpretação do tipo
penal para excluir condutas consideradas socialmente adequadas. Com isso, impede-se que
a interpretação literal de determinados tipos penais conduza a punições de situações que a
sociedade não mais recrimina.

Vale ressaltar, no entanto, que o princípio da adequação social não pode ser utilizado pelo
intérprete para “revogar” (ignorar) a existência de tipos penais incriminadores. Ex: a
contravenção do jogo do bicho talvez seja tolerada pela maioria da população, mas nem por
isso deixa de ser infração penal. Isso porque a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue (art. 2º da LINDB).
Pena A pena prevista para este crime é de 2 a 4 anos. Trata-se de reprimenda desproporcional para
este tipo de conduta?
NÃO. Segundo o STJ, não há desproporcionalidade da pena prevista, pois o próprio
legislador, atento aos reclamos da sociedade que representa, entendeu merecer tal
conduta pena considerável, especialmente pelos graves e extensos danos que acarreta,
estando geralmente relacionada a outras práticas criminosas, como a sonegação fiscal e a
formação de quadrilha.
Ação penal Qual é a ação penal nos casos desses crimes?
Art. 184, caput: ação penal privada.
Art. 184, §§ 1º e 2º (ex: venda de DVD pirata): ação pública incondicionada.
Art. 184, § 3º: ação penal pública condicionada.
Regras de O processo e julgamento dos crimes contra a propriedade imaterial é disciplinado pelos arts.
procedi- 524 a 530-I do CPP. Estes artigos preveem dois tipos de procedimento: um para o delito do
mento art. 184, caput, do CP e outro para as infrações dos §§ 1º, 2º e 3º do art. 184 do CP.

Delito do art. 184, caput, do CP:


Aplicam-se as regras dos arts. 524 a 530 do CPP.

Delitos dos §§ 1º, 2º e 3º do art. 184 do CP:


A autoridade policial fará a apreensão dos bens ilicitamente produzidos ou
reproduzidos (ex: CDs e DVDs piratas), em sua totalidade, juntamente com os
equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a sua existência (ex:
computador onde eram feitas as cópias das mídias), desde que estes se destinem
precipuamente à prática do ilícito;
Na ocasião da apreensão será lavrado termo, assinado por 2 (duas) ou mais
testemunhas, com a descrição de todos os bens apreendidos e informações sobre suas
origens, o qual deverá integrar o inquérito policial ou o processo;
Depois da apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa
tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo
que deverá integrar o inquérito policial ou o processo;

Este exame técnico tem o objetivo de atestar a ocorrência ou não de reprodução


(cópia) feita com violação de direitos autorais.
Segundo o STJ, no caso do § 2º do art. 184 do CP, comprovada a materialidade delitiva
27

por meio da perícia, é totalmente desnecessária a identificação e inquirição das


supostas vítimas, até mesmo porque este ilícito é apurado mediante ação penal pública
Página

incondicionada, dispensando qualquer provocação por parte da vítima.

INFORMATIVO esquematizado
Caso sejam identificadas as vítimas do delito, os titulares de direito de autor e os que
lhe são conexos serão os fiéis depositários de todos os bens apreendidos, devendo
colocá-los à disposição do juiz quando do ajuizamento da ação;
O juiz poderá determinar, a requerimento da vítima, a destruição da produção ou
reprodução apreendida, salvo se estiver sendo discutido se o material encontrado é ou
não ilícito;
O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar a destruição dos bens
ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos equipamentos
apreendidos, desde que precipuamente destinados à produção e reprodução dos bens,
em favor da Fazenda Nacional, que deverá destruí-los ou doá-los aos Estados,
Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de ensino e pesquisa ou de
assistência social, bem como incorporá-los, por economia ou interesse público, ao
patrimônio da União, que não poderão retorná-los aos canais de comércio;
As associações de titulares de direitos de autor e os que lhes são conexos poderão, em
seu próprio nome, funcionar como assistente da acusação, quando praticado em
detrimento de qualquer de seus associados.
Violação de Uma última pergunta: se há violação de direito autoral relativo a programas de
direito computador, o crime também é o do art. 184 do CP?
autoral de NÃO. Neste caso, o crime será o do art. 12 da Lei n. 9.609/98:
programas Art. 12. Violar direitos de autor de programa de computador:
de Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa.
computador § 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de programa de computador,
no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização expressa do autor ou de quem
o represente:
Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa.
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, introduz no
País, adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de comércio, original ou cópia de
programa de computador, produzido com violação de direito autoral.

Processo Quinta Turma. HC 191.568-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Conexão probatória

Em regra, a competência para processar e julgar o crime de racismo praticado pela internet é
do local de onde partiram as mensagens com base no art. 70 do CPP, tendo em vista que,
quando o usuário da rede social posta a manifestação racista, ele, com esta conduta, já
consuma o crime.
Logo, se as condutas delitivas foram praticadas por diferentes pessoas a partir de localidades
diversas, a princípio, a competência para julgar seria das Justiças localizadas nos locais de
onde partiram as mensagens racistas. Todavia, tais condutas contaram com o mesmo modus
operandi, qual seja, troca e postagem de mensagens de cunho racista e discriminatório contra
diversas minorias. Dessa forma, estando interligadas as condutas, constata-se a existência de
conexão probatória a atrair a incidência dos arts. 76, III, e 78, II, do CPP.
Será competente para julgar conjuntamente os fatos o juízo prevento, ou seja, aquele que
primeiro conheceu dos fatos.
28

Comentários O Ministério Público Federal iniciou uma investigação com vistas a apurar crime de racismo,
Página

praticado por intermédio de mensagens trocadas em uma rede social na internet contra
negros e judeus.

INFORMATIVO esquematizado
A requerimento do MPF, o Juiz Federal de uma vara de São Paulo decretou a quebra do
sigilo telemático de alguns perfis do Orkut®, sendo obtidos os dados dos usuários que
postaram as mensagens criminosas.
Tendo em mãos o IP (protocolo de internet) dos investigados, o MPF percebeu que apenas
alguns residiam em São Paulo e que os demais haviam enviado as mensagens de outros
Estados do país, como por exemplo, o Ceará. Diante disso, o Parquet requereu o
desmembramento da investigação, remetendo-se aos outros juízos federais a apuração
quanto aos demais investigados que não haviam mandado as mensagens de São Paulo.
O Juiz deferiu o desmembramento, fundamentando a sua decisão no art. 70 do CPP:
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

Em outras palavras, o magistrado afirmou que, quanto às mensagens enviadas pelo


investigado do Estado de São Paulo, a Justiça Federal paulista seria competente. No
entanto, quanto às mensagens encaminhadas pelo investigado que morava no Ceará, seria
competente uma das varas federais localizadas naquele Estado.

Desse modo, o Juízo Federal de São Paulo decidiu que deveria haver o desmembramento
das investigações, razão pela qual determinou a remessa de cópias dos autos a outras treze
Seções Judiciárias, de acordo com a origem do IP de cada investigado.

Chegando o procedimento na Seção Judiciária do Ceará, o Juiz Federal não concordou com
o desmembramento e devolveu os autos ao Juízo Federal de São Paulo, alegando que havia
conexão entre as mensagens enviadas pelo investigado do Ceará e aquelas remetidas pelos
investigados paulistas. Logo, as investigações deveriam continuar a tramitar no Juízo
Federal de São Paulo, que havia se tornado prevento.

Ao receber de volta os autos, o Juízo Federal da Seção Judiciária de São Paulo suscitou
conflito de competência.

Vamos analisar os fatos acima narrados:

Por que estes crimes estão sendo apurados pela Justiça Federal?
A divulgação de mensagens racistas pela internet é competência da Justiça Federal com
base no art. 109, V, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

Para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base neste inciso são
necessários três requisitos:
a) Previsão do fato como crime no Brasil;
b) Compromisso de combater este crime assumido pelo Brasil em tratado ou convenção
internacional; e
c) Relação de internacionalidade.

A relação de internacionalidade ocorre quando:


iniciada a execução do crime no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
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estrangeiro;
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iniciada a execução do crime no estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido


no Brasil.

INFORMATIVO esquematizado
No caso, o racismo é previsto como crime no Brasil e se trata de um delito que o Brasil se
comprometeu a reprimir com base em tratados internacionais. Além disso, a divulgação das
mensagens racistas, apesar de ter ocorrido no Brasil, foi feita em rede social da internet
(Orkut), de forma que seu conteúdo ficará disponível para ser visualizado por qualquer
pessoa, em qualquer computador do mundo. Desse modo, estão preenchidos os três
requisitos acima listados.

Qual dos dois Juízes está certo, segundo o STJ?


O Juiz Federal do Ceará.

Houve trocas de mensagens entre os investigados, ou seja, uma espécie de conversa racista.
Cada um enviando mensagens racistas do seu computador, em Estados diferentes.

Cada mensagem racista enviada por cada um dos investigados constitui um crime diferente
de racismo. Logo, esta troca de mensagens entre os investigados não consiste em um crime
único, mas sim em vários delitos de racismo.

Desse modo, em tese, cada um desses crimes de racismo poderia ser julgado na Seção
Judiciária de onde o investigado mandou a mensagem. No Ceará poderia ser processado o
agente que mandou as mensagens de lá. Em São Paulo, o usuário que enviou o textos do
Estado paulista e assim por diante.

Aliás, em regra, a competência para processar e julgar o crime de racismo praticado pela
internet é do local de onde partiram as mensagens, com base justamente no art. 70 do CPP,
tendo em vista que, quando o usuário da rede social posta a manifestação racista, ele, com
esta conduta, já consuma o crime.

No entanto, o STJ, mesmo reconhecendo isso, afirmou que, entre as condutas criminosas
praticadas, existe uma conexão probatória, conforme prevista no art. 76, III, do CPP:
Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares
influir na prova de outra infração.

A circunstância na qual os crimes foram praticados (troca de mensagens em comunidade


virtual) significa que houve o estabelecimento de uma relação de confiança entre os
agentes, o que pode facilitar a identificação da autoria e a reunião de maiores provas.

Como os agentes conversam entre si sobre assuntos de interesse comum, possuindo uma
afinidade de pensamentos sobre os temas, é bem provável que tenha sido criada uma
relação de cumplicidade que poderá auxiliar nas investigações para que se descubram todos
os envolvidos.

Qual é a consequência processual pelo fato dos crimes serem conexos?


Em regra, os crimes conexos devem ser processados e julgados conjuntamente, consoante
prevê o art. 79 do CPP. A isso se dá o nome de simultaneus processus.

Os crimes conexos serão sempre reunidos para serem julgados conjuntamente?


NÃO. O CPP prevê situações em que os processos não serão reunidos, devendo ser julgados de
30

forma separada. A doutrina afirma que existem casos em que a separação é obrigatória por
Página

força de lei (ex: incisos I e II do art. 79 do CPP) e outros em que a separação é facultativa,
ficando a cargo da avaliação do juiz (art. 80 do CPP).

INFORMATIVO esquematizado
Um exemplo de separação obrigatória ocorre quando um dos crimes conexos já foi julgado.
Neste caso, não haverá reunião dos processos (art. 82 do CPP). É como afirma a Súmula 235 do
STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.

No caso concreto, não havia nenhuma hipótese de separação obrigatória e o juiz


entendeu que era conveniente a reunião dos processos para julgamento conjunto. Qual
juízo será competente para apreciar os feitos conjuntamente?
O juízo da vara federal de São Paulo, por ser este prevento.

A competência, na presente situação, deve ser fixada pela prevenção, ou seja, será
competente o Juízo que primeiro conheceu dos fatos (Juízo Federal da 9ª Vara Criminal da
Seção Judiciária de São Paulo/SP). O critério da prevenção é fixado pelo art. 78, II, c, do CPP:
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as
seguintes regras:
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum,
prevalecerá a competência do júri;
II - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (obs: todos
os crimes eram racismo).

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as


respectivas penas forem de igual gravidade; (obs: não era possível saber, ainda, o número
de infrações praticadas)
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

Ressalte-se que a presente solução já havia sido dada pelo STJ em outro caso semelhante:
(...) 1. Cuidando-se de crime de racismo por meio da rede mundial de computadores, a
consumação do delito ocorre no local de onde foram enviadas as manifestações racistas.
2. Na hipótese, é certo que as supostas condutas delitivas foram praticadas por diferentes
pessoas a partir de localidades diversas; todavia, contaram com o mesmo modus operandi,
qual seja, troca e postagem de mensagens de cunho racista e discriminatório contra
diversas minorias (negros, homossexuais e judeus) na mesma comunidade virtual do
mesmo site de relacionamento.
3. Dessa forma, interligadas as condutas, tendo a prova até então colhida sido obtida a
partir de único núcleo, inafastável a existência de conexão probatória a atrair a incidência
dos arts. 76, III, e 78, II, ambos do CPP, que disciplinam a competência por conexão e
prevenção.
4. Revela-se útil e prioritária a colheita unificada da prova, sob pena de inviabilizar e tornar
infrutífera as medidas cautelares indispensáveis à perfeita caracterização do delito, com a
identificação de todos os participantes da referida comunidade virtual. (...)
(CC 102454/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, julgado em
25/03/2009, DJe 15/04/2009)
Processo Terceira Seção. CC 116.926-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/2/2013.
31
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO TRIBUTÁRIO

ICMS

Determinada empresa é uma agência de automóveis de veículos usados. A pessoa que quer
vender, deixa na loja o seu carro em consignação e, caso seja vendido, o proprietário recebe o
dinheiro e a loja fica com uma comissão.
Esta empresa, ao receber o veículo usado do proprietário para ser exposto em seu pátio e, assim,
atrair compradores para o automóvel, intermediando a venda, não pratica fato gerador do ICMS.
Assim, não incide ICMS sobre a operação de venda promovida por agência de automóveis de
veículo usado objeto de consignação pelo proprietário.
Comentários IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – ICMS

Previsão
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:
Art. 155 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;

Fatos geradores
Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores
(Manual de Direito Tributário. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):
Circulação de mercadorias;
Prestação de serviços de transporte intermunicipal;
Prestação de serviços de transporte interestadual;
Prestação de serviços de comunicação.

Circulação de mercadorias
Segundo o STJ, a circulação de mercadorias prevista no art. 155 da CF/88 é a circulação
jurídica, que exige efetivo ato de mercancia, para o qual concorrem a finalidade de
obtenção de lucro e a transferência de titularidade, a qual, por sua vez, pressupõe a
transferência de uma pessoa para outra da posse ou da propriedade da mercadoria.

Imagine agora a seguinte situação:


A empresa “X” é uma agência de automóveis de veículos usados. A pessoa que quer vender,
deixa na loja o seu carro em consignação e, caso seja vendido, o proprietário recebe o
dinheiro e a loja fica com uma comissão.

A Fazenda Pública afirmou que esta agência de automóveis, quando recebe os carros para
vender, pratica o fato gerador do ICMS. Logo, teria que pagar o tributo. A tese alegada pelo
Fisco estadual está correta?
NÃO. O STJ decidiu que não incide ICMS sobre a operação de venda promovida por agência
de automóveis de veículo usado objeto de consignação pelo proprietário. Não há, neste
caso, a circulação jurídica de mercadoria prevista no art. 155 da CF/88.
A mera consignação do veículo, cuja venda deverá ser promovida por agência de
automóveis, não representa circulação jurídica da mercadoria, porquanto não induz à
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transferência da propriedade ou da posse da coisa, inexistindo, dessa forma, troca de


titularidade a ensejar o fato gerador do ICMS.
Página

Em outras palavras, o dono do carro, ao deixá-lo para ser vendido na loja, não transfere a
propriedade do veículo para a empresa, pois esta atua apenas intermediando a venda da

INFORMATIVO esquematizado
coisa a ser adquirida diretamente pelo comprador.
A empresa também não ostenta a posse do carro, mas sim uma mera detenção,
considerando que a agência de automóveis não exerce sobre a coisa nenhum dos poderes
inerentes à propriedade (art. 1.228 do CC). Com efeito, a consignação do veículo não
pressupõe autorização do proprietário para a agência usar ou gozar da coisa, tampouco a
agência pode dispor sobre o destino da mercadoria. Pode apenas promover a sua venda,
em conformidade com as condições estabelecidas pelo proprietário.
Desse modo, como já dito, não existe posse, mas sim mera detenção precária para que o
veículo seja exibido, facilitando a realização do serviço de intermediação contratado.
Processo Primeira Turma. REsp 1.321.681-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/2/2013.

IR (incidência sobre juros de mora)

Incide imposto de renda da pessoa física (IRPF) sobre os juros moratórios relativos a quantias
pagas em decorrência de decisão judicial que condene a União a ressarcir servidores públicos
por promoções que, de forma ilegal, não tenham sido efetivadas no momento oportuno.
Comentários Regra geral: incide imposto de renda sobre os juros de mora (art. 16, parágrafo único, da Lei
n. 4.506/1964.

Exceções:
Não há pagamento de IR sobre os juros de mora:
a) incidentes sobre as verbas remuneratórias ou indenizatórias que são pagas ao
trabalhador demitido ou que teve rescindido seu contrato de trabalho (art. 6º, V, da Lei
n. 7.713/1988);
b) decorrentes de verba principal isenta ou fora do seu campo de incidência (tese do
acessório que segue o principal). Ex: não incide IR sobre indenização por dano moral;
logo, não incide IR sobre os juros de mora decorrentes de indenização por dano moral.

Logo, no caso concreto, os juros moratórios eram em decorrência de verbas remuneratórias


pagas em atraso. As verbas remuneratórias, em regra, não são isentas de IR. De igual forma,
os juros moratórios que incidem sobre tais verbas também não são isentos.
Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 248.264-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/11/2012.

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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 516 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram comentados neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para
concursos públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu
interesse conferi-los, os acórdãos excluídos estão transcritos no final deste Informativo e foram os
seguintes: REsp 1.296.047-PE; REsp 1.321.727-RS; REsp 1.348.823-RS; AgRg no REsp 1.283.707-PB; REsp
1.356.484-DF; REsp 1.336.566-RS; REsp 1.345.613-SC; AgRg no REsp 1.354.650-SP; REsp 1.307.876-SP; AgRg
no REsp 1.352.234-PR.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Licitação (dispensa)

O art. 24, II, da Lei n. 8.666/93 prevê que o administrador público não precisa fazer licitação
se for para contratar compras ou serviços (que não sejam de engenharia) que não ultrapassem
ATENÇÃO 8 mil reais.

Se a Administração Pública contrata uma empresa privada para organizar um concurso e este
contrato prevê que a empresa receberá 5 mil reais e mais o dinheiro arrecadado com as
inscrições dos candidatos, esta situação não se enquadra no art. 24, II, da Lei.

Ainda que os valores recolhidos como taxa de inscrição não sejam públicos, a adequada
destinação deles é de interesse público primário. Mesmo que a contratação direta de banca
realizadora de concurso sem licitação não afete o interesse público secundário (direitos
patrimoniais da Administração Pública), é contrária ao interesse público primário, pois a
destinação de elevado montante de recursos à empresa privada ocorrerá sem o processo
competitivo, violando, dessa maneira, o princípio da isonomia.
Comentários Regra: obrigatoriedade de licitação
Como regra, a CF/88 impõe que a Administração Pública somente pode contratar obras,
serviços, compras e alienações se realizar uma licitação prévia para escolher o contratante
(art. 37, XXI).

Exceção: contratação direta nos casos especificados na legislação


O inciso XXI afirma que a lei poderá especificar casos em que os contratos administrativos
poderão ser celebrados sem esta prévia licitação. A isso, a doutrina denomina “contratação
1

direta”.
Página

www.dizerodireito.com.br
Resumindo: a regra na Administração Pública é a contratação precedida de licitação.
Contudo, a legislação poderá prever casos excepcionais em que será possível a contratação
direta sem licitação.

Lei n. 8.666/93
A Lei de Licitações e Contratos prevê três grupos de situações em que a contratação
ocorrerá sem licitação prévia. Trata-se das chamadas licitações dispensas, dispensáveis e
inexigíveis. Vejamos o quadro comparativo abaixo:

DISPENSADA DISPENSÁVEL INEXIGÍVEL


Art. 17 Art. 24 Art. 25
Rol taxativo Rol taxativo Rol exemplificativo
A lei determina a não A lei autoriza a não Como a licitação é uma
realização da licitação, realização da licitação. disputa, é indispensável que
obrigando a contratação Mesmo sendo dispensável, haja pluralidade de objetos
direta. a Administração pode e pluralidade de ofertantes
decidir realizar a licitação para que ela possa ocorrer.
(discricionariedade). Assim, a lei prevê alguns
casos em que a
inexigibilidade se verifica
porque há impossibilidade
jurídica de competição.
Ex: alienação de bens Ex: compras até 8.000 reais. Ex: contratação de artista
imóveis provenientes de consagrado pela crítica
dação em pagamento. especializada ou pela
opinião pública para fazer o
show do aniversário da
cidade.

Procedimento de justificação
Mesmo nas hipóteses em que a legislação permite a contratação direta, é necessário que o
administrador público observe algumas formalidades e instaure um processo administrativo
de justificação.

Crime
Se o administrador público...
Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei; ou
Deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade (as
formalidades estão previstas especialmente no art. 26 da Lei).
... ele praticará o crime previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/93.

Licitação dispensável pelo pequeno valor


O julgado analisado trata sobre uma das hipóteses de licitação dispensável, prevista no art.
24, II, da Lei:
Art. 24. É dispensável a licitação:
I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto
na alínea "a", do inciso I do artigo anterior, desde que não se refiram a parcelas de uma
mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo
2

local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente;


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II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na
alínea "a", do inciso II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei,

INFORMATIVO esquematizado
desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior
vulto que possa ser realizada de uma só vez;

A redação do inciso II é um pouco confusa, mas o que ele quer dizer é o seguinte:
O administrador público pode optar por realizar a contratação direta (ou seja, sem
licitação), no caso de compras e serviços (que não sejam de engenharia) de até 8 mil reais,
considerando esse valor globalmente, isto é, o valor total do serviço ou da compra que possa
ser realizada de uma só vez.

Caso concreto
No caso julgado, a Administração Pública municipal contratou a empresa “A” para realizar
um concurso público.
O contrato previa o seguinte: o Município pagaria 4 mil reais para a instituição organizadora
e esta também teria direito de receber o que fosse arrecadado com as inscrições realizadas.
Como a Administração somente pagaria diretamente à instituição organizadora o valor de 5
mil reais, o administrador público entendeu que esta hipótese se enquadrava no inciso II do
art. 24 da Lei n. 8.666/93. Por esta razão, contratou a empresa organizadora diretamente,
ou seja, sem licitação.

A decisão tomada pelo administrador foi correta?


NÃO. Para o STJ, não se amolda à hipótese de dispensa de licitação prevista no art. 24, II, da
Lei n. 8.666/1993 a situação em que, contratada organizadora para a realização de concurso
público por valor inferior ao limite previsto no referido dispositivo, tenha-se verificado que
a soma do valor do contrato com o total arrecadado a título de taxa de inscrição supere o
limite de dispensa previsto no aludido inciso.

Não cabe ao intérprete criar novos casos de dispensa, sobretudo porquanto a licitação é
destinada a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a seleção da
proposta mais vantajosa para a administração (art. 3º da Lei n. 8.666/93).

Nesse contexto, ainda que os valores recolhidos como taxa de inscrição não sejam públicos,
a adequada destinação deles é de interesse público primário. Mesmo que a contratação
direta de banca realizadora de concurso sem licitação não afete o interesse público
secundário (direitos patrimoniais da Administração Pública), é contrária ao interesse público
primário, pois a destinação de elevado montante de recursos à empresa privada ocorrerá
sem o processo competitivo, violando, dessa maneira, o princípio da isonomia.
Contratação Então, para contratar a Instituição organizadora de um concurso público, é sempre
direta de indispensável a realização de licitação?
instituição NÃO. Para a maioria da doutrina e para o TCU, admite-se a contratação direta (sem
organizadora licitação) de Instituição para realizar concurso público desde que ela se enquadre
de concurso perfeitamente na hipótese prevista no inciso XIII do art. 24 da Lei n.° 8.666/93:
com base no Art. 24. É dispensável a licitação:
art. 24, XIII, XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente da
da Lei de pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à
Licitações recuperação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável reputação
ético-profissional e não tenha fins lucrativos;

O Tribunal de Contas da União, ao interpretar este inciso XIII, faz algumas exigências quanto
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à instituição a ser contratada.


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No voto condutor do Acórdão 569/2005 – Plenário do TCU, firmou-se o entendimento de
que a contratação direta com base no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666, de 1993, “não suporta
toda e qualquer contratação direta de instituição para a realização de concurso público,
mas apenas de instituições que atendam os requisitos constantes do próprio texto legal, ou
seja: ser brasileira, não ter fins lucrativos, apresentar inquestionável reputação ético-
profissional, ter como objetivo estatutário-regimental a pesquisa, o ensino ou o
desenvolvimento institucional.
Além disso, a instituição deve deter reputação ético-profissional na estrita área para a qual
está sendo contratada (Decisão 908/1999 - Plenário-TCU) e o objeto contratado deve
guardar correlação com o ensino, pesquisa ou o desenvolvimento institucional.”

A par desses requisitos, o TCU afirma que também é necessário que se demonstre a
compatibilidade dos preços contratados com os de mercado. Em suma, não pode haver
superfaturamento.

Há uma Súmula neste sentido:


Súmula 250-TCU: A contratação de instituição sem fins lucrativos, com dispensa de licitação,
com fulcro no art. 24, inciso XIII, da Lei n.º 8.666/93, somente é admitida nas hipóteses em
que houver nexo efetivo entre o mencionado dispositivo, a natureza da instituição e o
objeto contratado, além de comprovada a compatibilidade com os preços de mercado.

Como exemplos de instituições que se enquadram neste inciso e que, portanto, podem, em
tese, ser contratadas sem licitação, desde que cumpridos os demais requisitos, citamos o
CESPE, a FCC, a ESAF e a FGV.
Processo Segunda Turma. REsp 1.356.260-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.

Código de Trânsito (infração de trânsito)

Se a lei altera uma infração administrativa de trânsito, tornando-a menos grave, esta lei não irá
retroagir para alcançar pessoas que praticaram esta infração antes da Lei mais favorável.
Como não se trata de norma de natureza penal, não há como aplicar a retroatividade da norma
mais benéfica.

Assim, a redação dada pela Lei n. 11.334/2006 ao art. 218, III, do CTB (dirigir acima da
velocidade permitida) não pode ser aplicada às infrações cometidas antes da vigência daquela
lei, ainda que a nova redação seja mais benéfica ao infrator do que a anterior. Isso porque o
art. 218 prevê uma infração administrativa e não penal.
Comentários O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território nacional, abertas à
circulação, rege-se pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que é a Lei n. 9.503/97.

O CTB prevê, dentre outras disposições, infrações de natureza administrativa (infrações de


trânsito) e infrações de natureza penal (crimes).

Infração de trânsito é a inobservância dos preceitos administrativos de regulação do


trânsito previstos no CTB, na legislação complementar ou em resoluções do CONTRAN,
sendo o infrator sujeito a penalidades e medidas administrativas.
Ex: deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de segurança. Trata-se de infração
grave, estando o condutor sujeito a penalidade de multa e a medida administrativa de
4

retenção do veículo até colocação do cinto (art. 167 do CTB).


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Pode acontecer também de a infração de trânsito ser também uma infração penal.
Ex: dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência. Trata-se de infração de trânsito gravíssima que sujeita o infrator a
multa e a suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Além disso, como medida
administrativa, haverá o recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo
(art. 165 do CTB).
O ato de conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência também
é considerada crime, cuja pena é de detenção, de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (art. 306
do CTB).

Transitar em velocidade superior à máxima permitida


Conduzir o veículo em velocidade superior à máxima permitida para o local é uma infração
de trânsito prevista no art. 218 do CTB. Este art. 218 foi alterado recentemente pela Lei n.
11.334/2006.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João, em 2005, conduziu seu veículo em velocidade superior à máxima permitida para o
local, praticando a infração prevista no art. 218 do CTB.
O infrator recorreu administrativamente contra a penalidade imposta e, antes que fosse
julgado seu recurso, entrou em vigor a Lei n. 11.334/2006.
Diante disso, João alegou que a alteração promovida pela Lei n. 11.334/2006 era mais
benéfica a ele que a redação anterior. Logo, afirmava que a modificação implementada pela
nova Lei deveria ser aplicada, retroativamente, ao fato por ele praticado. Em suma, pedia a
aplicação retroativa da Lei n. 11.334/2006 sob o argumento de que se tratava de novatio
legis in mellius.

Esta tese foi aceita?


NÃO. Para o STJ, a redação dada pela Lei n. 11.334/2006 ao art. 218, III, do CTB não pode
ser aplicada às infrações cometidas antes da vigência daquela lei, ainda que a nova redação
seja mais benéfica ao infrator do que a anterior.
A regra constante no art. 218, III, do Código de Trânsito Brasileiro – CTB diz respeito à
infração que não esteja tipificada como crime, mas apenas como infração de cunho
administrativo consistente na direção em velocidade superior à máxima permitida. Assim,
como não se trata de norma de natureza penal, não há como aplicar a retroatividade da
norma mais benéfica.
Vigora, no caso, o princípio do tempus regit actum.
Processo Segunda Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.281.027-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
18/12/2012.

Código de Trânsito (permissão para dirigir)

A pessoa que foi aprovada nos exames do DETRAN para condução de veículos recebe
inicialmente uma “permissão para dirigir”, com validade de 1 ano. Somente ao final deste
período, ela irá receber a Carteira Nacional de Habilitação, desde que não tenha cometido
nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média (art.
148, § 3º, do CTB).
Segundo a jurisprudência do STJ, é possível a expedição de CNH definitiva a motorista que
5

comete infração do art. 233 do CTB, tipificada como grave. Isso porque a interpretação
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teleológica do art. 148, § 3º, do CTB conduz ao entendimento de que o legislador, ao vedar a

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concessão da Carteira de Habilitação ao condutor que cometesse infração de trânsito de
natureza grave, quis preservar os objetivos básicos do Sistema Nacional de Trânsito, em
especial a segurança e educação para o trânsito.
Desse modo, não é razoável impedir o autor de obter a habilitação definitiva em razão de falta
administrativa que nada tem a ver com a segurança do trânsito (deixar de efetuar o registro da
propriedade do veículo no prazo de trinta dias) e nenhum risco impõe à coletividade.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Eduardo completou 18 anos e submeteu-se a todos os exames exigidos pelo DETRAN, sendo
devidamente aprovado.
Com isso, Eduardo recebeu uma “permissão para dirigir”, com validade de 1 ano.
Segundo o CTB, Eduardo somente receberá a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) após
este período de 1 ano e desde que ele não tenha cometido nenhuma infração de natureza
grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média (art. 148, § 3º).
Caso Eduardo pratique falta grave ou gravíssima ou então seja reincidente em infração
média, ele não receberá a CNH e terá que se submeter a um novo processo de habilitação,
com novos exames (art. 148, § 4º).

O que aconteceu com Eduardo foi o seguinte:


Durante o período em que estava apenas com a permissão para dirigir, Eduardo praticou a
infração administrativa prevista no art. 233 do CTB:
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo de trinta dias, junto ao órgão
executivo de trânsito, ocorridas as hipóteses previstas no art. 123:
Infração - grave;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo para regularização.

Logo, Eduardo praticou uma infração grave. Como ele ainda estava no período da permissão
de dirigir de 1 ano, a consequência prevista no CTB é que ele não tem direito de receber a
CNH e terá que se submeter a novo processo de habilitação (art. 148, § 4º).

Eduardo não se conformou com isso e contratou você, como advogado, para “dar um jeito
na situação”. O que poderá ser alegado em favor de Eduardo?

Você, como advogado, poderá alegar que, embora o art. 233 do CTB seja uma infração de
natureza grave, ela não serve como óbice à expedição da habilitação definitiva, já que se
trata de infração cometida na qualidade de proprietário do veículo, e não de condutor.
Assim, embora cometida falta grave durante a vigência da habilitação provisória, esta não
se refere à condição de condutor, sendo insuficiente a demonstrar que o infrator não tenha
aptidão para conduzir veículos.

Segundo a jurisprudência do STJ (REsp 980851/RS), é possível a expedição de Carteira


Nacional de Habilitação definitiva a motorista que comete infração do art. 233 do CTB,
tipificada como grave.
A interpretação teleológica do art. 148, § 3º, do CTB conduz ao entendimento de que o
legislador, ao vedar a concessão da Carteira de Habilitação ao condutor que cometesse
infração de trânsito de natureza grave, quis preservar os objetivos básicos do Sistema
Nacional de Trânsito, em especial a segurança e educação para o trânsito, estabelecidos no
inciso I do art. 6º do CTB.
Desse modo, não é razoável impedir o autor de obter a habilitação definitiva em razão de falta
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administrativa que nada tem a ver com a segurança do trânsito (deixar de efetuar o registro da
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propriedade do veículo no prazo de trinta dias) e nenhum risco impõe à coletividade.


Processo Segunda Turma. AgRg no AREsp 262.219-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/2/2013.

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DIREITO CIVIL

Direito à imagem

O uso não autorizado da imagem de atleta em cartaz de propaganda de evento esportivo, ainda
que sem finalidade lucrativa ou comercial, enseja reparação por danos morais,
ATENÇÃO
independentemente da comprovação de prejuízo.
A obrigação da reparação pelo uso não autorizado de imagem decorre da própria utilização
indevida do direito personalíssimo. Assim, a análise da existência de finalidade comercial ou
econômica no uso é irrelevante.
O dano, por sua vez, conforme a jurisprudência do STJ, apresenta-se in re ipsa, sendo
desnecessária, portanto, a demonstração de prejuízo para a sua aferição.
Comentários Vamos aproveitar este julgado para uma breve revisão sobre alguns entendimentos do STJ
sobre o direito à imagem:

Direito personalíssimo
Para o Min. Sidnei Beneti, o direito à imagem consiste em direito personalíssimo e assegura
a qualquer pessoa a oposição da divulgação da sua imagem em circunstâncias relacionadas
à sua vida privada e intimidade (REsp 1.235.926-SP, julgado em 15/3/2012).

Em regra, não se pode utilizar a imagem de outra pessoa


O direito à imagem, consagrado pela CF/88 (art. 5º, V e X), é de uso restrito, somente sendo
possível sua utilização por terceiro quando:
expressamente autorizado pelo titular (nos limites da finalidade e das condições
contratadas); ou
se for necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública.

Código Civil:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção
da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a
exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Utilização da imagem da pessoa com fins econômicos ou comerciais


Vale reiterar que, se a utilização da imagem da pessoa ocorreu com fins econômicos ou
comerciais, o prejuízo será presumido:
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.

Existe ofensa mesmo que a veiculação não tenha caráter vexatório


A ofensa ao direito à imagem materializa-se com a mera utilização da imagem sem
autorização, ainda que não tenha caráter vexatório ou que não viole a honra ou a
intimidade da pessoa, e desde que o conteúdo exibido seja capaz de individualizar o
ofendido.
A obrigação de reparação decorre do próprio uso indevido do direito personalíssimo, não
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sendo devido exigir-se a prova da existência de prejuízo ou dano. O dano é a própria


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utilização indevida da imagem.


STJ. REsp 794.586/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 15/03/2012.

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Imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público
Para o STJ, tratando-se de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo
público, deve ser ponderado se, dadas as circunstâncias do caso concreto, a exposição da
imagem é ofensiva à privacidade ou à intimidade do retratado, o que poderia ensejar algum
dano patrimonial ou extrapatrimonial. Há, nessas hipóteses, em regra, presunção de
consentimento do uso da imagem, desde que preservada a vida privada.
Nesse sentido, não há violação ao direito à imagem no caso em que foi utilizada fotografia
de magistrado (pessoa ocupante de cargo público de notória importância social) para
ilustrar MATÉRIA JORNALÍSTICA pertinente, sem invasão da vida privada do retratado STJ.
4ª Turma.
REsp 801.109/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/06/2012.

Ainda que se trate de pessoa pública, o uso não autorizado da sua imagem, com fins
exclusivamente econômicos e publicitários, gera danos morais. Assim, a obrigação de
indenizar, tratando-se de direito à imagem, decorre do próprio uso indevido desse direito,
não sendo necessário provar a existência de prejuízo. Trata-se de dano in re ipsa (STJ. 3ª
Turma. REsp 1.102.756-SP, Rel. Min. Nancy Andrigui, julgado em 20/11/2012).

Resumindo. Utilização, sem autorização, da imagem de pessoa pública:


Para ilustrar matéria jornalística: em regra, não haverá dano moral.
Para fins econômicos: haverá dano moral (mesmo sem prova do prejuízo).
Para fins publicitários: haverá dano moral (mesmo sem prova do prejuízo).

Desse modo, o STJ decidiu que o uso não autorizado da imagem de atleta em cartaz de
propaganda de evento esportivo, ainda que sem finalidade lucrativa ou comercial, enseja
reparação por danos morais, independentemente da comprovação de prejuízo.
A obrigação da reparação pelo uso não autorizado de imagem decorre da própria utilização
indevida do direito personalíssimo. Assim, a análise da existência de finalidade comercial ou
econômica no uso é irrelevante. O dano, por sua vez, conforme a jurisprudência do STJ,
apresenta-se in re ipsa, sendo desnecessária, portanto, a demonstração de prejuízo para a
sua aferição (REsp 299.832-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013).
Processo Terceira Turma. REsp 299.832-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013.

Alimentos

Se os alimentos definitivos forem fixados em valor inferior aos alimentos provisórios, o


alimentante (réu) não terá direito de pleitear o que foi pago a maior, tendo em vista que a
verba alimentar é irrepetível.
ATENÇÃO

Se os alimentos definitivos forem fixados em valor SUPERIOR aos alimentos provisórios, esse
valor final terá efeito retroativo (Lei 5.478/68, art. 13, § 2º), permitindo-se ao alimentando
(autor) pleitear o pagamento da diferença verificada.
Comentários Bruno, representado por sua mãe, ingressou com ação de alimentos contra Benedito, seu pai.
O juiz, ao despachar a petição inicial determinando a citação do pai, já fixou os alimentos
provisórios em 2.000 reais.
Na sentença, proferida seis meses após a decisão, o juiz arbitrou os alimentos definitivos
em 3.000 reais.
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Como se percebe, o valor fixado para os alimentos definitivos foi maior que os alimentos
provisórios (recebidos durante 6 meses).

Bruno poderá cobrar a diferença de 1.000 reais verificada nestes 6 meses (6.000 reais)?
SIM. Segundo decidiu a 3ª Turma do STJ, se os alimentos definitivos forem fixados em valor
superior ao dos provisórios, poderá haver a cobrança retroativa da diferença verificada
entre eles.

Qual é o fundamento para esta cobrança retroativa?


O § 2º do art. 13 da Lei de Alimentos (Lei n. 5.478/68):
Art. 13 (...) § 2º. Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação.

Este dispositivo tem sido aplicado pelo STJ?


Depende:
Se os alimentos definitivos são fixados em valor inferior ao dos provisórios: a
jurisprudência majoritária do STJ não aplica este dispositivo considerando que a verba
alimentar é irrepetível, de forma que o alimentante (réu) não tem direito de cobrar o
que pagou a maior.

Se os alimentos definitivos são fixados em valor superior ao dos provisórios: o STJ aplica
este dispositivo permitindo que o alimentando (autor) possa cobrar, retroativamente, a
diferença verificada.
Processo Terceira Turma. REsp 1.318.844-PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

ACP ajuizada pelo MP para questionar informações em cadastro de inadimplentes

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP com o objetivo de impedir que as
empresas incluam no cadastro de inadimplentes os consumidores em débito que estejam
discutindo judicialmente a dívida.
Trata-se da defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores, havendo interesse
social (relevância social) no caso.
Comentários Maiores informações, vide explicação no item sobre Direito Processual Civil.
Processo Terceira Turma. REsp 1.148.179-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência (restituição de indébito relacionada com tarifa de energia elétrica – Justiça Estadual)

É de competência da JUSTIÇA ESTADUAL a ação de restituição de indébito proposta contra a


concessionária de energia elétrica por causa de um aumento ilegal da tarifa de energia. Isso
porque, a princípio, não há nenhum interesse da União ou da Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL) que justifique que elas figurem no polo passivo desta demanda.
Comentários A empresa privada “A” ajuizou, contra a concessionária de energia elétrica (sociedade de
economia mista federal), ação de repetição cobrando o valor pago a maior das tarifas de
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energia em virtude de ter sido constatado um erro na metodologia do cálculo.


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A União ou a ANEEL (autarquia federal) deverão figurar no polo passivo desta demanda?
NÃO. A jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de que, na ação envolvendo
restituição de valores indevidamente cobrados aos usuários do serviço de fornecimento de
energia elétrica, a União e/ou a ANEEL não detêm legitimidade passiva, devendo figurar no
polo passivo somente a concessionária do serviço público.

Como nem a União nem a ANEEL figuram no polo passivo da demanda, esta deverá ser
proposta na Justiça Estadual.

O fato de a concessionário do serviço de energia elétrica ser uma sociedade de economia


mista federal não desloca a competência para a Justiça Federal?
NÃO. As sociedades de economia mista, ainda que mantidas pela União, não são julgadas
pela Justiça Federal. Houve uma opção do constituinte de não incluir tais empresas estatais
no rol do art. 109 da CF/88.

Sobre esse tema existem três enunciados de súmula do STF:


Súmula 508-STF: Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as
causas em que for parte o Banco do Brasil, S.A.
Súmula 517-STF: As sociedades de economia mista só tem foro na justiça federal, quando a
União intervém como assistente ou opoente.
Súmula 556-STF: É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista.
Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.307.041-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2012.

Prova documental

Como regra, os documentos devem ser juntados aos autos juntamente com a petição inicial (no
caso do autor) ou com a resposta (no caso do réu).

A jurisprudência do STJ admite a juntada de documentos novos após a petição inicial e a


contestação mesmo em situações não previstas na lei desde que:
(i) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
(ii) não haja má fé na ocultação do documento;
(iii) seja ouvida a parte contrária (art. 398 do CPC).

No caso julgado, o STJ afirmou que a mera declaração do juiz de que a prova documental é
intempestiva e, por isso, deve ser desentranhada dos autos não é capaz de, por si só, impedir o
conhecimento da referida prova pelo Tribunal, no julgamento de recurso, tendo em vista a
maior amplitude, no processo civil moderno, dos poderes instrutórios do juiz, ao qual cabe
determinar, até mesmo de ofício, a produção de provas necessárias à instrução do processo
(art. 130 do CPC).
Assim, se a prova permaneceu nos autos mesmo tendo sido declarada intempestiva pelo juiz de
1ª instância, poderá o Tribunal analisar esta prova para fundamentar seu veredicto.
Comentários Qual é o momento para que as partes produzam a prova documental?
Em outros termos, em qual momento a parte deverá juntar aos autos os documentos
destinados a provar suas alegações?
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Regra: como regra, os documentos devem ser juntados aos autos juntamente com a petição
inicial (no caso do autor) ou com a resposta (no caso do réu). Esta regra está prevista no art.
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396 do CPC.

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Exceções:
O art. 397 do CPC prevê expressamente duas exceções a essa regra.
Assim, é lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos:
a) quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados; ou
b) para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.

A jurisprudência do STJ amplia estas hipóteses e afirma que é admitida a juntada de


documentos novos após a petição inicial e a contestação mesmo em situações não previstas
na lei desde que:
(i) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
(ii) não haja má fé na ocultação do documento;
(iii) seja ouvida a parte contrária (art. 398 do CPC).

Para o STJ, a apresentação de prova documental é admissível inclusive na fase recursal,


desde que não caracterizada a má-fé e observado o contraditório (REsp 888.467/SP, Rel. p/
Acórdão Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 01/09/2011).

Art. 398. Sempre que uma das partes requerer a juntada de documento aos autos, o juiz
ouvirá, a seu respeito, a outra, no prazo de 5 (cinco) dias.

Caso julgado pelo STJ:


No caso julgado, o STJ afirmou que a mera declaração do juiz de que a prova documental é
intempestiva e, por isso, deve ser desentranhada dos autos não é capaz de, por si só,
impedir o conhecimento da referida prova pelo Tribunal, no julgamento de recurso, tendo
em vista a maior amplitude, no processo civil moderno, dos poderes instrutórios do juiz, ao
qual cabe determinar, até mesmo de ofício, a produção de provas necessárias à instrução
do processo (art. 130 do CPC).
Assim, se a prova permaneceu nos autos mesmo tendo sido declarada intempestiva pelo
juiz de 1ª instância, poderá o Tribunal analisar esta prova para fundamentar seu veredicto.
Processo Quarta Turma. REsp 1.072.276-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/2/2013.

Fazenda Pública e pagamento de emolumentos cartorários

A Fazenda Pública não é isenta do pagamento de emolumentos cartorários, havendo, apenas, o


diferimento deste para o final do processo, quando deverá ser suportado pelo vencido.
Comentários Despesas processuais
Conceito
Despesas processuais são todos os gastos necessários que têm que ser realizados pelos
participantes no processo para que este se instaure, desenvolva e chegue ao final.

Espécies de despesas processuais (Leonardo Cunha)


Segundo Leonardo da Cunha, a expressão “despesas processuais” é o gênero, abrangendo
três espécies:
a) Custas: taxa paga como forma de contraprestação pelo serviço jurisdicional que é
prestado pelo Estado-juiz;
b) Emolumentos: taxa paga pelo usuário do serviço como contraprestação pelos atos
praticados pela serventia (“cartório”) não estatizada (as serventias não estatizadas não
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são remuneradas pelos cofres públicos, mas sim pelas partes);


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c) Despesas em sentido estrito: valor pago para remunerar profissionais que são
convocados pela Justiça para auxiliar nas atividades inerentes à prestação jurisdicional.

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Exs: honorários do perito, despesas com o transporte do Oficial de justiça prestado por
terceiros (ex: empresa de ônibus, táxi etc.).

Pagamento das despesas processuais


Regra geral:
Em regra, cabe à parte prover (custear) as despesas dos atos que realizarem ou requererem
no processo, antecipando o pagamento do valor devido por ocasião de cada ato processual
(art. 19, caput e § 1º do CPC). Se, ao final do processo, esta parte que antecipou o
pagamento for vencedora, ela será ressarcida das despesas pela parte vencida (art. 20).

Fazenda Pública e pagamento de custas e emolumentos: ressarcidas ao final, se vencida


“A Fazenda Pública somente irá efetuar o dispêndio da importância concernente a custas e
emolumentos, na eventualidade de quedar vencida ou derrotada na demanda. (...) Nesse
caso, a Fazenda Pública não vai arcar com o pagamento das custas, pois estaria a pagar a si
própria, caracterizando a confusão como causa de extinção das obrigações. Na realidade, a
Fazenda Pública, em sendo vencida, irá reembolsar ou restituir ao seu adversário, que é a
parte vencedora, o quantum por ele gasto com as custas e emolumentos judiciais”. (A
Fazenda Pública em juízo. São Paulo: Dialética, 2010, p. 124).

Esta regra está prevista no art. 27 do CPC e no art. 39 da Lei de Execuções Fiscais:
Art. 27. As despesas dos atos processuais, efetuados a requerimento do Ministério Público
ou da Fazenda Pública, serão pagas a final pelo vencido.

Art. 39. A Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos. A
prática dos atos judiciais de seu interesse independerá de preparo ou de prévio depósito.
Parágrafo único. Se vencida, a Fazenda Pública ressarcirá o valor das despesas feitas pela
parte contrária.

Neste julgado, o STJ, reiterando sua jurisprudência, afirmou que a Fazenda Pública não é
isenta do pagamento de emolumentos cartorários. O que o art. 27 do CPC e o art. 39 da LEF
preveem é que ela somente irá pagar tais emolumentos ao final do processo e somente no
caso de ser vencida na demanda.

Fazenda Pública e despesas em sentido estrito: devem ser adiantadas


As despesas em sentido estrito (exs: honorários do perito, transporte do Oficial de justiça)
não estão abrangidas pela exceção do art. 27 do CPC. Em outras palavras, as despesas em
sentido estrito devem ser adiantadas pela Fazenda Pública (e não pagas apenas ao final):
Súmula 190-STJ: Na execução fiscal, processada perante a Justiça Estadual, cumpre à
Fazenda Pública antecipar o numerário destinado ao custeio das despesas com o transporte
dos oficiais de justiça.

Súmula 232-STJ: A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do
depósito prévio dos honorários do perito.

As despesas em sentido estrito não podem ser isentas ou deixadas para serem pagas ao
final porque elas constituem remuneração devida a particulares que não integram o Poder
Judiciário, não podendo ser dispensadas, sob pena de violação ao direito de propriedade.
Isenção das A Lei n. 9.289/96 dispõe sobre as custas devidas à União nos processos que tramitem na
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custas na Justiça Federal de 1ª e 2ª instâncias.


Página

Justiça Em seu art. 4º, essa Lei prevê uma lista de entes que são isentos do pagamento das custas
Federal nos processos da Justiça Federal.

INFORMATIVO esquematizado
Art. 4° São isentos de pagamento de custas:
I - a União, os Estados, os Municípios, os Territórios Federais, o Distrito Federal e as
respectivas autarquias e fundações;
II - os que provarem insuficiência de recursos e os beneficiários da assistência judiciária
gratuita;
III - o Ministério Público;
IV - os autores nas ações populares, nas ações civis públicas e nas ações coletivas de que
trata o Código de Defesa do Consumidor, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades fiscalizadoras do
exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de
reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte vencedora.

Assim, na hipótese de qualquer Fazenda Pública (federal, estadual ou municipal) litigar na


Justiça Federal, ela será isenta do pagamento de custas.
O INSS é Em regra, se a Fazenda Pública federal estiver na lide, a competência será da Justiça Federal
isento de (art. 109, I, da CF/88).
custas? A situação do INSS é peculiar porque este, mesmo sendo uma autarquia federal, pode ser
demandado na Justiça Estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários,
quando a comarca não for sede de vara federal (art. 109, § 3º).
Em suma, o INSS pode ser parte tanto em processos na Justiça Estadual como Federal.
Diante deste cenário, indaga-se: o INSS também é isento do pagamento de custas?

Se estiver litigando na Justiça Federal: Se estiver litigando na Justiça Estadual:


SIM NÃO
Lei n. 9.289/96: Súmula 178 do STJ:
Art. 4° São isentos de pagamento de O INSS não goza de isenção do pagamento
custas: de custas e emolumentos, nas ações
I - a União, os Estados, os Municípios, os acidentárias e de benefícios propostas na
Territórios Federais, o Distrito Federal e as Justiça Estadual.
respectivas autarquias e fundações;
Isso ocorre porque as custas e
emolumentos possuem natureza jurídica
de taxa. As custas da Justiça Estadual são
taxas estaduais; logo, somente uma lei
estadual poderia isentar o INSS do
pagamento dessa taxa, não podendo uma
lei federal prever essa isenção (art. 151, III,
da CF/88).

Justamente por isso, o § 1º do art. 1º, da


Lei n. 9.289/96 prevê o seguinte:
Art. 1º (...) § 1° Rege-se pela legislação
estadual respectiva a cobrança de custas
nas causas ajuizadas perante a Justiça
Estadual, no exercício da jurisdição federal.

O INSS goza Preparo consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do
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do benefício recurso. Logo, o depósito do preparo do recurso é uma espécie de despesa processual.
previsto no O CPC afirma que a parte que está recorrente da decisão precisa comprovar o preparo no
Página

art. 27 do momento da interposição do recurso (art. 511).


CPC?

INFORMATIVO esquematizado
Desse modo, em regra, o preparo (recolhimento do valor) deve ser feito antes da
interposição do recurso e, junto com o recurso interposto, o recorrente deve juntar o
comprovante do pagamento.

Como se trata de despesa processual, a Fazenda Pública somente é obrigada a pagar o valor
do preparo, ao final, se vencida (art. 27 do CPC). Logo, a Fazenda Pública não precisa fazer o
depósito prévio do preparo para recorrer.

Em 2012, foi editada a Súmula 483 do STJ deixando claro que o INSS também goza desta
prerrogativa:
Súmula 483-STJ: O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar
das prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública.

Em outras palavras, a súmula em questão afirma que se aplica ao INSS o art. 27 do CPC e o
art. 1ºA da Lei n. 9.494/97:

Código de Processo Civil:


Art. 27. As despesas dos atos processuais, efetuados a requerimento do Ministério Público
ou da Fazenda Pública, serão pagas a final pelo vencido.

Lei n. 9.494/97:
Art. 1º-A. Estão dispensadas de depósito prévio, para interposição de recurso, as pessoas
jurídicas de direito público federais, estaduais, distritais e municipais.

E o INSS é equiparado à Fazenda Pública?


SIM, conforme já dito, o INSS é uma autarquia federal, portanto, está englobada dentro do
conceito de Fazenda Pública.

Para que não houvesse qualquer dúvida, o legislador foi expresso na Lei n. 8.620/93:
Art. 8º O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), nas causas em que seja interessado na
condição de autor, réu, assistente ou opoente, gozará das mesmas prerrogativas e
privilégios assegurados à Fazenda Pública, inclusive quanto à inalienabilidade e
impenhorabilidade de seus bens.
§ 1º O INSS é isento do pagamento de custas, traslados, preparos, certidões, registros,
averbações e quaisquer outros emolumentos, nas causas em que seja interessado na
condições de autor, réu, assistente ou opoente, inclusive nas ações de natureza trabalhista,
acidentária e de benefícios.
§ 2º O INSS antecipará os honorários periciais nas ações de acidente do trabalho.

Em suma, entende o STJ o seguinte:


Sendo o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS autarquia federal equiparada em
prerrogativas e privilégios à Fazenda Pública, nos termos do artigo 8º da Lei nº 8.620/93,
não lhe é exigível o depósito prévio do preparo para fins de interposição de recurso,
podendo efetuá-lo ao final da demanda, se vencido (Código de Processo Civil, artigo 27).
(REsp 1101727/PR, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Corte Especial, julgado em 02/08/2010).

A fim de que não houvesse divergência nas instâncias inferiores sobre o tema, foi editada a
14

referida súmula.
Tema Os entendimentos acima expostos são os majoritários, baseados na jurisprudência do STJ.
Página

polêmico No entanto, não se trata de tema pacífico, havendo posições em sentido diverso. Nesse
sentido, pode ser cobrado do candidato, em uma prova objetiva, a redação literal do art.
INFORMATIVO esquematizado
24-A da Lei n. 9.028/95, devendo ser assinalado este item como correto:
Art. 24-A. A União, suas autarquias e fundações, são isentas de custas e emolumentos e
demais taxas judiciárias, bem como de depósito prévio e multa em ação rescisória, em
quaisquer foros e instâncias.
Processo Primeira Turma. AgRg no REsp 1.276.844-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 5/2/2013.

Cumprimento de sentença (multa do art. 475-J do CPC)


Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não faça
a quitação no prazo de 15 dias após ser intimado para isso, o montante da condenação será
acrescido de multa no percentual de 10%.

Além disso, passado este prazo, o credor poderá requerer a expedição de mandado para que
sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para satisfação do crédito (neste momento,
inicia-se a execução forçada do título, diante do não cumprimento espontâneo).

Se o devedor efetua o pagamento após ter se passado este prazo de 15 dias, deverá incidir a
multa de 10%, ainda que ele pague antes do credor requerer a expedição do mandado de
penhora (início da execução forçada).

Em outras palavras, o pagamento extemporâneo da condenação imposta em sentença


transitada em julgado enseja, por si só, a incidência da multa do art. 475-J, caput, do CPC, ainda
que espontâneo e anterior ao início da execução forçada.
Comentários Veja a seguinte situação hipotética:
“A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”.
O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”.
“B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado.

O que acontece agora?


“A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença.

O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o
trânsito em julgado da decisão.
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória,
especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado,
consoante memória de cálculo discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS).

Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do


credor.

A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz?


O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15
dias, sob pena do valor da condenação ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J.

Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 475-J, é contado a partir de quando?


A multa de 10% prevista no artigo 475-J do CPC depende de intimação prévia do devedor,
ainda que na pessoa de seu patrono.
15

Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o
Página

condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação.

INFORMATIVO esquematizado
A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou
seja, para o próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de
publicação na imprensa oficial?
Não precisa haver intimação pessoal. A intimação pode ser realizada na pessoa do
advogado do devedor, por meio da publicação na imprensa oficial.

Se o devedor condenado é intimado para pagar e não efetua o pagamento no prazo de 15


dias, o que acontecerá em seguida?
1) o montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10%;
2) o credor deverá formular petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito
atualizado e requerendo a expedição de mandado para que sejam penhorados e
avaliados os bens do devedor para satisfação do crédito. Neste momento, inicia-se a
execução forçada do título, diante do não cumprimento espontâneo.

Imagine agora a seguinte situação julgada pelo STJ:


Após o trânsito em julgado, o devedor foi intimado para pagar a quantia no prazo de 15
dias, sob pena de multa de 10%.
No 16º dia do prazo, o devedor efetuou o pagamento extemporâneo do valor pelo qual foi
condenado (sem incluir a multa de 10%).
Vale ressaltar que o devedor realizou o pagamento antes que o credor tivesse requerido a
expedição de mandado de penhora, ou seja, antes do início da execução forçada.

O magistrado, sob o argumento de que o devedor efetuou o pagamento em prazo razoável


e que não opôs resistência ao cumprimento da sentença, relevou a multa de 10% prevista
no art. 475-J, mesmo tendo a quitação ocorrido depois do 15º dia.

Para o STJ, agiu corretamente o magistrado?


NÃO. O pagamento extemporâneo da condenação imposta em sentença transitada em
julgado enseja, por si só, a incidência da multa do art. 475-J, caput, do CPC, ainda que
espontâneo e anterior ao início da execução forçada.
Assim, passados os 15 dias sem que o devedor pague o débito, incidirá automaticamente a
multa de 10%.

Para o STJ, o esgotamento do prazo previsto no art. 475-J do CPC tem consequências
essencialmente materiais, pois atinge o próprio crédito cobrado. Com a fluência do período
para o pagamento, o valor do título se altera, não podendo o juiz atingir o próprio direito
material do credor, que foi acrescido com a multa, assim como o seria com a incidência de
juros, correção monetária ou outros encargos. Portanto, a pura fluência do prazo
desencadeia as consequências legais.

Além disso, ainda que a execução seja, de fato, uma faculdade do credor, o cumprimento
da condenação prevista no título é uma obrigação do devedor. Desta feita, certamente, a
incidência da multa do art. 475-J do CPC não está vinculada ao efetivo exercício de um
direito pelo credor, mas ao descumprimento de uma obrigação imposta ao devedor.

Pouco importa se o credor deu início ou não à execução, ou seja, se exerceu seu direito. O
relevante é saber se o devedor cumpriu ou não sua obrigação no modo e tempo impostos
pelo título e pela lei.
16

Processo Quarta Turma. REsp 1.205.228-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/2/2013.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Execução provisória e inexistência de honorários

É cabível a condenação em honorários advocatícios no cumprimento de sentença quando esta


se encontra ainda na fase de execução provisória?

1ª corrente: SIM. Posição da 3ª Turma do STJ.


2ª corrente: NÃO. Posição da 4ª Turma do STJ.
Comentários
É cabível a condenação em honorários advocatícios no cumprimento de sentença quando
esta se encontra ainda na fase de execução provisória?

SIM (3ª Turma do STJ) NÃO (4ª Turma do STJ)


É cabível o arbitramento de honorários A execução provisória, por expressa dicção
advocatícios na fase de cumprimento da legal, “corre por iniciativa, conta e
sentença com base no art. 20, § 4º do CPC: responsabilidade do exequente” (art. 475-
O, inciso I, do CPC).
§ 4º Nas causas de pequeno valor, nas de A execução provisória se dá quando ainda
valor inestimável, naquelas em que não está pendente recurso sem efeito
houver condenação ou for vencida a suspensivo (art. 475-I, § 1º, do CPC).
Fazenda Pública, e nas execuções, Desse modo, a instauração da execução
embargadas ou não, os honorários serão provisória é uma mera opção do credor,
fixados consoante apreciação eqüitativa do que poderia não ter iniciado a medida
juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e aguardando o trânsito em julgado.
c do parágrafo anterior. Logo, descabe, nesse momento processual,
o arbitramento de honorários em favor do
exequente.
Posteriormente, convertendo-se a
execução provisória em definitiva, nada
impede que o magistrado proceda ao
arbitramento dos honorários advocatícios,
sempre franqueando ao devedor, com
precedência, a possibilidade de cumprir,
voluntária e tempestivamente, a
condenação imposta e também elidir a
multa prevista no art. 475-J, CPC.
3ª Turma. AgRg no AREsp 48.712/PR, Rel. 4ª Turma. EDcl no AREsp 186.433/RS, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma,
Turma, julgado em 26/06/2012. julgado em 07/03/2013.

Processo Quarta Turma. REsp 1.323.199-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/2/2013.

Execução fiscal

O CPC prevê que, em caso de morte da parte, o processo deverá ser suspenso para que haja a
habilitação de seus sucessores (art. 265, I).
17

O STJ decidiu que, existindo mais de um executado, o falecimento de um deles no curso da


execução fiscal não impede o prosseguimento da execução contra os demais. Assim, em uma
Página

ação proposta contra “A”, “B” e “C”, tendo morrido “B”, a execução poderá prosseguir contra “A”
e “C”, ainda que a Fazenda não tenha requerido a suspensão do processo e a substituição
INFORMATIVO esquematizado
processual de “B” pelo seu espólio ou pelos seus herdeiros.

Em outras palavras, não deve ser declarada a nulidade de execução fiscal promovida em face
de mais de um devedor, todos coobrigados, se, apesar de não ter sido determinada a suspensão
do processo a partir da morte de um deles, até que se realizasse a adequada regularização do
polo passivo, não foi demonstrada a ocorrência de qualquer prejuízo em razão de seu
prosseguimento.
Comentários Imagine a seguinte situação:
O Estado ajuizou execução fiscal contra a pessoa jurídica “A” e seus sócios “B” e “C”.
Durante a tramitação, “B” faleceu.

Com a morte do devedor, a exequente (Fazenda Pública) deveria ter realizado diligências
para a correção do polo passivo, verificando se existia inventário, partilha ou bens de “B”
sobre os quais pudesse recair a execução.

O CPC determina que, no caso de morte da parte, o processo deverá ser suspenso para
habilitação de seus sucessores:
Art. 265. Suspende-se o processo:
I - pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu
representante legal ou de seu procurador;

Ressalte-se que tais providências são tomadas pela Fazenda Pública no seu próprio
interesse, considerando que poderiam facilitar o recebimento do crédito.

No caso concreto, um dos herdeiros de “B” pediu habilitação nos autos (art. 1.055 e ss do
CPC) requerendo que fosse declarada a nulidade dos atos processuais praticados desde o
falecimento até a sua habilitação (art. 266 do CPC). O sucessor de “B” não comprovou a
ocorrência de prejuízo para ele por conta da continuidade do processo.

O STJ decidiu que, existindo mais de um executado (devedor coobrigado), o falecimento de


um deles no curso da demanda não impede o prosseguimento da execução contra os
demais. Assim, mesmo tendo morrido “B”, a execução poderá prosseguir contra “A” e “C”
ainda que a Fazenda não tenha requerido a suspensão do processo e a substituição
processual de “B” pelo seu espólio ou pelos seus herdeiros.

Dessa forma, havendo litisconsórcio passivo em ação de execução, o falecimento de um dos


devedores não obsta o prosseguimento da demanda em relação aos demais, devendo ser
mitigada a necessidade de suspensão automática do processo por falecimento de uma das
partes. Essa mitigação é justificada pelos princípios da segurança jurídica e da celeridade
processual, sobretudo se ficar demonstrado que não houve prejuízo aos sucessores do
executado.
Processo Primeira Turma. REsp 1.328.760-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/2/2013.

ACP ajuizada pelo MP para questionar informações em cadastro de inadimplentes

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP com o objetivo de impedir que as
18

empresas incluam no cadastro de inadimplentes os consumidores em débito que estejam


discutindo judicialmente a dívida.
Página

ATENÇÃO
Trata-se da defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores, havendo interesse
social (relevância social) no caso.
INFORMATIVO esquematizado
Comentários O Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública contra a Câmara de Dirigentes
Lojistas (associação de lojistas) de determinado município pedindo que a associação fosse
condenada a:
abster-se de incluir no cadastro de inadimplentes os consumidores em débito que
estivessem discutindo judicialmente a dívida;
pagar pelos danos materiais e morais causados aos consumidores incluídos
indevidamente nos referidos cadastros.

A grande questão jurídica discutida no presente caso foi a seguinte:


O Ministério Público tinha legitimidade para propor esta ACP?
SIM, considerando que se tratava da defesa de direitos individuais homogêneos de
consumidores, havendo interesse social (relevância social) no caso.

Vamos fazer agora uma revisão sobre a legitimidade do MP para a ACP segundo a
jurisprudência majoritária do STF e do STJ.

A ACP possui vários legitimados ativos, ou seja, pessoas que podem ajuizar a ação. Dentre
eles, encontra-se o Ministério Público (art. 5º, da Lei n. 7.347/85). Veja o rol legal dos
legitimados:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.

O Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública para a defesa de direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos. No entanto, o MP somente terá
representatividade adequada para propor a ACP se os direitos/interesses discutidos na ação
estiverem relacionados com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art.
127 da CF:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

Desse modo, indaga-se:

O MP possui legitimidade para ajuizar ACP na defesa de qualquer


direito difuso, coletivo ou individual homogêneo?
O entendimento majoritário está exposto a seguir:
Direitos Direitos Direitos
DIFUSOS COLETIVOS (stricto sensu) INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
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SIM SIM 1) Se esses direitos forem


indisponíveis: SIM
Página

O MP está sempre O MP está sempre (ex: saúde de um menor)


legitimado a defender legitimado a defender

INFORMATIVO esquematizado
qualquer direito difuso. qualquer direito coletivo. 2) Se esses direitos forem
disponíveis: DEPENDE
(o MP sempre possui (o MP sempre possui
representatividade representatividade O MP só terá legitimidade
adequada). adequada). para ACP envolvendo direitos
individuais homogêneos
disponíveis se estes forem de
interesse social (se houver
relevância social).

Quatro conclusões importantes:


1) Se o direito for difuso ou coletivo (stricto sensu), o MP sempre terá legitimidade para
propor ACP.

2) Se o direito individual homogêneo for indisponível (ex: saúde de um menor carente), o


MP sempre terá legitimidade para propor ACP.

3) Se o direito individual homogêneo for disponível, o MP pode agir desde que haja
relevância social.
Ex1: defesa dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação.
Ex2: defesa de trabalhadores rurais na busca de seus direitos previdenciários.

4) O Ministério Público possui legitimidade para a defesa de direito individual indisponível,


mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada (tutela do
direito indisponível relativo a uma única pessoa).
Ex: MP ajuíza ACP para que o Estado forneça uma prótese auditiva a um menor carente
portador de deficiência.

Assim, o MP sempre terá legitimidade quando os direitos envolvidos tiverem:


Interesse social; ou
Caracterizarem-se como individuais indisponíveis.

Exemplos de direitos individuais homogêneos dotados de relevância social


(Ministério Público pode propor ACP nesses casos):
1) MP pode questionar edital de concurso público para diversas categorias profissionais de
determinada prefeitura, em que se previa que a pontuação adotada privilegiaria candidatos
que já integrariam o quadro da Administração Pública municipal (STF RE 216443);
2) Na defesa de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (STF AI 637853 AgR);
3) Em caso de loteamentos irregulares ou clandestinos, inclusive para que haja pagamento
de indenização aos adquirentes (REsp 743678);
4) O Ministério Público tem legitimidade para figurar no polo ativo de ACP destinada à
defesa de direitos de natureza previdenciária (STF AgRg no AI 516.419/PR);
5) O Ministério Público tem legitimidade para propor ACP com o objetivo de anular Termo
de Acordo de Regime Especial - TARE firmado entre o Distrito Federal e empresas
beneficiárias de redução fiscal. O referido acordo, ao beneficiar uma empresa privada e
garantir-lhe o regime especial de apuração do ICMS, poderia, em tese, implicar lesão ao
patrimônio público, fato que legitima a atuação do parquet na defesa do erário e da
20

higidez da arrecadação tributária (STF RE 576155/DF);


6) O MP tem legitimação para, por meio de ACP, pretender que o poder público forneça
Página

medicação de uso contínuo, de alto custo, não disponibilizada pelo SUS, mas
indispensável e comprovadamente necessária e eficiente para a sobrevivência de um
INFORMATIVO esquematizado
único cidadão desprovido de recursos financeiros;
7) Defesa de direitos dos consumidores de energia elétrica;
8) Defesa do direito dos consumidores de não serem incluídos indevidamente nos
cadastros de inadimplentes (REsp 1.148.179-MG).

Exemplos de direitos individuais homogêneos destituídos de relevância social


(Ministério Público NÃO pode propor ACP nesses casos):
1) O MP não pode ajuizar ACP para veicular pretensões que envolvam tributos (impostos,
taxas etc.), contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados (art. 1º, parágrafo único, da LACP). Ex: o MP não pode
propor ACP questionando a cobrança excessiva de uma determinada taxa, ainda que
envolva um expressivo número de contribuintes;
2) O MP não pode pleitear a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado
(Súmula 470-STJ);
3) “O Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na qual
busca a suposta defesa de um pequeno grupo de pessoas - no caso, dos associados de
um clube, numa óptica predominantemente individual.” (STJ REsp 1109335/SE);
4) O MP não pode buscar a defesa de condôminos de edifício de apartamentos contra o
síndico, objetivando o ressarcimento de parcelas de financiamento pagas para reformas
afinal não efetivadas.

GÊNERO:
Os direitos ou interesses coletivos (lato sensu) são o gênero.
Eles são chamados de direitos ou interesses
transindividuais, metaindividuais ou supraindividuais.

ESPÉCIES:
Esses direitos coletivos (em sentido amplo) são divididos em três espécies:

COLETIVOS
DIFUSOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
(em sentido estrito)
Ex: determinado lote de um
Ex: direito ao meio ambiente Ex: reajuste abusivo das
remédio causou lesão a alguns
ecologicamente equilibrado. mensalidades escolares.
consumidores.
São classificados como direitos
ACIDENTALMENTE COLETIVOS
São classificados como direitos São classificados como direitos
(isso porque são direitos
ESSENCIALMENTE COLETIVOS. ESSENCIALMENTE COLETIVOS.
individuais, mas tratados como
se fossem coletivos)
Há uma transindividualidade
ARTIFICIAL, formal ou relativa
São transindividuais São transindividuais
(são direitos individuais que,
(há uma transindividualidade (há uma transindividualidade
no entanto, recebem
real ou material) real ou material)
tratamento legal de direitos
transindividuais)
Têm natureza DIVISÍVEL.
Têm natureza INDIVISÍVEL.
Têm natureza INDIVISÍVEL.
O resultado da demanda pode
21

Tais direitos pertencem a todos O resultado será o mesmo


ser diferente para os diversos
de forma simultânea e indistinta. para aqueles que fizerem
titulares (ex: o valor da
Página

parte do grupo, categoria ou


O resultado será o mesmo indenização pode variar).
classe de pessoas.

INFORMATIVO esquematizado
para todos os titulares.

Os titulares são pessoas: Os titulares são pessoas: Os titulares são pessoas:


indeterminadas e indeterminadas, determinadas; ou
indetermináveis. mas determináveis. determináveis.

Não se tem como determinar Os titulares são, a princípio,


(dizer de maneira específica) indeterminados, mas é
quem são os titulares desses possível que eles sejam
direitos. Isso porque são identificados.
direitos que não pertencem a
apenas uma pessoa, mas sim à Os titulares fazem parte de um
coletividade. grupo, categoria ou classe de
pessoas.

Caracterizam-se, portanto, pela Caracterizam-se, portanto, pela Caracterizam-se, portanto, pela


indeterminabilidade ABSOLUTA. indeterminabilidade RELATIVA. DETERMINABILIDADE.
Os titulares desses direitos NÃO EXISTE uma relação jurídica base
possuem relação jurídica entre si. entre os titulares.
Os titulares não são ligados
entre si, mas seus interesses
Os titulares são ligados por Os titulares são ligados entre si
decorrem de uma ORIGEM
CIRCUNSTÂNCIAS DE FATO. ou com a parte contrária em
COMUM.
Os titulares se encontram em virtude de uma RELAÇÃO
uma situação de fato comum. JURÍDICA BASE.
Outros exemplos:
interesses ligados aos
membros de um mesmo
sindicato ou partido; Outros exemplos:
Outros exemplos:
integrantes de um mesmo Ex: pílula de farinha como
patrimônio histórico;
conselho profissional (ex: OAB) anticoncepcional: só tem
moralidade administrativa;
direito a mulher que
publicidade enganosa
O MP tem legitimidade para comprovar que tomou o
divulgada pela TV.
promover ACP cujo remédio daquele lote.
fundamento seja a ilegalidade
de reajuste de mensalidades
escolares (Súmula 643-STF).

Obs: a definição legal dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos é
fornecida pelo art. 81, parágrafo único do CDC.
Observação A brilhante Min. Nancy Andrighi defende, neste julgado, que os direitos individuais
homogêneos são considerados relevantes por si mesmos, sendo desnecessária a
comprovação dessa relevância. Esta não é, contudo, a posição majoritária.
Processo Terceira Turma. REsp 1.148.179-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013.

DIREITO PENAL

Furto e princípio da insignificância

Sendo favoráveis as condições pessoais do agente, é aplicável o princípio da insignificância em


22

relação à conduta que, subsumida formalmente ao tipo correspondente ao furto simples (art.
155, caput, do CP), consista na subtração de bem móvel de valor equivalente a pouco mais de
Página

23% do salário mínimo vigente no tempo do fato.

INFORMATIVO esquematizado
Processo Quinta Turma. AgRg no HC 254.651-PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/3/2013.

Estelionato previdenciário e crime continuado

Se a pessoa, após a morte do beneficiário, passa a receber mensalmente o benefício em seu


lugar, mediante a utilização do cartão magnético do falecido, pratica o crime de estelionato
previdenciário (art. 171, § 3º, do CP) em continuidade delitiva.
Segundo o STJ, nessa situação, não se verifica a ocorrência de crime único, pois a fraude é praticada
reiteradamente, todos os meses, a cada utilização do cartão magnético do beneficiário já falecido.
Assim, configurada a reiteração criminosa nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de
execução, tem incidência a regra da continuidade delitiva prevista no art. 71 do CP.
A hipótese, ressalte-se, difere dos casos em que o estelionato é praticado pelo próprio beneficiário
e daqueles em que o não beneficiário insere dados falsos no sistema do INSS visando beneficiar
outrem; pois, segundo a jurisprudência do STJ e do STF, nessas situações, o crime deve ser
considerado único, de modo a impedir o reconhecimento da continuidade delitiva.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João recebia uma aposentadoria do INSS, sendo o valor depositado em uma conta bancária.
Como João tinha dificuldades de locomoção em razão da avançada idade, Carla, sua
sobrinha e única parente, ficava com o cartão do banco e com a senha, sendo ela a
responsável por efetuar os saques do benefício e pagar as contas da casa.
João faleceu e Carla não comunicou ao INSS a morte do tio. Ao contrário, de forma ardilosa,
continuou sacando o valor da aposentadoria que era depositado na conta bancária.
Carla recebeu os valores durante 10 meses, tendo o INSS finalmente descoberto sobre o
óbito do segurado e cessado os pagamentos.

Qual delito, em tese, foi praticado por Carla?


Estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do CP).

Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade


de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

O fato de ela ter sacado durante 10 meses possui alguma relevância penal?
SIM. Há, neste caso, crime continuado (art. 71 do CP).

Segundo decidiu o STJ, não se verifica a ocorrência de crime único em tais casos, pois a
fraude é praticada reiteradamente, todos os meses, a cada utilização do cartão magnético
do beneficiário já falecido. Assim, resta configurada a reiteração criminosa nas mesmas
condições de tempo, lugar e maneira de execução, de forma que tem incidência a regra da
continuidade delitiva prevista no art. 71 do CP.

Crime continuado
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
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crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-
Página

lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em

INFORMATIVO esquematizado
qualquer caso, de um sexto a dois terços.

O aumento na continuidade delitiva varia de 1/6 a 2/3. No caso concreto, qual deverá ser o
aumento de pena a incidir?
2/3

O critério para o aumento no crime continuado é o número de crimes praticados:


2 crimes – aumenta 1/6
3 crimes – aumenta 1/5
4 crimes – aumenta 1/4
5 crimes – aumenta 1/3
6 crimes – aumenta 1/2
7 ou mais – aumenta 2/3
Processo Sexta Turma. REsp 1.282.118-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Tribunal do Júri e apelação

O réu foi submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri. Houve recurso para o Tribunal de
Justiça e o júri foi anulado sob o argumento de que a decisão dos jurados foi manifestamente
contrária à prova dos autos. Foi, então, designada uma nova sessão do Júri.

O rol das testemunhas a serem ouvidas neste segundo Júri é o mesmo do primeiro ou será
possível acrescentar ou trocar testemunhas?

NÃO é possível a mudança no rol de testemunhas.


Segundo decidiu o STJ, no caso em que o Tribunal, em apelação, determine a realização de novo
júri em razão do reconhecimento de que a decisão dos jurados fora manifestamente contrária
à prova dos autos, não é possível que se conceda às partes o direito de inovar no conjunto
probatório mediante a apresentação de novo rol de testemunhas a serem ouvidas em plenário.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
O réu foi submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri, sendo absolvido.
O Ministério Público interpôs apelação alegando que a decisão dos jurados foi
manifestamente contrária à prova dos autos.
O TJ deu provimento à apelação e determinou que o condenado fosse submetido a novo Júri.
Após o trânsito em julgado do acórdão, o juiz designou a nova sessão do Júri.
Diante disso, o Ministério Público peticionou ao magistrado apresentando um novo rol de
testemunhas a serem ouvidas no Plenário do Júri, com nomes diferentes das testemunhas
inquiridas no primeiro júri realizado.
A defesa impugnou o pedido e afirmou que o MP não poderia mudar o rol de testemunhas
24

para o segundo julgamento e que estas deveriam ser as mesmas já ouvidas no primeiro júri.
Página

Você, como juiz, o que decidiria?

INFORMATIVO esquematizado
Assiste razão à insurgência da defesa.

Segundo decidiu o STJ, caso o Tribunal, no julgamento de apelação contra o veredicto dos
jurados, determine a realização de novo júri em razão do reconhecimento de que a decisão
foi manifestamente contrária à prova dos autos, não é possível que se conceda às partes o
direito de inovar no conjunto probatório mediante a apresentação de novo rol de
testemunhas a serem ouvidas em plenário.

A apresentação do rol de testemunhas que serão ouvidas no Júri é uma providência


realizada na chamada “fase de preparação do processo para julgamento em Plenário” (art.
422 do CPP), ou seja, uma etapa que antecede ao julgamento em si.

Praticado o referido ato de preparação — que não se confunde com o ato de julgamento
propriamente dito —, ocorrerá, em regra, a sua preclusão consumativa.

Dessa maneira, tendo sido provida apelação tão somente para a realização de novo julgamento,
não será possível repetir a realização de outro ato antecedente (o de preparação) que já fora
consumado, sendo cabível proceder apenas ao novo julgamento do acusado.

Além do mais, se o Tribunal que julgou o recurso determina a realização de um novo


julgamento por estar convencido de que o veredicto exarado pelo Conselho de Sentença
anterior foi manifestamente contrário à prova dos autos, deve o novo Júri realizar uma nova
análise sobre o mesmo acervo de provas anteriormente analisado.

Caso fosse permitido à defesa e ao MPF a apresentação de novas testemunhas, o novo


Conselho de Sentença (novos jurados convocados para o 2º julgamento), iria estar
apreciando novas provas que não foram valoradas no primeiro julgamento e, caso exarasse
decisão manifestamente contrária à prova dos autos, não seria possível outro recurso
pedindo a anulação do julgamento, visto que o § 3º do art. 593 do CPP impede a
interposição de segunda apelação fundamentada no mesmo motivo.
Processo Quinta Turma. HC 243.452-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/2/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Imposto de Renda (isenção para portadores de cardiopatia grave)

O art. 6º, XIV, da Lei n. 7.713/88 (Lei do IR) prevê que as pessoas portadoras de determinadas
doenças ali elencadas não pagarão imposto de renda sobre o rendimentos que receberem a
título de aposentadoria, pensão ou reforma.
Para que haja a isenção é indispensável que o portadora da doença grave esteja na inatividade,
recebendo rendimentos de aposentadoria, pensão ou reforma.
Assim, não haverá isenção se o contribuinte é portador de uma das moléstias elencadas, mas
ainda não se aposentou, optando por continuar trabalhando.
Comentários O imposto de renda é regido pela Lei n. 7.713/88.
Esta Lei prevê que as pessoas portadoras de determinadas doenças graves e que estejam na
inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos recebidos a título de
aposentadoria, pensão ou reforma (art. 6º, XIV).
25

Recapitulando:
Página

Pessoas portadoras de doenças elencadas pela legislação não pagarão imposto de renda

INFORMATIVO esquematizado
sobre os rendimentos que receberem a título de aposentadoria, pensão ou reforma.

Veja a previsão legal:


Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por
pessoas físicas:
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os
percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental,
esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante,
nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte
deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com
base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída
depois da aposentadoria ou reforma;

O caso julgado pelo STJ foi o seguinte:


“F” é portador de cardiopatia grave, doença listada no referido inciso XIV do art. 6º.
Em virtude da doença, “F” requereu e obteve aposentadoria por invalidez.
“F”, no entanto, mudou de ideia e decidiu continuar trabalhando, razão pela qual o pedido
de aposentadoria foi cancelado.
“F” requereu, então, a isenção do imposto de renda incidente sobre sua remuneração com
base no art. 6º, XIV, da Lei n. 7.713/88.

O requerente terá direito à isenção do IR?


NÃO. Segundo o STJ, o inciso XIV do art. 6º exige a presença de dois requisitos cumulativos
para que haja a isenção do imposto de renda:
a) os rendimentos sejam relativos a aposentadoria, pensão ou reforma; e
b) a pessoa seja portadora de uma das doenças listadas.

Desse modo, não gozam de isenção os rendimentos decorrentes do serviço prestado na


atividade. Logo, não haverá isenção se o contribuinte é portador de uma das moléstias
previstas, mas ainda não se aposentou, como é o caso de “F”.

O argumento para esta conclusão do STJ é o de que, nos termos do art. 111, II, do CTN, a
norma tributária concessiva de isenção deve ser interpretada literalmente. No caso
concreto, “F” busca a isenção de sua remuneração (contraprestação paga ao servidor na
atividade) ao passo que a legislação somente prevê a isenção dos proventos de
aposentadoria, pensão ou reforma.

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:


I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;
II - outorga de isenção;
III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Laudo Para efeito do reconhecimento da isenção do imposto de renda é necessário que a moléstia
pericial seja comprovada mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 30 da Lei n. 9.250/95).
26

Rol taxativo Outro ponto importante sobre o tema:


O rol de doenças previsto no art. 6º, XIV, da Lei n. 7.713/88 é taxativo ou exemplificativo?
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TAXATIVO, não se admitindo que sejam incluídas, por interpretação extensiva, outras doenças
que não estejam ali previstas expressamente. Trata-se de entendimento pacífico do STJ:

INFORMATIVO esquematizado
(...) 1. A concessão de isenções reclama a edição de lei formal, no afã de verificar-se o
cumprimento de todos os requisitos estabelecidos para o gozo do favor fiscal.
2. O conteúdo normativo do art. 6º, XIV, da Lei 7.713/88, com as alterações promovidas pela
Lei 11.052/2004, é explícito em conceder o benefício fiscal em favor dos aposentados
portadores das seguintes moléstias graves: (...) Por conseguinte, o rol contido no referido
dispositivo legal é taxativo (numerus clausus), vale dizer, restringe a concessão de isenção às
situações nele enumeradas.
3. Consectariamente, revela-se interditada a interpretação das normas concessivas de
isenção de forma analógica ou extensiva, restando consolidado entendimento no sentido de
ser incabível interpretação extensiva do aludido benefício à situação que não se enquadre
no texto expresso da lei, em conformidade com o estatuído pelo art. 111, II, do CTN. (...)
(REsp 1116620/BA – recurso repetitivo, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em
09/08/2010, DJe 25/08/2010)
Processo Segunda Turma. RMS 31.637-CE, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 5/2/2013.

Obs: se você está se preparando para concurso de Auditor Fiscal de Tributos Estaduais, deverá ler também o
REsp 1.307.876-SP, transcrito ao final deste Informativo.

Obs2: se você está se preparando para concurso de Auditor Fiscal da Receita Federal, deverá ler também o
REsp 1.313.879-SP, transcrito ao final deste Informativo.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (DPE/AL – 2009) O objeto dos interesses difusos é transindividual e tem natureza divisível. ( )

2) (DPE/RR 2013 – CESPE) A respeito da teoria constitucional dos direitos difusos e coletivos e dos
interesses público, privado, difusos, coletivos e individuais homogêneos, assinale a opção correta.
A) Embora a legislação apresente diferenças entre os interesses difusos e os interesses individuais
homogêneos, a doutrina aponta que, na prática, a distinção é inviável, em razão de ambas as espécies
originarem-se de circunstâncias de fato comuns.
B) A CF prevê, como instrumentos para a tutela dos direitos coletivos latu sensu, apenas a ACP e a ação
coletiva.
C) A distinção entre interesse público primário (o bem geral) e interesse público secundário (o modo
pelo qual a administração vê o interesse público) é, atualmente, juridicamente irrelevante, pois, na
sociedade moderna, qualquer interesse público coincide com o interesse da sociedade.
D) Os interesses difusos não são mera subespécie de interesse público, pois, embora possa haver
coincidência entre interesses de um grupo indeterminável de pessoas e interesses do Estado ou da
coletividade, isso nem sempre acontece.
E) A única diferença entre interesse difuso e interesse coletivo em sentido estrito é a origem da lesão.

3) (DPE/RO 2012 – CESPE) Com relação aos interesses coletivos, assinale a opção correta.
A) Os titulares de interesses coletivos em sentido estrito agregam-se por circunstâncias de fato.
B) Os titulares de interesses difusos são caracterizados pela indeterminabilidade relativa.
C) Os titulares de interesses difusos ligam-se por relação jurídica base.
D) Os interesses individuais homogêneos são caracterizados por uma transindividualidade artificial ou relativa.
27

E) O objeto dos interesses individuais homogêneos é indivisível.


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4) (DPE/SC 2012 – FEPESE) Quanto ao objeto da ação civil pública, é correto afirmar:

INFORMATIVO esquematizado
A) Interesses ou direitos difusos são os transindividuais, de natureza divisível, de que sejam titulares
pessoas determinadas e ligadas por circunstância de fato.
B) Interesses ou direitos coletivos são os transindividuais, de natureza indivisível, nos quais se abrange
número indeterminado de pessoas unidas pelo mesmo fato e pertencentes a grupos ou categorias de
pessoas.
C) Interesses ou direitos individuais homogêneos são aqueles exercitáveis coletivamente pelo fato de
terem uma origem comum, e não admitem exercício de modo individual.
D) Interesses ou direitos coletivos e individuais homogêneos são praticamente idênticos, diferenciando-
se apenas e tão somente pela legitimidade ativa.
E) Interesses ou direitos difusos são os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstância de fato. Têm duração efêmera, contingencial.

5) (DPE/AM 2013 – FCC) São hipóteses de causas de interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos, respectivamente,
A) propaganda enganosa veiculada em jornal de pequena circulação, regularização de loteamento
clandestino e poluição sonora do bairro X.
B) poluição causada por indústria multinacional, poluição causada por indústria nacional e poluição
causada por indústria municipal.
C) regularização de loteamento clandestino, poluição de córrego na cidade Y e cláusula abusiva em
contrato de adesão de financiamento da instituição financeira Z.
D) instituição de reserva legal em área particular, convenção coletiva que viola direito dos
trabalhadores de uma empresa de montagem de veículos e recall de veículo do tipo A.
E) área de preservação permanente em bem público, área de preservação permanente em loteamento
e área de preservação permanente em propriedade particular individual.

6) (DPE/RO – 2012) De acordo com o que dispõe o art. 94 da CF, um quinto das vagas dos tribunais deve
ser destinado a advogados. Entretanto, o tribunal de justiça de determinado estado da Federação,
deixando de observar o critério constitucional, nomeou, para vaga destinada a um advogado, o juiz
mais antigo da carreira, antes mesmo que a OAB formalizasse qualquer lista com eventuais candidatos
ao cargo. Nessa situação, desrespeitou-se, em relação aos advogados, o interesse
A) individual homogêneo.
B) individual disponível.
C) público secundário.
D) difuso.
E) coletivo em sentido estrito.

7) (DPE/RO – 2012) O MP ajuizou ação civil pública, visando anular acordo firmado entre o estado X e
determinada empresa, por meio do qual o ente federativo concedia à empresa o benefício de inserção
em regime especial de apuração tributária. Alegou o MP que a inserção da empresa no referido regime
acarretaria cobrança de tributo em valor menor que o devido, o que geraria prejuízo ao referido estado e
lesão ao patrimônio público. Com relação à situação hipotética acima descrita, assinale a opção correta.
A) A ação civil pública não é cabível na hipótese, sendo a ação popular o instrumento adequado para o caso.
B) A legitimidade do MP para ajuizar a referida ação civil pública fundamenta-se no fato de o MP estar
tutelando a defesa do erário e a higidez da arrecadação tributária.
C) O MP não possui legitimidade para ajuizar a referida ação civil pública, dada a caracterização de
direito disponível, cujos beneficiários são individualizáveis.
D) O MP não tem legitimidade para ajuizar a referida ação civil pública, visto que a ele não cabe propor
ação coletiva cujo objeto seja matéria tributária.
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E) O MP só teria legitimidade para ajuizar a referida ação civil pública provocado por associação ou
entidade de representação dos contribuintes, situação em que o parquet figuraria no polo ativo da
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ação como substituto processual.

INFORMATIVO esquematizado
8) (MP/AL 2012 – FCC) O Ministério Público tem legitimidade para defender os direitos e interesses dos
consumidores em juízo, a título coletivo,
A) somente quando se tratar de interesses ou direitos difusos e individuais homogêneos.
B) somente quando se tratar de interesses ou direitos difusos e coletivos.
C) quando se tratar de interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos.
D) somente quando se tratar de interesses ou direitos difusos.
E) somente quando se tratar de interesses ou direitos coletivos.

9) (Promotor/RR – 2012) O MP não possui legitimidade para promover ACP na defesa de direitos dos
consumidores de energia elétrica, dada a vedação expressamente prevista na lei que dispõe sobre a ACP. ( )

10) (Juiz TJPB – 2011) Por força de vedação prevista em lei, o MP não possui legitimidade para promover
ação civil pública na defesa de direitos dos consumidores de energia elétrica. ( )

11) (DPE/AC 2012 – CESPE) Assinale a opção correta acerca dos interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos.
A) As lesões a direitos individuais homogêneos e disponíveis podem ser investigadas pelo MP.
B) A revista íntima praticada pelo empregador constitui lesão ao direito individual homogêneo, no
âmbito da relação jurídica de emprego.
C) Direitos coletivos são os de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato.
D) Os direitos difusos são determináveis porque os seus titulares são identificados conforme o grupo,
categoria ou classe em que estejam inseridos.
E) Os direitos individuais homogêneos, derivados de relação jurídica idêntica, são indivisíveis, e seus
titulares, indeterminados.

12) (Juiz TJCE 2012 – CESPE) É prescindível analisar a natureza do interesse ou direito individual
homogêneo — disponível ou indisponível — para estear a legitimação extraordinária do MP no
ajuizamento da ação civil pública. ( )

13) (DPE/RR 2013 – CESPE) É prescindível analisar a natureza do interesse ou direito individual homogêneo
— disponível ou indisponível — para fundamentar a legitimação extraordinária do MP para ajuizar ACP.
( )

14) (Promotor/SE – 2010) No que se refere à adequação e ao alcance atualmente conferidos pela
legislação, doutrina e jurisprudência relativamente à ação civil pública e à tutela dos direitos difusos,
coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos, bem como à legitimação do MP, assinale
a opção correta.
A) A ação civil pública é instrumento hábil conferido ao MP contra a cobrança excessiva de taxas que
alcancem expressivo número de contribuintes.
B) Ao MP não se permite a utilização de ação civil pública com o escopo de impedir aumento abusivo de
mensalidades escolares por estabelecimentos privados de ensino fundamental de certo município brasileiro.
C) O MP tem legitimação para, mediante ação civil pública, compelir o poder público a adquirir e
fornecer medicação de uso contínuo, de alto custo, não disponibilizada pelo SUS, mas indispensável e
comprovadamente necessária e eficiente para a sobrevivência de um único cidadão desprovido de
recursos financeiros.
D) A proteção da moralidade administrativa, objeto precípuo da ação popular, somente tem lugar em
ação civil pública movida pelo MP em caráter subsidiário.
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E) O MP está legitimado a agir, por meio de ação civil pública, em defesa de condôminos de edifício de
apartamentos contra o síndico, objetivando o ressarcimento de parcelas de financiamento pagas para
Página

reformas afinal não efetivadas.

INFORMATIVO esquematizado
15) (Promotor/TO – 2012) Com relação à teoria constitucional e à tutela dos direitos difusos e coletivos,
assinale a opção correta.
A) São considerados interesses coletivos os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
B) Direitos ou interesses transindividuais não possuem titulares individuais determinados e pertencem
a uma comunidade ou coletividade.
C) O interesse público secundário é o interesse social, o da sociedade ou da coletividade, assim como a
proteção ao meio ambiente.
D) Os interesses relacionados a condôminos de um edifício excedem o âmbito estritamente individual,
constituindo interesses públicos.
E) Direitos difusos e direitos coletivos distinguem-se pela coesão como grupo, categoria ou classe
anterior à lesão, própria dos direitos difusos, e não dos coletivos stricto sensu.

16) (Promotor/TO – 2012) Possuem legitimidade ativa para a ACP a DP, o MP, a União, os estados, o DF, os
municípios, as entidades do terceiro setor, as autarquias, as empresas públicas, as fundações e as
sociedades de economia mista. ( )

17) (Promotor/TO – 2012) Compete ao MP pleitear, em ACP, indenização decorrente de seguro obrigatório de
danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres, em benefício do segurado. ( )

18) (Promotor/RO – 2010) Se determinada organização de classe, por intermédio de resolução, estabelecer,
como condição prévia para a obtenção do registro profissional, a aprovação dos graduados em exames
específicos, o MP não terá legitimidade ativa para o ajuizamento de ação civil pública contra referida
resolução, ante a natureza individual dos interesses envolvidos. ( )

19) (Promotor/PI – 2012) A respeito dos direitos coletivos, considerados em sentido amplo, assinale a
opção correta.
A) Os direitos transindividuais e metaindividuais, direitos coletivos em sentido amplo, abrangem os
direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos e o individual indisponível.
B) Os bens que integram o patrimônio financeiro do Estado inserem-se no âmbito do interesse público
primário.
C) A lei confere exclusividade ao MP na defesa judicial do interesse público primário.
D) O interesse público secundário é protegido pelos denominados direitos difusos, coletivos, individuais
homogêneos e individuais indisponíveis, pertencentes à sociedade.
E) Em regra, o MP tem legitimidade para a defesa dos interesses público e particular.

20) (Promotor/PI – 2012) Com relação aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, assinale a
opção correta.
A) Os direitos individuais homogêneos são indivisíveis, embora seus titulares sejam determinados.
B) Os titulares dos direitos difusos podem ser individualmente determinados.
C) Tanto os interesses difusos quanto os direitos coletivos são de natureza indivisível.
D) Os direitos coletivos correspondem aos direitos metaindividuais, cujos titulares são pessoas
indeterminadas.
E) É vedada a investigação de afronta a direitos individuais homogêneos por meio de inquérito civil.

21) (Juiz TJPA – 2012 - adaptada) O MP não pode propor ACP para a defesa de direitos individuais
homogêneos porque estes são de exclusivo interesse de seus titulares. ( )
30

22) (Juiz TJPB – 2011) Os interesses ou direitos difusos são transindividuais, de natureza indivisível, e seus
titulares, pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; por outro lado, os interesses ou
Página

direitos individuais homogêneos, também indivisíveis, decorrem de origem jurídica comum. ( )

INFORMATIVO esquematizado
23) (DPE/BA – 2010) A demanda coletiva ajuizada em face da publicidade de um medicamento emagrecedor
milagroso visa tutelar os interesses difusos, também denominados transindividuais, de natureza indivisível,
de que sejam titulares pessoas indeterminadas e indetermináveis, ligadas por circunstâncias fáticas, não
cabendo mencionar relação jurídica anterior entre os titulares desse tipo de direito. ( )

Gabarito
1. E 2. Letra D 3. Letra D 4. Letra E 5. Letra D 6. Letra E 7. Letra B 8. Letra C 9. E 10. E
11. Letra A 12. E 13. E 14. Letra C 15. Letra B 16. E 17. E 18. E 19. Letra A 20. Letra C
21. E 22. E 23. C 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30.

31
Página

INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA
(OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS
Amigos do Dizer o Direito,
Desde o início dos INFORMATIVOS Esquematizados, selecionamos para comentar apenas os julgados que
são relevantes para fins de concurso público, ou seja, aqueles que podem ser cobrados nas provas.
Deixamos de lado as decisões proferidas com base em peculiaridades muito específicas do caso concreto ou,
então, que trataram sobre temas que dificilmente serão exigidos nos concursos.
Sempre fizemos isso para facilitar o estudo dos leitores, evitando que vocês percam tempo. No entanto,
algumas pessoas nos escrevem relatando que ficam angustiadas por estarem deixando de ler todos os
julgados noticiados nos Informativos. Por essa razão, decidimos transcrever aqui os acórdãos que não
foram comentados para que as pessoas que quiserem possam lê-los sem ter que imprimir o Informativo
original, além do esquematizado.
Vale ressaltar que continuamos achando recomendável estudar apenas os julgados que foram acima
comentados.
Alguns de vocês nos indagam: pode ser que, em uma prova, seja cobrado um julgado que não foi comentado?
Sim, com certeza isso poderá ocorrer. No entanto, vale a pena ler o informativo inteiro por conta disso?
Entendemos que não porque a probabilidade de isso acontecer é muito pequena, não compensando o
custo/benefício desse tempo perdido. É o mesmo caso da pessoa que estuda por dois ou três livros sobre a
mesma disciplina. Gasta-se muito tempo e o retorno, em termos de concurso, é muito pequeno.
De qualquer modo, como o objetivo é sempre ajudar vocês, vamos transcrever aqui embaixo todos os
julgados que não foram comentados para aqueles que quiserem ler. Os que preferirem estudar apenas os
julgados comentados podem imprimir o Informativo até a página dos exercícios, evitando, assim, gastar
com páginas impressas que não serão lidas.
Bons estudos a todos e que venham as aprovações!

DIREITO ADMINISTRATIVO. INAPLICABILIDADE DA REGRA DO ART. 13, CAPUT, DA LEI N. 8.036/1990 NO


RESSARCIMENTO DO VALOR DE FGTS PAGO A MAIOR PELO EMPREGADOR.
O empregador, ao receber a restituição de valor depositado a maior a título de FGTS, não tem direito ao
acréscimo sobre esse valor do percentual de 3% previsto no art. 13, caput, da Lei n. 8.036/1990.
De fato, o valor ressarcido de FGTS pago a maior deve contemplar tão somente a correção monetária, e não a
capitalização diferenciada (juros de 3% ao ano) estipulada para a correção das contas vinculadas ao FGTS,
conforme previsto no art. 13 da Lei n. 8.036/1990. A previsão contida no referido dispositivo legal visa
beneficiar apenas o próprio FGTS, visto seu caráter assistencial em programas de habitação, saneamento
básico e infraestrutura urbana, e decorre do efetivo trabalho desenvolvido pelos órgãos envolvidos na gestão
do fundo para garantir a rentabilidade instituída na lei de regência (art. 9º, § 2º, da Lei n. 8.036/1990). Assim,
reconhecer a possibilidade de devolução de valores pagos a maior com a incidência dessa capitalização seria
viabilizar ao empregador uma fonte de investimento com rentabilidade fixa. A restituição do valor pago a
maior com a incidência de correção monetária já garante ao empregador a atualização devida em função do
lapso temporal em que os referidos valores ficaram à disposição da CEF, pois garante a efetiva recomposição
do valor aquisitivo da moeda de forma a manter o seu poder de compra original.
Segunda Turma. REsp 1.296.047-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. INCORPORAÇÃO DA GAE AOS VENCIMENTOS DOS INTEGRANTES DA CARREIRA


32

DO MAGISTÉRIO SUPERIOR.
A incorporação da GAE aos vencimentos dos integrantes da carreira do Magistério Superior, nos termos
Página

da Lei n. 11.784/2008, não significa que os novos vencimentos básicos devam corresponder à soma do
valor referente ao padrão anterior com o da mencionada gratificação.

INFORMATIVO esquematizado
A Lei n. 11.784/2008, que reestruturou o plano de carreira do Magistério Superior, extinguiu, em seu art. 21, a
Gratificação de Atividade Executiva – GAE, ficando seu valor incorporado à tabela dos novos vencimentos
básicos dos servidores integrantes da respectiva carreira, de forma a ser preservada a irredutibilidade de
vencimentos. Nesse contexto, o STJ entende que o parágrafo único do referido dispositivo legal previu a
incorporação da GAE à tabela de vencimentos básicos, e não a soma do valor da gratificação aos valores dos
vencimentos básicos anteriormente recebidos pelos servidores. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.334.876-
RS, Segunda Turma, DJe 10/10/2012, e REsp 1.314.554-SC, Primeira Turma, DJe 27/6/2012.
Segunda Turma. REsp 1.321.727-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. TERMO INICIAL DOS EFEITOS DA PENSÃO POR MORTE NO CASO DE
HABILITAÇÃO POSTERIOR DE DEPENDENTE.
No caso de concessão integral da pensão por morte de servidor público, a posterior habilitação, que
inclua novo dependente, produz efeitos a partir da data de seu requerimento na via administrativa.
Presume-se que nessa data tenha ocorrido a ciência da Administração sobre o fato gerador a ensejar a
concessão do benefício, o que se infere da análise das regras contidas nos arts. 215, 218 e 219, parágrafo
único, da Lei n. 8.112/1990.
Segunda Turma. REsp 1.348.823-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE REAJUSTE DAS INDENIZAÇÕES DE TRABALHO DE CAMPO


CRIADAS PELO ART. 16 DA LEI N. 8.216/1991 EM RAZÃO DAS ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELO DEC. N.
5.554/2005 AOS ADICIONAIS DE LOCALIDADE PREVISTOS NO DEC. N. 1.656/1995.
As alterações promovidas pelo Dec. n. 5.554/2005 quanto ao adicional de localidade previsto no Dec. n.
1.656/1995, devido ao servidor que receba diárias por deslocamento, não implicam reajuste das
indenizações de trabalho de campo criadas pelo art. 16 da Lei n. 8.216/1991, ainda que se considere que
essas indenizações devam ser reajustadas com o mesmo percentual e na mesma data de eventual revisão
legislativa dos valores das diárias.
As diárias são destinadas a cobrir custos suportados pelo servidor no exercício de atividades fora do local de sua
lotação. Nesse contexto, o Dec. n. 1.656/1995 estabeleceu, além das diárias, o pagamento de um adicional
específico que incide sobre o valor das diárias a depender da cidade para a qual o servidor se desloca,
guardando relação com o custo de vida e dificuldade de acesso de cada localidade. O pagamento desse adicional
de localidade, contudo, não se relaciona às indenizações de trabalho de campo, criadas pelo art. 16 da Lei n.
8.216/1991, tendo em vista que estas são destinadas a cobrir os custos que o servidor tem na prestação de
serviços efetuados fora de sua sede administrativa, mas dentro da mesma localidade de sua lotação funcional.
Por esse motivo, as alterações promovidas pelo Dec. n. 5.554/2005 no Dec. n. 1.656/1995, que não reajustaram
o valor das diárias – o que implicaria reajuste das indenizações de trabalho de campo criadas pelo art. 16 da Lei
n. 8.216/1991 conforme o art. 15 da Lei n. 8.270/1991 –, mas apenas modificaram o rol das localidades para as
quais o deslocamento do servidor importaria a percepção de adicional de localidade, não implicam reajuste das
indenizações de trabalho de campo criadas pelo art. 16 da Lei n. 8.216/1991.
Segunda Turma. AgRg no REsp 1.283.707-PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/12/2012.

DIREITO ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÃO DE BENS E RENDIMENTOS


POR CONSELHEIRO REGIONAL SUPLENTE DO SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO NO DF.
O conselheiro regional suplente do SESC-DF tem o dever de apresentar declaração de bens e rendimentos
ao Conselho Regional da referida entidade.
Apesar de possuírem personalidade jurídica de direito privado, as entidades paraestatais se submetem a
algumas nuances do regime jurídico de direito público. Entre as particularidades a que estão sujeitos os
entes de cooperação estatal, destaca-se o fato de receberem recursos públicos provenientes de
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contribuições parafiscais. O SESC é pessoa de cooperação governamental que, embora não integre a
administração indireta, tem sua criação autorizada por lei e recebe recursos considerados públicos, razão
Página

pela qual é imprescindível que os responsáveis por sua administração sujeitem-se ao controle público.
Segundo o art. 5°, V, da Lei n. 8.443⁄1992, estão sujeitos a prestar contas ao TCU os responsáveis por

INFORMATIVO esquematizado
entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado que recebam contribuições parafiscais e
prestem serviço de interesse público ou social. Ademais, de acordo com o art. 4º da Lei n. 8.730⁄1993, toda
pessoa que, por força de lei, estiver sujeita a prestar contas ao TCU deve apresentar cópia da declaração de
rendimentos e de bens relativa ao período base da gestão. O SESC-DF é administrado por um órgão
colegiado, o Conselho Regional, cabendo ao presidente desse conselho apenas a função de materializar as
decisões, após discussão, votação e aprovação do órgão colegiado. Assim, todos os conselheiros devem ser
considerados como responsáveis pela administração da entidade, sendo dever de cada um deles a
apresentação de declaração de bens e rendimentos.
Segunda Turma. REsp 1.356.484-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. CÔMPUTO DO PERÍODO DE LICENÇA-PRÊMIO NÃO GOZADA COMO DE EFETIVO


EXERCÍCIO PARA O FIM DE ENQUADRAMENTO NO PLANO DE CARREIRA INSTITUÍDO PELA LEI N.
11.091/2005.
O período de licença-prêmio não gozada deve ser computado como de efetivo exercício para o fim de
enquadramento no Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação no âmbito das
Instituições Federais de Ensino – instituído pela Lei n. 11.091/2005 – se, na época da aposentadoria do
servidor, vigia o art. 102, VIII, “e”, da Lei n. 8.112⁄1990 em sua redação original, que considerava a
licença-prêmio como de efetivo exercício.
Com efeito, se a licença-prêmio não gozada foi computada para o fim de aposentadoria como tempo
efetivo de serviço, não pode, posteriormente, ser desconsiderada para efeito do enquadramento previsto
na Lei n. 11.091/2005. É o que se infere dos termos da Súmula 359 do STF, segundo a qual, ressalvada a
revisão prevista em lei, os proventos da inatividade serão regulados pela lei vigente ao tempo em que o
militar ou o servidor civil reuniram os requisitos necessários para tanto. Ressalte-se que, embora o referido
enunciado trate da norma aplicável para a concessão do benefício, também pode ser aplicado, mutatis
mutandis, à hipótese de enquadramento em plano de carreira.
Segunda Turma. REsp 1.336.566-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESISTÊNCIA DE ARREMATAÇÃO REALIZADA NA VIGÊNCIA DA REDAÇÃO


ORIGINAL DOS ARTS. 694 E 746 DO CPC.
No caso de arrematação considerada perfeita, acabada e irretratável durante a vigência da redação
original dos arts. 694 e 746 do CPC, não é possível ao arrematante desistir da aquisição na hipótese de
oferecimento de embargos à arrematação.
Com o advento da Lei 11.382/2006, tornou-se possível ao arrematante requerer o desfazimento da arrematação
na hipótese de oferecimento de embargos à arrematação (arts. 694, § 1º, IV, e 746, §§ 1º e 2º, CPC). Essa
previsão legal tem incidência imediata, mas não se aplica aos atos consumados sob a égide da lei antiga.
Segunda Turma. REsp 1.345.613-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS PARA A
REQUISIÇÃO DE PRECATÓRIO COMPLEMENTAR REFERENTE A INDENIZAÇÃO EXPROPRIATÓRIA PAGA A
MENOR PELA FAZENDA PÚBLICA.
No caso em que tenha sido paga pela Fazenda Pública, por meio de precatórios parcelados na forma do
art. 33 do ADCT, apenas parte de indenização expropriatória, o termo inicial do prazo prescricional de
cinco anos para o exercício da pretensão de recebimento do saldo remanescente por meio de precatório
complementar será a data em que a Fazenda efetuou o pagamento da última parcela.
Se a Fazenda Pública paga somente parte da indenização expropriatória até a data do pagamento da última
parcela de precatórios, surge, nesse momento, para a própria Fazenda, dívida referente aos valores
faltantes. Assim, nos termos do art. 1º do Dec. n. 20.910/1932, a pretensão de cobrança dessa dívida
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prescreverá no prazo de cinco anos contados “da data do ato ou fato do qual se originarem”, isto é, da data
do pagamento da última parcela de precatórios. Precedentes citados: REsp 1.202.961-SP, Segunda Turma,
Página

DJe 23/11/2012, e AgRg no AREsp 178.983-SP, Primeira Turma, DJe 2/8/2012.


Segunda Turma. AgRg no REsp 1.354.650-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/12/2012.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO TRIBUTÁRIO. IRREGULARIDADE DE NOTIFICAÇÃO DE LANÇAMENTO REFERENTE À TCFA DIANTE DA
AUSÊNCIA DE PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DE DEFESA ADMINISTRATIVA.
É irregular a notificação de lançamento que vise constituir crédito tributário referente à taxa de controle
e fiscalização ambiental – TCFA na hipótese em que não conste, na notificação, prazo para a
apresentação de defesa administrativa.
A cobrança de TCFA submete-se ao procedimento administrativo fiscal, que contempla exigências prévias
para a constituição do crédito tributário mediante lançamento. Entre essas exigências, encontra-se, em
consideração ao art. 11, II, do Dec. n. 70.235/1972, a obrigatoriedade de constância, na notificação de
lançamento, de prazo para a sua impugnação.
Segunda Turma. AgRg no REsp 1.352.234-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/2/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. CREDITAMENTO DE ICMS APURADO NA IMPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTO CEDIDO EM


COMODATO.
O contribuinte não tem o dever de estornar crédito de ICMS apurado na importação de equipamento
destinado ao ativo permanente da empresa na hipótese em que o bem seja, posteriormente, cedido em
comodato a terceiro.
Esse entendimento é extraído da interpretação dos arts. 20, § 3°, I, e 21, I, ambos da LC n. 87/1996. O
primeiro artigo autoriza o creditamento do imposto cobrado na operação que tenha resultado na entrada
de mercadoria no estabelecimento, mesmo a destinada ao ativo permanente, mas excepciona a hipótese
em que a saída subsequente não for tributada ou estiver isenta. O segundo impõe ao contribuinte o dever
de estornar o ICMS creditado se incidir essa regra excepcional, isto é, quando o próprio creditamento for
vedado. Se os equipamentos são cedidos em comodato, não se pode falar em "saída" sob a perspectiva da
legislação do ICMS, entendida como circulação de mercadoria com transferência de propriedade. Nesse
caso, os bens não deixam de integrar o patrimônio do contribuinte.
REsp 1.307.876-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 5/2/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. DEDUÇÃO DAS DESPESAS COM FÉRIAS DE EMPREGADO NA DECLARAÇÃO DO IRPJ.
É possível ao empregador deduzir as despesas relacionadas ao pagamento de férias de empregado na
declaração do IRPJ correspondente ao ano do exercício em que o direito às férias foi adquirido pelos
empregados.
De fato, uma vez adquirido o direito às férias, a despesa em questão corresponde a uma obrigação líquida e
certa contraída pelo empregador, embora não realizada imediatamente. Dispõe o art. 134 da CLT que “as
férias serão concedidas por ato do empregador, em um só período, nos 12 (doze) meses subsequentes à data
em que o empregado tiver adquirido o direito”. De acordo com o art. 47 da Lei 4.506/1964, são operacionais
as despesas não computadas nos custos necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva
fonte produtora. Ainda, conforme o § 1º do referido artigo, são necessárias as despesas pagas ou incorridas
para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa. Despesa incorrida é aquela
que existe e possui os atributos de liquidez e certeza. A legislação autoriza o abatimento dessas despesas na
apuração do lucro operacional da empresa (art. 43 da Lei 4.506/1964). Se a lei permite a dedução das
despesas pagas e das incorridas, não só aquelas que já foram efetivamente adimplidas são dedutíveis. Na
legislação tributária, prevalece a regra do regime de competência, de modo que as despesas devem ser
deduzidas no lucro real do período base competente, ou seja, naquele em que, jurídica ou economicamente,
tornarem-se devidas ou em que possam ser excluídas do lucro líquido para determinação do lucro real. Com a
aquisição do direito às férias pelo empregado, a obrigação de concedê-las juntamente com o pagamento das
verbas remuneratórias correspondentes passa a existir juridicamente para o empregador de forma líquida e
certa. Nesse momento, a pessoa jurídica incorre numa despesa passível de dedução na apuração do lucro real
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do ano-calendário em que se aperfeiçoou o direito adquirido do empregado.


Segunda Turma. REsp 1.313.879-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 517 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.335.953-RS; REsp 1.353.864-GO; REsp
1.253.638-SP.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Motivação per relationem

É legítima a adoção da técnica de fundamentação referencial (per relationem), consistente na


alusão e incorporação formal, em ato jurisdicional, de decisão anterior ou parecer do MP.
Comentários Quando o Tribunal julga um recurso (seja ele criminal ou cível), o Relator, em seu voto,
pode fundamentar a decisão tomada apenas reproduzindo as razões invocadas por uma
das partes ou pelo Ministério Público? Ainda nessa mesma linha, pode o Tribunal manter
a decisão de 1ª instância mencionando apenas as mesmas razões expostas pelo juiz?
A Corte Especial do STJ decidiu recentemente que sim:
(...) A reprodução de fundamentos declinados pelas partes ou pelo órgão do Ministério
Público ou mesmo de outras decisões atendem ao comando normativo, e também
constitucional, que impõe a necessidade de fundamentação das decisões judiciais. O que
não se tolera é a ausência de fundamentação. (...)
(EREsp 1021851/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 28/06/2012)

Vamos explicar a questão com um exemplo:


O Ministério Público ingressa com uma ação contra o réu (ação penal ou ACP, tanto faz). O
réu é condenado pelo juiz em 1ª instância. O réu interpõe recurso de apelação,
apresentando suas razões recursais. O MP, por sua vez, apresenta suas contrarrazões
recursais. A apelação é encaminhada para que o Tribunal decida o recurso. O Tribunal
mantém a condenação, mas na fundamentação da decisão do recurso, limita-se a
transcrever trechos das contrarrazões do Ministério Público, sem agregar nenhum
argumento novo. Essa fundamentação feita pelo Tribunal é válida (atende ao art. 93, IX, da
CF/88)?
1

Há duas correntes sobre o tema:


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1ª Não é válida 2ª SIM (É VÁLIDA)
A pura e simples transcrição das razões e Inexiste óbice a que o julgador, ao proferir
contrarrazões de apelação com a opção sua decisão, acolha os argumentos de uma
por uma delas, sem mais nem menos, não das partes ou de outros julgados, adotando
serve de fundamentação. fundamentação que lhe pareceu adequada.
O que importa em nulidade é a absoluta
ausência de fundamentação.

A mera repetição da decisão atacada, além A adoção dos fundamentos da sentença de


de desrespeitar o art. 93, IX, da CF, causa 1ª instância ou das alegações de uma das
prejuízo para a garantia do duplo grau de partes como razões de decidir, embora não
jurisdição, na exata medida em que não seja uma prática recomendável, não
conduz à substancial revisão judicial da traduz, por si só, afronta ao art. 93, IX, da
primitiva decisão, mas a cômoda CF/88.
reiteração.

O STJ adotou essa 2ª corrente. Em resumo, a Corte Especial do STJ decidiu que a
reprodução dos fundamentos declinados pelas partes ou pelo órgão do Ministério Público
ou mesmo de outras decisões proferidas nos autos da demanda (ex: sentença de 1ª
instância) atende ao art. 93, IX, da CF/88.

O STJ entendeu que a encampação literal de razões emprestadas não é a melhor forma de
decidir uma controvérsia. Contudo, tal prática não chega a macular a validade da decisão. O
que não se admite é a ausência de fundamentação.

O STF adota o mesmo entendimento. Confira:


Não viola o art. 93, IX da Constituição Federal o acórdão que adota os fundamentos da
sentença de primeiro grau como razão de decidir.
(HC 98814, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 23/06/2009)

O entendimento esposado na decisão do Superior Tribunal está em perfeita consonância


com o posicionamento desta Suprema Corte, no sentido de que a adoção dos fundamentos
da sentença de 1º grau pelo julgado de Segunda Instância como razões de decidir, por si só,
não caracteriza ausência de fundamentação, desde que as razões adotadas sejam
formalmente idôneas ao julgamento da causa, sem que tanto configure violação da regra do
art. 93, inc. IX, da Constituição Federal.
(HC 94384, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 02/03/2010)

Motivação per relationem


A motivação por meio da qual se faz remissão ou referência às alegações de uma das
partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos do mesmo processo é chamada pela
doutrina e jurisprudência de motivação ou fundamentação per relationem ou aliunde.
Também é denominada de motivação referenciada, por referência ou por remissão. Veja:

(...) MOTIVAÇÃO PER RELATIONEM. LEGITIMIDADE JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DESSA


TÉCNICA DE MOTIVAÇÃO. (...) Esta Corte já firmou o entendimento de que a técnica de
motivação por referência ou por remissão é compatível com o que dispõe o art. 93, IX, da
Constituição Federal. Não configura negativa de prestação jurisdicional ou inexistência de
2

motivação a decisão que adota, como razões de decidir, os fundamentos do parecer


Página

lançado pelo Ministério Público, ainda que em fase anterior ao recebimento da denúncia.
(AI 738982 AgR, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgado em 29/05/2012)

INFORMATIVO esquematizado
Neste julgado, a 2ª Turma do STJ reafirmou este entendimento:
(...) É legítima a adoção da técnica de fundamentação referencial (per relationem), utilizada
quando há expressa alusão a decisum anterior ou parecer do Ministério Público,
incorporando, formalmente, tais manifestações ao ato jurisdicional. (...)
(EDcl no AgRg no AREsp 94942/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado
em 05/02/2013)
Processo STJ. 2ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 94.942-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 5/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Anulação de remoção com base em decisão do STF

“A” era titular de uma serventia notarial e registral no interior do Estado. Participou de um
concurso de remoção, conseguindo uma serventia na capital.
Os critérios deste concurso de remoção estavam previstos em uma Lei estadual “X”.
Ocorre que esta Lei “X” foi declarada inconstitucional pelo STF no julgamento de uma ADI, com
efeitos ex tunc. Diante disso, o Tribunal de Justiça anulou a remoção de “A”.
O STJ considerou que não houve ilegalidade no ato do TJ, que se limitou a afastar os critérios de
classificação declarados inconstitucionais pelo STF, em observância ao efeito erga omnes do
julgamento proferido em sede de ADI.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):
“A” era titular de uma serventia notarial e registral no interior do Estado. Participou de um
concurso de remoção, conseguindo uma serventia na capital.
Os critérios deste concurso de remoção estavam previstos em uma Lei estadual “X”.
Ocorre que esta Lei “X” foi declarada inconstitucional pelo STF no julgamento de uma ADI,
com efeitos ex tunc.
Diante disso, o Tribunal de Justiça anulou a remoção de “A”.
O TJ entendeu que não poderia deixar de cumprir a decisão do STF, mesmo atingindo a
situação de “A”. Argumentou que não é possível invocar os princípios da boa-fé, da
segurança jurídica e da razoabilidade, os quais, embora relevantes, não se sobrepõem ao da
supremacia da ordem constitucional.
Contra esta decisão do TJ, “A” interpôs recurso ordinário constitucional (art. 105, II, “b”, da
CF/88).
O STJ improveu o recurso, considerando que não houve ilegalidade no ato do TJ, que se
limitou a afastar os critérios de classificação declarados inconstitucionais pelo STF, em
observância ao efeito erga omnes do julgamento proferido em sede de ADI.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.221-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR


(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

Fixação do soldo em valor inferior ao salário mínimo

É possível fixar o soldo em valor inferior ao salário mínimo, desde que a remuneração total
percebida pelo militar, já consideradas as vantagens pecuniárias, seja igual ou superior àquele
valor. Conforme os arts. 7º, IV, e 39, § 3º, da CF, nenhum servidor público ativo ou inativo
poderá receber remuneração mensal inferior ao salário mínimo, não vigorando essa restrição
3
Página

ao vencimento básico, como no caso do soldo.


Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 258.848-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO CIVIL

Responsabilidade pré-contratual

A parte interessada em se tornar revendedora autorizada de veículos tem direito de ser


ressarcida dos danos materiais decorrentes da conduta da fabricante no caso em que esta —
após anunciar em jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois de comunicar
àquela a avaliação positiva que fizera da manifestação de seu interesse, obrigando-a, inclusive,
a adiantar o pagamento de determinados valores — rompa, de forma injustificada, a
negociação até então levada a efeito, abstendo-se de devolver as quantias adiantadas.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Determinada marca muito famosa de carros importados publica um anúncio no jornal
informando que estaria procurando novos parceiros comerciais para abrir revendedoras do
veículo no Brasil.
Uma empresa brasileira manifesta interesse no negócio e é submetida a uma avaliação pela
marca de carros, sendo, então, aprovada para funcionar como revendedora.
Diante da aprovação, a empresa brasileira paga um adiantamento para o início do negócio.
Ocorre que, injustificadamente, a fabricante dos carros rompe a negociação e recusa-se a
devolver as quantias adiantadas.
Diante disso, a empresa brasileira ingressou com ação de indenização contra a fabricante.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


A parte interessada em se tornar revendedora autorizada de veículos tem direito de ser
ressarcida dos danos materiais decorrentes da conduta da fabricante no caso em que esta
— após anunciar em jornal que estaria em busca de novos parceiros e depois de comunicar
àquela a avaliação positiva que fizera da manifestação de seu interesse, obrigando-a,
inclusive, a adiantar o pagamento de determinados valores — rompa, de forma
injustificada, a negociação até então levada a efeito, abstendo-se de devolver as quantias
adiantadas.

Responsabilidade civil pré-negocial


Trata-se de responsabilidade civil pré-negocial, ou seja, a verificada na fase preliminar do
contrato.
No Brasil, o CC/1916 não trazia disposição específica a respeito do tema, tampouco sobre a
cláusula geral de boa-fé objetiva. Todavia, já se ressaltava a importância da tutela da
confiança e da necessidade de reparar o dano verificado no âmbito das tratativas pré-
contratuais.
Com o advento do CC/2002, dispôs-se, de forma expressa, a respeito da boa-fé (art. 422),
da qual se extrai a necessidade de observância dos chamados deveres anexos ou de
proteção.
Com base nesse regramento, deve-se reconhecer a responsabilidade pela reparação de
danos originados na fase pré-contratual caso verificada a ocorrência de consentimento
prévio e mútuo no início das tratativas, a afronta à boa-fé objetiva com o rompimento
ilegítimo destas, a existência de prejuízo e a relação de causalidade entre a ruptura das
tratativas e o dano sofrido.
Nesse contexto, o dever de reparação não decorre do simples fato de as tratativas terem
sido rompidas e o contrato não ter sido concluído, mas da situação de uma das partes ter
gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo
prejuízo material.
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Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.051.065-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/2/2013.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Independência das instâncias

A norma do art. 935 do Código Civil consagra a independência relativa das jurisdições cível e
criminal (independência das instâncias).
Somente na hipótese de a sentença penal absolutória fundamentar-se na inexistência do fato
ou na negativa de autoria está impedida a discussão no juízo cível.
A decisão fundamentada na falta de provas aptas a ensejar a condenação criminal não
restringe o exame da questão na esfera cível.
Além disso, para que a sentença criminal produza efeitos no juízo cível é necessário que ela já
tenha transitado em julgado.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
“A”, na direção de veículo automotor, atropelou “B”, causando-lhe lesões corporais. Esse
fato pode ser analisado sob dois aspectos: o penal e o cível.

Sob o aspecto penal: “A” pode responder pelo crime de lesão corporal culposa na direção
de veículo automotor (art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB).

Sob o aspecto cível: “A” pode ser condenado a pagar indenização pelos danos causados a
“B” (art. 927 do CC).

O julgamento criminal interfere na decisão cível?


Regra geral: NÃO. Como regra, a responsabilidade civil é independente da criminal. Trata-se
do princípio da independência das instâncias (art. 935, primeira parte, CC).

Exceções:
Essa independência é relativa (não é absoluta). Assim, em algumas hipóteses, o julgamento
criminal irá influenciar na decisão cível.

1) Se a decisão for condenatória: irá influenciar na decisão cível.


Um dos efeitos da condenação é tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime (art. 91, I, do CP). Logo, o juízo cível não poderá dizer que o fato não existiu ou que o
condenado não foi o seu autor. Transitada em julgado a sentença condenatória, ela poderá
ser executada, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano (art. 63 do CPP).

2) Se a decisão for absolutória: nem sempre irá influenciar na decisão cível.


Assim, mesmo o réu tendo sido absolvido no juízo penal, ele pode, em alguns casos, ser
condenado no juízo cível a indenizar a vítima.

A Min. Nancy Andrighi explica que essa relativização da independência de jurisdições se


justifica em virtude de o Direito Penal exigir provas de forma mais rígida para a condenação,
sobretudo em decorrência do princípio da presunção de inocência. O Direito Civil, por sua
vez, parte de pressupostos diversos. Neste, autoriza-se que, com o reconhecimento de
culpa, ainda que levíssima, possa-se conduzir à responsabilização do agente e,
consequentemente, ao dever de indenizar. O juízo cível é, portanto, menos rigoroso do que
o criminal no que concerne aos pressupostos da condenação, o que explica a possibilidade
de haver decisões aparentemente conflitantes em ambas as esferas.

Análise das hipóteses de absolvição penal e sua influência no juízo cível:


A absolvição criminal pode ocorrer por uma das hipóteses do art. 386 do CPP.
5
Página

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:

INFORMATIVO esquematizado
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato infração penal;
IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;
V - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;
VI - existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22,
23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre
sua existência;
VII - não existir prova suficiente para a condenação.

Incisos I e IV: a sentença penal absolutória faz coisa julgada no cível.

Incisos II, III, V e VII: mesmo com a sentença penal absolutória, a pessoa pode ser
condenada no juízo cível.

Inciso VI: pode fazer coisa julgada no cível ou não, dependendo do caso (vide art. 188
do CC).

Vale ressaltar, ainda, que, para a decisão no juízo penal influenciar no cível, é necessário
que a sentença penal já tenha transitado em julgado.

Assim, a ação em que se discute a reparação civil somente estará prejudicada na hipótese
de ter sido proferida uma sentença penal absolutória, transitada em julgado, na qual foi
reconhecida a inexistência do fato ou na negativa de autoria.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.164.236-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/2/2013.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

Gratuidade de justiça e atos praticados por notários e registradores

A gratuidade de justiça obsta a cobrança de emolumentos pelos atos de notários e


registradores indispensáveis ao cumprimento de decisão proferida no processo judicial em
que fora concedido o referido benefício.
ATENÇÃO
Em resumo, os beneficiários da justiça gratuita têm isenção dos emolumentos nas serventias
notariais e registrais para os atos necessários ao cumprimento da decisão judicial.
Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: o
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos.

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Benefício da gratuidade judiciária
(justiça gratuita).
Fornecimento pelo Estado de orientação e Isenção das despesas que forem necessárias
defesa jurídica, de forma integral e para que a pessoa necessitada possa
gratuita, a ser prestada pela Defensoria defender seus interesses em um processo
6

Pública aos necessitados (art. 134 da CF). judicial.


Página

Regulada pela Lei Complementar 80/94. Regulada pela Lei n. 1.060/50.

INFORMATIVO esquematizado
Lei n. 1.060/50
A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:
I - das taxas judiciárias e dos selos;
II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e
serventuários da justiça;
III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação
dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do
empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo
contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder
público estadual, nos Estados;
V - dos honorários de advogado e peritos.
VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado
pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.
VII – dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e
demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita goza também de isenção de pagamento dos
emolumentos relativos aos serviços notariais e registrais (custas dos “cartórios
extrajudiciais”)?
SIM. A parte beneficiada pela justiça gratuita não precisa pagar emolumentos para que os
notários ou registradores pratiquem os atos indispensáveis ao cumprimento de decisão
proferida no processo judicial em que fora concedido o referido benefício.

Ex1: o autor de uma execução é beneficiário da justiça gratuita (Lei n. 1.060/50). O juiz
determina a penhora dos bens do executado. O exequente não precisará pagar os
emolumentos (“custas do cartório”) para que a averbação desta penhora seja feita no
Registro de Imóveis (§ 4º do art. 659 do CPC).

Ex2: João, beneficiário da justiça gratuita, ingressou com ação de divórcio em face de Maria.
A dissolução do vínculo conjugal foi decretada pelo juiz, tendo este determinado que o
divórcio fosse averbado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). O
Registrador não poderá cobrar emolumentos para praticar o ato.

Em resumo, os beneficiários da justiça gratuita têm isenção dos emolumentos nas serventias
notariais e registrais para os atos necessários ao cumprimento da decisão judicial.
Aplica-se ao caso os incisos I e II do art. 3º da Lei n. 1.060/50, mesmo os emolumentos não
sendo “taxa judiciária” e mesmo os notários e registradores não sendo “serventuários da
justiça”. Deve-se fazer uma interpretação que confira máxima efetividade ao art. 5º, LXXIV, da
CF/88.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 24.557-MT, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO DO CONSUMIDOR

Inscrição de consumidores em cadastros de proteção ao crédito

É lícita a inscrição dos nomes de consumidores em cadastros de proteção ao crédito por conta
da existência de débitos discutidos judicialmente em processos de busca e apreensão, ações de
cobrança, despejo, execução, falência etc. na hipótese em que os dados referentes às disputas
judiciais sejam públicos e, além disso, tenham sido repassados pelos próprios cartórios de
distribuição de processos judiciais às entidades detentoras dos cadastros por meio de
convênios firmados com o Poder Judiciário de cada estado da Federação, sem qualquer
intervenção dos credores litigantes ou de qualquer fonte privada.
Comentários A Câmara de Dirigentes Lojistas (associação de lojistas) de determinado município celebrou
um convênio por meio do qual ela obtinha informações sobre as pessoas que tivessem
contra si ações de busca e apreensão, de cobrança, despejo, execução, falência etc.
Com base nisso, a CDL fez um banco de dados dos consumidores para que seus associados
pudessem consultar antes de conceder crediário aos clientes.
Esta prática foi questionada pelo Ministério Público, tendo a questão chegado até o STJ.

O que foi decidido?


Para o STJ, trata-se de prática lícita.

Os dados referentes a processos judiciais que não corram em segredo de justiça são
informações públicas, nos termos do art. 5º, XXXIII e LX, da CF/88, visto que publicadas na
imprensa oficial, portanto de acesso a qualquer interessado, mediante pedido de certidão,
conforme autoriza o parágrafo único do art. 155 do CPC. Sendo, portanto, dados públicos,
as entidades detentoras de cadastros de proteção ao crédito não podem ser impedidas de
fornecê-los aos seus associados, sob pena de grave afronta ao Estado Democrático de
Direito, que prima, como regra, pela publicidade dos atos processuais.

Além disso, o fato de as entidades detentoras dos cadastros fornecerem aos seus
associados informações processuais representa medida menos burocrática e mais
econômica tanto para os associados, que não precisarão se dirigir, a cada novo negócio
jurídico, ao distribuidor forense para pedir uma certidão em nome daquele com quem se
negociará, quanto para o próprio Poder Judiciário, que emitirá um número menor de
certidões de distribuição, o que implicará menor sobrecarga aos funcionários responsáveis
pela tarefa.

O STJ, ademais, tem o entendimento pacificado de que a simples discussão judicial da dívida
não é suficiente para obstaculizar ou remover a negativação de devedor em banco de
dados.

Por fim, ressalve-se que, em se tratando de inscrição decorrente de dados públicos, como
os de cartórios de protesto de títulos ou de distribuição de processos judiciais, sequer se
exige a prévia comunicação do consumidor. Consequentemente, a ausência de precedente
comunicação, nesses casos, não enseja dano moral.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.148.179-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL

Leasing (arrendamento mercantil)

O arrendador tem a obrigação de devolver as quantias pagas, antecipadamente, pelo


arrendatário, a título de Valor Residual Garantido (VRG), nos casos em que o produto objeto do
leasing for apreendido por reintegração de posse e alienado pelo arrendador?
ATENÇÃO

Depende:
1) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a venda
do bem for maior que o VRG total previsto no contrato: o arrendatário terá direito de
receber a diferença.

2) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a venda
do bem NÃO for superior ao VRG total previsto no contrato: o arrendatário não irá receber
nada.

Graficamente, a situação pode ser assim ilustrada:


1) Se VRG pago + valor do bem vendido > VRG previsto no contrato arrendatário terá
direito de receber a diferença.

2) Se VRG pago + valor do bem vendido < VRG previsto no contrato arrendatário NÃO terá
direito de receber a diferença (até porque não haverá diferença).

Mesmo na hipótese 1, o contrato poderá prever que, antes de devolvida a diferença para o
arrendatário, o arrendador terá direito de descontar, previamente, outras despesas que tenha
tido ou encargos contratuais.

Para os efeitos do art. 543-C do CPC (recurso repetitivo), o STJ firmou o seguinte entendimento:
"Nas ações de reintegração de posse motivadas por inadimplemento de arrendamento mercantil
financeiro, quando o produto da soma do VRG quitado com o valor da venda do bem for maior
que o total pactuado como VRG na contratação, será direito do arrendatário receber a diferença,
cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos
contratuais".
Comentários ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)
O arrendamento mercantil (também chamado de leasing) é uma espécie de contrato de
locação, no qual o locatário tem a possibilidade de, ao final do prazo do ajuste, comprar o
bem pagando uma quantia chamada de valor residual garantido (VRG).

Opções do arrendatário:
Ao final do leasing, o arrendatário terá três opções:
• Renovar a locação, prorrogando o contrato;
• Não renovar a locação, encerrando o contrato;
• Pagar o valor residual e, com isso, comprar o bem alugado.

Ex: “A” faz um contrato de leasing com a empresa “B” para arrendamento de um veículo
0km pelo prazo de 5 anos. Logo, “A” pagará todos os meses um valor a título de aluguel e
poderá usar o carro. A principal diferença para uma locação comum é que “A”, ao final do
prazo do contrato, poderá pagar o valor residual e ficar definitivamente com o automóvel.
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Obs: é muito comum, na prática, que o contrato já estabeleça que o valor residual será
Página

diluído nas prestações do aluguel. Assim, o contrato prevê que o arrendatário já declara que
deseja comprar o bem e, todos os meses, junto com o valor do aluguel, ele paga também o

INFORMATIVO esquematizado
valor residual de forma parcelada. Como dito, isso é extremamente frequente,
especialmente no caso de leasing financeiro.

O STJ considera legítima essa prática?


SIM. Trata-se de entendimento sumulado do STJ:
Súmula 293: A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o
contrato de arrendamento mercantil.

Modalidades de leasing:
Existem três espécies de leasing:
Leasing Leasing Leasing
FINANCEIRO OPERACIONAL DE RETORNO (Lease back)
Previsto no art. 5º da Previsto no art. 6º da Não foi previsto na
Resolução 2.309/96-BACEN Resolução 2.309/96-BACEN Resolução 2.309-BACEN.
É a forma típica e clássica Ocorre quando a Ocorre quando determinada
do leasing. arrendadora já é pessoa, precisando se
Ocorre quando uma pessoa proprietária do bem e o capitalizar, aliena seu bem à
jurídica (arrendadora) aluga ao arrendatário, empresa de leasing, que
compra o bem solicitado comprometendo-se arrenda de volta o bem ao
por uma pessoa física ou também a prestar antigo proprietário a fim de
jurídica (arrendatária) para, assistência técnica em que ele continue utilizando a
então, alugá-lo à relação ao maquinário. coisa. Em outras palavras, a
arrendatária. pessoa vende seu bem e
celebra um contrato de
arrendamento com o
comprador, continuando na
posse direta.
Ex: determinada empresa Ex: a Boeing Capital Ex: em 2001, a Varig®, a fim
(arrendatária) quer utilizar Corporation® (arrendadora) de se recapitalizar, vendeu
uma nova máquina em sua celebra contrato dealgumas aeronaves à
linha de produção, mas não arrendamento para alugar Boeing® e os alugou de volta
tem recursos suficientes para cinco aeronaves à GOL® por meio de um contrato de
realizar a aquisição. Por esse (arrendatária) a fim de que lease back.
motivo, celebra contrato de esta utilize os aviões em seus
leasing financeiro com um voos. A arrendadora também O nome completo desse
Banco (arrendador) que ficará responsável pela negócio jurídico, em inglês, é
compra o bem e o arrenda manutenção dos aviões. sale and lease back (venda e
para que a empresa utilize o arrendamento de volta).
maquinário.
Normalmente, a intenção Normalmente, a intenção da Em geral é utilizado como
da arrendatária é, ao final arrendatária é, ao final do uma forma de obtenção de
do contrato, exercer seu contrato, NÃO exercer seu capital de giro.
direito de compra do bem. direito de compra do bem.

Imagine agora a seguinte situação hipotética (apenas baseada no caso concreto):


O escritório “A”, desejando comprar 50 computadores e sem possuir capital para tanto, faz
um contrato de leasing financeiro com o Banco “Y” para que ele compre os equipamentos e
os arrende para que o escritório fique utilizando os computadores.
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O escritório é o arrendatário e o Banco o arrendador.


Página

Os bens foram adquiridos pelo Banco por 150 mil reais.


O VRG foi fixado em 120 mil reais, que deveria ser pago, de forma diluída durante o

INFORMATIVO esquematizado
contrato, em 24 parcelas de 5 mil reais.
O valor do aluguel foi estipulado em 2 mil reais.
Segundo o contrato, o escritório terá que pagar o valor do aluguel dos computadores e mais
o VRG diluído entre as parcelas. Em outras palavras, o arrendatário, por força do pacto, já
era obrigado a antecipar o VRG e, assim, quando o contrato de leasing chegasse ao final, ele
seria o dono dos computadores.
O contrato tinha duração de 24 meses. Ocorre que, a partir do 16º mês, o escritório tornou-
se inadimplente.
Ao longo do contrato, o arrendatário pagou 32 mil reais a título de alugueis e 80 mil reais
como antecipação do VRG. Desse modo, o arrendador recebeu 112 mil reais no total.

Se o arrendatário não paga as prestações do leasing, qual é a ação que deverá ser proposta
pelo arrendador?
Ação de reintegração de posse.

Logo, o Banco ajuizou uma ação de reintegração de posse. O juiz expediu uma liminar
determinando que os 50 computadores fossem entregues ao arrendador. Ao final, a ação
foi julgada procedente e o autor ficou na posse plena dos bens.

O arrendador, que ficou com a posse dos bens por conta da reintegração, poderá vendê-los?
SIM. Os bens pertencem ao arrendador e ele poderá vendê-los. Aliás, no leasing financeiro,
na quase totalidade dos casos, o arrendante irá alienar os bens, pois ele é uma instituição
financeira que somente adquiriu a coisa arrendada por causa do interesse do arrendatário.

Dessa forma, o Banco alienou os computadores para um terceiro.

A questão enfrentada pelo STJ foi, então, a seguinte:


O arrendador tem a obrigação de devolver as quantias pagas, antecipadamente, pelo
arrendatário, a título de Valor Residual Garantido (VRG), nos casos em que o produto objeto
do leasing for apreendido por reintegração de posse e alienado pelo arrendador?
Depende:
1) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a
venda do bem for maior que o VRG total previsto no contrato: o arrendatário terá
direito de receber a diferença.
2) Se o VRG pago pelo arrendatário somado com o valor obtido pelo arrendador com a
venda do bem NÃO for superior ao VRG total previsto no contrato: o arrendatário não
irá receber nada.

Graficamente, a situação pode ser assim ilustrada:


1) Se VRG pago + valor do bem vendido > VRG previsto no contrato arrendatário terá
direito de receber a diferença.

2) Se VRG pago + valor do bem vendido < VRG previsto no contrato arrendatário NÃO
terá direito de receber a diferença (até porque não haverá diferença).

Mesmo na hipótese 1, o contrato poderá prever que, antes de devolvida a diferença para o
arrendatário, o arrendador terá direito de descontar, previamente, outras despesas que
tenha tido ou encargos contratuais.
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Sei que o tema é complicado. Vamos tentar entender melhor retomando o exemplo que
Página

demos acima:

INFORMATIVO esquematizado
VRG previsto no contrato = 120 mil.
VRG pago antecipadamente = 80 mil.

O escritório ficou inadimplente, razão pela qual os computadores foram retomados. O


Banco vendeu os computadores para um terceiro. O arrendatário terá direito de receber de
volta alguma quantia?

Se os computadores foram vendidos por mais de 40 mil reais = SIM.


Se os computadores foram vendidos por menos de 40 mil reais = NÃO.

Ex1: computadores foram vendidos por 60 mil reais.


VRG pago (80) + valor da venda (60) = 140 mil.
Como o VRG previsto no contrato era de 120 mil, o arrendatário irá receber esta diferença
(20 mil).

Ex2: computadores foram vendidos por 30 mil reais.


VRG pago (80) + valor da venda (30) = 110 mil.
Como o VRG previsto no contrato era de 120 mil, o arrendatário não terá diferença para
receber.

Mesmo no caso do exemplo 1, o contrato de leasing poderia prever que, antes de devolvida
a diferença para o arrendatário, o arrendador teria direito de descontar previamente
despesas ou encargos contratuais que tenha tido.
Adendo Fundamentos mencionados pelo Min. Relator para chegar a esta conclusão acima exposta:
(para os que No chamado leasing financeiro, o arrendador adquire o bem indicado pelo contratante sem
quiserem nenhum interesse em mantê-lo em seu patrimônio após o término do contrato. A
aprofundar) arrendadora somente adquiriu o bem para satisfazer uma necessidade da arrendatária.
Caso o bem não seja adquirido pela arrendatária ao final do contrato, a arrendadora irá
certamente vender o bem para algum outro interessado, não ficando com a coisa para si.
Assim, no leasing financeiro prepondera o caráter de financiamento na operação, colocado
à disposição do particular, à semelhança do que ocorre na alienação fiduciária.
O Conselho Monetário Nacional, ao regulamentar o leasing financeiro, considera-o como a
modalidade de arredamento mercantil em que “as contraprestações e demais pagamentos
previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a
arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e,
adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos” (art. 1º, I, da Res. n.
2.309/1996 do CMN).
Nesse contexto, deve-se observar que se a arrendadora fosse obrigada a devolver
integralmente ao arrendatário o pagamento prévio (antecipado ou diluído com as
prestações) do VRG (sem fazer qualquer desconto), isso faria com que a arrendadora ficasse
muito longe de recuperar ao menos o custo realizado com a aquisição do produto.
É, portanto, inerente à racionalidade econômica do leasing financeiro a preservação de um
valor mínimo em favor do arrendador pelo produto financiado, a servir-lhe de garantia (daí
o nome: “valor residual garantido”), a depender, no caso de não exercida a opção de
compra pelo arrendatário, do valor recebido com a venda do produto.
Nesse sentido, o STJ tem estabelecido o entendimento de que o VRG pago antes do término
do contrato não constitui propriamente um pagamento prévio do bem arrendado, mas sim
12

um valor mínimo garantido ao arrendador no caso em que não exercida a opção de compra.
A propósito, inclusive, a Portaria n. 564/1978 do Ministério da Fazenda (referente à
Página

tributação das arrendadoras nas operações de arrendamento mercantil) definiu o VRG

INFORMATIVO esquematizado
como o “preço contratualmente estipulado para exercício da opção de compra, ou valor
contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela
arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a
opção de compra”.
Sendo assim, conclui-se que somente será possível a devolução ao arrendatário da
diferença verificada no caso em que o resultado da soma do VRG quitado com o valor da
venda do bem tenha sido maior que o total pactuado como VRG na contratação, cabendo,
ainda, o desconto prévio de outras despesas ou encargos contratuais eventualmente
estipulados pelo contrato.
Entende-se que assim, observando-se fielmente a finalidade do VRG, possa o arrendamento
mercantil ter seu equilíbrio econômico-financeiro resguardado, preservando sua função
social como pactuação propícia à proteção da confiança, da boa-fé, pelo estímulo à
adimplência e ao cumprimento dos contratos.
Como consequência, tem-se a redução dos custos financeiros e do spread bancário, a
minoração das taxas de juros e, sobretudo, o incremento da atividade econômica em geral,
tudo a bem da construção de uma sociedade em que vigore a livre iniciativa, mas com
justiça social.
Processo STJ. 2ª Seção. REsp 1.099.212-RJ, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 27/2/2013 (recurso repetitivo).

Marca de alto renome

É legítimo o interesse do titular de uma marca em obter do INPI, pela via direta, uma
declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome.
Concursos Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da caracterização, ou não, de
federais
uma marca como sendo de alto renome, não pode o Poder Judiciário conferir, pela via judicial,
a correspondente proteção especial.
Comentários Marca
Marca é um sinal, identificável visualmente, por meio do qual os produtos ou serviços são
identificados e assim podem ser distinguidos dos demais.

“A marca, cuja propriedade é consagrada pelo art. 5º, XXIX, da CF, se constitui um sinal
distintivo de percepção visual que individualiza produtos e/ou serviços. O seu registro
confere ao titular o direito de usar, com certa exclusividade, uma expressão ou símbolo.”
(Min. Nancy Andrighi).

Vale destacar, mais uma vez, que “marca”, segundo a legislação brasileira, é
obrigatoriamente um sinal identificável pela visão, ou seja, não existe “marca sonora” ou
“marca olfativa”. Justamente por isso, o famoso som “plim plim” que a rede Globo® de
televisão utiliza não pode ser registrado como marca no Brasil. É comum a seguinte
afirmação: “marca no Brasil é somente aquilo que a pessoa pode ver”.

Importância
A marca é extremamente importante para a atividade empresarial, considerando que,
muitas vezes, ela é decisiva no momento em que o consumidor irá optar por escolher entre
um ou outro produto ou serviço. Justamente por isso são desenvolvidas inúmeras ações de
marketing para divulgar e tornar conhecida e respeitada a marca.
13

“A sua proteção, para além de garantir direitos individuais, salvaguarda interesses sociais,
na medida em que auxilia na melhor aferição da origem do produto e/ou serviço,
Página

minimizando erros, dúvidas e confusões entre usuários.” (Min. Nancy Andrighi).

INFORMATIVO esquematizado
Proteção da marca
Por ser importante à atividade empresarial, a marca é protegida pela legislação.
A Lei n. 9.279/96 afirma que a marca pode ser registrada para que não seja utilizada
indevidamente em outros produtos ou serviços:
Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais.

Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as
disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo o território
nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148.

Onde é realizado este registro?


No Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Trata-se de uma autarquia federal
que possui a atribuição de conceder privilégios e garantias aos inventores e criadores em
âmbito nacional.
Os direitos de propriedade industrial são concedidos, no Brasil, pelo INPI.

Princípio da especialidade ou especificidade


Depois da marca ter sido registrada no INPI, apenas o titular desta marca poderá utilizá-la
em todo o território nacional.
Contudo, em regra, no Brasil, a proteção da marca impede que outras pessoas utilizem esta
marca apenas em produtos ou serviços similares, podendo a mesma marca ser usada por
terceiros em produtos ou serviços distintos.
Assim, a proteção da marca se submete, portanto, ao princípio da especialidade, ou seja, a
marca registrada somente é protegida no ramo de atividade que o seu titular atua.
“Pelo princípio da especialidade, o registro da marca confere exclusividade de uso apenas
no âmbito do mercado relevante para o ramo de atividade ao qual pertence o seu titular.”
(Min. Nancy Andrighi). Veja precedentes do STJ aplicando o sobredito princípio:

(...) Segundo o princípio da especialidade das marcas, não há colidência entre os signos
semelhantes ou até mesmo idênticos, se os produtos que distinguem são diferentes. (...)
(REsp 1079344/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 21/06/2012)

(...) A marca é um sinal distintivo, visualmente perceptível, que visa a identificar um produto
ou serviço no mercado consumidor. Para se obter o registro da marca e,
consequentemente, sua propriedade, é necessária a observância de certos requisitos como
a novidade relativa, distinguibilidade, veracidade e licitude, de molde a evitar que o
consumidor seja induzido a engano, ante a existência de repetições ou imitações de signos
protegidos.
2. Produtos ou serviços diferentes podem apresentar marcas semelhantes, dado que incide,
no direito marcário, em regra, o princípio da especialidade; ou seja, a proteção da marca
apenas é assegurada no âmbito das atividades do registro, ressalvada a hipótese de marca
notória. (...)
(REsp 862.067/RJ, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS),
Terceira Turma, julgado em 26/04/2011)

A proteção à marca pela Lei n. 9.279/96 não é absoluta, pois “segundo o princípio da
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especialidade ou da especificidade, a proteção ao signo, objeto de registro no INPI, estende-


se somente a produtos ou serviços idênticos, semelhantes ou afins, desde que haja
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possibilidade de causar confusão a terceiros.”


(REsp 333105/RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, julgado em 02/06/2005).

INFORMATIVO esquematizado
Exceção ao princípio da especialidade (“extravasamento do símbolo”)
Existe uma exceção ao princípio da especialidade. Trata-se do caso da marca de “alto
renome”, que tem proteção em todos os ramos de atividade. Diz a Lei:
Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção
especial, em todos os ramos de atividade.

A Resolução n. 121/05 do INPI, em seu art. 2º, fornece um conceito para marca de alto renome:
“Considera-se de alto renome a marca que goza de uma autoridade incontestável, de um
conhecimento e prestígio diferidos, resultantes da sua tradição e qualificação no mercado e
da qualidade e confiança que inspira, vinculadas, essencialmente, à boa imagem dos
produtos ou serviços a que se aplica, exercendo um acentuado magnetismo, uma
extraordinária força atrativa sobre o público em geral, indistintamente, elevando-se sobre
os diferentes mercados e transcendendo a função a que se prestava primitivamente,
projetando-se apta a atrair clientela pela sua simples presença.”

Exemplos de marcas já declaradas pelo INPI como sendo de alto renome: Pirelli®, Kibon®,
Natura®, Moça®, Chica Bon®, Banco do Brasil®, Diamante Negro®, Nike®, Sadia®.

Quando a marca é registada no INPI, ela já recebe este status de marca de “alto renome”? É
possível que o INPI dê uma declaração geral e abstrata afirmando que determinada marca é
de “alto renome”?
NÃO. O titular da marca somente poderá obter a declaração do INPI de que a sua marca é
de alto renome se alguma outra pessoa tentar registrar a marca. Ex: suponhamos que a
Ford® resolva registrar sua marca no INPI. Quando efetuar o registro, a marca Ford® não
poderá ainda ser considerada como de “alto renome”. O INPI não dá esta declaração no
momento do registro. No entanto, se alguma outra pessoa quiser registrar uma confecção
de roupas chamada “Ford”, o titular da marca Ford® poderá se opor a este pedido de
registro afirmando que a marca Ford® é de alto renome e que a sua proteção vale para
todos os ramos de atividade (e não apenas para o mercado automobilístico).
Na prática, portanto, o titular de uma marca só conseguirá uma declaração administrativa
do INPI de que se trata de marca de “alto renome” se houver algum pedido de registro que
conflite com ela.

Esta impossibilidade do INPI declarar, desde logo, que a marca é de alto renome é algo que
atrapalha a atividade empresarial?
SIM. Segundo a doutrina especializada, a inexistência de um procedimento administrativo
para que se obtenha do INPI uma declaração direta e abstrata do alto renome é algo que
gera insegurança, atenta contra a proteção constitucional destinada à marca e dificulta que
o titular atue preventivamente, antes do surgimento de um risco concreto de violação da
propriedade industrial.

Diante dessa situação, qual foi a solução encontrada pelos titulares de marcas?
Os titulares de marcas começaram a ajuizar ações com o objetivo de que o Poder Judiciário
(no caso, a Justiça Federal, por ser o INPI uma autarquia federal) declarasse que a sua marca
seria de “alto renome”.
Em suma, foram propostas ações objetivando a declaração judicial do alto renome da marca.

O que o STJ entendia sobre estas demandas?


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Incialmente, o STJ não concordou com estas ações. Assim, a posição tradicional do STJ era
no sentido de que a declaração do alto renome de uma marca consiste em ato
Página

discricionário do INPI, não podendo ser declarada pelo Poder Judiciário. Houve decisão

INFORMATIVO esquematizado
recentíssima nesse sentido: AgRg no AgRg no REsp 1.116.854/RJ, 3ª Turma, Relator Min.
Massami Uyeda, DJe de 02/10/2012.

O que foi decidido pelo STJ no julgado noticiado neste informativo?


A 3ª Turma do STJ alterou, em parte, seu entendimento.
O STJ decidiu que o titular da marca possui legítimo interesse em obter, por via direta, uma
declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome.
Veja alguns argumentos veiculados pela Min. Nancy Andrighi:
O reconhecimento do alto renome só pela via incidental (de defesa) imporia ao titular
um ônus injustificado de ficar constantemente acompanhando todos os pedidos de
registro de marcas a fim de identificar eventuais ofensas ao seu direito marcário;
Ademais, acontece muitas vezes de a pessoa que está utilizando indevidamente a
marca de alto renome nem sequer tentar fazer o registro no INPI por saber que seria
questionado. Ex: a pessoa possui uma confecção de roupas Natura (com o mesmo
símbolo da marca registrada). Logo, ela nem vai tentar registrar esta marca porque tem
consciência de que haveria oposição por parte da empresa de cosméticos. Nesses casos,
a controvérsia não chega ao INPI, impedindo que o titular da marca adote qualquer
medida administrativa incidental visando à declaração do alto renome.
Verifica-se, portanto, haver efetivo interesse do titular em obter uma declaração geral e
abstrata de que sua marca é de alto renome.
Os atos do INPI relacionados com o registro do alto renome de uma marca, por
derivarem do exercício de uma discricionariedade técnica e vinculada, encontram-se
sujeitos a controle pelo Poder Judiciário, sem que isso implique violação do princípio da
separação dos poderes.

O STJ decidiu, no entanto, que o Poder Judiciário não poderá declarar diretamente que a marca
é de alto renome por meio de uma decisão judicial. O que o Judiciário pode fazer é determinar
que o INPI examine, em um certo prazo, se a marca é realmente de alto renome.

A Ministra afirmou que o Poder Judiciário não pode suprir a omissão do INPI e decidir o
mérito do processo administrativo, mas apenas determinar que o procedimento seja
concluído em tempo razoável.

Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da caracterização, ou não,


de uma marca como sendo de alto renome, não pode o Poder Judiciário conferir, pela via
judicial, a correspondente proteção especial, sob pena de violar a separação dos poderes,
sendo esta atribuição pertencente ao INPI, integrante do Poder Executivo.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para ação de pensão por morte no qual haverá reconhecimento de união estável

Compete à JUSTIÇA FEDERAL processar e julgar demanda proposta em face do INSS com o
objetivo de ver reconhecido exclusivamente o direito da autora de receber pensão decorrente
da morte do alegado companheiro, ainda que seja necessário enfrentar questão prejudicial
referente à existência, ou não, da união estável.
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Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:


Página

Maria vivia em união estável com João, que era funcionário de uma empresa privada e,
portanto, contribuía para o Regime Geral da Previdência Social (RGPS – INSS). João faleceu.

INFORMATIVO esquematizado
Maria terá direito a algum benefício previdenciário?
SIM, ela terá direito à pensão por morte, benefício previsto nos arts. 74 a 79 da Lei n.
8.213/91.

Suponha que Maria formulou requerimento administrativo ao INSS solicitando a pensão por
morte. Ocorre que a autarquia previdenciária negou o pedido, sob o argumento de que não
restou comprovada a união estável, nos termos do § 3º do art. 22 do Decreto n. 3.048/99
(Regulamento da Previdência Social).

Diante disso, Maria procurou a Defensoria Pública para ajuizar uma ação contra o INSS.
Repare que esta ação tem por objetivo ver reconhecido o direito da autora de receber a
pensão por morte. No entanto, será necessário que ela prove, nesta demanda, que vivia,
realmente, em união estável com o falecido.

Surge, no entanto, um impasse aparente: a competência para julgar ações contra o INSS
(autarquia federal) é, em regra, da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da CF/88. Por
outro lado, a competência para reconhecer união estável é da Justiça estadual.

De quem é a competência para julgar esta ação a ser proposta por Maria?
Compete à JUSTIÇA FEDERAL processar e julgar demanda proposta em face do INSS com o
objetivo de ver reconhecido exclusivamente o direito da autora de receber pensão
decorrente da morte do alegado companheiro, ainda que seja necessário enfrentar questão
prejudicial referente à existência, ou não, da união estável.

A definição da competência se estabelece de acordo com os termos da demanda, e não a


partir de considerações a respeito de sua procedência, da legitimidade das partes ou de
qualquer juízo acerca da própria demanda.

Assim, se a pretensão deduzida na inicial não diz respeito ao reconhecimento de união


estável, mas apenas à concessão de benefício previdenciário, deve ser reconhecida a
competência da Justiça Federal. Nesse contexto, ainda que o juízo federal tenha de
enfrentar o tema referente à caracterização da união estável, não haverá usurpação da
competência da Justiça Estadual, pois esse ponto somente será apreciado como questão
prejudicial, possuindo a demanda natureza nitidamente previdenciária.
Processo STJ. 1ª Seção. CC 126.489-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/4/2013.

Competência no caso de ação monitória proposta contra Estado-membro

Segundo a jurisprudência do STJ, o Estado-membro não tem prerrogativa de foro. Logo, poderá
ser demandado em outra comarca que não a de sua capital. Poderá ser até mesmo demandado
em outro Estado-membro da Federação.
No caso de ação monitória proposta contra o Estado-membro, a competência para julgar a
causa é do local onde a obrigação deveria ser satisfeita e onde deveria ter ocorrido o
pagamento da contraprestação, conforme prevê o art. art. 100, IV, “d”, do CPC.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):
O Estado “A” fez um contrato com uma rede de hotéis localizada em Brasília/DF a fim de
que as autoridades estaduais lá ficassem hospedadas quando fossem tratar de assuntos
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institucionais na capital federal. Após alguns meses de prestação de serviços, o Estado “A”
não pagou o hotel.
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INFORMATIVO esquematizado
O contrato celebrado não observou as formalidades necessárias para que pudesse ser
considerado um título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC). Logo, o hotel dispunha de
uma prova escrita da dívida, mas que não possuía eficácia de título executivo.

Qual ação deverá ser proposta pelo Hotel contra o Estado?


Ação monitória.

Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor
exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a
entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que não tem eficácia de
título executivo.
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura
de conta-corrente.

Mas é possível ajuizar ação monitória contra um Estado-membro?


SIM. Não há mais dúvidas quanto a isso atualmente. Nesse sentido:
Súmula 339-STJ: É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública.

A pergunta do Informativo foi a seguinte:


Onde deverá ser proposta esta ação, na capital do Estado “A” ou no Distrito Federal?
A competência é do local onde a obrigação deve ser satisfeita, nos termos do art. 100, IV,
“d”, do CPC:
Art. 100 (...)
IV - do lugar:
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento;

A prestação dos serviços foi realizada em Brasília (DF) e neste local deveria ter sido
cumprida a obrigação do Estado “A” de pagar por estes serviços. Logo, o juízo competente
para julgar a ação monitória é uma das varas do Distrito Federal.

Mas o Estado “A” poderá ser demandado em outro local que não seja a capital do Estado?
SIM. O Estado-membro não tem prerrogativa de foro e pode ser demandado em outra
comarca que não a da capital. Desse modo, o STJ admitiu a aplicação da regra do art. 100,
IV, "d", do CPC ao caso concreto.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.316.020-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/4/2013.

Motivação per relationem

É legítima a adoção da técnica de fundamentação referencial (per relationem), consistente na


alusão e incorporação formal, em ato jurisdicional, de decisão anterior ou parecer do MP.
Comentários Vide explicações na seção de Direito Constitucional.
Processo STJ. 2ª Turma. EDcl no AgRg no AREsp 94.942-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 5/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Gratuidade de justiça e atos praticados por notários e registradores

A gratuidade de justiça obsta a cobrança de emolumentos pelos atos de notários e


registradores indispensáveis ao cumprimento de decisão proferida no processo judicial em
que fora concedido o referido benefício.
ATENÇÃO
Em resumo, os beneficiários da justiça gratuita têm isenção dos emolumentos nas serventias
notariais e registrais para os atos necessários ao cumprimento da decisão judicial.
Comentários Vide explicações na seção de Direito Notarial e Registral.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 24.557-MT, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/2/2013.

Impossibilidade de prisão em jurisdição cível, salvo no caso de obrigação alimentícia

Não é possível que o magistrado, ao conceder tutela antecipada no âmbito de processo cível
cujo objeto não consista em obrigação de natureza alimentícia, efetue ameaça de decretação de
prisão para o caso de eventual descumprimento dessa ordem judicial, sob a justificativa de
que, nesse caso, configurar-se-ia crime de desobediência (art. 330 do CP).
Comentários Ação de obrigação de fazer
Se o autor ajuíza uma ação pretendendo que o réu seja obrigado a fazer ou não fazer alguma
coisa, o juiz, atendidos os requisitos legais, poderá conceder a tutela antecipada, na forma de
tutela específica, determinando que o réu adote o comportamento que é objeto da ação.
Exemplo (hipotético): “A”, atriz, ingressa com ação de obrigação de fazer contra o site “X”,
especializado em celebridades, tendo como pedido (objeto) que o referido site retire de
suas páginas fotos íntimas da autora e cuja publicação ela não autorizou.

Deferida a tutela antecipada


O juiz analisa a petição inicial e entende que é relevante o fundamento da demanda e que
há justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual concede,
liminarmente, a tutela antecipada determinando que o site retire, em 24 horas, as fotos de
suas páginas. Essa decisão interlocutória está fundada no § 3º do art. 461 do CPC:
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
(...)
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação
prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer
tempo, em decisão fundamentada.

Medidas coercitivas para cumprimento da decisão


O juiz, para que a sua decisão tenha “força” e desperte no réu a vontade de cumpri-la, deve
determinar alguma medida coercitiva. A mais conhecida delas é a multa cominatória
(astreinte), prevista no § 4º do art. 461 do CPC:
§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.
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O rol legal das medidas coercitivas é meramente exemplificativo


Página

O CPC prevê, no entanto, que o magistrado pode impor outras medidas coercitivas, além da
multa. Veja:

INFORMATIVO esquematizado
§ 5º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente,
poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a
imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas,
desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de
força policial.

Na verdade, a doutrina afirma que existe uma “cláusula geral executiva” no CPC,
considerando que § 5º do art. 461 traz um rol exemplificativo de medidas, mas o juiz poderá
determinar outras que não estejam ali previstas (medidas coercitivas atípicas).

É possível utilizar a prisão civil como medida coercitiva atípica?


A resposta a esta indagação envolve a análise do art. 5º, LXVII, da CF/88, que determina:
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Assim, a CF veda, em regra, a prisão civil por dívida.

Quando este inciso fala em “dívida”, isto significa obrigação pecuniária (obrigação de pagar
quantia) ou abrange qualquer tipo de obrigação?

Em outras palavras, a CF veda a:


1ª corrente: prisão civil por dívida pecuniária (obrigação de pagar); OU
2ª corrente: a prisão civil por dívida de qualquer natureza (obrigação de pagar, de fazer, de
não fazer e de entregar coisa diferente de dinheiro)?

Este debate é interessantíssimo e palpitante na doutrina. Vejamos um panorama:

1ª corrente: a CF veda apenas a prisão civil 2ª corrente: a CF veda a prisão pelo


por dívida pecuniária. inadimplemento de qualquer obrigação.

Assim, É possível a prisão civil como medida Logo, NÃO é possível a prisão civil como
coercitiva no caso de obrigações que não medida coercitiva, salvo no caso de
sejam pecuniárias (ex: obrigação de fazer) descumprimento de obrigação alimentícia.
Luiz Guilherme Marinoni Eduardo Talamini
Marcelo Lima Guerra Ovídio Baptista
Pontes de Miranda Carlos Alberto Alvaro de Oliveira
Donaldo Armelin José Garcia Medina
Sérgio Shimura Humberto Theodoro Jr.

Fonte utilizada para elaboração do quadro acima: DIDIER JR., Fredie. et. al. Curso de Direito
Processual Civil. Vol. 5. Execução. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 477-482.

Qual a posição adotada pelo STJ?


A 3ª Turma do STJ, em julgado recente, adotou a 2ª corrente.
De acordo com o STJ, é inviável a decretação ou a ameaça de decretação de prisão nos
autos de processo civil como forma de coagir a parte ao cumprimento de obrigação,
ressalvada a obrigação de natureza alimentícia.
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Vale ressaltar que não será permitida a prisão do destinatário da ordem nem mesmo sob o
Página

argumento de que ele, ao não cumprir o que foi determinado, estaria cometendo o crime de
desobediência. Nesse sentido, confira o seguinte exemplo hipotético:

INFORMATIVO esquematizado
João ingressou com uma ação de obrigação de fazer contra Paulo.
O juiz deferiu a tutela antecipada determinando que Paulo cumprisse a obrigação.
No mandado de intimação expedido, o magistrado ameaçou decretar a prisão do requerido,
pela prática do crime de desobediência (art. 330 do CP), caso ele não cumprisse a ordem no
prazo fixado.

O juiz agiu de forma adequada segundo a jurisprudência do STJ?


NÃO. De acordo com o STJ, é inviável a decretação ou a ameaça de decretação de prisão
nos autos de processo civil como forma de coagir a parte ao cumprimento de obrigação,
ressalvada a obrigação de natureza alimentícia.
Assim, não é possível que o magistrado, ao conceder tutela antecipada no âmbito de
processo cível cujo objeto não consista em obrigação de natureza alimentícia, efetue
ameaça de decretação de prisão para o caso de eventual descumprimento dessa ordem
judicial, sob a justificativa de que, nesse caso, configurar-se-ia crime de desobediência (art.
330 do CP).
Processo STJ. 3ª Turma. RHC 35.253-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 5/3/2013.

Ilegitimidade do espólio para ajuizar ação de indenização em nome dos herdeiros

O espólio não tem legitimidade ativa para ajuizar ação em que o dano moral pleiteado pela
família tem como titulares do direito os herdeiros, não por herança, mas sim por causa de
direito próprio deles.

Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto


O espólio é legitimado a prosseguir
viva, tendo esta ajuizado ação de indenização, mas
na demanda.
falecido antes do trânsito em julgado.
Ofensa a direito da personalidade da pessoa O espólio é legitimado a propor a
enquanto viva. Esta faleceu sem ter ajuizado a ação. ação de indenização.
Os herdeiros (e não o espólio) são
Ofensa à memória da pessoa já falecida. legitimados para propor a ação de
indenização.
Os herdeiros (e não o espólio) são
Dor e sofrimento causado pela morte da pessoa. legitimados para propor a ação de
indenização.

Comentários O que é a herança?


A herança é o conjunto de bens deixado pela pessoa falecida.
Caracteriza-se, por força de lei, como sendo bem imóvel, universal e indivisível.
A herança é formada automaticamente pela morte e somente será dissolvida quando
houver a partilha.

O que é o espólio?
O espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora dele.
Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para praticar atos
jurídicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herança) e tem legitimidade processual
(pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual) (FARIAS, Cristiano Chaves. et.
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al., Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 1396).


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INFORMATIVO esquematizado
Quem representa o espólio em juízo (quem age em nome do espólio)?
Se já houve inventário: o espólio é representado em juízo pelo inventariante.
Se ainda não foi aberto inventário: o espólio é representado pelo administrador
provisório (art. 985 do CPC).

Fixados estes conceitos, imagine a seguinte situação hipotética:


João, viúvo, pai de Hugo, José e Luiz, faleceu em decorrência de suposta falha no
atendimento hospitalar.
Foi aberto inventário, tendo Hugo sido nomeado como inventariante.
Os filhos decidem contratar um advogado para ajuizar uma ação de indenização contra o
hospital pelos danos morais e materiais que eles sofreram com a morte do genitor.
O advogado propõe a ação de indenização indicando como autor o espólio.

O advogado agiu de maneira correta?


NÃO. O espólio não tem legitimidade para postular indenização pelos danos materiais e
morais supostamente experimentados pelos herdeiros, ainda que se alegue que os
referidos danos teriam decorrido de erro médico de que fora vítima o falecido.
Na situação exposta, o direito à reparação pelos danos causados com a morte é dos filhos
de João por conta de direito próprio deles (e não por um direito que tenha sido transmitido
com a herança). Assim, o direito à reparação pela morte de João nada tem a ver com a
herança (não foi um bem deixado pelo falecido com a sua morte). Logo, o autor da
demanda não deve ser o espólio.
Resumindo: o direito no qual se funda a ação é próprio dos herdeiros, e não um direito do
de cujus que foi transmitido.

Vejamos, ao contrário, duas situações em que a legitimidade seria do espólio:


O espólio teria legitimidade para ajuizar a ação se o direito à indenização pertencesse ao
falecido e tivesse sido transmitido aos herdeiros com a morte.

Ex1: suponhamos que, antes de João falecer, tenha sido publicada uma reportagem no
jornal atacando a sua honra. João ajuizou uma ação de indenização contra o periódico,
tendo, no entanto, morrido antes que a demanda fosse julgada. Neste exemplo,
considerando a natureza patrimonial do direito de ação por danos morais, esse direito se
transmitirá aos herdeiros. Logo, o espólio possui legitimidade para suceder o autor na ação
de indenização, operando-se a substituição processual, nos termos do art. 43 do CPC.

Ex2: a reportagem foi publicada atacando a honra de João. Ocorre que não deu tempo de
ele tomar providências contra o periódico. Nesta hipótese, muito embora se reconheça o
caráter pessoal da referida ação, o STJ e a doutrina majoritária consideram que o direito de
ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da
vítima. Logo, o espólio tem legitimidade para intentar a ação de reparação por danos
morais. Nesse sentido é o art. 943 do CC e o Enunciado 454 do CJF.

Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a


herança.

Enunciado 454-CJF: Art. 943. O direito de exigir reparação a que se refere o art. 943 do
Código Civil abrange inclusive os danos morais, ainda que a ação não tenha sido iniciada
22

pela vítima.
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INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar que o direito de personalidade da pessoa morta não foi transmitido com a
herança. O direito da personalidade extinguiu-se com a morte do titular. O que se
transmitiu, neste caso, foi apenas o direito patrimonial de requerer a indenização.

Agora, por fim, uma última hipótese:


Suponha que a reportagem atacando a honra de João foi publicada somente após a sua
morte. Neste caso, será possível o ajuizamento de ação de indenização por danos morais?
Quem terá legitimidade para figurar no polo ativo: o espólio ou os herdeiros?
SIM, será possível a propositura de ação de indenização por danos morais. A legitimidade
ativa para esta demanda é dos herdeiros, nos termos do parágrafo único do art. 12 do CC:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida
prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou
colateral até o quarto grau.

Se o dano ocorre depois da morte do titular, não produz efeitos jurídicos ao morto.
Contudo, tal ofensa atinge, indiretamente, os familiares vivos da pessoa morta,
caracterizados como “lesados indiretos”. Assim sendo, os herdeiros, considerados como
“lesados indiretos” pelas ofensas devem propor a ação em nome próprio. Como explicam
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald:
“(...) é um direito reconhecido às pessoas vivas de ter salvaguardada a personalidade dos
seus parentes (e do cônjuge ou companheiro) falecidos, sob pena de afronta à sua própria
personalidade. Isto porque ao violar a honra, imagem, sepultura etc., de uma pessoa morta,
atinge-se, obliquamente (indiretamente, na linguagem do Código Civil), os seus parentes (e
o cônjuge ou companheiro) vivos.
Bem por isso, os lesados indiretos atuam em nome próprio, defendendo um interesse
próprio, consistente na defesa da personalidade de seus parentes (ou de seu cônjuge ou
companheiro) falecidos. Agem, pois, por legitimidade ordinária, autônoma, e não em
substituição processual.” (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de
Direito Civil. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 198)

Quadro-resumo:
Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto O espólio é legitimado a
viva, tendo esta ajuizado ação de indenização, mas prosseguir na demanda.
falecido antes do trânsito em julgado.
Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto O espólio é legitimado a propor
viva. Esta faleceu sem ter ajuizado a ação. a ação de indenização.
Os herdeiros (e não o espólio)
Ofensa à memória da pessoa já falecida. são legitimados para propor a
ação de indenização.
Os herdeiros (e não o espólio)
Dor e sofrimento causado pela morte da pessoa. são legitimados para propor a
ação de indenização.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.143.968-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/2/2013.
23
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INFORMATIVO esquematizado
Interposição do recurso via fax

Mesmo que o advogado não tenha conseguido interpor o recurso, via fax, por conta de um
problema técnico do próprio Poder Judiciário, ele não terá oportunidade de ajuizar o recurso
em outra data fora do prazo.

Em outras palavras, o recurso interposto via fax fora do prazo recursal deve ser considerado
intempestivo, ainda que tenha ocorrido eventual indisponibilidade do sistema de protocolo via
fax do Tribunal no decorrer do referido período de tempo.

São de responsabilidade de quem opta pelo sistema de comunicação por fax os riscos de que
eventuais defeitos técnicos possam impedir a perfeita recepção da petição.
Comentários Imagine a seguinte situação:
O prazo para que o advogado interponha o recurso termina hoje. Ocorre que este causídico
está viajando e não há ninguém que possa protocolizar o recurso por ele no Tribunal.

O que este advogado poderá fazer?


É possível que ele interponha o recurso por meio de fax. Isso está previsto na Lei n.
9.800/99.

Suponha, no entanto, que, no último dia do prazo, o advogado tenta passar o fax com o
recurso, mas os telefones do Tribunal estão com defeito. Como o fax não foi enviado por
causa de uma falha no telefone do Poder Judiciário, o causídico poderá alegar “justa causa”
(art. 183 do CPC) e ajuizar o recurso no dia seguinte?
NÃO. O recurso interposto via fax fora do prazo recursal deve ser considerado intempestivo,
ainda que tenha ocorrido eventual indisponibilidade do sistema de protocolo via fax do
Tribunal no decorrer do referido período de tempo.
Conforme a jurisprudência do STJ, são de responsabilidade de quem opta pelo sistema de
comunicação por fax os riscos de que eventuais defeitos técnicos possam impedir a perfeita
recepção da petição.
Processo Segunda Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 237.482-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.

Impossibilidade de desistência do recurso após seu julgamento

Não é possível a homologação de pedido de desistência de recurso já julgado,


pendente apenas de publicação de acórdão.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no Ag 1.392.645-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 21/2/2013.

Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos

Não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista no art. 105, I, “f”, da CF com o objetivo de
impugnar procedimento adotado no Tribunal de origem que, por entender que a matéria
abordada em recurso especial ali interposto não seria idêntica a outra já decidida sob a sistemática
dos recursos repetitivos, tenha determinado a remessa ao STJ dos autos para julgamento.
Comentários Observou-se que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos
temas jurídicos. Em outras palavras, identificou-se que existiam inúmeros recursos
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“repetitivos” endereçados aos Tribunais Superiores.


Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei n. 11.672/2008 acrescentou
Página

os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos
recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento
INFORMATIVO esquematizado
em idêntica controvérsia ou questão de direito.
Vamos estudar, agora, o julgamento por amostragem no caso dos recursos especiais
repetitivos, que é previsto no art. 543-C do CPC:
Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.

Procedimento
O procedimento relativo ao processamento e julgamento de recursos especiais repetitivos
está previsto no art. 543-C do CPC e na Resolução n. 08/2008-STJ e pode ser assim
resumido:

1) O Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar


todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações
contra a Fazenda Pública é de 3 ou 5 anos.

2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais recursos que


representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ.
Serão selecionados os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de
argumentos no recurso especial.
Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos
como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se
pronuncie sobre o tema central.

Cabe algum recurso contra a decisão proferida no Tribunal de origem que tenha
determinado o sobrestamento do Resp com fundamento no § 1º do art. 543-C do CPC?
NÃO. É irrecorrível o ato do presidente do tribunal de origem que, com fundamento no
art. 543-C, § 1º, do CPC, determina a suspensão de recursos especiais enquanto se
aguarda o julgamento de outro recurso encaminhado ao STJ como representativo da
controvérsia. Com efeito, este ato não ostenta conteúdo decisório, tendo em vista que
não há efetivo juízo de admissibilidade neste momento processual. Em verdade, a
referida manifestação judicial é um despacho, de modo que tem incidência o regramento
previsto no art. 504 do CPC, segundo o qual “dos despachos não cabe recurso”.
Haverá possibilidade de interposição de recurso após o julgamento do recurso
representativo da controvérsia no STJ, ocasião em que poderá ser manejado agravo
regimental, no tribunal de origem, contra eventual equívoco no juízo de admissibilidade
efetivado na forma do art. 543-C, § 7º, do CPC.
(STJ. 2ª Seção. AgRg na Rcl 6.537-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013)

3) Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem não perceber que haja essa
multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e não tomar essas providências
explicadas acima. Nesse caso, o Ministro Relator do REsp, no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais
a controvérsia esteja estabelecida.

4) Antes de decidir o Resp submetido ao regime de recurso repetitivo, o Ministro Relator


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poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15 dias, aos tribunais federais
ou estaduais a respeito da controvérsia.
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INFORMATIVO esquematizado
5) Se a matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas,
órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae.

6) Após as informações prestadas pelos Tribunais e pelos amici curiae (plural de amicus
curiae), o Ministério Público será ouvido no prazo de 15 dias.

7) Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial do STJ, devendo
ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e
os pedidos de habeas corpus.

8) Após todas essas providências, o STJ irá julgar o recurso especial que foi submetido ao
regime de recurso repetitivo. Essa decisão irá afetar os recursos que ficaram suspensos nos
TJ’s ou TRF’s. Veja o que diz o § 7º do art. 543-C:
§ 7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados
na origem:
I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou
II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão
recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

Explicando melhor esse § 7º:


Inciso I: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que não foi aceita
pelo STJ, este recurso terá seu seguimento negado e, portanto, nem será enviado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 5 anos. A
Fazenda interpôs recurso especial alegando que esse prazo era de 3 anos. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, este recurso da Fazenda, que estava sobrestado, terá seu seguimento
negado e nem será mais apreciado pelo STJ.

Inciso II: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que foi acolhida
pelo STJ, o acórdão que estava sendo impugnado será novamente analisado pelo Tribunal de
origem, que poderá modificar sua decisão para adequá-la ao entendimento firmado pelo STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 3 anos. O
particular interpôs recurso especial alegando que esse prazo era quinquenal. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, o TJ terá a oportunidade de analisar novamente esta questão e poderá
modificar sua decisão com base na orientação firmada pelo STJ. Em outras palavras, o TJ
poderá voltar atrás e decidir que o prazo prescricional é de 5 anos realmente. Vale ressaltar,
no entanto, que nesse reexame, o Tribunal poderá manter sua decisão, considerando que o
posicionamento adotado pelo STJ não é vinculante.

9) Se o tribunal de origem mantiver a decisão divergente, irá ser realizado o exame de


admissibilidade do recurso especial para que seja encaminhado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu manter seu entendimento de que o prazo prescricional é de 3 anos,
mesmo o STJ tendo afirmado que era quinquenal. Logo, o recurso especial interposto pelo
particular será examinado e, se preencher os pressupostos de admissibilidade, será
encaminhado ao STJ para análise do mérito.
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10) Voltando à hipótese do inciso I do § 7º do art. 543-C. Pode acontecer de o Presidente do


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tribunal de origem negar seguimento a um recurso especial, aplicando o entendimento do

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STJ, e a parte recorrente não concordar com isso, sob o argumento de que o caso que
envolve o seu processo é diferente do que foi examinado pelo STJ. Em outros termos, a parte
afirma que há um distinguishing.

A pergunta que surge é a seguinte: será possível que esta parte interponha algum recurso
contra a decisão do Presidente do tribunal de origem que negou seguimento ao recurso
especial com base no inciso I do § 7º do art. 543-C do CPC?
Será cabível agravo regimental, a ser julgado no Tribunal de origem, destinado a impugnar
decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial com fundamento no art.
543-C, § 7º, I, do CPC.
(STJ. 2ª Turma. REsp 1.346.362-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado 4/12/2012)

Vale ressaltar que um erro muito comum tanto dos candidatos em concurso público como
dos profissionais na prática forense, é imaginar que seria possível o ajuizamento de agravo
de instrumento contra essa decisão. Na verdade, é firme o entendimento do STJ de que
“não cabe agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a recurso especial
com base no art. 543, § 7º, inciso I, do CPC” (QO no Ag 1154599/SP, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, Corte Especial, DJe 12/05/2011).
Para o STJ, a mencionada decisão somente pode ser atacada por agravo regimental, a ser
processado e julgado no tribunal de origem.

Imagine agora que o Tribunal de origem, no julgamento do agravo regimental, manteve a


decisão monocrática do Presidente (ou Vice-Presidente), ou seja, aplicando o art. 543, § 7º,
I, do CPC. Nesta hipótese, cabe algum outro recurso contra esta decisão? NÃO.

Seria possível, então, interpor uma reclamação ao STJ?


Também NÃO. Segundo o STJ, não há previsão legal para o ajuizamento de reclamação
neste caso. Além disso, o cabimento da reclamação impediria a realização do fim precípuo
da reforma processual introduzida pela Lei n. 11.672/2008, qual seja, o de evitar a reiterada
análise de questão idêntica, otimizando o julgamento dos incontáveis recursos que chegam
ao STJ com o intuito de discutir a mesma matéria. Em outras palavras, se fosse admitida
reclamação, o “filtro” imposto para evitar a subida de uma enorme quantidade de
processos no STJ não teria eficácia, considerando que a Corte teria que examinar inúmeras
reclamações.

Em suma, contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do
CPC, aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos
recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso nem reclamação.
(STJ. 2ª Seção. AgRg na Rcl 10.805-RS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 4/2/2013)

11) Vamos agora imaginar uma última hipótese cabível: o Tribunal de origem entende que a
matéria veiculada no REsp interposto NÃO é idêntica a outra já decidida sob a sistemática
do recurso repetitivo. Em outras palavras, o Tribunal de origem considera que existe sim
uma diferença entre o assunto debatido no recurso e o que já foi decidido pelo STJ. Logo, o
Tribunal de origem remete o recurso para ser julgado pelo STJ. Contra esta decisão do
Tribunal de origem cabe recurso ou reclamação?
NÃO. Não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista no art. 105, I, “f”, da CF com o
objetivo de impugnar procedimento adotado no Tribunal de origem que, por entender
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que a matéria abordada em recurso especial ali interposto não seria idêntica a outra já
decidida sob a sistemática dos recursos repetitivos, tenha determinado a remessa ao STJ
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dos autos para julgamento.


(STJ. 2ª Seção. EDcl na Rcl 10.869-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013.)
INFORMATIVO esquematizado
A reclamação prevista no art. 105, I, “f”, da CF somente é cabível para a preservação da
competência do STJ e para a garantia da autoridade de suas decisões. Nesse contexto, não
há como ajuizar tal reclamação em razão de suposta usurpação da competência do STJ,
tendo em vista que compete, em primeiro lugar, ao Tribunal de origem a avaliação da
perfeita adequação de cada recurso especial às teses apreciadas nos recursos repetitivos.
Processo STJ. 2ª Seção. EDcl na Rcl 10.869-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/2/2013.

REsp e complementação do valor do porte de remessa e retorno

O recorrente, ao interpor o recurso, deverá comprovar o preparo. No caso do recurso especial,


o preparo engloba o pagamento de custas e de porte de remessa e de retorno.

Se o recorrente pagou apenas a taxa judiciária (não tendo recolhido o valor do porte de
remessa e de retorno), o preparo foi feito, mas em valor insuficiente. Como consequência, o
Tribunal de origem, antes de decretar a deserção, deverá intimar o recorrente para, no prazo
de 5 dias, suprir o valor do porte de remessa e de retorno, complementando o pagamento.
Somente se não for complementado o preparo é que haverá a deserção. Esta solução está
prevista no § 2º do art. 511 do CPC.

Assim, não ocorre a deserção do recurso especial no caso em que o recorrente, recolhidas as
custas na forma devida, mas efetuado o pagamento do porte de remessa e de retorno em valor
insuficiente, realize, após intimado para tanto, a complementação do valor.
Comentários Preparo
Preparo consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do recurso.
No preparo incluem-se:
Taxa judiciária (custas);
Despesas postais com o envio dos autos (chamado de “porte de remessa e de retorno”
dos autos).

Desse modo, “preparar” o recurso é nada mais que pagar as despesas necessárias para que
a máquina judiciária dê andamento à sua apreciação. O pagamento do preparo é feito,
comumente, na rede bancária conveniada com o Tribunal.

Momento do preparo
O CPC afirma que a parte que está recorrendo da decisão precisa comprovar o preparo no
momento da interposição do recurso. Logo, o preparo (recolhimento do valor) deve ser
feito antes da interposição do recurso e, junto com o recurso interposto, o recorrente deve
juntar o comprovante do pagamento.

Preparo não comprovado na interposição do recurso


Se o recorrente, quando interpuser o recurso, não comprovar que fez o preparo, o seu
recurso será considerado deserto (deserção). Ainda que o recorrente tenha efetuado o
recolhimento, se ele, no momento da interposição do recurso, não comprovar que fez o
preparo, terá seu recurso inadmitido por deserção.

Deserção
Deserção é a inadmissibilidade do recurso pela falta de preparo. Se o recurso foi deserto
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significa que ele não foi conhecido (não foi sequer apreciado). Gramaticalmente, desertar é
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mesmo que abandonar.

INFORMATIVO esquematizado
Previsão da regra do preparo
CPC/Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido
pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno,
sob pena de deserção.

Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):


“A” interpôs recurso especial. Como vimos acima, no momento da interposição, o
recorrente deveria ter comprovado o preparo (pagamento da taxa judiciária e do porte de
remessa e de retorno).
“A” pagou a taxa judiciária e, no momento da interposição do REsp, comprovou este
pagamento juntando a respectiva GRU (Guia de Recolhimento da União).
O recorrente não pagou, contudo, o porte de remessa e retorno.

Diante disso, o recurso interposto deverá ser, desde logo, considerado deserto?
NÃO. Segundo o Min. Relator, na presente situação, o preparo foi feito, mas em valor
insuficiente. Logo, deve ser aplicada a regra prevista no § 2º do art. 511 do CPC:
§ 2º A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não
vier a supri-lo no prazo de cinco dias.

Desse modo, o STJ entende que, se a parte pagou apenas a taxa judiciária (não tendo
recolhido o valor do porte de remessa e de retorno), o preparo foi feito, mas em valor
insuficiente. Como consequência, o Tribunal de origem, antes de decretar a deserção, deve
intimar o recorrente para, no prazo de 5 dias, suprir o valor do porte de remessa e de
retorno, complementando o pagamento. Somente se não for complementado o preparo é
que haverá a deserção.
Processo STJ. 2ª Turma. EDcl no REsp 1.221.314-SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 21/2/2013.

Execução por quantia certa contra devedor insolvente

A respeito da insolvência civil, o STJ externou duas conclusões neste julgado:


1) Mesmo que não se encontre bens passíveis de penhora, isso não implicará, por si só, a
extinção automática do processo de insolvência.
2) O processo de insolvência deve ser extinto na hipótese em que não tenha ocorrido a
habilitação de credores.
Comentários A insolvência civil é uma espécie de execução coletiva e universal em que todo o patrimônio
do devedor civil (não empresário) será liquidado para satisfação de suas obrigações (Min.
Luis Felipe Salomão).
É como se fosse uma “falência”, com a diferença de que se trata de devedor civil (e a
falência atinge devedor empresário).
Encontra-se prevista no art. 748 e ss do CPC.

A respeito da insolvência civil, o STJ externou duas conclusões neste julgado:

1) Mesmo que não se encontre bens passíveis de penhora, isso não implicará, por si só, a
extinção automática do processo de insolvência.
A ausência de bens expropriáveis não afeta o interesse dos credores de processo de
insolvência, uma vez que a declaração de insolvência protege não só a garantia atual, mas
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também a garantia futura de seus créditos mediante a indisponibilidade dos bens presentes
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e futuros do obrigado.
Além disso, o interesse do devedor nessa declaração também remanesce, mormente pelo

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fato de que ele obterá, ao final do procedimento, a extinção das suas obrigações, ainda que
não inteiramente resgatadas, nos termos do art. 778 do CPC. Por conseguinte, o interesse
na declaração de insolvência, quer sob a ótica do credor, quer pela do devedor, transcende
a mera existência de patrimônio passível de penhora, razão pela qual não há falar em
extinção do processo de insolvência pela ausência de bens expropriáveis.

2) O processo de insolvência deve ser extinto na hipótese em que não tenha ocorrido a
habilitação de credores. Isso porque a fase executiva propriamente dita somente se instaura
com a habilitação dos credores, que integram o polo ativo do feito e sem os quais, por
óbvio, não há a formação da relação processual executiva.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.072.614-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/2/2013.

Início do prazo para impetração de MS em caso de reajuste indevido de benefício

No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor inferior
ao que seria devido, o prazo para que a interessada impetre um MS é renovado mês a mês.
Segundo entende o STJ, esta hipótese consiste em uma conduta omissiva ilegal da
Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo. Logo, o prazo decadencial
estabelecido pela Lei do Mandado de Segurança se renova de forma continuada mensalmente.
Comentários PRAZO PARA IMPETRAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA
A Lei n. 12.016/2009 prevê um prazo para o ajuizamento do MS:
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e
vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Prazo do MS: 120 dias.

Natureza deste prazo:


A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial, apesar de alguns autores
defenderem que se cuida de prazo sui generis (Leonardo da Cunha).
Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.
Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo
para o mandado de segurança.

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que, se o marco final do prazo do MS terminar em
sábado, domingo ou feriado, ele deverá ser prorrogado para o primeiro dia útil seguinte:
(...) 4. O termo inicial para a impetração é a data da ciência do ato, mas a contagem só tem
início no primeiro dia útil seguinte e, caso o termo final recaia em feriado forense ou dia não
útil (sábado ou domingo), prorroga-se automaticamente o término do prazo para o primeiro
dia útil que se seguir. A observância do prazo inicial e final para o exercício do direito à ação
de mandado de segurança não deve se afastar do que dispõe o artigo 184 do CPC (...)
(MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 08/09/2010).

A previsão de um prazo para o MS é constitucional?


SIM. Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração
de mandado de segurança.
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Termo inicial do prazo:


O prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o prejudicado toma ciência do ato
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coator praticado.
(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a partir da

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expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas sim do momento
em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a jurisprudência do STJ de
que o prazo decadencial no mandado de segurança tem início na data em que o interessado
teve ciência inequívoca do ato atacado. (...)
REsp 1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2008.

O ato que SUPRIME ou REDUZ vantagem de servidor é ato único ou prestação de trato
sucessivo?
Como é contado o prazo para o MS no caso de a Administração Pública suprimir ou reduzir
determinada vantagem paga ao servidor?

Para o STJ é preciso fazer a seguinte distinção:

Ato que SUPRIME vantagem Ato que REDUZ vantagem


Ato único. Prestação de trato sucessivo.
O prazo para o MS é contado da data em O prazo para o MS renova-se mês a mês
que o prejudicado toma ciência do ato. (periodicamente).
O ato administrativo que suprime A redução de vencimentos sofrida por
vantagem de servidor é ato único e de servidores denota prestação de trato
efeitos permanentes, iniciando-se o prazo sucessivo, em que o prazo decadencial
decadencial para MS no dia em que ele renova-se mês a mês.
tem ciência da supressão.
(...) 2. A Terceira Seção deste Superior (...) Esta Corte vem definindo que quando
Tribunal de Justiça firmou entendimento houver redução, e não supressão do valor
no sentido de que a supressão de de vantagem, fica configurada a prestação
vantagem pecuniária devida a servidor de trato sucessivo, que se renova mês a
público caracteriza-se como ato comissivo, mês, pois não equivale à negação do
único e de efeitos permanentes, não próprio fundo de direito, não havendo que
havendo, pois, que se falar em prestações se falar, portanto, em decadência do
de trato sucessivo. mandado de segurança. (...)
(AgRg no Ag 909.400/PA, Rel. Min. Maria (AgRg no REsp 1110192/CE, Rel. Min. Celso
Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, Limongi (Des. Conv. do TJ/SP), Sexta
julgado em 15/04/2010) Turma, julgado em 04/05/2010)

Em síntese:
• Redução de vantagem: prestação de TRATO SUCESSIVO (prazo para o MS se renova).
• Supressão de vantagem: ato ÚNICO (prazo para o MS não se renova).

Essa distinção já foi exigida em concurso público. Veja:


(Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder
público, de gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato comissivo,
de efeitos permanentes, e não de trato sucessivo, razão pela qual a impetração de
mandado de segurança para impugnar o ato deve ocorrer no prazo de cento e vinte dias
contados da sua edição. ( )

A assertiva acima está correta.

No caso de a Administração Pública ter reajustado a pensão de uma pessoa em valor inferior
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ao que seria devido, como é contado o prazo para que a interessada impetre um MS?
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O prazo renova-se mês a mês. Segundo entende o STJ, esta hipótese consiste em uma
conduta omissiva ilegal da Administração, que envolve obrigação de trato sucessivo. Logo, o

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prazo decadencial estabelecido pela Lei do Mandado de Segurança se renova de forma
continuada mês a mês.
Aplica-se a mesma regra que vimos acima para os casos de ato da Administração que reduz
vantagem. Veja o quadro como fica:

Ato que SUPRIME Ato que reajusta benefício


Ato que REDUZ vantagem
vantagem em valor inferior ao devido
Ato único. Prestação de trato Prestação de trato
sucessivo. sucessivo.
O prazo para o MS é O prazo para o MS renova- O prazo para o MS renova-
contado da data em que o se mês a mês se mês a mês
prejudicado toma ciência (periodicamente). (periodicamente).
do ato.

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 243.070-CE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.

ACP proposta pelo MP e defesa da saúde

O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que o
Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca, como
medida de proteção e defesa da saúde.
O direito à vida e à saúde caracterizam-se como direitos individuais indisponíveis.
O MP possui legitimidade para propor ACP na defesa de direitos individuais indisponíveis.
Comentários O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que o
Poder Público forneça cesta de alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca, como
medida de proteção e defesa da saúde.
Doença celíaca, em palavras simples, é a intolerância ao glúten, proteína que está presente
em uma grande quantidade de alimentos, como o trigo, a aveia, o centeio etc.
O fornecimento desta cesta de alimentos tem por finalidade resguardar o direito à vida e à
saúde dessas pessoas, interesses que se caracterizam como direitos individuais
indisponíveis.
Segundo a jurisprudência, o MP possui legitimidade até mesmo para propor ACP na defesa
de uma única pessoa, desde que se trate de direito indisponível (ex: fornecimento de
medicamento ou tratamento de saúde). Nesse sentido: STJ REsp 830.904-MG; STF RE
407.902/RS.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 91.114-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013.
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DIREITO PENAL

Lei de Drogas

É inaplicável a causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n.


11.343/2006 (traficante privilegiado) na hipótese em que o réu tenha sido condenado, na
mesma ocasião, por tráfico (art. 33) e pela associação para o tráfico (art. 35).
Ora, a causa de diminuição prevista no § 4º do art. 33 pressupõe que o agente não se dedique
às atividades criminosas. Se o réu foi condenado por associação para o tráfico é porque ficou
reconhecido que ele se associou com outras pessoas para praticar crimes, tendo, portanto, seu
comportamento voltado à prática de atividades criminosas.
Comentários Traficante privilegiado
A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também
chamada de “traficância menor”, “traficância eventual” ou “traficante de primeira viagem”:
Art. 33 (...)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas
de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa.

Natureza jurídica: causa de diminuição de pena.

Redução: de 1/6 a 2/3


O magistrado tem plena autonomia para aplicar a redução no quantum que reputar
adequado de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Vale ressaltar, no entanto,
que essa fixação deve ser suficientemente fundamentada e não pode utilizar os mesmos
argumentos adotados em outras fases da dosimetria da pena (STF HC 108387, 06.03.12).

Vedação à conversão em penas restritivas de direitos:


O STF já declarou, de forma incidental, a inconstitucionalidade da expressão “vedada a
conversão em penas restritivas de direitos”, constante deste § 4º do art. 33, de modo que é
possível, segundo avaliação do caso concreto, a concessão da substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos, desde que cumpridos os requisitos do art. 44 do CP.

Requisitos:
Para que tenha direito à causa de diminuição, o agente (réu) deverá:
a) Ser primário
b) Possuir bons antecedentes
c) Não se dedicar às atividades criminosas;
d) Não integrar organização criminosa.

Requisitos cumulativos: os requisitos acima são cumulativos, ou seja, se um deles não


estiver presente, não poderá ser aplicada a causa de diminuição ao réu.

O juiz pode negar a aplicação desta causa de diminuição usando como único argumento o
fato de que o réu cometeu o crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006)?
NÃO. O magistrado não pode afirmar que o réu se dedica a atividades criminosas usando
como argumento para provar isso o simples fato de ter cometido o crime de tráfico de
33

drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006). Ora, se isso fosse possível, ninguém poderia ser
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beneficiado pelo § 4º, considerando que sempre o juiz poderia alegar que ele estava
envolvido com tráfico de drogas. Dessa forma, é necessário que o julgador possua outros

INFORMATIVO esquematizado
elementos que provem que aquele réu se dedica a atividades criminosas (STJ. 5ª Turma. HC
253.732-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/12/2012).

O juiz pode negar a aplicação desta causa de diminuição usando como argumento o fato do
réu, além do delito de tráfico (art. 33), ter praticado também o crime de associação para o
tráfico (art. 35 da Lei n. 11.343/2006)?
SIM. É inaplicável a causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei
n. 11.343/2006 na hipótese em que o réu tenha sido condenado, na mesma ocasião, por
tráfico e pela associação de que trata o art. 35 do mesmo diploma legal.

A aplicação da referida causa de diminuição de pena pressupõe que o agente não se


dedique às atividades criminosas. Desse modo, verifica-se que a redução é logicamente
incompatível com a habitualidade e permanência exigidas para a configuração do delito de
associação (art. 35), cujo reconhecimento evidencia a conduta do agente voltada para o
crime e envolvimento permanente com o tráfico.
Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.199.671-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/2/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Posse de chip de celular configura falta grave na execução penal
A posse de chip de telefone celular pelo preso, dentro de estabelecimento prisional, configura
falta disciplinar de natureza grave, ainda que ele não esteja portanto o aparelho.
Concurso Para o STJ e o STF, configura falta grave não apenas a posse de aparelho celular, mas também a
MP de seus componentes essenciais, como é o caso do carregador, do chip ou da placa eletrônica,
considerados indispensáveis ao funcionamento do aparelho.
Comentários A Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) prevê que, se o apenado for encontrado na
unidade prisional, com telefone celular, ele comete falta disciplinar considerada grave:
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Repare que, a redação literal do inciso VII fala em “aparelho telefônico, de rádio ou similar”.
Diante disso, indaga-se: se o condenado for encontrado portando apenas o chip do telefone
celular, ele cometerá falta grave?
SIM. Configura falta grave não apenas a posse de aparelho celular, mas também a de seus
componentes essenciais, como é o caso do carregador, do chip ou da placa eletrônica,
considerados indispensáveis ao funcionamento do aparelho.

Este é o entendimento pacífico do STJ e também do STF.

Argumenta-se que o objetivo da previsão do inciso VII é o de evitar a comunicação entre


presos e seus comparsas que estão no ambiente externo, evitando-se, assim, a deletéria
conservação da atividade criminosa que, muitas vezes, conduziu-os ao aprisionamento.
Portanto, há de se ter por configurada falta grave também pela posse de qualquer outra
parte integrante do aparelho celular. Conclusão diversa permitiria o fracionamento do
aparelho entre cúmplices apenas com o propósito de afastar a aplicação da lei e de escapar
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das sanções nela previstas (Min. Marco Aurélio Bellizze).


Processo STJ. 5ª Turma. HC 260.122-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/3/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR
(obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem a matéria)

Conduta do militar que insere dados falsos em sistema de informações não é crime militar

Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar policial militar acusado de alterar dados
corretos em sistemas informatizados e bancos de dados da Administração Pública com o fim de
obter vantagem indevida para si e para outrem (art. 313-A do CP).
A competência da Justiça Militar não é firmada pela condição pessoal do infrator, mas decorre
da natureza militar da infração. No caso, a ação delituosa não encontra figura correlata no
Código Penal Militar e, apesar de ter sido praticada por militar, não se enquadra em nenhuma
das hipóteses previstas no art. 9º do CPM.
Comentários Imagine a seguinte situação:
“João”, sargento da polícia militar, ingressou no Batalhão, acessou o computador da sala do
pelotão e alterou um documento que seria remetido ao Departamento de Trânsito. A
alteração consistiu em excluir multas relacionadas com determinado veículo pertencente a
seu amigo.

Qual foi o crime praticado, em tese, por “João”?


O delito do art. 313-A do CP:
Inserção de dados falsos em sistema de informações
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados
da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou
para causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

De quem é a competência para julgar este fato?


Justiça estadual.

Para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de
competência da Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas
no art. 9º do CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei
penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação
ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração
militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar,
ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da
reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil;
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e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a


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administração militar, ou a ordem administrativa militar;

INFORMATIVO esquematizado
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como
os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa
militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou
assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício
de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,
exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da
ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim,
ou em obediência a determinação legal superior.

A conduta de inserir dados falsos em sistema de informação, prevista no art. 313-A do CP,
não encontra figura correlata no Código Penal Militar.

Assim, apesar do crime ter sido praticado por militar (policial militar), o caso não se
enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no art. 9º do CPM.

A competência da Justiça Militar não é firmada pela condição pessoal do infrator, mas
decorre da natureza militar da infração. Logo, não se verificando crime militar por ausência
de enquadramento nas hipóteses do art. 9º do CPM, não há que se falar em competência
da Justiça Militar.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 109.842-SP, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE),
julgado em 13/3/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Pena de perdimento pode ser aplicada a veículos sujeitos à leasing

É possível a aplicação da pena de perdimento de veículo objeto de contrato de arrendamento


mercantil com cláusula de aquisição ao seu término utilizado pelo arrendatário para
transporte de mercadorias objeto de descaminho ou contrabando.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Bruno fez um contrato de leasing com o Banco para locação com opção de compra de um
veículo. Como ocorre nos casos de leasing financeiro, o arrendador cede ao arrendatário o
bem, devendo este pagar um valor a título de aluguel e possuindo o direito de, ao final,
comprar o bem alugado.
De qualquer modo, no leasing (arrendamento mercantil), a posse direta do bem fica com o
arrendatário.
De posse do carro, Bruno foi até o Paraguai e lá comprou inúmeros cigarros importados
(sem registro na ANVISA) para revender no Brasil. Quando estava atravessando a fronteira,
foi parado pela Polícia Federal e preso em flagrante.

Qual foi o crime cometido por Bruno?


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Contrabando, delito previsto na 1ª parte do art. 334 do CP (“Art. 334 Importar ou exportar
mercadoria proibida”).
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INFORMATIVO esquematizado
De quem é a competência para julgar a infração?
Justiça Federal, pois ofende interesse da União (art. 109, IV, da CF/88).

O que acontece com o veículo utilizado pelo agente para o transporte dos cigarros?
A Receita Federal deverá decretar o seu perdimento em favor da União, conforme
determinam os arts. 96 e 104 do Decreto-lei 37/66 e dos arts. 617, V c/c 603 do
Regulamento aduaneiro (Decreto 4.543/2002).

Como o contrato de leasing ainda não havia chegado ao fim, o veículo ainda pertencia à
arrendadora (Banco). Mesmo assim haverá o perdimento do bem?
SIM. Segundo decidiu o STJ, é possível a aplicação da pena de perdimento de veículo objeto
de contrato de arrendamento mercantil com cláusula de aquisição ao seu término utilizado
pelo arrendatário para transporte de mercadorias objeto de descaminho ou contrabando.

Realmente, a propriedade do veículo objeto de arrendamento mercantil é da instituição


bancária arrendadora. No entanto, mesmo assim haverá a pena de perdimento, na medida
em que o arrendador (Banco) poderá cobrar do arrendatário o valor do veículo que foi
perdido. Logo, o arrendador não ficará no prejuízo por causa do perdimento.

Admitir que o automóvel objeto de leasing não possa ser alvo da pena de perdimento seria
conferir um salvo-conduto para que ilícitos fiscais fossem praticados com tais veículos, pois
ao arrendatário nunca seria aplicada a pena em questão.
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.268.210–PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/2/2013.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Competência para ação de pensão por morte no qual haverá reconhecimento de união estável

Compete à JUSTIÇA FEDERAL processar e julgar demanda proposta em face do INSS com o
objetivo de ver reconhecido exclusivamente o direito da autora de receber pensão decorrente
da morte do alegado companheiro, ainda que seja necessário enfrentar questão prejudicial
referente à existência, ou não, da união estável.
Comentários Vide explicações na seção de Direito Processual Civil.
Processo STJ. 1ª Seção. CC 126.489-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/4/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz Federal TRF5 2011 – CESPE) O uso de marca de alto renome confere proteção ao seu titular em
todos os ramos de atividade, independentemente de registro prévio no INPI. ( )
2) (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) Marca de alto renome é aquela que somente ganha proteção em seu
próprio ramo e atividade, ou seja, sua proteção ocorre somente em relação aos produtos ou serviços
idênticos ou similares, independentemente de ser previamente depositada ou registrada no Brasil. ( )
3) (Promotor MP/SP 2012) Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente,
poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e
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pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial e
prisão civil temporária do réu. ( )
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4) (MPF 2011) O lesado indireto, na indenização por morte de outrem, quando age contra o responsável,
procede em nome da vítima. ( )

INFORMATIVO esquematizado
5) (PGE/SP 2012) Herdeiro não pode pleitear perdas e danos por violação de direito da personalidade de
pessoa morta, por se tratar de direito personalíssimo, intransmissível e que se extingue com a morte. ( )
6) (Promotor MP/MS 2013) A posse de componentes de aparelho celular não caracteriza falta grave, uma
vez que a Lei de Execução Penal somente prevê como típica a conduta de portar aparelho telefônico,
de rádio ou similar, não havendo a possibilidade de ser equiparada a posse de componentes de
aparelho celular com o próprio aparelho. ( )

Gabarito
1. E 2. E 3. E 4. E 5. E 6. E

Obs: para aqueles que prestam concursos onde é cobrado Direito Educacional (ex: Procuradores Federais),
importante ler o julgado REsp 1.335.953-RS, transcrito abaixo.

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INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA
(OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS
Amigos do Dizer o Direito,
Desde o início dos INFORMATIVOS Esquematizados, selecionamos para comentar apenas os julgados que
são relevantes para fins de concurso público, ou seja, aqueles que podem ser cobrados nas provas.
Deixamos de lado as decisões proferidas com base em peculiaridades muito específicas do caso concreto ou,
então, que trataram sobre temas que dificilmente serão exigidos nos concursos.
Sempre fizemos isso para facilitar o estudo dos leitores, evitando que vocês percam tempo. No entanto,
algumas pessoas nos escrevem relatando que ficam angustiadas por estarem deixando de ler todos os
julgados noticiados nos Informativos. Por essa razão, decidimos transcrever aqui os acórdãos que não
foram comentados para que as pessoas que quiserem possam lê-los sem ter que imprimir o Informativo
original, além do esquematizado.
Vale ressaltar que continuamos achando recomendável estudar apenas os julgados que foram acima
comentados.
Alguns de vocês nos indagam: pode ser que, em uma prova, seja cobrado um julgado que não foi comentado?
Sim, com certeza isso poderá ocorrer. No entanto, vale a pena ler o informativo inteiro por conta disso?
Entendemos que não porque a probabilidade de isso acontecer é muito pequena, não compensando o
custo/benefício desse tempo perdido. É o mesmo caso da pessoa que estuda por dois ou três livros sobre a
mesma disciplina. Gasta-se muito tempo e o retorno, em termos de concurso, é muito pequeno.
De qualquer modo, como o objetivo é sempre ajudar vocês, vamos transcrever aqui embaixo todos os
julgados que não foram comentados para aqueles que quiserem ler. Os que preferirem estudar apenas os
julgados comentados podem imprimir o Informativo até a página dos exercícios, evitando, assim, gastar
com páginas impressas que não serão lidas.
Bons estudos a todos e que venham as aprovações!

DIREITO ADMINISTRATIVO. REGRAS DE PROGRESSÃO NA CARREIRA DA EDUCAÇÃO BÁSICA, TÉCNICA E


TECNOLÓGICA.
Até o advento do Decreto n. 7.806/2012, que regulamenta o art. 120 da Lei n. 11.784/2008, era possível a
docente da Carreira da Educação Básica, Técnica e Tecnológica progredir por titulação sem observância
de interstício temporal.
Conforme o art. 120 da Lei n. 11.784/2008, “o desenvolvimento na Carreira de Magistério do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico dos servidores que integram os Quadros de Pessoal das Instituições Federais de
Ensino, subordinadas ou vinculadas ao Ministério da Educação, ocorrerá mediante progressão funcional,
exclusivamente, por titulação e desempenho acadêmico, nos termos do regulamento”. Ainda, conforme o §
1º do referido artigo, a progressão funcional será feita após o cumprimento, pelo professor, do interstício
de dezoito meses de efetivo exercício no nível respectivo. Ocorre que o § 5º do aludido dispositivo legal
prevê que, até que seja publicado o regulamento previsto no caput para fins de progressão funcional e
desenvolvimento na respectiva carreira, devem ser aplicadas as regras estabelecidas nos arts. 13 e 14 da
Lei n. 11.344/2006, nas quais há previsão de progressão por titulação sem cumprimento de interstício
temporal.
Assim, o entendimento do STJ é que a progressão dos docentes da carreira do magistério básico, técnico e
tecnológico federal, até a publicação do Decreto n. 7.806/2012, é regida pelas disposições da Lei n.
11.344/2006, com duas possibilidades: por interstício, com avaliação de desempenho; e por titulação, sem
observância do interstício.
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REsp 1.335.953-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 7/2/2013.


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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL. LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO DE NULIDADE DE NEGÓCIO
JURÍDICO EFETIVADO PELA SOCIEDADE EMPRESARIAL FALIDA.
O ajuizamento de típica ação revocatória pelo síndico no âmbito de procedimento falencial regido pelo
Decreto-Lei n. 7.661/1945 não retira a legitimidade de qualquer credor habilitado para a propositura de
ação com pedido de reconhecimento de nulidade de negócio jurídico envolvendo bem de sociedade
empresarial falida. Cuidando-se de ações distintas, não é aplicável à ação de nulidade o regramento da
ação revocatória estabelecido pelo art. 55 do Decreto-Lei n. 7.661/1945, cujo teor confere legitimidade
apenas subsidiária aos credores em relação ao síndico da massa. Desse modo, qualquer credor, por força
do disposto art. 30, II, do Decreto-Lei n. 7.661/1945, é, em princípio, parte legítima para a propositura da
ação anulatória. REsp 1.353.864-GO, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO EMPRESARIAL. INAPLICABILIDADE DO PRAZO PREVISTO NO ART. 56, § 1º, DO DECRETO-LEI N.


7.661/1945 À AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO REALIZADO POR SOCIEDADE EMPRESARIAL FALIDA.
O direito de credor habilitado da massa falida de anular, mediante ação anulatória, negócio jurídico
realizado pela sociedade empresarial falida não está sujeito ao prazo decadencial de um ano.
Efetivamente, a referida ação não se confunde com a típica ação revocatória, de modo que não lhe é
aplicável o prazo previsto no art. 56, § 1º, do Decreto-Lei n. 7.661/1945. REsp 1.353.864-GO, Rel. Min.
Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL. PRAZO PRESCRICIONAL. RECONHECIMENTO DE NULIDADE ABSOLUTA DE NEGÓCIO JURÍDICO.


Não se sujeita ao prazo prescricional de quatro anos a pretensão de anular dação em pagamento de bem
imóvel pertencente ao ativo permanente da empresa sob a alegação de suposta falta de apresentação de
certidões negativas tributárias. Com efeito, trata-se de hipótese de pretensão de reconhecimento de
nulidade absoluta por ausência de cumprimento dos requisitos previstos em lei. Desta feita, como os atos
nulos não prescrevem, a sua nulidade pode ser declarada a qualquer tempo. Não tem aplicação, portanto,
o art. 178, § 9º, V, “b”, do CC/1916, cuja redação previa o prazo de quatro anos para o ajuizamento das
ações de nulidade relativa, ou anulabilidade pelos vícios de consentimento e incapacidade relativa. REsp
1.353.864-GO, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL. NECESSIDADE DE RESSARCIMENTO NO CASO DE INVIABILIDADE DE RETORNO À SITUAÇÃO


ANTERIOR À NULIDADE DECLARADA.
O credor, no caso em que tenha recebido em dação em pagamento imóvel de sociedade empresarial
posteriormente declarada falida, poderá ser condenado a ressarcir a massa pelo valor do objeto do
negócio jurídico, se este vier a ser declarado nulo e for inviável o retorno à situação fática anterior,
diante da transferência do imóvel a terceiro de boa-fé. Incide, na situação descrita, o disposto no art. 182
do CC/2002, de acordo com o qual, anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que
antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. Trata-se, a
propósito, de dispositivo legal que, quanto aos seus efeitos práticos, também tem aplicabilidade nos casos
de nulidade absoluta, não tendo incidência restrita às hipóteses de nulidade relativa. Ademais, deve-se
preservar a boa-fé de terceiros que sequer participaram do negócio jurídico viciado. REsp 1.353.864-GO,
Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 7/3/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RESTABELECIMENTO DE HIPOTECA EM RAZÃO DE DECISÃO JUDICIAL QUE


DECLARE A INEFICÁCIA DE NEGÓCIO JURÍDICO QUE MOTIVARA SEU ANTERIOR CANCELAMENTO.
Restabelece-se a hipoteca, anteriormente cancelada em razão da aquisição do imóvel pela própria
credora hipotecária, no caso em que sobrevenha decisão judicial que, constatando a ocorrência de
fraude à execução, reconheça a ineficácia da referida alienação em relação ao exequente. Declarada a
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ineficácia do negócio jurídico, retornam os envolvidos ao estado anterior. Nesse contexto, volta o bem a
integrar o patrimônio do executado, restando ineficaz também a baixa da garantia hipotecária, que poderá
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ser oposta em face de outros credores. REsp 1.253.638-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 26/2/2013.

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 518 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.243.646-PR; REsp 1.249.321-RS; CC 121.702-
RJ; AgRg no AREsp 48.935-RS; AgRg no REsp 1.227.611-RS; AgRg no REsp 1.194.485-ES; REsp 1.202.918-SP;
AgRg no AREsp 122.928-RS.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Requisitos do cargo

No caso em que lei estadual que regule a carreira de professor estabeleça, como requisito para
a admissão no cargo, apenas a apresentação de diploma em ensino superior, não é possível que
o edital do respectivo concurso exija do candidato diploma de pós-graduação.
Comentários O art. 37, I, da CF/88 estabelece o seguinte:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;

O mencionado art. 37, I, exige que os requisitos de acesso a cargos, empregos e funções
sejam previstos em lei. Assim, as exigências contidas no edital do concurso público devem
ter previsão na lei. Em outras palavras, o edital não pode fixar exigências que não tenham
amparo legal.

Veja agora o caso decidido pelo STJ:


Determinado Estado realizou concurso público para selecionar professores.
O edital do certame exigiu que o candidato tivesse pós-graduação.
Ocorre que a Lei estadual que rege a carreira de professor não impõe esta condição,
exigindo apenas que o professor tenha diploma em ensino superior.
Diante disso, um candidato impetrou mandado de segurança, tendo a questão chegado ao
STJ por meio de recurso ordinário constitucional.
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O que foi decidido?
O STJ reconheceu que é ILEGAL a exigência estabelecida no edital do concurso, pois impõe o
preenchimento de requisito que não encontra fundamento na legislação de regência.
No caso em que lei estadual que regule a carreira de professor estabeleça, como requisito
para a admissão no cargo, apenas a apresentação de diploma em ensino superior, não é
possível que o edital do respectivo concurso exija do candidato diploma de pós-graduação.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 33.478-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013.

Acumulação de cargos

Caso exista compatibilidade de horários, é possível a acumulação do cargo de médico militar


com o de professor de instituição pública de ensino.
Comentários É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público?

Em regra: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos.

Exceções: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI.
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;

Diante disso, indaga-se: a pessoa pode acumular o cargo de médico militar com o de
professor de uma instituição pública de ensino?
SIM. Caso exista compatibilidade de horários, é possível a acumulação do cargo de médico
militar com o de professor de instituição pública de ensino.

O fato do profissional de saúde integrar os quadros de instituição militar não configura, por
si só, impedimento à acumulação de cargos. No entanto, esta acumulação somente será
possível nas hipóteses previstas no art. 37, XVI, da CF, entre as quais se encontra a
autorização de acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou científico.

Desse modo, deve-se considerar lícito, caso haja compatibilidade de horários, o acúmulo
remunerado de um cargo de médico e outro de professor. Isso porque o cargo de médico
possui natureza científica e sua ocupação pressupõe formação em área especializada do
conhecimento, dotada de método próprio, de modo a caracterizar um cargo "técnico ou
científico", na forma em que disposto na alínea “b” do inciso XVI do art. 37 da CF.

Ademais, não parece razoável admitir a acumulação de um cargo de professor com outro
técnico ou científico por um lado e, por outro, eliminar desse universo o cargo de médico,
cuja natureza científica é indiscutível.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 39.157-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Contrato de trabalho temporário declarado nulo e inaplicabilidade do art. 19-A da Lei 8.036/90

Não é devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de trabalho
temporário efetuado com a Administração Pública sob o regime de "contratação excepcional"
Concursos
tenha sido declarado nulo em razão da falta de realização de concurso público.
PGE/PGM Em suma, não se aplica o art. 19-A da Lei n. 8.036/90 aos servidores contratados
temporariamente sob o regime do art. 37, IX, da CF/88.
Entendendo O art. 37, II, da CF/88 estabelece que, para a pessoa assumir um cargo ou emprego na
o art. 19-A administração pública, ela precisa, antes, ser aprovada em concurso público:
da Lei n. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
8.036/90 Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso
público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do
cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;

Caso uma pessoa assuma cargo ou emprego público sem concurso público (fora das
hipóteses de nomeação para cargo em comissão), qual será a consequência?
O § 2º do art. 37 determina que:
o ato de investidura seja declarado nulo; e
a autoridade responsável pelo ato seja punida, nos termos da lei (ex: improbidade).

João foi contratado, sem concurso, para trabalhar em uma autarquia pública estadual
(emprego público). Quando mudou a direção dessa autarquia, o novo diretor declarou que
esse contrato de trabalho era nulo e dispensou o funcionário.

João procurou a Justiça do Trabalho e ajuizou reclamação trabalhista contra essa autarquia
pedindo sua reintegração ao emprego ou, subsidiariamente, o pagamento das verbas
trabalhistas que teria direito.

João poderá ser reintegrado ao emprego público?


NÃO, considerando que o contrato de trabalho que tinha com a autarquia era nulo, por
violação ao art. 37, II, da CF/88.

João terá direito de receber quais verbas trabalhistas?


Verba Fundamento
a) O saldo de salário pelo número de horas Princípio que veda o enriquecimento
trabalhadas. sem causa do Poder Público.
Como João trabalhou, tem direito de
ser ressarcido por isso.
b) Os valores referentes aos depósitos do FGTS. Art. 19-A da Lei n. 8.036/90.

Obs: João não terá direito de receber as demais verbas trabalhistas como 13º salário, férias
acrescidas de 1/3, FGTS acrescido de 40%, adicionais legais etc.
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INFORMATIVO esquematizado
O TST adota esse entendimento?
SIM, está expresso na súmula 363:
Contratação de Servidor Público sem Concurso - Efeitos e Direitos
A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso
público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao
pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas,
respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS.

Vejamos o que diz o art. 19-A da Lei n. 8.036/90:


Art. 19-A. É devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de
trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2º, da Constituição
Federal, quando mantido o direito ao salário. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.164-41,
de 2001)

Discussão sobre a constitucionalidade desse art. 19-A:


Diversos Estados-membros queriam que o STF reconhecesse que esse art. 19-A da Lei n.
8.036/90 seria inconstitucional por violar o art. 37, II e § 2º da CF/88.
Esses Estados afirmavam que, se a CF/88 determinou que o ato de contratar sem concurso
seria nulo, não poderia a lei prever a produção de efeitos, como o pagamento do FGTS.

O STF acatou essa tese? O art. 19-A é inconstitucional?


NÃO. O STF, por maioria, entendeu que o art. 19-A da Lei n. 8.036/90 não afronta a CF/88.
Segundo o STF, mesmo sendo declarada a nulidade, nos termos do § 2º do art. 37 da CF,
este fato jurídico existiu e produziu efeitos residuais.
O STF tem levado em consideração a necessidade de se garantir a fatos nulos, mas
existentes juridicamente, os seus efeitos.
Não é possível aplicar, neste caso, a teoria civilista das nulidades, de modo a retroagir todos
os efeitos desconstitutivos dessa relação.
Se houver irregularidade na contratação de servidor sem concurso público, o responsável,
comprovado dolo ou culpa, deve responder regressivamente, nos termos do art. 37 da CF,
de forma que não haja prejuízo para os cofres públicos.
STF. Plenário. RE 596478/RR, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 13.6.2012.
O que foi O art. 19-A da Lei n. 8.036/90 deve ser aplicado também nas hipóteses em que a pessoa foi
decidido contratada temporariamente, nos termos do art. 37, IX da CF/88?
pelo STJ NÃO. Segundo o STJ, não é devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador
cujo contrato de trabalho temporário efetuado com a Administração Pública sob o regime
de "contratação excepcional" tenha sido declarado nulo em razão da falta de realização de
concurso público.

O art. 19-A da Lei n. 8.036/90 assegura o depósito do FGTS na conta vinculada apenas ao
trabalhador que teve o contrato de trabalho declarado nulo por não haver ingressado no
emprego por aprovação em concurso público. Assim, a obtenção do benefício pressupõe a
existência de relação celetista entre o ente público e o trabalhador.

No caso do servidor temporário contratado na forma do art. 37, IX, da CF/88, o regime
jurídico a ele aplicável NÃO É o celetista, mas sim o regime jurídico-administrativo.

Os servidores temporários contratados sob o regime do art. 37, IX, não estão vinculados a
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um cargo ou emprego público, exercendo apenas uma função administrativa.


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INFORMATIVO esquematizado
O vínculo jurídico entre o servidor contratado temporariamente (art. 37, IX) e o Poder
Público é um vínculo de cunho administrativo.

A lei municipal ou estadual que regulamente o art. 37, IX não pode estabelecer que o
regime a ser aplicado seja o da CLT.

A Justiça competente para julgar qualquer direito relacionado à contratação do servidor nos
casos do art. 37, IX, é sempre a Justiça comum, não importando que a lei estadual ou
municipal estabeleça o regime da CLT, uma vez que o fez de forma indevida.

Logo, resta claro que o servidor contratado sob a forma do art. 37, IX, da CF/88 não se
enquadra na descrição do art. 19-A da Lei n. 8.036/1990, sendo esta lei aplicável aos casos
de pessoas contratadas para ocuparem empregos públicos, de caráter permanente, sem o
necessário concurso público. Constatando-se esta situação, tais contratações são anuladas e
a pessoa tem direito ao depósito do FGTS.

O servidor admitido sob o regime de contrato temporário (art. 37, IX, da CF/88), repita-se,
não se submete a esse regramento.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 45.467-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 5/3/2013.

Improbidade administrativa – 1

De acordo com a orientação jurisprudencial do STJ, existindo meros indícios de cometimento


de atos enquadrados como improbidade administrativa, a petição inicial da ação de
improbidade deve ser recebida pelo juiz, pois, na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e 9º,
da Lei n. 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior
resguardo do interesse público.
No caso concreto, o STJ entendeu que deveria ser recebida a petição inicial de ação de
improbidade no caso em que determinado prefeito, no contexto de campanha de estímulo ao
pagamento do IPTU, fizera constar seu nome, juntamente com informações que colocavam o
município entre outros que detinham bons índices de qualidade de vida, tanto na contracapa
do carnê de pagamento do tributo quanto em outros meios de comunicação.
Comentários A improbidade administrativa é regida pela Lei n. 8.429/92.

Propositura da ação
A ação de improbidade deve ser proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
interessada (art. 17).

Petição inicial
A petição inicial na ação por ato de improbidade administrativa, além dos requisitos do art.
282 do CPC, deve ser instruída com documentos ou justificação que contenham indícios
suficientes da existência do ato de improbidade. Assim, diz-se que a ação de improbidade
administrativa, além das condições genéricas da ação, exige ainda a presença da justa causa
(STJ. 1ª Turma. REsp 952.351-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
4/10/2012).

Defesa prévia (ou defesa preliminar)


Estando a petição inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação
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do requerido, para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída com
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documentos e justificações, dentro do prazo de 15 dias (§ 7º do art. 17). Essa manifestação


por escrito é chamada por alguns de “defesa prévia” ou “defesa preliminar”.

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Juízo de delibação
Recebida a manifestação por escrito (“defesa prévia” ou “defesa preliminar”), o juiz, no
prazo de 30 dias, em decisão fundamentada, fará um juízo preliminar (juízo de delibação)
sobre o que foi alegado na petição inicial e na defesa e poderá adotar uma das seguintes
providências:
a) Rejeitar a ação, se convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência
da ação ou da inadequação da via eleita.
b) Receber a petição inicial, determinando a citação do réu para apresentar contestação.

Vejamos agora o caso julgado pelo STJ


A situação era a seguinte (segundo narrado no informativo):
O prefeito de determinada cidade, em uma campanha para incentivar a população a pagar
o IPTU, fez constar, no carnê de pagamento e em peças publicitárias, a informação de que o
município possuía bons índices de qualidade de vida. Ao final desta mensagem havia ainda
seu nome.
O Ministério Público entendeu que houve ato de improbidade por parte do prefeito e
ajuizou a ação.
O magistrado, no juízo de delibação, entendeu que havia indícios de improbidade
administrativa, razão pela qual recebeu a petição inicial e determinou a citação do réu para
apresentar contestação (§ 9º do art. 17, da LIA). Repare que somente após a defesa prévia e
o recebimento da inicial é que haverá a contestação.

Inconformado com a decisão do magistrado, o prefeito decidiu recorrer. Qual é o recurso


cabível nesse caso?
Agravo de instrumento, nos termos do § 10 do art. 17, da LIA.

Apenas um parêntese: se o juiz tivesse rejeitado a ação de improbidade, qual seria o recurso
que o MP deveria interpor?
Apelação.

Fechando o parêntese. Qual foi a decisão do TJ no agravo de instrumento interposto pelo


prefeito?
O TJ decidiu dar provimento ao agravo, indeferindo a petição inicial. O colegiado reputou
que houve mera irregularidade por parte do prefeito, não chegando a ser considerado ato
de improbidade.

Contra esta decisão do TJ, o MP interpôs recurso especial ao STJ. O que decidiu o Tribunal da
Cidadania?
O STJ decidiu que o magistrado de 1ª instância agiu corretamente e que a ação de
improbidade deveria ser recebida.
De acordo com a orientação jurisprudencial do STJ, existindo meros indícios de
cometimento de atos enquadrados na Lei de Improbidade Administrativa, a petição inicial
deve ser recebida, fundamentadamente, pois, na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e
9º, da Lei n. 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior
resguardo do interesse público.
No caso em tela, o STJ entendeu que havia indícios de prática de ato de improbidade, tendo
em vista que a promoção pessoal em informes publicitários oficiais é conduta que pode ser
enquadrável nos ditames da Lei n. 8.429/92, não havendo, assim, que se falar na ausência
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de justa causa para o processamento da demanda.


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Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.317.127-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/3/2013.

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Improbidade administrativa – 2

A jurisprudência do STJ é no sentido de que a decretação da indisponibilidade e do sequestro


de bens em improbidade administrativa é possível antes do recebimento da ação.
Comentários Se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa, estará sujeita às sanções previstas
no § 4º do art. 37 da CF/88, quais sejam:
suspensão dos direitos políticos
perda da função pública
indisponibilidade dos bens e
ressarcimento ao erário.

A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no


caso da prática de atos de improbidade administrativa.

A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam
improbidade administrativa.

Art. 9º: atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do agente público
Art. 10: atos de improbidade que causam prejuízo ao erário
Art. 11: atos de improbidade que atentam contra princípios da administração pública

Para garantir que a pessoa que praticou ato de improbidade responda pelas sanções do § 4º
do art. 37, da CF, os arts. 7º e 16 da Lei n. 8.429/92 preveem a possibilidade de ser decretada
a indisponibilidade (art. 7º) e o sequestro (art. 16) dos seus bens. Veja o que diz a Lei:
Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar
enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito
representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens
que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial
resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao


Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a
decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente
ou causado dano ao patrimônio público.
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825
do Código de Processo Civil.
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens,
contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos
da lei e dos tratados internacionais.

A indisponibilidade de bens na improbidade administrativa consiste em medida de extrema


força estatal, conforme vocês poderão verificar mais abaixo.

Vejamos agora os 12 pontos mais importantes relacionados com o tema:


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1) Quem decreta essa indisponibilidade?
O juiz, a requerimento do Ministério Público.
A redação do art. 7º não é muito clara, mas o que a lei quer dizer é que a autoridade
administrativa irá comunicar a suposta prática de improbidade ao MP e este irá analisar as
informações recebidas e, com base em seu juízo, irá requerer (ou não) a indisponibilidade
dos bens do suspeito ao juiz, antes ou durante o curso da ação principal (ação de
improbidade). Em outras palavras, a indisponibilidade pode ser requerida como medida
preparatória ou incidental.
Quando o art. 7º fala em “inquérito”, está se referindo a inquérito administrativo, mas essa
representação pode ocorrer também no bojo de um processo administrativo ou de um
processo judicial.
Além disso, o MP poderá requerer a indisponibilidade, ainda que não tenha sido provocado
por nenhuma autoridade administrativa, desde que, por algum outro modo, tenha tido
notícia da suposta prática do ato de improbidade (ex: reportagem divulgada em jornal).
De qualquer forma, muito cuidado com a redação dos arts. 7º e 16 porque muitas vezes são
cobrados na prova a sua mera transcrição, devendo este item ser assinalado, então, como
correto.

2) Essa indisponibilidade pode ser decretada em qualquer hipótese de ato de


improbidade?

Redação dos arts. 7º e 16 da LIA Julgado do STJ e doutrina


NÃO. A indisponibilidade é decretada SIM. Não se pode conferir uma
apenas quando o ato de improbidade interpretação literal aos arts. 7º e 16 da
administrativa: LIA, até mesmo porque o art. 12, III, da Lei
a) causar lesão ao patrimônio público; ou n. 8.429/92 estabelece, entre as sanções
b) ensejar enriquecimento ilícito. para o ato de improbidade que viole os
princípios da administração pública, o
Assim, só cabe a indisponibilidade nas ressarcimento integral do dano - caso
hipóteses do arts. 9º e 10 da LIA. Não cabe exista -, e o pagamento de multa civil de
a indisponibilidade no caso de prática do até cem vezes o valor da remuneração
art. 11. percebida pelo agente. Logo, em que pese
o silêncio do art. 7º, uma interpretação
sistemática que leva em consideração o
poder geral de cautela do magistrado induz
a concluir que a medida cautelar de
indisponibilidade dos bens também pode
ser aplicada aos atos de improbidade
administrativa que impliquem violação dos
princípios da administração pública,
mormente para assegurar o integral
ressarcimento de eventual prejuízo ao
erário, se houver, e ainda a multa civil
prevista no art. 12, III, da Lei n. 8.429/92
(AgRg no REsp 1311013/RO, DJe
13/12/2012).
Na doutrina, esta é a posição de Emerson
Garcia e Rogério Pacheco Alves
(Improbidade Administrativa. Rio de
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Janeiro: Lumen Juris, 2011).


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3) A indisponibilidade pode ser decretada antes do recebimento da petição inicial da ação
de improbidade?
SIM. A jurisprudência do STJ é no sentido de que a decretação da indisponibilidade e do
sequestro de bens em improbidade administrativa é possível antes do recebimento da ação
(AgRg no REsp 1317653/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado
em 07/03/2013, DJe 13/03/2013).

4) Tendo sido instaurado procedimento administrativo para apurar a improbidade,


conforme permite o art. 14 da LIA, a indisponibilidade dos bens pode ser decretada antes
mesmo de encerrado esse procedimento?
SIM. É nesse sentido a jurisprudência do STJ.

5) Essa indisponibilidade dos bens pode ser decretada sem ouvir o réu?
SIM. É admissível a concessão de liminar inaudita altera pars para a decretação de
indisponibilidade e sequestro de bens, visando assegurar o resultado útil da tutela
jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário.
Desse modo, o STJ entende que, ante sua natureza acautelatória, a medida de
indisponibilidade de bens em ação de improbidade administrativa pode ser deferida nos
autos da ação principal sem audiência da parte adversa e, portanto, antes da notificação
para defesa prévia (art. 17, § 7º da LIA).

6) Para que seja decretada a indisponibilidade dos bens da pessoa suspeita de ter praticado
ato de improbidade exige-se a demonstração de fumus boni iuris e periculum in mora?
NÃO. Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido (implícito).
Assim, é desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam
dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de
fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade.
A medida cautelar de indisponibilidade de bens, prevista na LIA, consiste em uma tutela de
evidência, de forma que basta a comprovação da verossimilhança das alegações, pois, pela
própria natureza do bem protegido, o legislador dispensou o requisito do perigo da demora.

Conforme explica o Ministro Mauro Campbell Marques, em trechos de seu brilhante voto:
“as medidas cautelares, em regra, como tutelas emergenciais, exigem, para a sua
concessão, o cumprimento de dois requisitos: o fumus boni juris (plausibilidade do direito
alegado) e o periculum in mora (fundado receio de que a outra parte, antes do julgamento
da lide, cause ao seu direito lesão grave ou de difícil reparação). (...)
No entanto, no caso da medida cautelar de indisponibilidade, prevista no art. 7º da LIA, não
se vislumbra uma típica tutela de urgência, como descrito acima, mas sim uma tutela de
evidência, uma vez que o periculum in mora não é oriundo da intenção do agente dilapidar
seu patrimônio, e sim da gravidade dos fatos e do montante do prejuízo causado ao erário,
o que atinge toda a coletividade. O próprio legislador dispensa a demonstração do perigo
de dano, em vista da redação imperativa da Constituição Federal (art. 37, §4º) e da própria
Lei de Improbidade (art. 7º). (...)
O periculum in mora, em verdade, milita em favor da sociedade, representada pelo
requerente da medida de bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior já apontou pelo
entendimento segundo o qual, em casos de indisponibilidade patrimonial por imputação de
conduta ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao comando normativo do art.
7º da Lei n. 8.429/92. (...)
A Lei de Improbidade Administrativa, diante dos velozes tráfegos, ocultamento ou
9

dilapidação patrimoniais, possibilitados por instrumentos tecnológicos de comunicação de


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dados que tornaria irreversível o ressarcimento ao erário e devolução do produto do


enriquecimento ilícito por prática de ato ímprobo, buscou dar efetividade à norma,
INFORMATIVO esquematizado
afastando o requisito da demonstração do periculum in mora (art. 823 do CPC), este,
intrínseco a toda medida cautelar sumária (art.789 do CPC), admitindo que tal requisito seja
presumido à preambular garantia de recuperação do patrimônio do público, da
coletividade, bem assim do acréscimo patrimonial ilegalmente auferido (REsp 1319515/ES,
Rel. p/ Acórdão Min. Mauro Campbell Marques, 1ª Seção, julgado em 22/08/2012).

7) Então, pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja
se desfazendo de seus bens?
SIM. A indisponibilidade dos bens visa, justamente, a evitar que ocorra a dilapidação
patrimonial. Não é razoável aguardar atos concretos direcionados à sua diminuição ou
dissipação. Exigir a comprovação de que tal fato esteja ocorrendo ou prestes a ocorrer tornaria
difícil a efetivação da medida cautelar e, muitas vezes, inócua (Min. Herman Benjamin).
Vale ressaltar, no entanto, que a decretação da indisponibilidade de bens, apesar da
excepcionalidade legal expressa da desnecessidade da demonstração do risco de
dilapidação do patrimônio, não é uma medida de adoção automática, devendo ser
adequadamente fundamentada pelo magistrado, sob pena de nulidade (art. 93, IX, da
Constituição Federal), sobretudo por se tratar de constrição patrimonial (REsp 1319515/ES).

8) Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da
suposta prática do ato de improbidade?
SIM. A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes como depois da
prática do ato de improbidade (REsp 1204794/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma,
julgado em 16/05/2013).

9) A indisponibilidade pode recair sobre bem de família?


SIM. Segundo o STJ, o caráter de bem de família de imóvel não tem a força de obstar a
determinação de sua indisponibilidade nos autos de ação civil pública, pois tal medida não
implica em expropriação do bem (REsp 1204794/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda
Turma, julgado em 16/05/2013).

10) A indisponibilidade é decretada para assegurar apenas o ressarcimento dos valores ao


Erário ou também para custear o pagamento da multa civil?
Para custear os dois. A indisponibilidade de bens deve recair sobre o patrimônio do réu de
modo suficiente a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se
em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma (STJ. AgRg no
REsp 1311013 / RO).
Vale ressaltar que é assegurado ao réu provar que a indisponibilidade que recaiu sobre o seu
patrimônio foi muito drástica e que não está garantindo seu mínimo existencial.

11) É necessário que o Ministério Público (ou outro autor da ação de improbidade), ao
formular o pedido de indisponibilidade, faça a indicação individualizada dos bens do réu?
NÃO. A jurisprudência do STJ está consolidada no sentido de que é desnecessária a
individualização dos bens sobre os quais se pretende fazer recair a indisponibilidade prevista
no art. 7º, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92 (AgRg no REsp 1307137/BA, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 25/09/2012). A individualização somente é
necessária para a concessão do “sequestro de bens”, previsto no art. 16 da Lei n. 8.429/92.

12) A indisponibilidade de bens constitui uma sanção?


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NÃO. A indisponibilidade de bens não constitui propriamente uma sanção, mas medida de
garantia destinada a assegurar o ressarcimento ao erário (DPE/MA – CESPE – 2011).
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Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.317.653-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/3/2013.

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Código de Trânsito (permissão para dirigir)

A pessoa que foi aprovada nos exames do DETRAN para a condução de veículos recebe
inicialmente uma “permissão para dirigir”, com validade de 1 ano. Somente ao final deste
período ela irá receber a Carteira Nacional de Habilitação, desde que não tenha cometido
nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média (art.
148, § 3º, do CTB).
Segundo a jurisprudência do STJ, é possível conceder a carteira nacional de habilitação
definitiva a motorista que tenha cometido, durante o prazo anual de permissão provisória
para dirigir, infração administrativa de natureza grave, não na qualidade de condutor, mas na
de proprietário do veículo. Isso porque a interpretação teleológica do art. 148, § 3º, do CTB
conduz ao entendimento de que o legislador, ao vedar a concessão da Carteira de Habilitação
ao condutor que cometesse infração de trânsito de natureza grave, quis preservar os objetivos
básicos do Sistema Nacional de Trânsito, em especial a segurança e educação para o trânsito.
Desse modo, não é razoável impedir o autor de obter a habilitação definitiva em razão de falta
administrativa que nada tem a ver com a segurança do trânsito e nenhum risco impõe à coletividade.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (com adaptações em relação ao caso julgado):
Eduardo completou 18 anos e submeteu-se a todos os exames exigidos pelo DETRAN, sendo
devidamente aprovado.
Com isso, Eduardo recebeu uma “permissão para dirigir”, com validade de 1 ano.
Segundo o CTB, Eduardo somente receberá a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) após
este período de 1 ano e desde que ele não tenha cometido nenhuma infração de natureza
grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média (art. 148, § 3º).
Caso Eduardo pratique falta grave ou gravíssima ou então seja reincidente em infração
média, ele não receberá a CNH e terá que se submeter a um novo processo de habilitação,
com novos exames (art. 148, § 4º).

O que aconteceu com Eduardo foi o seguinte:


Durante o período em que estava apenas com a permissão para dirigir, Eduardo praticou a
infração administrativa prevista no art. 233 do CTB:
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo de trinta dias, junto ao órgão
executivo de trânsito, ocorridas as hipóteses previstas no art. 123:
Infração - grave;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo para regularização.

Logo, Eduardo praticou uma infração grave. Como ele ainda estava no período da permissão
de dirigir de 1 ano, a consequência prevista no CTB é que ele não tem direito de receber a
CNH e terá que se submeter a novo processo de habilitação (art. 148, § 4º).

Eduardo não se conformou com isso e contratou você, como advogado, para “dar um jeito
na situação”. O que poderá ser alegado em favor de Eduardo?

Você, como advogado, poderá alegar que, embora o art. 233 do CTB seja uma infração de
natureza grave, ela não serve como óbice à expedição da habilitação definitiva, já que se
trata de infração cometida na qualidade de proprietário do veículo, e não de condutor.
Assim, embora cometida falta grave durante a vigência da habilitação provisória, esta não
11

se refere à condição de condutor, sendo insuficiente a demonstrar que o infrator não tenha
aptidão para conduzir veículos.
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Segundo a jurisprudência do STJ (REsp 980851/RS), é possível a expedição de Carteira
Nacional de Habilitação definitiva a motorista que comete infração do art. 233 do CTB,
tipificada como grave.
A interpretação teleológica do art. 148, § 3º, do CTB conduz ao entendimento de que o
legislador, ao vedar a concessão da Carteira de Habilitação ao condutor que cometesse
infração de trânsito de natureza grave, quis preservar os objetivos básicos do Sistema
Nacional de Trânsito, em especial a segurança e educação para o trânsito, estabelecidos no
inciso I do art. 6º do CTB.
Desse modo, não é razoável impedir o autor de obter a habilitação definitiva em razão de
falta administrativa que nada tem a ver com a segurança do trânsito e nenhum risco impõe
à coletividade.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 262.701-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/3/2013.

DIREITO CIVIL

Fraude contra credores

Não é suficiente para afastar a anterioridade do crédito que se busca garantir (requisito
exigido para a caracterização de fraude contra credores) a assinatura de contrato particular de
promessa de compra e venda de imóvel não registrado e desacompanhado de qualquer outro
elemento que possa evidenciar, perante terceiros, a realização prévia desse negócio jurídico.
Em outras palavras, para que haja a fraude contra credores, a dívida deve ser anterior à
alienação realizada pelo devedor. Caso esta alienação tenha sido feita por meio de instrumento
particular, a data que será considerada como sendo a da alienação não é aquela constante do
contrato (porque seria muito fácil de falsificar), mas sim a data na qual este negócio jurídico foi
registrado no Cartório. Isso porque é com o registro da promessa de compra e venda no
Cartório de Registro de Imóveis que o direito do promissário comprador alcança terceiros
estranhos à relação contratual originária.
Comentários Princípio da responsabilidade patrimonial
No processo de execução vigora, em regra, o princípio da responsabilidade patrimonial,
segundo o qual o débito será quitado com o patrimônio do devedor.
Assim, com exceção da prestação alimentícia, o devedor não responde com seu corpo ou
sua liberdade pelas dívidas que tenha. Esses débitos são adimplidos com o patrimônio que o
devedor possua ou venha a possuir. Se não tiver patrimônio, o débito não é pago.
Tal princípio encontra-se previsto no CPC:
Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus
bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.

Alienações fraudulentas feitas pelo devedor para fugir da responsabilidade patrimonial


Se o débito somente pode ser quitado com o patrimônio do devedor, podemos imaginar
que, em alguns casos, a pessoa se desfaça de seus bens (verdadeiramente ou de maneira
simulada) apenas para não pagar a dívida.
Alienando seu patrimônio, o devedor torna-se insolvente e não terá mais como os credores
obterem a satisfação do crédito.
Obs: devedor insolvente é aquele cujo patrimônio passivo (dívidas) é maior que o ativo
(bens).
A legislação prevê três formas de se combater essa prática.
12
Página

INFORMATIVO esquematizado
Fraude do devedor (alienação fraudulenta):
Existem três espécies de fraude do devedor (alienações fraudulentas):
a) Fraude contra credores;
b) Fraude à execução;
c) Atos de disposição de bem já penhorado.

Vou tratar aqui apenas da primeira espécie: fraude contra credores.

FRAUDE CONTRA CREDORES (ou FRAUDE PAULIANA)

Em que consiste:
Ocorre quando o devedor insolvente ou próximo da insolvência aliena (gratuita ou
onerosamente) seus bens, com o objetivo de impedir que seu patrimônio seja utilizado
pelos credores para saldar as dívidas.
É classificado como sendo um “vício social”.

Exemplo:
Honofre contraiu um empréstimo e não mais conseguiu pagar as parcelas. Antes que o
mutuante buscasse judicialmente o cumprimento da obrigação, ele transferiu o seu carro
(único bem que possuía em seu nome) ao irmão, que sabia de toda a situação.

Previsão
A fraude contra credores é um instituto de direito material e encontra-se previsto nos arts.
158 a 165 do CC.

Natureza da alienação fraudulenta:


Se for reconhecida a ocorrência de fraude contra credores, a alienação realizada será
considerada válida, anulável ou nula?

1ª corrente: 2ª corrente:
ANULÁVEL VÁLIDA, mas INEFICAZ perante o credor
Foi a corrente adotada pelo CC-2002 se Para esta outra corrente, a alienação é
considerarmos a sua redação literal. Veja: válida, mas ineficaz perante o credor.

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os Há alguns acórdãos do STJ que defendem
contratos onerosos do devedor insolvente, esta posição: REsp 971884/PR, Rel. Min.
quando a insolvência for notória, ou Sidnei Beneti, julgado em 22/03/2011;
houver motivo para ser conhecida do outro REsp 1.100.525-RS, Rel. Min. Luis Felipe
contratante. Salomão, julgado em 16/4/2013.

Nesse sentido: Nelson Nery, Sílvio Na doutrina, é sustentada por Yussef


Rodrigues, Luiz Guilherme Marinoni. Cahali, Dinamarco, Teori Zawascki.

Quais são os pressupostos que devem ser provados pelo credor:

a) Eventus damni (dano): é o prejuízo provocado ao credor. Deverá ser demonstrado que a
13

alienação acarretou prejuízo ao credor porque esta disposição dos bens levou o devedor
à insolvência ou agravou ainda mais esse estado. É classificado como pressuposto
Página

objetivo.

INFORMATIVO esquematizado
b) Consilium fraudis: é o conluio fraudulento entre o alienante e o adquirente. Para que
haja a anulação, o adquirente precisa estar de má-fé. É o pressuposto subjetivo.

Obs1: o art. 159 do CC presume a má-fé do adquirente (presume o consilium fraudis) em


duas hipóteses:
b.1) Quando a insolvência do devedor/alienante for notória. Ex: Varig.
b.2) Quando houver motivo para que a insolvência do devedor/alienante seja conhecida
do outro contratante. Ex: se o negócio jurídico for celebrado entre dois irmãos ou entre
sogro e genro.

Obs2: não é necessário provar o consilium fraudis caso a alienação tenha sido gratuita ou
caso o devedor tenha perdoado a dívida de alguém. Veja:
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o
devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser
anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

Pressupostos da fraude contra credores


No caso de alienação onerosa: Na alienação gratuita ou remissão de dívida:
Eventus damni + consilium fraudis Exige-se apenas o eventus damni.

c) Anterioridade do crédito:
Além do eventus damni e do consilium fraudis, exige-se que o crédito seja anterior à
alienação.
Assim, em regra, somente quem já era credor no momento da alienação fraudulenta é
que poderá pedir a anulação do negócio jurídico.
Excepcionalmente, contudo, o STJ afirma que este requisito da anterioridade pode ser
dispensado se for verificado que houve uma fraude predeterminada em detrimento de
credores futuros (REsp 1092134/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/08/2010).
Em outras palavras, a pessoa, já sabendo que iria ter dívidas em um futuro próximo,
aliena seus bens para evitar que os credores tenham como cobrá-lo.

Como é reconhecida a fraude contra credores?


Para que seja reconhecida a fraude, é necessária a prolação de sentença em uma ação
proposta pelo credor, chamada de “ação pauliana” (ou “ação revocatória”).
Curiosidade: a ação pauliana (pauliana actio) é assim denominada por ter sido idealizada no
direito romano, pelo conhecido “Pretor Paulo”.

Legitimidade para a ação:


Polo ativo:
Em regra, a ação deverá ser proposta pelo credor quirografário.
O credor que possua uma garantia contra o devedor/alienante, em tese, não teria interesse
de ajuizar a ação, mas poderá fazê-lo caso demonstre que a sua garantia se tornou
insuficiente em razão da alienação promovida pelo devedor.

Polo passivo:
Em regra, a ação é proposta contra o devedor insolvente e contra a pessoa que com ele
celebrou o negócio fraudulento (há um litisconsórcio passivo necessário).
Se a pessoa que celebrou o negócio fraudulento já repassou o bem para uma terceira
14

pessoa, a ação será intentada contra o devedor insolvente, contra a pessoa que celebrou o
Página

negócio com o devedor e contra o terceiro adquirente (deverá ser provado que o terceiro
agiu de má-fé). Veja o que diz o CC:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou
terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.

Prazo:
A ação pauliana possui prazo decadencial de 4 anos, contados da data em que foi realizada
a alienação:
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio
jurídico, contado:
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico;

É possível reconhecer a fraude contra credores, de forma incidental, em um outro processo


que não seja originado por conta de uma ação pauliana?
NÃO. Nesse sentido:
Súmula 195-STJ: Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores.

Fraude não ultimada:


Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e
este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a
citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço
que lhes corresponda ao valor real.

Outros dispositivos legais sobre a fraude contra credores:


Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida
ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de
efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas
que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à


manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do
devedor e de sua família.

Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito


do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais,
mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da
preferência ajustada.

Diferenças entre a fraude contra credores e a fraude à execução:


Este é um tema muito importante, mas ficará para uma próxima oportunidade.
15

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ (com adaptações para facilitar o entendimento):
Página

Mário era credor de Pedro desde 05/02/1998 no valor de 25 mil reais.


Em 06/05/1998, foi realizado o registro de compra e venda na qual Pedro alienou a

INFORMATIVO esquematizado
Alexandre uma sala comercial, único bem que possuía.
Com a venda, Pedro tornou-se insolvente.

Diante disso, Mário ajuizou ação pauliana contra Pedro e Alexandre, demonstrando o
eventus damni e o consilium fraudis (tais argumentos não foram examinados pelo STJ).

Na contestação, Pedro, dentre outras matérias de defesa, afirmou que não poderia ser
anulado o negócio jurídico porque a alienação foi anterior à existência do crédito de Mário.
Em outras palavras, o réu afirmou que vendeu o imóvel antes de se tornar devedor do
autor.
Para comprovar sua alegação, Pedro juntou aos autos um contrato particular de promessa
de compra e venda firmado por ele e Alexandre, com data de 15/01/1998.
Vale ressaltar que este compromisso de compra e venda não foi registrado no Registro de
Imóveis.

A discussão se a alienação foi anterior ou não ao débito chegou ao STJ. O que foi decidido?
O STJ entendeu que houve, de fato, fraude contra credores, considerando que a alienação
ocorreu após o surgimento do débito.
Para a Min. Relatora, o fato de existir um contrato particular de promessa de compra e
venda de imóvel, sem estar registrado, não é suficiente para afastar a anterioridade do
crédito.

Não estando o contrato registrado, o promitente comprador pode exigir do promitente


vendedor a outorga da escritura (através da ação de adjudicação compulsória), mas não
poderá opor seu direito a terceiros.

O registro não interfere na relação de direito obrigacional entre promitente comprador e


promitente vendedor. No entanto, ele é necessário para que esta promessa de compra e
venda produza efeitos perante terceiros, que não participaram do contrato. O registro da
promessa de compra e venda, portanto, gera um direito real à aquisição, em caráter erga
omnes.

Em outras palavras, é com o registro da promessa de compra e venda no Cartório de


Registro de Imóveis que o direito do promissário comprador alcança terceiros estranhos à
relação contratual originária.

Desse modo, concluiu o STJ que, quando a alienação promovida pelo devedor for feita por
instrumento particular, a data que será considerada, para fins de verificar se houve ou não
fraude contra credores, será a data do registro na serventia deste instrumento particular, e
não a da sua elaboração. Isso porque se fôssemos considerar a data do contrato particular
haveria um enfraquecimento do instituto da fraude contra credores, dada a facilidade que o
devedor teria de colocar uma data falsa no documento sem que o credor tivesse meios de
provar essa fraude.

Resumindo: como vimos, para que haja a fraude contra credores, a dívida deve ser anterior
à alienação realizada pelo devedor. Caso esta alienação tenha sido feita por meio de
instrumento particular, a data que será considerada como sendo a da alienação não é
aquela constante do contrato (porque seria muito fácil de falsificar), mas sim a data na qual
16

este negócio jurídico foi registrado no Cartório.


Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.217.593-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/3/2013.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Promessa de compra e venda e ação de resolução

Decretada a resolução do contrato de promessa de compra e venda, deve o juiz, ainda que não
tenha sido expressamente provocado pela parte interessada, determinar a restituição, pelo
promitente vendedor, das parcelas do preço pagas pelos promitentes compradores.
ATENÇÃO
Trata-se da concretização da eficácia restitutória da resolução, aplicável em benefício das duas
partes do contrato, como consequência natural da desconstituição do vínculo contratual.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (com adaptações em relação ao caso concreto):
Determinada empresa celebrou contrato comprometendo-se a vender a Daniel um imóvel.
Pelo contrato, Daniel deveria pagar 60 parcelas de 10 mil reais e, ao final, a empresa
transferiria a propriedade do bem.
Durante a vigência do contrato, Daniel já ficaria na posse do imóvel.

Inadimplemento do promitente comprador


Após pagar 28 parcelas, Daniel tornou-se inadimplente, deixando de pagar as prestações.
A empresa ajuizou uma ação de resolução de compra e venda cumulada com reintegração
de posse.
Em sua contestação, Daniel alegou apenas dificuldades financeiras para quitar o débito.
O juiz julgou procedentes os pedidos da empresa, determinando a resolução do contrato
por inadimplemento e a reintegração de posse. Contudo, o magistrado, de ofício, ou seja,
sem que Daniel houvesse pedido, determinou que a empresa devolvesse 50% do valor que
ele já havia pago, ficando a outra metade a título de indenização pelo inadimplemento.

Agiu corretamente o juiz? Decretada a resolução do contrato de promessa de compra e


venda, o juízo pode determinar, de ofício, a restituição ao promitente comprador das
parcelas pagas ao promitente vendedor ou para isso seria necessário que o réu tivesse
formulado pedido expresso em contestação ou reconvenção?
SIM, agiu corretamente o juiz. Segundo entendeu o STJ, decretada a resolução do contrato
de promessa de compra e venda, o juízo pode determinar, de ofício, a restituição ao
promitente comprador das parcelas pagas ao promitente vendedor.

Vejamos os principais aspectos ressaltados no voto do sempre brilhante Min. Paulo de Tarso
Sanseverino:

A “resolução” é um instituto próprio dos contratos bilaterais e significa a extinção do


contrato pelo inadimplemento definitivo do devedor.

Quando ocorre a resolução do contrato, surgem, automaticamente, os seguintes efeitos:


a) credor e devedor ficam liberados de suas obrigações (eficácia liberatória);
b) credor e devedor passam a ter a obrigação de restituir as prestações recebidas durante
a execução do contrato (eficácia restitutória); e
c) o devedor culpado pelo inadimplemento fica obrigado a indenizar o credor.

Os efeitos “b” e “c” são chamados pela doutrina de “relação de liquidação”

Como dito acima, tais efeitos são automáticos (naturais), uma vez que decorrem do próprio
direito material.
17

Assim, se o credor, na petição inicial, postula a resolução do contrato, não há a necessidade


de que o devedor, na contestação ou em reconvenção, requeira a devolução das prestações
Página

entregues ao credor, a qual pode e deve ser determinada de ofício pelo juiz como
decorrência lógica da decretação de resolução do contrato.
INFORMATIVO esquematizado
Da mesma forma e em decorrência do mesmo pedido de resolução, o credor também
possui o direito ao recebimento de eventuais prestações entregues ao devedor, o que, na
ação de resolução do contrato de compra e venda, se manifesta com a sua reintegração na
posse do imóvel.

Como se pode ver, a reciprocidade existente nos contratos bilaterais se mantém mesmo
depois da sua resolução, na chamada relação de liquidação, de modo que a obrigação de
restituir do credor (devolução das parcelas do preço) e a obrigação de restituir do devedor
(devolução da coisa) são causa uma da outra.

Em nosso exemplo, ao determinar que a empresa restituísse as parcelas do preço pagas por
Daniel (promitente comprador), o juízo aplicou a eficácia restitutória da resolução do
contrato de promessa de compra e venda decretada pela sentença. Desse modo, a sentença
não foi ultra petita.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.286.144-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2013.

Prazo prescricional para cobrança de valores pagos em contrato de promessa de compra e venda

A restituição dos valores pagos, diante da rescisão de contrato de promessa de compra e venda
de imóvel, constitui consectário natural do próprio desfazimento do negócio.
A pretensão ao recebimento de valores pagos, que não foram restituídos diante de rescisão
ATENÇÃO
judicial, por sentença que não tenha decidido a respeito da restituição, submete-se ao prazo
prescricional de 10 (dez) anos, previsto no artigo 205 do Código Civil, e não ao prazo de 3
(três) anos, constante do artigo 206, § 3º, incisos IV e V, do mesmo diploma.
Comentários Vamos alterar agora o exemplo que demos acima para discutir outro aspecto do mesmo
tema:
Determinada empresa celebrou contrato comprometendo-se a vender a Daniel um imóvel.
Pelo contrato, Daniel deveria pagar 60 parcelas de 10 mil reais e, ao final, a empresa
transferiria a propriedade do bem.
Durante a vigência do contrato, Daniel já ficaria na posse do imóvel.

Inadimplemento do promitente comprador


Após pagar 28 parcelas, Daniel tornou-se inadimplente, deixando de pagar as prestações.
A empresa ajuizou uma ação de resolução de compra e venda cumulada com reintegração
de posse.
Daniel foi revel.
O juiz julgou procedentes os pedidos da empresa, determinando a resolução do contrato
por inadimplemento e a reintegração de posse. Não houve nenhuma determinação quanto
à restituição das parcelas pagas por Daniel.
A sentença transitou em julgado.

Ação proposta por Daniel


Cinco anos após o trânsito em julgado, Daniel, orientado por um advogado sobre seus
direitos, ajuizou uma ação ordinária contra a empresa, requerendo a restituição dos valores
pagos.
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Alegação de prescrição:
A empresa, em contestação, afirma que a pretensão de Daniel está prescrita, nos termos do
Página

art. 206, § 3º, IV ou V, do CC/2002:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 206. Prescreve:
§ 3º Em três anos:
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;

Houve realmente a prescrição?


NÃO. Segundo decidiu o STJ, a pretensão de restituição dos valores pagos durante o
período de normalidade contratual não se constitui nas hipóteses de “ação de
enriquecimento sem causa” nem de “ação de indenização”. Trata-se, como vimos acima, de
um consectário lógico (consequência natural) da própria rescisão do negócio jurídico.

Assim, a pretensão de restituição de valores pagos em razão de desfazimento de negócio


jurídico, a qual não foi objeto da sentença judicial anulatória, não se enquadra em nenhum
dos prazos prescricionais expressamente previstos, razão pela qual se submete ao prazo
prescricional geral de 10 (dez) anos, previsto no art. 205 do Código Civil:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.607-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 12/3/2013.

Corretagem

Ainda que o negócio jurídico de compra e venda de imóvel não se concretize em razão do
inadimplemento do comprador, é devida comissão de corretagem no caso em que o corretor
tenha intermediado o referido negócio jurídico, as partes interessadas tenham firmado
contrato de promessa de compra e venda e o promitente comprador tenha pagado o sinal.
Comentários Ainda que o negócio jurídico de compra e venda de imóvel não se concretize em razão do
inadimplemento do comprador, é devida comissão de corretagem no caso em que o corretor
tenha intermediado o referido negócio jurídico, as partes interessadas tenham firmado contrato
de promessa de compra e venda e o promitente comprador tenha pagado o sinal.
Conforme o art. 725 do CC/2002, “a remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha
conseguido o resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive
em virtude do arrependimento das partes”.
A realização de um negócio jurídico de compra e venda de imóvel é um ato complexo, que
se desmembra em diversas fases — incluindo, por exemplo, as fases de simples negociação,
de celebração de contrato de promessa de compra e venda ou de pagamento de arras —
até alcançar sua conclusão com a transmissão do imóvel, quando do registro civil do título
imobiliário no respectivo Cartório de Registro, nos termos do art. 1.227 do CC/2002.
Nesse contexto, somente com a análise, no caso concreto, de cada uma dessas fases, é
possível aferir se a atuação do corretor foi capaz de produzir um resultado útil para a
percepção da remuneração de que trata o art. 725 do CC/2002. Assim, para o efeito de
tornar devida a remuneração a que faz jus o corretor, a mediação deve corresponder
somente aos limites conclusivos do negócio jurídico, mediante acordo de vontade entre as
partes, independentemente da execução do próprio negócio. A inadimplência das partes,
após a conclusão deste, mesmo que acarrete a rescisão contratual, não repercute na pessoa
do corretor.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.339.642-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/3/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Ausência de responsabilidade civil da CEF por roubo ocorrido em casa lotérica

A Caixa Econômica Federal não tem legitimidade para figurar no polo passivo de ação que
objetive reparar danos materiais e compensar danos morais causados por roubo ocorrido no
Concursos
federais interior de agência lotérica.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):
Cristiano estava pagando contas em uma casa lotérica, quando foi vítima de um roubo
armado, tendo, inclusive, levado um tiro.
Em razão do ocorrido, ele ajuíza, na Justiça Federal, uma ação de indenização contra a Caixa
Econômica Federal (empresa pública federal) alegando que a casa lotérica é um
estabelecimento equiparado à instituição financeira, prestando serviços bancários em nome
da CEF.
Em suma, a tese é a de que a casa lotérica, por realizar pagamentos em nome da CEF, deve
ser equiparada a uma de suas agências bancárias. Sendo equiparada a uma agência
bancária da CEF, esta empresa teria responsabilidade pelos roubos lá ocorridos.

O STJ concordou com a tese exposta?


NÃO.

O funcionamento das loterias federais é regulado pela “Circular Caixa n. 539/2011”.


As instituições financeiras são regidas pela Lei n. 4.595/64.

O STJ, ao interpretar estes dois atos normativos, entendeu que as casas lotéricas, apesar de
serem autorizadas a prestar alguns serviços bancários (como o recebimento de contas), não
possuem natureza de instituição financeira, já que não realizam as atividades definidas pela
Lei n. 4.595/1964 como sendo próprias das instituições financeiras (captação,
intermediação e aplicação de recursos financeiros).

Em síntese, as loterias não são instituições financeiras porque não fazem captação,
intermediação e aplicação de recursos financeiros.

Como as casas lotéricas não são instituições financeiras, a CEF não é obrigada a adotar as
mesmas normas de segurança exigidas para as agências bancárias e que estão previstas na
Lei n. 7.102/83.

Além disso, o contrato que é celebrado entre a CEF e os permissionários das casas lotéricas
estabelece que a unidade lotérica assume responsabilidade direta e exclusiva por todos e
quaisquer ônus, riscos ou custos das atividades, inclusive por indenizações de qualquer
espécie reivindicados por terceiros prejudicados.

Outro argumento contrário à tese está no fato de que a loteria, sendo uma permissão, está
submetida à Lei n. 8.987/95. Este diploma prevê que o permissionário exerce a delegação
“por sua conta e risco” (art. 2º, IV) e que o delegatário responde por todos os prejuízos
causados aos usuários ou a terceiros (art. 25).

Assim, como não há qualquer obrigação legal ou contratual imposta à CEF que conduza à
sua responsabilização por dano causado no interior de unidade lotérica, fica evidente a sua
ilegitimidade passiva em ação que objetive reparar danos materiais e compensar danos
20

morais causados por roubo ocorrido no interior de unidade lotérica.


Página

INFORMATIVO esquematizado
Por fim, deve-se ressaltar que a eventual possibilidade de responsabilização subsidiária do
concedente dos serviços públicos prestados pela agência lotérica, verificada apenas em
situações excepcionais, não autoriza, por imperativo lógico decorrente da natureza de tal
espécie de responsabilidade, o ajuizamento de demanda indenizatória unicamente em face
do concedente (nesses casos, a CEF).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.472-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2013.

DPVAT
Súmula 474-STJ: A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário,
será paga de forma proporcional ao grau da invalidez.
Prática
forense
A fixação da indenização no patamar máximo previsto não pode ser fundamentada
exclusivamente na circunstância de existir prova do acidente e de ser permanente a invalidez.
É necessário observar a respectiva proporcionalidade da indenização, conforme preceitua o
verbete 474 da Súmula do STJ. Assim, deverão ser analisados a extensão da lesão e o grau de
invalidez, conforme as provas produzidas nos autos.
Comentários O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de
via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não.

Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo
automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do
DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os
seus respectivos herdeiros.

Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que
passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais
um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram
inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor
correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de
DPVAT por invalidez.
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o
culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a
indenização normalmente.

O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente
danos pessoais.

Quem custeia as indenizações pagas pelo DPVAT?


Os proprietários de veículos automotores. Trata-se de um seguro obrigatório. Assim,
sempre que o proprietário do veículo paga o IPVA, está pagando também, na mesma guia,
um valor cobrado a título de DPVAT.

O STJ afirma que a natureza jurídica do DPVAT é a de um contrato legal, de cunho social.

O DPVAT é regulamentado pela Lei n. 6.194/74.

Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei?


21

no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima)


no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500 (por vítima)
Página

no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como


reembolso à cada vítima.
INFORMATIVO esquematizado
Como a indenização por invalidez é de até R$ 13.500, entende-se que esse valor deverá ser
proporcional ao grau da invalidez permanente apurada.

Desse modo, a fixação da indenização no patamar máximo previsto não pode ser
fundamentada exclusivamente na circunstância de existir prova do acidente e de ser
permanente a invalidez. É necessário observar a respectiva proporcionalidade da indenização,
conforme preceitua o verbete 474 da Súmula do STJ. Assim, deverão ser analisados a
extensão da lesão e o grau de invalidez, segundo as provas produzidas nos autos.

O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNPSP) possui tabelas com os limites


indenizatórios de acordo com as diferentes espécies de sinistros. O STJ entende que tais
tabelas, por estabelecerem uma proporcionalidade, podem ser utilizadas na fixação da
indenização do seguro DPVAT, estando em conformidade com o que dispõe a Súmula 474
do STJ. Veja o que diz a Min. Nancy Andrighi:
“O que o CNSP fez foi apenas regular, dentro dos limites da Lei, os valores a serem pagos
para diferentes espécies de sinistros. Ora, se por um lado a norma estabelece, de maneira
fixa, que a indenização será paga em determinado montante para a hipótese de morte (art.
3º, alínea “a”) e, por outro lado, determina que o valor a ser pago para a invalidez
permanente será até esse montante (art. 3º, alínea “b”), não é razoável pensar que
qualquer incapacidade, ainda que parcial, dê lugar à indenização no patamar máximo”
(REsp 1.101.572/RS).
Processo STJ. 2ª Seção. Rcl 10.093-MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgada em 12/12/2012.

Pai não tem obrigação de alimentos para filha de 25 anos, com curso superior completo

O STJ entendeu o pai não tem obrigação de prestar alimentos à filha de 25 anos e com curso
superior completo, se inexistirem elementos que indiquem que ela tenha algum problema de
saúde que a impeça de trabalhar.
Comentários Se o(a) filho(a) possui mais de 24 anos, o pai continua obrigado a prestar alimentos em
favor dele(a)?
NÃO. Este é o entendimento do STJ.

Durante a menoridade, há uma presunção de que os filhos dependem dos pais para a sua
subsistência. Neste caso, os pais tem o dever de prestar alimentos aos filhos. Tal dever tem
como fundamento o poder familiar:
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

O poder familiar dos pais sobre os filhos cessa com a maioridade, ou seja, quando os filhos
completam 18 anos (art. 1.630 e art. 1.635, III).

Assim, em regra, a obrigação dos pais de prestar alimentos aos filhos cessa com o fim do
poder familiar, isto é, quando os filhos completam 18 anos.

A jurisprudência, no entanto, construiu a tese de que, mesmo após completar 18 anos, o(a)
filho(a) continua tendo direito de receber alimentos dos pais se ele(a), por ocasião da
22

extinção do poder familiar, estiver regularmente frequentando curso superior ou técnico.


Página

Nesta hipótese, contudo, o dever de alimentar dos pais tem outro fundamento, qual seja, a
relação de parentesco:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Vamos esquematizar o tema:


Fundamento:
Pais têm obrigação de prestar alimentos.
Filho até 18 anos Poder familiar
A necessidade do filho é presumida.
(art. 1.566, IV)
Como regra, os pais não têm obrigação
Fundamento:
de prestar alimentos.
Filho maior de 18 anos Parentesco
O filho poderá provar que necessita dos
(art. 1.694)
alimentos (ex: motivo de doença).
Pais continuam tendo a obrigação de
prestar alimentos.
Filho maior de 18 e
A necessidade do filho é presumida. Fundamento:
menor de 24 anos, se
Como o filho está estudando, a Parentesco
estiver fazendo curso
jurisprudência considera que existe uma (art. 1.694)
superior ou técnico.
presunção de que ele necessita dos
alimentos.
Filho maior de 18 e
Como regra, os pais não têm obrigação
menor de 24 anos, se Fundamento:
de prestar alimentos.
estiver cursando Parentesco
O filho poderá provar que necessita dos
especialização, (art. 1.694)
alimentos (ex: motivo de doença).
mestrado ou doutorado.

Veja um importante precedente do STJ neste sentido:


(...) O advento da maioridade não extingue, de forma automática, o direito à percepção de
alimentos, mas esses deixam de ser devidos em face do Poder Familiar e passam a ter
fundamento nas relações de parentesco, em que se exige a prova da necessidade do
alimentado.
2. É presumível, no entanto, - presunção iuris tantum -, a necessidade dos filhos de
continuarem a receber alimentos após a maioridade, quando frequentam curso
universitário ou técnico, por força do entendimento de que a obrigação parental de cuidar
dos filhos inclui a outorga de adequada formação profissional.
3. Porém, o estímulo à qualificação profissional dos filhos não pode ser imposto aos pais de
forma perene, sob pena de subverter o instituto da obrigação alimentar oriunda das
relações de parentesco, que tem por objetivo, tão só, preservar as condições mínimas de
sobrevida do alimentado.
4. Em rigor, a formação profissional se completa com a graduação, que, de regra, permite
ao bacharel o exercício da profissão para a qual se graduou, independentemente de
posterior especialização, podendo assim, em tese, prover o próprio sustento, circunstância
que afasta, por si só, a presunção iuris tantum de necessidade do filho estudante. 5.
Persistem, a partir de então, as relações de parentesco, que ainda possibilitam a percepção
de alimentos, tanto de descendentes quanto de ascendentes, porém desde que haja prova
de efetiva necessidade do alimentado. (...)
(REsp 1218510/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 27/09/2011).
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Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.312.706-AL, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Sentença de exoneração de alimentos não tem efeito retroativo

O reconhecimento judicial da exoneração do pagamento de pensão alimentícia não alcança as


parcelas vencidas e não pagas de dívida alimentar anteriormente reconhecida.
Assim, os alimentos anteriormente fixados são devidos até o trânsito em julgado da ação de
ATENÇÃO
exoneração ou de redução. Caso a sentença de exoneração ou redução seja julgada procedente,
esta não terá efeito retroativo. Se fosse admitida que esta sentença tivesse efeitos retroativos,
isso seria um incentivo ao inadimplemento, considerando que o devedor faria de tudo para
não pagar até que fosse julgada a ação de exoneração ou redução.
Comentários Imagine o seguinte exemplo hipotético:
Gabriel ingressou com ação de alimentos contra Rui, seu pai.
O juiz, na sentença, fixou os alimentos em 2 mil reais, a contar de 01/03/2010.
Rui mostrou-se inadimplente, razão pela qual Gabriel iniciou a execução dos alimentos com
base no rito do art. 733 do CPC.
Ao mesmo tempo em que não pagou, Rui propôs ação de exoneração de alimentos.
Gabriel foi citado no dia 01/08/2010 e, no dia 01/12/2010, o juiz prolatou a sentença,
extinguindo a obrigação alimentícia.
De 01/03/2010 a 01/12/2010, Rui pagou apenas três meses (março, abril e maio), deixando,
portanto, de adimplir seis meses de pensão (equivalente a um total 12 mil reais).

Enquanto isso, a execução proposta por Gabriel continuava tramitando.


O advogado de Rui apresenta, então, uma petição no processo executivo afirmando que seu
cliente não precisa mais pagar nada porque foi prolatada sentença que o exonera da
obrigação alimentícia. Alega que a sentença de exoneração retroage à data da citação,
conforme prevê o § 2º do art. 13 da Lei n. 5.478/68 (Lei de Alimentos):
Art. 13 (...) § 2º. Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação.

A tese alegada pelo advogado de Rui está correta?


NÃO. A 3ª Turma do STJ decidiu que não, afirmando que a sentença que exonera ou reduz a
obrigação alimentícia não tem efeito retroativo.

Segundo o Min. Relator, o reconhecimento judicial da exoneração do pagamento de pensão


alimentícia não alcança as parcelas vencidas e não pagas de dívida alimentar anteriormente
reconhecida e cobrada judicialmente.

Assim, o fato da ação de exoneração ter sido julgada procedente, excluindo a obrigação do
devedor de pagar a pensão, não impede a execução das parcelas já vencidas e cobradas sob
o rito do art. 733 do CPC.

Em suma, os alimentos anteriormente fixados são devidos até o trânsito em julgado da ação
de exoneração ou de redução. Caso a sentença de exoneração ou redução seja julgada
procedente, esta não terá efeito retroativo. Se fosse admitida que esta sentença tivesse
efeitos retroativos, isso seria um incentivo ao inadimplemento considerando que o devedor
faria de tudo para não pagar até que fosse julgada a ação de exoneração ou redução.

A posição adotada pelo STJ neste julgado é a mesma defendida pela maioria da doutrina,
conforme se vê pela lição de Maria Berenice Dias (citada pelo Ministro Relator):
“(...) A propositura da ação revisional intentada pelo alimentante não pode incentivá-lo a
24

deixar de pagar os alimentos ou a proceder à redução do seu valor do modo que melhor lhe
aprouver. Admitir tal possibilidade daria ensejo, inclusive, à suspensão do processo de
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execução, até o trânsito em julgado da demanda revisional, sob o fundamento de que o

INFORMATIVO esquematizado
encargo alimentar pode ser reduzido ou excluído. Assim, não há como conceder efeito
retroativo à redução ou exclusão do dever de pagar alimentos. O resultado seria desastroso.
Além de incentivar a mora, induziria a todos que são executados a buscarem a via judicial,
propondo ação de redução ou exclusão do encargo, tão só para verem a execução
suspensa.
A regra do § 2º do art. 13 da Lei de Alimentos não tem aplicação quando os alimentos
foram reduzidos ou houve a exoneração do devedor. Prevalece o princípio da
irrepetibilidade dos alimentos. Portanto, achatado o seu montante ou extinta a obrigação, a
decisão judicial não dispõe de efeito retroativo, não alcançando as parcelas vencidas e não
pagas. Somente quando os alimentos são majorados, por meio de sentença transitada em
julgado, é que se pode falar em efeito retroativo à data da citação.
Qualquer outra solução geraria impasse absolutamente desarrazoado. Isso porque
estimularia o devedor a deixar de proceder ao pagamento dos alimentos, ao intentar
demanda revisional ou exoneratória para se beneficiar do efeito retroativo da sentença e
deixar de pagar o valor devido.
A retroatividade aceita por alguns julgados não leva sequer em conta que pune o alimentante
que cumpre com o pagamento e beneficia o devedor inadimplente. Vetada a devolução das
parcelas pagas, o que pagou não pode pleitear a compensação, enquanto aquele que se quedou
em mora irá beneficiar-se com o descumprimento do encargo alimentar. Assim, por qualquer
ângulo que se atente ao tema, não é possível deixar ao bel-prazer do devedor o direito de
suspender o pagamento dos alimentos para se beneficiar de sua omissão." (DIAS, Maria
Berenice. Manual de Direito das Famílias. 6ª ed. São Paulo: RT, p. 584).
Atualizar o Atenção. No HC 224.769-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/2/2012
INFO 491 (Informativo 491), a mesma 3ª Turma do STJ decidiu em sentido diametralmente oposto ao
do STJ que foi explicado acima.
Entendo, contudo, que a decisão exposta neste Informativo 518 do STJ é majoritária na
doutrina e na jurisprudência, além de ser mais acertada. Por esta razão, caso tenha
imprimido o Informativo 491, você deverá fazer uma observação no sentido de que o
entendimento ali sustentado não deve mais ser seguido nas provas de concurso.
Processo STJ. 3ª Turma. RHC 35.192-RS, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 12/3/2013.

Alteração do regime de bens do casamento

No CC-1916 não havia previsão legal que autorizasse os cônjuges a alterar o regime de bens.
O CC-2002 inovou no tratamento do tema e adotou o princípio da mutabilidade justificada do
regime de bens, afirmando que “é admissível alteração do regime de bens, mediante
autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das
razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros” (§ 2º do art. 1.639).
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que é possível a alteração do regime de bens,
mesmo nos matrimônios contraídos ainda sob a égide do CC-1916.
Segundo o STJ, o § 2º do art. 1.639 do CC-2002 não exige dos cônjuges justificativas exageradas
ou provas concretas do prejuízo na manutenção do regime de bens originário, sob pena de se
ter que analisar indevidamente a própria intimidade e a vida privada dos consortes.
A divergência conjugal quanto à condução da vida financeira da família é justificativa, em tese,
plausível à alteração do regime de bens.
Vale ressaltar que, para haver a autorização judicial quanto à mudança do regime de bens, é
necessária a aferição da situação financeira atual dos cônjuges, com a investigação acerca de
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eventuais dívidas e de interesses de terceiros potencialmente atingidos.


Comentários Regime de bens
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Quando duas pessoas se casam, é estabelecido um regime de bens que irá vigorar neste
matrimônio.

INFORMATIVO esquematizado
O regime de bens representa o conjunto de regras que irão disciplinar as relações
patrimoniais envolvendo os cônjuges.

Quando é escolhido o regime de bens?


O regime de bens é definido pelos nubentes antes do casamento.
Caso escolham o regime da comunhão parcial, basta que indiquem esta opção no requerimento
de habitação do casamento, que é feito no Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN).
Se os nubentes quiserem escolher um regime diferente da comunhão parcial, deverão
celebrar um pacto antenupcial, que é feito por meio de escritura pública lavrada pelo
Tabelião de Notas (art. 1.653 do CC). Para valer perante terceiros, o pacto antenupcial
deverá ser registrado pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art.
1.657 do CC).

Regimes de bens previstos no CC


O CC prevê expressamente quatro espécies de regime de bens:
a) Regime de comunhão parcial (art. 1.658);
b) Regime de comunhão universal (art. 1.667);
c) Regime de participação final nos aquestos (1.672);
d) Regime de separação de bens (art. 1.687).

Princípio da imutabilidade do regime de bens: vigorava no CC-1916


No CC-1916, vigorava o princípio da imutabilidade do regime de bens. Em outras palavras,
depois de os nubentes terem fixado o regime de bens, não era permitida, em nenhuma
hipótese, a sua alteração durante o casamento.

Princípio da mutabilidade justificada do regime de bens: vigora no CC-2002


O CC-2002 inovou no tratamento do tema e adotou o princípio da mutabilidade justificada
do regime de bens.
Assim, atualmente, é possível que os cônjuges decidam alterar o regime de bens que
haviam escolhido antes de se casar, sendo necessário, no entanto, que apontem um motivo
justificado para isso. Veja o que diz o CC:
Art. 1.639 (...) § 2º É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial
em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e
ressalvados os direitos de terceiros.

Requisitos para a mudança:


Pedido motivado de ambos os cônjuges;
Autorização judicial após análise das razões invocadas;
Garantia de que terceiros não serão prejudicados em seus direitos.

É possível, atualmente, alterar o regime de bens de um casamento que foi celebrado na


vigência do Código Civil de 1916?
SIM. Com base no art. 2.035 do CC-2002, que estabelece regras de direito intertemporal
envolvendo negócios e atos jurídicos praticados ainda na vigência do CC-1916:
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada
em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas
os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam,
salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução.
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INFORMATIVO esquematizado
Vamos resumir o art. 2.035:
Negócios e atos jurídicos constituídos antes do CC-2002:
Análise sobre a existência ou validade: aplica-se a norma vigente no momento da
constituição do ato ou negócio, ou seja, incide o CC-1916.
Análise quanto à eficácia: aplica-se a norma do momento em que o ato ou negócio irá
produzir seus efeitos, ou seja, incide o CC-2002.

Em qual plano está o regime de bens e a possibilidade de sua alteração (validade ou eficácia)?
No plano da EFICÁCIA do casamento, pois a existência ou validade do casamento não
dependem do regime de bens adotado. O regime de bens em nada influencia a existência
ou validade do casamento. O regime de bens é um efeito patrimonial do matrimônio.

E como interpretar o art. 2.039 do CC-2002? Este dispositivo não veda a alteração do regime
de bens estabelecido para casamentos celebrados no CC-1916?
Art. 2.039. O regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil
anterior, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, é o por ele estabelecido.

NÃO. O que este art. 2.039 quer dizer é que, se a pessoa casou ainda na vigência do CC-
1916, as regras do regime de bens escolhido serão aquelas que constam no CC-1916 (e não
no CC-2002). Assim, por exemplo, se os cônjuges casaram sob o regime de comunhão
universal, as regras a ele aplicáveis serão as dos arts. 262 a 268 do CC-1916 (e não as regras
do art. 1.667 do CC-2002). Isso não significa, contudo, que eles não possam mudar de
regime. O que o art. 2.039 quer dizer é que, enquanto os cônjuges permanecerem sob o
mesmo regime no qual casaram, as regras são aplicáveis a este regime são as do CC-1916.

Em resumo a tudo que foi exposto, assim decidiu o STJ:


Direito civil. Família. Casamento celebrado sob a égide do CC/16. Alteração do regime de
bens. Possibilidade.
- A interpretação conjugada dos arts. 1.639, § 2º, 2.035 e 2.039, do CC/02, admite a
alteração do regime de bens adotado por ocasião do matrimônio, desde que ressalvados
os direitos de terceiros e apuradas as razões invocadas pelos cônjuges para tal pedido.
(...)
- Os fatos anteriores e os efeitos pretéritos do regime anterior permanecem sob a regência
da lei antiga. Os fatos posteriores, todavia, serão regulados pelo CC/02, isto é, a partir da
alteração do regime de bens, passa o CC/02 a reger a nova relação do casal. (...)
(REsp 821.807/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 19/10/2006)

MATRIMÔNIO. REGIME. ALTERAÇÃO.


A Turma reiterou que, juridicamente, é possível a alteração de regime de comunhão parcial
de bens para o de comunhão universal em casamento celebrado ainda na vigência do
CC/1916, conforme o art. 1.639, § 2º, do CC/2002. (...)
REsp 812.012-RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 2/12/2008.

Caso concreto julgado pelo STJ


Os cônjuges casaram em 1999, tendo adotado o regime da comunhão parcial.
Em 2009, o marido decidiu iniciar uma atividade empresarial (constituir uma sociedade
empresária com outra pessoa).
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Ocorre que a esposa tinha receio de o empreendimento não obter êxito e, com isso, dos
bens dela serem atingidos pelas dívidas sociais.
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Assim, para manutenção harmoniosa do casamento, entenderam necessária a alteração do


regime anterior para o da separação convencional de bens.

INFORMATIVO esquematizado
Razões invocadas
O STJ afirmou que, nesta hipótese, era possível a alteração do regime de bens. Segundo a
Corte, o § 2º do art. 1.639 do CC-2002 não exige dos cônjuges justificativas exageradas ou
provas concretas do prejuízo na manutenção do regime de bens originário, sob pena de se
ter que analisar indevidamente a própria intimidade e a vida privada dos consortes.
A divergência conjugal quanto à condução da vida financeira da família é justificativa, em
tese, plausível à alteração do regime de bens, divergência essa que, em não raras vezes, se
manifesta ou se intensifica quando um dos cônjuges ambiciona enveredar-se por uma nova
carreira empresarial, fundando, como no caso em apreço, sociedade com terceiros na qual
algum aporte patrimonial haverá de ser feito, e do qual pode resultar impacto ao
patrimônio comum do casal.

Inexistência de prejuízo a terceiros


Vale ressaltar que, para haver a autorização judicial quanto à mudança do regime de bens, é
necessária a aferição da situação financeira atual dos cônjuges, com a investigação acerca
de eventuais dívidas e de interesses de terceiros potencialmente atingidos. Nesse sentido é
o Enunciado n. 113 na I Jornada de Direito Civil, promovida pelo CJF/STJ:
Enunciado 113: É admissível a alteração do regime de bens entre os cônjuges, quando
então o pedido, devidamente motivado e assinado por ambos os cônjuges, será objeto de
autorização judicial, com ressalva dos direitos de terceiros, inclusive dos entes públicos,
após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida ampla publicidade.

Vale ressaltar que não se pode presumir propósito fraudulento nesse tipo de pedido, já que o
ordenamento jurídico prevê mecanismos de contenção, como a própria submissão do presente
pedido ao Judiciário e a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.119.462-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/2/2013.

Divórcio

O divórcio (direto ou indireto) pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.
Comentários Quando um casal está se divorciando, são muitos os conflitos que surgem envolvendo os
mais diversos aspectos da vida da pessoa: a questão sentimental, a guarda dos filhos, a
discussão acerca da alteração ou manutenção do patronímico e, como não se pode
esquecer, há também o debate sobre o patrimônio e a divisão (partilha) dos bens de acordo
com o regime matrimonial adotado.

Algumas vezes, a vontade do casal de se divorciar é muito intensa e eles querem que isso
ocorra logo. No entanto, a discussão sobre a divisão dos bens pode ser complexa e acabar
atrasando a formalização do divórcio.

Diante deste problema da vida prática, a pergunta que surge é a seguinte:

É possível que os cônjuges concordem que o divórcio seja desde logo formalizado e que a
discussão sobre a divisão dos bens fique para ser resolvida em um momento posterior?

Em outras palavras, é possível que seja concedido o divórcio sem a prévia partilha dos bens?
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SIM. Esta possibilidade encontra-se expressamente prevista no art. 1.581 do CC:


Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.

INFORMATIVO esquematizado
Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio de três
caminhos (Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p. 1.075).
a) nos próprios autos da ação de divórcio;
b) em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara de família);
c) por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei n. 11.441/2007).

Para fins de concurso, basta saber o que foi explicado acima. No entanto, apenas por
curiosidade histórica, vou explicar rapidamente a evolução do tema:

Antes do CC-2002 Depois do CC-2002


A jurisprudência fazia a seguinte distinção: O CC-2002 acabou com esta distinção,
Divórcio direto: podia ser concedido sem afirmando, sem qualquer ressalva, que “o
que houvesse a prévia partilha de bens. divórcio pode ser concedido sem que haja
Divórcio indireto (conversão da separação prévia partilha de bens” (art. 1.518).
judicial em divórcio): não podia ser
concedido sem a prévia partilha dos bens. Logo, tanto o divórcio direto como o
indireto independem de partilha para
Este entendimento era baseado nos arts. serem concedidos.
31 e 43 da Lei n. 6.515/77 e fez com que
fosse editada uma súmula pelo STJ: Assim, deve-se tomar cuidado atualmente
com a Súmula 197 do STJ. A sua leitura
Súmula 197-STJ: O divórcio direto pode ser correta agora é a seguinte:
concedido sem que haja prévia partilha dos O divórcio pode ser concedido sem que haja
bens. prévia partilha dos bens.

EC 66/2010 A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”), alterou a redação do art. 226, § 6º
da CF/88, suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de dois anos de
separação de fato no divórcio.
Em suma, a EC 66/2010 acabou com a referência à existência de separação judicial.
Compare as duas redações:

Antes da EC 66/2010 DEPOIS da EC 66/2010


§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido § 6º O casamento civil pode ser dissolvido
pelo divórcio, após prévia separação pelo divórcio.
judicial por mais de um ano nos casos
expressos em lei, ou comprovada
separação de fato por mais de dois anos.

Apesar da CF/88 ter expurgado de seu texto a “separação judicial”, o art. 1.571, III, do CC
(que menciona a existência de separação judicial) não foi formalmente revogado. Diante
disso, surgiram duas correntes:

1ª) Defende que a separação judicial continua a ser possível para aqueles que querem (os
autores afirmam que existem pessoas que, por razões religiosas, não admitem o divórcio e
assim querem ficar apenas “separadas”, mas não “divorciadas”).
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2ª) Sustenta que o art. 1.571, III, do CC, mesmo não tendo sido alterado expressamente, foi
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revogado pela EC 66/2010 (não recepção). Logo, não é mais possível que haja separação
judicial, mas apenas o divórcio.

INFORMATIVO esquematizado
Na V Jornada de Direito Civil foi aprovado um enunciado adotando a 1ª corrente:
Enunciado 514: Art. 1.571. A Emenda Constitucional n. 66/2010 não extinguiu o instituto da
separação judicial e extrajudicial.

Quem escreveu este enunciado foi a Prof. Regina Beatriz Tavares da Silva, que possui um
livro defendendo a posição exposta na 1ª corrente.

No entanto, a maioria da doutrina defende a 2ª corrente. Nesse sentido: Paulo Lôbo,


Rodrigo da Cunha Pereira, Pablo Stolze, Maria Berenice Dias, Flávio Tartuce.

Desse modo, entendo que este enunciado não deveria ter sido aprovado, pois não reflete o
posicionamento majoritário da doutrina. Penso também que este tema não pode ser
cobrado em uma prova objetiva de concurso.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.281.236-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/3/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para ação de indenização contra sindicato


por atuação inadequada em reclamação trabalhista

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demanda proposta por trabalhador com o
objetivo de receber indenização em razão de alegados danos materiais e morais causados pelo
respectivo sindicato, o qual, agindo na condição de seu substituto processual, no patrocínio de
reclamação trabalhista, teria conduzido o processo de forma inadequada, gerando drástica
redução do montante a que teria direito a título de verbas trabalhistas.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Antônio é trabalhador da indústria de construção.
O sindicato dos trabalhadores das indústrias de construção, atuando como representante
processual de Antônio em uma reclamação trabalhista, fez um acordo com a reclamada.
Após ter sido celebrado, Antônio entendeu que o acordo era prejudicial a ele, pois teria
provocado a redução das verbas trabalhistas a que teria direito.
Diante disso, Antônio deseja ajuizar uma ação de indenização por danos morais e materiais
contra o sindicato.

De quem será a competência para julgar a referida ação?


Justiça do Trabalho.

O STJ decidiu que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demanda proposta por
trabalhador com o objetivo de receber indenização em razão de alegados danos materiais e
morais causados pelo respectivo sindicato, o qual, agindo na condição de seu substituto
processual, no patrocínio de reclamação trabalhista, teria conduzido o processo de forma
inadequada, gerando drástica redução do montante a que teria direito a título de verbas
trabalhistas.
Como os alegados danos originaram-se de deficiente atuação do sindicato na defesa dos
interesses do autor na Justiça do Trabalho, a ação que discute eventual indenização por
conta disso terá que ser proposta no mesmo juízo que julgou a lide original.
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Processo STJ. 2ª Seção. CC 124.930-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Competência para ação de indenização em que os fatos que geraram o dano ocorreram
durante a relação de trabalho e em decorrência dela

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação de indenização por danos morais e
materiais proposta por ex-empregador cuja causa de pedir se refira a atos supostamente
cometidos pelo ex-empregado durante o vínculo laboral e em decorrência da relação de
trabalho havida entre as partes.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 121.998-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 27/2/2013.

Possibilidade do terceiro lesado ajuizar ação de indenização


contra o causador do dano e contra a seguradora em litisconsórcio

ATENÇÃO É possível o ajuizamento de ação de indenização por acidente de trânsito contra o segurado
apontado como causador do dano e contra a seguradora obrigada por contrato de seguro,
desde que os réus não tragam aos autos fatos que demonstrem a inexistência ou invalidade do
contrato de seguro (nem o causador do dano nem a seguradora negam a existência do seguro
ou questionam as cláusulas do contrato).

Assim, a vítima de um acidente automobilístico pode ajuizar a ação de indenização contra o


causador do dano (segurado) e contra a seguradora deste, em litisconsórcio passivo.

O STJ afirmou que esse ajuizamento contra ambos é possível porque não haverá nenhum
prejuízo para a seguradora, considerando que ela certamente seria convocada para compor a
lide, por meio de denunciação da lide, pelo segurado.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro estava dirigindo seu veículo, quando foi abalroado por trás pelo carro de José, que
possui seguro de veículos da “Seguradora X”.
Comprovou-se que a culpa pelo acidente foi de José.

1º ponto importante:

Pedro, sabendo que José tem contrato de seguro, pode ajuizar ação de indenização
cobrando seu prejuízo apenas contra a “Seguradora X”?
NÃO. Segundo entendimento pacífico do STJ, o terceiro prejudicado não pode ajuizar,
direta e exclusivamente, ação judicial em face da seguradora do causador do dano.
STJ. 2ª Seção. REsp 962.230-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/2/2012 (recurso
repetitivo).

Argumentos utilizados pelo STJ:


A obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros pressupõe a
responsabilidade civil do segurado, a qual, de regra, não poderá ser reconhecida em
demanda na qual este não interveio, sob pena de vulneração do devido processo legal e
da ampla defesa.
A obrigação da seguradora está sujeita a condição suspensiva, que não se implementa
pelo simples fato de ter ocorrido o sinistro, mas somente pela verificação da eventual
obrigação civil do segurado.
O seguro de responsabilidade civil facultativo não é espécie de estipulação a favor de
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terceiro alheio ao negócio, ou seja, quem sofre o prejuízo não é o beneficiário do


negócio jurídico com a seguradora, mas sim o causador do dano.
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Acrescente-se, ainda, que o ajuizamento direto exclusivamente contra a seguradora


ofende os princípios do contraditório e da ampla defesa, pois a ré não teria como
INFORMATIVO esquematizado
defender-se dos fatos expostos na inicial, especialmente da descrição do sinistro.
Essa situação inviabiliza, também, a verificação de fato extintivo da cobertura
securitária, pois, a depender das circunstâncias em que o segurado se envolveu no
sinistro (embriaguez voluntária ou prática de ato doloso pelo segurado, por exemplo),
poderia a seguradora eximir-se da obrigação contratualmente assumida.

2º ponto importante:

Tudo bem. Vamos, então, supor outra hipótese.


Pedro ajuizou apenas contra José a ação de indenização cobrando as despesas do conserto.
José poderá fazer a denunciação da lide à seguradora?
SIM, nos termos do art. 70, III, do CPC:
Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:
III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o
prejuízo do que perder a demanda.

Desse modo, a “Seguradora X” comparece em juízo aceitando a denunciação da lide feita


pelo réu, contestando o mérito do pedido do autor e assumindo, assim, a condição de
litisconsorte passiva.

É admitida a condenação direta da seguradora denunciada? Em outras palavras, a


seguradora denunciada pode ser condenada a pagar diretamente Pedro (autor da ação),
isto é, sem que José pague antes e depois o seguro faça apenas o ressarcimento?
SIM. O STJ possui entendimento pacífico de que, em ação de indenização, se o réu
(segurado) denunciar a lide à seguradora, esta poderá ser condenada, de forma direta e
solidária, a indenizar o autor da ação.
Em ação de reparação de danos movida em face do segurado, a Seguradora denunciada
pode ser condenada direta e solidariamente junto com este a pagar a indenização devida
à vítima, nos limites contratados na apólice.
STJ. 2ª Seção. EREsp 595.742-SC, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para o acórdão
Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 14/12/2011.
REsp 925130/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/02/2012 (recurso repetitivo).

Assim, nesta situação acima relatada, o juiz irá condenar José e a “Seguradora X”, de modo
que Pedro poderá executar tanto o denunciante (José) como a denunciada (Seguradora).

Com este entendimento, a vítima não será obrigada a perseguir seu direito somente contra
o autor do dano (José), o qual poderia não ter condições de arcar com a condenação.

Fundamentos da decisão:
Pacificação social;
Efetividade da tutela judicial prestada;
Garantia da duração razoável do processo;
Indenizabilidade plena do dano sofrido.

Ressalte-se que a seguradora denunciada terá direito ao contraditório e à ampla defesa,


com todos os meios e recursos disponíveis.
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Página

INFORMATIVO esquematizado
3º ponto importante:

Ok. Vamos agora supor uma última hipótese.


Pedro poderá ajuizar a ação de indenização contra José e a “Seguradora X”, em
litisconsórcio passivo?
SIM. Foi o que decidiu a 4ª Turma do STJ no julgado noticiado neste informativo.

É possível o ajuizamento de ação de indenização por acidente de trânsito contra o segurado


apontado como causador do dano e contra a seguradora obrigada por contrato de seguro,
desde que os réus não tragam aos autos fatos que demonstrem a inexistência ou invalidade
do contrato de seguro (nem o causador do dano nem a seguradora negam a existência do
seguro ou questionam as cláusulas do contrato).

O STJ afirmou que esse ajuizamento contra ambos é possível porque não haverá nenhum
prejuízo para a seguradora, considerando que ela certamente seria convocada para compor
a lide, por meio de denunciação da lide, pelo segurado.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 710.463-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 9/4/2013.

Benefício do prazo em dobro


Se os litisconsortes passam a ter procuradores distintos no curso do processo, quando já
iniciado o prazo recursal, somente se aplica o benefício do prazo em dobro à parte do prazo
recursal ainda não transcorrida até aquele momento.
Comentários Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais
réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos serão contados
em dobro. É o que determina o art. 191 do CPC:
Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados
em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos.

Segundo a jurisprudência, essa regra justifica-se pela dificuldade maior que os advogados
dos litisconsortes encontram em cumprir os prazos processuais e, principalmente, em
consultar os autos do processo (STJ AgRg no Ag 963.283/MG).

Persiste o prazo em dobro mesmo na hipótese dos litisconsortes serem marido e mulher?
SIM, considerando que a Lei não faz qualquer ressalva quanto a isso, exigindo apenas que
tenham diferentes procuradores (STJ REsp 973.465-SP).

Se o advogado dos litisconsortes forem diferentes, mas pertencerem ao mesmo escritório de


advocacia, ainda assim persistirá o direito ao prazo em dobro?
SIM, terão prazo em dobro, ainda que os advogados pertençam à mesma banca de
advocacia (STJ REsp 713.367/SP).

Esse prazo em dobro vale apenas na 1ª instância?


NÃO, abrange também as instâncias recursais.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


André ajuizou uma ação contra Roberto e Gabriela.
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Vale ressaltar que Roberto e Gabriela possuíam o mesmo advogado. Logo, os prazos
processuais para eles não eram contados em dobro. Ex: a contestação apresentada por
Página

Alexandre e Roberto teve que ser protocolizada no prazo de 15 dias. Se tivessem advogados
diferentes, o prazo seria de 30 dias.

INFORMATIVO esquematizado
Em nosso exemplo, suponha que a sentença tenha sido procedente, condenando Roberto e
Gabriela.
O prazo para apresentação do recurso de apelação iniciou-se em 24/11/2009. Em
07/12/2009, 14º (décimo quarto) dia do prazo, Gabriela protocolizou requerimento, no qual
informava a constituição de novo causídico e a consequente revogação dos poderes
conferidos ao advogado anterior. Nesse contexto, se os litisconsortes passam a ter
procuradores distintos no curso do prazo para recorrer, a duplicação será apenas do tempo
faltante.

O ingresso nos autos de novo advogado não tem o condão de reabrir o prazo recursal já
expirado. Em verdade, não há devolução de prazo quando decorrido o simples, ante o
ingresso de novo advogado para os litisconsortes. Se assim fosse, nos casos de pluralidade
de partes, bastaria aos litisconsortes constituírem novo advogado no último dia do prazo,
para obterem o benefício do prazo em dobro.

Nesse sentido é a jurisprudência do STJ:


Apelação. Prazo em dobro. Constituídos novos procuradores no último dia do prazo para o
recurso, por réus que até ali se defenderam pelo mesmo advogado, a duplicação será
apenas do tempo faltante. Art. 191 do CPC.
(REsp 336.915/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 06.05.02)

Se os litisconsortes passam a ter procuradores distintos no curso do processo, a partir daí é


que têm o prazo em dobro à sua disposição. O momento processual da aplicação do art.
191 do CPC, é, portanto, o de quando demonstrada a existência de litisconsórcio com
diferentes procuradores. (AgRg no Ag 957830/MG, Nancy Andrighi, DJ de 18/11/2008)

Em nosso exemplo, faltava um dia para o término do prazo de Gabriela quando ela
informou que passou a ter advogado diferente em relação ao outro litisconsorte. Logo, ao
invés de mais 1 dia de prazo, ela teve 2 dias restantes para apresentar o recurso.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.309.510-AL, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/3/2013.

Advogado pode cobrar honorários advocatícios contratuais de beneficiário da justiça gratuita

O advogado pode cobrar honorários advocatícios contratuais de seu cliente, em contrato com
cláusula ad exitum, mesmo ele sendo beneficiário da justiça gratuita.
Prática Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
forense
Dr. Ruy (advogado) celebrou contrato de prestação de serviços advocatícios com João (seu
cliente). No ajuste, ficou previsto que os honorários contratuais seriam pagos por João
somente ao final da causa, se esta fosse exitosa.
Assim, se a ação de indenização a ser proposta por João fosse julgada procedente, este
deveria pagar ao advogado cinco mil reais. Se não tivesse êxito, João não pagaria nada.

Cláusula quota litis


Apenas por curiosidade, quando isso ocorre, diz-se que o contrato de honorários possui
uma cláusula ad exitum ou quota litis.
Como a obrigação do advogado é de meio (e não de resultado), havia uma discussão no
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Conselho Federal da OAB se a cláusula quota litis violaria ou não o Código de Ética e
Página

Disciplina da OAB.

INFORMATIVO esquematizado
O Conselho Federal da OAB, em 2010, entendeu que o contrato de prestação de serviços
jurídicos com cláusula quota litis, onde o advogado aceita receber seus honorários somente
no final do processo, em princípio, por si só, não fere o regime ético-disciplinar. No entanto,
segundo a OAB, este tipo de contrato deve ser excepcional (quando a parte não tiver
condições de pagar antecipadamente), não podendo o advogado transformá-lo em algo
corriqueiro (Consulta 2010.29.03728-01).

Voltando ao nosso exemplo


O advogado elaborou e protocolizou a petição inicial da ação.
Vale ressaltar que, pelo fato de João ser pobre, requereu-se a justiça gratuita.
O juiz deferiu os benefícios da justiça gratuita ao autor.
Após toda a tramitação processual, a ação foi julgada procedente.

O debate jurídico é o seguinte:


O advogado pode cobrar honorários advocatícios contratuais de uma pessoa que seja
beneficiária da justiça gratuita ou isso viola o art. 3º, V, da Lei n. 1.060/50?
O advogado pode sim cobrar honorários advocatícios contratuais de seu cliente, mesmo ele
sendo beneficiário da justiça gratuita, sem que esta prática viole o art. 3º, V, da Lei n.
1.060/50.

Vejamos inicialmente o que diz o art. 3º, V, da Lei n. 1.060/50, que estabelece as normas
para a concessão de assistência judiciária aos necessitados:
Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:
V - dos honorários de advogado e peritos.

O art. 3º, V, acima transcrito NÃO veda que o advogado possa cobrar de seu cliente os
honorários advocatícios ajustados entre eles (honorários contratuais). O que este
dispositivo quer dizer é que a pessoa pobre (beneficiária da justiça gratuita) está isenta do
pagamento dos honorários resultantes da sucumbência, ou seja, aqueles devidos ao
advogado da parte contrária, mas não os que ela contrata com o seu patrono, levando em
conta o eventual proveito que terá na causa.

Desse modo, se a ação proposta por João tivesse sido julgada improcedente, ele não teria
que pagar os honorários advocatícios de sucumbência do advogado do réu. João estaria
isento, por força do art. 3º, V, supra.

O STJ tem entendimento majoritário no sentido de que a isenção do art. 3º, V não se
estende aos honorários contratuais. Confira alguns precedentes:
(...) Se o beneficiário da Assistência Judiciária Gratuita opta por um determinado
profissional em detrimento daqueles postos à sua disposição gratuitamente pelo Estado,
deverá ele arcar com os ônus decorrentes desta escolha.
Esta solução busca harmonizar o direito de o advogado receber o valor referente aos
serviços prestados com a faculdade de o beneficiário, caso assim deseje, poder escolher
aquele advogado que considera ideal para a defesa de seus interesses. (...)
(REsp. 965350/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 9/12/2008)

(...) A concessão de assistência judiciária gratuita refere-se, exclusivamente, às custas e


verba honorária fixada em juízo, não importando em dispensa de pagamento dos
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honorários contratualmente estabelecidos pelas partes constante da avença entre elas


Página

firmada. (...)
(REsp 598.877/RJ, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, julgado em 16/11/2010)

INFORMATIVO esquematizado
Principais argumentos apresentados pelo Min. Luis Felipe Salomão:
De fato, o art. 3º da Lei n. 1.060/50 não diferencia honorários advocatícios
sucumbenciais e contratuais (o dispositivo fala apenas em honorários). No entanto, é
preciso interpretar este inciso de acordo com a CF/88 e com as demais normas do
ordenamento jurídico.
Assim, se considerarmos que os benefícios da justiça gratuita se estendem aos
honorários contratuais, iremos fazer com que uma eventual decisão do Judiciário
deferindo a justiça gratuita tenha o condão de desfazer um ato extraprocessual e
pretérito, qual seja, o contrato celebrado entre o advogado e o cliente, interpretação
que viola o ato jurídico perfeito.
Vale ressaltar, ainda, que a hipossuficiência reconhecida por ocasião do deferimento da
justiça gratuita é absolutamente compatível com o pagamento de honorários
contratuais pelo êxito da causa, uma vez que a pessoa não tem recursos no momento
da propositura da ação, mas sendo esta exitosa, poderá ser utilizada parte da verba
recebida para remunerar o profissional que atuou na causa.
Estender os benefícios da justiça gratuita aos honorários contratuais, retirando do
causídico a merecida remuneração pelo serviço prestado, não contribui para que o
hipossuficiente tenha maior acesso ao Judiciário. Ao contrário, não admitir o
recebimento dos honorários em tais casos dificulta, pois não haverá nenhum advogado
que aceite patrocinar os interesses de necessitados, circunstância que fará com que
haja uma grande procura pelas Defensorias Públicas o que gerará prejuízo aos demais
hipossuficientes já que a instituição ainda não está estruturada para atender toda esta
demanda.
STF A conduta do advogado de cobrar os honorários contratuais do beneficiário da justiça
gratuita foi criminosa? Configura estelionato?
NÃO. Recentemente, a 1ª Turma do STF examinou esta questão sob o ponto de vista
criminal e decidiu que esta conduta do advogado NÃO constitui estelionato.
De acordo com o STF, não há qualquer ilegalidade ou crime no fato de um advogado
pactuar com seu cliente, em contrato de risco, a cobrança de honorários, no caso de êxito
em ação judicial proposta, mesmo quando este goza do benefício da gratuidade de justiça.
(STF. 1ª Turma. HC 95058/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4/9/2012).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.065.782-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/3/2013.

Recurso adesivo

Imagine que o juiz julgou improcedente tanto a ação como a reconvenção, de forma que houve
sucumbência recíproca do autor/reconvindo e do réu/reconvinte.
Se apenas o autor interpôs apelação contra a sentença, o réu será intimado para apresentar
contrarrazões e poderá interpor recurso adesivo para questionar a sentença proferida na
reconvenção.
O art. 500 do CPC não exige, para a interposição de recurso adesivo, que a sucumbência
recíproca ocorra na mesma lide, devendo aquela ser aferida a partir da análise do julgamento
em seu conjunto. Logo, é possível o recurso adesivo mesmo sendo ele para impugnar o
resultado da reconvenção (e não da ação).
Comentários Imagine que em um processo, tanto o autor (João) como o réu (Pedro) foram sucumbentes,
ou seja, ambas as partes não conseguiram exatamente o que queriam.
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Neste caso, como houve sucumbência recíproca, ambas as partes poderiam recorrer contra
a decisão. Tanto João como Pedro poderiam interpor apelação contra a sentença.
Página

O ideal, para fins de pacificação social, seria que as duas partes se conformassem com a

INFORMATIVO esquematizado
decisão e que o processo se encerrasse desde logo, ou seja, sem a interposição de recurso.
No CPC anterior, no entanto, muitas vezes acontecia de uma das partes já estar
conformada, mas, com receio de que a outra recorresse (e ela perdesse o que ganhou),
interpunha o recurso.
Voltando ao nosso exemplo, João já estava satisfeito com o resultado. Por ele, o processo
poderia se encerrar logo. Entretanto, ele poderia ficar pensando: “E se Pedro recorrer? O
processo não vai se encerrar, eu vou ter que continuar acompanhando isso e, no final, minha
situação nem poderá melhorar porque eu não recorri. Então, vou recorrer também só como
garantia.”
Com o objetivo de evitar isso, o CPC de 1973 previu a interposição do recurso de forma
adesiva, ou, como é mais conhecido, o “recurso adesivo”.

Veja como funciona o recurso adesivo com base no exemplo:


Houve sucumbência recíproca, ou seja, João e Pedro não conseguiram exatamente o que
queriam. João já havia decidido que não iria recorrer. Ocorre que Pedro, no último dia do
prazo de 15 dias, interpôs apelação.
João foi, então, intimado para apresentar as contrarrazões à apelação. Já que Pedro
interpôs recurso, ele decide recorrer também. Logo, João irá apresentar as contrarrazões ao
recurso de Pedro e também irá apresentar uma apelação adesiva.
Neste caso, diz-se que Pedro apresentou “recurso independente” e João “recurso adesivo”.

Qual é o prazo que a parte tem para interpor o recurso de forma adesiva?
A parte deverá interpor o recurso adesivo no mesmo prazo de que dispõe para apresentar
as contrarrazões.

Qualquer recurso poderá ser interposto de forma adesiva?


NÃO. Podem ser interpostos de forma adesiva os seguintes recursos:
Apelação;
Embargos infringentes;
Recurso extraordinário;
Recurso especial.

Previsão
O recurso adesivo está previsto no art. 500 do CPC:
Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as
exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer
deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e
se rege pelas disposições seguintes:
I - será interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso principal, no
prazo de que a parte dispõe para responder;
II - será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no
recurso especial;
III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado
inadmissível ou deserto.
Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso
independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal
superior.
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Imagine agora a seguinte situação julgada pelo STJ:


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“X” ajuizou uma ação contra “Z”.


“Z”, por sua vez, contestou a ação e apresentou também uma reconvenção contra “X”.

INFORMATIVO esquematizado
O juiz julgou improcedentes tanto a ação como a reconvenção. Em suma, houve
sucumbência recíproca, isto é, tanto “X” como “Z” sucumbiram.
“X” interpôs recurso de apelação contra a sentença, ao passo que “Z” manteve-se inerte.
“Z” foi, então, intimado para apresentar contrarrazões ao recurso interposto por “X”. “Z”
poderá, nesta oportunidade, interpor uma apelação em forma adesiva?
SIM. O art. 500 do CPC não exige, para a interposição de recurso adesivo, que a
sucumbência recíproca ocorra na mesma lide, devendo aquela ser aferida a partir da análise
do julgamento em seu conjunto. Logo, é possível o recurso adesivo mesmo sendo ele para
impugnar o resultado da reconvenção (e não da ação).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.109.249-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/3/2013.

Habilitação de herdeiro colateral em execução

É possível a habilitação de herdeiros colaterais, nos termos do art. 1.060, I, do CPC,


de modo a possibilitar o prosseguimento da execução
quando comprovada a inexistência de herdeiros necessários.
Comentários Quando ocorre o falecimento da parte, o CPC prevê que determinadas pessoas podem vir a
ocupar o seu lugar no processo. Isso é denominado de “sucessão processual”.
Ex: Ambrósio ajuizou uma ação contra determinada empresa, tendo a sentença sido
procedente. Durante o cumprimento da sentença, Ambrósio morre. Sua esposa poderá
suceder seu marido na demanda, passando à condição de exequente.

Vale ressaltar que, se o direito material discutido no processo for intransmissível, não será
cabível a sucessão processual.

A sucessão processual é realizada por meio de um procedimento chamado de “processo de


habilitação” (arts. 1.055 a 1.062 do CPC).

Ocorrendo o óbito da parte, o processo deve ser suspenso, a teor do art. 265, inciso I e § 1º,
do CPC, até que seja realizada a habilitação, nos termos dos arts. 1.055 e ss.

De acordo com o art. 1.060, I, do CPC, a habilitação poderá ser requerida pelo cônjuge e
pelos herdeiros necessários, desde que provem por documento o óbito do falecido e a sua
qualidade.

No mesmo sentido, o art. 567 do CPC preconiza:


Art. 567. Podem também promover a execução, ou nela prosseguir:
I - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for
transmitido o direito resultante do título executivo;

Se não houver cônjuge nem herdeiros necessários (ascendentes e descendentes), os


herdeiros colaterais (ex: irmãos) poderão pedir a habilitação no processo?
SIM. É possível a habilitação de herdeiro colateral se comprovado que não existem
herdeiros necessários nem bens a inventariar.
Apesar do art. 1.060, I, do CPC não mencionar os herdeiros colaterais, é razoável admitir
também o deferimento de sua habilitação se não houver herdeiros necessários.
Processo STJ. 3ª Seção. AgRg nos EmbExeMS 11.849-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/3/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Indicação de leiloeiro

O juiz pode recusar a indicação do leiloeiro público efetivada pelo exequente para a realização
de alienação em hasta pública, desde que o faça de forma motivada.
A interpretação do art. 706 do CPC conduz à conclusão de que o exequente possui a
possibilidade jurídica de indicar o leiloeiro público, o que não implica afirmar que o exequente
tenha o direito de ver nomeado o leiloeiro indicado por ele.
Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:
a) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
b) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e,
caso não o faça, seus bens são penhorados.

O que é a penhora?
Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou
indiretamente, na satisfação do crédito executado.

Formas de utilizar o bem penhorado para satisfação da dívida:


Como visto, os bens do devedor são penhorados a fim de serem utilizados, direta ou
indiretamente, para a satisfação da dívida.

O que acontece com o bem penhorado?


Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação.
Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser:
a) Adjudicado;
b) Alienado por iniciativa particular;
c) Alienado em hasta pública;
d) Concedido em usufruto ao exequente.

A isso se dá o nome de expropriação, conforme previsto no art. 647 do CPC:


Art. 647. A expropriação consiste:
I - na adjudicação em favor do exequente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A
desta Lei;
II - na alienação por iniciativa particular;
III - na alienação em hasta pública;
IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel.

Inciso III: alienação em hasta pública


Se não houver interessados na adjudicação (inciso I do art. 647 do CPC) e se o credor não
requerer a alienação particular do bem (inciso II), então o destino do bem será a sua
alienação em hasta pública (inciso III).
A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento
organizado pelo Estado-juiz.
Existem duas formas de hasta pública (art. 686, IV):
a) Praça: quando a coisa a ser alienada for bem imóvel;
b) Leilão: quando a coisa a ser alienada for bem móvel.
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Leilão
A alienação judicial de bens móveis, portanto, é feita por meio de leilão, que é conduzido
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por um leiloeiro.

INFORMATIVO esquematizado
Indicação do leiloeiro
O art. 706 do CPC estabelece que o leiloeiro público será indicado pelo exequente.
Vale ressaltar que, se não houver leiloeiro público na comarca, o leilão poderá ser
conduzido pelo porteiro ou por outro serventuário da justiça (DIDIER JR., Fredie; et. al.
Curso de Direito Processual Civil. Vol. 5. Execução. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 678).

O juiz pode recusar a indicação do leiloeiro feita pelo exequente?


SIM. O juiz pode recusar a indicação do leiloeiro público efetivada pelo exequente para a
realização de alienação em hasta pública, desde que o faça de forma motivada. `

A interpretação do art. 706 do CPC conduz à conclusão de que o exequente possui a


possibilidade jurídica de indicar o leiloeiro público, o que não implica afirmar que o
exequente tenha o direito de ver nomeado o leiloeiro indicado por ele.

Por conclusão, o juiz tem poderes para exercer controle sobre a idoneidade da indicação do
leiloeiro pelo exequente, podendo recusá-lo caso haja motivo justificado.

No caso concreto, o leiloeiro foi recusado pelo juiz porque seu escritório ficava a mais de
700Km da comarca onde estava sendo realizada a execução.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.354.974-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/3/2013.

DIREITO PENAL

Corrupção de menores (art. 244-B do ECA)

O simples fato de um maior de idade ter se utilizado da participação de um menor de 18 anos


na prática de infração penal já é suficiente para que haja a consumação do crime de corrupção
de menores (previsto inicialmente no art. 1º da revogada Lei n. 2.252/1954 e atualmente
tipificado no art. 244-B do ECA).
Assim, para a configuração do delito não se exige prova de que o menor tenha sido
efetivamente corrompido. Isso porque o delito de corrupção de menores é considerado formal.
Comentários O art. 1º da Lei n. 2.252/54 previa o crime de “corrupção de menores” nos seguintes termos:
Art. 1º Constitui crime, punido com a pena de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa
de Cr$1.000,00 (mil cruzeiros) a Cr$10.000,00 (dez mil cruzeiros), corromper ou facilitar a
corrupção de pessoa menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando, infração penal ou
induzindo-a a praticá-la.

Este art. 1º da Lei n. 2.252/54 foi revogado pela Lei n. 12.015/2009. Houve abolitio criminis?
NÃO, não houve abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica, considerando que
esta lei inseriu o mesmo crime no Estatuto da Criança e do Adolescente. Houve, então,
apenas uma mudança no local onde o delito era previsto, mantendo-se, contudo, a previsão
de que esta conduta se trata de crime.

Segundo o STJ, “o princípio da continuidade normativa típica ocorre quando uma norma
penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou
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seja, a infração penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente
ou normativamente diverso do originário.” (HC 204.416/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta
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Turma, julgado em 17/05/2012).

INFORMATIVO esquematizado
Desse modo, o art. 1º da Lei n. 2.252/54 foi revogado, mas a conduta de corromper
menores fazendo com que estes pratiquem crimes continua sendo tipificada, no entanto,
agora no art. 244-B do ECA:
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali
tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
internet.
§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a
infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho
de 1990.

O crime de corrupção de menores é formal ou material? Para que este delito se consuma,
exige-se a prova de que o menor foi corrompido?
Trata-se de crime FORMAL. Assim, NÃO se exige prova de que o menor tenha sido
corrompido (obs: no crime formal, não é necessária a ocorrência de um resultado
naturalístico).

Desse modo, a simples participação de menor de 18 anos em infração penal cometida por
agente imputável é suficiente à consumação do crime de corrupção de menores (previsto
no art. 1º da revogada Lei n. 2.252/1954 e atualmente tipificado no art. 244-B do ECA),
sendo dispensada, para sua configuração, prova de que o menor tenha sido efetivamente
corrompido.
STF Vale ressaltar que este é também o entendimento do STF:
(...) O crime de corrupção de menores é formal, não havendo necessidade de prova efetiva da
corrupção ou da idoneidade moral anterior da vítima, bastando indicativos do envolvimento de
menor na companhia do agente imputável. Precedentes. (...)
(RHC 111434, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 03/04/2012)
Abolitio Vejamos as principais diferenças entre abolitio criminis e a continuidade normativa típica (com
criminis X base em CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 107):
Continui-
dade Abolitio criminis Continuidade normativa típica
normativa Há uma supressão formal e material da figura Há uma supressão apenas formal da figura
típica criminosa. criminosa.
A conduta não mais será punida (o fato deixa O fato permanece sendo punível (a conduta
de ser punível). criminosa, no entanto, é deslocada para
outro tipo penal).
A intenção do legislador é a de não mais A intenção do legislador é a de continuar
considerar aquela conduta como um fato considerando aquela conduta como um fato
criminoso. criminoso.
Ex: o art. 240 do CP (crime de adultério) foi Ex: o art. 1º da Lei n. 2.252/54 (corrupção d
revogado e não existe mais nenhuma lei no menores) foi revogado, mas o ordenamento
ordenamento jurídico que afirme que esta jurídico continua prevendo esta conduta
conduta é crime. como criminosa, porém em um outro
dispositivo legal (art. 244-B do ECA).
41

Processo STJ. 6ª Turma. HC 159.620-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/3/2013.
Página

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PENAL MILITAR

Art. 244 do CPM (extorsão mediante sequestro)

Para que se configure a extorsão mediante sequestro prevista no art. 244 do Código Penal Militar,
NÃO É necessário que a privação da liberdade da vítima se estenda por longo intervalo de tempo.
Comentários O art. 244 do Código Penal Militar prevê o delito de “extorsão mediante sequestro”:
Art. 244. Extorquir ou tentar extorquir para si ou para outrem, mediante sequestro de
pessoa, indevida vantagem econômica:
Pena - reclusão, de seis a quinze anos.

Segundo decidiu o STJ, para que se configure a extorsão mediante sequestro prevista no
art. 244 do Código Penal Militar, NÃO É necessário que a privação da liberdade da vítima se
estenda por longo intervalo de tempo.

Assim, o fato de a privação da liberdade durar apenas curto lapso temporal não
descaracteriza o referido crime, que consiste em extorquir ou tentar extorquir, para si ou
para outrem, mediante sequestro de pessoa, indevida vantagem econômica.

No caso concreto, a vítima ficou privada de sua liberdade por 40 minutos.

Ressalte-se que esse delito não exige, para sua consumação, que ocorra a efetiva obtenção
da vantagem indevida.

Ademais, a única referência feita pelo CPM em relação ao período de privação de liberdade
da vítima diz respeito à figura qualificada da extorsão mediante sequestro (art. 244, § 1º,
primeira parte), exigindo-se, somente nesse caso, que o sequestro dure mais de 24 horas.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 262.054-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 2/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência para julgar estelionato previdenciário

O réu, por meio de fraude, obteve, para si, um benefício previdenciário que era pago em
agência do INSS localizada no Estado “A”. Depois de algum tempo recebendo, o benefício foi
transferido para uma agência do INSS no Estado “B”, quando, então, foi descoberta a fraude.
A competência para julgar este estelionato previdenciário será da Justiça Federal do Estado “A”.
Segundo decidiu o STJ, no caso de ação penal destinada à apuração de estelionato praticado
mediante fraude para a concessão de aposentadoria, é competente o juízo do lugar em que
situada a agência onde inicialmente recebido o benefício, ainda que este, posteriormente,
tenha passado a ser recebido em agência localizada em município sujeito a jurisdição diversa.
Comentários Félix, por meio de fraude, induziu o INSS em erro, obtendo, para si, um benefício
previdenciário. Ressalte-se que o benefício foi concedido em uma agência localizada no Rio
de Janeiro.
Depois de alguns anos recebendo, o benefício foi transferido para uma agência do INSS em
Brasília, quando, então, foi descoberta a fraude.
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De quem é a competência para julgar este estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP)?
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A competência será da Justiça Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.

INFORMATIVO esquematizado
Segundo decidiu o STJ, no caso de ação penal destinada à apuração de estelionato praticado
mediante fraude para a concessão de aposentadoria, é competente o juízo do lugar em que
situada a agência onde inicialmente recebido o benefício, ainda que este, posteriormente,
tenha passado a ser recebido em agência localizada em município sujeito a jurisdição
diversa.

Segundo o art. 70 do CPP, a competência será, em regra, determinada pelo lugar em que se
consumar a infração, o que, em casos como este, ocorre no momento em que recebida a
indevida vantagem patrimonial.

Assim, embora tenha havido a posterior transferência do local de recebimento do benefício,


a competência já restara fixada no lugar em que consumada a infração.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 125.023-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Aposentadoria por idade (período de carência)

O auxílio-acidente (e não apenas o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez) pode ser


considerado como espécie de "benefício por incapacidade", apto a compor a carência
necessária à concessão da aposentadoria por idade.
Comentários O período em que o segurado estiver recebendo apenas auxílio-acidente é apto a compor a
carência necessária à concessão de aposentadoria por idade.
De acordo com o § 5º do art. 29 da Lei n. 8.213/1991, o período de recebimento de
“benefícios por incapacidade” será computado como tempo de contribuição, portanto, de
carência, para efeito de concessão de aposentadoria por idade:
§ 5º Se, no período básico de cálculo, o segurado tiver recebido benefícios por
incapacidade, sua duração será contada, considerando-se como salário-de-contribuição, no
período, o salário-de-benefício que serviu de base para o cálculo da renda mensal,
reajustado nas mesmas épocas e bases dos benefícios em geral, não podendo ser inferior
ao valor de 1 (um) salário mínimo.

Desse modo, a discussão é sobre o sentido e o alcance desta expressão: “benefícios por
incapacidade”.

1ª corrente: a expressão “benefícios por incapacidade” engloba apenas o auxílio-doença e a


aposentadoria por invalidez.
2ª corrente: a expressão “benefícios por incapacidade” engloba o auxílio-doença, a
aposentadoria por invalidez e também o auxílio-acidente.

O STJ adotou justamente esta segunda corrente. Segundo a Ministra Relatora, não é correta
a interpretação que restringe o conceito de "benefícios por incapacidade", de modo a
considerar que este compreende apenas o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez,
não abrangendo o auxílio-acidente. Isso porque não é possível extrair a referida limitação
dos artigos de lei que regem o tema.
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Assim, o tempo que a pessoa estiver gozando do auxílio-acidente será considerado como
tempo de contribuição.
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Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.243.760-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 2/4/2013.

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) Caso exista compatibilidade de horários, é possível a acumulação do cargo de médico militar com o de
professor de instituição pública de ensino. ( )
2) Não é devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de trabalho
temporário efetuado com a Administração Pública sob o regime de "contratação excepcional" tenha
sido declarado nulo em razão da falta de realização de concurso público. ( )
3) No momento de recebimento da ação de improbidade administrativa, vigora o princípio do in dubio pro
societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do interesse público. ( )
4) (Cartório PE 2013 – FCC) Em face do entendimento sumulado, em embargos de terceiro não se anula
ato jurídico por fraude contra credores. ( )
5) (DPE/AM 2013 – FCC) São nulos os atos praticados sob coação ou em fraude contra credores. ( )
6) (Juiz TJGO 2012 – FCC) Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo
para pleitear-se a anulação, será este de cinco anos, no caso de fraude contra credores. ( )
7) (OAB VIII 2012 – FGV) O objetivo da ação pauliana é anular o negócio praticado em fraude contra
credores. ( )
8) (PGE/SP 2012 – FCC) Celebrado negócio jurídico não oneroso pelo devedor, que o reduza à insolvência,
será ele considerado
A) nulo por fraude contra credores, por revelar ato atentatório contra a dignidade da justiça.
B) anulável por fraude contra credores, por iniciativa do credor quirografário com crédito anterior à
alienação.
C) ineficaz por fraude contra credores, por se tratar de ato gratuito.
D) nulo por fraude à execução, por presunção absoluta de consilium fraudis.
E) anulável por fraude à execução, ante a clara intenção de frustrar o cumprimento das suas
obrigações.

9) (MPE/SE 2010 – CESPE) O consilium fraudis ou scientia fraudis não é requisito essencial para a anulação
de negócio jurídico gratuito sob o fundamento de fraude contra credores. ( )
10) Decretada a resolução do contrato de promessa de compra e venda, deve o juiz, ainda que não tenha
sido expressamente provocado pela parte interessada, determinar a restituição, pelo promitente
vendedor, das parcelas do preço pagas pelos promitentes compradores. ( )
11) (DPE/AM 2013 – FCC) O divórcio não pode ser concedido sem prévia partilha dos bens. ( )
12) (DPE/ES 2009 – CESPE) É possível que seja decretado o divórcio de casal sem que haja prévia partilha de
bens. ( )
13) (MP/MS 2013) É admissível a alteração do regime de bens do casamento, mediante autorização
judicial, em pedido motivado deduzido por ambos os cônjuges, ressalvados eventuais direitos de
terceiros. ( )
14) (Juiz TJPB 2011 – CESPE) É admitida a alteração de regime de bens entre os cônjuges,
independentemente de autorização judicial. ( )
15) É possível a alteração do regime de bens mesmo que o casamento tenha ocorrido na vigência do
Código Civil de 1916. ( )

Obs1: para aqueles que prestam concursos em que o Direito Empresarial é exigido de forma muito intensa,
vale a pena estudar o REsp 1.202.918-SP, transcrito logo abaixo, e que não foi comentado.

Obs2: para aqueles que prestam concursos em que o Direito Empresarial é exigido de forma muito intensa,
vale a pena estudar o AgRg no AREsp 122.928-RS, transcrito logo abaixo, e que não foi comentado.
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Gabarito
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1. C 2. C 3. C 4. C 5. E 6. E 7. C 8. Letra B 9. C 10. C 11. E 12. C 13. C 14. E 15. C

INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA
(OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO CIVIL. RESTITUIÇÃO DE VALORES APORTADOS POR CONSUMIDOR QUE TENHA SOLICITADO A
EXTENSÃO DE REDE DE ELETRIFICAÇÃO RURAL. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. N. 8/2008-STJ).
Em contratos regidos pelo Decreto n. 41.019⁄1957, o consumidor que solicitara a extensão de rede de
eletrificação rural não tem direito à restituição dos valores aportados, salvo na hipótese de ter adiantado
parcela que cabia à concessionária — em caso de responsabilidade conjunta (arts. 138 e 140) — ou de ter
custeado obra de responsabilidade exclusiva da concessionária (art. 141).
Leva-se em consideração, em ambos os casos, a normatização editada pelo Departamento Nacional de
Águas e Energia Elétrica — DNAEE, que definia os encargos de responsabilidade da concessionária e do
consumidor, relativos a pedidos de extensão de redes de eletrificação, com base na natureza de cada obra.
Apenas nessas hipóteses rígidas, as cláusulas contratuais que excluíram a restituição devida ao consumidor
podem ser tidas por ilegais, mas não no caso de os valores aportados pelo solicitante terem decorrido de
responsabilidade própria pelo custeio da rede elétrica. Com efeito, a participação financeira do consumidor
no custeio de construção de rede elétrica não é, por si só, ilegal. Nesse contexto, o direito à restituição de
valores aportados para a construção de rede de eletrificação rural guarda estreita relação com a natureza
da obra custeada, porquanto há obras de responsabilidade exclusiva do concessionário, outras do
consumidor e outras da responsabilidade de ambos. Precedentes citados: REsp 1.100.452-RS, Quarta
Turma, DJe 15/9/2011 e AgRg nos EDcl no REsp 1.270.401-PR, Terceira Turma, DJe 19/12/2012.
REsp 1.243.646-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/4/2013.

DIREITO CIVIL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE


PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA DO CONSUMIDOR NO CUSTEIO DE CONSTRUÇÃO DE REDE ELÉTRICA. RECURSO
REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. N. 8/2008-STJ).
A pretensão de ressarcimento de quantia paga pelo consumidor a título de participação financeira no
custeio de extensão de rede de energia elétrica prescreve em vinte anos, na vigência do CC/1916, e em
cinco anos, na vigência do CC/2002 — respeitada a regra de transição prevista no art. 2.028 do CC/2002
—, na hipótese em que o pleito envolver valores cuja restituição, a ser realizada após o transcurso de
certo prazo a contar do término da obra, estiver prevista em instrumento contratual — pacto geralmente
denominado "convênio de devolução".
Com efeito, trata-se de pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular, de modo a atrair a incidência do prazo prescricional previsto no art. 206, § 5º, I, do CC/2002,
conforme decidido no Recurso Especial Repetitivo 1.063.661-RS, Segunda Seção, DJe 8/3/2010.
REsp 1.249.321-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/4/2013.

DIREITO CIVIL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE


PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA DO CONSUMIDOR NO CUSTEIO DE CONSTRUÇÃO DE REDE ELÉTRICA. RECURSO
REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. N. 8/2008-STJ).
A pretensão de ressarcimento de quantia paga pelo consumidor a título de participação financeira no
custeio de extensão de rede de energia elétrica prescreve em vinte anos, na vigência do CC/1916, e em
três anos, na vigência do CC/2002 — respeitada a regra de transição prevista no art. 2.028 do CC/2002 —,
na hipótese de pleito relativo a valores cuja devolução não estiver prevista em contrato — pactuação
prevista em instrumento, em regra, nominado "termo de contribuição".
Nessa conjuntura, haveria ilegalidade na retenção dos valores pagos pelo consumidor se os mencionados
aportes fossem, na verdade, de responsabilidade da concessionária, tendo esta se apropriado de quantia
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de terceiro que, a rigor, deveria ter sido desembolsada por ela própria. Em suma, o consumidor teria
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arcado com parte (ou totalidade) da obra que caberia à concessionária. Dessa forma, a pretensão de
ressarcimento está sujeita ao prazo prescricional de três anos previsto no art. 206, § 3º, IV, CC/2002, pois

INFORMATIVO esquematizado
diz respeito à "pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa", relativo a valores contidos em
instrumentos contratuais que vedavam a devolução (como os chamados Termos de Contribuição).
REsp 1.249.321-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE DEMANDA CUJA CAUSA DE PEDIR E
PEDIDO NÃO SE REFIRAM A EVENTUAL RELAÇÃO DE TRABALHO ENTRE AS PARTES.
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de reconhecimento e de dissolução de
sociedade mercantil de fato, cumulada com pedido de indenização remanescente, na hipótese em que a
causa de pedir e o pedido deduzidos na petição inicial não façam referência à existência de relação de
trabalho entre as partes.
A competência para julgamento de demanda levada a juízo é fixada em razão da natureza da causa, que é
definida pelo pedido e pela causa de pedir deduzidos. Na hipótese descrita, a demanda versa sobre relação
jurídica de cunho eminentemente civil, não sendo fundada em eventual relação de trabalho existente entre
as partes. Nesse contexto, conforme a jurisprudência do STJ, não compete à Justiça do Trabalho processar e
julgar demanda em que a causa de pedir e o pedido deduzidos na inicial não guardem relação com as
matérias de competência dessa justiça especializada elencadas no art. 114 da CF. Precedentes citados: CC
76.597-RJ, Segunda Seção, DJ 16/8/2007, e CC 72.770-SP, Segunda Seção, DJ 1º/8/2007.
CC 121.702-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 27/2/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DE PRECATÓRIOS DO IPERGS COM CRÉDITOS


TRIBUTÁRIOS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
Os precatórios emitidos por dívidas do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul — IPERGS
não podem ser utilizados para compensar créditos tributários de titularidade do Estado do Rio Grande do
Sul. Precedentes citados: AgRg no AREsp 113.781-RS, Segunda Turma, DJe 15/2/2013; e AgRg no REsp
1.238.247-RS , Primeira Turma, DJe 13/6/2012.
AgRg no AREsp 48.935-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/3/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. EXIGÊNCIA DE GARANTIA PARA LIBERAÇÃO DE MERCADORIA IMPORTADA.


A autoridade fiscal não pode condicionar a liberação de mercadoria importada à prestação de garantia
no caso em que a retenção da referida mercadoria decorra da pretensão da Fazenda de efetuar
reclassificação tarifária. Precedente citado: AgRg no Ag 1.183.602-RS, Primeira Turma, DJe 7/6/2010.
AgRg no REsp 1.227.611-RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 19/3/2013.

FASE DE COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS INCIDENTES SOBRE A CESSÃO DE MÃO DE OBRA.


Na cobrança de contribuições previdenciárias realizada com base na redação original do art. 31 da Lei n.
8.212/1991, não é lícita a autuação da tomadora de serviços sem que antes tenha havido a fiscalização
da contabilidade da prestadora de serviços executados mediante cessão de mão de obra. O art. 31 da Lei
n. 8.212/1991, em sua redação original, reconhece a existência de responsabilidade solidária entre o
tomador e o prestador de serviços pelas contribuições previdenciárias incidentes sobre a cessão de mão de
obra. A referida solidariedade, entretanto, ocorrerá na fase de cobrança do tributo, pressupondo, desse
modo, a regular constituição do crédito tributário, cuja ocorrência, antes da vigência da Lei n. 9.711/1998
— que deu nova redação ao art. 31 da Lei n. 8.212/1991 —, demandava a fiscalização da contabilidade da
empresa prestadora dos serviços de mão de obra, devedora principal da contribuição previdenciária.
Precedentes citados: AgRg no REsp 1.348.395-RJ, Segunda Turma, DJe 4/12/2012, e AgRg no REsp
1.174.800-RS, Segunda Turma, DJe 23/4/2012.
AgRg no REsp 1.194.485-ES, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF 3ª Região), julgado
em 26/2/2013.
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DIREITO EMPRESARIAL. NÃO SUJEIÇÃO DO CRÉDITO GARANTIDO POR CESSÃO FIDUCIÁRIA DE DIREITO
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CREDITÓRIO AO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.

INFORMATIVO esquematizado
O crédito garantido por cessão fiduciária de direito creditório não se sujeita aos efeitos da recuperação
judicial, nos termos do art. 49, § 3º, da Lei n. 11.101/2005. Conforme o referido dispositivo legal, os
créditos decorrentes da propriedade fiduciária de bens móveis e imóveis não se submetem aos efeitos da
recuperação judicial. A cessão fiduciária de títulos de crédito é definida como “o negócio jurídico em que
uma das partes (cedente fiduciante) cede à outra (cessionária fiduciária) seus direitos de crédito perante
terceiros em garantia do cumprimento de obrigações”. Apesar de, inicialmente, o CC/2002 ter restringido a
possibilidade de constituição de propriedade fiduciária aos bens móveis infungíveis, a Lei n. 10.931/2004
contemplou a possibilidade de alienação fiduciária de coisa fungível e de cessão fiduciária de direitos sobre
coisas móveis ou de títulos de crédito, hipóteses em que, salvo disposição contrária, é atribuída ao credor a
posse direta e indireta do bem objeto da propriedade fiduciária ou do título representativo do direito ou do
crédito. Além disso, a Lei n. 10.931/2004 incluiu o art. 1.368-A ao CC/2002, com a seguinte redação: “as
demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica
das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for
incompatível com a legislação especial”. Desse modo, pode-se concluir que a propriedade fiduciária
contempla a alienação fiduciária de bens móveis, infungíveis (arts. 1.361 a 1.368-A do CC) e fungíveis (art.
66-B da Lei n. 4.728/1965), além da cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis ou de títulos de
crédito. Assim, o crédito garantido por cessão fiduciária de direito creditório, espécie do gênero
propriedade fiduciária, não se submete aos efeitos da recuperação judicial. Como consequência, os direitos
do proprietário fiduciário não podem ser suspensos na hipótese de recuperação judicial, já que a posse
direta e indireta do bem e a conservação da garantia são direitos assegurados ao credor fiduciário pela lei e
pelo contrato.
REsp 1.202.918-SP, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL. INEXISTÊNCIA DE DIREITO DO ADQUIRENTE DE EMBALAGENS PLÁSTICAS PERSONALIZADAS À


INDENIZAÇÃO EM FACE DO FORNECEDOR DO PRODUTO NA HIPÓTESE EM QUE ESTE TENHA INCLUÍDO O
ICMS NA OPERAÇÃO DE SAÍDA E TENHA IMPUGNADO JUDICIALMENTE O TRIBUTO.
A empresa fornecedora de embalagens plásticas personalizadas que inclui o ICMS na operação de saída e
impugna judicialmente a incidência do tributo não tem que indenizar o adquirente do produto na
hipótese em que ela tenha obtido êxito na mencionada demanda judicial e o Fisco, em razão disso, tenha
obrigado o adquirente a estornar os valores de ICMS creditados e a recolher o referido imposto.
Em hipóteses como a descrita, a empresa fornecedora de embalagens personalizadas que inclui o ICMS na
operação de saída e impugna judicialmente a incidência do tributo, depositando os respectivos valores, não
pratica ato ilícito, porquanto age em conformidade com norma tributária cogente na época da transação,
que lhe impõe o tributo em questão, e dentro do seu direito de questionar a referida norma, tendo em
vista o entendimento pacífico do STJ de que não incide ICMS na venda de embalagens personalizadas
(Súmula 156 do STJ). Além do mais, entende este Tribunal que o Fisco Estadual, ante a procedência do
pedido na ação da fornecedora de embalagens personalizadas e levantamento do valor depositado
judicialmente, não pode estornar os valores creditados do ICMS e exigi-los do adquirente. Dessa forma, a
insurgência do adquirente deveria ter sido direcionada contra a Fazenda Estadual, fosse para impugnar o
estorno dos créditos, fosse para repetir o indébito, na via processual própria, não existindo direito da
adquirente à indenização em face da fornecedora.
AgRg no AREsp 122.928-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/2/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 519 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no AgRg no AREsp 52.523-RS; AgRg no REsp
1.342.593-SC; REsp 1.341.077-RJ; REsp 1.104.470-DF; REsp 1.130.704-MG.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Entrega de carnês de IPTU e ISS e ausência de privilégio dos Correios

A entrega de carnês de IPTU e ISS pelos municípios sem a intermediação de terceiros no seu
âmbito territorial não constitui violação do privilégio da União na manutenção do serviço
público postal. Isso porque a notificação, por fazer parte do processo de constituição do crédito
tributário, é ato próprio do sujeito ativo da obrigação, que pode ou não delegar tal ato ao
serviço público postal.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Em um determinado município, a entrega dos carnês de pagamento do IPTU e ISS (impostos
municipais) é feita por meio dos servidores municipais.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal, ajuíza uma
ação questionando esta prática e afirmando que somente ela poderia fazer esta entrega por
deter o privilégio (chamado por alguns de “monopólio”) do serviço postal, nos termos do
art. 21, X, da CF/88:
Art. 21. Compete à União:
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

Os serviços postais são regulados pela Lei n. 6.538/78, que prevê:


Art. 2º - O serviço postal e o serviço de telegrama são explorados pela União, através de
empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações.
(...)
Art. 9º - São exploradas pela União, em regime de monopólio, as seguintes atividades
postais:
I - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior,
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de carta e cartão-postal;
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Este art. 9º da Lei foi recepcionado pela CF/88? Os serviços postais realmente constituem-se
em privilégio, ou seja, somente podem ser prestados pela União?
SIM. Esta matéria já foi objeto de análise pelo STF, tendo sido prolatado o seguinte acórdão:
(...) 1. O serviço postal – conjunto de atividades que torna possível o envio de
correspondência, ou objeto postal, de um remetente para endereço final e determinado –
não consubstancia atividade econômica em sentido estrito. Serviço postal é serviço público.
2. A atividade econômica em sentido amplo é gênero que compreende duas espécies, o
serviço público e a atividade econômica em sentido estrito. Monopólio é de atividade
econômica em sentido estrito, empreendida por agentes econômicos privados. A
exclusividade da prestação dos serviços públicos é expressão de uma situação de privilégio.
Monopólio e privilégio são distintos entre si; não se os deve confundir no âmbito da
linguagem jurídica, qual ocorre no vocabulário vulgar.
3. A Constituição do Brasil confere à União, em caráter exclusivo, a exploração do serviço
postal e o correio aéreo nacional [artigo 20, inciso X].
4. O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT,
empresa pública, entidade da Administração Indireta da União, criada pelo decreto-lei n.
509, de 10 de março de 1.969.
5. É imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestação dos
serviços públicos, do regime de monopólio sob o qual, algumas vezes, a exploração de
atividade econômica em sentido estrito é empreendida pelo Estado.
6. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de exclusividade na
prestação dos serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal.
7. Os regimes jurídicos sob os quais em regra são prestados os serviços públicos importam
em que essa atividade seja desenvolvida sob privilégio, inclusive, em regra, o da
exclusividade.
8. Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente por
maioria. O Tribunal deu interpretação conforme à Constituição ao artigo 42 da Lei n. 6.538
para restringir a sua aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º desse ato
normativo.
(ADPF 46, Relator(a): Min. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Eros Grau, Tribunal
Pleno, julgado em 05/08/2009)

A tese dos Correios é a de que a “guia de arrecadação tributária” (carnê de pagamento de


impostos) está incluída do conceito de “carta” e, por isso, somente poderia ser entregue
pela empresa pública federal.

A questão chegou até o STJ. O que foi decidido?


A entrega de carnês de IPTU e ISS pelos municípios sem a intermediação de terceiros no seu
âmbito territorial NÃO constitui violação do privilégio da União na manutenção do serviço
público postal.

Para o STJ, somente haveria violação ao privilégio postal da União se o Município


contratasse uma empresa para realizar este envio dos boletos. No entanto, como a
municipalidade faz esta entrega pessoalmente, ou seja, por meio de seus servidores, não há
afronta ao serviço público de competência da União. Isso porque o envio do boleto com o
imposto consiste em uma notificação ao contribuinte, fazendo parte do processo de
constituição do crédito tributário. Trata-se, portanto, de ato próprio do sujeito ativo da
obrigação (no caso, o Município), que pode ou não delegar tal ato ao serviço público postal.
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INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar que este tema já foi decidido pelo STJ em sede de recurso repetitivo:
(...) 1. A entrega de carnês de IPTU pelos municípios, sem a intermediação de terceiros, no
seu âmbito territorial, não viola o privilégio da União na manutenção do serviço público
postal.
2. A notificação, porque integra o procedimento de constituição do crédito tributário, é ato
próprio dos entes federativos no exercício da competência tributária, que a podem delegar
ao serviço público postal. (...)
(REsp 1141300/MG, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Seção, julgado em 25/08/2010)

Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 228.049-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Governador é parte ilegítima para MS contra ato de concurso estadual

O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em mandado
de segurança no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a questão de
concurso público realizado para o provimento de cargos do quadro de pessoal da respectiva
unidade federativa.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Fred prestou concurso para o cargo de Auditor Fiscal da Receita estadual.
A questão 79 do concurso foi anulada, mas não se atribuiu este ponto a todos os
candidatos.
Diante disso, Fred impetra um mandado de segurança pugnando que lhe seja atribuída a
pontuação da questão anulada, com a sua consequente reclassificação no concurso.
O mandado de segurança foi ajuizado, tendo sido apontado, como autoridade coatora, o
Governador do Estado.

A escolha da autoridade coatora foi correta?


NÃO. O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em
mandado de segurança no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a
questão de concurso público realizado para o provimento de cargos do quadro de pessoal
da respectiva unidade federativa.

Segundo o STJ, a autoridade coatora, para impetração de mandado de segurança, é aquela


que pratica ou ordena, de forma concreta e específica, o ato ilegal, ou, ainda, aquela que
detém competência para corrigir a suposta ilegalidade, conforme se extrai do art. 6º, § 3º,
da Lei 12.016/2009:
§ 3º Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da
qual emane a ordem para a sua prática.

Na hipótese em análise, constatada a não atribuição de pontuação após a anulação de


questão, a autoridade competente para proceder à reclassificação dos impetrantes seria a
banca examinadora responsável pelo certame, que é a executora direta do ato impugnado.
O Governador do Estado teria competência para nomear e dar posse aos candidatos, mas
não para corrigir a ilegalidade apontada.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 37.924-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Remoção para acompanhar cônjuge (art. 75, da Lei n. 8.112/90)
(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos nos quais se exige a Lei n. 8.112/90)

O servidor público federal tem direito de ser removido a pedido, independentemente do


interesse da Administração, para acompanhar o seu cônjuge empregado de empresa pública
federal que foi deslocado para outra localidade no interesse da Administração.
O art. 36, parágrafo único, III, “a”, da Lei 8.112/1990 confere o direito ao servidor público
federal de ser removido para acompanhar o seu cônjuge SERVIDOR público que foi deslocado
no interesse da Administração.
A jurisprudência do STJ vem atribuindo uma interpretação ampliativa ao conceito de servidor
público para alcançar não apenas os que se vinculam à Administração Direta, mas também os
que exercem suas atividades nas entidades da Administração Indireta.
Desse modo, o disposto no referido dispositivo legal deve ser interpretado de forma a
possibilitar o reconhecimento do direto de remoção também ao servidor público que pretende
acompanhar seu cônjuge empregado de empresa pública federal.
Comentários A Lei n. 8.112/90 estabelece o seguinte:
Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do
mesmo quadro, com ou sem mudança de sede.
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de
remoção:
(...)
III - a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração:
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi
deslocado no interesse da Administração;

Imagine agora o seguinte exemplo hipotético:


Eduardo e Mônica são casados. Mônica é empregada da Caixa Econômica Federal (empresa
pública) e Eduardo servidor do Ministério da Educação. Eles são lotados em Manaus (AM),
onde residem.
Mônica é removida, por interesse da Administração, para uma agência da CEF em Brasília/DF.

Eduardo terá direito de ser removido também, independentemente do interesse da


Administração, para acompanhar seu cônjuge? A situação de Eduardo pode ser enquadrada
no art. 36, III, “a”, da Lei n. 8.112/90?
SIM. O servidor público federal tem direito de ser removido a pedido, independentemente
do interesse da Administração, para acompanhar o seu cônjuge empregado de empresa
pública federal que foi deslocado para outra localidade no interesse da Administração.
O art. 36, parágrafo único, III, “a”, da Lei 8.112/1990 confere o direito ao servidor público
federal de ser removido para acompanhar o seu cônjuge "servidor público civil ou militar,
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios" que
foi deslocado no interesse da Administração.
A jurisprudência do STJ vem atribuindo uma interpretação ampliativa ao conceito de
servidor público para alcançar não apenas os que se vinculam à Administração Direta, mas
também os que exercem suas atividades nas entidades da Administração Indireta. Desse
modo, o disposto no referido dispositivo legal deve ser interpretado de forma a possibilitar
o reconhecimento do direto de remoção também ao servidor público que pretende
acompanhar seu cônjuge empregado de empresa pública federal, até mesmo porque a
CF/88, em seu art. 226, consagra o princípio da proteção à família, bem maior que deve ser
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protegido pelo Poder Público, mormente quando este figura como empregador.
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Processo STJ. 3ª Seção. MS 14.195-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/3/2013.

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Adicional noturno (art. 36, III, a, da Lei n. 8.112/90)
(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos nos quais se exige a Lei n. 8.112/90)

O adicional noturno previsto no art. 75 da Lei 8.112/1990 será devido ao servidor público
federal que preste o seu serviço em horário compreendido entre 22 horas de um dia e 5 horas
do dia seguinte, ainda que o serviço seja prestado em regime de plantão.
Comentários Lei n. 8.112/90:
Do Adicional Noturno
Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário compreendido entre 22 (vinte e duas) horas
de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de 25% (vinte e
cinco por cento), computando-se cada hora como cinquenta e dois minutos e trinta
segundos.
Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o acréscimo de que trata este
artigo incidirá sobre a remuneração prevista no art. 73.

Dentre os vários argumentos expostos, o STJ ressaltou que nestes casos deve-se aplicar o
raciocínio presente na Súmula 213 do STF: “É devido o adicional de serviço noturno, ainda
que sujeito o empregado ao regime de revezamento”.

Embora a referida súmula tenha sido editada ainda sob o império da Constituição de 1946,
permanece válida a interpretação nela consagrada, uma vez que não houve alteração
semântica do texto constitucional quanto ao adicional noturno.

Por fim, além de tudo que já foi mencionado, o TST, ao examinar o art. 73 da CLT (que
regulamenta o adicional noturno para os trabalhadores da iniciativa privada) tem decidido
que esse adicional é perfeitamente compatível com o regime de plantões.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.292.335-RO, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 9/4/2013.

DIREITO CIVIL
Evicção
I – Para que o evicto possa exercer os direitos resultantes da evicção, na hipótese em que a
perda da coisa adquirida tenha sido determinada por decisão judicial, não é necessário o
trânsito em julgado da referida decisão.

II – O direito que o evicto tem de cobrar indenização pela perda da coisa evicta independe, para ser
exercitado, de ele ter denunciado a lide ao alienante na ação em que terceiro reivindicara a coisa.
Comentários O que é a evicção?
A evicção ocorre quando:
- a pessoa que adquiriu um bem
- perde a posse ou a propriedade desta coisa
- em razão de uma decisão judicial ou de um ato administrativo
- que reconhece que um terceiro possuía direitos anteriores sobre este bem
- de modo que ele não poderia ter sido alienado.

Após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto) deverá ser indenizado
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pelo alienante por conta deste prejuízo. O fundamento desta indenização está no princípio
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da garantia. Logo, não interessa discutir se o alienante estava ou não de boa-fé quando
vendeu o bem. Mesmo de boa-fé, ele terá a obrigação de indenizar o evicto.
INFORMATIVO esquematizado
Veja como o Min. Luis Felipe Salomão definiu o instituto:
“A evicção consiste na perda parcial ou integral da posse ou da propriedade do bem, via de
regra, em virtude de decisão judicial que atribui o uso, a posse ou a propriedade a outrem,
em decorrência de motivo jurídico anterior ao contrato de aquisição.” (REsp 1.332.112-GO).

Evicção vem do latim evincere ou evictio, que significa algo como “ser vencido”. Na língua
portuguesa existe o verbo “evencer”, que significa “promover a evicção de alguém”.

Personagens
Na evicção, temos os seguintes personagens:
Evictor: é o terceiro reivindicante do bem.
Evicto: é o adquirente do bem, que perdeu a ação movida pelo evictor.
Alienante: é o que transferiu o bem ao evicto, e, por isso, deve responder pela evicção,
indenizando-o.

Requisitos
A doutrina majoritária aponta os seguintes requisitos para que se configure a
responsabilidade do alienante pela evicção:

a) Aquisição onerosa do bem


Em regra, o alienante só responde pela evicção no caso de contratos onerosos (art. 447 do
CC). A hipótese mais comum é o contrato de compra e venda. No entanto, podem existir
outras espécies de contrato oneroso, como é o caso da cessão onerosa de crédito, na dação
em pagamento e na transação.
Assim, em regra, para que o evicto seja indenizado pela evicção é necessário que tenha
recebido o bem por meio de um contrato oneroso.
Se a pessoa recebeu o bem por conta de um contrato gratuito (ex: doação), ela não terá
direito de ser indenizada se ocorrer a evicção, salvo se as partes tiverem estipulado
expressamente esta garantia no pacto.
Se a doação for onerosa (também chamada de doação com encargo ou modal), o doador se
responsabiliza pela evicção até o limite do encargo.
Obs: existe uma situação em que a evicção pode ocorrer mesmo sem que o evicto tenha
adquirido o bem por força de um contrato. Trata-se da hipótese na qual a pessoa tornou-se
titular da coisa em uma hasta pública.

b) Perda, total ou parcial, da propriedade ou da posse da coisa alienada


Obs: alguns autores mais modernos afirmam que melhor seria falar em “privação do direito
do adquirente” ao invés de “perda da propriedade ou da posse da coisa”, sendo esta
expressão criticável. Nesse sentido: Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (Curso de Direito
Civil. Contratos. Vol. 4, Salvador: Juspodivm, 2012, p. 497). Não se trata, ainda, de posição
consolidada na doutrina, sendo preferível, para fins de concurso público, utilizar a
nomenclatura tradicional.
Exemplos de evicção parcial fornecidos por Rosenvald e Chaves (p. 499):
Ex1: perda da servidão (João adquire uma fazenda com servidão de passagem sobre o
imóvel vizinho; tempos depois, este direito real é suprimido pela preexistência de direito de
terceiro).
Ex2: Pedro adquire um prédio de apartamentos, mas 70% das unidades não pertenciam ao
alienante.
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INFORMATIVO esquematizado
c) Direito anterior do evictor sobre a coisa (vício na alienação)
A perda da propriedade ou da posse deve ter decorrido do fato de se reconhecer que o
evictor tinha direito sobre a coisa antes mesmo de ela ter sido alienada ao evicto.
Assim, deve ficar demonstrado que houve um vício na alienação por conta de um direito
anterior do evictor.
Deve-se analisar o momento em que o terceiro passou a ter direito sobre o bem. Se foi
antes da alienação, o alienante responderá pela perda da coisa. Se foi depois, o alienante
não deverá pagar indenização ao adquirente.
Ex1: João vendeu um imóvel para Rui. Após a aquisição, Rui, que não estava na posse direta
do terreno, é citado para responder uma ação de usucapião proposta por Francisco. Ao
final, a ação é julgada procedente, Francisco é reconhecido como proprietário e Rui perde o
imóvel. João indenizará Rui pela evicção se os requisitos para a usucapião se completaram
antes da venda. Se o tempo necessário para a usucapião somente se concretizou após a
alienação, não há que se falar em evicção.
Ex2: João vendeu um imóvel para Rui. Após a aquisição, Rui perde o bem para o Estado por
conta de uma desapropriação. Responde o alienante pela evicção somente se o decreto
expropriatório tiver sido expedido e publicado antes da realização do negócio. Se foi após a
alienação, não há que se falar em evicção.

d) Por meio de decisão judicial ou ato administrativo


Em regra, a perda do bem ocorre por meio de decisão judicial. No entanto, apesar de não
ser tão comum, é possível que a evicção se dê por força de um ato administrativo (ex:
comprador de veículo importado perde a propriedade do bem por conta de pendência
administrativa junto à Receita Federal, que existia antes da alienação). Nesse sentido: REsp
1.047.882-RJ.

No caso de evicção por decisão judicial, para que o alienante indenize o evicto é necessário
que tenha havido o trânsito em julgado da sentença que fez com que ele perdesse a
propriedade ou a posse do bem?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, para que o evicto possa exercer os direitos resultantes da
evicção (ou seja, para que possa cobrar a indenização), NÃO é necessário o trânsito em
julgado da decisão (STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.112-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 21/3/2013).

O Min. Luis Felipe Salomão afirmou que o ideal seria que tivesse havido o trânsito em
julgado da decisão, considerando que haveria maior segurança jurídica. No entanto, o
aplicador do direito não pode ignorar a realidade comum do trâmite processual nos
tribunais que, muitas vezes, faz com que o processo permaneça ativo por longos anos,
ocasionando prejuízos consideráveis advindos da constrição imediata dos bens do evicto,
que aguarda, impotente, o trânsito em julgado da decisão que já lhe assegurava o direito.

Assim, como não há no Código Civil nem em outro diploma a exigência expressa do trânsito
para conceder a indenização ao evicto, a jurisprudência e a doutrina passaram a admitir que
ela seja conferida ao lesado antes da decisão judicial se tornar definitiva.

Denunciação da lide
Na maioria dos casos, a evicção ocorre por meio de uma sentença judicial. Assim,
normalmente a evicção ocorre da seguinte forma: o evictor propõe uma ação contra o
adquirente reivindicando o bem para si.
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Nesta hipótese, o CPC e o CC determinam que o evicto (réu), no prazo da resposta, convoque o
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alienante para que este compareça ao processo. Esta convocação deverá ser feita mediante o
instituto da “denunciação da lide”. Assim, o evicto (réu) denuncia a lide ao alienante do bem.
INFORMATIVO esquematizado
O alienante é convocado ao processo, pelo réu, com dois objetivos:
para refutar o direito alegado pelo autor;
para ser condenado, neste mesmo processo, a indenizar o adquirente, caso a ação do
evictor seja julgada procedente.

Veja o que estabelece o CPC:


Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:
I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à
parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção lhe resulta;

O Código Civil, por sua vez, prevê:


Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará
do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe
determinarem as leis do processo.
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a
procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de
recursos.

Diante disso, indaga-se:


Para que o evicto seja indenizado pelo alienante, é indispensável que ele, ao ser demandado
pelo evictor, faça a denunciação da lide ao alienante do bem?
Em outras palavras, é obrigatória a denunciação da lide para que o evicto seja indenizado
pela perda do bem?
NÃO. Prevalece no STJ que o direito que o evicto tem de cobrar indenização pela perda do
bem NÃO depende, para ser exercitado, de ele ter denunciado a lide ao alienante na ação
em que terceiro reivindicou a coisa.

“A jurisprudência do STJ é no sentido de que o direito do evicto de indenizar-se do


pagamento indevido diante do anterior alienante, não se condiciona à denunciação da lide
em ação de terceiro reivindicante.” (AgRg no Ag 1323028/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta
Turma, julgado em 16/10/2012).

Apesar da redação do art. 70, I, do CPC e do art. 456 do CC, ainda que o evicto não faça a
denunciação da lide, ele NÃO perde o direito de ser indenizado. Para o STJ, não se pode
fazer uma interpretação literal dos dispositivos acima mencionados.

Dessa feita, a falta da denunciação da lide fará apenas com que o réu perca a possibilidade
de obter a indenização regressiva do alienante no mesmo processo em que perdeu o bem.
No entanto, nada impede que, mesmo sem ter feito a denunciação da lide, o evicto ajuíze
uma demanda autônoma contra o vendedor.

Em suma, se o evicto fizer a denunciação, no mesmo processo em que perder o bem, já


haverá a condenação do alienante para que o indenize. Se ele não fizer a denunciação,
perderá esta oportunidade de agilizar o recebimento da indenização, mas ainda assim
poderá fazê-lo por meio de uma ação autônoma de evicção.

Desse modo, NÃO são requisitos indispensáveis à indenização por evicção:


O trânsito em julgado da sentença que determina a perda do bem;
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A denunciação da lide pelo evicto.


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Denunciação per saltum
Imagine a seguinte situação:
João comprou um terreno de Maria, que o havia comprado de Bartolomeu, que o havia
comprado de Josefina, que o havia comprado de Manoel.
De repente, aparece Gilberto ajuizando uma ação reivindicatória contra João e afirmando
que Manoel não poderia ter vendido o terreno porque não lhe pertencia.
João decide fazer a denunciação da lide a fim de garantir que seja indenizado caso a ação
seja julgada procedente. Não há nenhuma dúvida de que João pode denunciar a lide a
Maria, considerando que foi ela quem lhe vendeu o bem, ou seja, eles possuem uma
relação jurídica entre si. Sendo Maria denunciada, ela poderá fazer a denunciação a
Bartolomeu, que poderá fazer a denunciação a Josefina e esta poderá fazer a denunciação a
Manoel. Trata-se da chamada “denunciação sucessiva”.

Poderá, no entanto, João denunciar a lide a Manoel mesmo sem que eles tenham qualquer
relação jurídica? O réu poderá fazer a denunciação da lide “pulando, saltando” todas as
demais pessoas da cadeia de transmissão? Em outras palavras, o réu poderá fazer a
denunciação da lide por salto (per saltum)?
SIM. Há divergência na doutrina, mas prevalece ser possível a denunciação da lide per
saltum, tendo ela sido autorizada pelo art. 456 do CC:
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará
do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe
determinarem as leis do processo.

Nesse sentido é o enunciado 29 da I Jornada de Direito Civil:


Enunciado 29-CJF/STJ: Art. 456: a interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao
evicto a denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício.

Se o réu (adquirente) fizer a denunciação e o alienante não comparecer aos autos


O parágrafo único do art. 456 do CC preconiza:
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a
procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de
recursos.

Para a doutrina majoritária, este dispositivo revogou o art. 75, II, do CPC, no que tange à
denunciação da lide nos casos de evicção. Veja a redação do CPC:
Art. 75. Feita a denunciação pelo réu:
II - se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que lhe foi
atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na defesa até final;

Assim, se o adquirente fizer a denunciação da lide ao alienante e este decidir não refutar o
pedido do evictor, o evicto não precisará prosseguir contestando a ação proposta pelo
autor. O adquirente poderá até mesmo concordar com o pedido feito pelo evictor e buscar
apenas a indenização a ser paga pelo alienante.

Responsabilidade pela evicção e coisa adquirida por hasta pública


A obrigação do alienante de pagar indenização ao evicto, em caso de evicção, persiste ainda
que o bem tenha sido adquirido por meio de hasta pública. Isso está previsto no CC:
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Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia
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ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

INFORMATIVO esquematizado
A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento
organizado pelo Estado-juiz. A hasta pública pode ocorrer por meio de praça (no caso de
bem imóvel) ou leilão (bem móvel).

Caso o adquirente da coisa em hasta pública venha a perdê-la, a responsabilidade direta


pelo pagamento da indenização é do executado. Subsidiariamente, caso o evicto não
consiga receber deste, poderá demandar o credor que se beneficiou com a arrematação
(responsável indireto, subsidiário). Esta é a solução apresentada por Alexandre de Freitas
Câmara, citada por Flávio Tartuce (Direito Civil. São Paulo: Método, 2011, p. 229).

Exemplo:
João estava sendo executado por Pedro.
Para adimplir o débito, uma sala comercial de João foi vendida em hasta pública e, com os
recursos obtidos, Pedro foi pago.
Quem adquiriu o imóvel foi Carlos.
Ocorre que esta sala pertencia, na verdade, a Marcos, que entrou com uma ação
reivindicatória.
Por conta disso, Carlos (arrematante) perdeu o imóvel que havia adquirido.

De quem Carlos poderá cobrar a indenização pela evicção?


Em primeiro lugar, de João. Somente se este não tiver como pagar a indenização, a
demanda será proposta contra Pedro.

Indenização devida em caso de evicção:


Como já vimos acima, após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto)
deverá ser indenizado pelo alienante por conta deste prejuízo.
O valor da indenização englobará o preço pago pelo evicto na compra do bem e mais as
outras despesas que ele comprove ter realizado.

Segundo o art. 450 do CC, o evicto possui o direito de receber as seguintes quantias:
a) Restituição integral do preço que pagou, com juros e correção monetária;
b) Indenização pelos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao evictor;
c) Indenização pelas benfeitorias necessárias ou úteis não abonadas (art. 453);
d) Indenização pelas despesas do contrato;
e) Reembolso das custas judiciais e honorários advocatícios;
f) Indenização pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção.

Veja o que diz o CC:


Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral
do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente
resultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.

Valor do preço do bem é calculado segundo a data da evicção (e não o dia da aquisição):
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época
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em que se evenceu (no momento da perda e não na data da alienação), e proporcional ao


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desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.

INFORMATIVO esquematizado
Assim, por exemplo, se a pessoa comprou o bem por 200 mil reais, mas na data da evicção
(anos mais tarde), a coisa valia 300 mil reais, este último valor é que deverá ser devolvido
ao evicto.

Indenização deve ser paga ainda que a coisa esteja deteriorada


Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja
deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.

Ex: Eduardo vendeu um carro a Paulo. Este veículo foi abalroado e ficou avariado e sem uso.
Após este acidente, Paulo perde o carro por conta de uma evicção. Mesmo estando
deteriorado o automóvel, o evicto terá direito de ser indenizado, a não ser que o alienante
prove que a coisa está deteriorada por dolo (no sentido de má-fé) de Paulo.

Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido
condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver
de dar o alienante.

Utilizando o mesmo exemplo: o carro que foi objeto da evicção já estava todo avariado e
sem uso. No entanto, o evicto havia conseguido vender algumas peças do motor para uma
oficina mecânica. Logo, a quantia que ele conseguiu com isso será descontada do valor da
indenização que lhe será paga pelo alienante.

Indenização no caso de benfeitorias


O evicto é considerado, em princípio, como possuidor de boa-fé. Logo, as benfeitorias
necessárias e úteis que tiver feito sobre a coisa, deverão ser pagas. Quem deverá pagá-las?
Em princípio, o evictor. Caso este não pague, o evicto poderá cobrar o valor do alienante.
A situação normalmente acontece da seguinte forma: o evictor ajuíza a ação reivindicando
o bem que está com o evicto. Este, na própria contestação, já deverá pedir que o evictor o
reembolse pelas benfeitorias úteis e necessárias que fez na coisa.
Se, por algum motivo, o evictor não abonar (reembolsar) o evicto, ele poderá cobrar o valor
do alienante. É isso que afirma o art. 453 do CC:
Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas (não reembolsadas) ao que
sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante.

Veja agora o que diz o art. 454 do CC:


Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo
alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.

O que este dispositivo está dizendo é o seguinte: o evictor pagou ao evicto o valor das
benfeitorias que foram realizadas no bem. Ocorre que tais benfeitorias foram feitas ainda
pelo alienante (e não pelo evicto). Logo, neste caso, o evicto recebeu indevidamente o
reembolso das benfeitorias, já que não foi ele quem as custeou. Em se verificando esta
situação, o alienante, quando for pagar ao evicto a indenização pela evicção, poderá
descontar do valor a quantia recebida pelas benfeitorias.

Perda parcial do bem


A evicção pode ser total (quando o evicto perde o bem inteiro) ou parcial (ex: perdeu 50m2
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do terreno cuja área é de 300m2).


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Se a evicção for parcial, em regra, o evicto será indenizado pela parte da coisa que perdeu e
a aquisição da parte que restou continua em vigor. Valendo-se do exemplo acima, o evicto

INFORMATIVO esquematizado
será indenizado pelos 50m2 que perdeu, enquanto que os outros 250 m2 continuam com ele
normalmente.

Pode acontecer, no entanto, que esta perda parcial seja muito grande, isto é, atinja quase
toda a coisa, de forma que se torna economicamente desvantajoso que o evicto permaneça
somente com aquela diminuta fração. Em tais hipóteses, a lei entendeu que seria justo
conferir ao evicto a escolha entre continuar com esta pequena parte do bem e ser
indenizado pelo restante ou, então, ser indenizado pela coisa em sua inteireza, devolvendo
a pequena fração que sobrar ao alienante. Ex: Renan vendeu um terreno de 300m2 a
Eduardo, que sofreu evicção parcial e perdeu 250m2 da área para um terceiro. Eduardo
poderá pleitear a indenização pelos 250m2 perdidos e ficar com os 50m2 que restaram. A lei,
porém, confere uma outra alternativa a Eduardo: devolver os 50m2 que lhe sobraram,
desfazendo a compra e venda, e pedindo indenização pelos 300m2.

Toda esta explicação foi para que você entendesse a redação do art. 455 do CC:
Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão
do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não
for considerável, caberá somente direito a indenização.

O contrato poderá trazer uma cláusula dispondo sobre a evicção


A responsabilidade pelo pagamento de indenização no caso de evicção é uma garantia do
adquirente que decorre da lei. Assim, não é necessário que o contrato de compra e venda
preveja esta indenização. As partes podem, no entanto, reforçar, diminuir ou excluir esta
responsabilidade. Veja:
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a
responsabilidade pela evicção.

Cláusula de irresponsabilidade pela evicção (cláusula de non praestanda evictione)


Como visto no art. 448 do CC, as partes podem estipular uma cláusula no contrato segundo
a qual o alienante expressamente afirma que não irá se responsabilizar caso o adquirente
sofra uma evicção, ou seja, perca a coisa alienada.

Para evitar que houvesse um prejuízo muito grande ao adquirente, o CC estabelece algumas
exigências para que esta cláusula de irresponsabilidade pela evicção tenha plena eficácia.

Assim, para que o alienante fique totalmente isento de responsabilidade, é necessário o


preenchimento dos seguintes requisitos cumulativos:
Deverá haver cláusula expressa excluindo a responsabilidade do alienante pela evicção;
O adquirente deverá ser informado que existe risco de evicção;
O adquirente deverá declarar expressamente que aceita correr o risco da evicção que
lhe foi informado.

O que acontece se houver cláusula de irresponsabilidade, mas o adquirente não tiver sido
informado que havia risco concreto de evicção ou, se foi informado, não assumiu
expressamente este risco?
Neste caso, haverá pagamento de indenização, mas o valor desta será apenas equivalente
ao preço que o adquirente pagou pela coisa evicta. Em suma, não abrangerá todas as
parcelas previstas no art. 450, mas tão somente a restituição do valor pago pelo bem. É o
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que a doutrina majoritária conclui a partir da interpretação do art. 449 do CC:


Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem
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direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da
evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar, mais uma vez, que o valor do preço a ser restituído é calculo na data em que
se evenceu, ou seja, no momento da perda do bem (e não na data da alienação). É o que
afirma o parágrafo único do art. 450 do CC.

Adquirente sabia que o bem era alheio ou litigioso


Se o adquirente (evicto) sabia que a coisa era alheia ou litigiosa poderá mesmo assim pedir
indenização em caso de evicção?
NÃO. Veja o que dispõe o art. 457 do CC:
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou
litigiosa.

Obras DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual civil. Vol. 1. 15ª ed., Salvador: Juspodivm,
consultadas 2013.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 3ª ed., São Paulo:
Método, 2011.
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil. Contratos. Vol. 4,
Salvador: Juspodivm, 2012.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil. São Paulo: Método, 2011.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.112-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/3/2013.

Responsabilidade da administradora de imóveis pelo inadimplemento do locatário

A administradora de imóveis é parte legítima para figurar no polo passivo de ação que objetive
indenização por perdas e danos na hipótese em que a pretensão veiculada na petição inicial
diga respeito, não à mera cobrança de alugueres atrasados, mas sim à sua responsabilização
civil pela má administração do imóvel.
A imobiliária deve indenizar o proprietário pelas perdas e danos decorrentes da frustração de
execução de alugueres e débitos relativos às cotas condominiais e tributos inadimplidos na
hipótese em que a referida frustração tenha sido ocasionada pela aprovação deficitária dos
cadastros do locatário e do seu respectivo fiador.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (diferente do caso concreto):
Você é proprietário de um apartamento e contrata uma empresa administradora de imóveis
para que ela alugue o bem, receba os aluguéis do locatário e fiscalize o contrato.
O apartamento é locado, no entanto, o inquilino atrasa diversas prestações do aluguel.
Diante disso, você ajuíza uma ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis em
atraso e rescisão contratual.
Ocorre que, durante a tramitação da ação, percebe-se que o locatário é insolvente, assim
como o fiador do negócio, sendo certo que ambos não possuíam renda fixa e nenhum bem
que pudesse servir para pagar a dívida. Detectou-se ainda que tanto um como o outro
possuíam contra si diversas execuções ajuizadas.

Com base em tal exemplo, indaga-se:

Que espécie de contrato foi celebrado entre você e a empresa?


Um contrato de administração de imóveis.
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Em que consiste este contrato?


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É um contrato de prestação de serviços por meio do qual o proprietário do imóvel (ou o

INFORMATIVO esquematizado
condomínio) confere a um administrador (pessoa física ou jurídica), por meio de mandato
ou autorização, o poder de gerir o imóvel ou de dirigir seus interesses, mediante o
pagamento de uma contraprestação. Para maiores informações, vide MILHOMENS, Jônatas.
Manual Prático dos Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 97.

Assim em nosso exemplo, após ser celebrado o contrato, a empresa administradora passou a
ser mandatária do proprietário do imóvel para, em nome deste, realizar e administrar a locação.

Qual é a responsabilidade da empresa administradora do imóvel?


Como visto, a administradora figura como mandatária do proprietário. Logo, sua
responsabilidade é regida pelo art. 653 do CC, obrigando-se a indenizar o mandante por
quaisquer prejuízos advindos de sua conduta culposa:
Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do
mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente.

Em caso de inadimplemento do inquilino, a administradora deverá arcar com o pagamento


dos aluguéis em atraso?
Em regra não. A princípio, não cabe à imobiliária a responsabilidade pelo pagamento de
aluguéis, cotas condominiais ou tributos inadimplidos pelo locatário.

Excepcionalmente, a administradora terá responsabilidade em duas situações:


a) Se houver previsão contratual nesse sentido (o que, na prática, é raro); ou
b) Se o contratante provar que a administradora agiu com culpa (sem diligência), não
cumprindo os deveres oriundos da relação contratual.

Assim, a “administradora de imóveis é responsável por locação realizada sem as cautelas


que a atividade recomenda, sendo por isso obrigada a satisfazer o proprietário naquilo que
ele deixou de receber.” (STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. São Paulo: RT, 2004,
p. 620).

No exemplo fornecido, a imobiliária responderia pelos danos causados ao locador?


SIM, considerando que não agiu com diligência na aprovação do locatário e de seu fiador,
não exigindo qualquer comprovação da capacidade econômica para cumprir o contrato
nem fazendo uma pesquisa sobre a sua situação de solvência.
Em outros termos, você poderá ajuizar uma ação contra a administradora, devendo ela ser
condenada a pagar os aluguéis em atraso e demais despesas sofridas.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.103.658-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/4/2013.

Responsabilidade civil por morte de filho

A pensão mensal indenizatória devida aos pais pela morte de filho menor deve ser fixada em
valor equivalente a 2/3 do salário mínimo, dos 14 até os 25 anos de idade da vítima, reduzido,
então, para 1/3 até a data em que o de cujus completaria 65 anos.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Paulo, de 17 anos, faleceu em um determinado acidente causado por culpa da empresa “X”.
Os pais de Paulo, hipossuficientes, ajuizaram, por intermédio da Defensoria Pública, ação de
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indenização contra a empresa.


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Pediram indenização por danos morais e materiais, alegando que o filho ajudava com seu
salário nas despesas da casa.

INFORMATIVO esquematizado
Como o STJ tem julgado em casos semelhantes:

Quanto aos danos morais:


A indenização por danos morais em caso de morte de filho vem sendo normalmente fixada
entre 300 e 500 salários mínimos.
Vale ressaltar, no entanto, que este valor não é absoluto, podendo ser estipulado fora
destes parâmetros de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Isso porque a
indenização por dano moral não está sujeita à tarifação, isto é, a valores fixos, devendo
obedecer ao princípio da reparação integral.
Para maiores detalhes sobre este ponto, veja o INFORMATIVO Esquematizado 505 do STJ.

Quanto aos danos materiais:


No caso de danos materiais por morte, a jurisprudência tem condenado o autor do ilícito a
pagar um valor a título de danos emergentes e uma pensão aos pais do falecido como
lucros cessantes. Esta indenização encontra fundamento legal no art. 948 do CC:
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização (os incisos tratam de dano patrimonial)
consiste, sem excluir outras reparações (dano moral):
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
(danos emergentes)
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a
duração provável da vida da vítima. (lucros cessantes)

Segundo o STJ, em se tratando de família de baixa renda, presume-se que o filho


contribuiria para o sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer
trabalho remunerado, dano este passível de indenização, na forma do inciso II do art. 948.

Qual é o valor desta pensão e o seu termo final?


Normalmente, o STJ utiliza os seguintes critérios:
No período em que o filho falecido teria entre 14 a 25 anos: os pais devem receber
pensão em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo;
No período em que o filho falecido teria acima de 25 anos até 65 anos: os pais devem
receber pensão em valor equivalente a 1/3 do salário mínimo.

Por que a jurisprudência utiliza estes parâmetros de idade?


14 anos é a idade em que a pessoa pode começar a trabalhar, como aprendiz, segundo
a CF/88 (art. 7º, XXXIII). Antes disso, ela não poderia ter nenhuma atividade laborativa
remunerada.
25 anos é a idade em que a jurisprudência arbitrou na qual normalmente as pessoas se
casam e, com isso, constituem novo núcleo familiar e, em razão deste fato, passam a
ajudar menos financeiramente os pais.
65 anos é a expectativa de vida considerada pela jurisprudência.

Tais critérios são criticados por alguns doutrinadores, mas é o que prevalece no STJ.

13º salário
Vale ressaltar, por ser interessante, que o autor do ilícito deverá pagar aos pais do falecido,
ao final de todos anos, uma parcela extra desta pensão, como se fosse um 13º salário que
teria direito o filho caso estivesse vivo e trabalhando (REsp 555036/MT, Rel. Min. Castro
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Filho, Terceira Turma, julgado em 19/09/2006). No entanto, para a inclusão do 13º salário
no valor da pensão indenizatória é necessária a comprovação de que a vítima exercia
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atividade laboral na época em que sofreu o dano-morte (REsp 1.279.173-SP, Rel. Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013).

INFORMATIVO esquematizado
Veja dois precedentes sobre o tema:
1. Tratando-se de família de baixa renda, presume-se que o filho contribuiria para o
sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer trabalho remunerado,
dano este passível de indenização.
2. Pensão mensal de 2/3 (dois terços) do salário mínimo, inclusive gratificação natalina,
contada a partir do dia em que a vítima completasse 14 anos até a data em que viria a
completar 25 anos, reduzida, a partir de então, para 1/3 (um terço) do salário mínimo, até o
óbito dos beneficiários da pensão ou a data em que a vítima completaria 65 anos de idade,
o que ocorrer primeiro. (...)
(AgRg no Ag 1217064/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em
23/04/2013, DJe 08/05/2013)

(...) O STJ sedimentou o entendimento de que, como regra, a pensão mensal devida aos pais,
pela morte do filho, deve ser estimada em 2/3 do salário mínimo até os 25 anos de idade da
vítima e, após, reduzida para 1/3, haja vista a presunção de que o empregado constituiria seu
próprio núcleo familiar, até a data em que o de cujus completaria 65 anos. (...)
(AgRg no Ag 1132842/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 12/06/2012

Esta pensão será devida aos pais de Paulo mesmo que ele ainda não trabalhasse?
SIM. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que é devida a indenização de dano
material consistente em pensionamento mensal aos genitores de menor falecido, ainda que
este não exerça atividade remunerada, considerando que se presume ajuda mútua entre os
integrantes de famílias de baixa renda. (...) (AgRg no REsp 1228184/RS, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 28/08/2012, DJe 05/09/2012).

Súmula 491 do STF: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que
não exerça trabalho remunerado.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.279.173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013.

Alimentos fixados em percentual sobre a remuneração e verbas eventuais recebidas pelo devedor

Em regra, os alimentos provisórios fixados em percentual sobre os rendimentos líquidos do


alimentante não abrangem as verbas que não façam parte da sua remuneração habitual.
Se a necessidade do alimentando está plenamente satisfeita, o valor dos alimentos não deverá
ser majorado pelo simples fato do alimentante ter tido um incremento em sua renda. Se, ao
contrário, o quantum dos alimentos estava abaixo das necessidades do credor, caso haja um
aumento nas possiblidades do devedor, o valor dos alimentos terá que ser aumentado.
Assim, mesmo que o alimentante passe a receber mais, o valor dos alimentos não será
aumentado se a quantia paga já for suficiente para atender as necessidades do alimentando.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Arthur, 5 anos de idade, representado por sua mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra
seu pai, Fausto, funcionário regularmente contratado de uma empresa.
O juiz, por meio de decisão interlocutória, de ofício, deferiu a tutela antecipada,
concedendo alimentos provisórios ao menor à razão de 30% sobre os valores líquidos
percebidos por Fausto, incidentes, inclusive, sobre ganhos eventuais (abono, participação
nos lucros e gratificações), que devem ser descontados diretamente da folha de pagamento
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do genitor.
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INFORMATIVO esquematizado
Fausto não concordou com a decisão. Qual é o recurso que ele pode interpor neste caso?
Agravo de instrumento (art. 522 do CPC).

O juiz pode conceder alimentos provisórios de ofício?


SIM. Trata-se de uma das hipóteses em que é possível concessão de tutela antecipada de
ofício. Esta previsão está implícita no art. 4º da Lei n. 5.478/68:
Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos
pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.

Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos não podem incidir sobre verbas
esporádicas, eventuais e incertas, que visam premiar o esforço pessoal do trabalhador,
tendo natureza indenizatória e que não integram os rendimentos do alimentante, tais como
adicionais, abonos, participação nos lucros e gratificações.

Após sucessivos recursos, o caso do recorrente chegou ao STJ. O que decidiu a Corte?
O STJ decidiu que, em regra, os alimentos provisórios fixados em percentual sobre os
rendimentos líquidos do alimentante não abrangem as verbas que não façam parte da sua
remuneração habitual.

Como é sabido, o valor dos alimentos é fixado segundo a necessidade do alimentando


(credor) e a possibilidade do alimentante (devedor), dentro de uma relação de
proporcionalidade. Esta regra está prevista no § 1º do art. 1.694 do CC:
§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos
recursos da pessoa obrigada.

Se as possibilidades econômicas do alimentante aumentarem, o valor dos alimentos deverá


ser, obrigatoriamente, majorado?
NÃO. Se a necessidade do alimentando está plenamente satisfeita, o valor dos alimentos
não deverá ser majorado pelo simples fato do alimentante ter tido um incremento em sua
renda. Se, ao contrário, o quantum dos alimentos estava abaixo das necessidades do
credor, caso haja um aumento nas possiblidades do devedor, o valor dos alimentos terá que
ser aumentado.

Assim, em resumo, “a fortuna do alimentante não está associada, de forma indiscriminada,


ao valor desses alimentos” (Nancy Andrighi). Em outras palavras, mesmo que o alimentante
passe a receber mais, o valor dos alimentos não será aumentado se o quantum pago já for
suficiente para atender as necessidades do alimentando.

Em linhas mais técnicas, “o aumento na fortuna do alimentante, independentemente da


natureza da verba que dá origem a esse aumento, não tem o condão de inflar o valor dos
alimentos, se esses já foram convenientemente fixados, pois as necessidades não se
aumentam, automaticamente, com a possibilidade de aumento dos ganhos do
alimentante.” (Nancy Andrighi).

O acórdão cita a lição de Arnaldo Rizzardo para o tema:


“O quantum não se mede em função dos recursos que oferece o alimentante. Não está este
obrigado a dividir o seu rendimento. A responsabilidade limita-se a atender as exigências,
v.g., de alimentação, moradia, vestuário, educação e recreação. Não são os alimentos
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concedidos ad utilitatem, ou ad voluptatem, mas ad necessitatem. O aumento da


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possibilidade nem sempre impõe a elevação do montante a pagar.” (RIZZARDO, Arnaldo.


Direito de Família. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 942).

INFORMATIVO esquematizado
Cuidado O entendimento acima exposto é o resumo do que foi decidido pela 3ª Turma do STJ no REsp
1.261.247-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2013, contudo, não se trata de
matéria pacífica na Corte. Isso porque em 25/06/2013, o STJ divulgou, em seu site, notícia de
que a 4ª Turma decidiu que “o valor recebido pelo alimentante a título de horas extras,
mesmo que não habituais, embora não tenha caráter salarial para efeitos de apuração de
outros benefícios trabalhistas, é verba de natureza remuneratória e integra a base de cálculo
para a incidência dos alimentos fixados em percentual sobre os rendimentos líquidos.”
(http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=110194).
Desse modo, a decisão, em princípio, destoa do que foi sustentado acima. Infelizmente,
como corre em segredo de justiça, não foi divulgado o número do processo, de sorte que
não tenho maiores detalhes sobre o caso. Contudo, irei continuar acompanhando e, assim
que a decisão for publicada, irei fazer um post comparando os dois posicionamentos.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.261.247-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2013.

Alimentos fixados em valor fixo não variam se houver acréscimo das verbas trabalhistas

No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo correspondente a
determinado número de salários mínimos a serem pagos em periodicidade mensal, o
alimentando não tem direito a receber, com base naquele título judicial, quaisquer acréscimos
decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali não previstos.

Os alimentos arbitrados em valor fixo devem ser analisados de forma diversa daqueles arbitrados
em percentuais sobre "vencimento", "salário", "rendimento", "provento", dentre outros ad
valorem. No primeiro caso, a dívida se consolida com a fixação do valor e periodicidade em que
deve ser paga, não se levando em consideração nenhuma outra base de cálculo.
O débito alimentar arbitrado em valor fixo deve ser pago pelo montante e na exata periodicidade
constante no título judicial, revelando-se ofensa à coisa julgada a determinação para que o valor
arbitrado seja pago a propósito do recebimento de outras verbas pelo devedor.
Comentários Ainda sobre o tema tratado acima, imagine a seguinte situação hipotética:
Arthur, 5 anos de idade, representado por sua mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra
seu pai, Fausto, funcionário regularmente contratado de uma empresa.
O juiz proferiu sentença condenado o genitor a pagar alimentos no valor de 2 salários
mínimos.

Vejamos agora dois pontos interessantes sobre o tema:

1) É possível a fixação de pensão alimentícia em percentual ou número de salários mínimos?


SIM, é possível. Este é o entendimento pacífico do STJ (REsp 1025769/MG, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julgado em 24/08/2010).

2) Se Fausto, em determinado mês, receber gratificações extras em seu trabalho, o valor


pago a título de pensão deverá ser aumentado (exs: abono, comissão por produtividade)?
NÃO. No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo,
correspondente a determinado número de salários mínimos a serem pagos em
periodicidade mensal, o alimentando não tem direito a receber, com base naquele título
judicial, quaisquer acréscimos decorrentes de verbas trabalhistas percebidas pelo
alimentante e ali não previstos.
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Para o STJ, na hipótese de alimentos arbitrados em valor fixo, salvo disposição em contrário
Página

na decisão que os fixa, os rendimentos do devedor são levados em consideração para aferir
suas possibilidades ou, quando muito, é mero veículo de desconto do valor devido. Assim,

INFORMATIVO esquematizado
eventuais flutuações dos rendimentos do alimentante, para cima ou para baixo, ou mesmo
sua supressão — ao menos até que os valores sejam revistos em ação própria —, não são
aptas a alterar o quantum devido, razão pela qual o recebimento de parcelas trabalhistas a
título de 13º, férias e outras verbas da mesma natureza não tem o condão de influenciar a
dívida consolidada, sob pena de alterar o binômio inicial (necessidade/possibilidade)
considerado para a determinação do montante fixo. Basta mencionar, por exemplo, que,
em situações nas quais a remuneração do alimentante é eventual ou em periodicidade
diversa da mensal, os alimentos fixados em valor determinado a ser pago mensalmente não
acompanham os valores recebidos pelo devedor. A dívida existe, é certa e deve ser paga na
data fixada independentemente dessa circunstância. Nesse caso, fazer que o devedor pague
o valor arbitrado sempre que receber remuneração — como pagaria até mesmo no caso de
não recebimento — consubstancia evidente vulneração do título judicial. Enfim, se o
magistrado sentenciante arbitrou os alimentos em valor fixo à luz das circunstâncias do
caso concreto, há de se presumir que esse foi o método por ele considerado como o mais
adequado à satisfação do binômio necessidade/possibilidade.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.091.095-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Competência para julgar ações contra sociedade de economia mista em liquidação extrajudicial

Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar ação proposta em face de
sociedade de economia mista, ainda que se trate de instituição financeira em regime de
liquidação extrajudicial, sob intervenção do Banco Central.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Henrique quer ajuizar uma ação contra o “Banco Santos”. Ocorre que esta
instituição financeira encontra-se sob intervenção do Banco Central (liquidação
extrajudicial).

Neste caso, pelo fato do BACEN (autarquia federal) figurar como interventor, esta
demanda terá que ser proposta na Justiça Federal?
NÃO. Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar ação
proposta em face de sociedade de economia mista, ainda que se trate de instituição
financeira em regime de liquidação extrajudicial, sob intervenção do Banco Central.

O art. 109, I, da CF estabelece:


Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;

Desse modo, percebe-se que não existe previsão no art. 109 da CF/88 que atribua
competência à Justiça Federal para processar e julgar causas envolvendo sociedades
de economia mista.
19
Página

Ademais, o art. 109 é explícito ao excluir da competência da Justiça Federal as


causas relativas à falência. A intervenção e a liquidação extrajudicial são
INFORMATIVO esquematizado
procedimentos concursais administrativos que se equiparam a uma falência (art. 34
da Lei n. 6.024/74). Logo, as ações que envolvam tais procedimentos também
devem ser excluídas do âmbito da Justiça Federal.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.093.819-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/3/2013.

É impossível a cumulação entre ação de nulidade de registro com indenização por danos

É indevida a cumulação, em um mesmo processo, do pedido de reconhecimento de nulidade de


registro marcário com o de reparação de danos causados por particular que teria utilizado
indevidamente marca de outro particular.
Comentários Imagine a seguinte situação:
A empresa alimentícia “P” possui um salgadinho chamado “CHEE.TOS®”, marca esta
devidamente registrada no INPI há muitos anos.
A empresa “T”, também do ramo alimentício, conseguiu registrar no INPI uma marca
denominada de “CHEESE.KI.TOS®” a ser utilizada em sua linha de salgadinhos.
Após já ter sido efetuado o registro, a empresa “P” descobriu este fato e ajuizou uma ação
contra o INPI (autarquia federal) e a empresa “T”, pedindo o reconhecimento da nulidade
do registro marcário “CHEESE.KI.TOS®” e, cumulativamente, uma indenização a ser paga
pela empresa “T” pelos danos causados à empresa “P”.

É possível esta cumulação de pedidos?


NÃO. Segundo decidiu o STJ, é indevida a cumulação, em um mesmo processo, do pedido
de reconhecimento de nulidade de registro marcário com o de reparação de danos
causados por particular que teria utilizado indevidamente marca de outro particular.

A competência para julgar o pedido anulatório é da Justiça Federal, considerando que há o


interesse do INPI, esta autarquia federal (art. 109, I, da CF/88).

No entanto, a ação de indenização volta-se apenas contra a empresa privada “T”, cuidando-
se de demanda entre particulares, cuja apreciação compete à Justiça Estadual.

Desse modo, não é possível a cumulação de pedidos, porquanto, na forma do art. 292, § 1º,
II, do CPC, esta só é possível na hipótese em que o mesmo juízo é competente para de
todos conhecer:
Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários
pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.
§ 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação:
II - que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;

O registro da marca “CHEESE.KI.TOS®” poderia ter sido efetuado?


NÃO. Ambas as marcas referem-se a salgadinhos snacks, exploram o mesmo mercado
consumidor e, indiscutivelmente, têm grafia e pronúncia bastante assemelhadas,
circunstâncias que fazem com que seja possível uma confusão entre os consumidores.
Assim, o registro da marca “CHEESE.KI.TOS” violou o art. 124, XIX, da Lei da Propriedade
Industrial e não atende aos objetivos da Política Nacional de Relações de Consumo,
consoante disposto no artigo 4º, incisos I, III e VI, do Código de Defesa do Consumidor,
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sendo de rigor a sua anulação.


Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.188.105-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para julgar ação de reconhecimento de união estável homoafetiva

A competência para processar e julgar ação destinada ao reconhecimento de união estável


homoafetiva é da vara de família.
Comentários A competência para julgar a ação de reconhecimento de união estável homoafetiva é da
vara cível ou da vara de família?
VARA DE FAMÍLIA.

Segundo decidiu o STF, aplica-se às relações estáveis homoafetivas, por analogia, a


legislação atinente às relações estáveis heteroafetivas, tendo em vista a caracterização
dessa relação como modelo de entidade familiar (STF, ADI n. 4.277/DF, Min. Rel. Ayres
Britto, DJe 5/5/2011).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 964.489-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

Conversão do procedimento ordinário em sumário

O magistrado, percebendo que a demanda se amolda a uma das hipóteses do art. 275 do CPC,
poderá determinar, de ofício, a conversão do procedimento ordinário em sumário. No entanto,
quando o juízo converte o procedimento de ordinário para sumário, deverá adotar medidas
para adequar o procedimento ao novo rito, oportunizando às partes a indicação das provas
que pretendem produzir, inclusive com a apresentação de rol de testemunhas, sob pena de
cerceamento do direito de defesa.
Comentários NOÇÕES GERAIS SOBRE O PROCEDIMENTO SUMÁRIO
Procedimento significa “rito”, ou seja, sequência organizada de atos processuais.

A depender do tipo de demanda proposta, os atos processuais irão ser organizados


conforme um determinado rito (procedimento).

Ex: se João ajuíza uma ação contra Maria cobrando 500 mil reais, os atos deste processo
serão organizados segundo o procedimento comum ordinário.

Ex2: se Pedro maneja uma ação de consignação em pagamento contra a empresa “B”, os
atos deste processo seguirão o rito do procedimento especial previsto nos arts. 890-900
(ação de consignação em pagamento).

O procedimento é considerado especial quando ele é adotado para uma situação específica
(ex: a lei prevê um procedimento especial para os casos de ação possessória). Ao contrário,
o procedimento é comum quando pode ser aplicado em várias hipóteses (são inúmeras as
demandas que se utilizam do procedimento comum).

No processo de conhecimento (“fase de conhecimento”), os procedimentos são divididos


em dois grupos:
a) Procedimento comum (que pode ser ordinário ou sumário);
b) Procedimentos especiais (existindo várias subespécies).
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INFORMATIVO esquematizado
HIPÓTESES DE CABIMENTO
O CPC traz as hipóteses nas quais terá que ser adotado o procedimento sumário.
O legislador utilizou dois critérios para escolher as causas que deveriam tramitar sob o rito
sumário:
I – causas de até 60 salários-mínimos;
II – causas que tratem sobre determinados assuntos (não importando o valor).

Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:


I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo;
II - nas causas, qualquer que seja o valor:
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo,
ressalvados os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação
especial;
g) que versem sobre revogação de doação;
h) nos demais casos previstos em lei.
Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao estado e à
capacidade das pessoas.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS PROCEDIMENTOS ORDINÁRIO E SUMÁRIO


O procedimento sumário foi idealizado pelo legislador para ser mais simples e rápido que o
ordinário. Vejamos as principais diferenças entre eles:

ORDINÁRIO SUMÁRIO
O autor, na petição inicial, indica No procedimento sumário, não basta
apenas quais os meios de prova que ao autor a mera indicação do meio
pretenderá utilizar (testemunhal, de prova na petição inicial, devendo
pericial etc). já enumerar quais são as
É feito um requerimento genérico testemunhas, bem como indicar os
(“Protesta provar o alegado por quesitos, sob pena de preclusão
todos os meios de prova admitidos probatória para o autor.
1 em direito, em especial a Em outras palavras, o autor, na
Petição testemunhal e pericial”). própria petição inicial, terá que:
Inicial Somente depois é que o autor será Arrolar as testemunhas;
intimado para especificar (detalhar) Formular os quesitos para perícia
as provas (arrolar testemunhas, e indicar assistente técnico.
indicar quesitos e assistente técnico
etc) (art. 331 do CPC).
Não há necessidade, portanto, de
indicação do rol de testemunhas na
petição inicial.
O réu é citado para apresentar sua O réu é citado para comparecer à
2 resposta no prazo legal de 15 dias. audiência de conciliação, a ser
Citação, realizada no prazo de 30 dias,
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defesa e momento em que, não tendo havido


audiência conciliação, apresentará a sua
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inicial defesa. O réu deverá ser citado com


antecedência mínima de 10 dias.
INFORMATIVO esquematizado
O réu, na contestação, precisará O réu, na contestação, já deverá
apenas indicar, mas não especificar apresentar documentos, arrolar
3
as provas que pretende produzir. testemunhas e indicar quesitos e
Contes-
Não há necessidade, portanto, de assistentes técnicos.
tação
indicação do rol de testemunhas na
contestação.
Admite-se reconvenção, ação Não são permitidas:
declaratória incidental e intervenção Reconvenção (mas cabe pedido
4
de terceiros. contraposto);
Restrição
Ação declaratória incidental;
quanto a
Intervenção de terceiros (com
alguns
exceção de assistência, recurso
tipos de
de terceiro prejudicado e
defesa
intervenção fundada em
contrato de seguro).
No julgamento da apelação contra a Nos recursos interpostos nas causas
sentença haverá, em regra, a figura de procedimento sumário não
5
do Desembargador revisor do voto haverá revisor.
Apelação
do Desembargador relator, salvo nas
hipóteses do § 3º do art. 551 do CPC.

CONVERSÃO DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO EM SUMÁRIO


Pode acontecer de o autor ajuizar a ação indicando como rito aplicável o ordinário (“ação
ordinária”) quando, na verdade, o correto seria que ela tramitasse segundo o rito sumário,
por se enquadrar em uma das hipóteses do art. 275 do CPC. Ex: Manoel ajuíza uma “ação
ordinária” (ação segundo o rito ordinário) pleiteando a revogação de uma doação, situação
que está prevista no art. 275, II, “g”, do CPC.

O magistrado, percebendo que a demanda se amolda a uma das hipóteses do art. 275 do
CPC, poderá determinar, de ofício, a conversão do procedimento ordinário em sumário?
SIM, é possível. No entanto, quando o juízo converte o procedimento de ordinário para
sumário, deverá adotar medidas para adequar o procedimento ao novo rito, oportunizando
às partes a indicação das provas que pretendem produzir, inclusive com a apresentação de
rol de testemunhas, sob pena de cerceamento do direito de defesa.

Explicando melhor: se o autor ajuizou a ação sob o rito ordinário, ele provavelmente não
apresentou o rol de testemunhas na petição inicial, considerando que isso não é necessário.
Se o juiz converteu o procedimento em sumário significa que não existirá mais a fase do §
2º do art. 331 do CPC, ou seja, não haverá uma nova oportunidade para o autor apresentar
os nomes das testemunhas. Para evitar este prejuízo, a jurisprudência afirma que o juiz, ao
determinar a conversão em sumário, deverá dar uma chance para que o autor emende a
petição inicial e especifique as provas que deseja produzir (apresente o rol de testemunhas,
os quesitos para perícia etc.).

A respeito do tema, o STJ citou a lição de Humberto Theodoro Júnior:


“Ao determinar, porém, a conversão de causa ordinária em sumária, o juiz deverá abrir prazo
ao autor para que este complete a inicial, juntando o seu rol de testemunhas, para evitar
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prejuízo à parte, eis que não terá, no novo procedimento, outra oportunidade para fazê-lo.”
(Curso de Direito Processual Civil. V. I, 39ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 308)
Página

INFORMATIVO esquematizado
Nesse mesmo sentido:
(...) 2. A controvérsia está em saber se há preclusão na apresentação do rol de testemunhas
e de quesitos quando a ação foi inicialmente ajuizada no rito ordinário e, posteriormente,
convertida em sumário.
3. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que não há nulidade do processo por ter sido
escolhido o rito ordinário no lugar do rito sumário, a não ser que se demonstre prejuízo,
mormente em razão da dilação probatória mais ampla, o que possibilita maior efetividade
do princípio constitucional da ampla defesa.
4. Por lógica, se a parte pode escolher o rito ordinário no lugar do sumário sem que
configure nulidade devido à maior possibilidade de ampla defesa e dilação probatória, não
pode ser surpreendida pela mudança de rito com prejuízo da perda do momento de
apresentação do rol de testemunha e dos quesitos da perícia. Seria absurda a escolha pelo
autor de um rito que possibilite a maior dilação probatória, mas ser ceifado do direito de
apresentação das testemunhas e quesitos por mudança do rito por determinação do juízo,
sem que lhe seja concedida a oportunidade de emendar a inicial.
(REsp 1131741/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 27/10/2009)

Obs: se a conversão foi determinada após o réu ter apresentado a sua contestação, o juiz
terá que reabrir o prazo para a especificação das provas tanto para o autor como para o
requerido, considerando que na contestação no rito ordinário também não é necessária a
especificação das provas.

INEXISTÊNCIA DE NULIDADE CASO O AUTOR OPTE PELO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO E


NINGUÉM QUESTIONE ESTA ESCOLHA
Em nosso exemplo acima, a demanda enquadrava-se no art. 275 do CPC (rito sumário) e, no
entanto, o autor optou por ajuizar a ação sob o procedimento ordinário. O juiz, de ofício,
determinou a conversão do procedimento para o sumário. Vimos acima que ele pode fazer isso.
Imaginemos, porém, que o juiz não converteu o procedimento de ofício e o réu não
impugnou o rito escolhido.
Haveria alguma nulidade? Existe nulidade se a ação deveria correr no rito sumário, mas
acabou tramitando sob o procedimento ordinário?
NÃO. É pacífica a orientação do STJ, no sentido de que “inexiste prejuízo ao réu e
consequentemente nulidade processual, nos casos de adoção do rito ordinário em lugar do
sumário, dada a maior amplitude de defesa conferida por aquele procedimento” (REsp
1.026.821/TO, Quarta Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe de 28/8/2012).
Assim, se a situação se enquadrava em uma das hipóteses do art. 275 do CPC e o autor
elegeu o rito ordinário, não tendo este rito sido convertido pelo juiz de ofício nem
impugnado pelo réu, o procedimento seguirá sendo o ordinário até seu trânsito em julgado,
sem que haja nulidade processual pela ausência de prejuízo.
Artigos do Para seu estudo sobre o procedimento sumário ficar mais completo vale a pena ler os
CPC artigos do CPC pelo fato de muitas questões cobrarem a reprodução literal da lei. Vejamos:

Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta dias,
citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência prevista no § 2º
deste artigo, determinando o comparecimento das partes. Sendo ré a Fazenda Pública, os
prazos contar-se-ão em dobro.
§ 1º A conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser
auxiliado por conciliador.
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§ 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão


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verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da
prova dos autos, proferindo o juiz, desde logo, a sentença.

INFORMATIVO esquematizado
§ 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência, podendo fazer-se representar por
preposto com poderes para transigir.
§ 4º O juiz, na audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a
controvérsia sobre a natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do
procedimento sumário em ordinário.
§ 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade de prova técnica de maior
complexidade.

Principais pontos:
• Prazo para audiência: 30 dias
• Antecedência mínima para o réu ser citado: 10 dias
• Se a Fazenda Pública for ré: tais prazos são contados em dobro

Aspectos sobre a revelia:


1) Firme no propósito de concentrar os atos processuais, o procedimento sumário prevê a
necessidade de presença do réu na audiência de conciliação para que, primeiro, seja
tentada a autocomposição da demanda e, em caso de negativa, se prossiga com a
apresentação de contestação, sob pena de decretação da revelia (REsp 1096396/DF, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 07/05/2013).
2) Assim, em regra, haverá revelia se o réu não comparecer à audiência. Se não for à
audiência, mas enviar preposto e advogado com poderes para transigir, o réu não será
considerado revel;
3) O réu será considerado revel se comparecer à audiência sem, no entanto, apresentar
contestação (AgRg no Ag 1331798/RJ, Rel. Min. João Otávio De Noronha, Quarta Turma,
julgado em 05/05/2011);
4) A presença do advogado da parte ré é imprescindível na audiência de conciliação do
procedimento sumário, uma vez que neste momento processual será oportunizada a
prática de atos defensivos e outros relativos à produção de prova, os quais jamais podem
ser realizados pela própria parte, mas, sim, por intermédio de seu causídico (REsp
336.848/DF, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador Convocado do TJ/RS), Terceira
Turma, julgado em 06/04/2010). Desse modo, mesmo que o réu compareça à audiência,
deverá estar acompanhado de advogado.

Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta escrita ou
oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará
seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico.
§ 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que fundado nos
mesmos fatos referidos na inicial.
§ 2º Havendo necessidade de produção de prova oral e não ocorrendo qualquer das
hipóteses previstas nos arts. 329 e 330, I e II, será designada audiência de instrução e
julgamento para data próxima, não excedente de trinta dias, salvo se houver determinação
de perícia.

Principais pontos:
• Contestação é apresentada na própria audiência;
• Provas são especificadas na contestação;
• É possível pedido contraposto (fundado nos mesmos fatos referidos na petição inicial);
25
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Art. 279. Os atos probatórios realizados em audiência poderão ser documentados mediante
taquigrafia, estenotipia ou outro método hábil de documentação, fazendo-se a respectiva

INFORMATIVO esquematizado
transcrição se a determinar o juiz.
Parágrafo único. Nas comarcas ou varas em que não for possível a taquigrafia, a estenotipia
ou outro método de documentação, os depoimentos serão reduzidos a termo, do qual
constará apenas o essencial.

Art. 281. Findos a instrução e os debates orais, o juiz proferirá sentença na própria
audiência ou no prazo de dez dias.

Art. 475-A (...) § 3º Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275,
inciso II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o
caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 698.598-RR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 2/4/2013.

Valor da causa e ação de reintegração de posse por força de comodato

O valor da causa em ação de reintegração de posse que objetive a retomada de bem objeto de
contrato de comodato que tenha sido extinto deve corresponder à quantia equivalente a doze
Prática
forense meses de aluguel do imóvel.
Comentários Valor da causa
O autor da ação deve indicar, na petição inicial, o valor da causa (art. 282, V, do CPC).
A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico
imediato (art. 258). O valor da causa deve ser estipulado em reais.

Importância do valor da causa


A fixação do valor da causa é importante porque pode influenciar nos seguintes aspectos,
além de outros:
a) Determinação da competência (art. 91 do CPC);
b) Definição do procedimento que será aplicado (ordinário, sumário, sumaríssimo);
c) Limitação ao direito de recorrer (art. 34 da Lei n. 6.830/80);
d) Dispensa de reexame necessário (art. 475, § 2º do CPC);
e) Condenação dos honorários, que podem ser calculados com base no valor da causa.

Além disso, o valor da causa servirá, em regra, para determinar o quantum a ser pago como
taxa judiciária.

Tipos de valor da causa


Há dois tipos de valor da causa:
• Valor da causa legal: é o valor da causa calculado de acordo com um critério legal
previsto no art. 259 do CPC.
• Valor da causa arbitrado pelo autor: quando não está previsto no art. 259.

Critério para o valor da causa arbitrado pelo autor


Quando o valor da causa não estiver previsto no art. 259, o valor a ser atribuído pelo autor
deve corresponder à vantagem econômica que se busca com a demanda judicial. Em outras
palavras, deve ser verificado o valor econômico do bem da vida pleiteado, sendo este o
26

valor da causa.
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Ação de reintegração de posse que objetive a retomada de bem dado em comodato


O STJ decidiu que o valor da causa em ação de reintegração de posse que objetive a

INFORMATIVO esquematizado
retomada de bem objeto de contrato de comodato que tenha sido extinto deve
corresponder à quantia equivalente a 12 meses de aluguel do imóvel.

Por ausência de expressa disposição do CPC, o STJ tem entendido que o valor da causa nas
ações possessórias deve corresponder ao efetivo benefício patrimonial pretendido pelo
autor.

Dessa forma, como o benefício patrimonial almejado pelo autor da referida ação de
reintegração de posse, referente a imóvel que fora objeto de um extinto contrato de
comodato, consubstancia-se no valor do aluguel que ele estaria deixando de receber
enquanto o réu estivesse na posse do bem, mostra-se razoável a aplicação analógica do
disposto no art. 58, III, da Lei 8.245/1991 para fixar o valor da causa da aludida ação
possessória como correspondente a 12 meses de aluguel do imóvel objeto da demanda:
Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo,
consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e
renovatórias de locação, observar-se-á o seguinte:
III - o valor da causa corresponderá a doze meses de aluguel (...)

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.230.839-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/3/2013.

Juiz não está vinculado às conclusões do laudo pericial

É possível ao magistrado, na apreciação do conjunto probatório dos autos, desconsiderar as


conclusões de laudo pericial, desde que o faça motivadamente.
Comentários O juiz fica vinculado às conclusões expostas pelo perito, no laudo produzido?
NÃO, não existe tal vinculação. Assim, é possível que o magistrado, apreciando o conjunto
probatório dos autos (ou seja, todas as provas em conjunto), desconsidere as conclusões do
laudo pericial, devendo, contudo, fazer isso de forma motivada.

Trata-se, inclusive, de texto expresso do CPC:


Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com
outros elementos ou fatos provados nos autos.

Assim, o juiz “poderá desprezar o laudo e fundar seu julgamento em outras provas, desde
que seu convencimento seja devidamente motivado. Pode arguir, por exemplo, que o laudo
foi inconsistente, incoerente, insuficiente na técnica utilizada etc.” (DIDIER JR., Fredie. et.
al.; Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2, 8ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 259).

Vale ressaltar, mais uma vez, que o magistrado precisará, obrigatoriamente, expor, de
forma motivada, as razões pelas quais está afastando as conclusões do laudo pericial. O juiz
possui livre convencimento para apreciar as provas, mas isto deve ocorrer de forma
motivada (“livre convencimento motivado”):
Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias
constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na
sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento.
27

Na fundamentação a ser exposta pelo julgador, este não poderá trazer aos autos
impressões pessoais e conhecimentos extraprocessuais que não possam ser objeto do
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contraditório e da ampla defesa pelas partes litigantes.


Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.095.668-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/3/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Ação de exibição de documentos

Para que o interessado na prova ajuíze ação de exibição de documentos é DISPENSÁVEL que,
antes da propositura, ele tenha requerido extrajudicialmente o documento à pessoa que está
na sua posse. No entanto, incumbe ao autor de ação exibitória o pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios na hipótese em que ele não tenha requerido, em
momento anterior à propositura da ação, a apresentação dos documentos no âmbito
extrajudicial, e o réu não tenha oferecido resistência à pretensão, tendo apresentado, logo
após a citação, os documentos solicitados pelo autor.
Comentários Caso uma pessoa precise de determinado documento para defender seu interesse em juízo
e esta prova esteja em poder de terceiro, ela poderá ingressar com um pedido ao juiz para
que seja exibido o documento.

Este pedido de exibição pode ser:


a) Incidental: quando o documento for necessário para ser exibido em um processo que já
está em curso (arts. 355-363 do CPC);
b) Preparatório (cautelar, autônoma): quando o pleito de exibição for formulado antes da
instauração do processo (arts. 844-845 do CPC).

Para que o interessado na prova ajuíze a ação preparatória de exibição é indispensável que,
antes, ele requeira extrajudicialmente o documento à pessoa que está na sua posse? Em
outras palavras, é necessário que a pessoa que possui o documento negue-se a fornecê-lo
para que seja proposta a ação exibitória?
NÃO. O prévio requerimento extrajudicial de apresentação de documentos não é requisito
necessário à configuração de interesse de agir em ação exibitória de documentos. Este é o
entendimento do STJ, como se observa no seguinte exemplo:
(...) O cliente de instituição bancária possui interesse de agir na propositura de ação
cautelar de exibição de documentos para instruir ação principal, na qual discutirá a relação
jurídica deles decorrentes, independentemente de prévio pedido administrativo. (...)
(AgRg no AREsp 24547/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em
15/05/2012)

No entanto, esta conduta precipitada do autor poderá gerar despesas extras, conforme
você verá mais abaixo.

Há pagamento de custas e honorários advocatícios na ação cautelar de exibição?


SIM. O STJ entende que a ação cautelar de exibição de documentos (art. 844 do CPC) possui
natureza contenciosa, de forma que, na hipótese de sua procedência, há que se condenar a
parte vencida ao pagamento dos ônus sucumbenciais, tendo em vista a aplicação do
princípio da causalidade (REsp 786223/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma,
julgado em 16/03/2006).

Se o réu não se recusar a fornecer o documento, quem pagará estas despesas?


O autor. Segundo decidiu o STJ, incumbe ao autor de ação exibitória de documentos
comuns entre as partes o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios
na hipótese em que ele não tenha requerido, em momento anterior à propositura da ação,
28

a apresentação dos documentos no âmbito extrajudicial, e o réu não tenha oferecido


resistência à pretensão, tendo apresentado, logo após a citação, os documentos solicitados
Página

pelo autor.

INFORMATIVO esquematizado
Em observância ao princípio da causalidade, aquele que deu causa à propositura da ação de
exibição de documentos deve arcar com o pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios. Nesse contexto, não tendo o autor buscado previamente a
exibição dos documentos na via administrativa, foi ele próprio quem deu causa à
propositura da demanda, devendo, pois, arcar com os ônus decorrentes (REsp 1.232.157-
RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/3/2013).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.157-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/3/2013.

Recursos (embargos infringentes)

Não são cabíveis embargos infringentes para impugnar acórdão não unânime que se limite a
anular a sentença em razão de vício na citação.
A admissibilidade dos embargos infringentes pressupõe que a divergência derive do mérito da
controvérsia — sendo incabível quando se tratar de matéria eminentemente processual — e,
mais do que isso, é necessário que se trate de reforma ou substituição da decisão de primeiro
grau, e não simples anulação.
Comentários Embargos infringentes são uma espécie de recurso.
Os embargos infringentes só cabem para questionar acórdão.
Não basta, contudo, que seja acórdão, é preciso que ele seja NÃO UNÂNIME, ou seja,
acórdão em que houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes é a de renovar a discussão para fazer prevalecer as
razões do voto vencido.

O que é mais difícil de entender, sendo o mais cobrado nos concursos, são as hipóteses de
cabimento dos embargos infringentes.

Segundo o art. 530 do CPC, cabem embargos infringentes somente em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reforma, em grau de apelação, a
sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julga procedente a ação rescisória.

1ª) contra acórdão não proferido por TJ ou TRF que julgou APELAÇÃO e REFORMOU a
unânime (por maioria) sentença de mérito
2ª) contra acórdão não proferido por Tribunal que julgou a tendo julgado
unânime (por maioria) (de 2ª instância ou AÇÃO RESCISÓRIA PROCEDENTE essa ação
superior) rescisória.

Prazo dos embargos infringentes: 15 dias


Quem julga: o próprio Tribunal, segundo as regras do regimento interno.

Exemplo da hipótese 1:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”.
O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito.
“B” interpõe apelação ao TJ.
O TJ, por meio de uma Câmara Cível, composta por 3 Desembargadores, reforma a
sentença do juiz, afirmando que “A” não tem direito à indenização. Dos 3
Desembargadores, 2 votaram pela reforma e 1 votou pela manutenção da sentença, ou
seja, o acórdão foi não unânime.
29

Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Exemplo da hipótese 2:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”.
O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito.
“B” interpõe apelação ao TJ que, no entanto, mantém a sentença.
Ocorre o trânsito em julgado.
“B” ajuíza ação rescisória e o Tribunal, por maioria, julga procedente a rescisória.
Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.

Pergunta:
Se o Tribunal, ao julgar a apelação, em acórdão não unânime, anula a sentença em razão de
vício na citação, cabem embargos infringentes?
NÃO. Não são cabíveis embargos infringentes para impugnar acórdão não unânime que se
limite a anular a sentença em razão de vício na citação.
O art. 530 do CPC, que trata do cabimento dos embargos infringentes, exige que tenha
havido reforma de “sentença de mérito”.
Assim, a admissibilidade dos embargos infringentes pressupõe que a divergência derive do
mérito da controvérsia. Logo, é incabível quando se tratar de matéria eminentemente
processual. Além disso, é necessário que se trate de reforma ou substituição da decisão de
primeiro grau, e não de simples anulação.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.320.558-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/4/2013.

Reconhecimento de que determinado assunto possui repercussão geral


não acarreta o sobrestamento de MS que tramita no STJ

O reconhecimento da repercussão geral pelo STF não implica, necessariamente, a suspensão de


mandado de segurança em trâmite no STJ. Isso porque o que fica sobrestado são os recursos.
Assim, eventual recurso extraordinário interposto em face de acórdão proferido pelo STJ ou por
outros tribunais fica sobrestado, mas não um mandado de segurança.
Comentários Para maiores informações sobre a repercussão geral, vide o Informativo 699 do STF.
Processo STJ. 3ª Seção. MS 11.044-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/3/2013.

Arresto executivo eletrônico

É possível a realização de arresto executivo on-line na hipótese em que o executado não tenha
sido encontrado pelo oficial de justiça para a citação.
Comentários Em uma execução de título extrajudicial para pagar quantia certa, pode acontecer de o oficial
de justiça não localizar o executado para ser citado. Neste caso, se forem localizados bens do
patrimônio do devedor, poderá ser realizado o ARRESTO EXECUTIVO de tais coisas a fim de
que sejam utilizadas para a satisfação da dívida. É o que determina o art. 653 do CPC:
Art. 653. O oficial de justiça, não encontrando o devedor, arrestar-lhe-á tantos bens
quantos bastem para garantir a execução.
Parágrafo único. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça
procurará o devedor três vezes em dias distintos; não o encontrando, certificará o ocorrido.

O arresto executivo de que trata o art. 653 do CPC consubstancia a constrição de bens em
30

nome do executado quando este não for encontrado para a citação.


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Trata-se de medida que objetiva assegurar a efetivação de futura penhora na execução em


curso e somente ocorre se o devedor não foi citado.

INFORMATIVO esquematizado
Caso tenha sido possível a citação, a medida a ser decretada não é mais o arresto executivo
e sim a penhora. A doutrina afirma, portanto, que o arresto executivo é um ato de “pré-
penhora” ou “penhora antecipada”.

Portanto, o arresto executivo visa a evitar que a tentativa frustrada de localização do


devedor impeça o andamento regular da execução, ocorrendo antes que tenha havido a
citação. A citação será condição necessária apenas para que o arresto seja convertido,
posteriormente, em penhora.

É possível a realização do arresto executivo de forma on-line, ou seja, utilizando-se do


sistema BACENJUD?
SIM. É possível a realização da penhora on-line, consistente na localização e apreensão, por
meio eletrônico, de valores, pertencentes ao executado, depositados ou aplicados em
instituições bancárias.

Havia dúvida se seria possível ou não o arresto executivo on-line pelo fato de não haver
previsão legal expressa nesse sentido. No entanto, o STJ decidiu que poderia ser aplicado,
por analogia, o art. 655-A do CPC, que trata sobre a penhora on-line:
Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o
juiz, a requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisora do sistema
bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos
em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o
valor indicado na execução.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.370.687-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 4/4/2013.

Execução provisória de sentença que concede gratificação a servidor


A implementação de gratificação no contracheque de servidor público cujo direito foi
reconhecido pelo Poder Judiciário, inclusive em sede de mandado de segurança, deve se dar
após o trânsito em julgado da decisão, nos termos do artigo 2º-B da Lei n. 9.494/1997.

Contudo, nos casos de INSTITUIÇÃO DE PENSÃO por morte de servidor público, o STJ tem admitido
a possibilidade de execução provisória contra a Fazenda Pública, porque a situação não está
inserida nas vedações do art. 2º-B da Lei n. 9.494/97, cuja interpretação deve ser restritiva.
Comentários REGRA GERAL

Imagine a seguinte situação hipotética:


Antônio, servidor público, ajuizou ação pleiteando que a gratificação “X” fosse incorporada
aos seus vencimentos pagos mensalmente.

O juiz poderá conceder a gratificação mediante medida liminar?


NÃO, considerando que existe expressa vedação na Lei n. 12.016/2009 (art. 7º, § 2º):
Art. 7º (...) § 2º Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de
créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a
extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.
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Na sentença, o juiz julgou procedente a ação acolhendo o pleito do servidor e condenando o


Estado a incorporar mensalmente a gratificação “X”. É possível que seja implementada
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desde logo essa gratificação na remuneração do servidor ou será necessário aguardar o


trânsito em julgado?

INFORMATIVO esquematizado
A implementação de gratificação no contracheque de servidor público cujo direito foi
reconhecido pelo Poder Judiciário somente pode ocorrer após o trânsito em julgado da
decisão. Trata-se de previsão legal expressa no art. 2º-B da Lei n. 9.494/1997:
Art. 2º-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão em folha de
pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou extensão de vantagens
a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive de suas
autarquias e fundações, somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado.
(Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

A sentença que a liberação de recurso


determinar, em a inclusão em folha de pagamento,
somente poderá ser
favor de servidores a reclassificação,
executada após seu
da União, a equiparação,
trânsito em julgado.
Estados/DF e a concessão de aumento ou
Municípios: a concessão de extensão de vantagens

Na Lei do Mandado de Segurança existe previsão em sentido semelhante:


Art. 14 (...) § 3º A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada
provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar.

INSTITUIÇÃO DE PENSÃO POR MORTE DE SERVIDOR PÚBLICO

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João, servidor público, faleceu deixando uma filha (Beatriz). Esta requereu,
administrativamente, o direito de receber “pensão por morte de servidor público” em
decorrência do óbito de seu pai. A Administração Pública denegou o pedido.
Diante disso, Beatriz ajuizou uma ação pleiteando a instituição da pensão por morte.
O juiz julgou procedente a ação acolhendo o pedido de Beatriz e determinando que a
Administração institua a pensão por morte.
O Tribunal confirmou a sentença do magistrado.

É possível que seja instituída, desde logo, esta pensão por morte ou será necessário
aguardar o trânsito em julgado?
Segundo entendimento consolidado no STJ, é admitida a execução provisória contra a
Fazenda Pública nos casos de instituição de pensão por morte de servidor público. Assim,
não será necessário aguardar o trânsito em julgado.

Mas e a vedação do art. 2º B da Lei n. 9.494/97?


A instituição de pensão por morte de servidor público não está inserida nas vedações do
art. 2º-B da Lei n. 9.494/1997, cuja interpretação deve ser restritiva. Veja novamente o
dispositivo:
Art. 2º-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão em folha de
pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou extensão de vantagens
a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive de suas
autarquias e fundações, somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado.
(Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
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A instituição de pensão, embora acarrete, por via reflexa, a liberação de recursos públicos,
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não se trata de concessão de aumento ou extensão de vantagem.


Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 230.482-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 7/3/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Execução contra a Fazenda Pública e prescrição intercorrente

Durante o período em que o processo de execução contra a Fazenda Pública estiver suspenso
em razão da morte da parte exequente (para a habilitação dos sucessores da parte falecida),
não corre prazo para efeito de reconhecimento de prescrição intercorrente da pretensão
executória. Isso porque não há previsão legal que imponha prazo específico para a habilitação
dos referidos sucessores.
Comentários Existe algum prazo prescricional para que a pessoa ajuíze a execução contra a Fazenda
Pública?
SIM. O STJ afirma que o prazo prescricional para a propositura de execução contra a
Fazenda Pública é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 e na Súmula
150 do STF:
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e
qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, estadual ou municipal, seja qual for a
sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se
originaram.

Súmula 150-STF: Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

Interrupção do prazo prescricional


Normalmente, no direito em geral, quando o prazo prescricional é interrompido, ele volta a
correr do zero, ou seja, reinicia-se o prazo.
A Fazenda Pública, no entanto, goza de um benefício quanto a este aspecto.
Se o prazo prescricional para ajuizar ação contra a Fazenda Pública é interrompido, ele
voltará a correr pela metade do tempo.
Vamos a um exemplo: João sofreu um ato ilícito praticado pelo Estado em 2004. Logo, ele
teria até 2009 para ajuizar a ação de indenização. Em 2008, ocorre algum fato que
interrompe a prescrição (art. 202 do CC). Isso significa que o prazo de João para ajuizar a
ação será reiniciado, mas não integralmente e sim pela metade. Dessa forma, João terá
mais 2 anos e 6 meses para ajuizar a ação.

Este privilégio da Fazenda Pública (bastante criticável) está previsto no art. 9º do Decreto
n. 20.910/1932 e na Súmula 383 do STF:
Art. 9º A prescrição interrompida recomeça a correr, pela metade do prazo, da data do ato
que a interrompeu ou do último ato ou termo do respectivo processo.

Súmula 383-STF: A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos
e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o
titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

Este é o entendimento prevalente no STJ:


(...) Esta Corte tem entendimento pacífico de que o prazo para a ação de execução contra a
fazenda pública é de cinco anos, nos termos da Súmula 150/STF, podendo ser interrompido
uma única vez, recomeçando a correr pela metade, resguardado o prazo mínimo de cinco
anos, nos termos da Súmula 383/STF. (...)
(AgRg no REsp 1247027/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 25/10/2011, DJe 04/11/2011)
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O que é prescrição intercorrente?


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Prescrição intercorrente é aquela que ocorre durante o processo judicial em virtude da


demora em se prolatar uma decisão pondo fim à causa.

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Ex: o prazo para ajuizar uma ação de reparação civil entre particulares é de 3 anos (art. 206,
§ 3º, V, do CC). Imaginemos que Carlos propôs a ação contra Antônio em 2005. Em 2008, se
a ação não tivesse sido julgada, teria havido prescrição intercorrente.

A prescrição intercorrente é admitida no direito brasileiro?


Em regra não. Isso porque se a demora na prestação jurisdicional resultou exclusivamente
do Poder Judiciário que demorou a julgar a causa não se pode punir o autor com a perda de
sua pretensão.
Contudo, admite-se o reconhecimento da prescrição intercorrente, se ficar provado que o
demandante agiu com descaso ou manteve-se inerte e não realizou os atos necessários ao
impulso processual (STJ AgRg no AREsp 144.978/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta
Turma, julgado em 04/06/2013).
Vale ressaltar que existe uma espécie de prescrição intercorrente prevista expressamente
na legislação (art. 40 da Lei n. 6.830/80).

Se o autor da ação proposta contra a Fazenda Pública morre e os seus sucessores demoram
em se habilitar no processo, poderá ser decretada a prescrição intercorrente neste período?
NÃO. Segundo o STJ, durante o período em que o processo de execução contra a Fazenda
Pública estiver suspenso em razão da morte da parte exequente — para a habilitação dos
sucessores da parte falecida —, não corre prazo para efeito de reconhecimento de
prescrição intercorrente da pretensão executória. Isso porque não há previsão legal que
imponha prazo específico para a habilitação dos referidos sucessores.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 286.713-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013.

Incabível condenação em honorários no caso de indeferimento liminar dos embargos do devedor

Os honorários advocatícios não são devidos na hipótese de indeferimento liminar dos


embargos do devedor, mesmo que o executado tenha apelado da decisão indeferitória e o
exequente tenha apresentado contrarrazões ao referido recurso.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Maria propõe uma execução contra determinado Município cobrando um milhão de reais.
No caso de ser proposta execução contra a Fazenda Pública, a legislação prevê que o Poder
Público será citado para, querendo, opor embargos à execução (embargos do devedor), no
prazo de 30 dias (art. 730 do CPC c/c art. 1º-B, da Lei n. 9.494/97).
Vale ressaltar que não se aplicam à Fazenda Pública as regras do cumprimento de sentença
(art. 475-I e ss), não havendo aplicação da multa de 10% de que trata o art. 475-J, por
exemplo.

Intimação do exequente/embargado
Se os embargos do devedor forem recebidos, o juiz irá determinar a intimação do
exequente/embargado para se manifestar no prazo de 15 dias.
Art. 740. Recebidos os embargos, será o exequente ouvido no prazo de 15 (quinze) dias; a
seguir, o juiz julgará imediatamente o pedido (art. 330) ou designará audiência de
conciliação, instrução e julgamento, proferindo sentença no prazo de 10 (dez) dias.

E os embargos podem ser indeferidos liminarmente?


SIM. Os embargos do devedor podem ser indeferidos liminarmente nas hipóteses previstas
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no art. 739 do CPC:


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Art. 739. O juiz rejeitará liminarmente os embargos:


I - quando intempestivos;

INFORMATIVO esquematizado
II - quando inepta a petição (art. 295); ou
III - quando manifestamente protelatórios.

Vale lembrar que, se os embargos foram rejeitados liminarmente, isso significa que o juiz
nem abriu vista ao exequente/embargado para se manifestar sobre esta forma de defesa. A
rejeição foi imediata.

O juiz irá condenar o embargante/executado em honorários advocatícios por conta da


sucumbência dos embargos?
NÃO. Segundo o STJ, os honorários advocatícios não são devidos na hipótese de
indeferimento liminar dos embargos do devedor porque o advogado do exequente não foi
obrigado a preparar manifestação contra os embargos.

Suponhamos, em nosso exemplo, que os embargos do devedor foram indeferidos


liminarmente por inteiro. O Procurador do Município foi intimado desta decisão. Qual
recurso ele deverá interpor?
A decisão que rejeita liminarmente os embargos por inteiro é uma sentença, recorrível,
portanto, por meio de APELAÇÃO (art. 296 do CPC).

O exequente será intimado para apresentar contrarrazões à apelação?


NÃO. De acordo com a jurisprudência do STJ, no caso de indeferimento liminar da petição
inicial (os embargos do devedor possuem natureza jurídica de ação), não há necessidade de
intimação do embargado para apresentar contrarrazões, considerando que ele não teve
influência no convencimento do juiz que rejeitou liminarmente a ação. Nada impede que o
embargado, por iniciativa própria, decida apresentar contrarrazões para reforçar os
argumentos e tentar fazer com que o Tribunal mantenha a rejeição liminar. A intimação
para essas contrarrazões, contudo, não é obrigatória.

Em nosso exemplo, o advogado de Maria, muito diligente, sabendo que a PGM havia
interposto recurso de apelação contra a sentença que rejeitou liminarmente os embargos,
decidiu apresentar contrarrazões. Se o Tribunal mantiver a sentença, o advogado de Maria
terá direito de receber honorários advocatícios de sucumbência pela derrota do Município
nos embargos?
NÃO. De acordo com o STJ, os honorários advocatícios não são devidos na hipótese de
indeferimento liminar dos embargos do devedor, mesmo que o executado tenha apelado
da decisão indeferitória e o exequente tenha apresentado contrarrazões ao referido
recurso. Isso porque esta apresentação das contrarrazões foi uma iniciativa sua, mas, a rigor
não haveria necessidade. Logo, não justifica a condenação do embargante/derrotado em
honorários.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 182.879-RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 5/3/2013.

Execução fiscal (necessidade de intimação específica quanto à penhora)

O comparecimento espontâneo do executado aos autos da execução fiscal, após a efetivação da


penhora, não supre a necessidade de que seja formalmente intimado sobre o ato constritivo
com a advertência de que seu prazo para o oferecimento dos embargos à execução fiscal inicia-
se a partir daquele momento, nos termos do art. 12 da Lei n. 6.830/80.
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A ciência da penhora em virtude do comparecimento espontâneo do executado não pode ser


equiparada ao ato formal de intimação, que deve se revestir da necessária solenidade da
Página

indicação do prazo para oposição dos pertinentes embargos.

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Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
O município de Belo Horizonte ajuizou uma execução fiscal contra determinada “empresa”
(sociedade empresária).
O juiz despachou a petição inicial e determinou a citação do executado (art. 7º da Lei n.
6.830/80).

Citação do executado por meio de AR


Na execução fiscal, a citação será feita, preferencialmente, pelo correio, com aviso de
recepção, se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma.
Assim, tentou-se a citação da empresa por meio postal, mas a correspondência retornou
afirmando que não havia ninguém para receber o aviso no endereço.

Citação por oficial de justiça


Como restou frustrada a citação postal, o juiz determinou a citação por oficial de justiça,
mas esta também não teve sucesso.

Citação por edital


Se a citação por meio do Oficial de Justiça também não foi possível, o juiz deverá
determinar a citação do executado por edital.
Súmula 414-STJ: A citação por edital na execução fiscal é cabível quando frustradas as
demais modalidades.

Juiz determina a penhora de bens


Como a empresa não compareceu em juízo para pagar a dívida nem garantir a execução, o
magistrado determinou a penhora de seus bens. Conseguiu-se penhorar um imóvel da
empresa.

Executada comparece espontaneamente em juízo


Após a penhora ser realizada, a empresa, mesmo sem ser formalmente intimada da
penhora, comparece em juízo.

É necessário ainda que a executada seja intimada sobre a penhora?


SIM. O comparecimento espontâneo do executado aos autos da execução fiscal, após a
efetivação da penhora, não supre a necessidade de que seja formalmente intimado sobre o ato
constritivo com a advertência de que seu prazo para o oferecimento dos embargos à execução
fiscal inicia-se a partir daquele momento, nos termos do art. 12 da Lei n. 6.830/80.
A ciência da penhora em virtude do comparecimento espontâneo do executado não pode
ser equiparada ao ato formal de intimação, que deve se revestir da necessária solenidade
da indicação do prazo para oposição dos pertinentes embargos.
A intimação é um ato de comunicação processual da mais relevante importância, pois é dela
que começam a fluir os prazos para que as partes exerçam os seus direitos e faculdades
processuais.
Info 510 STJ Para maiores detalhes sobre a citação na execução fiscal, vide o Informativo 510 STJ.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.358.204-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 7/3/2013.
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DIREITO PENAL
Estupro e atentado violento ao pudor (crimes hediondos)
Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor cometidos antes da edição da Lei n.
12.015/2009 são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples e com
violência presumida.
Comentários Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor cometidos antes da edição da Lei n.
12.015/2009 são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples.
Esse é o entendimento também do STF (HC 101.694-RS, DJe 2/6/2010).
Posição A posição acima explicada é pacífica tanto no STF como no STJ. Nesse sentido: STJ 3ª Seção.
pacífica REsp 1.110.520-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012.
E após a Lei Antes da Lei n. 12.015/09 havia os crimes de estupro no art. 213 e de atentado violento ao
12.015/09? pudor no art. 214 do CP.
Se esses crimes fossem praticados contra menor de 14 anos, tais condutas poderiam se
enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com violência
presumida por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao
pudor com violência presumida por ser menor de 14 anos), todos do Código Penal com
redação anterior à Lei n. 12.015/2009.
Com o advento dessa Lei, as condutas antes descritas nos arts. 213 e 214 foram unificadas
apenas no art. 213 e foi criado um novo delito, no art. 217-A, chamado de “estupro de
vulnerável”:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

Quanto ao fato de ser ou não hediondo, não houve alteração com a Lei n. 12.015/2009, ou
seja, tanto o ato de manter conjunção carnal como praticar ato libidinoso, seja contra
adulto ou contra menor de 14 anos, seja com violência ou sem violência, tudo isso é
considerado crime hediondo.

Para facilitar: seja antes ou depois da Lei n. 12.015/2009, toda e qualquer forma de
estupro (ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante
que a prática de qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave
ou morte.
Processo STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 250.451-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/3/2013.

Abolitio criminis temporária

É típica a conduta de possuir arma de fogo de uso permitido com numeração raspada, suprimida
ou adulterada (art. 16, parágrafo único, IV, da Lei 10.826/2003) praticada após 23/10/2005.
A nova redação do art. 32 da Lei n. 10.826/2003, trazida pela Lei n. 11.706/2008, não mais
suspendeu, temporariamente, a vigência da norma incriminadora ou instaurou uma abolitio
criminis temporária (conforme operado pelo art. 30 da mesma lei), mas instituiu uma causa
permanente de exclusão da punibilidade, consistente na entrega espontânea da arma.
Resumindo:

A abolitio criminis temporária abrangia quais crimes?


De 23/12/2003 a 23/10/2005 Após 23/10/2005 até 31/12/2009
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Posse de arma de fogo de uso Posse de arma de fogo de uso


PERMITIDO e de uso RESTRITO. PERMITIDO apenas.
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INFORMATIVO esquematizado
Comentários Os arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento preveem:
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não
registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante
apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa,
acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos
meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as
características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do
pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III
do caput do art. 4º desta Lei.
(Obs1: redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
(Obs2: esse prazo foi prorrogado até 31/12/2009 pela Lei 11.922/2009)

Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la,


espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na
forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da
referida arma.

Desse modo, os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não
registrada poderiam solicitar o registro da arma até o dia 31/12/2009. Assim, até esse prazo
(31/12/2009), não era típica a conduta de possuir arma de fogo de uso permitido.

Nesse período, a posse de arma de fogo de uso permitido não era crime porque houve
abolio criminis temporária (também chamada de descriminalização temporária ou vacatio
legis indireta).

A quais crimes se aplica essa vacatio legis especial?


No período compreendido entre 23/12/2003 a 23/10/2005, a vacatio legis indireta abrangia
as condutas de posse de arma de fogo de uso permitido e de uso restrito.

A partir de 23/10/2005 até 31/12/2009 a vacatio legis especial passou a incidir somente
sobre a conduta de posse de arma de fogo de uso permitido.

Resumindo:
A abolitio criminis temporária abrangia quais crimes?
De 23/12/2003 a 23/10/2005 A partir de 23/10/2005 até 31/12/2009
Posse de arma de fogo de uso Posse de arma de fogo de uso
PERMITIDO e de uso RESTRITO. PERMITIDO apenas.

Obs: tais datas são muito importantes para resolver casos práticos, mas acredito que,
dificilmente, serão exigidas em uma prova de concurso, salvo se o objetivo do examinador
for o de que quase todos errem porque não há razoabilidade em ter que memorizar isso.

De qualquer forma, vejamos os seguintes exemplos de aplicação da vacatio legis especial:

A polícia encontrou, no dia 18/07/2007, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso permitido.
“X” poderá se valer da vacatio legis especial para não responder ao processo?
SIM, considerando que se trata do fato previsto no art. 12 do Estatuto do Desarmamento.
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A polícia encontrou, no dia 18/07/2005, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso permitido.
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“X” poderá se valer da vacatio legis especial para não responder ao processo?
SIM, considerando que se trata do fato previsto no art. 12 do Estatuto do Desarmamento.

INFORMATIVO esquematizado
A polícia encontrou, no dia 18/07/2007, na mochila de “X”, que andava na rua, uma arma
de fogo de uso permitido, sem que ele tivesse autorização. “X” poderá se valer da abolitio
criminis temporária para não responder ao processo? Essa abolitio criminis temporária
poderia ser aplicada para o porte de arma de fogo de uso permitido (art. 14)?
NÃO.

A polícia encontrou, no dia 18/07/2005, na mochila de “X”, que andava na rua, uma arma
de fogo de uso permitido, sem que ele tivesse autorização. “X” poderá se valer da abolitio
criminis temporária para não responder ao processo? Essa abolitio criminis temporária
poderia ser aplicada para o porte de arma de fogo de uso permitido (art. 14)?
NÃO. A vacatio legis prevista nos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento não torna
atípica a conduta de porte ilegal de arma de uso permitido (art. 14). Essa vacatio legis
especial somente tem aplicação para os casos de POSSE de arma de fogo.

A polícia encontrou, no dia 18/07/2007, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso restrito.
“X” poderá se valer da abolitio criminis temporária para não responder ao processo? Essa
abolitio criminis temporária poderia ser aplicada?
NÃO, porque se trata de posse de arma de fogo de uso restrito praticado após 23/10/2005.

A polícia encontrou, no dia 18/07/2005, na casa de “X”, uma arma de fogo de uso restrito.
“X” poderá se valer da abolitio criminis temporária para não responder ao processo? Essa
abolitio criminis temporária poderia ser aplicada?
SIM, porque praticado antes de 23/10/2005.
Processo STJ. 3ª Seção. REsp 1.311.408-RN, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/3/2013 (recurso repetitivo).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Obrigatoriedade do juiz remeter cópia dos autos ao MP


quando verificar a existência de indícios de crime

A abertura de vista ao Ministério Público para eventual instauração de procedimento criminal,


após a verificação nos autos, pelo magistrado, da existência de indícios de crime de ação penal
pública, não é suficiente ao cumprimento do disposto no art. 40 do CPP. Isso porque o referido
artigo impõe ao magistrado, nessa hipótese, o dever de remeter ao Ministério Público as cópias
e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia, não podendo o Estado-juiz se
eximir da obrigação por se tratar de ato de ofício a ele imposto pela lei.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):
Em um determinado processo cível, identificou-se a existência de indícios da prática de um
crime. Diante disso, o Promotor de Justiça requereu ao juiz que ele determinasse que a Vara
extraísse cópia dos autos e a remetesse ao Ministério Público estadual para apuração.
O juiz afirmou que havia um excesso de serviço na Vara e poucos servidores, o que
dificultava o cumprimento da medida e, assim, determinou que, ao invés de ser tirada cópia
dos autos, deveria ser dado vista do processo ao MP para que este tomasse as providências
que entendesse necessárias à instauração do procedimento criminal.

O Ministério Público recorreu contra esta decisão, tendo a questão chegado ao STJ. O que
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ficou decidido ao final?


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O STJ afirmou que o Ministério Público tinha razão e que, havendo indícios da prática de
crime de ação pública, deverá ser extraída cópia dos autos com a sua remessa ao Parquet.

INFORMATIVO esquematizado
Segundo o Relator, esta providência encontra-se prevista no art. 40 do CPP:
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem
a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os
documentos necessários ao oferecimento da denúncia.

O art. 40 do CPP exige que o Poder Judiciário envie cópia dos autos ao Ministério Público.
Assim, segundo o STJ, não é suficiente que seja dada vista dos autos ao MP, sendo
indispensável o envio das cópias.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.360.534-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/3/2013.

Assistente de acusação

Não há nulidade processual na hipótese em que o assistente de acusação, por não ter
arrazoado recurso interposto pelo MP após ter sido intimado para tanto, deixe de ser intimado
quanto aos atos processuais subsequentes.
Comentários Segundo o art. 271, § 2º, do CPP, o assistente da acusação não será mais intimado se,
sendo-o, não comparecer a qualquer dos atos de instrução e julgamento.

Art. 271 (...) § 2º O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do


assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução
ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado.

Quando o § 2º do art. 271 fala em “atos de instrução ou julgamento”, quis a norma


abranger todo e qualquer ato processual para cuja prática o assistente foi cientificado, em
qualquer fase do processo, e não apenas em primeiro grau.

Diante disso, se o assistente de acusação foi intimado para arrazoar o recurso interposto
pelo MP e não o fez, ele não precisará mais ser intimado quanto aos atos processuais
subsequentes.
Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.035.320-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 2/4/2013.

Progressão de regime no tráfico de drogas com a causa de diminuição do § 4º do art. 33

A partir da vigência da Lei 11.464/2007, que modificou o art. 2º, § 2º, da Lei 8.072/1990, exige-
se o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três
quintos), se reincidente, para a progressão de regime no caso de condenação por tráfico de
drogas, ainda que aplicada a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006.

A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 não
afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas. Assim, se o indivíduo é condenado por tráfico
de drogas e recebe a diminuição prevista no § 4º do art. 33, mesmo assim terá cometido um
crime equiparado a hediondo.
Comentários O tráfico de drogas é crime hediondo?
NÃO. O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos. Estes três
delitos (TTT) são equiparados (assemelhados) pela CF/88 a crimes hediondos. Em outras
palavras, não são crimes hediondos, mas devem receber o mesmo tratamento penal e
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processual penal mais rigoroso que é reservado aos delitos hediondos.


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INFORMATIVO esquematizado
A Lei n. 8.072/90, em sua redação original, determinava que os condenados por crimes
hediondos ou equiparados (TTT) deveriam cumprir a pena em regime integralmente fechado:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins e o terrorismo são insuscetíveis de: (...)
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime
fechado.

Em 23/02/2006, o STF declarou inconstitucional este § 1º do art. 2º por duas razões


principais, além de outros argumentos:
a) A norma violava o princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF)
já que obrigava o juiz a sempre condenar o réu ao regime integralmente fechado,
independentemente do caso concreto e das circunstâncias pessoais do réu;
b) A norma proibia a progressão de regime de cumprimento de pena, o que inviabilizaria a
ressocialização do preso.

A ementa do julgado ficou assim redigida:


PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER.
A progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semi-aberto e
aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais dia ou menos dia,
voltará ao convívio social.
PENA - CRIMES HEDIONDOS - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - ÓBICE - ARTIGO
2º, § 1º, DA LEI Nº 8.072/90 - INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL.
Conflita com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição
Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente
fechado. Nova inteligência do princípio da individualização da pena, em evolução
jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.
(HC 82959, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/02/2006)

Diante dessa decisão, o Congresso Nacional editou a Lei n. 11.464/2007, modificando o §


1º do art. 2º da Lei n. 8.072/90:
Redação original Redação dada pela Lei 11.464/2007
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo § 1º A pena por crime previsto neste artigo
será cumprida INTEGRALMENTE em regime será cumprida INICIALMENTE em regime
fechado. fechado.

Para os crimes anteriores à Lei n. 11.464/2007, como o antigo § 1º era inconstitucional, o


STF considera que é possível a progressão de regime cumprido 1/6 da pena (art. 112 da
LEP). No mesmo sentido é o entendimento do STJ (Súmula 471-STJ).

Para os crimes posteriores à Lei n. 11.464/2007, foi prevista a possibilidade de progressão


de regime para crimes hediondos, conforme os requisitos previstos no § 2º do art. 2º (2/5 se
primário e 3/5 se reincidente).

Segundo entendeu o STF, essa nova redação dada pela Lei n. 11.464/2007 somente é válida
para os crimes praticados após a sua vigência (29.03.2007).
Assim, a Lei n. 11.464/2007 (que fixou os requisitos de 2/5 e 3/5) é irretroativa, considerando
que, segundo o STF, trata-se de lei posterior mais grave. Isso porque depois da decisão do STF
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reconhecendo a inconstitucionalidade da vedação de progressão para crimes hediondos


(prevista na redação original do § 1º), os condenados por crimes hediondos e equiparados
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passaram a poder progredir com o requisito de 1/6, mais favorável que o critério da Lei n.º
11.464/07 (RHC 91300/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 5.3.2009).

INFORMATIVO esquematizado
Recapitulando:
§ 1º (em sua redação original): proibia a progressão para crimes hediondos.
STF (em 23/02/2006): decidiu que essa redação original do § 1º era inconstitucional
(não se podia proibir a progressão).
Como o STF afirmou que o § 1º era inconstitucional: as pessoas condenadas por crimes
hediondos ou equiparados passaram a progredir com os mesmos requisitos dos demais
crimes não hediondos (1/6, de acordo com o art. 112 da LEP).
Lei n. 11.464/2006: modificou o § 1º, prevendo que a progressão para crimes
hediondos e equiparados passaria a ser mais difícil que em relação aos demais crimes
(2/5 para primários e 3/5 para reincidentes).
Logo, a Lei n. 11.464/2006 foi mais gravosa para aqueles que cometeram crimes antes
da sua vigência (e que podiam progredir com 1/6). Por tal razão, ela é irretroativa.

Progressão no caso de crimes hediondos e equiparados (tráfico, tortura e terrorismo)


ANTES da Lei n. 11.464/2007 DEPOIS da Lei n. 11.464/2007
Requisito objetivo para progressão:
Requisito objetivo para progressão:
cumprir 2/5 da pena – se primário
cumprir 1/6 da pena
cumprir 3/5 da pena – se reincidente

Tráfico de O delito de tráfico de drogas está previsto no art. 33 da Lei n. 11.343/2006:


drogas com Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
a causa de venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
diminuição ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa.

A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também
chamada de “traficância menor” ou “traficância eventual”:
Art. 33 (...)
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas
de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem
integre organização criminosa.

Qual é a natureza jurídica deste § 4º?


Trata-se de uma causa de diminuição de pena.

Havia uma tese defensiva sustentando que o art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/2006 não seria tão
grave e, por isso, não poderia ser equiparado a hediondo. A jurisprudência acolheu esta posição?
NÃO. Tanto o STF como o STJ possuem o entendimento de que o § 4º do art. 33 da Lei n.
11.343/2006 é também equiparado a hediondo. Isso porque a causa de diminuição de pena
prevista no art. 33, § 4º NÃO constitui tipo penal distinto do caput do mesmo artigo, sendo
o mesmo crime, no entanto, com uma causa de diminuição.
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Dessa forma, a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas, pois a sua incidência
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não decorre do reconhecimento de uma menor gravidade da conduta praticada e tampouco


da existência de uma figura privilegiada do crime. A criação da minorante tem suas raízes
INFORMATIVO esquematizado
em questões de política criminal, surgindo como um favor legislativo ao pequeno traficante,
ainda não envolvido em maior profundidade com o mundo criminoso, de forma a lhe
propiciar uma oportunidade mais rápida de ressocialização.

Assim, se o indivíduo é condenado por tráfico de drogas e recebe a diminuição prevista no §


4º do art. 33, mesmo assim terá cometido um crime equiparado a hediondo.

A pessoa condenada pelo art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/2006 poderá progredir de regime
em quanto tempo?
Como vimos acima, o § 4º do art. 33 é também equiparado a hediondo. Logo, os requisitos
para a progressão serão os mesmos do crime hediondo:

Progressão no caso do art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/2006


ANTES da Lei n. 11.464/2007 DEPOIS da Lei n. 11.464/2007
Requisito objetivo para progressão:
Requisito objetivo para progressão:
cumprir 2/5 da pena – se primário
cumprir 1/6 da pena
cumprir 3/5 da pena – se reincidente

Processo STJ. 3ª Seção. REsp 1.329.088-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/3/2013 (recurso repetitivo).

Posse de cabo USB, fone de ouvido e microfone por visitante de preso NÃO configura falta grave
No âmbito da execução penal, não configura falta grave a posse, em estabelecimento prisional,
de um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone por visitante de preso.
ATENÇÃO Comentários A Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) prevê que, se o apenado for encontrado na
unidade prisional, com telefone celular, ele comete falta disciplinar considerada grave:
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Repare que a redação literal do inciso VII fala em “aparelho telefônico, de rádio ou similar”.
Diante disso, indaga-se: se o condenado for encontrado portando apenas o chip do telefone
celular, ele cometerá falta grave?
SIM. Configura falta grave não apenas a posse de aparelho celular, mas também a de seus
componentes essenciais, como é o caso do carregador, do chip ou da placa eletrônica,
considerados indispensáveis ao funcionamento do aparelho. Este é o entendimento pacífico
do STJ e também do STF.

Imagine agora a seguinte situação:


A esposa do detento “João” vai visitá-lo na penitenciária e, durante a revista para entrada,
os funcionários da unidade prisional encontram com ela, amarrados na barra de seu
vestido, um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone.

Diante disso, indaga-se: houve a prática de falta grave por parte de João?
NÃO. No âmbito da execução penal, não configura falta grave a posse, em estabelecimento
prisional, de um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone por visitante de preso.
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Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que os referidos componentes eletrônicos não se


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amoldam à hipótese prevista no art. 50, VII, da Lei n. 7.210/1984 porque, embora sejam
considerados acessórios eletrônicos, não são essenciais ao funcionamento de aparelho de

INFORMATIVO esquematizado
telefonia celular ou de rádio de comunicação e, por isso, não se enquadram na finalidade da
norma proibitiva que é a de impedir a comunicação intra e extramuros.

Além disso, também não há como falar em configuração de falta grave, pois a conduta
praticada por visitante não pode alcançar a pessoa do preso, tendo em vista que os
componentes eletrônicos não foram apreendidos com o detento, mas com seu visitante.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 255.569-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/3/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Imposto de renda sobre verbas retroativas deverá observar as alíquotas que eram aplicáveis na
época em que os valores deveriam ter sido liberados

No caso de benefício previdenciário pago em atraso e acumuladamente, não é legítima a


cobrança de imposto de renda com parâmetro no montante global pago extemporaneamente.
Isso porque a incidência do imposto de renda deve observar as tabelas e alíquotas vigentes na
época em que os valores deveriam ter sido adimplidos, devendo ser observada a renda
auferida mês a mês pelo segurado.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 300.240-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/4/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Cartório PE 2013 FCC) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção, salvo se a aquisição
se houver realizado em hasta pública. ( )
2) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Essa
subsiste garantia ainda que a aquisição tenha se realizado em hasta pública. ( )
3) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Na hipótese de exclusão contratual da responsabilidade pela evicção, se
esta se der, o evicto terá direito a receber o preço que tiver pago pela coisa evicta se não sabia do risco
da evicção, mas, todavia, se dele tiver sido previamente informado, não lhe será albergado o direito de
receber a quantia paga, mesmo que não tenha assumido o risco quando tomou conhecimento desse. (
)
4) (DPE/AC 2012 CESPE) A responsabilidade pela evicção ocorre apenas quando a causa da constrição
operada sobre a coisa é posterior à relação jurídica entabulada entre o alienante e o evicto, sendo o
determinante o momento da constrição, a qual será, necessariamente, anterior à alienação. ( )
5) (DPE/SC 2012 FEPESE) Pode o adquirente demandar pela evicção, mesmo sabendo que a coisa é alheia
ou litigiosa. ( )
6) (MP/PI 2012 CESPE) Assinale a opção correta a respeito da evicção.
A) As partes podem, por cláusula expressa, maximizar a responsabilidade pela evicção, mas não podem
diminuí-la.
B) As benfeitorias necessárias ou úteis que não tenham sido reembolsadas ao que sofreu a evicção
terão de ser pagas pelo alienante.
C) Será legítima a demanda pela evicção por parte do adquirente que, assumindo o risco, tenha
conhecimento de que a coisa é alheia ou litigiosa.
D) De acordo com a lei civil, para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulte, o adquirente
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poderá notificar do litígio apenas o alienante imediato, sendo-lhe defeso fazer a denominada
denunciação por saltos.
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INFORMATIVO esquematizado
E) Havendo cláusula excludente da garantia da evicção, se esta ocorrer, o evicto não terá nenhum
direito a reclamar.

7) (Cartório SP 2012 VUNESP) É cabível a nomeação à autoria do alienante, na ação em que terceiro
reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da
evicção lhe resulta. ( )

8) (Juiz TJAC 2012 CESPE) No que concerne a evicção, assinale a opção correta de acordo com o Código
Civil.
A) A responsabilidade decorrente da evicção deriva da lei e prescinde, portanto, de expressa previsão
contratual; todavia, tal responsabilidade restringe-se à ação petitória, não sendo possível se a causa
versar sobre posse.
B) Responde o alienante pela garantia decorrente da evicção caso o comprador sofra a perda do bem
por desapropriação do poder público, cujo decreto expropriatório seja expedido e publicado
posteriormente à realização do negócio.
C) Dá-se a evicção quando o adquirente perde, total ou parcialmente, a coisa por sentença fundada em
motivo jurídico anterior, e o alienante tem o dever de assistir o adquirente, em sua defesa, ante ações
de terceiros, sendo, entretanto, tal obrigação jurídica incabível caso o alienante tenha atuado de boa-
fé.
D) De acordo com o instituto da evicção, o alienante deve responder pelos riscos da perda da coisa para
o evicto, por força de decisão judicial em que fique reconhecido que aquele não era o legítimo titular
do direito que convencionou transmitir ao evictor.
E) Sendo a evicção uma garantia legal, podem as partes, em reforço ao já previsto em lei, estipular a
devolução do preço em dobro, ou mesmo minimizar essa garantia, pactuando uma devolução apenas
parcial.

9) (DPE/AC 2012 CESPE) Em razão do rito abreviado que caracteriza o procedimento sumário, não é
permitido ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor. ( )

10) (DPE/PR 2012 FCC) Processada uma causa de ressarcimento por danos causados em acidente de
veículo de via terrestre pelo rito comum sumário, o juiz poderá proferir sentença ilíquida, deixando a
fixação do montante da condenação para a fase de liquidação, toda vez que entender ser a causa
complexa. ( )

11) (Juiz TJGO 2012 FCC) De acordo com o Código de Processo Civil, no procedimento sumário
A) a prova pericial deve ser requerida em audiência de conciliação, a ser designada no prazo de 30 dias.
B) o juiz decidirá, na audiência de conciliação, a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre
a natureza da demanda.
C) verificada a necessidade de prova técnica de maior complexidade, o juiz extinguirá o processo sem
resolução de mérito.
D) é lícito ao réu formular pedidos em seu favor, funda dos, ou não, nos fatos referidos na inicial.
E) é admissível ação declaratória incidental.

12) (Juiz Federal TRF4 2012) A respeito do procedimento sumário, assinale a alternativa correta.
A) É admissível a ação declaratória incidental.
B) É admissível a oposição.
C) É admissível a formulação, na contestação, de pedido em favor do réu, desde que fundado nos
mesmos fatos referidos na inicial.
45

D) É admissível a formulação de pedido envolvendo a capacidade das pessoas.


E) No julgamento da apelação interposta no procedimento sumário, os autos devem ser submetidos à
Página

revisão.

INFORMATIVO esquematizado
13) (Juiz TJMS 2012 PUC/PR) No rito sumário, a oposição deve sempre preceder a audiência de
saneamento. ( )

14) (OAB/VIII 2012 FGV) O procedimento sumário deve ser adotado em causas cujo valor não supere
sessenta salários mínimos ou em situações, qualquer que seja o valor da causa, em que se debata um
dos assuntos previstos na lei.
Indique, dentre as alternativas abaixo, a que contém espécie de resposta que não pode ser
apresentada pelo réu no rito comum sumário.
A) Reconvenção.
B) Exceção.
C) Contestação.
D) Impugnação ao valor da causa.

15) (MP/RR 2012 CESPE) No procedimento sumário, é cabível a ação declaratória incidental fundada em
questão processual relevante. ( )

16) (Juiz Federal TRF1 2009 CESPE) Em ação de indenização por acidente de veículo em via terrestre, não
cabe ao réu denunciar à lide a seguradora, devendo exercer seu direito de regresso em ação autônoma,
pois não se admite intervenção de terceiros no procedimento sumário. ( )

17) (DPE/ES 2009 CESPE) Não é cabível no procedimento sumário o provimento antecipatório da tutela
pretendida pelo autor. ( )

18) (MP/PI 2012 CESPE) No procedimento sumário, são admissíveis, em regra, a denunciação da lide, a
oposição, a nomeação à autoria, a assistência e o recurso de terceiro prejudicado. ( )

19) (Juiz TJPR 2012) Nos recursos interpostos de decisões proferidas em autos que tramitam pelo rito
sumário, despejo e indeferimento liminar da petição inicial, não há revisão por integrante do órgão
julgador. Da mesma forma, não há revisão nos recursos de agravo de instrumento e embargos de
declaração. ( )

20) (Juiz TJPI 2012 CESPE) Ajuizada ação sob o rito sumário, o autor requereu a exibição de determinados
documentos e a realização de perícia, oferecendo, desde então, seus quesitos. Quinze dias antes da
audiência de conciliação, o autor apresentou complementação do rol de testemunhas. Durante a
audiência, o réu não compareceu, mas seu advogado, devidamente constituído, apresentou
contestação e pedido contraposto, mantendo-se silente quanto à perícia.
Nessa situação hipotética,
A) será necessária a reconvenção, devendo o pedido contraposto ser repelido, independentemente do
exame de seu mérito.
B) o silêncio do réu diante do pedido de perícia contido na inicial importará preclusão do seu direito de
apresentar quesitos.
C) o juiz deverá indeferir a exibição de documentos, incompatível com a celeridade do rito.
D) o réu deverá sofrer os efeitos da revelia porque não compareceu à audiência e frustrou etapa
necessária.
E) ao autor não é possível a complementação do rol de testemunhas, sendo o indeferimento da oitiva o
caminho necessário, independentemente de manifestação do réu.
46

Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. E 6. Letra B 7. E 8. Letra E 9. E 10. E
Página

11. Letra B 12. Letra C 13. E 14. Letra A 15. E 16. E 17. E 18. E 19. C 20. Letra B

INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA
(OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. OPÇÃO DO CREDOR PELA ALIENAÇÃO DO DIREITO DE CRÉDITO DECLARADA
ANTES DO INÍCIO DO PRAZO PREVISTO NO ART. 673, § 1º, DO CPC.
É possível que o exequente, antes mesmo do início do prazo que lhe é outorgado pelo art. 673, § 1º, do
CPC, manifeste sua preferência pela alienação judicial do precatório oferecido à penhora.
De acordo com o art. 673, caput, do CPC, feita a penhora em direito e ação do devedor, e não tendo este
oferecido embargos, ou sendo estes rejeitados, o credor fica sub-rogado nos direitos do devedor até a
concorrência do seu crédito. Todavia, conforme o § 1º do mesmo dispositivo legal, o credor pode preferir,
em vez da sub-rogação, a alienação judicial do direito penhorado, caso em que declarará a sua vontade no
prazo de dez dias contados da realização da penhora. A efetivação da garantia, entretanto, não configura
condição de eficácia dessa declaração de vontade do credor. Dessa forma, é possível concluir que a
disciplina processual contida no art. 673, caput e § 1º, do CPC privilegia a satisfação do exequente, uma vez
que lhe faculta a forma de liquidação de direito de crédito que mais aprouver no caso concreto. Precedente
citado: REsp 1.304.923-RS, Primeira Turma, DJe 28/5/2012.
AgRg no AgRg no AREsp 52.523-RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 9/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. ALCANCE DO REAJUSTE DE 31,87% CONCEDIDO PELAS LEIS 8.622⁄1993 E


8.627/1993.
Os demais servidores públicos não fazem jus à diferença entre o reajuste de 31,87% concedido aos
oficiais-generais do Exército pelas Leis 8.622/1993 e 8.627/1993, e o reajuste de 28,86%, deferido a todo
o funcionalismo público. Isso porque o reajuste concedido aos oficiais-generais não caracteriza revisão
geral apta a ser estendida a todos servidores. Precedente citado: EREsp 550.687-PE, Terceira Seção, DJ
31/5/2004. AgRg no REsp 1.342.593-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. APLICABILIDADE DA ISENÇÃO GENÉRICA DE II E DE IPI PREVISTA NOS ARTS. 2°, II, J, E
3°, I, DA LEI 8.032/1990.
As isenções de imposto de importação e de imposto sobre produtos industrializados previstas no art. 2º,
II, "j", e no art. 3º, I, da Lei 8.032/1990 (restabelecidas pelo art. 1º, IV, da Lei 8.402/1992) aplicam-se às
importações de peças e componentes de reposição, reparo e manutenção necessárias ao funcionamento
de plataformas petrolíferas, sendo indiferente a revogação que o art. 13 da Lei 8.032/1990 trouxe em
relação ao Decreto-lei 1.953/1982.
De fato, o Decreto-lei 1.953/1982 trata de isenções especificamente relacionadas a bens destinados a
prospecção e produção de petróleo. Por sua vez, os arts. 2°, II, "j", e 3°, I, da Lei 8.032/1990 cuidam de
isenção genericamente relacionada a embarcações, nas quais se incluem as plataformas petrolíferas. Nesse
contexto, deve-se asseverar que a revogação da legislação especial não impede a concessão da isenção
genérica. REsp 1.341.077-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NECESSIDADE DE PRÉVIA DESISTÊNCIA DE EXECUÇÃO SINGULAR PARA


POSSIBILITAR A PROPOSITURA DE AÇÃO DECLARATÓRIA DE INSOLVÊNCIA.
O autor de execução individual frustrada só pode ajuizar outra ação judicial, fundada em idêntico título,
com pedido de declaração de insolvência do devedor — com o objetivo de instauração de concurso
universal —, caso antes desista de sua execução singular, ainda que esta esteja suspensa por falta de
bens penhoráveis. Com efeito, é impossível a utilização simultânea de duas vias judiciais para obtenção de
um único bem da vida, consistente na percepção de um crédito específico. Desse modo, é necessária a
47

extinção da relação processual instaurada pela execução individual mediante a realização de pedido de
desistência, o qual depende de homologação pelo juiz para produzir efeitos. Precedente citado do STF: RE
Página

INFORMATIVO esquematizado
100.031-PR, Primeira Turma, DJ 2/12/1983. REsp 1.104.470-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/3/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DISPENSABILIDADE DA APÓLICE DE SEGURO NOS AUTOS DE AÇÃO REGRESSIVA
AJUIZADA POR SEGURADORA EM FACE DO SUPOSTO CAUSADOR DO SINISTRO.
A apólice de seguro é peça dispensável à propositura de ação regressiva por seguradora em face do
suposto causador do dano, tampouco configura documento essencial à comprovação do fato constitutivo
do direito do autor na referida demanda. Conforme o art. 758 do CC, a apólice, o bilhete ou o
comprovante do pagamento do prêmio constituem meios de prova do contrato de seguro. O referido
dispositivo legal, entretanto, não exclui aprioristicamente outras formas aptas à comprovação da relação
securitária. Não se trata, portanto, de hipótese de prova legal ou tarifada. Está-se, na verdade, diante de
uma previsão de prova pré-constituída, cuja exibição se dá para que, no futuro, não se levantem dúvidas
acerca da existência da relação jurídica. Desse modo, mesmo em face de previsão legal de prova pré-
constituída — como é o caso do art. 758 do CC —, aplica-se o art. 332 do CPC, segundo o qual "todos os
meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis
para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou defesa". Ademais, em uma ação regressiva
ajuizada pela seguradora contra terceiros, assumir como essencial a apresentação da apólice
consubstanciaria exigência de prova demasiado frágil, porquanto é documento criado unilateralmente por
quem dele se beneficiaria. REsp 1.130.704-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/3/2013.

48
Página

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 520 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.150.429-CE; REsp 1.220.934-RS; RMS 38.359-SE;
REsp 1.357.139-DF; AgRg no REsp 1.090.784-DF; REsp 1.331.548-RJ; REsp 1.124.133-RJ; REsp 1.133.338-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público (teste físico e candidata grávida)

O STF e o STJ possuíam posição consolidada no sentido de que era permitida a remarcação de teste
de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de candidata
comprovadamente grávida, ainda que o edital não contivesse previsão nesse sentido.

Ocorre que, no dia 15/5/2013, o Plenário do STF, ao julgar o RE 630733/DF (rel. Min. Gilmar
Mendes), em regime de repercussão geral, decidiu, de forma genérica, que os candidatos em
concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em
razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se
houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.

No RE 630733/DF não foi discutido especificamente o caso de uma candidata gestante, mas sim
o de um candidato que apresentava problema de saúde. Após este acórdão, nem o STF nem o
STJ tiveram a oportunidade de decidir novamente um processo envolvendo concurso público e
remarcação da prova por conta de gravidez. Assim, será necessário aguardar para saber se a
gestante continua ou não tendo direito de remarcação da prova física.
Comentários Se, na data marcada para o teste físico do concurso público, a candidata estiver gestante e,
com isso, impossibilitada de participar, ela terá direito de fazer prova em outro dia, mesmo
que não haja previsão no edital autorizando?

Posição tradicional do STF e STJ:


SIM. No caso de gravidez, tanto o STF como o STJ entendiam, de forma tranquila, que era
possível a remarcação de teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de
proporcionar a participação de candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não
contivesse previsão nesse sentido.
1

Precedentes: STJ. 6ª Turma. RMS 31.505-CE, julgado em 16/8/2012; STF. 1ª Turma. AI 825545
Página

AgR, julgado em 13/04/2011.

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Possível mudança de entendimento:
No dia 15/5/2013, o Plenário do STF, ao julgar o RE 630733/DF (rel. Min. Gilmar Mendes),
em regime de repercussão geral, decidiu que os candidatos em concurso público NÃO têm
direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em razão de circunstâncias
pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver previsão no
edital permitindo essa possibilidade.

Houve, portanto, uma alteração na jurisprudência do STF?


Sim. Foi uma guinada na jurisprudência do STF, o que, por certo, irá também influenciar no
entendimento do STJ:
Antes Atualmente
STF entendia ser possível a remarcação do Os candidatos em concurso público NÃO
teste físico do candidato no concurso, têm direito à prova de segunda chamada
desde que devidamente comprovado nos testes de aptidão física em razão de
motivo de força maior que afetasse a sua circunstâncias pessoais, ainda que de
higidez física. Isso seria permitido mesmo caráter fisiológico ou de força maior, salvo
que o edital do certame proibisse se houver previsão no edital permitindo
expressamente. essa possibilidade.

Mesmo no caso da candidata grávida?


Acredito que sim. Como já explicado acima, há precedentes recentes do STF e do STJ permitindo
a remarcação das provas físicas para os casos de candidata grávida, mas penso que, com esta
nova decisão do Pleno (em sede de repercussão geral), está superado o entendimento já que
não foi feita qualquer ressalva no julgamento para situações de gravidez.
Assim, em minha opinião, o STF e o STJ não irão mais admitir remarcação de teste físico para
candidatos em concurso público, incluindo gestantes.

No caso concreto noticiado neste informativo, o STJ afirmou que “é possível a remarcação de
teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de
candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não contenha previsão nesse sentido”.
Ocorre que esta decisão do STJ foi proferida em 21/3/2013, antes, portanto, do novo
entendimento do Plenário do STF construído no RE 630733/DF, de 15/5/2013.
Após a decisão do STF, nem o STF nem o STJ tiveram a oportunidade de decidir novamente
um processo envolvendo concurso público e remarcação da prova por conta de gravidez.
Dessa forma, será necessário aguardar para se ter certeza se a gestante continua ou não
tendo direito de remarcação da prova física, mas penso que não.
Ação judicial Como vimos acima, o entendimento majoritário atualmente é o de que os candidatos em
pleiteando a concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física
remarcação em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior,
do teste salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.
físico não é
pedido Se, mesmo com esta posição jurisprudencial contrária, a pessoa decidir ajuizar uma ação
jurídica- pleiteando a remarcação de seu teste físico em concurso público, o juiz poderá deixar de
mente apreciar este pedido, extinguindo o processo sem resolução do mérito, sob o argumento de
impossível que se trata de pedido juridicamente impossível?
NÃO. Não é possível a extinção do processo sem resolução do mérito por impossibilidade
jurídica do pedido (art. 267, VI, do CPC), tendo em vista que, a partir da análise da pretensão
deduzida e independentemente de qualquer juízo de valor acerca do enquadramento da
situação narrada como apta a caracterizar a alegada força maior, deve-se concluir que se
2

trata, efetivamente, de pedido passível de apreciação pelo Poder Judiciário (STJ. 2ª Turma.
Página

REsp 1.293.721-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/4/2013).


Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.328-AP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/3/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Responsabilidade civil do Estado no caso de suicídio de preso é objetiva
A Administração Pública está obrigada ao pagamento de pensão e indenização por danos
morais no caso de morte por suicídio de detento ocorrido dentro de estabelecimento prisional
ATENÇÃO mantido pelo Estado.
Nessas hipóteses, não é necessário perquirir eventual culpa da Administração Pública.
Na verdade, a responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é OBJETIVA.
Comentários Caso uma pessoa que esteja presa cometa suicídio, o Estado terá o dever de indenizar seus
familiares? Em caso positivo, qual seria o tipo de responsabilidade?
SIM. O Estado tem o dever de indenizar os familiares do preso que cometeu suicídio dentro
de uma unidade prisional.

Para a jurisprudência do STF e do STJ, trata-se de responsabilidade civil OBJETIVA.

Assim, os familiares do preso, para serem indenizados, não precisarão provar eventual
culpa/omissão da Administração Pública em caso de suicídio de detento, já que a
responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é objetiva em face dos riscos
inerentes ao meio em que eles estão inseridos por uma conduta do próprio Estado.

Há precedente recente do STF no mesmo sentido: ARE 700927 AgR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, Segunda Turma, julgado em 28/08/2012.

O Min. Gilmar Mendes, em seu voto, foi bastante claro:


“o Estado tem o dever objetivo de zelar pela integridade física e moral do preso sob sua
custódia, atraindo, então, a responsabilidade civil objetiva, em razão de sua conduta
omissiva, motivo pelo qual é devida a indenização decorrente da morte do detento, ainda
que em caso de suicídio.”
Este tema é bastante explorado nos concursos públicos, tendo sido cobrado este ano na
prova do CESPE de Juiz Federal do TRF da 3ª Região. Confira:
Conforme jurisprudência do STF, no caso de suicídio de detento que esteja sob a custódia do
sistema prisional, configurar-se-á a responsabilidade do Estado na modalidade objetiva,
devido a conduta omissiva estatal. (alternativa CORRETA)
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.305.259-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO/EDUCACIONAL
Revalidação de diploma estrangeiro
É legal a exigência feita por universidade, com base em resolução por ela editada, de prévia
aprovação em processo seletivo como condição para apreciar pedido de revalidação de
diploma obtido em instituição de ensino estrangeira.
Comentários O registro de diploma estrangeiro no Brasil está submetido a prévio processo de
revalidação, segundo o regime previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
(art. 48, § 2º, da Lei 9.394/1996).
Não existe qualquer dispositivo legal que proíba a universidade de exigir um processo
seletivo para aceitar o pedido de revalidação de diploma, além do que isso está inserido na
autonomia didático-científica e administrativa da Instituição (art. 53, V, da Lei 9.394/1996 e
art. 207 da CF/88).
Portanto, desde que observados os requisitos legais e os princípios constitucionais, deve-se
3

garantir às universidades a liberdade para editar regras específicas acerca do procedimento


Página

destinado à revalidação de diplomas expedidos por universidades estrangeiras.


Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.349.445-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO CIVIL

Responsabilidade civil dos bancos por compensação de cheque adulterado

O banco responde objetivamente pelos danos causados ao correntista por conta da compensação
de cheque falsificado (sem culpa do cliente), ainda que a falsificação seja sofisticada.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (baseada no caso concreto):
João comprou uma mercadoria na loja e pagou com um cheque de 50 reais.
No mês seguinte, o consumidor foi surpreendido com a compensação do cheque em sua
conta no valor de 5.000 reais.
Ficou comprovado que a loja, para obter capital de giro, cedeu o cheque a um terceiro.
Este, sem que a loja soubesse, foi o responsável pela adulteração do valor do cheque e por
sua apresentação.
Vale ressaltar que ficou demonstrado que a falsificação do cheque foi sofisticada e somente
poderia ter sido percebida por aparelhos especializados de grafotécnica (é o chamado “falso
hábil”).

João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra o banco.

O banco possui responsabilidade civil sobre o prejuízo causado a João?


SIM.

O parágrafo único do art. 39 da Lei n. 7.357/85 (Lei do Cheque) estabelece que: “o banco
sacado responde pelo pagamento do cheque falso, falsificado ou alterado, salvo dolo ou
culpa do correntista, do endossante ou do beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo
ou em parte, reaver a que pagou”.

Assim, doutrina e o STJ afirmam que os bancos possuem responsabilidade OBJETIVA pelo
pagamento de cheque falso, falsificado ou alterado, a qual somente é elidida pela culpa
exclusiva do próprio correntista, do endossante ou do beneficiário.

Com base neste dispositivo e no CDC, podemos assim sintetizar a responsabilidade dos
bancos no caso de cheque falso ou falsificado:

RESPONSABILIDADE DOS BANCOS NO CASO DE CHEQUE FALSO OU FALSIFICADO


Aplica-se a súmula 479-STJ:
As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por
O banco faz o pagamento do
fortuito interno relativo a fraudes e
cheque habilmente falsificado
delitos praticados por terceiros no
1 sem que o correntista tenha
âmbito de operações bancárias.
Inexistindo qualquer parcela de culpa no
culpa do evento danoso.
A falsificação promovida por terceiro é
correntista
considerada fortuito interno (fato
(cliente) Ex: cheque falsificado por
ligado aos riscos da atividade
terceiros sem a participação do
desenvolvida pelo fornecedor). Isso
correntista (situação de João).
porque o banco tem o dever contratual
4
Página

de gerir com segurança as


movimentações bancárias dos clientes.

INFORMATIVO esquematizado
A conduta do cliente foi a causa A responsabilidade do banco é
2
eficiente da ocorrência do dano. excluída (art. 39, da Lei 7.357/1985
Culpa
Ex: o cheque foi falsificado pelo c/c o art. 14, § 3º, II, do CDC).
exclusiva do
próprio correntista ou por Cabe ao banco o ônus de provar a
cliente
terceiro a seu mando. culpa exclusiva do correntista.
O banco continua tendo
Ocorre quando a conduta do
responsabilidade pelo dano, no
cliente foi uma concausa do
3 entanto, a culpa do cliente servirá
evento danoso.
Culpa para compensar (atenuar) o valor a
O cliente contribuiu, de alguma
concorrente ser pago pela instituição financeira.
forma, para que a falsidade
Cabe ao banco alegar e provar a
existisse.
concorrência de culpa.

As conclusões expostas no quadro acima a atual “leitura” que deve ser feita da Súmula 28
do STF: O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso,
ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.

Na época em que a Súmula 28 foi editada (década de 60), o entendimento era o de que a
culpa concorrente do cliente possibilitava o afastamento da responsabilidade bancária. Tal
posição, atualmente, não é mais aceita, servindo a culpa concorrente, no máximo, como
fator de atenuação do montante indenizatório.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.093.440-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/4/2013.

Cooperativa (responsabilidade dos cooperados)

A distribuição aos cooperados dos eventuais prejuízos da cooperativa deve ocorrer de forma
proporcional à fruição, por cada um deles, dos serviços prestados pela entidade, ainda que
haja alteração do estatuto por deliberação da Assembleia Geral Ordinária determinando que a
distribuição dos prejuízos seja realizada de forma igualitária.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Determinada cooperativa de médicos teve prejuízo em dois anos seguidos (2003 e 2005).
A Assembleia Geral Ordinária (AGO) da cooperativa decidiu alterar o estatuto social e
efetuar o rateio desse prejuízo de forma igualitária entre todos os cooperados, e não de
modo proporcional aos serviços por eles usufruídos.

A AGO poderia ter alterado o estatuto social da cooperativa?


NÃO. A alteração do estatuto social de uma sociedade cooperativa é de competência
exclusiva da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) e não da Assembleia Geral Ordinária
(AGO), nos termos do art. 46, I, da Lei 5.764/71 (Lei das Cooperativas):
Art. 46. É da competência exclusiva da Assembleia Geral Extraordinária deliberar sobre os
seguintes assuntos:
I - reforma do estatuto;

Ainda que a alteração do estatuto tivesse sido feita pela AGE, seria legítima esta mudança
para que os prejuízos fossem divididos igualitariamente?
NÃO. Esta mudança no estatuto contraria o disposto no art. 89 da Lei n. 5.764/71:
Art. 89. Os prejuízos verificados no decorrer do exercício serão cobertos com recursos
5

provenientes do Fundo de Reserva e, se insuficiente este, mediante rateio, entre os


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associados, na razão direta dos serviços usufruídos, ressalvada a opção prevista no


parágrafo único do artigo 80.

INFORMATIVO esquematizado
A ressalva contida no art. 80, parágrafo único, da Lei trata apenas da possibilidade do
estatuto prever o rateio igualitário das despesas gerais da sociedade, as quais não se
confundem necessariamente com os prejuízos.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.150-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Interpretação de cláusula mais favorável à parte aderente

No caso de relação de consumo instrumentalizada por contrato de adesão, as cláusulas


contratuais que foram redigidas pela própria seguradora devem ser interpretadas da forma
mais favorável à parte que apenas aderiu ao contrato (consumidora aderente), de acordo com
o que dispõe o art. 47 do CDC.

Assim, em um determinado contrato de seguro de saúde, havia uma cláusula prevendo que os
tratamentos de saúde necessários ao filho da segurada também seriam cobertos, desde que
este tivesse nascido durante a vigência do pacto. O filho de uma segurada dependente precisou
de tratamento e a seguradora negou, afirmando que a cobertura restringe-se ao filho da
“segurada titular” e que, no caso concreto, o indivíduo era filho da “segurada dependente”,
razão pela qual não teria direito ao tratamento.

O STJ deu razão à consumidora e afirmou que, caso a seguradora pretendesse restringir o
campo de abrangência da cláusula contratual, deveria ter especificado serem elas aplicáveis
apenas à titular do seguro.
Comentários No caso de relação de consumo instrumentalizada por contrato de adesão, as cláusulas
contratuais que foram redigidas pela própria seguradora devem ser interpretadas da forma
mais favorável à parte que apenas aderiu ao contrato (consumidora aderente), de acordo
com o que dispõe o art. 47 do CDC:
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.

Sérgio Cavalieri Filho, citado pelo Ministro Relator, afirma que:


“(...) essa é a sábia regra do art. 47 do CDC: quem escreve não tem a seu favor o que
escreveu. E não somente as cláusulas ambíguas dos contratos de adesão se interpretam em
favor do aderente, contra o estipulador, mas o contrato de consumo como um todo. A regra
geral, assevera Cláudia Lima Marques, é que se interprete o contrato de adesão,
especialmente as suas cláusulas dúbias, contra aquele que redigiu o instrumento. É a
famosa interpretação contra proferente (ob. cit., p. 75).” (CAVALIERI FILHO, Sérgio.
Programa de Direito do Consumidor. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 143).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.133.338-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL
Contrato de abertura de crédito rotativo não é título executivo
O contrato de abertura de crédito rotativo, ainda que acompanhado dos extratos relativos à
movimentação bancária do cliente, não constitui título executivo.
Aplica-se a Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de
extrato da conta-corrente, não é título executivo.
Comentários É comum que os bancos, ao oferecerem seus serviços, façam um contrato de abertura de
crédito rotativo com seus clientes.
Por meio deste contrato de abertura de crédito rotativo, o banco se compromete a
disponibilizar determinada quantia (chamada comumente de “limite”) ao seu cliente, que
poderá, ou não, utilizar-se desse valor a título de empréstimo. É vulgarmente conhecimento
como “cheque especial”.
Ex: João abre uma conta corrente no Banco “B”. No meio de todos os papeis que ele é
“convidado” a assinar estará um contrato de abertura de crédito rotativo por meio do qual,
mesmo que João não tenha dinheiro em sua conta, ele terá disponível 1 mil reais para sacar
sempre que quiser. Este valor, se sacado, constitui-se em um empréstimo, devendo ser
devolvido com juros e correção monetária ao banco.

O contrato de abertura de crédito rotativo é título executivo?


NÃO. O contrato de abertura de crédito rotativo não possui liquidez e certeza, considerando
que o ajuste menciona apenas que o correntista poderá sacar, como empréstimo,
determinado valor até um certo limite (ex: 1 mil reais). Isso não significa, necessariamente,
que a pessoa tenha decidido usar este valor e que efetivamente tenha sacado todo o limite,
podendo ter se utilizado de apenas parte da quantia.
Quando ocorre a assinatura do contrato de abertura de crédito pelo consumidor, ocasião
em que a obrigação nasce para a instituição financeira de disponibilizar determinada
quantia ao seu cliente, não há dívida líquida e certa, sendo que os valores eventualmente
utilizados são documentados unilateralmente pela própria instituição, sem qualquer
participação, muito menos consentimento, do cliente.

O contrato de abertura de crédito fixo é título de crédito?


SIM. O contrato de abertura de crédito rotativo é diferente do contrato de abertura de
crédito fixo. No caso de crédito fixo, o cliente celebra um contrato com o banco, por meio
do qual a instituição financeira empresta um valor certo ao cliente, sendo esta quantia
creditada na conta do correntista após a assinatura do termo. Trata-se de um mútuo
feneratício (empréstimo de valor).

Como explica o Min. Luis Felipe Salomão:


“O contrato de crédito fixo, como a própria nomenclatura evidencia, consiste na concessão,
por parte da instituição financeira ao seu cliente, de valor certo, com termo e encargos pré-
definidos, sendo que, no momento da assinatura do contrato, o contratante sabe de
antemão o valor da dívida, com ela assentindo mediante firma.”

Resumindo:
O contrato de abertura de crédito fixo é título executivo.
O contrato de abertura de crédito rotativo NÃO é título executivo (aplica-se a súmula 233-STJ).

A súmula 233 do STJ refere-se ao contrato de abertura de crédito rotativo:


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Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato
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da conta-corrente, não é título executivo.


Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.022.034-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/3/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para ação de indenização em que os fatos que geraram o dano


ocorreram durante a relação de trabalho e em decorrência dela

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação de execução por quantia certa, proposta
por empregador em face de seu ex-empregado, na qual sejam cobrados valores relativos a
contrato de mútuo celebrado entre as partes para o então trabalhador adquirir veículo
automotor particular destinado ao exercício das atividades laborais.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João (empregado da empresa B) queria comprar um carro, mas não possuía recursos
suficientes para isso.
A empresa também tinha interesse que João comprasse o automóvel porque isso ajudaria
em seu trabalho, considerando que ele era vendedor externo.
Diante disso, ficou acertado que a empresa faria o empréstimo do dinheiro (contrato de
mútuo) para João, a fim de que ele adquirisse o veículo. As parcelas do empréstimo seriam
descontadas do pagamento mensal do funcionário.
O empregado saiu da empresa e deixou de pagar as prestações.

A empresa deseja ajuizar uma execução por quantia certa contra o ex-empregado. Qual é o
juízo competente para esta ação?
JUSTIÇA DO TRABALHO.

Segundo decidiu o STJ, a formalização do contrato de empréstimo somente ocorreu porque


o ex-empregado prestava serviços à empresa. Dessa forma, as peculiaridades do
financiamento, como, por exemplo, as condições mais favoráveis do empréstimo, aliado a
seu propósito específico, qual seja a aquisição de automóvel inicialmente destinado ao
exercício da função assumida na empresa, apontam, necessariamente, para um pacto
acessório ao contrato de trabalho.

A contratação, assim, relaciona-se com o fornecimento de utilidade ínsita ao trabalho


desenvolvido, destinada a viabilizar a própria prestação dos serviços.

Desse modo, verifica-se que a ação de execução possui como causa de pedir pacto
acessório à relação de trabalho e somente assumido em função dela, sendo manifesta a
competência da Justiça Laboral, nos termos do art. 114, I e IX, da CF/88.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 124.894-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/4/2013.

Competência da Justiça comum para ação de indenização proposta por pastor contra sua antiga
igreja baseada em outros fundamentos que não na relação de trabalho

Determinado pastor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a igreja que
pertencia, alegando que foi desligado sem um justo motivo e em desacordo com as regras da igreja.
Na petição inicial afirma expressamente que não era empregado da igreja.
Quem irá julgar esta demanda é á Justiça comum estadual, considerando que a controvérsia
posta na demanda deriva de relação jurídica de cunho eminentemente religioso e civil.
A causa de pedir e o pedido deduzidos na exordial não se referem à existência de relação de
trabalho entre as partes. Logo, é incompetente a Justiça do Trabalho.
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Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:


Samuel era pastor de determinada igreja evangélica, tendo sido desligado da congregação

INFORMATIVO esquematizado
por decisão de um pastor hierarquicamente superior.
Diante disso, Samuel ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a
igreja, afirmando que somente poderia ter sido expulso por deliberação da Assembleia,
conforme estatuto da congregação. Alegou, ainda, que seu afastamento foi "ilegal",
motivado, provavelmente, pelo término da relação conjugal com sua esposa e que tal fato
seria inaceitável, pois se trataria de episódio relacionado exclusivamente à sua vida íntima.

Quem será competente para julgar esta demanda? Justiça comum ou Justiça do Trabalho?
JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.

Segundo o STJ, a competência para o julgamento de uma ação é fixada em razão da


natureza da causa.

E como se define a natureza de uma causa?


A natureza da causa é definida pelo pedido e pela causa de pedir que foram apresentados
pelo autor na petição inicial.
Desse modo, a competência é definida pelo que o autor alega e pede na ação.

No caso concreto, o pedido e a causa de pedir deduzidos pelo autor relacionam-se com
aspectos ligados à política interna da igreja na relação com seus ministros, envolvendo
direitos e garantias constitucionais de liberdade e exercício de culto e de crença religiosos
(CF, art. 5º, VI e VIII). Logo, a competência para processar e julgar a lide é da Justiça
Comum.

Como se observa na petição inicial do autor, a ação proposta não tem causa de pedir e
pedidos fundados em eventual relação de trabalho entre as partes. Em momento algum da
exordial o autor afirma ter relação de trabalho com a ré, assim como não postula o
pagamento de nenhuma verba de natureza trabalhista.

Na verdade, o autor afirma justamente o contrário. Na réplica apresentada à contestação


atesta peremptoriamente que: “não pleiteia direitos trabalhistas, como reza as
jurisprudências apostas na Contestação; se os pleiteasse com certeza seria na Justiça do
Trabalho; mas como busca indenização pelos danos sofridos moralmente e materialmente o
faz através da Justiça comum.”

Ora, se a parte autora alega que o pedido deduzido na exordial não decorre de nenhum
vínculo de natureza trabalhista com a entidade religiosa ré, a competência para julgamento
do pedido de indenização por danos morais e materiais não pode ser da Justiça do
Trabalho, que somente julga danos morais e materiais decorrentes de relação de trabalho.

Não compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demanda em que a causa de pedir e o
pedido deduzidos na inicial não guardam relação com as matérias de competência da
Justiça Laboral elencadas no art. 114 da CF/88.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 125.472-BA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Apelação e causa madura

O tribunal, ao apreciar apelação interposta em face de sentença que tenha reconhecido a


prescrição da pretensão veiculada em ação monitória fundada em cheques prescritos que não
circularam, não pode desde logo julgar a lide, mediante a aplicação do procedimento previsto
no § 3º do art. 515 do CPC (teoria da causa madura), na hipótese em que, existindo dúvida
plausível acerca da entrega da mercadoria que dera origem à emissão dos cheques, não tenha
havido, em 1ª instância, a produção e análise das provas.
Havia dúvida sobre a entrega ou não das mercadorias que deram origem à emissão dos
cheques. Dessa forma, a resolução do mérito da causa dependia da produção de provas, sendo
que as partes não tiveram esta oportunidade em virtude da extinção precipitada do processo.
Por essa razão, o STJ determinou o retorno dos autos à 1ª instância para que abra a
oportunidade de produção de provas.
Comentários O § 3º do art. 515 do CPC estabelece o seguinte:
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal
pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver
em condições de imediato julgamento.

Este dispositivo permite que o TJ ou o TRF, ao julgar a apelação interposta contra sentença
terminativa, julgue ele próprio (o Tribunal) o mérito da ação caso entenda que o juiz não
deveria ter extinguido o processo sem resolução do mérito.

Ex: “A” ajuíza uma ação contra “B” e o magistrado profere sentença extinguindo o processo
sem resolução do mérito por entender que o autor seria parte ilegítima (art. 267, VI, do
CPC). “A” interpõe apelação ao TJ. O Tribunal analisa o recurso e entende que “A” é sim
parte legítima, ou seja, não havia razão jurídica para o magistrado ter extinguido o processo
sem examinar o mérito. Ao invés de mandar o processo de volta à 1ª instância para analisar
o mérito, o próprio TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no entanto, a causa
tem que versar exclusivamente sobre matéria de direito e deve estar em condições de
imediato julgamento.

O § 3º do art. 515 é denominado por alguns doutrinadores e julgados de “teoria da causa


madura”.

Requisitos para aplicação do § 3º do art. 515:

Em regra, para que seja aplicado o § 3º do art. 515, a


sentença examinada pelo Tribunal deve ter sido
terminativa, ou seja, fundada em um dos incisos do
a) O juiz deve ter extinguido o art. 267 do CPC.
processo sem julgamento do Vale ressaltar, no entanto, que, se a apelação for
mérito, nos termos do art. interposta contra sentença que reconheceu a
267 do CPC (exceção no caso prescrição ou a decadência, caso o Tribunal discorde
de prescrição e decadência). do juiz, também será possível aplicar a teoria da
causa madura. mesmo se tratando de matérias
elencadas no inciso IV do art. 269 do CPC (neste
sentido: REsp 274.736/DF).
O § 3º está ligado ao art. 515, que trata sobre a
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apelação. Por conta disso, o entendimento majoritário


b) A parte deve ter interposto
no STJ e STF é o de que a teoria da causa madura
Página

recurso de apelação.
somente se aplica quando o Tribunal estiver julgando
uma apelação.
INFORMATIVO esquematizado
Assim, por exemplo, para a maioria dos julgados do STJ
e STF, o § 3º do art. 515 NÃO pode ser adotado pelo
Tribunal no julgamento de recurso ordinário contra
sentença em mandado de segurança (posição a ser
adotada nos concursos).

Vale mencionar que o tema é polêmico e que a doutrina


critica esta posição, afirmando que a regra deste § 3º
pode ser aplicada, por analogia, a outros recursos, como
é o caso do recurso ordinário (há decisões da 1ª Turma
do STJ neste sentido).
Cuidado: a redação literal do § 3º exige que a causa
verse sobre questão exclusivamente de direito. No
entanto, o STJ amplia esta possibilidade e afirma que o
mencionado dispositivo deve ser interpretado em
conjunto com o art. 330, o qual permite ao magistrado
julgar antecipadamente a lide se esta versar unicamente
c) A causa em análise deve
sobre questões de direito ou, "sendo de direito e de fato,
tratar sobre questão
não houver necessidade de produzir prova em
exclusivamente de direito
audiência":
(poderá também ser aplicada
se a questão for de direito e
“A regra do art. 515, § 3º, do CPC deve ser interpretada
de fato, mas não houver
em consonância com a preconizada pelo art. 330, I, do
necessidade de se
CPC, razão pela qual, ainda que a questão seja de direito
produzirem provas).
e de fato, não havendo necessidade de produzir prova
(causa madura), poderá o Tribunal julgar desde logo a
lide, no exame da apelação interposta contra a sentença
que julgara extinto o processo sem resolução de
mérito.” (EREsp 874.507/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, Corte Especial, julgado em 19/06/2013)
A causa deve estar madura, ou seja, pronta para
d) A causa deve estar em julgamento imediato, sem que o Tribunal precise tomar
condições de imediato qualquer outra providência. Se ainda for necessária
julgamento. qualquer outra providência por parte do Tribunal, não se
aplica o § 3º do art. 515 do CPC.

Para que se aplique o § 3º do art. 515 é necessário que a parte recorrente tenha requerido
expressamente esta providência quando interpôs o recurso ou o Tribunal poderá aplicar a
teoria da causa madura de ofício?
A regra prevista no § 3º do art. 515 do CPC pode ser aplicada de ofício pelo Tribunal, ou
seja, mesmo que o recorrente não tenha requerido esta providência em seu recurso.
Assim, conforme a jurisprudência do STJ, ainda que não exista pedido expresso da parte
recorrente, afastada a extinção do processo sem exame do mérito, pode o Tribunal, de
imediato, julgar o feito, aplicando-se a teoria da causa madura, nos termos do art. 515, § 3º,
do CPC (AgRg no AREsp 93.707/SP, Min. Sidnei Beneti, 3ª Turma, julgado em 05/02/2013).

Caso concreto:
No caso concreto, a empresa “E” manejou uma ação monitória contra “W” fundada em
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cheques prescritos.
O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito, afirmando que já havia passado o
Página

prazo para o ajuizamento da ação monitória (estava prescrita).

INFORMATIVO esquematizado
A empresa “E” interpôs apelação e demonstrou que o magistrado contou errado o prazo
prescricional.
Assim, o Tribunal de Justiça afirmou que realmente a ação monitória não estava prescrita.

Indaga-se: o TJ poderia aplicar o § 3º do art. 515 do CPC e julgar o mérito da ação monitória?
Em tese sim, considerando que os dois primeiros requisitos estariam presentes (juiz
extinguiu o processo por conta de prescrição e a parte interpôs apelação).
Ocorre que, no caso concreto, o TJ não poderia desde logo julgar a lide, mediante a
aplicação do § 3º do art. 515 do CPC porque a causa não estava madura e havia uma
discussão ainda pendente sobre a existência ou não do negócio jurídico subjacente que deu
ensejo à emissão dos cheques.
Havia dúvida sobre a entrega ou não das mercadorias que deram origem à emissão dos
cheques e, em primeira instância, não houve o exercício de contraditório e ampla defesa
sobre este tema, já que o magistrado extinguiu o processo pela prescrição.
Dessa forma, a resolução do mérito da causa dependia da produção de provas, sendo que
as partes não tiveram esta oportunidade em virtude da extinção precipitada do processo.
Por essa razão, o STJ determinou o retorno dos autos à 1ª instância para que abra a
oportunidade de produção de provas.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.082.964-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2013.

Embargos de divergência

Não é possível a utilização de decisão monocrática como paradigma em embargos de


divergência para comprovação do dissídio jurisprudencial, ainda que naquela decisão se tenha
analisado o mérito da questão controvertida.
Comentários Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 496, VIII e 546 do CPC, bem
como nos regimentos internos do STF e do STJ.

Este recurso possui dois objetivos:


1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões
conflitantes.

Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:


turma do STJ em julgamento de Recurso especial;
turma do STF em julgamento de Recurso extraordinário.

A decisão da turma do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma, da seção ou do órgão especial do STJ.

A decisão da turma do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma ou do plenário do STF.

Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal, provando que o acórdão recorrido
foi divergente do acórdão paradigma.
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Não é possível a utilização de decisão monocrática (quando o Relator decide sozinho) como
paradigma em embargos de divergência para comprovação do dissídio jurisprudencial,
Página

ainda que naquela decisão se tenha analisado o mérito da questão controvertida. Isso

INFORMATIVO esquematizado
porque o acórdão paradigma deve ter sido proferido por turma, seção ou órgão especial.

No caso concreto julgado, a parte queria opor embargos de divergência utilizando como
paradigma uma decisão proferida monocraticamente pelo Ministro Relator (sem
participação da Turma, Seção ou Corte Especial), razão pela qual não foi admitido pelo STJ.
Processo STJ. 3ª Seção. AgRg nos EAREsp 154.021-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013.

Continência no caso de ações coletivas propostas por entidades distintas

No caso em que duas ações coletivas tenham sido propostas perante juízos de competência
territorial distinta contra o mesmo réu e com a mesma causa de pedir e, além disso, o objeto de
uma, por ser mais amplo, abranja o da outra, competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo
o processamento e julgamento das duas demandas, ainda que ambas tenham sido propostas
por entidades associativas distintas.
Comentários Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia.
Diante disso, foram propostas duas ações de indenização:
a primeira delas, pela Colônia de Pescadores de São Francisco do Conde/BA, na vara da
comarca de São Francisco do Conde/BA, pedindo indenização para os pescadores deste
município;
a segunda, ajuizada pela Federação dos Pescadores e Aquicultores da Bahia na Vara
Cível de Salvador/BA, pleiteando indenização para os pescadores de diversos
municípios, dentre eles os de São Francisco do Conde/BA.

Existe continência ou conexão neste caso?

A conexão está prevista no art. 103 do CPC:


Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a
causa de pedir.

A continência, por seu turno, está descrita no art. 104:


Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às
partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.

Toda continência é também uma conexão. Isso porque em toda continência a causa de
pedir é igual e isso já é conexão. Mas, tecnicamente, houve mera conexão ou efetivamente
ocorreu continência?

No caso concreto, ficou reconhecida a existência de CONTINÊNCIA (art. 104 do CPC).

Requisitos da continência:
Os requisitos da continência são os seguintes:
Duas ou mais ações;
Partes iguais nas ações;
Causas de pedir iguais nas ações;
O pedido de uma ação abrange o da outra.
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O polo ativo da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo e abrange não apenas
os pescadores de São Francisco do Conde/BA, mas também de outros municípios.
Página

O aspecto subjetivo da litispendência nas ações coletivas deve ser visto sob a ótica dos
beneficiários atingidos pelos efeitos da decisão, e não pelo simples exame das partes que

INFORMATIVO esquematizado
figuram no polo ativo da demanda. Assim, considera-se que há partes iguais porque os
moradores de São Francisco do Conde/BA serão atingidos pelo resultado das duas
demandas. Não se considera como partes, para fins de continência, a Colônia e a Federação
de pescadores.

O objeto (pedido) da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo que o da primeira,
pois abrange indenização não apenas para os pescadores de São Francisco do Conde/BA
como também de outros municípios.

Quem irá julgar a causa?


Competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas
demandas. Logo, a competência será da Vara de Salvador.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

Execução provisória em ação coletiva

No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra constante do


art. 475-O, § 2º, I, do CPC (que admite a dispensa de caução para o levantamento de depósito
em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa
resultar grave dano ao executado), deve o magistrado considerar a situação individual de cada
um dos beneficiários.
Comentários Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia.
Diante disso, a Federação dos Pescadores da Bahia ajuizou ação coletiva pleiteando, dentre
outros pedidos, liminarmente, o pagamento a pescadores de uma quantia de 500 reais a
título de "salário", diante dos prejuízos decorrentes da impossibilidade de exercício da
atividade pesqueira.
A antecipação de tutela foi deferida, com a determinação do pagamento da pensão mensal
de 500 reais para cada substituído.

É cabível execução provisória em processo coletivo?


SIM. É possível execução provisória em processo coletivo, que deverá obedecer as regras
previstas no CPC (art. 475-O).

Os pescadores poderão sacar este dinheiro depositado pela Petrobrás por força da decisão
que concedeu a tutela antecipada?
SIM, no entanto, como se trata de uma forma de execução provisória (irão se beneficiar da
decisão antes do trânsito em julgado) deverão observar as regras da execução provisória
trazidas pelo art. 475-O.

No caso de execução provisória de quantia, em regra, a pessoa beneficiada somente poderá


levantar o dinheiro depositado pelo executado se prestar uma caução suficiente e idônea,
arbitrada de plano pelo juiz. Isso porque, se ao final, a decisão for revertida, o executado
terá como ser ressarcido do valor que depositou e foi sacado. Esta previsão está no 475-O,
III, do CPC:
Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo
que a definitiva, observadas as seguintes normas:
III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de
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propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução
suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.
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INFORMATIVO esquematizado
Existe alguma hipótese em que esta caução pode ser dispensada?
SIM. A caução poderá ser dispensada nas hipóteses previstas nos incisos do § 2º do art. 475-O:
I – na execução provisória de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, se o
valor não exceder 60 salários-mínimos e desde que o exequente demonstre situação de
necessidade; ou
II – quando estiver pendente apenas agravo de instrumento contra a decisão que não
admitiu recurso especial ou extraordinário, salvo se da dispensa puder resultar risco de
grave dano, de difícil ou incerta reparação.

Voltando ao caso concreto. Os pescadores poderão sacar o dinheiro depositado pela


Petrobrás sem ter que prestar caução? Em outras palavras, poderão executar
provisoriamente a decisão sem oferecer caução?
SIM. A situação se enquadra no inciso I do § 2º do art. 475-O do CPC, tendo em vista que o
valor que cada um irá receber é inferior a 60 salários-mínimos, enquadra-se como verba
alimentar e os exequentes são pessoas que passam por situação de necessidade.

No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra


constante do art. 475-O, § 2º, I, do CPC, o magistrado deve considerar a situação individual
de cada um dos beneficiários.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

DIREITO PENAL

Princípio da insignificância e existência de outras ações penais em curso

O STJ decidiu que, mesmo sendo o acusado reincidente ou portador de maus antecedentes,
deveria ser aplicado o princípio da insignificância no caso da subtração de 11 latas de leite em
pó avaliadas em R$ 76,89 pertencentes a um supermercado.
Comentários Princípio da insignificância e outras ações penais
É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que
respondam a outros inquéritos ou ações penais?
Trata-se de tema ainda polêmico na jurisprudência do STF e do STJ, havendo decisões
recentes nos dois sentidos.
Não deveria, portanto, ser cobrado em provas objetivas. No entanto, em se tratando de
concursos, tudo é possível.
Posição que penso ser a mais segura para as provas (até o presente momento):
Em regra, a existência de circunstâncias de caráter pessoal desfavoráveis, tais como o
registro de processos criminais em andamento, a existência de antecedentes criminais ou
mesmo eventual reincidência NÃO SÃO óbices, por si só, ao reconhecimento do princípio da
insignificância.

Assim, em tese, é possível aplicar o princípio da insignificância para réus reincidentes ou


que respondam a inquéritos ou ações penais. No entanto, existem muitos julgados do STF e
do STJ que, no caso concreto, afastam esse princípio pelo fato do réu ser reincidente ou
possuir diversos antecedentes de práticas delituosas, o que, segundo alguns Ministros, dá
claras demonstrações de ser ele um infrator contumaz e com personalidade voltada à
prática delitiva.
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Nesses casos, aplicar o princípio da insignificância seria um verdadeiro incentivo ao


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descumprimento da norma legal, especialmente tendo em conta aqueles que fazem da


criminalidade um meio de vida.

INFORMATIVO esquematizado
Desse modo, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, a existência de
antecedentes pode demonstrar a reprovabilidade e ofensividade da conduta, o que
afastaria o princípio da bagatela.

Caso concreto
No caso julgado pelo STJ e noticiado neste Informativo, o paciente havia sido condenado
pelo furto de 11 latas de leite em pó avaliadas em R$ 76,89 pertencentes a um
supermercado. Mesmo sendo o réu reincidente, o STJ entendeu que deveria ser aplicado o
princípio da insignificância.
Processo STJ. 6ª Turma. HC 250.122-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/4/2013.

Homicídio culposo cometido por médico e causa de aumento do art. 121, § 4º do CP

É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no caso de
homicídio culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento de regra técnica no
exercício da profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):
Dr. M, médico, estava realizando uma cirurgia, no entanto, agiu com desídia (negligência)
ao deixar de observar um procedimento médico indispensável ao caso.
Em virtude disso, o paciente veio a óbito.

Acusação
Dr. M foi denunciado pela prática de homicídio culposo (§ 3º do art. 121 do CP), tendo o
Ministério Público imputado também a causa de aumento prevista no § 4º do art. 121:

Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.

Aumento de pena
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos.

Defesa
A defesa argumentou que não se pode utilizar a alegação de que o médico foi negligente
para enquadrar sua conduta como homicídio culposo (art. 121, § 3º) e valer-se da mesma
alegação (negligência) para dizer que ele não observou regra técnica de profissão, aplicando
a causa de aumento do § 4º.
Para a defesa, houve bis in idem, tendo em vista que um mesmo fato (“deixar de observar
determinado procedimento médico”) foi utilizado para enquadrar a conduta como
homicídio culposo e também para fazer incidir a causa de aumento.

Em um caso análogo a este, o que decidiu o STJ?


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A 5ª Turma do STJ, por maioria, decidiu que é possível a aplicação da causa de aumento de
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pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e
decorrente do descumprimento de regra técnica no exercício da profissão.

INFORMATIVO esquematizado
Nessa situação, não há que se falar em bis in idem.
Isso porque o legislador, ao estabelecer a circunstância especial de aumento de pena
prevista no referido dispositivo legal, pretendeu reconhecer maior reprovabilidade à
conduta do profissional que, embora tenha o necessário conhecimento para o exercício de
sua ocupação, não o utilize adequadamente, produzindo o evento criminoso de forma
culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua profissão.
De fato, caso se entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que
essa majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, incidisse em
pelo menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para configurar a culpa e
a outra para a majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 181.847-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. para acórdão Min. Campos Marques
(Desembargador convocado do TJ/PR), julgado em 4/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência no caso de pessoa que “baixa” conteúdo pedófilo da internet

Pessoa que “baixa” da internet e armazena, em computador da escola, vídeos pornográficos


envolvendo crianças e adolescentes pratica o delito do art. 241-A, § 1º, I, do ECA, sendo esta
conduta, neste caso concreto, crime de competência da Justiça Estadual.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Adriano, funcionário de uma escola municipal, “baixou” da internet, no computador do
trabalho, diversas imagens e vídeos pornográficos envolvendo crianças e adolescentes.

Qual crime praticou Adriano?


O STJ reconheceu que ele praticou, em tese, o delito previsto no art. 241-A, § 1º, I, do ECA:
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por
qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens
de que trata o caput deste artigo;

O juiz de direito declinou a competência para a Justiça Federal, alegando que o Brasil é
signatário da Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas, aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90. Logo, a
competência seria federal, nos termos do art. 109, V, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

A decisão declinatória do juiz de direito foi acertada?


NÃO. Para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base neste inciso V do
art. 109 são necessários três requisitos:
17

a) Previsão do fato como crime no Brasil;


Página

b) Compromisso de combater este crime assumido pelo Brasil em tratado ou convenção


internacional; e

INFORMATIVO esquematizado
c) Relação de internacionalidade.

A relação de internacionalidade ocorre quando:


• iniciada a execução do crime no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro;
• iniciada a execução do crime no estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido
no Brasil.

Desse modo, não é suficiente que o crime esteja previsto em tratado ou convenção
internacional para ser julgado pela Justiça Federal.

No caso concreto, o delito do art. 241-A do ECA é um crime que o Brasil, por meio de
tratado internacional, comprometeu-se a reprimir, considerando que somos signatários da
Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas,
aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90. Logo, estão preenchidos
os dois primeiros requisitos (letras “a” e “b”).

Por outro lado, não se verifica a existência de relação de internacionalidade. Isso porque o
agente fez o download das imagens para o computador e não as repassou para nenhum
destinatário fora do país nem as disponibilizou em uma página da internet onde pudessem
ser acessadas por quaisquer pessoas do mundo.

Assim, o material de conteúdo pornográfico, após ter sido obtido pelo agente, não
ultrapassou os limites da escola (ficou restrito àquele computador).
Apesar da origem das imagens e vídeos ser da Internet, não há indícios de que o investigado
tenha divulgado ou publicado o material pornográfico além das fronteiras nacionais,
restringindo-se sua conduta a manter os arquivos no computador da escola.

Em suma, trata-se de delito da competência da JUSTIÇA ESTADUAL.


Processo STJ. 3ª Seção. CC 103.011-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 13/3/2013.

Execução penal e prisão domiciliar

Se não existir Casa do Albergado na localidade ou se não houver mais vagas, o que acontece com
o condenado?
Se não existe Casa do Albergado ou não há mais vagas disponíveis, o condenado deverá
cumprir a pena em prisão domiciliar. Trata-se de uma hipótese de prisão domiciliar não
prevista no art. 117 da LEP, mas concedida em homenagem aos princípios da dignidade da
pessoa humana, da humanidade da pena e da individualização da pena.

Se existir Casa do Albergado na localidade, mas as suas condições forem precárias, além de haver
superlotação de presos, o condenado poderá ir para prisão domiciliar?
1ª corrente: SIM. 6ª Turma do STJ.
2ª corrente: NÃO. 5ª Turma do STJ.
Comentários Prisão domiciliar do CPP x Prisão domiciliar da LEP
Vale ressaltar que o tema “prisão domiciliar” é tratado tanto no CPP como na LEP, sendo,
contudo, institutos diferentes, conforme se passa a demonstrar:
18
Página

INFORMATIVO esquematizado
PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP
Arts. 317 e 318 do CPP. Art. 117 da LEP.
O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está
se referindo à possibilidade do réu, ao se referindo à possibilidade da pessoa já
invés de ficar em prisão preventiva, condenada cumprir a sua pena privativa de
permanecer recolhido em sua residência. liberdade na própria residência.
Trata-se de uma medida cautelar que Trata-se, portanto, da execução penal
substitui a prisão preventiva pelo (cumprimento da pena) na própria
recolhimento da pessoa em sua residência. residência.
Hipóteses (importante): Hipóteses (importante):
O juiz poderá substituir a prisão preventiva O preso que estiver cumprindo pena no
pela domiciliar quando o agente for: regime aberto poderá ficar em prisão
domiciliar quando se tratar de condenado(a):

I - maior de 80 anos; I - maior de 70 anos;

II - extremamente debilitado por motivo de II - acometido de doença grave;


doença grave;

III - imprescindível aos cuidados especiais III - com filho menor ou deficiente físico ou
de pessoa menor de 6 anos de idade ou mental;
com deficiência;

IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de IV - gestante.


gravidez ou sendo esta de alto risco.

Obs: os magistrados, membros do MP, da


Defensoria e da advocacia têm direito à
prisão cautelar em sala de Estado-Maior.
Caso não exista, devem ficar em prisão
domiciliar.
O juiz pode determinar que a pessoa fique O juiz pode determinar que a pessoa fique
usando uma monitoração eletrônica. usando uma monitoração eletrônica.

O julgado aqui noticiado refere-se à prisão domiciliar da LEP.

Como vimos, as hipóteses da prisão domiciliar da LEP estão previstas no art. 117, sendo
destinadas a condenados que estejam cumprindo pena no regime aberto.

Algumas perguntas sobre o tema:

1ª) Onde o condenado cumpre pena no regime aberto?


Na Casa do Albergado (art. 93 da LEP).

2º) Se não existir Casa do Albergado na localidade ou se não houver mais vagas, o que
acontece com o condenado?
A jurisprudência afirma que, se não existe Casa do Albergado ou não há mais vagas
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disponíveis, o condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar (STF HC 96169).


Trata-se de uma hipótese de prisão domiciliar não prevista no art. 117 da LEP, mas
Página

concedida em homenagem aos princípios da dignidade da pessoa humana, da humanidade


da pena e da individualização da pena.

INFORMATIVO esquematizado
O reeducando que esteja no regime aberto deverá cumprir pena em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.
Caso não exista casa de albergado na cidade ou se existir, mas não houver vagas, este
condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar até que surja vaga.
STJ. 6ª Turma. HC 216.828-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 2/2/2012.

3º) Se existir Casa do Albergado na localidade, mas as suas condições forem precárias, além
de haver superlotação de presos, o condenado poderá ir para prisão domiciliar?
1ª corrente: 2ª corrente:
SIM. 6ª Turma do STJ. NÃO. 5ª Turma do STJ.
(...) A superlotação e a precariedade do Os argumentos de superlotação e de
estabelecimento penal, é dizer, a ausência precárias condições da casa de albergado
de condições necessárias ao cumprimento não permitem, por si sós, a concessão do
da pena em regime aberto, permite ao benefício pleiteado.
condenado a possibilidade de ser colocado (HC 240.715/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª
em prisão domiciliar, até que solvida a Turma, julgado em 23/04/2013)
pendência (...)
(HC 248.358/RS, Min. Maria Thereza de
Assis Moura, 6ª Turma, j. 11/04/2013)

4º) É possível a concessão de prisão domiciliar a pessoa que esteja cumprindo pena em
regime fechado ou semiaberto?
Pela literalidade da LEP, somente teria direito à prisão domiciliar a pessoa condenada ao
regime aberto que se enquadrasse em uma das hipóteses do art. 117 da LEP. No entanto,
em hipóteses excepcionais, a jurisprudência tem autorizado que condenados que estejam
no regime fechado ou semiaberto possam ter direito à prisão domiciliar desde que:
sejam portadores de doença grave; e
fique demonstrada a impossibilidade de receberem o tratamento adequado no
estabelecimento prisional onde cumprem pena.

(...) A jurisprudência tem admitido a concessão da prisão domiciliar aos condenados que se
encontram em regime semiaberto e fechado, em situações excepcionalíssimas, como no
caso de portadores de doença grave, desde que comprovada a impossibilidade da
assistência médica no estabelecimento prisional em que cumprem sua pena. (...)
(HC 244.540/GO, Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 21/05/2013)

Processo STJ. 5ª Turma. HC 240.715-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IPTU e unidades autônomas

O Fisco, verificando a divisão do imóvel preexistente em unidades autônomas, pode cobrar o


IPTU sobre as novas unidades autônomas, mesmo que estas ainda não tenham sido
previamente registradas no cartório de imóveis.
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ATENÇÃO
Concursos
Cartório
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Página

O imóvel “X”, localizado na zona urbana do Município, medindo 1200m2, possuía matrícula
e estava devidamente inscrito no Registro de Imóveis.

INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar que incidia IPTU sobre o referido imóvel.
O proprietário deste bem decidiu desmembrá-lo em três outros imóveis de 400m2. Para
isso, ele dividiu fisicamente o imóvel em três, construindo muros separando os terrenos.
Segundo a Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73), o desmembramento tem que ser
averbado na matrícula do imóvel originário, resultando na abertura de tantas matrículas
quantos forem os imóveis dele resultantes. Em outras palavras, o proprietário deverá
requerer o encerramento da matrícula mãe e a instituição de três matrículas novas.

Antes que o proprietário fizesse tais alterações no registro do imóvel, o Fisco municipal,
percebendo a modificação, efetuou o lançamento e cobrança de três IPTU’s, um sobre cada
imóvel desmembrado.

O proprietário do imóvel se insurgiu contra isso, alegando que somente após o registro
imobiliário do desmembramento do imóvel é que o IPTU poderia incidir sobre cada área
individualizada, deixando de recair sobre a área matriz. Em outros termos, argumentou que,
enquanto houvesse apenas uma matrícula em relação ao imóvel, somente um IPTU deveria
ser cobrado.

A questão chegou até o STJ. O que foi decidido?


O STJ decidiu que o Fisco, verificando a divisão do imóvel preexistente em unidades
autônomas, pode cobrar o IPTU sobre as novas unidades autônomas, mesmo que estas
ainda não tenham sido previamente registradas no cartório de imóveis.

O art. 32 do CTN estabelece que o fato gerador do IPTU é a propriedade, o domínio útil ou a
posse do imóvel:
Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial
urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por
natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do
Município.

O art. 34, por sua vez, estabelece que o contribuinte do IPTU é o proprietário, o titular do
seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título.

A partir da análise desses dois dispositivos, o STJ chegou à conclusão de que é dispensável a
exigência de prévio registro imobiliário das novas unidades para que se proceda ao
lançamento do IPTU individualizado, uma vez que basta a configuração da posse de bem
imóvel para dar ensejo à exação.

Para que haja cobrança do IPTU basta que se verifique que foram acrescidas unidades
autônomas ao imóvel, uma vez que os impostos reais (como é o caso do IPTU e do ITBI
referem-se aos bens autonomamente considerados (REsp 722.752/RJ, Rel. Min. Herman
Benjamin, Segunda Turma, DJe 11/11/2009).
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.347.693-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/4/2013.
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Página

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Aposentadoria por invalidez

A concessão da aposentadoria por invalidez deve considerar não apenas os elementos


previstos no art. 42 da Lei nº 8.213/91, mas também aspectos socioeconômicos, profissionais e
culturais do segurado, ainda que o laudo pericial tenha concluído pela incapacidade somente
parcial para o trabalho.
Comentários O que é a aposentadoria por invalidez?
A aposentadoria por invalidez é concedida à pessoa que for considerada incapaz para o
trabalho e insusceptível de reabilitação para o exercício de outra atividade que lhe garanta
a subsistência, sendo-lhe paga enquanto permanecer nesta condição (art. 42 da Lei n.
8.213/91).

Como é comprovada esta incapacidade?


A pessoa deverá ser submetida a exame médico-pericial, a cargo da Previdência Social
(exame feito por médico habilitado e registrado no INSS), podendo o segurado, às suas
expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança (§ 1º do art. 42).
No caso da concessão do benefício estar sendo discutida judicialmente, o juiz poderá
nomear um médico para realizar a perícia.

Para que seja concedida esta espécie de aposentadoria, é necessário que a invalidez seja
total? Em outras palavras, para ter direito à aposentadoria, o segurado deve estar inválido
para toda e qualquer atividade laboral ou basta que esteja inválido para o trabalho que
desempenhava anteriormente?
Para a concessão da aposentadoria por invalidez, é necessário que a invalidez seja total e
permanente e que não haja possibilidade do segurado ser reabilitado para exercer outra
atividade laborativa, compatível com sua condição de saúde.

Aposentadoria por invalidez = invalidez total e permanente + impossibilidade de reabilitação

Diante disso, podemos concluir:


Se a invalidez for parcial e for possível a reabilitação do segurado em outra atividade,
não será concedida a aposentadoria por invalidez;
Ao contrário, se a invalidez for parcial, mas a reabilitação do segurado se mostrar
inviável, deverá ser concedida a aposentadoria por invalidez.

A avaliação da invalidez e da (im)possibilidade de reabilitação deverá ser feita com base nas
peculiaridades do caso concreto, levando-se em consideração os aspectos socioeconômicos,
profissionais e culturais do segurado. Vejamos:

Situação 1: Vitor, 20 anos de idade, ensino médio completo, era motorista de uma empresa
privada em uma grande capital. Sofreu um acidente e ficou paraplégico. Trata-se de
incapacidade parcial. Vitor poderá ser reabilitado para exercer outra atividade remunerada
(exs: balconista, telefonista, atividades intelectuais etc.). Logo, não terá direito à
aposentadoria por invalidez porque se mostra viável a sua reabilitação para que
desempenhe outra profissão.
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Invalidez parcial e impossibilidade de reabilitação:


Página

Situação 2: João, 50 anos de idade, apenas alfabetizado, foi motorista de caminhão durante
toda a sua vida profissional em uma pequena cidade do interior, nunca tendo tido outra

INFORMATIVO esquematizado
ocupação. Sofreu um acidente e ficou paraplégico. Trata-se de incapacidade parcial. Ocorre
que, analisando os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado (idade,
nível de escolaridade e experiência), percebe-se que é inviável a sua reabilitação para
exercer outra atividade remunerada. Logo, terá direito à aposentadoria por invalidez.

Neste mesmo sentido, podemos citar a Súmula 47 da TNU:


Súmula 47-TNU: Uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve
analisar as condições pessoais e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por
invalidez.

Assim, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o magistrado não está adstrito ao
laudo, devendo considerar também aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do
segurado a fim de examinar se será possível, ou não, seu retorno ao trabalho, ou a sua
inserção no mercado de trabalho, mesmo porque a invalidez laborativa não é meramente o
resultado de uma disfunção orgânica, mas uma somatória das condições de saúde e
pessoais de cada indivíduo (AgRg no AREsp 81.329/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
Quinta Turma, julgado em 14/2/2012).
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 283.029-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/4/2013.

Desaposentação
É possível a renúncia à aposentadoria por tempo de serviço (desaposentação) objetivando a
concessão de novo benefício mais vantajoso da mesma natureza (reaposentação), com o
ATENÇÃO
cômputo dos salários de contribuição posteriores à aposentadoria anterior, não sendo exigível,
Concursos nesse caso, a devolução dos valores recebidos em razão da aposentadoria anterior.
federais Para o STJ, a aposentadoria, assim como os demais benefícios previdenciários, é um direito
patrimonial disponível e, portanto, suscetível de desistência pelos seus titulares, prescindindo-
se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para
a concessão de novo e posterior jubilamento.
Comentários DESAPOSENTAÇÃO

Conceito
A desaposentação consiste no ato do segurado de renunciar a aposentadoria que recebe a
fim de que possa requerer uma nova aposentadoria (reaposentação), desta vez mais
vantajosa, no mesmo regime previdenciário ou em outro.

Hipóteses mais comuns


O pedido de desaposentação ocorre normalmente nos casos em que a pessoa se aposenta,
mas continua trabalhando e, portanto, contribuindo. Assim, este tempo de contribuição
após a primeira aposentadoria, se computado, gerará um provento maior, o que justifica a
renúncia ao benefício que a pessoa está recebendo para que possa formular novo pedido
de aposentação.
É possível também que um aposentado pelo regime geral (INSS) faça um concurso e depois
de anos trabalhando no cargo público concursado requeira a renúncia do benefício no
regime geral para requerer uma nova aposentadoria no regime próprio dos servidores
públicos utilizando o tempo de contribuição anterior.

Mas a pessoa aposentada que estiver trabalhando deve pagar contribuição previdenciária?
23

SIM. O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que estiver exercendo
ou que voltar a exercer atividade remunerada é segurado obrigatório em relação a essa
Página

atividade, ficando sujeito ao pagamento de contribuição previdenciária, para fins de custeio


da Seguridade Social (§ 3º do art. 11 da Lei n. 8.213/91).
INFORMATIVO esquematizado
O INSS aceita o pedido de desaposentação?
NÃO. Para o INSS, a desaposentação não possui previsão legal expressa. Ao contrário,
segundo a autarquia previdenciária, isto seria vedado pelo § 2º do art. 18 da Lei n.
8.213/91 e pelo art. 181-B do Regulamento da Previdência Social:

Lei n. 8.213/91:
Art. 18 (...) § 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que
permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação
alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao
salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.

Decreto n. 3.048/99:
Art. 181-B. As aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas pela
previdência social, na forma deste Regulamento, são irreversíveis e irrenunciáveis.

Assim, se o segurado formular requerimento administrativo de desaposentação, ele será


negado.

“Ação de desaposentação”
Como o INSS não admite administrativamente, os segurados passaram a ajuizar uma ação
judicial postulando a desaposentação.

Posições existentes a respeito do tema:


Há muita polêmica se a desaposentação deve ou não ser aceita, existindo três correntes
principais sobre o tema:
1ª) Não se admite a 2ª) Admite-se a 3ª) Admite-se a
desaposentação. desaposentação, mas para desaposentação e o
que o segurado tenha direito segurado não precisa
a nova aposentadoria será devolver os proventos que
necessário que devolva os já recebeu enquanto esteve
proventos recebidos aposentado.
enquanto esteve aposentado.
Posição do INSS. Julgado da TNU (Proc. Posição do STJ.
2007.83.00.505010-3).

Recurso repetitivo no STJ


A fim de que houvesse uma definição quanto ao tema, o STJ, por meio da 1ª Seção (1ª e 2ª
Turmas), analisou o tema, sob o regime de recurso repetitivo. O que decidiu a Corte?
É POSSÍVEL a renúncia à aposentadoria por tempo de serviço (desaposentação)
objetivando a concessão de novo benefício mais vantajoso da mesma natureza
(reaposentação), com o cômputo dos salários de contribuição posteriores à aposentadoria
anterior, não sendo exigível, nesse caso, a devolução dos valores recebidos em razão da
aposentadoria anterior.
Para o STJ, a aposentadoria, assim como os demais benefícios previdenciários, é um direito
patrimonial disponível e, portanto, suscetível de desistência pelos seus titulares,
prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado
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deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento.


(REsp 1334488/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 08/05/2013)
Página

INFORMATIVO esquematizado
Em suma, o STJ confirmou que adota a 3ª corrente acima exposta. Como a decisão do STJ
foi tomada em sede de recurso repetitivo, este entendimento terá que ser adotado pela
TNU (Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais) e pelos Tribunais
Regionais Federais.

Existe um prazo para que o segurado possa requerer a desaposentação?


SIM. Segundo a 2ª Turma do STJ, deverá ser aplicado o prazo decadencial de 10 anos,
previsto no art. 103 da Lei n. 8.213/91 (AgRg no REsp 1.305.914, julgado em 16/08/2012).

O STF já possui decisões sobre a desaposentação?


NÃO. O STF começou a analisar o tema, tendo o Min. Marco Aurélio proferido voto
favorável à desaposentação. O julgamento foi suspenso em virtude de pedido de vista do
Min. Dias Toffoli (RE 381.367/RS – Informativo 600).
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.334.488-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/5/2013 (recurso repetitivo)

Necessidade de prévio requerimento administrativo para ajuizamento de ação previdenciária

Para que o segurado ajuíze ação pleiteando a concessão de benefício previdenciário é


indispensável que tenha formulado previamente requerimento administrativo?
ATENÇÃO
Concursos NÃO. É dispensado o prévio requerimento administrativo. É a posição majoritária do
Federais STF e STJ.

Obs: para a 2ª Turma do STJ, o prévio requerimento administrativo é indispensável,


salvo quando se tratar de matéria em que haja resistência notória por parte do INSS ao
pedido formulado. Trata-se também da tese institucional dos Procuradores do INSS.

Tema A grande maioria das ações propostas contra o INSS objetivando benefícios previdenciários
proposto é de competência dos Juizados Especiais Federais (JEF).
No JEF, o autor não precisa de advogado e não paga custas em 1ª instância.
Diante disso, é muito comum que o segurado, sem que requeira administrativamente o
benefício previdenciário em um dos postos do INSS, opte por já ajuizar direto uma ação
judicial no JEF pedindo a concessão da aposentadoria, por exemplo.

Esta prática é admitida? O segurado ou dependente pode ingressar com a ação judicial
pleiteando a prestação previdenciária mesmo sem ter feito previamente requerimento
administrativo no INSS? Haveria neste caso falta de interesse de agir em razão de não ter
sido negado o pedido na via administrativa?
Posição O prévio requerimento administrativo é DISPENSÁVEL.
majoritária
no STF e STJ (...) Conforme a jurisprudência reiterada do STJ, é desnecessário o prévio requerimento
administrativo para o ajuizamento de ação que vise a implementação ou revisão de
benefício previdenciário. (...)
(AgRg no AREsp 119.366/RS, Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 18/04/2013)

(...) é firme a compreensão da Terceira Seção no sentido da desnecessidade de prévio


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requerimento administrativo como condição para a propositura de ação que vise à


concessão de benefício previdenciário. (...)
Página

(EDcl no AgRg no REsp 1.137.447/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, DJe de
07/02/2013).
INFORMATIVO esquematizado
(...) 1. A jurisprudência desta nossa Corte firmou-se no sentido de ser desnecessário para o
ajuizamento de ação previdenciária o prévio requerimento administrativo do benefício à
autarquia federal. Precedentes. (...)
(RE 549055 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, julgado em 05/10/2010)
Posição da Regra:
2ª Turma do Para a 2ª Turma do STJ, em regra, o segurado/dependente somente pode ajuizar a ação
STJ e do judicial pleiteando a concessão do benefício previdenciário, se anteriormente formulou
INSS requerimento administrativo junto ao INSS.

Assim, em regra, o ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social


reclama (exige) que tenha havido prévio requerimento administrativo.

Caso seja proposta a ação sem que tenha havido prévio requerimento administrativo
deverá o juiz extinguir o processo sem resolução do mérito por ausência de interesse de
agir, considerando que havia a possibilidade de seu pedido ter sido atendido pelo INSS na
via administrativa.

Se o INSS, contudo, contesta o mérito da ação, afirmando que o autor não tem direito, não
deverá o juiz extinguir o processo porque restou claro que a autarquia previdenciária não
aceitaria o pedido também na via administrativa.

Exceção:
A ação pode ser proposta diretamente pelo autor, ou seja, sem a necessidade de prévio
requerimento administrativo, nas hipóteses em que é notório que o INSS não admite aquele
tipo de pedido na via administrativa.
É o caso, por exemplo, da desaposentação. O segurado poderá ajuizar diretamente a ação
de desaposentação (mesmo que não tenha formulado pedido na via administrativa) porque
é sabido por todos que o INSS não admite esta tese. Logo, é patente que o autor tem
interesse na demanda.

Em suma, o prévio requerimento administrativo é indispensável para o ajuizamento da ação


judicial em que se objetive a concessão de benefício previdenciário quando se tratar de
matéria em que não haja resistência notória por parte do INSS à pretensão do beneficiário.

(...) A Segunda Turma desta Corte firmou o entendimento de que o interesse processual do
segurado e a utilidade da prestação jurisdicional concretizam-se nas seguintes hipóteses:
recusa de recebimento do requerimento; negativa de concessão do benefício
previdenciário, seja pelo concreto indeferimento do pedido, seja pela notória resistência da
autarquia à tese jurídica esposada. (...)
(AgRg no AREsp 283.743/AL, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 16/04/2013)
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.341.269-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 9/4/2013.
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Página

INFORMATIVO esquematizado
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz Federal TRF1 2011 CESPE) O estabelecimento bancário não é responsável pelo pagamento de
cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista. ( )
2) (Juiz TJAC 2012 CESPE) O CDC determina explicitamente que a interpretação das cláusulas contratuais
seja mais favorável ao consumidor, estando, por isso, em dissonância com o princípio constitucional da
isonomia. ( )
3) (Juiz TJAC 2012 CESPE) Considere a seguinte situação hipotética. Márcio, servidor público estadual,
inconformado com ato tido por ilegal de secretário de Estado, que, sem justificativa, indeferiu o seu
pedido de férias, resolveu impetrar, no tribunal de justiça competente, mandado de segurança contra
essa decisão administrativa. Nesse colegiado, houve acórdão acolhendo a preliminar, de forma que a
ação mandamental se extinguiu sem resolução de mérito. Inconformado, o impetrante propôs recurso
ordinário, oportunidade em que o STJ superou a preliminar e adentrou ao mérito do pedido. Nessa
situação hipotética, agiu acertadamente o STJ, com base em previsão do CPC, segundo a qual, nos casos
de extinção do processo sem julgamento de mérito, o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa
versar sobre questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. ( )
4) (Juiz TJMG 2012 VUNESP) A Lei n.º 12.403/11 inovou ao prever outra modalidade de medida cautelar,
que consiste na prisão domiciliar. Com relação às hipóteses de aplicação da prisão domiciliar, como
substitutiva da prisão preventiva, conforme a lei citada, assinale a alternativa correta.
A) Para a gestante a partir do 6.º (sexto) mês de gestação, independentemente de risco para a gravidez.
B) Quando o acusado ou indiciado for paraplégico.
C) Quando o agente for imprescindível para os cuidados especiais de pessoa menor de 7 (sete) anos de idade.
D) Quando o indiciado ou acusado for maior de 80 (oitenta) anos de idade.

5) (MP/AL 2012 FCC) o juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for
imprescindível aos cuidados especiais de pessoa de até sete anos de idade. ( )
6) (MP/AL 2012 FCC) A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua
residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial. ( )
7) (Juiz Federal TRF2 2009 CESPE) Incumbe ao Estado aparelhar-se visando à observância das decisões
judiciais. Se não houver meios de assegurar o cumprimento da pena em regime semiaberto, ocorre a
transformação em aberto e, se inexistente casa do albergado, em prisão domiciliar. ( )
8) (DPE/RR 2013 CESPE) A concessão de aposentadoria por invalidez depende da verificação da condição de
incapacidade do segurado mediante exame médico-pericial a cargo da assistência social, podendo o
segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar, durante a avaliação, de médico de sua confiança. ( )
9) (Juiz Federal TRF2 2011 CESPE) A respeito da aposentadoria por invalidez no âmbito do RGPS, a
jurisprudência do STJ reconhece que a concessão desse benefício deve considerar tão somente os
elementos jurídicos previstos na Lei n.º 8.213/1991 e abster-se da análise dos aspectos
socieconômicos, profissionais e culturais do segurado. ( )
10) (Juiz Federal TRF5 2009 CESPE) O STJ firmou entendimento no sentido de que o prévio requerimento na
esfera administrativa é condição para propositura da ação de natureza previdenciária, uma vez que a
prestação jurisdicional só se justifica mediante a comprovação do conflito de interesses. ( )
11) (Juiz Federal TRF3 2011 CESPE) O prévio requerimento administrativo de prorrogação de auxílio-doença
é requisito para o ajuizamento de ação em que se pleiteie o restabelecimento do benefício
previdenciário, importando sua ausência na extinção do processo sem resolução de mérito. ( )
12) (Procurador BACEN 2009 CESPE) Eurico obteve aposentadoria proporcional no âmbito do RGPS, mas
continuou trabalhando e contribuindo para o INSS e, posteriormente, requereu à autarquia a utilização
desse tempo para conseguir a aposentadoria integral. Nessa situação, a jurisprudência do STJ admite
27

tal possibilidade, desde que Eurico devolva os benefícios já recebidos. ( )


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Gabarito
1. E 2. E 3. E 4. Letra D 5. E 6. C 7. C 8. E 9. E 10. E 11. E 12. E

INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA
(OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS
DIREITO CIVIL. LEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO
MÚTUO HABITACIONAL COM COBERTURA DO FCVS CELEBRADO ATÉ 25/10/1996. RECURSO REPETITIVO
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Tratando-se de contrato de mútuo habitacional garantido pelo Fundo de Compensação de Variações
Salariais, celebrado até 25/10/1996 e transferido sem a intervenção da instituição financeira, o cessionário
possui legitimidade para discutir e demandar em juízo questões pertinentes às obrigações assumidas e aos
direitos adquiridos. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, é possível a regularização do referido
contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que implica afirmar que, nesses
casos, o cessionário é equiparado ao mutuário, possuindo, portanto, legitimidade para discutir e demandar
em juízo questões pertinentes às obrigações assumidas e aos direitos adquiridos. Com efeito, o art. 20, caput,
da Lei 10.150/2000 estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam
contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que
tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da
instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Nesse contexto, os arts. 22 da Lei
10.150/2000 e 2º da Lei 8.004/1990 (com redação dada pela Lei 10.150/2000) determinam que, diante da
existência de cláusula de cobertura de eventual saldo devedor residual pelo FCVS, a transferência se dá
mediante a substituição do devedor, mantidas para o novo mutuário as mesmas condições e obrigações do
contrato original. Cumpre destacar, ademais, que essa possibilidade de equiparação do cessionário à condição
de mutuário se deve ao fato de que, no caso de contratos com cobertura do FCVS, o risco imposto à
instituição financeira é apenas relacionado ao pagamento das prestações pelo cessionário, porquanto o saldo
devedor residual será garantido pelo Fundo. Precedentes citados: REsp 986.873-RS, Segunda Turma, DJ
21/11/2007, e REsp 627.424-PR, Primeira Turma, DJ 28/5/2007.
REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

DIREITO CIVIL. ILEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO


MÚTUO HABITACIONAL SEM COBERTURA DO FCVS CELEBRADO ATÉ 25/10/1996. RECURSO REPETITIVO.
Tratando-se de contrato de mútuo habitacional sem cobertura do Fundo de Compensação de Variações
Salariais, celebrado até 25/10/1996, transferido sem a anuência do agente financiador e fora das condições
estabelecidas pela Lei 10.150/2000, o cessionário não tem legitimidade ativa para ajuizar ação postulando a
revisão do respectivo contrato. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, não é possível a
regularização do referido contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que
implica afirmar que, nesses casos, o cessionário não pode ser equiparado ao mutuário e, portanto, não possui
legitimidade para postular em juízo a revisão do respectivo contrato. Com efeito, o art. 20, caput, da Lei
10.150/2000 estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam
contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que
tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da
instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Contudo, os arts. 23 da Lei
10.150/2000 e 3º da Lei 8.004/1990 (com redação dada pela Lei 10.150/2000) determinam que, diante da
inexistência de cláusula de cobertura de eventual saldo devedor residual pelo FCVS, a transferência de
direitos e obrigações referentes ao imóvel financiado pelo SFH não é automática e somente ocorrerá a
critério da instituição financeira, que estabelecerá novas condições para o ajuste, de modo que o terceiro
adquirente só terá legitimidade ativa para ajuizar ação relacionada ao mencionado contrato de cessão se o
agente financeiro tiver concordado com a transação. Cumpre destacar, ademais, que essas transferências
dependem da anuência da instituição financiadora, segundo seu critério e mediante novas condições
financeiras, na medida em que a lei não impôs a ela o risco de arcar com o saldo devedor residual da
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transação — diferentemente do que ocorreria caso houvesse cobertura do FCVS, situação em que o saldo
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devedor seria garantido pelo Fundo. Precedente citado: REsp 1.171.845-RJ, Quarta Turma, DJe 18/5/2012.
REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO CIVIL. ILEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO
MÚTUO HABITACIONAL, COM OU SEM COBERTURA DO FCVS, CELEBRADO APÓS 25/10/1996. RECURSO
REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Tratando-se de cessão de direitos sobre imóvel financiado no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação
realizada após 25/10/1996, a anuência da instituição financeira mutuante é indispensável para que o
cessionário adquira legitimidade ativa para requerer revisão das condições ajustadas, tanto para os
contratos garantidos pelo Fundo de Compensação de Variações Salariais como para aqueles sem a
garantia mencionada. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, não é possível a regularização do
referido contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que implica afirmar
que, nesses casos, o cessionário não pode ser equiparado ao mutuário e, portanto, não possui legitimidade
para postular em juízo a revisão do respectivo contrato. Com efeito, o art. 20, caput, da Lei 10.150/2000
estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam contratos
enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que tenham
sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da
instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Precedentes citados: AgRg no
Ag 1.006.713-DF, Quarta Turma, DJe 22/2/2010; REsp 721.232-PR, Primeira Turma, DJe 13/10/2008, e AgRg
no REsp 980.215-RJ, Segunda Turma, DJe 2/6/2008.
REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. DESCLASSIFICAÇÃO DE LICITANTE DECORRENTE DA FALTA DE APRESENTAÇÃO


DE DECLARAÇÃO DE CONCORDÂNCIA DO RESPONSÁVEL TÉCNICO NA FASE DE HABILITAÇÃO.
A sociedade empresária que, em concorrência realizada para ampliação de prédio público, deixe de
apresentar, no envelope de habilitação, declaração de concordância do responsável técnico, descumprindo
exigência prevista no edital, não tem direito líquido e certo a realizar o referido ato em momento posterior
e por meio diverso do estabelecido no instrumento convocatório, tampouco a ser considerada habilitada
no procedimento licitatório, ainda que tenha apresentado documentos assinados por seu represente legal
que comprovem ser este um engenheiro civil. Deve-se registrar, de início, que a exigência de apresentação
de atestado de concordância do responsável técnico encontra respaldo no art. 30, II e § 1º, I, da Lei
8.666/1993. Isso posto, deve-se ressaltar que atos assinados pelo sócio administrador da sociedade
empresária, ainda que seja profissional da engenharia civil, não suprem a exigência de concordância deste
com o encargo de responsável técnico da obra, munus cujas responsabilidades civil, administrativa e penal
diferem das próprias de sócio. Desse modo, a Administração Pública, por conta própria, não pode atribuir a
responsabilidade técnica por presunção, uma vez que é necessária expressa concordância do profissional.
Assim, não se pode falar que a referida declaração seria pura formalidade que poderia ser relevada pela
administração. Ademais, prevendo o edital que a declaração de concordância de responsável técnico deve
constar do envelope referente aos documentos de habilitação, configuraria violação dos princípios da
legalidade e da impessoalidade dar oportunidade a algum dos licitantes de comprovar o cumprimento da
referida exigência por meio diverso do previsto no instrumento convocatório ou em momento posterior do
estabelecido no edital, conferindo-lhe prazo superior ao dos demais licitantes.
RMS 38.359-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE CONFERIR AOS PSICÓLOGOS, POR RESOLUÇÃO,


AUTORIZAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA TÉCNICA DA ACUPUNTURA.
É inadmissível que resolução do Conselho Federal de Psicologia estenda aos profissionais da área a
possibilidade de utilização da acupuntura como método complementar de tratamento, ainda que no
Brasil não exista legislação que discipline o exercício dessa técnica. Não se pode deduzir, a partir desse
vácuo normativo, que se possa permitir, por intermédio de ato administrativo editado pelo conselho
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profissional, a prática da acupuntura. Ademais, não é possível aos profissionais de psicologia estender seu
campo de trabalho por meio de resolução, pois suas competências já estão fixadas na Lei 4.119/1962, que
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regulamenta o exercício da profissão.


REsp 1.357.139-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/4/2013.

INFORMATIVO esquematizado
TRIBUTÁRIO. CESSÃO DE CRÉDITO DECORRENTE DE EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE ENERGIA ELÉTRICA.
É possível a cessão dos créditos decorrentes de empréstimo compulsório sobre energia elétrica. De fato,
o empréstimo compulsório instituído em favor da Eletrobrás pela Lei 4.156/1962 e alterações posteriores
tem a forma de resgate disciplinada pelo Dec.-Lei 1.512/1976. Ao estabelecer o modo de devolução do
referido tributo, a legislação de regência não criou óbice à cessão do respectivo crédito a terceiros, razão
pela qual não há impedimento para tanto. Precedente citado: REsp 1.094.429-RJ, Segunda Turma, DJe
4/11/2009. AgRg no REsp 1.090.784-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 11/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO DE BIOMÉDICO À PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO


PÚBLICO DESTINADO AO PROVIMENTO DE CARGO DE BIÓLOGO.
Os biomédicos não possuem o direito de participar de concurso público cujo edital prescreva como
atribuições do cargo atividades específicas de biólogo. Da análise da Lei 6.684/1979 e dos Decretos
88.438/1983 e 88.439/1983, extrai-se a conclusão de que as profissões de biólogo e de biomédico, apesar
de se assemelharem em alguns pontos, são distintas, com atribuições e áreas de atuação próprias. Foram,
inclusive, reguladas por atos normativos diversos e seus profissionais são registrados em conselhos
profissionais distintos. Dessa forma, a Administração, entendendo necessitar de biólogos, não é obrigada a
aceitar, em concurso destinado a suprir essa necessidade, profissionais de outras áreas.
REsp 1.331.548-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DE IR SOBRE O LUCRO AUFERIDO EM OPERAÇÃO DE VENDA DE TDA.


Incide imposto de renda sobre o ganho de capital oriundo da diferença positiva entre o preço de aquisição
e o preço de venda de TDA a terceiros. O recebimento de indenização em virtude de desapropriação para
fins de reforma agrária não entra no cômputo do rendimento bruto da pessoa física ou do lucro real da
pessoa jurídica, mesmo se for apurado nessa transferência ganho de capital, consoante o art. 22, parágrafo
único, da Lei 7.713/1988 e o art. 184, § 5º, da CF/1988. Outrossim, não é tributada a operação financeira
consistente na obtenção do rendimento do título da dívida agrária — TDA. Essas “isenções” têm recebido
amparo no STJ e foram estendidas pela jurisprudência aos terceiros portadores do título no que diz respeito
ao resgate do seu valor principal ou dos valores correspondentes a juros compensatórios e moratórios ali
previstos. Ocorre que, na hipótese tratada, o que se pretende excluir da tributação é a própria operação de
compra e venda desses títulos no mercado, ou seja, uma operação financeira como outra qualquer, suscetível
de gerar rendimento tributável (art. 43, I, do CTN). Trata-se de situação diferente da aquisição do título como
indenização pro soluto da desapropriação realizada, ou do recebimento dos juros que remuneram o título
enquanto não vencido o principal, ou do recebimento do valor do título quando de seu vencimento. A venda
de TDA pode gerar lucro ou prejuízo se comparados os preços de aquisição e de venda. O lucro gerado é
ganho de capital que deve submeter-se à tributação do imposto de renda como qualquer outro título
mobiliário. Não há aí qualquer impacto na justa e prévia indenização, visto que a tributação somente ocorre
quando o título for alienado com lucro (ganho de capital) pelo expropriado ou pelo portador.
REsp 1.124.133-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCLUSÃO DE DEPENDENTE EM CONTRATO DE SEGURO DE SAÚDE.


Na hipótese de seguro de saúde contratado em momento anterior ao início da vigência da Lei
9.656/1998, caso não tenha sido garantido à titular segurada o direito de optar pela adaptação do
contrato ao sistema da nova lei (art. 35, caput, da Lei 9.656/1998), é possível a inclusão, na qualidade de
dependente, de neto, filho de uma de suas filhas originariamente indicada como dependente no referido
seguro. Isso porque, nesse contexto, não se admite impor ao contratante a restrição estabelecida no § 5º
do art. 35 da Lei 9.656⁄1998, segundo o qual a “manutenção dos contratos originais pelos consumidores
não-optantes tem caráter personalíssimo, devendo ser garantida somente ao titular e a seus dependentes
já inscritos, permitida inclusão apenas de novo cônjuge e filhos, e vedada a transferência da sua
30

titularidade, sob qualquer pretexto, a terceiros”. De fato, se não houve opção, por imperativo lógico, não se
pode considerar a titular segurada como não-optante, sendo, nesse caso, inaplicável a restrição.
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REsp 1.133.338-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 521 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg nos EREsp 1.262.401-BA; EAg 1.220.942-SP; REsp
1.138.695-SC; EREsp 1.121.981-RJ; AgRg no AREsp 272.247-GO; REsp 1.368.150-PE; REsp 1.045.753-RS.

DIREITO ADMINISTRATIVO
Ausência de direito subjetivo à nomeação se o edital estipula limitação

O candidato aprovado dentro do número de vagas NÃO tem direito líquido e certo à nomeação
caso o edital preveja a possibilidade de nomeação dos aprovados, conforme a disponibilidade
orçamentária existente, em número inferior ou superior ao das vagas colocadas em certame.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
João participou de um concurso público voltado à admissão de 21 servidores.
No edital do concurso havia a seguinte previsão:
“O concurso destina-se ao provimento de 21 vagas, podendo ocorrer o preenchimento de
número inferior ou superior a estas, de acordo com a disponibilidade orçamentária existente.”

João foi aprovado em 18º lugar, contudo, não foi chamado.

Como foi aprovado dentro do número de vagas, João terá direito líquido e certo de ser nomeado?
NÃO.

O entendimento atual do STJ e do STF é no sentido de que o candidato aprovado dentro do


número de vagas previstas no edital do concurso público possui direito subjetivo de ser
nomeado e empossado dentro do período de validade do certame.

Esta posição acima mencionada vale também para os casos de processo seletivo para a
contratação de servidores em caráter temporário. Assim, se foi aberto um certame para
selecionar servidores temporários e a pessoa foi aprovada dentro do número de vagas, ela
terá direito subjetivo de ser nomeada.
1

No caso de João, contudo, o edital foi claro ao afirmar que havia a possibilidade de serem
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nomeados aprovados em número inferior ou superior das vagas colocadas no certame,


conforme a disponibilidade financeira.

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Assim, para a 2ª Turma do STJ, o candidato aprovado dentro do número de vagas NÃO tem
direito líquido e certo à nomeação caso o edital preveja a possibilidade de nomeação dos
aprovados, conforme a disponibilidade orçamentária existente, em número inferior ou
superior ao das vagas colocadas em certame.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 35.211-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.

Acumulação de cargos

Havendo compatibilidade de horários, é possível a acumulação de cargos nas hipóteses


previstas na CF/88, ainda que a soma da carga horária ultrapasse o limite máximo de 60 horas
semanais previsto em Parecer da AGU e Acórdão do TCU.
Comentários É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público?

Em regra: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos.

Exceções: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI.
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;

No caso dos servidores públicos federais, importante mencionar que o tema foi
regulamentado pela Lei n. 8.112/90:
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação
remunerada de cargos públicos.
(...)
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da
compatibilidade de horários.

Parecer-AGU nº GQ-145/1998:
Com o objetivo de disciplinar a matéria, a Advocacia Geral da União (AGU) emitiu o parecer
nº GQ-145, vinculante, afirmando que o servidor somente poderá acumular cargos se
houver compatibilidade de horário e desde que a jornada máxima não ultrapasse 60 horas
semanais. Assim, para a AGU, mesmo que exista compatibilidade de horários, se a jornada
semanal ficar acima de 60 horas, a acumulação não seria permitida, considerando que o
servidor estaria muito cansado e isso atrapalharia seu desempenho funcional, em prejuízo
ao princípio constitucional da eficiência.

TCU Acórdão 2.133/05


A jurisprudência do TCU também tem se manifestado no mesmo sentido da AGU, admitindo
como limite máximo em casos de acumulação de cargos ou empregos públicos a jornada de
trabalho de 60 horas semanais. É o caso, por exemplo, do Acórdão 2.133/05.

Posição do STJ
2

Muitos servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para
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manterem a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas.

INFORMATIVO esquematizado
A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?
Para o STJ, havendo compatibilidade de horários, é possível a acumulação de cargos, ainda
que a soma da carga horária ultrapasse o limite máximo de 60 horas semanais.

Argumentos:
O art. 37, XVI, da CF e o art. 118, § 2º, da Lei 8.112/1990 somente condicionam a
acumulação lícita de cargos à compatibilidade de horários, não havendo qualquer
dispositivo que estabeleça limite máximo, diário ou semanal, à carga horária a ser
cumprida;
O Parecer da AGU e o Acórdão do TCU não possuem força normativa capaz de se
sobrepor à garantia constitucional e legal.
Ademais, mostra-se desarrazoado negar o referido direito com fundamento em mera
presunção de que a realização de jornada de trabalho superior a 60 horas semanais
comprometeria a qualidade do serviço a ser prestado.

(...) O art. 37, XVI da Constituição Federal, bem como o art. 118, § 2º da Lei 8.112/90, somente
condicionam a acumulação lícita de cargos à compatibilidade de horários, não havendo
qualquer previsão que limite a carga horária máxima desempenhada, diária ou semanal.
2. Dessa forma, estando comprovada a compatibilidade de horários, não há que se falar em
limitação da carga horária máxima permitida. Precedentes desta Corte. (...)
(AgRg no AREsp 291.919/RJ, Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª Turma, julgado em 18/04/2013)

(...) A jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de afastar o Parecer AGU
GQ-145/1998, no que tange à limitação da carga horária máxima permitida nos casos em
que há acumulação de cargos, na medida em que o referido ato não possui força normativa
para regular a matéria. (...)
(AgRg no REsp 1168979/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 04/12/2012)

Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 291.919-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/4/2013.

Processo administrativo (prova emprestada)

É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada


validamente produzida em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória.
Comentários É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada
validamente produzida em processo criminal?
SIM. A jurisprudência do STJ e do STF são firmes no sentido de que é admitida a utilização
no processo administrativo de “prova emprestada” do inquérito policial ou do processo
penal, desde que autorizada pelo juízo criminal e respeitado o contraditório e a ampla
defesa (MS 17.472/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, julgado em
13/6/2012).

Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha
transitado em julgado?
SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada
validamente produzida em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado
3

da sentença penal condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da sentença proferida


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no processo criminal não repercute na instância administrativa, tendo em vista a


independência existente entre as instâncias.

INFORMATIVO esquematizado
É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova
emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal?
SIM, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com
observância das demais exigências contidas na Lei n. 9.296/1996 (STJ. 3ª Seção. MS
14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/9/2012).
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/4/2013.

Processo administrativo (excesso de prazo na conclusão)

O excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar não gera, por si só,
qualquer nulidade no feito, desde que não haja prejuízo para o acusado. Isso porque não se
configura nulidade sem prejuízo (pas de nulité sans grief).
Comentários É pacífica a jurisprudência no sentido de que o extrapolar do prazo - em processos
administrativo disciplinares - não enseja por si só qualquer nulidade ao feito. O excesso de
prazo só tem o condão de macular o processo administrativo se sua duração se reverter em
fundado e evidenciado prejuízo, pois não há falar em nulidade sem prejuízo (pas de nulité
sans grief).

O excesso de prazo para o encerramento do processo administrativo disciplinar, por si, não
acarreta nulidade, cabendo ao interessado comprovar prejuízo ao direito de defesa, o que
não ocorreu nestes autos.
(MS 16.815/DF, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Primeira Seção, julgado em 11/4/2012)
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/4/2013.

DIREITO CIVIL

Bem de família

Tratando-se de bem de família que se constitua em imóvel rural, é possível que se determine a
penhora da fração que exceda o necessário à moradia do devedor e de sua família.
Comentários Espécies de bem de família
No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família:
a) Bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil)
b) Bem de família legal (Lei n. 8.009/90).

Bem de família legal


Consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar.
Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para
moradia permanente.
Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados
como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver
sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de
família convencional).

Proteção conferida ao bem de família legal


O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil,
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comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos


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pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na
Lei n. 8.009/90.

INFORMATIVO esquematizado
No caso de bem de família rural, a proteção abrange apenas a sede da moradia
A proteção conferida ao bem de família rural abrange apenas a sede da moradia, conforme
se pode constatar pelo § 2º do art. 4º da Lei n. 8.009/90:
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade
restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º,
inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como pequena propriedade rural.

Assim, tratando-se de bem de família que se constitua em imóvel rural, é possível que o juiz
determine a penhora da fração que exceda o necessário à moradia do devedor e de sua família.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.237.176-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/4/2013.

Fraude contra credores, ação pauliana e terceiro adquirente de boa-fé

Em uma ação pauliana, se ficar comprovado que o bem foi sucessivamente alienado
fraudulentamente para diversas pessoas, mas que, ao final, o atual adquirente estava de boa-fé,
neste caso deverá o juiz reconhecer que é eficaz o negócio jurídico por meio do qual o último
proprietário adquiriu o bem, devendo-se condenar os réus que agiram de má-fé a indenizar o
autor da pauliana, pagando o valor do bem que foi adquirido fraudulentamente.
Comentários FRAUDE CONTRA CREDORES (ou FRAUDE PAULIANA)

Em que consiste:
Ocorre quando o devedor insolvente ou próximo da insolvência aliena (gratuita ou
onerosamente) seus bens, com o objetivo de impedir que seu patrimônio seja utilizado
pelos credores para saldar as dívidas.
É classificado como sendo um “vício social”.

Exemplo:
Honofre contraiu um empréstimo e não mais conseguiu pagar as parcelas. Antes que o
mutuante buscasse judicialmente o cumprimento da obrigação, ele transferiu o seu carro
(único bem que possuía em seu nome) ao irmão, que sabia de toda a situação.

Previsão:
A fraude contra credores é um instituto de direito material e encontra-se previsto nos arts.
158 a 165 do CC.

Natureza da alienação fraudulenta:


Se for reconhecida a ocorrência de fraude contra credores, a alienação realizada será
considerada válida, anulável ou nula?

1ª corrente: 2ª corrente:
ANULÁVEL VÁLIDA, mas INEFICAZ perante o credor
Foi a corrente adotada pelo CC-2002 se Para esta outra corrente, a alienação é
considerarmos a sua redação literal. Veja: válida, mas ineficaz perante o credor.

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os Há alguns acórdãos do STJ que defendem
contratos onerosos do devedor insolvente, esta posição: REsp 971884/PR, Rel. Min.
quando a insolvência for notória, ou Sidnei Beneti, julgado em 22/03/2011;
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houver motivo para ser conhecida do outro REsp 1.100.525-RS, Rel. Min. Luis Felipe
contratante. Salomão, julgado em 16/4/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Nesse sentido: Nelson Nery, Sílvio Na doutrina, é sustentada por Yussef
Rodrigues, Luiz Guilherme Marinoni. Cahali, Dinamarco, Teori Zawascki.

Quais são os pressupostos que devem ser provados pelo credor:

a) Eventus damni (dano): é o prejuízo provocado ao credor. Deverá ser demonstrado que a
alienação acarretou prejuízo ao credor porque esta disposição dos bens levou o devedor à
insolvência ou agravou ainda mais esse estado. É classificado como pressuposto objetivo.

b) Consilium fraudis: é o conluio fraudulento entre o alienante e o adquirente. Para que haja
a anulação, o adquirente precisa estar de má-fé. É o pressuposto subjetivo.

Obs1: o art. 159 do CC presume a má-fé do adquirente (presume o consilium fraudis) em


duas hipóteses:
• Quando a insolvência do devedor/alienante for notória. Ex: Varig.
• Quando houver motivo para que a insolvência do devedor/alienante seja conhecida do
outro contratante. Ex: se o negócio jurídico for celebrado entre dois irmãos ou entre sogro e
genro.

Obs2: não é necessário provar o consilium fraudis caso a alienação tenha sido gratuita ou
caso o devedor tenha perdoado a dívida de alguém. Veja:
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o
devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser
anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

Pressupostos da fraude contra credores


No caso de alienação onerosa: Na alienação gratuita ou remissão de dívida:
Eventus damni + consilium fraudis Exige-se apenas o eventus damni.

c) Anterioridade do crédito:
Além do eventus damni e do consilium fraudis, para que reste configurada a fraude contra
credores exige-se que o crédito seja anterior à alienação.
Assim, em regra, somente quem já era credor no momento da alienação fraudulenta é que
poderá pedir a anulação do negócio jurídico.
Excepcionalmente, contudo, o STJ afirma que este requisito da anterioridade pode ser
dispensado se for verificado que houve uma fraude predeterminada em detrimento de
credores futuros (REsp 1092134/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/08/2010). Em
outras palavras, a pessoa, já sabendo que iria ter dívidas em um futuro próximo, aliena seus
bens para evitar que os credores tenham como cobrá-lo.

Como é reconhecida a fraude contra credores?


Para que seja reconhecida a fraude, é necessária a prolação de sentença em uma ação
proposta pelo credor, chamada de “ação pauliana” (ou “ação revocatória”).
Curiosidade: a ação pauliana (pauliana actio) é assim denominada por ter sido idealizada no
direito romano, pelo conhecido “Pretor Paulo”.

Legitimidade para a ação:


Polo ativo:
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Em regra, a ação deverá ser proposta pelo credor quirografário que foi lesado.
O credor que possua uma garantia contra o devedor/alienante, em tese, não tem interesse

INFORMATIVO esquematizado
de ajuizar a ação, mas poderá fazê-lo caso demonstre que a sua garantia se tornou
insuficiente em razão da alienação promovida pelo devedor.

Polo passivo:
Em regra, a ação é proposta contra o devedor insolvente e contra a pessoa que com ele
celebrou o negócio fraudulento (há um litisconsórcio passivo necessário).
Se a pessoa que celebrou o negócio fraudulento já repassou o bem para uma terceira
pessoa, a ação será intentada contra o devedor insolvente, contra a pessoa que celebrou o
negócio com o devedor e contra o terceiro adquirente (deverá ser provado que o terceiro
agiu de má-fé). Veja o que diz o CC:
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou
terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.

Alienações sucessivas e boa-fé do último adquirente:


Imagine a seguinte situação adaptada:
Ricardo contraiu um empréstimo e não mais conseguiu pagar as parcelas. Antes que o
banco buscasse judicialmente o cumprimento da obrigação, ele transferiu um imóvel que
possuía a Hugo, que sabia de toda a situação. A fim de não despertar suspeitas, Hugo
transfere o bem para José (que também estava ciente do caso). José transfere o imóvel para
Luis (também mancomunado com eles). Luís, por sua vez, vende o terreno para Alexandre
(que não sabia da fraude e comprou o imóvel de boa-fé).

Ricardo (devedor) Hugo (má-fé) José (má-fé) Luís (má-fé) Alexandre (boa-fé)

Qual é a solução jurídica para este caso?


1) O adquirente de boa-fé (Alexandre) irá perder o bem e deverá se contentar com uma
indenização a ser paga pelo alienante? OU
2) O adquirente de boa-fé (Alexandre) permanece com o bem e o credor (banco) deverá
buscar indenização contra o devedor e os adquirentes de má-fé?

A solução jurídica a ser adotada é a segunda.

O CC-2002 estabelece o seguinte:


Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele
se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

A doutrina e o STJ entendem que, se o imóvel foi transferido para um terceiro de boa-fé,
não é mais possível restabelecer o status quo ante, considerando que a má-fé do
adquirente é fundamental para que ele possa ser compelido a perder o bem (parte final do
art. 161 do CC).

Assim, se o banco ajuizou uma ação pauliana contra Ricardo, Hugo, José, Luís e Alexandre e
ficou provado que este último estava de boa-fé, torna-se inviável o restabelecimento do
status quo ante. Neste caso, entende-se que o pleito do autor compreendia implicitamente
a substituição do bem pelo seu equivalente em dinheiro. O que isso quer dizer na prática?
Significa que o juiz, ao mesmo tempo em que reconhecer que não é mais possível retomar a
coisa, deverá também, desde já, condenar todos os “adquirentes” que agiram de má-fé a
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indenizar o autor da ação pauliana, pagando o valor do bem que foi adquirido
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fraudulentamente.

INFORMATIVO esquematizado
Em nosso exemplo, o juiz, na sentença, deverá manter Alexandre com o bem e condenar
Hugo, José e Luís a pagar, solidariamente com Ricardo, a indenização ao banco no valor do
bem que eles “adquiriram” fraudulentamente.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.100.525-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013.

Juros de mora no caso de responsabilidade civil de hospital por má prestação de serviços

A responsabilidade do hospital privado pela má prestação de serviços tem natureza contratual.


Caso o hospital seja condenado a pagar indenização por danos morais e materiais ao paciente
ou a seus familiares, o termo inicial dos juros de mora será a data da CITAÇÃO.
Comentários A responsabilidade do hospital privado pela má prestação de serviços tem natureza
contratual.
Caso o hospital seja condenado a pagar indenização por danos morais e materiais ao
paciente ou a seus familiares, o termo inicial dos juros de mora será a data da CITAÇÃO.
Em outras palavras, os juros de mora serão contados a partir da data em que o hospital foi
citado para responder a ação. Isso porque se trata de responsabilidade contratual e a
obrigação é ilíquida.
Para maiores informações, no site há uma tabela com o termo inicial dos juros de mora e da
correção monetária. Confira em:
http://www.dizerodireito.com.br/2013/07/termo-inicial-dos-juros-de-mora-e-da.html
Processo STJ. Corte Especial. EREsp 903.258-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 15/5/2013.

Responsabilidade civil em caso de roubo ocorrido em estacionamento privado


O cliente, após sacar dinheiro na agência, é roubado à mão armada em um estacionamento privado
que fica ao lado do banco, mas que não tem qualquer relação com a instituição financeira.
Neste caso, NÃO haverá responsabilidade civil da empresa de estacionamento por este fato. O
estacionamento se responsabiliza apenas pela guarda do veículo, não sendo razoável lhe impor o
dever de garantir a segurança e integridade física do usuário e a proteção dos bens portados por ele.
Comentários Se o cliente é assaltado no interior da agência, o banco tem o dever de indenizá-lo?
SIM. Trata-se de responsabilidade objetiva do banco, em razão do risco inerente à atividade
bancária (art. 927, parágrafo único do CC e art. 14 do CDC).
Art. 927 (...) Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

O banco poderá alegar caso fortuito ou força maior?


NÃO. Para o STJ, em se tratando de instituição financeira, os roubos às agências são eventos
totalmente previsíveis e até esperados, não se podendo admitir que o banco invoque as
excludentes de responsabilidade do caso fortuito ou força maior e culpa de terceiros (REsp
1.093.617-PE).

Se o cliente é assaltado no estacionamento do banco, a instituição também terá o dever de


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indenizá-lo?
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SIM. Continua havendo responsabilidade civil objetiva do banco (REsp 1.045.775/ES). Com
efeito, o estacionamento pode ser considerado como uma extensão da própria agência.

INFORMATIVO esquematizado
Se o cliente é assaltado na rua, após sacar dinheiro na agência, haverá responsabilidade
civil do banco?
NÃO. Não há como responsabilizar a instituição financeira na hipótese em que o assalto
tenha ocorrido fora das dependências da agência bancária, em via pública, sem que tenha
havido qualquer falha na segurança interna da agência bancária que propiciasse a atuação
dos criminosos após a efetivação do saque, tendo em vista a inexistência de vício na
prestação de serviços por parte da instituição financeira.
A mera alegação do cliente de que o autor do roubo deve tê-la observado sacar dinheiro do
banco não é suficiente para imputar responsabilidade à instituição bancária.
Além do mais, se o ilícito ocorre em via pública, é do Estado, e não do banco, o dever de
garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos.
(REsp 1.284.962-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2012).

Imagine agora que o cliente, após sacar dinheiro na agência, é roubado, à mão armada
em um estacionamento privado que fica ao lado do banco, mas que não tem qualquer
relação com a instituição financeira. Neste caso, haverá responsabilidade civil da empresa
de estacionamento?
NÃO. Não haverá responsabilidade civil da empresa privada de estacionamento.
O estacionamento se responsabiliza apenas pela guarda do veículo, não sendo razoável lhe
impor o dever de garantir a segurança e integridade física do usuário e a proteção dos bens
portados por ele.
Nesse contexto, ainda que o usuário, no seu subconsciente, possa imaginar que, parando o
seu veículo em estacionamento privado, estará protegendo, além do seu veículo, também a
si próprio, a responsabilidade do estabelecimento não pode ultrapassar o dever contratual
de guarda do automóvel, sob pena de se extrair do contrato consequências que vão além
do contratado, com clara violação do pacta sunt servanda.
A imposição de tamanho ônus aos estacionamentos de veículos (de serem responsáveis
pela integridade física e patrimonial dos usuários) mostra-se temerária, inclusive na
perspectiva dos consumidores, na medida em que a sua viabilização exigiria investimentos
que certamente teriam reflexo direto no custo do serviço, que hoje já é elevado (ex:
seguranças armados detectores de metal etc.).
(REsp 1.232.795-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/4/2013)

Se o estacionamento privado fosse oferecido pelo banco aos seus clientes e administrado
por uma empresa privada ?
Neste caso, tanto o banco como a empresa de estacionamento teriam responsabilidade
pelos danos decorrentes do roubo à mão armada, considerando que, ao oferecerem tal
serviço especificamente aos clientes do banco, assumiram o dever de segurança em relação
ao público em geral (Lei n. 7.102/1983), o qual não pode ser afastado por fato doloso de
terceiro (roubo e assalto), não sendo admitida a alegação de força maior ou caso fortuito,
mercê da previsibilidade de ocorrência de tais eventos na atividade bancária (AgRg nos EDcl
no REsp 844186/RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em
19/06/2012).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.795-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/4/2013.
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DIREITO EMPRESARIAL

Pagamento extracartular

Se o título de crédito ainda não circulou e a execução é proposta pelo próprio credor
originário, é possível que seja reconhecido o pagamento do título sem que a cártula tenha sido
resgatada pelo devedor (pagamento extracartular).
Comentários Imagine a seguinte situação:
Determinada imobiliária ajuizou execução de título extrajudicial contra Carlos, objetivando
o recebimento de 8 notas promissórias, cujo somatório atinge o valor de 30 mil reais.
Os títulos executivos são as notas promissórias, conforme previsto no art. 585, I, do CPC:
Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

Para que a pessoa proponha uma execução, é necessário o título executivo?


SIM. Em regra, somente poderá ser proposta uma execução se for juntado ou já estiver nos
autos o título executivo. Trata-se do princípio (rectius: regra) da nulla executio sine titulo, ou
seja, é nula a execução sem um título.

Esta regra é prevista no art. 614, I, do CPC:


Art. 614. Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a
petição inicial:
I - com o título executivo extrajudicial;

O que diz a doutrina sobre o tema:


“O título executivo é, na verdade, documento indispensável à propositura da ação e ao
desenvolvimento válido do processo executivo. É requisito da petição inicial da ação
executiva. É o documento que a lei exige para que se possa instaurar o procedimento
executivo. É um requisito de admissibilidade específico do procedimento executivo.”
(DIDIER JR., Fredie; et. al. Curso de Direito Processual Civil. Execução. Vol. 5. Salvador:
Juspodivm, 2013, p. 153).

Obs: existem autores que defendem ser possível, excepcionalmente, a execução sem título
executivo em alguns casos. É o chamado “princípio da execução sem título permitida”. Isso,
no entanto, não interessa no momento e será assunto para outra oportunidade.

A regra é a de que não há execução sem título.

Princípio da cartularidade
Como vimos acima, os títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, I).
Um dos princípios que rege os títulos de crédito é o da cartularidade.
Pelo princípio da cartularidade (ou incorporação), o direito de crédito representado no
título somente pode ser exercido se a pessoa tiver a posse legítima da cártula (documento
que materializa o título de crédito).
Ex: a pessoa somente pode cobrar o crédito que está descrito em uma nota promissória se
apresentar a própria nota promissória.
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Em suma, só existe o direito de crédito mencionado no título se houver a posse da cártula


(documento que materializa o título).
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INFORMATIVO esquematizado
Princípio da cartularidade e execução
Como uma decorrência do princípio da cartularidade, para que haja a execução do título de
crédito é necessário, em regra, que o autor da ação apresente a petição inicial
acompanhada do título original (não podendo ser juntada cópia, ainda que autenticada).
Ex: em uma execução de nota promissória, o exequente deverá juntar, obrigatoriamente, a
nota promissória original.

A exigência de que o exequente apresente o título de crédito original não é uma mera
formalidade. Exige-se o original porque os títulos de crédito são de fácil circulação e, se ele
não constasse no processo, poderia ser passado a outra pessoa. Assim, o devedor poderia
pagar a dívida na execução e, posteriormente, ser novamente cobrado por um terceiro que
houvesse recebido o título. Dessa forma, o executado poderia sofrer duas ou mais
execuções com base na mesma cambial. Seria um risco.

No entanto, apesar de essa ser a regra, o STJ admite, excepcionalmente, que o autor ajuíze
a execução com uma cópia autenticada, comprometendo-se a apresentar os originais
quando for requerido pelo juiz. Isso ocorre principalmente nos casos em que o título de
crédito executado materializa um valor muito alto, hipótese na qual seria arriscado que esta
cártula ficasse no processo, podendo ser facilmente retirado por uma pessoa de má-fé. Veja
um precedente neste sentido:
(...) 3. O fato de a inicial não estar instruída com as vias originais dos títulos executivos
extrajudiciais, como exige o artigo 614, I, do CPC, mas somente com as cópias autenticadas,
não retira deles a sua exigibilidade, liquidez e certeza. A exigência legal tem como fim
assegurar a impossibilidade de nova execução baseada na mesma cambial, ante sua
possível circulação, que, entrementes, não ocorre no caso, tendo em vista que a recorrente,
na peça vestibular, afirma que as cártulas poderão ser exibidas a qualquer tempo, por
determinação do magistrado.
4. O alto valor das cambiais justifica a cautela tomada pela recorrente, estando, portanto,
ausente má-fé em sua conduta.
5. Recurso especial conhecido e provido para restabelecer a sentença.
(REsp 595.768/PB, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Quarta Turma, julgado em 09/08/2005)
(...) A execução pode excepcionalmente ser instruída por cópia reprográfica do título
extrajudicial em que fundamentada, prescindindo da apresentação do documento original.
(...) (REsp 820.121/ES, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. p/ Acórdão Min. Sidnei
Beneti, Terceira Turma, julgado em 10/08/2010)

Ainda que o magistrado, no caso concreto, entenda ser indispensável a juntada do original,
ele não poderá extinguir o processo sem antes intimar o exequente para que este tenha
oportunidade de apresentar o título original:
(...) 2. Os artigos 283 e 614, I, do Código de Processo Civil devem ser interpretados de forma
sistemática, sem que haja descuido quanto à observância das demais regras e princípios
processuais, de modo que o magistrado, antes de extinguir o processo de execução, deve
possibilitar, nos moldes do disposto no artigo 616 do Código de Processo Civil, que a parte
apresente o original do título executivo. (...)
(REsp 924.989/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 05/05/2011)

Vamos voltar ao nosso exemplo. Você ainda se lembra dele?


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Determinada imobiliária ajuizou execução de título extrajudicial contra Carlos, objetivando


o recebimento de 8 notas promissórias, cujo somatório atinge o valor de 30 mil reais.
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Instruindo a petição inicial da execução, a exequente juntou as notas promissórias originais,


em atenção aos princípios da cartularidade e da nulla executio sine titulo.

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Defesa do executado
O executado opôs exceção de pré-executividade, alegando que já pagou as notas
promissórias que estão sendo executadas, pleiteando, assim, a extinção do processo.

Impugnação à exceção de pré-executividade


O exequente, por sua vez, impugnou a exceção de pré-executividade, argumentando que se
ele (credor) ainda estava na posse das notas promissórias, isso significaria que a dívida
ainda não tinha sido paga.
Para o exequente, em se tratando de títulos de crédito, vigora o princípio da literalidade, de
forma que o título de crédito vale pelo que nele está escrito. Não tendo sido dada quitação
no título e estando ele na posse do credor, presume-se a inadimplência do devedor.
Segundo alegou, ainda, o autor, o devedor somente poderia provar que pagou a dívida se
estivesse com os títulos de crédito em suas mãos ou se, na cártula, houvesse uma quitação
escrita pelo credor.
A tese do exequente é a de que qualquer pagamento fora do título (chamado de
pagamento extracartular) não possui validade cambial.

O que decidiu o STJ sobre o tema?


Os títulos de crédito sujeitam-se aos princípios da literalidade, autonomia e abstração.

a) Literalidade: os direitos resultantes do título são válidos pelo que nele se contém,
mostrando-se ineficazes, do ponto de vista cambiário, escritos (como a quitação, o aval
e o endosso) que não estejam na própria cártula. Existe uma frase que espelha este
princípio: “O que não está escrito no título não existe no mundo cambiário”.

b) Autonomia: o possuidor de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ser
atrapalhado por conta de relações jurídicas anteriores entre o devedor e antigos
possuidores do título. Assim, o possuidor de boa-fé do título de crédito não tem nada a
ver com o fato de o título ter vícios ou defeitos anteriores. Se ele é o atual possuidor e
está de boa-fé, tem direito ao crédito (obs: existem algumas exceções ao princípio da
autonomia, que não interessam no momento).

c) Abstração: os títulos de crédito, quando circulam, ficam desvinculados da relação que lhe
deu origem. Ex: João comprou um notebook de Ricardo, entregando-lhe uma nota
promissória. Ricardo endossou a nota promissória para Rui. Ricardo acabou nunca levando
o computador para João. Rui (que estava de boa-fé) poderá cobrar de João o crédito
constante da nota promissória e o fato do contrato não ter sido cumprido não poderá ser
invocado para evitar que João pague o débito. Isso porque, como o título circulou, ele já não
tem mais nenhuma vinculação com o negócio jurídico que lhe deu origem.

Os princípios acima elencados têm por objetivo conferir segurança jurídica ao tráfego
comercial e à circulação do crédito. Se a pessoa que recebeu um título de crédito
(aparentemente válido) pudesse ficar sem o dinheiro por força de vícios anteriores ou por
conta de uma quitação que não consta na cártula, isso geraria um enorme risco ao
portador, o que desestimularia as pessoas a aceitarem títulos de crédito.

Como bem assinala Rubens Requião, citado pelo Ministro Relator do julgado em análise:
“é necessário que na circulação do título, aquele que o adquiriu, mas que não conheceu ou
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participou da relação fundamental ou da relação anterior que ao mesmo deu nascimento


ou circulação, fique assegurado de que nenhuma surpresa venha perturbar o seu direito de
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crédito por quem com ele não esteve em relação direta” (REQUIÃO, Rubens. Curso de
Direito Comercial. 27 ed.: Saraiva, São Paulo, v. 2, 2010, p. 417).
INFORMATIVO esquematizado
Assim, a princípio, de fato, se o devedor alega que já pagou a dívida, mas o título de crédito
não está em seu poder e na cártula não consta nenhuma quitação, presume-se que ele
ainda esteja inadimplente. Esta afirmação, a princípio, é correta.

Contudo, os referidos princípios (literalidade, autonomia e abstração) perdem força e são


relativizados quando o título ainda não circulou e quem está executando é o próprio credor
originário da cártula. Isso porque, neste caso, a relação entre credor e devedor é contratual
(e não cambiária). Veja um precedente do STJ:
(...) 2. O cheque ostenta a natureza de título de crédito, portanto, é não-causal (CPC, art.
585, I), ou seja, em decorrência de sua autonomia e abstração, não comporta discussão
sobre o negócio jurídico originário. Entretanto, se o cheque não houver circulado, estando,
pois, ainda atrelado à relação jurídica originária estabelecida entre seu emitente (sacador) e
seu beneficiário (tomador), é possível que se discuta a causa debendi. (...)
(REsp 1228180/RS, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 17/03/2011)

Logo, é possível que o devedor prove o pagamento extracartular, ou seja, mesmo que não
conste no título quando este ainda esteja em poder do credor originário. Não se aplica, ao
caso, o princípio da literalidade.
Desmateria- O princípio da cartularidade não é absoluto e tem sido relativizado atualmente em virtude,
lização dos principalmente, dos avanços tecnológicos e da comodidade do papel ser substituído por
títulos de títulos de crédito virtuais, ou seja, títulos de crédito que não estão materializados em um
crédito suporte físico (papel), estando guardados em um banco de dados virtual (memória de
computador, por exemplo). Neste sentido, a doutrina fala que tem havido uma
“desmaterialização do título de crédito”. O exemplo mais emblemático disso são as
chamadas “duplicatas virtuais”, ou seja, aquelas emitidas e recebidas por meio magnético
ou de gravação eletrônica. As duplicatas virtuais não existem em “papel” e mesmo assim
são consideradas válidas pelo STJ, podendo ser protestadas por mera indicação, de modo
que a exibição do título não é imprescindível para o ajuizamento da execução, conforme
previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997 (EREsp 1.024.691-PR, Rel. Min.
Raul Araújo, julgados em 22/8/2012).

A desmaterialização dos títulos de crédito está autorizada também pela legislação:


Código Civil:
Art. 889. (...) § 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador
ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os
requisitos mínimos previstos neste artigo.

Código de Processo Civil:


Art. 365 (...) § 2º Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou outro
documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o seu depósito em
cartório ou secretaria.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.078.399-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/4/2013.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência da Justiça Comum Estadual no caso de cobrança de verbas por profissional liberal

Se o autor ajuiza ação contra empresa alegando que era colaborador autônomo, como
profissional liberal, e pede condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais e
materiais, tal demanda é de competência da Justiça Comum Estadual.

Aplica-se, no caso, o mesmo raciocínio presente na Súmula 363 do STJ: Compete à Justiça
estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente.
Comentários Imagine a seguinte situação:
João prestava serviços, de forma autônoma e sem subordinação, a uma agência de
publicidade como colaborador. Ocorre que ele foi descredenciado da relação de
colaboradores da agência.

Diante disso, João ajuizou uma ação de indenização contra a agência cobrando comissões
por serviços prestados e que não teriam sido pagos, além de compensação por danos
morais em razão de serem infundadas as acusações que o levaram a ser descredenciado.

Esta demanda deverá ser proposta na Justiça comum estadual ou na Justiça do Trabalho?
O STJ entendeu que a competência é da JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.

Segundo o STJ, a competência para o julgamento de uma ação é fixada em razão da


natureza da causa.

E como se define a natureza de uma causa?


A natureza da causa é definida pelo pedido e pela causa de pedir que foram apresentados
pelo autor na petição inicial.
Desse modo, a competência é definida pelo que o autor alega e pede na ação.

No caso concreto, o pedido e a causa de pedir deduzidos pelo autor relacionam-se com a
prestação de serviços feita por um profissional liberal, de forma autônoma e sem
subordinação. Em nenhum momento o autor alegou que mantinha relação de trabalho com
a agência de publicidade e também não buscou reconhecimento de relação trabalhista ou o
recebimento de eventual verba daí decorrente.

A causa de pedir e o pedido deduzidos pelo autor relacionam-se, repita-se, com os serviços
prestados por ele como profissional liberal.

Assim, aplica-se, no caso, o mesmo raciocínio presente na Súmula 363 do STJ: Compete à
Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal
contra cliente.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 118.649-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 24/4/2013.
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Competência da Justiça Federal e instituições de ensino superior

A Justiça Federal tem competência para o julgamento de demanda em que se discuta a existência
de obstáculo à obtenção de diploma após conclusão de curso de ensino à distância em razão de
problema no credenciamento da instituição de ensino superior pelo Ministério da Educação.
Vale ressaltar que, neste caso, a demanda foi proposta contra a instituição e a União.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
João cursava uma faculdade, na modalidade à distância, tendo concluído integralmente o
curso e colado grau. Apesar disso, ele não consegue obter o diploma devidamente
registrado em razão da instituição de ensino não estar credenciada pelo Ministério da
Educação, órgão da União.

João quer ajuizar uma ação para conseguir a entrega do diploma de conclusão de curso de
ensino superior, devidamente registrado, e o recebimento de indenização por danos morais.

Contra quem e em qual juízo deverá ser proposta esta demanda?


Contra a instituição de ensino superior e contra a União, sendo demanda de competência
da Justiça Federal.

Quadro-resumo:
De quem é a competência para julgar ações propostas contra instituição privada de ensino
superior?

AÇÃO COMPETÊNCIA
Em caso de mandado de segurança Justiça Federal
Ação (diferente do MS) discutindo questões privadas relacionadas ao
contrato de prestação de serviços firmado entre a instituição de ensino Justiça Estadual
e o aluno (exs: inadimplemento de mensalidade, cobrança de taxas etc).
Ação (diferente do MS) discutindo registro de diploma perante o órgão
público competente ou o credenciamento da entidade perante o Justiça Federal
Ministério da Educação (obs: neste caso a União deverá figurar na lide).

A conclusão acima exposta também se aplica aos casos de ensino à distância. Isso porque,
conforme a interpretação sistemática dos arts. 9º e 80, § 1º, da Lei 9.394/1996, à União
cabe a fiscalização e o credenciamento das instituições de ensino que oferecem essa
modalidade de prestação de serviço educacional.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.344.771-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 24/4/2013.

A assistência exige interesse jurídico (art. 50 do CPC)

O acionista de uma sociedade empresária, a qual, por sua vez, tenha ações de outra sociedade,
não pode ingressar em processo judicial na condição de assistente simples da última no caso
em que o interesse em intervir no feito esteja limitado aos reflexos econômicos de eventual
sucumbência da sociedade que se pretenda assistir.
Comentários O que é a assistência?
A assistência é uma forma de intervenção de terceiros por meio da qual um terceiro
ingressa em processo alheio para auxiliar uma das partes na demanda (DIDIER, Fredie.
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Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 388).


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Por que o direito permite que um estranho ingresse no processo para ajudar uma das partes?
Porque este estranho (terceiro) possui interesse jurídico no desfecho da causa.
Assim, para que o terceiro possa intervir no processo como assistente ele deverá
demonstrar ao juiz que, se a parte a ser assistida perder a causa, ele (assistente) poderá
sofrer um prejuízo jurídico.

Se o interesse do terceiro na causa for apenas econômico, poderá haver a assistência?


NÃO. “Somente será admitido como assistente o terceiro que demonstrar estar sujeito a ser
afetado juridicamente pela decisão a ser proferida em processo do qual não participa,
sendo irrelevante a justificativa no sentido de que sofrerá eventual prejuízo de ordem
econômica ou de qualquer natureza.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de
Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2010, p. 220).

A exigência de interesse jurídico para a assistência encontra-se prevista no art. 50 do CPC:


Art. 50. Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse
jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir no processo para
assisti-la.

Em suma, o instituto da assistência é modalidade espontânea ou voluntária de intervenção


de terceiro, que reclama, como pressuposto, interesse jurídico que se distingue do interesse
meramente econômico (Min. Humberto Martins).

Caso julgado pelo STJ (com adaptações):


A empresa Y litiga contra a empresa Z.
Pedro é acionista da empresa X.
A empresa X é acionista da empresa Y.
Pedro pede para intervir no litígio envolvendo a empresa Y contra a empresa Z, sob o
argumento de que, se Y perder a demanda, poderá vir a ter que arcar com este prejuízo.
Resta claro, portanto, que o interesse de Pedro é meramente econômico, o que não admite
sua intervenção como assistente, nos termos do art. 50 do CPC.
Adendo: O parágrafo único do art. 5º da Lei n.º 9.469/97 prevê uma modalidade de intervenção sui
Lei 9.469/97 generis segundo a qual as pessoas jurídicas de direito público poderiam ingressar em um
processo alheio independentemente da demonstração de interesse jurídico, bastando que a
decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica.
Esta previsão não tem nada a ver com o caso acima explicado, mas é importante que você
conheça porque se trata de uma hipótese excepcional em que é permitida a intervenção de
terceiros com base em um interesse meramente econômico.
Trata-se de regra muito criticada pela doutrina, mas que pode ser cobrada em sua prova:
Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés,
autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais.
Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão
possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente
da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito,
podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o
caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão
consideradas partes.
Processo STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.262.401-BA, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/4/2013.
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Embargos infringentes

Ainda que, no mérito, o pedido formulado em ação rescisória tenha sido julgado procedente
por unanimidade de votos, é cabível a interposição de embargos infringentes na hipótese em
que houver desacordo na votação no que se refere à preliminar de cabimento da referida ação.
Comentários Embargos infringentes são uma espécie de recurso.
Os embargos infringentes só cabem para questionar acórdão.
Não basta, contudo, que seja acórdão, é preciso que ele seja NÃO UNÂNIME, ou seja,
acórdão em que houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes é a de renovar a discussão para fazer prevalecer as
razões do voto vencido.

O que é mais difícil de entender, sendo o mais cobrado nos concursos, são as hipóteses de
cabimento dos embargos infringentes.

Segundo o art. 530 do CPC, cabem embargos infringentes somente em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reforma, em grau de apelação, a
sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julga procedente a ação rescisória.

1ª) contra acórdão não proferido por TJ ou TRF que julgou APELAÇÃO e REFORMOU a
unânime (por maioria) sentença de mérito
2ª) contra acórdão não proferido por Tribunal que julgou a tendo julgado
unânime (por maioria) (de 2ª instância ou AÇÃO RESCISÓRIA PROCEDENTE essa ação
superior) rescisória.

Prazo dos embargos infringentes: 15 dias


Quem julga: o próprio Tribunal, segundo as regras do regimento interno.

Exemplo da hipótese 1:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”.
O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito.
“B” interpõe apelação ao TJ.
O TJ, por meio de uma Câmara Cível, composta por 3 Desembargadores, reforma a
sentença do juiz, afirmando que “A” não tem direito à indenização. Dos 3
Desembargadores, 2 votaram pela reforma e 1 votou pela manutenção da sentença, ou
seja, o acórdão foi não unânime.
Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.

Exemplo da hipótese 2:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”.
O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito.
“B” interpõe apelação ao TJ que, no entanto, mantém a sentença.
Ocorre o trânsito em julgado.
“B” ajuíza ação rescisória e o Tribunal, por maioria, julga procedente a rescisória.
Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.

Imagine agora a seguinte situação:


O Tribunal foi julgar uma ação rescisória.
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Durante as discussões quanto à admissibilidade (cabimento) da ação rescisória, os


desembargadores, por maioria, decidiram conhecer da ação.
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Conhecida a ação, o Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a rescisória.

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Será possível a oposição de embargos infringentes contra este acórdão?
SIM. Segundo decidiu o STJ, ainda que no mérito o pedido formulado em ação rescisória
tenha sido julgado procedente por unanimidade de votos, é cabível a interposição de
embargos infringentes na hipótese em que houver desacordo na votação no que se refere à
preliminar de cabimento da referida ação.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 646.957-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/4/2013.

Recurso especial

Não é possível conhecer de recurso especial interposto sem assinatura de advogado.


Se não consta a assinatura no recurso especial este deve ser considerado como inexistente.
Comentários Dr. Fulano interpõe recurso especial, no entanto, esquece de assinar a petição.

Este recurso poderá ser conhecido e ter seu mérito analisado?


NÃO. Considera-se inexistente recurso interposto sem a assinatura de advogado, na
instância especial.

O art. 13 do CPC determina o seguinte:


Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das
partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito.

Antes de denegar seguimento ao REsp, seria possível intimar a parte para que corrigisse este
erro, nos termos do art. 13 do CPC?
NÃO. Segundo o STJ e o STF, a regra do art. 13 do CPC não é aplicável nas instâncias
extraordinárias. A instância especial é inaugurada tão logo seja manejado recurso a ela
dirigido, sendo inviável a abertura de prazo para a regularização de vício formal, ante a
ocorrência de preclusão consumativa.

Se, ao invés de um REsp, tivesse sido interposta uma apelação ou um agravo no TJ/TRF, sem
assinatura do advogado, poderia ser aplicado o art. 13 do CPC?
SIM. Segundo entende o STJ, o recurso sem assinatura do procurador (advogado) NÃO é
inexistente nas instâncias ordinárias, devendo o magistrado, à luz do art. 13 do CPC,
propiciar à parte a oportunidade de sanar o vício de representação antes do juízo de
admissibilidade, certificando tal fato.
Entretanto, na instância especial, não é dado à parte o direito de regularizar o recurso
apócrifo (sem assinatura), que é considerado inexistente.
(AgRg nos EDcl no Ag 1400855/BA, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado
em 17/04/2012).
Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 219.496-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/4/2013.
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Embargos de divergência exigem preparo

Não devem ser conhecidos os embargos de divergência interpostos na hipótese em que o


embargante não tenha comprovado, na data de interposição, o respectivo preparo, nem feito
prova de que goze do benefício da justiça gratuita.
Comentários Preparo
Preparo consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do
recurso.
“Preparar” o recurso é nada mais que pagar as despesas necessárias para que a máquina
judiciária dê andamento à sua apreciação. Logo, o depósito do preparo do recurso é uma
espécie de despesa processual.
O pagamento do preparo é feito, comumente, na rede bancária conveniada com o Tribunal.
O CPC afirma que a parte que está recorrendo da decisão precisa comprovar o preparo no
momento da interposição do recurso (art. 511).
Desse modo, em regra, o preparo (recolhimento do valor) deve ser feito antes da
interposição do recurso e junto com o recurso interposto o recorrente deve juntar o
comprovante do pagamento.

Preparo não comprovado na interposição do recurso


Se o recorrente, quando interpuser o recurso, não comprovar que fez o preparo, o seu
recurso será considerado deserto (deserção). Ainda que o recorrente tenha feito o
recolhimento, se ele, no momento da interposição do recurso, não comprovar que fez o
preparo, o recurso será deserto.

Deserção
Deserção é a inadmissibilidade do recurso pela falta de preparo. Se o recurso foi deserto
significa que ele não foi conhecido (não foi sequer apreciado). Gramaticalmente, desertar é
mesmo que abandonar.

Embargos de divergência
Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 496, VIII e 546 do CPC, bem
como nos regimentos internos do STF e do STJ.
Trata-se de recurso interposto e julgado pelo STF ou pelo STJ e que tem por objetivo
principal uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam
decisões conflitantes.

Exige-se preparo no caso de embargos de divergência?


SIM.

O que acontece se a parte opõe embargos de divergência sem comprovar, na data de


interposição, o respectivo preparo e sem fazer prova de que goza do benefício da justiça
gratuita?
Neste caso, os embargos de divergência não serão conhecidos (o recurso será considerado
deserto).
Processo STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.262.401-BA, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/4/2013.
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Exceção de pré-executividade

É possível ao executado alegar o pagamento do título de crédito por meio de exceção de pré-
executividade, desde que comprovado mediante prova pré-constituída.
Comentários Se o devedor está sendo executado, ele tem o direito de se defender. Qual é a defesa
típica do devedor executado no processo de execução de título extrajudicial?
No processo de execução (execução de título extrajudicial), a defesa típica do executado
são os EMBARGOS À EXECUÇÃO (embargos do devedor).
É possível também que o autor proponha exceção de pré-executividade.

O que é uma exceção de pré-executividade?


A exceção de pré-executividade é uma forma de defesa do executado que, por meio de uma
simples petição, alega ao juízo da execução matérias que podem ser provadas
documentalmente, não necessitando de outras provas.
Fredie Didier explica que, quando a exceção de pré-executividade foi idealizada, ela
somente servia para alegar matérias que pudessem ser conhecidas de ofício pelo juiz.
Contudo, com o tempo, a doutrina e a jurisprudência passaram a aceitá-la mesmo quando a
matéria deduzida não fosse de ordem pública (cognoscível de ofício), desde que houvesse
prova pré-constituída da alegação feita pelo executado.
Assim, segundo informa o autor baiano, o critério passou a ser o seguinte: qualquer
alegação de defesa pode ser veiculada por meio de exceção de pré-executividade, desde
que possa ser comprovada por pré-constituída (DIDIER JR., Fredie; et. al. Curso de Direito
Processual Civil. Vol. 5. Execução. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 403).

Alegação de pagamento por meio da exceção de pré-executividade


O Banco ajuizou uma execução de título extrajudicial contra Pedro, cobrando o valor
contido em uma nota promissória. Ocorre que ele já havia quitado este débito.

Para que Pedro possa se defender e alegar que já pagou a dívida, é necessário que ele
ofereça embargos à execução ou pode ser que argumente isso por meio de exceção de pré-
executividade?
É possível ao executado alegar o pagamento do título de crédito por meio de exceção de
pré-executividade, desde que comprovado mediante prova pré-constituída.

A exceção de pré-executividade é expediente processual excepcional que possibilita ao


executado, no âmbito da execução e sem a necessidade da oposição de embargos, arguir
matéria cognoscível de ofício pelo juiz que possa anular o processo executivo.

Dessa forma, considerando que o efetivo pagamento do título constitui causa que lhe retira
a exigibilidade e que é nula a execução se o título executivo extrajudicial não corresponder
a obrigação certa, líquida e exigível (art. 618, I, do CPC), é possível ao executado arguir essa
matéria em exceção de pré-executividade, sempre que para sua constatação, mostrar-se
desnecessária dilação probatória.
Nomencla- A expressão “exceção de pré-executividade”, apesar de ser bastante conhecida e utilizada
tura nos julgados do STJ, é criticada por alguns autores. Assim, você pode encontrar em alguns
livros esta defesa sendo chamada de “objeção de pré-executividade”, “objeção de não-
executividade” ou “exceção de não-executividade”.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.078.399-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/4/2013.
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Precatório

No caso em que a data de vencimento do precatório comum seja anterior à data de vencimento do
precatório de natureza alimentar, o pagamento daquele realizado antes do pagamento deste não
representa, por si só, ofensa ao direito de precedência constitucionalmente estabelecido.
A estrita observância da ordem cronológica deve se dar na respectiva classe.
Comentários Regime de precatórios
Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentença
judicial transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será
feito sob um regime especial chamado de “precatório” (art. 100 da CF/88).

“Fila” comum de pagamento dos precatórios (art. 100, caput, da CF/88)


O regime de precatórios é tratado pelo art. 100 da CF, assim como pelo art. 78 do ADCT.
No caput do art. 100 consta a regra geral dos precatórios, ou seja, os pagamentos devidos
pela Fazenda Pública em decorrência de condenação judicial devem ser realizados na
ordem cronológica de apresentação dos precatórios. Existe, então, uma espécie de “fila”
para pagamento dos precatórios:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem
cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais
abertos para este fim. (Redação dada pela EC 62/09)

“Fila” preferencial de pagamento dos precatórios de natureza alimentícia (§ 1º do art. 100)


No § 1º do art. 100 é previsto que os débitos de natureza alimentícia gozam de preferência
no recebimento dos precatórios. É como se existisse uma espécie de “fila preferencial”:
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários,
vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e
indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de
sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais
débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. (Redação dada pela EC 62/09).

Fila com “superpreferência” (§ 2º do art. 100)


O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como
beneficiários pessoas com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenças graves terão
uma preferência ainda maior. É como se fosse uma “fila com superpreferência”.

Recapitulando:
Os débitos da Fazenda Pública devem ser pagos por meio do sistema de precatórios.
Quem é pago em 1º lugar: créditos alimentares de idosos e portadores de doenças
graves.
Quem é pago em 2º lugar: créditos alimentares de pessoas que não sejam idosas ou
portadoras de doenças graves.
Quem é pago em 3º lugar: créditos não alimentares.

Obs: dentro de cada uma dessas “filas”, os débitos devem ser pagos conforme a ordem
cronológica em que os precatórios forem sendo apresentados.
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Caso concreto julgado pelo STJ


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“João” impetrou mandado de segurança pleiteando o sequestro de bens do Estado para


garantir o pagamento de seu precatório de natureza alimentar, sustentando ter havido

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preterição na ordem de pagamento, porque foi adimplido precatório de natureza comum
antes do alimentar.
Argumentou que o seu crédito, vencido em 31/12/2005, deveria ter sido pago no correr do
ano de 2006, o que não ocorreu, enquanto outros precatórios, de natureza não alimentar,
foram adimplidos.
O STJ entendeu que não ocorreu a quebra na ordem cronológica dos precatórios, porque se
os precatórios pertenceram a “filas” diferentes, cada uma delas terá a sua própria
sequência.
Assim, os precatórios de natureza alimentar seguem uma ordem que não pode ser
comparada com a dos precatórios comuns. Situando-se os precatórios em diferentes listas,
uma comum e outra alimentar, não há como compará-los.
No caso concreto, o precatório comum que João alegou que foi pago antes teve vencimento
em 2003, enquanto o precatório alimentar, devido a ele, venceu em 2005.
O pagamento do precatório vencido anteriormente (de 2003), ainda que de classe diversa
ao precatório de João (alimentício), não rompe com a ordem cronológica preconizada pela
Constituição Federal. Isso porque a única interpretação razoável que se pode dar ao texto
constitucional é no sentido de que a estrita observância da ordem cronológica deve se dar
na respectiva classe, segundo a ordem de inscrição. Em outras palavras, não pode um
precatório mais recente de uma classe ser pago antes que um mais antigo da mesma classe.
Tal não significa, no entanto, que todos os precatórios de natureza alimentícia terão que ser
pagos antes que os precatórios comuns, sob pena de praticamente inviabilizar-se qualquer
pagamento de precatório de natureza comum.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 35.089-MG, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 9/4/2013.

DIREITO PENAL
Prescrição
Para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se refere o art.
117, IV, do CP, considera-se como publicado o “acórdão condenatório recorrível” na data da
sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação no Diário da Justiça ou em meio
de comunicação congênere.
A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas
não influencia na contagem do prazo da prescrição.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Determinado Prefeito estava respondendo a uma ação penal, que tramitava no TJ em razão
do foro por prerrogativa de função.
Deve-se lembrar que os Prefeitos são processados e julgados pelo TJ (art. 29, X, da CF/88).
O fato criminoso ocorreu em janeiro de 1998.
A denúncia foi recebida em 04/11/2002.
Em 28/10/2010, foi realizada a sessão de julgamento do réu pelo TJ, tendo ele sido
condenado a 2 anos e 3 meses de reclusão.
O acórdão condenatório foi publicado na Imprensa Oficial em 28/04/2011.

O MP não recorreu, de forma que essa pena tornou-se definitiva para a acusação.
A defesa, por seu turno, opôs embargos de declaração, alegando que houve prescrição
retroativa pela pena em concreto.
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Será que houve? Vejamos:


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Para calcular a prescrição, deve-se considerar a pena concretamente imposta (2 anos e 3


meses).

INFORMATIVO esquematizado
Qual é o prazo prescricional caso a pena fixada tenha sido de 2 anos e 3 meses?
8 anos, conforme previsto no art. 109, IV c/c art. 110 do CP.

Quais são as causas que interrompem o prazo prescricional?


O art. 117 do CP traz os momentos em que o prazo da prescrição é interrompido.
Interrupção do prazo significa que ele é zerado e recomeça a ser contado a partir daquela data.
Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência.

No caso concreto, a defesa alegava que entre o recebimento da denúncia (em 04/11/2002) e a
publicação do acórdão condenatório (em 28/04/2011) já havia se passado mais de 8 anos.
Logo, estaria prescrita a pena imposta pelo crime do art. 288 do CP. O que decidiu o STJ em
um caso parecido com este?
Não houve prescrição. A sessão de julgamento ocorreu no dia 28/10/2010, antes, portanto,
de terem se passado 8 anos da data do recebimento da denúncia.
Segundo a jurisprudência, a sessão em que realizado o julgamento da causa pode ser
considerada como marco interruptivo da prescrição, uma vez que em tal data a prestação
jurisdicional penal condenatória tornou-se pública (STF AP 396 ED/RO, rel. Min. Cármen
Lúcia, 13/12/2012).

Em outras palavras, para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo


prescricional a que se refere o art. 117, IV, do CP, considera-se como publicado o “acórdão
condenatório recorrível” na data da sessão pública de julgamento, e não na data de sua
veiculação no Diário da Justiça ou em meio de comunicação congênere.

A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas
não influencia na contagem do prazo da prescrição.

Logo, para fins do art. 117, IV, do CP, considera-se publicado o acórdão condenatório na
data em que realizada a sessão de julgamento pelo Tribunal, havendo aí a interrupção do
prazo prescricional.
Processo STJ. HC 233.594-SP, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira, julgado em 16/4/2013.
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Latrocínio

Latrocínio é o crime de roubo qualificado pelo resultado, em que o dolo inicial é o de subtrair
coisa, sendo que as lesões corporais ou a morte são decorrentes da violência empregada.

Embora haja divergência, prevalece no STJ que, se o agente consegue subtrair o bem da vítima,
mas não tem êxito em matá-la, há tentativa de latrocínio, desde que fique comprovado que
havia dolo de subtrair e dolo de matar.

Por esta razão, a jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que o crime de latrocínio
tentado se caracteriza independentemente da natureza das lesões sofridas pela vítima (se
leves, graves, gravíssimas), bastando que o agente, no decorrer do roubo, tenha agido com o
desígnio de matá-la.

Assim, como a gravidade das lesões experimentadas pela vítima não influencia para a
caracterização da tentativa de latrocínio, pouco importa que o laudo pericial que atestou as
lesões tenha irregularidades.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João, com um revólver em punho, adentrou em uma loja e anunciou um assalto.
O vendedor correu com medo e João, com animus necandi, contra ele atirou cinco vezes.
Apenas um dos tiros atingiu, de raspão, o braço da vítima, que sobreviveu.
Após os disparos, João retirou 500 reais do caixa do estabelecimento e fugiu.
Não foi realizado exame de corpo de delito na lesão provocada no braço da vítima.

Teses
O MP denunciou o agente por tentativa de latrocínio (art. 157, § 3º c/c art. 14, II, do CP):
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos,
além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

A defesa, por sua vez, alegou que houve apenas roubo majorado pelo emprego de arma de
fogo (art. 157, § 2º, I, do CP), tendo em vista que a vítima não morreu e que o laudo pericial
não afirmou que houve lesão corporal grave, conforme se exige do § 3º acima.

Em uma situação parecida com esta, o que decidiu o STJ?


Houve TENTATIVA DE LATROCÍNIO, ou seja, tentativa de roubo qualificado pelo resultado
morte (art. 157, § 3º c/c art. 14, II, do CP).

Roubo qualificado pelo resultado (§ 3º do art. 157 do CP):


Existem duas espécies de roubo qualificado pelo resultado:
a) Roubo qualificado pela lesão corporal (primeira parte do § 3º);
b) Roubo qualificado pela morte (segunda parte do § 3º).

Os dois são chamados de latrocínio?


NÃO. Apenas o roubo qualificado pela morte é denominado de latrocínio.

Como ocorre a consumação do latrocínio?


O entendimento majoritário é o seguinte (vide, ao final, observação sobre julgados do STF):
Subtração Morte Latrocínio
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Consumada Consumada Consumado


Tentada Tentada Tentado
Página

Consumada Tentada Tentado


Tentada Consumada Consumado (Súmula 610-STF)
INFORMATIVO esquematizado
Súmula 610-STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se
realize o agente a subtração de bens da vítima.

Dica: repare que a consumação do latrocínio será sempre determinada pela consumação ou
não da morte.

Segundo o Min. Jorge Mussi, “embora haja discussão doutrinária e jurisprudencial acerca de
qual delito é praticado quando o agente logra subtrair o bem da vítima, mas não consegue
matá-la, prevalece o entendimento de que há tentativa de latrocínio quando há dolo de
subtrair e dolo de matar, sendo que o resultado morte somente não ocorre por
circunstâncias alheias à vontade do agente.” (HC 201.175-MS).

Por esta razão, a jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que o crime de latrocínio
tentado se caracteriza independentemente da natureza das lesões sofridas pela vítima (não
importa se foram leves, graves ou gravíssimas), bastando que o agente, no decorrer do
roubo, tenha agido com o desígnio de matá-la:
(...) Para caracterizar o crime de tentativa de latrocínio, não é necessário aferir a gravidade
das lesões experimentadas pela vítima, bastando a comprovação de que, no decorrer do
roubo, o agente atentou contra a sua vida com o claro desígnio de matá-la, assim como
ocorreu na hipótese, não atingindo o resultado morte por circunstâncias alheias à sua
vontade. (...)
(REsp 1026237/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 28/06/2011)

Mais uma pergunta apenas para que não restem dúvidas:


O agente, durante o roubo (e em decorrência deste), atira contra a vítima, querendo matá-
la. Não consegue, mas a vítima sofre lesões corporais graves. Qual crime cometerá: roubo
qualificado pela lesão grave (1ª parte do § 3º do art. 157) ou latrocínio tentado (2º parte do
§ 3º do art. 157 c/c art. 14, II)?
TENTATIVA DE LATROCÍNIO (2º parte do § 3º do art. 157 c/c art. 14, II). É a posição do STJ
(vide quadro abaixo sobre precedentes do STF).

O fato de não ter sido realizado o exame de corpo de delito para atestar a natureza das
lesões provocadas na vítima auxilia a defesa?
NÃO. Como a gravidade das lesões experimentadas pela vítima não influencia para a
caracterização da tentativa de latrocínio, pouco importa que não tenha sido realizado exame de
corpo de delito para provar que houve lesão grave ou que este tenha irregularidades.

O CESPE já adotou, em um de seus concursos, o entendimento do STJ. Veja esta afirmação


considerada INCORRETA:
(Juiz TJPB 2011) Para se caracterizar o crime de tentativa de latrocínio, é necessário aferir a
gravidade das lesões experimentadas pela vítima, não bastando a comprovação de
atentado contra a vida da vítima, no decorrer do roubo, ainda que comprovado o claro
desígnio de matá-la (ERRADO).
STF Ressalte-se que há dois julgados do STF em sentido contrário ao que foi explicado acima.
Conforme estes precedentes do STF, se o ladrão atira contra a vítima, querendo matá-la,
não consegue, mas ela sofre lesões corporais graves, neste caso, o agente deveria
responder por roubo majorado pela arma em concurso com tentativa de homicídio
qualificado pela conexão (art. 121, § 2º, V, do CP).
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HC 91585, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, julgado em 16/09/2008.


RHC 94775, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 07/04/2009.
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Processo STJ. 5ª Turma. HC 201.175-MS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/4/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Medidas cautelares e fundamentação

Para a imposição de qualquer das medidas alternativas à prisão previstas no art. 319 do CPP é
necessária a devida fundamentação (concreta e individualizada). Isso porque essas medidas
cautelares, ainda que mais benéficas, representam um constrangimento à liberdade individual.
Comentários A prisão do réu antes do trânsito em julgado da sentença condenatória é considerada uma
medida cautelar penal, sendo, por isso, chamada de “prisão cautelar”.
Existem três espécies de prisão cautelar:
a) Prisão em flagrante;
b) Prisão preventiva;
c) Prisão temporária.

Para que a prisão cautelar seja decretada ou mantida, é indispensável uma decisão judicial
fundamentada (motivada), na qual seja exposta a necessidade do encarceramento antes do
trânsito em julgado.

O art. 319 do CPP prevê uma lista de medidas cautelares diversas da prisão.

A prisão é a última das medidas cautelares que deverá ser adotada. Assim, somente será
determinada a prisão quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar
(art. 282, § 6º do CPP).

Desse modo, a escolha de uma das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP é
providência mais benéfica que a decretação/manutenção da prisão cautelar.

Quando o juiz determina a aplicação de uma das medidas cautelares do art. 319 d CPP, é
necessário que ele fundamente sua decisão?
SIM, é claro. Para a imposição de qualquer das medidas alternativas à prisão previstas no
art. 319 do CPP é necessária a devida fundamentação (concreta e individualizada). Isso
porque essas medidas cautelares, ainda que mais benéficas, representam um
constrangimento à liberdade individual.
Assim, é necessária a devida fundamentação em respeito ao art. 93, IX, da CF/88 e ao
disposto no art. 282 do CPP:
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e,
nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais
do indiciado ou acusado.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 231.817–SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO INTERNACIONAL

Homologação de sentença estrangeira

É possível a homologação de sentença estrangeira de divórcio, ainda que não exista prova de
seu trânsito em julgado, na hipótese em que, preenchidos os demais requisitos, tenha sido
comprovado que a parte requerida foi a autora da ação de divórcio e que o provimento judicial
a ser homologado teve caráter consensual.
Isso porque quando a sentença a ser homologada tratar de divórcio consensual, será possível
inferir a característica de trânsito em julgado.
Comentários A decisão proferida pelo Poder Judiciário de um país produz efeitos em outro Estado
soberano?
A princípio não, porque uma das manifestações da soberania é o fato do Poder Judiciário do
próprio país ser o responsável pela resolução dos conflitos de interesses.
Assim, a princípio, uma decisão proferida pela Justiça dos EUA ou de Portugal, por exemplo,
não tem força obrigatória no Brasil, considerando que, por sermos um país soberano, a
função de dizer o direito é atribuída ao Poder Judiciário brasileiro.

Pode ser necessário, no entanto, que uma decisão no exterior tenha que ter eficácia no
Brasil. Como fazer para que isso ocorra?
Para que uma decisão proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa ser executada no
Brasil é necessário que passe por um processo de “reconhecimento” ou “ratificação” feito
pela Justiça brasileira.
“O processo de homologação de sentença estrangeira visa aferir a possibilidade de decisões
estrangeiras produzirem efeitos dentro da ordem jurídica nacional” (MARINONI, Luiz
Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São
Paulo: RT, 2008, p. 489).
Somente após esta homologação, a sentença estrangeira terá eficácia no Brasil.
Como ressalta Paulo Portela, “uma vez homologada, a sentença poderá produzir os mesmos
efeitos de uma sentença nacional” (Direito internacional público e privado. Salvador:
Juspodivm, 2010, p. 562).

No Brasil, quem é o órgão competente para análise e homologação de sentenças


estrangeiras?
O Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “i”, da CF/88).
Obs1: o STJ passou a ser competente para homologar sentenças estrangeiras por força da
EC 45/04. Antes desta alteração, a competência era do STF.
Obs2: cuidado ao ler o art. 483 do CPC porque ele menciona o STF, mas tal previsão foi
revogada pela EC 45/04, que previu o STJ como órgão jurisdicional competente para
homologação de sentença estrangeira.
Obs3: atualmente, a homologação de sentença estrangeira é regulamentada pela Resolução
n. 9/2005 do STJ.

Após a sentença estrangeira ser homologada, qual órgão será responsável pela sua
execução?
Após esta homologação, caso seja necessária a execução da sentença estrangeira, isso será
de competência da Justiça Federal de 1ª instância (art. 109, X, da CF/88).
A execução é feita por meio de carta de sentença extraída dos autos da homologação e
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obedecerá às regras estabelecidas para a execução da sentença nacional da mesma


natureza (art. 484 do CPC).
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INFORMATIVO esquematizado
As decisões interlocutórias e os despachos proferidos pela Justiça de outros países também
devem passar pelo processo de homologação para terem eficácia no Brasil?
NÃO. “As decisões interlocutórias e os despachos de mero expediente não são
homologáveis, por não terem natureza de sentença, e sim de meros atos processuais, que
devem ser cumpridos no Brasil por meio de carta rogatória” (PORTELA, idem, p. 565).
Vale ressaltar, no entanto, que, “serão homologados os provimentos não-judiciais que, pela
lei brasileira, teriam natureza de sentença” (art. 4º, § 1º, da Resolução n. 9/2005). É o caso
dos atos que no exterior são decididos por meio de autoridade administrativa, mas no Brasil
são objeto de decisão judicial.

A sentença estrangeira pode ser homologada apenas parcialmente?


SIM. As decisões estrangeiras podem ser homologadas parcialmente (§ 2º do art. 4º da
Resolução).

Quais são os requisitos que o STJ analisa ao homologar uma sentença estrangeira?
Para que a sentença estrangeira seja homologada é necessário que:
I – a sentença tenha sido proferida no exterior por autoridade competente;
II – as partes tenham sido citadas ou que tenha havido legalmente a revelia;
III – tenha havido o trânsito em julgado da sentença; e
IV – a sentença estrangeira esteja autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de
tradução por tradutor oficial ou juramentado no Brasil.
V – a sentença estrangeira não viole a soberania nacional, os bons costumes e a ordem
pública (a sentença estrangeira também não poderá violar uma sentença brasileira
transitada em julgado porque haveria aí uma afronta à soberania nacional).

Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito
em julgado.

Quando o STJ faz a análise da homologação ou não da sentença estrangeira, ele examina o
mérito do que foi decidido?
NÃO. Ao homologar uma sentença estrangeira, o STJ faz apenas um “juízo de delibação”, ou
seja, limita-se a analisar se os requisitos formais da sentença estrangeira foram atendidos.
Questões de mérito não podem ser examinadas pela Corte (SEC 5.828/EX, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, Corte Especial, julgado em 19/06/2013).

(...) Este Tribunal exerce juízo meramente delibatório nas hipóteses de homologação de
sentença estrangeira; vale dizer, cabe ao STJ, apenas, verificar se a pretensão atende aos
requisitos previstos no art. 5º da Resolução STJ n. 9/2005 e se não fere o disposto no art. 6º
do mesmo ato normativo. Eventuais questionamentos acerca do mérito da decisão
alienígena são estranhos aos quadrantes próprios da ação homologatória.
(AgRg na SEC 6.948/EX, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, julgado em 17/12/2012)

Assim, sentença estrangeira que não viola a soberania nacional, os bons costumes e a
ordem pública e que preenche as condições legais deve ser homologada (SEC 6.923/EX, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, julgado em 19/06/2013).

Homologação de sentença estrangeira e matérias de competência concorrente ou


cumulativa (art. 88 do CPC)
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No art. 88 do CPC, são previstas matérias que podem ser julgadas tanto no Brasil como
também por tribunais estrangeiros:
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INFORMATIVO esquematizado
Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - a ação se originar de fato ocorrido ou de fato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no nº I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa
jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.

A sentença proferida no estrangeiro a respeito de tais temas será eficaz no território


brasileiro, mas precisará ser homologada pelo STJ.

Mesmo que o tema já tenha sido decidido no exterior, enquanto esta sentença estrangeira
não for homologada pelo STJ, a Justiça brasileira pode julgar a mesma questão proferindo,
inclusive, veredicto contrário ao que foi deliberado na Justiça alienígena. Isso porque esta
sentença estrangeira ainda não produz efeitos no Brasil.

Assim, é possível que existam duas demandas: uma aqui e outra no estrangeiro. O art. 90
trata desta hipótese:
Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a
que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas.

Poderão existir duas sentenças sobre a mesma causa (uma no exterior e outra no Brasil). E
se elas forem contraditórias, qual irá valer?
Valerá a decisão em que primeiro tiver ocorrido o trânsito em julgado:
(...) Segundo o sistema processual adotado em nosso País em tema de competência
internacional (CPC, arts. 88 a 90), não é exclusiva, mas concorrente com a estrangeira, a
competência da Justiça brasileira para, entre outras, a ação de divórcio, de alimentos ou de
regime de guarda de filhos, e mesmo a partilha de bens que não sejam bens situados no
Brasil. Isso significa que "a ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz
litispendência, nem obsta que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e
das que lhe são conexas" (CPC, art. 90) e vice-versa.
2. Por isso mesmo, em casos tais, o ajuizamento de demanda no Brasil não constitui, por si
só, empecilho à homologação de sentença estrangeira (...), sendo que a eventual
concorrência entre sentença proferida pelo Judiciário brasileiro e decisão do STJ
homologando sentença estrangeira, sobre a mesma questão, se resolve pela prevalência da
que transitar em julgado em primeiro lugar. (...)
(SEC 4.127/EX, Rel. p/ Ac. Min. Teori Albino Zavascki, Corte Especial, julgado em 29/08/2012)

A comparação de trânsitos em julgado será entre a ação que tramitou no Brasil e a ação que
buscou o reconhecimento da sentença estrangeira (SEC). Veja:

Se a sentença estrangeira for homologada pelo STJ antes que tenha havido trânsito em
julgado no Brasil, a Justiça brasileira não mais poderá julgar a causa (o processo aqui
será extinto sem resolução do mérito por ofensa à coisa julgada material – art. 267, V,
do CPC). Valerá a sentença estrangeira homologada.

Por outro lado, se a sentença brasileira transitar em julgado antes da homologação da


sentença estrangeira, o STJ não poderá mais homologá-la já que havia ofensa à coisa
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julgada. Veja:
(...) Impede a homologação de sentença estrangeira referente à guarda de filhos menores a
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superveniência de decisão de autoridade judiciária brasileira proferida contrariamente


àquela que se pretende homologar, visto não poderem subsistir dois títulos contraditórios,

INFORMATIVO esquematizado
em manifesta afronta à soberania da jurisdição nacional. Precedentes desta Corte e do STF.
(...) (SEC 8.451/EX, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, julgado em
15/05/2013).

Se a sentença brasileira ainda não tiver sido transitado em julgado, não há óbice em se
homologar sentença estrangeira que tenha o mesmo objeto:
“A existência de ação ajuizada no Brasil com as mesmas partes, com o mesmo pedido e
com a mesma causa de pedir não obsta a homologação de sentença estrangeira
transitada em julgado.
Hipótese de competência concorrente (arts. 88 a 90 do Código de Processo Civil),
inexistindo ofensa à soberania nacional.”
(AgRg na SE 4.091/EX, Rel. Min. Ari Pargendler, Corte Especial, julgado em 29/08/2012)

Homologação de sentença estrangeira e matérias de competência exclusiva da autoridade


judiciária brasileira
O art. 89 do CPC prevê determinadas competências que são exclusivas da autoridade
judiciária brasileira. Isso significa que o ordenamento nacional só admite que sejam
decididas pelo Poder Judiciário brasileiro. Logo, se houver sentença estrangeira sobre tais
temas, ela nunca poderá ser homologada pelo STJ, não produzindo efeitos no Brasil. Veja:
Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - proceder a inventário e partilha de bens (móveis ou imóveis), situados no Brasil, ainda
que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

Homologação de sentenças penais para efeitos civis


O CP e o CPP preveem a possibilidade de homologação de sentenças penais estrangeiras
para fins civis. O art. 9º do CP dispõe expressamente:
Art. 9º A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as
mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
Parágrafo único. A homologação depende:
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja
autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro
da Justiça.

Para que haja a homologação da sentença penal estrangeira, é necessário que ela já tenha
transitado em julgado.

No âmbito do direito processual penal, a homologação de sentença estrangeira classifica-se


como ação penal de conhecimento de natureza constitutiva.

Observação importante: para gerar reincidência, NÃO é necessário que a condenação no


estrangeiro seja homologada pelo STJ.

Resumo do procedimento de homologação da sentença estrangeira


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1) Petição inicial: a parte interessada apresenta uma petição inicial ao Presidente do STJ
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requerendo a homologação. A petição inicial deverá obedecer ao disposto no art. 282


do CPC e ser instruída com a certidão ou cópia autêntica do texto integral da sentença

INFORMATIVO esquematizado
estrangeira e com outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos e
autenticados.
2) Citação da outra parte interessada: a outra parte interessada na sentença será citada
para, no prazo de 15 dias, contestar o pedido de homologação.
3) Conteúdo da contestação: a defesa apresentada somente poderá alegar que os
documentos juntados não são autênticos, que a inteligência (interpretação) dada à
sentença não está correta ou que a sentença não atende aos requisitos da Resolução
n. 9/2005 do STJ.
4) Competência: se o pedido de homologação da sentença estrangeira não for contestado,
a competência para realizá-la é do Presidente do STJ. Havendo contestação, o processo
será distribuído para julgamento pela Corte Especial, cabendo ao Relator os demais atos
relativos ao andamento e à instrução do processo.
5) Tutela de urgência: durante a tramitação do processo de homologação, o Presidente do
STJ ou o Relator sorteado poderão determinar medidas de urgência caso se mostrem
necessárias.
6) Ministério Público: o Ministério Público terá vista dos autos nas cartas rogatórias e
homologações de sentenças estrangeiras, pelo prazo de 10 dias, podendo impugná-las.
7) Recurso: as decisões proferidas pelo Presidente do STJ na homologação de sentença
estrangeira poderão ser impugnadas mediante agravo regimental.
8) Execução: a sentença estrangeira homologada será executada por carta de sentença, no
Juízo Federal competente.

Caso julgado pelo STJ e noticiado neste informativo:


“V” divorciou-se de “J” nos EUA.
“V” veio para o Brasil e requereu a homologação da sentença estrangeira de divórcio.
Tentou-se a citação de “J” para que conhecesse o pedido de homologação, contudo, não se
obteve êxito em localizá-lo.
Diante da não localização de “J” foi nomeada a Defensoria Pública como curadora especial
de “J”, nos termos do art. 9º, II, do CPC.
A DPU apresentou contestação argumentando que a “V” não juntou aos autos
comprovação de que a sentença estrangeira transitou em julgado.
De fato, não havia nos autos comprovação do trânsito em julgado.
Mesmo assim o STJ homologou a sentença estrangeira sob o argumento de que o divórcio
no exterior foi consensual. Logo, é possível inferir (deduzir) que tenha transitado em
julgado, considerando que se não havia lide, não existe motivo para uma das partes ter
recorrido.
Assim, segundo a jurisprudência do STJ, no caso de divórcio consensual, por sua natureza, é
possível inferir a ocorrência do trânsito em julgado.
Processo STJ. Corte Especial. SEC 7.746-US, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 15/5/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) Havendo compatibilidade de horários, é possível a acumulação de cargos nas hipóteses previstas na
CF/88, ainda que a soma da carga horária ultrapasse o limite máximo de 60 horas semanais. ( )
2) (DPE/RO 2012 CESPE) Considere que as gravações decorrentes de interceptação telefônica produzida,
na forma da lei, em ação penal tenham sido consideradas, em processo administrativo disciplinar, para
a aplicação da penalidade de demissão a servidor público, após a devida autorização do juízo criminal.
Nessa situação hipotética, não há irregularidade no aproveitamento das gravações, já que é admitida a
denominada prova emprestada no processo administrativo disciplinar, desde que devidamente
autorizada pelo juízo criminal. ( )
3) O excesso de prazo previsto em lei para o encerramento do processo administrativo disciplinar acarreta
a nulidade do feito. ( )
4) Se o bem de família é um imóvel rural, é possível que se determine a penhora da fração que exceda o
necessário à moradia do devedor e de sua família. ( )
5) (OAB IX 2012 FGV) O terceiro deve demonstrar que possui interesse jurídico que a sentença seja
favorável a uma das partes, para ser admitido como assistente. ( )
6) Não é possível conhecer de recurso especial interposto sem assinatura de advogado, sendo ele
considerado inexistente. ( )
7) É possível ao executado alegar o pagamento do título de crédito por meio de exceção de pré-
executividade, desde que comprovado mediante prova pré-constituída. ( )
8) (MP/MS 2013) Segundo entendimento do STF há crime de latrocínio tentado quando o homicídio se
consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima. ( )
9) (Juiz Federal TRF1 2009) A ação de homologação de sentença estrangeira, bem como a respectiva
execução da sentença estrangeira, é da competência originária do STJ. ( )
10) (DPE/SC 2012) Em se tratando de competência internacional, apenas nos casos de competência
exclusiva da jurisdição brasileira é que será necessário o procedimento de homologação de sentença
estrangeira perante o Superior Tribunal de Justiça. ( )
11) (DPU 2010) A sentença proferida por tribunal estrangeiro tem eficácia no Brasil depois de homologada
pelo STF. ( )
12) (DPU 2010) Um dos requisitos para que a sentença estrangeira seja homologada no Brasil é terem as
partes sido citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia. ( )
13) (TJAC 2012 CESPE) Não serão homologadas as sentenças estrangeiras contrárias à ordem pública e aos
bons costumes. ( )
14) (Juiz Federal TRF1 2011) Para que a homologação de sentença estrangeira — forma de cooperação
jurídica internacional — produza os efeitos jurídicos no território nacional, faz-se necessário o
atendimento de alguns requisitos, como o de não ofender a soberania nacional e a ordem pública;
admite-se a homologação para obrigar o condenado a reparar o dano causado pelo crime cometido,
independentemente do trânsito em julgado, e para reconhecimento da reincidência no território
nacional. ( )
15) (TJBA 2012 CESPE) De acordo com o princípio da universalidade, a sentença penal estrangeira
homologada no Brasil obriga o condenado a reparar o dano, sendo facultativo o pedido da parte
interessada. ( )
16) (Juiz TJES 2012 CESPE) Assinale a opção correta a respeito das relações jurisdicionais com autoridades
estrangeiras.
A) O regular cumprimento, perante o STJ, das cartas rogatórias emanadas de autoridades estrangeiras
competentes depende de homologação.
B) Compete ao STJ processar e julgar a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença
32

estrangeira, após a homologação.


C) No âmbito do direito processual penal, a homologação de sentença estrangeira classifica-se como
Página

ação penal de conhecimento de natureza constitutiva.

INFORMATIVO esquematizado
D) A sentença estrangeira não pode ser homologada apenas para obrigar o condenado à reparação do
dano e a outros efeitos meramente civis.
E) A expedição de carta rogatória suspende a instrução processual e, ainda que findo o prazo marcado,
o julgamento não pode ser realizado sem a juntada aos autos da carta devidamente cumprida.

Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. C 5. C 6. C 7. C 8. E 9. E 10. E
11. E 12. C 13. C 14. E 15. E 16. Letra C

Obs: em caso de concursos que exijam Direito Tributário de forma intensa (ex: Auditor da Receita Federal e
Procurador da Fazenda Nacional), recomenda-se a leitura dos julgados EAg 1.220.942-SP e REsp 1.138.695-
SC, abaixo transcritos.

JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA


RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IRREGULARIDADE NA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL DE ENTIDADE


SUBMETIDA A REGIME DE LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL PELA SUSEP.
Não devem ser conhecidos os embargos de divergência interpostos por entidades submetidas a regime
de liquidação extrajudicial pela Superintendência de Seguros Privados — Susep na hipótese em que a
petição tenha sido subscrita por advogado cujo substabelecimento, apesar de conferido com reserva de
poderes, não tenha sido previamente autorizado pelo liquidante.
Efetivamente, conforme a Portaria 4.072/2011 da SUSEP, os poderes outorgados pelo liquidante aos
advogados da massa somente podem ser substabelecidos com autorização daquele. Cumpre ressaltar,
ainda, que a irregularidade na representação processual enseja o não conhecimento do recurso,
descabendo sanar o referido defeito após a sua interposição. Mutatis mutandis, incide no caso a orientação
da Súmula 115 do STJ, de acordo com a qual "na instância especial é inexistente recurso interposto por
advogado sem procuração nos autos". Ademais, registre-se, por oportuno, que a jurisprudência desta Corte
é firme no sentido de que as disposições dos arts. 13 e 37 do CPC não se aplicam na instância superior, de
modo que é incabível a conversão do julgamento em diligência ou a abertura de prazo para a regularização
do recurso.
AgRg nos EREsp 1.262.401-BA, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. CORREÇÃO MONETÁRIA NO CASO DE MORA DA FAZENDA PÚBLICA PARA APRECIAR
PEDIDOS ADMINISTRATIVOS DE RESSARCIMENTO DE CRÉDITOS DE IPI EM DINHEIRO OU MEDIANTE
COMPENSAÇÃO COM OUTROS TRIBUTOS.
Incide correção monetária sobre o valor relativo a créditos de IPI na hipótese de mora da Fazenda Pública
para apreciar pedido administrativo de ressarcimento em dinheiro ou mediante compensação com
outros tributos. A situação em análise — que envolve crédito de um determinado tributo recebido em
dado período de apuração e utilizado fora da escrita fiscal — não se confunde com a hipótese relativa a
crédito escritural — crédito de um determinado tributo recebido em dado período de apuração e utilizado
para abatimento desse mesmo tributo em outro período de apuração dentro da escrita fiscal —, caso em
que, em regra, não há direito à correção monetária. Com efeito, na hipótese de ressarcimento de créditos
— sistemática extraordinária de aproveitamento —, os créditos outrora escriturais passam a ser objeto de
ressarcimento em dinheiro ou mediante compensação com outros tributos em virtude da impossibilidade
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de dedução com débitos de IPI decorrentes das saídas de produtos — normalmente porque isentos, não
tributados ou sujeitos à alíquota zero —, ou até mesmo por opção do contribuinte, nas hipóteses
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permitidas por lei. Esses créditos deixam de ser escriturais, pois não estão mais acumulados na escrita fiscal

INFORMATIVO esquematizado
para uso exclusivo no abatimento do IPI devido na saída. São utilizáveis fora da escrita fiscal. Nestes casos,
o ressarcimento em dinheiro ou ressarcimento mediante compensação com outros tributos se dá por meio
de requerimento do contribuinte que, muitas vezes, diante das vicissitudes burocráticas do Fisco, demora a
ser atendido, gerando uma defasagem no valor do crédito que não existiria caso fosse reconhecido
anteriormente ou caso pudesse ter sido utilizado na escrita fiscal mediante a sistemática ordinária de
aproveitamento. Essa foi exatamente a situação caracterizada no REsp. 1.035.847-RS, julgado conforme a
sistemática dos recursos repetitivos, no qual foi reconhecida a incidência de correção monetária. A lógica é
simples: se há pedido de ressarcimento de créditos de IPI (em dinheiro ou via compensação com outros
tributos) e esses créditos são reconhecidos pela Receita Federal com mora, essa demora no ressarcimento
enseja a incidência de correção monetária, uma vez que caracteriza também a chamada "resistência
ilegítima" exigida pela Súmula 411 do STJ. Precedentes citados: REsp. 1.122.800-RS, Segunda Turma, DJe
15/3/2011, e AgRg no REsp 1.082.458-RS, Segunda Turma, DJe 16/2/2011.
EAg 1.220.942-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DE IRPJ E CSLL SOBRE OS JUROS REMUNERATÓRIOS DEVIDOS NA


DEVOLUÇÃO DOS DEPÓSITOS JUDICIAIS. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Incidem IRPJ e CSLL sobre os juros remuneratórios devidos na devolução dos depósitos judiciais
efetuados para suspender a exigibilidade do crédito tributário. Inicialmente, é importante estabelecer que
a taxa Selic pode possuir natureza jurídica de acordo com a previsão legal ou relação jurídica que origina
sua incidência, ou seja, ora pode ter natureza de juros compensatórios, ora de juros moratórios ou até
mesmo de correção monetária. Nesse contexto, o art. 1º, § 3º, da Lei 9.703/1998, que regula os depósitos
judiciais para fins de suspensão da exigibilidade de tributos, estabelece que o depósito, após o
encerramento da lide, deve ser devolvido ao depositante vitorioso “acrescido de juros”, na forma do art.
39, § 4º, da Lei 9.250/1995 (Selic). Esta lei, por sua vez, atribui a natureza jurídica de juros à remuneração
do capital depositado. Portanto, a natureza jurídica da remuneração do capital é de juros remuneratórios, o
que resulta em acréscimo patrimonial que compõe a esfera de disponibilidade do contribuinte. Assim,
considerando o fato de que a legislação do IRPJ trata os juros como receitas financeiras, deve-se concluir
que incidem IRPJ e CSLL sobre os juros remuneratórios decorrentes dos depósitos judiciais devolvidos.
Precedentes citados: AgRg no Ag 1.359.761-SP, Primeira Turma, DJe 6⁄9⁄2011; e REsp 1.086.875-PR,
Segunda Turma, DJe 6/8/2012.
REsp 1.138.695-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/5/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DE IRPJ E CSLL SOBRE OS JUROS DE MORA DECORRENTES DE REPETIÇÃO
DO INDÉBITO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Incidem IRPJ e CSLL sobre os juros decorrentes da mora na devolução de valores determinada em ação
de repetição do indébito tributário. O STJ entende que, embora os juros de mora na repetição do indébito
tributário decorrente de sentença judicial configurem verbas indenizatórias, eles possuem natureza jurídica
de lucros cessantes, constituindo evidente acréscimo patrimonial, razão pela qual é legítima a tributação
pelo IRPJ, salvo a existência de norma específica de isenção ou a constatação de que a verba principal a que
se referem os juros é isenta ou está fora do campo de incidência do imposto (tese em que o acessório
segue o principal). No caso da repetição do indébito, o tributo (principal), quando efetivamente pago, pode
ser deduzido como despesa (art. 7º da Lei n. 8.541⁄1992) e, a contrario sensu, se o valor for devolvido, deve
integrar as receitas da empresa a fim de compor o lucro real e o lucro líquido ajustado como base de
cálculo do IRPJ e da CSLL. Desse modo, a tese da acessoriedade dos juros de mora não socorre aos
contribuintes, pois a verba principal não escapa à base de cálculo das referidas exações. Ainda, conforme a
legislação do IRPJ, os juros moratórios — dada a natureza de lucros cessantes — encontram-se dentro da
base de cálculo dos impostos, na medida em que compõem o lucro operacional da empresa. Precedente
citado: EDcl no REsp 1.089.720-RS, Primeira Seção, DJe 6/3/2013.
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REsp 1.138.695-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/5/2013.


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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO ADMINISTRATIVO. EXTENSÃO DA VPE CRIADA PELA LEI 11.134/2005 AOS MILITARES DO ANTIGO
DISTRITO FEDERAL.
A vantagem pecuniária especial (VPE) criada pela Lei 11.134/2005 e devida aos militares da Polícia Militar
e do Corpo de Bombeiros Militar do atual Distrito Federal deve ser estendida aos inativos e pensionistas
do antigo Distrito Federal. Isso porque o art. 65, § 2º, da Lei 10.486/2002 assegurou aos militares inativos e
pensionistas integrantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do antigo DF as vantagens
previstas para os policiais militares do atual DF. Percebe-se, assim, que a Lei 10.486/2002 estabelece uma
vinculação jurídica permanente entre os militares do antigo e do atual DF, sendo todos igualmente
remunerados pela União. A intenção do legislador, ao estabelecer essa vinculação entre os servidores deste
e do antigo DF, não foi outra senão a de conferir as vantagens que porventura fossem criadas para os
servidores deste distrito àqueles do antigo, até por medida de efetiva justiça. Dessa forma, é desnecessária
a menção expressa no art. 1º da Lei 11.134/2005 de que a VPE também deve ser paga aos militares do
antigo DF.
EREsp 1.121.981-RJ, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado
em 8/5/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. NOVA SISTEMÁTICA REMUNERATÓRIA INSTITUÍDA PELA MP 43⁄2002 PARA OS


PROCURADORES DA FAZENDA NACIONAL.
A remuneração dos procuradores da Fazenda Nacional, no período de 1º/3/2002 a 25/6/2002, deve ser
realizada do seguinte modo: a) vencimento básico calculado na forma da MP 43/2002; b) pró-labore em
valor fixo; c) representação mensal sobre o novo vencimento básico, nos percentuais do DL 2.371/1987;
d) gratificação temporária conforme a Lei 9.028/1995; e e) VPNI, em caso de eventual redução na
totalidade da remuneração.
De acordo com a jurisprudência consolidada do STJ, a Lei 10.549/2002, que resultou da conversão da MP
43/2002, implantou nova sistemática remuneratória para os procuradores da Fazenda Nacional. A citada
MP somente teve eficácia retroativa em relação ao novo vencimento básico, conforme o art. 3º da Lei
10.549/2002, não se estendendo ao disposto nos arts. 4º e 5º, referentes ao pró-labore e à representação
mensal, que tiveram disposições modificadas somente a partir da publicação da MP 43/2002, em
26/6/2002. Ressalte-se ainda que, na hipótese de decréscimo remuneratório a partir de 26/6/2002, a
diferença deverá ser paga a título de Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada, a ser reduzida à
medida que for reajustado o valor dos vencimentos, nos termos do art. 6º da MP 43/2002. Precedentes
citados: AgRg no REsp 1.239.287-RS, Segunda Turma, DJe 5/12/2012; AgRg no AREsp 136.238-AL, Segunda
Turma, DJe 15/8/2012, e AgRg no REsp 877.486-RS, Sexta Turma, DJe 5/9/2012.
AgRg no AREsp 272.247-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO DA GDPGPE NO PERCENTUAL DE 80% AOS


SERVIDORES INATIVOS E AOS PENSIONISTAS ATÉ A DATA DA REGULAMENTAÇÃO DA GRATIFICAÇÃO.
Não é possível estender o pagamento da Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder
Executivo (GDPGPE) no percentual de 80% do seu valor máximo — devido aos servidores ativos nos
moldes do art. 7º-A, § 7º, da Lei 11.357/2006 — aos servidores inativos e aos pensionistas até a data da
regulamentação da referida gratificação.
Embora o § 7º do art. 7º-A da Lei 11.357/2006 (incluído pela Lei 11.784/2008) determine a percepção de
um percentual fixo (80%) até que seja regulamentada a GDPGPE (o que, inclusive, já ocorreu com a
expedição do Dec. 7.133/2010) e até que sejam processados os resultados da primeira avaliação individual
e institucional, consoante dicção do § 6º do mesmo artigo, a primeira avaliação de desempenho gerará
efeitos desde 1º/1/2009. Deve existir, inclusive, compensação das eventuais diferenças pagas a maior ou a
menor aos servidores ativos a título de GDPGPE quando do resultado da avaliação. Nesse contexto, é
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irrelevante a determinação do art. 10, § 6º, do Dec. 7.133/2010 relativamente à produção de efeitos
financeiros a partir da publicação da portaria ministerial que previr as metas globais referentes à avaliação
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de desempenho institucional. Não se trata, portanto, de bonificação atribuída de forma linear a todo
servidor; pelo contrário, trata-se de gratificação devida em razão do efetivo exercício do cargo e variável

INFORMATIVO esquematizado
conforme critérios de avaliação da instituição e do servidor, que, ademais, não tem garantias do quanto lhe
será permitido levar para a inatividade. Dessa forma, conclui-se que foi atribuída à GDPGPE, desde a sua
implantação — uma vez que os efeitos da primeira avaliação de desempenho retroagirão a 1º/1/2009 —,
caráter de vantagem pessoal propter laborem, atrelada à consecução de atividades específicas, na medida
em que ela tem por base o desempenho específico e individualizado de cada servidor, sendo o seu valor
fixado conforme o resultado da aludida avaliação de desempenho. Consequentemente, não há base legal
para que se promova a extensão, aos inativos e pensionistas, do percentual da gratificação devido aos
servidores ativos. REsp 1.368.150-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA O JULGAMENTO DE


DEMANDA NA QUAL EX-EMPREGADO APOSENTADO PRETENDA SER MANTIDO EM PLANO DE SAÚDE
CUSTEADO PELO EX-EMPREGADOR.
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar a causa em que ex-empregado aposentado objetive ser
mantido em plano de assistência médica e odontológica que, além de ser gerido por fundação instituída
e mantida pelo ex-empregador, seja prestado aos empregados sem contratação específica e sem
qualquer contraprestação.
Inicialmente, deve-se considerar que há precedente do TST no qual se afirma que, na hipótese em que o
plano de saúde seja integralmente custeado por fundação patrocinada pelo antigo empregador, o benefício
agrega-se ao contrato de trabalho. A propósito, o STF pacificou o entendimento de que a competência para
o julgamento de matéria concernente ao contrato de trabalho é da Justiça do Trabalho. Ademais, a
jurisprudência do STJ também tem entendido que, se a assistência médica, hospitalar e odontológica era
fornecida gratuitamente aos empregados da instituidora da fundação, consistindo em benefício acessório
ao contrato de trabalho, cabe à Justiça do Trabalho, em razão da matéria, solucionar a lide.
REsp 1.045.753-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/4/2013.

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INFORMATIVO esquematizado
Informativo 522 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.353.016-AL; REsp 1.336.213-RS; REsp
1.360.212-SP; REsp 1.201.635-MG; CC 111.230-DF; REsp 1.331.033-SC; REsp 1.339.432-MS; AgRg no AREsp
150.390-SP; REsp 1.104.377-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO
Concurso público e início do prazo do MS na hipótese de aprovação por força de questão anulada

Na hipótese em que houver, em ação autônoma, o reconhecimento da nulidade de questões de


concurso público, o termo inicial do prazo para que o candidato beneficiado impetre mandado
de segurança objetivando sua nomeação no cargo público será a data do trânsito em julgado da
decisão judicial. Isso porque o candidato favorecido pela decisão judicial somente passa a ter
direito líquido e certo à nomeação a partir da referida data.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João fez determinado concurso público, tendo ficado com 69 pontos, segundo o resultado
final divulgado em 02/02/2011, sendo que a nota de corte foi 70 pontos.
Diante disso, ingressou com ação buscando a anulação de uma questão objetiva (que era
absurda), tendo a demanda sido julgada procedente, com trânsito em julgado em 02/02/2013.
Com a anulação, João passou a ter pontos suficientes para ser aprovado dentro do número
de vagas e nomeado. Apesar disso, não foi chamado.
Vale ressaltar que a nomeação do último candidato aprovado dentro do número de vagas
ocorreu em 02/02/2012.
Em 02/04/2013, João impetrou mandado de segurança pedindo sua nomeação e posse.
A Fazenda Pública contestou, afirmando que houve decadência, considerando que o MS
deveria ter sido impetrado em até 120 dias contados do resultado final (02/02/2011) ou,
então, da data em que foi nomeado o último candidato aprovado (02/02/2012).

A tese da Fazenda Pública foi acolhida pelo STJ?


NÃO. Segundo decidiu o STJ, na hipótese em que houver, em ação autônoma, o
reconhecimento da nulidade de questões de concurso público, o termo inicial do prazo para
que o candidato beneficiado impetre mandado de segurança objetivando sua nomeação no
cargo público será a data do trânsito em julgado da decisão judicial. Isso porque o candidato
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favorecido pela decisão judicial somente passa a ter direito líquido e certo à nomeação a
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partir da referida data.


Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.284.773-AM, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/4/2013.

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Concurso público e “pé torto congênito bilateral”

Os candidatos que tenham "pé torto congênito bilateral" têm direito a concorrer às vagas em
concurso público reservadas às pessoas com deficiência.
A mencionada deficiência física enquadra-se no disposto no art. 4º, I, do Dec. 3.298/1999.
Comentários Apenas a título de curiosidade, segue abaixo as definições dos diversos tipos de deficiência
(não é preciso que você saiba isso!):

Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes


categorias:
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo
humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma
de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,
triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia
cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as
deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de
funções;
II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou
mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz;
III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no
melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual
entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a
somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a
ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;
IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com
manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de
habilidades adaptativas, tais como:
a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sociais;
d) utilização da comunidade;
d) utilização dos recursos da comunidade;
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer; e
h) trabalho;
V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.
Processo STJ. 1ª Turma. RMS 31.861-PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/4/2013.

Convocação de candidato por DO sendo que as chamadas anteriores foram também pela internet

A convocação de candidato para a fase posterior de concurso público não pode ser realizada
apenas pelo diário oficial na hipótese em que todas as comunicações anteriores tenham ocorrido,
conforme previsão editalícia de divulgação das fases do concurso, também pela internet.
Comentários João estava prestando concurso para Policial Militar.
Todas as comunicações e convocações desse certame eram feitas por Diário Oficial e
também por meio da internet.
Após ter sido aprovado nas etapas anteriores, João foi convocado para o exame médico por
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meio apenas do Diário Oficial. Desse modo, ao contrário das outras convocações, o
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chamado para o exame médico não foi feito também pela internet.
O candidato não compareceu ao exame médico, tendo sido eliminado do concurso.

INFORMATIVO esquematizado
A Administração Pública agiu corretamente nesse caso?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, a convocação de candidato apenas pelo Diário Oficial não
atende adequadamente ao princípio da publicidade, especialmente se houver previsão no
edital de que as etapas do concurso devem ser também divulgadas pela rede mundial de
computadores (internet).
O diário oficial não tem o mesmo alcance de outros meios de comunicação, não sendo
razoável exigir-se que os candidatos aprovados em concurso público o acompanhem.
Ademais, como todas as fases anteriores do concurso foram divulgadas pela internet, isso
gerou para os candidatos a justa expectativa de que as demais comunicações do certame
seguiriam esse padrão.
Apesar do acórdão não ter mencionado isso, pode-se dizer que houve, no caso, uma
espécie de surrectio, ou seja, o surgimento de um direito do candidato de ser convocado
também pela internet, em consequência da prática reiterada dessa forma de comunicação.
Outros Sobre o tema “convocação de candidato aprovado” vejamos também este outro
julgados entendimento consolidado do STJ:
Viola o princípio da razoabilidade a convocação para determinada fase de concurso público
ou para nomeação de candidato aprovado apenas mediante publicação do chamamento em
Diário Oficial quando passado muito tempo entre a realização ou a divulgação do resultado
da etapa imediatamente anterior e a referida convocação, uma vez que é inviável exigir que
o candidato acompanhe, diariamente, com leitura atenta, as publicações oficiais.
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 35.494-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/3/2012.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 33.696-RN, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe 22/4/2013.

Não há direito à nomeação se foram criados novos cargos, mas não há dotação orçamentária
Ainda que sejam criados novos cargos durante a validade do concurso, a Administração Pública
não poderá ser compelida a nomear candidato aprovado fora do número de vagas oferecidas no
edital de abertura do certame na hipótese em que inexista dotação orçamentária específica.
Comentários SITUAÇÃO 1
Regra:
Candidato aprovado dentro do número de vagas: direito subjetivo
O candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do concurso público
possui direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período de validade do
certame. Posição pacífica do STJ e STF.

Exceções:
O STF, ao analisar o tema em sede de repercussão geral, identificou hipóteses excepcionais
em que a Administração pode deixar de realizar a nomeação de candidato aprovado dentro
do número de vagas, desde que se verifique a ocorrência de uma situação com as seguintes
características (RE 598.099/MS, Pleno, DJe de 3.10.2011):
a) superveniência: os eventuais fatos ensejadores de uma situação excepcional devem ser
necessariamente posteriores à publicação do edital do certame público;
b) imprevisibilidade: a situação deve ser determinada por circunstâncias extraordinárias,
imprevisíveis à época da publicação do edital;
c) gravidade: os acontecimentos extraordinários e imprevisíveis devem ser extremamente
graves, implicando onerosidade excessiva, dificuldade ou mesmo impossibilidade de
cumprimento efetivo das regras do edital;
d) necessidade: a solução drástica e excepcional de não cumprimento do dever de
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nomeação deve ser extremamente necessária, de forma que a Administração somente


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pode adotar tal medida quando absolutamente não existirem outros meios menos gravosos
para lidar com a situação excepcional e imprevisível.

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SITUAÇÃO 2:
Regra:
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas (o concurso não previa cadastro de
reserva), mas durante o prazo de validade do concurso foram criados novos cargos, ele terá
direito subjetivo à nomeação?
Não necessariamente. O candidato aprovado fora do número de vagas, em princípio, não
tem direito subjetivo à nomeação, mesmo que surjam ou sejam criadas vagas durante o
prazo de validade do concurso. Assim, o fato de terem sido criados novos cargos enquanto
ainda vigente o concurso não obriga, por si só, a Administração a nomear o candidato
aprovado fora do número de vagas:
“A mera criação de novos cargos enquanto ainda vigente o concurso não garante, por si só,
o direito do candidato aprovado, mas não classificado dentre as vagas ofertadas, à
nomeação. Tampouco obriga, a princípio, a administração a prorrogar o prazo de validade
do concurso, ato discricionário, submetido ao juízo de oportunidade e conveniência
administrativas.” (AgRg no REsp 1263916/PR, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma,
julgado em 14/08/2012, DJe 24/08/2012) (STJ AgRg no REsp 1263916/PR).

Exceção:
O candidato aprovado fora do número de vagas do edital adquire direito subjetivo à
nomeação caso consiga comprovar que:
a) surgiram novas vagas durante o prazo de validade do concurso público; e
b) existe interesse da Administração Pública em preencher essas vagas.

SITUAÇÃO 3:
Regra:
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas dentro do cadastro de reserva
previsto no edital e durante o prazo de validade do concurso surgiram novos cargos, ele terá
direito subjetivo à nomeação?
Em regra sim. Segundo vem decidindo o STJ, “a aprovação do candidato dentro do cadastro
de reserva, ainda que fora do número de vagas inicialmente previstas no edital do concurso
público, confere-lhe o direito subjetivo à nomeação para o respectivo cargo, se, durante o
prazo de validade do concurso, houver o surgimento de novas vagas, seja em razão da
criação de novos cargos mediante lei, seja em virtude de vacância decorrente de
exoneração, demissão, aposentadoria, posse em outro cargo inacumulável ou falecimento.”
(RMS 38443/AC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 02/04/2013).

Exceções
Existem exceções? Em outras palavras, existem casos em que o candidato foi aprovado fora
do número de vagas, mas dentro do cadastro de reserva, e que ele não terá direito subjetivo
à nomeação mesmo tendo surgido novas vagas?
SIM, são as mesmas exceções previstas na situação 1. Assim, o candidato aprovado dentro
do cadastro de reservas poderá deixar de ser nomeado mesmo que tenham surgido novos
cargos caso se verifique uma situação superveniente, imprevisível, grave e necessária.
Exemplo: não haverá direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado dentro do
cadastro de reservas mesmo que tenham surgido vagas na hipótese em que não houver
dotação orçamentária para a realização de nomeações. O reconhecimento da existência de
necessidade de servidores não garante, por si só, a nomeação de candidatos, se o
orçamento desse ano não suporta o acréscimo de despesas.
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Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.700-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/4/2013.
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Desapropriação (indenização proposta pelo arrendatário)

A União é parte legítima para figurar no polo passivo de ação em que o arrendatário objetive
ser indenizado pelos prejuízos decorrentes da desapropriação por interesse social, para a
reforma agrária, do imóvel arrendado.
Comentários Antônio possuía um imóvel rural e o arrendou a João (contrato de arrendamento rural).
A União realizou a desapropriação do imóvel rural por interesse social, para fins de reforma
agrária, nos termos do art. 184 da CF/88 e da Lei n. 8.629/93.
O contrato de arrendamento teve que ser extinto por força da desapropriação.
João alega que teve prejuízos com o fim do ajuste. Ele poderá ajuizar uma ação de
indenização contra a União?
SIM. A desapropriação resolve o contrato de arrendamento.

Como o arrendatário não é titular de um direito real (mas sim pessoal), não há a sub-
rogação do seu direito no valor indenizatório (art. 31 do Decreto-Lei n. 3.365/41). Em
outros termos, a União não fica isenta de indenizar o arrendatário pelo simples fato de já
ter pago a indenização pelo imóvel.

Logo, o arrendatário faz jus à indenização a ser paga pela União, desde que prove ter
sofrido prejuízos com a resolução do contrato por força da desapropriação.

“O pedido indenizatório não pode ser formulado nos autos do processo de desapropriação,
mas em ação autônoma, já que se trata de matéria alheia à transferência do bem, que
constitui o objeto da ação expropriatória.” (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 941).
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.130.124-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR


(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos que exijam esta matéria)

Promoção de anistiado político militar


Não é possível a promoção de anistiado político (art. 6º da Lei 10.559/2002) para carreira
militar diversa da que ele integra.
Comentários Não é possível a promoção de anistiado político (art. 6º da Lei 10.559/2002) para carreira
militar diversa da que ele integra. De fato, ao anistiado político foram asseguradas, na
forma do art. 8º do ADCT, as promoções a que teria direito se na ativa estivesse, em
observância ao disposto no art. 6º, §§ 3º e 4º, da Lei 10.559/2002. Essa prerrogativa,
contudo, é restrita às promoções da carreira à qual o anistiado pertence.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.357.700-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Reforma de militar temporário por incapacidade


Não tem direito à reforma o militar temporário no caso de incapacidade definitiva para o
serviço castrense causada por evento que não guarde relação com o exercício da função.
Comentários Não tem direito à reforma o militar temporário no caso de incapacidade definitiva para o
serviço castrense causada por evento que não guarde relação com o exercício da função.
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Isso porque aos militares temporários somente é garantida a reforma no caso de


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incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas se for comprovado que a
lesão decorre de circunstância inerente ao exercício da função.

INFORMATIVO esquematizado
Observe-se que o critério de concessão de reforma para militar temporário é diferente
daquele considerado para militar estável. Com efeito, para a concessão de reforma de
militar temporário, são consideradas duas informações: a extensão da incapacidade para o
trabalho e a relação de causalidade da lesão com a atividade militar. Quanto à extensão da
incapacidade para o trabalho, o Estatuto dos Militares (Lei 6.880/1980) a distingue em dois
tipos: uma chamada de incapacidade definitiva para o serviço ativo nas Forças Armadas
(que abrange exclusivamente as atividades militares, não considerando as atividades
laborais civis) e a invalidez (conceito que engloba todas as atividades, castrenses ou civis).
Quanto ao nexo causal da lesão incapacitante com o exercício da função militar, se
comprovado, o militar temporário terá direito à reforma independentemente de sua
extensão (incapacidade definitiva ou invalidez). Contudo, se o evento incapacitante não
guardar relação com a função castrense, o militar temporário somente terá direito à
reforma no caso de invalidez.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.328.915-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/4/2013.

DIREITO CIVIL
Correção monetária sobre o valor das parcelas pagas no caso de rescisão de contrato
No caso de rescisão de contrato de compra e venda de imóvel, a correção monetária do valor
correspondente às parcelas pagas, para efeitos de restituição, incide a partir de cada desembolso.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João celebrou um contrato de promessa de compra e venda de unidade imobiliária
(apartamento) em construção com determinada imobiliária, ficando acertado que o
promitente comprador pagaria o bem em 60 prestações mensais.
Após ter pago 10 parcelas, as obras do prédio foram paralisadas por conta de dificuldades
empresariais da imobiliária.
Diante disso, João ajuizou ação pleiteando a rescisão do contrato e a devolução das parcelas
pagas, acrescidas de correção monetária e juros moratórios.
A ação foi julgada procedente.

Diante disso, indaga-se:


Na devolução das prestações, a correção monetária será contada considerando o dia em
que a imobiliária foi citada ou a data em foram realizados os pagamentos?
O termo inicial da correção será a data dos respectivos pagamentos de cada parcela.
Segundo a jurisprudência do STJ, em caso de rescisão de contrato de promessa de compra e
venda de imóvel, a correção monetária das parcelas pagas, para efeitos de restituição,
incide a partir de cada desembolso realizado pelo então comprador.
Ex: em 10/10/2010, João pagou uma parcela de 3 mil reais. Logo, a imobiliária, que foi
citada para a ação em 05/05/2012, deverá devolver os 3 mil reais com correção monetária
contada a partir de 10/10/2010. A segunda parcela foi paga em 10/11/2010, data a partir da
qual será calculada a correção monetária quanto a esse valor e assim sucessivamente.
A correção monetária não constitui acréscimo pecuniário à dívida, mas apenas fator que
garante a restituição integral do valor devido, fazendo frente aos efeitos erosivos da
passagem do tempo. Dessa forma, para que a devolução se opere de modo integral, a
incidência da correção monetária deve ter por termo inicial o momento dos respectivos
desembolsos, quando aquele que hoje deve restituir já podia fazer uso das importâncias
recebidas.
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Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.780-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Responsabilidade civil em caso de adultério

Três conclusões sobre este julgado:

I – O “cúmplice” (amante) da esposa não tem o dever de indenizar o marido traído. Em que
pese o alto grau de reprovabilidade da conduta daquele que se envolve com pessoa casada, o
“cúmplice” da esposa infiel não é responsável a indenizar o marido traído, pois ele não era
obrigado, por lei ou contrato, a zelar pela incolumidade do casamento alheio.

II – A esposa infiel não tem o dever de restituir ao marido traído os alimentos pagos por ele em
favor de filho criado pelo casal, ainda que a adúltera tenha ocultado do marido o fato de que a
referida criança era filha biológica sua e de seu “cúmplice” (amante).

III – A esposa que traiu pode ser condenada a indenizar por danos morais o marido traído em
hipóteses excepcionais, como o caso julgado pelo STJ, no qual, além de a traição ter ocorrido
com um amigo do cônjuge, houve o nascimento de uma criança registrada erroneamente como
descendente do marido, mas que era filho biológico do amante. Na hipótese, a esposa ocultou
do ex-marido por anos após a separação, o fato de que a criança nascida durante o matrimônio
e criada como filha biológica do casal era, na verdade, filha sua e de seu “cúmplice”.
Comentários A situação fática, com algumas adaptações, foi a seguinte:
Dr. Bento Santiago (Bentinho) era casado com Maria Capitolina Santiago (mais conhecida
por Capitu) e, durante a relação, nasceu Ezequiel, registrado como filho do casal.
A relação entre Bentinho e Ezequiel sempre foi excelente, tendo sido desenvolvido um
intenso vínculo de afeto.
Bentinho e Capitu decidiram se separar. No entanto, a relação entre pai e filho permaneceu
forte, sendo certo que Bentinho realizava inúmeras despesas com o sustento, educação e
lazer de Ezequiel.
Anos mais tarde, Bentinho descobriu, por meio de exame de DNA, que não era pai biológico
de Ezequiel, sendo este filho de Escobar, amigo do casal, fruto de um relacionamento
adulterino que manteve com Capitu na época.

Ação de indenização
Diante dessa terrível revelação, Bentinho ajuizou ação de indenização contra Capitu e
Escobar, cobrando o ressarcimento de todas as despesas que realizou com Ezequiel, além
de uma reparação por danos morais em virtude de ter sido humilhado em seu círculo social
pela torpeza da ex-mulher e do suposto amigo.

Escobar (o amigo/amante) tem o dever de indenizar Bentinho?


NÃO. Em que pese o alto grau de reprovabilidade da conduta daquele que se envolve com
pessoa casada, o STJ, recentemente, entendeu que o “cúmplice” da esposa infiel não é
solidariamente responsável a indenizar o marido traído, pois tal fato não constitui ilícito civil
ou penal. Em outras palavras, o “cúmplice” (amante) não é obrigado, por lei ou contrato, a
zelar pela incolumidade do casamento alheio ou a revelar ao marido traído que está
mantendo relacionamento extraconjungal com a sua esposa (3ª Turma. REsp 922.462-SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/4/2013).
Além do entendimento manifestado nesse julgado, o STJ já possuía outro precedente no
mesmo sentido. Confira:
(...) O cúmplice de cônjuge infiel não tem o dever de indenizar o traído, uma vez que o
conceito de ilicitude está imbricado na violação de um dever legal ou contratual, do qual
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resulta dano para outrem, e não há no ordenamento jurídico pátrio norma de direito
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público ou privado que obrigue terceiros a velar pela fidelidade conjugal em casamento do
qual não faz parte. (...)
INFORMATIVO esquematizado
O réu é estranho à relação jurídica existente entre o autor e sua ex-esposa, relação da qual
se origina o dever de fidelidade mencionado no art. 1.566, inciso I, do Código Civil de 2002.
(REsp 1.122.547/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 10/11/2009)

Assim, a conduta de Escobar, ainda que moralmente reprovável, não gera dever de
indenizar o traído por eventuais danos materiais ou morais que ele tenha sofrido.

Capitu (a ex-esposa) deverá pagar indenização por danos materiais a Bentinho? Em outros
termos, ela deverá restituir as despesas que ele fez com o sustento, educação e lazer de
Ezequiel, criado como filho do casal?
NÃO. Entre Bentinho e Ezequiel foram desenvolvidos laços de afeto, configurando-se
verdadeira paternidade socioafetiva, motivo pelo qual resta vedada a pleiteada repetição
da verba alimentar paga durante o período em que perdurou o convívio com o então filho.
Além disso, o fato de um dos cônjuges não ter cumprido o dever de fidelidade, inerente ao
casamento, não pode servir para prejudicar a criança e a relação de paternidade
socioafetiva que foi gerada.
Ressalte-se que a jurisprudência do STJ afirma que a filiação socioafetiva deve ser
reconhecida e amparada juridicamente (REsp 1.244.957/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 07/08/2012).
Vale ressaltar, por fim, que o valor pago para suprir as necessidades do filho, ainda que
erroneamente registrado, é irrepetível, considerando que se trata de verba alimentar.

Capitu (a ex-esposa) deverá pagar indenização por danos morais a Bentinho?


SIM. Em um caso concreto, envolvendo essas peculiaridades, o STJ entendeu que era devida
a indenização por danos morais.
Mas atenção: não se está afirmando que o cônjuge adúltero (mulher ou homem) sempre
terá a obrigação de indenizar o seu consorte por danos morais em caso de traição.
O que se está dizendo é que, no caso concreto, o STJ considerou devida a indenização
considerando que, além da traição, houve um outro fato muito relevante: durante anos, a
ex-esposa escondeu de seu ex-marido que o filho que ele criava não era seu descendente
biológico, mas sim de seu amigo.
Dessa forma, diante desses dois fatos, naquele caso concreto, o STJ entendeu que era
cabível o pagamento de reparação por danos morais.

Vamos explicar melhor os principais argumentos utilizados pelo STJ no julgado:


Segundo ponderou, o Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, atualmente, o direito não mais dá
importância em identificar o culpado pelo fim de uma relação afetiva. Isso ficou ainda mais
claro com o fim da separação judicial, operacionalizada pela EC 66/2010.

Esse desprezo atual do direito pela investigação de quem é culpado representa um enorme
avanço no tratamento do tema considerando que deixar de amar o cônjuge ou
companheiro é uma circunstância de cunho estritamente pessoal, não podendo ser taxado
de ato ilícito apto a ensejar indenização.

Assim, a dor sentida pelo cônjuge/companheiro abandonado pelo fim de uma relação NÃO
é apta, em regra, a ensejar danos morais.

Além disso, a violação dos deveres impostos por lei para o casamento (art. 1.566 do CC) e para a
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união estável (art. 1.724 do CC) NÃO constitui, por si só, ofensa à honra e à dignidade do
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consorte, apta a ensejar a obrigação de indenizar. Em suma, em regra, o cônjuge/companheiro


que descumpre os seus deveres NÃO tem obrigação de pagar indenização.
INFORMATIVO esquematizado
Não é porque houve o desrespeito a um dos deveres do casamento ou da união estável que
haverá, necessariamente, o dever de indenizar. Não há como se impor o dever de amar.
Não se pode transformar a desilusão pelo fim dos vínculos afetivos em obrigação
indenizatória.

Todavia, não é possível ignorar que a vida em comum impõe restrições que devem ser
observadas, destacando-se o dever de fidelidade nas relações conjugais. O descumprimento
a esse dever pode, diante de peculiaridades do caso concreto, acarretar danos morais,
como na situação analisada pelo STJ, em que, de fato, restou demonstrado o abalo
emocional do marido pela traição da então esposa, além da notícia de que seu suposto
descendente não era seu filho biológico.

Dessa forma, no caso concreto, restou configurado o dano moral, considerando que a ex-
mulher traiu a vítima com seu amigo, fazendo-o, ainda, acreditar que tinha tido um filho
biológico que era do outro.

Na situação em análise, outro ponto a ser ainda destacado é que o STJ afastou a defesa
apresentada pela ex-esposa de que somente traiu o homem pelo fato de ele não manter
com ela relações sexuais. Segundo explicou o Ministro Relator, não há compensação de
culpas no Direito de Família, sendo a fidelidade um dever incondicionado de ambos os
cônjuges.

Foi arbitrado o valor da indenização por danos morais em 200 mil reais.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 922.462-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/4/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Responsabilidade da sociedade incorporadora

A sucessão, por incorporação, de empresas, determina a extinção da personalidade jurídica da


incorporada, com a transmissão de seus direitos e obrigações à incorporadora.
Logo, à luz do instituto jurídico da incorporação, deve-se reconhecer que a incorporadora
detém legitimidade passiva para responder pelos atos da sociedade incorporada.
Comentários Incorporação
Incorporação é a operação por meio da qual uma ou mais sociedades são absorvidas por
outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações (art. 227 da LSA) (art. 1.116 do CC).
Ex: a sociedade empresária “Telesc” foi incorporada pela “Brasil Telecom S/A”. Isso significa
que a “Telesc” deixou de existir e passou a fazer parte da “Brasil Telecom S/A”.

“Conforme disciplina a Lei n. 6.404, de 15.12.1976 (Lei das Sociedades por Ações), a
incorporação - operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra -
enseja a extinção da personalidade jurídica da sociedade incorporada, equiparando-se, para
efeitos legais, à morte da pessoa física ou natural.” (AgRg no REsp 895.577/RS, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 19/10/2010).

Regramento
Se a incorporação envolver uma sociedade institucional (anônima ou comandita por ações),
a Lei que irá disciplinar esta operação é a Lei n. 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas). Se
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a incorporação envolver outras espécies societárias, aplicam-se as regras previstas no


Código Civil.

INFORMATIVO esquematizado
Responsabilidade
De quem é a responsabilidade pelas dívidas da sociedade incorporada?
Como a sociedade incorporada deixa de existir, quem responderá pelas suas dívidas é a
sociedade incorporadora. (STJ REsp 645.455/TO).

O Min. Paulo de Tarso Sanseverino aponta que a incorporação caracteriza-se,


essencialmente, por dois requisitos:
a) absorção total do patrimônio da incorporada pela incorporadora (todos os direitos e
obrigações);
b) extinção da personalidade jurídica da incorporada.

Assim, quando da incorporação da “Telesc” pela “Brasil Telecom S/A”, aquela, na qualidade
de incorporada, teve extinta sua personalidade jurídica, e esta, na qualidade de
incorporadora, absorveu todos os direitos e obrigações da primeira. Logo, à luz do instituto
jurídico da incorporação, deve-se reconhecer que a “Brasil Telecom S/A” detém
legitimidade passiva para responder pelos atos da antiga “Telesc”.
Processo STJ. 2ª Seção. REsp 1.322.624-SC, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Conflito de competência

É possível a existência de conflito de competência entre juízo estatal e câmara arbitral. Isso
porque a atividade desenvolvida no âmbito da arbitragem tem natureza jurisdicional.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 111.230-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/5/2013.

Intimação do representante da Fazenda Pública Nacional

É válida a intimação do representante judicial da Fazenda Pública Nacional por carta com aviso de
recebimento quando o respectivo órgão não possuir sede na comarca em que tramita o feito.
ATENÇÃO Comentários Os Procuradores da Fazenda Nacional possuem a prerrogativa de serem intimados
pessoalmente dos atos processuais?
SIM, conforme previsto no art. 20 da Lei n. 11.033/2004:
Art. 20. As intimações e notificações de que tratam os arts. 36 a 38 da Lei Complementar n.
73, de 10 de fevereiro de 1993, inclusive aquelas pertinentes a processos administrativos,
quando dirigidas a Procuradores da Fazenda Nacional, dar-se-ão pessoalmente mediante a
entrega dos autos com vista.

Se a causa tramitar em um Município do interior onde não exista sede da PFN, como poderá
ser feita esta intimação?
Neste caso, será válida a intimação do representante judicial da Fazenda Pública Nacional
por carta com aviso de recebimento.

Para o STJ, no caso de inexistência de órgão de representação judicial na comarca em que


tramita o feito, admite-se a intimação pelos Correios, à luz do art. 237, II, do CPC, aplicável
subsidiariamente às execuções fiscais:
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Art. 237. Nas demais comarcas aplicar-se-á o disposto no artigo antecedente, se houver
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órgão de publicação dos atos oficiais; não o havendo, competirá ao escrivão intimar, de
todos os atos do processo, os advogados das partes:

INFORMATIVO esquematizado
(...)
II - por carta registrada, com aviso de recebimento quando domiciliado fora do juízo.

Vale ressaltar que o próprio legislador adotou esta solução nos casos de intimações a serem
concretizadas fora da sede do juízo (art. 6º, § 2º, da Lei 9.028/1995):
Art. 6º A intimação de membro da Advocacia-Geral da União, em qualquer caso, será feita
pessoalmente.
(...)
§ 2º As intimações a serem concretizadas fora da sede do juízo serão feitas,
necessariamente, na forma prevista no art. 237, inciso II, do Código de Processo Civil.

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.352.882-MS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013 (recurso repetitivo).

Honorários sucumbenciais em caso de renúncia ou desistência para aderir ao REFIS da crise


(obs: este julgado somente interessa para os concursos federais mais difíceis)

São devidos honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de renúncia ao direito ou


desistência de ação com o objetivo de aderir ao regime de parcelamento tributário instituído
pela Lei n. 11.941/2009 (REFIS da crise).
Comentários A Lei n. 11.941/2009 previu a possibilidade de parcelamento de débitos oriundos de
tributos federais.
Para receber o parcelamento, contudo, o sujeito passivo deveria desistir de eventual ação
judicial em curso que estivesse discutindo tais débitos e, além disso, renunciar ao direito
sobre o qual se funda a ação (art. 269, V, do CPC) (Portaria Conjunta PGFN/RFB n. 6/2009).

Em caso de desistência ou renúncia, aquele que desistiu ou renunciou deverá pagar os


honorários de sucumbência à outra parte?
SIM. Esta é a regra geral prevista no art. 26 do CPC:
Art. 26. Se o processo terminar por desistência ou reconhecimento do pedido, as despesas
e os honorários serão pagos pela parte que desistiu ou reconheceu.

Assim, em regra, quem desistiu da ação e renunciou ao direito sobre o qual ela se funda para
aderir ao parcelamento da Lei n. 11.941/2009 deverá pagar honorários de sucumbência.

Exceção:
A Lei n. 11.941/2009 prevê uma única exceção e afirma que se a ação judicial que estava
tramitando tinha como objetivo o restabelecimento de sua opção ou a sua reinclusão em
outros parcelamentos, neste caso a parte estará dispensada de pagar os honorários mesmo
tendo desistido e renunciado. É o que diz o art. 6º, § 1º:
Art. 6º O sujeito passivo que possuir ação judicial em curso, na qual requer o
restabelecimento de sua opção ou a sua reinclusão em outros parcelamentos, deverá, como
condição para valer-se das prerrogativas dos arts. 1º, 2º e 3º desta Lei, desistir da respectiva
ação judicial e renunciar a qualquer alegação de direito sobre a qual se funda a referida
ação, protocolando requerimento de extinção do processo com resolução do mérito, nos
termos do inciso V do caput do art. 269 da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código
de Processo Civil, até 30 (trinta) dias após a data de ciência do deferimento do
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requerimento do parcelamento.
§ 1º Ficam dispensados os honorários advocatícios em razão da extinção da ação na forma
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deste artigo.

INFORMATIVO esquematizado
Resumindo:
Os honorários advocatícios só são dispensados do sujeito passivo tributário
(contribuinte) que desistir de ação judicial em que requeira o restabelecimento de sua
opção ou a sua reinclusão em outros parcelamentos (§ 1º do art. 6º).
Nas demais hipóteses (ações que tenham outro objetivo), aplica-se o art. 26, caput, do
CPC, que determina o pagamento dos honorários advocatícios pela parte que desistiu
do feito.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.353.826-SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Concessão de benefício previdenciário diverso do requerido na petição inicial

O juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do requerido na inicial, desde que
preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício concedido. Isso porque, tratando-se de
matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma menos rígida, à análise do pedido. Assim,
nesse contexto, a decisão proferida não pode ser considerada como extra petita ou ultra petita.
Comentários Princípio da congruência, correlação ou adstrição
Segundo esse princípio, o juiz:
não poderá conceder algo a mais ou diferente do que foi pedido;
não poderá fundamentar o veredito em causa de pedir diferente daquela que foi
exposta; e
deverá julgar a demanda em relação a todas as partes da lide, não podendo atingir
terceiros que não participaram do processo.

Previsão do princípio da congruência


O princípio da congruência está previsto em dois dispositivos do CPC:
Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer
de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.
Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida,
bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi
demandado.

Violação ao princípio da congruência


Quando o juiz viola o princípio da congruência, a decisão, em regra, incidirá em um dos
seguintes vícios:
a) Sentença extra petita: ocorre quando a decisão concede algo diferente do que foi
pedido pelo autor. Ex: em uma ação em que se pede a declaração de falsidade do
documento “X”, será extra petita a sentença se o juiz, sem analisar o pedido de
declaração de falsidade do documento “X”, declarar a falsidade do documento “Y”, não
pretendida pelo autor (exemplo fornecido por Vallisney de Souza);
b) Sentença ultra petita: ocorre quando a decisão concede além do que foi pedido. “Na
sentença ultra petita, o juiz concede ao autor a tutela jurisdicional pedida, o gênero do
bem da vida pretendido, mas extrapola a quantidade indicada pelo autor.” (NEVES, Daniel
Amorim Assumpção. p. 484). Ex: em uma ação em que se pede a declaração de falsidade
do documento “X”, será ultra petita a decisão que, além de declarar a falsidade do
documento “X”, avançar para declarar também a falsidade do documento “Y”;
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c) Sentença citra petita (infra petita): ocorre quando a decisão “fica aquém do pedido do
autor ou deixa de enfrentar e decidir causa de pedir ou alegação de defesa apresentada
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pelo réu. No aspecto subjetivo é citra petita a decisão que não resolve a demanda para
todos os sujeitos processuais” (NEVES, Daniel. ob. cit., p. 485).

INFORMATIVO esquematizado
Feitas as observações acima, imagine a seguinte situação:
João ajuíza uma ação contra o INSS pedindo a concessão de seu auxílio-doença, alegando
que possui uma incapacidade total, mas temporária, para o exercício de suas funções.
Durante a instrução, a perícia conclui que o segurado possui uma incapacidade total e
permanente. Logo, João não faz jus ao auxílio-doença e sim à aposentadoria por invalidez
(esta último benefício que ele não pediu, nem mesmo subsidiariamente).

Diante disso, o juiz poderá conceder a aposentadoria por invalidez mesmo que o autor, na
petição inicial, tenha requerido somente o auxílio-doença?
SIM. Segundo o STJ, o juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do
requerido na inicial, desde que preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício
concedido. Isso porque, tratando-se de matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma
menos rígida, à análise do pedido. Assim, nesse contexto, a decisão proferida não pode ser
considerada como extra petita ou ultra petita.
Obras DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil.
consultadas Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2013.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método,
2010.
OLIVEIRA, Vallisney de Souza. Nulidade da sentença e o princípio da congruência. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 270.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.367.825-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/4/2013.

Ação rescisória 1

Não é possível a rescisão de sentença com fundamento no inciso VII do art. 485 do CPC na
hipótese em que, além de não existir comprovação acerca dos fatos que justifiquem a ausência
de apresentação do documento em modo e tempo oportunos, este se refira a fato que não
tenha sido alegado pelas partes e analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara
a coisa julgada.
Comentários Conceito
Ação rescisória é uma ação que tem por objetivo desconstituir uma decisão judicial
transitada em julgado.

Natureza jurídica
A ação rescisória é uma espécie de ação autônoma de impugnação (sucedâneo recursal
externo).
Atenção: a ação rescisória NÃO é um recurso.
O recurso é uma forma de impugnar a decisão na pendência do processo, enquanto que a
ação rescisória somente pode ser proposta quando há trânsito em julgado, ou seja, quando
o processo já se encerrou.

Competência
A ação rescisória é sempre julgada por um tribunal (nunca por um juiz singular).
Quem julga a rescisória é sempre o próprio tribunal que proferiu a decisão rescindenda.

Hipóteses
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O CPC prevê as hipóteses em que a ação rescisória é cabível:


Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
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I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;

INFORMATIVO esquematizado
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão
entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar literal disposição de lei;
VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja
provada na própria ação rescisória;
VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de
que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se
baseou a sentença;
IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;
§ 1º Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar
inexistente um fato efetivamente ocorrido.
§ 2º É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia, nem
pronunciamento judicial sobre o fato.

Análise da hipótese do inciso VII (documento novo)


O inciso VII do art. 485 prevê o seguinte:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de
que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

O que é “novo?
Inicialmente, cumpre esclarecer que “documento novo” não é aquele que foi constituído
posteriormente ao julgamento da causa. O documento já existia na época em que a decisão
rescindenda foi prolatada. A lei chama o documento de “novo” porque ele não existia no
processo originário. Dito de outra forma: documento novo é aquele que já havia no mundo
dos fatos, mas que não existia no processo.

Requisitos do documento novo para fins de rescisória


O Min. Paulo de Tarso, em seu voto, elenca quatro requisitos que devem ser preenchidos
para que o “documento novo” possa ser utilizado como fundamento para ação rescisória
baseada no inciso VII do art. 485 do CPC:
a) O documento deve ser contemporâneo à prolação da decisão rescindenda (como
explicamos acima, o documento já existia na época em que a decisão foi prolatada; ele
não havia sido juntado ao processo originário);
b) O documento deve ser apto a, por si só, sustentar julgamento favorável ao postulante
(se o documento for de menor importância, não há razão lógica para se reabrir a
discussão sobre o caso transitado em julgado);
c) O documento novo era ignorado pela parte que o aproveita ou ela até sabia da sua
existência, mas estava impossibilidade de apresentá-lo por algum motivo justificado; e
d) O documento deve estar relacionado diretamente com o(s) fato(s) alegado(s) no
processo em que se formou a coisa julgada que se pretende desconstituir.

Com base nesse quarto requisito, o STJ decidiu que, para que o documento novo seja
admitido como apto a abrir a via da ação rescisória, é necessário que a prova que se deseja
ver agora apreciada se refira a fato alegado pelas partes e analisado pelo juízo no curso do
14

processo em que se formara a coisa julgada.


Página

INFORMATIVO esquematizado
A intenção do legislador em prever o “documento novo” como uma das hipóteses que
autoriza o uso da ação rescisória não foi a de ajudar aquele que exerceu mal o seu direito
de defesa. O objetivo foi de permitir que a parte possa apresentar, na rescisória, um
documento que comprove aquilo que ela alegou durante o processo, mas que não juntou
tal documento pelo fato de não saber que ele existia, ou mesmo sabendo, estar
impossibilitada de apresentá-lo (ex: o documento estava extraviado).

Em outras palavras, a hipótese do art. 485, VII, do CPC não serve para que a parte possa
trazer novos argumentos ao processo já encerrado. A finalidade do dispositivo é que a parte
possa juntar um novo documento para comprovar os argumentos velhos (ou seja, que já
tinham sido alegados).

Exemplo hipotético:
João propõe uma ação de cobrança contra Antônio. A única defesa do réu foi a de que ele nunca
manteve nenhum contrato com o autor e, por isso, essa dívida nunca existiu. Entretanto, João
conseguiu provar que houve sim o débito, razão pela qual a sentença foi procedente. Houve
apelação, tendo a decisão sido confirmada, ocorrendo o trânsito em julgado.
Um ano mais tarde, Antônio descobre que o autor da ação tinha em seu poder um
documento que prova ter ele quitado o débito com João.
Diante disso, Antônio ajuíza uma ação rescisória fundada no art. 485, VII, alegando que a
dívida realmente existiu, mas que ela foi paga conforme o documento novo que ele agora
dispõe e que estava na posse do credor, motivo pelo qual não pode anexar em sua defesa
no processo originário.
Não será cabível a ação rescisória nesse caso, considerando que a prova que se deseja ver
agora apreciada se refere a fato não alegado pelo réu (quitação) e que, portanto, não foi
analisado pelo juízo no curso do processo em que se formara a coisa julgada.

Fredie Didier explica bem essa circunstância:


“O documento novo deve, enfim, referir-se a fato alegado no processo originário, não contendo
serventia aquele que diga respeito a fato não invocado no feito em que proferida a decisão
rescindenda. (...) os fatos não alegados oportunamente no processo originário são alcançados
pelo efeito preclusivo da coisa julgada.” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da.
Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 11ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 452).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.293.837-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.

Ação rescisória 2
Em regra, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação original (o
documento era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será permitido, em
regra, que ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como documento novo.
De forma excepcional, o STJ entendeu que é possível ao tribunal, na ação rescisória, analisar
documento novo para efeito de configuração de início de prova material destinado à
comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento seja preexistente à
propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda referente à concessão de
aposentadoria rural por idade.
Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à propositura da
ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais pelas quais passam os
trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero.
Comentários Como vimos, o inciso VII do art. 485 prevê o seguinte:
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Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
Página

VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de
que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

INFORMATIVO esquematizado
Segundo a doutrina, “a parte, para valer-se da ação rescisória fundada em documento novo,
deve demonstrar que não conhecia tal documento durante o processo originário ou, se o
conhecia, a ele não teve acesso. Na hipótese de a parte deixar de juntar aos autos o
documento por desídia ou por culpa sua, não poderá, posteriormente, intentar a rescisória
fundada no inciso VII do art. 485 do CPC.” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro
da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3., 11ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 452).

Assim, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação (o documento era


preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será permitido, em regra, que ajuíze
a ação rescisória trazendo esta prova como documento novo.

Exceção no caso de ação proposta para aposentadoria rural


De forma excepcional, o STJ entende que é possível ao tribunal, na ação rescisória, analisar
documento novo para efeito de configuração de início de prova material destinado à
comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento seja preexistente à
propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda referente à concessão de
aposentadoria rural por idade.
Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à
propositura da ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais pelas
quais passam os trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero.

Ex: Maria propôs uma ação contra o INSS com o objetivo de obter aposentadoria rural.
Ocorre que a autora não conseguiu provar, com documentos, que exercia atividade rural,
tendo a demanda sido julgada improcedente.
Após o trânsito em julgado, Maria, por intermédio da DPU, ajuizou ação rescisória, com
fundamento no art. 485, VII, do CPC, juntando, como documento novo, a certidão de
nascimento dos seus filhos,b onde consta que ela era lavradora quando eles nasceram. Vale
ressaltar que essa certidão já estava disponível quando Maria propôs a primeira ação. Logo,
tecnicamente, não se trata de documento novo.
Em uma situação assim, em regra, o STJ afirma que não cabe ação rescisória. No entanto,
nos casos de trabalhadores rurais, tem sido adotada a solução pro misero para admitir a
análise do documento, como novo, ainda que ele fosse anterior à ação originária e já
estivesse disponível para que a parte o tivesse apresentado.

Didier, com a genialidade que lhe é peculiar, já havia apontado a existência de tal exceção:
“No caso de aposentadorias rurais, o conceito de documento novo deve ser alargado,
admitindo-se a prova documental que, mesmo existente quando ainda em curso o processo
originário e ainda que acessível ao trabalhador rural e dele conhecida, pode ser utilizada
para ajuizamento da ação rescisória, que, nesse caso, deve ser admitida e, até mesmo,
acolhida.” (ob. cit., p. 455).
Processo STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013.

Execução fiscal

Na execução fiscal, o executado não tem direito subjetivo de que a Fazenda Pública aceite o bem
por ele nomeado à penhora se esta indicação estiver em desacordo com a ordem estabelecida no
art. 11 da Lei n. 6.830/80 na hipótese em que não tenha apresentado elementos concretos que
justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC).
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Comentários Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,
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Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos


(tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.

INFORMATIVO esquematizado
A execução fiscal é regida pela Lei n. 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.

Qual é o procedimento da execução fiscal até chegar à penhora?


1) Petição inicial da execução (art. 6º);
2) Despacho do juiz deferindo a inicial e determinando a citação do executado (art. 7º);
3) Citação do executado para, em 5 dias, pagar a dívida ou garantir a execução (art. 8º);
4) Executado pode: a) pagar; b) garantir a execução; c) não pagar nem garantir;
5) Se pagar, extingue-se a execução;
6) Se garantir a execução (art. 9º), poderá opor embargos à execução;
7) Se não pagar nem garantir a execução, o juiz determinará a penhora de bens (art. 10):

Penhora é o ato pelo qual são apreendidos bens do devedor que serão utilizados para
satisfazer o crédito executado.

Antes de o juiz determinar a penhora, o próprio executado poderá se antecipar e oferecer


bens a serem penhorados?
SIM. Esta possibilidade está prevista no art. 9º, III, da LEF:
Art. 9º - Em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos
indicados na Certidão de Dívida Ativa, o executado poderá:
III - nomear bens à penhora, observada a ordem do artigo 11;

Existe alguma ordem de preferência que o executado deverá obedecer ou ele poderá
oferecer qualquer espécie de bem à penhora?
A Lei prevê uma ordem de preferência para penhora, ou seja, existem bens que devem ser
oferecidos à penhora antes que outros. Esta lista de prioridades está prevista no art. 11 da LEF:
Art. 11. A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte ordem:
I - dinheiro;
II - título da dívida pública, bem como título de crédito, que tenham cotação em bolsa;
III - pedras e metais preciosos;
IV - imóveis;
V - navios e aeronaves;
VI - veículos;
VII - móveis ou semoventes; e
VIII - direitos e ações.

Em regra, somente poderão ser penhorados os bens do inciso II se não houver do inciso I e
assim sucessivamente. Não se pode penhorar um carro, por exemplo, se o executado tiver
uma pedra preciosa.

O devedor irá indicar os bens a serem penhorados por meio de petição dirigida ao juízo ou
diretamente ao oficial de justiça no prazo de 5 após ter sido citado da execução.

Imagine agora que João esteja sendo executado pela União e que ele possua diversos
imóveis e veículos. João indicou para penhora um veículo em detrimento dos imóveis,
alegando que a execução deve ser feita do meio menos gravoso para o devedor (art. 620 do
CPC) e que, para ele, é melhor perder o carro que o imóvel. Logo, o meio menos gravoso é a
penhora do veículo.
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A tese desenvolvida pelo executado é correta? O bem indicado pelo devedor à penhora deve
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ser obrigatoriamente aceito pela Fazenda Pública (exequente) ainda que exista outro que
seja preferencial?

INFORMATIVO esquematizado
NÃO. Na execução fiscal, o executado não tem direito subjetivo de que a Fazenda Pública
aceite o bem por ele nomeado à penhora se esta indicação estiver em desacordo com a
ordem estabelecida no art. 11 da Lei n. 6.830/1980 na hipótese em que não tenha
apresentado elementos concretos que justifiquem a incidência do princípio da menor
onerosidade (art. 620 do CPC).

É ônus do devedor comprovar que, naquele caso concreto, é extremamente necessário


afastar-se a ordem legal dos bens penhoráveis. Assim, para que se afaste a regra do art. 11
não basta a mera invocação genérica do art. 620 do CPC.

Exige-se, para a superação da ordem legal, que estejam presentes circunstâncias fáticas
especiais que justifiquem a prevalência do princípio da menor onerosidade para o devedor.

Desse modo, a Fazenda Pública não é obrigada a aceitar bens nomeados à penhora fora da
ordem legal insculpida no art. 11 da Lei n. 6.830/80, pois o princípio da menor onerosidade
do devedor, preceituado no art. 620 do CPC, tem que estar em equilíbrio com a satisfação
do credor.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.337.790-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Inquérito civil e denúncia anônima

É possível a instauração e o prosseguimento de inquérito civil com a finalidade de apurar


possível incompatibilidade entre a evolução patrimonial de vereadores e seus respectivos
rendimentos, ainda que o referido procedimento tenha se originado a partir de denúncia
anônima, na hipótese em que realizadas administrativamente as investigações necessárias
para a formação de juízo de valor sobre a veracidade da notícia.
Ressalte-se que o art. 13 da Lei de Improbidade obriga os agentes públicos a disponibilizarem
periodicamente informações sobre seus bens e evolução patrimonial. Vale destacar que os agentes
políticos sujeitam-se a uma diminuição na esfera de privacidade e intimidade, de modo que se
mostra ilegítima a pretensão de não revelar fatos relacionados à evolução patrimonial.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
O Ministério Público, por meio de sua página na internet, recebeu uma “denúncia anônima”
relatando que determinados vereadores tiveram uma evolução patrimonial incompatível
com seus rendimentos.
O Promotor de Justiça determinou a instauração de inquérito civil baseado apenas nessa
“denúncia anônima” e requisitou dos investigados inúmeras informações, dentre elas
fontes de renda que possuem, além da remuneração recebida do Município.

O que é um inquérito civil?


O inquérito civil é um procedimento administrativo, investigativo, de natureza inquisitorial,
instaurado pelo membro do Ministério Público com a finalidade de apurar fatos que podem
ser objeto de uma ação civil pública.

Características:
• procedimento administrativo;
• investigativo;
• inquisitorial (para a maioria, não existe contraditório e ampla defesa);
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• unilateral;
• não obrigatório (facultativo);
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• público;
• exclusivo do Ministério Público (só ele pode instaurar).
INFORMATIVO esquematizado
Regulamentação
• Art. 129, III, da CF/88;
• Art. 8º da Lei n. 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública);
• Art. 6º da Lei n. 7.853/89 (pessoas com deficiência);
• Art. 201, V, da Lei n. 8.069/90 (ECA);
• Art. 6º, VII, da LC n. 75/93 (Lei do MPU);
• Art. 25, IV, da Lei n. 8.625/93 (Lei orgânica do MP);
• Art. 74, I, da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso);
• Resolução n. 23/2007-CNMP.

Fases: são três as fases do inquérito civil: instauração, instrução e conclusão.

Instauração
O inquérito civil poderá ser instaurado:
I – de ofício;
II – em face de requerimento ou representação formulada por qualquer pessoa ou
comunicação de outro órgão do Ministério Público, ou qualquer autoridade.
Obs: o requerimento ou representação pode ser formulada inclusive verbalmente, situação
em que o MP reduzirá a termo as declarações. A falta de formalidade, por si só, não implica
indeferimento do pedido de instauração de inquérito civil.
III – por designação do Procurador-Geral de Justiça, do Conselho Superior do Ministério
Público, Câmaras de Coordenação e Revisão e demais órgãos superiores da Instituição, nos
casos cabíveis.

Forma: a instauração do inquérito civil se dá por meio de portaria.

Denúncia anônima é válida para a instauração de IC?


SIM. A jurisprudência do STJ admite a atuação investigatória do Ministério Público, no
âmbito administrativo, em caso de denúncia anônima.

É certo que a CF/88 veda o anonimato (art. 5°, IV). No entanto, essa previsão deve ser
harmonizada, com base no princípio da concordância prática, com o dever constitucional
imposto ao Ministério Público de promover o Inquérito Civil e a Ação Civil Pública para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos (art. 129, III).

Nos termos do art. 22 da Lei n. 8.429/1992, o Ministério Público pode, mesmo de ofício,
requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo para apurar
qualquer ilícito previsto no aludido diploma legal. Se pode de ofício, nada impede que o
faça mediante uma denúncia anônima.

Assim, ainda que a notícia da suposta discrepância entre a evolução patrimonial de agentes
políticos e seus rendimentos tenha decorrido de denúncia anônima, não se pode impedir que o
membro do Parquet tome medidas proporcionais e razoáveis, como no caso dos autos, para
investigar a veracidade do juízo apresentado por cidadão que não se tenha identificado.
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Vale ressaltar que o § 3º do art. 2º da Resolução n. 23/2007-CNMP autoriza a instauração


de inquérito civil mesmo em caso de manifestação anônima, desde que obedecidos os
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mesmos requisitos para as representações em geral, isto é, desde que existam, por meios
legalmente permitidos, informações sobre o fato e seu autor.

INFORMATIVO esquematizado
Confira dois precedentes recentes nesse sentido:
(...) O STJ reconhece a possibilidade de investigar a veracidade de denúncia anônima em
Inquérito Civil ou Processo Administrativo (...)
(RMS 38.010/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 02/05/2013)

(...) 2. A Lei n. 8.625/1993, lei orgânica do Ministério Público, e a Resolução n. 23/2007 do


Conselho Nacional do Ministério Público autorizam a atuação investigatória do parquet, no
âmbito administrativo, em caso de denúncia anônima. (...)
(RMS 37.166/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/04/2013)

Os investigados poderiam alegar o direito à intimidade para se recusarem a prestar


informações sobre sua evolução patrimonial?
NÃO. O art. 13 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92) obriga os agentes
públicos a disponibilizarem periodicamente informações sobre seus bens e evolução
patrimonial. Segundo já decidiu o STJ, os agentes políticos sujeitam-se a uma diminuição na
esfera de privacidade e intimidade, de modo que se mostra ilegítima a pretensão de não
revelar fatos relacionados à evolução patrimonial (RMS 38.010/RJ).

Qual é o instrumento jurídico cabível por meio do qual os investigados podem questionar a
instauração de um inquérito civil abusivo?
Algumas leis orgânicas de Ministérios Públicos estaduais preveem a existência de um
recurso administrativo contra a instauração.
Os investigados poderão também impetrar mandado de segurança.

É cabível a impetração de habeas corpus nesse caso?


NÃO. O habeas corpus não é meio hábil para questionar-se aspectos ligados quer ao
inquérito civil público, quer à ação civil pública, porquanto, nesses procedimentos, não se
faz em jogo, sequer na via indireta, a liberdade de ir e vir.
(HC 90378, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 13/10/2009)
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 38.010-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/4/2013.

DIREITO PENAL

Confissão espontânea e reincidência

No caso de concurso de agravantes e atenuantes (art. 67 do CP),


a reincidência prevalece sobre a confissão espontânea?
1ª corrente: SIM. A reincidência prevalece (STF).
2ª corrente: NÃO. A confissão e a reincidência se compensam (STJ).
Comentários O que acontece se o juiz, ao sentenciar, perceber que existe, ao mesmo tempo, agravantes e
atenuantes aplicáveis àquele caso concreto? Ex: o réu praticou o crime por relevante valor
moral (o que é uma atenuante), mas cometeu contra seu irmão (o que configura uma
agravante)
Neste caso, dizemos que existe um “concurso de agravantes e atenuantes”. O Código Penal
prevê o que o magistrado deve fazer em tais situações:
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Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite


indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam
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dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.

INFORMATIVO esquematizado
Se compararmos a agravante e a atenuante existentes e nenhuma delas for preponderante
em relação à outra, dizemos que elas são equivalentes (igualmente preponderantes). Neste
caso, uma irá neutralizar a eficácia da outra, de forma que não haverá aumento nem
diminuição nesta fase. A isso a doutrina chama de equivalência das circunstâncias.

Explicado isso, indaga-se:


Caso o réu tenha confessado a prática do crime (o que é uma atenuante), mas seja
reincidente (o que configura uma agravante), qual dessas circunstâncias irá prevalecer?

Existem duas correntes sobre o tema:

1ª) A reincidência prevalece. 2ª) Reincidência e confissão se compensam.


Posição do STF Posição do STJ.
É a posição do STF: É a posição do STJ:
A teor do disposto no art. 67 do Código (...)devem ser compensadas a atenuante da
Penal, a circunstância agravante da confissão espontânea e a agravante da
reincidência, como preponderante, reincidência por serem igualmente
prevalece sobre a confissão. preponderantes. (...)
(HC 96061, Rel. Min. Teori Zavascki, (STJ 3ª Seção. EREsp 1.154.752-RS, Rel.
Segunda Turma, julgado em 19/03/2013) Min. Sebastião Reis Júnior, j. em 23/5/2012).

O art. 67 do CP menciona “motivos”, “personalidade” e “reincidência”. Onde está prevista a


“confissão” como fator preponderante?
Para a 2ª corrente, a confissão está prevista no rol das circunstâncias preponderantes,
considerando que é um aspecto relacionado com a “personalidade do agente”.

Resumindo o tema:
No caso de concurso de agravantes e atenuantes (art. 67 do CP), a reincidência prevalece
sobre a confissão espontânea?
1ª corrente: SIM. A reincidência prevalece (STF).
2ª corrente: NÃO. A confissão e a reincidência se compensam (STJ).

A novidade é que o tema foi decidido agora pelo STJ sob a sistemática do recurso repetitivo.
Processo STJ. 3ª Seção. REsp 1.341.370–MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/4/2013 (recurso repetitivo).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Exceção da verdade e competência

A exceção da verdade oposta em face de autoridade que possua prerrogativa de foro pode ser
inadmitida pelo juízo da ação penal de origem caso verificada a ausência dos requisitos de
admissibilidade para o processamento do referido incidente.
Comentários Calúnia
O art. 138 do Código Penal prevê o delito de calúnia:
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
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Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.


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Ex: Pedro afirma que João (desembargador) “vendeu” decisão favorável no processo “X”. Se
esta afirmação for falsa e Pedro souber disso, ele comete calúnia.

INFORMATIVO esquematizado
Exceção da verdade
Só existe calúnia se o fato que o autor imputou a alguém for falso.
Se o fato criminoso imputado for verdadeiro, não há calúnia.
Assim, se João realmente “vendeu” a decisão, não há calúnia na declaração prestada por Pedro.
Justamente por conta disso, uma das defesas que a pessoa acusada de calúnia pode
formular é a exceção (= defesa) da verdade, ou seja, o réu defende-se da acusação de
calúnia provando que sua declaração não é falsa.

Ação penal
Em regra, no caso de calúnia, a ação penal é privada.
Em outras palavras, se o agente praticar calúnia contra determinada pessoa, esta terá que
ajuizar uma queixa-crime contra o ofensor. Em regra, o MP não será o autor desta ação penal.

No caso da calúnia praticada contra funcionário público, em razão de suas funções (art. 141,
II, do CP), a ação será:
Ação penal privada; ou
Ação penal pública condicionada à representação.

Trata-se de uma hipótese de legitimação concorrente, ou seja, a vítima poderá optar entre
oferecer queixa-crime (ação penal privada) ou, então, oferecer uma representação para que
o MP denuncie o acusado (ação penal pública condicionada). Veja o que diz a Súmula 714
do STF:
Súmula 714-STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

Voltemos ao nosso exemplo


Pedro afirma que João (desembargador) “vendeu” decisão favorável no processo “X”.
Inconformado, João decide tomar providências penais contra Pedro.
João poderá oferecer uma representação ao Ministério Público, narrando o que Pedro
declarou e pedindo que o Parquet ofereça denúncia contra este. Como outra opção, João
poderá, ele próprio, por intermédio de advogado, ajuizar queixa-crime contra Pedro.

Competência para julgar a eventual calúnia praticada por Pedro


Imaginemos que João tenha ajuizado uma queixa-crime.
A ação penal privada proposta por João (desembargador) contra Pedro deverá ser julgada
pelo juízo de 1ª instância, considerando que o réu não tem foro por prerrogativa de função.
Em nosso exemplo, quem tem foro por prerrogativa de função é João, mas ele não é réu e
sim autor.

Pedro deseja provar que suas declarações são verdadeiras


O querelado (Pedro) quer se defender provando que as declarações por ele proferidas são
verdadeiras. Logo, ele deverá oferecer uma defesa chamada de “exceção da verdade”
(exceptio veritatis). A exceção da verdade é um incidente processual.
Provando que João, de fato, “vendeu” a decisão, não haverá crime contra a honra,
considerando que só existe calúnia se o fato imputado for falso.
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Personagens e nomenclatura
João: autor da ação penal (querelante) / demandado na exceção da verdade (excepto);
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Pedro: réu na ação penal (querelado) / demandante na exceção da verdade (excipiente).

INFORMATIVO esquematizado
Quem deverá julgar a exceção da verdade?
Em regra, quem julga a exceção da verdade é o próprio juiz competente para a ação penal
privada. No entanto, se o excepto for uma autoridade que possua foro por prerrogativa de
função, a competência para julgar a exceção será do Tribunal competente para julgar o excepto.
Ex: como João é desembargador, caso ele pratique algum crime, deverá ser julgado pelo STJ
(seu foro privativo é no STJ). Logo, a exceção da verdade contra ele proposta deverá ser
também julgada pelo STJ.

Por que a exceção da verdade deverá ser julgada pelo mesmo Tribunal que for competente
para julgar criminalmente o excepto?
Porque se a exceção da verdade for julgada procedente, isso significa que ficou provado que
o fato imputado é verdadeiro, ou seja, restou demonstrado, indiretamente, que aquela
autoridade praticou um crime. E só quem pode reconhecer que a autoridade praticou um
delito é o Tribunal competente. O juiz de 1ª instância não tem competência para
reconhecer, ainda que indiretamente, que um Desembargador cometeu um crime.

Previsão legal
Apesar da redação do dispositivo não ser muito clara, o que foi explicado acima está
previsto no art. 85 do CPP:
Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que
a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação,
àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.

Juízo de admissibilidade, processamento e instrução da exceção são feitos pelo juízo de 1ª


instância
Vale ressaltar que apenas o julgamento da exceção será de competência do Tribunal. Assim,
a admissão da exceção, o processamento e os atos de instrução são realizados em 1ª
instância. Somente depois que a exceção estiver recebida e instruída pelo juízo de 1ª
instância é que ela será encaminhada ao Tribunal competente apenas para julgamento do
mérito da exceção.
Desse modo, em nosso exemplo, Pedro deverá oferecer a exceção da verdade perante o
juízo de 1ª instância. Este irá fazer um juízo de admissibilidade, ou seja, verificar se, naquele
caso específico, a legislação permite a exceção da verdade. Se o juízo de admissibilidade for
positivo, o juiz irá colher toda a prova produzida e remeter ao STJ.

Então o juízo de 1ª instância poderá fazer um juízo negativo de admissibilidade da exceção?


SIM. O juízo de 1ª instância pode realizar um juízo negativo de admissibilidade da exceptio
veritatis, sem adentrar, obviamente, no mérito.
A competência por prerrogativa de foro é só para o julgamento do mérito da exceção,
cabendo ao juízo de origem a admissibilidade e a instrução do feito.
Ex1: o juízo de 1ª instância poderá negar admissibilidade à exceção por esta ser
intempestiva.
Ex2: o juízo de 1ª instância poderá negar admissibilidade em razão dos fatos que o
excipiente almeja provar serem diferentes daqueles pelos quais ele está sendo acusado na
ação penal privada.
Processo STJ. Corte Especial. Rcl 7.391-MT, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/6/2013.
23
Página

INFORMATIVO esquematizado
Modificação de competência pela assunção de cargo público e ratificação de atos

O réu foi denunciado pelo Promotor, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª instância.
O processo prosseguia normalmente, quando o acusado foi eleito prefeito. Diante disso, foi
declinada a competência para que o TJ julgasse a causa. No Tribunal, o processo teve
prosseguimento e o réu foi condenado.
Nesse caso, quando o processo chegou ao TJ, não se fazia necessária a ratificação da denúncia e
dos atos praticados pelo juízo. Isso porque não se tratam de atos nulos, mas sim válidos à
época em que praticados, cabendo ao Tribunal apenas prosseguir no julgamento do feito a
partir daquele instante.
Comentários Imagine a seguinte situação:
O réu foi denunciado pelo Promotor de Justiça, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo
de 1ª instância.
O processo prosseguia normalmente, quando o acusado foi eleito prefeito.
Diante disso, considerando que os prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no
Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88), o juiz de 1ª instância declinou da competência a
partir do momento da diplomação.
No TJ, o processo teve prosseguimento e o réu foi condenado.

Após a condenação, a defesa alegou que houve nulidade, tendo em vista que o Procurador-
Geral de Justiça, que atuou no processo no TJ, precisaria ter ratificado a denúncia quando o
processo foi para lá deslocado. O STJ concordou com esse argumento?
NÃO. Quando a denúncia foi oferecida e recebida pelo juiz, o réu não era detentor de foro
privativo. Logo, na época, tanto o Promotor de Justiça possuía atribuição para ajuizar, como
o juízo de 1ª instância era competente para conhecer da ação penal.
O réu somente passou a ostentar foro privativo no curso da instrução processual, ocasião
em que os autos foram encaminhados ao TJ.
Desse modo, não há que se falar em necessidade de ratificação da peça inaugural,
tampouco da decisão que a acolheu, uma vez que não se tratam de atos nulos, mas válidos
à época em que praticados, cabendo ao TJ prosseguir no julgamento do feito a partir
daquele instante, tal como de fato procedeu.
Ademais, há que se ressaltar que assim que os autos foram remetidos ao TJ, o
Desembargador Relator abriu vista ao Procurador-Geral de Justiça que, após analisar a
denúncia ofertada e os demais atos praticados no juízo inicialmente competente, não
vislumbrou qualquer irregularidade ou mácula que pudesse contaminá-los, opinando pelo
prosseguimento da ação, o que demonstra que, ainda que implicitamente, concordou com
os termos da denúncia apresentada.
Em suma, tratando-se de incompetência superveniente, permanecem válidos os atos
praticados pelas autoridades inicialmente competentes.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 202.701-AM, Rel. Ministro Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013.
Outra Veja esta situação um pouco diferente envolvendo um caso no qual a denúncia ainda não
situação havia sido recebida pelo juízo de 1ª instância:

Exemplo hipotético:
O Procurador Geral de Justiça (Ministério Público estadual) ofereceu denúncia, no Tribunal
de Justiça, contra “X” (prefeito).
Deve-se lembrar que os Prefeitos possuem foro por prerrogativa de função no Tribunal de
Justiça (art. 29, X, da CF/88).
24

Antes que a denúncia fosse recebida, “X” foi eleito e diplomado Governador do Estado.
A competência para processar e julgar os Governadores pela prática de infrações penais
Página

comuns é do STJ (art. 105, I, a, da CF/88). Logo, o TJ perdeu a competência para analisar se
deveria ou não receber a denúncia, devendo remeter o processo ao STJ.

INFORMATIVO esquematizado
Chegando o processo ao STJ, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual somente
poderá ser examinada por aquela Corte se for ratificada pelo Procurador-Geral da República
(ou por um dos Subprocuradores-Gerais que atue por delegação), em homenagem ao
princípio do promotor natural. Isso porque o órgão ministerial que tem legitimidade para
atuar no STJ é o Procurador-Geral da República (ou um Subprocurador-Geral, mediante
delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido, confira o art. 48, II, da LC n. 75/93:
Art. 48. Incumbe ao Procurador-Geral da República propor perante o Superior Tribunal de
Justiça:
(...)
II - a ação penal, nos casos previstos no art. 105, I, "a", da Constituição Federal.
Parágrafo único. A competência prevista neste artigo poderá ser delegada a Subprocurador-
Geral da República.

Assim, se o Ministério Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o
réu e esta é posteriormente encaminhada ao STJ, tal denúncia somente poderá ser
processada e julgada se for ratificada pelo Procurador-Geral da República ou por um dos
Subprocuradores-Gerais.
A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e
julgamento do feito, a denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser
examinada pelo STJ se for ratificada pelo MPF, órgão que tem legitimidade para atuar nas
ações penais de competência originária do Tribunal da Cidadania.
STJ. Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012.
.

Reconsideração da decisão de recebimento da denúncia após a defesa do réu

O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo após o
oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP, reconsiderar a
Defensoria anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses
elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa.
Comentários Vejamos algumas etapas do procedimento penal comum (ordinário e sumário):

Absolvição
sumária
Citação Defesa (art. 397)
Recebimento Réu citado p/
responder à acusação
preliminar
em 10 dias. (art. 396-A) Rejeição da absolvição
Denúncia sumária e designação
de audiência
Rejeição
(art. 395, CPP)

Assim, após o MP oferecer a denúncia, o juiz irá decidir se ela deverá ser recebida ou
rejeitada. A denúncia é recebida, portanto, antes do réu ter sido citado e de ter
apresentado sua defesa.
25

Por quais motivos o juiz pode rejeitar a denúncia?


Página

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

INFORMATIVO esquematizado
I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Essas hipóteses de rejeição da denúncia são analisadas pelo juiz sem a possibilidade de que
o réu tenha exercido o contraditório, ou seja, a única versão que tem nos autos, por
enquanto, é a do MP.

Recebida a denúncia, o réu é citado e apresenta, no prazo de 10 dias, a sua resposta escrita,
isto é, a sua primeira defesa no processo.

Recebendo a defesa preliminar*, de acordo com o texto da lei, o juiz tem apenas duas opções:
a) Absolver sumariamente o réu (art. 397 do CPP).
b) Rejeitar a absolvição sumária e designar audiência.

Por quais motivos o juiz pode absolver sumariamente o réu? São as mesmas hipóteses da
rejeição da denúncia?
NÃO. São hipóteses diferentes. Os motivos pelos quais o juiz pode absolver sumariamente o
réu estão previstos no art. 397:
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

Imagine agora a seguinte situação:


O MP ajuizou uma ação penal. O juiz, analisando a peça acusatória, em um primeiro
momento, não vislumbrou nenhuma hipótese pela qual ela poderia ser rejeitada (art. 395
do CPP), razão pela qual a denúncia foi recebida.
Ocorre que o réu apresentou uma excelente resposta escrita (defesa preliminar),
demonstrando claramente que falta um pressuposto processual.
A ausência de pressuposto processual não se enquadra em nenhuma das hipóteses do art.
397, de forma que o juiz não pode absolver sumariamente o réu com base nesse motivo. A
falta de pressuposto processual, contudo, é causa de rejeição da peça acusatória (art. 395,
I). Ocorre que esta denúncia já foi recebida.

Diante dessa lacuna da lei, o que o magistrado poderá fazer?


O juiz poderá voltar atrás e reconsiderar a decisão que recebeu a peça acusatória,
proferindo nova decisão, agora rejeitando a denúncia.

Segundo decidiu o STJ, o fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de
primeiro grau de, logo após o oferecimento da resposta do acusado (arts. 396 e 396-A),
reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma
das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa.

Nos termos do art. 396, se não for verificada de plano a ocorrência de alguma das hipóteses
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do art. 395, a peça acusatória deve ser recebida e determinada a citação do acusado para
responder por escrito à acusação. Em seguida, na apreciação da defesa preliminar, segundo
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o art. 397, o juiz deve absolver sumariamente o acusado quando verificar uma das quatro
hipóteses descritas no dispositivo. Contudo, nessa fase, o juiz não pode ter a sua cognição

INFORMATIVO esquematizado
limitada às hipóteses de absolvição sumária (art. 397 do CPP), devendo ser permitido que o
magistrado possa, além de absolver sumariamente o acusado, fazer também um novo
exame sobre o recebimento da denúncia.

O próprio art. 396-A, ao tratar sobre a resposta escrita, esclarece que o réu poderá arguir, em
sua defesa, preliminares. Ora, nenhuma das hipóteses de absolvição sumária (art. 397) trata
sobre “preliminares”. Em verdade, caso o juiz acate uma preliminar (ex: falta de condição da
ação), deverá fundamentar sua decisão nas situações de rejeição da denúncia (art. 395, II).

Seria desarrazoado que o juiz constatasse, por exemplo, que falta uma condição da ação e,
mesmo assim, continuasse a instrução processual simplesmente porque já havia proferido
decisão recebendo a denúncia. Haveria uma violação aos princípios da economia e
celeridade processuais.

Além de todos os argumentos que já foram acima expostos, o magistrado poderia, ainda,
fundamentar sua decisão no art. 267, § 3º, CPC, aplicável ao processo penal por analogia,
segundo o qual o juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição,
enquanto não proferida a sentença de mérito, das matérias de ordem pública.

* Uma observação terminológica:


A resposta apresentada pelo art. 396-A do CPP não tem uma nomenclatura pacífica.
O CPP fala em “resposta escrita”. Boa parte da doutrina e da jurisprudência chama de
“resposta preliminar” ou “defesa preliminar”.
Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.318.180-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/5/2013.

Medida de segurança

O inimputável submetido à medida de segurança de internação em hospital de custódia e


tratamento psiquiátrico não poderá cumpri-la em estabelecimento prisional comum, ainda
que sob a justificativa de ausência de vagas ou falta de recursos estatais.
Comentários Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal.
Existem duas espécies de sanção penal:
a) Pena;
b) Medida de segurança.

“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente


preventiva, e de caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis
portadores de periculosidade, com o escopo de evitar a prática de futuras infrações penais.”
(MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 815).

Existem duas espécies de medida de segurança (art. 96 do CP):


DETENTIVA RESTRITIVA
Consiste na internação do agente em um Consiste na determinação de que o agente
hospital de custódia e tratamento se sujeite a tratamento ambulatorial.
psiquiátrico.
Obs: se não houver hospital de custódia, a
internação deverá ocorrer em outro
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estabelecimento adequado.
É chamada de detentiva porque representa O agente permanece livre, mas tem uma
Página

uma forma de privação da liberdade do restrição em seu direito, qual seja, a obrigação
agente. de se submeter a tratamento ambulatorial.

INFORMATIVO esquematizado
Neste julgado, o STJ reafirmou o entendimento de que o inimputável submetido à medida
de segurança de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico NÃO poderá
cumpri-la em estabelecimento prisional comum (presídio, cadeia pública etc.), ainda que
sob a justificativa de ausência de vagas ou falta de recursos estatais. Isso porque não pode o
agente ser submetido a situação mais gravosa do que aquela definida judicialmente.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 231.124-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Requisitos para a instituição de contribuição de melhoria

A instituição de contribuição de melhoria depende de lei prévia e específica, bem como da


ocorrência de efetiva valorização imobiliária em razão da obra pública, cabendo ao ente
tributante o ônus de realizar a prova respectiva.
Comentários Conceito de contribuição de melhoria
Contribuição de melhoria é um tributo cobrado dos proprietários de bens imóveis como
forma de contraprestação pelo fato de o poder público ter realizado uma obra que
ocasionou a valorização desses imóveis.

Previsão
CF/Art. 145. A União, os Estados, o DF e os Municípios poderão instituir os seguintes
tributos:
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

CTN/Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para
fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como:
* limite total a despesa realizada e
* como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado.

Decreto-Lei n.° 195, de 24 de fevereiro de 1967


Dispõe sobre a cobrança da Contribuição de Melhoria.

Diferença entre contribuição de melhoria, taxa e imposto


Contribuição de melhoria Taxa Imposto
Pressupõe uma obra pública que Pressupõe a utilização de um Não pressupõe nenhuma
gere valorização do bem imóvel serviço público (que é diferente contraprestação por parte do
do contribuinte. de obra pública) ou de poder de estado.
polícia.
O princípio justificador é a O princípio justificador é a O princípio norteador é a
atribuição da mais-valia retribuição ou remuneração dos capacidade contributiva do
imobiliária gerada pela obra serviços públicos ou do poder de contribuinte.
pública. polícia.
Tributo bilateral, sinalagmático ou Tributo bilateral, sinalagmático ou Tributo unilateral, não
contraprestacional. contraprestacional. sinalagmático ou não
contraprestacional.
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Competência para instituir contribuições de melhoria


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Trata-se de tributo de competência comum, ou seja, pode ser instituído pela União,
Estados/DF e Municípios.
INFORMATIVO esquematizado
Fato gerador
O fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização imobiliária decorrente de uma
obra pública, também chamado de mais valia.

Desse modo, o FG = obra pública + valorização imobiliária

Deixando ainda mais claro: é necessário que tenha havido uma obra pública que tenha
produzido uma valorização e que esta mais-valia tenha recaído sobre um imóvel do
contribuinte.

O pagamento deve ser feito após a obra ter sido concluída e desde que o ente tributante
comprove ter ocorrido a efetiva valorização imobiliária em razão da obra pública (REsp
1.326.502-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 18/4/2013).

Requisitos previstos no CTN:


Art. 82. A lei relativa à contribuição de melhoria observará os seguintes requisitos
mínimos:
I - publicação prévia dos seguintes elementos:
a) memorial descritivo do projeto;
b) orçamento do custo da obra;
c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição;
d) delimitação da zona beneficiada;
e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou para
cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas;

II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação pelos interessados, de
qualquer dos elementos referidos no inciso anterior;

III - regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamento da impugnação a


que se refere o inciso anterior, sem prejuízo da sua apreciação judicial.
§ 1º A contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio da parcela do custo
da obra a que se refere a alínea c, do inciso I, pelos imóveis situados na zona beneficiada em
função dos respectivos fatores individuais de valorização.
§ 2º Por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deverá ser notificado do
montante da contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que
integram o respectivo cálculo.

Esta lei de que trata o art. 82 do CTN deverá ser:


prévia (anterior à obra pública);
específica (deverá ser editada uma lei para cada obra pública).
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.326.502-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 18/4/2013.

Constituição do crédito tributário com base em confissão de dívida e decadência


Não é possível a constituição de crédito tributário com base em documento de confissão de
dívida tributária apresentado, para fins de parcelamento, após o prazo decadencial previsto no
art. 173, I, do CTN.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
A empresa Y deixou de pagar um tributo federal, que venceu em setembro/1995.
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Vale ressaltar que esse tributo era sujeito a lançamento de ofício. Isso significa que a
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Receita Federal tinha 5 anos para fazer esse lançamento, iniciando-se o prazo em 1º de
janeiro de 1996, conforme prevê o art. 173 do CTN:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5
(cinco) anos, contados:
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido
efetuado;

Em outras palavras, em 01/01/1996 iniciou o prazo decadencial para que a Fazenda Pública
fizesse o lançamento do tributo. Esse prazo se encerrou em 01/01/2001 sem que houvesse
o lançamento. Logo, nessa data, houve a decadência, que é uma causa de extinção do
crédito tributário (art. 156, V, do CTN).

Pedido de parcelamento depois da extinção do crédito tributário


Suponha agora que a empresa Y, não conhecendo bem a legislação tributária, não sabia que
o crédito tributário já estava extinto e, então, formulou, em 01/02/2001, um pedido de
parcelamento do referido tributo.
No ato do parcelamento, a Administração Tributária, como é comum, exigiu que a empresa
contribuinte assinasse um documento confessando que possuía realmente aquele débito
tributário e que renunciava ao direito de questionar a dívida judicialmente. Esse documento
é chamado, usualmente, de “termo de confissão de dívida tributária”.

Empresa deixa de pagar o parcelamento


Alguns meses depois, a empresa contratou uma consultoria jurídica e o advogado percebeu
que o parcelamento celebrado referia-se a uma obrigação tributária que sequer se
constituiu em crédito tributário, porquanto houve a decadência antes do lançamento.
Em palavras simples, não houve constituição do crédito tributário e o Fisco perdeu o prazo
decadencial para fazê-lo.
Diante disso, a recomendação do advogado foi para que a empresa deixasse de pagar o
parcelamento.

Execução fiscal
Como já era esperado, a Fazenda ajuizou execução fiscal contra a empresa.

O tema jurídico discutido é o seguinte:


O documento de confissão de dívida tributária firmado pelo devedor tem o poder de
constituir o crédito tributário mesmo tendo sido celebrado após o prazo decadencial que o
Fisco tinha para fazer o lançamento (art. 173, I, do CTN)?
NÃO. A decadência é uma forma de extinção do crédito tributário (art. 156, V, do CTN).
Sendo assim, uma vez extinto o direito, não pode ser reavivado por qualquer sistemática de
lançamento ou autolançamento, seja ela via documento de confissão de dívida, declaração
de débitos, parcelamento ou de outra espécie qualquer.

Segundo o STJ, se o crédito já estava extinto (pela decadência), não havia mais o que ser
confessado sob o ponto de vista jurídico.

Além disso, não se pode conferir à confissão de débitos eficácia superior àquela própria do
lançamento de ofício (arts. 145 e 149, do CTN). Se o crédito está extinto pela decadência,
isso significa que a Administração Tributária não pode mais lançar o tributo. Logo, também
não poderá haver a constituição desse tributo pela confissão.
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Em suma, a confissão de dívida para fins de parcelamento não tem efeitos absolutos, não
podendo reavivar crédito tributário já extinto.
Página

Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.355.947–SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Aposentadoria rural por idade e comprovação de atividade rural

Para a concessão de aposentadoria rural, a certidão de nascimento dos filhos que qualifique o
companheiro como lavrador deve ser aceita como início de prova documental do tempo de
atividade rurícola da companheira.
Comentários Para ter direito à aposentadoria rural, a pessoa pode comprovar o exercício de atividade
rurícola com base apenas em testemunhas?
NÃO. Existe até mesmo uma súmula afirmando isso.

Súmula 149-STJ: A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da


atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário.

Assim, a prova exclusivamente testemunhal é insuficiente para comprovação da atividade


laborativa do trabalhador rural, sendo indispensável que ela venha corroborada por
razoável início de prova material, conforme exige o art. 55, § 3º, da Lei n. 8.213/1991:
Art. 55 (...) § 3º A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive
mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no art. 108, só
produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova
exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito,
conforme disposto no Regulamento.

Início de prova material


“Considera-se início de prova material, para fins de comprovação da atividade rural,
documentos que contêm a profissão ou qualquer outro dado que evidencie o exercício da
atividade rurícola e seja contemporâneo ao fato nele declarado.
Na prática previdenciária, o mais comum é a certidão de casamento em que conste a
profissão de lavrador; atestado de frequência escolar em que conste a profissão e o
endereço rural; declaração do Tribunal Regional Eleitoral; declaração de ITR; contrato de
comodato etc.” (AMADO, Frederico. Direito e processo previdenciário sistematizado.
Salvador: Juspodivm, 2013, p. 566).

O segurado pode apresentar prova material de apenas uma parte do tempo de serviço e se
valer de testemunhas para comprovar o restante?
SIM. Pode haver a apresentação de prova material de apenas parte do lapso temporal, de
forma que a prova material é complementada por prova testemunhal idônea.

Segundo o STJ, não é imperativo que o início de prova material diga respeito a todo o
período de carência estabelecido pelo art. 143 da Lei nº 8.213/91, desde que a prova
testemunhal amplie sua eficácia probatória, vinculando-o, pelo menos, a uma fração
daquele período (AgRg no REsp 1326080/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, julgado em 06/09/2012).

No mesmo sentido entende a TNU:


Súmula 14-TNU: Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o
início de prova material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício.
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Qual é o rol de documentos hábeis à comprovação do exercício de atividade rural?


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Essa relação encontra-se prevista no art. 106 da Lei n. 8.213/91.

INFORMATIVO esquematizado
Esse rol de documentos é taxativo ou o requerente pode se valer de outros tipos de
documento?
Trata-se de rol meramente exemplificativo, e não taxativo, sendo admissíveis, portanto,
outros documentos além dos previstos no mencionado dispositivo.

Certidão de nascimento dos filhos onde consta a profissão de lavrador


Neste julgado o STJ decidiu que a certidão de nascimento dos filhos que qualifique o
companheiro como lavrador deve ser aceita como início de prova documental do tempo de
atividade rurícola da companheira para fins de concessão de aposentadoria rural.
Ex: Maria quer a aposentadoria rural. Ela poderá juntar a cópia da certidão de nascimento
dos seus filhos onde consta que seu companheiro, João, era lavrador. Isso será considerado
como início de prova material.

Esse entendimento do STJ vai ao encontro da posição também defendida na TNU:


Súmula 06-TNU: A certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a
condição de trabalhador rural do cônjuge constitui início razoável de prova material da
atividade rurícola.
Processo STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013.

Benefícios previdenciários recebidos indevidamente não podem ser inscritos em dívida ativa

Não é possível a inscrição em dívida ativa de valor correspondente a benefício previdenciário


indevidamente recebido e não devolvido ao INSS.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João é segurado do INSS e recebe um benefício no valor de 1 salário mínimo.
Em uma determinado mês, a autarquia, por equívoco, depositou 2 salários mínimos na
conta do beneficiário.
Constatado o erro, João foi chamado até a agência do INSS, sendo solicitado que ele
devolvesse os valores percebidos, pedido este recusado pelo segurado.

O INSS poderá inscrever estes valores em dívida ativa e, com isso, ajuizar uma execução
fiscal contra João?
NÃO. Para o STJ, não é possível a inscrição em dívida ativa de valor correspondente a
benefício previdenciário indevidamente recebido e não devolvido ao INSS. Isso porque a
inscrição em dívida ativa de valor decorrente de ilícito extracontratual deve ser fundamentada
em dispositivo legal específico que a autorize expressamente, o que não é o caso.
Se o legislador quisesse que o recebimento indevido de benefício previdenciário ensejasse a
inscrição em dívida ativa, teria previsto expressamente na Lei n. 8.212/1991 ou na Lei n.
8.213/1991, o que não fez.

Não se pode aplicar por analogia o que está previsto no § 1º do art. 47 da Lei n.
8.112/1990 porque seria uma analogia em matéria de restrição de direitos:
Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for demitido, exonerado, ou que tiver sua
aposentadoria ou disponibilidade cassada, ou ainda aquele cuja dívida relativa a reposição
seja superior a cinco vezes o valor de sua remuneração terá o prazo de sessenta dias para
quitar o débito.
§ 1º A não quitação do débito no prazo previsto implicará sua inscrição em dívida ativa.
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O que o INSS deverá fazer para reaver os valores pagos indevidamente?


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INFORMATIVO esquematizado
Se João ainda estiver recebendo benefício do INSS:
A autarquia poderá descontar do próprio benefício que ainda será pago em períodos
posteriores e, nos casos de dolo, fraude ou má-fé, a lei prevê a restituição de uma só vez
(descontando-se do benefício) ou mediante acordo de parcelamento (art. 115, II e § 1º, da
Lei n. 8.213/1991 e art. 154, II e § 2º, do Dec. 3.048/1999).

Se não for possível efetuar os descontos:


Na impossibilidade da realização desses descontos, seja porque o beneficiário deixou de sê-lo
(suspensão ou cessação), seja porque seu benefício é insuficiente para a realização da
restituição de uma só vez ou, ainda, porque a pessoa que recebeu os valores o fez
indevidamente, jamais tendo sido a real beneficiária, a lei não prevê a inscrição em dívida ativa.
Nessas situações, por falta de lei específica que determine a inscrição em dívida ativa, torna-se
necessário que o INSS ajuíze uma ação de repetição de indébito pleiteando o ressarcimento.

Atenção ao Decreto n. 3.048/99:


O Decreto n. 3.048/99 prevê a possibilidade de inscrição em dívida ativa nessa hipótese.
No entanto, tal previsão não é considerada válida porque os benefícios previdenciários
indevidamente recebidos, qualificados como enriquecimento ilícito, não se enquadram no
conceito de crédito tributário ou não tributário previsto no art. 39, § 2º, da Lei 4.320/1964.
Logo, fica reforçado que inexiste previsão legal para a sua inscrição em dívida ativa.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.350.804-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

Ação rescisória por documento novo e comprovação de atividade rural

Em regra, se a parte já possuía o documento antes da propositura da ação original (o


documento era preexistente), não tendo sido juntado por desídia, não será permitido, em
regra, que ajuíze a ação rescisória trazendo esta prova como documento novo.
De forma excepcional, o STJ entendeu que é possível ao tribunal, na ação rescisória, analisar
documento novo para efeito de configuração de início de prova material destinado à
comprovação do exercício de atividade rural, ainda que esse documento seja preexistente à
propositura da ação em que proferida a decisão rescindenda referente à concessão de
aposentadoria rural por idade.
Nesse caso, é irrelevante o fato de o documento apresentado ser preexistente à propositura da
ação originária, pois devem ser consideradas as condições desiguais pelas quais passam os
trabalhadores rurais, adotando-se a solução pro misero.
Comentários Para maiores informações, vide julgado indexado na seção de Direito Processual Civil.
Processo STJ. 3ª Seção. AR 3.921-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) É válida a intimação do representante judicial da Fazenda Pública Nacional por carta com aviso de
recebimento quando o respectivo órgão não possuir sede na comarca em que tramita o feito. ( )
2) O juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do requerido na inicial, desde que
preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício concedido. ( )
3) (DPE/RR 2013 CESPE) O recente pronunciamento dos tribunais superiores consolidou-se no sentido da
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impossibilidade de o julgador, na aplicação da pena, compensar a agravante da reincidência com a


atenuante da confissão espontânea. ( )
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INFORMATIVO esquematizado
4) (MP/RO 2010 CESPE) O inquérito civil constitui procedimento de instauração obrigatória pelo MP,
destinado a coligir provas e quaisquer outros elementos de convicção, de forma a viabilizar o exercício
responsável da ação civil pública. ( )
5) (MP/MS 2013) A abertura de inquérito civil não é condição preliminar ao ajuizamento de ação civil
pública. ( )
6) (DPE/AC 2012 CESPE) É obrigatória a observância, no inquérito civil, dos princípios do contraditório e da
ampla defesa. ( )
7) (MP/RO 2010 CESPE) O inquérito civil, em que não há, em regra, a necessidade de se atender aos
princípios do contraditório e da ampla defesa, constitui procedimento meramente informativo, que
visa à investigação e à apuração de fatos. ( )
8) (DPE/AM 2013 FCC) Nos termos da Lei da Ação Civil Pública, dentre os legitimados ativos para a sua
propositura, somente o Ministério Público pode instaurar inquérito civil. ( )
9) (DPE/MS 2012) De acordo com a Lei Federal n.º 7.347/1985, o inquérito civil público é facultativo e de
titularidade exclusiva do Ministério Público. ( )
10) (Juiz TJBA 2012 CESPE) O defensor público deve, antes de ajuizar qualquer demanda, instaurar
inquérito civil público, a fim de investigar os fatos. ( )
11) (Juiz TJES 2012 CESPE) O defensor público deve, antes de ajuizar qualquer demanda, instaurar inquérito
civil público, a fim de investigar os fatos narrados pelos consumidores por ele atendidos. ( )
12) (MP/SP 2012) Quando houver representação, o inquérito civil não poderá ser instaurado enquanto não
for identificado o representante, ainda que o fato seja determinado. ( )
13) (MP/SP 2012) A representação para instauração do inquérito civil deverá ser apresentada por escrito,
não devendo o Promotor de Justiça aceitá-la se for de outra forma. ( )
14) (MP/SP 2012) A representação poderá ser indeferida sem necessidade de motivação, quando apócrifa.
( )
15) (Juiz TJPA 2012 CESPE) Não configura constrangimento ilegal o recolhimento em presídio comum, pelo
prazo superior a um ano, de sentenciado submetido a medida de segurança que consista em
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, caso seja comprovada a falta de vagas
nesse tipo de estabelecimento. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. C 8. C 9. C 10. E
11. E 12. E 13. E 14. E 15. E

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INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA
RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO ADMINISTRATIVO. GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE (GAE) PAGA AOS ADVOGADOS DA UNIÃO.


RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
A Gratificação de Atividade (GAE) instituída pela Lei Delegada 13/1992 é devida aos Advogados da União
somente até a edição da MP 2.048-26/2000, momento em que foi substituída pela Gratificação de
Desempenho de Atividade Jurídica (GDAJ).
A MP 2.048-26/2000 reestruturou e reorganizou carreiras, cargos e funções comissionadas técnicas no
âmbito da Administração Pública Federal, entre as quais a de Advogado da União, concedendo-lhes, no art.
41, uma nova gratificação, a GDAJ. Assim, não obstante o fato de o art. 1º dessa medida provisória não ter
se referido ao cargo de Advogado da União, devem ser interpretados, sistemática e teleologicamente, seus
arts. 41 e 59 para concluir que a GAE foi retirada de todos os cargos tratados por ela — e não apenas dos
relacionados às carreiras elencadas em seu art. 1º — para ser substituída pela GDAJ.
REsp 1.353.016-AL, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. COBRANÇA DE REAJUSTE INCIDENTE SOBRE PARCELA REMUNERATÓRIA


INCORPORADA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
A incorporação da Parcela Autônoma do Magistério (PAM) aos vencimentos dos professores públicos do
Estado do Rio Grande do Sul não implica, por si só, a prescrição do fundo de direito da pretensão de
cobrança dos reajustes incidentes sobre a parcela incorporada instituídos, antes da incorporação, pela Lei
Estadual 10.395/1995. De fato, embora a PAM tenha sido incorporada aos vencimentos dos professores
públicos do Estado do Rio Grande do Sul (Lei Estadual 11.662/2001), os reajustes incidentes sobre a parcela
incorporada e anteriores a esse evento repercutem continuamente na esfera jurídico-patrimonial dos
servidores, gerando efeitos financeiros de trato sucessivo. Assim, não há que se falar em negativa
inequívoca do direito à revisão da verba incorporada ante a incorporação. Nessa situação, incide a regra da
Súmula 85 do STJ, segundo a qual, nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure
como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as
prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação. Precedentes citados: REsp
1.313.586-RS, Segunda Turma, DJe 4/2/2013 e AgRg no REsp 1.313.646-RS, Primeira Turma, DJe 21/9/2012.
REsp 1.336.213-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESNECESSIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO ESPECÍFICA PARA A DISCUSSÃO


DE ENCARGOS INCIDENTES SOBRE DEPÓSITOS JUDICIAIS. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES.
8/2008-STJ).
A discussão quanto à aplicação de juros e correção monetária nos depósitos judiciais independe de ação
específica contra o banco depositário.
Precedentes citados: AgRg no REsp 1.136.119-SP, Segunda Turma, DJe 30/9/2010 e AgRg no AG 522.427-
SP, Terceira Turma, DJe 2/10/2009.
REsp 1.360.212-SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. CREDITAMENTO DE ICMS SOBRE A ENERGIA ELÉTRICA CONSUMIDA PELAS


PRESTADORAS DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES.
8/2008-STJ).
É possível o creditamento do ICMS incidente sobre a energia elétrica consumida pelas prestadoras de
serviços de telecomunicações para abatimento do imposto devido quando da prestação de serviços.
O art. 19 da LC 87/1996, em âmbito legal, assegura o direito à não-cumulatividade para o ICMS, prevendo a
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compensação do que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de
serviços de transporte — interestadual e intermunicipal — e de comunicação com o montante cobrado nas
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operações anteriores pelo mesmo estado ou por outro. Por sua vez, o art. 33, II, “b”, do referido dispositivo

INFORMATIVO esquematizado
legal prevê a possibilidade de creditamento de ICMS relativamente à aquisição de energia elétrica, na
hipótese em que o estabelecimento a utilize no processo de industrialização. A propósito, por força do Dec.
640/1962 — recepcionado pela Constituição atual e compatível com a legislação tributária posterior —, os
serviços de comunicação são equiparados à indústria. Assim, em virtude da essencialidade da energia
elétrica, como insumo, para o exercício da atividade de telecomunicações, induvidoso se revela o direito ao
creditamento de ICMS, em atendimento ao princípio da não-cumulatividade. Precedentes citados: REsp
842.270-RS, Primeira Seção, DJe 26/6/2012, e AgRg no AgRg no REsp 1.134.930-MS, Segunda Turma, DJe
19/12/2012. REsp 1.201.635-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 12/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CONHECIMENTO DE CONFLITO DE COMPETÊNCIA SUSCITADO APÓS O


OFERECIMENTO DE EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA.
O anterior oferecimento de exceção de incompetência não obsta o conhecimento de conflito de
competência quando o objeto deste for absolutamente distinto do objeto daquela. Isso porque não se
pode interpretar a regra processual contida no art. 117 do CPC — segundo o qual não pode suscitar conflito
a parte que, no processo, ofereceu exceção de incompetência — de modo a gerar uma situação de
impasse, subtraindo da parte meios de se insurgir contra uma situação que repute injusta, haja vista que o
direito processual deve, na máxima medida possível, estar a serviço do direito material, como um
instrumento para a sua realização.
CC 111.230-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ARBITRAL PARA O JULGAMENTO DE MEDIDA


CAUTELAR DE ARROLAMENTO DE BENS.
Na hipótese em que juízo arbitral tenha sido designado por contrato firmado entre as partes para
apreciar a causa principal, será este — e não juízo estatal — competente para o julgamento de medida
cautelar de arrolamento de bens, dependente da ação principal, que tenha por objeto inventário e
declaração de indisponibilidade de bens.
De fato, em observância aos requisitos fixados pelo art. 857 do CPC para o deferimento da medida cautelar
de arrolamento de bens — demonstração do direito aos bens e dos fatos em que funda o receio de extravio
ou de dissipação dos bens —, nota-se que não se trata de medida que, para ser deferida, demande
cognição apenas sobre o receio de redução patrimonial do devedor. Na verdade, trata-se de medida cujo
deferimento demanda, também, que esteja o juízo convencido da aparência de direito à obtenção desses
bens, o que nada mais é do que uma análise ligada ao mérito da controvérsia, a qual, por sua vez, é de
competência do juízo arbitral na hipótese em que exista disposição contratual nesse sentido. Ademais, é
importante ressaltar que o receio de dissipação do patrimônio não fica desprotegido com a manutenção
exclusiva da competência da corte arbitral para o julgamento da medida de arrolamento, pois os árbitros,
sendo especialistas na matéria de mérito objeto da lide, provavelmente terão melhores condições de
avaliar a necessidade da medida. Além disso, o indispensável fortalecimento da arbitragem, que vem sendo
levado a efeito desde a promulgação da Lei 9.307/1996, torna indispensável que se preserve, na maior
medida possível, a autoridade do árbitro como juiz de fato e de direito para o julgamento de questões
ligadas ao mérito da causa. Isso porque negar essa providência esvaziaria o conteúdo da Lei de Arbitragem,
permitindo que, simultaneamente, o mesmo direito seja apreciado, ainda que em cognição perfunctória,
pelo juízo estatal e pelo juízo arbitral, muitas vezes com sérias possibilidades de interpretações conflitantes
para os mesmos fatos.
CC 111.230-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/5/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. CREDITAMENTO DO IPI EM RELAÇÃO À ENERGIA ELÉTRICA CONSUMIDA NO


PROCESSO PRODUTIVO.
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O contribuinte não tem direito a crédito presumido de IPI, em relação à energia elétrica consumida no
processo produtivo, como ressarcimento das contribuições ao PIS/Pasep e à Cofins, na forma
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estabelecida pelo art. 1º da Lei 9.363/1996. Isso porque a energia elétrica consumida na produção
industrial não integra o conceito de “matéria-prima”, “produto intermediário” ou “material de

INFORMATIVO esquematizado
embalagem” para efeito da legislação do IPI. Efetivamente, é de se observar que os citados termos
veiculam conceitos jurídicos que não se encontram diretamente definidos na legislação que instituiu o
benefício do crédito presumido, mas sim na própria legislação do imposto, conforme remissão feita pelo
parágrafo único do art. 3º da mesma lei, o qual permite a utilização subsidiária da legislação do IPI para o
estabelecimento dos conceitos de “matéria-prima”, “produtos intermediários” e “material de embalagem”.
Nesse contexto, o art. 82 do Dec. 87.981/1982 (RIPI) prevê que os estabelecimentos industriais poderão
creditar-se “do imposto relativo a matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem,
adquiridos para emprego na industrialização de produtos tributados, incluindo-se, entre as matérias-primas
e produtos intermediários, aqueles que, embora não se integrando ao novo produto, forem consumidos no
processo de industrialização”. De fato, a expressão "consumidos no processo de industrialização" significa
consumo, desgaste ou alteração de suas propriedades físicas ou químicas durante a industrialização.
Portanto, a legislação tributária considera como insumo aquilo que se integra, de forma física ou química,
ao novo produto ou aquilo que sofre consumo, desgaste ou alteração de suas propriedades físicas ou
químicas. Desse modo, a energia elétrica consumida no processo produtivo, por não sofrer ou provocar
ação direta mediante contato físico com o produto, não integra o conceito de "matéria-prima" ou "produto
intermediário" para efeito da legislação do IPI e, por conseguinte, para efeito da obtenção do crédito
presumido do imposto como ressarcimento das contribuições ao PIS/PASEP e à COFINS. Ainda, observe-se
que esse entendimento já se encontra pacificado na seara administrativa pela Súmula 12 do Segundo
Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.000.848-SC,
Primeira Turma, DJe 20/10/2010; e AgRg no REsp 919.628- PR, Segunda Turma, DJe 24/8/2010.
REsp 1.331.033-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA INCIDENTE SOBRE OS CRÉDITOS


ESPONTANEAMENTE RECONHECIDOS PELA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA.
A correção monetária incide a partir do término do prazo de trezentos e sessenta dias, previsto no art. 24
da Lei 11.457/2007, contado da data do protocolo do pedido administrativo de ressarcimento realizado
pelo contribuinte. Isso porque, conforme dispõe o art. 24 da Lei 11.457/2007, é “obrigatório que seja
proferida decisão administrativa no prazo máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias a contar do protocolo
de petições, defesas ou recursos administrativos do contribuinte”. Portanto, o Fisco somente deve ser
considerado em mora a partir do término do referido prazo, quando, então, estará configurada a
denominada "resistência ilegítima" prevista na Súmula 411 do STJ: "É devida a correção monetária ao
creditamento do IPI quando há oposição ao seu aproveitamento decorrente de resistência ilegítima do
Fisco". REsp 1.331.033-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 2/4/2013.

DIREITO CIVIL E AGRÁRIO. DIREITO DE PREFERÊNCIA NA AQUISIÇÃO DE IMÓVEL RURAL.


O contrato firmado como “arrendamento de pastagens”, na hipótese em que não tenha havido o
exercício da posse direta da terra explorada pelo tomador da pastagem, não confere o direito de
preempção previsto na Lei 4.504/1966 e no Dec. 59.566/1966. De fato, o art. 92, § 3º, da Lei 4.504/1966 e
o art. 45 do Dec. 59.566/1966 estabelecem o direito de preempção do arrendatário rural na aquisição do
imóvel arrendado. Pode-se afirmar que o referido direito foi conferido ao arrendatário rural como garantia
do uso econômico da terra explorada por ele, não abrangendo outras modalidades de contratos agrários
por se tratar de norma restritiva do direito de propriedade. Nesse contexto, vale observar que o contrato
de arrendamento rural tem como elemento essencial a posse do imóvel pelo arrendatário, que passa a ter
o uso e gozo da propriedade. Dessa forma, na hipótese em que tenha sido firmado contrato de
“arrendamento de pastagens” sem que o tomador da pastagem tenha a posse direta da terra a ser
explorada, deve-se afastar a natureza do contrato de arrendamento para considerá-lo como de “locação de
pastagem”, caso em que não é possível exercer o direito de preferência que a lei estabelece para o
arrendatário.
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REsp 1.339.432-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013.


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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERESSE DE AGIR PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS EM FACE DE ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.
O participante de entidade de previdência privada tem interesse em demandar a respectiva entidade em
ação de prestação de contas para esclarecimentos sobre as importâncias vertidas ao fundo por ela
administrado, ainda que ele não tenha esgotado a via administrava e mesmo que sejam cumpridas pela
entidade as exigências legais de divulgação anual das informações pertinentes ao plano por ela
administrado. Com efeito, mesmo com a divulgação anual das informações referentes ao plano de
benefícios — conforme determinam os arts. 22 a 24 da LC 109/2001 —, não afasta o interesse de
participante da entidade em postular judicialmente, na forma individualizada, a prestação de contas. Além
disso, o esgotamento da via administrativa não é condição para o surgimento do interesse em ajuizar a
referida ação de prestação de contas. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.163.447-DF, Quarta Turma, DJe
17/12/2010; e AgRg no REsp 888.090-DF, Terceira Turma, DJe 7/6/2010.
AgRg no AREsp 150.390-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PRESTAÇÃO DE CONTAS REALIZADA POR ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA
DE FORMA DIVERSA DA MERCANTIL.
O magistrado não pode desconsiderar a prestação de contas realizada por entidade de previdência
privada, ainda que de forma diversa da mercantil, na hipótese em que as contas tenham sido
apresentadas de maneira clara e inteligível. Com efeito, o magistrado deve verificar se as contas
apresentadas atingem as finalidades do processo e, em caso positivo, afastar o rigor da norma inserida no
art. 917 do CPC, pois o escopo da referida norma é apenas a indicação pormenorizada dos débitos e
créditos, das receitas e despesas, a fim de permitir aos autores a exata compreensão da forma como se
chegou ao resultado apresentado. Precedentes citados: AREsp 11.904-DF, Terceira Turma, DJe 17/2/2012;
e REsp 1.171.676-DF, Terceira Turma, DJe 19/3/2012.
AgRg no AREsp 150.390-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NÃO CONFIGURAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO NO CASO DE


AÇÃO EM QUE SE OBJETIVE A RESTITUIÇÃO DE PARCELAS PAGAS A PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.
Na ação em que se objetive a restituição de parcelas pagas a plano de previdência privada, não há
litisconsórcio passivo necessário entre a entidade administradora e os participantes, beneficiários ou
patrocinadores do plano. Com efeito, no caso em que existam diversos titulares de direitos que derivem do
mesmo título ou do mesmo fato jurídico e que estejam em jogo direitos patrimoniais, cabendo a cada
titular uma parcela do todo divisível, será, em regra, eficaz o provimento concedido a algum deles, mesmo
sem a presença dos demais. Isso porque a própria lei confere caráter de excepcionalidade ao litisconsórcio
necessário, impondo-o apenas nas hipóteses previstas em lei ou pela natureza da relação jurídica (art. 47
do CPC). Sendo assim, como não se trata de hipótese em que o litisconsórcio necessário seja imposto por
lei, tampouco se cuida de uma única relação jurídica indivisível, não há como falar, nesses casos, na
configuração de litisconsórcio passivo necessário.
REsp 1.104.377-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 523 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foi incluído neste informativo esquematizado o seguinte julgado, decidido com base em
peculiaridades do caso concreto e que possui pouca importância para concursos públicos: CC 121.390-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO
Responsabilidade civil do Estado por fraude ocorrida em Registro de Imóveis
Deve ser extinto o processo, sem resolução do mérito, na hipótese de ação em que se pretenda
obter do Estado, antes de declarada a nulidade do registro imobiliário, indenização por dano
Concurso decorrente de alegada fraude ocorrida em Cartório de Registro de Imóveis.
Cartório Nessa situação, falta interesse de agir, pois, antes de reconhecida a nulidade do registro, não é
possível atribuir ao Estado a responsabilidade civil pela fraude alegada. Isso porque, segundo o art.
252 da Lei 6.015/73, o registro, enquanto não cancelado, produz todos os efeitos legais, ainda que,
por outra maneira, prove-se que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
João ajuizou ação de indenização contra o Estado, alegando que “perdeu” a propriedade do
imóvel “X”, em razão de ter ocorrido um registro fraudulento no Cartório de Registro de
Imóveis atribuindo o bem a outra pessoa.

O STJ afirmou que o processo deve ser extinto sem resolução do mérito por falta de
interesse de agir. Isso porque o art. 252 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73)
estabelece que:
Art. 252. O registro, enquanto não cancelado, produz todos os efeitos legais ainda que, por
outra maneira, se prove que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido.

Dessa forma, enquanto o ato jurídico apontado como fraudulento no presente caso não for
anulado por meio de ação própria, conforme dispõe o art. 252 da LRP, esse registro estará
produzindo todos os efeitos legais.

Logo, antes de pleitear indenização do Estado, a parte prejudicada precisará ajuizar ação
própria, autônoma, para obter a anulação do registro. Enquanto não for declarada a nulidade
do ato jurídico tido como fraudulento e, consequentemente, o cancelamento do registro
originado por tal ato, o autor não possui interesse de agir para postular indenização.

Vale ressaltar, ainda, que, uma vez declarada a nulidade do ato, a situação do registro
retornará ao status quo ante, ou seja, o imóvel objeto do registro voltará ao domínio do
1

autor, não havendo falar em indenização por danos a ser pleiteada em face do Estado
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considerando que inexistirá prejuízo.


Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.366.587-MS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/4/2013.

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Pretensão de danos morais decorrentes de tortura no regime militar é imprescritível

As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o
Regime Militar de exceção são imprescritíveis.
Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013.

Prazo prescricional no caso de desapropriação indireta

O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é de 10 anos.


Comentários Conceito de desapropriação indireta
ATENÇÃO A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público) se apropria do bem de
um particular sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação, dentre
as quais a declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia.
Trata-se de um verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público.
A desapropriação indireta é também chamada de apossamento administrativo.

O que a pessoa faz no caso de desapropriação indireta?


Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade pública:
pode ser proposta uma ação possessória visando a manter ou retomar a posse do bem.
Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que houve
fato consumado e somente restará ao particular ajuizar uma “ação de desapropriação
indireta” a fim de ser indenizado. Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41:

Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser
objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de
desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

Ação de desapropriação indireta


Consiste, portanto, na ação proposta pelo prejudicado em face do Poder Público, que se
apossou do bem pertencente a particular sem observar as formalidades legais da
desapropriação.
Trata-se de uma ação condenatória, objetivando indenização por perdas e danos.
Também é chamada de “ação expropriatória indireta” ou “ação de ressarcimento de danos
causados por apossamento administrativo”.

Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta?


No CC-1916: era de 20 anos.
No CC-2002: é de 10 anos.

Repito: atualmente, segundo este julgado do STJ, o prazo de desapropriação indireta é de


10 anos. Cuidado porque muitos livros trazem informação diferente quanto a isso. No
entanto, em concursos CESPE, deve-se adotar o entendimento do STJ.

Qual é o fundamento jurídico para esse prazo?


Segundo o STJ, a ação de desapropriação indireta possui natureza real e pode ser proposta
pelo particular prejudicado enquanto não tiver transcorrido o prazo para que o Poder
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Público adquira a propriedade do bem por meio da usucapião.

INFORMATIVO esquematizado
Em outras palavras, como não há um prazo específico previsto na legislação, o STJ entendeu
que deveria ser aplicado, por analogia, o prazo da usucapião extraordinária.
Assim, enquanto não tiver passado o prazo para que o Estado adquira o imóvel por força de
usucapião, o particular poderá buscar a indenização decorrente do ato ilícito de
apossamento administrativo.

Qual é o prazo de usucapião extraordinária?


No CC-1916: era de 20 anos (art. 550).
No CC-2002: 15 anos (art. 1.238). No entanto, este prazo passa a ser de 10 anos se o
possuidor tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo no local (parágrafo único
do art. 1.238). Como na desapropriação indireta pressupõe-se que o Poder Público tenha
realizado obras no local ou tenha dado ao imóvel uma utilidade pública ou de interesse
social, entende-se que a situação se enquadraria no parágrafo único do art. 1.238 do CC, de
sorte que o prazo para a usucapião seria de 10 anos.
Logo, atualmente, o prazo prescricional aplicável às expropriatórias indiretas passou a ser
de 10 anos, com fundamento analógico no parágrafo único do art. 1.238 do CC.

Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos.


Cuidado. A súmula 119 do STJ foi editada em 1994 e não está mais em vigor, considerando
que utilizava como parâmetro o CC-1916.
Atualmente, a ação de desapropriação indireta prescreve em 10 anos. Faça essa observação
em seu vademecum.
Direito O que acontece se o prazo prescricional iniciou na vigência do CC-1916 e se estendeu para o
intertem- CC-2002?
poral Nesse caso, deverá ser aplicada a regra de direito intertemporal prevista no art. 2.028 do
CC-2002:
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na
data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.

Interpretando esse art. 2.028 do CC:


Continua sendo o prazo do CC-1916:
• quando ele foi reduzido pelo CC-2002, e
• se, na data da entrada em vigor do CC-2002, já tinha transcorrido mais da metade do
tempo estabelecido no CC-1916.

Exemplo:
A pretensão de indenização por desapropriação indireta prescrevia em 20 anos no CC-1916.
No CC-2002 prescreve em 10 anos.
Se uma pessoa sofreu o desapossamento administrativo em 1991, em 2003 (data em que
entrou em vigor o CC), já havia se passado 12 anos. Logo, prevalece o prazo do CC-1916 e
esta vítima só terá mais 8 anos para ajuizar a ação.
Se a pessoa sofreu o desapossamento em 1994, em 2003 havia se passado apenas 9 anos.
Logo, será aplicado o novo prazo do CC-2002 (de 10 anos). A partir de 11/01/2003 (data da
entrada em vigor do CC-2002) iniciará o prazo de 10 anos para que a vítima ajuíze a ação.

E se o CC-2002 aumentou o prazo?


Nesse caso, aplica-se o do CC-2002.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Honorários advocatícios no caso de desapropriação indireta

No caso de ação de desapropriação indireta, os honorários advocatícios devem ser fixados


entre 0,5% e 5% do valor da diferença do preço oferecido, ou seja, nos limites percentuais
estabelecidos no art. 27, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei 3.365/1941.
Comentários O art. 27 do DL n.° 3.365/1941 estabelece:
§ 1º A sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior ao preço
oferecido condenará o desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados
entre meio e cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto no § 4º do art. 20
do Código de Processo Civil, não podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e
cinquenta e um mil reais). (Redação dada MP nº 2.183-56, de 2001) (Vide ADIN nº 2.332-2)

§ 3º O disposto no § 1º deste artigo se aplica: (Incluído pela MP nº 2.183-56)


(...)
II - às ações de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta.

Na ADI 2332, o STF suspendeu os efeitos da norma do DL 3.365 que, com a redação
dada pela MP 2183 instituía um valor máximo para esses honorários advocatícios (R$
151.000,00). Em outras palavras, os honorários advocatícios poderão sim ultrapassar
151 mil reais.
Não foi suspensa, contudo, a norma que limitou o percentual dos honorários (0,5 a 5%).
Para a fixação do percentual, o juiz deverá levar em conta os mesmos fatores de
avaliação previstos no CPC (art. 20, § 4º).

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.300.442-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013.

Processo administrativo (independência de instâncias)

Não deve ser paralisado o curso de processo administrativo disciplinar apenas em função de
ajuizamento de ação penal destinada a apurar criminalmente os mesmos fatos investigados
administrativamente.
As esferas administrativa e penal são independentes, não havendo falar em suspensão do
processo administrativo durante o trâmite do processo penal.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Surgiram notícias de que João, servidor público, havia recebido indevidamente dinheiro
para praticar um ato relacionado com a sua função.
Diante disso, a Administração Pública instaurou um processo administrativo disciplinar.
Paralelamente, o MP requisitou um inquérito policial.
Quando o processo administrativo já estava em curso, o IP foi concluído e o MP ofereceu
denúncia, que foi recebida pelo juiz.

Diante disso, João impetrou mandado de segurança pedindo a suspensão do PAD enquanto
não houvesse uma decisão no processo penal, sob o argumento de que “a cognição no
âmbito jurisdicional esgota todos os meios de defesa e o resultado do penal influencia no
administrativo, em algumas hipóteses.”

A tese do impetrante deve ser acolhida?


NÃO. As esferas administrativa e penal são independentes, não havendo falar em
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suspensão do processo administrativo durante o trâmite do processo penal.


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INFORMATIVO esquematizado
Ademais, é perfeitamente possível que determinados fatos constituam infrações
administrativas, mas não ilícitos penais, permitindo a aplicação de penalidade ao servidor
pela Administração, sem que haja a correspondente aplicação de penalidade na esfera
criminal.
Vale destacar que é possível que em alguns casos o resultado do processo penal repercuta
na esfera administrativa, como é o caso da absolvição criminal com fundamento na negativa
da existência do fato ou da sua autoria (art. 386, I e IV, do CPP). No entanto, em tais
hipóteses, a pena administrativa porventura aplicada antes do término do processo penal
pode ser revista, não havendo, portanto, prejuízo ao servidor.
Processo STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013.

Processo administrativo disciplinar (desnecessidade de intimação após o relatório final)

Conclusões expostas pelo STJ sobre processo administrativo disciplinar:


I – Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o
relatório final de processo administrativo disciplinar. Isso porque não existe previsão legal
nesse sentido.
II – É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova
emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que devidamente
autorizada pelo juízo criminal e com observância das diretrizes da Lei 9.296/1996.
III – É pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que o excesso de prazo para a conclusão
do processo administrativo disciplinar não gera, por si só, qualquer nulidade no feito. O
excesso de prazo só tem o condão de macular o processo administrativo se ficar comprovado
que houve fundado e evidenciado prejuízo, pois não há falar em nulidade sem prejuízo (pas de
nulité sans grief).
IV – Deve ser aplicada a penalidade de demissão ao servidor público federal que obtiver
proveito econômico indevido em razão do cargo, independentemente do valor auferido (no
caso, eram apenas 40 reais). Isso porque não incide, na esfera administrativa, o princípio da
insignificância quando constatada falta disciplinar prevista no art. 132 da Lei 8.112/1990.
Comentários I – NOÇÕES GERAIS
O processo administrativo disciplinar dos servidores públicos federais encontra-se previsto
nos arts. 143 a 182 da Lei n. 8.112/90.

O processo administrativo disciplinar (em sentido amplo) divide-se em:


1) Sindicância;
2) Processo administrativo disciplinar propriamente dito (PAD);

Caso a autoridade administrativa tome conhecimento de alguma possível irregularidade no


serviço público, ela é obrigada a promover a sua apuração imediata. Como é feita essa
apuração?
Por meio de uma sindicância ou de um processo administrativo disciplinar.

Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a
promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo
disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

Desse modo, a sindicância e o PAD são os dois instrumentos que a Lei n. 8.112/90 prevê
para a apuração de infrações administrativas praticadas pelos servidores públicos federais.
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Segundo o STJ, a autoridade administrativa tem a faculdade de instaurar um ou outro


procedimento disciplinar (MS 16.031-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2013).
INFORMATIVO esquematizado
A opção pela realização da sindicância justifica-se quando há a necessidade de elucidação
de fatos que aparentemente constituem infração punível pela Administração Pública.

Entretanto, quando a existência do fato é plenamente caracterizada e a respectiva autoria é


conhecida, a Administração Pública pode optar pela instauração direta do procedimento
administrativo disciplinar.

Como explica Ivan Barbosa Rigolin, existem situações que são tão graves e evidentes “que
nem mesmo é preciso a sindicância para apontar a necessidade de processo disciplinar.
Nessa hipótese, deve ser logo de início instaurado aquele processo, convocando-se todas as
pessoas, bem como invocando-se todos os meios de provas necessários à boa condução do
trabalho e à elucidação do fato apontado.” (Comentários ao Regime Único dos Servidores
Públicos Civis. 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 350).

II – SINDICÂNCIA
A sindicância é instaurada, inicialmente, para servir como uma espécie de investigação
prévia do fato. Nesse caso, ela é chamada de sindicância investigatória ou preparatória.
A sindicância pode ser conduzida por um único servidor ou por uma comissão de servidores.

Da sindicância poderá resultar:


I – o arquivamento do processo: quando não houver prova da prática de qualquer infração
administrativa punível;
II – a aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias: nesse
caso, a sindicância é chamada de sindicância contraditória, acusatória ou apuratória.
III – a instauração de processo disciplinar: quando for constatada a existência de indícios de
que houve a prática de uma infração administrativa grave.

Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de
suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou
disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de
processo disciplinar.

O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30 dias, podendo ser prorrogado por
igual período, a critério da autoridade superior.

Na sindicância é obrigatório assegurar contraditório e ampla defesa?


Na sindicância investigatória: NÃO (a ampla defesa será feita no PAD).
Na sindicância acusatória: SIM.

III – PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR PROPRIAMENTE DITO (PAD)


Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases:
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;
II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório;
III - julgamento.

III.1 INSTAURAÇÃO

Portaria de instauração do PAD


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O PAD é instaurado por meio de uma portaria, na qual constará o nome de 3 servidores
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estáveis no serviço público, que irão formar a comissão que conduzirá os trabalhos do
processo disciplinar.

INFORMATIVO esquematizado
O objetivo principal desta portaria de instauração é dar publicidade à constituição da
comissão processante, ou seja, informar quem serão os servidores responsáveis pela
instrução do feito.
Somente após o início da instrução probatória, a Comissão Processante poderá fazer o
relato circunstanciado das condutas supostamente praticadas pelo servidor indiciado,
capitulando as infrações porventura cometidas.
Desse modo, a descrição minuciosa dos fatos se faz necessária apenas quando o servidor for
indiciado (fase de indiciamento), após a fase instrutória, não sendo imprescindível que
conste da portaria de instauração.

Comissão processante
O art. 149 prevê o seguinte:
Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores
estáveis designados pela autoridade competente, observado o disposto no § 3º do art. 143,
que indicará, dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo
superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.

Finalidade da comissão:
A função precípua da comissão é a apuração dos fatos, concluindo pela inocência ou
responsabilidade do servidor (art. 165).

Presidente da comissão: qualidade especial


Dentre os membros da comissão, a autoridade competente indicará o seu presidente.
O presidente da Comissão deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo
nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.

Demais membros
Os demais membros da Comissão não precisam ocupar cargo efetivo superior e podem ter
nível de escolaridade mais baixo que o do indiciado.
O único requisito para ser membro (não presidente) da Comissão é ser servidor estável.

O que acontece se algum membro da comissão não for estável?


Haverá a nulidade do processo administrativo disciplinar.

Por que os membros da comissão devem ser estáveis?


Segundo o STJ, a ratio essendi do art. 149 da Lei n. 8.112/90 é garantir a imparcialidade e
isenção dos membros da comissão processante. Entende-se que se o servidor é estável,
estará menos imune a pressões capazes de alterar o equilíbrio na tomada de decisões.
Desse modo, a exigência é uma garantia ao investigado, pois tem por escopo assegurar a
independência total dos servidores que ocupam a comissão, sem ingerência da chefia.

Essa estabilidade deve ser no cargo atual que o servidor ocupa ou pode ser a estabilidade no
serviço público?
É necessário que os membros da comissão sejam estáveis no serviço público, mesmo que
ainda não tenham adquirido a estabilidade no cargo atual que ocupam.
A estabilidade exigida no art. 149 acima mencionado deve ser aferida no serviço público,
não no cargo. Logo, não é nulo o processo administrativo disciplinar – PAD conduzido por
servidores que não possuam estabilidade no atual cargo que ocupam, desde que já tenham
adquirido a estabilidade no serviço público.
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Em um caso concreto julgado pelo STJ (AgRg no REsp 1.317.278-PE), um dos membros da
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comissão processante ainda se encontrava em estágio probatório relativo ao cargo de

INFORMATIVO esquematizado
Auditor Fiscal, mas, em virtude de já ter ocupado outro cargo por cerca de dez anos
(Técnico da Receita Federal), já era estável no serviço público.

III.2 INQUÉRITO ADMINISTRATIVO


Nesta fase, ocorrerá a instrução, defesa e elaboração do relatório pela comissão
processante.

Instrução: trata-se da colheita das provas (oitiva de testemunhas, análise de documentos,


requisição de perícias etc.);

Utilização no PAD da interceptação telefônica decretada no juízo criminal


É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova
emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que
devidamente autorizada pelo juízo criminal e com observância das diretrizes da Lei n.
9.296/1996. (Lei de Interceptação Telefônica).
STJ. 1ª Seção. MS 16.146-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 22/5/2013.

Ex: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal,
conseguiu captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar
certo ato relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes
do inquérito, o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por
sua vez, instaura processo administrativo disciplinar.

Indaga-se: a comissão processante poderá requerer, ao juízo criminal, essas gravações


telefônicas para que sejam utilizadas no processo administrativo?
SIM. É plenamente possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de
“prova emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal, desde que a
interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das
demais exigências contidas na Lei n. 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica).

Esse é também o entendimento do STF: Pet 3683 QO, Rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal
Pleno, julgado em 13/08/2008.

Defesa: o servidor processado possui ampla defesa, podendo, por exemplo, contraditar as
testemunhas, ter acesso e impugnar documentos, apresentar quesitos a serem respondidos
pelos peritos etc.
Atenção. O acusado pode ser acompanhado por advogado se assim desejar. No entanto,
não é obrigatório que o processado tenha a assistência jurídica. Logo, caso não tenha sido
auxiliado por advogado, tal circunstância, por si só, não gera a nulidade do PAD. Nesse
sentido:
Súmula Vinculante n. 5 do STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

O que acontece se o servidor processado deixar de comparecer à audiência designada para


seu interrogatório?
O processo segue normalmente. “Inexiste no regime da Lei n. 8.112/90 a revelia - até
porque teria o direito de meramente comparecer e restar calado, podendo, igualmente,
restar ausente - ou qualquer efeito processual decorrente da ausência do acusado,
regularmente intimado, à audiência de interrogatório. Sendo assim, ocorrendo tal situação,
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deverá a comissão registrar em ata a ausência e dar seguimento, normalmente, aos demais
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atos do processo.” (LUCARELLI, Fábio Dutra. Comentários à Lei do Regime Jurídico Único dos
Servidores Públicos Civis da União. 2ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2012, p. 321).
INFORMATIVO esquematizado
Relatório: é o documento no qual a comissão expõe as suas conclusões sobre as provas
produzidas e a defesa apresentada pelo acusado.
O relatório deve ser motivado e conclusivo, ou seja, precisa apontar se a comissão
recomenda a absolvição do servidor ou a sua condenação, sugerindo a punição aplicável.
Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento, segundo a
estrutura hierárquica do órgão.

Após o relatório ter sido produzido pela comissão, ele deverá ser apresentado ao servidor
processado para que este possa impugná-lo? Existe previsão na Lei n. 8.112/90 de
alegações finais a serem oferecidas pelo servidor após o relatório final ter sido concluído?
NÃO. Segundo entende o STJ, NÃO é obrigatória a intimação do interessado para
apresentar alegações finais após o relatório final de processo administrativo disciplinar.
Isso porque não existe previsão legal nesse sentido.
STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013.

No processo administrativo disciplinar regido pela Lei n. 8.112/90 não há a previsão para a
apresentação, pela defesa, de alegações após o relatório final da Comissão Processante,
não havendo falar em aplicação subsidiária da Lei 9.784/99 (MS 13.498/DF, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, julgado em 25/5/2011).

A Lei n. 8.112/90 determina apenas que, quando a Comissão concluir os seus trabalhos
deverá encaminhar o respectivo relatório à autoridade que julgará o servidor, consoante
consta dos arts. 166 e 167 da Lei n. 8.112/90. A defesa escrita é apresentada antes da
elaboração do Relatório.

III.3 JULGAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

O processo disciplinar se encerra mediante o julgamento do feito pela autoridade


competente.
A autoridade competente para o julgamento irá absolver ou condenar o servidor.
A autoridade poderá acolher ou não as conclusões expostas no relatório da comissão.
Se decidir acolher: não precisará motivar essa decisão, podendo encampar a
fundamentação exposta no relatório.
Se decidir não acolher: nesse caso, é indispensável a motivação, demonstrando que o
relatório contraria as provas dos autos.

Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, a autoridade


julgadora proferirá a sua decisão.
Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas
dos autos.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a
autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la
ou isentar o servidor de responsabilidade.

(...) A autoridade julgadora não está atrelada às conclusões propostas pela comissão,
podendo delas discordar, motivadamente, quando o relatório contrariar a prova dos autos,
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nos termos do art. 168 da Lei n.º 8.112/90. (...) (MS 16.174/DF, Rel. Min. Castro Meira,
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Primeira Seção, julgado em 14.12.2011)

INFORMATIVO esquematizado
Excesso de prazo para conclusão do PAD:
É pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que o excesso de prazo para a conclusão
do processo administrativo disciplinar não gera, por si só, qualquer nulidade no feito. O
excesso de prazo só tem o condão de macular o processo administrativo se ficar
comprovado que houve fundado e evidenciado prejuízo, pois não há falar em nulidade
sem prejuízo (pas de nulité sans grief).
STJ. 1ª Seção. MS 16.031-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 26/6/2013.

Infração disciplinar e princípio da insignificância


Imagine agora a seguinte situação:
Determinado Policial Rodoviário Federal foi flagrado recebendo 40 reais de propina de dois
caminhoneiros.
Após todo o processo administrativo disciplinar, tendo sido provado o fato, o servidor foi
punido com a pena de cassação de aposentadoria (art. 127, V e art. 134).
Vale esclarecer que a pena de cassação de aposentadoria é como se fosse a pena de
demissão, no entanto, aplicada ao servidor que se aposenta após ter praticado a conduta
infracional. Veja:
Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do inativo que houver
praticado, na atividade, falta punível com a demissão.

O servidor punido não concordou com a sanção recebida e impetrou mandado de


segurança no STJ. Segundo alegou, viola o princípio da proporcionalidade punir com
demissão ou com cassação de aposentadoria um Policial Rodoviário Federal, com quase
trinta anos de serviço, sem notícia de qualquer infração anterior, pelo simples fato de ter
recebido uma propina de apenas 40 reais.

O STJ acolheu essa tese?


NÃO. Conforme explicou o Min. Humberto Martins, na esfera administrativa o proveito
econômico auferido pelo servidor é irrelevante para a aplicação da penalidade, não
incidindo o princípio da insignificância, como na esfera penal, razão pela qual é despiciendo
falar em razoabilidade ou proporcionalidade da pena, pois o ato de demissão é vinculado,
nos termos do art. 132, XI, da Lei n. 8.112/90:
Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos:
XI - corrupção;

Para o Min. Relator, o ato de demissão é vinculado, ou seja, incidindo as hipóteses do art.
132 da Lei n. 8.112/90, ao Administrador não cabe fazer qualquer valoração, cabendo-lhe
unicamente aplicar a penalidade prescrita.
Processo STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013; MS 16.146-DF, Rel. Min. Eliana
Calmon, julgado em 22/5/2013; MS 16.031-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 26/6/2013; MS
16.031-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 26/6/2013.
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Processo administrativo disciplinar e exclusão de militar estadual

É possível que, em processo administrativo disciplinar, o militar seja punido com a exclusão
(demissão) caso ele viole as regras de conduta necessárias à sua permanência na corporação.
O art. 125, § 4º da CF/88 não proíbe que o militar estadual seja punido administrativamente
com demissão no caso de ter praticado falta grave. O que esse dispositivo legal afirma é que
somente a Justiça Militar estadual poderá decretar a perda da graduação do militar como pena
acessória da sanção criminal aplicada em processo penal.
Comentários Imagine a seguinte situação:
João, soldado da Polícia Militar do Estado de Pernambuco, praticou homicídio culposo.
Diante disso, foi instaurada contra ele uma ação penal, além de um processo administrativo
disciplinar.
Antes que a ação penal fosse julgada, o processo administrativo foi concluído e João punido
com a sua exclusão da Polícia Militar.

Mandado de segurança
O militar excluído impetrou mandado de segurança, afirmando que o art. 125, § 4º da CF/88
determina que somente o Poder Judiciário pode determinar a exclusão do militar da
corporação, não sendo isso possível em processo administrativo.

Art. 125, § 4º, da CF/88


§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

A tese defendida pelo impetrante é acolhida pelo STJ?


NÃO. Segundo o STJ e o STF, é possível, em processo administrativo disciplinar, impor, como
sanção, a exclusão do militar estadual que viole regras de conduta necessárias à sua
permanência na corporação.

O art. 125, § 4º da CF/88 não proíbe que o militar estadual seja punido administrativamente
com demissão no caso de ter praticado falta grave.

O que esse dispositivo legal afirma é que somente a Justiça Militar estadual poderá decretar
a perda da graduação do militar como pena acessória da sanção criminal aplicada em
processo penal. Veja:
(...) a competência da Justiça Militar estadual, nos termos do art. 125, § 4º, da Constituição,
restringe-se à decisão sobre a perda da graduação de praças como pena acessória de crime,
o que não obsta a competência do Comando Geral da Polícia Militar para decretar a perda
da graduação como sanção administrativa disciplinar. (...)
(STF. 2ª Turma. AgRg no AI 794.949/SP, Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/9/2012)
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 40.737-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/4/2013.
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Aposentadoria compulsória não se aplica para servidores ocupantes de cargo em comissão

Os servidores públicos ocupantes de cargo em comissão não se submetem à aposentadoria


compulsória aos 70 anos.
Comentários Não é aplicável a regra da aposentadoria compulsória por idade na hipótese de servidor
público que ocupe exclusivamente cargo em comissão.
Com efeito, a regra prevista no art. 40, § 1º, II, da CF/88, cujo teor prevê a aposentadoria
compulsória do septuagenário, destina-se a disciplinar o regime jurídico dos servidores
efetivos, não se aplicando a todos os servidores em sentido amplo.
Assim, ao que ocupa exclusivamente cargo em comissão, aplica-se, conforme determina o §
13 do art. 40 da CF, o regime geral de previdência social, no qual não é prevista a
aposentadoria compulsória por idade.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 36.950-RO, Rel. Min. Castro Meira, DJe 26/4/2013.

Improbidade administrativa (art. 11)

Configura ato de improbidade administrativa a conduta de professor da rede pública de ensino


que, aproveitando-se dessa condição, assedie sexualmente seus alunos.
Isso porque essa conduta atenta contra os princípios da administração pública, subsumindo-se
ao disposto no art. 11 da Lei n. 8.429/1992.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.255.120-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/5/2013.

Improbidade administrativa (indisponibilidade de bens)

A indisponibilidade de bens prevista no art. 7º da Lei de Improbidade pode ser decretada em


qualquer hipótese de ato de improbidade administrativa (arts. 9º, 10 e 11).
Concurso
MP Segundo o STJ, em que pese o silêncio do art. 7º, uma interpretação sistemática permite que se
decrete a indisponibilidade de bens também na hipótese em que a conduta tida como ímproba
se subsuma apenas ao disposto no art. 11 da Lei 8.429/1992.
Comentários Se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa, estará sujeita às sanções previstas
no § 4º do art. 37 da CF/88, quais sejam:
suspensão dos direitos políticos
perda da função pública
indisponibilidade dos bens e
ressarcimento ao erário.

A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no


caso da prática de atos de improbidade administrativa.

A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam
improbidade administrativa.

Art. 9º: atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do agente público
Art. 10: atos de improbidade que causam prejuízo ao erário
Art. 11: atos de improbidade que atentam contra princípios da administração pública
12
Página

INFORMATIVO esquematizado
Para garantir que a pessoa que praticou ato de improbidade responda pelas sanções do § 4º
do art. 37, da CF, os arts. 7º e 16 da Lei n. 8.429/92 preveem a possibilidade de ser decretada
a indisponibilidade (art. 7º) e o sequestro (art. 16) dos seus bens. Veja o que diz a Lei:
Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar
enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito
representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens
que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial
resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao


Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a
decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente
ou causado dano ao patrimônio público.
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825
do Código de Processo Civil.
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens,
contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos
da lei e dos tratados internacionais.

Quem decreta essa indisponibilidade?


O juiz, a requerimento do Ministério Público.
A redação do art. 7º não é muito clara, mas o que a lei quer dizer é que a autoridade
administrativa irá comunicar a suposta prática de improbidade ao MP e este irá analisar as
informações recebidas e, com base em seu juízo, irá requerer (ou não) a indisponibilidade
dos bens do suspeito ao juiz, antes ou durante o curso da ação principal (ação de
improbidade). Em outras palavras, a indisponibilidade pode ser requerida como medida
preparatória ou incidental.
Quando o art. 7º fala em “inquérito”, está se referindo a inquérito administrativo, mas essa
representação pode ocorrer também no bojo de um processo administrativo ou de um
processo judicial.
Além disso, o MP poderá requerer a indisponibilidade ainda que não tenha sido provocado
por nenhuma autoridade administrativa, desde que, por algum outro modo, tenha tido
notícia da suposta prática do ato de improbidade (ex: reportagem divulgada em jornal).
De qualquer forma, muito cuidado com a redação dos arts. 7º e 16 porque muitas vezes são
cobrados na prova a sua mera transcrição, devendo este item ser assinalado, então, como
correto.

Essa indisponibilidade pode ser decretada em qualquer hipótese de ato de improbidade?

Redação dos arts. 7º e 16 da LIA STJ e doutrina


NÃO. A indisponibilidade é decretada SIM. Não se pode conferir uma
apenas quando o ato de improbidade interpretação literal aos arts. 7º e 16 da
administrativa: LIA, até mesmo porque o art. 12, III, da Lei
a) causar lesão ao patrimônio público; ou n. 8.429/92 estabelece, entre as sanções
b) ensejar enriquecimento ilícito. para o ato de improbidade que viole os
princípios da administração pública, o
Assim, pela redação LITERAL só cabe a
ressarcimento integral do dano - caso
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indisponibilidade nas hipóteses do arts. 9º


exista -, e o pagamento de multa civil de
e 10 da LIA.
até cem vezes o valor da remuneração
Página

Não caberia a indisponibilidade no caso de


percebida pelo agente. Logo, em que pese
prática do art. 11.

INFORMATIVO esquematizado
o silêncio do art. 7º, uma interpretação
sistemática que leva em consideração o
poder geral de cautela do magistrado induz
a concluir que a medida cautelar de
indisponibilidade dos bens também pode
ser aplicada aos atos de improbidade
administrativa que impliquem violação dos
princípios da administração pública,
mormente para assegurar o integral
ressarcimento de eventual prejuízo ao
erário, se houver, e ainda a multa civil
prevista no art. 12, III, da Lei n. 8.429/92
(AgRg no REsp 1311013/RO, DJe
13/12/2012).

No mesmo sentido: AgRg no REsp


1.299.936-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 18/4/2013.

Na doutrina, esta é a posição de Emerson


Garcia e Rogério Pacheco Alves
(Improbidade Administrativa. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011).

Processo Segunda Turma. AgRg no REsp 1.229.942-MT, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/12/2012.

DIREITO CIVIL

Pretensão de danos morais decorrentes de tortura no regime militar é imprescritível

As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o
Regime Militar de exceção são imprescritíveis.
Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013.

Aplicação do princípio da boa-fé objetiva ao contrato de representação comercial

Não é possível ao representante comercial exigir, após o término do contrato de representação


comercial, a diferença entre o valor da comissão estipulado no contrato e o efetivamente
recebido, caso não tenha havido, durante toda a vigência contratual, qualquer resistência ao
recebimento dos valores em patamar inferior ao previsto no contrato.
Comentários Não é possível que o representante comercial exija, após o término do contrato de
representação comercial, a diferença entre o valor da comissão estipulado no contrato e o
efetivamente recebido, caso não tenha havido, durante toda a vigência contratual, qualquer
resistência ao recebimento dos valores em patamar inferior ao previsto no contrato.
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Página

Exemplo: a empresa “xx” era representante comercial da indústria “ZZ”. No contrato de


representação, havia a previsão de que a representante iria receber 4% sobre o valor das

INFORMATIVO esquematizado
vendas. Contudo, desde o primeiro mês de vigência do referido contrato (março de 2004)
até sua denúncia, em abril de 2006, a representada efetuou o pagamento da comissão no
percentual de 2,5% das vendas.

Segundo decidiu o STJ, no caso em que a comissão tenha sido paga ao representante em
valor inferior ao que celebrado no contrato, durante toda a sua vigência, sem resistência ou
impugnação por parte do representante, pode-se concluir que a este interessava a
manutenção do contrato, mesmo que em termos remuneratórios inferiores, tendo em vista
sua anuência tácita para tanto.

Como desde o início da relação contratual a comissão foi paga em valor inferior ao que
pactuado, conclui-se que a cláusula que estipula pagamento de comissão em outro valor
nunca chegou a viger.

Se o representante permanece silente durante todo o contrato em relação ao valor da


comissão, pode-se considerar que tenha anuído tacitamente com essa condição de
pagamento, não sendo razoável que, somente após o término do contrato, venha a
reclamar a diferença.

Com efeito, a boa-fé objetiva, princípio geral de direito recepcionado pelos arts. 113 e 422
do CC/2002 como instrumento de interpretação do negócio jurídico e norma de conduta a
ser observada pelas partes contratantes, exige de todos um comportamento condizente
com um padrão ético de confiança e lealdade, induz deveres acessórios de conduta,
impondo às partes comportamentos obrigatórios implicitamente contidos em todos os
contratos, a serem observados para que se concretizem as justas expectativas oriundas da
própria celebração e execução da avença, mantendo-se o equilíbrio da relação.

Essas regras de conduta não se orientam exclusivamente ao cumprimento da obrigação,


permeando toda a relação contratual, de modo a viabilizar a satisfação dos interesses
globais envolvidos no negócio, sempre tendo em vista a plena realização da sua finalidade
social.

Além disso, o referido princípio tem a função de limitar o exercício dos direitos subjetivos. A
esta função, aplica-se a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos
atos próprios como meio de rever a amplitude e o alcance dos deveres contratuais, daí
derivando o instituto da supressio, que indica a possibilidade de considerar suprimida
determinada obrigação contratual na hipótese em que o não exercício do direito
correspondente, pelo credor, gerar ao devedor a legítima expectativa de que esse não
exercício se prorrogará no tempo.

Em outras palavras, haverá redução do conteúdo obrigacional pela inércia qualificada de


uma das partes em exercer direito ou faculdade ao longo da execução do contrato, criando
para a outra a sensação válida e plausível — a ser apurada casuisticamente — de ter havido
a renúncia àquela prerrogativa.

Assim, o princípio da boa-fé objetiva torna inviável a pretensão do representante comercial


de exigir retroativamente valores que foram por ele dispensados, de forma a preservar uma
expectativa legítima, construída e mantida ao longo de toda a relação contratual pelo
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representado.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.985-RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Base de cálculo da comissão de representante comercial

O valor dos tributos incidentes sobre as mercadorias integra a base de cálculo da comissão do
representante comercial.
Comentários De acordo com o art. 32, § 4º, da Lei 4.886/1965, a comissão paga ao representante
comercial deve ser calculada pelo valor total das mercadorias.
Assim, na base de cálculo da comissão do representante, deve ser incluído o valor dos
tributos incidentes sobre as mercadorias. Isso porque, no Brasil, o preço total da
mercadoria traz embutido tanto o IPI quanto o ICMS, compondo o próprio preço do
produto.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.985-RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.

Regime de bens (comunhão parcial)

João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial e decidiram se divorciar.
Surgiu um impasse quanto à partilha de um apartamento.
O referido apartamento foi pago, durante o casamento, com dinheiro doado pelo pai de Maria.
João alegava que o pai de Maria não afirmou expressamente que a doação era exclusivamente
para ela e que, diante desse silêncio, deveria ser interpretada como sendo para o casal.

A interpretação conferida por João está correta? Em caso de silêncio na doação, deve-se
interpretar que essa liberalidade aconteceu em favor do casal?
NÃO. As conclusões são as seguintes:
• Se o bem for doado para um dos cônjuges, em um casamento regido pela comunhão parcial
dos bens, a regra é que esse bem pertence apenas ao cônjuge que recebeu a doação. Em
outras palavras, esse bem doado não se comunica, não passa a integrar os bens do casal.
• Em um regime de comunhão parcial, o bem doado somente se comunica se, no ato de
doação, ficar expressa a afirmação de que a doção é para o casal.
• Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se interpretar que esse ato de liberalidade
ocorreu em favor apenas do donatário (um dos cônjuges).
Comentários Regime de bens
Quando duas pessoas se casam, é estabelecido um regime de bens que irá vigorar neste
matrimônio.
O regime de bens representa o conjunto de regras que irão disciplinar as relações
patrimoniais envolvendo os cônjuges.

Quando é escolhido o regime de bens?


O regime de bens é definido pelos nubentes antes do casamento.
Caso escolham o regime da comunhão parcial, basta que indiquem esta opção no requerimento
de habilitação do casamento, que é feito no Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN).
Se os nubentes quiserem escolher um regime diferente da comunhão parcial, deverão celebrar
um pacto antenupcial, que é feito por meio de escritura pública lavrada pelo Tabelião de Notas
(art. 1.653 do CC). Para valer perante terceiros, o pacto antenupcial deverá ser registrado pelo
oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges (art. 1.657 do CC).

Regimes de bens previstos no CC


O CC prevê expressamente quatro espécies de regime de bens:
16

a) Regime de comunhão parcial (art. 1.658);


b) Regime de comunhão universal (art. 1.667);
Página

c) Regime de participação final nos aquestos (1.672);


d) Regime de separação de bens (art. 1.687).

INFORMATIVO esquematizado
REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL
Previsão: o regime da comunhão parcial é tratado pelos arts. 1.658 a 1.666 do CC.

Principal característica:
No regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na
constância do casamento, com exceção dos casos previstos no Código Civil.
Em outras palavras, os bens adquiridos durante o casamento passam a ser de ambos os
cônjuges, salvo em algumas situações que o Código Civil determina a incomunicabilidade.

Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao


casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes.

O art. 1.660 lista bens que, se adquiridos durante o casamento, pertencem ao casal:
Art. 1.660. Entram na comunhão:
I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em
nome de um dos cônjuges;
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa
anterior;
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na
constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

O art. 1.659, por sua vez, elenca aquilo que é excluído da comunhão:
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares;
III - as obrigações anteriores ao casamento;
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

Imagine agora a seguinte situação hipotética (com diferenças em relação ao caso concreto):
João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial e decidiram se divorciar.
Surgiu um impasse quanto à partilha de um apartamento.
O referido apartamento foi pago, durante o casamento, com dinheiro doado pelo pai de
Maria para ela.
João alegava que o pai de Maria não afirmou expressamente que a doação era
exclusivamente para ela e que, diante desse silêncio, deveria ser interpretada como sendo
para o casal.

A interpretação conferida por João está correta? Em caso de silêncio na doação, deve-se
interpretar que essa liberalidade aconteceu em favor do casal?
NÃO. As conclusões são as seguintes:
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Se o bem for doado para um dos cônjuges, em um casamento regido pela comunhão
parcial dos bens, a regra é que esse bem pertence apenas ao cônjuge que recebeu a
Página

doação. Em outras palavras, esse bem doado não se comunica, não passa a integrar os
bens do casal.

INFORMATIVO esquematizado
Em um regime de comunhão parcial, o bem doado somente se comunica se, no ato de
doação, ficar expressa a afirmação de que a doção é para o casal.
Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se interpretar que esse ato de
liberalidade ocorreu em favor apenas do donatário (um dos cônjuges).

O voto da Ministra cita lição de Rolf Madaleno:


“Próprios são os bens havidos individualmente pelos cônjuges por doação, herança ou
legado e, nessas condições não se comunicam, salvo quando destinados a ambos os
nubentes.
A única exceção é a de o doador atribuir a liberalidade aos dois cônjuges, em comunhão,
quando então manifesta de forma clara, expressa e inequívoca essa sua vontade, não
deixando nenhuma dúvida de ter endereçado o bem doado aos dois cônjuges, não
precisando, por evidente, ser em frações iguais.” (MADALENO, Rolf. Curso de Direito de
Família. 4ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 739).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.318.599-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/4/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Aplicação do CDC no contrato de administração imobiliária

É possível aplicar o CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por
ele para administrar o bem. Em outras palavras, a pessoa que contrata uma empresa
administradora de imóveis pode ser considerada consumidora.
Comentários
DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE CONSUMIDOR

Teoria finalista
O art. 2º do CDC prevê o seguinte:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.

Em regra, a jurisprudência do STJ afirma que o art. 2º deve ser interpretado de forma
restritiva e que deve ser considerado destinatário final tão somente o destinatário fático e
econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica.
Com isso, em regra, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim
entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição,
compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço (Min. Nancy
Andrighi).
Para ser considerada uma relação de consumo, o bem ou serviço não pode ter sido adquirido
com finalidade lucrativa ou para integrar a cadeia de produção (atividade negocial).
Essa é a aplicação da concepção finalista.

Teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada


Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a
jurisprudência do STJ também reconhece a necessidade de, em situações específicas,
abrandar o rigor desse critério para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre os
adquirentes e os fornecedores em que, mesmo o adquirente utilizando os bens ou serviços
18

para suas atividades econômicas, fique evidenciado que ele apresenta vulnerabilidade frente
ao fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada.
Página

Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade

INFORMATIVO esquematizado
de se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa, mesmo sem ter adquirido o
produto ou serviço como destinatária final, possa ser equiparada à condição de
consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade.
Nesse sentido: REsp 1.195.642/RJ, Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 13/11/2012.

Portanto, saber se um destinatário final de um produto ou serviço se enquadra no conceito


de consumidor é compreender, além da sua destinação, se a relação jurídica estabelecida é
marcada pela vulnerabilidade daquele, pessoa física ou jurídica, que adquire ou contrata
produto ou serviço diante do seu fornecedor (Min. Villas Bôas Cueva).

CONTRATO DE ADMINISTRAÇÃO IMOBILIÁRIA

Imagine a seguinte situação:


João, proprietário de um apartamento, contrata uma empresa administradora de imóveis
para que ela alugue o bem, receba os aluguéis do locatário e fiscalize o contrato.

Que espécie de contrato foi celebrado entre João e a empresa?


Um contrato de administração de imóveis (contrato de administração imobiliária).

Em que consiste esse contrato?


É um contrato de prestação de serviços, por meio do qual o proprietário do imóvel (ou o
condomínio) confere a um administrador (pessoa física ou jurídica), por meio de mandato
ou autorização, o poder de gerir o imóvel ou de dirigir seus interesses, mediante o
pagamento de uma contraprestação.

Nessa relação jurídica firmada com a imobiliária, João pode ser considerado consumidor?
Esse contrato poderá ser regido pelo CDC?
SIM. A 3ª Turma do STJ decidiu que é possível a aplicação do CDC à relação entre
proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por ele para administrar o bem. Isso
porque o proprietário do imóvel é, de fato, destinatário final fático e também econômico do
serviço prestado.
Ademais, existe uma presunção de que o contratante é vulnerável por força de três fatores:
o contrato firmado é de adesão;
trata-se de uma atividade complexa e especializada;
e o mercado imobiliário se comporta de forma diferenciada e específica em cada lugar e
período, de modo que o contratante não detém esse conhecimento técnico.

Ao tratar sobre o tema, Cláudia Lima Marques afirma que, no caso de contratos de
administração imobiliária, o contratante é consumidor porque apresenta vulnerabilidade
fática, técnica, informacional e jurídica. Isso fica ainda mais claro nas hipóteses em que a
pessoa só possua um imóvel para alugar (Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 5ª
ed., São Paulo: RT, 2005, p. 430-431).

Natureza jurídica complexa do contrato de administração imobiliária


O contrato de administração imobiliária possui natureza jurídica complexa, em que
convivem características de diversas modalidades contratuais típicas - corretagem,
agenciamento, administração, mandato -, não se confundindo com um contrato de locação,
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nem necessariamente dele dependendo.


No cenário caracterizado pela presença da administradora na atividade de locação
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imobiliária se sobressaem pelo menos duas relações jurídicas distintas: a de prestação de

INFORMATIVO esquematizado
serviços, estabelecida entre o proprietário de um ou mais imovéis e essa administradora, e
a de locação propriamente dita, em que a imobiliária atua como intermediária de um
contrato de locação.
Na primeira, o dono do imóvel ocupa a posição de destinatário final econômico daquela
serventia, vale dizer, aquele que contrata os serviços de uma administradora de imóvel
remunera a expertise da contratada, o know how oferecido em benefício próprio.
A atividade da imobiliária, que é normalmente desenvolvida com o escopo de propiciar um
outro negócio jurídico, uma nova contratação, envolvendo uma terceira pessoa física ou
jurídica, pode também se resumir ao cumprimento de uma agenda de pagamentos (taxas,
impostos e emolumentos) ou apenas à conservação do bem, à sua manutenção e até
mesmo, em casos extremos, ao simples exercício da posse, presente uma eventual
impossibilidade do próprio dono, tudo a evidenciar a sua destinação final econômica em
relação ao contratante.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 509.304-PR, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 16/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Sanção ao advogado pela não devolução dos autos no prazo legal

É direito do advogado retirar os autos do cartório mediante assinatura no livro de carga.


A legislação prevê que, após retirar os autos do cartório, o advogado deverá devolvê-los no
prazo legal, sob pena de perder o direito à vista fora do cartório e de receber uma multa.
Prática Para que sejam aplicadas tais sanções, é indispensável que o advogado tenha sido previamente
forense
intimado para devolver os autos e tenha se quedado inerte no prazo de 24 horas.
Essa intimação prévia deverá ser feita por mandado (Oficial de Justiça), na pessoa do advogado.
Se o causídico foi intimado por meio da Imprensa Oficial a devolver os autos e não o fez, não
poderão ser aplicadas as referidas sanções.
As sanções somente podem ser aplicadas ao advogado que retirou os autos e não aos demais
causídicos e estagiários que, apesar de representarem a mesma parte, não tenham sido
responsáveis pela retenção indevida.
Comentários É direito do advogado retirar os autos do cartório mediante assinatura no livro de carga:
CPC/ Art. 40. O advogado tem direito de:
III - retirar os autos do cartório ou secretaria, pelo prazo legal, sempre que lhe competir
falar neles por determinação do juiz, nos casos previstos em lei.

Estatuto da OAB
Art. 7º São direitos do advogado:
XV - ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, em cartório
ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais;

A legislação prevê que, após retirar os autos do cartório, o advogado deverá devolvê-los no
prazo legal, sob pena de perder o direito à vista fora do cartório e de receber uma multa:
CPC/ Art. 196. É lícito a qualquer interessado cobrar os autos ao advogado que exceder o
prazo legal. Se, intimado, não os devolver dentro em 24 (vinte e quatro) horas, perderá o
direito à vista fora de cartório e incorrerá em multa, correspondente à metade do salário
mínimo vigente na sede do juízo.
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Parágrafo único. Apurada a falta, o juiz comunicará o fato à seção local da Ordem dos
Advogados do Brasil, para o procedimento disciplinar e imposição da multa.
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INFORMATIVO esquematizado
Essa sanção de não poder ter vista dos autos fora do cartório vale para todo e qualquer
processo?
NÃO. Só vale para o respectivo processo que foi retirado e devolvido depois do prazo.
Quanto a outros processos, ele continuará tendo o direito de vista dos autos fora do
cartório.

Essa sanção perdura até quando?


Até o encerramento do processo.

Necessidade de intimação prévia do advogado


Para que sejam aplicadas as sanções acima explicadas, é indispensável que o advogado
tenha sido previamente intimado para devolver os autos e tenha se quedado inerte no
prazo de 24 horas. Em outras palavras, constando que o advogado está com o processo há
mais tempo do que poderia, o juiz deverá determinar a intimação do causídico para
devolvê-lo. Caso o patrono não o faça em 24 horas, incidirão as penalidades.

Como é feita essa intimação prévia?


Essa intimação prévia deverá ser feita por mandado (Oficial de Justiça), na pessoa do
advogado que retirou os autos e cujo nome consta do livro de carga.

Assim, se o advogado foi intimado por meio da Imprensa Oficial a devolver os autos e não o
fez, não poderão ser aplicadas as referidas sanções.

“Não se aplicam as penalidades de perda do direito de vista do processo fora do cartório e


multa a advogado que não foi pessoalmente intimado para devolver os autos. (...)” (AgRg no
Ag 1257316/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 14/05/2013).

As sanções somente podem ser aplicadas ao advogado que retirou os autos e não ao escritório
No caso em que advogado não tenha devolvido os autos ao cartório no prazo legal, não é
possível estender a sanção de proibição de vista dos autos fora do cartório (art. 196 do
CPC), aplicada àquele advogado, aos demais causídicos e estagiários que, apesar de
representarem a mesma parte, não tenham sido responsáveis pela retenção indevida. Isso
porque, tratando-se de norma de ordem pública de natureza punitiva, sua interpretação
não pode ser ampliativa, sob pena de subversão dos princípios básicos da hermenêutica
jurídica.
Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.089.181-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/6/2013.

Degravação de depoimento de testemunha

No âmbito do processo civil, não é do juízo deprecado o encargo de providenciar a degravação


de depoimento de testemunha por ele inquirida pelo método audiovisual.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Em um processo cível, o juízo da comarca “A” expediu uma carta precatória para que o juízo da
comarca “B” (pertencente a outro Estado da Federação) ouvisse uma testemunha que lá reside.
O juízo deprecado (juízo da comarca “B”) ouviu a testemunha por meio de gravação
audiovisual e devolveu a carta precatória acompanhada de DVD contendo o depoimento.
O juízo deprecante (juízo da comarca “A”), ao receber a carta, proferiu despacho
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determinando que esta retornasse ao juízo deprecado com o objetivo de que lá (na
comarca “B”) fosse feita a degravação do depoimento prestado pela testemunha e,
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somente após isso, a carta retornasse.

INFORMATIVO esquematizado
Em outras palavras, o juízo deprecante afirmou que era uma obrigação do juízo deprecado
transcrever, para o meio físico (papel), o depoimento colhido por meio audiovisual.
O juízo deprecado não concordou.

Diante desse impasse quanto ao cumprimento da carta precatória, o que poderá fazer o
juízo deprecado?
Suscitar conflito negativo de competência. Isso porque a obrigação de ter que degravar ou
não os depoimentos colhidos é uma discussão relativa à amplitude da competência do juízo
deprecado no cumprimento de cartas precatórias. Logo, trata-se do debate de quem seria
competente para tal ato.

Quem irá julgar esse conflito?


O Superior Tribunal de Justiça, considerando que são juízes vinculados a tribunais diferentes
(art. 105, I, “d”, CF/88).

De quem é a responsabilidade pela degravação dos depoimentos?


Do juízo DEPRECANTE.

Em verdade, não existe regra específica na legislação processual civil determinando de quem
seja a responsabilidade pela degravação de depoimento colhido através de carta precatória.

Diante dessa lacuna, o Min. Relator valeu-se da Resolução 105/2010 do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), que disciplinou, no âmbito do processo penal, sobre a “documentação dos
depoimentos por meio de sistema audiovisual e realização de interrogatório e inquirição de
testemunha por videoconferência”.

Apesar de se tratar de uma regulamentação específica para o processo penal, o Ministro


entendeu que poderia ser também aplicada, por analogia, ao processo civil.

Segundo a Resolução 105/2010-CNJ, “caracteriza ofensa à independência funcional do juiz


de primeiro grau a determinação, por magistrado integrante do Tribunal, da transcrição
de depoimentos tomadas pelo sistema audiovisual”.

Em outros termos, o CNJ afirmou que o Tribunal não poderá determinar que o juízo de 1º
grau faça a transcrição dos depoimentos prestados pelo sistema audiovisual.

Veja uma decisão do CNJ que espelha esse entendimento:


(...) Caracteriza ofensa à independência funcional do juiz de primeiro grau a determinação,
por magistrado de segundo grau, da transcrição de depoimentos tomados pelo sistema
audiovisual, seja em processos em grau de recurso, seja em processos de competência
originária do Tribunal.
2. A transcrição da gravação da audiência configura faculdade, e não dever do magistrado.
Se o desembargador defere o pedido de transcrição requerido pelo MP, deve disponibilizar
sua própria equipe técnica para o desempenho da tarefa, e não obrigar o magistrado de 1º
grau a fazê-lo. (...)
(CNJ - PP - Pedido de Providências - Conselheiro - 0001602-36.2012.2.00.0000 - Rel. NEY
JOSÉ DE FREITAS - 149ª Sessão - j. 19/6/2012)
22

Ora, se nem mesmo o Tribunal tem o poder de obrigar que o juiz faça a transcrição dos
depoimentos colhidos por meio audiovisual, com maior razão não poderá um juiz de igual
Página

estatura hierárquica (juízo deprecante) ordenar que o juízo deprecado proceda à degravação.

INFORMATIVO esquematizado
Em regra, “os depoimentos documentados por meio audiovisual não precisam de
transcrição” (art. 2º da Resolução 105/2010). Isso porque exigir que haja sempre a
degravação provocará o fim das vantagens do sistema audiovisual, tendo em conta que,
segundo estudos realizados pelo CNJ, “para cada minuto de gravação leva-se, no mínimo,
10 (dez) minutos para a sua degravação” (texto da Resolução).

Se o juiz não se acostuma ou não gosta de analisar os depoimentos em meio audiovisual,


ele tem o direito de fazer a degravação, no entanto, isso tem que ocorrer por conta própria,
não podendo obrigar o juízo deprecado a fazê-lo. Essa é a ideia constante do parágrafo
único do art. 2º da Resolução 105/2010 do CNJ:
Parágrafo único. O magistrado, quando for de sua preferência pessoal, poderá determinar
que os servidores que estão afetos a seu gabinete ou secretaria procedam à degravação,
observando, nesse caso, as recomendações médicas quanto à prestação desse serviço.

Finaliza o Min. Sérgio Kukina afirmando:


“Mais não é preciso dizer, restando claro que, se o juízo deprecante assim o desejar, deverá
ele mesmo tomar a iniciativa de, em seu próprio reduto de trabalho, implementar as
providências necessárias à indigitada degravação, sem que se onere o juízo deprecado com
essa adicional e desgastante tarefa.”
Processo STJ. 1ª Seção. CC 126.770-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 8/5/2013.

Inaplicabilidade do parágrafo único do art. 298 do CPC ao procedimento sumário

Nas causas submetidas ao procedimento sumário, a desistência da ação em relação a corréu


não citado não altera o prazo para o comparecimento dos demais réus à audiência de
conciliação. Isso porque não pode ser aplicado ao procedimento sumário o parágrafo único do
art. 298 do CPC, segundo o qual, se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não
citado, o prazo para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência.
Comentários
Explicando o caput do art. 298 do CPC:
Art. 298. Quando forem citados para a ação vários réus, o prazo para responder ser-lhes-á
comum, salvo o disposto no art. 191.
Parágrafo único. Se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não citado, o prazo
para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência.

No procedimento ordinário valem as seguintes regras:


Quando dois ou mais réus forem citados, eles terão o prazo de 15 dias para oferecer
resposta (contestação, reconvenção etc.).
Esse prazo é comum, ou seja, todos os réus terão os mesmos 15 dias para apresentar a
resposta.
Se os réus litisconsortes tiverem procuradores (advogados) diferentes, o prazo para
resposta será em dobro (30 dias), nos termos do art. 191 do CPC.

A partir de quando começa a correr o prazo para que o réu apresente resposta?
Segundo o art. 241, o prazo começa a correr:
23

I - da data em que for juntado aos autos o aviso de recebimento (AR): quando a citação foi
feita pelo correio;
Página

II - da data em que for juntado aos autos o mandado de citação cumprido: quando a citação
foi feita por oficial de justiça.

INFORMATIVO esquematizado
E se houver dois ou mais réus?
Nesse caso, o prazo começa a correr da data em que for juntada aos autos o último aviso de
recebimento ou o último mandado de citação cumprido. Essa regra está prevista no art.
241, III, do CPC:
Art. 241. Começa a correr o prazo:
III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de
recebimento ou mandado citatório cumprido;

Exemplo:
Rui propôs ação contra João e Pedro, que foram citados por via postal (carta com aviso de
recebimento).
No dia 07/02/2013, o AR da citação de João é juntado aos autos; no dia 09/03/2013, ocorre
a juntada aos autos do AR da citação de Pedro.
O prazo para resposta começa a correr tanto para João como para Pedro no dia
09/03/2013, ou seja, data em que foi juntado aos autos o último aviso de recebimento.

Explicando agora o parágrafo único do art. 298 do CPC:


Art. 298. (...)
Parágrafo único. Se o autor desistir da ação quanto a algum réu ainda não citado, o prazo
para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência.

Voltando ao nosso exemplo:


Rui propôs ação contra João e Pedro.
No dia 07/02/2013, o AR da citação de João é juntado aos autos.
Antes que Pedro fosse citado, Rui peticiona ao juiz pugnando pela desistência da ação
quanto a Pedro e o prosseguimento com relação a João.

O advogado de João estava tranquilo porque ele sabia que o prazo para a resposta somente
começaria a correr na data em que fosse juntado aos autos o último AR. Agora, no entanto,
ele ficou preocupado e na dúvida:

A partir de quando começa a correr o prazo para que João apresente sua contestação?
O prazo para a resposta correrá da intimação do despacho que deferir a desistência, nos
termos do parágrafo único do art. 298 do CPC.

Assim, o juiz deverá despachar, homologando o pedido de desistência formulado por Rui, e
o prazo de resposta começará a correr da data em que João for intimado sobre isso.

Como João será intimado do despacho que homologou a desistência parcial?


Se João já havia constituído um advogado nos autos: a intimação será feita na pessoa
do advogado;
Se João ainda não havia constituído advogado nos autos: a intimação deverá ser
pessoal.

O parágrafo único do art. 298 do CPC se aplica ao procedimento sumário?


O parágrafo único do art. 298 do CPC não se aplica ao procedimento sumário.
24

No procedimento sumário, o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação, a ser


realizada no prazo de 30 dias, momento em que, não tendo havido conciliação, apresentará
Página

a sua defesa. O réu deverá ser citado com antecedência mínima de 10 dias.

INFORMATIVO esquematizado
Para o STJ, nas causas submetidas ao procedimento sumário, a desistência da ação em
relação a corréu não citado não altera esse prazo para o comparecimento dos demais réus à
audiência de conciliação.
Segundo a Corte, não pode ser aplicado ao procedimento sumário o parágrafo único do art.
298 do CPC. De fato, embora o legislador tenha previsto a aplicação subsidiária das regras
do procedimento ordinário ao sumário (parte final do parágrafo único do art. 272), também
se previu que o procedimento sumário rege-se "pelas disposições que lhe são próprias"
(parte inicial do parágrafo único do art. 272).
Nesse sentido, pela busca de rapidez e simplificação das formas procedimentais, vige, no
procedimento sumário, o princípio da concentração dos atos processuais, razão pela qual a
audiência preliminar, conquanto seja formada por duas fases diversas e excludentes — a
primeira, referente ao comparecimento do réu à audiência de conciliação (ou o de seu
advogado, munido de mandato com poderes para transigir) com vistas à eventual
composição do litígio, e a segunda, relativa ao oferecimento da resposta (quando frustrada
a conciliação), sob pena de revelia —, materializa-se em um único ato processual. Sendo
assim, mostra-se inviável a aplicação subsidiária das regras do procedimento ordinário ao
sumário nesses casos, diante da existência de regras específicas no âmbito do
procedimento sumário sobre o momento de conciliação e apresentação da resposta.
Como Aproveitando que falamos acima sobre prazos processuais, vejamos agora como conciliar o
conciliar o art. 241 com o art. 184, § 2º, do CPC?
art. 241 com
O art. 241 do CPC dispõe:
o art. 184, §
2º, do CPC? Art. 241. Começa a correr o prazo:
I - quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos autos do aviso de
recebimento;
II - quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de juntada aos autos do
mandado cumprido;
III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de
recebimento ou mandado citatório cumprido;
IV - quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou rogatória,
da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida;
V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz.

O art. 184, § 2º do CPC, por sua vez, preconiza:


Art. 184. Salvo disposição em contrário, computar-se-ão os prazos, excluindo o dia do
começo e incluindo o do vencimento.
(...)
§ 2º Os prazos somente começam a correr do primeiro dia útil após a intimação (art. 240 e
parágrafo único).

Imagine a seguinte situação:


Rui propõe uma ação ordinária contra João, que terá o prazo de 15 dias para contestar.
O réu foi citado por meio do Oficial de Justiça no dia 02.
O Oficial devolveu o mandado cumprido no dia 05.
O servidor da Secretaria da Vara fez a juntada do mandado cumprido aos autos no dia 09.

Nos termos do art. 241, II, do CPC, o prazo para João contestar começou a correr no dia 09,
data de juntada aos autos do mandado cumprido.
O prazo de João, contudo, somente começará a ser contado no primeiro dia útil
25

subsequente à intimação, conforme prevê o art. 184, § 2º do CPC.


Assim, a data em que se iniciará a contagem do prazo é dia 10.
Página

Processo STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/6/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Procedimento sumário (ausência do réu na audiência preliminar)
Nas causas submetidas ao procedimento sumário, o não comparecimento injustificado do réu
regularmente citado à audiência de conciliação, caso não tenha oferecido sua resposta em
momento anterior, pode ensejar o reconhecimento da revelia. Isso porque o § 2º do art. 277 do
CPC — que dispõe que, deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-
se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar
da prova dos autos — aplica-se às demandas submetidas ao procedimento sumário.
Além do mais, a decretação da revelia, na hipótese, também se justifica pelo não oferecimento
de resposta em momento anterior à audiência de conciliação, fato que evitaria a revelia,
mesmo no caso em que o réu citado não tivesse comparecido à audiência de conciliação.
Obs: as conclusões expostas nesta parte amarela foram retiradas do Informativo e do voto do
Ministro, mas não constam da ementa do julgado e revelam-se polêmicas. Explico abaixo os
entendimentos majoritários.
Comentários Sobre a audiência no procedimento sumário, estabelece o CPC:
Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta dias,
citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência prevista no § 2º
deste artigo, determinando o comparecimento das partes. Sendo ré a Fazenda Pública, os
prazos contar-se-ão em dobro.
§ 1º A conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser
auxiliado por conciliador.
§ 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão
verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da
prova dos autos, proferindo o juiz, desde logo, a sentença.
§ 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência, podendo fazer-se representar por
preposto com poderes para transigir.
§ 4º O juiz, na audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a
controvérsia sobre a natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do
procedimento sumário em ordinário.
§ 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade de prova técnica de maior
complexidade.

Principais pontos:
• Prazo para audiência: 30 dias
• Antecedência mínima para o réu ser citado: 10 dias
• Se a Fazenda Pública for ré: tais prazos são contados em dobro

Finalidades da citação:
O CPC afirma que o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação, a ser realizada
no prazo de 30 dias, momento em que, não tendo havido conciliação, apresentará a sua
defesa.
O réu deverá ser citado com antecedência mínima de 10 dias.

Fases da audiência
A audiência preliminar divide-se em duas etapas distintas:

Etapas da audiência preliminar no procedimento sumário


(concentradas em um só ato processual)
Em um primeiro momento, deverá ser buscada a conciliação.
26

É indispensável a presença do réu ou de seu advogado, munido de


a) Audiência de
procuração com poderes para transigir.
Página

conciliação
Não há problema se, nessa etapa, o réu não estiver acompanhado de
advogado.

INFORMATIVO esquematizado
Essa primeira etapa poderá ser conduzida por conciliador. Havendo
acordo, o conciliador reduzirá a termo para que o juiz homologue.
Não obtida a conciliação, o réu oferecerá, na própria audiência, a
b) Oferecimento contestação (oral ou escrita).
da contestação Essa segunda etapa deverá ser presidida por juiz togado.
Não havendo advogado, deverá ser decretada a revelia.

Aspectos sobre a revelia:


1) Firme no propósito de concentrar os atos processuais, o procedimento sumário prevê a
necessidade de presença do réu na audiência de conciliação para que primeiro seja
tentada a autocomposição da demanda e, em caso de negativa, se prossiga com a
apresentação de contestação, sob pena de decretação da revelia (REsp 1096396/DF,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 07/05/2013);
2) Assim, em regra, haverá revelia se o réu não comparecer à audiência. Se não for à
audiência, mas enviar advogado com poderes para transigir, o réu não será considerado
revel;
3) O réu será considerado revel se comparecer à audiência e, não sendo obtida a
conciliação, não apresentar contestação neste ato (AgRg no Ag 1331798/RJ, Rel. Min.
João Otávio De Noronha, Quarta Turma, julgado em 05/05/2011);

Na segunda etapa da audiência preliminar, é indispensável a presença do advogado?


SIM (majoritário) NÃO
A presença do advogado do réu é A presença do advogado não é
imprescindível na audiência de conciliação imprescindível se o réu comparecer à
do procedimento sumário, uma vez que audiência e levar a sua contestação
neste momento processual será assinada pelo advogado.
oportunizada a prática de atos defensivos e
outros relativos à produção de prova, os STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min.
quais jamais podem ser realizados pela Luis Felipe Salomão, julgado em
própria parte, mas, sim, por intermédio de 12/6/2013.
seu causídico.
Assim, mesmo que o réu tenha
comparecido à audiência conciliatória, a
defesa em juízo deve ser praticada por
defensor regularmente habilitado. Logo, a
contestação não pode ser apresentada pelo
réu sem advogada, sob pena de
considerarmos a inexistência do ato e, por
conseguinte, a revelia do réu.
(REsp 336848/DF, Rel. Min. Vasco Della
Giustina (Desembargador Convocado do
TJ/RS), Terceira Turma, julgado em
06/04/2010, DJe 16/04/2010)
Para esta primeira corrente, mesmo que o Para esta segunda corrente, é possível que
réu leve a contestação assinada por o réu, mesmo que não esteja
advogado, ele não poderá apresentá-la acompanhado de advogado, apresente sua
porque exige-se capacidade postulatória contestação, desde que, neste caso, a peça
27

para tanto. esteja assinada pelo causídico.


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Processo STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/6/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Defensor Público tem direito à vista pessoal dos autos antes da audiência preliminar no
procedimento sumário
No procedimento sumário, não pode ser reconhecida a revelia pelo não comparecimento à
audiência de conciliação na hipótese em que tenha sido indeferido pedido de vista da
Defensoria Defensoria Pública formulado, dias antes da data prevista para a referida audiência, no intuito
Pública de garantir a defesa do réu que somente tenha passado a ser assistido após a citação.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Pedro ajuizou uma ação contra João objetivando a revogação de uma doação, processo que
tramita sob o rito sumário (art. 275, II, g, do CPC).
João foi citado para comparecer à audiência de conciliação, a ser realizada no prazo de 30 dias.
O réu procurou a Defensoria Pública, que peticionou ao juiz, habilitando-se e pedindo vista
pessoal dos autos com carga e prazo em dobro para preparar a defesa do assistido (art. 89, I
e VI, da LC 80/94).
O juiz indeferiu o pedido.
No dia da audiência, o Defensor Público não compareceu, tendo sido decretada a revelia de
João após não ter sido obtida a conciliação com Pedro.

Agiu de forma correta o juiz?


NÃO. No procedimento sumário, não pode ser reconhecida a revelia pelo não
comparecimento à audiência de conciliação na hipótese em que tenha sido indeferido
pedido de vista da Defensoria Pública formulado, dias antes da data prevista para a referida
audiência, no intuito de garantir a defesa do réu que somente tenha passado a ser assistido
após a citação.
O procedimento sumário prevê a necessidade da presença do réu na audiência de
conciliação para que, restando infrutífera a tentativa de autocomposição, prossiga-se com a
apresentação de contestação, sob pena de decretação da revelia.
Dessa forma, na situação em análise, a não concessão de vista dos autos à Defensoria
Pública, responsável pela defesa da parte ré, acaba privando esta de seu direito à ampla
defesa, ao contraditório e de acesso à Justiça, gerando, assim, evidentes prejuízos, os quais
não podem ser desconsiderados.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.096.396-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2013.

Recurso cabível contra decisão que indefere justiça gratuita na sentença

O indeferimento, na prolação da sentença, do pedido de assistência judiciária gratuita, é


impugnável por meio de apelação. Isso porque, pelo princípio da unirrecorribilidade, cada ato
decisório só pode ser atacado por um único recurso.
Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: o
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos.

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Benefício da gratuidade judiciária
(justiça gratuita).
Fornecimento pelo Estado de orientação e Isenção das despesas que forem necessárias
defesa jurídica, de forma integral e para que a pessoa necessitada possa
28

gratuita, a ser prestada pela Defensoria defender seus interesses em um processo


Pública, em todos os graus, dos judicial.
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necessitados (art. 134 da CF). Regulada pela Lei n. 1.060/50.


Regulada pela Lei Complementar 80/94.

INFORMATIVO esquematizado
Lei n. 1.060/50
A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

Qual é o momento em que esse pedido deverá ser formulado?


Normalmente, o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do
autor) ou na contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da
jurisprudência é de que a assistência judiciária gratuita pode ser pleiteada a qualquer
tempo (REsp 1261220/SP, DJe 04/12/2012).

Se o juiz, na sentença, nega o pedido de justiça gratuita, qual será o recurso cabível a ser
interposto pela parte prejudicada?
APELAÇÃO. O indeferimento, na prolação da sentença, do pedido de assistência judiciária
gratuita, é impugnável por meio de apelação. Isso porque, pelo princípio da
unirrecorribilidade, cada ato decisório só pode ser atacado por um único recurso.

Ressalte-se que a hipótese em análise não se confunde com aquela na qual o pedido de
assistência judiciária gratuita é apreciado em decisão interlocutória, situação em que o
recurso cabível será o agravo de instrumento.
Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 9.653-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/5/2013.

Multa no caso de agravo manifestamente inadmissível


A exigência de que a parte recolha a multa antes de recorrer somente vale para o caso de
recurso interposto contra a mesma matéria já decidida no agravo e em razão da qual foi
imposta a sanção.
Não se exige o prévio recolhimento da multa se o recurso que a parte vai interpor objetive a
impugnação de matéria diferente daquela tratada no agravo que deu origem à multa.
Se fosse ser exigido o recolhimento prévio para interpor qualquer recurso, sobre qualquer
outra matéria e em qualquer fase processual, haveria uma limitação muito grande ao exercício
do direito de defesa.
Comentários
Agravo de instrumento e multa do art. 557, § 2º do CPC
Vejamos algumas etapas do processamento e julgamento do agravo de instrumento:
1) João ajuíza ação contra Pedro. Requereu liminarmente uma tutela cautelar.
2) Juiz profere uma decisão interlocutória denegando a tutela cautelar.
3) Contra as decisões interlocutórias prolatadas pelo juízo de 1ª instância cabe, em tese,
agravo retido ou agravo de instrumento, conforme o caso concreto;
4) Imaginemos que seja hipótese de agravo de instrumento;
5) A parte prejudicada, no prazo máximo de 10 dias (em regra), interpõe, diretamente no
Tribunal (entrega o recurso no protocolo do Tribunal e não no do Fórum), o agravo de
instrumento (petição acompanhada das peças obrigatórias e facultativas – vide arts.
524 e 525);
6) O agravante, no prazo de 3 dias, tem o dever de juntar, aos autos do processo em 1ª
instância, cópia da petição do agravo de instrumento interposto e do comprovante de
29

sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso;
Página

7) No Tribunal, o agravo de instrumento é distribuído incontinenti (imediatamente), sendo


sorteado um Desembargador Relator.

INFORMATIVO esquematizado
8) O Desembargador Relator poderá negar seguimento (ou negar provimento) ao agravo
de instrumento liminarmente (sem ouvir a parte contrária/recorrida) e de forma
monocrática (decidindo sozinho, isto é, sem levar o caso ao Colegiado) se o recurso do
recorrente for manifestamente inadmissível (não preenche os requisitos para ter o seu
mérito conhecido), improcedente (a tese defendida pelo recorrente não encontra
amparo no direito), prejudicado (a parte já não tem mais interesse no recurso, houve
perda do objeto) ou se o recurso estiver em confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de
Tribunal Superior (art. 527, I, do CPC).
9) E se a parte não concordar com essa decisão monocrática do Relator que nega
seguimento ao agravo de instrumento (art. 527, I do CPC), o que ela poderá fazer?
A parte poderá, neste caso, interpor um agravo interno para o órgão colegiado do
Tribunal, no prazo de 5 dias, questionando a decisão monocrática do Relator.

10) Imaginemos que João interpôs um agravo interno “abusivo” contra a decisão que negou
seguimento ao agravo de instrumento.
Se o órgão colegiado do Tribunal considerar que o agravo interno interposto é
manifestamente inadmissível ou infundado, ele aplicará ao recorrente duas sanções:
condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre 1% e 10% do valor
corrigido da causa;
condicionará o depósito do valor da multa em juízo para que futuros recursos sejam
recebidos.

Estas sanções estão previstas no § 2º do art. 557 do CPC:


§ 2º Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará
o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da
causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do
respectivo valor.

O STJ analisou esse dispositivo e respondeu a seguinte pergunta:


A exigência de que a parte recolha a multa do § 2º do art. 557 do CPC vale para todo e
qualquer recurso, ainda que em diferente fase processual ou versando sobre matéria diversa
da que foi impugnada no agravo?
NÃO. A exigência de que a parte recolha a multa antes de recorrer somente vale para o caso
de recurso interposto contra a mesma matéria já decidida no agravo e em razão da qual foi
imposta a sanção.
Não se exige o prévio recolhimento da multa se o recurso que a parte vai interpor objetive a
impugnação de matéria diferente daquela tratada no agravo que deu origem à multa.
Se fosse ser exigido o recolhimento prévio para interpor qualquer recurso, sobre qualquer
outra matéria e em qualquer fase processual, haveria uma limitação muito grande ao
exercício do direito de defesa.

Assim, se o juiz decidir o mérito da causa, por exemplo, e João for apelar contra a sentença,
ele não precisará recolher previamente a multa porque esta é matéria diferente daquela
que foi decidida no agravo abusivo.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.977-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/5/2013.
30
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INFORMATIVO esquematizado
Recurso especial interposto no dia da publicação dos embargos e Súmula 418 do STJ

Não é extemporâneo o recurso especial interposto na mesma data em que disponibilizado, no


Diário da Justiça eletrônico, o acórdão referente ao julgamento dos embargos de declaração
opostos no tribunal de origem.
Comentários TEMPESTIVIDADE
Para que um recurso seja conhecido, é indispensável que ele preencha requisitos
intrínsecos e extrínsecos. Um dos requisitos extrínsecos de todo e qualquer recurso é a
tempestividade.
Tempestividade significa que o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei.
Todo recurso tem um prazo e, se a parte o interpõe após este prazo, o recurso não será
conhecido por intempestividade.

RECURSO INTERPOSTO ANTES DO JULGAMENTO DOS EMBARGOS


Imagine o seguinte exemplo hipotético:
João é o autor de uma ação contra Pedro.
O pedido foi julgado parcialmente procedente em 1ª instância e ambas as partes apelaram
ao Tribunal de Justiça, que manteve a sentença.
O acórdão do TJ foi publicado no dia 22/04/2013.

Quais os recursos que as partes poderiam interpor contra esse acórdão do TJ?
Em tese, tanto João como Pedro poderiam interpor os seguintes recursos:
Recurso especial
Recurso extraordinário
Embargos de declaração

No dia 24/04/2013, João interpôs recurso especial alegando que a decisão do TJ violava lei
federal.
No dia 25/04/2013, Pedro opõe embargos de declaração afirmando que a decisão do TJ foi
omissa quanto a alguns pontos.

Quem julgará esses recursos e qual deles deverá ser apreciado por primeiro?
O REsp é julgado pelo STJ e os embargos de declaração pelo próprio TJ. Justamente por isso,
os embargos devem ser julgados em primeiro lugar e só depois os autos serão remetidos ao
STJ para apreciação do REsp.

Os embargos de declaração foram conhecidos e improvidos em 20/05/2013 e o acórdão


publicado no dia 23/05/2013.

Diante disso, indaga-se:


O recurso que havia sido interposto antes da decisão dos embargos de declaração continua
valendo e poderá ser conhecido pelo Tribunal ad quem ou a parte que o ajuizou deverá
ratificá-lo (confirmá-lo) após os embargos serem julgados?

Posição do STJ e do STF: Julgado da 1ª Turma do STF:


É necessário RATIFICAR o recurso. NÃO é necessário ratificar o recurso.
Súmula 418-STJ: É inadmissível o Recurso A 1ª Turma já decidiu que a parte pode, a
Especial interposto antes da publicação do partir do primeiro dia do prazo, interpor o
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acórdão dos embargos de declaração, sem recurso extraordinário,


posterior ratificação. independentemente da parte contrária ter
Página

oposto embargos declaratórios.

INFORMATIVO esquematizado
Assim, não será necessária a ratificação do
RE após o julgamento dos embargos.
RE 680371 AgR/SP, rel. orig. Min. Dias
Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Marco
Aurélio, 11/6/2013 (Info 710).

Vale ressaltar que essa decisão da 1ª Turma do STF vai de encontro ao entendimento até
então pacífico da Corte Especial do STJ e do Plenário do próprio STF. Desse modo, deveremos
aguardar um pouco para saber se essa nova posição irá prevalecer ou não. Por enquanto, o
entendimento ainda majoritário é no sentido de ser necessária a ratificação.

RECURSO INTERPOSTO NO DIA DA PUBLICAÇÃO DO JULGAMENTO DOS EMBARGOS


Imagine agora o caso peculiar:
João é o autor de uma ação contra Pedro.
O pedido foi julgado parcialmente procedente em 1ª instância e ambas as partes apelaram
ao Tribunal de Justiça, que manteve a sentença.
O acórdão do TJ foi publicado no dia 22/04/2013.
No dia 25/04/2013, Pedro opõe embargos de declaração afirmando que a decisão do TJ foi
omissa quanto a alguns pontos.
Os embargos de declaração foram conhecidos e improvidos em 20/05/2013 e o acórdão
publicado no dia 23/05/2013.
No dia 23/05/2013 (mesma data da publicação do acórdão dos ED), João interpôs o REsp.

O REsp interposto por João foi tempestivo?


SIM. Segundo decidiu o STJ, não é extemporâneo o recurso especial interposto na mesma
data em que disponibilizado, no Diário da Justiça eletrônico, o acórdão referente ao
julgamento dos embargos de declaração opostos no tribunal de origem.

É certo que, nos termos do art. 4º da Lei 11.419/2006, considera-se como dia da publicação
o dia útil seguinte àquele em que ocorrida a disponibilização. Todavia, deve-se observar que
o referido dispositivo legal tem por escopo facilitar o exercício do direito de recurso,
assegurando à parte o prazo integral, a contar do dia seguinte ao da disponibilização.

Dessa forma, se o advogado da parte se dá por ciente no mesmo dia em que efetuada a
disponibilização, oferecendo desde logo o recurso, não há prematuridade, mas simples
antecipação da ciência e, portanto, do termo inicial do prazo.

Nessa situação, não incide o entendimento contido na Súmula 418 do STJ, que deve ser
aplicado apenas no caso de interposição do recurso especial antes do julgamento dos
embargos de declaração.

Com efeito, deve-se considerar a razão de ser da edição da referida súmula, qual seja, a de
evitar que o recurso especial seja interposto antes do julgamento dos embargos de
declaração, pois, nessa hipótese, não está exaurida a instância ordinária, sendo prematura a
interposição do recurso especial, o que impõe a ratificação das razões do recurso especial
após o julgamento dos embargos de declaração, sob pena de não conhecimento.
Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.063.575-SP, Rel. Min. Isabel Gallotti, julgado em 16/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Embargos de divergência e dissídio sobre a interpretação de regra de direito processual

É possível o conhecimento de embargos de divergência na hipótese em que exista dissídio


entre órgãos do STJ acerca da interpretação de regra de direito processual, ainda que não haja
semelhança entre os fatos da causa tratada no acórdão embargado e os analisados no acórdão
tido como paradigma.
Comentários Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 496, VIII e 546 do CPC, bem
como nos regimentos internos do STF e do STJ.

Esse recurso possui dois objetivos:


1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões
conflitantes.

Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:


turma do STJ em julgamento de Recurso especial;
turma do STF em julgamento de Recurso extraordinário.

A decisão da turma do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma, da seção ou do órgão especial do STJ.

A decisão da turma do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma ou do plenário do STF.

Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal, provando que o acórdão recorrido
foi divergente do acórdão paradigma.

Normalmente, os livros de doutrina afirmam que os embargos de divergência NÃO são


admitidos se não houver similitude fática entre os arestos paradigma e embargado.

O que o julgado examinado afirmou é que a matéria versada nos embargos de divergência
não precisa ser necessariamente de direito material. Assim, pode ser interposto este
recurso quando a divergência entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma for
relacionada a aspectos de direito processual civil. Neste caso (divergência sobre aspectos de
direito processual), não será nem mesmo necessária a similitude fática entre os
pressupostos de fato do processo.
Processo STJ. 2ª Seção. EAREsp 25.641-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/6/2013.

Multa fixada contra o réu em ação cautelar não persiste se a ação principal for improcedente

No caso de improcedência do pedido formulado na ação principal, será inexigível a multa


cominatória fixada na ação cautelar.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
A empresa “Z” possuía um contrato com uma fabricante de cervejas, por meio do qual tinha
o direito de distribuir e comercializar os produtos da cervejaria.
Iniciaram-se algumas divergências comerciais entre as empresas.
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INFORMATIVO esquematizado
Ação cautelar
Diante disso, com receio, a empresa “Z” ajuizou uma ação cautelar pedindo para que lhe
fosse assegurada a manutenção do contrato de revenda e distribuição dos produtos.
A pretensão liminar foi deferida, sendo fixada multa diária de 10 mil reais em caso de
descumprimento.
Durante 10 dias, a decisão judicial foi desatendida.
Ao final, a ação cautelar foi julgada procedente e a liminar confirmada.
Houve trânsito em julgado do processo cautelar.

Ação principal
Paralelamente, após ter sido concedida a liminar, a empresa “Z” ajuizou a ação principal
contra a cervejaria, pedindo a manutenção do contrato.
Após já ter ocorrido o trânsito em julgado do processo cautelar, a ação principal foi julgada
improcedente.
Houve o trânsito em julgado do processo principal.

Indaga-se: a multa de 100 mil reais decorrente dos 10 dias de descumprimento da medida
liminar poderá ser executada?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, no caso de improcedência do pedido formulado na ação
principal, será inexigível a multa cominatória fixada na ação cautelar.

A decisão concessiva da tutela cautelar é proferida com base em cognição sumária do


direito acautelado, em juízo de mera probabilidade.

A sentença prolatada na ação principal, por sua vez, é fundada em cognição exauriente
acerca da questão de fundo.

Desse modo, pela lógica, a sentença definitiva prolatada na ação principal sobrepõe-se à
decisão proferida no processo cautelar.

Assim, o não acolhimento da pretensão formulada na ação principal esvazia o provimento


acautelatório de um dos pressupostos sobre os quais se fundou: a verossimilhança do
direito invocado.

Além disso, o julgamento de improcedência do pedido deduzido na ação principal (que se


reveste dos atributos de definitividade e satisfatividade em relação ao objeto litigioso) faz
cessar a eficácia da sentença cautelar e, por conseguinte, inviabiliza a execução de eventual
multa nela fixada.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.707-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2013.

Execução de verbas reconhecidas a anistiado político


(Julgado que interessa apenas para concursos federais difíceis)

O procedimento de execução contra a Fazenda Pública (art. 730 do CPC) não é adequado ao
cumprimento de portaria ministerial que tenha reconhecido condição de anistiado político.
Portaria concessiva de anistia e indenização não constitui título executivo extrajudicial, não
estando abrangida pelo art. 585, II, do CPC.
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Comentários Anistia política (art. 8º do ADCT e Lei n. 10.559/2002)


O art. 8º do ADCT prevê a concessão de anistia política a pessoas que foram prejudicadas
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por perseguições decorrentes de motivação política no período de 18/09/1946 até a data

INFORMATIVO esquematizado
de promulgação da CF/88.
Há previsão de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica a ser paga
pela União.
A Lei n. 10.559/2002 regulamentou o art. 8º do ADCT e a concessão dessa anistia.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


Determinada Portaria do Ministério da Justiça reconheceu a condição de anistiado político a
João, concedendo-lhe reparação econômica no valor de 100 mil reais.
Ocorre que não houve o pagamento da quantia devida.
Diante disso, João ajuizou execução contra a Fazenda Pública, nos termos do art. 730 do CPC.

Agiu de forma correta o anistiado? Em caso de descumprimento da portaria de anistia


política, o procedimento adequado é a execução contra a Fazenda Pública?
NÃO. O procedimento de execução contra a Fazenda Pública (art. 730 do CPC) não é
adequado ao cumprimento de portaria ministerial que tenha reconhecido condição de
anistiado político. Isso porque não se trata apenas do recebimento de prestação pecuniária,
mas sim do integral cumprimento de ato administrativo que reconhece a condição de
anistiado político.

A portaria de concessão da anistia pode ser considerada título executivo extrajudicial?


NÃO. Essa espécie de portaria NÃO pode ser considerada título executivo extrajudicial, pois
o art. 585, II, do CPC deve ser interpretado de forma restritiva.
Ressalte-se, ainda, que não estão presentes, nesse tipo de portaria, os requisitos da certeza
e da exigibilidade — que caracterizam os títulos executivos extrajudiciais —, devendo o
interessado, primeiramente, ingressar com processo de conhecimento para que a dívida
seja reconhecida, obtendo, assim, o título executivo hábil ao manejo de uma execução
contra a Fazenda Pública.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.362.644-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/4/2013.

Revisão de contrato em embargos do devedor (embargos à execução)

No âmbito de embargos do devedor, é possível proceder à revisão do contrato de que se origine o


título executado, ainda que, em relação ao referido contrato, tenha havido confissão de dívida.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
João celebrou um contrato com a empresa “A”, no qual consta também a assinatura de
duas testemunhas.
João estava descumprindo o contrato, razão pela qual a empresa o chamou para renegociar.
Na renegociação, a empresa combinou de dilatar o prazo para cumprimento da obrigação e,
em contrapartida, João assinou um termo confessando a dívida.
Ocorre que João continuou inadimplente, razão pela qual a empresa ajuizou uma execução
de título executivo extrajudicial cobrando o valor da multa e dos juros.
João opôs embargos do devedor alegando que determinadas cláusulas do contrato eram
abusivas.
A empresa ofereceu impugnação, afirmando que tais matérias não poderiam ser discutidas
em embargos e que o devedor confessou a dívida.

Diante disso, indaga-se: é possível que o executado, em embargos do devedor, pretenda a


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revisão do contrato que está sendo executado?


SIM.
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INFORMATIVO esquematizado
Mesmo que ele tenha assinado um termo de confissão de dívida?
SIM.

Segundo o STJ, no âmbito de embargos do devedor, é possível proceder à revisão do


contrato de que se origine o título executado, ainda que, em relação ao referido contrato,
tenha havido confissão de dívida.

Aplica-se ao caso o mesmo raciocínio que deu origem à Súmula 286 do STJ: A renegociação
de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre
eventuais ilegalidades dos contratos anteriores.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/5/2013.

Excesso de execução deve ser alegado nos embargos à execução

Não é possível ao juiz conhecer de suposto excesso de execução alegado pelo executado
somente após a oposição dos embargos à execução. Isso porque eventual excesso de execução é
típica matéria de defesa, e não de ordem pública, devendo ser arguida pelo executado por meio
de embargos à execução, sob pena de preclusão.
Comentários Imagine a seguinte situação:
João é credor da Fazenda Pública por força de uma sentença judicial transitada em julgado.
João ajuíza, então, execução contra a Fazenda Pública cobrando o valor devido.
O procedimento de execução contra a Fazenda Pública é previsto nos arts. 730 e 731 do CPC.
Dessa feita, a Fazenda será citada para, se quiser, opor embargos em 30 dias (o art. 1º B da
Lei 9.494/97 ampliou o prazo previsto no art. 730, caput, do CPC).
Assim, a defesa típica da Fazenda Pública, na execução contra ela proposta, são os
embargos à execução.

O que a Fazenda Pública poderá alegar nos embargos à execução?


Art. 741. Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar sobre:
I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;
II – inexigibilidade do título;
III – ilegitimidade das partes;
IV – cumulação indevida de execuções;
V – excesso de execução;
VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,
novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença;
VII – incompetência do juízo da execução, bem como suspeição ou impedimento do juiz.

Voltando ao nosso exemplo:


Dentro do prazo de 30 dias, a União apresentou embargos à execução alegando que o título
seria inexigível, nos termos do art. 741, II, do CPC.

O que o juiz deverá fazer?


Não sendo caso de rejeição liminar dos embargos, o juiz deverá recebê-los, suspender a
execução e determinar a intimação do exequente/embargado para apresentar resposta aos
embargos opostos.
36

Qual é o nome da manifestação do exequente/embargado?


Impugnação aos embargos.
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INFORMATIVO esquematizado
Qual é o prazo dessa impugnação?
15 dias, nos termos do art. 740 do CPC:
Art. 740. Recebidos os embargos, será o exequente ouvido no prazo de 15 (quinze) dias; a
seguir, o juiz julgará imediatamente o pedido (art. 330) ou designará audiência de
conciliação, instrução e julgamento, proferindo sentença no prazo de 10 (dez) dias.

Vejam a peculiaridade que aconteceu no caso concreto:


Após o exequente/embargado ter apresentado a impugnação aos embargos, a Fazenda
Pública peticionou ao juiz, invocando o princípio da ampla defesa, e pedindo que, além dos
elementos indicados na inicial, ele acolhesse, como fundamento dos embargos, o excesso
de execução (art. 741, V).
Em outras palavras, após já ter apresentados os embargos, a Fazenda Pública peticionou
complementando a Inicial e afirmando que deveria ser reconhecido o excesso de execução,
anteriormente não alegado.
A Fazenda Pública argumentou que poderia fazer isso porque o excesso de execução seria
matéria de ordem pública e que, portanto, poderia ser conhecida de ofício pelo juiz.

O STJ concordou com a tese da Fazenda Pública?


NÃO. Para o STJ a petição apresentada depois dos embargos à execução não pode ser
conhecida, porquanto o suposto excesso de execução é típica matéria de defesa, e não de
ordem pública, a qual deve ser alegada pelo executado a quem aproveita.
Portanto, era ônus da Fazenda Pública executada provar, com a oposição dos embargos,
que a execução era excessiva. Como não o fez no momento próprio, ocorreu a preclusão.
O STJ mencionou, ainda, que não seria cabível a exceção de pré-executividade, uma vez que
o excesso de execução é matéria reservada aos embargos à execução (art. 741, V) e,
portanto, as questões reservadas aos embargos não são passíveis de conhecimento ex
officio pelo magistrado.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 150.035-DF, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 28/5/2013.

Bens impenhoráveis

As quantias previstas no inciso IV do art. 649 do CPC somente manterão a condição de


impenhoráveis enquanto estiverem “destinadas ao sustento do devedor e sua família”. Se tais
ATENÇÃO valores forem aplicados em alguma aplicação financeira, perderão o caráter de
impenhorabilidade.
Assim, é possível a penhora de valores que, apesar de recebidos pelo devedor em decorrência
de rescisão de contrato de trabalho, tenham sido posteriormente transferidos para fundo de
investimento.
Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:
a) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
b) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e,
caso não o faça, seus bens são penhorados.

O que é a penhora?
Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou
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indiretamente, na satisfação do crédito executado.


Página

INFORMATIVO esquematizado
Todo e qualquer bem pode ser penhorado?
NÃO. O art. 649 do CPC estabelece um rol de bens que não podem ser objeto de penhora.
Dentre eles, veja o que diz o inciso IV:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo;

As verbas rescisórias estão incluídas nesse inciso IV?


SIM. As quantias referentes à rescisão trabalhista são consideradas verbas alimentares e
podem ser equiparadas a “salário”.

Se a pessoa recebeu um determinado valor como verba rescisória e o depositou em um fundo


de investimento para que ele ficasse rendendo juros, tal quantia poderá ser penhorada?
SIM. Segundo entendeu o STJ, as quantias previstas no inciso IV do art. 649 do CPC somente
manterão a condição de impenhoráveis enquanto estiverem “destinadas ao sustento do
devedor e sua família”. Se tais valores forem investidos em alguma aplicação financeira,
perderão o caráter de impenhorabilidade.

Assim, é possível a penhora de valores que, apesar de recebidos pelo devedor em


decorrência de rescisão de contrato de trabalho, tenham sido posteriormente transferidos
para fundo de investimento.

Conforme decidiu a Min. Nancy Andrighi, na hipótese de qualquer quantia salarial se


mostrar, ao final do período (isto é, até o recebimento de novo provento de igual natureza),
superior ao custo necessário ao sustento do titular e de seus familiares, essa sobra perde o
caráter alimentício e passa a ser uma reserva ou economia, tornando-se, em princípio,
penhorável. Ex: pessoa recebe 10 mil reais de salário; mantém 5 mil na conta corrente; se,
no mês seguinte receber o novo salário (mais 10 mil), totalizando 15 mil na conta, estes 5
mil “excedentes” poderão, em tese, ser penhorados.

Para a Ministra, não é razoável, como regra, admitir que verbas alimentares não utilizadas
no período para a própria subsistência sejam transformadas em aplicações ou
investimentos financeiros e continuem a gozar do benefício da impenhorabilidade.

O legislador criou uma única exceção a essa regra, prevendo expressamente que são
impenhoráveis os valores até o limite de 40 salários mínimos aplicados em caderneta de
poupança. É o que está no inciso X do art. 649 do CPC:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de
poupança.

Estabeleceu-se, assim, uma presunção de que os valores depositados em caderneta de


poupança até esse limite assumem função de segurança alimentícia pessoal e familiar.
Trata-se, pois, de benefício que visa à proteção do pequeno investimento, da poupança
modesta, voltada à garantia do titular e de sua família contra imprevistos, como
desemprego ou doença.
38
Página

É preciso destacar que a poupança constitui investimento de baixo risco e retorno,


contando com proteção do Fundo Garantidor de Crédito e isenção do imposto de renda,

INFORMATIVO esquematizado
tendo sido concebida justamente para pequenos investimentos destinados a atender o
titular e sua unidade familiar em situações emergenciais, por um período determinado e
não muito extenso.

Outras modalidades de aplicação financeira de maior risco e rentabilidade — como é o caso


dos fundos de investimento — não detêm esse caráter alimentício, sendo voltadas para
valores mais expressivos, menos comprometidos, destacados daqueles vinculados à
subsistência mensal do titular e de sua família. Essas aplicações buscam suprir necessidades
e interesses de menor preeminência — ainda que de elevada importância —, como a
aquisição de bens duráveis, inclusive imóveis, ou mesmo a realização de uma previdência
informal de longo prazo.

Aliás, mesmo aplicações em poupança em valor mais elevado perdem o caráter alimentício,
tanto que o benefício da impenhorabilidade foi limitado a 40 salários mínimos.

Valores mais expressivos, superiores ao referido patamar, não foram contemplados pela
impenhorabilidade fixada pelo legislador, até para que possam, efetivamente, vir a ser
objeto de constrição, impedindo que o devedor abuse do benefício legal, escudando-se na
proteção conferida às verbas de natureza alimentar para se esquivar do cumprimento de
suas obrigações, a despeito de possuir condição financeira para tanto.

Diante disso, deve-se concluir que o art. 649, X, do CPC não admite intepretação extensiva
de modo a abarcar todo e qualquer tipo de aplicação financeira.

Com efeito, o que se quis assegurar com a impenhorabilidade de verbas alimentares foi a
sobrevivência digna do devedor, e não a manutenção de um padrão de vida acima das suas
condições às custas do credor.
Precedente Registre-se que há um precedente antigo da 4ª Turma do STJ em sentido contrário ao que
em sentido foi exposto acima, mas que acredito que esteja superado: REsp 978.689//SP, Rel. Min. Luis
contrário Felipe Salomão, DJe de 24/08/2009.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/5/2013.

Arrematação (Legitimidade para arrematar)

O depositário fiel do bem penhorado, mesmo atuando como representante de outra pessoa
jurídica do mesmo grupo empresarial da executada, deve ser enquadrado nas hipóteses
impeditivas de arrematação do art. 690-A do CPC.
Nenhum dos incisos do art. 690-A do CPC menciona expressamente a situação do depositário
fiel. No entanto, o STJ entendeu que esse rol de impedimentos “permite interpretação e
adequação pelo aplicador do direito em homenagem à intenção do legislador, o que afasta a
sua taxatividade”.
Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:
c) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
d) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e,
caso não o faça, seus bens são penhorados.
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O que é a penhora?
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Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou


indiretamente, na satisfação do crédito executado.
INFORMATIVO esquematizado
Formas de utilizar o bem penhorado para satisfação da dívida:
Como visto, os bens do devedor são penhorados a fim de serem utilizados, direta ou
indiretamente, para a satisfação da dívida.

O que acontece com o bem penhorado?


Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação.
Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser:
a) Adjudicado;
b) Alienado por iniciativa particular;
c) Alienado em hasta pública;
d) Concedido em usufruto ao exequente.

A isso se dá o nome de expropriação, conforme previsto no art. 647 do CPC:


Art. 647. A expropriação consiste:
I - na adjudicação em favor do exequente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A
desta Lei;
II - na alienação por iniciativa particular;
III - na alienação em hasta pública;
IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel.

I – Adjudicação
A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado é transferida ao exequente
ou aos terceiros legitimados.
Art. 685-A. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer
lhe sejam adjudicados os bens penhorados.
§ 1º Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a
diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo
saldo remanescente.
§ 2º Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores
concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou
ascendentes do executado.
§ 3º Havendo mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação; em igualdade
de oferta, terá preferência o cônjuge, descendente ou ascendente, nessa ordem.
(...)

II – Alienação por iniciativa particular


Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exequente poderá requerer
sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado
perante a autoridade judiciária.
§ 1º O juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser efetivada, a forma de publicidade, o
preço mínimo (art. 680), as condições de pagamento e as garantias, bem como, se for o
caso, a comissão de corretagem.
§ 2º A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exequente,
pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do
imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao
adquirente.
40

§ 3º Os Tribunais poderão expedir provimentos detalhando o procedimento da alienação


prevista neste artigo, inclusive com o concurso de meios eletrônicos, e dispondo sobre o
Página

credenciamento dos corretores, os quais deverão estar em exercício profissional por não
menos de 5 (cinco) anos.

INFORMATIVO esquematizado
III – Alienação em hasta pública
Se não houver interessados na adjudicação (inciso I do art. 647 do CPC) e se o credor não
requerer a alienação particular do bem (inciso II), então o destino do bem será a sua
alienação em hasta pública (inciso III).
A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento
organizado pelo Estado-juiz.
Existem duas formas de hasta pública (art. 686, IV):
a) Praça: quando a coisa a ser alienada for bem imóvel;
b) Leilão: quando a coisa a ser alienada for bem móvel.

O que é arrematação?
Consiste na alienação do bem penhorado em hasta pública.

Legitimidade para arrematar (art. 690-A do CPC)


Em regra, qualquer pessoa que esteja na livre administração de seus bens poderá lançar, ou
seja, poderá arrematar bens em uma hasta pública. É o que diz a primeira parte do caput do
art. 690-A do CPC:
Art. 690-A. É admitido a lançar todo aquele que estiver na livre administração de seus bens,
com exceção:

O que é “lançar”?
Significa dar um “lance” (lanço, oferta, proposta) para adquirir o bem no leilão ou na praça.

Quem são as pessoas impedidas de lançar (impedidas de arrematar):


I - os tutores, curadores, testamenteiros, administradores, síndicos ou liquidantes, quanto
aos bens confiados a sua guarda e responsabilidade;
II - dos mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou alienação estejam
encarregados;
III - do juiz, membro do Ministério Público e da Defensoria Pública, escrivão e demais
servidores e auxiliares da Justiça.

Imagine agora a seguinte situação:


João, diretor da empresa executada, ficou na condição de depositário fiel do bem que foi
levado a leilão.
Durante o leilão, João, atuando como representante de uma outra empresa (que pertencia
ao mesmo grupo econômico da executada), fez um lance e arrematou o bem.
O STJ entendeu que ele estava impedido de arrematar considerando que era depositário fiel do
bem penhorado. Logo, enquadrava-se na previsão contida no inciso I do art. 690-A do CPC.

Rol não taxativo:


Repare que nenhum dos incisos do art. 690-A do CPC menciona expressamente a situação
do depositário fiel. No entanto, o STJ entendeu que esse rol de impedimentos “permite
interpretação e adequação pelo aplicador do direito em homenagem à intenção do
legislador, o que afasta a sua taxatividade”.
Logo, o depositário fiel do bem penhorado, mesmo atuando como representante de outra
pessoa jurídica do mesmo grupo empresarial da executada, deve ser enquadrado nas
hipóteses impeditivas de arrematação do art. 690-A do CPC.
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INFORMATIVO esquematizado
IV – Usufruto de bem móvel ou imóvel
Se o juiz conceder o usufruto do bem penhorado ao exequente, significa que ele autoriza
que o credor fique recebendo os frutos ou rendimentos que a coisa produzir até que
consiga quitar a dívida.
Ex: foi penhorado um apartamento do executado que se encontra alugado a um terceiro;
pode o juiz conceder o usufruto judicial desse apartamento ao exequente, que passará a
receber o valor dos alugueis até que o débito da execução seja totalmente pago.
Apesar do CPC chamar esse inciso IV de “usufruto”, a doutrina afirma que, na verdade, não
se trata de usufruto, mas sim de uma forma de “anticrese”.
Art. 716. O juiz pode conceder ao exequente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o
reputar menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do crédito.
Art. 717. Decretado o usufruto, perde o executado o gozo do móvel ou imóvel, até que o
exequente seja pago do principal, juros, custas e honorários advocatícios.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.368.249-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/4/2013.

Pedido de suspensão de segurança

O pedido de suspensão é um instrumento processual (incidente processual) por meio do qual


as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público requerem ao Presidente do
Tribunal que for competente para o julgamento do recurso que suspenda a execução de uma
Advocacia
Pública decisão, sentença ou acórdão proferidos sob o argumento de que esse provimento
jurisdicional prolatado causa grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso?
SIM. Caberá agravo interno para o Plenário ou Corte Especial do Tribunal. Nesse sentido, veja o
§ 3º do art. 4º da Lei n. 8.437/92:
§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, no prazo de cinco dias, que
será levado a julgamento na sessão seguinte a sua interposição.

Obs: segundo entende o STJ e o STF, o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido
interposto pela Fazenda Pública ou pelo MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que
confere prazo em dobro para recorrer à Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso
interposto ser o incidente de suspensão de liminar previsto no art. 4º, § 3º, da Lei n. 8.437/92.
Comentários PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA

Conceito
O pedido de suspensão é
- um instrumento processual (incidente processual)
- por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público
- requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento do recurso
- que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos,
- sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

Natureza jurídica
Prevalece que se trata de um “incidente processual” (Leonardo José Carneiro da Cunha).
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INFORMATIVO esquematizado
A decisão de suspensão de segurança possui caráter político ou jurisdicional?
1ª corrente: 2ª corrente:
Trata-se de um juízo político a respeito da 2ª) trata-se de decisão judicial,
lesividade do ato judicial à ordem, à saúde, considerando que uma decisão político-
à segurança e à economia públicas, sendo, administrativa não poderia atingir uma
por isso, impassível de recurso especial. É a decisão judicial anterior; além disso, se
posição pacífica do STJ. fosse política, poderia ser tomada de
ofício. É a posição de Marcelo Abelha e
Leonardo da Cunha.
A vedação ao Resp e ao RE decorreria,
segundo tais autores, do fato de que tais
recursos não admitem análise de matéria
de fato ou de prova.

Nomenclatura
Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de segurança”. Isso porque
ele foi previsto originalmente na lei apenas para suspender as decisões liminares ou
sentenças proferidas em mandados de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão
para, praticamente, toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Por essa razão, atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em
“suspensão de liminar”, “suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc.

Previsão legal
Há cinco diferentes leis prevendo pedido de suspensão:
Art. 12, § 1º da Lei n. 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP):
Art. 4º da Lei n. 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em
ação popular ou em ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral
sobre o pedido de suspensão;
Art. 1º da Lei n. 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda
Pública);
Art. 16 da Lei n. 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
Art. 15 da Lei n. 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).

Lei n. 8.437/92:
Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo
recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas
contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa
jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de
flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas.
§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação cautelar
inominada, no processo de ação popular e na ação civil pública, enquanto não transitada
em julgado.

Possibilidade de formular pedido de suspensão e interpor recurso:


Contra uma decisão interlocutória proferida por um juiz, em 1ª instância, poderão ser
interpostos o agravo de instrumento e, concomitantemente, o pedido de suspensão. Isso
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porque o pedido de suspensão não é recurso. Logo, não há violação ao princípio da


singularidade ou unirrecorribilidade. Além disso, os objetivos do agravo e do pedido de
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suspensão são diferentes.


Vale ressaltar que essa possibilidade é prevista expressamente:
INFORMATIVO esquematizado
Lei n.° 8.437/92
Art. 4º (...) § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações
movidas contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento
do pedido de suspensão a que se refere este artigo.
Lei n.° 12.016/2009
Art. 15 (...) § 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas
ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o
julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

Legitimidade
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
b) Autarquias e fundações;
c) Ministério Público;
d) Concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse público primário).

Competência
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do
Presidente do Tribunal que teria competência para julgar o
recurso contra a decisão.
Decisão prolatada por
Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de
juiz de 1ª instância:
suspensão será julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de
suspensão será julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
Decisão prolatada por
membro de TJ ou TRF:
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido
de suspensão será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não
ao Presidente do TJ/AM (art. 25 da Lei n. 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o
Decisão prolatada por
ajuizamento de pedido de suspensão dirigido ao Presidente do STF.
membro de Tribunal
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há
Superior:
possibilidade de pedido de suspensão.

Não se examina o mérito no pedido de suspensão:


Na análise do pedido de suspensão, é vedado o exame do mérito da demanda principal. O
que será examinado pelo Tribunal é se a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à:
a) ordem
b) saúde
c) segurança ou
d) economia públicas.

A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de grave lesão à


ordem, à segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de mérito da demanda
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principal não podem ser examinados nessa medida, que não substitui o recurso próprio.
(AgRg na SLS 1.135/MA, Rel. Ministro PRESIDENTE DO STJ, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR
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ASFOR ROCHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/04/2010, DJe 20/05/2010)

INFORMATIVO esquematizado
Apesar de não se examinar o mérito, deve ser realizado um juízo mínimo de delibação:
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é
preciso, para que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade
na tese da Fazenda Pública porque o pedido de suspensão funciona como uma
contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus boni iuris e periculum in mora inverso:
(...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de
um juízo mínimo de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal,
quando da análise do pedido de suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro
Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel. Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001,
dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-
078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001)

Recurso contra a decisão proferida no pedido de suspensão:


Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso?
SIM. Caberá agravo interno para o Plenário ou Corte Especial do Tribunal. Nesse sentido,
veja o § 3º do art. 4º da Lei n. 8.437/92:
§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, no prazo de cinco
dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte a sua interposição.

Obs: o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido interposto pela Fazenda
Pública ou pelo MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que confere prazo
em dobro para recorrer à Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso interposto
ser o incidente de suspensão de liminar previsto no art. 4º, § 3º, da Lei 8.437/1992 (REsp
1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013).

Cabe recurso da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
NÃO. Segundo entendimento pacífico, não cabe Recurso Extraordinário ou Recurso Especial
de decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão.
O recurso especial não se presta à revisão do juízo político realizado pelo tribunal a quo
para a concessão da suspensão de liminar, notadamente porque decorrente de juízo de
valor acerca das circunstâncias fáticas que ensejaram a medida, cujo reexame é vedado nos
termos da Súm. n. 7/STJ (AgRg no AREsp 126.036-RS).

No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou mantida a suspensão, a Fazenda
Pública ainda terá outro instrumento: apresentar novo pedido de suspensão, desta vez para
o STJ ou para o STF, a depender da natureza da matéria (se infraconstitucional ou
constitucional).

Lei n.° 8.437/92


Art. 4º (...) § 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o
restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de suspensão
ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou
extraordinário.

Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente
para o Plenário, que reforma a decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em
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primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou
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RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

INFORMATIVO esquematizado
Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do
Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública não poderá interpor Resp ou
RE, mas terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

A doutrina afirma que se trata de um pedido de suspensão “por salto de instância”.


Obra
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. São Paulo: Dialética, 8ª ed, 2010.
consultada
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013.

Ações possessórias

Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC, para
comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse.
Comentários Interditos possessórios:
Existem três ações tipicamente possessórias (interditos possessórios):
a) Ação de reintegração de posse;
b) Ação de manutenção de posse;
c) Interdito proibitório.

Diferença entre elas:


a) Ação de reintegração de posse: deverá ser proposta pela pessoa que sofreu um
esbulho, ou seja, perdeu a posse.
b) Ação de manutenção de posse: proposta quando a pessoa está sofrendo uma turbação,
isto é, quando estão sendo praticados contra ela atos materiais concretos de agressão à
posse, sem que ela tenha sido ainda desapossada integralmente. Ex: o agressor ingressa
várias vezes, mas depois sai novamente. Ex2: o agressor invadiu apenas parte do
imóvel.
c) Interdito proibitório: ajuizada quando a pessoa estiver sofrendo ameaças de efetiva
ofensa à posse, sem que tenha havido, contudo, um ato material concreto. Ex: os
invasores já foram vistos várias vezes rondando a localidade, demonstrando que podem
entrar no terreno.

Regulamentação:
O procedimento das ações possessórias é regulamentado pelos arts. 926 a 933 do CPC.

Posse nova e posse velha


Posse nova: é aquela que tem menos de 1 ano e 1 dia.
Posse velha: é aquela que tem mais de 1 ano e 1 dia.

Ação de força nova e ação de força velha


Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há menos de 1 ano
e 1 dia, diz-se que essa ação é de força nova (a posse do “invasor” é nova). Desse modo,
ação de força nova é aquela proposta dentro do prazo de ano e dia a contar da data do
esbulho ou da turbação.
Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há mais de 1 ano e
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1 dia, diz-se que essa ação é de força velha (a posse do “invasor” já é “velha”).
Página

INFORMATIVO esquematizado
Ação de força nova (ação contra posse nova): segue o procedimento especial previsto nos
arts. 926 a 931 do CPC.

Ação de força velha (ação contra posse velha): segue o procedimento ordinário.

Art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da


seção seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado
esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Petição inicial da ação possessória


Segundo o art. 927, incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
Il - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na
ação de reintegração.

Possibilidade de concessão da liminar inaudita altera partes


Se a petição inicial estiver devidamente instruída, o juiz poderá deferir, sem ouvir o réu, a
expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração da posse (art. 928).

A liminar será concedida quando o autor conseguir demonstrar que:


a) O ato de agressão à posse deu-se há menos de 1 ano e 1 dia (posse nova);
b) Existe fumus boni iuris nas alegações deduzidas na petição inicial.

Para a concessão da liminar na ação possessória não é necessária a demonstração de


periculum in mora (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil.
São Paulo: Método, 2010, p. 1.367).

Impossibilidade de concessão de liminar inaudita contra a Fazenda Pública:


Art. 928 (...) Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será
deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes judiciais.

Caso o juiz entenda que não é o caso de conceder a liminar: audiência de justificação
Se o magistrado não estiver convencido dos requisitos para a concessão da liminar, ele
deverá designar uma audiência para que o autor justifique previamente o que ele alegou na
petição inicial.
O objetivo da audiência é dar a oportunidade para que o autor traga mais provas sobre a
presença dos requisitos necessários à concessão da liminar.
Essa audiência é chamada de “audiência de justificação prévia”

Participação do réu na audiência de justificação


O art. 928 do CPC afirma que o réu deverá ser citado para comparecer a essa audiência.
Vale ressaltar, no entanto, que ele não será, em regra, ouvido na audiência.
Em regra, o réu irá participar da audiência ouvindo as testemunhas arroladas pelo autor,
não podendo levar testemunhas suas, considerando que ainda haverá o momento para
isso, qual seja, a audiência de instrução.
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Durante a audiência de justificação, o réu poderá formular perguntas ou oferecer


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contradita, sempre por meio de advogado.


Nessa audiência, o juiz também deverá tentar obter a conciliação entre as partes.

INFORMATIVO esquematizado
Se o réu não for citado para comparecer à audiência de justificação, haverá nulidade
absoluta do processo?
NÃO. Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do
CPC, para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse.

Segundo entendeu o STJ, o termo “citação” foi utilizado de forma imprópria no art. 928 do
CPC, na medida em que, nessa hipótese, o réu não é chamado para se defender, mas sim
para, querendo, comparecer e participar da audiência de justificação.
Na audiência de justificação, a prova é exclusiva do autor, cabendo ao réu, caso compareça,
apenas fazer perguntas.
Somente após a referida audiência é que começará a correr o prazo para contestar
(parágrafo único do art. 930).

Após a realização da audiência de justificação prévia:


Depois de colher as provas, o magistrado deverá decidir sobre a medida liminar, podendo
fazê-lo na própria audiência ou no prazo de 10 dias.

Se o juiz se convencer dos argumentos do autor, deverá conceder a liminar. Nesse caso,
diz-se que o juiz julgou procedente a justificação (art. 929 do CPC).
Se o juiz considerar que os argumentos foram insuficientes mesmo após a audiência,
deverá denegar a liminar.

Art. 929. Julgada procedente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de
manutenção ou de reintegração.

Recurso cabível contra a decisão que concede ou denega a liminar: agravo de instrumento.

Concedida ou não a liminar, o réu será citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias:
Art. 930. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor
promoverá, nos 5 (cinco) dias subseqüentes, a citação do réu para contestar a ação.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia (art. 928), o prazo para
contestar contar-se-á da intimação do despacho que deferir ou não a medida liminar.

Art. 931. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento ordinário.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.904-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/5/2013.

Arrolamento sumário

NÃO é cabível, em arrolamento sumário, a discussão acerca da eventual configuração da


decadência do direito da Fazenda Pública de efetuar lançamento tributário referente ao
imposto sobre transmissão causa mortis e doação.
Comentários INVENTÁRIO
Inventário é o procedimento, judicial ou extrajudicial, por meio do qual são arrecadados,
descritos, avaliados e liquidados os bens e outros direitos que pertenciam à pessoa morta,
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e, após serem pagas as dívidas do falecido, o eventual saldo positivo será distribuído entre
os seus sucessores (partilha).
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INFORMATIVO esquematizado
ESPÉCIES DE INVENTÁRIO
Inventário judicial: é um processo judicial.
Inventário extrajudicial: é o inventário realizado por meio de escritura pública. Somente
pode ser feito se não houver testamento e se todos os interessados forem capazes e
houver consenso entre eles quanto à divisão dos bens.

INVENTÁRIO JUDICIAL:
Se o inventário for judicial, ele poderá ser realizado de três formas:
a) Inventário comum;
b) Arrolamento sumário (arts. 1.031);
c) Arrolamento comum (art. 1.036).

O arrolamento sumário e o arrolamento comum são considerados como “formas


simplificadas” de inventário.

ARROLAMENTO SUMÁRIO
Ocorre quando todos os herdeiros forem maiores e capazes e estiverem de acordo
quanto à partilha.
Ocorre também quando houver herdeiro único.
Não importa o valor do patrimônio transmitido.
Os próprios herdeiros apresentam ao juiz a partilha, inclusive a quitação de tributos.
Não ocorre a intervenção do Ministério Público porque não há interesse socialmente
relevante nem direitos individuais indisponíveis.
Como não há conflito de interesses no arrolamento sumário, a doutrina classifica esse
procedimento como sendo de jurisdição voluntária.

O CPC prevê a seguinte regra a respeito do arrolamento sumário:


Art. 1.034. No arrolamento, não serão conhecidas ou apreciadas questões relativas ao
lançamento, ao pagamento ou à quitação de taxas judiciárias e de tributos incidentes sobre
a transmissão da propriedade dos bens do espólio.

Com base nessa regra, o STJ reafirmou que NÃO é cabível, em arrolamento sumário, a discussão
acerca da eventual configuração da decadência do direito da Fazenda Pública de efetuar
lançamento tributário referente ao imposto sobre transmissão causa mortis e doação.
A controvérsia sobre esses temas terá que ser dirimida em outro processo, considerando
que, no arrolamento sumário, o legislador limitou o procedimento a uma cognição parcial.

ARROLAMENTO COMUM
Poderá ser feito o arrolamento comum (mais simples que o inventário) quando o valor
dos bens que compuserem o espólio não ultrapassar 2.000 OTN’s.
Aqui não importa se existem ou não herdeiros incapazes.
Aqui não importa se existe ou não acordo entre os herdeiros.
O que interessa para ser realizado o arrolamento comum é o valor os bens ser inferior a
2.000 OTN’s.
Se houver herdeiro incapaz, o MP será intimado para intervir no processo.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.223.265-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 18/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Legitimidade do MP para ACP em benefício de uma só pessoa em questões de saúde

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia
elétrica com a finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente
de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e que dependa, para sobreviver,
da utilização doméstica de equipamento médico com alto consumo de energia.

Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a
proteção do direito à saúde de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata de direito
fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada e que pode ser cobrada em uma prova discursiva:
Por conta de uma grave doença pulmonar, João, hipossuficiente, precisa ficar o dia inteiro
ligado a um aparelho concentrador elétrico de oxigênio domiciliar, equipamento
indispensável à sua subsistência, o qual, contudo, proporciona um consumo exorbitante de
energia elétrica.
Em razão de não mais conseguir pagar a conta de energia elétrica, os familiares de João
procuraram o Ministério Público em busca de ajuda.

Como Promotor de Justiça, sob o ponto de vista processual, você poderia propor alguma
medida judicial em favor de João?
SIM. O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de
energia elétrica com a finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à
pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e que
dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto
consumo de energia.
Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a
proteção do direito à saúde de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata de direito
fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.162.946-MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em 4/6/2013.

DIREITO PENAL

Falsidade ideológica é absorvida pelo descaminho

Responderá apenas pelo crime de descaminho, e não por este em concurso com o de falsidade
ideológica, o agente que, com o fim exclusivo de iludir o pagamento de tributo devido pela
entrada de mercadoria no território nacional, alterar a verdade sobre o preço desta.
O pagamento do tributo devido extingue a punibilidade do descaminho.
No caso em que a falsidade ideológica tenha sido praticada com o fim exclusivo de proporcionar a
realização do crime de descaminho, a extinção da punibilidade quanto a este — diante do
pagamento do tributo devido — impede que o agente seja punido apenas pelo crime-meio.
Exaurindo-se o crime-meio na prática do crime-fim, cuja punibilidade não mais persista, falta
justa causa para a persecução pelo crime de falso, porquanto carente de autonomia.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Roberto efetuou a importação de uma determinada mercadoria.
No momento do desembaraço aduaneiro, Roberto apresentou declaração de que a
mercadoria custava um valor bem abaixo do seu preço real.
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Com isso, ele pagou um imposto de importação inferior ao que seria devido.
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Denúncia do MPF
Descoberta a fraude, o MPF denunciou Roberto, narrando que ele praticou subfaturamento
INFORMATIVO esquematizado
com fins de iludir o pagamento do imposto de importação, alterando a verdade sobre fato
juridicamente relevante e prejudicando direito do Fisco federal.
Na denúncia, o MPF imputou ao réu os delitos de descaminho (art. 334 do CP) em concurso
formal com a falsidade ideológica (art. 299):

Art. 334. Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o


pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar,
ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o
fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a
três anos, e multa, se o documento é particular.

PRIMEIRA tese da defesa: princípio da consunção


A defesa argumentou que a falsidade ideológica foi o meio para a prática do descaminho.
Logo, estaria absorvida pelo crime-fim. O STJ acatou esse argumento?
SIM. Para o STJ, responderá apenas pelo crime de descaminho, e não por este em concurso
com o de falsidade ideológica, o agente que, com o fim exclusivo de iludir o pagamento de
tributo devido pela entrada de mercadoria no território nacional, alterar a verdade sobre o
preço desta. Isso porque, na situação em análise, a primeira conduta realizada pelo agente,
com adequação típica no art. 299 do CP, serve apenas como meio para alcançar o fim
pretendido, qual seja, a realização do fato previsto como crime no art. 334 do CP.
Trata-se, pois, de uma das hipóteses em que se aplica o princípio da consunção, quando um
crime é meio necessário ou normal fase de preparação ou de execução de outro crime.
Nesse contexto, evidenciado o nexo entre as condutas e inexistindo dolo diverso que enseje
a punição do falso como crime autônomo, fica este absorvido pelo descaminho.
Aplica-se o mesmo raciocínio que motivou a edição da súmula 17 do STJ:
Súmula 17-STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é
por este absorvido.

SEGUNDA tese da defesa: pagamento do tributo extingue a punibilidade do descaminho


O réu efetuou o pagamento integral do tributo devido, além da multa. Em razão disso, requereu
a extinção da punibilidade. O pagamento do tributo extingue o crime de descaminho?
SIM.

O STJ possui os seguintes entendimentos sobre o delito de descaminho (HC 265.706/RS,


Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, julgado em 28/05/2013):
Crime tributário: embora encontre-se, topograficamente, no capítulo destinado aos
crimes contra a Administração Pública, o descaminho protege, como bem jurídico
imediato, o erário (cofres públicos). Logo, trata-se de crime tributário;
Crime material: o descaminho é crime material, tendo em vista que o art. 334 do CP
exige a ilusão, no todo ou em parte, do pagamento do imposto devido;
51

Constituição definitiva: para que se configure, o descaminho exige a constituição


definitiva do crédito tributário, podendo ser a ele aplicado o raciocínio presente na
Página

Súmula Vinculante n. 24 do STF.

INFORMATIVO esquematizado
Com base nessas três premissas, o STJ conclui que, se o agente efetua o pagamento do
tributo devido, ocorre a extinção da punibilidade do delito de descaminho, nos termos dos
arts. 34, caput, da Lei nº 9.249/1995, 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003 e 83, § 4º, da Lei nº
9.430/1996, com redação dada pela Lei nº 12.382/2011.

TERCEIRA tese da defesa: sendo o crime-fim extinto, extingue-se também o crime-meio


Sendo extinto o crime-fim (descaminho), mesmo assim poderá o agente ser punido pelo crime-
meio (falsidade ideológica)?
NÃO. No caso em que a falsidade ideológica tenha sido praticada com o fim exclusivo de
proporcionar a realização do crime de descaminho, a extinção da punibilidade quanto a este
— diante do pagamento do tributo devido — impede que o agente seja punido apenas pelo
crime-meio.
Exaurindo-se o crime-meio na prática do crime-fim, cuja punibilidade não mais persista,
falta justa causa para a persecução pelo crime de falso, porquanto carente de autonomia.

Em suma, o agente não vai responder por nenhum crime.


Processo STJ. 5ª Turma. RHC 31.321-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Prisão preventiva

É ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o
início do cumprimento da pena, em caso de eventual condenação, será feita em regime menos
Defensoria
Pública rigoroso que o fechado.
Comentários Imagine a seguinte situação:
João e mais outras três pessoas foram presas em flagrante e denunciadas pela prática dos
delitos previstos no art. 334, § 1º, “c” e “d” e art. 288, ambos do Código Penal.

Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o


pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem:
(...)
c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de
procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou
fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional
ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.

Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de
52

cometer crimes:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Liberdade provisória
João interpôs um pedido de liberdade provisória, tendo o juiz indeferido o benefício e
mantido a prisão cautelar.
A discussão sobre a liberdade do réu chegou até o STJ.

Decisão do STJ
A 5ª Turma do STJ decidiu conceder a liberdade ao acusado. Para a Corte, é ilegal a
manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início do
cumprimento da pena, em caso de eventual condenação, será feita em regime menos
rigoroso que o fechado.
No caso concreto, o STJ vislumbrou que, se o réu for condenado, ele não o será no regime
fechado. Logo, por essa razão, não deveria responder o processo preso.

Conforme afirmou o Ministro, a prisão provisória é providência excepcional no Estado


Democrático de Direito, só sendo justificável quando atendidos os critérios de adequação,
necessidade e proporcionalidade.

Dessa forma, para a imposição da medida, é necessário demonstrar concretamente a


presença dos requisitos autorizadores da preventiva (art. 312 do CPP) — representados
pelo fumus comissi delicti e pelo periculum libertatis — e, além disso, não pode a referida
medida ser mais grave que a própria sanção a ser possivelmente aplicada na hipótese de
condenação do acusado. É o que se defende com a aplicação do princípio da
homogeneidade, corolário do princípio da proporcionalidade, não sendo razoável manter o
acusado preso em regime mais rigoroso do que aquele que eventualmente lhe será imposto
quando da condenação.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 182.750-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO
Prescrição para pretensão de reconhecimento de créditos presumidos de IPI
(obs: este julgado somente será exigido no caso de concursos federais que exijam
Direito Tributário de forma mais intensa)
Prescreve em 5 anos a pretensão de reconhecimento de créditos presumidos de IPI a título de
benefício fiscal a ser utilizado na escrita fiscal ou mediante ressarcimento.
Comentários Prescreve em cinco anos a pretensão de reconhecimento de créditos presumidos de IPI a
título de benefício fiscal a ser utilizado na escrita fiscal ou mediante ressarcimento.
Isso porque o referido prazo prescricional deve obedecer ao art. 1º do Dec. 20.910/1932, e
não aos dispositivos do CTN.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 292.142-MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 21/5/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz TJBA 2012 CESPE) Conforme entendimento sumulado pelo STJ, o prazo prescricional da ação de
desapropriação indireta é de cinco anos. ( )
2) As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de
exceção são imprescritíveis. ( )
53

3) Os servidores públicos ocupantes de cargo em comissão não se submetem à aposentadoria compulsória aos 70
anos. ( )
Página

INFORMATIVO esquematizado
4) Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à
autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade
dos bens do indiciado. ( )
5) Segundo o STJ, a medida cautelar de indisponibilidade dos bens também pode ser aplicada aos atos de
improbidade administrativa que impliquem violação dos princípios da administração pública. ( )
6) É possível aplicar o CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por ele para administrar
o bem. Em outras palavras, a pessoa que contrata uma empresa administradora de imóveis pode ser considerada
consumidora. ( )
7) Não devem ser conhecidos os embargos de divergência na hipótese em que exista dissídio entre órgãos do STJ
acerca da interpretação de regra de direito processual, especialmente se não houver semelhança entre os fatos
da causa tratada no acórdão embargado e os analisados no acórdão tido como paradigma. ( )
8) Mesmo que a ação principal seja julgada improcedente, persiste sendo exigível a multa cominatória fixada na
ação cautelar. ( )
9) No âmbito de embargos do devedor, é possível proceder à revisão do contrato de que se origine o título
executado, ainda que, em relação ao referido contrato, tenha havido confissão de dívida. ( )
10) Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC, para comparecer à
audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse. ( )
11) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia elétrica com a
finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente de recursos financeiros
diagnosticada com enfermidade grave e que dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento
médico com alto consumo de energia. ( )
12) É cabível, em arrolamento sumário, a discussão acerca da eventual configuração da decadência do direito da Fazenda
Pública de efetuar lançamento tributário referente ao imposto sobre transmissão causa mortis e doação. ( )
13) É ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início do cumprimento
da pena, em caso de eventual condenação, será feita em regime menos rigoroso que o fechado. ( )

Questões discursivas:
(Juiz TJMS/2010) Desenvolva o conceito jurídico de desapropriação indireta.

(Juiz TJAM/2013) O Estado do Amazonas construiu um hospital em área que entendia ser de sua propriedade.
Passados seis anos, João Tício ajuíza ação em face do estado do Amazonas postulando a reintegração na posse do
referido imóvel, ou, alternativamente, indenização. No curso da demanda ficou comprovado que o imóvel, onde se
construiu o hospital público, era de propriedade de João Tício. Assim, após o regular processamento da demanda, com
a devida contestação, veio parecer do MP, no sentido da ocorrência da prescrição quinquenal. Sendo você o Juiz da
causa, apresente os fundamentos da decisão, indicando o instituto posto, e o eventual direito de João Tício.

Gabarito
1. E 2. C 3. C 4. C 5. C 6. C 7. E 8. E 9. C 10. C 11. C 12. E 13. C

JULGADO QUE NÃO FOI COMENTADO POR SER DE POUCA


RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE AÇÕES CONEXAS CUJA CAUSA DE PEDIR REMOTA ENVOLVA
DIREITO DE PROPRIEDADE.
Compete ao foro do local em que situado o imóvel o julgamento de ação consignatória e de ação de rescisão contratual
cumulada com retificação de escritura pública, perdas e danos e alteração do registro imobiliário na hipótese em que lhes for
comum causa de pedir remota consistente em contrato verbal de sociedade de fato formada para a compra do referido bem.
De início, cumpre esclarecer que há conexão entre as ações, já que possuem a mesma causa de pedir remota (art. 103 do CPC),
sendo conveniente a sua reunião, a fim de evitar a prolação de decisões conflitantes. Posto isso, observa-se que o art. 95 do CPC
prevê regra de competência absoluta ao dispor que, nas ações fundadas em direito real sobre imóveis, é competente o foro da
situação da coisa, quando o litígio recair sobre direito de propriedade.
54

Na hipótese, a ação de rescisão contratual contém, como decorrência lógica do pedido, pleito de modificação do próprio registro imobiliário.
Assim, uma vez julgado procedente o pedido, ter-se-á a modificação da propriedade do imóvel, com alteração da respectiva matrícula.
Dessa maneira, verificado o caráter real da ação, o foro da situação do imóvel é o competente para a reunião dos processos.
Página

CC 121.390-SP, 2ª Seção, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 524 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: CC 124.274-PR; REsp 1.357.121-DF; AgRg no REsp
1.370.740-RS; AgRg no REsp 1.370.740-RS; REsp 1.192.225-RJ; REsp 1.331.103-RJ; REsp 1.274.629-AP; REsp
1.371.462-MS.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público

É ilegal o ato administrativo que determine a exclusão de candidato já emancipado e a menos


de dez dias de completar a idade mínima de 18 anos exigida em edital de concurso público
para oficial da Polícia Militar, por este não haver atingido a referida idade na data da matrícula
do curso de formação, ainda que lei complementar estadual estabeleça essa mesma idade
como sendo a mínima necessária para o ingresso na carreira.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
O Estado de Mato Grosso realizava concurso público para oficial da Polícia Militar.
A lei estadual que rege a PM no Estado estabelece que a idade mínima para o indivíduo
ingressar na carreira é 18 anos.
O edital do concurso, por sua vez, interpretando a lei, previu que um dos requisitos para
que o candidato aprovado nas provas fizesse o curso de formação era o de que tivesse
idade mínima de 18 anos.

Caso de João
João foi aprovado nas provas, no entanto, na data do curso de formação, ainda faltariam 10
dias para que ele completasse 18 anos. Em suma, por uma diferença de 10 dias ele não
atendeu o que previa o edital.
Os pais de João, tentando ajudá-lo, fizeram a sua emancipação, como forma de tentar
“convencer” a administração pública.
Mesmo assim, o candidato foi impedido de fazer o curso de formação e excluído do
concurso, razão pela qual impetrou mandado de segurança contra o ato.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


1

O STJ decidiu que a exclusão do candidato foi ILEGAL porque violou os princípios da
Página

razoabilidade e da interpretação conforme o interesse público.

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Para o Min. Relator, a restrição imposta pelo edital (idade mínima de 18 anos na data da
matrícula no curso de formação) decorreu de interpretação equivocada da Lei estadual, que
limitou a idade para ingresso na carreira militar. Em outras palavras, o que a lei dispôs como
ingresso na carreira, foi interpretado pelo edital como data da matrícula no curso de
formação.

Essa interpretação foi aplicada com tal rigor no caso concreto, que, a pretexto de cumprir a
lei, terminou por feri-la, considerando que violou os princípios da razoabilidade e da
interpretação conforme o interesse público, previstos no art. 2º, parágrafo único, da Lei n.
9.784/99.

Uma última questão. O Relator mencionou a Lei n. 9.784/99. Esta Lei, porém, não trata
sobre o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal? Por que foi
utilizada para fundamentação em uma questão estadual?
O STJ entende que a Lei n. 9.784/1999 deve também ser aplicada aos Estados quando
estes não dispuserem de lei própria para disciplinar o processo administrativo. Esse era o
caso do Mato Grosso.
Processo STJ. 1ª Turma. RMS 36.422-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 28/5/2013.

Licitação

Não deve ser reconhecida a nulidade em processo licitatório na hipótese em que, a despeito de
recurso administrativo ter sido julgado por autoridade incompetente, tenha havido a posterior
homologação de todo o certame pela autoridade competente.
Comentários Discutiu-se nos autos se o fato de o recurso administrativo interposto por um dos licitantes
ter sido julgado por autoridade incompetente seria motivo suficiente para gerar a nulidade
de todo o procedimento licitatório, que já estava até mesmo homologado.

O STJ entendeu que não porque, no caso concreto, após o julgamento do recurso, o
procedimento licitatório foi homologado pela autoridade competente.

Segundo o Ministro ressaltou, o ato de homologação supõe que a autoridade competente


tenha analisado prévia e detalhadamente todo o procedimento, atestando a legalidade dos
atos praticados, bem como a conveniência de ser mantida a licitação.

Assim, tendo havido a homologação posterior, isso significa que a autoridade competente
convalidou todo o procedimento licitatório praticado, inclusive o julgamento do recurso que
havia sido apresentado.

Por fim, vale uma observação: em processo administrativo, os vícios relacionados com o
sujeito que pratica o ato (vícios relativos à competência) podem ser convalidados pela
autoridade superior quando não se tratar de competência exclusiva. Em suma, se a
autoridade que pratica o ato é incompetente, mesmo assim pode haver a convalidação
(ratificação) pela autoridade superior, “confirmando” a validade do ato. Isso só não é
possível se a lei previa que aquele ato que foi praticado era de competência exclusiva.
Considera-se competência exclusiva aquela que não pode ser delegada, ou seja, deve ser
obrigatoriamente exercida pela autoridade competente, sob pena de não poder ser
2

convalidada posteriormente (nesse sentido: art. 13, III, da Lei n. 9.784/99).


Página

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.348.472-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Inscrição no Cadin
(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao ressarcimento de valores


devidos ao SUS podem, em razão da inadimplência, ser inscritas no Cadin.
Comentários O que é o Cadin?
O Cadin é um banco de dados que contém os nomes:
de pessoas físicas e jurídicas com obrigações pecuniárias vencidas e não pagas para com
órgãos e entidades da Administração Pública Federal, direta e indireta;
de pessoas físicas que estejam com a inscrição no CPF cancelada e de pessoas jurídicas
que sejam declaradas inaptas perante o CNPJ.

A sigla Cadin significa “Cadastro Informativo de créditos não quitados do setor público
federal”.

Quem inclui eventuais devedores no Cadin?


Isso é feito pelos próprios órgãos e entidades da Administração Pública Federal, direta e
indireta.

Quais as consequências de ter o nome incluído no Cadin?


A pessoa (física ou jurídica) que for incluída no Cadin fica impossibilitada de obter
financiamentos, de renovar contratos bancários, de abrir contas bancárias, de obter talões
de cheques, de participar de licitações, entre outras restrições. Além disso, ela não
conseguirá retirar uma Certidão Negativa de Débitos em seu nome.

Débitos que não podem ser incluídos no Cadin


Segundo a Lei n. 10.522/2002, não podem ser incluídos no CADIN débitos referentes a
preços de serviços públicos ou a operações financeiras que não envolvam recursos
orçamentários (§ 8º do art. 2º).

As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao ressarcimento de


valores devidos ao SUS podem, em razão da inadimplência, ser inscritas no Cadin?
SIM. Isso porque os valores devidos a título de ressarcimento ao SUS pelas operadoras de
planos de saúde não podem ser considerados 'preços de serviços públicos' ou 'operações
financeiras que não envolvam recursos orçamentários'. Logo, não se aplica o § 8º do art. 2º
da Lei 10.522/2002, e plenamente possível a inscrição no CADIN pela inadimplência de tais
quantias.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 307.233-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 6/6/2013.

DIREITO CIVIL
Interdição
A sentença de interdição não tem como efeito automático a extinção do mandato outorgado
pelo interditando ao advogado para sua defesa na demanda.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Júlia ajuizou uma ação de interdição em face de João (seu pai).
João não concordava com a interdição e, então, constituiu Dr. Rui como seu advogado para
3

defender seus interesses na ação, outorgando-lhe uma procuração (mandato).


Página

O juiz julgou procedente a ação e decretou a interdição de João.


Diante disso, Dr. Rui subscreveu um recurso de apelação em favor de João.

INFORMATIVO esquematizado
O Tribunal de Justiça não conheceu da apelação, afirmando que a procuração conferida por
João ao Dr. Rui não tinha mais validade, considerando que a decretação da interdição tinha
cessado o mandato outorgado, nos termos do art. 682, II, do CC:
Art. 682. Cessa o mandato:
II - pela morte ou interdição de uma das partes;

A decisão do TJ foi acertada?


NÃO. A sentença de interdição não tem como efeito automático a extinção do mandato
outorgado pelo interditando ao advogado para sua defesa na demanda.

De fato, o art. 682, II, do CC dispõe que a interdição do mandante acarreta automaticamente
a extinção do mandato, inclusive o judicial. Contudo, ainda que a norma se aplique
indistintamente a todos os mandatos, faz-se necessária uma interpretação lógico-sistemática
do ordenamento jurídico pátrio, permitindo afastar a sua incidência no caso específico do
mandato outorgado pelo interditando para a sua defesa judicial na própria ação de interdição.
Isso porque, além de o art. 1.182, § 2º, do CPC assegurar o direito do interditando de
constituir advogado para sua defesa na ação de interdição, o art. 1.184 do mesmo diploma
legal deve ser interpretado de modo a considerar que a sentença de interdição produz efeitos
desde logo quanto aos atos da vida civil, mas não atinge, sob pena de afronta ao direito de
defesa do interditando, os mandatos referentes ao próprio processo.

Se o advogado constituído pelo interditando não pudesse interpor recurso contra a


sentença, haveria evidente prejuízo à defesa.

Ressalte-se, ademais, que, nessa situação, reconhecer a extinção do mandato ensejaria evidente
colisão dos interesses do interditando com os de seu curador. Contudo, a anulação da outorga
do mandato pode ocorrer, desde que, em demanda específica, comprove-se cabalmente a
nulidade pela incapacidade do mandante à época da realização do negócio jurídico.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.251.728-PE, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em, 14/5/2013.

Responsabilidade civil por veiculação de matéria jornalística


O STJ decidiu que o jornal não tem o dever de indenizar em razão de ter publicado uma
matéria de interesse público na qual tenha apontado a existência de investigações sobre crime
que teria sido supostamente cometido por um agente público, ainda que posteriormente ele
tenha sido absolvido das acusações.
Para a responsabilização da imprensa pelos fatos por ela reportados, não basta a divulgação de
informação falsa. Exige-se prova de que o agente divulgador conhecia ou poderia conhecer a
falsidade da informação propalada, o que configuraria abuso do direito de informação.
Comentários O STJ decidiu que o jornal não tem o dever de indenizar em razão de ter publicado uma
matéria de interesse público na qual tenha apontado a existência de investigações sobre
crime que teria sido supostamente cometido por um agente público, ainda que
posteriormente ele tenha sido absolvido das acusações. Ficou provado que o jornal buscou
fontes fidedignas, ouviu as diversas partes interessadas e afastou quaisquer dúvidas sérias
quanto à veracidade do que divulgou.

Nesse caso, verifica-se a existência de um conflito de direitos constitucionalmente


assegurados: os direitos à liberdade de pensamento e à sua livre manifestação (art. 5º, IV e
4

IX), ao acesso à informação (art. 5º, XIV) e à honra (art. 5º, X).
Página

Cabe ao aplicador da lei, portanto, exercer função harmonizadora, buscando um ponto de


equilíbrio no qual os direitos conflitantes possam conviver.

INFORMATIVO esquematizado
O direito à liberdade de informação deve observar o dever de veracidade, bem como o
interesse público dos fatos divulgados. Em outras palavras, pode-se dizer que a honra da
pessoa não é atingida quando são divulgadas informações verdadeiras e fidedignas a seu
respeito e que, outrossim, são de interesse público.

Quanto à veracidade do que noticiado pela imprensa, vale ressaltar que a diligência que se
deve exigir na verificação da informação antes de divulgá-la não pode chegar ao ponto de as
notícias não poderem ser veiculadas até se ter certeza plena e absoluta de sua veracidade.

O processo de divulgação de informações satisfaz o verdadeiro interesse público, devendo


ser célere e eficaz, razão pela qual não se coaduna com rigorismos próprios de um
procedimento judicial, no qual deve haver cognição plena e exauriente dos fatos analisados.
Além disso, deve-se observar que a responsabilidade da imprensa pelas informações por ela
veiculadas é de caráter subjetivo, não se cogitando da aplicação da teoria do risco ou da
responsabilidade objetiva.

Assim, para a responsabilização da imprensa pelos fatos por ela reportados, não basta a
divulgação de informação falsa, exige-se prova de que o agente divulgador conhecia ou
poderia conhecer a falsidade da informação propalada, o que configuraria abuso do direito
de informação.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.567-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/5/2013.

Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada

O extravio de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa (sem necessidade de


comprovação do prejuízo), devendo os Correios indenizar o consumidor.
Comentários Maiores informações, vide julgado indexado em Direito do Consumidor.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em
2/5/2013.

Usucapião e terrenos de marinha

A alegação da União de que determinada área constitui terreno de marinha, sem que tenha
sido realizado processo demarcatório específico e conclusivo pela Delegacia de Patrimônio da
Cartório União, não obsta o reconhecimento de usucapião.
e Juiz
Federal
Nesse caso, na sentença que reconhecer a usucapião, o juiz deverá ressalvar que a União
poderá fazer uma eventual e futura demarcação no terreno. Se ficar constatado, efetivamente,
que o imóvel está localizado em terreno de marinha, a União será declarada proprietária da
área, não havendo preclusão sobre o tema. Aplica-se o mesmo raciocínio constante na Súmula
496 do STJ: Os registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de
marinha não são oponíveis à União. Com isso, não haverá prejuízo à União.
Comentários Imagine a seguinte situação:
João ajuizou ação de usucapião, na vara cível da capital (Justiça estadual), narrando que
ocupava determinado imóvel há mais de 30 anos, de forma mansa e pacífica.
O CPC determina que a União, o Estado e o Município devem ser intimados no processo de
usucapião para que manifestem se possuem interesse na causa (art. 943 do CPC).
O Estado e o Município informaram que não possuíam qualquer relação com o imóvel em
5

litígio. A União, por seu turno, manifestou interesse no feito requerendo que a ação fosse
Página

julgada improcedente sob o argumento de que a área que João pretendia usucapir seria,
presumidamente, terreno de marinha.

INFORMATIVO esquematizado
Os terrenos de marinha são bens da União, conforme prevê o art. 20, VII, da CF/88. Logo,
como são bens públicos, não podem ser objeto de usucapião (art. 183, § 3º e art. 191,
parágrafo único, da CF/88).

Diante dessa intervenção da União, qual providência o magistrado deverá adotar?


O processo de usucapião tramita, em regra, na Justiça estadual. Se a União alega interesse no
feito, o juiz deverá declinar a competência para a Justiça Federal a fim de que lá se decida a
respeito da existência ou não de seu interesse na causa (Súmulas 150 e 224 do STJ).

O que são terrenos de marinha?


Terrenos de marinha são “todos aqueles que, banhados pelas águas do mar ou dos rios e
lagoas navegáveis (estes últimos, exclusivamente, se sofrerem a influência das marés,
porque senão serão terrenos reservados), vão até a distância de 33 metros para a parte da
terra contados da linha do preamar médio, medida em 1831” (CUNHA JÚNIOR, Dirley da.
Curso de Direito Administrativo. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 417).

Isso é um pouco difícil de entender, então, encontrei esta imagem para ilustrar melhor:

Fonte: http://www.vendariviera.com.br/blog/imoveis/saiba-mais-sobre-o-terreno-de-marinha/

Os terrenos de marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). Isso se justifica por se
tratar de uma região estratégica em termos de defesa e de segurança nacional (é a “porta
de entrada” de navios mercantes ou de guerra).

Enfiteuse (ou aforamento)


José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 23ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010, p. 1311) explica que, em algumas regiões, a União permitiu que
particulares utilizassem, de forma privada, imóveis localizados em terrenos de marinha.
Como essas áreas pertencem à União, o uso por particulares é admitido pelo regime da
enfiteuse (aforamento) que funciona, em síntese, da seguinte forma:
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A União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil.


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O particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma importância a


título de foro ou pensão.
INFORMATIVO esquematizado
Obs: O CC-2002 proibiu a constituição de novas enfiteuses (aforamentos), continuando a
existir aquelas que já haviam sido constituídas (elas são regidas pelo CC-1916). O CC-2002
determinou, ainda, que, a enfiteuse (aforamento) dos terrenos de marinha poderia
continuar a existir, sendo matéria a ser regulada por lei especial (art. 2.038, § 2º).

Demarcação dos terrenos de marinha


O Decreto-lei n. 9.760/46 dispõe sobre os bens imóveis da União, tratando, dentre eles,
sobre os terrenos de marinha.
O Decreto-lei prevê, em seus arts. 9º a 14, um complexo procedimento para a identificação
da linha do preamar médio naquela localidade específica, de forma a permitir a realização
da demarcação dos terrenos de marinha.
Essa demarcação é feita pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) com a notificação
pessoal de todos os interessados identificados e com domicílio certo, devendo ser
assegurados o contraditório e a ampla defesa.

Voltando ao nosso caso concreto.


A União alegou que o imóvel que João buscava usucapir estava, presumidamente,
localizado em terreno de marinha. Presumidamente porque a SPU ainda não havia feito a
demarcação do local. Em outras palavras, não havia sido formalmente declarado que o
imóvel em questão encontrava-se localizado em terreno de marinha.

A discussão, portanto, é a seguinte:


Pode ser realizada usucapião de área que a União alega que é terreno de marinha, mas que
ainda não passou pelo processo de demarcação?
SIM. A alegação da União de que determinada área constitui terreno de marinha, sem que
tenha sido realizado processo demarcatório específico e conclusivo pela Delegacia de
Patrimônio da União, não obsta o reconhecimento de usucapião.

A demarcação da faixa de marinha depende de complexo procedimento administrativo


prévio de atribuição do Poder Executivo, com notificação pessoal de todos os interessados,
sempre que identificados pela União e de domicílio certo, com observância à garantia do
contraditório e da ampla defesa.
Enquanto não houver esse procedimento não se pode ter certeza de que a área encontra-se
efetivamente situada em terreno de marinha.
Tendo-se em conta a complexidade e onerosidade do procedimento demarcatório, sua
realização submete-se a um juízo de oportunidade e conveniência por parte da
Administração Pública.
Ocorre que não é razoável que o jurisdicionado, para que possa usucapir um terreno que
ocupa há mais de 30 anos, fique esperando que o Poder Executivo realize a demarcação da
área, sem qualquer previsão de que isso vá ocorrer.

Assim, é possível o reconhecimento da usucapião nesse caso, devendo, contudo, o juiz,


fazer uma ressalva na sentença de que a União poderá fazer uma eventual e futura
demarcação no terreno. Se ficar constatando, efetivamente, que o imóvel está localizado
em terreno de marinha, a União será declarada proprietária da área, não havendo
preclusão sobre o tema. Aplica-se o mesmo raciocínio constante na Súmula 496 do STJ: Os
registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de marinha não são
oponíveis à União.
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Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.090.847-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/4/2013.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Propriedade intelectual

Constitui ofensa aos direitos autorais a reprodução, sem autorização ou menção aos seus
autores, em periódico de cunho erótico, de trechos de determinada obra musical — que vinha
sendo explorada comercialmente, em segmento mercadológico diverso, pelos titulares de seus
direitos patrimoniais — no caso em que o trecho tenha sido utilizado para dar completude ao
ensaio fotográfico publicado, proporcionando maior valorização do produto comercializado.
Comentários O caso fático foi o seguinte:
O Sistema Globo de Edições Musicais é detentor dos direitos patrimoniais sobre a música
“Dancin’Days”.
Em um ensaio erótico da revista Playboy® foi utilizado o seguinte trecho da canção em cima
de uma das fotos: “Abra suas asas, Solte suas feras, Entre nesta festa”.
Diante disso, a Globo® ingressou com uma ação de indenização por violação de direitos
autorais contra a Editora Abril.
A ré contestou a ação invocando o art. 46, VIII da Lei n. 9.610/98 e afirmando que a
reprodução noticiada se destinou apenas a ilustrar matéria editorial, não se caracterizando
qualquer conotação de exploração comercial da obra. Veja o que diz o dispositivo
mencionado:
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
(...)
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de
qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em
si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra
reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


O STJ entendeu que a situação em análise não se enquadra na exceção prevista no art. 46,
VIII, da Lei n. 9.610/98.
Para o STJ, a utilização da música não foi feita de forma meramente acessória (com menor
importância). O ensaio fotográfico foi completado com o refrão musical a fim de induzir os
leitores a contemplarem a modelo nos termos imaginados pelo fotógrafo, de modo que a
obra musical foi utilizada em caráter de completude, proporcionando maior valorização do
produto comercializado.
Além disso, restou provado que a titular dos direitos estava explorando comercialmente a
música em segmento mercadológico diverso e que não era intenção vincular a música ao
mercado erótico.
Logo, o STJ reconheceu que houve a efetiva violação aos direitos autorais.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.217.567-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2013.

Bem de família e penhorabilidade no caso de crime

No âmbito de execução de sentença civil condenatória decorrente da prática de ato ilícito, é


possível a penhora do bem de família na hipótese em que o réu também tenha sido condenado
na esfera penal pelo mesmo fundamento de fato.
Comentários Espécies de bem de família
No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família:
a) Bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil)
b) Bem de família legal (Lei n. 8.009/90).
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INFORMATIVO esquematizado
Bem de família legal
Consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar.
Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para
moradia permanente.
Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados
como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver
sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de
família convencional).

Proteção conferida ao bem de família legal


O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos
pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na
Lei n. 8.009/90.

Exceções à impenhorabilidade do bem de família


O art. 3º da Lei n. 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser
penhorado.

Vale destacar o inciso VI:


Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

Segundo ressalta o Min. Luis Felipe Salomão, “entre os bens jurídicos em cotejo - de um
lado a preservação da moradia do devedor inadimplente e, de outro, o dever de ressarcir os
prejuízos sofridos em decorrência de conduta ilícita criminalmente apurada -, preferiu o
legislador privilegiar o ofendido em detrimento do infrator, afastando a impenhorabilidade
do bem de família”

Vale destacar que a exceção prevista no inciso VI não abrange os casos em que o fato seja
apenas ilícito civil. É necessário que seja ilícito civil e também crime, tendo sido prolatada
sentença penal condenatória.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.021.440-SP, Min. Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/5/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Vício de quantidade e direito à informação

Ainda que haja abatimento no preço do produto, o fornecedor responderá por vício de
quantidade na hipótese em que reduzir o volume da mercadoria para quantidade diversa da
que habitualmente fornecia no mercado, sem informar na embalagem, de forma clara, precisa
e ostensiva, a diminuição do conteúdo.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Determinada fabricante reduziu de 600 ml para 500 ml o conteúdo dos seus refrigerantes
PET, sem a adequada informação aos consumidores.
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Essa prática é conhecida como “maquiagem de produto” ou “aumento disfarçado de preços”.


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Diante disso, o Procon de Minas Gerais instaurou procedimento administrativo contra a


fabricante, tendo imposto multa de 460 mil reais, nos termos do art. 57 do CDC.

INFORMATIVO esquematizado
Houve, no caso concreto, um vício ou defeito do produto?
Trata-se, na hipótese, de vício de quantidade do produto.

Relembre as diferenças entre os institutos:


Vício Defeito
Vício é a inadequação do produto ou Defeito diz respeito à insegurança do
serviço para os fins a que se destina. É uma produto ou serviço. Está relacionado com o
falha ou deficiência que compromete o acidente de consumo.
produto em aspectos como a quantidade, a
qualidade, a eficiência etc. Ex: Paulo compra um Playstation, ele liga o
aparelho, começa a jogar e, de repente, o
Ex: Paulo compra um Playstation e ele não videogame esquenta muito e explode,
“roda” todos os jogos. ferindo-o.

Qual é o tipo de vício de que trata o caso? Onde está a previsão legal?
Trata-se de um vício do produto (vício de quantidade), previsto no art. 18 do CDC:
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de
sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

Ação anulatória
A fabricante ajuizou, então, ação anulatória contra o Estado de Minas Gerais, sob o
argumento de não ter praticado nenhuma infração contra as relações de consumo, pedindo
a anulação da multa administrativa imposta.

1º argumento da fabricante:
Na ação proposta, a fabricante alegou que reduziu o preço do refrigerante vendido aos
distribuidores e que não pode ser punida se, eventualmente, tais distribuidores não
repassaram essa diminuição aos consumidores.

O STJ concordou com essa tese?


NÃO. São legitimados a figurar no polo passivo da relação de consumo todos os
participantes que integrem a cadeia geradora ou manipuladora de bens e serviços (causa
remota da legitimação passiva), por existência de ato ou fato, omissivo ou comissivo, que
coloque em risco ou ofenda um direito do consumidor de tais bens e serviços (causa
próxima da legitimação passiva).

Como a oferta e a colocação de produtos e serviços no mercado pressupõem, em regra, a


atuação de mais de um fornecedor, a legislação prevê que a responsabilidade civil objetiva
por violações a direitos do consumidor deverá recair sobre todos os que se enquadram no
conceito de fornecedor (art. 3º do CDC). Em outras palavras, a responsabilidade civil
objetiva recai, de forma solidária, sobre todos aqueles que, direta ou indiretamente, atuem
na “atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. A isso
se dá o nome de princípio da “solidariedade dos partícipes do ciclo de produção”.
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Essa solidariedade encontra-se prevista nos seguintes artigos do CDC:


Página

Art. 7º (...) Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

INFORMATIVO esquematizado
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de
sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

Art. 25 (...) § 1º Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos


responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas Seções anteriores.

Para o STJ, ainda que tenha havido a alegada falha do distribuidor em repassar a diminuição
de volume dos refrigerantes aos consumidores, a fabricante, compreendida na acepção
larga de “fornecedor” (art. 3º do CDC), não pode se eximir da responsabilidade civil
objetiva, respondendo solidariamente pelo vício de quantidade do produto colocado à
venda. Caberá à fabricante, caso queira, exercer eventual direito de regresso, na via
própria, contra os distribuidores.

2º argumento da fabricante:
A fabricante alegou que no rótulo havia a menção ao novo volume do refrigerante, não
tendo, portanto, havido falha na informação.

O STJ concordou com essa tese?


NÃO. Entendeu-se que a informação prestada ao consumidor não foi feita de forma clara,
precisa e ostensiva.

O direito à informação encontra fundamento na CF/88 (art. 5º, XIV). Além disso, o CDC o
prevê como sendo um direito básico do consumidor (art. 6º, III).

O direito à informação confere ao consumidor uma escolha consciente, permitindo que


suas expectativas em relação ao produto ou serviço sejam de fato atingidas. Trata-se do
chamado “consentimento informado ou vontade qualificada”.

Diante disso, o comando previsto no art. 6º, III, do CDC somente será efetivamente
cumprido quando a informação for prestada ao consumidor de maneira adequada, assim
entendida aquela que se apresenta simultaneamente completa, gratuita e útil, vedada, no
último caso, a diluição da comunicação relevante pelo uso de informações soltas,
redundantes ou destituídas de qualquer serventia.

Além do mais, o dever de informar é considerado um modo de cooperação, uma


necessidade social que se tornou um autêntico ônus pró-ativo incumbido aos fornecedores
(parceiros comerciais, ou não, do consumidor), pondo fim à antiga e injusta obrigação que o
consumidor tinha de se acautelar (caveat emptor).

Além disso, o art. 31 do CDC, que cuida da oferta publicitária, tem sua origem no princípio
da transparência (art. 4º, caput) e é decorrência do princípio da boa-fé objetiva.

Observe-se que o dever de informar não é tratado como mera obrigação anexa, e sim como
11

dever básico, essencial e intrínseco às relações de consumo, não podendo afastar a índole
enganosa da informação que seja parcialmente falsa ou omissa a ponto de induzir o consumidor
Página

a erro, uma vez que não é válida a “meia informação” ou a “informação incompleta”.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.364.915-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Violação do dever de informação e reação alérgica causada pelo produto

No caso em que consumidor tenha apresentado reação alérgica ocasionada pela utilização de
sabão em pó, não apenas para a lavagem de roupas, mas também para a limpeza doméstica, o
fornecedor do produto responderá pelos danos causados ao consumidor na hipótese em que
conste, na embalagem do produto, apenas pequena e discreta anotação de que deve ser evitado
o "contato prolongado com a pele" e que, "depois de utilizar" o produto, o usuário deve lavar e
secar as mãos.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Maria adquiriu determinado sabão em pó para lavar suas roupas e também para lavar os
cômodos da casa e, após certo período de tempo, começou a sentir coceira e queimação
nas mãos, tendo o desconforto evoluído para vermelhidão e grandes bolhas até se
diagnosticar que estava com “dermatite de contato” causada pelo produto.
Diante disso, ajuizou ação de indenização por danos materiais, morais e estéticos, alegando
que a fabricante possui responsabilidade objetiva em virtude da ocorrência de fato do
produto, nos termos do art. 12 do CDC:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador
respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

§ 1º - O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se


espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.

Argumentos da ré
A fabricante defendeu-se apresentando dois argumentos principais:
a) A consumidora fez o uso inadequado do produto, considerando que usou o sabão em
pó não apenas para lavar roupas, mas também para limpar os cômodos da casa (culpa
exclusiva da consumidora – inciso III do § 3º do art. 12 do CDC);
b) A consumidora possui hipersensibilidade ao produto, não se podendo dizer que este
apresente defeito (inciso II do § 3º do art. 12).

Veja os dispositivos invocados pela fabricante:


§ 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado
quando provar:
(...)
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?

1º argumento da fabricante: uso inadequado (culpa exclusiva da consumidora)


Não foi aceito.
Segundo o STJ, a utilização do sabão em pó para limpeza do chão dos cômodos da casa,
12

além da lavagem do vestuário, por si só, não representou conduta descuidada apta a
Página

colocar a consumidora em risco, uma vez que não se trata de uso negligente ou anormal do
produto, sendo, inclusive, um comportamento de praxe nos ambientes residenciais.

INFORMATIVO esquematizado
2º argumento da fabricante (hipersensibilidade da consumidora):
Também não foi aceito.
O art. 12 previu três modalidades de defeitos dos produtos:
a) defeito de concepção;
b) defeito de produção e
c) defeito de informação.

No caso em tela, não houve defeito de concepção nem de produção. Contudo, é de se notar
que a responsabilização da fornecedora não se deu por defeito intrínseco (o produto
realmente não apresentou falha material), mas ao contrário, por defeito extrínseco, qual
seja, defeito de informação.
Para o STJ, houve violação ao direito da autora de ser devidamente informada, tendo em
vista a falta de informação clara e suficiente de que o produto só poderia ser utilizado na
lavagem de roupas, de que o contato com a pele deveria ser por um curto lapso de tempo,
bem como que o produto poderia vir a causar irritação ou qualquer outro problema
alérgico.
Ressalte-se que, na embalagem do produto, havia dois avisos: “Evite contato prolongado
com a pele” e “Depois de utilizar o produto, o usuário deve lavar e secar as mãos”. No
entanto, o STJ considerou que tais advertências não eram suficientes para alertar os
consumidores de forma eficiente quanto aos riscos do produto.
A embalagem do sabão em pó deveria conter advertência destacada acerca dos riscos que o
produto poderia acarretar, bem como informações sobre o modo e tempo de uso
aconselhável do produto.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.358.615-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/5/2013.

Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada

O extravio de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa (sem necessidade de


comprovação do prejuízo), devendo os Correios indenizar o consumidor.
Comentários O consumidor pode enviar uma correspondência simples ou registrada. Tendo optado por
enviar carta registrada, é dever dos Correios comprovar a entrega da correspondência, ou a
impossibilidade de fazê-lo, por meio da apresentação do aviso de recebimento ao
remetente. Afinal, quem faz essa espécie de postagem possui provável interesse no
rastreamento e no efetivo conhecimento do recebimento da carta pelo destinatário, por
isso paga mais.
Portanto, se os Correios não comprovaram a efetiva entrega da carta registrada postada
pelo consumidor, que pagou tarifa especial para possibilitar o rastreamento pelo próprio
órgão de postagem, deve ser reconhecida a falha do serviço prestado, a ensejar a devida
reparação por dano moral. Esse dano moral é in re ipsa (sem necessidade de comprovação
do prejuízo).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em
2/5/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL
Desconsideração da personalidade jurídica
Na hipótese em que tenha sido determinada a desconsideração da personalidade jurídica de
sociedade limitada modesta na qual as únicas sócias sejam mãe e filha, cada uma com metade
das quotas sociais, é possível responsabilizar pelas dívidas dessa sociedade a sócia que, de
acordo com o contrato social, não exerça funções de gerência ou administração.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
O Banco ajuizou uma execução contra a sociedade limitada Silva e Silva Ltda, uma
microempresa que possui apenas duas sócias: Maria e Joana (mãe e filha).
O juiz aceitou o requerimento do Banco e decretou a desconsideração da personalidade
jurídica, determinando que a execução recaísse sobre os bens particulares dos sócios da
pessoa jurídica.
Joana opôs exceção de pré-executividade, sustentando a sua ilegitimidade passiva, sob o
argumento de que não participou da gerência e administração da empresa. Assim, a
desconsideração deveria atingir apenas os bens de sua mãe (Maria) que, conforme o
contrato social seria a única sócia-administradora.

O que o STJ decidiu?


A desconsideração da personalidade jurídica, no âmbito das relações civis gerais, está
prevista no art. 50 do CC:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Segundo o STJ, apesar de o art. 50 do CC/02 não trazer essa peculiaridade, é certo que a
aplicação da desconsideração da personalidade jurídica deve incidir apenas sobre os bens
dos administradores ou sócios que efetivamente contribuíram na prática do abuso ou
fraude na utilização da pessoa jurídica, devendo ser afastada a responsabilidade dos sócios
minoritários que não influenciaram na prática do ato.

No julgamento do REsp 786.345/SP (3ª Turma, Rel. para o acórdão Min. Ari Pargendler, DJe
de 26.11.2008), o STJ entendeu que a desconsideração da personalidade jurídica no caso de
sociedades limitadas somente atinge os sócios-gerentes (não abrangendo quem tem apenas
o status de sócio sem poder de administração).

No caso narrado acima, contudo, o STJ considerou que se tratava de uma hipótese diferente
daquela. Isso porque Joana, juntamente com sua mãe (Maria), são as únicas sócias da sociedade
limitada e cada uma detém 50% das quotas sociais. Logo, Joana não é sócia minoritária.

Além disso, no âmbito de uma organização empresarial mais modesta, especialmente quando
se trata de sociedade entre mãe e filha, a titularidade de quotas e a administração são
realidades que frequentemente se confundem. Nesse passo, as deliberações sociais, na maior
parte das vezes, se dão no dia-a-dia, sob a forma de decisões gerenciais. Logo, é muito difícil
apurar a responsabilidade por eventuais atos abusivos ou fraudulentos. Em hipóteses como
essa, a previsão, no contrato social, de que as atividades de administração serão realizadas
apenas por um dos sócios não é suficiente para afastar a responsabilidade dos demais. Seria
14

necessário, para afastar a referida responsabilidade, a comprovação de que um dos sócios


Página

estava completamente distanciado da administração da sociedade, o que não foi feito.


Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.315.110-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Desconsideração da personalidade jurídica – 2

O juiz pode determinar, de forma incidental, nos autos da execução singular ou coletiva, a
desconsideração da personalidade jurídica.
Comentários Segundo a jurisprudência do STJ, a desconsideração da personalidade jurídica, uma vez
respeitado o devido processo legal, não precisa ser requerida mediante ação autônoma.
Assim, o juiz pode determinar, de forma incidental, nos autos da execução singular ou
coletiva, a desconsideração da personalidade jurídica.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.326.201-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Reconhecimento de incompetência absoluta e prolação de decisão acautelatória

Ainda que proferida por juízo absolutamente incompetente, é válida a decisão que, em ação
civil pública proposta para a apuração de ato de improbidade administrativa, tenha
ATENÇÃO determinado — até que haja pronunciamento do juízo competente — a indisponibilidade dos
bens do réu a fim de assegurar o ressarcimento de suposto dano ao patrimônio público.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
O Ministério Público ajuíza uma ação de improbidade administrativa diretamente no TJ (2ª
instância).
O Desembargador relator profere uma decisão liminar determinando a indisponibilidade
dos bens dos réus.
Os réus apresentam defesa preliminar na qual suscitam a incompetência absoluta (critério
funcional) do Tribunal para conhecer da causa e pedem que, reconhecida a incompetência,
seja anulado o ato decisório que determinou a indisponibilidade dos bens.
O Tribunal se reconhece absolutamente incompetente e determina a remessa dos autos à
1ª instância. Nessa decisão, contudo, o TJ determina que seja mantida a decisão de
indisponibilidade dos bens até que o juízo de 1ª instância delibere sobre o assunto.

O TJ poderia ter mantido a indisponibilidade dos bens?


SIM.

Em regra, o reconhecimento da incompetência absoluta do juízo implica a nulidade dos atos


decisórios por ele praticados, conforme determina o CPC:
Art. 113. (...) § 2º Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão
nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.

Entretanto, isso não impede que o juízo que se declarou incompetente conceda ou
mantenha, em caráter precário, alguma medida de urgência, a fim de prevenir o
perecimento de direito ou a ocorrência de lesão grave e de difícil reparação.

Essa decisão do juízo incompetente pode ser prolatada com base no “poder geral de
cautela” (arts. 798 e 799 do CPC) e valerá até ulterior manifestação do juízo competente.
15

Assim, não ofende o art. 113, § 2º do CPC a decisão que, a despeito de declinar da
competência para vara especializada, manteve os efeitos da antecipação de tutela já
Página

concedida até a sua reapreciação pelo juízo competente.


Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Competência para julgar ação de reconhecimento de união estável homoafetiva: vara de família

A competência para processar e julgar ação destinada ao reconhecimento de união estável


homoafetiva é da vara de família.

Assim, se houver vara privativa para julgamento de processos de família, essa será competente
para processar e julgar pedido de reconhecimento e dissolução de união estável homoafetiva,
independentemente de eventuais limitações existentes na lei de organização judiciária local.
Comentários A competência para julgar a ação de reconhecimento de união estável homoafetiva é da
vara cível ou da vara de família?
VARA DE FAMÍLIA.

A organização judiciária de cada Estado é matéria de competência do Poder Legislativo


estadual, mediante lei de iniciativa do Poder Judiciário local (art. 125, § 1º, da CF/88). No
entanto, uma vez que a Lei de Organização Judiciária estadual preveja vara para tratar
sobre os assuntos relacionados a direito de família, tal vara será competente para processar
e julgar pedido de reconhecimento e dissolução de união estável homoafetiva,
considerando que se trata de entidade familiar, conforme decidiu o STF na ADI n. 4.277/DF,
Min. Rel. Ayres Britto, DJe 5/5/2011.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.291.924-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/5/2013.

Ação de exibição de contrato de seguro coletivo proposta contra a empregadora: Justiça comum

Compete à justiça comum, e não à justiça trabalhista, o processamento e o julgamento de ação


cautelar de exibição de documentos na qual beneficiário de seguro de vida coletivo busque a
exibição, pelo ex-empregador de seu falecido pai, de documentos necessários a instruir ação de
cobrança contra a seguradora.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João trabalhava na empresa “Alfa”.
Aos funcionários da empresa foi oferecido um seguro de vida coletivo, mantido pela
seguradora “Beta”.
João faleceu e o seu filho desejava receber o valor do seguro, não tendo, contudo cópia do
contrato nem da apólice.
Diante disso, o filho/beneficiário ajuizou uma ação de exibição contra a empresa “Alfa” com
o objetivo de que esta entregasse “cópia do contrato de seguro, bem como da apólice, para
que pudesse promover em face da seguradora, ação de cobrança, visando ao recebimento
do seguro”.

Essa ação deve ser proposta na Justiça comum ou na Justiça do Trabalho?


JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.

Compete à justiça comum, e não à justiça trabalhista, o processamento e o julgamento de


ação cautelar de exibição de documentos na qual beneficiário de seguro de vida coletivo
busque a exibição, pelo ex-empregador de seu falecido pai, de documentos necessários a
instruir ação de cobrança contra a seguradora. Isso porque, nessa situação, a ação não se
16

fundamenta em qualquer vínculo trabalhista estabelecido entre as partes, mas sim em


relação contratual existente entre o autor (filho de João), beneficiário do seguro de vida
Página

coletivo, e a seguradora.

INFORMATIVO esquematizado
As operações de seguro são reguladas pelo Decreto-Lei n. 73/66 que, em seu art. 21, § 2º,
afirma que, nos seguros facultativos, o estipulante (empregador) é mero mandatário dos
segurados, apenas intermediando o contrato celebrado entre seus empregados e a seguradora.

Dessa forma, o pedido cautelar de exibição de documento está fundado em uma relação de
direito civil (cobrança de indenização securitária) e não em uma relação trabalhista. A lide,
portanto, não se enquadra nas hipóteses constitucionais que atraem a competência da
Justiça do Trabalho (art. 114 da CF/88).
Processo STJ. 1ª Seção. CC 121.161-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/5/2013.

Ação indenizatória ajuizada pelo ex-dirigente contra entidade de previdência privada: Justiça Comum
Compete à Justiça Comum Estadual (e não à Justiça do Trabalho) julgar ação de indenização
por danos morais e materiais proposta pelo ex-dirigente de uma entidade de previdência
privada em razão de ele ter sido destituído da presidência e, segundo alega, isso teria ocorrido
em desacordo com as normas do estatuto social e do regimento interno do conselho
deliberativo da instituição.
Comentários Segundo entendeu o STJ, neste caso, a lide tem como fundamento o descumprimento de
normas estatutárias relativas ao exercício de função eletiva, de natureza eminentemente
civil, não decorrendo de relação de trabalho entre as partes.
Processo STJ. 1ª Seção. CC 123.914-PA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/6/2013.

Ação proposta por ex-diretor sindical contra sindicato: Justiça do Trabalho


Compete à Justiça do Trabalho o julgamento de ação proposta por ex-diretor sindical contra o
sindicato que anteriormente representava na qual se objetive o recebimento de verbas com
fundamento em disposições estatutárias.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Paulo, ex-diretor sindical, ajuizou ação de indenização por danos materiais e morais contra
o sindicato dos administradores, visando ao pagamento de verbas supostamente devidas
em razão do exercício de cargo sindical (ajuda de custo), bem como indenização a título de
danos morais em virtude do tratamento diferenciado recebido em relação aos demais
diretores do sindicato.

Essa ação será de competência da Justiça comum ou da Justiça do Trabalho?


JUSTIÇA DO TRABALHO.

Segundo entendem o STF e o STJ, após a promulgação da EC n. 45/2004, compete à Justiça


do Trabalho o julgamento de causas relacionadas com litígios envolvendo dirigente sindical
e a própria entidade que ele representa em matérias referentes a questões estatutárias.

Qual é o fundamento constitucional?


Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e
trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

Mas esse inciso III não fala em ações propostas por dirigente sindical contra sindicato...
Segundo a doutrina especializada, esse inciso III do art. 114 da CF/88 deve ser interpretado
17

ampliativamente, de forma a abranger quaisquer questões que envolvam, direta ou


indiretamente, direito sindical. A Justiça do Trabalho funcionaria como um juízo universal
Página

das questões sindicais.


Processo STJ. 1ª Seção. CC 124.534-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/6/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Mandado de segurança para controle da competência dos Juizados Especiais

É cabível mandado de segurança, a ser impetrado no Tribunal de Justiça, a fim de que seja
reconhecida, em razão da complexidade da causa, a incompetência absoluta dos juizados
especiais para o julgamento do feito, ainda que no processo já exista decisão definitiva de
Turma Recursal da qual não caiba mais recurso.
Comentários Quem julga as causas e os recursos no sistema dos Juizados?
As causas são examinadas, em 1º grau, por um Juiz do Juizado. O recurso contra a sentença
proferida pelo juiz do juizado é julgado pela Turma Recursal. A Turma Recursal é um
colegiado formado por três juízes (não é composta por Desembargadores), que tem a
função de julgar os recursos contra as decisões proferidas pelo juiz do juizado. Funciona
como instância recursal na estrutura dos Juizados Especiais.

Lei n. 9.099/95:
Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá
recurso para o próprio Juizado.
§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício
no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

Instância julgadora em 1º grau: Juiz do Juizado.


Instância que julga os recursos: Turma Recursal.

Quais os recursos cabíveis contra as decisões proferidas pelo juiz do juizado?


Decisão interlocutória: não cabe qualquer recurso.
Sentença: contra a sentença podem ser interpostos:
a) embargos de declaração;
b) recurso inominado.

Quais os recursos cabíveis contra as decisões proferidas pela Turma Recursal?


Contra os acórdãos prolatados pela Turma Recursal somente podem ser interpostos:
Embargos de declaração;
Recurso extraordinário.

É cabível a interposição de Recurso Especial?


NÃO. Súmula 203-STJ: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de
segundo grau dos Juizados Especiais.

Por que é cabível o RE, mas não o REsp?


Previsão do RE na CF/88 Previsão do REsp na CF/88
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de
Federal, precipuamente, a guarda da Justiça:
Constituição, cabendo-lhe: III - julgar, em recurso especial, as causas
III - julgar, mediante recurso decididas, em única ou última instância,
extraordinário, as causas decididas em pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
única ou última instância, quando a decisão tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
recorrida: Territórios, quando a decisão recorrida:
18

Desse modo, o RE é cabível contra causas decididas em única ou última instância por
qualquer órgão jurisdicional. Já o REsp somente é cabível contra causas decididas em única
Página

ou última instância pelo TJ ou TRF. Como a Turma Recursal não é Tribunal, suas decisões
não desafiam REsp.
INFORMATIVO esquematizado
Súmula 640-STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de
primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e
criminal.

Vale ressaltar que somente caberá RE contra acórdão da Turma Recursal se a causa
envolver questão constitucional.

Feitas as observações acima, imagine agora a seguinte situação:


João propôs, perante o Juizado Especial cível estadual, ação de obrigação de fazer contra
determinada empresa.
Em sua contestação, a empresa arguiu, como preliminar, a incompetência do Juizado
Especial para julgar a causa, argumentando que se tratava de demanda de alta
complexidade, que exigiria, inclusive, prova pericial (art. 3º, caput, da Lei n. 9.099/95).
O juiz rejeitou a preliminar suscitada e, quanto ao mérito, julgou o pedido procedente.
A empresa interpôs recurso inominado (art. 41), perante a Turma Recursal, tendo sido
mantida a sentença impugnada.

Contra o acórdão da Turma Recursal são cabíveis quais recursos?


Embargos de declaração;
Recurso extraordinário.

No caso concreto, não havia obscuridade, omissão, contradição ou dúvida. Logo, não
cabiam os embargos de declaração.

O argumento da empresa era apenas um: a causa não se enquadrava na competência dos
Juizados Especiais segundo a previsão do art. 3º da Lei n. 9.099/95. A empresa não
suscitava nenhuma questão constitucional. Logo, também não seria possível a interposição
de RE.

É possível a interposição de recurso especial?


Como vimos acima, contra a decisão da Turma Recursal, não cabe REsp.

Desse modo, a empresa ficou sem opções e ocorreu o trânsito em julgado. Sucede que a
empresa não se conformava com o fato de aquela causa ter sido julgada pelo Juizado
Especial.

Existe algum instrumento jurídico que a parte poderá manejar para questionar a
competência do Juizado Especial?
SIM. É cabível mandado de segurança, a ser impetrado no Tribunal de Justiça, a fim de que
seja reconhecida, em razão da complexidade da causa, a incompetência absoluta dos
juizados especiais para o julgamento do feito, ainda que no processo já exista decisão
definitiva de Turma Recursal da qual não caiba mais recurso.

Vale ressaltar que esse mandado de segurança não irá discutir o mérito da demanda
originária. Em outras palavras, o TJ, ao julgar o writ, não decidirá se o pedido do autor
deverá ser julgado procedente ou improcedente. O Tribunal irá apenas deliberar se a
matéria discutida é ou não de competência dos Juizados Especiais.
19

As decisões que fixam a competência dos Juizados Especiais não podem ficar desprovidas
Página

de controle. Por isso, o STJ entende que é possível a impetração de mandado de segurança

INFORMATIVO esquematizado
com a finalidade de promover o controle da competência dos Juizados Especiais. Esse MS
será julgado pelo TJ (no caso de Juizado Especial estadual) ou pelo TRF (no caso de JEF)
(RMS 26.665/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 26/5/2009).

Atenção: não confundir!


Parte impetra MS contra ato do juiz do juizado: a competência para julgar é da Turma
Recursal (Súmula 376-STJ);
Parte impetra MS contra Turma Recursal (se for para discutir o mérito): não é cabível.
Parte impetra MS contra Turma Recursal (se for para discutir se a causa pode ou não ser
julgada no Juizado): a competência para julgar este writ é do TJ (ou TRF).

Processo STJ. 4ª Turma. RMS 39.041-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/5/2013.

Regulamentação do processo eletrônico

É possível que o tribunal local defina, por meio de resolução que regulamente o processo
eletrônico no âmbito de sua respectiva competência, ser de responsabilidade do autor a
digitalização dos autos físicos para continuidade da tramitação do processo em meio eletrônico.
Comentários O Tribunal Regional Federal da 4ª Região editou a Resolução n. 17/2010 determinando que,
no caso de processo eletrônico, a responsabilidade pela digitalização e guarda dos
documentos físicos é da parte.

Essa determinação foi questionada, sob o argumento de que teria violado a Lei n.
11.419/2006, que trata sobre o processo eletrônico.

O STJ, no entanto, entendeu que a citada resolução não extrapolou a autorização conferida
pelo art. 18 da Lei n. 11.419/2006:
Art. 18. Os órgãos do Poder Judiciário regulamentarão esta Lei, no que couber, no âmbito
de suas respectivas competências.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.048-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/5/2013.

Art. 285-A do CPC e dupla conformidade

Não é possível a aplicação do art. 285-A do CPC quando o entendimento exposto na sentença,
apesar de estar em consonância com a jurisprudência do STJ, divergir do entendimento do
ATENÇÃO tribunal de origem.
Comentários Introdução
Existem muitas ações judiciais propostas que tratam de temas idênticos ao de outras
demandas já ajuizadas. São chamadas de “causas repetitivas”.

Por conta dessas causas repetitivas, era muito comum acontecer a seguinte situação,
bastante improdutiva: o juiz julgava pela primeira vez a demanda e firmava seu
entendimento sobre determinado assunto. Depois disso, continuava recebendo centenas
(ou até milhares) de outras ações versando a respeito de tema idêntico. O magistrado,
20

mesmo já sabendo que iria julgar improcedente o pedido, tinha que receber a petição
inicial, determinar a citação do réu e, então, prolatar a sentença de improcedência. Tudo
Página

isso levava tempo e consumia recursos públicos.

INFORMATIVO esquematizado
Vejamos o seguinte exemplo:
Os servidores públicos federais entendiam ter direito à verba “X”, que foi negada pela
Administração Pública. Diante desse cenário, João, servidor público, ajuizou ação pedindo o
recebimento da referida gratificação. O juiz, após a contestação da União, estudou o tema,
verificou que a jurisprudência dos Tribunais superiores era contrária ao pleito e, então,
firmou seu entendimento sobre a causa, julgando improcedente o pedido de João. Na
semana seguinte, o juiz percebeu que recebeu centenas de ações, propostas por outros
servidores públicos federais, apresentando os mesmos argumentos já deduzidos por João e
pedindo a mesma gratificação “X”. Como explicado acima, o magistrado, mesmo já sabendo
que iria negar o pedido, tinha que receber todas as centenas de petições iniciais,
determinar a citação da União e, então, prolatar diversas sentenças de improcedência.

Pensando em otimizar e racionalizar essa situação, o legislador, por meio da Lei n.


11.277/2006, inseriu o art. 285-A ao CPC, prevendo a possibilidade de o juiz negar o pedido
do autor (julgar improcedente) já no momento do recebimento da petição inicial, ou seja,
sem nem citar o réu.

Dispositivo legal:
Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver
sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser
dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente
prolatada.

Improcedência liminar
O art. 285-A é uma técnica de aceleração do processo, podendo ser encontrada nos livros
com os mais diversos nomes: “julgamento de improcedência liminar”, “improcedência
prima facie”, “julgamento liminar de mérito”, “julgamento antecipadíssimo da lide” ou
“improcedência macroscópica”.
Repare que o art. 285-A somente se aplica no caso de indeferimento. Não pode o juiz julgar
procedente o pedido sem citar o réu.

Requisitos:
Para que o magistrado possa aplicar a regra do art. 285-A do CPC é necessário que estejam
preenchidos três requisitos. Os dois primeiros estão previstos expressamente na lei,
enquanto que o terceiro é um requisito implícito construído pela doutrina a partir de uma
interpretação teleológica a fim de que garantir que os objetivos do legislador sejam
atendidos. Vejamos cada um dos requisitos exigidos:
a) A causa precisa ser unicamente de direito.
Causa unicamente de direito é aquela que não precisa de outras provas a não ser a
análise de documentos. Não é necessária prova testemunhal, pericial etc.

b) Sobre aquele tema, o juízo já deve ter proferido sentença de total improcedência em
outros casos idênticos.
“É o que acontece nos litígios de massa, como as causas previdenciárias, as tributárias,
as que envolvem servidores públicos, consumidores etc., sujeitos que se encontram em
uma situação fático-jurídica semelhante. Nessas causas, discute-se normalmente a
mesma tese jurídica, distinguindo-se apenas os sujeitos da relação jurídica discutida.
21

São causas que poderiam ter sido reunidas em uma ação coletiva. (...) Se o magistrado
já tiver concluído, em outros processos, que aquela pretensão não deve ser acolhida,
Página

fica dispensado de citar o réu, podendo julgar antecipadamente o mérito da causa.”


(DIDIER JR., Fredie., p. 516).

INFORMATIVO esquematizado
Obs1: quando a Lei fala em “casos idênticos”, na verdade, deve-se entender “casos
similares” ou “idêntica tese jurídica”. As demandas não são idênticas, uma vez o réu é o
mesmo, mas são autores diferentes. Se as causas fossem idênticas (mesma causa de
pedir, mesmo pedido e mesmas partes), haveria, no caso, extinção por litispendência.

Obs2: vale ressaltar que, para o STJ, não basta que o juiz mencione que existem outras
sentenças anteriormente prolatadas no mesmo sentido. É necessário que o magistrado
reproduza (transcreva) o teor dessa sentença paradigma anterior na nova decisão (AgRg no
AREsp 153.180/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 12/6/2012).

c) A tese jurídica que será aplicada pelo juiz na sentença deve estar de acordo com a
jurisprudência do Tribunal ao qual ele está vinculado e também do STJ e STF.
O objetivo do legislador ao inserir o art. 285-A ao CPC foi o de otimizar o tempo e reduzir os
custos do processo, fazendo com que fosse abreviado um desfecho inevitável.
Se a tese jurídica aplicada pelo juiz de direito (ou juiz federal) na sentença for contrária
ao entendimento do TJ (ou TRF), o autor irá recorrer contra a decisão e essa apelação
será provida. Com isso, o Tribunal determinará que os autos retornem ao juízo de
primeiro grau para processamento e julgamento da ação.
Em suma, ao invés de acelerar o trâmite processual, na verdade, a atitude do juiz em
aplicar o art. 285-A do CPC iria provocar grande tumulto processual e atrasar o
encerramento da ação.
O STJ exige esse terceiro pressuposto para a aplicação do art. 285-A do CPC: REsp
1.279.570/MG; REsp 1.225.227-MS.

Imagine que o entendimento do juiz sobre a tese jurídica de determinada causa


repetitiva é igual ao do STJ, mas contrário ao do TJ (ou TRF). Ex: juiz e STJ pensam que a
gratificação “X” não é devida, mas o TRF vem concedendo a verba quando julga os
recursos interpostos pelos servidores. Nesse exemplo, o juiz poderá aplicar o art. 285-A
para as causas envolvendo a referida gratificação?
NÃO. Para que o art. 285-A do CPC seja aplicado, é necessário que o entendimento do
juiz de 1º grau pela improcedência do pedido esteja em consonância com a
jurisprudência do Tribunal local e também Tribunais Superiores. A isso se dá o nome de
“dupla conformidade” ou “dupla conforme”.
Se o entendimento do Tribunal local for diferente do STJ, não deve ser aplicado o art.
285-A do CPC.

Se os requisitos acima não forem atendidos:


O Tribunal, no julgamento da apelação, deverá anular (“cassar”) a sentença prolatada e
determinar o retorno dos autos à 1ª instância para processar e julgar a ação regularmente
(AgRg no REsp 1307682/RN, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado
em 27/11/2012).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.225.227-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/5/2013.

Bens das filiais podem ser penhorados para pagar dívidas tributárias da matriz

Os valores depositados em contas em nome das filiais estão sujeitos à penhora por dívidas
22

tributárias da matriz.
Comentários Para maiores informações, vide explicação em Direito Tributário.
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Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.355.812-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Execução fiscal e cobrança de anuidades dos Conselhos Profissionais

As execuções fiscais ajuizadas pelos conselhos profissionais em data anterior ao início de


vigência do art. 8º, caput, da Lei 12.514/2011 devem ser extintas na hipótese em que
Juiz objetivarem a cobrança de anuidades cujos valores sejam inferiores a quatro vezes o montante
Federal
cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente.
Comentários Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs: CREA, CRM, COREN, CRO etc.)?
Segundo o entendimento do STF, os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de
autarquias federais, com exceção da OAB, que é um serviço público independente,
categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.

Anuidades
Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram a sua
categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei n. 12.514/2011). Veja o que
diz também a Lei n. 11.000/2004:
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar,
cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem
como as multas e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que
constituirão receitas próprias de cada Conselho.

Qual é a natureza jurídica dessas anuidades?


Tais contribuições são consideradas tributo, sendo classificadas como “contribuições
profissionais ou corporativas”.

Fato gerador
O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que por tempo
limitado, ao longo do exercício (art. 5º da Lei n. 12.514/2011).

Execução fiscal
Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias, em caso de
inadimplemento, o valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal.

Competência
A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os
Conselhos são autarquias federais (Súmula 66 do STJ).
Vale ressaltar que, se o executado for domiciliado em comarca que não possua sede de
Vara Federal, a competência para processar e julgar a execução será da Justiça Estadual,
conforme autoriza o art. 109, § 3°, da CF/88 c/c o art. 15, I, da Lei n. 5.010/66.

Restrição de valor estabelecida pela Lei n. 12.514/2011


O volume de inadimplência nesses Conselhos profissionais é muito alto, o que fazia com
que fossem ajuizadas, anualmente, milhares de execuções fiscais, a maioria referente a
pequenos valores, abarrotando a Justiça Federal. Além disso, o custo do processo judicial
muitas vezes era superior ao crédito perseguido por meio da execução.
Pensando nisso, o legislador editou a Lei n. 12.514/2011 trazendo uma restrição de valor
para que o Conselho possa ajuizar a execução fiscal cobrando as anuidades em atraso:
Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas referentes a anuidades inferiores
23

a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente.


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Desse modo, o art. 8º da Lei acima referida traz uma nova condição de procedimento para
que os Conselhos profissionais ajuízem execuções fiscais: o total da quantia executada

INFORMATIVO esquematizado
deverá ser, no mínimo, quatro vezes o valor da anuidade. Na prática, o Conselho precisa
aguardar que o profissional fique inadimplente 4 anos para propor a execução fiscal.

Vale ressaltar que, mesmo não podendo ajuizar a execução, os Conselhos poderão tomar
outras medidas contra o inadimplente, como, por exemplo, suspender seu exercício
profissional. Veja:
Art. 8º (...) Parágrafo único. O disposto no caput não limitará a realização de medidas
administrativas de cobrança, a aplicação de sanções por violação da ética ou a suspensão do
exercício profissional.

Essa limitação, como vimos, foi imposta apenas em 2011. A pergunta que surge diante disso é
a seguinte: o que fazer com as execuções fiscais propostas antes da Lei n. 12.514/2011, que
ainda estão em tramitação e cuja quantia cobrada é inferior ao valor de quatro anuidades?
O STJ decidiu que elas devem ser extintas por falta superveniente de interesse de agir. Isso
porque o art. 8º da Lei n. 12.514/2011 é uma norma de caráter processual e, como tal, tem
aplicação imediata aos processos em curso.

Ex: imaginemos que a anuidade do Conselho é de 500 reais. Em 2010, este Conselho ajuizou
execução fiscal contra um profissional inadimplente cobrando o valor de uma anuidade. Em
2011, com a entrada em vigor da Lei n. 12.514/2011, essa execução fiscal deverá ser
extinta em razão da perda superveniente de interesse de agir.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.202-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/5/2013.

Ação civil pública


Na ação civil pública, reconhecido o vício na representação processual da associação autora,
deve-se, antes de proceder à extinção do processo, conferir oportunidade ao Ministério Público
Concurso para que assuma a titularidade ativa da demanda.
MP
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Determinada associação ajuizou ação civil pública em defesa do meio ambiente.
O réu apresentou contestação e, dentre outros argumentos, alegou que havia um vício na
representação processual, considerando que quem assinou a procuração ao advogado não
tinha poderes para tanto (não foi o diretor-presidente, conforme determinava o estatuto).
O juiz conferiu, então, prazo para a autora regularizar a representação processual, mas esta
quedou-se inerte (art. 13 do CPC). Diante disso, ele extinguiu o processo sem resolução do
mérito (art. 267, IV do CPC).
A decisão do juiz foi correta?
NÃO. O STJ decidiu que, na ação civil pública, reconhecido o vício na representação
processual da associação autora, o juiz, antes de extinguir o processo, deve conferir
oportunidade ao Ministério Público para que assuma a titularidade ativa da demanda.
O STJ entende que, nesse caso, deve-se aplicar o raciocínio previsto no art. 5º, § 3º da Lei
n. 7.347/85:
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o
Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

As ações coletivas trazem em seu bojo a ideia de indisponibilidade do interesse público, de


modo que o art. 13 do CPC deve ser interpretado em consonância com o art. 5º, § 3º, da Lei
24

7.347/1985.
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Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.038.199-ES, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PENAL

Crime praticado por nora contra sogra

É do juizado especial criminal — e não do juizado de violência doméstica e familiar contra a


mulher — a competência para processar e julgar ação penal referente a suposto crime de
ameaça (art. 147 do CP) praticado por nora contra sua sogra na hipótese em que não estejam
presentes os requisitos cumulativos de relação íntima de afeto, motivação de gênero e situação
de vulnerabilidade.
Comentários É possível a aplicação da Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) para violência praticada
por nora contra a sogra?
SIM, é possível, desde que estejam presentes os requisitos cumulativos de relação íntima de
afeto, motivação de gênero e situação de vulnerabilidade.

Por outro lado, se, no caso concreto, não for observada a existência desses requisitos, não
haverá violência doméstica (Lei n. 11.340/2006) e a competência para julgar a causa será
do juizado especial criminal (e não do juizado de violência doméstica e familiar contra a
mulher).

De fato, se assim não fosse, qualquer delito que envolvesse relação entre parentes poderia
dar ensejo à aplicação da referida lei.

Para o STJ, deve ser conferida interpretação restritiva ao conceito de violência doméstica e
familiar, para que se não inviabilize a aplicação da norma.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 175.816-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Tribunal do Júri

Não configura ilegalidade a determinação do Juiz-Presidente do Tribunal do Júri que estabeleça a


proibição de retirada dos autos por qualquer das partes, inclusive no caso de réu assistido pela
Defensoria Pública, nos cinco dias que antecedam a realização da sessão de julgamento.
Comentários O Juiz-Presidente do Tribunal do Júri determinou a seguinte medida na vara pela qual era
responsável: nenhuma das partes poderia retirar os autos do cartório nos cinco dias que
antecediam a realização do julgamento.
O Juiz argumentou que essa medida tinha por objetivo fazer com que todas as partes
(advogados, defensores, MP) e os próprios servidores pudessem consultar e manusear os
autos no cartório, o que não seria possível caso o processo estivesse em carga com apenas
uma das partes.
Além disso, o magistrado pontuou que os julgamentos são designados com grande
antecedência e, assim, é possível tanto à acusação quanto à defesa exercerem o seu
trabalho sem a necessidade de retirar os autos da serventia nos cinco dias que antecedem a
sessão plenária.

A Defensoria Pública não concordou com a medida e impetrou mandado de segurança,


25

afirmando que o art. 128, VII, da LC 80/94 confere à Instituição a prerrogativa de vista
pessoal dos autos fora do cartório e que uma determinação do juiz não poderia se sobrepor
Página

à Lei. A propósito, confira o que diz o texto legal:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 128. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras
que a lei local estabelecer:
VII - ter vista pessoal dos processos fora dos cartórios e secretarias, ressalvadas as vedações
legais;

O ato do juiz foi ilegal?


NÃO. A 1ª Turma do STJ entendeu que NÃO configura ilegalidade a determinação do Juiz-
Presidente do Tribunal do Júri que estabeleça a proibição de retirada dos autos por
qualquer das partes, inclusive no caso de réu assistido pela Defensoria Pública, nos cinco
dias que antecedam a realização da sessão de julgamento.

Para o STJ, a limitação imposta é lícita, já que tem por objetivo garantir a concretização de
princípios materiais do processo, equilibrando a prerrogativa legal da Defensoria Pública
com o direito das demais partes. É certo que o art. 128, VII, da LC 80/1994 confere à
Defensoria Pública a prerrogativa de ter vista pessoal dos processos fora dos cartórios e
secretarias, ressalvadas as vedações legais. Ocorre que, na hipótese, a solução da
controvérsia exige ponderação, à luz do princípio da igualdade e da necessidade de garantir
a amplitude da defesa e do contraditório, nos termos do art. 5º, LV, da CF.
Nesse contexto, afigura-se razoável e proporcional equacionar a prerrogativa de retirada
dos autos de uma das partes com o direito da outra de realizar vista em cartório.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 41.624-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/5/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Bens das filiais podem ser penhorados para pagar dívidas tributárias da matriz

Os valores depositados em contas em nome das filiais estão sujeitos à penhora por dívidas
tributárias da matriz.
ATENÇÃO
Comentários Em seu voto, o Min. Relator afirmou que a filial apresenta as seguintes características:
É uma espécie de estabelecimento empresarial;
Possui natureza jurídica de universalidade de fato;
Não pode ser considerada como sujeito de direitos;
Não ostenta personalidade jurídica própria. Ao contrário, faz parte do acervo
patrimonial da matriz, partilhando os mesmos sócios, contrato social e firma ou
denominação da matriz.
É apenas um instrumento para o exercício da atividade empresarial (Rubens Requião).

O fato de ter sido criada uma filial não afasta a unidade patrimonial da pessoa jurídica, que,
na condição de devedora, deve responder com todo o ativo do patrimônio social.

“Considerar o estabelecimento empresarial uma pessoa jurídica é errado, segundo o


disposto na legislação brasileira. Sujeito de direito é a sociedade empresária, que, reunindo
os bens necessários ou úteis ao desenvolvimento da empresa, organiza um complexo de
características dinâmicas próprias. A ela, e não ao estabelecimento empresarial, imputam-
se as obrigações e asseguram-se os direitos relacionados com a empresa” (COELHO, Fábio
Ulhoa. Curso de Direito Comercial. V. 1, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 99).
26

É certo que a filial possui um número próprio de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa
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Jurídica) diferente da matriz. No entanto, isso ocorre apenas para facilitar a fiscalização pela
administração tributária, não servindo como argumento para afirmar que foi afastada a

INFORMATIVO esquematizado
unidade patrimonial da empresa. Além disso, a inscrição da filial no CNPJ é derivada da
inscrição do CNPJ da matriz.

Cumpre esclarecer que o princípio tributário da autonomia dos estabelecimentos, cujo


conteúdo normativo preceitua que estes devem ser considerados, na forma da legislação
específica de cada tributo, unidades autônomas e independentes nas relações jurídico-
tributárias travadas com a administração fiscal, é um instituto de direito material ligado ao
nascimento da obrigação tributária de cada imposto especificamente considerado e não
tem relação com a responsabilidade patrimonial dos devedores, prevista em um
regramento de direito processual, ou com os limites da responsabilidade dos bens da
empresa e dos sócios definidos no direito empresarial.

As filiais não são "pessoas" distintas de sua sede, de sorte que, nesse contexto, a obrigação
tributária é da sociedade empresária como um todo, composta por sua matriz e filiais.

Diante do exposto, não há sentido em se limitar a satisfação do crédito tributário apenas ao


patrimônio do estabelecimento que realizou o fato gerador.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.355.812-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/5/2013.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Devolução dos benefícios previdenciários recebidos por força de tutela antecipada revogada

O segurado da Previdência Social tem o dever de devolver o valor de benefício previdenciário


recebido em antecipação dos efeitos da tutela (art. 273 do CPC) a qual tenha sido
posteriormente revogada.
MUITA
ATENÇÃO
Na devolução do benefício previdenciário recebido em antecipação dos efeitos da tutela que
tenha sido posteriormente revogada, devem ser observados os seguintes parâmetros:
a) a execução de sentença declaratória do direito deverá ser promovida; e
b) liquidado e incontroverso o crédito executado, o INSS poderá fazer o desconto em folha de
até 10% da remuneração dos benefícios previdenciários em manutenção até a satisfação do
crédito.
Comentários Imagine a seguinte situação:
João ajuíza uma ação contra o INSS pedindo a concessão de auxílio-doença, alegando que
possui uma incapacidade total e temporária para o exercício de suas funções.
O autor junta atestado médico comprovando a incapacidade.
O juiz concede a tutela antecipada determinando que o INSS fique pagando mensalmente o
auxílio-doença até que a sentença seja proferida.
É realizada perícia médica judicial e o médico-perito discorda do resultado do atestado
médico apresentado pelo autor e afirma que João tem sim condições de trabalhar.
Diante do resultado da perícia, o juiz sentencia a demanda, revogando a tutela antecipada
anteriormente concedida e julgando improcedente o pedido.
Ocorre que João recebeu 10 meses de auxílio-doença por força da tutela antecipada.

Indaga-se: o autor terá que devolver a quantia recebida?


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Página

INFORMATIVO esquematizado
Posição antiga do STJ: Entendimento atual do STJ:
Não SIM
A jurisprudência do STJ era pacífica no A 1ª Seção do STJ (engloba a 1ª e a 2ª
sentido de que os segurados do RGPS não Turmas) alterou seu entendimento e
tinham obrigação de restituir valores decidiu que o segurado da Previdência
obtidos por força de tutela antecipada queSocial tem o dever de devolver o valor de
foi posteriormente revogada. benefício previdenciário recebido em
antecipação dos efeitos da tutela que
O STJ fundamentava suas decisões no fato tenha sido posteriormente revogada.
de que as verbas previdenciárias possuem
natureza alimentar. Logo, deveria ser REsp 1.384.418-SC, Rel. Min. Herman
observado o princípio da irrepetibilidade Benjamin, julgado em 12/6/2013 (Info 524).
dos alimentos.

Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgRg no


AREsp 194.038-MG, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 18/10/2012
(Info 507).

Desse modo, segundo o atual entendimento da 1ª Seção do STJ, o segurado da Previdência


Social tem o dever de devolver o valor de benefício previdenciário recebido por força de
tutela antecipada que tenha sido posteriormente revogada.

Qual é a razão jurídica invocada pelo STJ para alterar seu entendimento?
O STJ afirmou que, para decidir o tema, deve-se considerar não apenas o princípio da
irrepetibilidade dos alimentos, mas também a boa-fé OBJETIVA envolvida na situação.

Existe boa-fé subjetiva


Para o Min. Herman Benjamin, nas hipóteses de benefícios previdenciários oriundos de
antecipação de tutela, não há dúvida de que o autor da ação possui boa-fé subjetiva,
considerando que ele recebe os benefícios por conta de uma decisão judicial, havendo
assim legitimidade jurídica no recebimento desses valores, apesar de precária (não
definitiva).

Não existe boa-fé subjetiva


Por outro lado, o Min. Herman Benjamin entende que o autor da ação não apresenta, no
caso, boa-fé objetiva, tendo em vista que os pagamentos determinados por meio de
antecipação de tutela não gozam de definitividade, de maneira que o requerente é titular
de um direito precário e, como tal, não pode pressupor que aquelas quantias foram
incorporadas em seu patrimônio de forma irreversível.
Em outras palavras, o autor da ação deve saber que está recebendo aquelas quantias a
título provisório e que elas poderão ser retiradas de seu patrimônio caso a tutela
antecipada seja revogada.
Dessa forma, não há legitimidade jurídica para que o segurado presuma que não terá de
devolver os valores recebidos, até porque, invariavelmente, ele está assistido por advogado
e, conforme prevê o art. 3º da LINDB, ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não
a conhece. Logo, ele deve estar ciente da precariedade do provimento judicial que lhe é
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favorável.
Como o autor sabia que os recursos recebidos não integrariam em definitivo o seu
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patrimônio, qualquer ato de disposição desses valores, ainda que para fins alimentares,

INFORMATIVO esquematizado
salvo situações emergenciais e excepcionais, não poderia estar acobertado pela boa-fé, já
que é princípio basilar tanto na ética quanto no direito, que ninguém pode dispor do que
não possui (Min. Humberto Martins, no AgRg no REsp 126480/CE).

Argumento da irrepetibilidade não é suficiente


Conclui-se, portanto, segundo essa nova visão do STJ, que não é suficiente que a verba
recebida seja alimentar. É necessário que o titular do direito o tenha recebido com boa-fé
objetiva, que consiste na presunção da definitividade do pagamento.
Em suma, mesmo o benefício previdenciário sendo considerado como verba alimentar, a
pessoa que o recebeu por força de tutela antecipada posteriormente revogada tem o dever
de devolver tais valores porque não agiu de acordo com a boa-fé objetiva.
Como deve Em caso de revogação da tutela antecipada, o autor terá que devolver os valores recebidos.
ser feita No entanto, quais são os critérios para que isso seja feito?
essa O STJ afirmou que essa devolução não poderá comprometer o sustento do indivíduo, em
devolução? atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Assim, os Ministros definiram que a devolução dos valores recebidos deve ser feita
conforme os seguintes parâmetros:
a) o INSS deverá ajuizar uma ação de execução da sentença que declarou que o autor não
tinha direito;
b) caso a pessoa que recebeu indevidamente os valores esteja, atualmente, gozando de
algum benefício do INSS (ex: está recebendo aposentadoria), o INSS poderá cobrar os
valores mediante desconto em folha de até 10% do benefício que ela estiver recebendo
até pagar toda a dívida. Ex: a pessoa recebe mil reais de aposentadoria e deve 500 reais.
O INSS poderá descontar todos os meses 100 reais dos proventos da pessoa até que ela
quite o débito.

Se a pessoa não estiver recebendo benefício previdenciário, o INSS deverá pedir ao juiz a
penhora de bens que ela possua em seu nome.
Valores Imagine agora a seguinte situação:
recebidos Pedro propõe uma ação contra o INSS pedindo a concessão de um benefício previdenciário.
por O juiz federal julga procedente o pedido, sentença que é mantida em 2ª instância e
sentença transitada em julgado.
transitada O INSS ajuíza, então, uma ação rescisória, que é julgada procedente.
em julgado Ocorre que Pedro recebeu durante vários meses o benefício previdenciário.

Indaga-se: o segurado terá que devolver a quantia recebida?


NÃO. Os valores que foram pagos pelo INSS aos segurados por força de decisão judicial
transitada em julgado, a qual, posteriormente, vem a ser rescindida, não são passíveis de
devolução, ante o caráter alimentar dessa verba e pelo fato de que o segurado recebeu e
gastou tais quantias de boa-fé. (AR 3.926/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Seção, julgado em 11/09/2013).
Se a decisão já havia transitado em julgado, a fruição do que foi recebido indevidamente
está acobertada pela boa-fé, considerando que o segurado poderia supor, de forma
legítima, que os valores integraram em definitivo o patrimônio do beneficiário e que não
mais iriam ser questionados (AgRg no REsp 126480/CE).

Desse modo, há uma diferença entre os valores recebidos por força de uma tutela
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antecipada e aqueles auferidos em decorrência de uma sentença transitada em julgado:


Página

INFORMATIVO esquematizado
Decisão em tutela antecipada Sentença transitada em julgado
Os valores recebidos possuem natureza Os valores recebidos possuem natureza
alimentar. alimentar.
O beneficiário não ostenta boa-fé objetiva O beneficiário ostenta boa-fé objetiva
(não pode ter legítima expectativa de que os (possui legítima expectativa de que os
valores ingressaram de forma definitiva). valores ingressaram de forma definitiva).
Em caso de revogação da decisão, deverá Em caso de rescisão da coisa julgada, não
devolver os valores. terá obrigação de devolver os valores.

ATENÇÃO: Este é um dos mais importantes julgados do ano sobre Direito Previdenciário porque
representa brusca mudança na jurisprudência da Corte.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.384.418-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Responsabilidade pelo pagamento do salário-maternidade

É do INSS (e não do empregador) a responsabilidade pelo pagamento do salário-maternidade à


segurada demitida sem justa causa durante a gestação.
Comentários O que é o salário-maternidade?
Trata-se de benefício previdenciário “devido a todas as seguradas do RGPS, sem exceção, que
visa substituir a sua remuneração em razão do nascimento do seu filho ou da adoção de uma
criança, pois nesse período é preciso que a mulher volte toda a sua atenção ao infante, sendo
presumida legalmente a sua incapacidade temporária de trabalhar.” (AMADO, Frederico.
Direito Previdenciário sistematizado. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 636).

Qual é o tempo de duração do salário-maternidade?


Em regra, o salário-maternidade será pago pelo período de 120 dias, com data de início no
28º dia que antecede o parto e vai até 91 dias após o nascimento da criança (art. 77 da Lei
n. 8.213/91).

Adoção ou guarda judicial:


Art. 71-A. À segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda judicial para fins
de adoção de criança é devido salário-maternidade pelo período de cento e vinte dias.
(Redação dada pela Medida Provisória nº 619, de 2013)

De quanto é o valor do salário-maternidade no caso de segurada empregada?


Em regra, será uma renda mensal igual a sua remuneração integral.

Quem arca com os custos do pagamento do salário-maternidade?


A Previdência Social (INSS), considerando que se trata de benefício previdenciário.

Caso de segurada empregada


Se a segurada for empregada, caberá à empresa pagar diretamente a ela o salário-
maternidade. Posteriormente, a empresa será reembolsada pelo valor que pagou mediante
a compensação da quantia no pagamento de suas contribuições previdenciárias à União (§
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1º do art. 72 da Lei n. 8.213/91). Isso é feito para simplificar o pagamento, considerando


que será mais fácil que a segurada/empregada receba diretamente da empresa.
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O ônus pelo pagamento do salário-maternidade recai sobre a Previdência Social, embora o


recolhimento da contribuição previdenciária deva ser efetuado pelo empregador.
INFORMATIVO esquematizado
Imagine que Maria, empregada da empresa “X”, estava grávida e, mesmo assim, foi
demitida sem justa causa. Agiu corretamente a empresa?
NÃO. A empregada gestante tem proteção contra dispensa arbitrária, desde a confirmação
da gravidez até cinco meses após o parto, segundo a regra estabelecida na alínea "b" do
inciso II do art. 10 do ADCT da CF/88. Assim, Maria não poderia ter sido demitida sem justa-
causa.

Maria poderia propor reclamação contra a empresa cobrando seus direitos trabalhistas?
SIM, com certeza.

Nessa reclamação trabalhista, Maria também poderá cobrar o valor do salário-maternidade


que ela teria direito após o 28º dia que antecede o parto?
NÃO. Ela deverá ajuizar uma ação contra o INSS cobrando o valor do salário-maternidade,
não sendo esse um pedido viável a ser formulado contra o empregador na reclamatória
trabalhista.

O pagamento de salário-maternidade, no caso de segurada empregada, embora constitua,


para fins de comodidade, uma atribuição do empregador, não afasta a sua natureza de
benefício previdenciário.

Assim, ainda que seja do patrão a responsabilidade, de forma direta, pelo pagamento dos
valores correspondentes ao benefício, deve-se considerar que, nessa hipótese, o
empregador tem direito a efetuar a compensação dos referidos valores com aqueles
correspondentes às contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais
rendimentos. Em outras palavras, o empregador será reembolsado.

Portanto, a responsabilidade final pelo pagamento do benefício é do INSS, devendo esta


autarquia fazer o pagamento nessa hipótese peculiar em que a segurada foi demitida, sem
justa causa, durante a gravidez.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.309.251-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/5/2013.

Período de gozo do auxílio-doença para efeito de carência na aposentadoria por idade

O período de recebimento de auxílio-doença deve ser considerado no cômputo do prazo de


carência necessário à concessão de aposentadoria por idade, desde que intercalado com
períodos contributivos.
Comentários O tempo em que a pessoa ficou sem trabalhar e apenas recebendo auxílio-doença pode ser
computado a título de carência para fins de aposentadoria por idade?
SIM, desde que intercalado com períodos contributivos, ou seja, estava trabalhando antes
de receber o auxílio-doença e, após cessar o benefício, voltou a contribuir.

O § 5º do art. 29 da Lei n. 8.213/91 determina que o período em que o segurado ficou


recebendo auxílio-doença deve ser considerado no cômputo do prazo de carência necessário à
concessão de aposentadoria por idade. Logo, esse período também deverá ser computado para
fins de carência, se recebido entre períodos de atividade (art. 55, II, da Lei 8.213/1991).

Vale mencionar, ainda, que o art. 60, III, do Decreto 3.048/1999 estabelece que, enquanto não
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houver lei específica que discipline a matéria, será contado como tempo de contribuição o
período em que o segurado tenha recebido auxílio-doença entre períodos de atividade.
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Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.334.467-RS, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 28/5/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO DO TRABALHO

Ação proposta por ex-diretor sindical contra sindicato

Compete à Justiça do Trabalho o julgamento de ação proposta por ex-diretor sindical contra o
sindicato que anteriormente representava na qual se objetive o recebimento de verbas com
fundamento em disposições estatutárias.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Paulo, ex-diretor sindical, ajuizou ação de indenização por danos materiais e morais contra
o sindicato dos administradores, visando ao pagamento de verbas supostamente devidas
em razão do exercício de cargo sindical (ajuda de custo), bem como indenização a título de
danos morais em virtude do tratamento diferenciado recebido em relação aos demais
diretores do sindicato.

Essa ação será de competência da Justiça comum ou da Justiça do Trabalho?


JUSTIÇA DO TRABALHO.

Segundo entendem o STF e o STJ, após a promulgação da EC n. 45/2004, compete à Justiça


do Trabalho o julgamento de causas relacionadas com litígios envolvendo dirigente sindical
e a própria entidade que ele representa em matérias referentes a questões estatutárias.

Qual é o fundamento constitucional?


Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e
trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

Mas esse inciso III não fala em ações propostas por dirigente sindical contra sindicato...
Segundo a doutrina especializada, esse inciso III do art. 114 da CF/88 deve ser interpretado
ampliativamente, de forma a abranger quaisquer questões que envolvam, direta ou
indiretamente, direito sindical. A Justiça do Trabalho funcionaria como um juízo universal
das questões sindicais.
Processo STJ. 1ª Seção. CC 124.534-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/6/2013.

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INFORMATIVO esquematizado
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) O extravio de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa. ( )
2) (CGU 2012 ESAF) A classificação de certo imóvel como terreno de marinha não depende de prévio
contraditório e ampla defesa. ( )
3) A alegação da União de que determinada área constitui terreno de marinha, sem que tenha sido realizado
processo demarcatório específico e conclusivo pela Delegacia de Patrimônio da União, não obsta o
reconhecimento de usucapião. ( )
4) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Os registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de
marinha são oponíveis à União. ( )
5) (Juiz Federal TRF3 2011 CESPE) Justifica-se o domínio da União sobre os terrenos de marinha em virtude da
necessidade de defesa e de segurança nacional, motivo por que é expressamente vedada sua utilização por
particulares. ( )
6) (Juiz Federal TRF4) O Código Civil vigente proibiu a constituição de aforamentos, subordinando os
existentes, até sua extinção, às disposições do Código Civil anterior, Lei nº 3.071/1916, e leis posteriores,
dispondo, ainda, que o aforamento de terrenos de marinha e acrescidos regula-se por lei especial. ( )
7) No âmbito de execução de sentença civil condenatória decorrente da prática de ato ilícito, é possível a
penhora do bem de família na hipótese em que o réu também tenha sido condenado na esfera penal pelo
mesmo fundamento de fato. ( )
8) Ainda que haja abatimento no preço do produto, o fornecedor responderá por vício de quantidade na
hipótese em que reduzir o volume da mercadoria para quantidade diversa da que habitualmente fornecia no
mercado, sem informar na embalagem, de forma clara, precisa e ostensiva, a diminuição do conteúdo. ( )
9) Ainda que proferida por juízo absolutamente incompetente, é válida a decisão que, em ação civil pública
proposta para a apuração de ato de improbidade administrativa, tenha determinado — até que haja
pronunciamento do juízo competente — a indisponibilidade dos bens do réu a fim de assegurar o
ressarcimento de suposto dano ao patrimônio público. ( )
10) A competência para processar e julgar ação destinada ao reconhecimento de união estável homoafetiva é
da vara cível se assim determinar a Lei de Organização Judiciária, mesmo que exista vara de família
instalada. ( )
11) (Juiz Federal TRF4) Cabe recurso extraordinário contra decisão proferida por Turma Recursal dos Juizados
Especiais Federais, porém não cabe recurso especial. ( )
12) (Juiz Federal TRF4) Compete, como regra geral, ao Tribunal Regional Federal processar e julgar o mandado
de segurança contra ato de juiz do Juizado Especial Federal. ( )
13) É cabível mandado de segurança, a ser impetrado no Tribunal de Justiça, a fim de que seja reconhecida, em
razão da complexidade da causa, a incompetência absoluta dos juizados especiais para o julgamento do feito,
ainda que no processo já exista decisão definitiva de Turma Recursal da qual não caiba mais recurso. ( )
14) (DPE/PR 2012 FCC) O Superior Tribunal de Justiça decidiu que a aplicação do art. 285-A do Código de Processo
Civil dispensa que a sentença de improcedência prima facie esteja alinhada ao entendimento cristalizado nas
instâncias superiores, bastando que haja manifestação anterior no próprio juízo de origem. ( )
15) (MPDFT 2013) A racionalização da atividade judiciária e a compatibilização vertical das decisões judiciais,
prestigiando os valores da economia e da igualdade no processo, permite que o juiz julgue procedente ação
judicial, dispensada a citação do réu, quando a matéria controvertida for unicamente de direito e ele já tiver
julgado outros casos idênticos no mesmo juízo, em conformidade com julgamentos do Superior Tribunal de
Justiça e do tribunal a que se encontra vinculado. ( )
16) (DPDF 2013 CESPE) Caso a matéria controvertida seja unicamente de direito e no juízo já houver sido
proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e
proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. ( )
17) (DPE/RR 2013 CESPE) O julgamento imediato das causas repetitivas poderá ocorrer quando a matéria
controvertida for unicamente de direito e no juízo já tiver sido proferida sentença de total improcedência
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em processos idênticos, caso em que o julgador poderá reproduzir o teor do decisum, desde que com prévia
citação do réu. ( )
Página

INFORMATIVO esquematizado
18) (Juiz TJMG 2012) Quando a matéria controvertida contida na petição inicial for unicamente de direito e no
juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá proferir
sentença o juiz sem determinar a citação da parte ré. ( )
19) É possível a aplicação do art. 285-A do CPC quando o entendimento exposto na sentença estiver de acordo
com a jurisprudência pacificada do STJ, mesmo que divirja da posição do Tribunal local. ( )
20) Os valores depositados em contas em nome das filiais não estão sujeitos à penhora por dívidas da matriz em
razão da autonomia das personalidades jurídicas. ( )
21) As execuções fiscais ajuizadas pelos conselhos profissionais em data anterior ao início de vigência do art. 8º,
caput, da Lei 12.514/2011 devem ser extintas na hipótese em que objetivarem a cobrança de anuidades
cujos valores sejam inferiores a quatro vezes o montante cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica
inadimplente. ( )
22) Para que o crime praticado possa ser caracterizado como violência doméstica é indispensável que estejam
presentes os requisitos cumulativos de relação íntima de afeto, motivação de gênero e situação de
vulnerabilidade. ( )
23) Para o STJ, deve ser conferida interpretação ampliativa ao conceito de violência doméstica e familiar a fim
de que se garanta uma maior proteção da mulher. ( )
24) Configura ilegalidade a determinação imposta pelo Juiz-Presidente do Tribunal do Júri no sentido de proibir
a retirada dos autos pelas partes, inclusive a Defensoria Pública, nos cinco dias que antecedam a realização
da sessão de julgamento. ( )
25) O segurado da Previdência Social tem o dever de devolver o valor de benefício previdenciário recebido em
antecipação dos efeitos da tutela (art. 273 do CPC) a qual tenha sido posteriormente revogada. ( )
26) É do empregador a responsabilidade pelo pagamento do salário-maternidade à segurada demitida sem justa
causa durante a gestação, considerando que essa demissão era vedada. ( )
27) O período de recebimento de auxílio-doença deve ser considerado no cômputo do prazo de carência necessário à
concessão de aposentadoria por idade, desde que intercalado com períodos contributivos. ( )

Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. E 5. E 6. C 7. C 8. C 9. C 10. E
11. C 12. E 13. C 14. E 15. E 16. C 17. E 18. C 19. E 20. E
21. C 22. C 23. E 24. E 25. C 26. E 27. C

Olá amigos, vocês já conhecem o meu livro:


PRINCIPAIS JULGADOS DO STF E STJ COMENTADOS 2012
Trata-se da compilação e a organização de todos os informativos
esquematizados de 2012.
Além de tornar a leitura mais agradável, se comparado com a tela do
computador, o livro tem outra grande vantagem: os julgados foram
agrupados de acordo com os ramos do direito e, dentro de cada um deles,
foram organizados segundo os respectivos assuntos. Assim, por exemplo,
no capítulo sobre “Processo Civil”, temos diversos subtópicos para tratar
sobre competência, petição inicial, citação, intimação, litisconsórcio, tutela
antecipada, recursos etc.
Vale ressaltar, ainda, que a obra conta com um extenso índice, que facilita a
busca rápida dos temas.
Com isso, o livro foi organizado como se fosse um curso, envolvendo os
principais assuntos de cada matéria, com trechos de doutrina, lei e,
principalmente, a explicação dos julgados de 2012.
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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR
RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA.


A ação de petição de herança relacionada a inventário concluído, inclusive com trânsito em julgado da
sentença homologatória da partilha, deve ser julgada, não no juízo do inventário, mas sim no da vara de
família, na hipótese em que tramite, neste juízo, ação de investigação de paternidade que, além de ter
sido ajuizada em data anterior à propositura da ação de petição de herança, encontre-se pendente de
julgamento.
De fato, registre-se que o art. 96 do CPC determina que "o foro do domicílio do autor da herança, no Brasil,
é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última
vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro".
Entretanto, nos termos da jurisprudência do STJ, a regra do art. 96 do CPC não incide quando já encerrado
o inventário, com trânsito em julgado da sentença homologatória da partilha (CC 51.061-GO, Segunda
Seção, DJ de 19/12/2005). Sendo assim, não há como aplicar o mencionado dispositivo legal à hipótese em
análise com o intuito de firmar, no juízo responsável pela conclusão do inventário, a competência para o
julgamento da ação de petição de herança. Além disso, esta somente poderá prosperar se o pedido da ação
de investigação de paternidade for julgado procedente, o que demonstra a existência de relação de
dependência lógica entre as referidas demandas. Por efeito, deve-se reconhecer a existência de conexão
entre as ações por prejudicialidade externa — a solução que se der a uma direciona o resultado da outra —
para que elas sejam reunidas, tramitando conjuntamente no mesmo juízo; não constituindo, ademais,
óbice à prevalência das regras processuais invocadas a existência de regra de organização judiciária
estadual em sentido diverso.
CC 124.274-PR, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, julgado em 8/5/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. CÔMPUTO DO TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO NAS FORÇAS ARMADAS PARA O
FIM DE APOSENTADORIA ESPECIAL.
Não é possível computar, para a concessão da aposentadoria especial prevista no art. 1º da LC 51⁄1985, o
tempo de serviço prestado nas Forças Armadas.
Observe-se, inicialmente, que a Administração está adstrita ao princípio da legalidade, razão pela qual
todos os seus atos devem estar de acordo com a lei, não sendo possível contrariá-la ou tratar de tema que
nela não esteja previsto. No caso, dispõe o art. 1º da LC 51⁄1985 que o “funcionário policial” será
aposentado, voluntariamente, com proventos integrais, após trinta anos de serviço, desde que conte pelo
menos vinte anos de exercício em cargo de “natureza estritamente policial”. Nesse contexto, não há,
efetivamente, como proceder à extensão da aposentadoria especial, diante da existência de restrição legal.
Ressalte-se que, de acordo com a jurisprudência do STF, a aposentadoria especial será concedida àqueles
que tenham exposto sua vida a riscos e prejuízos à saúde e à integridade física, sendo necessária, ainda,
expressa previsão em lei complementar. Ademais, é certo que as atividades das Forças Armadas e das
carreiras responsáveis pela segurança pública até podem, por vezes, apresentar semelhanças, devido ao
uso de armas, hierarquia e coerção para a ordem. Todavia, distinguem-se quanto às finalidades e quanto às
atribuições das respectivas carreiras. De fato, deve-se observar que as finalidades e atribuições dos
militares das Forças Armadas não são idênticas às dos policiais civis, militares, federais, rodoviários ou
ferroviários. Com efeito, enquanto as Forças Armadas se destinam à defesa da pátria, à garantia dos
poderes constitucionais, da lei e da ordem, as atribuições dos policiais estão relacionadas com a segurança
pública, visando à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
REsp 1.357.121-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/5/2013.
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DIREITO ADMINISTRATIVO. ABSORÇÃO DA VPNI PELO ACRÉSCIMO REMUNERATÓRIO DECORRENTE DA


PROGRESSÃO NA CARREIRA.
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A simples absorção do valor referente à VPNI pelo acréscimo remuneratório decorrente da progressão na
carreira independe de processo administrativo anterior.

INFORMATIVO esquematizado
A jurisprudência desta Corte Superior sedimentou-se no sentido de que a absorção da vantagem pessoal
nominalmente identificada (VPNI) pelos acréscimos remuneratórios decorrentes da progressão na carreira
não importa redução nominal de vencimentos, não havendo ofensa ao princípio da irredutibilidade de
vencimentos. Nessa esteira de entendimento, por não se tratar de redução de vencimentos, é
desnecessária a prévia abertura de processo administrativo para proceder à absorção da VPNI nos moldes
da lei. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.162.982-RS, Quinta Turma, DJe 2/10/2012; e REsp 935.358-RS,
Quinta Turma, DJe 31/5/2010.
AgRg no REsp 1.370.740-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/6/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. TAXA DE SAÚDE SUPLEMENTAR POR REGISTRO DE PRODUTO.


É ilegal a cobrança da Taxa de Saúde Suplementar por Registro de Produto, prevista no art. 20, II, da Lei
9.961/2000, em relação a requerimentos de registro efetuados antes de 1º de janeiro de 2000, data do
início da vigência dessa lei. Precedente citado: REsp 1.064.236-RJ, Segunda Turma, DJe 13/2/2009.
REsp 1.192.225-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 21/5/2013.

DIREITO CIVIL. LEGITIMIDADE DO ECAD PARA A FIXAÇÃO DO VALOR A SER RECEBIDO A TÍTULO DE DIREITOS
AUTORAIS.
O ECAD tem legitimidade para reduzir o valor a ser recebido, a título de direitos autorais, pelos autores
de obras musicais de background (músicas de fundo), bem como estabelecer, para a remuneração desse
tipo de obra, valor diferente do que o recebido pelos compositores das demais composições, de forma a
corrigir distorções na remuneração pela execução das diversas obras musicais.
Com efeito, o ECAD é uma associação civil constituída pelas associações de direito do autor com a
finalidade de defesa e cobrança dos direitos autorais, nos termos do que prevê o art. 99 da Lei 9.610/1998.
Vale ressaltar que, com o ato de filiação, as associações atuam como mandatárias de seus filiados na defesa
dos seus interesses (art. 98), principalmente junto ao ECAD, que tem a competência para fixar preços,
efetuar a cobrança e distribuir os valores referentes aos direitos autorais. Ademais, apesar de a lei de
direitos autorais não fazer distinção entre os tipos de obras, outorgando-lhes igual proteção, verifica-se que
não há nada que impeça que o critério adotado pelo ECAD para a distribuição dos valores arrecadados
entre os autores leve em consideração o fato de as músicas de fundo serem obras de menor evidência do
que as composições que, por exemplo, são temas de novelas, de personagens etc. Dessa forma, entende o
STJ que, em se tratando de direito de autor, compete a este a fixação do seu valor, o que pode ocorrer
diretamente ou por intermédio das associações e do próprio ECAD, que possui métodos próprios para a
elaboração dos cálculos diante da diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios eleitos
internamente, já que não há tabela oficial regulamentada por lei ou normas administrativas sobre o
assunto.
REsp 1.331.103-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/4/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR. ABUSIVIDADE DE CLÁUSULA EM CONTRATO DE CONSUMO.


É abusiva a cláusula contratual que atribua exclusivamente ao consumidor em mora a obrigação de arcar
com os honorários advocatícios referentes à cobrança extrajudicial da dívida, sem exigir do fornecedor a
demonstração de que a contratação de advogado fora efetivamente necessária e de que os serviços
prestados pelo profissional contratado sejam privativos da advocacia. É certo que o art. 395 do CC autoriza
o ressarcimento do valor de honorários decorrentes da contratação de serviços advocatícios extrajudiciais.
Todavia, não se pode perder de vista que, nos contratos de consumo, além da existência de cláusula
expressa para a responsabilização do consumidor, deve haver reciprocidade, garantindo-se igual direito ao
consumidor na hipótese de inadimplemento do fornecedor. Ademais, deve-se ressaltar que a liberdade
contratual, integrada pela boa-fé objetiva, acrescenta ao contrato deveres anexos, entre os quais se
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destaca o ônus do credor de minorar seu prejuízo mediante soluções amigáveis antes da contratação de
serviço especializado. Assim, o exercício regular do direito de ressarcimento aos honorários advocatícios
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depende da demonstração de sua imprescindibilidade para a solução extrajudicial de impasse entre as

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partes contratantes ou para a adoção de medidas preparatórias ao processo judicial, bem como da
prestação efetiva de serviços privativos de advogado.
REsp 1.274.629-AP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE DA BRASIL TELECOM S/A PARA RESPONDER POR
OBRIGAÇÕES DA TELEMS S/A.
Em execução individual de sentença coletiva promovida em face da Brasil Telecom S/A, sucessora da
Telems S/A, não é cabível a análise de tese de ilegitimidade passiva fundada na alegação de que, em
razão de disposições contidas no ato de cisão ou no edital de privatização da sucedida, a obrigação
objeto de execução — consistente na restituição de valores pagos por consumidores em razão da
participação financeira em construção de rede de transmissão de telefonia — não seria, conforme
previsto no título executivo judicial, da sucedida (Telems S/A), e sim da Telebrás. Isso porque a referida
tese só teria relevância no processo de conhecimento, não podendo, assim, ser suscitada no momento da
execução individual. Desse modo, o reconhecimento da responsabilidade da sucedida, em sentença
transitada em julgado, implica a da sucessora seja por força dos arts. 568 e 592 do CPC, seja por regra
segundo a qual "a sentença, proferida entre as partes originárias, estende seus efeitos ao adquirente ou ao
cessionário" (art. 42, § 3º, do CPC).
REsp 1.371.462-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2013.

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Informativo 525 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.343.128-SC; REsp 1.353.244-MS; AgRg no REsp
1.186.115-RJ.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público

Não tem direito à correção de cartão-resposta de prova aplicada em certame público o


candidato que, descumprindo regra contida no edital e expressa no próprio cartão-resposta,
abstenha-se de realizar a identificação do seu tipo de caderno de questões.
Comentários O Exame Nacional de Ensino Médio de 2009 previa que o candidato, ao preencher o cartão-
resposta, deveria assinalar um campo no qual indicava qual era a cor de sua prova.
Havia previsão, no regulamento do Exame, de que o participante que não marcasse a cor do
caderno de questões não teria a sua prova corrigida.
Determinado candidato não fez a marcação da cor de seu caderno de questões e, com isso,
não teve a sua prova corrigida.
Inconformado, o candidato ingressou com ação judicial, argumentando que não corrigir a
sua prova por esse simples fato violaria o princípio da proporcionalidade.

O STJ concordou com a tese do candidato?


NÃO. Para o STJ, não tem direito à correção de cartão-resposta de prova aplicada em
certame público o candidato que, descumprindo regra contida no edital e expressa no
próprio cartão-resposta, abstenha-se de realizar a identificação do seu tipo de caderno de
questões. Isso porque viabilizar a correção da folha de resposta de candidato que não tenha
observado as instruções contidas no regulamento do certame e ressalvadas no próprio
cartão-resposta implicaria privilegiar um candidato em detrimento dos demais — que
concorreram em circunstâncias iguais de maturidade, preparação, estresse e procedimento
—, configurando flagrante violação do princípio da isonomia.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.376.731-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/5/2013.
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DIREITO DO CONSUMIDOR

Ressarcimento por danos decorrentes de queda de aeronave: prazo prescricional

Qual é o prazo prescricional para que moradores de casas atingidas por queda de avião
ajuízem ação de indenização contra a companhia aérea?
5 anos (art. 27 do CDC).

Os moradores, embora não tenham utilizado o serviço da companhia aérea como destinatários
finais, equiparam-se a consumidores pelo simples fato de serem vítimas do evento. São
conhecidos como bystanders (art. 17 do CDC).

Não se aplica o prazo prescricional do Código Brasileiro de Aeronáutica quando a relação


jurídica envolvida for de consumo.
Comentários Em 1996, um avião da empresa TAM® caiu em uma região residencial de São Paulo (SP),
atingindo inúmeras casas.

Qual é o prazo prescricional para que os moradores das casas atingidas ajuízem uma ação
de indenização por danos morais e materiais contra a companhia aérea?
5 anos.

Qual é o fundamento?
Houve, nesse caso, um fato do serviço, aplicando-se, portanto, o prazo prescricional
previsto no art. 27 do CDC:
Art. 27. Prescreve em 5 (cinco anos) a pretensão à reparação pelos danos causados por fato
do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

Por que se aplica o CDC? Os moradores das casas atingidas são considerados consumidores
mesmo não tendo celebrado nenhum tipo de contrato com a empresa aérea?
SIM. Os moradores, embora não tenham utilizado o serviço como destinatários finais,
equiparam-se a consumidores pelo simples fato de serem vítimas do evento. É o que prevê
o art. 17 do CDC:
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento.

Os moradores, nesse caso concreto, são consumidores por equiparação, também chamados
pela doutrina de bystanders.

O que significa “bystanderes”?


Trata-se de uma expressão utilizada pela doutrina norte-americana para designar os
consumidores por equiparação. Desse modo, se um acidente de consumo proporciona
outras vítimas, além daquelas que haviam contratado o produto ou serviço, estas também
serão consideradas consumidoras, nos termos do art. 17 do CDC.
Em uma tradução literal, bystanders significa “espectadores”.

O exemplo típico de bystanders dado pelos livros é justamente o do acidente aéreo que
atinge os moradores das casas. No entanto, é possível imaginar inúmeras outras situações.
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Vejamos alguns exemplos de bystanders já cobrados em provas:


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Em razão de falha no sistema de freios do automóvel de sua propriedade, recém-


adquirido e com poucos quilômetros rodados, Fábio atropelou Silas. Nessa situação,

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Silas pode acionar a montadora do veículo, sob o argumento de que ocorreu acidente
de consumo, em virtude de ser consumidor por equiparação (DPE/AL CESPE 2009).
Caio foi ao mercado com seu amigo apenas para acompanha-lo, uma vez que não iria
comprar nada. Enquanto andava por lá, uma garrafa de refrigerante explodiu e cortou
seu rosto. Nesse caso, mesmo sem ter ido comprar nada, Caio deve ser indenizado com
base no CDC porque é consumidor por equiparação (Advogado EMBASA CESPE 2010).
Ocorreu explosão em uma loja de fogos de artifício, o que ocasionou a morte e a lesão
de inúmeras pessoas que passavam ao lado do estabelecimento. Tais pessoas, vítimas
do evento, são consumidoras por equiparação (bystanders) (STJ, REsp 181.580-SP).

Consumidor standard X consumidor bystander


Consumidor standard Consumidor bystander
É o consumidor segundo o conceito É o consumidor por equiparação
“padrão” da lei (consumidor em sentido (consumidor em sentido amplo, lato
estrito, strictu sensu). sensu).
Previsto na cabeça do art. 2º do CDC: Há três dispositivos do CDC prevendo
Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou
consumidor por equiparação: art. 2º,
jurídica que adquire ou utiliza produto ou
parágrafo único, art. 17 e art. 29.
serviço como destinatário final. Para fins de responsabilidade civil, o
conceito de consumidor bystander é
trazido pelo art. 17 do CDC.
Em nosso exemplo da queda do avião, os Os consumidores bystanders seriam os
consumidores standard seriam os moradores das casas atingidas pelo
passageiros. acidente.

O Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei n. 7.565/86) traz prazos prescricionais para os


casos de danos causados por acidente aéreo?
SIM. O Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei n. 7.565/86) estabelece em seu art. 317, II:
Art. 317. Prescreve em 2 (dois) anos a ação:
II - por danos causados a terceiros na superfície, a partir do dia da ocorrência do fato;

A empresa de companhia aérea alegou que não poderia ser aplicado o prazo do CDC, mas
sim o lapso previsto no Código Brasileiro de Aeronáutica. O STJ concordou com essa tese?
NÃO. Para o STJ, o Código Brasileiro de Aeronáutica continua em vigor, mas somente deverá
ser aplicado nos casos em que a relação jurídica discutida não esteja regida pelo CDC.
Assim, se a relação for de consumo (como no caso dos moradores – bystanders), o CBA
deve ser afastado porque incidirá o CDC, cuja força normativa é extraída diretamente da CF
(art. 5º, XXXII). Nas demais hipóteses, prevalece o CBA.
A Min. Nancy Andrighi afirmou que essas normas se interpenetram, promovendo um
verdadeiro diálogo de fontes.

E por que não se aplica o prazo prescricional previsto no Código Civil?


As regras do Código Civil são reservadas ao tratamento das relações jurídicas entre pessoas
que se encontrem em patamar de igualdade, o que não ocorre na hipótese. Dessa feita,
havendo a presença do consumidor (vulnerável na relação jurídica), a incidência deve ser do
CDC, salvo se não houver regra prevista ou se a disposição do Código Civil for mais favorável
ao consumidor.
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Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.202.013-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.
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DIREITO EMPRESARIAL

Propriedade industrial

O termo inicial do prazo prescricional de cinco anos (art. 225 da Lei n. 9.279/1996) para
pleitear indenização pelos prejuízos decorrentes do uso de marca industrial que imite outra
preexistente, suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia registrada (art.
124, XIX), é a data da violação do direito à propriedade industrial e se renova enquanto houver
o indevido uso.
Comentários A empresa “Y” estava usando uma marca industrial que imitava a marca da empresa “Z”,
situação que poderia causar confusão para o público em geral.
Diante disso, a empresa “Z” quer ajuizar ação de indenização contra a empresa “Y”.

Qual é o prazo prescricional nesse caso?


5 anos, conforme prevê o art. 225 da Lei n. 9.279/96:
Art. 225. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para reparação de dano causado ao direito de
propriedade industrial.

Quando é o termo inicial desse prazo?


Esse prazo começa na data da violação do direito à propriedade industrial e se renova
enquanto houver o indevido uso. Isso porque o prazo prescricional começa a correr tão logo
nasça a pretensão, a qual tem origem com a violação do direito subjetivo (o direito de
propriedade industrial). No entanto, considerando que a citada violação é permanente,
enquanto o réu continuar a utilizar marca alheia registrada, diariamente o direito será
violado, nascendo nova pretensão indenizatória.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.320.842-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Suspensão dos prazos processuais

A greve de advogados públicos não constitui motivo de força maior a ensejar a suspensão ou
devolução dos prazos processuais (art. 265, V, do CPC).
ATENÇÃO Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Determinada autarquia federal era ré em uma ação ordinária e perdeu o prazo para
recorrer contra uma decisão interlocutória.
Dias após, o Procurador Regional Federal peticionou ao juiz relatando e comprovando que
estava ocorrendo uma greve geral dos Procuradores Federais e que, como a capacidade
operacional da Procuradoria Federal encontrava-se severamente comprometida, tal
situação configurava força maior, a justificar a devolução do prazo recursal e a suspensão
dos demais prazos, nos do art. 183, § 1º e art. 265, V, do CPC:
Art. 183. Decorrido o prazo, extingue-se, independentemente de declaração judicial, o
direito de praticar o ato, ficando salvo, porém, à parte provar que o não realizou por justa
causa.
§ 1º Reputa-se justa causa o evento imprevisto, alheio à vontade da parte, e que a impediu
de praticar o ato por si ou por mandatário.

Art. 265. Suspende-se o processo:


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V - por motivo de força maior;


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A tese acima exposta é admitida pelo STJ?
NÃO. Segundo a jurisprudência atual e iterativa do STJ, a greve dos advogados públicos não
constitui motivo de força maior a ensejar a suspensão ou a devolução dos prazos
processuais. Nesse sentido:
(...) A Corte Especial, em Questão de Ordem, firmou o entendimento de que o movimento
grevista não representa força maior capaz de ampliar ou devolver o prazo recursal da parte
representada por membros das carreiras em greve. (...)
(AgRg no RE nos EDcl no AgRg no Ag 786657/DF, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Corte
Especial, julgado em 30/06/2008, DJe 18/08/2008)
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.280.063-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/6/2013.

Pagamento das custas e do porte de remessa e de retorno do REsp pela internet

Nos processos de competência do STJ, é possível o pagamento de Guia de Recolhimento da União


(GRU) referente a custas processuais e porte de remessa e de retorno por meio da internet.
Comentários A Resolução do STJ n. 4/2010 (vigente anteriormente) e a atual Resolução n. 1/2011
admitem a emissão das guias de recolhimento por meio da internet. Quanto ao recolhimento,
tais resoluções não vedam o pagamento por meio da rede mundial de computadores.
O próprio site do Tesouro Nacional, cuja utilização é recomendada pelas Resoluções,
estabelece que a GRU Simples poderá ser paga no Banco do Brasil por meio da internet.
Não pode a parte de boa-fé ser prejudicada, devendo ser admitido o recolhimento pela
internet, com a juntada de comprovante emitido pelo sítio do banco.
Havendo dúvida acerca da autenticidade do comprovante de recolhimento de custas, pode-
se determinar, de ofício ou a requerimento da parte, a apresentação de documento idôneo.
Não suprida a irregularidade, será reconhecida a deserção.
Processo STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.232.385-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/6/2013.

Início do prazo de impugnação na hipótese de pagamento do valor da condenação

O pagamento espontâneo da condenação, no prazo de 15 dias (art. 475-J, caput, do CPC), NÃO
gera a preclusão do direito do devedor de impugnar o valor executado, nos termos do § 1º do
art. 475-J. Assim, o devedor poderá efetuar o pagamento do valor da condenação e, depois,
oferecer impugnação.
Nesse caso, o prazo para impugnação começará a ser contado da data em que ele efetuou o
pagamento do valor da condenação.
Comentários Veja a seguinte situação hipotética:
João ajuíza uma ação de cobrança contra Pedro. O juiz julga a sentença procedente,
condenando Pedro a pagar 1 milhão de reais. O condenado perdeu o prazo para a apelação,
de modo que ocorreu o trânsito em julgado.

O que acontece agora?


Inicia-se a fase de cumprimento de sentença e o devedor será intimado para pagar a
quantia em um prazo máximo de 15 dias, sob pena de o valor da condenação ser acrescido
de multa de 10%, conforme o art. 475-J:

Se o devedor não pagar no prazo de 15 dias, incide a multa de 10% e o que mais acontecerá?
O juiz, a requerimento do credor, que apresentará o demonstrativo do débito atualizado,
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expedirá mandado para que sejam penhorados bens do devedor para satisfação do crédito.
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INFORMATIVO esquematizado
Nessa fase, existe alguma forma de “defesa” do devedor?
Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada
impugnação.

Qual é o prazo da impugnação e a partir de quando é contado?


O prazo para impugnação também é de 15 dias e é contado a partir do momento em que o
executado é intimado, por meio de seu advogado, de que seus bens foram penhorados para
pagar a dívida:
Art. 475 (...) § 1º Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado,
na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal,
ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo,
no prazo de quinze dias.

Imagine agora a seguinte situação julgada pelo STJ:


Após o trânsito em julgado, o devedor foi intimado para pagar a quantia no prazo de 15
dias, sob pena de multa de 10%. Dentro desse prazo, o devedor efetuou o pagamento.

Após ter efetuado o pagamento, o devedor poderá impugnar o cumprimento de sentença?


SIM. O pagamento espontâneo da condenação, no prazo de 15 dias (art. 475-J, caput), não
gera a preclusão do direito do devedor de impugnar o valor executado, nos termos do § 1º
do art. 475-J.
Assim, o devedor poderá efetuar o pagamento do valor da condenação e, depois, oferecer
impugnação.

Qual é a vantagem do devedor primeiro pagar o valor da condenação e, depois, oferecer


impugnação?
Se o devedor não quitar em 15 dias o valor da condenação, ele terá que pagar mais 10% a
título de multa. Logo, se o devedor se antecipar, ele evita ter que pagar a multa e poderá
oferecer impugnação sem esse custo adicional.

Caso o devedor pague o valor da condenação, o prazo para que ele ofereça impugnação
começa a contar a partir de quando?
Começará a ser contado da data em que ele efetuou o pagamento do valor da condenação.
Segundo o STJ, esse pagamento constitui-se em uma espécie de “penhora automática”,
independentemente da lavratura do respectivo termo.
Assim, o devedor se antecipa e, para evitar ter seus bens penhorados, já paga a dívida. A
partir desse pagamento, inicia seu prazo de 15 dias para impugnar, nos termos do § 1º do
art. 475-J. Confira um precedente do STJ nesse sentido:
A jurisprudência firme do Superior Tribunal de Justiça entende que o depósito efetivado
pelo agravante, dentro do prazo de quinze dias para o adimplemento espontâneo do valor
da obrigação (art. 475-J, caput, do CPC) configura a denominada “penhora automática”.
Reconhece-se a penhora como automática diante da ciência inequívoca do ato por si
realizado, o que faz dispensável a lavratura do termo da penhora, e fundamenta o
entendimento quanto à desnecessidade de se intimar o devedor para o oferecimento da
impugnação, razão pela qual o prazo de 15 dias tem como dies a quo esse depósito.
(AgRg no AREsp 108.055/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, julgado em 21/08/2012).

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.327.781-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 2/5/2013.
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Possibilidade de penhora dos valores recebidos por anistiado político

Os valores recebidos por anistiado político a título de reparação econômica são suscetíveis de
penhora para a garantia de crédito tributário. Isso porque a Lei n. 10.559/2002, que
regulamenta o Regime do Anistiado Político, prevê que a reparação econômica devida a
anistiado político não possui caráter remuneratório ou alimentar, mas sim “caráter
indenizatório” (art. 1º, II, do CPC). Sendo assim, essas verbas se mostram passíveis de constrição,
na medida em que não foram consideradas por lei como absolutamente impenhoráveis.
Comentários Anistia política (art. 8º do ADCT e Lei n. 10.559/2002)
O art. 8º do ADCT prevê a concessão de anistia política a pessoas que foram prejudicadas
por perseguições decorrentes de motivação política no período de 18/09/1946 até a data
de promulgação da CF/88.
Há previsão de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica a ser paga
pela União.
A Lei n. 10.559/2002 regulamentou o art. 8º do ADCT e a concessão dessa anistia.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João recebeu 100 mil reais como reparação econômica por ter sido anistiado político.
Ocorre que ele estava sofrendo execução fiscal por dívidas decorrentes do não pagamento
de impostos.
O juiz da execução determinou a penhora on line dos valores contidos na conta bancária de
João, tendo sido penhorados os 100 mil reais recebidos como reparação econômica.
O executado apresentou embargos à execução pedindo a liberação da quantia, afirmando
que se tratava de verba alimentar (equiparada a salário) e, portanto, absolutamente
impenhorável, nos termos do art. 184 do CTN c/c art. 649, IV do CPC:
CTN/Art. 184. Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens, que sejam
previstos em lei, responde pelo pagamento do crédito tributário a totalidade dos bens e das
rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa
falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou
impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus ou da cláusula, excetuados
unicamente os bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis.

CPC/ Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:


IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo;

A tese defendida pelo executado está correta?


NÃO. Os valores recebidos por anistiado político a título de reparação econômica são
suscetíveis de penhora para a garantia de crédito tributário. Isso porque a Lei n.
10.559/2002, que regulamenta o Regime do Anistiado Político, prevê que a reparação
econômica devida a anistiado político não possui caráter remuneratório ou alimentar, mas
sim “caráter indenizatório” (art. 1º, II, do CPC). Sendo assim, essas verbas se mostram
passíveis de constrição, na medida em que não foram consideradas por lei como
absolutamente impenhoráveis.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.362.089-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/6/2013.
7
Página

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PENAL

Motivo fútil

Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto desta,
houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil.
Vale ressaltar, no entanto, que a discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por si só,
não afasta a qualificadora do motivo fútil. Assim, é preciso verificar a situação no caso concreto.
Comentários O delito de homicídio é previsto, em sua forma simples, no caput do art. 121 do CP:
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena. reclusão, de seis a vinte anos.

O § 2º traz as hipóteses em que o homicídio é qualificado, ou seja, situações em que o


legislador considerou que a conduta do réu seria mais grave e, por isso, mereceria uma
punição mais rigorosa.

Uma das hipóteses de homicídio qualificado ocorre quando o agente pratica o crime em
razão de um motivo fútil:
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
II - por motivo fútil;

O que é motivo fútil?


Ocorre quando a pessoa pratica o homicídio por causa de um motivo bobo, insignificante,
pequeno, mesquinho.
Ex: João matou Pedro pelo fato de a vítima não ter querido dar um cigarro para o homicida.

Todo motivo fútil é injusto, mas nem sempre o motivo injusto pode ser considerado fútil
Ex: Maria anuncia que vai se separar de Abel após 10 anos de casamento em razão de ter se
apaixonado por Pedro, vizinho do casal. Inconformado, Abel mata Maria.
O motivo é injusto, considerando que não há justificativa para ceifar a vida de uma pessoa
por conta do fim de um relacionamento. Por outro lado, não se pode dizer que a razão que
motivou o agente seja insignificante (desprezível). Nesse sentido: STJ HC 77.309/SP, Rel.
Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 06/05/2008.

Se, no caso concreto, o réu, aparentemente, não tinha motivo para matar a vítima, pode-se
dizer que houve homicídio qualificado por motivo fútil? A ausência de motivo pode ser
equiparada a motivo fútil?
NÃO (posição majoritária). A lei pune mais gravemente o motivo fútil e não a ausência de
motivo. Houve uma falha da lei. Equiparar “ausência de motivo” a “motivo fútil” é fazer
uma analogia in mallan partem. Nesse sentido: Cezar Roberto Bitencourt.

Se o agente pratica o crime por causa de ciúmes, haverá homicídio qualificado por motivo fútil?
NÃO (posição majoritária).

Um homicídio pode ser fútil (inciso II) e torpe (inciso I) ao mesmo tempo?
NÃO. Um homicídio nunca poderá ser fútil e torpe ao mesmo tempo. Se for fútil (bobo), não
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pode ser torpe (repugnante).


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INFORMATIVO esquematizado
Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto
desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil
Cleber Masson fornece um exemplo:
“Depois de discutirem futebol, “A” e “B” passam a proferir diversos palavrões, um contra o
outro. Em seguida, “A” cospe na face de “B”, que, de imediato, saca um revólver e contra
ele atira, matando-o. Nada obstante o início do problema seja fútil (discussão sobre
futebol), a razão que levou à prática da conduta homicida não apresenta essa
característica.” (Direito Penal esquematizado. 3ª ed., São Paulo: Método, 2011, p. 31).

Vale ressaltar, no entanto, que “a discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por si
só, não afasta a qualificadora do motivo fútil” (AgRg no REsp 1113364/PE, Rel. Ministro
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 06/08/2013). Assim, é preciso verificar a
situação no caso concreto.

É possível que uma pessoa pratique homicídio qualificado por motivo fútil agindo com dolo
eventual?
SIM. Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 111442/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 28/8/2012.

É possível que o homicídio seja qualificado por motivo fútil (art. 121, § 2º, II) e, ao mesmo
tempo, privilegiado (art. 121, § 1º)?
NÃO. A jurisprudência somente admite que um homicídio seja qualificado e privilegiado ao
mesmo tempo se esta qualificadora for de natureza objetiva (ex: meio cruel, surpresa). Se a
qualificadora for subjetiva, entende-se que ela é incompatível com o privilégio.
Veja essa afirmativa correta: “a presença de qualificadoras não impede necessariamente o
reconhecimento do homicídio privilegiado (MP/SE – 2010)”.
Processo STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.113.364-PE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 21/8/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IR: dedução de despesas médicas com dentista que não esteja registrado no CRO

Na declaração anual de imposto de renda, é possível a dedução de despesas feitas pelo


contribuinte com profissional de saúde, mesmo que este não seja regularmente inscrito no
respectivo conselho profissional. Ex: dentista que não esteja registrado no CRO.
Comentários IR e dedução de despesas médicas
Como é de conhecimento geral, as despesas realizadas pela pessoa física com o pagamento
de médicos, dentistas, psicólogos etc. podem ser deduzidas do imposto de renda. Tal
previsão encontra-se encartada no art. 8º, I, da Lei n. 8.134/90:
Art. 8° Na declaração anual (art. 9°), poderão ser deduzidos:
I - os pagamentos feitos, no ano-base, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas provenientes
de exames laboratoriais e serviços radiológicos;
(...)
§ 1° O disposto no inciso I deste artigo:
c) é condicionado a que os pagamentos sejam especificados e comprovados, com indicação
do nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no cadastro de
Pessoas Jurídicas, de quem os recebeu, podendo, na falta de documentação, ser feita
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indicação do cheque nominativo pelo qual foi efetuado o pagamento.


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INFORMATIVO esquematizado
Imagine agora a seguinte situação:
João fez tratamento com um dentista, tendo este emitido recibo quanto aos serviços
prestados.
Em sua declaração de imposto de renda, João fez a dedução dos gastos realizados com o
tratamento dentário.
Ocorre que a Receita Federal não aceitou as deduções, considerando que constatou que o
aludido dentista não estava regularmente inscrito no Conselho Regional de Odontologia.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


Para o STJ, na declaração anual de imposto de renda, é possível a dedução de valor
referente à despesa do contribuinte com profissional de saúde, mesmo que este não seja
regularmente inscrito no respectivo conselho profissional. Isso porque o art. 8º, I, da Lei
8.134/1990 (que estabelece rol de hipóteses de dedução do imposto de renda) não faz
qualquer exigência no sentido de que tais profissionais estejam regularmente inscritos nos
respectivos conselhos profissionais.
O § 1º, c, do art. 8º exige apenas a comprovação do gasto por meio de recibo no qual
conste nome, endereço, CPF ou CNPJ do emissor ou indicação do nome do profissional no
cheque emitido pelo contribuinte.
Assim, uma vez verificado que o contribuinte comprovou as despesas médicas nos termos
da legislação de regência, é possível a dedução efetuada na declaração de ajuste anual do
imposto de renda.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.375.793-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 4/6/2013.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Pensão por morte e filho universitário maior que 21 anos

O filho maior de 21 anos, ainda que esteja cursando o ensino superior, não tem direito à
pensão por morte, ressalvadas as hipóteses de invalidez ou deficiência mental ou intelectual
previstas no art. 16, I, da Lei 8.213/1991.
Comentários A Lei n. 8.213/91 prevê que o filho do segurado, se for menor de 21 anos (e não
emancipado), será considerado seu dependente e terá direito à pensão no caso de morte
do segurado (art. 16, I c/c art. 74).

No direito de família, a jurisprudência entende que o filho de até 24 anos de idade tem
direito à pensão alimentícia caso seja estudante universitário.

Com base nesse entendimento do direito de família, surgiu uma corrente defendendo que o
limite de até 24 anos deveria ser também aplicado ao direito previdenciário. Em outras
palavras, alguns autores passaram a defender que, se o filho do segurado fosse estudante
universitário, ele teria direito de receber a pensão por morte até que completasse 24 anos
(e não até 21 anos, como prevê a Lei).

O STJ aceitou essa tese?


NÃO. Não é possível estender a pensão por morte até os 24 anos de idade pelo fato de o
filho beneficiário ser estudante universitário.
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A Lei n. 8.213/91 é clara ao determinar que a pensão por morte cessa quando o filho do
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segurado completar 21 anos, salvo se ele for inválido. Veja:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 77. (...)
§ 2º A parte individual da pensão extingue-se:
II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de ambos os sexos, pela emancipação ou
ao completar 21 (vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido ou com deficiência intelectual
ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente;

Logo, a jurisprudência do STJ pacificou o entendimento de que, por falta de amparo legal,
não há como estender a pensão por morte ao filho do segurado até que este complete 24
anos de idade, ainda que ele seja estudante universitário.

(...) Esta Corte Superior perfilha entendimento no sentido de que, havendo lei
estabelecendo que a pensão por morte é devida ao filho inválido ou até que complete 21
(vinte e um) anos de idade, não há como, à míngua de amparo legal, estendê-la até aos 24
(vinte e quatro) anos de idade quando o beneficiário for estudante universitário. (...)
(REsp 1269915/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 13/10/2011).

O art. 16, I, da Lei 8.213/1991 (que enumera quem são os dependentes do segurado) é
taxativo, não cabendo ao Poder Judiciário legislar positivamente, usurpando função do
Poder Legislativo.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.369.832-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 12/6/2013 (recurso repetitivo).

Pensão por morte e recolhimento de contribuições post mortem

Não se admite o recolhimento post mortem de contribuições previdenciárias a fim de que,


reconhecida a qualidade de segurado do falecido, seja garantida a concessão de pensão por
morte aos seus dependentes.
Comentários BENEFICIÁRIOS, SEGURADOS E DEPENDENTES

Você sabe a diferença entre beneficiários, segurados e dependentes?


Beneficiário da Previdência Social é um gênero que abrange duas espécies: segurados e
dependentes.

Segurados Dependentes
São pessoas que, em razão de exercício de São as pessoas que recebem uma proteção
atividade (obrigatórios) ou mediante o previdenciária pelo fato de terem uma
recolhimento de contribuições (facultativos), relação com o segurado.
vinculam-se diretamente ao Regime Geral.
Estão vinculados diretamente ao regime Estão vinculados de forma reflexa, em
geral. razão da relação que possuem com o
segurado.

Facultativos

a) Segurados
Empregado
Empregado doméstico
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Obrigatórios Trabalhador avulso


Segurado especial
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Contribuinte individual

INFORMATIVO esquematizado
1ª classe
b) Dependentes 2ª classe
3ª classe

Filiação do segurado
Para que o indivíduo possa ser considerado segurado é necessário que ele seja filiado à
Previdência Social.
Filiação é a relação jurídica que se estabelece entre o indivíduo e o INSS, fazendo com que
este se torne segurado da Previdência Social e passe a ter direitos (ex: auxílio-doença,
aposentadoria) e obrigações (ex: pagamento das contribuições previdenciárias).

Como e quando é feita a filiação?


Segurados OBRIGATÓRIOS Segurados FACULTATIVOS
Em regra, a filiação é automática e decorre Ocorre quando o indivíduo efetua a sua
do simples fato de o indivíduo ter iniciado inscrição (cadastramento) no RGPS e
uma atividade laborativa remunerada. efetua o pagamento da primeira
contribuição previdenciária.

Obs: no caso do contribuinte individual que


trabalhe por conta própria (ex:
microempresário), para ser filiado ao RGPS,
ele mesmo precisará fazer o recolhimento
(pagamento) das contribuições
previdenciárias, já que não presta serviços
a nenhum empregador.

PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO

Vimos acima que, em regra, o segurado obrigatório filia-se ao RGPS com o início de uma
atividade laborativa remunerada. No caso do contribuinte individual que trabalhe por conta
própria, ele deverá fazer o pagamento das contribuições previdenciárias.

Se o segurado deixa de realizar atividade laborativa remunerada (ex: é demitido) ou deixa


de pagar a contribuição previdenciária (no caso do contribuinte individual), ele irá perder a
qualidade de segurado, ou seja, deixará de ser segurado da Previdência Social e não mais
terá direito aos benefícios previdenciários.

Vale ressaltar que essa perda não é imediata. O art. 15 da Lei n. 8.213/91 prevê que a
pessoa, mesmo sem estar pagando as contribuições previdenciárias, continuará sendo
segurada do INSS por um tempo, que é chamado de “período de graça”.

Período de graça é, portanto, um tempo previsto na lei em que o indivíduo continua sendo
segurado do INSS mesmo sem estar pagando contribuição previdenciária. É uma forma de
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ajudar a pessoa que pode estar momentaneamente desempregada ou, por razões de
adversidade, impossibilitada de recolher a contribuição previdenciária. Veja o que diz o art.
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15, II, da Lei n. 8.213/91:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer
atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado
sem remuneração;

Durante o período de graça, o segurado conserva todos os seus direitos perante a


Previdência Social (§ 3º do art. 15). Da mesma forma, durante o período de graça, os
dependentes do segurado também permanecem com os mesmos direitos.

Passado o período de graça sem que o indivíduo volte a pagar as contribuições


previdenciárias, ele perde a condição de segurado e seus dependentes também deixam de
gozar da proteção da Previdência Social.

PENSÃO POR MORTE

Em que consiste:
A pensão por morte é um benefício previdenciário pago pelo INSS aos dependentes do
segurado em virtude do falecimento deste.
Em suma, quando o segurado morre, seus dependentes passam a ter direito de receber
uma pensão mensal.
Independe de carência
A pensão por morte não está sujeita à carência (não precisa que haja o pagamento de um
número mínimo de contribuições). Assim, se a pessoa se tornou segurada do RGPS no dia
de ontem e hoje morreu, seus dependentes terão direito à pensão por morte.

Momento da morte
Para que os dependentes tenham direito à pensão por morte, é indispensável que, no momento
do óbito, o falecido ainda seja segurado do RGPS e não tenha perdido essa condição.

Imagine agora a seguinte situação:


João era microempresário e, portanto, contribuinte individual do RGPS. Todos os meses ele
próprio recolhia a contribuição previdenciária. Determinado dia João concluiu que era um
desperdício “ficar pagando o INSS” e decidiu não mais recolher a contribuição
previdenciária. Três anos depois, João morre.

Os dependentes de João terão direito à pensão por morte?


NÃO, considerando que, quando ele faleceu, já havia perdido a condição de segurado.
Como ele deixou de ser segurado, seus dependentes também passaram a não mais gozar da
proteção da Previdência Social.

Os dependentes do falecido João poderão recolher retroativamente todas as contribuições em


atraso e, com isso, reativarem a sua condição de segurado e terem direito à pensão por morte?
NÃO. Não é possível que os dependentes façam o recolhimento das contribuições
previdenciárias em atraso, após a morte do segurado, a fim de poder receber a pensão por
morte.

Esse benefício é devido ao conjunto de dependentes do segurado que falecer, mas desde
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que exista, ao tempo do óbito, a qualidade de segurado do instituidor.


Assim, no caso do contribuinte individual que trabalhe por conta própria, é imprescindível o
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recolhimento das contribuições pelo próprio contribuinte, de acordo com o art. 30, II, da Lei

INFORMATIVO esquematizado
8.212/1991. Logo, para que seus dependentes recebam a pensão por morte é necessário
que tenha havido o recolhimento das respectivas contribuições em época anterior ao óbito,
diante da natureza contributiva do sistema.
Dessa forma, não há base legal para uma inscrição post mortem ou para que sejam
regularizadas, após a morte do segurado, as contribuições não recolhidas em vida por ele.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.346.852-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/5/2013.

DIREITO AMBIENTAL

Possibilidade dos Estados-membros disporem sobre fontes de abastecimento de água

É possível que o Estado-membro, por meio de decreto e portaria, determine que os usuários
dos serviços de água tenham em suas casas, obrigatoriamente, uma conexão com a rede
pública de água. O decreto e a portaria estaduais também poderão proibir o abastecimento de
água para as casas por meio de poço artesiano, ressalvada a hipótese de inexistência de rede
pública de saneamento básico.
Comentários As águas subterrâneas são consideradas como bens do Estado-membro (art. 26, I, da
CF/88).
A competência para legislar sobre a defesa dos recursos naturais e a proteção do meio
ambiente é concorrente, sendo, portanto, também de competência dos Estados-membros
(art. 24, VI, da CF).
Por fim, é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
proteger o meio ambiente (art. 23, VI) e registrar, acompanhar e fiscalizar a exploração de
recursos hídricos e minerais em seus territórios (art. 23, XI).
Assim, a intervenção dos Estados-membros nos assuntos hídricos não só é permitida como
também é imperativa.
Vale acrescentar que o inciso II do art. 12 da Lei 9.433/1997 condiciona a extração de água
do subterrâneo à respectiva outorga, o que se justifica pela notória escassez do bem,
considerado como recurso limitado, de domínio público e de expressivo valor econômico.
Nesse contexto, apesar de o art. 45 da Lei 11.445/2007 admitir soluções individuais de
abastecimento de água, a interpretação sistemática do dispositivo não afasta o poder
normativo e de polícia dos Estados no que diz respeito ao acesso às fontes de
abastecimento de água e à determinação de conexão obrigatória à rede pública.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.306.093-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013.

DIREITO INTERNACIONAL

Convenção da Haia

Não se deve ordenar o retorno ao país de origem de criança que fora retida ilicitamente no Brasil
por sua genitora na hipótese em que, entre a transferência da criança e a data do início do processo
para sua restituição, tenha decorrido mais de um ano e, além disso, tenha sido demonstrado, por
meio de avaliação psicológica, que a criança já estaria integrada ao novo meio em que vive e que
uma mudança de domicílio poderia causar malefícios ao seu desenvolvimento.
Comentários Convenção da Haia
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O Brasil é signatário da “Convenção Sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de


Crianças” (Convenção da Haia), que vige em nosso país desde o dia 1º de janeiro de 2000,
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por força do Decreto 3.413/2000.

INFORMATIVO esquematizado
Segundo o artigo 1º, essa Convenção tem por objetivo:
a) assegurar o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer Estado
Contratante ou nele retidas indevidamente;
b) fazer respeitar de maneira efetiva nos outros Estados Contratantes os direitos de guarda
e de visita existentes num Estado Contratante.

Em simples palavras, esta Convenção foi assinada para facilitar a devolução de crianças que
tenham sido levadas ilicitamente de um país para o outro ou que tenham sido levadas
licitamente, mas que não tenham retornado no período certo.

Antes dessa Convenção, esse procedimento era muito difícil porque envolvia o Poder
Judiciário de dois países soberanos distintos, além do que as pessoas que haviam levado a
criança normalmente propunham no país onde ela passou a morar uma ação para
regularizar a guarda do infante.

Procedimento da Convenção
Vamos resumir o procedimento previsto na Convenção da Haia com um exemplo. Vale
ressaltar que não serão abordadas peculiaridades e que, se você quiser aprofundar o
assunto, deverá ler o Decreto 3.413/2000.

Criança “A” é levada ilicitamente dos EUA para o Brasil.

O pai de “A”, que detinha o direito de guarda segundo as leis estadunidenses, comunica o fato
à Autoridade Central dos EUA. Esta entra em contato com a Autoridade Central do Brasil.

A chamada “Autoridade Central” é o órgão designado pela lei do país para dar aplicabilidade à
Convenção da Haia. No Brasil, é a Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH.

A Autoridade Central do Brasil (SEDH), comunicada pela Autoridade Central dos EUA tenta
localizar a criança e fazer o seu retorno de forma voluntária (amigável).

Não sendo possível, a SEDH encaminha o caso à Advocacia-Geral da União (AGU) para que
esta promova, representando a União, ação judicial de busca, apreensão e restituição da
criança ao país de onde veio.

Essa ação é de competência da Justiça Federal de 1ª instância (art. 109, I e III, da CF/88).

O Artigo 12 da Convenção afirma o seguinte:


Quando uma criança tiver sido ilicitamente transferida ou retida nos termos e tenha
decorrido um período de menos de 1 ano entre a data da transferência ou da retenção
indevidas e a data do início do processo perante a autoridade judicial ou administrativa
do Estado Contratante onde a criança se encontrar, a autoridade respectiva deverá
ordenar o retomo imediato da criança.
Quando se tiver passado mais de 1 ano, a autoridade judicial ou administrativa poderá
negar o retorno da criança se ficar provado que ela já se encontra integrada no seu
novo meio.

Caso julgado pelo STJ


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No caso julgado pelo STJ, a ação foi proposta após o prazo de 1 (um) ano a que se refere o
art. 12 da Convenção.
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Além disso, foi realizado um estudo psicológico que atestou que a menor se encontra

INFORMATIVO esquematizado
inteiramente integrada ao meio em que vive e que a mudança de domicílio poderá causar
malefícios no seu futuro desenvolvimento. Logo, o retorno da criança ao Estado de origem
iria contra o interesse da menor, finalidade principal da Convenção.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.293.800-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/5/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (DPE/ES 2009 CESPE – adaptada) Considerando que um avião comercial tenha caído em área residencial brasileira, são
consumidores por equiparação as pessoas físicas ou jurídicas que, mesmo sem terem sido partícipes da relação de
consumo, foram atingidas em sua saúde ou segurança em virtude da queda da aeronave. ( )
2) (DPE/ES 2009 CESPE – adaptada) Considerando que um avião comercial tenha caído em área residencial
brasileira, os passageiros (consumidores do serviço) que foram atingidos pelo evento danoso — acidente de
consumo — são denominados bystanders. ( )
3) (DPE/ES 2009 CESPE – adaptada) Considerando que um avião comercial tenha caído em área residencial
brasileira, se as pessoas que passavam na rua tiverem sido atingidas em sua integridade física pela queda do
avião, tal fato ensejará a essas pessoas o direito às garantias legais instituídas no CDC, como, por exemplo, a
inversão do ônus da prova em seu favor. ( )
4) (Juiz Federal TRF1 2009 CESPE) As pessoas atingidas por um acidente aéreo, ainda que não sejam passageiros, são
equiparadas aos consumidores. ( )
5) (DPE/ES 2012 CESPE) As vítimas de acidente aéreo com aeronave comercial, sejam elas passageiros ou pessoas
que se encontrem em superfície, são designadas consumidores stricto sensu pela doutrina, devendo a elas ser
estendidas as normas do CDC. ( )
6) (Juiz Federal TRF4 2012) No Regime Geral de Previdência Social, extingue-se o direito à pensão por morte do
dependente que atinge 21 anos de idade, salvo se estudante de curso superior, observado nesse caso o limite de
24 anos, na linha de precedentes do Superior Tribunal de Justiça. ( )

Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. C 5. E 6. E

Olá amigos, vocês já conhecem o meu livro?


PRINCIPAIS JULGADOS DO STF E STJ COMENTADOS 2012
Trata-se da compilação e a organização de todos os informativos
esquematizados de 2012.
Além de tornar a leitura mais agradável, se comparado com a tela do
computador, o livro tem outra grande vantagem: os julgados foram
agrupados de acordo com os ramos do direito e, dentro de cada um deles,
foram organizados segundo os respectivos assuntos. Assim, por exemplo,
no capítulo sobre “Processo Civil”, temos diversos subtópicos para tratar
sobre competência, petição inicial, citação, intimação, litisconsórcio, tutela
antecipada, recursos etc.
Vale ressaltar, ainda, que a obra conta com um extenso índice, que facilita a
busca rápida dos temas.
Com isso, o livro foi organizado como se fosse um curso, envolvendo os
principais assuntos de cada matéria, com trechos de doutrina, lei e,
principalmente, a explicação dos julgados de 2012.
16

O livro possui mais de 1000 páginas e está sendo vendido no site


www.dizerodireito.com.br por R$ 94,00 (valor que inclui o frete).
Página

Se puderem, comprem para nos ajudar.

INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR
RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO ADMINISTRATIVO. REGRAS DE PROGRESSÃO NA CARREIRA DA EDUCAÇÃO BÁSICA, TÉCNICA E


TECNOLÓGICA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. N. 8/2008-STJ).
Até o advento do Decreto 7.806/2012, que regulamenta o art. 120 da Lei 11.784/2008, era possível a
docente da Carreira da Educação Básica, Técnica e Tecnológica progredir por titulação sem observância
de interstício temporal.
Conforme o art. 120 da Lei n. 11.784/2008, “o desenvolvimento na Carreira de Magistério do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico dos servidores que integram os Quadros de Pessoal das Instituições Federais de
Ensino, subordinadas ou vinculadas ao Ministério da Educação, ocorrerá mediante progressão funcional,
exclusivamente, por titulação e desempenho acadêmico, nos termos do regulamento”. Ainda, conforme o §
1º do mesmo artigo, a progressão funcional será feita após o professor cumprir o interstício de dezoito
meses de efetivo exercício no nível respectivo. Ocorre que o § 5º do aludido dispositivo legal prevê que, até
que seja publicado o regulamento previsto no caput para fins de progressão funcional e desenvolvimento
na respectiva carreira, devem ser aplicadas as regras estabelecidas nos arts. 13 e 14 da Lei n. 11.344/2006,
nas quais há previsão de progressão por titulação sem cumprimento de interstício temporal. Assim, o
entendimento do STJ é que a progressão dos docentes da carreira do magistério básico, técnico e
tecnológico federal, até a publicação do Decreto n. 7.806/2012, é regida pelas disposições da Lei n.
11.344/2006, com duas possibilidades: por interstício, com avaliação de desempenho; e por titulação, sem
observância do interstício.
REsp 1.343.128-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

DIREITO EMPRESARIAL. AVAL EM CÉDULA DE CRÉDITO RURAL.


Tratando-se de Cédula de Crédito Rural emitida por pessoa física, é nulo o aval prestado por pessoa física
estranha ao negócio jurídico garantido.
Segundo o art. 60, caput, do Decreto-lei 167/1967, são aplicáveis às cédulas de crédito rural as mesmas
regras de direito cambiário, no que forem cabíveis, inclusive em relação ao aval, dispensado o protesto
para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus avalistas. Contudo, o § 3º do mencionado
dispositivo define que são nulas quaisquer garantias reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente, pela própria empresa ou por outras pessoas jurídicas.
Precedente citado: REsp 599.545-SP, Terceira Turma, DJ 25/10/2007.
REsp 1.353.244-MS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 28/5/2013.

DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL. PRAZO PRESCRICIONAL DAS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO CONTRA ARMAZÉNS GERAIS.
Nas ações de indenização contra armazéns gerais, o prazo prescricional é de três meses. Isso porque o
disposto no art. 11 do Dec. 1.102/1903 é norma especial em relação ao art. 177 do CC/1916. Precedentes
citados: REsp 767.246-RJ, Quarta Turma, DJ 27/11/2006; REsp 89.494-MG, Quarta Turma, DJ de 29/8/2005.
AgRg no REsp 1.186.115-RJ, Rel. Min. Isabel Gallotti, julgado em 14/5/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 526 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.265.894-RS; REsp 634.096-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Auxílio-alimentação e recebimento durante as férias

O servidor público tem direito de continuar recebendo o auxílio-alimentação mesmo durante o


período em que estiver de férias.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Determinado servidor público tem direito, por lei, ao recebimento de auxílio-alimentação.
Quando este servidor entrou de férias, a Administração Pública suspendeu o pagamento do
auxílio sob o argumento de que se trata de verba de natureza indenizatória e propter
laborem, de forma que não seria devida porque ele não se encontrava trabalhando.

A decisão da Administração Pública está de acordo com a jurisprudência do STJ?


NÃO. Para o STJ, o servidor público tem direito de continuar recebendo o auxílio-
alimentação mesmo durante o período em que estiver de férias. Isso porque o art. 102,
inciso I, da Lei n. 8.112/90 prevê que deve ser considerado como de efetivo exercício o
afastamento em virtude de férias.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.360.774-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/6/2013.

Autoridade competente pode discordar fundamentadamente das conclusões da comissão no PAD

No processo administrativo disciplinar, quando o relatório da comissão processante for


contrário às provas dos autos, admite-se que a autoridade julgadora decida em sentido diverso
daquele apontado nas conclusões da referida comissão, desde que o faça motivadamente.
Comentários FASES DO PAD
O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases (art. 151 da Lei n. 8.112/90):
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;
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II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório;


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III - julgamento.

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I – INSTAURAÇÃO
Portaria de instauração do PAD
O PAD é instaurado por meio de uma portaria, na qual constará o nome de 3 servidores
estáveis no serviço público, que irão formar a comissão que conduzirá os trabalhos do
processo disciplinar.

Finalidade da comissão
A função precípua da comissão é a apuração dos fatos, concluindo pela inocência ou
responsabilidade do servidor (art. 165).

II – INQUÉRITO ADMINISTRATIVO
Nesta fase, ocorrerá a instrução, defesa e elaboração do relatório pela comissão
processante.

Relatório
Relatório é o documento no qual a comissão expõe as suas conclusões sobre as provas
produzidas e a defesa apresentada pelo acusado.
O relatório deve ser motivado e conclusivo, ou seja, precisa apontar se a comissão
recomenda a absolvição do servidor ou a sua condenação, sugerindo a punição aplicável.
Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento, segundo a
estrutura hierárquica do órgão.

III – JULGAMENTO
O processo disciplinar se encerra mediante o julgamento do feito pela autoridade
competente.
A autoridade competente para o julgamento irá absolver ou condenar o servidor.
O relatório da comissão será submetido à autoridade competente, que poderá acolher ou
não as conclusões expostas nesse documento.
Se decidir acolher: não precisará motivar essa decisão, podendo encampar a
fundamentação exposta no relatório.
Se decidir não acolher: nesse caso, é indispensável a motivação, demonstrando que o
relatório contraria as provas dos autos.

Nesse sentido:
Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas
dos autos.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos autos, a
autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la
ou isentar o servidor de responsabilidade.

Recentemente decidiu o STJ:


(...) A autoridade julgadora não está atrelada às conclusões propostas pela comissão,
podendo delas discordar, motivadamente, quando o relatório contrariar a prova dos autos,
nos termos do art. 168 da Lei n.º 8.112/90. (...)
(MS 16.174/DF, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, julgado em 14/12/2011)
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Processo STJ. 1ª Seção. MS 17.811-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2013.

INFORMATIVO esquematizado
PAD e destituição de cargo em comissão

Deve ser aplicada a penalidade de destituição de cargo em comissão na hipótese em que se


constate que servidor não ocupante de cargo efetivo, valendo-se do cargo, tenha indicado
irmão, nora, genro e sobrinhos para contratação por empresas recebedoras de verbas
públicas, ainda que não haja dano ao erário ou proveito pecuniário e independentemente da
análise de antecedentes funcionais.
Comentários A conduta desse agente enquadra-se no art. 117, IX, da Lei n. 8.112/90:
Art. 117. Ao servidor é proibido:
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da
dignidade da função pública;

Trata-se de ilícito administrativo de natureza formal. Logo, não importa, para a sua
configuração, qualquer discussão acerca da eventual ocorrência de dano ao erário ou da
existência de proveito pecuniário, pois o que se pretende é impedir o desvio de conduta por
parte do servidor.

Ressalte-se que a existência de bons antecedentes funcionais não é suficiente para impedir
a aplicação da penalidade, pois a Administração Pública, quando se depara com situações
como essa, não dispõe de discricionariedade para aplicar pena menos gravosa, tratando-se,
sim, de ato vinculado.
Processo STJ. 1ª Seção. MS 17.811-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR


(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais específicos)

Direito de anistiado político aos benefícios indiretos dos militares

A condição de anistiado político confere ao militar o direito aos planos de seguro e de


assistência médica, odontológica e hospitalar assegurados aos militares.
Comentários O art. 14 da Lei n. 10.559/2002 (Lei de Anistia), afirma que ao “anistiado político são
também assegurados os benefícios indiretos mantidos pelas empresas ou órgãos da
Administração Pública a que estavam vinculados quando foram punidos”. Portanto, os
anistiados políticos fazem jus aos planos de seguro e de assistência médica, odontológica e
hospitalar assegurados aos militares, pois estes constituem direito dos militares, consoante
o disposto no art. 50, IV, "e", da Lei 6.880/1980 (Estatuto dos Militares).
Processo STJ. 3ª Seção. MS 10.642-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/6/2013.

DIREITO CIVIL

Teoria da imprevisão e resolução do contrato por onerosidade excessiva

A ocorrência de “ferrugem asiática” na lavoura de soja não enseja, por si só, a resolução de
contrato de compra e venda de safra futura em razão de onerosidade excessiva. Isso porque o
advento dessa doença em lavoura de soja não constitui o fato extraordinário e imprevisível exigido
pelo art. 478 do CC/2002, que dispõe sobre a resolução do contrato por onerosidade excessiva.
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Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:


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Determinado agricultor de soja firmou, em 2003, contrato com indústria, para vender sua
safra futura de 2003/2004, estipulando, desde logo, o valor de 10 dólares por saca.
INFORMATIVO esquematizado
Após a assinatura do contrato, houve “exagerada elevação do preço da soja, mormente em
vista da baixa produtividade da safra americana em face de adversidades climáticas, a alta
do dólar e, sobretudo, a baixa produtividade da safra brasileira, também em face de
adversidades climáticas e da devastadora ferrugem asiática”, chegando a cotação do
produto a atingir o valor de 16 dólares por saca. Esse agricultor ajuizou ação contra a
indústria objetivando a rescisão do contrato, sob o argumento de que houve onerosidade
excessiva segundo a teoria da imprevisão.

O STJ acolheu a tese defendida por esse produtor de soja?


NÃO. O STJ entendeu que a variação do preço da saca da soja ocorrida após a celebração do
contrato não se consubstancia acontecimento extraordinário e imprevisível, inapto,
portanto, à revisão da obrigação com fundamento em alteração das bases contratuais.

Veja a redação dos arts. 317 e 478 do CC que espelha, segundo a maioria da doutrina e
jurisprudência, a teoria da imprevisão, adotada pelo Código Civil:
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o
valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a
pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude
de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Deve-se relembrar a lição de Caio Mário para quem “nunca haverá lugar para a aplicação da
teoria da imprevisão naqueles casos em que a onerosidade excessiva provém da álea
normal e não do acontecimento imprevisto, como ainda nos contratos aleatórios, em que o
ganho e a perda não podem estar sujeitos a um gabarito determinado” (Instituições de
direito civil. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, v. III, p. 167).

As oscilações no preço da soja são previsíveis no momento da assinatura do contrato, visto


que se trata de produto de produção comercializado na bolsa de valores e sujeito às
demandas de compra e venda internacional.
A alegação do vendedor de que o preço da soja deveria ser maior que o fixado no contrato
porque ele teve prejuízos imprevisíveis com a peste chamada de “ferrugem asiática”
também não foi aceita pelo STJ porque esta é uma doença que atinge as lavouras do Brasil
desde 2001, não sendo imprevisível, além de poder ser controlada.
Assim, o advento dessa doença em lavoura de soja não constitui o fato extraordinário e
imprevisível exigido pelo art. 478 do CC/2002, que dispõe sobre a resolução do contrato por
onerosidade excessiva.
Teoria da Teoria da imprevisão (CC) x Teoria do rompimento da base objetiva do negócio jurídico
imprevisão x (CDC)
Teoria do O CDC, ao contrário do CC-2002, não adotou a teoria da imprevisão, mas sim a teoria do
rompimento rompimento da base objetiva do negócio jurídico, inspirada na doutrina alemã, muito bem
da base desenvolvida por Karl Larenz.
objetiva do Pela teoria acolhida pelo CDC, haverá revisão do contrato se um fato superveniente alterou
negócio as bases objetivas do ajuste, ou seja, o ambiente econômico inicialmente presente. Não
jurídico interessa se este fato era previsível ou imprevisível. Conforme lição do Professor Leonardo
Garcia, podemos fazer as seguintes comparações (Direito do Consumidor. Código
4

Comentado e Jurisprudência. 3ª ed., Niterói: Impetus, 2007, p. 39):


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INFORMATIVO esquematizado
Teoria da imprevisão Teoria da base objetiva do negócio
jurídico
Surgida na França, no pós 1ª Guerra. Surgida na Alemanha, também no pós 1ª
Guerra.
É uma teoria subjetiva. É uma teoria objetiva.
Prevista nos arts. 317 e 478 do CC. Prevista no art. 6º, V, do CDC.
Exige a imprevisibilidade e a Dispensa a imprevisibilidade e o caráter
extraordinariedade do fato superveniente. extraordinário dos fatos supervenientes.
Somente exige um fato superveniente que
rompa a base objetiva.
Exige a extrema vantagem para o credor. Não exige esta condição.

Outras observações
Vale ressaltar que o instituto da onerosidade excessiva (teoria da imprevisão do CC),
apesar de ser mais comum no caso de contratos bilaterais, pode ser aplicado também
aos contratos unilaterais, conforme se percebe pelo art. 480 do CC;
Caso o Poder Judiciário reconheça, no caso concreto, a onerosidade excessiva, e aplique
a teoria da imprevisão para resolver o contrato, as prestações pagas pela parte antes do
ingresso em juízo não poderão ser revistas, tendo sido válidos e eficazes os pagamentos
espontâneos efetuados pelo devedor. Esta sentença reconhecendo que houve
onerosidade excessiva e que as prestações pagas pelo devedor são indevidas somente
retroage até a data da citação do réu (parte final do art. 478 do CC). Em outras palavras,
o que o devedor pagou antes da citação ele não poderá mais questionar, somente o
que, eventualmente, arcou após este marco.
A resolução do contrato por onerosidade excessiva é diferente da rescisão do contrato
por lesão (art. 157 do CC). Ocorre a lesão quando a pessoa se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Desse modo, para que
haja a lesão (rescisão lesionária) é necessário que esta desproporção seja
contemporânea à celebração do negócio jurídico. No caso da onerosidade excessiva,
por sua vez, é necessário que esta ocorra por força de fatos posteriores
(supervenientes) à celebração do contrato.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 866.414-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2013.

Alienação fiduciária em garantia

A medida de busca e apreensão prevista no art. 3º do DL 911/69 somente pode ser proposta
por instituição financeira ou pessoa jurídica de direito público titular de créditos fiscais e
previdenciários. Isso porque, de acordo com o art. 8º-A do referido DL, o procedimento ali
previsto somente é aplicável quando se tratar de operações do mercado financeiro e de
capitais ou de garantia de débitos fiscais ou previdenciários.
Comentários
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA

Conceito
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em
confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma
instituição financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado
quando verificada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz.
5

Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565).


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INFORMATIVO esquematizado
Regramento
O Código Civil de 2002 trata, de forma genérica, sobre a propriedade fiduciária em seus
arts. 1.361 a 1.368-A. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:
Alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei n. 9.514/97.
Alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei
n. 4.728/65 e Decreto-Lei n. 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel
comprado por meio de financiamento bancário com garantia de alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas
de forma subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária
submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as
disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.

Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis e bens MÓVEIS infungíveis
Alienação fiduciária de
infungíveis quando o credor quando o credor fiduciário
bens IMÓVEIS
fiduciário for instituição for pessoa natural ou
financeira jurídica (sem ser banco)
Lei n. 4.728/65 Código Civil de 2002
Lei n. 9.514/97
Decreto-Lei n. 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)

Alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais:


Imagine a seguinte situação hipotética:
Antônio quer comprar um carro de R$ 30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00.
Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia
de alienação fiduciária. Assim, o Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o
veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro
ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. Em outras palavras, Antônio ficará
andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel é do Banco “X”
(constará “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade
resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-
se” (acaba) e este passa a pertencer a Antônio.

O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)?


Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo
Decreto-Lei n. 911/69):

1) Notificação do credor: o credor (mutuante) deverá notificar o devedor, por meio do


Cartório de Registro de Títulos e Documentos, de que este se encontra em débito,
comprovando, assim, a mora.
Súmula 72 do STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do
bem alienado fiduciariamente.

2) Ajuizamento da ação: após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá


ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem
6

(art. 3º do DL 911/69).
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INFORMATIVO esquematizado
3) Concessão da liminar: o juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir
o devedor), desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do
DL 911/69).

4) Apreensão do bem: o bem é apreendido e entregue ao credor.

5) Possibilidade de purgação da mora: no prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar


(apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida
pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese
na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). A isso se
dá o nome de “purgação da mora”.

6) Contestação: no prazo de 15 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o


devedor fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação).

Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido purgar a
mora, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição.

Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade
das cláusulas contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o
contrato era abusivo, isso justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora.

7) Sentença: da sentença proferida cabe apelação apenas no efeito devolutivo.

Pergunta:
Essa ação de busca e apreensão, regulamentada pelo DL 911/69, pode ser ajuizada em
qualquer espécie de alienação fiduciária de bens móveis? Ex: uma loja cede a posse direta
de uma geladeira para a compradora mediante alienação fiduciária.
NÃO. A medida de busca e apreensão prevista no art. 3º do DL 911/69 somente pode ser
proposta por instituição financeira ou pessoa jurídica de direito público titular de créditos
fiscais e previdenciários.

O art. 8º-A do referido DL, determina que tal procedimento judicial especial aplique-se
exclusivamente às seguintes hipóteses:
(i) operações do mercado financeiro e de capitais; e
(ii) garantia de débitos fiscais ou previdenciários.
Em outras palavras, é vedada a utilização do rito processual da busca e apreensão, tal qual
disciplinado pelo Decreto-Lei n. 911/1969, ao credor fiduciário que não se revista da
condição de instituição financeira lato sensu ou de pessoa jurídica de direito público titular
de créditos fiscais e previdenciários.

Deve-se destacar, ainda, que a medida de busca e apreensão prevista no Decreto-lei


911/1969 constitui processo autônomo, de caráter satisfativo e de cognição sumária, que
ostenta rito célere e específico. Trata-se, pois, de medida que objetiva conferir maiores
garantias aos credores, estimulando o crédito e fortalecendo o mercado produtivo, sendo
aplicável a apenas um determinado setor da economia.

Providências cabíveis diante do inadimplemento do devedor


(CHALHUB, Melhim Namem. Negócio Fiduciário. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 218)
7

Alienação fiduciária regida pela Lei 4.728/65 Alienação fiduciária regulada pelo CC-2002
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(alienação fiduciária mercadológica). (alienação fiduciária paritária).

INFORMATIVO esquematizado
Ação de busca e apreensão, com o Ação de reintegração de posse
procedimento especial do DL 911/69 (é Ação reivindicatória ou
mais célere que a cautelar prevista no CPC). Ação de depósito
Legitimados para essa ação: Legitimados para essas ações:
Fisco Todas as demais pessoas, naturais ou
Previdência social e jurídicas, que sejam titulares de
Entidades que operam no mercado propriedade fiduciária de bens móveis em
financeiro e de capitais. garantia.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.101.375-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/6/2013.

Responsabilidade civil em caso de erro de árbitro de futebol

Não gera dano moral indenizável ao torcedor, pela entidade responsável pela organização da
competição, o erro não intencional de arbitragem, ainda que resulte na eliminação do time do
campeonato e mesmo que o árbitro da partida tenha posteriormente reconhecido o erro cometido.
Comentários A situação fática foi a seguinte:
Na “Copa do Brasil” de 2007, durante jogo entre Atlético Mineiro e Botafogo, o atacante do
clube mineiro foi derrubado na área, mas o árbitro não marcou pênalti. Com o resultado da
partida, o clube carioca foi classificado.
Em uma entrevista no dia seguinte ao jogo, o árbitro declarou que, revendo o lance pela TV,
constatou que havia realmente errado e que deveria ter marcado o pênalti.
Diante disso, um torcedor atleticano ingressou com ação de indenização por danos morais
contra a Confederação Brasileira de Futebol – CBF.

Diante de um evidente erro de arbitragem (equívoco não intencional), com potencial para
influir decisivamente no resultado do jogo, é possível que a entidade organizadora do
campeonato seja condenada a compensar o torcedor por danos morais?
NÃO. O STJ decidiu que NÃO gera dano moral indenizável ao torcedor o erro não
intencional de arbitragem, ainda que resulte na eliminação do time do campeonato e
mesmo que o árbitro da partida tenha posteriormente reconhecido o equívoco cometido
durante o jogo.

Inicialmente, deve-se ressaltar que o vínculo entre o torcedor e a CBF é, de fato, uma
relação de consumo, considerando que o art. 3º do Estatuto do Torcedor (Lei n.
10.671/2003) equipara a entidade organizadora do campeonato a um fornecedor de
serviços.

Todavia, para que se pudesse reconhecer a responsabilidade civil, nos termos do art. 14 do
CDC, seria necessária a comprovação de três requisitos:
ato ilícito (omissivo ou comissivo);
nexo de causalidade; e
dano.

Não há ato ilícito


Em uma partida de futebol é normal e esperado que o árbitro cometa alguns erros, até
8

mesmo porque ele não pode utilizar-se de recursos tecnológicos, como o replay pela TV ou
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o auxílio de programas de computador. O árbitro fica com a incumbência de decidir lances


difíceis em frações de segundo, valendo-se apenas de sua acuidade visual e da colaboração

INFORMATIVO esquematizado
dos árbitros auxiliares (“bandeirinhas”).
Assim, diante da ocorrência de erro de arbitragem, ainda que com potencial para influir
decisivamente no resultado da partida esportiva, mas não sendo constatado o dolo do
árbitro, não há que se falar em ato ilícito.

Não há comprovação do nexo de causalidade


Além disso, não há como se comprovar, com certeza, o nexo de causalidade entre o erro
cometido e o resultado ocorrido. Em outras palavras, não se pode ter plena convicção de
que se o pênalti tivesse sido marcado, o clube em questão teria vencido a partida.

Não há dano moral indenizável


Vale ressaltar que a derrota de time de futebol, ainda que atribuída a erro da arbitragem, é
dissabor que também não tem o condão de causar mágoa duradoura, a ponto de interferir
intensamente no bem-estar do torcedor, sendo recorrente em todas as modalidades de
esporte que contam com equipes competitivas. Não há, portanto, dano moral, sendo
verificado, em tais casos, um mero aborrecimento, contratempo, mágoa (inerentes à vida
em sociedade).

Não há inadimplemento contratual


Por fim, não se pode afirmar que houve inadimplemento contratual, pois não há legítima
expectativa de que o espetáculo esportivo possa transcorrer sem que ocorra algum erro de
arbitragem não intencional, ainda que grosseiro, a envolver marcação que hipoteticamente
pudesse alterar o resultado do jogo. Ao contrário, conforme já explicado, os erros de
arbitragem em uma partida de futebol são comuns e até esperados.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.944-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2013.

Responsabilidade civil de hospital particular antes da vigência do CDC: SUBJETIVA

Para que hospital particular seja civilmente responsabilizado por dano a paciente em razão de
evento ocorrido na vigência do CC/1916 e antes do início da vigência do CDC/1990, é
necessário que sua conduta tenha sido, ao menos, culposa. Isso porque, nessa hipótese, devem
ser observadas as regras atinentes à responsabilidade subjetiva prevista no CC/1916, e não
aquela que dispõe sobre a responsabilidade objetiva do fornecedor, prevista no art. 14 do CDC,
inaplicável a fatos anteriores à data de início de sua vigência.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.307.032-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/6/2013.

Direitos autorais: suspensão da execução de músicas em rádio

O juiz pode determinar, como medida de tutela inibitória fundada no art. 105 da Lei
9.610⁄1998, que a rádio fique suspensa de transmitir músicas em razão da falta de pagamento
ao ECAD do valor correspondente aos respectivos direitos autorais. Essa tutela inibitória pode
ser concedida ainda que o ECAD esteja cobrando judicialmente o valor dos direitos autorais.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) ajuizou ação de cobrança contra a
Rádio “Boa Música”, em virtude do não pagamento dos valores relativos aos direitos
autorais das músicas executadas em sua programação.
Além disso, o ECAD pediu que o juiz suspendesse as transmissões de músicas pela rádio até
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que houvesse o efetivo pagamento.


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INFORMATIVO esquematizado
Isso é possível?
SIM. A Lei n. 9.610/98, que trata sobre os direitos autorais, prevê expressamente a
possibilidade de concessão dessa tutela inibitória:
Art. 105. A transmissão e a retransmissão, por qualquer meio ou processo, e a comunicação
ao público de obras artísticas, literárias e científicas, de interpretações e de fonogramas,
realizadas mediante violação aos direitos de seus titulares, deverão ser imediatamente
suspensas ou interrompidas pela autoridade judicial competente, sem prejuízo da multa
diária pelo descumprimento e das demais indenizações cabíveis, independentemente das
sanções penais aplicáveis; caso se comprove que o infrator é reincidente na violação aos
direitos dos titulares de direitos de autor e conexos, o valor da multa poderá ser aumentado
até o dobro.

A tutela do art. 105 da Lei é inibitória e pode ser concedida sem prejuízo da cobrança das
quantias devidas. Isso porque não se deve confundir a pretensão de recebimento dos
valores devidos (a ser obtida por meio da tutela condenatória e executiva), com a pretensão
inibitória, que visa cessar ou impedir novas violações aos direitos autorais.

Vale ressaltar, ainda, que a tutela específica do art. 105 não implica a interrupção de toda a
programação da Rádio, mas apenas impede que novas músicas sejam executadas sem
pagamento prévio dos direitos autorais. Em outras palavras, impede que haja novas
violações a direitos autorais.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.190.841-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/6/2013.

Direitos autorais: pagamento em caso de casamento

Os nubentes são responsáveis pelo pagamento ao ECAD de taxa devida em razão da execução
de músicas, sem autorização dos autores, na festa de seu casamento realizada em clube, ainda
que o evento não vise à obtenção de lucro direto ou indireto.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Eduardo e Mônica alugaram uma casa de eventos para a realização da festa de seu
casamento.
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) notificou o casal informando que,
como estava prevista a execução de músicas no dia do evento, seria necessário o
pagamento prévio de R$ 500,00 como remuneração pelos direitos autorais.

A cobrança realizada foi feita com base no art. 68 da Lei n. 9.610/98:


Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas
obras teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e
execuções públicas.
(...)
§ 2º Considera-se execução pública a utilização de composições musicais ou lítero-musicais,
mediante a participação de artistas, remunerados ou não, ou a utilização de fonogramas e
obras audiovisuais, em locais de frequência coletiva, por quaisquer processos, inclusive a
radiodifusão ou transmissão por qualquer modalidade, e a exibição cinematográfica.
§ 3º Consideram-se locais de frequência coletiva os teatros, cinemas, salões de baile ou
concertos, boates, bares, clubes ou associações de qualquer natureza, lojas,
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estabelecimentos comerciais e industriais, estádios, circos, feiras, restaurantes, hotéis,


motéis, clínicas, hospitais, órgãos públicos da administração direta ou indireta, fundacionais
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e estatais, meios de transporte de passageiros terrestre, marítimo, fluvial ou aéreo, ou onde


quer que se representem, executem ou transmitam obras literárias, artísticas ou científicas.

INFORMATIVO esquematizado
§ 4º Previamente à realização da execução pública, o empresário deverá apresentar ao
escritório central, previsto no art. 99, a comprovação dos recolhimentos relativos aos
direitos autorais.

Ação declaratória de inexigibilidade


Os nubentes ingressaram, então, com uma ação declaratória de inexigibilidade contra o
ECAD, alegando que a comemoração em ambiente com entrada restrita aos convidados
(amigos e familiares), sem a cobrança de qualquer ingresso, não configura a execução
pública prevista no art. 68 da Lei n. 9.610/98.

É possível a cobrança de direitos autorais pela execução de músicas em festa de casamento


realizada em salão de clube, mesmo que não haja cobrança de ingressos?
SIM. Por mais absurdo que pareça, a legislação em vigor ampara o ECAD em tais casos.

Os direitos autorais são atualmente regidos pela Lei n. 9.610/98 que permite a cobrança
dos direitos autorais mesmo nas hipóteses em que a execução pública da obra protegida
não é feita com o intuito de lucro.

Esse é o entendimento consolidado do STJ:


(...) é devida a cobrança de direitos autorais pela execução pública de música em rodeio,
mesmo que tenha sido evento promovido por Prefeitura sem a existência de proveito
econômico. (...)
(REsp 996852/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 21/06/2011)

Em outras palavras, não importa se o evento tem ou não objetivo de lucro. Se houver
execução de músicas (ainda que gravadas), deverá ser paga, previamente, a remuneração
relativa aos direitos autorais.

Se Eduardo e Mônica tivessem decidido se casar em casa, teriam que pagar direitos autorais
pelas músicas executadas?
NÃO. O art. 46, VI, da Lei n. 9.610/98 afirma que não haverá pagamento de direitos
autorais caso a execução das músicas aconteça em casa, sem intuito de lucro:
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
VI - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou,
para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em
qualquer caso intuito de lucro;

Assim, o dispositivo em comento autoriza a execução musical independentemente do


pagamento de qualquer taxa, desde que realizada no recesso familiar (Min. Luis Felipe
Salomão).

Não é possível aplicar esse art. 46, VI, para os casos de casamento realizado em salão de
festas? Não é possível ampliar a expressão “recesso familiar” para abranger também o
casamento comemorado apenas para a família e amigos em uma casa de eventos?
NÃO. As exceções ao pagamento de direitos autorais devem ser interpretadas
restritivamente, à luz do art. 4º da Lei n. 9.610/98. Logo, a execução de músicas em festa
de casamento realizado em salão de clube, sem autorização dos autores das canções e sem
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pagamento da taxa devida ao ECAD não se enquadra no art. 46, VI, da Lei.
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INFORMATIVO esquematizado
O § 4º do art. 68 fala que a obrigação de recolher previamente o valor dos direitos autorais
é do empresário. Isso inclui também os noivos em uma festa de casamento?
SIM. Segundo o regulamento de arrecadação do ECAD e a opinião da doutrina, os valores
devem ser pagos pelos usuários dos direitos autorais. Por usuário de direito autoral
entende-se toda pessoa física ou jurídica que utilizar obras musicais, literomusicais,
fonogramas, através da comunicação pública, direta ou indireta, por qualquer meio ou
processo similar, seja a utilização caracterizada como geradora, transmissora,
retransmissora, distribuidora ou redistribuidora.

Nesse contexto, o STJ concluiu que os nubentes, por serem usuários interessados na
organização do evento, possuem responsabilidade pelo pagamento da taxa devida ao ECAD,
sem prejuízo das demais pessoas que são solidariamente responsáveis, conforme prevê o
art. 110 da Lei:
Art. 110. Pela violação de direitos autorais nos espetáculos e audições públicas, realizados
nos locais ou estabelecimentos a que alude o art. 68, seus proprietários, diretores,
gerentes, empresários e arrendatários respondem solidariamente com os organizadores dos
espetáculos.

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.306.907-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/6/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Plano de saúde e cirurgia de gastroplastia

É nula a cláusula de contrato de plano de saúde que exclua a cobertura relativa à implantação
de stent. Segundo a jurisprudência do STJ, no contrato de plano de saúde, é considerada
abusiva a cláusula que exclua da cobertura órteses, próteses e materiais diretamente ligados
ao procedimento cirúrgico a que se submete o consumidor.

Gera dano moral a injusta recusa de cobertura por plano de saúde das despesas relativas à
implantação de stent.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João teve um princípio de infarto e foi internado. O médico diagnosticou que o tratamento
ideal para ele seria a colocação de um stent (uma espécie de tubo minúsculo) na artéria.
O plano de saúde negou-se a custear o tratamento, alegando que, no contrato assinado, a
cláusula n. 7.5.2.3.4.1 do item IV, da Seção XXIII, do Capítulo X, do anexo III, afirma
expressamente que não está abrangida pela cobertura do plano a colocação de stents.

Diante disso, o que poderá fazer João?


Ajuizar ação de obrigação de fazer contra a operadora do plano de saúde a fim de que o
Poder Judiciário determine que seja custeada a colocação do stent.

O pedido encontra respaldo na jurisprudência do STJ?


SIM. Segundo a jurisprudência do STJ, no contrato de plano de saúde, é considerada abusiva
a cláusula que exclua da cobertura órteses, próteses e materiais diretamente ligados ao
procedimento cirúrgico a que se submete o consumidor. Logo, é nula a cláusula que negue
cobertura à implantação de stent.
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INFORMATIVO esquematizado
João poderá exigir também uma indenização (compensação) por danos morais?
SIM. Em regra, o mero inadimplemento contratual não enseja indenização por danos
morais. Em outras palavras, não é porque o contratante se negou a cumprir o contrato que
a outra parte terá direito a danos morais por conta desse motivo.

No entanto, o STJ entende que a negativa do plano de saúde custear tratamento enseja sim
indenização por danos morais. O Tribunal considera que a injusta recusa de cobertura
agrava a situação de aflição psicológica e de angústia no espírito daquele que, ao pedir a
autorização da seguradora, já se encontra em condição de dor, de abalo psicológico e com a
saúde debilitada. Logo, a negativa de cobertura de tratamento de saúde é uma hipótese
excepcional de inadimplemento contratual que enseja danos morais.

Vamos mudar um pouco o exemplo. Imagine agora que João, com pressa, diante da
negativa inicial do plano de saúde, decide, ele próprio, custear a colocação do stent. Tal
quantia poderá ser exigida da operadora?
SIM. João poderá ingressar com ação de indenização por danos morais e materiais contra a
operadora, cobrando o valor gasto com o stent e também a compensação pelo sofrimento
experimentado com a recusa.

Qual é o prazo prescricional para essa ação?


10 anos , nos termos do art. 205 do CC (STJ. 3ª Turma. REsp 1.176.320-RS, Rel. Min. Sidnei
Beneti, julgado em 19/2/2013).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.775-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Propriedade industrial

Marcas fracas ou evocativas, que constituem expressão de uso comum, de pouca originalidade,
atraem a mitigação da regra de exclusividade decorrente do registro, admitindo-se a sua
utilização por terceiros de boa-fé.
O monopólio de um nome ou sinal genérico em benefício de um comerciante implicaria uma
exclusividade inadmissível, a favorecer a detenção e o exercício do comércio de forma única,
com prejuízo não apenas à concorrência empresarial - impedindo os demais industriais do
ramo de divulgarem a fabricação de produtos semelhantes através de expressões de
conhecimento comum, obrigando-os à busca de nomes alternativos estranhos ao domínio
público - mas sobretudo ao mercado em geral, que teria dificuldades para identificar produtos
similares aos do detentor da marca.
Comentários Imagine a seguinte situação:
A sociedade empresária “Z” é detentora da marca nominativa “paleteira”, devidamente
registrada no INPI.
Paleteira é o nome dado para esta máquina, utilizada para transporte de paletes:
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INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar que o nome “paleteira” ,atualmente encontrado, inclusive, nos dicionários
para designar esse tipo de máquina.

A empresa “T”, concorrente da “Z”, começou a utilizar a expressão “paleteira”, tendo criado
um site na internet com esse nome.

Diante disso, a empresa “Z” ajuizou, contra “T”, ação de anulação de domínio cumulada
com indenização por danos morais decorrente do uso indevido de marca. Em suma, “Z”
queria ter assegurado o direito de utilizar, com exclusividade, a marca “paleteira”, por ela
registrada junto ao INPI.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


O STJ negou os pedidos da empresa “Z” (detentora do registro da marca) em razão da
marca em questão (“paleteira”) ser classificada como uma marca “evocativa” e, portanto,
uma marca fraca.

O que é uma marca evocativa?


É aquela que se utiliza, em sua composição, de uma palavra de uso comum que remete ao
produto ou serviço.
Evocativa vem de “evocar”, verbo que significa “trazer à lembrança”.
Assim, marca evocativa é aquela que traz à lembrança (que evoca) o próprio nome do
produto ou serviço.
A marca evocativa possui reduzido grau de distintividade, por estar associada ao produto ou
serviço que pretende assinalar. Em outras palavras, ela não se distingue tanto de outras
marcas porque utiliza, no todo ou em parte, o próprio nome do produto ou serviço. Não
possui, portanto, “características distintivas”.

Exemplos de marcas evocativas:


Chokito®, chocobon® (são marcas que remetem ao chocolate). Caso alguém registre uma
marca parecida envolvendo, no todo ou em parte, a palavra “chocolate”, não se poderá
dizer, a princípio, que houve uma violação a essas marcas anteriormente registradas.

Marcas evocativas possuem proteção limitada


Por não ter características distintivas, as marcas evocativas são consideradas “marcas
fracas”. Possuem um âmbito de proteção limitado, de modo que a exclusividade a elas
conferida admite mitigação. Assim, a ideia de que somente quem registrou a marca
evocativa poderá utilizar aquele nome ou nomes parecidos é flexibilizada.
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Segundo aponta, com razão, a Min. Nancy Andrigui, conferir monopólio para que apenas
um comerciante utilize um nome ou sinal genérico seria aceitar uma exclusividade

INFORMATIVO esquematizado
inadmissível. Isso porque os demais comerciantes ficariam impedidos de divulgarem a
fabricação de produtos semelhantes através de expressões de conhecimento comum,
obrigando-os à busca de nomes alternativos estranhos ao domínio público.

A Lei n. 9.279/96 proíbe o registro de marcas genéricas:


Art. 124. Não são registráveis como marca:
(...)
VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo,
quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado
comumente para designar uma característica do produto ou serviço, quanto à natureza,
nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de prestação do serviço,
salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva;

Mas, então, marca genérica é o mesmo que marca evocativa?


NÃO, mas o conceito das duas é muito parecido. Além disso, pode acontecer de uma marca
ser registrada e, com o tempo, passar a ser utilizada de forma genérica no mercado,
flexibilizando o direito do titular à exclusividade. Foi o que aconteceu no caso dos autos.
A empresa “Z” detém o registro da marca “paleteira” junto ao INPI desde 1972. Segundo a
Min. Relatora, é provável que, há mais de 40 anos, o vocábulo “paleteira” (que nada mais é
do que o nome dado ao veículo próprio para o transporte de paletas) ainda não fosse tão
difundido no mercado, o que levou o INPI a ignorar as restrições da lei para registro.
Atualmente, no entanto, o termo “paleteira” constitui expressão de uso comum, cujo uso
exclusivo, enquanto marca, há de ser visto com temperamento.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.315.621-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2013.

Cédula de Produto Rural


(obs: assunto interessante, mas muito difícil e que só será cobrado em alguns concursos bastante
específicos, em que os títulos de crédito são exigidos de forma intensa. Ex: cartórios)

A emissão de Cédula de Produto Rural – CPR em garantia de contrato de compra e venda de


safra futura não pressupõe, necessariamente, a antecipação do pagamento do produto.
Comentários Títulos de crédito
O título de crédito é um documento por meio do qual se prova que existe uma obrigação
entre o(s) credor(es) e o(s) devedor(es), nos termos do que ali está escrito.

O conceito tradicional de título de crédito foi dado há décadas por um jurista italiano
chamado Cesare Vivante: “título de crédito é o documento necessário para o exercício do
direito literal e autônomo nele contido ou mencionado”.

Esse conceito foi adotado pelo CC-2002:


Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e
autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

Os títulos de crédito são muito importantes para a economia porque eles facilitam a
obtenção e a circulação do crédito, além de conferirem maior segurança para os credores.
Ex: se a pessoa quer comprar uma mercadoria, mas não tem dinheiro no momento, ela
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poderá assinar uma nota promissória e entregá-la ao vendedor, comprometendo-se a pagar


a quantia em 30 dias. Houve a concessão de um crédito de forma simplificada e o credor
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terá em mãos uma garantia de pagamento. Com isso, mais negócios podem ser realizados.

INFORMATIVO esquematizado
Títulos rurais
Existem alguns títulos de crédito que são gerais e mais conhecidos, como é o caso da letra
de câmbio, duplicata, cheque etc.
No entanto, a experiência mostrou que seria interessante que fossem criados alguns títulos
de crédito, com características específicas, para facilitar as negociações envolvendo
determinados setores da economia.
Em suma, verificou-se a necessidade de criar títulos de crédito específicos para algumas
transações empresariais.
No caso da atividade rural, por exemplo, foram idealizados quatro títulos de crédito
específicos, chamados de “títulos rurais”. São eles:
a) Cédula de crédito rural;
b) Cédulas de produto rural;
c) Nota promissória rural;
d) Duplicata rural.

Vamos tratar especificamente sobre as Cédulas de Produto Rural (CPR).

As cédulas de produto rural foram criadas pela Lei n. 8.929/94 e podem ser, atualmente,
de duas espécies:
CPR física (art. 1º da Lei);
CPR financeira (art. 4º-A da Lei).

CPR física CPR financeira


A cédula de produto rural física (CPR física) Na CPR financeira, o produtor rural ou a
é um título de crédito por meio do qual o associação de produtores emite a CPR,
produtor rural ou a associação de recebendo o dinheiro correspondente a
produtores rurais (inclusive cooperativas) “X” produtos rurais (ex: 100kg de café, tipo
se compromete, em um documento, a tal) e comprometendo-se a fazer a
entregar produtos rurais, em um momento liquidação financeira da CPR (pagar a
futuro, recebendo, desde já, o pagamento quantia emprestada) em determinada data
por essa venda. e segundo os juros ali estipulados.
No dia do vencimento, o produtor rural Em vez de entregar o produto rural, o
entregará ao credor os produtos rurais produtor irá pagar ao credor o valor do que
prometidos. tomou emprestado.
Em outras palavras, a CPR física representa Em outras palavras, a CPR financeira
a documentalização de um contrato de representa a documentalização de um
compra e venda de produtos rurais, por contrato de financiamento, por meio do
meio do qual o vendedor recebe o qual o produtor rural (ou associação)
pagamento antecipadamente, recebe um valor em dinheiro,
comprometendo-se a entregar os produtos comprometendo-se a pagar em uma
rurais em uma determinada data. determinada data futura.
Caso o emitente seja inadimplente, o Caso o emitente seja inadimplente, o
credor poderá ajuizar ação de execução crebdor poderá ajuizar ação de execução
para a entrega de coisa. por quantia certa.
É parecida com uma duplicata mercantil. É parecida com uma nota promissória.
Art. 1º Fica instituída a Cédula de Produto Art. 4º-A. Fica permitida a liquidação
Rural (CPR), representativa de promessa de financeira da CPR de que trata esta Lei,
entrega de produtos rurais, com ou sem desde que observadas as seguintes
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garantia cedularmente constituída. condições:


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I - que seja explicitado, em seu corpo, os


referenciais necessários à clara

INFORMATIVO esquematizado
identificação do preço ou do índice de
preços a ser utilizado no resgate do título, a
instituição responsável por sua apuração
ou divulgação, a praça ou o mercado de
formação do preço e o nome do índice;
II - que os indicadores de preço de que trata
o inciso anterior sejam apurados por
instituições idôneas e de credibilidade junto
às partes contratantes, tenham divulgação
periódica, preferencialmente diária, e
ampla divulgação ou facilidade de acesso,
de forma a estarem facilmente disponíveis
para as partes contratantes;
III - que seja caracterizada por seu nome,
seguido da expressão "financeira".

MODELO DE CPR FÍSICA:

CÉDULA DE PRODUTO RURAL FÍSICA

Vencimento: 15/09/2014

Aos 15 dias do mês de setembro de 2014 entregarei, nos termos das cláusulas abaixo e na
forma da Lei n. 8.929/94, a Fulano de Tal, inscrito no CPF sob o n. XXX, domiciliado e
residente em XXX, ou à sua ordem, o seguinte produto rural:

PRODUTO: quantidade e características (ex: café arábica, em grãos, safra 2013 etc).

LOCAL, PRAZO E CONDIÇÕES DE ENTREGA: o produto será entregue ao credor, mediante


apresentação desta CPR, em tal lugar etc.

CONDIÇÕES DE QUITAÇÃO:

INADIMPLEMENTO:

GARANTIAS: (descrever os bens vinculados em garantia).

COMPROMETIMENTO DO PRODUTO VENDIDO/GARANTIAS: Obrigo-me a, durante a


vigência deste título, não alienar e/ou gravar em favor de terceiros, os bens vinculados em
garantia e o produto ora vendido.

FORO: O foro é o de domicílio do emitente.

____________________________, ___ de ________de 2012.


Local e data de emissão

EMITENTE
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________________________________________
Assinatura e qualificação do emitente
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INFORMATIVO esquematizado
AVALISTA
___________________________________________
Avalista do emitente

CÉDULA DE PRODUTO RURAL FINANCEIRA

Vencimento: 15/09/2014

Aos 15 dias do mês de setembro de 2014 pagarei, nos termos das cláusulas abaixo e na forma
da Lei n. 8.929/94, ao BANCO TAL, CNPJ n. XXX, estabelecido em XXX, ou à sua ordem, a
importância correspondente ao resultado da multiplicação do preço do produto descrito na
cláusula IDENTIFICAÇÃO DO PREÇO pela quantidade indicada na cláusula PRODUTO.

PRODUTO: quantidade/características (ex: 500 bois para abate de 15@ de peso líquido etc.)

INDICADOR DO PREÇO: cotação da @ (arroba) em reais, à vista, divulgado pela BMF/ESALQ


para o mercado de boi gordo, apurado no dia XX.

LOCAL E CONDIÇÕES DE PAGAMENTO:

GARANTIAS: (descrever os bens vinculados em garantia).

ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA:

JUROS REMUNERATÓRIOS:

JUROS MORATÓRIOS:

MULTA:

DECLARAÇÃO: Declaro(amos), sob as penas da lei, que sou(mos) produtor(es) rural(ais), e


que exploro(amos) essa atividade no(a) (indicar a Unidade da Federação).

ADITIVOS: Conforme previsto no Artigo nono da Lei 8.929,de 22.8.94, esta Cédula poderá ser
retificada e ratificada, no todo ou em parte, através de aditivos que passarão a integrá-la.

FORO: O foro é o da praça de emissão deste título.

____________________________, ___ de ________de 2012.


Local e data de emissão

EMITENTE
________________________________________
Assinatura e qualificação do emitente

AVALISTA
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___________________________________________
Avalista do emitente
Página

INFORMATIVO esquematizado
Caso julgado pelo STJ
Vimos acima que, na CPR física, o produtor rural emite a cédula comprometendo-se a
vender o produto por aquele determinado valor e recebe, de forma adiantada, o valor das
mercadorias.

Será possível, no entanto, que o produtor rural emita a CPR comprometendo-se a vender por
aquele determinado valor, mas sem receber o pagamento antecipado?
SIM. A emissão de Cédula de Produto Rural – CPR em garantia de contrato de compra e venda
de safra futura não pressupõe, necessariamente, a antecipação do pagamento do produto.
Assim, é possível que o produtor emita a CPR, obrigando-se a entregar determinada
quantidade de produto (ex: 2.000 sacas de soja, tipo X) recebendo, em troca, também no
futuro, o valor de 50 reais por saca.

Mas qual seria a utilidade para o produtor de emitir essa CPR?


A CPR funciona, nesse caso, como uma operação de hedge, na qual o agricultor,
independentemente do recebimento antecipado do pagamento, usa a CPR como um meio
de se proteger dos riscos de flutuação de preços no mercado futuro.
Nesta hipótese, a CPR serve como um título de securitização, mitigando os riscos para o
produtor, que negocia, a preço presente, sua safra no mercado futuro.

O que é hedge?
Trata-se de uma nomenclatura da economia. A palavra “hedge”, de origem inglesa, significa
algo como “barreira, cobertura, proteção”. Em economia, hedge é uma operação feita para
proteger o valor de um ativo contra uma possível redução de seu valor numa data futura.
Esse ativo poderá ser uma commodity (como no caso que estudamos acima, da soja), a ação
de uma empresa, o dólar etc.
Referências TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Títulos de crédito. Vol. 2, 2011.
http://www.elenyforoni.com.br/cprfinanceira.html
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 866.414-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2013.

Prazo prescricional para cobrança de debêntures

Prescreve em cinco anos a pretensão de cobrança de valores relativos a debêntures.


Comentários O que são debêntures?
São títulos emitidos pela sociedade anônima para que sejam negociados junto ao público,
levantando recursos para a companhia.
É como se fosse um contrato de mútuo, sendo considerado mutuante a pessoa que adquire
a debênture.
Exemplo: a sociedade anônima “Z” necessita de 2 milhões de reais. Logo, ela emite 2 mil
debêntures, cada uma delas ao preço de mil reais. Para as pessoas que comprarem essas
debêntures é como se estivessem emprestando dinheiro à companhia. Na debênture existe
a previsão de uma data de vencimento na qual os valores emprestados são pagos aos
portadores desses títulos. É possível também que as debêntures sejam pagas em parcelas
(amortizações) periodicamente ao longo dos anos. Quase sempre há a previsão do
pagamento de juros.

Previsão legal
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Art. 52 da Lei n. 6.404/76.


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“Debêntures são valores mobiliários que conferem direito de crédito perante a sociedade

INFORMATIVO esquematizado
anônima emissora, nas condições constantes do certificado (se houver) e da escritura de
emissão.”(COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2011.

O que é uma escritura de emissão?


Trata-se de um documento no qual estão previstas as especificidades da debênture (data de
emissão, vencimento, condições de amortização, remuneração, juros etc.).
Na escritura de emissão fica descrito o prazo de resgate da debênture.

Vale lembrar que a debênture é considerada título executivo extrajudicial (art. 585, I, CPC).

Qual é o prazo prescricional para a cobrança de debêntures?


Prescreve em 5 anos a pretensão de cobrança de valores relativos a debêntures.
Deve ser aplicada a regra prevista no art. art. 206, § 5º, I, do CC:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.316.256-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

DIREITO AMBIENTAL

ACP proposta pelo MPF para proteção de zona de amortecimento de parque nacional

O MPF possui legitimidade para propor, na Justiça Federal, ação civil pública que vise à
proteção de zona de amortecimento de parque nacional, ainda que a referida área não seja de
domínio da União.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Foi construído, indevidamente, um hotel dentro da zona de amortecimento de um Parque
Nacional localizado no Estado do Ceará.

Parque Nacional
Devemos recordar que Parque Nacional é uma espécie de unidade de conservação, sendo
regulamentada pela Lei n. 9.985/2000.
As unidades de conservação podem ser de dois grupos:
I - Unidades de Proteção Integral;
II - Unidades de Uso Sustentável.

O Parque Nacional integra o grupo das Unidades de Proteção Integral (art. 8º, III).

Veja o que diz a Lei sobre o Parque Nacional:


Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas
naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de
pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
§ 1º O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares
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incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
§ 2º A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de
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Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração,
e àquelas previstas em regulamento.

INFORMATIVO esquematizado
§ 3º A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela
administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas,
bem como àquelas previstas em regulamento.
§ 4º As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão
denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.

Zona de amortecimento
A zona de amortecimento é o entorno de uma unidade de conservação.
Na zona de amortecimento, as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições
específicas, com o objetivo de minimizar os impactos negativos sobre a UC (art. 2º, XVIII).

Voltando ao nosso exemplo:


O MPF ajuizou, na Justiça Federal, uma ACP pedindo a demolição do imóvel, que foi
construído sem o devido licenciamento ambiental, além da reparação do dano provocado.
Em contestação, o réu arguiu a incompetência absoluta da Justiça Federal e a ilegitimidade
do MPF para a ACP, sob o argumento de que o dano ambiental não ocorreu em propriedade
da União, suas autarquias ou fundações, nem em unidade de conservação federal, não
havendo, portanto, que se falar em lesão ao patrimônio da União a justificar a intervenção
do MPF.

A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?


O MPF possui legitimidade para propor, na Justiça Federal, ação civil pública que vise à
proteção de zona de amortecimento de parque nacional, ainda que a referida área não seja
de domínio da União.
Com efeito, tratando-se de proteção ao meio ambiente, não há competência exclusiva de
um ente da Federação para promover medidas protetivas.
Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido pelos quatro entes federados,
independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo e da
competência para o licenciamento.
Deve-se considerar que o domínio da área em que o dano ou o risco de dano se manifesta é
apenas um dos critérios definidores da legitimidade para agir do MPF.
Ademais, convém ressaltar que o poder-dever de fiscalização dos outros entes deve ser
exercido quando determinada atividade esteja, sem o devido acompanhamento do órgão
local, causando danos ao meio ambiente.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.373.302-CE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 11/6/2013.

Dano moral coletivo


Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível que a
sentença condenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as obrigações de recompor
o meio ambiente degradado e de pagar quantia em dinheiro a título de compensação por dano
moral coletivo.
Comentários Imagine que determinada empresa causou grave dano ambiental.

O Ministério Público (ou outro legitimado) poderá ajuizar ação civil pública pedindo que essa
empresa seja condenada a recompor o meio ambiente?
SIM, sem nenhuma dúvida.
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Além disso, é possível que, na ACP, seja pedida a condenação da empresa ao pagamento de
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danos morais em favor da coletividade? Em outras palavras, é cabível dano moral coletivo
em razão de dano ambiental?

INFORMATIVO esquematizado
SIM. A 2ª Turma do STJ decidiu recentemente que é possível que a sentença condene o
infrator ambiental ao pagamento de quantia em dinheiro a título de compensação por dano
moral coletivo (REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013).
Assim, apesar de existirem precedentes da 1ª Turma em sentido contrário (AgRg no REsp
1305977/MG, julgado em 09/04/2013), a posição majoritária (não pacífica) é no sentido de
ser cabível a condenação por dano moral coletivo.

É possível, então, que a empresa seja condenada, cumulativamente, a recompor o meio


ambiente e a pagar indenização por dano moral coletivo?
SIM. Isso porque vigora em nosso sistema jurídico o princípio da reparação integral do dano
ambiental, de modo que o infrator deverá ser responsabilizado por todos os efeitos
decorrentes da conduta lesiva, permitindo-se que haja a cumulação de obrigações de fazer,
de não fazer e de indenizar.

O art. 3º da Lei n. 7.347/85 afirma que a ACP “poderá ter por objeto a condenação em
dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”.

Para o STJ, essa conjunção “ou” – contida no citado artigo, tem um sentido de adição
(soma), não representando uma alternativa excludente. Em outras palavras, será possível a
condenação em dinheiro e também ao cumprimento de obrigação de fazer/não fazer.

Veja precedente nesse sentido:


(...) Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei 7.347/1985
permite a cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização
pecuniária em sede de ação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação
do dano ambiental pretérito, já consumado. Microssistema de tutela coletiva. (...)
4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado,
sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a
indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. (...)
(REsp 1269494/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013)
Dano moral Vale ressaltar que é possível imaginarmos a existência de danos morais coletivos em outras
coletivo no áreas, além do Direito Ambiental. É o caso, por exemplo, do Direito do Consumidor.
direito do Ressalte-se que, recentemente, a 3ª Turma do STJ decidiu o seguinte:
consumidor
O banco pode ser condenado a pagar reparação por dano moral coletivo, em ação civil
pública, pelo fato de oferecer, em sua agência, atendimento inadequado aos consumidores
idosos, deficientes físicos e com dificuldade de locomoção.
No caso concreto, o atendimento desses clientes era realizado somente no segundo andar
da agência bancária, cujo acesso se dava por três lances de escada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.221.756-RJ, rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 02/02/2012.

O CDC autoriza expressamente a indenização por danos morais coletivos dos consumidores:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;

Danos O que são danos sociais? Danos sociais e danos morais coletivos são expressões sinônimas?
sociais NÃO. Dano social não é sinônimo de dano moral coletivo.
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Danos sociais, segundo Antônio Junqueira de Azevedo, “são lesões à sociedade, no seu nível
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de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito da


segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida. Os danos sociais são causa, pois,

INFORMATIVO esquematizado
de indenização punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que
reduzem as condições coletivas de segurança, e de indenização dissuasória, se atos em
geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida da
população.” (p. 376).

O dano social seria uma outra espécie de dano, que não se confunde com os danos
materiais, morais e estéticos.

Os danos sociais são causados por comportamentos exemplares negativos ou condutas


socialmente reprováveis. Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre que
joga papel no chão, o passageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com
seu filho. Tais condutas socialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento
de bueiros em dias de chuva, problemas de comunicação do avião causando um acidente
aéreo, o incêndio de casas ou de florestas por conta da queda do balão etc.

Diante da prática dessas condutas socialmente reprováveis, o juiz deverá condenar o agente a
pagar uma indenização de caráter punitivo, dissuasório ou didático, a título de dano social.

Segundo explica Flávio Tartuce, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve ser
destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio
ambiente etc., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz (Manual de
Direito do Consumidor. São Paulo: Método, 2013, p. 58). É a aplicação da função social da
responsabilidade civil (PEREIRA, Ricardo Diego Nunes. Os novos danos: danos morais
coletivos, danos sociais e danos por perda de uma chance. Disponível em: http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11307).

Ricardo Pereira cita alguns casos práticos. Um deles é a decisão do TRT-2ª Região (processo
2007-2288), que condenou o Sindicato dos Metroviários de São Paulo e a Cia do Metrô a
pagarem 450 cestas básicas a entidades beneficentes por terem realizado uma greve
abusiva que causou prejuízo à coletividade.

Outro exemplo foi o caso de uma fraude ocorrida em um sistema de loterias, no Rio Grande
do Sul, chamado de “Toto Bola”. Ficou constatado que a loteria seria fraudulenta, retirando
do consumidor as chances de vencer. Nesse episódio, o TJ/RS, no Recurso Cível
71001281054, DJ 18/07/2007, determinou, de ofício, indenização a título de dano social
para o Fundo de Proteção aos Consumidores. Veja a ementa do julgado:
(...) 1. Não há que se falar em perda de uma chance, diante da remota possibilidade de
ganho em um sistema de loterias. Danos materiais consistentes apenas no valor das cartelas
comprovadamente adquiridas, sem reais chances de êxito.
2. Ausência de danos morais puros, que se caracterizam pela presença da dor física ou
sofrimento moral, situações de angústia, forte estresse, grave desconforto, exposição à
situação de vexame, vulnerabilidade ou outra ofensa a direitos da personalidade.
3. Presença de fraude, porém, que não pode passar em branco. Além de possíveis respostas
na esfera do direito penal e administrativo, o direito civil também pode contribuir para
orientar os atores sociais no sentido de evitar determinadas condutas, mediante a punição
econômica de quem age em desacordo com padrões mínimos exigidos pela ética das
relações sociais e econômicas. Trata-se da função punitiva e dissuasória que a
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responsabilidade civil pode, excepcionalmente, assumir, ao lado de sua clássica função


reparatória/compensatória. “O Direito deve ser mais esperto do que o torto”, frustrando as
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indevidas expectativas de lucro ilícito, à custa dos consumidores de boa fé.

INFORMATIVO esquematizado
4. Considerando, porém, que os danos verificados são mais sociais do que propriamente
individuais, não é razoável que haja uma apropriação particular de tais valores, evitando-se
a disfunção alhures denominada de overcompensantion. Nesse caso, cabível a destinação
do numerário para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos, criado pela Lei 7.347/85, e
aplicável também aos danos coletivos de consumo, nos termos do art. 100, parágrafo único,
do CDC. Tratando-se de dano social ocorrido no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, a
condenação deverá reverter para o fundo gaúcho de defesa do consumidor. (...)
(TJRS – Recurso Cível 71001281054 – Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais – Rel.
Des. Ricardo Torres Hermann – j. 12.07.2007).

Em Goiás, a Turma Recursal dos Juizados Especiais condenou um banco a pagar 15 mil reais
de indenização por danos sociais e 2.500 reais por danos morais em razão de um cliente ter
esperado muito tempo para ser atendido. O valor da indenização por danos morais foi
destinado ao cliente e a reparação por danos sociais revertida em favor de uma instituição
de caridade. A referida decisão, contudo, foi suspensa pelo STJ em virtude de a condenação
por danos sociais ter sido em sede de recurso do banco, configurando reformatio in pejus
(AgRg na Reclamação Nº 13.200 – GO).

Na V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi aprovado um enunciado reconhecendo a


existência dos danos sociais:
Enunciado 455: A expressão “dano” no art. 944 abrange não só os danos individuais,
materiais ou imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais
homogêneos a serem reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas.

Obras consultadas:
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil:
o dano social. In: FILOMENO, José Geraldo Brito; WAGNER JR., Luiz Guilherme da Costa;
GONÇALVES, Renato Afonso (coord.). O Código Civil e sua interdisciplinariedade. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004.
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do Consumidor. 2ª
ed., São Paulo: Método, 2013.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Legitimidade do MP para ACP na defesa de crianças e adolescentes

O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública a fim de obter
compensação por dano moral difuso decorrente da submissão de adolescentes a tratamento
desumano e vexatório levado a efeito durante rebeliões ocorridas em unidade de internação.
Comentários Segundo o ECA:
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
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Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.368.769-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/8/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O réu pode recusar o pedido de desistência se possuir interesse no mérito da demanda

Na hipótese em que o autor, após o decurso do prazo para a resposta, pretenda desistir da
ação, constituirá motivação apta a impedir a extinção do processo a alegação do réu de que
também faz jus à resolução do mérito da demanda contra si proposta.
Comentários
O autor, depois de ter proposta a ação, pode desistir?
Se o réu não tiver apresentado defesa. O autor pode desistir normalmente.
O autor só pode desistir com o
Se o réu tiver apresentado defesa.
consentimento do réu (§ 4º do art. 267).
O autor não pode desistir nem mesmo com
Se já houver sentença.
o consentimento do réu (STJ).

Cuidado com a redação do § 4º do art. 267 do CPC:


§ 4º Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento
do réu, desistir da ação.

É importante que você conheça a redação deste dispositivo porque pode ser cobrado na
prova exatamente como está escrito. No entanto, a doutrina afirma que o mais correto
seria esse parágrafo falar o seguinte: “o autor não poderá desistir da ação sem o
consentimento do réu se este já tiver apresentado sua defesa”.

Duas situações mostram que a redação do dispositivo não é completamente correta:


Se o réu tiver apresentado sua defesa antes do fim do prazo para a resposta (o prazo é de
15 dias e o réu apresenta a defesa já no 2º dia) e se o autor quiser desistir da ação no 5º
dia, mesmo assim o réu terá que ser ouvido para que seja homologada a desistência.
Se já tiver decorrido o prazo para a resposta e o réu não tiver apresentado defesa (foi
revel), não será necessária nova intimação do réu para se manifestar sobre a desistência.

Por que o réu deve consentir com o pedido de desistência da ação?


Porque o réu que apresentou contestação, assim como o autor, também tem direito a uma
sentença de mérito.
Na contestação, o réu formula pedido(s) e, portanto, tem o direito de ver esse(s) pedido(s)
apreciado(s) pelo juízo.

Como ressalta a Min. Nancy Andrighi, o conceito de tutela jurisdicional deve levar em
consideração não apenas o ponto de vista do autor, que movimentou a máquina judiciária,
mas também o do réu, que, quando contesta a ação, está buscando essa tutela, só que em
sentido contrário àquela que busca o autor.
Assim, o processo não pode ser entendido simplesmente como um modo de exercício de
direitos do autor, mas como um instrumento do Estado para o exercício de uma função sua,
qual seja, a jurisdição.
Nesse contexto, deve-se considerar que a sentença de improcedência interessa muito mais
ao réu do que a sentença de extinção do processo sem resolução do mérito, haja vista que,
em decorrência da formação da coisa julgada material, o autor estará impedido de ajuizar
outra ação com o mesmo fundamento em face do mesmo réu.
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Página

INFORMATIVO esquematizado
A discordância do réu quanto à desistência da ação deve ser fundamentada:
Se o réu não quiser concordar com a desistência, deverá apresentar ao juízo um motivo
justificável, sob pena de sua conduta ser considerada como abuso de direito.
Desse modo, se a recusa do réu em aceitar a desistência for infundada (sem um motivo
razoável), o juiz poderá suprir a sua concordância e homologar a desistência.
No caso concreto, o réu negou a desistência, afirmando que possuía interesse no julgamento
de mérito da demanda. O STJ considerou que esse argumento era relevante e que se tratava
de fundamentação razoável, apta a impedir a extinção do processo sem resolução do mérito.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.318.558-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2013.

A multa cominatória continua sendo exigida se o devedor cumpriu a obrigação a destempo


O cumprimento da obrigação após o transcurso do prazo judicialmente fixado não exime o
devedor do pagamento da multa cominatória arbitrada.
Comentários Se o autor ajuíza uma ação pretendendo que o réu seja obrigado a fazer ou não fazer alguma
coisa, o juiz, atendidos os requisitos legais, poderá conceder a tutela antecipada, na forma de
tutela específica, determinando que o réu adote o comportamento que é objeto da ação.

Exemplo hipotético (diferente o caso concreto):


“A”, atriz, ingressa com ação de obrigação de fazer contra o site “X”, especializado em
celebridades, tendo como pedido (objeto) que o referido site retire de suas páginas fotos
íntimas da autora e cuja publicação ela não autorizou.

O juiz analisa a petição inicial e entende que é relevante o fundamento da demanda e que
há justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual concede
liminarmente a tutela antecipada determinando que o site retire, em 24 horas, as fotos de
suas páginas. Essa decisão interlocutória está fundada no § 3º do art. 461 do CPC:
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
(...)
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia
do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação
prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer
tempo, em decisão fundamentada.

O juiz, para que a sua decisão tenha “força” e desperte no réu a ânsia de cumpri-la, deve
determinar alguma medida coercitiva. A mais conhecida delas é a multa cominatória,
prevista no § 4º do art. 461 do CPC:
§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Principais características da multa cominatória (astreinte)


Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de “astreinte” em
virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no
direito francês e que lá assim é chamado.
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A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação.


Trata-se de uma técnica judicial de coerção indireta.
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Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito


processual.

INFORMATIVO esquematizado
Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com as perdas e danos
(§ 2º do art. 461).
Pode ser imposta de ofício ou a requerimento, pelo juiz, na fase de conhecimento ou de
execução.
Apesar do CPC falar em “multa diária”, a doutrina afirma que essa multa pode ser
estipulada também em meses, anos ou até em horas.
O valor das astreintes é revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das
astreintes é o autor da demanda (REsp 949.509-RS).
A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito
ao valor da multa se sagrar-se vencedora. Se, no final do processo, essa parte sucumbir,
não terá direito ao valor da multa ou, se já tiver recebido, deverá devolver.

Voltando ao nosso exemplo. O juiz concedeu liminarmente a tutela antecipada para que o
site retirasse as fotos em até 24 horas, sob pena de multa de R$ 1 mil por cada hora de
descumprimento. A direção do site recebeu a intimação, mas somente retirou as fotos 48
horas depois.

Como cumpriu a determinação judicial, mesmo que com atraso, o site pediu que a multa
deixasse de ser cobrada. A sua tese pode ser aceita?
NÃO. O cumprimento da obrigação após o transcurso do prazo judicialmente fixado não
exime o devedor do pagamento da multa cominatória arbitrada.

A aplicação da multa cominatória somente pode ser afastada quando restar provado que a
obrigação foi cumprida dentro do prazo judicialmente assinalado. Isso porque a multa
cominatória – instituto processual por meio do qual o juiz força a vontade do devedor no
sentido de efetivamente cumprir a obrigação judicialmente acertada –, embora se destine à
realização do interesse do credor, caracteriza-se como verdadeira sanção a ser aplicada na
hipótese de desobediência a uma ordem judicial.

Logo, em nosso exemplo, o site terá que pagar uma multa de R$ 24 mil pelo atraso no
cumprimento da obrigação de fazer estabelecida pela decisão judicial.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.183.774-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.

Garantia do juízo para impugnação


A garantia do juízo constitui condição para a própria apresentação de impugnação ao
cumprimento de sentença, e não apenas para sua apreciação.
Comentários Na fase de cumprimento de sentença, existe alguma forma de “defesa” do devedor?
Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada
impugnação.

Para que o devedor apresente impugnação é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é


necessário que haja penhora, depósito ou caução?
Sim. É necessária a garantia do juízo para o oferecimento da impugnação (STJ REsp
1.195.929-SP).

A garantia do juízo é uma condição necessária para que a impugnação seja apresentada ou
para que seja apreciada pelo juiz?
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A garantia do juízo constitui condição para a própria apresentação de impugnação ao


cumprimento de sentença, e não apenas para sua apreciação. Em outras palavras, antes de
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ser oferecida a impugnação é preciso que já tenha sido oferecida a garantia do juízo.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.265.894-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/6/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Recurso julgado sem anterior inclusão em pauta

A ausência de publicação de pauta de julgamento, conquanto caracterize irregularidade processual


(art. 552 do CPC), somente acarretará nulidade se demonstrado efetivo prejuízo à parte.
O TJ julgou um agravo de instrumento sem que a sua inclusão na pauta tenha sido publicada.
Para o STJ, não houve nulidade porque o AI não comporta a possibilidade de sustentação oral.
Logo, não houve prejuízo concreto à parte, já que ela não poderia influenciar no julgamento.
Comentários Princípio da colegialidade das decisões dos Tribunais
Nos tribunais, os processos que lá tramitam devem ser julgados, em regra, por um grupo de
magistrados, cada um dando o seu voto sobre o tema, de forma que a decisão será o
entendimento firmado pela maioria (ou unanimidade) dos julgadores. Trata-se do princípio
da colegialidade das decisões dos Tribunais.

Relator
Em todo processo que tramita em Tribunal, será sorteado um julgador que exercerá a
função de “relator”.
O “relator” será o magistrado que irá ter contato inicial e mais direto com os autos. O
processo irá ser distribuído para seu gabinete e lá ele preparará um relatório sobre o caso e
o seu voto. O relator poderá também requerer diligências, decidir pedidos de urgência,
entre outras atribuições previstas no Regimento Interno do Tribunal.
Após estudar o processo e lançar o seu visto, o relator encaminha o processo à secretaria.

Revisor
Se o processo apreciado for apelação, embargos infringentes ou ação rescisória, além do
relator, haverá também a figura do revisor (art. 551 do CPC).
O revisor aprecia o processo após a análise do relator e deverá também preparar um voto,
em regra, mais sucinto que o do relator.
Após estudar o caso, o revisor apõe um visto sobre o processo.
Vale ressaltar que não haverá revisor nos recursos interpostos nas causas de procedimentos
sumários, de despejo e nos casos de indeferimento liminar da petição inicial (§ 3º do art. 551).

Designação do dia de julgamento


Após o relator e o revisor (se for o caso) terminarem seus votos, o processo será
encaminhado ao presidente da câmara, turma ou corte especial do tribunal para que ele
marque um dia na pauta para julgamento do feito (art. 552).
Essa pauta com os processos agendados é publicada no diário oficial.

Prazo de espera
Entre a data da publicação da pauta e a realização da sessão de julgamento deve
transcorrer um período mínimo de 48 horas (§ 1º do art. 552).
Segundo a doutrina, trata-se de prazo de espera, cujo objetivo é o de possibilitar que as
partes e os seus advogados, querendo, possam participar da sessão de julgamento
(Marinoni e Mitidiero, p. 578).

O que acontece se não for obedecido o prazo de espera?


Súmula 117-STJ: A inobservância do prazo de 48 horas, entre a publicação de pauta e o
julgamento sem a presença das partes, acarreta nulidade.
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Caso concreto julgado pelo STJ:


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A câmara cível do Tribunal de Justiça julgou um agravo de instrumento sem que tivesse sido
publicada a sua inclusão na pauta de julgamentos.
INFORMATIVO esquematizado
Diante disso, a parte sucumbente alegou que havia nulidade no julgamento.
O STJ não concordou com a alegação.
Conforme decidiu o STJ, o fato de o recurso ter sido submetido a julgamento sem anterior
inclusão em pauta não implica, por si só, qualquer nulidade quando, para aquele recurso,
inexistir norma que possibilite a realização de sustentação oral. Isso porque, apesar da
ocorrência de irregularidade processual (inobservância do art. 552 do CPC), deve ser
considerada a regra segundo a qual o ato não se repetirá, nem se lhe suprirá a falta, quando
não prejudicar a parte (art. 249, § 1º, do CPC), em consonância com o princípio do máximo
aproveitamento dos atos processuais.
Desse modo, como o agravo de instrumento não permite sustentação oral, o STJ entendeu
que não houve prejuízo concreto à parte no fato de o julgamento do recurso não ter sido
incluído em pauta. Aplicou-se a máxima pas de nullité sans grief, segundo a qual somente
serão anulados os atos que de fato tenham originado prejuízo concreto à parte.

Atenção: no julgado do STJ não há expressamente essa informação, mas percebe-se que
houve uma mitigação à súmula 117 do STJ.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.183.774-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.

Conversão do agravo de instrumento em agravo retido

É cabível mandado de segurança para impugnar decisão que tenha determinado a conversão
de agravo de instrumento em agravo retido. Isso porque, nessa hipótese, não há previsão de
recurso próprio apto a fazer valer o direito da parte ao imediato processamento de seu agravo.

O agravo de instrumento não pode ser convertido em agravo retido quando interposto com o
objetivo de impugnar decisão proferida no âmbito de execução. Isso porque a retenção do
referido recurso é incompatível com o procedimento adotado na execução, em que não há
sentença final de mérito.
Comentários Agravo é o gênero
“Agravo” pode ser entendido como um gênero, do qual decorrem cinco diferentes espécies.
Em outras palavras, existem cinco tipos de agravo:
Agravo retido
Agravo de instrumento
Agravo regimental contra decisões interlocutórias proferidas no Tribunal
Agravo contra decisão denegatória de REsp ou RE;
Agravo interno contra decisões monocráticas finais do relator.

Agravo retido
O agravo retido é o recurso interposto contra as decisões interlocutórias proferidas pelo
juízo de 1º grau de jurisdição. Encontra-se previsto no art. 522 do CPC:
Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma
retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.

Regra: o recurso cabível contra as decisões interlocutórias proferidas pelo juízo de 1º grau é
o agravo RETIDO.
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Exceções: contra algumas decisões interlocutórias de 1º grau caberá o agravo de


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instrumento (e não o agravo retido).

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Assim, caberá agravo DE INSTRUMENTO quando se tratar de:
a) decisão que não recebe a apelação (art. 522);
b) decisão que determina os efeitos em que a apelação foi recebida (art. 522);
c) decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação (art. 522);
d) decisão que julgar a liquidação da sentença (art. 475-H);
e) decisão que resolver a impugnação ao cumprimento de sentença, salvo quando
importar extinção da execução (art. 475-M, § 3º) (obs: se a decisão, ao resolver a
impugnação, extinguir a execução, caberá apelação).
f) decisão proferida em processo de execução (segundo o STJ, contra decisão
interlocutória proferida em processo de execução é cabível sempre o agravo de
instrumento, por ser o agravo retido incompatível com a sistemática do processo de
execução (RMS 30.269-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/6/2013).

Existem algumas outras previsões de agravo de instrumento, no entanto, as acima


elencadas são as mais importantes.

Agravo de instrumento
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem, ou seja, é
encaminhado diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo.
Ex: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede, como tutela antecipada, a
concessão de alimentos provisórios de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a
fixação dos alimentos provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a decisão do
juiz de 1ª instância (juízo a quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo ad quem).
O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser
formado um “instrumento”, ou seja, um conjunto de documentos para que o Tribunal
analise se as razões invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque
o processo continua tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões
do recurso será necessário que ele tenha cópias de alguns documentos presentes naqueles
autos originários.
Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários documentos dos
autos, juntá-los à petição e protocolizá-los, como agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.

Etapas do procedimento do agravo de instrumento


Vejamos algumas etapas do processamento e julgamento do agravo de instrumento:
1) Juiz profere uma decisão interlocutória;
2) Contra as decisões interlocutórias prolatadas pelo juízo de 1ª instância cabe, em tese,
agravo retido ou agravo de instrumento, conforme o caso concreto;
3) A parte prejudicada entende que se trata de uma hipótese de agravo de instrumento e,
no prazo de 10 dias, interpõe, diretamente no Tribunal (entrega o recurso no protocolo
do Tribunal e não no do Fórum), o agravo de instrumento (petição acompanhada das
peças obrigatórias e facultativas – vide arts. 524 e 525);
4) O agravante, no prazo de 3 dias, tem o dever de juntar aos autos do processo em 1ª
instância cópia da petição do agravo de instrumento interposto e do comprovante de
sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso;
5) No Tribunal, o agravo de instrumento é distribuído incontinenti (imediatamente), sendo
sorteado um Desembargador Relator.
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6) O Desembargador Relator poderá entender que não se trata de hipótese legal de


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agravo de instrumento, situação em que deverá converter o recurso em agravo retido,

INFORMATIVO esquematizado
devolvendo os autos ao juiz da causa (art. 527, II, do CPC).
7) E se a parte não concordar com essa decisão monocrática do Relator que converte o
agravo de instrumento em retido (art. 527, II), ela poderá interpor agravo interno para a
turma (ou câmara)?
NÃO. Não cabe agravo interno. Não existe recurso previsto. Trata-se de decisão
irrecorrível. Veja o que diz o parágrafo único do art. 527 do CPC:
Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste
artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o
próprio relator a reconsiderar.

8) Diante da inexistência de recurso previsto, a parte prejudicada poderá impetrar um


mandado de segurança contra essa decisão do Relator?
SIM. O STJ entende que é cabível mandado de segurança para impugnar decisão que
tenha determinado a conversão de agravo de instrumento em agravo retido. Isso
porque, nessa hipótese, não há previsão de recurso próprio apto a fazer valer o direito
da parte ao imediato processamento de seu agravo.
Processo STJ. 4ª Turma. RMS 30.269-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/6/2013.

Embargos infringentes

São cabíveis embargos infringentes em face de acórdão que, por maioria de votos, dê
provimento a agravo de instrumento interposto com o objetivo de impugnar decisão que tenha
decretado falência.
Comentários Embargos infringentes são uma espécie de recurso.
Os embargos infringentes só cabem para questionar acórdão.
Não basta, contudo, que seja acórdão, é preciso que ele seja NÃO UNÂNIME, ou seja,
acórdão em que houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes é a de renovar a discussão para fazer prevalecer as
razões do voto vencido.

O que é mais difícil de entender, sendo o mais cobrado nos concursos, são as hipóteses de
cabimento dos embargos infringentes.

Segundo o art. 530 do CPC, cabem embargos infringentes somente em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reforma, em grau de apelação, a
sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julga procedente a ação rescisória.

1ª) contra acórdão não proferido por TJ ou TRF que julgou APELAÇÃO e REFORMOU a
unânime (por maioria) sentença de mérito
2ª) contra acórdão não proferido por Tribunal que julgou a tendo julgado
unânime (por maioria) (de 2ª instância ou AÇÃO RESCISÓRIA PROCEDENTE essa ação
superior) rescisória.

Prazo dos embargos infringentes: 15 dias


Quem julga: o próprio Tribunal, segundo as regras do regimento interno.
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Exemplo da hipótese 1:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”.
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O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito.


“B” interpõe apelação ao TJ.
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O TJ, por meio de uma Câmara Cível, composta por 3 Desembargadores, reforma a
sentença do juiz, afirmando que “A” não tem direito à indenização. Dos 3
Desembargadores, 2 votaram pela reforma e 1 votou pela manutenção da sentença, ou
seja, o acórdão foi não unânime.
Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.

Exemplo da hipótese 2:
“A” ajuíza ação de indenização por danos materiais contra “B”.
O juiz julga o pedido de “A” procedente, resolvendo o mérito.
“B” interpõe apelação ao TJ que, no entanto, mantém a sentença.
Ocorre o trânsito em julgado.
“B” ajuíza ação rescisória e o Tribunal, por maioria, julga procedente a rescisória.
Nesse caso, “A”, se não se conformar com o acórdão, terá que opor embargos infringentes.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


O juiz decretou a falência da sociedade empresária “Z”.
Contra essa decisão, “Z” interpôs agravo de instrumento, nos termos do art. 100 da Lei n.
11.101/2005:
Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a
improcedência do pedido cabe apelação.

O TJ, por maioria, deu provimento ao agravo e reformou o mérito da decisão.

Será possível a oposição de embargos infringentes contra esse acórdão?


SIM. Segundo decidiu o STJ, são cabíveis embargos infringentes em face de acórdão que,
por maioria de votos, dê provimento a agravo de instrumento interposto com o objetivo de
impugnar decisão que tenha decretado falência.

Mas por que são cabíveis os infringentes se o acórdão julgou um agravo de instrumento?
Porque no curso do processo de falência, o agravo de instrumento previsto no art. 100 da
Lei 11.101/2005 faz as vezes da apelação.
O que define o cabimento dos embargos infringentes é o conteúdo da matéria decidida e
não o nome atribuído ao recurso pela lei.
Assim, mesmo tendo o nome de agravo, esse recurso é como se fosse uma apelação. Logo,
cabem embargos infringentes na hipótese em que o Tribunal, por maioria, reforma a
decisão de mérito que funciona como sentença.

Mutatis mutandis, pode ser aplicado o mesmo raciocínio que inspirou a edição da súmula
255 do STJ: “Cabem embargos infringentes contra acórdão, proferido por maioria, em
agravo retido, quando se tratar de matéria de mérito.”
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.316.256-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

Embargos à execução fiscal e suspensão dos atos executivos

A oposição de embargos à execução fiscal depois da penhora de bens do executado não


suspende automaticamente os atos executivos, fazendo-se necessário que o embargante
demonstre a relevância de seus argumentos ("fumus boni juris") e que o prosseguimento da
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execução poderá lhe causar dano de difícil ou de incerta reparação ("periculum in mora").
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Comentários O que é a execução fiscal?


Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,

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Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos
(tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.

Qual é a lei que regula a execução fiscal?


A execução fiscal é regida pela Lei n. 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.

Procedimento da execução fiscal


Vejamos algumas etapas do seu procedimento:

1) Petição inicial (art. 6º da LEF).

2) Despacho do juiz deferindo a inicial e determinando a citação do executado (art. 7º).

3) Citação do executado para, em 5 dias, pagar a dívida ou garantir a execução (art. 8º).

4) Depois de citado, o executado poderá:


a) pagar a dívida;
b) garantir a execução;
c) não pagar a dívida nem garantir a execução.

5) Se o devedor pagar, extingue-se a execução.

6) Se garantir a execução, poderá opor embargos à execução.


A Lei n. 6.830/80 prevê expressamente que, na execução fiscal, para que o devedor possa
se defender por meio de embargos é indispensável a garantia da execução (§ 1º do art. 16).
Sobre esse tema, vale destacar um importante ponto. Em sua redação original, o CPC também
exigia a garantia do juízo como condição para a apresentação dos embargos na execução
comum. Ocorre que, em 2006, com o advento da Lei n. 11.382, o CPC foi alterado com o
objetivo de permitir que os embargos fossem opostos mesmo sem que o devedor tivesse
garantido a execução (art. 736).
Essa mudança no CPC afetou a LEF? No caso de embargos à execução tornou-se também
desnecessária a garantia do juízo?
NÃO. A mudança do CPC não influenciou a regra da LEF. Para o STJ, como existe uma
previsão expressa e específica no § 1º, do art. 16, da Lei n. 6.830/80, mantém-se a
exigência de prévia garantia do juízo para que possa haver a oposição dos embargos à
execução fiscal (AgRg no REsp 1257434/RS, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado
em 16/08/2011). Não há motivo para se aplicar o art. 736 do CPC às execuções fiscais,
considerando que existe regra expressa na LEF.
Assim, a garantia da execução é considerada como uma condição de procedibilidade dos
embargos à execução. Caso os embargos sejam apresentados sem que a execução tenha
sido garantida, o juiz deverá extingui-los sem resolução do mérito por falta de pressuposto
processual específico (art. 267, IV, do CPC).

7) A garantia do juízo para que o executado ofereça os embargos poderá ser feita de três
modos:
a) o executado faz o depósito em dinheiro do valor cobrado;
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b) o executado apresenta uma fiança bancária com relação ao valor cobrado;


c) é realizada a penhora de bens suficientes para pagar o valor executado.
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INFORMATIVO esquematizado
É o que se pode extrair dos arts. 9º e 16 da LEF:
Art. 9º Em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos
indicados na Certidão de Dívida Ativa, o executado poderá:
I - efetuar depósito em dinheiro, à ordem do Juízo em estabelecimento oficial de crédito,
que assegure atualização monetária;
II - oferecer fiança bancária;
III - nomear bens à penhora, observada a ordem do artigo 11; ou
IV - indicar à penhora bens oferecidos por terceiros e aceitos pela Fazenda Pública.

Art. 16. O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados:


I - do depósito;
II - da juntada da prova da fiança bancária;
III - da intimação da penhora.

8) Se o devedor não pagar nem garantir a execução por meio de depósito ou fiança
bancária, o juiz determinará a penhora de seus bens.

9) Se os bens do executado forem penhorados, ele será intimado dessa penhora mediante
publicação, no órgão oficial, do ato de juntada do termo ou do auto de penhora.

10) Se os bens do executado forem penhorados, ele poderá apresentar embargos?


SIM, como vimos acima (item 7), a penhora é uma forma de garantir o juízo. Logo, estando
garantido o juízo, o executado poderá oferecer embargos à execução.

11) Garantido o juízo, o executado poderá opor embargos à execução. Nos embargos, o
executado deverá alegar toda matéria útil à defesa, requerer provas e juntar os documentos
e rol de testemunhas, se assim desejar (§ 2º do art. 16).

12) Recebidos os embargos, o juiz mandará intimar a Fazenda para impugná-los no prazo de
30 dias (art. 17).
Atenção: a resposta da Fazenda aos embargos opostos pelo executado é chamada de
impugnação (esse nome será importante em uma prova prática).
Se os embargos versarem sobre matéria de fato que exija outras provas além da
documental: o juiz designará audiência de instrução e julgamento.
Se os embargos versarem apenas sobre matéria de direito, ou, sendo de direito e de
fato, a prova for exclusivamente documental: o juiz não designará audiência de
instrução e deverá proferir sentença julgando os embargos no prazo de 30 dias. É a
situação mais comum de ocorrer.

12) A oposição dos embargos à execução fiscal suspende automaticamente os atos executivos?
NÃO. A oposição de embargos à execução fiscal não suspende automaticamente os atos
executivos. Não há, portanto, uma suspensão ope legis (por força de lei).

Suspensão da execução ope judicis


É possível, no entanto, que o juiz determine a suspensão da execução, desde que o
devedor/embargante demonstre a presença de dois requisitos:
a) relevância dos argumentos jurídicos expostos nos embargos (fumus boni juris); e
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b) perigo de dano de difícil ou de incerta reparação caso a execução prossiga (periculum in


mora).
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A LEF trata sobre o tema? Qual é o fundamento jurídico para essa suspensão?
A Lei n. 6.830/80 não tem regra sobre os efeitos da oposição de embargos. Em outras
palavras, a LEF nem diz que os embargos suspendem nem que não suspendem a execução.
Há uma omissão, uma lacuna. Assim, segundo decidiu o STJ, deve-se aplicar, por
subsidiariedade, o que dispõe o § 1º do art. 739-A do CPC:
§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos
quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução
manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação, e
desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.

Qual é o recurso contra a decisão do juiz que recebe os embargos com ou sem efeito
suspensivo?
Trata-se de decisão interlocutória que desafia agravo de instrumento.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.272.827-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/5/2013 (recurso repetitivo).

Execução fiscal e cobrança de anuidades dos Conselhos Profissionais


O representante judicial de conselho de fiscalização profissional possui a prerrogativa de ser
Juiz
intimado pessoalmente no âmbito de execução fiscal promovida pela entidade.
Federal Comentários Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs: CREA, CRM, COREN, CRO etc.)?
Segundo o entendimento do STF, os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de
autarquias federais, com exceção da OAB, que é um serviço público independente,
categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.

Anuidades
Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram a sua
categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei n. 12.514/2011). Veja o que
diz também a Lei n. 11.000/2004:
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar,
cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem
como as multas e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que
constituirão receitas próprias de cada Conselho.

Qual é a natureza jurídica dessas anuidades?


Tais contribuições são consideradas tributo, sendo classificadas como “contribuições
profissionais ou corporativas”.

Execução fiscal
Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias, em caso de
inadimplemento, o valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal.

Competência
A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os
Conselhos são autarquias federais (Súmula 66 do STJ).
Vale ressaltar que, se o executado for domiciliado em comarca que não possua sede de
Vara Federal, a competência para processar e julgar a execução será da Justiça Estadual,
conforme autoriza o art. 109, § 3°, da CF/88 c/c o art. 15, I, da Lei n. 5.010/66.
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Intimação pessoal do representante judicial do Conselho profissional


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Durante a execução fiscal, quando o representante judicial do Conselho profissional for


intimado, esta intimação deverá ser pessoal.
INFORMATIVO esquematizado
Existem quatro formas de intimação pessoal:
ciência em cartório/secretaria da Vara;
pelo correio (via postal);
por mandado (cumprido por oficial de justiça);
mediante entrega dos autos com vista.

Como o representante judicial do Conselho profissional deverá ser intimado pessoalmente,


não será válida a sua intimação por meio da imprensa oficial.

Qual é o fundamento para o representante judicial do Conselho ser intimado pessoalmente?


Lei n. 6.830/1980 (LEF):
Art. 25. Na execução fiscal, qualquer intimação ao representante judicial da Fazenda Pública
será feita pessoalmente.
Parágrafo Único - A intimação de que trata este artigo poderá ser feita mediante vista dos
autos, com imediata remessa ao representante judicial da Fazenda Pública, pelo cartório ou
secretaria.

Ora, os Conselhos profissionais são autarquias. Logo, são enquadrados no conceito de


“Fazenda Pública”. Dessa forma, existindo regra específica sobre a intimação pessoal dos
representes da Fazenda Pública em execução fiscal (art. 25 da LEF), essa prerrogativa deve
ser observada no caso dos representantes dos conselhos de fiscalização profissional.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.330.473-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 12/6/2013.

Substituição de bem penhorado em execução fiscal

Em execução fiscal, o juiz não pode indeferir o pedido de substituição de bem penhorado se a
Fazenda Pública concordar com a pretendida substituição.
Comentários Qual é o procedimento da execução fiscal até chegar à penhora?
1) Petição inicial (art. 6º da LEF).
2) Despacho do juiz deferindo a inicial e determinando a citação do executado (art. 7º).
3) Citação do executado para, em 5 dias, pagar a dívida ou garantir a execução (art. 8º).
4) Depois de citado, o executado poderá:
a) pagar a dívida;
b) garantir a execução;
c) não pagar a dívida nem garantir a execução.

5) Se o devedor pagar, extingue-se a execução.


6) Se garantir a execução, poderá opor embargos à execução.
7) Se não pagar nem garantir a execução, o juiz determinará a penhora de bens;

Existe alguma ordem preferencial para a penhora dos bens?


SIM, conforme previsão do art. 11 da Lei n. 6.830/80:
Art. 11. A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte ordem:
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I - dinheiro;
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II - título da dívida pública, bem como título de crédito, que tenham cotação em bolsa;
III - pedras e metais preciosos;

INFORMATIVO esquematizado
IV - imóveis;
V - navios e aeronaves;
VI - veículos;
VII - móveis ou semoventes; e
VIII - direitos e ações.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


A União ajuizou uma execução fiscal contra João, tendo o juiz determinado a penhora de
títulos de crédito pertencentes ao devedor.
João formula pedido para que a penhora que recaiu sobre os títulos de crédito seja
levantada e que em seu lugar fique penhorado um apartamento de sua propriedade.
A Fazenda Pública manifesta-se informando que concorda com o pedido.
Os autos são conclusos ao juiz, que indefere a substituição, sob o argumento de que o
apartamento possui menor liquidez que os títulos de crédito já penhorados.

Agiu corretamente o magistrado?


NÃO. O juiz não pode indeferir o pedido de substituição de bem penhorado se a Fazenda
Pública concordou com a pretendida substituição.
A execução realiza-se no interesse do credor (art. 612 do CPC), que inclusive poderá,
querendo, dela desistir (art. 569 do CPC). Dessa forma, tendo o credor anuído com a
substituição da penhora, mesmo que por um bem que guarde menor liquidez, não poderá o
juiz, ex officio, indeferi-la.
De acordo com o princípio da demanda, o juiz, em regra, não pode agir de ofício, salvo nas
hipóteses expressamente previstas no ordenamento jurídico.
Ademais, nos termos do art. 620 do CPC, a execução deverá ser feita pelo modo menos
gravoso para o executado.

Sobre o tema, assim dispõe a LEF:


Art. 15. Em qualquer fase do processo, será deferida pelo Juiz:
I - ao executado, a substituição da penhora por depósito em dinheiro ou fiança bancária; e
II - à Fazenda Pública, a substituição dos bens penhorados por outros, independentemente
da ordem enumerada no artigo 11, bem como o reforço da penhora insuficiente.

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.377.626-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/6/2013.

DIREITO PENAL

Apropriação indébita previdenciária

Para a caracterização do crime de apropriação indébita de contribuição previdenciária (art.


168-A do CP), não há necessidade de comprovação do dolo específico de se apropriar de
valores destinados à previdência social.
Comentários
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (art. 168-A do Código Penal)

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos


contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
37

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.


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Elemento subjetivo: é o dolo. Não existe forma culposa.

INFORMATIVO esquematizado
Na apropriação indébita comum (art. 168 do CP), além do dolo, exige-se um elemento
subjetivo especial (“dolo específico”), que consiste na intenção do agente de não mais
devolver a coisa ao seu proprietário.
Assim, na apropriação indébita comum, exige-se “dolo + elemento subjetivo especial”
(intenção de não mais devolver).
No direito, quando alguém age com a intenção de ter a coisa para si, dizemos que essa
pessoa possui animus rem sibi habendi.
Logo, na apropriação indébita comum só existe crime se ficar provado o dolo + animus rem
sibi habendi.

Para que se configure a apropriação indébita previdenciária, exige-se que fique provado que
o sujeito queria ficar com o dinheiro das contribuições previdenciárias para si? Dito de outro
modo, exige-se animus rem sibi habendi? Uma terceira forma de perguntar a mesma coisa,
exige-se “dolo específico” (elemento subjetivo especial)?
NÃO. É pacífico no STF e STJ que, para a caracterização do crime de apropriação indébita de
contribuição previdenciária (art. 168-A do CP), não há necessidade de comprovação do
“dolo específico” de se apropriar de valores destinados à previdência social. Não se exige
animus rem sibi habendi (STJ. 6ª Turma. AgRg no Ag 1.083.417-SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 25/6/2013).
O art. 168-A do CP é um é tipo penal congruente, ou seja, que não possui “dolo específico”.

Apropriação indébita COMUM Apropriação indébita PREVIDENCIÁRIA


Dolo + elemento subjetivo especial Basta o dolo “genérico”.
(exige-se animus rem sibi habendi) (não se exige animus rem sibi habendi)

Para maiores informações sobre esse crime, veja a apostila publicada no site.
Processo STJ. 6ª Turma. AgRg no Ag 1.083.417-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Vara da infância e juventude pode julgar estupro de vulnerável se previsto na lei estadual

Lei estadual poderá determinar que o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) seja
julgado pela vara da infância e juventude (art. 145 do ECA), mesmo não tendo o art. 148 do ECA
previsto competência criminal para essa vara especializada. Isso porque os Estados-membros
são autorizados pelo art. 125, § 1º da CF/88 a distribuir as competências entre as diversas varas.
Comentários Lei estadual de organização judiciária
A organização judiciária de cada Estado é matéria de competência do Poder Legislativo
estadual, mediante lei de iniciativa do Poder Judiciário local (art. 125, § 1º, da CF/88):

§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de


organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Em outras palavras, o Tribunal de Justiça de cada Estado envia à Assembleia Legislativa um


projeto de lei disciplinando a estrutura e as competências do Tribunal, das comarcas e de
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cada vara, entre outros assuntos. Essa lei, quando aprovada, é chamada de Lei (ou Código)
de organização judiciária. É como se fosse uma Lei orgânica do Poder Judiciário estadual.
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INFORMATIVO esquematizado
A Lei de organização judiciária possui uma relativa liberdade para disciplinar a competência
de cada juízo e vara. Assim, por exemplo, o Código de organização judiciária poderá prever
varas especializadas em crimes contra a ordem tributária, em crimes organizados, em
crimes de trânsito etc.

Varas especializadas e exclusivas da infância e juventude


O ECA previu, em seu art. 145, a possibilidade de os Estados criarem varas especializadas e
exclusivas para tratar dos assuntos ali disciplinados. Essas varas ficaram conhecidas como
“juizados da infância e juventude”. Veja a redação legal:
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da
infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por
número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive
em plantões.

E qual é a competência das varas especializadas da infância e juventude?


O próprio ECA já afirma quais seriam as competências da vara especializada. Confira:
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato
infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à
criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,
aplicando as medidas cabíveis;
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à
criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.

Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é
também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou
guarda;
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao
exercício do poder familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de
outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e
óbito.

Os arts. 145 e 148 do ECA são inconstitucionais por violarem a competência dos Estados
para legislarem sobre a organização judiciária (art. 125, § 1º, da CF/88)?
NÃO. Isso porque o art. 145 do ECA não impôs uma obrigação aos Estados de que criassem
39

juizados da infância e juventude, estabelecendo apenas uma faculdade.


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Assim, o art. 145 não cria varas judiciais, não define limites de comarcas nem estabelece um
número de magistrados a serem alocados nos Juizados da Infância e Juventude. Estes temas

INFORMATIVO esquematizado
seriam concernentes às peculiaridades e circunstâncias locais.
O mencionado artigo apenas faculta a criação dessas varas especializadas e o art. 148 do
ECA prevê as competências que tais juizados terão caso sejam criados.
Não há qualquer problema no fato de a lei federal sugerir aos Tribunais estaduais a criação
de órgãos jurisdicionais especializados. Vale ressaltar que, recentemente, o STF afirmou que
isso é constitucional, ao julgar válida a previsão do art. 33 da Lei Maria da Penha, que
autoriza os Estados a criarem Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
(Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).

Competência da vara da infância e juventude para julgar estupro de vulnerável


No Rio Grande do Sul, a lei estadual previu que a vara da infância e juventude, além das
matérias previstas no art. 148 do ECA, teria competência também para julgar os réus
(adultos) que cometem o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, do CP).
Assim, a lei gaúcha ampliou as hipóteses de competência da vara da infância e juventude,
conferindo a possibilidade de ela julgar processos criminais, o que não é previsto no art. 148
do ECA.

Essa previsão da lei estadual é válida?


SIM. Existe polêmica sobre o assunto, mas a tendência é que prevaleça que é possível essa
previsão da legislação estadual. Nesse sentido, já decidiu o STF:
Considerado o disposto no artigo 145 da Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do
Adolescente – e na Lei nº 12.913/2008, do Estado do Rio Grande do Sul, dá-se a
competência de Vara do Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre para julgar delito
praticado contra criança ou adolescente.
(HC 113102, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 18/12/2012)

A 5ª Turma do STJ, acompanhando a posição do STF, passou a entender que a lei estadual
pode prever, de forma legítima, que o estupro de vulnerável seja julgado pela vara da
infância e juventude. Veja:
(...) 1. O Supremo Tribunal Federal se posicionou no sentido de que o Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, ao estabelecer a organização e divisão judiciária, pode atribuir a
competência para o julgamento de crimes sexuais contra crianças e adolescentes ao Juízo
da Vara da Infância e Juventude, por agregação, ou a qualquer outro Juízo que entender
adequado.
(HC 219.218/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 17/09/2013)

Atenção 1: no Informativo 526 do STJ foi divulgado o RHC 34.742-RS, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 15/8/2013, no qual a 5ª Turma decidiu em sentido contrário ao que expliquei
acima, ou seja, foi decidido que a lei estadual seria inválida. No entanto, esse entendimento
foi superado pela própria 5ª Turma no HC 219.218/RS, julgado em 17/09/2013.

Atenção 2: o tema ainda não é pacífico e será necessário aguardar mais um pouco para se
ter plena certeza da posição do STJ.
Processo STJ.
5ª Turma. RHC 34.742-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 15/8/2013 (precedente noticiado no Info 526 e que
é contrário ao que foi explicado acima).
5ª Turma. HC 219.218/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 17/09/2013 (precedente posterior no mesmo
sentido do que foi explicado acima e que está de acordo com julgado do STF).
40
Página

INFORMATIVO esquematizado
Competência para julgar o crime de peculato-desvio (art. 312 do CP)

Compete ao foro do local onde efetivamente ocorrer o desvio de verba pública – e não ao do
lugar para o qual os valores foram destinados – o processamento e julgamento da ação penal
referente ao crime de peculato-desvio (art. 312, "caput", segunda parte, do CP).
Comentários O art. 312, caput, do CP traz o delito de peculato:
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em
proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

O caput do art. 312 do CP apresenta duas espécies diferentes de peculato:


1ª parte: peculato-apropriação (“Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo”).
2ª parte: peculato-desvio (“... desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”).

Em que momento se consuma o crime de peculato-desvio?


Trata-se de crime material, exigindo, portanto, um resultado naturalístico. Diz-se que esse
crime se consuma no momento em que o agente desvia o bem para finalidade diversa. Para
fins de consumação não importa se o sujeito conseguiu ter o benefício.

“No peculato-desvio, o momento consumativo ocorre com o ato de desvio, sendo


irrelevante se consegue ou não o proveito próprio ou alheio.” (FRANCO, Alberto Silva;
STOCO, Rui. Código Penal e sua interpretação: doutrina e jurisprudência. 8ª ed. São Paulo:
RT, 2007, p. 1435)

Imagine agora a seguinte situação:


“E” foi Deputado Federal, tendo sido eleito pelo Estado do RJ.
Segundo o MPF, “E” indicou para nomeação como secretário parlamentar da Câmara dos
Deputados o seu empregado doméstico (João).
João ficou vários anos recebendo como secretário parlamentar da Câmara, mas, na
verdade, era empregado doméstico de “E” no Rio de Janeiro.
Vale ressaltar que o dinheiro recebido por João era depositado em uma conta bancária de
uma agência localizada no Rio de Janeiro.
O MPF denunciou “E” por peculato-desvio.

A competência para julgar essa ação penal por peculato-desvio será da Justiça Federal do
Rio de Janeiro ou do Distrito Federal?
Justiça Federal do Distrito Federal.

Conforme dispõe o art. 70 do CPP, “a competência será, de regra, determinada pelo lugar
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
último ato de execução”.

Assim, imputando-se a prática, em tese, do crime previsto no art. 312, caput, segunda
parte, do CP, o momento consumativo ocorre quando o funcionário público efetivamente
desvia o dinheiro, valor ou outro bem móvel, independente da obtenção da vantagem
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indevida.
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INFORMATIVO esquematizado
Na hipótese, verifica-se que todos os atos responsáveis pelo desvio do dinheiro foram
realizados no Distrito Federal, quais sejam, a indicação do nome do empregado particular
do denunciado como secretário parlamentar, a sua nomeação e a inclusão na folha de
pagamento da Câmara dos Deputados, ocasião em que passou a receber a remuneração
correspondente ao cargo, deixando, contudo, o órgão legislativo federal de receber a
devida contraprestação (serviço de assessoria parlamentar).

Assim, o fato de o dinheiro ser depositado em uma agência da Caixa Econômica Federal no
Rio de Janeiro em nada interfere na fixação da competência pelo suposto crime de
peculato-desvio.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 119.819-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/8/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Restituição do ICMS pago a maior na hipótese em que a base de cálculo real seja inferior à presumida
(obs: este julgado interessa apenas para os concursos que exigem a matéria de forma mais intensa, como
o caso de Procurador do Estado)

O STF, ao julgar a ADI 1.851/AL, entendeu que o contribuinte somente tem direito à restituição
de valores recolhidos de ICMS no regime de substituição tributária na hipótese de não
ocorrência do fato gerador, ainda que o preço de venda tenha sido inferior à base de cálculo
presumida. Entretanto, a jurisprudência do STJ, na aplicação da orientação do STF na
mencionada ADI, entendeu que o referido entendimento não se aplica aos Estados não
signatários do Convênio 13/97, a exemplo: São Paulo.
No caso de São Paulo, a restituição do imposto pago a maior, na hipótese em que a base de
cálculo real é inferior à presumida, é possível. Todavia, tal restituição não é imediata e
automática, pois há no Estado de São Paulo legislação específica determinando a forma de
restituição dos valores recolhidos a maior a título de ICMS-ST.
Comentários Em razão de esse tema ser bastante complexo e mais voltado a determinados concursos
específicos, não se irá aqui comentá-lo de forma detalhada. Contudo, se você se interessar,
o melhor livro que explica o assunto é o do Ricardo Alexandre (Direito tributário
esquematizado. 6ª ed., São Paulo: Método, 2012, p. 297-305).

Substituição tributária progressiva


A substituição tributária progressiva, também chamada de substituição tributária “para frente”
ou subsequente, é uma técnica de arrecadação de alguns impostos, em especial o ICMS.
Na substituição tributária progressiva, a lei prevê que o tributo deverá ser recolhido antes
mesmo que ocorra o fato gerador. Desse modo, primeiro há um recolhimento do imposto e
o fato gerador se dará em um momento posterior.
Diz-se, então, que o fato gerador é presumido porque haverá o pagamento do tributo sem
ter certeza que ele irá acontecer.

Previsão constitucional
A substituição tributária progressiva é prevista na própria CF/88:
Art. 150 (...) § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de
responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não
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se realize o fato gerador presumido.


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INFORMATIVO esquematizado
Exemplo de Ricardo Alexandre (p. 298):
“A” é uma refinaria de combustíveis que vende a gasolina para os distribuidores (“B”), que
revendem para os postos de gasolina (“C”), que, por fim, vendem ao consumidor final (“D”).
Para o Estado é mais fácil cobrar de “A” todo o tributo que irá incidir sobre a cadeia
produtiva. Assim, “A” pagará o imposto por ele devido como contribuinte e também os
impostos que irão incidir sobre as vendas futuras (nesse caso, pagará como substituto
tributário/responsável tributário).

Veja como fica a cadeia de vendas e a incidência do imposto:


“A” vende para “B” (“A” paga o tributo como contribuinte e também já paga, como
responsável tributário, o imposto relacionado com as vendas futuras).
“B” vende para “C” (“B” não pagará mais o imposto, uma vez que este já foi pago por
“A”, como substituto tributário).
“C” vende para os consumidores (“C” não pagará o imposto, uma vez que este já foi
pago por “A”, como substituto).

Assim, todo o tributo é pago de uma só vez por “A”, sendo calculado sobre o valor pelo qual
se presume que a mercadoria será vendida ao consumidor (ALEXANDRE, Ricardo, p. 299).

O que acontece caso o FG presumido não se realize?


A refinaria “A” já pagou o imposto relacionado com as vendas de “B” para “C” e deste para
“D”. Sucede que, no final das contas, ocorreu um problema e “B” não vendeu a gasolina
para ninguém.
Nesse caso, a própria CF/88 assegura a restituição da quantia paga.
Com efeito, o § 7º do art. 150 da CF/88 afirma que será “assegurada a imediata e
preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido”.
O art. 10 da LC n. 86/96 (“Lei Kandir”) também prevê o direito à restituição:
Art. 10. É assegurado ao contribuinte substituído o direito à restituição do valor do imposto
pago por força da substituição tributária, correspondente ao fato gerador presumido que
não se realizar.

O que acontece caso o FG presumido se realize, mas com um valor diverso do que foi
presumido?
A refinaria “A” já pagou o imposto relacionado com as vendas de “B” para “C” e deste para “D”.
Suponha-se que se presumiu, como preço de venda da gasolina na bomba, o valor de 3
reais o litro, sendo o tributo cobrado com base nesse parâmetro.
Ocorre que, por razões de mercado, a gasolina foi vendida a 2 reais o litro.
Desse modo, o FG que havia sido presumido ocorreu, mas o valor da venda foi menor do
que o previsto no momento de calcular o imposto antecipado.
A refinaria recolheu o ICMS considerando o valor de 3 reais, mas a base de cálculo real foi
de 2 reais.

O Fisco deverá devolver a diferença do imposto entre o que foi pago e aquilo que
efetivamente se deu na prática?
Doutrina majoritária: afirmava que deveria ser devolvida a diferença.
Fisco: defendeu que não deveria haver devolução da diferença. Ricardo Alexandre
expõe os argumentos veiculados (p.. 302):
a) Se forem obrigatórios os ajustes nos casos em que haja diferença entre os valores
43

recolhidos antecipadamente e os valores vendidos, a sistemática da substituição


progressiva perderá boa parte de sua utilidade prática, pois a Administração precisará
Página

voltar a fiscalizar a parte final da cadeia produtiva (no caso citado, os postos).
b) A CF expressamente falou que seria devida a devolução no caso de o FG não se

INFORMATIVO esquematizado
realizar; logo, em caso de recolhimento a maior, não haveria direito à restituição
em virtude de um silêncio eloquente.
Em 1997, 23 dos 27 Estados e DF firmaram o Convênio interestadual 13/1997 (ficaram de
fora somente PE, SP, SC e PR). Nesse Convênio ficou definido que não deveria haver a
restituição dos valores recolhidos a maior (ex: estimou a gasolina a 3 reais e ela foi vendida
a 2 reais). Por outro lado, segundo o Convênio, o Fisco também não poderia fazer a
cobrança extra caso tivesse recolhido os valores a menor (ex: estimou a gasolina a 2 reais e
ela foi vendida a 3 reais).

Foi ajuizada uma ADI n. 1.851-AL contra o Convênio 13/1997, tendo o STF julgado
constitucional a não-restituição prevista no Convênio:
(...) O fato gerador presumido, por isso mesmo, não é provisório, mas definitivo, não dando
ensejo a restituição ou complementação do imposto pago, senão, no primeiro caso, na
hipótese de sua não-realização final.
Admitir o contrário valeria por despojar-se o instituto das vantagens que determinaram a
sua concepção e adoção, como a redução, a um só tempo, da máquina-fiscal e da evasão
fiscal a dimensões mínimas, propiciando, portanto, maior comodidade, economia, eficiência
e celeridade às atividades de tributação e arrecadação. (...)
(ADI 1.851, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 8-5-02, DJ de 22-11-02)

Ocorre que, como vimos acima, quatro Estados não assinaram o Convênio (PE, SP, SC e PR).
No caso de SP e PE, as leis estaduais preveem que é devida a restituição na hipótese de
ocorrência do FG com BC menor que a presumida.

Logo, o STJ, com base nessas leis estaduais, entende que, no caso de SP e PE, é possível a
restituição do imposto pago a maior, na hipótese em que a base de cálculo real é inferior à
presumida.

Veja um precedente da 1ª Turma do STJ:


(...) A Turma reiterou ser cabível o pedido de compensação tributária de ICMS cuja base de
cálculo seja superior ao valor da efetiva comercialização, tendo em vista que o estado
federado, ora recorrido, não é signatário do Convênio ICMS n. 13/1997, bem como possui
legislação que assegura ao contribuinte a restituição do ICMS pago antecipadamente no
regime de substituição tributária. Portanto, não se aplica à hipótese o entendimento do STF
exposto na ADI 1.851-4/AL. (...)
RMS 32.725-PE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 27/9/2011.

Reitero que se trata de um assunto difícil, mas que a melhor explicação possível você
poderá encontrar no livro do Prof. Ricardo Alexandre, obra mais que recomendada.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.371.922-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/8/2013.

PIS/PASEP e COFINS no caso de venda de veículos novos


(obs: este julgado somente será exigido no caso de concursos federais que exijam
Direito Tributário de forma mais intensa)

Na venda de veículos novos, a concessionária deve recolher as contribuições para o PIS/PASEP e a


COFINS sobre a receita bruta/faturamento (arts. 2º e 3º da Lei 9.718/98) – compreendido o valor
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de venda do veículo ao consumidor –, e não apenas sobre a diferença entre o valor de aquisição do
veículo junto à fabricante concedente e o valor da venda ao consumidor (margem de lucro).
Página

Comentários Entre a pessoa jurídica fabricante (montadora-concedente) e o distribuidor


(concessionária), há uma relação de concessão comercial cujo objeto é o veículo a ser
INFORMATIVO esquematizado
vendido ao consumidor.
Esse vínculo, sob o ponto de vista comercial, é regido pela Lei n. 6.729/79, que caracteriza
o fornecimento de mercadorias pela concedente à concessionária como uma compra e
venda mercantil, pois estabelece que o preço de venda ao consumidor deve ser livremente
fixado pela concessionária, enquanto na relação entre concessionária e concedente cabe a
esta fixar “o preço de venda” àquela (art. 13). Confirma o entendimento de que há uma
compra e venda mercantil o disposto no art. 23 da mencionada lei, segundo o qual há
obrigação da concedente de readquirir da concessionária o estoque de veículos pelo "preço
de venda” à rede de distribuição.
Desse modo, é evidente que, na relação de “concessão comercial” prevista na Lei n. 6.729/79,
existe um contrato de compra e venda mercantil que é celebrado entre o concedente e a
concessionária e outro contrato de compra e venda que é celebrado entre a concessionária e o
consumidor, sendo que é o segundo contrato que gera faturamento para a concessionária.
Saliente-se, a propósito, que não há mera intermediação, tampouco operação de consignação.
Isso, inclusive, é confirmado pelo art. 5º da Lei n. 9.718/98, que, quando equipara para fins
tributários as operações de compra e venda de veículos automotores usados a uma operação
de consignação, parte do pressuposto de que a operação de compra e venda de carros novos
não configura consignação. Efetivamente, só se equipara aquilo que não o é; se já o fosse, não
seria necessário equiparar. Sendo assim, caracterizada a venda de veículos automotores novos,
a operação se enquadra dentro do conceito de "faturamento" definido pelo STF quando
examinou o art. 3º, caput, da Lei n. 9.718/1998, fixando que a base de cálculo do PIS e da
COFINS é a receita bruta/faturamento que decorre exclusivamente da venda de mercadorias
e/ou de serviços, não se considerando receita bruta de natureza diversa.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.339.767-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/6/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) No processo administrativo disciplinar, a autoridade julgadora não poderá decidir de forma contrária ao relatório
da comissão processante. ( )

2) A medida de busca e apreensão prevista no procedimento especial da alienação fiduciária somente pode ser
proposta por instituição financeira ou pessoa jurídica de direito público titular de créditos fiscais e
previdenciários. ( )

3) (Juiz TJGO 2012 FCC) Cabe agravo de instrumento contra


A) as decisões interlocutórias proferidas em audiência de instrução e julgamento.
B) a decisão que, ao resolver impugnação ao cumprimento de sentença, extinguir a execução.
C) a sentença que extinguir o processo sem resolução de mérito.
D) a decisão que receber apelação apenas no efeito devolutivo.
E) as sentenças proferidas em execução fiscal de valor igual ou inferior a 50 ORTNs.

4) (DPE/MS 2012 FUVEST) A impugnação no cumprimento de sentença, uma vez decidida, é recorrível
A) por apelação, em quaisquer casos.
B) por apelação apenas quando importar a extinção da execução.
C) por agravo de instrumento, em quaisquer casos.
D) por agravo de instrumento, mesmo quando importar extinção da execução.
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5) (Juiz TJAC 2012 CESPE) No processamento do agravo de instrumento, há situações em que o relator profere
decisão monocraticamente, e não de forma colegiada. Assim, da decisão monocrática do relator que converte o
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agravo de instrumento em agravo retido, a parte inconformada poderá interpor agravo para a turma. ( )

Gabarito
INFORMATIVO esquematizado
1. E 2. C 3. Letra D 4. Letra B 5. E

JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR


RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EM RELAÇÃO A SALDO


REMANESCENTE.
Na fase de cumprimento de sentença, caso o exequente, após o levantamento dos valores depositados
em seu favor, apresente memória de cálculo relativa a saldo remanescente, deverá ser concedida ao
executado nova oportunidade para impugnação. O direito de impugnação – inclusive quanto à alegação
de saldo remanescente – é decorrência natural do direito de ação, possibilitando ao executado reagir
contra execução que se desenvolva de forma injusta ou ilegal. Assim, em situações como a descrita, tendo
em vista tratar-se de novo procedimento executivo versando valores não abrangidos na execução anterior,
deve-se conceder ao devedor a possibilidade de apresentar nova defesa, não havendo preclusão.
REsp 1.265.894-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PARA A EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS FIXADOS EM DECISÃO


JUDICIAL.
A associação que se destine a representar os interesses dos advogados empregados de determinada
entidade, havendo autorização estatutária, tem legitimidade para promover, em favor de seus
associados, a execução de título judicial quanto à parcela da decisão relativa aos honorários de
sucumbência.
Observe-se, inicialmente, que o art. 21 da Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia e da OAB) dispõe que, nas
causas em que for parte o empregador, ou pessoa por este representada, os honorários de sucumbência
serão devidos aos advogados empregados. Destaque-se, ainda, que o artigo emprega o termo plural
"advogados empregados", considerando que o empregador, normalmente, terá mais de um advogado
empregado e que eles, ao longo do processo, terão oportunidade de atuar em conjunto ou isoladamente,
de modo que o êxito, acaso obtido pelo empregador na demanda, será atribuído à equipe de advogados
empregados. Por sua vez, o Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB estabelece, no
parágrafo único de seu art. 14, que os honorários de sucumbência dos advogados empregados constituem
fundo comum, cuja destinação é decidida pelos profissionais integrantes do serviço jurídico da empresa ou
por seus representantes. Assim, existindo uma associação regularmente criada para representar os
interesses dos advogados empregados de determinada entidade, nada obsta que a entidade associativa,
mediante autorização estatutária, possa executar os honorários sucumbenciais pertencentes aos
"advogados empregados", seus associados. Essa possibilidade apenas facilita a formação, administração e
rateio dos recursos do fundo único comum, destinado à divisão proporcional entre todos os associados.
REsp 634.096-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/8/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 527 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.270.439-PR; REsp 1.189.692-RJ; RMS 32.418-PR.

ÍNDICE

Direito Administrativo
Servidor removido em concurso de remoção: seu cônjuge não tem direito à remoção para acompanhá-lo.
Improbidade administrativa: para o STJ, a ação de improbidade contra agentes políticos é de
competência do juízo de 1ª instância.

Direito Empresarial
Cédula de Crédito Bancário é título executivo mesmo na abertura de crédito em conta-corrente.
Honorários advocatícios na impugnação da habilitação de crédito na recuperação judicial.

Direito Civil
Direito ao esquecimento.
A convenção condominial estabelece o quórum necessário para se alterar o regimento interno.
Prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais: 5 anos.
Decretada a usucapião extingue-se a hipoteca judicial que gravava o bem.

Direito Processual Civil


Possibilidade de multa diária para obrigar plano de saúde a autorizar tratamento.
Análise de aspectos constitucionais no recurso especial.
Art. 20 da Lei 10.522/02: inaplicabilidade em execuções fiscais propostas por Conselhos Profissionais.
Cabe reclamação ao STJ, em face de decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais Estaduais em
caso de multa cominatória demasiadamente desproporcional.
Processo coletivo: suspensão dos processos individuais enquanto se aguarda o julgamento da ação
coletiva.
Embargos monitórios: réu poderá alegar a invalidade da taxa de condomínio.
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Direito Penal
Descumprimento de obrigação contratual não consiste, como regra, em crime.
Se o “olheiro” do tráfico era associado ao grupo criminoso deverá responder pelo art. 35 e não pelo art.
37 da Lei de Drogas.
A conduta prevista no art. 12, § 2º, II, da Lei 6.368/1976 continua sendo crime na atual Lei de Drogas.

Direito Processual Penal


Calúnia e difamação praticados em disputa pela posição de cacique: competência da Justiça Federal.
Desvio de verbas do SUS: competência da Justiça Federal.
Compete à Justiça Estadual o julgamento de sonegação fiscal de ISS.
Art. 184, § 2º do CP: competência em caso de DVDs falsificados oriundos do exterior.
O magistrado não pode negar a concessão do indulto com base em pressupostos não previstos no
Decreto presidencial, sob pena de violar o princípio da legalidade.

Direito Previdenciário
Pensão por morte: a união estável poderá ser provada no processo por meio de prova exclusivamente
testemunhal.
Forma de cálculo da RMI no caso de aposentadoria por invalidez precedida de auxílio-doença.

Direito Tributário
Imunidade tributária recíproca: existe uma presunção de que os bens das autarquias e fundações são
utilizados em suas finalidades essenciais.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Servidor removido em concurso de remoção:


seu cônjuge não tem direito à remoção para acompanhá-lo

O servidor público federal não tem direito de ser removido a pedido, independentemente do
interesse da Administração, para acompanhar seu cônjuge, também servidor público, que fora
removido em razão de aprovação em concurso de remoção.
Comentários Remoção
Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo
quadro, com ou sem mudança de sede (art. 36, da Lei n. 8.112/90).

Modalidades de remoção previstas na Lei n. 8.112/90:


a) Remoção ex officio: é aquela que ocorre por imposição da Administração Pública (art.
36, parágrafo único, I);
b) Remoção a pedido do próprio servidor: como o próprio nome indica, é aquela na qual o
servidor requer sua mudança (art. 36, parágrafo único, II e III).

Veja a redação dos dispositivos legais:


Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de
remoção:
I - de ofício, no interesse da Administração;
II - a pedido, a critério da Administração;
2

III - a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração:


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a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi

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deslocado no interesse da Administração;
b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas
expensas e conste do seu assentamento funcional, condicionada à comprovação por junta
médica oficial;
c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o número de
interessados for superior ao número de vagas, de acordo com normas preestabelecidas
pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam lotados.

Remoção para acompanhar cônjuge


A Lei n. 8.112/90 prevê que o servidor público federal tem direito subjetivo de ser
removido para acompanhar seu cônjuge/companheiro que tiver sido removido no interesse
da Administração.

Ex: João e Maria, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife.
João é removido, de ofício, no interesse da Administração, para Porto Velho (art. 36,
parágrafo único, I, da Lei n. 8.112/90). Logo, Maria tem direito de também ser removida
para Porto Velho, acompanhando seu cônjuge.

Essa regra está prevista no art. 36, parágrafo único, III, “a”, da Lei n. 8.112/90:
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de
remoção:
(...)
III - a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração:
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi
deslocado no interesse da Administração;

Imagine agora a seguinte situação:


João e Maria, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife.
É aberta uma vaga em Salvador para o cargo de João. Este concorre no concurso de
remoção e consegue ser removido para a capital baiana.

Maria terá direito de ser removida junto com João, com fulcro no art. 36, III, “a”?
O servidor que é transferido de localidade a pedido, após concorrer em concurso de
remoção, gera para seu cônjuge o direito subjetivo de também ser transferido para
acompanhá-lo, independentemente do interesse da Administração?
NÃO. Foi assim que decidiu a 1ª Turma do STJ.

Para o STJ, a remoção para acompanhar cônjuge/companheiro só pode ocorrer se o


cônjuge/companheiro tiver sido removido ex officio (art. 36, parágrafo único, I). Se a
remoção anterior foi a pedido (art. 36, parágrafo único, II e III), a pessoa não terá direito de
ser também removida para acompanhar seu cônjuge/companheiro.

A transferência por conta de concurso de remoção consiste em uma modalidade da


remoção “a pedido” (art. 36, parágrafo único, III, “a”). Logo, ela não dá direito à remoção
para acompanhar cônjuge.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.290.031-PE, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 20/8/2013.
3
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INFORMATIVO esquematizado
Para o STJ, a ação de improbidade contra agentes políticos é de competência do juízo de 1ª instância

Para o STJ, a ação de improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias
ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito
penal e nos crimes de responsabilidade.
Comentários Um dos temas atualmente mais polêmicos sobre Direito Administrativo diz respeito à
existência ou não de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”) nas ações de
improbidade administrativa.

Vamos tentar dar aqui as informações mais seguras, ressaltando, no entanto, que se trata
de assunto extremamente polêmico e que ainda não existe uniformidade na jurisprudência.

Nosso estudo divide-se em 9 pontos de destaque:

1) Natureza cível da ação de improbidade


A ação de improbidade administrativa possui natureza cível. Em outras palavras, é uma
ação civil e não uma ação penal.

Existe foro por prerrogativa de função no caso de ações cíveis?


NÃO. Em regra, somente existe foro por prerrogativa de função no caso de ações penais e
não em demandas cíveis.
Ex1: se for proposta uma ação penal contra um Deputado Federal, esta deverá ser ajuizada
no STF.
Ex2: se for ajuizada uma ação de cobrança de dívida contra esse mesmo Deputado, a
demanda será julgada por um juízo de 1ª instância.

Por que existe essa diferença?


Porque a Constituição assim idealizou o sistema. Com efeito, as competências do STF e do
STJ foram previstas pela CF/88 de forma expressa e taxativa.
No arts. 102 e 105 da CF/88, que preveem as competências do STF e do STJ, existe a
previsão de que as ações penais contra determinadas autoridades serão julgadas por esses
Tribunais. Não há, contudo, nenhuma regra que diga que as ações de improbidade serão
julgadas pelo STF e STJ.

2) Lei n. 10.628/2012 previu foro por prerrogativa de função para a ação de improbidade:
Em 24/12/2002, foi editada a Lei n. 10.628, que acrescentou o § 2º ao art. 84 do CPP,
prevendo foro por prerrogativa de função para as ações de improbidade. Veja:
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do
Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles
por crimes comuns e de responsabilidade.
(...)
§ 2º A ação de improbidade, de que trata a Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992, será
proposta perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o
funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício de
função pública, observado o disposto no § 1º.

3) ADI 2797
4

Diante dessa alteração legislativa, foi proposta a ADI 2797 contra a Lei n. 10.628/2002 e o
Página

STF julgou inconstitucional o referido § 2º do art. 84 do CPP, decisão proferida em


15/09/2005.

INFORMATIVO esquematizado
O Supremo decidiu que “no plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal
dos tribunais da União são as previstas na Constituição da República ou dela implicitamente
decorrentes. (...) Quanto aos Tribunais locais, a Constituição Federal - salvo as hipóteses dos
seus arts. 29, X e 96, III -, reservou explicitamente às Constituições dos Estados-membros a
definição da competência dos seus tribunais, o que afasta a possibilidade de ser ela alterada
por lei federal ordinária.” (ADI 2797, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado
em 15/09/2005).
Em suma, o STF afirmou que, como a Constituição não estabeleceu foro por prerrogativa de
função para as ações de improbidade administrativa, a lei ordinária não poderia prever.
Desse modo, com a decisão da ADI 2797, ficou prevalecendo o entendimento de que as
ações de improbidade administrativa deveriam ser julgadas em 1ª instância.

4) Reclamação 2138/DF: agentes políticos sujeitos aos crimes de responsabilidade da Lei


n. 1.079/50 não respondem por improbidade administrativa
O MPF ajuizou uma ação de improbidade administrativa contra um Ministro de Estado.
A ação foi proposta na Justiça Federal de 1ª instância, que condenou o Ministro à perda do
cargo e à suspensão de seus direitos políticos.
Diante dessa decisão, o requerido ingressou com uma reclamação no STF formulando a
seguinte tese:
O Ministro de Estado é um agente político e os agentes políticos já respondem por crimes
de responsabilidade, previstos na Lei n. 1.079/50.
As condutas previstas na Lei de improbidade administrativa em muito se assemelham aos
crimes de responsabilidade trazidos pela Lei n. 1.079/50. Logo, caso os agentes políticos
respondessem também por improbidade administrativa, haveria bis in idem.

Nessa ocasião, o STF acolheu a tese?


SIM. O STF decidiu que a Lei de Improbidade Administrativa não se aplica aos agentes
políticos quando a conduta praticada já for prevista como crime de responsabilidade (Lei n.
1.079/50).
O STF entendeu que punir o agente político por improbidade administrativa e por crime de
responsabilidade seria bis in idem e que deveria ser aplicada apenas a Lei n. 1.079/50, por
ser mais específica (princípio da especialidade).

A Lei n. 1.079/50 prevê crimes de responsabilidade para os seguintes agentes políticos:


1. Presidente da República;
2. Ministros de Estado;
3. Procurador-Geral da República;
4. Ministros do STF;
5. Governadores;
6. Secretários de Estado.

Segundo decidiu o STF na ocasião, para que o agente político não responda por
improbidade administrativa é necessário o preenchimento de duas condições:
a) Esse agente político deverá ser uma das autoridades sujeitas à Lei n. 1.079/50;
b) O fato por ele praticado deverá ser previsto como improbidade administrativa e
também como crime de responsabilidade.

Veja trechos da ementa:


5

(...) Os atos de improbidade administrativa são tipificados como crime de responsabilidade


Página

na Lei n° 1.079/1950, delito de caráter político-administrativo.


(...) A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade

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político-administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4º (regulado pela
Lei n° 8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei n° 1.079/1950).
Se a competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse
abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de
responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I,
"c", da Constituição.
(...) Os Ministros de Estado, por estarem regidos por normas especiais de responsabilidade
(CF, art. 102, I, "c"; Lei n° 1.079/1950), não se submetem ao modelo de competência
previsto no regime comum da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n° 8.429/1992).
(...) Compete exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar os delitos
político-administrativos, na hipótese do art. 102, I, "c", da Constituição. Somente o STF
pode processar e julgar Ministro de Estado no caso de crime de responsabilidade e, assim,
eventualmente, determinar a perda do cargo ou a suspensão de direitos políticos.
(...) Incompetência dos juízos de primeira instância para processar e julgar ação civil de
improbidade administrativa ajuizada contra agente político que possui prerrogativa de foro
perante o Supremo Tribunal Federal, por crime de responsabilidade, conforme o art. 102, I,
"c", da Constituição.
III. Reclamação Julgada Procedente.
(Rcl 2138, Rel. p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 13/06/2007)

Vale ressaltar que o resultado do julgamento acima foi extremamente polêmico e


conquistado por uma apertada maioria de votos (6x5). O placar foi o seguinte:
Julgando PROCEDENTE a reclamação Julgando IMPROCEDENTE a reclamação
Min. Nelson Jobim Min. Carlos Velloso
Min. Ellen Gracie Min. Sepúlveda Pertence
Min. Maurício Corrêa Min. Celso de Mello
Min. Ilmar Galvão Min. Marco Aurélio
Min. Cezar Peluso Min. Joaquim Barbosa
Min. Gilmar Mendes

Obs: atualmente, apenas o Min. Gilmar Permanecem no STF os Ministros Marco


Mendes continua no STF. Aurélio, Joaquim Barbosa e Celso de Mello.

5) Pet 3211/DF: a competência para julgar ação de improbidade administrativa proposta


contra Ministro do STF é do próprio STF
O MPF ajuizou uma ação de improbidade administrativa contra o Min. Gilmar Mendes,
questionando atos por ele praticados na época em que foi Advogado Geral da União.
A ação foi proposta na Justiça Federal de 1ª instância.
Como o requerido era Ministro do STF, iniciou-se uma discussão sobre de quem seria a
competência para julgar a causa.
O STF decidiu, então, que a competência para julgar uma ação de improbidade contra um
dos Ministros do Supremo seria do próprio Tribunal (Pet 3211 QO, Relator p/ Acórdão Min.
Menezes Direito, Tribunal Pleno, julgado em 13/03/2008).

6) Rcl 2.790/SC: a Corte Especial do STJ, no julgamento dessa reclamação, chegou a duas
conclusões importantes:
a) Os agentes políticos se submetem à Lei de Improbidade Administrativa (Lei n.
6

8.429/92), com exceção do Presidente da Republica.


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b) Existe foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade administrativa.

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a) Agentes políticos se submetem à Lei de Improbidade Administrativa
O STJ discordou do entendimento do STF manifestado na Reclamação 2138/DF e afirmou
que os agentes políticos respondem sim por improbidade administrativa, com exceção do
Presidente da República. Veja trecho da ementa:
(...) Excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo Presidente da República
(art. 85, V), cujo julgamento se dá em regime especial pelo Senado Federal (art. 86), não há
norma constitucional alguma que imunize os agentes políticos, sujeitos a crime de
responsabilidade, de qualquer das sanções por ato de improbidade previstas no art. 37, §
4.º. Seria incompatível com a Constituição eventual preceito normativo infraconstitucional
que impusesse imunidade dessa natureza. (...)
(Rcl 2790/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Corte Especial, julgado em 02/12/2009)

b) Foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade


Outra conclusão do julgado foi a de que seria possível o foro por prerrogativa de função nas
ações de improbidade administrativa.
Assim, segundo foi decidido, o STJ possuiria competência implícita para julgar as ações de
improbidade administrativa propostas contra os agentes públicos que estivessem sob sua
jurisdição penal originária.
Em outros termos, concluiu-se que, se a autoridade tivesse foro privativo no STJ em matéria
criminal, teria também a prerrogativa de ser julgado no STJ em caso de ação de
improbidade.
Exemplo: se fosse proposta uma ação de improbidade contra um Desembargador, contra
um Conselheiro do TCE ou contra o Governador do Estado, essa ação deveria ser julgada
pelo STJ. O raciocínio era o seguinte: já que o STJ tinha competência para julgar as ações
penais contra esses agentes públicos, teria também, implicitamente, competência para
julgar as ações de improbidade.
Confira o trecho da ementa que espelhou essa conclusão:
(...) norma infraconstitucional não pode atribuir a juiz de primeiro grau o julgamento de
ação de improbidade administrativa, com possível aplicação da pena de perda do cargo,
contra Governador do Estado, que, a exemplo dos Ministros do STF, também tem
assegurado foro por prerrogativa de função, tanto em crimes comuns (perante o STJ),
quanto em crimes de responsabilidade (perante a respectiva Assembléia Legislativa). É de
se reconhecer que, por inafastável simetria com o que ocorre em relação aos crimes
comuns (CF, art. 105, I, a), há, em casos tais, competência implícita complementar do
Superior Tribunal de Justiça. (...)
(Rcl 2790/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Corte Especial, julgado em 02/12/2009)

7) Caso seja provocado, o Plenário do STF manterá o mesmo entendimento manifestado


na Reclamação 2138/DF (julgada em 2007)?
Provavelmente não. Essa é a análise feita pelos estudiosos que analisam a jurisprudência do
STF, sendo também a previsão realizada pela Corte Especial do STJ (AgRg na Rcl 12.514-MT).

Essa previsão é baseada em decisões monocráticas já proferidas pelos Ministros, negando


que os agentes políticos tenham foro por prerrogativa de função no STF para as ações de
improbidade administrativa. Veja o quadro atual:
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Não admitem foro privativo no STF para ações Admite foro privativo no STF para ações de
de improbidade contra agentes políticos improbidade contra agentes políticos
Min. Celso de Mello (Pet 5.080, DJ 01/08/13) Min. Luiz Fux (MS 31.234, DJ 27/03/12)
Min. Marco Aurélio (Rcl 15.831, DJ 20/06/13)
Min. Joaquim Barbosa (Rcl 15.131 DJ 04/02/13)
Min. Cármen Lúcia (Rcl 15.825, DJ 13/06/13)
Min. Rosa Weber (Rcl 2.509, DJ 06/03/2013)

O Ministro Ari Pargendler, do STJ, em voto no qual faz um belo estudo sobre o tema acima
exposto, afirma textualmente:
“Salvo melhor juízo, o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da
Reclamação nº 2.138, DF, constituiu um episódio isolado na jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, e tudo leva crer que não se repetirá à vista de sua nova composição.”
(AgRg na Rcl 12.514-MT, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 16/9/2013).

Desse modo, existe uma tendência de que o Plenário do STF, se novamente provocado,
decida que as ações de improbidade contra autoridades com foro por prerrogativa de
função sejam julgadas em 1ª instância e não no STF.

8) AgRg na Rcl 12.514-MT: o STJ volta atrás e solidifica o entendimento de que NÃO existe
foro por prerrogativa de função em ações de improbidade administrativa mesmo se
propostas contra agentes políticos que são julgados penalmente no STJ.
Segundo decidiu a Corte Especial do STJ, “a ação de improbidade administrativa deve ser
processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente político
que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade.” (AgRg na
Rcl 12514/MT, Rel. Min. Ari Pargendler, Corte Especial, julgado em 16/09/2013).

9) Conclusões:
Conforme já ressaltado no início, o tema exposto é polêmico e não há garantias de que as
conclusões aqui demonstradas se confirmem na jurisprudência, até porque os Ministros
podem mudar de entendimento.

No cenário atual, contudo, é possível expormos as seguintes conclusões:

9.1) Não existe foro por prerrogativa de função em ações de improbidade administrativa
(posição do STF e do STJ).

9.2) O STJ entende que os prefeitos podem responder por improbidade administrativa e
também pelos crimes de responsabilidade do Decreto-Lei 201/67 (ex: REsp 1066772/MS).
A ação de improbidade administrativa contra os prefeitos será julgada em 1ª instância.

9.3) Para o STJ, os agentes políticos se submetem à Lei de Improbidade Administrativa,


com exceção do Presidente da República.
Logo, é possível que os agentes políticos respondam pelos crimes de responsabilidade da
Lei n. 1.079/50 e também por improbidade administrativa.
Ex: é possível o ajuizamento de ação de improbidade administrativa em face de
8

Governador de Estado (EDcl no AgRg no REsp 1.216.168-RS, Rel. Min. Humberto Martins,
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julgado em 24/9/2013).

INFORMATIVO esquematizado
9.4) Para o STJ, a ação de improbidade administrativa deve ser processada e julgada em
1ª instância, ainda que tenha sido proposta contra agente político que tenha foro
privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade.
Logo, para o STJ, as ações de improbidade administrativa propostas contra:
Governadores de Estado/DF;
Desembargadores (TJ, TRF ou TRT);
Conselheiros dos Tribunais de Contas (dos Estados, do DF ou dos Municípios);
Membros do MPU que oficiem perante tribunais.

Devem ser julgadas pelo juiz de 1ª instância (e não pelo STJ).

9.5) O STF já decidiu, em 2007, que os agentes políticos sujeitos aos crimes de
responsabilidade da Lei n. 1.079/50 não respondem por improbidade administrativa (Rcl
2138/DF).
Obs: existe uma grande probabilidade de que a atual composição da Corte modifique esse
entendimento.

9.6) O STF já decidiu, em 2008, que a competência para julgar ação de improbidade
administrativa proposta contra Ministro do STF é do próprio STF (Pet 3211/DF QO).
Entendeu-se que haveria um desvirtuamento do sistema se um juiz de grau inferior
pudesse decretar a perda do cargo de um magistrado de Tribunal Superior.
Obs: penso que existem grandes chances de esse entendimento ser mantido.

Processo STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 12.514-MT, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 16/9/2013.

DIREITO CIVIL

Direito ao esquecimento

O STJ admite, a depender do caso concreto, o chamado direito ao esquecimento.


Comentários DIREITO AO ESQUECIMENTO

Em que consiste?
O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato,
ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público
em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos.

Exemplo histórico: “caso Lebach” (Soldatenmord von Lebach)


O exemplo mais conhecido e mencionado é o chamado “caso Lebach”, julgado pelo Tribunal
Constitucional Alemão.
A situação foi a seguinte: em 1969, quatro soldados alemães foram assassinados em uma
cidade na Alemanha chamada Lebach.
Após o processo, três réus foram condenados, sendo dois à prisão perpétua e o terceiro a
seis anos de reclusão.
Esse terceiro condenado cumpriu integralmente sua pena e, dias antes de deixar a prisão,
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ficou sabendo que uma emissora de TV iria exibir um programa especial sobre o crime no
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qual seriam mostradas, inclusive, fotos dos condenados e a insinuação de que eram
homossexuais.

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Diante disso, ele ingressou com uma ação inibitória para impedir a exibição do programa.
A questão chegou até o Tribunal Constitucional Alemão, que decidiu que a proteção
constitucional da personalidade não admite que a imprensa explore, por tempo ilimitado, a
pessoa do criminoso e sua vida privada.
Assim, naquele caso concreto, entendeu-se que o princípio da proteção da personalidade
deveria prevalecer em relação à liberdade de informação. Isso porque não haveria mais um
interesse atual naquela informação (o crime já estava solucionado e julgado há anos). Em
contrapartida, a divulgação da reportagem iria causar grandes prejuízos ao condenado, que
já havia cumprido a pena e precisava ter condições de se ressocializar, o que certamente
seria bastante dificultado com a nova exposição do caso. Dessa forma, a emissora foi
proibida de exibir o documentário.

Quando se fala em direito ao esquecimento é importante citar o jurista e filósofo francês


François Ost, que escreveu:
“Uma vez que, personagem pública ou não, fomos lançados diante da cena e colocados sob
os projetores da atualidade – muitas vezes, é preciso dizer, uma atualidade penal –, temos o
direito, depois de determinado tempo, de sermos deixados em paz e a recair no
esquecimento e no anonimato, do qual jamais queríamos ter saído (OST, François. O Tempo
do direito. Trad. Élcio Fernandes. Bauru: Edusc, 2005, p. 160).

Nomenclatura
O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em paz” ou o
“direito de estar só”.
Em outros países, é conhecido como the right to be let alone ou derecho al olvido.

Fundamento
No Brasil, o direito ao esquecimento possui assento constitucional e legal, considerando
que é uma consequência do direito à vida privada (privacidade), intimidade e honra,
assegurados pela CF/88 (art. 5º, X) e pelo CC/02 (art. 21).
Alguns autores também afirmam que o direito ao esquecimento é uma decorrência da
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88).

Conflito entre interesses constitucionais


A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a
liberdade de expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a
intimidade, privacidade e honra.

O direito ao esquecimento é uma criação recente?


Não. Há muitos anos discute-se esse direito na Europa e nos EUA.
A título de exemplo, Fraçois Ost menciona interessante decisão, de 1983, do Tribunal de
última instância de Paris (Mme. Filipachi Cogedipresse), no qual esse direito restou
assegurado nos seguintes termos:
“(...) qualquer pessoa que se tenha envolvido em acontecimentos públicos pode, com o
passar do tempo, reivindicar o direito ao esquecimento; a lembrança destes
acontecimentos e do papel que ela possa ter desempenhado é ilegítima se não for fundada
nas necessidades da história ou se for de natureza a ferir sua sensibilidade; visto que o
direito ao esquecimento, que se impõe a todos, inclusive aos jornalistas, deve igualmente
beneficiar a todos, inclusive aos condenados que pagaram sua dívida para com a sociedade
10

e tentam reinserir-se nela.” (ob. cit. p. 161).


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Por que, então, esse tema está sendo novamente tão discutido?
O direito ao esquecimento voltou a ser tema de inegável importância e atualidade em razão
da internet. Isso porque a rede mundial de computadores praticamente eterniza as notícias
e informações. Com poucos cliques é possível ler reportagens sobre fatos ocorridos há
muitos anos, inclusive com fotos e vídeos. Enfim, é quase impossível ser esquecido com
uma ferramenta tão poderosa disponibilizando facilmente um conteúdo praticamente
infinito.
No Brasil, o direito ao esquecimento voltou a ser palco de intensos debates em razão da
aprovação de um enunciado nesse sentido VI Jornada de Direito Civil, além de o STJ ter
julgado dois casos envolvendo esse direito há pouco tempo.

O direito ao esquecimento aplica-se apenas a fatos ocorridos no campo penal?


Não. A discussão quanto ao direito ao esquecimento surgiu, de fato, para o caso de ex-
condenados que, após determinado período, desejavam que esses antecedentes criminais
não mais fossem expostos, o que lhes causava inúmeros prejuízos. No entanto, esse debate
foi se ampliando e, atualmente, envolve outros aspectos da vida da pessoa que ela almeja
que sejam esquecidos.
É o caso, por exemplo, da apresentadora Xuxa que, no passado fez um determinado filme
do qual se arrepende e que ela não mais deseja que seja exibido ou rememorado por lhe
causar prejuízos profissionais e transtornos pessoais.
Pode-se imaginar, ainda, que o indivíduo deseje simplesmente ser esquecido, deixado em
paz. Nesse sentido, podemos imaginar o exemplo de uma pessoa que era famosa (um
artista, esportista, político etc.) que, em determinado momento de sua vida, decide voltar a
ser um anônimo e não mais ser incomodado com reportagens, entrevistas ou qualquer
outra forma de exposição pública. Em certa medida, isso aconteceu na década de 90 com a
ex-atriz Lídia Brondi e, mais recentemente, com Ana Paula Arósio que, mesmo tendo
carreiras de muito sucesso na televisão, optaram por voltar ao anonimato. Essa é, portanto,
uma das expressões do direito ao esquecimento, que deve ser juridicamente assegurado.
Assim, se um veículo de comunicação tiver a infeliz ideia de fazer um especial mostrando a
vida atual dessas ex-atrizes, com câmeras acompanhando seu dia-a-dia, entrevistando
pessoas que as conheciam na época, mostrando lugares que atualmente frequentam etc.,
elas poderão requerer ao Poder Judiciário medidas que impeçam essa violação ao seu
direito ao esquecimento.

Críticas ao chamado “direito ao esquecimento”


Vale ressaltar que existem doutrinadores que criticam a existência de um “direito ao
esquecimento”.
O Min. Luis Felipe Salomão, no julgamento do REsp 1.335.153-RJ, apesar de ser favorável ao
direito ao esquecimento, colacionou diversos argumentos contrários à tese. Vejamos os
mais relevantes:
a) o acolhimento do chamado direito ao esquecimento constituiria um atentado à
liberdade de expressão e de imprensa;
b) o direito de fazer desaparecer as informações que retratam uma pessoa significa perda
da própria história, o que vale dizer que o direito ao esquecimento afronta o direito à
memória de toda a sociedade;
c) o direito ao esquecimento teria o condão de fazer desaparecer registros sobre crimes e
criminosos perversos, que entraram para a história social, policial e judiciária,
informações de inegável interesse público;
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d) é absurdo imaginar que uma informação que é lícita se torne ilícita pelo simples fato de
que já passou muito tempo desde a sua ocorrência;
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e) quando alguém se insere em um fato de interesse coletivo, mitiga-se a proteção à


intimidade e privacidade em benefício do interesse público.
INFORMATIVO esquematizado
Sem dúvida nenhuma, o principal ponto de conflito quanto à aceitação do direito ao
esquecimento reside justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de
expressão e de imprensa e com o direito à informação.

Direito ao esquecimento e enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ


Em março de 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado um enunciado
defendendo a existência do direito ao esquecimento como uma expressão da dignidade da
pessoa humana. Veja:
Enunciado 531: A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui
o direito ao esquecimento.

Apesar de tais enunciados não terem força cogente, trata-se de uma importante fonte de
pesquisa e argumentação utilizada pelos profissionais do Direito.

O STJ acolhe a tese do direito ao esquecimento?


SIM. A 4ª Turma do STJ, em dois julgados recentes, afirmou que o sistema jurídico brasileiro
protege o direito ao esquecimento (REsp 1.335.153-RJ e REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgados em 28/5/2013).

Como conciliar, então, o direito ao esquecimento com o direito à informação?


Deve-se analisar se existe um interesse público atual na divulgação daquela informação.
Se ainda persistir, não há que se falar em direito ao esquecimento, sendo lícita a
publicidade daquela notícia. É o caso, por exemplo, de “crimes genuinamente históricos,
quando a narrativa desvinculada dos envolvidos se fizer impraticável” (Min. Luis Felipe
Salomão).
Por outro lado, se não houver interesse público atual, a pessoa poderá exercer seu direito
ao esquecimento, devendo ser impedidas notícias sobre o fato que já ficou no passado.

Como assevera o Min. Gilmar Ferreira Mendes:


“Se a pessoa deixou de atrair notoriedade, desaparecendo o interesse público em torno
dela, merece ser deixada de lado, como desejar. Isso é tanto mais verdade com relação, por
exemplo, a quem já cumpriu pena criminal e que precisa reajustar-se à sociedade. Ele há de
ter o direito a não ver repassados ao público os fatos que o levaram à penitenciária
(MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional. 1ª ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 374).

O Min. Luis Felipe Salomão também ressaltou que “ressalvam-se do direito ao


esquecimento os fatos genuinamente históricos – historicidade essa que deve ser analisada
em concreto – cujo interesse público e social deve sobreviver à passagem do tempo” (REsp
1.334.097).

A 4ª Turma do STJ enfrentou o tema direito ao esquecimento em dois casos recentes:


A situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097);
O caso “Aída Curi” (REsp 1.335.153).

Chacina da Candelária (REsp 1.334.097)


Determinado homem foi denunciado por ter, supostamente, participado da conhecida
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“chacina da Candelária” (ocorrida em 1993 no Rio de Janeiro).


Ao final do processo, ele foi absolvido.
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Anos após a absolvição, a rede Globo de televisão realizou um programa chamado “Linha

INFORMATIVO esquematizado
Direta”, no qual contou como ocorreu a “chacina da Candelária” e apontou o nome desse
homem como uma das pessoas envolvidas nos crimes e que foi absolvido.
O indivíduo ingressou, então, com ação de indenização, argumentando que sua exposição
no programa, para milhões de telespectadores, em rede nacional, reacendeu na
comunidade onde reside a imagem de que ele seria um assassino, violando seu direito à
paz, anonimato e privacidade pessoal. Alegou, inclusive, que foi obrigado a abandonar a
comunidade em que morava para preservar sua segurança e a de seus familiares.
A 4ª Turma do STJ reconheceu que esse indivíduo possuía o direito ao esquecimento e que
o programa poderia muito bem ser exibido sem que fossem mostrados o nome e a
fotografia desse indivíduo que foi absolvido. Se assim fosse feito, não haveria ofensa à
liberdade de expressão nem à honra do homem em questão.
O STJ entendeu que o réu condenado ou absolvido pela prática de um crime tem o direito
de ser esquecido, pois se a legislação garante aos condenados que já cumpriram a pena o
direito ao sigilo da folha de antecedentes e a exclusão dos registros da condenação no
instituto de identificação (art. 748 do CPP), logo, com maior razão, aqueles que foram
absolvidos não podem permanecer com esse estigma, devendo ser assegurado a eles o
direito de serem esquecidos.
Como o programa já havia sido exibido, a 4ª Turma do STJ condenou a rede Globo ao
pagamento de indenização por danos morais em virtude da violação ao direito ao
esquecimento.

Caso Aída Curi (REsp 1.335.153)


O segundo caso analisado foi o dos familiares de Aída Curi, abusada sexualmente e morta
em 1958 no Rio de Janeiro.
A história desse crime, um dos mais famosos do noticiário policial brasileiro, foi
apresentada pela rede Globo, também no programa “Linha Direta”, tendo sido feita a
divulgação do nome da vítima e de fotos reais, o que, segundo seus familiares, trouxe a
lembrança do crime e todo sofrimento que o envolve.
Em razão da veiculação do programa, os irmãos da vítima moveram ação contra a emissora,
com o objetivo de receber indenização por danos morais, materiais e à imagem.
A 4ª Turma do STJ entendeu que não seria devida a indenização, considerando que, nesse
caso, o crime em questão foi um fato histórico, de interesse público e que seria impossível
contar esse crime sem mencionar o nome da vítima, a exemplo do que ocorre com os
crimes históricos, como os casos “Dorothy Stang” e “Vladimir Herzog”.
Mesmo reconhecendo que a reportagem trouxe de volta antigos sentimentos de angústia,
revolta e dor diante do crime, que aconteceu quase 60 anos atrás, a Turma entendeu que o
tempo, que se encarregou de tirar o caso da memória do povo, também fez o trabalho de
abrandar seus efeitos sobre a honra e a dignidade dos familiares.
Na ementa, restou consignado:
“(...) o direito ao esquecimento que ora se reconhece para todos, ofensor e ofendidos, não
alcança o caso dos autos, em que se reviveu, décadas depois do crime, acontecimento que
entrou para o domínio público, de modo que se tornaria impraticável a atividade da
imprensa para o desiderato de retratar o caso Aída Curi, sem Aída Curi.”

Direito ao esquecimento x direito à memória


O reconhecimento do “direito ao esquecimento” passa por outro interessante desafio:
como conciliá-lo com o chamado “direito à memória e à verdade histórica”?
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Em que consiste o direito à memória?


Quando um país faz a transição de um regime ditatorial para um Estado democrático, ele
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deverá passar por um processo de mudança e adaptação, chamado pela doutrina de


“Justiça de Transição”. A Justiça de Transição significa uma série de medidas que devem ser
INFORMATIVO esquematizado
tomadas para que essa ruptura com o modelo anterior e inauguração de uma nova fase
sejam feitas sem traumas, revanchismos, mas também sem negar a existência do passado.
Podemos citar como providências decorrentes da Justiça de Transição: a) a reforma das
instituições existentes no modelo anterior; b) a responsabilização criminal das pessoas que
cometeram crimes; c) a reparação das vítimas e perseguidos políticos; e d) a busca pela
verdade histórica e a defesa do direito à memória.
Em se tratando de Brasil, podemos conceituar o direito à memória e à verdade histórica
como sendo o direito que possuem os lesados e toda a sociedade brasileira de esclarecer os
fatos e as circunstâncias que geraram graves violações de direitos humanos durante o
período de ditatura militar, tais como os casos de torturas, mortes, desaparecimentos
forçados, ocultação de cadáveres etc.
O direito à memória também encontra fundamento no princípio da dignidade da pessoa
humana e no compromisso do Estado constitucional brasileiro de assegurar o respeito aos
direitos humanos (art. 4º, II, da CF/88).
O direito à memória foi regulamentado pela Lei n. 12.528/2011, que criou a Comissão
Nacional da Verdade, destinada a apurar as circunstâncias em que ocorreram violações a
direitos humanos durante o período de ditadura militar.

O direito ao esquecimento impede que seja exercido o direito à memória?


NÃO. O direito ao esquecimento não tem o condão de impedir a concretização do direito à
memória. Isso porque as violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura
militar são fatos de extrema relevância histórica e de inegável interesse público. Logo, em
uma ponderação de interesses, o direito individual ao esquecimento cede espaço ao direito
à memória e à verdade histórica.
Vale lembrar que o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em
24/11/2010, no Caso “Gomes Lund e outros” (Guerrilha do Araguaia), dentre outras razões, por
ter negado acesso aos arquivos estatais que possuíam informações sobre essa guerrilha.
Na sentença, a Corte determinou que o Brasil “deve continuar desenvolvendo as iniciativas
de busca, sistematização e publicação de toda a informação sobre a Guerrilha do Araguaia,
assim como da informação relativa a violações de direitos humanos ocorridas durante o
regime militar”.
Desse modo, em outros termos, a própria Corte Interamericana de Direitos Humanos
determinou que o Brasil assegure o direito à memória.

Guerrilha do Araguaia
Apenas para esclarecer os que ainda não conhecem, “Guerrilha do Araguaia” foi um
movimento social e político que se organizou na região amazônica brasileira, ao longo do rio
Araguaia, entre o fim da década de 60 e a primeira metade da década de 70 por meio do
qual se pretendia derrubar o regime militar e se instaurar um governo comunista.
Dizem os historiadores que a grande maioria dos participantes do movimento foi morta
pelo Exército brasileiro em combates ou após serem presos. Inúmeros outros sumiram sem
deixar rastros, sendo considerados desaparecidos políticos.
Até hoje, familiares e organizações de direitos humanos tentam ter acesso aos arquivos
militares da época e buscam localizar e identificar corpos dessas pessoas tidas como
desaparecidas.

O direito ao esquecimento e os desafios impostos pela internet


Como já exposto acima, a internet praticamente eterniza as notícias e informações. Com
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poucos cliques é possível ler reportagens sobre fatos ocorridos há muitos anos, inclusive
com fotos e vídeos. Esses dados são rapidamente espalhados e ficam armazenados em
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servidores espalhados ao redor do mundo, muitos em países que não mantêm tratados
internacionais de cooperação judiciária.
INFORMATIVO esquematizado
Diante disso, atualmente, é impossível garantir, na prática, o direito ao esquecimento na
internet. Existe até mesmo um ditado que afirma que “uma vez on line, para sempre on
line”. Em outros termos, depois que algo foi para a internet, é impossível retirá-lo.
Justamente por isso, o Min. Luis Felipe Salomão menciona que, “em recente palestra
proferida na Universidade de Nova York, o alto executivo da Google Eric Schmidt afirmou
que a internet precisa de um botão de delete. Informações relativas ao passado distante de
uma pessoa podem assombrá-la para sempre, causando entraves, inclusive, em sua vida
profissional, como no exemplo dado na ocasião, de um jovem que cometeu um crime em
relação ao qual as informações seriam expurgadas de seu registro na fase adulta, mas que o
mencionado crime poderia permanecer on-line, impedindo a pessoa de conseguir
emprego.” (REsp 1.334.097).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.335.153-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/5/2013.
REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/5/2013.

A convenção condominial estabelece o quórum necessário para se alterar o regimento interno

A alteração de regimento interno de condomínio edilício depende de votação com observância


do quórum estipulado na convenção condominial.
Comentários CONDOMÍNIO EDILÍCIO

Conceito: Ocorre o condomínio edilício quando se tem a propriedade exclusiva de uma


unidade autônoma combinada com a copropriedade de outras áreas de um imóvel.

Ex1: prédio residencial com 6 andares de apartamentos e 2 apartamentos por andar. Tem-
se um condomínio edilício, considerando que cada dono do apartamento possui a
propriedade exclusiva da sua unidade autônoma (apartamento) e as áreas comuns do
edifício (piscina, churrasqueira, quadra de esportes etc.) pertencem a todos os condôminos.

Ex2: prédio comercial com várias salas. Se determinado advogado compra uma das salas
para servir como seu escritório, ele terá a propriedade individual sobre a sala (unidade
autônoma) e a copropriedade sobre as partes comuns (corredores, recepção etc.).

Nomenclatura:
A expressão “condomínio edilício” é um neologismo criado por Miguel Reale, com
inspiração no direito italiano, e quer dizer condomínio resultante de uma edificação.
O condomínio edilício é também chamado de “condomínio em edificações” ou ainda de
“condomínio horizontal”.
Vale ressaltar que, apesar de o condomínio edilício ser também chamado de condomínio
horizontal, ele pode ser horizontal ou vertical. O condomínio edilício é conhecido como
condomínio horizontal por razões históricas, uma vez que, quando surgiu esta forma de
propriedade, o condomínio edilício era apenas horizontal. Atualmente, contudo, é muito
comum vermos condomínios edilícios verticais.

Condomínio horizontal e vertical:


É muito comum a confusão feita entre as expressões condomínio horizontal e vertical.
Normalmente, as pessoas pensam que condomínio vertical são os prédios, uma vez que a
construção é para cima (vertical) e que o condomínio horizontal é o conjunto de casas. O
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critério de distinção, contudo, não é este.


Em verdade, se a parede que separa as unidades for horizontal, então o condomínio é
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horizontal. Por outro lado, se a parede for para cima, então a edificação será vertical. Logo,
em um prédio, os apartamentos são divididos por andares, ou seja, as paredes que dividem

INFORMATIVO esquematizado
os apartamentos são horizontais. Desse modo, no caso de um prédio trata-se de um
condomínio horizontal.
Se o condomínio for de casas, como elas estão lado a lado, a parede que as separa é
vertical, de modo que se trata de um condomínio vertical.

Legislação aplicável:
O CC-1916 não tratava sobre o condomínio edilício, considerando que, naquela época, não
havia necessidade de se falar em prédios de apartamentos ou de lojas.
A Lei n. 4.591/64 disciplinou as regras sobre o condomínio em edificações.
O CC-2002 também tratou sobre o tema nos arts. 1.331 a 1.358, derrogando os arts. 1º a 27
da Lei n. 4.591/64.
Assim, quem atualmente rege os condomínios edilícios é o CC-2002, podendo ser aplicada a
Lei n. 4.591/64, subsidiariamente, naquilo que o Código for omisso.

Instituição x constituição do condomínio:


Quando se fala em condomínio edilício, existem dois atos que, apesar de os nomes serem
parecidos, representam institutos diferentes: instituição e constituição.

INSTITUIÇÃO CONSTITUIÇÃO
É o ato de criação do condomínio É o ato por meio do qual o condomínio
(início de sua existência legal). (que já foi instituído) é regulamentado.
O condomínio edilício poderá ser instituído A constituição (regulamentação) é feita por
de duas formas: meio de uma convenção de condomínio.
a) Por ato entre vivos (inter vivos).
Ex: incorporação imobiliária. A convenção pode ser materializada de
duas formas:
b) Por testamento. a) Escritura pública;
Ex: José deixa, como legado, um imóvel b) Instrumento particular.
seu, em condomínio, para seus dois
sobrinhos.
O que deve constar no ato de instituição O que deve constar na convenção de
(art. 1.332): condomínio (art. 1.334):
I - a discriminação e individualização das I - a quota proporcional e o modo de
unidades de propriedade exclusiva, pagamento das contribuições dos
estremadas uma das outras e das partes condôminos para atender às despesas
comuns; ordinárias e extraordinárias do
II - a fração ideal de cada unidade, condomínio;
relativamente ao terreno e partes comuns; II - sua forma de administração;
III - o fim (finalidade) a que as unidades se III - a competência das assembleias, forma
destinam. de sua convocação e quórum exigido para
as deliberações;
IV - as sanções a que estão sujeitos os
condôminos, ou possuidores;
V - o regimento interno.

Obs: na convenção de condomínio também


deverá constar as mesmas informações
que já estão no ato de instituição (art.
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1.332) e outras cláusulas que os


condôminos considerem que sejam
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importantes de estarem presentes.

INFORMATIVO esquematizado
O ato de instituição deve ser A convenção deve ser assinada pelos
obrigatoriamente registrado no Cartório de titulares de, no mínimo, 2/3 das frações
Registro de Imóveis. ideais e torna-se, desde logo, obrigatória
para os titulares de direito sobre as
unidades, ou para quantos sobre elas
tenham posse ou detenção (art. 1.333).
Vale ressaltar, no entanto, que, para ser
oponível contra terceiros, a convenção do
condomínio deverá ser registrada no
Cartório de Registro de Imóveis.

Alteração da convenção de condomínio:


A convenção de condomínio, depois de aprovada, pode ser alterada? Qual é o quórum
necessário?
SIM. A convenção de condomínio pode ser alterada, sendo necessária, no entanto, a
aprovação de 2/3 dos votos dos condôminos.

Regimento interno do condomínio:


Todo condomínio edilício deve ter um regimento interno, que é uma espécie de
regulamento que disciplina o dia-a-dia do condomínio, ou seja, os condôminos e terceiros
deverão se comportar dentro do condomínio (exs: utilização da piscina e das quadras,
controle da entrada e saída de pessoas na portaria, aluguel do salão de festas etc.).
O Código Civil determina que o regimento interno deve estar dentro da convenção de
condomínio, podendo ser um capítulo da convenção ou, como é mais frequente, ser
prevista como um anexo (art. 1.334, V).

Alteração do regimento interno do condomínio:


Vimos acima que o regimento interno do condomínio deve estar dentro da convenção.
Vimos também que a convenção somente pode ser alterada com a aprovação de 2/3 dos
votos dos condôminos. A pergunta agora é a seguinte: qual é o quórum necessário para se
alterar o regimento interno? Exige-se, obrigatoriamente, o voto de 2/3 dos condôminos?
NÃO. O quórum necessário para se alterar o regimento interno será decidido e previsto na
convenção do condomínio. Assim, a convenção do condomínio poderá ficar livre para
estipular um quórum diferente de 2/3, sendo comum, na prática, que a alteração do
regimento interno seja permitida com a aprovação de maioria simples.

Nesse sentido, é o enunciado 248 da III Jornada de Direito Civil:


O quorum para alteração do regimento interno do condomínio edilício pode ser livremente
fixado na convenção.

Recapitulando:
O regimento interno deve estar previsto na convenção de condomínio;
A convenção de condomínio tem liberdade para decidir o quórum necessário para as
alterações do regimento interno;
Essa liberdade de quórum para alteração do regimento interno foi uma inovação trazida
pela Lei n. 10.931/2004, que alterou o art. 1.351 do CC. Antes dessa lei, o quórum para
mudanças no regimento interno era, obrigatoriamente, de 2/3.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.169.865-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/8/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais: 5 anos

O prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais é de 5 anos, contados do


vencimento de cada parcela.
Comentários Qual é o prazo prescricional para a cobrança de cotas condominiais?
No CC-1916: 20 anos.
No CC-2002: 5 anos.
Segundo o STJ, a cobrança de cota condominial enquadra-se na previsão do art. 206, § 5º, I,
do CC-2002:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.366.175-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.

Decretada a usucapião, extingue-se a hipoteca judicial que gravava o bem

A decisão que reconhece a aquisição da propriedade de bem imóvel por usucapião prevalece
sobre a hipoteca judicial que anteriormente tenha gravado o referido bem.
Comentários Hipoteca judicial
Ocorre a hipoteca judicial quando o juiz determinar que um determinado bem imóvel do
devedor irá responder pelo débito reconhecido na decisão judicial.
Exemplo: em uma ação de reparação por danos morais, o juiz condena o réu a pagar 100 mil
reais à vítima. Como garantia desse pagamento, o juiz estipula que um determinado bem
imóvel do condenado ficará gravado com uma hipoteca judicial.
Encontra-se previsto no art. 466 do CPC:
Art. 466. A sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação, consistente em
dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária, cuja inscrição
será ordenada pelo juiz na forma prescrita na Lei de Registros Públicos.

Imagine a seguinte situação:


João está na posse mansa e pacífica de um imóvel há alguns anos e, por essa razão, ajuizou
ação de usucapião.
O juiz verifica que os requisitos estão presentes e julga o pedido procedente.
Depois, verifica-se que havia uma hipoteca judicial incidente sobre esse bem.
Vale ressaltar que essa hipoteca era referente a uma dívida não de João, mas sim do então
proprietário do bem.

Nesse caso, a hipoteca ainda irá prevalecer?


NÃO. Segundo decidiu o STJ, a decisão que reconhece a aquisição da propriedade de bem
imóvel por usucapião prevalece sobre a hipoteca judicial que anteriormente tenha gravado
o referido bem.

A declaração de aquisição de domínio por usucapião faz com que desapareça o gravame real
constituído sobre o imóvel, antes ou depois do início da posse ad usucapionem, por duas razões:
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a sentença de usucapião produz efeitos ex tunc; e


a usucapião é forma originária de aquisição de propriedade, não decorrente da antiga e
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não guardando com ela relação de continuidade.


Processo STJ. 3ª Turma. REsp 620.610-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/9/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL

Cédula de Crédito Bancário é título executivo mesmo na abertura de crédito em conta-corrente

A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial, representativo de operações de


crédito de qualquer natureza, circunstância que autoriza sua emissão para documentar a
abertura de crédito em conta-corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou cheque especial.
O título de crédito (Cédula de Crédito Bancário) deve vir acompanhado de claro demonstrativo
acerca dos valores utilizados pelo cliente.
A Lei n. 10.931/2004 traz, de maneira taxativa, a relação de exigências que o credor deverá
cumprir, de modo a conferir liquidez e exequibilidade à Cédula (art. 28, § 2º, incisos I e II).
Comentários O que é a cédula de crédito bancário?
- A Cédula de Crédito Bancário é
- um título de crédito
- emitido por pessoa física ou jurídica
- em favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada
- representando promessa de pagamento em dinheiro,
- decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade.

Exemplo:
Pedro vai até o Banco para abrir uma conta-corrente. O gerente lhe oferece um contrato
bancário de abertura de crédito. Por meio desse contrato, o Banco irá colocar certa quantia
de dinheiro à disposição de Pedro, que pode ou não se utilizar desses recursos, caso
necessite. O lucro do Banco será nos juros cobrados de Pedro caso ele use a quantia
disponibilizada.
O contrato de abertura de crédito não é considerado título executivo extrajudicial (Súmula
233-STJ). Desse modo, para conferir maior segurança ao Banco caso Pedro tome
emprestado o dinheiro, a assinatura do contrato fica condicionada à emissão, por Pedro, de
uma Cédula de Crédito Bancário, na qual ele promete pagar ao Banco o valor que tomar
emprestado. Na hipótese de não pagar, o Banco executa essa Cédula de Crédito, sem
precisar de um processo de conhecimento.

Previsão legal
A Cédula de Crédito Bancário foi criada pela Medida Provisória 1.925/99, convertida, após
inúmeras reedições, na Lei n. 10.931/2004.

A Cédula de Crédito Bancário serve para documentar contrato de abertura de crédito?


SIM. É possível a emissão de uma cédula de crédito bancário para documentar a abertura
de crédito em conta-corrente.

A Cédula de Crédito é título executivo extrajudicial?


SIM. A Lei n. 10.931/2004 confere à Cédula de Crédito Bancário natureza de título
executivo extrajudicial:
Art. 28. A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa dívida em
dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo saldo devedor
demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados
conforme previsto no § 2º.
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Mesmo com a previsão legal de que a Cédula de Crédito Bancário é título executivo
extrajudicial havia alguma polêmica sobre o tema?
SIM. O STJ firmou o entendimento de que o contrato de abertura de crédito não goza dos
atributos para ser considerado título executivo. Nesse sentido:
Súmula 233-STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da
conta-corrente, não é título executivo.

Súmula 258-STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza
de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.

Os contratos de abertura de crédito não são reconhecidos como títulos executivos


extrajudiciais, porque tais contratos são ilíquidos, já que seu valor é apurado
unilateralmente pelo banco exequente.

Desse modo, alguns doutrinadores defendem que a Cédula de Crédito Bancário seria uma
forma de burlar o entendimento do STJ expresso nestas duas súmulas, considerando que a
Cédula de Crédito Bancário é título executivo e serve para documentar contrato de abertura
de crédito. Logo, os bancos teriam encontrado uma forma de executar, por meio da Cédula,
os contratos bancários.

O que o STJ decidiu?


A 2ª Seção do STJ pacificou o tema e decidiu que a Cédula de Crédito Bancário, de acordo
com a Lei n. 10.931/2004, é título executivo extrajudicial, representativo de operações de
crédito de qualquer natureza, que autoriza sua emissão para documentar a abertura de
crédito em conta-corrente, nas modalidades crédito rotativo ou cheque especial.
Para tanto, a cártula deve vir acompanhada de claro demonstrativo acerca dos valores
utilizados pelo cliente, consoante as exigências legais enumeradas nos incisos I e II do § 2º
do art. 28 da lei mencionada – de modo a lhe conferir liquidez e exequibilidade.

Em suma:
A Cédula de Crédito Bancário, desde que atendidas as prescrições da Lei n. 10.931/2004, é
título executivo extrajudicial, ainda que tenha sido emitida para documentar a abertura de
crédito em conta-corrente.
Processo STJ. 2ª Seção. REsp 1.291.575-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/8/2013 (recurso repetitivo).

Honorários advocatícios na impugnação da habilitação de crédito na recuperação judicial

São devidos honorários advocatícios na hipótese em que apresentada impugnação ao pedido


de habilitação de crédito em recuperação judicial. Isso porque a apresentação de impugnação
ao referido pedido torna litigioso o processo.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.197.177-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/9/2013.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Possibilidade de multa diária para obrigar plano de saúde a autorizar tratamento

É possível que o juiz estipule multa diária (art. 461 do CPC) como forma de compelir que a
operadora de plano de saúde autorize que o hospital realize procedimento médico-hospitalar.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João teve um princípio de infarto e foi internado. O médico diagnosticou que o tratamento
ideal para ele seria a colocação de um stent (uma espécie de tubo minúsculo) na artéria.
O plano de saúde negou-se a custear o tratamento, alegando que, no contrato assinado, a
cláusula n. 7.5.2.3.4.1 do item IV, da Seção XXIII, do Capítulo X, do anexo III, afirma
expressamente que não está abrangida pela cobertura do plano a colocação de stents.

Diante disso, o que poderá fazer João?


Ajuizar ação de obrigação de fazer contra a operadora do plano de saúde a fim de que o
Poder Judiciário determine que seja custeada a colocação do stent.

O juiz poderá estipular multa diária em caso de descumprimento do plano de saúde?


SIM. Segundo decidiu o STJ, é possível que o juiz estipule multa diária (art. 461 do CPC)
como forma de compelir que a operadora de plano de saúde autorize que o hospital realize
procedimento médico-hospitalar.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.186.851-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/8/2013.

Análise de aspectos constitucionais no recurso especial

O STJ, no julgamento de recurso especial, pode buscar na própria Constituição Federal o


fundamento para acolher ou rejeitar alegação de violação do direito infraconstitucional ou
para conferir à lei a interpretação que melhor se ajuste ao texto constitucional, sem que isso
importe em usurpação de competência do STF.
Comentários No atual estágio de desenvolvimento do direito, é inconcebível a análise encapsulada dos
litígios, de forma estanque, como se os diversos ramos jurídicos pudessem ser
compartimentados, não sofrendo, assim, ingerências do direito constitucional.
Assim, não é possível ao STJ analisar as demandas que lhe são submetidas sem considerar a
própria CF/88, sob pena de ser entregue ao jurisdicionado um direito desatualizado e sem
lastro na Constituição.
Nesse contexto, o STJ, no julgamento de recurso especial, pode buscar na própria CF o
fundamento para acolher ou rejeitar alegação de violação do direito infraconstitucional ou
para conferir à lei a interpretação que melhor se ajuste ao texto constitucional, sem que
isso importe em usurpação de competência do STF. Ex: recurso especial no qual se julgue
ação de indenização por danos morais com base em violação ao direito à privacidade.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.335.153-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/5/2013.

Art. 20 da Lei 10.522/02: inaplicabilidade em execuções fiscais propostas por Conselhos Profissionais

Nas execuções fiscais propostas por Conselhos Regionais de Fiscalização Profissional, não é
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possível a aplicação do art. 20 da Lei 10.522/2002, cujo teor determina o arquivamento, sem
baixa, das execuções fiscais referentes aos débitos com valor inferior a dez mil reais.
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Comentários Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs: CREA, CRM, COREN, CRO etc.)?
Segundo o entendimento do STF, os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de
INFORMATIVO esquematizado
autarquias federais, com exceção da OAB, que é um serviço público independente,
categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.

Anuidades
Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram a sua
categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei n. 12.514/2011). Veja o que
diz também a Lei n. 11.000/2004:
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar,
cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem
como as multas e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que
constituirão receitas próprias de cada Conselho.

Qual é a natureza jurídica dessas anuidades?


Tais contribuições são consideradas tributo, sendo classificadas como “contribuições
profissionais ou corporativas”.

Execução fiscal
Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias, em caso de
inadimplemento, o valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal.

Competência
A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os
Conselhos são autarquias federais (Súmula 66 do STJ).
Vale ressaltar que, se o executado for domiciliado em comarca que não possua sede de
Vara Federal, a competência para processar e julgar a execução será da Justiça Estadual,
conforme autoriza o art. 109, § 3°, da CF/88 c/c o art. 15, I, da Lei n. 5.010/66.

Art. 20 da Lei n. 10.522/2002 e Portaria MF n. 75/2012


Existe uma grande quantidade de créditos para serem executados pela Procuradoria da
Fazenda Nacional. No entanto, uma execução fiscal gera despesas para a União e, muitas
vezes, o resultado não é proveitoso.
Assim, muitas vezes o custo para instaurar um processo de execução era maior que o
próprio valor perseguido.
Pensando nisso, o legislador previu uma regra, segundo a qual valores abaixo que 10 mil
reais não precisariam ser cobrados, podendo ser arquivados. Essa regra é encontrada no
art. 20 da Lei n. 10.522/2002:
Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador
da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa
da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor
consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Recentemente, foi publicada a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na qual o Ministro da


Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções fiscais de
débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00
(vinte mil reais).”
Dessa forma, “o Procurador da Fazenda Nacional requererá o arquivamento, sem baixa na
distribuição, das execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor
consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), desde que não conste dos
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autos garantia, integral ou parcial, útil à satisfação do crédito.” (art. 2º da Portaria).


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INFORMATIVO esquematizado
É possível aplicar o art. 20, da Lei n. 10.522/2002 às execuções fiscais propostas pelos
Conselhos Regionais de Fiscalização Profissional?
NÃO. Nas execuções fiscais propostas por Conselhos Regionais de Fiscalização Profissional
não é possível a aplicação do art. 20 da Lei n. 10.522/2002, cujo teor determina o
arquivamento, sem baixa, das execuções fiscais referentes aos débitos com valor inferior a
dez mil reais. Isso porque, da leitura do referido artigo, extrai-se que este se destina
exclusivamente aos débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional ou por ela cobrados.

No caso de execuções propostas por Conselhos de Fiscalização Profissional, há regra


específica para disciplinar o tema, prevista no art. 8º da Lei 12.514/2011:
Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas referentes a anuidades inferiores
a 4 (quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente.

Ademais, a submissão das referidas entidades autárquicas ao regramento do art. 20 da Lei


10.522/2002 configuraria, em última análise, embaraço ao exercício do direito de acesso ao
Poder Judiciário e à obtenção da tutela jurisdicional adequada, assegurados
constitucionalmente, uma vez que haveria a criação de obstáculo desarrazoado para que os
conselhos em questão efetuassem as cobranças de valores aos quais têm direito.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.330.473-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 12/6/2013.

Embargos monitórios: réu poderá alegar a invalidade da taxa de condomínio

É possível que o réu alegue, em embargos à ação monitória, a invalidade de taxas condominiais
extraordinárias, sob o argumento de que haveria nulidade na assembleia que as teria
instituído.
Comentários Conceito de ação monitória
Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor
exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a
entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que não tem eficácia de
título executivo.
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura
de conta-corrente.

Procedimento da ação monitória


1. Petição inicial
2. Juiz poderá adotar uma das seguintes condutas:
a) Determinar que o autor emende a Inicial;
b) Indeferir a petição inicial;
c) Receber a monitória como procedimento ordinário;
d) Aceitar a monitória: reconhece verossímil a prova trazida e manda expedir um mandado
monitório para que o réu pague a dívida.

CPC/Art. 1.102-B. Estando a petição inicial devidamente instruída, o Juiz deferirá de plano a
expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa no prazo de quinze dias.
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3. O réu citado poderá assumir uma das seguintes posturas:


a) Cumprir a obrigação: se o réu cumprir o mandado monitório, ele está dispensado de
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pagar custas e honorários advocatícios. Trata-se de técnica de coerção indireta pelo


incentivo (“sanção premial”).
INFORMATIVO esquematizado
b) Ser revel: se o réu é revel em ação monitória, aquela decisão inicial proferida pelo juiz
automaticamente se torna definitiva e, aquilo que era um mandado monitório (para pagar),
transforma-se em um mandado executivo.
c) Defender-se (embargos monitórios). A defesa na ação monitória é denominada de
“embargos monitórios”.

Art. 1.102-C. No prazo previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer embargos, que
suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos, constituir-
se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em
mandado executivo e prosseguindo-se na forma do Livro I, Título VIII, Capítulo X, desta Lei.
§ 1º - Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de custas e honorários advocatícios.
§ 2º - Os embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos
próprios autos, pelo procedimento ordinário.
§ 3º Rejeitados os embargos, constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial,
intimando-se o devedor e prosseguindo-se na forma prevista no Livro I, Título VIII, Capítulo
X, desta Lei.

Caso concreto julgado pelo STJ:


Determinado condomínio ajuizou ação monitória contra João, objetivando cobrança de
taxas condominiais atrasadas.
O juiz reconheceu verossímil a prova trazida e mandou expedir um mandado monitório para
que o réu pagasse a dívida.
João foi citado e defendeu-se, apresentando embargos monitórios.
Nos embargos, o réu alegou que a assembleia que fixou as cotas extras foi nula.

O réu poderia fazer esse tipo de defesa nos embargos monitórios?


SIM. O procedimento dos embargos ao mandado monitório segue o rito ordinário (art.
1.102-C, § 2º, do CPC). Desse modo, ao réu é garantido contraditório pleno e cognição
exauriente. Assim, diferentemente do que ocorre no processo executivo, na defesa da ação
monitória, o réu não tem restrições quanto à matéria de defesa. Logo, é possível que
formule alegações quanto a aspectos de direito processual e também de direito material.
Dessa feita, é possível que o réu alegue, em embargos à ação monitória, a invalidade de
taxas condominiais extraordinárias, sob o argumento de que haveria nulidade na
assembleia que as teria instituído.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.172.448-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

Cabe reclamação ao STJ, em face de decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais Estaduais
em caso de multa cominatória demasiadamente desproporcional

O STJ entende possível utilizar reclamação contra decisão de Turma Recursal, enquanto não
seja criada a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais dos
Estados e do Distrito Federal, quando a decisão proferida:
• afrontar jurisprudência do STJ pacificada em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC);
• violar súmula do STJ;
• for teratológica.

Assim, cabe reclamação ao STJ em face de decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais
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dos Estados ou do Distrito Federal com o objetivo de reduzir o valor de multa cominatória
demasiadamente desproporcional em relação ao valor final da condenação. Isso porque, nesse
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caso, o STJ entendeu que a decisão proferida foi teratológica.

INFORMATIVO esquematizado
Comentários
Quais são as Leis que regem os Juizados Especiais?
Lei n. 9.099/95 Juizados Especiais Cíveis e Criminais estaduais.
Lei n. 10.259/2001 Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal.
Lei n. 12.153/2009 Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios.

Quem julga as causas e os recursos no sistema dos Juizados?


As causas são examinadas, em 1º grau, por um Juiz do Juizado.
O recurso contra a sentença proferida pelo juiz do juizado é julgado pela Turma Recursal.
A Turma Recursal é um colegiado formado por três juízes (não é composta por
Desembargadores), que tem a função de julgar os recursos contra as decisões proferidas
pelo juiz do juizado. Funciona como instância recursal na estrutura dos Juizados Especiais.

Lei n. 9.099/95:
Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá
recurso para o próprio Juizado.
§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício
no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

Instância julgadora em 1º grau: Juiz do Juizado.


Instância que julga os recursos: Turma Recursal.

Quais os recursos cabíveis contra as decisões proferidas pelo juiz do juizado?


Decisão interlocutória: Não cabe qualquer recurso.
Podem ser interpostos:
Sentença: Embargos de declaração;
Recurso inominado.

Quais os recursos cabíveis contra as decisões proferidas pela Turma Recursal?


Contra os acórdãos prolatados pela Turma Recursal somente podem ser interpostos:
Embargos de declaração;
Recurso extraordinário.

É cabível a interposição de Recurso Especial?


NÃO. Súmula 203-STJ: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de
segundo grau dos Juizados Especiais.

Por que é cabível o RE, mas não o REsp?


Previsão do RE na CF/88 Previsão do REsp na CF/88
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de
Federal, precipuamente, a guarda da Justiça:
Constituição, cabendo-lhe: III - julgar, em recurso especial, as causas
III - julgar, mediante recurso decididas, em única ou última instância,
extraordinário, as causas decididas em pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
única ou última instância, quando a decisão tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
recorrida: Territórios, quando a decisão recorrida:
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Desse modo, o RE é cabível contra causas decididas em única ou última instância por
qualquer órgão jurisdicional. Já o REsp somente é cabível contra causas decididas em única

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ou última instância pelo TJ ou TRF. Como a Turma Recursal não é Tribunal, suas decisões
não desafiam REsp.

Súmula 640-STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de
primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e
criminal.

Vale ressaltar que somente caberá RE contra acórdão da Turma Recursal se a causa
envolver questão constitucional.

O que acontece, então, se a decisão da Turma Recursal disser respeito à interpretação de lei
federal e contrariar entendimento consolidado ou mesmo sumulado do STJ? Como, no caso,
não cabe recurso especial, a interpretação dada pela Turma Recursal a respeito de uma lei
federal tornar-se-ia definitiva mesmo contrariando o STJ? Isso está certo?
NÃO. Diante desse impasse, foi idealizada a tese de que, se a decisão da Turma Recursal do
Juizado Especial Estadual contrariar entendimento do STJ será cabível reclamação
endereçada àquela Corte.
O STJ editou até mesmo a Resolução n. 12/2009, que “dispõe sobre o processamento, no
Superior Tribunal de Justiça, das reclamações destinadas a dirimir divergência entre
acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência desta Corte”.

No julgado noticiado neste informativo, foi decidido que cabe reclamação ao STJ em face de
decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais dos Estados ou do Distrito Federal, com o
objetivo de reduzir o valor de multa cominatória demasiadamente desproporcional em
relação ao valor final da condenação. Isso porque, nessa situação, verifica-se a teratologia
da decisão impugnada.

O STJ entende possível utilizar reclamação contra decisão de Turma Recursal, enquanto não
seja criada a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais dos
Estados e do Distrito Federal, quando a decisão proferida:
afrontar jurisprudência do STJ pacificada em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC);
violar súmula do STJ;
for teratológica.

E se uma decisão da Turma Recursal do Juizado Especial Federal (JEF) ou do Juizado da


Fazenda Pública contrariar entendimento do STJ também caberá reclamação?
NÃO. Não será necessária reclamação porque a Lei do JEF e a Lei dos Juizados da Fazenda
Pública, como são posteriores à Lei n. 9.099/95, já corrigiram essa falha e preveem um
mecanismo para fazer com que o entendimento do STJ prevaleça.

E qual mecanismo foi previsto?


O pedido de uniformização de jurisprudência.

Lei n. 10.259/2001 (Lei do JEF):


Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver
divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas
Recursais na interpretação da lei.
(...)
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§ 4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito


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material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça -


STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.

INFORMATIVO esquematizado
(...) Não se admite a utilização do instituto da reclamação contra acórdão de Turma
Recursal do Juizado Federal diante da previsão expressa de recursos no artigo 14 da Lei n.
10.259/2001. (...)
(AgRg na Rcl 7.764/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em
24/10/2012, DJe 30/10/2012)

Lei n. 12.153/2009 (Lei dos Juizados da Fazenda Pública):


Art. 18. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando houver divergência
entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material.
(...)
§ 3º Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal interpretações
divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do
Superior Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado.
Art. 19. Quando a orientação acolhida pelas Turmas de Uniformização de que trata o § 1º
do art. 18 contrariar súmula do Superior Tribunal de Justiça, a parte interessada poderá
provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.

(...) 2. No caso dos autos, trata-se de ação ajuizada perante Juizado Especial da Fazenda
Pública, a qual se submete ao rito previsto na Lei 12.153/2009. A lei referida estabelece
sistema próprio para solucionar divergência sobre questões de direito material. (...) Nesse
contexto, havendo procedimento específico e meio próprio de impugnação, não é cabível o
ajuizamento da reclamação prevista na Resolução 12/2009 do STJ. (...)
(RCDESP na Rcl 8718/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em
22/08/2012, DJe 29/08/2012)

Desse modo, não haverá necessidade nem cabimento para a propositura de reclamação
porque existe a previsão de um pedido de uniformização de interpretação de lei federal.
Processo STJ. 2ª Seção. Rcl 7.861-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/9/2013.

Suspensão dos processos individuais enquanto se aguarda o julgamento da ação coletiva

É possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento,


no âmbito de ação coletiva, da questão jurídica de fundo neles discutida.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
A Lei n. 11.738/2008 determinou que a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios adequassem, até o dia 31/12/2009, os salários dos seus professores ao piso
salarial nacional previsto no art. 206, VIII, da CF/88.
Determinado Estado deixou de atender a essa obrigação.
Em razão disso, vários professores ingressaram com ações individuais contra esse Estado,
pedindo a implementação do piso salarial.
O Ministério Público, por sua vez, ajuizou uma ação civil pública com o mesmo objeto, em
favor de todos os profissionais do magistério vinculados àquele Estado-membro.

O juiz, ao receber a ação coletiva proposta pelo MP, poderá determinar a suspensão das
ações individuais que estejam tramitando e que tenham o mesmo objeto?
SIM. Segundo o STJ, “ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de processos
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multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação


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coletiva” (Min. Sidnei Beneti).

INFORMATIVO esquematizado
Assim, é possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o
julgamento, no âmbito de ação coletiva, da questão jurídica de fundo neles discutida
relativa à obrigação de estado federado de implementar, nos termos da Lei n.
11.738/2008, piso salarial nacional para os profissionais do magistério público da educação
básica do respectivo ente.

Cabe ressaltar, a propósito, que esse entendimento não nega vigência aos arts. 103 e 104
do CDC – com os quais se harmoniza –, mas apenas atualiza a interpretação dos
mencionados artigos ante a diretriz legal resultante do disposto no art. 543-C do CPC.

Esse entendimento do STJ foi construído no REsp 1.110.549-RS, proferido sob a sistemática
de recurso repetitivo:
(...) Ajuizada ação coletiva atinente a macro-lide geradora de processos multitudinários,
suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva.
Entendimento que não nega vigência aos aos arts. 51, IV e § 1º, 103 e 104 do Código de
Defesa do Consumidor; 122 e 166 do Código Civil; e 2º e 6º do Código de Processo Civil,
com os quais se harmoniza, atualizando-lhes a interpretação extraída da potencialidade
desses dispositivos legais ante a diretriz legal resultante do disposto no art. 543-C do Código
de Processo Civil, com a redação dada pela Lei dos Recursos Repetitivos (Lei n. 11.672, de
8.5.2008). (...)
(REsp 1110549/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Segunda Seção, julgado em 28/10/2009)

Deve-se considerar, ademais, que as ações coletivas implicam redução de atos processuais,
configurando-se, assim, um meio de concretização dos princípios da celeridade e economia
processual. Reafirma-se, portanto, que a coletivização da demanda, seja no polo ativo seja
no polo passivo, é um dos meios mais eficazes para o acesso à justiça, porquanto, além de
reduzir os custos, consubstancia-se em instrumento para a concentração de litigantes em
um polo, evitando-se, assim, os problemas decorrentes de inúmeras causas semelhantes.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.353.801-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/8/2013.

DIREITO PENAL

Descumprimento de obrigação contratual não consiste, como regra, em crime

O simples descumprimento de uma obrigação contratual, sem que ocorra a indicação de


elementos concretos do ilícito penal, não pode ensejar uma ação penal contra o inadimplente.
Assim, o STJ considerou atípica a conduta do advogado que, contratado para patrocinar os
interesses de determinada pessoa em juízo, não cumpriu o pactuado, apesar do recebimento
de parcela do valor dos honorários contratuais.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Dr. Rui, advogado, celebrou contrato com Maria, tendo ela pago 8 mil reais para que ele
ajuizasse uma ação ordinária.
Entretanto, após o pagamento, a vítima percebeu que a ação pretendida não havia sido
proposta, o que ensejou, de sua parte, duas providências:
1) uma, de natureza cível, que constituiu no ajuizamento de ação de reparação de danos; e
2) outra, no registro de ocorrência do fato na Delegacia de Polícia.
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No âmbito cível, houve um acordo entre Dr. Rui e Maria, tendo o processo sido extinto pela
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transação.

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No âmbito penal, o MP ofereceu denúncia contra Rui pela prática de apropriação indébita
(art. 168, § 1º, III, do CP).

Para o STJ, contudo, não houve crime, sendo essa conduta atípica.

Segundo foi decidido, o caso retrata, na verdade, uma relação contratual celebrada entre o
réu e a vítima, tendo esta efetuado o pagamento como remuneração de um serviço que iria
ou deveria ser efetuado e que não ocorreu.

Tratou-se, portanto, de um negócio jurídico entabulado entre as partes, cujo


inadimplemento enseja (como de fato ensejou no caso) solução no âmbito civil.

A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o descumprimento de contrato sem


elementos de ilícito penal, não pode ensejar a instauração de ação penal:
O simples descumprimento de uma obrigação contratual, sem que ocorra a indicação de
elementos concretos do ilícito penal, não pode ensejar, como se deu in casu, uma
persecutio criminis in iudicio. (...)
(HC 84.715/CE, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 5/11/2007)

Processo STJ. 6ª Turma. HC 174.013-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/6/2013.

Se o “olheiro” do tráfico era associado ao grupo criminoso, deverá responder pelo art. 35 e não
pelo art. 37 da Lei de Drogas

É possível que alguém seja condenado pelo art. 35 e, ao mesmo tempo, pelo art. 37, da Lei de
Drogas em concurso material, sob o argumento de que o réu era associado ao grupo criminoso e
que, além disso, atuava também como “olheiro”?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, nesse caso, ele deverá responder apenas pelo crime do art. 35
(sem concurso material com o art. 37).
Considerar que o informante possa ser punido duplamente (pela associação e pela colaboração
com a própria associação da qual faça parte), contraria o princípio da subsidiariedade e revela
indevido bis in idem, punindo-se, de forma extremamente severa, aquele que exerce função
que não pode ser entendida como a mais relevante na divisão de tarefas do mundo do tráfico.
Comentários Antes de explicar o que foi decidido pelo STJ, é importante relembrarmos dois crimes
previstos na Lei de Drogas (Lei n. 1.343/2006):

ASSOCIAÇÃO PARA FINS DE TRÁFICO


Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou
não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil
e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a
prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Em que consiste o crime:


A pessoa comete esse crime quando se junta com outra(s) pessoa(s), de forma estável e
permanente, com o objetivo de praticar:
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tráfico de drogas (caput do art. 33);


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condutas equiparadas a tráfico de drogas (§ 1º do art. 33); ou


tráfico de maquinários para drogas (art. 34).

INFORMATIVO esquematizado
Duas ou mais pessoas que se unem para financiar/custear o tráfico (crime do art. 36):
Podem responder pelo art. 35 se essa reunião for para a prática reiterada do art. 36.

“É colaborador aquele que transmite informação relevante, útil ou necessária, para o êxito
das atividades do grupo, associação ou organização criminosa, que visam à prática de
crimes previstos na Lei de Drogas” (Min. Marco Aurélio Bellizze).

Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).

Sujeito passivo: coletividade (crime vago).

Bem jurídico: saúde pública.

Crime autônomo:
O art. 35 é um crime autônomo. Isso significa que ele pode se consumar mesmo que os delitos
nele mencionados acabem não ocorrendo e fiquem apenas na cogitação ou preparação.
Assim, se João e Antônio se juntam, de forma estável e permanente, para praticar tráfico de
drogas, eles terão cometido o crime do art. 35, ainda que não consigam perpetrar nenhuma
vez o tráfico de drogas.
Se João e Antônio conseguirem praticar o tráfico de drogas, eles responderão pelos dois
delitos, ou seja, pelo art. 35 em concurso material com o art. 33 da Lei n. 11.343/2006.

Associação = reunião estável e permanente


É muito importante ressaltar que associação significa uma reunião (junção) estável e
permanente (duradoura) de pessoas. A isso se dá o nome de societas sceleris.

“É necessário que fique demonstrado o ânimo associativo, um ajuste prévio referente à


formação do vínculo permanente e estável, para a prática dos crimes que enumera.” (Min.
Marco Aurélio Bellizze).

Se essa associação for eventual ou acidental, não haverá o crime do art. 35, sendo apenas
caso de concurso de pessoas.

Ex: João e Antônio encontram-se em uma festa e, além de consumirem êxtase (uma espécie
de droga sintetizada), decidem vender juntos ali mesmo as pílulas que sobraram. Terão
cometido tráfico de drogas (art. 33, caput) em concurso de agentes. Não poderão ser
condenados por associação (art. 35), considerando que a reunião para o projeto criminoso
não tinha um caráter duradouro e estável, sendo uma junção ocasional.

(...) nos termos da jurisprudência desta Corte Superior de Justiça e do Supremo Tribunal
Federal, para configuração do tipo de associação para o tráfico, necessário estabilidade e
permanência na associação criminosa.
(HC 248.844/GO, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 21/05/2013)

O crime do art. 35 da Lei n. 11.343/06 exige que a associação entre os agentes ocorra de
forma estável ou em caráter permanente, caracterizando a reunião eventual mero concurso
de pessoas. (...)
30

(AgRg no AREsp 303.213/SP, Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 08/10/2013)
Página

INFORMATIVO esquematizado
Para a caracterização do crime de associação para o tráfico é imprescindível o dolo de se
associar com estabilidade e permanência, sendo que a reunião ocasional de duas ou mais
pessoas não se subsume ao tipo do artigo 35 da Lei 11.343/2006.
(HC 256.715/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 20/06/2013)

Duas ou mais pessoas: para configurar o crime do art. 35, basta que o agente se una, de
forma estável e permanente, com mais uma pessoa. Em suma, exige-se um número mínimo
de duas pessoas.
Para caracterizar esse delito, não importa que uma das pessoas seja inimputável.
De igual forma, haverá o crime mesmo que o outro associado não seja identificado pela
polícia, desde que se tenha certeza que havia, no mínimo, duas pessoas associadas.

Concurso necessário:
Pelo fato de exigir, no mínimo, duas pessoas, esse delito é classificado como um crime de
concurso necessário (plurissubjetivo).
Crime plurissubjetivo (ou de concurso necessário) é aquele que, para se consumar, exige a
participação de duas ou mais pessoas. Ex: rixa (art. 137 do CP).

Elemento subjetivo: dolo + especial fim de agir (“dolo específico”).


Dolo = consciência e vontade de se associar.
Especial fim de agir = vontade de se reunir para praticar qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da Lei de Drogas.

Consumação: o delito se consuma a partir do momento em que ocorre a associação, estável


e permanente, de duas ou mais pessoas com o objetivo de praticarem os delitos nele
previstos. Não se exige a ocorrência de nenhum resultado naturalístico. Desse modo, é
classificado como crime formal.

Competência: em regra, trata-se de crime de competência da Justiça estadual.

Diferenças para o crime do art. 288 do CP:


Associação para fins de tráfico (art. 35) Associação criminosa (art. 288 do CP)
Exige, no mínimo, 2 pessoas associadas. Exige, no mínimo, 3 pessoas associadas.
A finalidade da associação é praticar tráfico A finalidade da associação é praticar
de drogas (art. 33, caput), alguma das quaisquer crimes.
condutas equiparadas a tráfico (art. 33, §
1º) ou, então, tráfico de maquinário de
drogas (art. 34).
Haverá o art. 35 mesmo que as pessoas se Somente haverá o art. 288 do CP se as
associem com a finalidade de praticar um pessoas se associarem com a finalidade de
só crime, dentre os listados acima. praticar mais de um crime. Se houver
reunião para cometer um só crime, não se
consuma o art. 288 do CP.
Pena de 3 a 10 anos. Pena de 1 a 3 anos.

Palavras-chave:
31

Comum Vago Comissivo Forma livre


Página

Autônomo Plurissubjetivo (2) Estável/permanente Especial fim de agir


Formal Permanente Perigo abstrato “Estadual”

INFORMATIVO esquematizado
INFORMANTE DO TRÁFICO
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à
prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700
(setecentos) dias-multa.

Em que consiste o crime:


A pessoa comete esse crime quando atua como informante de grupo, organização ou
associação voltada à prática de:
tráfico de drogas (caput do art. 33);
condutas equiparadas a tráfico de drogas (§ 1º do art. 33); ou
tráfico de maquinários para drogas (art. 34).

Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).

Colaborador é funcionário público e agiu no exercício de sua função:


Se não tiver solicitado nem recebido qualquer vantagem indevida: deve responder pelo
crime do art. 37 da LD, com a majorante prevista no art. 40, II;
Se tiver solicitado ou recebido vantagem indevida: responderá pelo art. 37 em concurso
material com o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP). Nesse caso, não haverá a
incidência da majorante do art. 40, II, da LD, considerando que a condição de servidor
público já foi utilizada para caracterizar o crime do art. 317.

Sujeito passivo: coletividade (crime vago).

Bem jurídico: saúde pública.

O agente do art. 37 seria partícipe se não houvesse essa previsão:


O agente que colabora como informante de grupo que pratica tráfico de drogas ou de
maquinário, se não fosse punido de forma autônoma no art. 37, poderia ser enquadrado como
partícipe do tráfico de drogas (art. 33, caput e § 1º) ou do tráfico de maquinário (art. 34).
Ex: João, Pedro e Maria desejavam transportar drogas em um carro, atravessando a
fronteira de dois Estados. Tinham receio de serem parados em uma blitz policial. Por conta
disso, consultaram Antônio, que colaborou com o grupo informando que não haveria
policiais no local naquele dia e hora.
Se não existisse o art. 37, todos os quatro iriam responder pelo crime do art. 33, caput,
sendo os três primeiros como autores e o último como partícipe (art. 29). Isso porque no
Código Penal vigora, como regra, a teoria monista (unitária), segundo a qual todas as
pessoas que concorreram (contribuíram), de qualquer modo, para a prática do crime devem
responder pelo mesmo tipo penal. Assim, em regra, partícipes e coautores praticam o
mesmo crime.
No entanto, como o art. 37 existe, João, Pedro e Maria, em nosso exemplo, praticam o
tráfico de drogas (art. 33) e Antônio o crime de colaboração como informante (art. 37).
Diante disso, percebe-se que o art. 37 consiste em uma exceção à teoria monista.

Colaboração como informante:


Somente responderá por esse crime o agente que colaborar na condição de informante. Se
ajudar o grupo de outra forma, responderá por tráfico de drogas (art. 33, caput ou § 1º) ou
32

tráfico de maquinário (art. 34), a depender do caso.


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O art. 37 é um tipo penal criado para punir, de forma mais branda, o agente que colabora
com o tráfico “apenas” prestando informações.

INFORMATIVO esquematizado
Colaboração eventual (delito subsidiário):
Para que o agente responda pelo crime do art. 37, sua colaboração, como informante, deve
ser eventual.
Se ficar provado “que o agente estabeleceu um vínculo associativo estável e permanente com
os destinatários das informações, passando a agir como um dos integrantes da associação
criminosa, tendo como função precípua exatamente a prestação das informações, sua
conduta deverá ser tipificada no art. 35 da Lei n. 11.343/2006.” (LIMA, Renato Brasileiro de.
Legislação Criminal Especial Comentada. Niterói: Impetus, 2013, p. 793).
Como já afirmou o Min. Marco Aurélio Bellize:
“o tipo penal trazido no art. 37 da Lei de Drogas se reveste de verdadeiro caráter de
subsidiariedade, só ficando preenchida a tipicidade quando não se comprovar a prática de
crime mais grave. (...)
Se a prova indica que o agente mantém vínculo ou envolvimento com tais grupos,
conhecendo e participando de sua rotina, bem como cumprindo sua tarefa na empreitada
comum, a conduta não se subsume ao tipo do art. 37 da Lei de Tóxicos, mas sim pode
configurar outras figuras penais, como o tráfico ou a associação, nas modalidades autoria e
participação, ainda que a função interna do agente seja a de sentinela, fogueteiro ou
informante.” (HC 224.849-RJ).

“Fogueteiro”:
O exemplo típico de aplicação desse art. 37 é o caso do “fogueteiro”.
Fogueteiro do tráfico é a pessoa responsável por avisar aos traficantes, soltando fogos de
artifício, quando a polícia chega nas “bocas-de-fumo”.

Na antiga Lei de Tóxicos, a conduta do fogueteiro era punida pelo § 2º do art. 12:
§ 2º Nas mesmas penas incorre, ainda, quem:
III - contribui de qualquer forma para incentivar ou difundir o uso indevido ou o tráfico
ilícito de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica.

Com a edição da Lei n. 11.343/2006, que revogou a Lei n. 6.368/76, a conduta do


“fogueteiro” continua sendo típica, mas agora prevista no art. 37. Assim decidiu o STF:
1. A conduta do “fogueteiro do tráfico”, antes tipificada no art. 12, § 2º, da Lei 6.368/76,
encontra correspondente no art. 37 da Lei que a revogou, a Lei 11.343/06, não cabendo
falar em abolitio criminis.
2. O informante, na sistemática anterior, era penalmente responsável como coautor ou
partícipe do crime para o qual colaborava, em sintonia com a teoria monística do art. 29 do
Código Penal: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade”.
3. A nova Lei de Entorpecentes abandonou a teoria monística, ao tipificar no art. 37, como
autônoma, a conduta do colaborador, aludindo ao informante (o “fogueteiro”, sem dúvida,
é informante), e cominou, em seu preceito secundário, pena de 2 (dois) a 6 (seis) anos de
reclusão, e o pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa, que é inferior à
pena cominada no art. 12 da Lei 6.368/76, expressando a mens lege que a conduta a ser
punida mais severamente é a do verdadeiro traficante, e não as periféricas.
4. A revogação da lei penal não implica, necessariamente, descriminalização de condutas.
Necessária se faz a observância ao princípio da continuidade normativo-típica, a impor a
manutenção de condenações dos que infringiram tipos penais da lei revogada quando há,
33

como in casu, correspondência na lei revogadora. (...)


STF. 1ª Turma. HC 106155/RJ, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 4/10/2011.
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Outros nomes para o informante do tráfico: “olheiro”, “radinho”, “papagaio”, “sentinela”.

INFORMATIVO esquematizado
Colaboração para um único traficante:
O tipo penal fala que o crime do art. 37 consiste em colaborar, como informante, com
“grupo, organização ou associação”.

Se o indivíduo atua como informante de um único traficante, ele pratica o crime do art. 37?
Em uma resposta apressada, muitos responderiam que não. Isso porque o tipo penal fala
em “grupo, organização ou associação”, ou seja, o agente teria que colaborar com uma
pluralidade de pessoas. No entanto, se o indivíduo colabora como informante de um
traficante e não responde pelo art. 37, isso significa que ele irá ser condenado pelo art. 33,
na qualidade de partícipe. Ocorre que a pena do art. 33 é bem maior que a do art. 37.
Assim, chegaríamos a uma situação absurda: o indivíduo que é informante de uma
organização de tráfico de drogas teria uma pena menor do que o informante de um único
traficante.
Pensando nisso, a doutrina oferece interessante solução: defende-se que o informante de
um único traficante seja condenado pelo art. 37, fazendo-se uma analogia in bonan partem,
já que, para ele, é mais favorável do que responder como partícipe do tráfico. Nesse
sentido: LIMA, Renato Brasileiro de. ob. cit, p. 793.

Elemento subjetivo: dolo (sem qualquer finalidade especial).

Consumação: ocorre quando a informação chega ao grupo, organização ou associação. Não é


necessária a ocorrência de nenhum resultado naturalístico (crime formal).

Tentativa: é possível no caso, por exemplo, de informação que seria transmitida por escrito,
mas foi interceptada.

Competência: em regra, trata-se de crime de competência da Justiça estadual.

Palavras-chave:
Comum Vago Comissivo Forma livre
Exceção pluralística Informante Fogueteiro Especial fim de agir
Formal Instantâneo Perigo abstrato “Estadual”

CASO JULGADO PELO STJ


É possível que alguém seja condenado pelo art. 35 e, ao mesmo tempo, pelo art. 37, da Lei
de Drogas em concurso material, sob o argumento de que o réu era associado ao grupo
criminoso e que, além disso, atuava também como “olheiro”?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, nesse caso, ele deverá responder apenas pelo crime do art. 35
(sem concurso material com o art. 37).

Considerar que o informante possa ser punido duplamente (pela associação e pela
colaboração com a própria associação da qual faça parte), contraria o princípio da
subsidiariedade e revela indevido bis in idem, punindo-se, de forma extremamente severa,
aquele que exerce função que não pode ser entendida como a mais relevante na divisão de
tarefas do mundo do tráfico.
34

O tipo penal do art. 37 da referida lei (colaboração como informante) reveste-se de caráter
Página

de subsidiariedade, só ficando configurado quando não se comprovar a prática de crime


mais grave.

INFORMATIVO esquematizado
Se a prova indica que o agente mantém vínculo ou envolvimento com esses grupos,
conhecendo e participando de sua rotina, bem como cumprindo sua tarefa na empreitada
comum, a conduta não se subsume ao tipo do art. 37, podendo configurar outros crimes,
como o tráfico ou a associação, nas modalidades autoria e participação.

Dessa forma, conclui-se que só pode ser considerado informante, para fins de incidência do
art. 37 da Lei 11.343/2006, aquele que não integre a associação, nem seja coautor ou
partícipe do delito de tráfico. Se integrar, não irá responder mais pelo art. 37 e sim pelo
delito mais grave.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 224.849-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/6/2013.

A conduta prevista no art. 12, § 2º, II, da Lei 6.368/1976 continua sendo crime na atual Lei de Drogas

A conduta prevista no inciso III do § 2º do art. 12 da Lei n. 6.368/1976 continua sendo típica
na vigência da Lei n. 11.343/2006, estando ela espalhada em mais de um artigo da nova lei.
Desse modo, não houve abolitio criminis quanto à conduta do art. 12, § 2º, III, da Lei n.
6.368/76.

O que previa o inciso III do § 2º do art. 12 da Lei n. 6.368/1976?


Responderá por tráfico de drogas quem contribui de qualquer forma para incentivar ou
difundir o uso indevido ou o tráfico ilícito de substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica.
Comentários Lei n. 11.343/2006
Atualmente, os crimes envolvendo drogas encontram-se previstos na Lei n. 11.343/2006,
que entrou em vigor no dia 08/10/2006.

Lei n. 6.368/76
Antes da lei atual, os delitos relacionados com entorpecentes estavam tipificados na Lei n.
6.368/76.
A Lei n. 11.343/2006, em seu art. 75, revogou expressamente a Lei n. 6.368/76.

Art. 12, § 2º, III, da Lei n. 6.368/76


O art. 12, § 2º, III, da Lei n. 6.368/76 previa a seguinte conduta como sendo equiparada a
tráfico de drogas:
§ 2º Nas mesmas penas incorre, ainda, quem:
III - contribui de qualquer forma para incentivar ou difundir o uso indevido ou o tráfico
ilícito de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica.

A redação literal do art. 12, § 2º, III, da Lei n. 6.368/76 foi repetida pela Lei n. 11.343/2006?
NÃO. Não existe na Lei n. 11.343/2006 um dispositivo com redação idêntica ao art. 12, §
2º, III, da Lei n. 6.368/76.

Isso significa que a Lei n. 11.343/2006 gerou a abolitio criminis da conduta prevista no
art. 12, § 2º, III, da Lei n. 6.368/76?
NÃO. O advento da Lei n. 11.343/2006 não implicou abolitio criminis quanto à conduta
35

prevista no art. 12, § 2º, III, da Lei n. 6.368/1976.


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Segundo decidiu o STJ, o apesar da revogação do referido dispositivo legal, o tipo penal nele
contido subsiste espalhado em três artigos da Lei n. 11.343/2006:
INFORMATIVO esquematizado
Art. 33, § 1º, III;
art. 36;
art. 37.

Art. 33. (...)


§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e
§ 1º, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a
4.000 (quatro mil) dias-multa.

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à
prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700
(setecentos) dias-multa.

Assim, em uma interpretação sistemática, deve-se concluir que a conduta prevista no inciso
III do § 2º do art. 12 da Lei n. 6.368/1976 continua típica na vigência da Lei n.
11.343/2006, ainda que desdobrada em mais de um artigo da nova lei.

Ademais, observe-se que a regra contida no art. 29 do CP também afasta a alegação de


descriminalização da conduta em análise, pois quem contribui, de qualquer modo, para o
crime, incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade. Desse modo, em
último caso, o agente poderá até mesmo responder como partícipe por tráfico de drogas
(art. 33 da LD c/c art. 29 do CP).
Processo STJ. 6ª Turma. HC 163.545-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 25/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Calúnia e difamação praticados em disputa pela posição de cacique: competência da Justiça Federal

Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Estadual) processar e julgar ação penal referente aos
crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela posição de cacique em
comunidade indígena (art. 109, XI, da CF/88).
Comentários A CF/88 prevê, em seu art. 109, XI:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
XI - a disputa sobre direitos indígenas.

Como se percebe pela leitura do inciso, somente será de competência da Justiça Federal os
casos que envolvam disputa sobre direitos indígenas.
36

Regra:
Assim, em regra, a competência para julgar crime no qual o indígena figure como autor ou
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vítima é da Justiça Estadual. A Súmula 140-STJ é expressa nesse sentido: “Compete à justiça
comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima”.
INFORMATIVO esquematizado
Exceções:
Excepcionalmente, a competência será da Justiça Federal:
a) quando o crime praticado estiver relacionado com questões ligadas à cultura e aos
direitos dos indígenas sobre suas terras (STF. HC 91.121/MS); ou
b) no caso de genocídio contra os indígenas, considerando que, neste caso, o delito é
praticado com o objetivo de acabar com a própria existência de uma determinada etnia
(STF. RE 263.010/MS).

Resumindo, o crime será de competência da Justiça Federal sempre que envolver “disputa
sobre direitos indígenas’, nos termos do art. 109, XI, da CF/88.

Segundo o STJ, o conceito de direitos indígenas, previsto no art. 109, XI, da CF/88, para
efeito de fixação da competência da Justiça Federal, é aquele referente às matérias que
envolvam a organização social dos índios, seus costumes, línguas, crenças e tradições, bem
como os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, compreendendo, portanto,
a hipótese em análise.

No caso concreto noticiado neste Informativo, houve o cometimento dos crimes de calúnia
e difamação praticados no contexto de disputa pela posição de cacique em comunidade
indígena. Logo, o STJ considerou que havia uma disputa sobre direitos indígenas, de forma
que a competência para julgar a causa seria da Justiça Federal.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 123.016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013.

Desvio de verbas do SUS: competência da Justiça Federal

Compete à Justiça Federal processar e julgar as ações penais relacionadas com o DESVIO de
verbas originárias do SUS (Sistema Único de Saúde), independentemente de se tratar de
valores repassados aos Estados ou Municípios por meio da modalidade de transferência “fundo
a fundo” ou mediante realização de convênio.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Médicos e funcionários de um Hospital Municipal desviaram, mediante o uso de
documentos ideologicamente falsos, valores do Sistema Único de Saúde.
As verbas desviadas haviam sido repassadas ao Município pelo Fundo Nacional de Saúde.
A organização criminosa foi investigada pela Polícia Federal, tendo os réus sido denunciados
pelo MPF na Justiça Federal.

Tese da defesa: incompetência


A defesa alegou que a competência para julgar os réus seria da Justiça Estadual,
considerando que trabalhavam em um Hospital Municipal e que os valores repassados já
haviam sido incorporados aos cofres do Município, atraindo a incidência do raciocínio
previsto na Súmula 209 do STJ (Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por
desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal).
Logo, o prejuízo foi causado à municipalidade e não à União.

A tese da defesa pode ser aceita? De quem é a competência para julgar essa ação penal?
Justiça FEDERAL.
37

Segundo o STF e o STJ, compete à Justiça Federal processar e julgar as causas relativas ao
Página

desvio de verbas do SUS, independentemente de se tratar de repasse fundo a fundo ou de

INFORMATIVO esquematizado
convênio, visto que tais recursos estão sujeitos à fiscalização federal, atraindo a incidência
do disposto no art. 109, IV, da CF/88 e na Súmula 208 do STJ.

Relembrando o que diz a Súmula 208 do STJ:


Súmula 208-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio
de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

Os Estados e Municípios, quando recebem verbas destinadas ao SUS, possuem autonomia


para gerenciá-las. No entanto, tais entes continuam tendo a obrigação de prestar contas ao
Tribunal de Contas da União, havendo interesse da União na regularidade do repasse e na
correta aplicação desses recursos.

Para o STJ, a solução do presente caso não depende da discussão se a verba foi incorporada
ou não ao patrimônio do Município. O que interessa, na situação concreta, é que o ente
fiscalizador dos recursos é a União, através do Ministério da Saúde e seu sistema de
Auditoria, conforme determina o art. 33, § 4º, da Lei n. 8.080/90:
Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados em
conta especial, em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos
respectivos Conselhos de Saúde.
(...)
§ 4º O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu sistema de auditoria, a
conformidade à programação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e
Municípios. Constatada a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao
Ministério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei.

Atenção Importante ter cuidado para não confundir:


Desvio de verbas do SUS: competência da Justiça Federal (CC 122.555-RJ);
Estelionato contra o SUS: competência da Justiça Federal (CC 95134-MG);
Cobrança indevida de serviços médico/hospitares acobertados pelo SUS: Justiça Estadual.

(...) 1. A cobrança indevida de serviços médico/hospitares acobertados pelo SUS, embora


possa caracterizar o crime de concussão, não implica prejuízo direito à União ou mesmo
indireto via violação da "Política Nacional".
2. "Compete à Justiça Estadual processar e julgar o feito destinado a apurar crime de
concussão consistente na cobrança de honorários médicos ou despesas hospitalares a
paciente do SUS por se tratar de delito que acarreta prejuízo apenas ao particular, sem
ofensa a bens, serviços ou interesse da União" (CC 36.081/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, Terceira Seção, DJ. 01/02/2005 p. 403) (...)
(AgRg no CC 115.582/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 27/06/2012)

Processo STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 122.555-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 14/8/2013.
38
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INFORMATIVO esquematizado
Compete à Justiça Estadual o julgamento de sonegação fiscal de ISS

O crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90) de imposto sobre serviço (ISSQN),
cometido, em tese, por fundação privada é de competência da Justiça Estadual, considerando
que o ente lesado é o Município ou o Distrito Federal.
Assim, não há violação a bem, serviço ou interesse da União, de suas autarquias ou empresas
públicas, o que justificaria a competência da Justiça Federal.
Comentários O art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90 preconiza:
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição
social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

A competência para julgamento desse delito, em regra, será determinada pela natureza do
tributo sonegado:
Se o tributo for federal, a competência para julgar o crime será da Justiça Federal.
Se o tributo for estadual ou municipal, a competência será da Justiça Estadual.

O imposto sobre serviços de qualquer natureza é um imposto municipal (art. 156, III, da CF).

Com base nisso, o STJ decidiu que compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) o
julgamento de ação penal em que se apure a possível prática de sonegação de ISSQN pelos
representantes de pessoa jurídica privada, ainda que esta mantenha vínculo com entidade
da administração indireta federal. Isso porque, nos termos do art. 109, IV, da CF, para que
se configure hipótese de competência da Justiça Federal, é necessário que a infração penal
viole bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, o que não ocorre nas hipóteses como a em análise, em que resulta prejuízo
apenas para o ente tributante, pessoa jurídica diversa da União – no caso de ISSQN,
Municípios ou DF.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 114.274-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/6/2013.

Art. 184, § 2º do CP: competência em caso de DVDs falsificados oriundos do exterior

O delito de comercializar DVD falsificado é, em regra, de competência da Justiça Estadual.


O fato de o réu ter afirmado que os DVDs encontrados eram oriundos do estrangeiro não é
suficiente para deslocar o crime para a Justiça Federal, especialmente pelo fato de que o laudo
pericial não foi conclusivo quanto à origem das mercadorias.
Assim, não comprovada a procedência estrangeira de DVDs em laudo pericial, a confissão do
acusado de que teria adquirido os produtos no exterior não atrai, por si só, a competência da
Justiça Federal para processar e julgar o crime de violação de direito autoral previsto no art.
184, § 2º, do CP.
Comentários A pessoa que vende CD ou DVD “pirata” pratica qual fato típico?
Essa conduta amolda-se ao § 2º do art. 184 do CP:
Violação de direito autoral
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
(...)
§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto,
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distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito,
Página

original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de


autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de

INFORMATIVO esquematizado
fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a
expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

Nesse sentido, confira o recém-editado enunciado do STJ:


Súmula 502-STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao
crime previsto no artigo 184, parágrafo 2º, do Código Penal, a conduta de expor à venda
CDs e DVDs piratas.

Se os CDs ou DVDs “piratas” vieram do exterior, de quem é a competência para julgar o


delito do § 2º do art. 184 do CP?
Não há posição pacífica sobre o tema ainda. A questão será pacificada pelo STF no
julgamento do RE 702.362/RS.

Por enquanto, o que prevalece é que se trata, em regra, de crime de competência da


JUSTIÇA ESTADUAL mesmo que os CDs ou DVDs piratas sejam procedentes do exterior,
salvo se ficar provado que, além do § 2º do art. 184 o CP, houve a prática de outros crimes
conexos de competência da Justiça Federal, como o descaminho. Nesse sentido, veja os
seguintes precedentes:
(...) A conduta de comercializar CDs falsificados caracteriza o delito de violação a direito
autoral, em atenção ao princípio da especialidade. Não havendo indícios concretos da
introdução ilegal no país de outras mercadorias, afastada está a competência da Justiça
Federal para o exame do feito, ante a inexistência de ofensa ao art. 109, IV da Constituição
Federal.
2. Na hipótese dos autos, a afronta ao direito autoral não ultrapassa, nem as fronteiras do
país, nem os interesses pessoais do titular do direito autoral, firmando, desta forma, a
competência da Justiça Estadual. Precedentes. (...)
(CC 125.286/PR, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Des. Conv. do TJ/PE), Terceira Seção,
julgado em 12/12/2012)

(...) O fato de os produtos - CDs e DVDs - terem sido adquiridos no exterior não implica, por
si só, na competência da Justiça Federal, considerando que não há configurada ameaça ou
lesão a interesse, bens ou serviços da União, de suas autarquias ou empresas públicas, nos
termos do art. 109 da Constituição Federal.
- A conduta do paciente se subsume, em tese, apenas ao crime de violação de direito
autoral, previsto no art. 184, § 2º, do Código Penal, considerando que o juízo federal
rejeitou a denúncia pelo crime de contrabando ou descaminho, pelo que, consoante
entendimento firmado nesta Terceira Seção compete a justiça estadual o processamento e
julgamento do feito. (...)
(CC 125.281/PR, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. do TJ/SE), Terceira Seção, julgado
em 28/11/2012)

Caso concreto julgado pelo STJ:


João foi preso em flagrante por policiais federais com DVDs falsificados, além de outras
mercadorias e medicamentos, originando um inquérito policial.
O indiciado confessou que todas as mercadorias eram oriundas do Paraguai.
O Laudo de Exame de Material não conseguiu constatar se os DVDs eram realmente de
procedência estrangeira.
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O Juízo Federal, a requerimento do MPF, determinou o arquivamento parcial do inquérito


quanto aos delitos dos arts. 273 e 334 do Código Penal por força do princípio da
Página

insignificância.
O delito do art. 334 do CP (descaminho) é sempre de competência da Justiça Federal.

INFORMATIVO esquematizado
O crime do art. 273 do CP será de competência da Justiça Federal se ficar constatada a
internacionalidade da conduta.
Desse modo, as imputações quanto aos arts. 273 e 334 do CP deixaram de existir e somente
remanesceu o crime do art. 184, § 2º do CP. Nesse caso, de quem é a competência para
apurar o delito?
O STJ decidiu que, não comprovada a procedência estrangeira de DVDs em laudo pericial, a
confissão do acusado de que teria adquirido os produtos no exterior não atrai, por si só, a
competência da Justiça Federal para processar e julgar o crime de violação de direito
autoral previsto no art. 184, § 2º, do CP.
Ainda que se adote o entendimento minoritário de que, se os DVDs forem importados, a
competência seria da Justiça Federal, no caso concreto, o laudo pericial não foi conclusivo e
não constatou a procedência estrangeira dos produtos adquiridos. Assim, mesmo para
aqueles que adotam essa corrente minoritária, a mera afirmação do acusado não é
suficiente para o deslocamento da competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal.
Limitando-se a ofensa aos interesses particulares dos titulares de direitos autorais, não há
que falar em competência da Justiça Federal por inexistir lesão ou ameaça a bens, serviços
ou interesses da União.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 127.584-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/6/2013.

O magistrado não pode negar a concessão do indulto com base em pressupostos não previstos
no Decreto presidencial, sob pena de violar o princípio da legalidade

O Presidente da República editou um Decreto Presidencial concedendo o “indulto natalino”.


O juiz negou a concessão do indulto, afirmando que o condenado praticou falta grave em 2011.
Ocorre que o Decreto previu que o condenado teria que cumprir todos os requisitos (inclusive
não ter cometido falta grave) até o final de 2010.
Desse modo, o STJ entendeu que não poderia ser negado o benefício ao condenado.
Para o Tribunal, na hipótese em que o Decreto Presidencial de comutação de pena estabeleceu,
como requisito para a concessão desta, o não cometimento de falta grave durante determinado
período, a prática de falta grave pelo apenado em momento diverso não constituirá, por si só,
motivo apto a justificar a negativa de concessão do referido benefício pelo juízo da execução.
Comentários Vamos fazer uma breve revisão de anistia, graça e indulto:
Anistia graça e indulto:
- São formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir.
- Classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP).
- A anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso)
ou pelo Poder Executivo (nos dois últimos), no entanto, somente geram a extinção da
punibilidade com a decisão judicial.
- Podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

ANISTIA GRAÇA INDULTO


(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido pelo Concedidos por Decreto do Presidente da República.
Congresso Nacional, com a sanção
do Presidente da República (art. 48, Apagam o efeito executório da condenação.
VIII, CF/88) por meio do qual se
“perdoa” a prática de um fato A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
criminoso.
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Procurador Geral da República


Normalmente incide sobre crimes Advogado Geral da União.
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políticos, mas também pode Ministros de Estado


abranger outras espécies de delito.

INFORMATIVO esquematizado
É concedida por meio de uma lei Concedidos por meio de um Decreto.
federal ordinária.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais
antes do trânsito em julgado benefícios só podem ser concedidos após o trânsito
(anistia própria) em julgado da condenação. Esse entendimento, no
depois do trânsito em julgado entanto, está cada dia mais superado, considerando
(anistia imprópria) que o indulto natalino, por exemplo, permite que
seja concedido o benefício desde que tenha havido
o trânsito em julgado para a acusação ou quando o
MP recorreu, mas não para agravar a pena imposta
(art. 5º, I e II, do Decreto 7.873/2012).
Classificação: Classificação
a) Propriamente dita: quando a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
concedida antes da condenação. b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a
b) Impropriamente dita: quando pena (comutação).
concedida após a condenação.
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer
a) Irrestrita: quando atinge condição.
indistintamente todos os autores b) Condicionado: quando impõe condição para sua
do fato punível. concessão.
b) Restrita: quando exige condição
pessoal do autor do fato punível. a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex:
Ex: exige primariedade. exige primariedade.
b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais
a) Incondicionada: não se exige
do agente.
condição para a sua concessão.
b) Condicionada: exige-se
condição para a sua concessão. Ex:
reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes comuns.


b)Especial: atinge crimes políticos.
Extingue os efeitos penais Só extinguem o efeito principal do crime (a pena).
(principais e secundários) do crime.

Os efeitos de natureza civil Os efeitos penais secundários e os efeitos de


permanecem íntegros. natureza civil permanecem íntegros.
O réu condenado que foi O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
anistiado, se cometer novo crime indulto, se cometer novo crime será reincidente.
não será reincidente.
É um benefício coletivo que, por É um benefício individual É um benefício coletivo
referir-se somente a fatos, atinge (com destinatário certo). (sem destinatário certo).
apenas os que o cometeram. Depende de pedido do É concedido de ofício
sentenciado. (não depende de
provocação).

Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos,
concedendo indulto. Esse Decreto é conhecido como “indulto natalino”
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Página

INFORMATIVO esquematizado
Caso concreto
O Presidente da República editou um Decreto Presidencial concedendo o “indulto natalino”.
O juiz negou a concessão do indulto, afirmando que o condenado praticou falta grave em
2011.
Ocorre que o Decreto previu que o condenado teria que cumprir todos os requisitos
(inclusive não ter cometido falta grave) até o final de 2010.
Desse modo, o STJ entendeu que não poderia ser negado o benefício ao condenado.
Para o Tribunal, na hipótese em que o Decreto Presidencial de comutação de pena
estabeleceu, como requisito para a concessão desta, o não cometimento de falta grave
durante determinado período, a prática de falta grave pelo apenado em momento diverso
não constituirá, por si só, motivo apto a justificar a negativa de concessão do referido
benefício pelo juízo da execução.
Com efeito, não cabe ao magistrado criar pressupostos não previstos no Decreto
Presidencial, para que não ocorra violação do princípio da legalidade.
Assim, preenchidos os requisitos estabelecidos no mencionado decreto, não há como
condicionar ou impedir a concessão da comutação da pena ao reeducando sob nenhum
outro fundamento, tendo a sentença natureza jurídica meramente declaratória.
Processo STJ. 6ª Turma. RHC 36.925-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 6/6/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Imunidade tributária recíproca: existe uma presunção de que os bens das autarquias e
fundações são utilizados em suas finalidades essenciais.

O art. 150, VI, “a”, da CF/88 prevê que a União, os Estados/DF e os Municípios não poderão
cobrar impostos uns dos outros.
Essa imunidade também vale para as autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades
essenciais ou às delas decorrentes (art. 150, § 2º da CF/88).
Existe uma presunção de que os bens das autarquias e fundações são utilizados em suas
finalidades essenciais.
Assim, o ônus de provar que determinado imóvel não está afetado à destinação compatível
com os objetivos e finalidades institucionais de entidade autárquica recai sobre o ente
tributante que pretenda, mediante afastamento da imunidade tributária prevista no § 2º do
art. 150 da CF, cobrar o imposto sobre o referido imóvel.
Comentários Imunidade tributária
Imunidade tributária consiste na determinação de que certas atividades, rendas, bens ou
pessoas não poderão sofrer a incidência de tributos.
Trata-se de uma dispensa constitucional de tributo.
A imunidade é uma limitação ao poder de tributar, sendo sempre prevista na própria CF.

O art. 150, VI, “a”, da CF/88 prevê a chamada imunidade tributária recíproca. Vejamos a
redação do dispositivo constitucional:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
VI - instituir impostos sobre:
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a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;


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INFORMATIVO esquematizado
Autarquias e fundações: as autarquias e fundações mantidas pelo Poder Público também
gozam dessa imunidade, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados
a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes (§ 2º do art. 150 da CF/88).
Assim, para gozar da imunidade, as autarquias e fundações precisam manter seu
patrimônio, renda e serviços vinculados às suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes, restrição esta não aplicável à Administração direta.

Ex1: imóvel pertencente à União (administração direta): gozará de imunidade mesmo que
ele não esteja vinculado às finalidades essenciais da União.

Ex2: imóvel pertencente a uma autarquia federal: somente gozará de imunidade se estiver
vinculado às finalidades essenciais dessa entidade autárquica.

IPTU
IPTU significa imposto sobre propriedade territorial urbana de bens imóveis, sendo tributo
de competência dos Municípios.

Imagine agora a seguinte situação:


Determinada autarquia possui um prédio. O Município cobrou da autarquia IPTU por causa
desse imóvel. A autarquia invocou sua imunidade tributária. O Município respondeu
dizendo que a imunidade não poderia ser aplicada em relação àquele imóvel porque ele
não estaria relacionado com as finalidades essenciais da entidade autárquica.

Para que a autarquia ou a fundação goze de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI,
“a”), ela terá que provar que o seu imóvel está relacionado com as suas finalidades
essenciais ou existe uma presunção nesse sentido?
Existe uma presunção nesse sentido. Assim, o ônus de provar que o imóvel não está afetado
a destinação compatível com os objetivos e finalidades institucionais de entidade
autárquica recai sobre o ente tributante.

Em palavras mais simples, se o Município quer tributar o imóvel pertencente à autarquia ou


fundação, ele é quem deverá provar que o referido bem não merece gozar da imunidade.

Conforme entende o STJ, há uma presunção de que o imóvel da entidade autárquica está
vinculado às suas finalidades essenciais.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 304.126-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/8/2013.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Forma de cálculo da RMI no caso de aposentadoria por invalidez precedida de auxílio-doença

No caso de benefício de aposentadoria por invalidez precedido de auxílio-doença, a renda


mensal inicial será calculada de acordo com o disposto no art. 36, § 7º, do Decreto 3.048/1999,
exceto quando o período de afastamento tenha sido intercalado com períodos de atividade
laborativa, hipótese em que incidirá o art. 29, § 5º, da Lei 8.213/1991.
Comentários Decreto n. 3.048/99:
Art. 36 (...) § 7º A renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez concedida por
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transformação de auxílio-doença será de cem por cento do salário-de-benefício que serviu


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de base para o cálculo da renda mensal inicial do auxílio doença, reajustado pelos mesmos
índices de correção dos benefícios em geral.

INFORMATIVO esquematizado
Lei n. 8.213/91:
Art. 29 (...) § 5º Se, no período básico de cálculo, o segurado tiver recebido benefícios por
incapacidade, sua duração será contada, considerando-se como salário-de-contribuição, no
período, o salário-de-benefício que serviu de base para o cálculo da renda mensal,
reajustado nas mesmas épocas e bases dos benefícios em geral, não podendo ser inferior ao
valor de 1 (um) salário mínimo.
Processo STJ. 3ª Seção. AgRg nos EREsp 909.274-MG, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada
do TJ-PE), julgado em 12/6/2013.

Pensão por morte: a união estável poderá ser provada no processo por meio de prova
exclusivamente testemunhal
Para a concessão de pensão por morte, é possível a comprovação da união estável por meio de
prova exclusivamente testemunhal.
Comentários Pensão por morte
A pensão por morte é um benefício previdenciário pago pelo INSS aos dependentes do
segurado em virtude do falecimento deste.
Em suma, quando o segurado morre, seus dependentes passam a ter direito de receber
uma pensão mensal.

Companheira é dependente de 1ª classe


A companheira (união estável) é considerada como dependente de 1ª classe (art. 16, I, da
Lei n. 8.213/91).
Assim, falecendo João e sendo ele segurado do RGPS, Maria que vivia com ele em união
estável, terá direito à pensão por morte.
Ocorre que a união estável não é tão fácil de ser provada como o casamento, que é
atestado pela certidão de matrimônio.

Diante disso, a pergunta é a seguinte:


Para fins de pensão por morte, é possível que a união estável seja provada por meio de
prova exclusivamente testemunhal?
SIM. A prova testemunhal é sempre admissível caso a legislação não disponha em sentido
contrário. Em nenhum momento a legislação previdenciária exigiu que a comprovação da
união estável fosse feita com início de prova material.
A Lei n. 8.213/1991 somente exige prova documental quando se tratar de comprovação do
tempo de serviço.
Logo, para a concessão de pensão por morte, é possível a comprovação da união estável
por meio de prova exclusivamente testemunhal.
Processo STJ. 3ª Seção. AR 3.905-PE, Rel. Min. Campos Marques (Des. convocado do TJ-PR), julgado em 26/6/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Promotor MP/DFT 2013) Em regra não há prerrogativa de foro para qualquer autoridade pública
demandada em ação de improbidade administrativa, mas, se o réu é deputado distrital no exercício do
mandato eletivo, a ação há de tramitar perante o tribunal de justiça local. ( )
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2) (Promotor MP/DFT 2013) É irrelevante que se cuide de ocupante de cargo público, ou de titular de
mandato eletivo ainda no exercício das respectivas funções, pois a ação civil por improbidade
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administrativa deve ser ajuizada perante o magistrado de primeiro grau, do local do dano, ou em que
ele devia ocorrer. Todavia, quando se tratar de magistrado no polo passivo da demanda, e em

INFORMATIVO esquematizado
homenagem ao princípio da hierarquia, ele não poderá ser processado e julgado por juízes de instância
inferior à que exerce a jurisdição. ( )
3) (Promotor MP/DFT 2013) No curso de uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa
contra o governador do DF, constatou-se que também tramita uma ação por crime de responsabilidade
contra a probidade na administração (Lei nº 1.079/1950), contra o mesmo governador e com
fundamento no mesmo ato administrativo ímprobo. Nesse caso, como ambas as ações têm como
sanções a perda do cargo público e inabilitação para o exercício de qualquer função pública, elas devem
ser reunidas, porque o objeto da ação civil pública é mais amplo que a ação de responsabilidade. ( )

4) (Promotor MP/ES 2013 VUNESP) Assinale a alternativa que corretamente trata de improbidade
administrativa.
(A) A Lei de Improbidade Administrativa (Lei Federal n.º 8.429/92) cuida de reparar atos de
improbidade praticados contra a administração pública por uma via específica que não se confunde
com a ação penal comum, nem com a ação que apura os crimes de responsabilidade das autoridades
mencionadas na Constituição Federal.
(B) Em relação ao Presidente da República, está ele sujeito à perda da função pública e dos direitos
políticos em decorrência de improbidade administrativa, pela via da ação civil pública da Lei Federal n.º
8.429/92, pois a improbidade administrativa, em toda sua extensão típica, é crime de responsabilidade
do Chefe maior da Nação.
(C) Senadores, Deputados Federais e Estaduais estão sujeitos a normas constitucionais que disciplinam
expressamente a forma de perda das funções, assim, não podem ter cassados seus direitos políticos
pela via da Lei Federal n.º 8.429/92. Da mesma forma, Juízes e Promotores de Justiça estão imunes às
sanções da referida Lei.
(D) A Lei Federal n.º 8.429/92 veda, em caráter absoluto, a presença de algumas autoridades públicas
no polo passivo de ação civil de improbidade ou prevê foro de prerrogativa de função, não restringindo,
no entanto, as sanções cabíveis.
(E) A Lei Federal n.º 8.429/92 pode ensejar prerrogativa de foro, pois ostenta caráter criminal. A perda
da função pública para Prefeitos Municipais submete-se ao tipo penal que tem como objetividade
jurídica a tutela da Administração Pública e do patrimônio público, no especial aspecto da garantia da
probidade administrativa.

5) (Promotor MP/RR 2012 CESPE) A eficácia da convenção de condomínio entre os condôminos perfaz-se
somente após o seu registro no cartório de títulos e documentos. ( )

6) É possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito


de ação coletiva, da questão jurídica de fundo neles discutida. ( )

7) (PGM-Maceió 2012) É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau
nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal. ( )
8) (Juiz TRF4 2012) Cabe recurso extraordinário contra decisão proferida por Turma Recursal dos Juizados
Especiais Federais, porém não cabe recurso especial. ( )
9) (Promotor MP/AL 2012 CESPE) Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de
segundo grau dos Juizados Especiais. ( )
10) (PGE/SP 2012) Não cabem embargos infringentes contra as decisões proferidas pela turma recursal dos
Juizados Especiais. ( )
11) (PGE/SP 2012) Os recursos não ordinários são admissíveis das decisões da turma recursal dos Juizados
Especiais, sem exceção. ( )
12) (PFN 2012 ESAF) Compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em recurso especial, as causas
decididas em única ou última instância pelos juizados especiais federais quando a decisão recorrida der
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a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro juizado especial federal. ( )
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Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. Letra A 5. E 6. C 7. C 8. C 9. C 10. C 11. E 12. E

INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR
RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO ADMINISTRATIVO. PRAZO PRESCRICIONAL DA PRETENSÃO DE RECEBIMENTO DE VALORES


REFERENTES À INCORPORAÇÃO DE QUINTOS PELO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO OU CARGO EM COMISSÃO
ENTRE 8/4/1998 E 5/9/2001. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Não está prescrita a pretensão dos servidores da justiça federal de recebimento de valores retroativos
referentes à incorporação de quintos pelo exercício de função comissionada ou cargo em comissão entre
8/4/1998 a 5/9/2001 – direito surgido com a edição da MP 2.225-45/2001 –, encontrando-se o prazo
prescricional suspenso até o encerramento do Processo Administrativo 2004.164940 do CJF, no qual foi
interrompida a prescrição.
De fato, nesse processo, foi interrompida a prescrição, tendo em vista o reconhecimento administrativo,
em decisão do Ministro Presidente do CJF, do direito dos servidores, inclusive com o pagamento de duas
parcelas retroativas, em dezembro de 2004 e dezembro de 2006. Para chegar a essa conclusão, cumpre
expor algumas premissas. Nos termos do art. 1º do Dec. 20.910/1932, as "dívidas passivas da União, dos
Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou
municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual
se originarem". Pelo princípio da actio nata, o direito de ação surge com a efetiva lesão do direito tutelado,
quando nasce a pretensão a ser deduzida em juízo, conforme o art. 189 do CC. Deve-se considerar, ainda,
que o ato administrativo de reconhecimento do direito pelo devedor pode ter as seguintes consequências:
a) interrupção do prazo prescricional, caso ainda esteja em curso (art. 202, VI, do CC); ou b) sua renúncia,
quando já se tenha consumado (art. 191 do CC). Interrompido o prazo, a prescrição volta a correr pela
metade (dois anos e meio) a contar da data do ato que a interrompeu ou do último ato ou termo do
respectivo processo, nos termos do que dispõe o art. 9º do Dec. 20.910/1932. Assim, tendo sido a
prescrição interrompida no curso de um processo administrativo, o prazo prescricional não volta a fluir de
imediato, mas apenas "do último ato ou termo do processo", consoante dicção do art. 9º do Dec.
20.910/1932. O art. 4º desse diploma legal, por sua vez, estabelece que a prescrição não corre durante o
tempo necessário para a Administração apurar a dívida e individualizá-la em relação a cada um dos
beneficiados pelo direito. O prazo prescricional interrompido somente volta a fluir, pela metade, quando a
Administração pratica algum ato incompatível com o interesse de saldar a dívida, ou seja, quando se torna
inequívoca a sua mora. Nesse contexto, observa-se que o direito à incorporação dos quintos surgiu com a
edição da MP 2.225-45/2001. Portanto, em 4/9/2001, quando publicada a MP, teve início o prazo
prescricional quinquenal do art. 1º do Dec. 20.910/1932. A prescrição foi interrompida em 17/12/2004,
com a decisão do Ministro Presidente do CJF exarada nos autos do Processo Administrativo 2004.164940,
que reconheceu o direito de incorporação dos quintos aos servidores da Justiça Federal. Ocorre que esse
processo administrativo ainda não foi concluído. Assim, como ainda não foi encerrado o processo no qual
foi interrompida a prescrição e tendo sido pagas duas parcelas de retroativos – em dezembro de 2004 e
dezembro de 2006 –, não flui o prazo prescricional, que não voltou a correr pela metade, nos termos dos
art. 4º e 9º do Dec. 20.910/1932. REsp 1.270.439-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 26/6/2013.

DIREITO CIVIL. SEMELHANÇA TEMÁTICA ENTRE OBRAS ARTÍSTICAS.


Não configura violação de direitos autorais a produção e veiculação de minissérie que utilize o mesmo
título, derivado da música brasileira mais conhecida da época retratada pela criação, bem como a mesma
ideia central contida em roteiro anteriormente produzido e registrado por terceiro, na hipótese em que
não tenham sido substancialmente utilizados a habilidade técnica e o labor intelectual da obra anterior.
Isso porque o direito autoral protege apenas a criação de uma obra, caracterizada sua exteriorização sob
determinada forma, e não a ideia em si ou um tema determinado. Com efeito, não há violação de direitos
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autorais pelo simples fato de as ideias de uma obra serem usadas em outra. Assim, considerando o fato de
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as obras em cotejo apenas contarem histórias semelhantes, mas não iguais, não fica configurado o plágio,

INFORMATIVO esquematizado
mas apenas a identidade de temas, o que é plenamente possível, não ocorrendo, assim, violação de direitos
autorais (art. 8º, I, da Lei 9.610/1998).
REsp 1.189.692-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/5/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CONVERSÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RETIDO.


A mera possibilidade de anulação de atos processuais – como decorrência lógica de eventual provimento,
no futuro, do agravo retido – não constitui motivo suficiente para impedir a conversão, em agravo retido,
de agravo de instrumento no qual se alegue a nulidade de prova pericial realizada. Observe-se,
inicialmente, que a regra no atual ordenamento processual é a interposição do agravo na forma retida,
sendo o agravo de instrumento uma exceção, que ocorre apenas nas hipóteses previstas em lei (art. 522 do
CPC). Nesse contexto, a simples possibilidade de anulação de atos processuais em momento futuro deve
ser considerada como inerente à própria prolação de sentença de mérito na pendência de agravo, retido ou
de instrumento, recebido no efeito meramente devolutivo. Esse risco de perda de atos processuais foi
assumido pelo legislador como mais vantajoso para o sistema processual do que a eventual suspensão do
processo na hipótese de impugnação de decisão interlocutória. Ademais, a manutenção nos autos da prova
pericial realizada, ainda que tida pela parte como inválida, por si só, não tem o condão de causar ao
agravante lesão grave ou de difícil reparação, pois, não tendo havido julgamento de mérito, inexiste ainda
valoração em relação àquela prova. Decerto, caso a parte agravante se sinta prejudicada por eventual
julgamento desfavorável amparado naquela prova pericial, poderá requerer ao Tribunal o exame de
arguição de afronta ao devido processo legal, em preliminar de recurso, o que merecerá o devido exame no
momento oportuno.
RMS 32.418-PR, Rel. originário Min. Raul Araújo, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
4/6/2013.

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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 528 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: CC 124.063-DF; REsp 1.208.858-SP; REsp 1.185.390-
SP; REsp 512.406-SP; REsp 909.940-ES.

ÍNDICE

Direito Administrativo
Art. 10 da Lei 8.429/92: é indispensável a comprovação de efetivo prejuízo aos cofres públicos.
Estado-membro que desapropria domínio útil de imóvel em terreno de marinha deverá pagar laudêmio.

Direito Civil
O titular do blog é responsável pelos danos causados por artigos de terceiro publicados em seu site.
Teoria da perda de uma chance: emissora de TV não considerou a resposta correta.

Direito do Consumidor
Direito de arrependimento: ônus de pagar as despesas postais é do fornecedor.
É dispensada a prévia comunicação do devedor se o SPC/SERASA estiver apenas reproduzindo
informação negativa que conste de registro público.

Direito Empresarial
Pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo prescricional.
É possível o protesto de cheque por endossatário terceiro de boa-fé mesmo que ele tenha sido sustado
pelo emitente.

Direito Processual Civil


Juiz não pode negar AJG com base apenas no valor do salário do requerente.
Termo inicial dos juros e correção monetária no caso de condenação da Fazenda Pública.
Art. 515, § 3º do CPC: pode ser aplicado se a questão for de direito e de fato, mas não houver
necessidade de se produzirem provas.
Não cabe a sucessão de partes em processo de MS.
MP tem legitimidade para ajuizar ACP a fim de garantir acesso a critérios de correção de provas de
concurso público.
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www.dizerodireito.com.br
Direito Penal
Apropriação indébita previdenciária dispensa dolo específico (animus rem sibi habendi).
Factoring que empresta dinheiro utilizando recursos de terceiros pratica o crime do art. 16 da Lei n.
7.492/86, de competência da Justiça Federal.

Direito Processual Penal


Vara da infância e juventude pode julgar estupro de vulnerável se previsto na lei estadual?
(Ir)retroatividade da indenização mínima prevista no inciso IV do art. 387 do CPP.

Direito Tributário
Não é possível compensar precatório estadual com dívidas oriundas de tributos federais.
Verba paga ao empregado demitido sem justa causa no período de estabilidade é isenta de IR.

Direito Previdenciário
No reexame necessário, o Tribunal não pode modificar a sentença para conceder benefício mais
vantajoso ao segurado (Súmula 45-STJ).

DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 10 da Lei 8.429/92: é indispensável a comprovação de efetivo prejuízo aos cofres públicos
Para a configuração dos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da Lei n.
8.429/92 é indispensável a comprovação de que tenha havido efetivo prejuízo aos cofres
públicos. Se não houver essa prova, não há como condenar o requerido por improbidade
administrativa.
Tendo ocorrido dispensa de licitação de forma indevida, mas não sendo provado prejuízo ao
erário nem má-fé do administrador, não se verifica a ocorrência de ato de improbidade
administrativa.
Comentários A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no
caso da prática de atos de improbidade administrativa.
A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam
improbidade administrativa.

Para a configuração dos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da Lei n.


8.429/92 é indispensável a comprovação de que tenha havido efetivo prejuízo aos cofres
públicos. Se não houver essa prova, não há como condenar o requerido por improbidade
administrativa.

Veja o seguinte exemplo hipotético:


João, administrador público, realizou a dispensa de licitação para a compra de
determinados bens. O Tribunal de Contas entendeu que a situação em tela não autorizava a
dispensa de licitação, uma vez que não se enquadrava nas hipóteses legais do art. 24 da Lei
n. 8.666/93. Apesar disso, constatou-se que os bens tinham preço compatível com os
praticados no mercado e não houve indícios de que o administrador tenha beneficiado
qualquer pessoa.
De posse dos documentos do Tribunal de Contas, o Ministério Público ajuizou ação de
improbidade contra João, com fulcro no art. 10, VIII, da Lei n. 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
2

ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
Página

malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º


desta lei, e notadamente:

INFORMATIVO esquematizado
(...)
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;
Nesse caso concreto, o administrador poderia ser condenado por improbidade
administrativa com base no art. 10, VIII, mesmo não tendo havido dano ao erário?
NÃO. O STJ entende que, para a configuração dos atos de improbidade administrativa
previstos no art. 10 da Lei n. 8.429/1992, exige-se a presença do efetivo dano ao erário
(critério objetivo) e, ao menos, culpa (elemento subjetivo). Não caracterizado o efetivo
prejuízo ao erário, ausente o próprio fato típico (REsp. 1.233.502/MG, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, DJe 23.08.2012).

Essa é a opinião também da doutrina especializada ao comentar o inciso VIII do art. 10 da LIA:
“A simples dispensa do processo de licitação, por si só, não é motivo para a subsunção na
presente Lei de Improbidade Administrativa, pois é necessário o binômio ilegalidade com
prejuízo ao erário. Isso porque, o inciso em tela é abrigado no caput do art. 10, que
estabelece atos de improbidade que causem lesão ao erário.” (MATTOS, Mauro Roberto
Gomes de. O Limite da Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 306).
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.173.677-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/8/2013.

Estado-membro que desapropria domínio útil de imóvel situado


em terreno de marinha deverá pagar laudêmio
(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

A transferência, para fins de desapropriação, do domínio útil de imóvel aforado da União


constitui operação apta a gerar o recolhimento de laudêmio.
Comentários O que são terrenos de marinha?
Terrenos de marinha são “todos aqueles que, banhados pelas águas do mar ou dos rios e
lagoas navegáveis (estes últimos, exclusivamente, se sofrerem a influência das marés,
porque senão serão terrenos reservados), vão até a distância de 33 metros para a parte da
terra contados da linha do preamar médio, medida em 1831” (CUNHA JÚNIOR, Dirley da.
Curso de Direito Administrativo. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 417).
Isso é um pouco difícil de entender, então, encontrei esta imagem para ilustrar melhor:

3
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Fonte: http://www.vendariviera.com.br/blog/imoveis/saiba-mais-sobre-o-terreno-de-marinha/

INFORMATIVO esquematizado
Os terrenos de marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). Isso se justifica por se
tratar de uma região estratégica em termos de defesa e de segurança nacional (é a “porta
de entrada” de navios mercantes ou de guerra).

Enfiteuse (ou aforamento)


José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 23ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010, p. 1311) explica que, em algumas regiões, a União permitiu que
particulares utilizassem, de forma privada, imóveis localizados em terrenos de marinha.
Como essas áreas pertencem à União, o uso por particulares é admitido pelo regime da
enfiteuse (aforamento), que funciona, em síntese, da seguinte forma:
A União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil.
O particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma importância a
título de foro ou pensão.

O particular (enfiteuta) pode até transferir para outras pessoas o domínio útil que exerce
sobre o bem?
SIM. Tome-se o seguinte exemplo: João reside em uma casa localizada dentro de um
terreno de marinha, possuindo, portanto, apenas o domínio útil sobre o bem e pagando,
anualmente, o foro. Ocorre que ele quer se mudar. Diante disso, poderá “vender” o
domínio útil para outra pessoa.

A pessoa que transferir o domínio útil do imóvel terá que pagar algum valor para a União?
SIM. A legislação estabelece que a pessoa, antes de efetuar a transferência, deverá pagar
5% do valor do domínio útil à União. Assim, em nosso exemplo, João terá que recolher em
favor da União 5% do valor do domínio útil de sua casa pelo simples fato de ela estar
localizada em terreno de marinha.
Esse valor é chamado de laudêmio e seu pagamento está previsto no art. 3º do Decreto-Lei
n. 2.398/87:
Art. 3° Dependerá do prévio recolhimento do laudêmio, em quantia correspondente a 5%
(cinco por cento) do valor atualizado do domínio pleno e das benfeitorias, a transferência
onerosa, entre vivos, do domínio útil de terreno da União ou de direitos sobre benfeitorias
neles construídas, bem assim a cessão de direito a eles relativos.

Imaginemos que o estado-membro possui interesse no imóvel onde reside João. O estado-
membro poderá desapropriar esse bem?
NÃO. Isso porque a casa de João está localizado em terreno de marinha. Logo, trata-se de
bem da União.

Os bens da União não podem ser desapropriados pelo estado-membro?


NÃO.

Os bens públicos podem ser desapropriados?


SIM. Os bens públicos podem ser objeto de desapropriação, mas apenas por entidades
estatais superiores e desde que haja autorização legislativa para o ato expropriatório.
Assim, a União pode desapropriar bens dos Estados, do DF e dos Municípios; já os Estados
podem desapropriar apenas os bens dos Municípios; os Municípios, por sua vez, não podem
desapropriar bens públicos.
4

O que o estado-membro pode fazer, então, para utilizar o imóvel de João?


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O estado-membro poderá desapropriar o domínio útil do imóvel, de forma que ele


continuará pertencendo à União.
INFORMATIVO esquematizado
Nesse caso, o estado-membro, ao desapropriar o domínio útil, terá que pagar laudêmio?
SIM. O STJ decidiu que a transferência, para fins de desapropriação, do domínio útil de
imóvel aforado da União constitui operação apta a gerar o recolhimento de laudêmio. Isso
porque, nessa situação, mesmo se tratando de uma desapropriação, não se pode negar que
há uma transferência onerosa entre vivos, de modo a possibilitar a incidência do disposto
no art. 3º do Decreto-lei 2.398/1987.

Obs: O CC-2002 proibiu a constituição de novas enfiteuses (aforamentos), continuando a


existir aquelas que já haviam sido constituídas (elas são regidas pelo CC-1916). O CC-2002
determinou, ainda, que a enfiteuse (aforamento) dos terrenos de marinha poderia
continuar a existir, sendo matéria a ser regulada por lei especial (art. 2.038, § 2º).
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.296.044-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/8/2013.

DIREITO CIVIL
O titular do blog é responsável pelos danos causados por artigos de terceiro publicados em seu site
O titular de blog é responsável pela reparação dos danos morais decorrentes da inserção, em
seu site, por sua conta e risco, de artigo escrito por terceiro.
Comentários O STJ entende que o raciocínio que motivou a edição da Súmula 221 do STJ é aplicável em
relação a todas as formas de imprensa, alcançado, assim, também o serviço de informação
prestado por meio da internet.
Súmula 221-STJ: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de
publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de
divulgação.

Nesse contexto, cabe ao titular do blog exercer o controle editorial das matérias a serem
postadas, de modo a evitar a propagação de opiniões pessoais que contenham ofensivos à
dignidade pessoal e profissional de outras pessoas.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.381.610-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/9/2013.

Teoria da perda de uma chance: emissora de TV não considerou a resposta correta


A emissora responsável pela veiculação de programa televisivo de perguntas e respostas deve
indenizar, pela perda de uma chance, o participante do programa que, apesar de responder
corretamente a pergunta sobre determinado time de futebol, tenha sido indevidamente
desclassificado, ao ter sua resposta considerada errada.
Comentários O que é a teoria da perda de uma chance?
Trata-se de teoria inspirada na doutrina francesa (perte d’une chance).
Segundo essa teoria, se alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca
uma oportunidade de obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja
indenização pelos danos causados.
Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima perca a
oportunidade de obter uma situação futura melhor.
Com base nesta teoria, indeniza-se não o dano causado, mas sim a chance perdida.

A teoria da perda de uma chance é adotada no Brasil?


SIM, esta teoria é aplicada pelo STJ, que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e
5

CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano


Página

potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável


(REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009).

INFORMATIVO esquematizado
Em outros julgados, fala-se que a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA, que proporcione
ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada.
(AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011)

Caso concreto em que o STJ aplicou essa teoria:


Júlio foi selecionado para participar de um programa do SBT chamado “Vinte e Um”, no
qual deveria responder a questões referentes ao Corinthians com base no livro denominado
Corinthians é “Preto no Branco”.
O referido livro é composto por páginas brancas e páginas pretas sendo que nas páginas
brancas as informações são fantasiosas e nas páginas pretas as informações são reais.
Depois de superada a fase que lhe garantia 50 mil reais, Júlio decidiu passar para a nova
fase. Se acertasse essa pergunta, ele teria direito de concorrer ao prêmio de 120 mil reais.
Depois de lida a pergunta pelo apresentador Silvio Santos, Júlio respondeu corretamente a
pergunta sobre o placar de uma partida do Corinthians.
O apresentador, no entanto, de acordo com o que ficticiamente constava do livro,
considerou a resposta errada.
Com isso, Júlio foi desclassificado, perdendo a chance de passar para a etapa seguinte, na
qual poderia ganhar 120 mil reais.
Júlio ajuizou, então, ação de indenização contra o SBT.

O que decidiu o STJ?


Apesar de o programa indicar como bibliografia básica o referido livro, o concurso era, na
verdade, sobre o Corinthians (e não sobre o livro).
Assim, não se podia exigir do autor que desse a resposta errada, mesmo estando dessa
forma escrita no livro.
Logo, para o STJ, a emissora deveria ter exigido a resposta verdadeira sobre a história do
clube (e não a parte fictícia).
Como o autor foi indevidamente eliminado do concurso, perdeu a chance de nele
prosseguir e de receber o prêmio de 120 mil reais. Logo, deverá ser indenizado por essa
chance perdida.
Entendeu-se que ele tinha direito, não aos 120 mil reais, porque havia a possibilidade de ele
não acertar a pergunta. No entanto, se entendeu que ele deveria receber a metade do valor
do prêmio seguinte (60 mil reais).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.383.437-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 13/8/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR
Direito de arrependimento: ônus de pagar as despesas postais é do fornecedor
Se o consumidor comprar algum produto ou serviço por telefone, pela TV ou internet e, quando
for usar, perceber que não gostou, ele tem direito de devolver, recebendo de volta o que pagou.
A isso se dá o nome de direito de arrependimento (art. 49 do CDC).
Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento, os valores eventualmente pagos, a
qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente
atualizados (parágrafo único do art. 49 do CDC).
O ônus de arcar com as despesas postais decorrentes do exercício do direito de
arrependimento é do fornecedor e não pode ser repassado ao consumidor, mesmo que o
contrato assim preveja.
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Comentários Se o consumidor comprar algum produto ou serviço por telefone, pela TV ou internet e,
Página

quando for usar, perceber que não gostou, ele tem direito de devolver, recebendo de volta o
que pagou?

INFORMATIVO esquematizado
SIM. Trata-se do chamado “direito de arrependimento”, que está previsto no art. 49 do CDC:
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio.

Em quais situações ocorre o “direito de arrependimento”?


O consumidor tem direito de arrependimento sempre que a compra do produto ou serviço
ocorrer fora do estabelecimento comercial. É o caso, por exemplo, do consumidor que
compra o produto pela internet, por telefone ou, então, quando o vendedor vai até a casa
da pessoa levando um catálogo para que o comprador escolha o artigo desejado.
Importante reafirmar que esse direito somente existe no caso de aquisição do produto ou
serviço fora do estabelecimento comercial. Ressalte-se que algumas lojas físicas até
oferecem essa comodidade aos seus clientes (a possibilidade de trocar peças de roupa, p.
ex., quando não agradam o destinatário de um presente). Isso, contudo, é uma mera
liberalidade do fornecedor, não havendo uma previsão legal obrigando a loja a adotar essa
prática caso o bem tenha sido adquirido dentro do estabelecimento comercial.

Existe um prazo máximo para que o consumidor possa exercer esse direito?
SIM. O consumidor poderá desistir do negócio em um prazo de até 7 dias, que são
contados:
da assinatura do contrato; ou
do ato de recebimento do produto ou serviço

Obs: esse período de 7 dias é chamado de “prazo de reflexão”.

Por que o legislador previu esse direito de arrependimento?


Quando o consumidor adquire o produto ou serviço fora do estabelecimento comercial, ele
fica ainda mais vulnerável na relação instituída com o fornecedor (GARCIA, Leonardo.
Direito do Consumidor. 5ª ed., Salvador: Juspodivm, 2011, p. 207). Isso porque se o
consumidor está dentro do estabelecimento, ele pode verificar com maior riqueza de
detalhes as características do produto ou serviço (tamanho, largura, cores, condições etc.),
comparando com outros de marcas e modelos diferentes. Já quando está fora do
estabelecimento, esse exame fica mais dificultado, de forma que acaba adquirindo o bem
confiando nas informações dadas pelo fornecedor. Se essas não se confirmam (ainda que
em uma visão subjetiva do adquirente), nada mais justo que ele possa se arrepender do
negócio.

É necessário que o consumidor justifique o motivo pelo qual não quer mais o bem ou
serviço?
NÃO. O direito de arrependimento pode ser exercido de forma absolutamente imotivada,
ou seja, o consumidor não precisa dizer os motivos pelos quais quer devolver o produto ou
serviço, não sendo possível que o fornecedor exija isso para que faça o reembolso.
Pouco importa também se o produto ou serviço não apresenta nenhum vício.
Assim, o produto ou serviço poderá ser devolvido mesmo que esteja funcionando
perfeitamente.

O fornecedor poderá inserir uma cláusula no contrato afirmando que o consumidor não terá
direito de arrependimento?
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NÃO. Eventual cláusula nesse sentido é considerada abusiva, sendo nula de pleno direito,
Página

nos termos do art. 51, I e II:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos
neste Código;

Após devolver o produto ou serviço, o consumidor tem direito de receber de volta


inteiramente o valor que pagou?
SIM. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento, os valores eventualmente
pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato,
monetariamente atualizados (parágrafo único do art. 49).

Quem deverá arcar com as despesas de transporte para devolução da mercadoria à loja?
O fornecedor.

Ao efetuar a devolução dos valores ao consumidor, o fornecedor poderá descontar um


percentual pequeno a título de despesas? Ex: o consumidor pagou 2 mil reais por um
notebook comprado pela internet; a loja poderá descontar 50 reais gastos com as despesas
relativas aos correios?
NÃO. O ônus de arcar com as despesas postais decorrentes do exercício do direito de
arrependimento é do fornecedor e não pode ser repassado ao consumidor, mesmo que o
contrato assim preveja. Segundo o STJ, “aceitar o contrário significaria criar limitação ao
direito de arrependimento legalmente não prevista, de modo a desestimular o comércio
fora do estabelecimento, tão comum nos dias atuais. Deve-se considerar, ademais, o fato
de que eventuais prejuízos enfrentados pelo fornecedor nesse tipo de contratação são
inerentes à modalidade de venda agressiva fora do estabelecimento comercial (pela
internet, por telefone ou a domicílio)” (REsp 1.340.604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 15/8/2013).

Recentemente, o direito de arrependimento foi regulamentado pelo Decreto n. 7.962/2013,


no que se refere ao comércio eletrônico:
Veja o que diz o art. 5º do Decreto n. 7.962/2013:
Art. 5º O fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios adequados e
eficazes para o exercício do direito de arrependimento pelo consumidor.

§ 1º O consumidor poderá exercer seu direito de arrependimento pela mesma ferramenta


utilizada para a contratação, sem prejuízo de outros meios disponibilizados.

§ 2º O exercício do direito de arrependimento implica a rescisão dos contratos acessórios,


sem qualquer ônus para o consumidor.

§ 3º O exercício do direito de arrependimento será comunicado imediatamente pelo fornecedor


à instituição financeira ou à administradora do cartão de crédito ou similar, para que:
I - a transação não seja lançada na fatura do consumidor; ou
II - seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na fatura já tenha sido realizado.

§ 4º O fornecedor deve enviar ao consumidor confirmação imediata do recebimento da


8
Página

manifestação de arrependimento.

INFORMATIVO esquematizado
Polêmicas envolvendo o direito de arrependimento
Existe uma polêmica envolvendo o direito de arrependimento no caso de bens consumíveis
ou, então, de produtos e serviços cujo uso possa ser feito normalmente nos 7 dias e, após
isso, não haja mais interesse econômico do consumidor em permanecer com a mercadoria.
Nesses casos, muitos fornecedores defendem que não deveria ser permitido o exercício do
direito de arrependimento.
Como exemplo, podemos citar um consumidor que compre um curso on line, assista
durante os 7 dias e, depois, simplesmente queira devolvê-lo afirmando que não gostou.
Outra situação é a do consumidor que compra um e-book, faz a leitura no período de
reflexão e, então, postula a sua devolução.
Nessas hipóteses, alguns fornecedores têm criado embaraço para que o consumidor exerça
seu direito de arrependimento.
Ainda não há um posicionamento do STJ sobre esse ponto específico.
Os órgãos de defesa do consumidor afirmam que, a princípio, mesmo em tais situações é
possível o exercício do direito de arrependimento, considerando que a lei não fez restrições.
No entanto, a depender do caso concreto, vem ganhando força o entendimento de que
seria possível negar o exercício desse direito se ficar comprovado um manifesto abuso por
parte do consumidor, o que violaria o princípio da boa-fé objetiva. Há algumas decisões de
Tribunais de Justiça sustentando essa posição.
Seria interessante que fosse editada uma regulamentação mais detalhada sobre esse
direito, assim como já ocorre em alguns países e também na União Europeia (Diretiva
97/7/CE do Parlamento Europeu).

O direito de arrependimento é igual à “venda a contento” (ad gustum) ou, então, à “venda
sujeita a prova”, previstas, respectivamente, nos arts. 509 e 510 do CC?
NÃO.

A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva,


ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita enquanto o
adquirente não manifestar seu agrado (art. 509).
Já a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as
qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina (art. 510).
A principal diferença entre os institutos é a seguinte:
Direito de arrependimento Venda a contento e venda sujeita a prova
O negócio produz efeitos até que se rejeite A eficácia do negócio fica suspensa
o bem. (condição suspensiva) até que o comprador
manifeste se aceita (art. 511 do CC).

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.340.604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/8/2013.

É dispensada a prévia comunicação do devedor se o SPC/SERASA estiver apenas reproduzindo


informação negativa que conste de registro público
Órgão de proteção ao crédito (exs: SPC, SERASA) não tem o dever de indenizar o devedor pela
inclusão do seu nome, sem prévia notificação, em cadastro negativo na hipótese em que as
informações que deram ensejo ao registro tenham sido coletadas em bancos de dados públicos,
como os pertencentes a cartórios de protesto de títulos e de distribuição judicial. Isso porque
não há, nesses casos, o dever de notificação prévia do devedor no tocante ao registro
9

desabonador, haja vista que as informações constantes em bancos de dados públicos acerca da
Página

inadimplência de devedor já possuem notoriedade pública.

INFORMATIVO esquematizado
Comentários Se o consumidor está inadimplente, o fornecedor poderá incluí-lo em cadastros de proteção
ao crédito (exs: SPC e SERASA)? SIM.

Qual o cuidado prévio que deve ser tomado?


A abertura de qualquer cadastro, ficha, registro e dados pessoais ou de consumo referentes
ao consumidor deverá ser comunicada por escrito a ele (§ 2º do art. 43 do CDC).
Logo, o órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito deverá notificar o devedor
antes de proceder à inscrição (Súmula 359-STJ).
Assim, é ilegal e sempre deve ser cancelada a inscrição do nome do devedor em cadastros
de proteção ao crédito realizada sem a prévia notificação exigida pelo art. 43, § 2º, do CDC.
Em outras palavras, antes de “negativar” o nome do consumidor, o SPC ou a SERASA
deverão notificar o devedor, por escrito, informando acerca dessa possibilidade, a fim de
que o consumidor, se quiser, possa pagar o débito ou questioná-lo judicialmente.

O que acontece se não houver essa notificação prévia?


A ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome em órgão de
proteção ao crédito enseja indenização por danos morais, a ser paga pelos órgãos
mantenedores de cadastros restritivos (exs: SERASA, SPC).

O credor (fornecedor) deverá também pagar indenização por danos morais pelo fato do
consumidor ter sido negativado sem notificação prévia?
NÃO. O credor não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação de indenização por
danos morais decorrentes da inscrição em cadastros de inadimplentes sem prévia
comunicação.
A responsabilidade pela inclusão do nome do devedor no cadastro incumbe à entidade que
o mantém, e não ao credor, que apenas informa a existência da dívida (STJ AgRg nos EDcl
no REsp 907.608/RS).
A situação será diferente se o consumidor for negativado por conta de uma dívida que não
existia realmente (dívida irregular). Nesse caso, o fornecedor é quem será responsabilizado.

Se não houve comunicação prévia, a indenização é devida mesmo que depois fique provado
que o débito realmente existe?
SIM. Para que se caracterize o dever da SERASA/SPC de indenizar, é suficiente a ausência de
prévia comunicação, mesmo quando existente a dívida que gerou a inscrição.

Para que haja a condenação em dano moral, é necessário que seja provado o prejuízo
sofrido pelo consumidor?
NÃO. A indenização por danos morais decorre da simples ausência de prévia notificação,
circunstância que se mostra suficiente à caracterização do dano moral. Não há necessidade
da prova do prejuízo sofrido. Trata-se de dano moral in re ipsa, no qual o prejuízo é
presumido.

E no caso de dano material?


Para que haja condenação por danos materiais, é indispensável a prova dos prejuízos
sofridos.

Como é comprovada essa notificação prévia? Exige-se prova de que o consumidor tenha
efetivamente recebido a notificação?
10

NÃO. Basta que seja provado que foi enviada uma correspondência ao endereço do
consumidor notificando-o quanto à inscrição de seu nome no respectivo cadastro, sendo
Página

desnecessário aviso de recebimento (AR).


Súmula 404-STJ: É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao
INFORMATIVO esquematizado
consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.

Se o consumidor possui uma negativação anterior legítima e sofre uma nova anotação,
porém desta vez ele não é notificado previamente, este consumidor terá direito de ser
indenizado por causa desta segunda?
NÃO, ele terá direito apenas de pedir o cancelamento da segunda anotação feita sem
notificá-lo.
Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento.
Desse modo, conclui-se que a ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição
do seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, §2º do CDC, enseja o
direito à compensação por danos morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora
regularmente realizada.

Se o consumidor, após ser regularmente comunicado sobre a futura inscrição no cadastro,


ajuíza uma ação para impedir ou retirar seu nome do cadastro negativo, alegando que o
débito não existe, o juiz poderá conceder tutela antecipada ou cautelar deferindo esse
pedido? Quais os requisitos para tanto?
Segundo o STJ, a abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes,
requerida em antecipação de tutela e/ou medida cautelar, somente será deferida se,
cumulativamente:
a) a ação for fundada em questionamento integral ou parcial do débito;
b) houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência do bom direito
e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ;
c) houver depósito da parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada conforme o
prudente arbítrio do juiz.
A simples discussão judicial da dívida não é suficiente para obstar a negativação do nome
do devedor nos cadastros de inadimplentes.

Existe um prazo máximo no qual o nome do devedor pode ficar negativado?


SIM. Os cadastros e bancos de dados não poderão conter informações negativas do
consumidor referentes a período superior a 5 anos.
Passado esse prazo, o próprio órgão de cadastro deve retirar a anotação negativa,
independentemente de como esteja a situação da dívida (não importa se ainda está sendo
cobrada em juízo ou se ainda não foi prescrita).
Súmula 323-STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de
proteção ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição
da execução.

Se o devedor paga a dívida, a quem caberá informar o SPC ou a SERASA dessa situação para
que seja retirado o nome do devedor?
Cumpre ao CREDOR (e não ao devedor) providenciar o cancelamento da anotação negativa
do nome do devedor em cadastro de proteção ao crédito, quando paga a dívida.

Vale ressaltar que é, inclusive, crime, previsto no CDC, quando o fornecedor deixa de
comunicar o pagamento ao cadastro de proteção ao crédito:
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de
11

cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Assim, uma vez regularizada a situação de inadimplência do consumidor, deverão ser
imediatamente corrigidos os dados constantes nos órgãos de proteção ao crédito (REsp
255.269/PR).

Qual é o prazo que tem o credor para retirar (dar baixa) do nome do devedor no cadastro
negativo?
O STJ sempre afirmou que o credor deveria fazer isso “imediatamente” ou “em breve
espaço de tempo”. No entanto, a Corte avançou em seu entendimento e estipulou um
prazo certo para que o devedor tome essa providência.
Desse modo, o STJ afirmou que, paga a dívida, o credor tem o prazo de 5 (cinco) dias úteis
para a retirada do nome do consumidor dos cadastros de proteção ao crédito.
(STJ. 3ª Turma, REsp 1.149.998-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/8/2012)

Qual foi o fundamento para se encontrar esse prazo?


O STJ construiu este prazo por meio de aplicação analógica do art. 43, § 3º, do CDC:
Art. 43 (...) § 3º - O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e
cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias
úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

Qual é o termo inicial para a contagem?


Este prazo começa a ser contado da data em que houve o pagamento efetivo. No caso de
quitações realizadas mediante cheque, boleto bancário, transferência interbancária ou
outro meio sujeito à confirmação, o prazo começa a ser contado do efetivo ingresso do
numerário na esfera de disponibilidade do credor.

Estipulação de prazo diverso mediante acordo entre as partes:


É possível que seja estipulado entre as partes um outro prazo diferente desses 5 dias, desde
que não seja abusivo.

O que acontece se o credor não retirar o nome do devedor do cadastro no prazo de 5 dias?
A manutenção do registro do nome do devedor em cadastro de inadimplentes após esse
prazo impõe ao credor o pagamento de indenização por dano moral, independentemente
de comprovação do abalo sofrido.

Resumo quanto aos danos causados aos consumidores:


Quem é o responsável pelos danos causados ao consumidor?
1) Se o consumidor não foi notificado previamente acerca da inscrição: a responsabilidade é
somente do órgão de restrição do crédito (exs: SERASA, SPC).
2) Se o consumidor pagou a dívida e o fornecedor não providenciou a retirada do seu nome
do cadastro: a responsabilidade é somente do fornecedor (ex: comerciante).
3) Se o consumidor foi negativado por dívida irregular (ex: dívida que já havia sido paga): a
responsabilidade é somente do fornecedor.

Duas questões finais importantes


Existe uma exceção na qual não é necessária a notificação prévia do devedor para que seja
feita uma anotação negativa em seu nome nos cadastros de proteção ao crédito. Qual é?
É dispensada a prévia comunicação do devedor se o órgão de restrição ao crédito (exs: SPC,
SERASA) estiver apenas reproduzindo informação negativa que conste de registro público
12

(exs: anotações de protestos que constem do Tabelionato de Protesto, anotações de


execução fiscal que sejam divulgadas no Diário Oficial):
Página

(...) É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que a ausência de prévia

INFORMATIVO esquematizado
comunicação ao consumidor da inscrição de seu nome em cadastros de proteção ao
crédito, prevista no art. 43, § 2º, do CDC, não dá ensejo à reparação de danos morais
quando oriunda de informações contidas em assentamentos provenientes de serviços
notariais e de registros, bem como de distribuição de processos judiciais, por serem de
domínio público. (...)
(STJ. 2ª Seção, Rcl 6.173/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 29/02/2012)

O simples erro no valor inscrito da dívida gera dano moral (ex: a dívida era de 10 mil reais e
foi inscrita como sendo de 15 mil reais)?
NÃO. O STJ entende que o simples erro no valor inscrito da dívida, em órgão de proteção de
crédito, não tem o condão de causar dano moral ao devedor, haja vista que não é o valor do
débito que promove o dano moral ou o abalo de crédito, mas o registro indevido, que, no
caso, não ocorreu, uma vez que a dívida existe, foi reconhecida pelo autor e comprovada,
expressamente (REsp 831162/ES).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo prescricional

A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do


título. Assim, mesmo em caso de cheque pós-datado, o prazo para apresentação deve ser
contado a partir da data da emissão, não importando o dia futuro combinado com o
beneficiário.
Comentários CHEQUE

Conceito
O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela
instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete
efetuar pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento.
Esse terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque deverá ter fundos
disponíveis. À luz desses fundos, o banco efetuará o pagamento das ordens que lhe forem
sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre no momento em que
for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de
Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Personagens
a) Emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) Sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
13

c) Beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele


Página

que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.

INFORMATIVO esquematizado
Natureza jurídica
Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.

Legislação aplicável
O cheque é regido atualmente pela Lei n.º 7.357/85.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”?


É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de
receber o valor determinado na cártula.
Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o tempo
que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.
O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do Se o cheque for de praça diferente
pagamento (município onde foi assinado é (município onde foi assinado é diferente
o município da agência pagadora). do município da agência pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão O prazo será de 60 dias se o local da
do cheque (preenchido pelo emitente) for o emissão do cheque (preenchido pelo
mesmo lugar do pagamento (local da agência emitente) for diferente do lugar do
pagadora impressa no cheque). Nesse caso, pagamento (local da agência pagadora
diz-se que o cheque é da mesma praça impressa no cheque). Nesse caso, diz-se
(mesmo município). que o cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Ex: em um cheque de uma agência de São
Paulo (SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP), o emitente datou e assinou
Paulo (SP) como local da emissão. Manaus (AM) como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para
pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação?


A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do
cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento
dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o
direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente do
cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de
pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n. 7.357/85).

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?


14

6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque.


Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de
Página

apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado.

INFORMATIVO esquematizado
Cheque “pré-datado” (ou “pós-datado”)
Vimos acima que o cheque é uma ordem de pagamento à vista. Isso está, inclusive, previsto
na própria Lei do Cheque (Lei n.º 7.357/85):
Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita qualquer menção em contrário.

Ocorre que há muitos anos, adotou-se outra prática, qual seja, a de se colocar uma data
futura no cheque, com o objetivo de proporcionar que o emitente tenha um prazo maior
para pagamento. Ex: no dia 16/05, Maria queria fazer uma escova no salão de cabeleireiro.
Ocorre que ainda não havia recebido seu salário. Por isso, combinou com a dona do salão
de “passar” um cheque com data de 04/06, momento no qual a sua remuneração já teria
sido depositada.

Essa prática ganhou o nome de cheque “pré-datado”. A maioria da doutrina, contudo,


prefere utilizar a nomenclatura cheque “pós-datado”. Pode-se utilizar as expressões
indistintamente.

O cheque “pós-datado” pode ser conceituado como um cheque no qual emitente e


beneficiário combinaram que seria colocado um dia futuro na cártula, a fim de que a
apresentação do título somente ocorresse a partir daquela data.

Existem duas formas de se emitir um cheque pós-datado (pré-datado):


a) Preencher o cheque, no campo reservado para o dia de emissão, com uma data futura.
Ex: Maria emitiu o cheque no dia 16/05, mas preencheu o cheque com a data de 04/06.
b) Preencher o cheque, no campo reservado para o dia de emissão, com a data atual. No
entanto, escrever no verso da cártula, um aviso de que o cheque somente deverá ser
descontado em uma data futura. Ex: Maria emitiu o cheque no dia 16/05, mas no verso
do cheque escreveu o seguinte: “bom para o dia 04/06”.

O cheque pós-datado continua sendo uma ordem de pagamento à vista? Se o beneficiário


apresentar o cheque pré-datado antes da data nele escrita, o banco deverá pagá-lo?
SIM. O cheque pré-datado é um acordo entre o emitente e o beneficiário. No entanto, esse
ajuste só vale entre as partes, não produzindo efeitos perante a instituição financeira. Logo,
o cheque (mesmo sendo pré-datado) será pago no dia em que for apresentado ao banco
mesmo que antes da data combinada.
Isso ocorre porque a data futura no cheque é considerada pelo art. 32 da Lei como não-
escrita (inexistente). Assim, é comum os doutrinadores dizerem que, para efeitos de direito
cambiário, a pós-datação não existe (não altera as características e efeitos do cheque).

Se o banco pagar um cheque pós-datado antes da data prevista na cártula, pratica algum
ato ilícito?
NÃO. Ao contrário, como o cheque é, por força de lei, uma ordem de pagamento à vista, o
banco é obrigado, em regra, a pagá-lo.

O beneficiário que apresenta no banco o cheque pós-datado antes da data nele prevista,
pratica algum ato ilícito?
SIM. Como já explicado, o cheque pós-datado é um ajuste de vontades, um acordo entre
emitente e tomador. Logo, o beneficiário, ao descumprir esse pacto, pratica um ilícito
15

contratual, podendo, portanto, ser condenado a indenizar o sacador por danos morais e
materiais. Esse é o entendimento do STJ:
Página

Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado.

INFORMATIVO esquematizado
O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Ex: o cheque foi emitido dia 01/07,
mas ficou combinado que ele só seria apresentado dia 01/09. Em suma, no caso de cheque
pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?
NÃO. A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de
prescrição do título.
Assim, mesmo em caso de cheque pós-datado, o prazo para apresentação deve ser contado
a partir da data da emissão, não importando o dia futuro combinado com o beneficiário.

A 2ª Seção do STJ pacificou o tema nos seguintes termos:


(...) Ainda que a emissão de cheques pós-datados seja prática costumeira, não encontra
previsão legal. Admitir-se que do acordo extracartular decorra a dilação do prazo
prescricional, importaria na alteração da natureza do cheque como ordem de pagamento à
vista e na infringência do art. 192 do CC, além de violação dos princípios da literalidade e
abstração. Precedentes.
O termo inicial de contagem do prazo prescricional da ação de execução do cheque pelo
beneficiário é de 6 (seis) meses, prevalecendo, para fins de contagem do prazo prescricional
de cheque pós-datado, a data nele regularmente consignada, ou seja, aquela oposta no
espaço reservado para a data de emissão.
(REsp 1068513/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 14/09/2011)

Vale ressaltar, mais uma vez, que a pós-datação do cheque não interfere nem no prazo de
apresentação nem no prazo prescricional. Como explica André Luiz Santa Cruz:
“(...) em caso de cheque ‘pré-datado’ apresentado ao banco sacado precipitadamente,
deve-se proceder da seguinte maneira: considera-se iniciado o prazo de apresentação não a
partir da data constante do cheque – que, com certeza, designou uma data futura que foi
desrespeitada pelo tomador –, mas a partir da data em que o título foi efetivamente levado
ao banco para desconto; a partir desse dia, pois, contam-se 30 ou 60 dias, respectivamente,
conforme o cheque fosse da mesma praça ou de praças diferentes. Passados esses 30 ou 60
dias, inicia-se o prazo prescricional de 6 meses.” (Direito Empresarial esquematizado. 2ª ed.,
São Paulo: Método, 2012, p. 466).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

É possível o protesto de cheque por endossatário terceiro de boa-fé mesmo que ele tenha sido
sustado pelo emitente

É possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé, após o decurso do prazo
de apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação cambial de execução, ainda que,
em momento anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão do inadimplemento
do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Maria contratou João para fazer os móveis de sua casa.
Ficou combinado que Maria iria pagar 10 mil reais em 5 cheques pré-datados de 2 mil reais,
que deveriam ser descontados um em cada mês.
João não entregou os móveis e sumiu, razão pela qual Maria determinou ao banco a
sustação dos cheques (art. 36 da Lei n. 7.357/85).
Ocorre que, posteriormente, Maria foi surpreendida com o aviso de que os cheques que ela
16

tinha sustado foram levados a protesto por Pedro.


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Pedro adquiriu, de boa-fé, os cheques de João por meio de endosso e, quando foi cobrá-los,
não conseguiu recebê-los, razão pela qual os levou a protesto.

INFORMATIVO esquematizado
Pedro poderia ter levado os cheques a protesto?
SIM. O STJ decidiu que é possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé,
após o decurso do prazo de apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação
cambial de execução, ainda que, em momento anterior, o título tenha sido sustado pelo
emitente em razão do inadimplemento do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

O cheque é um título de crédito. Logo, submete-se aos princípios da literalidade, da


abstração, da autonomia das obrigações cambiais e da inoponibilidade das exceções
pessoais a terceiros de boa-fé.

a) Literalidade: os direitos resultantes do título são válidos pelo que nele se contém,
mostrando-se ineficazes, do ponto de vista cambiário, escritos (como a quitação, o aval
e o endosso) que não estejam na própria cártula. Existe uma frase que espelha este
princípio: “O que não está escrito no título não existe no mundo cambiário”.

b) Autonomia: o possuidor de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ser
atrapalhado por conta de relações jurídicas anteriores entre o devedor e antigos
possuidores do título. Assim, o possuidor de boa-fé do título de crédito não tem nada a
ver com o fato de o título ter vícios ou defeitos anteriores. Se ele é o atual possuidor e
está de boa-fé, tem direito ao crédito (obs: existem algumas exceções ao princípio da
autonomia, que não interessam no momento).

c) Abstração: os títulos de crédito, quando circulam, ficam desvinculados da relação que lhe
deu origem. Ex: João comprou um notebook de Ricardo, entregando-lhe uma nota
promissória. Ricardo endossou a nota promissória para Rui. Ricardo acabou nunca levando
o computador para João. Rui (que estava de boa-fé) poderá cobrar de João o crédito
constante da nota promissória e o fato do contrato não ter sido cumprido não poderá ser
invocado para evitar que João pague o débito. Isso porque, como o título circulou, ele já não
tem mais nenhuma vinculação com o negócio jurídico que lhe deu origem.

Os princípios acima elencados têm por objetivo conferir segurança jurídica ao tráfego
comercial e à circulação do crédito. Se a pessoa que recebeu um título de crédito
(aparentemente válido) pudesse ficar sem o dinheiro por força de vícios anteriores ou por
conta de uma quitação que não consta na cártula, isso geraria um enorme risco ao
portador, o que desestimularia as pessoas a aceitarem títulos de crédito.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Juiz não pode negar AJG com base apenas no valor do salário do requerente

O julgador não pode estipular, como único critério para a concessão de assistência judiciária
gratuita, o recebimento de rendimentos líquidos em valor inferior a 10 salários mínimos, sem
considerar, antes do deferimento do benefício, provas que demonstrem a capacidade
financeira do requerente para arcar com as despesas do processo e com os honorários
advocatícios sem prejuízo próprio ou de sua família.
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Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita


A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: o
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Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos.

INFORMATIVO esquematizado
Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:
I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Benefício da gratuidade judiciária
(assistência judiciária gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e Isenção das despesas que forem necessárias
defesa jurídica, de forma integral e para que a pessoa necessitada possa
gratuita, a ser prestada pela Defensoria defender seus interesses em um processo
Pública, em todos os graus, dos judicial.
necessitados (art. 134 da CF).
Regulada pela Lei Complementar 80/94. Regulada pela Lei n. 1.060/50.

Lei n. 1.060/50
A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:
I - das taxas judiciárias e dos selos;
II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e
serventuários da justiça;
III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação
dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do
empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo
contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder
público estadual, nos Estados;
V - dos honorários de advogado e peritos.
VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado
pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.
VII – dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e
demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

Obs: a assistência judiciária não abrange a isenção do pagamento de multa por litigância de
má-fé (STJ RMS 15.600-SP).

Quem é considerado necessitado para os fins legais?


É aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família (art. 2º, parágrafo
único, da LAJ).

Quem está abrangido por ela?


Pessoas físicas (nacionais ou estrangeiras);
Pessoas jurídicas.

O que é necessário para que se obtenha?


A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária mediante simples afirmação, na
própria petição inicial (se for autora) ou na contestação (se for ré), de que não está em
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condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo


próprio ou de sua família (art. 4º da LAJ).
Página

INFORMATIVO esquematizado
Se a pessoa física faz essa declaração, há uma presunção relativa de que ela seja necessitada
Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos da lei,
sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais (art. 4º, § 1º, da LAJ).
Não é necessário que a pessoa física junte nenhuma prova de que é necessitada, sendo
suficiente essa afirmação.

Mesmo havendo essa presunção, o juiz pode indeferir o pedido?


SIM. Segundo o STJ, a afirmação de hipossuficiência, almejando a obtenção do benefício da
assistência judiciária gratuita, possui presunção legal juris tantum, ou seja, relativa,
podendo o magistrado, com amparo no art. 5º, da Lei n.º 1.050/60, infirmar a
miserabilidade da requerente (AgRg no AREsp 121.135/MS, DJe 27/11/2012).
Esse indeferimento pode ocorrer, inclusive, de ofício, ou seja, sem requerimento da parte
adversa (REsp 1196941/SP, DJe 23/03/2011).

Se o magistrado não estiver convencido da impossibilidade da parte de arcar com as custas


do processo, ele poderá exigir que sejam apresentados documentos?
SIM. O magistrado, antes de deferir o pedido, pode investigar a real situação financeira do
requerente da assistência judiciária gratuita (AgRg no AREsp 181.573/MG, DJe 30/10/2012).
Assim, o juízo, para perquirir sobre as reais condições econômico-financeiras do
requerente, poderá solicitar que este comprove nos autos que não pode arcar com as
despesas processuais e com os honorários de sucumbência (REsp 1196941/SP, DJe
23/03/2011).

Para indeferir esse benefício, o juiz poderá criar critérios próprios, como, por exemplo, negar
a gratuidade para todas as pessoas que ganhem acima de determinado valor?
NÃO. Há violação dos arts. 2º e 4º da Lei n. 1.060/50, quando os critérios utilizados pelo
magistrado para deferir o benefício da assistência judiciária revestem-se de caráter
subjetivo, ou seja, criados pelo próprio julgador, tal como ocorreu no caso dos autos
(remuneração líquida inferior a dez salários mínimos), e pelos quais não se consegue inferir
se o pagamento pelo jurisdicionado das despesas com o processo e dos honorários irá ou
não prejudicar o seu sustento e o de sua família.
Nesse contexto, para a concessão da assistência judiciária gratuita, deve ser considerado o
binômio possibilidade-necessidade, com o fim de verificar se as condições econômicas-
financeiras do requerente permitem ou não que este arque com os dispêndios judiciais,
bem como para evitar que aquele que possui recursos venha a ser beneficiado,
desnaturando o instituto (AgRg no AREsp 239.341-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado
em 27/8/2013).
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 239.341-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 27/8/2013.

Termo inicial dos juros e correção monetária no caso de condenação da Fazenda Pública
Caso a Fazenda Pública seja condenada a pagar verba ilíquida de natureza administrativa
(diferenças remuneratórias) a determinado servidor público, a partir de que momento inicia-se
a contagem da correção monetária e dos juros moratórios?
ATENÇÃO
a) Juros moratórios: desde a citação (art. 219 do CPC; art. 405 do CC);

b) Correção monetária: desde a data do efetivo prejuízo (súmula 43 do STJ), ou seja, dia em que
19

deveria ter sido realizado o pagamento e não foi.


Comentários O tema que será explicado a seguir é muito difícil e ainda poderá ser modificado pelo STF. O
Página

caminho mais seguro, por enquanto, é adotar a posição que será analisada. Se houver
alteração no entendimento, você será avisado.
INFORMATIVO esquematizado
EC 62/2009
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios.
As modificações impostas pela EC 62/2009 dificultaram o recebimento dos precatórios
pelos credores e tornaram ainda mais vantajosa a situação da Fazenda Pública. Por esta
razão, a alteração ficou conhecida, jocosamente, como “Emenda do Calote”.

ADI
Foram propostas quatro ações diretas de inconstitucionalidade contra essa previsão (ADIs
4357/DF, 4425/DF, 4400/DF e 4372/DF), tendo elas sido julgadas parcialmente procedentes.

§ 12 do art. 100 da CF/88


O § 12 do art. 100 da CF/88 foi inserido pela referida EC 62/2009, tendo sido também
questionado nas ações propostas e declarado parcialmente inconstitucional, conforme será
demostrado a seguir.

Qual é a redação do § 12 do art. 100 da CF/88?


§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização (= correção
monetária) de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento,
independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica
da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora (= juros de mora),
incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de
poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62/09)

Não se espante. A redação é confusa mesmo. Vamos com calma.

Sobre o que esse § 12 está tratando?


Entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são
passados alguns anos. Durante este período, obviamente, se a quantia devida não for
atualizada, haverá uma desvalorização do valor real do crédito em virtude da inflação. Com
o objetivo de evitar essa perda, a Constituição determina que o valor do precatório deve ser
atualizado monetariamente quando for pago.
O § 12 acima transcrito estabelecia a forma de cálculo da correção monetária e dos juros de
mora no caso de atraso no pagamento do precatório. Dissemos “estabelecia” (no passado)
porque parte do § 12 foi declarada inconstitucional pelo STF.

Qual é a forma de cálculo prevista no texto do § 12?


O § 12 previa que, para calcular correção monetária e juros de mora, deveriam ser adotados
os seguintes parâmetros:
correção monetária: índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança;
juros de mora: juros simples no mesmo percentual que é pago na poupança.

Assim, de acordo com o texto do § 12, quando a Fazenda Pública estivesse em débito
(atraso), a correção monetária e os juros de mora deveriam adotar os índices e percentuais
aplicáveis às cadernetas de poupança.
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Essa forma de cálculo seria adotada apenas no caso de atraso de precatórios?


Página

Não. Há uma regra semelhante prevista no art. 1ºF da Lei n. 9.494/97. Veja:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua

INFORMATIVO esquematizado
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da
mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº
11.960/2009)

Desse modo, o art. 1º F da Lei n. 9.494/97 (redação dada pela Lei n. 11.960/2009), afirma
que, em qualquer condenação imposta à Fazenda Pública, a correção monetária e os juros
de mora seriam iguais aos da poupança.

O que o STF decidiu sobre o § 12 do art. 100 da CF/88?

“índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”


O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica
da caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF.

Por quê?
Para os Ministros, o índice oficial da poupança não consegue evitar a perda de poder
aquisitivo da moeda.
Esse índice é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não
relacionados com a inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz
de refletir a real flutuação de preços apurada no período em referência.
Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da
condenação, ele afronta à garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do
crédito previsto na condenação judicial não será o valor que o credor irá receber
efetivamente quando o precatório for pago (este valor terá sido corroído pela inflação).
A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação
econômica que se encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um
reflexo imediato da proteção da propriedade.
Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo
valor supera, em muito, o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a
previsão do § 12 viola também a isonomia.
Em suma, a taxa básica de remuneração da poupança não mede, de forma adequada, a
inflação acumulada do período e, portanto, não pode servir de parâmetro para a correção
monetária.

“independentemente de sua natureza”


O STF também declarou a inconstitucionalidade da expressão “independentemente de sua
natureza”, presente no § 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os
precatórios de natureza tributária se aplicam os mesmos juros de mora incidentes sobre o
crédito tributário.
Assim, para o STF, aos precatórios de natureza tributária devem ser aplicados os mesmos
juros de mora que incidem sobre todo e qualquer crédito tributário.
Em suma, em ações de indébito tributário, a Fazenda Pública deverá pagar suas dívidas
segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os créditos tributários
(atualmente, a SELIC). Isso se justifica em razão do princípio da equidade (isonomia).

O que aconteceu com o art. 1º F da Lei n. 9.494/97?


21

Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei n. 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei n.
11.960/2009, também prevê que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices a
Página

serem aplicados são os da caderneta de poupança.

INFORMATIVO esquematizado
Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também
declarou inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da
Lei n. 11.960/2009, que deu a redação ao art. 1º-F. da Lei n. 9.494/97.

Interpretação dada pelo STJ à decisão do STF sobre o art. 1ºF da Lei n. 9.494/97:
A partir da decisão do STF, surgiram algumas dúvidas que não foram respondidas de forma
explícita pelo acórdão.
A principal polêmica surgida é a seguinte: quais os parâmetros de correção monetária e
juros moratórios que deverão ser agora adotados em caso de condenação da Fazenda
Pública?

O STF ainda não enfrentou esse questionamento. No entanto, a 1ª Seção do STJ já foi
chamada a se manifestar e assim interpretou a decisão do STF:

1) Correção monetária: IPCA


Quando a Fazenda Pública for condenada, ela deverá pagar suas dívidas utilizando, como
correção monetária, índices que reflitam a inflação acumulada do período.
Logo, não poderão ser utilizados os índices de remuneração básica da caderneta de
poupança porque estes não conseguem evitar a perda de poder aquisitivo da moeda.
O STF julgou que seria inconstitucional utilizar o índice da poupança para a correção
monetária das condenações da Fazenda Pública. No entanto, na decisão, não foi dito, de
forma expressa, qual deveria ser o índice utilizado no lugar. Diante dessa lacuna, o STJ
entendeu que deve ser aplicado o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que é
divulgado pelo IBGE.
Dessa forma, segundo o STJ, nas condenações impostas à Fazenda Pública, para fins de
atualização monetária (correção monetária), deverá ser utilizado o IPCA.

2) Juros moratórios de débitos não-tributários: POUPANÇA


Os juros moratórios serão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica e juros
aplicáveis à caderneta de poupança.
Atenção: o art. 1ºF da Lei n. 9.494/97 não foi declarado inconstitucional quanto a esse
aspecto. Assim, no caso de juros moratórios quanto a débitos não-tributários da Fazenda
Pública, continua sendo aplicado o art. 1ºF. Veja as palavras do Min. Castro Meira:
“A declaração de inconstitucionalidade parcial por arrastamento do art. 5º da Lei 11.960/09
impôs um desmembramento entre os juros de mora (que continuaram regidos pela regra do
art. 1º-F da Lei 9.494/97) e a correção monetária (que passou a ser calculada pelo IPCA)”
(REsp 1.356.120-RS).

É o que acontece, por exemplo, quando a Fazenda Pública é condenada a pagar benefícios
previdenciários ou verbas a servidores públicos. Em tais situações, os juros moratórios serão
os da poupança.

3) Juros moratórios de débitos tributários: SELIC


Se a Fazenda Pública possui um débito de natureza tributária, deverá ser aplicado o mesmo
índice de juros de mora que incide quando o Poder Público cobra seus créditos tributários.
Desse modo, em ações de indébito tributário, quando a Fazenda Pública for condenada,
deverá pagar suas dívidas segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os
créditos tributários. Atualmente, esse índice é a SELIC.
22

O entendimento acima exposto foi decidido pela 1ª Seção do STJ no julgamento do REsp
Página

1270439/PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 26/06/2013). Vale ressaltar que o STJ

INFORMATIVO esquematizado
tomou essa decisão no regime de recurso repetitivo e que esse aspecto do julgado não foi
divulgado em nenhum informativo. Muita atenção com o tema!
Termo Caso a Fazenda Pública seja condenada a pagar verba ilíquida de natureza administrativa
inicial (diferenças remuneratórias) a determinado servidor público, a partir de que momento inicia-
se a contagem da correção monetária e dos juros moratórios?
a) Juros moratórios: desde a citação (art. 219 do CPC; art. 405 do CC);
b) Correção monetária: desde a data do efetivo prejuízo (súmula 43 do STJ), ou seja, dia
em que teria que ter sido realizado o pagamento e não foi.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.356.120-RS, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 14/8/2013.

No reexame necessário, o Tribunal não pode modificar a sentença para conceder benefício mais
vantajoso ao segurado (Súmula 45-STJ)

O Tribunal, ao julgar remessa necessária, não poderá conceder benefício previdenciário mais
vantajoso ao segurado do que aquele que foi conferido pela sentença. Ex: sentença julgou
procedente o auxílio-doença; Tribunal não pode conceder aposentadoria por invalidez.
Aplica-se, no caso, a súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a
condenação imposta à Fazenda Pública.
Comentários Situação 1
João ajuíza uma ação contra o INSS pedindo a concessão de seu auxílio-doença, alegando
que possui uma incapacidade total, mas temporária, para o exercício de suas funções.
Durante a instrução, a perícia conclui que o segurado possui uma incapacidade total e
permanente. Logo, João não faz jus ao auxílio-doença e sim à aposentadoria por invalidez
(esta última, benefício que ele não pediu, nem mesmo subsidiariamente). Vale ressaltar que
a aposentadoria é mais vantajosa ao segurado do que o auxílio-doença.

Diante disso, o juiz poderá conceder a aposentadoria por invalidez, mesmo que o autor, na
petição inicial, tenha requerido somente o auxílio-doença?
SIM. Segundo entende o STJ, o juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso
do requerido na inicial, desde que preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício
concedido. Isso porque, tratando-se de matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma
menos rígida, à análise do pedido. Assim, nesse contexto, a decisão proferida não pode ser
considerada como extra petita ou ultra petita (2ª Turma. AgRg no REsp 1.367.825-RS, Rel.
Min. Humberto Martins, julgado em 18/4/2013).

Situação 2
João ajuíza uma ação contra o INSS pedindo a concessão de seu auxílio-doença, alegando
que possui uma incapacidade total, mas temporária, para o exercício de suas funções.
Durante a instrução, a perícia conclui que o segurado possui uma incapacidade total e
permanente. Logo, João não faz jus ao auxílio-doença e sim à aposentadoria por invalidez
(esta última, benefício que ele não pediu, nem mesmo subsidiariamente).

Na sentença (que tramitou sob o procedimento ordinário – não era JEF), o juiz concede o
auxílio-doença (requerido pelo autor) e nada fala sobre a aposentadoria por invalidez.
Nem João nem o INSS recorrem contra a decisão.

Ocorre que a presente sentença estava sujeita a reexame necessário, nos termos do art.
23

475, I, do CPC:
Página

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença:

INFORMATIVO esquematizado
I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público;

Logo, o juiz, mesmo sem recurso das partes, remeteu o processo ao TRF para que a
sentença fosse examinada pelo Tribunal em remessa necessária.

O Tribunal, ao julgar o reexame necessário, verificando que o segurado tinha direito à


aposentadoria por invalidez (e não auxílio-doença), poderá conceder a aposentadoria?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, o Tribunal, em remessa necessária, inexistindo recurso do
segurado, não pode determinar a concessão de benefício previdenciário que entenda mais
vantajoso ao segurado.

O STJ reafirmou que o juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do
requerido na petição inicial, desde que preenchidos os requisitos legais atinentes ao
benefício concedido, sem que isso configure julgamento extra petita ou ultra petita. Esse
entendimento, ressalte-se, leva em consideração os fins sociais das normas previdenciárias,
bem como a hipossuficiência do segurado.

Contudo, a referida possibilidade não se estende à hipótese de julgamento da remessa


necessária (art. 475 do CPC), tendo em vista sua específica devolutividade, restrita à
confirmação da sentença e à consequente promoção da maior segurança possível para a
Fazenda Pública, evitando-se que esta seja indevidamente condenada.

Em outras palavras, a remessa necessária existe para garantir a maior segurança possível à
Fazenda Pública, livrando-a de condenação indevida. Portanto, o reexame obrigatório tem
por finalidade proteger a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público contra eventual desacerto da sentença avessa a
seus interesses. Logo, não é possível, no reexame necessário, piorar a situação da Fazenda
Pública.

Assim, a concessão de benefício mais vantajoso ao beneficiário no julgamento de remessa


necessária importaria verdadeira reformatio in pejus¸ situação que não é admitida pela
jurisprudência, conforme exposto na Súmula 45 do STJ:
Súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação
imposta à Fazenda Pública.

Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.379.494-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 13/8/2013.

Art. 515, § 3º do CPC: pode ser aplicado se a questão for de direito e de fato, mas não houver
necessidade de se produzirem provas
O § 3º do art. 515 do CPC prevê a chamada “teoria da causa madura”, nos seguintes termos:
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode
julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento.

A redação literal do § 3º exige que a causa verse sobre questão exclusivamente de direito. No
24

entanto, o STJ amplia esta possibilidade e afirma que o mencionado dispositivo deve ser
interpretado em conjunto com o art. 330, I, o qual permite ao magistrado julgar
Página

antecipadamente a lide se esta versar unicamente sobre questões de direito ou, “sendo de
direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência”.
INFORMATIVO esquematizado
Logo, no exame de apelação interposta contra sentença que tenha julgado o processo sem
resolução de mérito, o Tribunal pode julgar desde logo a lide, mediante a aplicação do
procedimento previsto no art. 515, § 3º, do CPC, na hipótese em que não houver necessidade de
produção de provas (causa madura), ainda que, para a análise do recurso, seja inevitável a
apreciação do acervo probatório contido nos autos.
Comentários O § 3º do art. 515 do CPC estabelece o seguinte:
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal
pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver
em condições de imediato julgamento.

Esse dispositivo permite que o TJ ou o TRF, ao julgar a apelação interposta contra sentença
terminativa, julgue ele próprio (o Tribunal) o mérito da ação caso entenda que o juiz não
deveria ter extinguido o processo sem resolução do mérito.

Ex: “A” ajuíza uma ação contra “B” e o magistrado profere sentença extinguindo o processo
sem resolução do mérito, por entender que o autor seria parte ilegítima (art. 267, VI, do
CPC). “A” interpõe apelação ao TJ. O Tribunal analisa o recurso e entende que “A” é sim
parte legítima, ou seja, não havia razão jurídica para o magistrado ter extinguido o processo
sem examinar o mérito. Ao invés de mandar o processo de volta à 1ª instância para analisar
o mérito, o próprio TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no entanto, o § 3º do
art. 515 afirma que a causa tem que versar exclusivamente sobre matéria de direito e deve
estar em condições de imediato julgamento.

O § 3º do art. 515 é denominado por alguns doutrinadores e julgados de “teoria da causa


madura”.

Requisitos para aplicação do § 3º do art. 515:

Em regra, para que seja aplicado o § 3º do art. 515, a


sentença examinada pelo Tribunal deve ter sido
terminativa, ou seja, fundada em um dos incisos do
a) O juiz deve ter extinguido o art. 267 do CPC.
processo sem julgamento do Vale ressaltar, no entanto, que se a apelação for
mérito, nos termos do art. interposta contra sentença que reconheceu a
267 do CPC (exceção no caso prescrição ou a decadência, caso o Tribunal discorde
de prescrição e decadência). do juiz, também será possível aplicar a teoria da
causa madura mesmo se tratando de matérias
elencadas no inciso IV do art. 269 do CPC (neste
sentido: REsp 274.736/DF).
O § 3º está ligado ao art. 515, que trata sobre a
apelação. Por conta disso, o entendimento majoritário
no STJ e STF é o de que a teoria da causa madura
somente se aplica quando o Tribunal estiver julgando
uma apelação.
b) A parte deve ter interposto
Assim, por exemplo, para a maioria dos julgados do STJ
recurso de apelação.
e STF, o § 3º do art. 515 NÃO pode ser adotado pelo
Tribunal no julgamento de recurso ordinário contra
25

sentença em mandado de segurança (posição a ser


adotada nos concursos).
Página

INFORMATIVO esquematizado
Vale mencionar que o tema é polêmico e que a doutrina
critica esta posição, afirmando que a regra deste § 3º
pode ser aplicada, por analogia, a outros recursos, como
é o caso do recurso ordinário (há decisões da 1ª Turma
do STJ neste sentido).
Cuidado: a redação literal do § 3º exige que a causa
verse sobre questão exclusivamente de direito. No
entanto, o STJ amplia essa possibilidade e afirma que o
mencionado dispositivo deve ser interpretado em
conjunto com o art. 330, I, o qual permite ao magistrado
julgar antecipadamente a lide se esta versar unicamente
sobre questões de direito ou, "sendo de direito e de fato,
não houver necessidade de produzir prova em
audiência". Veja:
c) A causa em análise deve
“A regra do art. 515, § 3º, do CPC deve ser interpretada
tratar sobre questão
em consonância com a preconizada pelo art. 330, I, do
exclusivamente de direito
CPC, razão pela qual, ainda que a questão seja de direito
(poderá também ser aplicada
e de fato, não havendo necessidade de produzir prova
se a questão for de direito e
(causa madura), poderá o Tribunal julgar desde logo a
de fato, mas não houver
lide, no exame da apelação interposta contra a sentença
necessidade de se
que julgara extinto o processo sem resolução de
produzirem provas).
mérito.” (EREsp 874.507/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, Corte Especial, julgado em 19/06/2013)

Para o STJ, configura questão de direito (e não de fato),


aquela em que o Tribunal analisa as provas
incontroversas existentes nos autos e de lá extrai o
direito aplicável, caso em que não há óbice para que
incida a regra do art. 515, § 3º, porquanto discute, em
última análise, a qualificação jurídica dos fatos ou suas
consequências legais (Min. Arnaldo Esteves Lima).
A causa deve estar madura, ou seja, pronta para
d) A causa deve estar em julgamento imediato, sem que o Tribunal precise tomar
condições de imediato qualquer outra providência. Se ainda for necessária
julgamento. qualquer outra providência por parte do Tribunal, não se
aplica o § 3º do art. 515 do CPC.

Para que se aplique o § 3º do art. 515, é necessário que a parte recorrente tenha requerido
expressamente essa providência quando interpôs o recurso ou o Tribunal poderá aplicar a
teoria da causa madura de ofício?
A regra prevista no § 3º do art. 515 do CPC pode ser aplicada de ofício pelo Tribunal, ou
seja, mesmo que o recorrente não tenha requerido essa providência em seu recurso.
Assim, conforme a jurisprudência do STJ, ainda que não exista pedido expresso da parte
recorrente, afastada a extinção do processo sem exame do mérito, pode o Tribunal, de
imediato, julgar o feito, aplicando-se a teoria da causa madura, nos termos do art. 515, § 3º,
do CPC (AgRg no AREsp 93.707/SP, Min. Sidnei Beneti, 3ª Turma, julgado em 05/02/2013).
Processo STJ. Corte Especial. EREsp 874.507-SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 19/6/2013.
26
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INFORMATIVO esquematizado
Não cabe a sucessão de partes em processo de MS

No mandado de segurança, se o impetrante morre, os seus herdeiros não podem se habilitar


para continuar o processo. Assim, falecendo o impetrante, o mandado de segurança será
extinto sem resolução do mérito, ainda que já esteja em fase de recurso. Isso ocorre em razão
do caráter mandamental e da natureza personalíssima do MS.
Comentários Em regra, quando o autor da ação morre no curso do processo, deverá ser analisado o seguinte:
a) Se o direito pleiteado na ação for transmissível: deverá ser determinada a suspensão do
processo (art. 265, I, do CPC) para que se realize a substituição do autor falecido por seu
espólio ou pelos seus sucessores mediante o procedimento de habilitação (art. 1.055);
b) Se o direito pleiteado na ação for personalíssimo (intransmissível): haverá a extinção do
processo sem resolução do mérito (art. 267, IX).

No caso do mandado de segurança, a jurisprudência pacífica do STF e do STJ entende que o


falecimento do impetrante causa a extinção do MS sem resolução do mérito por ser
intransmissível, salvo se sua morte ocorrer após o trânsito em julgado, quando já iniciada a
execução de algum valor reconhecido na sentença.

Assim, segundo a jurisprudência consolidada, não cabe a habilitação de herdeiros em


mandado de segurança, quando houver falecimento do impetrante. Falecendo o
impetrante, deve o mandado de segurança ser extinto, sem resolução de mérito (art. 267,
IX, do CPC).

Mesmo que o mandado de segurança já tenha sido julgado em outras instâncias e que
esteja apenas aguardando o julgamento de recurso extraordinário, caso o impetrante
morra, o recurso extraordinário não terá seu mérito apreciado e será extinto sem resolução
do mérito.

Vale ressaltar que os herdeiros poderão pleitear o direito que eventualmente possuam por
meio das vias ordinárias, ou seja, mediante o ajuizamento de uma ação ordinária. O que
não podem é continuar o mandado de segurança impetrado pelo falecido.

Essa é também a posição do STJ:


1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, na esteira de precedentes do excelso
Supremo Tribunal Federal, firmou já entendimento no sentido de que, em razão do caráter
mandamental e da natureza personalíssima da ação mandamental, é incabível a sucessão
de partes em processo de mandado de segurança.
2. Recurso especial conhecido e provido, ressalvando-se o direito dos herdeiros do
impetrante de recorrerem às vias ordinárias.
(REsp 112.207/PR, 6.ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 05/11/2001.)

Processo STJ. 3ª Seção. EDcl no MS 11.581-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/6/2013.

MP tem legitimidade para ajuizar ACP a fim de garantir acesso a critérios de correção de provas
de concurso público
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de
27

garantir o acesso a critérios de correção de provas de concurso público.


Comentários O concurso público é o principal instrumento de garantia do sistema de meritocracia na
Página

organização estatal, um dos pilares dorsais do Estado Social de Direito brasileiro,


condensado e concretizado na CF. Suas duas qualidades essenciais – ser concurso, o que
INFORMATIVO esquematizado
implica genuína competição, sem cartas marcadas, e ser público, no duplo sentido de
certame transparente e de controle amplo de sua integridade – fazem com que deva ser
reconhecida a legitimidade ad causam do Ministério Público para atuar.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.362.269-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/5/2013.

DIREITO PENAL
Apropriação indébita previdenciária dispensa dolo específico (animus rem sibi habendi)
Para a caracterização do crime de apropriação indébita de contribuição previdenciária (art.
168-A do CP), não há necessidade de comprovação de dolo específico.
Trata-se de crime omissivo próprio, que se perfaz com a mera omissão de recolhimento de
contribuição previdenciária no prazo e na forma legais.
Desnecessária, portanto, a demonstração do animus rem sibi habendi, bem como a
comprovação do especial fim de fraudar a Previdência Social.
Comentários
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (art. 168-A do Código Penal)

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos


contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Elemento subjetivo: é o dolo. Não existe forma culposa.

Na apropriação indébita comum (art. 168 do CP), além do dolo, exige-se um elemento
subjetivo especial (“dolo específico”), que consiste na intenção do agente de não mais
devolver a coisa ao seu proprietário.
Assim, na apropriação indébita comum, exige-se “dolo + elemento subjetivo especial”
(intenção de não mais devolver).
No direito, quando alguém age com a intenção de ter a coisa para si, dizemos que essa
pessoa possui animus rem sibi habendi.
Logo, na apropriação indébita comum só existe crime se ficar provado o dolo + animus rem
sibi habendi.

Para que se configure a apropriação indébita previdenciária, exige-se que fique provado que
o sujeito queria ficar com o dinheiro das contribuições previdenciárias para si? Dito de outro
modo, exige-se animus rem sibi habendi? Uma terceira forma de perguntar a mesma coisa,
exige-se “dolo específico” (elemento subjetivo especial)?
NÃO. É pacífico no STF e STJ que, para a caracterização do crime de apropriação indébita de
contribuição previdenciária (art. 168-A do CP), não há necessidade de comprovação do
“dolo específico” de se apropriar de valores destinados à previdência social. Não se exige
animus rem sibi habendi (STJ. 6ª Turma. AgRg no Ag 1.083.417-SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 25/6/2013).
O art. 168-A do CP é um tipo penal congruente, ou seja, que não possui “dolo específico”.

Apropriação indébita COMUM Apropriação indébita PREVIDENCIÁRIA


Dolo + elemento subjetivo especial Basta o dolo “genérico”.
(exige-se animus rem sibi habendi) (não se exige animus rem sibi habendi)
28

Para maiores informações sobre esse crime, veja a apostila publicada no site
(http://www.dizerodireito.com.br/2013/10/apropriacao-indebita-previdenciaria.html).
Página

Processo STJ. 3ª Seção. EREsp 1.296.631-RN, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/9/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Factoring que empresta dinheiro utilizando recursos de terceiros pratica o crime do art. 16 da Lei
n. 7.492/86, de competência da Justiça Federal
Compete à Justiça Federal processar e julgar a conduta daquele que, por meio de pessoa
jurídica instituída para a prestação de serviço de factoring, realiza, sem autorização legal, a
captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de terceiros, sob a promessa de
que estes receberiam, em contrapartida, rendimentos superiores aos aplicados no mercado.
Isso porque a referida conduta se subsume, em princípio, ao tipo do art. 16 da Lei 7.492/1986
(Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional), consistente em fazer “operar, sem a
devida autorização, ou com autorização obtida mediante declaração falsa, instituição
financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio”.
Ademais, nessa hipótese, apesar de o delito haver sido praticado por meio de pessoa jurídica
criada para a realização de atividade de factoring, deve-se considerar ter esta operado como
verdadeira instituição financeira, justificando-se, assim, a fixação da competência na Justiça
Federal.
Comentários CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Sistema Financeiro Nacional


Sistema Financeiro Nacional é o conjunto de órgãos, entidades e empresas que atuam na
regulamentação, controle e fiscalização das atividades relacionadas com a circulação de
moeda e de crédito em nosso país. Divide-se em dois subsistemas:
a) Normativo: formado pelos órgãos e entidades responsáveis pela regulamentação e
fiscalização da circulação de moeda e de crédito. Exs: CMN, BACEN, CVM etc.
b) Operativo: constituído pelas pessoas jurídicas que operacionalizam (executam) a
circulação de moeda e de crédito. É o caso dos bancos, bolsas de valores, seguradoras,
sociedades de capitalização, entidades de previdência complementar etc.

Relevância e previsão constitucional


Ter um Sistema Financeiro sólido, confiável e eficiente é muito importante para o progresso
de um país porque assim estará disponível maior volume de crédito circulando no mercado,
com um custo menor.
Havendo facilidade de acesso às linhas de crédito, os empresários poderão investir em
novos empreendimentos, gerando empregos e riquezas. De igual modo, o mercado
consumidor terá facilidades para aquisição dos bens e serviços, satisfazendo suas
necessidades pessoais e mantendo aquecida a economia.
Ciente dessa relevância, a CF/88 previu, em seu art. 192, que o Sistema Financeiro Nacional
deverá ser “estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a
servir aos interesses da coletividade”.

Lei n. 7.492/86
Diante da relevância já exposta, o legislador entendeu ser necessária a edição de uma lei
específica para punir condutas que atentem contra o bom funcionamento do Sistema
Financeiro Nacional.
Atualmente, os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional são previstos na Lei n.
7.492/86. Vale ressaltar que essa Lei continua em vigor, tendo sido recepcionada pela CF/88
(RHC 84182, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 24/08/2004).

Instituição financeira
29

A Lei n. 7.492/86, antes de tratar sobre os crimes, logo em seu art. 1º, define em que
consiste uma instituição financeira para os efeitos penais.
Página

A Lei conceitua, no caput do art. 1º, o que é instituição financeira e também apresenta
entidades que devem ser a ela equiparadas (parágrafo único).

INFORMATIVO esquematizado
Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito
público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou
não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em
moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação,
intermediação ou administração de valores mobiliários.
Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:
I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou
qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que
de forma eventual.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EM SENTIDO PRÓPRIO (ART. 1º, CAPUT)


Instituição financeira é a pessoa jurídica que realize
I – a captação, intermediação ou aplicação II – a custódia, emissão, distribuição,
de recursos financeiros de terceiros. negociação, intermediação ou
administração de valores mobiliários.
Comentários: Comentários:
Essa é a atividade típica dos bancos Valores mobiliários são títulos emitidos por
comerciais. sociedades empresariais e negociadas no
Atenção: os recursos financeiros devem ser mercado de capitais (bolsa de valores ou
de terceiros. Para fins penais, se uma mercado de balcão). Para a sociedade que
determinada pessoa jurídica realiza emite (vende), é uma forma de obter novos
aplicação de recursos financeiros próprios, recursos. Para a pessoa que adquire, trata-
ela não realiza ato típico de instituição se de um investimento. O exemplo mais
financeira. conhecido de valor mobiliário são as ações.
Podemos citar também as debêntures e os
bônus de subscrição.
Exemplos: bancos, cooperativas de crédito, Exemplos: bolsas de valores, sociedades
sociedades de crédito. corretoras de títulos e valores mobiliários.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA POR EQUIPARAÇÃO (ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO)


Equipara-se à instituição financeira
I - a pessoa jurídica que capte ou II - a pessoa natural que exerça quaisquer
administre seguros, câmbio, consórcio, das atividades próprias de instituição
capitalização ou qualquer tipo de financeira, ainda que de forma eventual.
poupança, ou recursos de terceiros; e
Comentários: Comentários:
Importante gravar as atividades Repare que, para fins de crimes contra o
equiparadas, quais sejam, seguro, câmbio, SFN, a pessoa natural pode ser equiparada
consórcio e capitalização. a uma instituição financeira.
Exemplos: agência de turismo que faz Exemplo: pessoa física que exercia
operações de câmbio, fundos de pensão, atividade de consórcio sem autorização do
empresas de consórcio. BACEN.
30

Factoring
As empresas de factoring são consideradas instituições financeiras?
Página

NÃO. A factoring não faz a captação de dinheiro de terceiros, como acontece com os
bancos. A empresa de factoring utiliza recursos próprios em suas atividades.

INFORMATIVO esquematizado
Logo, a factoring não integra o Sistema Financeiro Nacional nem necessita de autorização
do Banco Central para funcionar. Nesse sentido: CC 98.062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
Terceira Seção, julgado em 25/08/2010.

Resumo:
I – a captação, intermediação ou aplicação de
Instituição financeira em recursos financeiros de terceiros;
SENTIDO PRÓPRIO
é a pessoa jurídica (de direito privado
ou público) que realiza, como atividade II – a custódia, emissão, distribuição,
principal ou acessória negociação, intermediação ou administração
de valores mobiliários.

I - a pessoa jurídica que capte ou administre


seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou
qualquer tipo de poupança, ou recursos de
Instituição financeira
terceiros; e
POR EQUIPARAÇÃO é
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das
atividades próprias de instituição financeira,
ainda que de forma eventual.

FAZER OPERAÇÃO INSTITUIÇÃO FINANCEIRA SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL (ART. 16)

Vamos estudar agora o art. 16 da Lei n. 7.492/86, que traz o delito de fazer operar
instituição financeira sem a devida autorização ou obtida com declaração falsa.

Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante
declaração (Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores
mobiliários ou de câmbio:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Em que consiste o delito


O indivíduo comete esse crime quando faz funcionar uma instituição financeira:
sem possuir autorização legal; ou
com uma autorização que ele obteve utilizando-se de documento falso.

Para que uma instituição financeira seja criada e funcione é necessária autorização?
SIM. Uma instituição financeira é uma atividade econômica que, se conduzida de forma
inadequada, pode gerar gravíssimos prejuízos a terceiros e à economia do país. Como
exemplo, basta recordar os inúmeros problemas que ocorreram em razão da liquidação dos
Bancos Econômico, Nacional e Bamerindus, na década de 90. Além disso, se não houver
uma intensa fiscalização, a atividade bancária pode servir como instrumento para a prática
de delitos, como a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
Por essas razões, a Lei n. 4.595/64 afirma que as instituições financeiras somente poderão
funcionar no País com a prévia autorização do Banco Central. Se forem estrangeiras, será
necessário ainda um decreto do Poder Executivo (art. 18).
31

Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).
Página

Sujeito passivo: Estado (em sentido amplo).

INFORMATIVO esquematizado
Distribuição de valores mobiliários ou de câmbio:
O art. 16 afirma que também está incluída no conceito de instituição financeira a atividade
de “distribuição de valores mobiliários ou de câmbio”. Essa menção era desnecessária, uma
vez que o inciso I do parágrafo único do art. 1º da Lei já havia feito essa equiparação.

Consórcios: como vimos nos comentários ao parágrafo único do art. 1º da Lei, quem
desempenha a atividade de “consórcio” é equiparado à instituição financeira. Justamente
por isso, o STF entende que a pessoa que faz funcionar consórcio sem autorização legal
pratica o delito do art. 16:
De acordo com os artigos 1º, parágrafo único e inciso I, e 16 da Lei nº 7.492, de 16 de junho
de 1986, consubstanciam crimes contra o Sistema Financeiro Nacional a formação e o
funcionamento de consórcio à margem de balizamento legal, de instrução do Banco Central
do Brasil. (...)
(RHC 84182, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 24/08/2004)

Elemento subjetivo: é o dolo, não se exigindo nenhum elemento subjetivo específico.

Consumação: ocorre com a prática de ao menos uma operação própria de instituição


financeira.
Para que se consuma, não é necessária a ocorrência de prejuízo para terceiros.
Trata-se de crime formal e de mera conduta.

Tentativa: é possível.

Habitualidade: prevalece que não se trata de crime habitual.

Instalações físicas de banco:


O crime pode se consumar mesmo que a instituição financeira não tenha instalações físicas
condizentes com a de um banco, com caixas, funcionários etc. O que interessa é verificar se
foram realizadas atividades próprias de uma instituição financeira. Nesse sentido: MAIA,
Rodolfo Tigre. Dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Anotações à Lei Federal n.
7.492/86. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 444.

Instituições financeiras por equiparação:


Em provas de concurso, tenha muito cuidado com os exemplos que narram situações
envolvendo atividades próprias de instituições financeiras por equiparação (art. 1º,
parágrafo único). Assim, configura o crime do art. 16 quando a pessoa pratica atividades de
seguro, de câmbio, de consórcio ou de capitalização, sem autorização legal.

Factoring
Se o dono/administrador da factoring utiliza a empresa para emprestar dinheiro, pratica
esse crime?
Como vimos acima, a factoring não é uma instituição financeira, considerando que não
pode fazer a captação de dinheiro de terceiros, como acontece com os bancos. Além disso,
a factoring não pode emprestar dinheiro. O que a factoring pode fazer é “comprar” títulos
de crédito que ainda irão vencer, fazendo com que a empresa aumente seu capital de giro.
Desse modo, repito: a factoring não pode fazer empréstimos.
32

E se o dono da factoring realizar empréstimos, ele cometerá qual delito?


Em regra, pratica o crime do art. 4º da Lei n. 1.521/51. Isso porque, como regra, quando a
Página

factoring realiza, de forma ilegal, empréstimos, ela o faz utilizando recursos próprios. O art.

INFORMATIVO esquematizado
1º da Lei n. 7.492/86 afirma que somente pode ser considerada instituição financeira
quem capta, intermedia ou aplica recursos financeiros de terceiros. Logo, a factoring,
quando empresta recursos próprios para terceiros não atua como instituição financeira
segundo a definição do art. 1º.
(...) As empresas popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de
fomento mercantil, de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos
vencíveis, mediante preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser
caracterizadas como instituições financeiras.
3. In casu, comprovando-se a abusividade dos juros cobrados nas operações de
empréstimo, configura-se o crime de usura, previsto no art. 4°, da Lei n° 1.521/51, cuja
competência para julgamento é da Justiça Estadual. (...)
(CC 98062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 25/08/2010)

Excepcionalmente, pode-se imaginar uma situação em que a factoring, de forma ilegal,


capta dinheiro de terceiros e empresta esses recursos, com cobrança de juros, a outras
pessoas. Ex: João cede 100 mil reais para a factoring e esta empresta esse dinheiro para
Antônio, que irá pagar 10% de juros ao mês. A factoring remunera João com 3% e lucra 7%.
Nesse caso, como a factoring captou e aplicou recursos de terceiros, operou como
verdadeira instituição financeira, o que configura, em tese, o crime do art. 16 da Lei n.
7.492/86, de competência da Justiça Federal (CC 115.338/PR, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, Terceira Seção, julgado em 26/06/2013).

Agiota
O chamado “agiota” pratica o delito do art. 16?
Em regra não. O agiota é aquela pessoa que empresta dinheiro seu a outras pessoas,
cobrando juros e multa superiores aos que são legalmente permitidos. Segundo o
entendimento majoritário, o agiota não pode ser equiparado a instituição financeira em
razão de emprestar recursos financeiros próprios (e não de terceiros).
Logo, o agiota responde pelo delito do art. 4º da Lei n. 1.521/51 (Lei de Economia Popular),
delito de competência da Justiça Estadual, e não pelo art. 16 da Lei n. 7.492/86.
(...) Na hipótese em que se cuida de empréstimos a juros, com valores próprios e não
captados de terceiros, há, em tese, delito de usura e, não, contra o Sistema Financeiro.
(CC 99305/PR, Min. Maria Thereza De Assis Moura, Terceira Seção, julgado em 11/02/2009)

No entanto, se ficar comprovado que o agiota faz a captação de recursos de terceiros e,


com essas verbas, empresta para outros, poderá ser equiparado à instituição financeira e,
portanto, praticar o art. 16. Essa, contudo, não é a situação mais comum na prática.

Delito do art. 4º da Lei n. 1.521/51:


Como vimos pelos julgados acima, o ponto de toque para diferenciar os delitos é saber se os
recursos emprestados são próprios ou de terceiros:
Art. 4º da Lei n. 1.521/51 Art. 16 da Lei n. 7.492/86
Recursos próprios Recursos de terceiros

Delito do art. 27-E da Lei n. 6.385/76:


33

O art. 27-E da Lei n. 6.385/76 prevê o seguinte crime:


Página

Art. 27-E. Atuar, ainda que a título gratuito, no mercado de valores mobiliários, como
instituição integrante do sistema de distribuição, administrador de carteira coletiva ou

INFORMATIVO esquematizado
individual, agente autônomo de investimento, auditor independente, analista de valores
mobiliários, agente fiduciário ou exercer qualquer cargo, profissão, atividade ou função,
sem estar, para esse fim, autorizado ou registrado junto à autoridade administrativa
competente, quando exigido por lei ou regulamento:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei 10.303/2001)

Diante disso, indaga-se: o crime do art. 16 da Lei n. 7.492/86 foi revogado pelo delito do
art. 27-E da Lei n.º 6.404/76 (Incluído pela Lei 10.303/2001)?
Não. Segundo decidiu o STF, não houve revogação, uma vez que a objetividade jurídica dos
tipos penais é distinta e há elementos da estrutura dos dois tipos que também não se
confundem. O bem jurídico tutelado pela Lei n. 7.492/86 é a higidez do Sistema Financeiro
Nacional, considerando-se instituição financeira aquela que tenha por atividade principal a
captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros. A seu turno, a
Lei 10.303/2001 protege a integridade do mercado de valores mobiliários (HC 94955/SP, rel.
Min. Ellen Gracie, 21.10.2008).
Desse modo, o crime do art. 27-E da Lei n.º 6.404/76 é específico em relação ao do art. 16.

COMPETÊNCIA
De quem é a competência para julgar os crimes contra o sistema financeiro nacional?
Compete à Justiça Federal julgar os crimes contra o sistema financeiro nacional, previstos
na Lei n. 7.492/86.

A CF/88 prevê, em seu art. 109, VI:


Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

O inciso VI afirma que os crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem econômico-
financeira somente serão de competência da Justiça Federal nos casos determinados por
lei. Em outras palavras, nem todos os crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem
econômico-financeira serão de competência da Justiça Federal, mas apenas nas hipóteses
em que lei assim determinar.

Os crimes contra o sistema financeiro estão previstos na Lei n. 7.492/86 e são julgados pela
Justiça Federal por expressa previsão legal. Isso porque o art. 26 da lei n. 7.492/86
estabelece:
Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público
Federal, perante a Justiça Federal.

O crime de concessão de empréstimos vedados, previsto no art. 34 da Lei n. 4.595/64, de


certa forma também atenta contra o Sistema Financeiro Nacional, no entanto, no caso
desse delito, a competência será, em regra, da Justiça Estadual, considerando que não
existe lei atribuindo sua apuração à Justiça Federal.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 115.338-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013.
34
Página

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Vara da infância e juventude pode julgar estupro de vulnerável se previsto na lei estadual?

Lei estadual poderá determinar que o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) seja
julgado pela vara da infância e juventude (art. 145 do ECA), mesmo não tendo o art. 148 do ECA
previsto competência criminal para essa vara especializada?
1ª corrente: SIM. Decisões da 1ª Turma do STF e 5ª Turma do STJ.
2ª corrente: NÃO. Decisão da 6ª Turma do STJ.

Comentários Lei estadual de organização judiciária


A organização judiciária de cada Estado é matéria de competência do Poder Legislativo
estadual, mediante lei de iniciativa do Poder Judiciário local (art. 125, § 1º, da CF/88):

§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de


organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Em outras palavras, o Tribunal de Justiça de cada Estado envia à Assembleia Legislativa um


projeto de lei disciplinando a estrutura e as competências do Tribunal, das comarcas e de
cada vara, entre outros assuntos. Essa lei, quando aprovada, é chamada de Lei (ou Código)
de organização judiciária. É como se fosse uma Lei orgânica do Poder Judiciário estadual.

A Lei de organização judiciária possui uma relativa liberdade para disciplinar a competência
de cada juízo e vara. Assim, por exemplo, o Código de organização judiciária poderá prever
varas especializadas em crimes contra a ordem tributária, em crimes organizados, em
crimes de trânsito etc.

Varas especializadas e exclusivas da infância e juventude


O ECA previu, em seu art. 145, a possibilidade de os Estados criarem varas especializadas e
exclusivas para tratar dos assuntos ali disciplinados. Essas varas ficaram conhecidas como
“juizados da infância e juventude”. Veja a redação legal:
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da
infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por
número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive
em plantões.

E qual é a competência das varas especializadas da infância e juventude?


O próprio ECA já afirma quais seriam as competências da vara especializada. Confira:
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato
infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à
criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,
35

aplicando as medidas cabíveis;


VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à
Página

criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
INFORMATIVO esquematizado
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é
também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou
guarda;
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao
exercício do poder familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de
outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e
óbito.

Os arts. 145 e 148 do ECA são inconstitucionais por violarem a competência dos Estados
para legislarem sobre a organização judiciária (art. 125, § 1º, da CF/88)?
NÃO. Isso porque o art. 145 do ECA não impôs uma obrigação aos Estados de que criassem
juizados da infância e juventude, estabelecendo apenas uma faculdade.
Assim, o art. 145 não cria varas judiciais, não define limites de comarcas nem estabelece um
número de magistrados a serem alocados nos Juizados da Infância e Juventude. Estes temas
seriam concernentes às peculiaridades e circunstâncias locais.
O mencionado artigo apenas faculta a criação dessas varas especializadas e o art. 148 do
ECA prevê as competências que tais juizados terão caso sejam criados.
Não há qualquer problema no fato de a lei federal sugerir aos Tribunais estaduais a criação
de órgãos jurisdicionais especializados. Vale ressaltar que, recentemente, o STF afirmou que
isso é constitucional, ao julgar válida a previsão do art. 33 da Lei Maria da Penha, que
autoriza os Estados a criarem Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
(Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).

Competência da vara da infância e juventude para julgar estupro de vulnerável


No Rio Grande do Sul, a lei estadual previu que a vara da infância e juventude, além das
matérias previstas no art. 148 do ECA, teria competência também para julgar os réus
(adultos) que cometem o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, do CP).
Assim, a lei gaúcha ampliou as hipóteses de competência da vara da infância e juventude,
conferindo a possibilidade de ela julgar processos criminais, o que não é previsto no art. 148
do ECA.

Essa previsão da lei estadual é válida?


Existe polêmica sobre o assunto, havendo decisões nos dois sentidos:
SIM NÃO
1ª Turma do STF: HC 113102, Rel. Min. 6ª Turma do STJ:
Marco Aurélio, julgado em 18/12/2012. “(...) o ECA permitiu que os Estados e o
Distrito Federal possam criar, na estrutura
5ª Turma do STJ: HC 219.218/RS, Rel. Min. do Poder Judiciário, varas especializadas e
Laurita Vaz, julgado em 17/09/2013. exclusivas para processar e julgar
36

demandas envolvendo crianças e


Argumento principal: os Estados-membros adolescentes (art. 145). Todavia, o referido
Página

são autorizados pelo art. 125, § 1º da diploma restringiu, no seu art. 148, quais

INFORMATIVO esquematizado
CF/88 a distribuir as competências entre as matérias podem ser abrangidas por essas
diversas varas. varas. Neste dispositivo, não há previsão
de competência para julgamento de feitos
criminais na hipótese de vítimas crianças
ou adolescentes. Dessa forma, não é
possível a ampliação do rol de competência
do juizado da infância e da juventude por
meio de lei estadual, de modo a modificar
o juízo natural da causa.” RHC 37.603-RS,
Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe
16/10/2013.

O tema ainda não é pacífico e será necessário aguardar mais um pouco para se ter plena
certeza da posição do STJ.
Processo STJ.
5ª Turma. HC 219.218/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 17/09/2013.
6ª Turma. RHC 37.603-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe 16/10/2013.

(Ir)retroatividade da indenização mínima prevista no inciso IV do art. 387 do CPP

A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei n. 11.719/2008. Se o crime
ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser aplicado o dispositivo e fixado o valor
mínimo de reparação dos danos?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO
Trata-se de norma de direito processual. Assim, Trata-se de norma híbrida (de direito material e
ainda que o processo tenha se iniciado antes da processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não
Lei n. 11.719/2008, se ele for sentenciado após pode ser aplicada a fatos praticados antes de
a sua vigência, deverá observar a fixação do sua vigência.
valor mínimo de que trata o art. 387, IV, do CPP.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/6/2012. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.

Comentários A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos.

Um dos efeitos é que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado:
Código Penal
Art. 91. São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

A sentença condenatória, inclusive, constitui-se em título executivo judicial:


Código de Processo Civil
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

Assim, a vítima (ou seus sucessores), de posse da sentença que condenou o réu, após o seu
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trânsito em julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para
cobrar o ressarcimento pelos prejuízos sofridos em decorrência do crime.
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INFORMATIVO esquematizado
Qual era, no entanto, a dificuldade antes da Lei n. 11.719/2008?
Apesar de ser reconhecida a obrigação de indenizar (an debeatur), não era possível que a
vítima (ou seus sucessores) executassem imediatamente a sentença porque não havia sido
definido ainda o valor da indenização (quantum debeatur). Em outras palavras, a sentença
condenatória reconhecia que a vítima tinha direito à indenização a ser paga pelo
condenado, mas não dizia o quanto.

Com isso, a vítima (ou seus sucessores) tinha ainda que tomar uma outra providência antes
de executar: fazer a liquidação (art. 475-A do CPC).

O legislador tentou facilitar a situação da vítima e, por meio da Lei n. 11.719/2008, alterou
o CPP, prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo
que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Veja:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Desse modo, se o juiz, na própria sentença, já fixar um valor certo para a reparação dos
danos, não será necessário que a vítima ainda faça a liquidação, bastando que execute este
valor caso não seja pago voluntariamente pelo condenado.

Veja o parágrafo único do art. 63 do CPP, que explicita essa possibilidade:


Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução,
no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou
seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

Algumas observações sobre o art. 387, IV do CPP:

1) Qual é a natureza jurídica dessa fixação do valor mínimo de reparação?


Trata-se de um efeito extrapenal genérico da condenação.

2) A vítima poderá pleitear indenização maior no juízo cível


O juiz fixará um valor mínimo. Assim, a vítima poderá executar desde logo este valor
mínimo e pleitear um valor maior que o fixado na sentença, bastando, para isso, que prove
que os danos que sofreu foram maiores que a quantia estabelecida na sentença. Essa prova
é feita em procedimento de liquidação por artigos (procedimento cível regulado pelos arts.
475-E e 475-F do CPC).

3) Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP
ou do ofendido
(...) Este Tribunal sufragou o entendimento de que deve haver pedido expresso e formal,
feito pelo parquet ou pelo ofendido, para que seja fixado na sentença o valor mínimo de
reparação dos danos causados à vítima, a fim de que seja oportunizado ao réu o
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contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa. (...)


(AgRg no AREsp 389.234/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado
Página

em 08/10/2013)

INFORMATIVO esquematizado
4) Deverá haver provas dos prejuízos sofridos
O STJ já decidiu que o juiz somente poderá fixar este valor se existirem provas nos autos
que demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime. Dessa feita, é
importante que o Ministério Público ou eventual assistente de acusação junte
comprovantes dos danos causados pela infração para que o magistrado disponha de
elementos para a fixação de que trata o art. 387, IV, do CPP. Vale ressaltar, ainda, que o réu
tem direito de se manifestar sobre esses documentos juntados e contraditar o valor
pleiteado como indenização. Nesse sentido:
A fixação da reparação civil mínima também não dispensa a participação do réu, sob pena
de frontal violação ao seu direito de contraditório e ampla defesa, na medida em que o
autor da infração faz jus à manifestação sobre a pretensão indenizatória, que, se
procedente, pesará em seu desfavor. (...)
(REsp 1236070/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 27/03/2012)

5) O julgador penal é obrigado a sempre fixar esse valor mínimo?


NÃO. O juiz pode deixar de fixar o valor mínimo em algumas situações, como, por exemplo:
a) quando não houver prova do prejuízo;
b) se os fatos forem complexos e a apuração da indenização demandar dilação probatória, o
juízo criminal poderá deixar de fixar o valor mínimo, que deverá ser apurado em ação civil;
c) quando a vítima já tiver sido indenizada no juízo cível.

O exemplo citado nesta letra “b” foi justamente o que ocorreu no julgamento do
“Mensalão”. O STF rejeitou o pedido formulado pelo MPF, em sede de alegações finais, no
sentido de que fosse fixado valor mínimo para reparação dos danos causados pelas
infrações penais, sob o argumento de que a complexidade dos fatos e a imbricação de
condutas tornaria inviável assentar o montante mínimo. Assim, não haveria como
identificar com precisão qual a quantia devida por cada réu, o que só seria possível por
meio de ação civil, com dilação probatória para esclarecimento desse ponto (Plenário. AP
470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 17.12.2012).

6) Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a vítima por
danos morais?
1ª corrente: SIM. Posição de Norberto Avena.
2ª corrente: NÃO. Defendida por Eugênio Pacelli.

7) O art. 387, IV, do CPP, com a redação dada pela Lei n. 11.719/2008, fez com que o Brasil
passasse a adotar a chamada “cumulação de instâncias” em matéria de indenização pela
prática de crimes?
NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria de indenização pela
prática de crimes ocorre quando um mesmo juízo resolve a lide penal (julga o crime) e
também já decide, de forma exauriente, a indenização devida à vítima do delito. Conforme
explica Pacelli e Fischer, “por esse sistema, o ajuizamento da demanda penal determina a
unidade de juízo para a apreciação da matéria cível” (Comentários ao Código de Processo
Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 769). No Brasil, não há unidade de
instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for possível, definir um valor mínimo
de indenização pelos danos sofridos sem, contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda
poderá ser examinado pelo juízo cível para aumentar esse valor.
Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada de instâncias.
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INFORMATIVO esquematizado
8) A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei n.
11.719/2008. Se o crime ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser
aplicado o dispositivo e fixado o valor mínimo de reparação dos danos?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO
Trata-se de norma de direito processual. Trata-se de norma híbrida (de direito
Assim, ainda que o processo tenha se material e processual) e, por ser mais
iniciado antes da Lei n. 11.719/2008, se gravosa ao réu, não pode ser aplicada a
ele for sentenciado após a sua vigência, fatos praticados antes de sua vigência.
deverá observar a fixação do valor mínimo
de que trata o art. 387, IV, do CPP.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
12/6/2012.

9) O condenado poderá impugnar o valor fixado na forma do art. 387, IV, do CPP por meio
de um habeas corpus?
NÃO. A via processual do habeas corpus não é adequada para impugnar a reparação civil
fixada na sentença penal condenatória, com base no art. 387, IV, do CPP, tendo em vista
que a sua imposição não acarreta ameaça, sequer indireta ou reflexa, à liberdade de
locomoção (HC 191.724/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 15/10/2013).

10) Se a punibilidade do condenado for extinta pela prescrição da pretensão punitiva,


haverá extinção também do valor de reparação imposto na sentença?
SIM. Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária
fixada como reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV, do CPP,
pois dela decorrente, ficando ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda
que haja prejuízos a serem reparados (EDcl no AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 12/03/2013).
Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Não é possível compensar precatório estadual com dívidas oriundas de tributos federais

Não é possível a compensação de precatórios estaduais com dívidas oriundas de tributos


federais. Isso porque, nessa hipótese, não há identidade entre devedor e credor.
Comentários Compensação
Compensação é a extinção de duas ou mais obrigações, cujos credores são ao mesmo
tempo devedores um do outro.
Assim, se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem (art. 368 do CC).
Ex: João deve 10 mil reais a Pedro por conta de uma obrigação (contrato de compra e
venda); por força de outra obrigação (contrato de prestação de serviços), Pedro deve 10 mil
reais a João.
No exemplo acima, a compensação foi total (as dívidas eram iguais). Mas é possível (e bem
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mais comum) que a compensação seja parcial (quando os valores são diferentes). Seria a
hipótese caso Pedro devesse apenas 6 mil reais a João. Logo, somente restaria um crédito
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de 4 mil reais.

INFORMATIVO esquematizado
É possível que ocorra a compensação no direito tributário?
SIM. Ocorre quando o contribuinte possui um crédito para receber do Fisco, podendo ser
feito o encontro de contas do valor que o sujeito passivo tem que pagar com a quantia que
tem a receber da Administração.
Trata-se de causa de extinção da obrigação tributária (art. 156, II, do CTN).
Vale ressaltar, no entanto, que, para que haja a compensação de créditos tributários, é
indispensável que o ente tributante (União, Estados/DF, Municípios) edite uma lei
estabelecendo as condições e garantias em que isso ocorre ou, então, delegando essa
estipulação para uma autoridade administrativa. É o que está previsto no CTN:
Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em
cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos
tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra
a Fazenda pública.
Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará, para os
efeitos deste artigo, a apuração do seu montante, não podendo, porém, cominar redução
maior que a correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo tempo a decorrer
entre a data da compensação e a do vencimento.

É possível que uma pessoa que tenha 500 mil reais de precatórios para receber de um
estado-membro utilize esse crédito para compensar 500 mil reais que ele esteja devendo de
tributos federais?
NÃO. Não é possível a compensação de precatórios estaduais com dívidas oriundas de
tributos federais. A razão é muito simples: nessa hipótese, não há identidade entre devedor
e credor. A pessoa é credora do estado-membro e devedora da União. Logo, a União nada
tem a ver com esse crédito que a pessoa tem para receber.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 334.227-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 6/8/2013.

Verba paga ao empregado demitido sem justa causa no período de estabilidade é isenta de IR

Não incide imposto de renda sobre o valor da indenização paga ao empregado demitido sem
justa causa no período de estabilidade provisória.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João é presidente do sindicato e empregado de determinada fábrica.
O empregado que for dirigente sindical goza de estabilidade provisória, não podendo ser
dispensado a partir do momento do registro de sua candidatura até 1 (um) ano após o final
do seu mandato, salvo se cometer falta grave (§ 3º do art. 543 da CLT).
Caso o empregado, mesmo assim, seja demitido sem justa causa e não seja mais viável a
reintegração, ele poderá ser indenizado (Súmula 396 do TST).

João terá que pagar imposto de renda sobre o valor recebido como indenização?
NÃO. Segundo entende o STJ, a verba paga a título de indenização por rompimento do
contrato de trabalho no período de estabilidade provisória (decorrente de imposição legal e
não de liberalidade do empregador) não pode sofrer a incidência do imposto de renda.

“A verba paga ao empregado demitido sem justa causa no período de estabilidade


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provisória é isenta da incidência do Imposto de Renda.” (REsp. 1.335.511/PB, Rel. Min.


Herman Benjamin, DJe 10.10.2012).
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Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.215.211-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 6/8/2013.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

No reexame necessário, o Tribunal não pode modificar a sentença para conceder benefício mais
vantajoso ao segurado (Súmula 45-STJ)

O Tribunal, ao julgar remessa necessária, não poderá conceder benefício previdenciário mais
vantajoso ao segurado do que aquele que foi conferido pela sentença. Ex: sentença julgou
procedente o auxílio-doença; Tribunal não pode conceder aposentadoria por invalidez.
Aplica-se, no caso, a súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a
condenação imposta à Fazenda Pública.
Comentários Para maiores informações, vide julgado indexado na seção de Direito Processual Civil.
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.379.494-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 13/8/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) Tendo ocorrido dispensa de licitação de forma indevida, haverá ato de improbidade administrativa
mesmo que não seja provado prejuízo ao erário e má-fé do administrador. ( )
2) A transferência, para fins de desapropriação, do domínio útil de imóvel aforado da União constitui
operação apta a gerar o recolhimento de laudêmio. ( )
3) O titular de blog não é responsável pela reparação dos danos morais decorrentes da inserção, em seu
site, por sua conta e risco, de artigo escrito por terceiro. ( )
4) O ônus de arcar com as despesas postais decorrentes do exercício do direito de arrependimento é do
fornecedor, salvo estipulação contratual expressa e destacada em sentido contrário. ( )
5) É dispensada a prévia comunicação do devedor se o SPC/SERASA estiver apenas reproduzindo
informação negativa que conste de registro público. ( )
6) É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a
negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros. ( )
7) Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral
quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. ( )
8) A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo
máximo de cinco anos, salvo se o prazo prescricional tiver sido suspenso ou interrompido. ( )
9) A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do título. ( )
10) (OAB XI 2013 FGV) O prazo de apresentação do cheque ao sacado para pagamento é de 30 (trinta) dias,
contados da data de emissão, quando o lugar de emissão for o mesmo do de pagamento. ( )
11) (OAB XI 2013 FGV) O portador, apresentado o cheque e não realizado seu pagamento, deverá
promover a ação executiva em face do emitente em até 6 (seis) meses após a expiração do prazo de
apresentação. ( )
12) Não é possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé, após o decurso do prazo de
apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação cambial de execução, ainda que, em
momento anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão do inadimplemento do negócio
jurídico subjacente à emissão da cártula. ( )
13) O juiz não pode negar a concessão de assistência judiciária gratuita com base em critérios subjetivos. ( )
14) (DPE/SC 2012 FEPESE) Os cidadãos necessitados que fizerem jus ao benefício da assistência judiciária
gratuita, prevista na Lei Federal no 1.060, de 1950, deverão, necessariamente, optar por fazer uso do
serviço da Defensoria Pública. ( )
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15) No mandado de segurança, se o impetrante morre, os seus herdeiros não podem se habilitar para
continuar o processo. ( )
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16) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de garantir o acesso
a critérios de correção de provas de concurso público. ( )

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17) (Juiz Federal TRF5 2011 CESPE) O delito de apropriação indébita previdenciária, previsto no art. 168-A do
CP, é omissivo próprio, dispensando-se, para a sua caracterização, qualquer especial fim de agir. ( )
18) (Promotor MPSP 2013) É permitido ao juiz, na sentença condenatória criminal, estabelecer valor
mínimo para a reparação de danos, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. ( )
19) (Promotor MPDFT 2013) É absolutamente nula a sentença de condenação, por não haver o juiz fixado
valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração. ( )
20) (Juiz Federal TRF1 2011 CESPE) No atual sistema processual penal, ocorre a cumulação de instâncias,
assim nominado pela doutrina o dever do juiz, quando da prolação de sentença condenatória, de fixar
valor mínimo para a reparação dos danos emergentes causados pelo crime, considerados os prejuízos
sofridos pelo ofendido, mas não os danos morais, independentemente de pedido expresso da vítima e
da existência de debates anteriores acerca dos danos e de sua extensão. ( )

Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. C 7. C 8. E 9. C 10. C
11. C 12. E 13. C 14. E 15. C 16. C 17. C 18. C 19. E 20. E

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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR
RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA INTERNA PARA JULGAR AÇÃO DISCRIMINATÓRIA DE TERRAS
PÚBLICAS.
Compete à Primeira Seção do STJ e a suas respectivas Turmas julgar feito referente a ação discriminatória de
terras públicas. De fato, a competência interna é fixada a partir da natureza da relação jurídica litigiosa. Nesse
contexto, o art. 9º, § 1º, XIV, do RISTJ estabelece que compete à Primeira Seção processar e julgar os feitos que
envolvem matéria de direito público, atinente à delimitação do patrimônio estatal. Sendo assim, como a ação
discriminatória de terras públicas refere-se a patrimônio estatal, questão eminentemente de direito público, a
competência da Primeira Seção deve ser preservada. Cabe ressaltar, a propósito, que situação diversa ocorre
quando a demanda encerra discussão acerca de posse ou domínio de coisa alheia proposta por particular (ações
de usucapião, reivindicatórias, reintegratórias) e o debate sobre a discriminação de terras públicas se dá apenas
incidentalmente, o que configura hipótese de competência da Segunda Seção, conforme estabelece o art. 9º, §
2º, I, do RISTJ. Precedentes citados: EREsp 1.193.379-SP, Corte Especial, DJe 17/4/2013; RMS 27.524-TO,
Primeira Turma, DJe 19/8/2009; e EDcl no REsp 617.428-SP, Segunda Turma, DJe 12/9/2011.
CC 124.063-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/10/2013.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE QUE AUTOR E RÉU REALIZEM COMPENSAÇÃO
QUE ENVOLVA CRÉDITO OBJETO DE PENHORA NO ROSTO DOS AUTOS.
A penhora de crédito pleiteado em juízo – anotada no rosto dos autos e de cuja constituição tenham sido
as partes intimadas – impede que autor e réu realizem posterior compensação que envolva o referido
crédito. Aplica-se, nessa hipótese, a regra contida no art. 380 do CC, que dispõe ser inadmissível “a
compensação em prejuízo de direito de terceiro”. Afirma ainda o referido dispositivo que o “devedor que
se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exequente a
compensação, de que contra o próprio credor disporia”. Busca-se, dessa forma, evitar lesão a direito de
terceiro diretamente interessado na constrição. Deve-se observar, portanto, que o art. 380 do CC tem por
escopo coibir a utilização da compensação como forma de esvaziar penhora anterior. Trata-se, assim, de
norma de caráter protetivo e de realce na busca de um processo de resultado. Ademais, segundo os arts.
673 e 674 do CPC, a penhora no rosto dos autos altera subjetivamente a figura a quem deverá ser efetuado
o pagamento, conferindo a esta os bens que forem adjudicados ou que couberem ao devedor. Ressalte-se
que a impossibilidade de compensação nessas circunstâncias decorre também do princípio da boa-fé
objetiva, valor comportamental que impõe às partes o dever de cooperação e de lealdade na relação
processual. REsp 1.208.858-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/9/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECEBIMENTO DE EMBARGOS DO DEVEDOR COMO IMPUGNAÇÃO AO


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
Em execuções de sentença iniciadas antes da vigência da Lei 11.232/2005, que instituiu a fase de
cumprimento de sentença e estabeleceu a “impugnação” como meio de defesa do executado, os
embargos do devedor opostos após o início da vigência da referida lei devem ser recebidos como
impugnação ao cumprimento de sentença na hipótese em que o juiz, com o advento do novo diploma,
não tenha convertido expressamente o procedimento, alertando as partes de que a execução de
sentença passou a ser cumprimento de sentença. De fato, no direito brasileiro, não se reconhece a
existência de direito adquirido à aplicação das regras de determinado procedimento. Por isso, a lei se aplica
imediatamente ao processo em curso. Vale a regra do tempus regit actum e, nesse sentido, seria impreciso
afirmar que a execução da sentença, uma vez iniciada, é imune a mudanças procedimentais. Ocorre que a
aplicação cega da regra geral de direito intertemporal poderia ter consequências verdadeiramente
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desastrosas e, diante disso, temperamentos são necessários. Observe-se que o processo civil muito
comumente vem sendo distorcido de forma a prestar enorme desserviço ao estado democrático de direito,
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deixando de ser instrumento da justiça para se tornar terreno incerto, repleto de arapucas e percalços, em
que só se aventuram aqueles que não têm mais nada a perder. Todavia, o direito processual não pode ser

INFORMATIVO esquematizado
utilizado como elemento surpresa, a cercear injusta e despropositadamente uma solução de mérito. A
razoabilidade deve ser aliada do Poder Judiciário nessa tarefa, de forma que se alcance efetiva distribuição
de justiça. Não se deve, portanto, impor surpresas processuais, pois essas só prejudicam a parte que tem
razão no mérito da disputa. O processo civil dos óbices e das armadilhas é o processo civil dos rábulas.
Mesmo os advogados mais competentes e estudiosos estão sujeitos ao esquecimento, ao lapso, e não se
pode exigir que todos tenham conhecimento das mais recônditas nuances criadas pela jurisprudência. O
direito das partes não pode depender de tão pouco. Nas questões controvertidas, convém que se adote,
sempre que possível, a opção que aumente a viabilidade do processo e as chances de julgamento do mérito
da lide. Nesse contexto, transpondo o quanto exposto até aqui para a hipótese em discussão – na qual é
patente a existência de dúvida em relação ao procedimento cabível –, conclui-se, em respeito ao princípio
da segurança jurídica, serem os embargos do devedor cabíveis caso inexista a expressa conversão do
procedimento. REsp 1.185.390-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/8/2013.

DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. CUSTAS JUDICIAIS NAS HABILITAÇÕES RETARDATÁRIAS DE


CRÉDITO.
Nas falências regidas pelo Decreto-Lei 7.661/1945, a habilitação retardatária de crédito enseja o
pagamento de custas judiciais. Embora os arts. 82 e 98 do Decreto-Lei 7.661/1945, que tratavam da
habilitação de crédito, não fizessem menção expressa ao recolhimento de custas processuais nas
habilitações retardatárias, o art. 23 do referido diploma legal estabelecia que, em algumas situações,
haveria a necessidade de seu recolhimento. Desse modo, enquanto a habilitação de crédito formulada no
prazo do edital de convocação de credores é mero incidente processual – o que acarreta a isenção de
custas –, a habilitação tardia do crédito constitui procedimento autônomo, que acarreta a movimentação
de toda a máquina judiciária para seu processamento e para sua análise, ensejando, assim, o pagamento de
custas judiciais. Confirmando esse entendimento, a Lei 11.101/2005, em seu art. 10, § 3º, prevê que os
credores retardatários ficarão sujeitos ao pagamento de custas. Isso ocorre porque são eles que dão causa
às despesas, com a efetivação dos atos processuais da habilitação.
REsp 512.406-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 27/8/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INAPLICABILIDADE DO ART. 191 DO CPC EM EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO.


O autor da ação principal que, em exceção de suspeição, tenha sido admitido como assistente simples do
perito excepto não pode ser considerado “litisconsorte” para efeito de aplicação do art. 191 do CPC –
prazo em dobro para recorrer no caso de litisconsortes com diferentes procuradores –, ainda que o
referido incidente tenha sido acolhido para anular decisão favorável ao autor da demanda originária. De
fato, as exceções de impedimento ou suspeição são opostas em face do magistrado e seus auxiliares, de
modo a restaurar a higidez na prestação jurisdicional, diante de um vício interno do órgão que está
prestando a jurisdição. Objetivam sanar possível vício existente no processo, não em relação às partes
litigantes, mas sim no órgão que está prestando a jurisdição ou em auxiliar deste, como é o caso do perito
(art. 139 do CPC). Assim sendo, a exceção de suspeição do perito é um incidente processual em que o
expert figura como réu, como promovido, o que, entretanto, não enseja a participação da parte contrária à
excipiente. Tratando-se de arguição de suspeição, por sua própria natureza, somente o excepto terá
condições de refutar as alegações que lhe sejam atribuídas. Nesse contexto, a parte autora da ação
principal, na situação em análise, não pode ser considerada litisconsorte do excepto, tendo em vista que
ela jamais poderia ser demandada em uma exceção de suspeição. Tampouco pode ser admitida como
assistente litisconsorcial, pois o julgamento da exceção não atinge diretamente sua esfera jurídica, mas
apenas anula fases maculadas de um processo, nada obstante o indiscutível interesse das partes no
resultado final da exceção. Ressalta-se, ademais, que, na hipótese em análise, a parte autora sequer
poderia ter sido admitida como assistente simples, pois, na exceção em apreço, por consectário lógico,
somente aquele de quem se poderia exigir isenção e imparcialidade pode ser apontado como suspeito e,
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assim, tem legitimidade para reconhecer ou refutar as alegações, considerando as hipóteses de suspeição
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previstas no art. 135 do CPC. REsp 909.940-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/9/2013.

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 529 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foi incluído neste informativo esquematizado o seguinte julgado, considerado de menor relevância
para concursos públicos: REsp 1.354.506-SP.

ÍNDICE

Direito Constitucional
Prerrogativa do MP de se sentar ao lado direito do juiz.

Direito Administrativo
O ato praticado sem motivação pode ser corrigido se a fundamentação for feita pela autoridade nas
informações prestadas no mandado de segurança.
Contrato feito sem licitação e declarado nulo: contratado não será indenizado se estava de má-fé.
O atraso na prestação de contas somente caracteriza improbidade administrativa se ficar provado o
dolo do administrador público.
É possível a emenda da inicial do MS para corrigir equívoco na indicação da autoridade coatora.

Direito Civil
Cobrança de parcelas inadimplidas estabelecidas em contrato de crédito rotativo para custeio de
estudos universitários prescreve em 5 anos.
Prescrição da ação de indenização contra seguradora por recusa em renovar contrato: 3 anos.
A doença preexistente pode ser oposta pela seguradora ao segurado apenas se houver prévio exame
médico ou prova inequívoca da má-fé do segurado.
O ato de renúncia à meação que se enquadre na situação do art. 108 do CC não pode ser feito por
termo judicial nos autos do inventário, mas sim por escritura pública.

Direito do Consumidor
Contrato de penhor: é nula a cláusula que limite o valor da indenização na hipótese de eventual furto,
roubo ou extravio do bem empenhado.

Estatuto da Criança e do Adolescente


Se a criança ou adolescente viajar para o exterior na companhia de apenas um dos genitores, será
necessária autorização do outro com firma reconhecida.
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Direito Processual Civil
Não deve ser apreciado o pedido de revogação de assistência judiciária gratuita formulado nos próprios
autos da ação principal.
Sentença ilíquida em restituição de PIS: liquidação por artigos.
Estado descumpriu sentença transitada em julgado que determinou a inclusão de gratificação em folha
de pagamento: adimplemento por folha suplementar.

Direito Penal
Furto qualificado mediante escalada pode ser provado por outras provas além da perícia.

Direito Processual Penal


Vara da infância e juventude pode julgar estupro de vulnerável se previsto na lei estadual?
O magistrado não pode negar a concessão do indulto com base em pressupostos não previstos no
Decreto presidencial, sob pena de violar o princípio da legalidade.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Prerrogativa do MP de se sentar ao lado direito do juiz

Os membros do Ministério Público possuem a prerrogativa institucional de se sentarem à


direita dos juízes ou dos presidentes dos Tribunais perante os quais oficiem,
independentemente de estarem atuando como parte ou fiscal da lei.
Comentários É prerrogativa institucional dos membros do Ministério Público sentar-se à direita dos juízes
singulares ou presidentes dos órgãos judiciários perante os quais oficiem,
independentemente de estarem atuando como parte ou fiscal da lei.
Com efeito, o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis, conforme estabelece o art. 127 da CF. Dessa
forma, em razão da sua relevância para o Estado Democrático de Direito, essa instituição
possui prerrogativas e garantias para que possa exercer livremente suas atribuições.
Segundo o STJ, essa prerrogativa não representa privilégio ou quebra da igualdade entre os
litigantes, sendo uma garantia proveniente de lei.

Lei n. 8.625/1993
Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua
função, além de outras previstas na Lei Orgânica:
XI - tomar assento à direita dos Juízes de primeira instância ou do Presidente do Tribunal,
Câmara ou Turma.

LC 75/1993
Art. 18. São prerrogativas dos membros do Ministério Público da União:
I - institucionais:
a) sentar-se no mesmo plano e imediatamente à direita dos juízes singulares ou presidentes
dos órgãos judiciários perante os quais oficiem;

Processo STJ. 2ª Turma. RMS 23.919-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 5/9/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO ADMINISTRATIVO

O ato praticado sem motivação pode ser corrigido se a fundamentação for feita pela autoridade
nas informações prestadas no mandado de segurança

O ato de remoção de servidor público por interesse da Administração Pública deve ser
motivado. Caso não o seja, haverá nulidade.
No entanto, é possível que o vício da ausência de motivação seja corrigido em momento
Advocacia
pública
posterior à edição dos atos administrativos impugnados.
Assim, se a autoridade removeu o servidor sem motivação, mas ela, ao prestar as informações
no mandado de segurança, trouxe aos autos os motivos que justificaram a remoção, o vício que
existia foi corrigido.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
João, servidor público, trabalhava em um pronto-socorro. Determinado dia, o Secretário de
Saúde do Estado determinou a remoção ex officio de João para outra unidade de saúde.
Ressalte-se que o ato de remoção não foi motivado. Não houve qualquer menção, ainda
que sucinta, às causas que deram ensejo à remoção.
Diante disso, o servidor público impetrou mandado de segurança contra o Secretário,
afirmando que o ato de remoção foi nulo por ausência de fundamentação.
Ao prestar as informações no MS, o Secretário explicou e demonstrou, com números, que a
remoção do servidor público era necessária ao interesse público, considerando que havia
um quadro muito reduzido na unidade de saúde de destino.

A questão chegou até o STJ por meio de recurso. O Tribunal determinou a anulação do ato?
NÃO. O STJ afirmou que o ato de remoção de servidor público por interesse da
Administração Pública deve ser motivado. Caso não o seja, haverá nulidade. No entanto, é
possível que o vício da ausência de motivação seja corrigido em momento posterior à
edição dos atos administrativos impugnados.
Assim, no caso concreto, o Secretário de Estado, ao prestar as informações no MS, trouxe
aos autos os motivos que justificaram a remoção, corrigindo o vício que existia.

Sobre o tema, ensina Celso Antônio Bandeira de Mello:


“o que mais importa é haver ocorrido o motivo perante o qual o comportamento era
obrigatório, passando para segundo plano a questão da motivação. Assim, se o ato não
houver sido motivado, mas for possível demonstrar ulteriormente, de maneira
indisputavelmente objetiva e para além de qualquer dúvida ou entredúvida, que o motivo
exigente do ato preexistia, dever-se-á considerar sanado o vício do ato”. (Curso de Direito
Administrativo. 20ª ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 375).
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 40.427-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 3/9/2013.

Contrato feito sem licitação e declarado nulo: contratado não será indenizado se estava de má-fé

Se for reconhecida a nulidade do contrato administrativo por ausência de prévia licitação, a


Administração Pública, em regra, tem o dever de indenizar os serviços prestados pelo
contratado.
Advocacia No entanto, a Administração Pública não terá o dever de indenizar os serviços prestados pelo
pública
contratado na hipótese em que este tenha agido de má-fé ou concorrido para a nulidade do
contrato.
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Comentários Imagine a seguinte situação adaptada (com diferenças em relação ao caso concreto):
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Determinado Município contratou um escritório de advocacia, sem licitação, para que este

INFORMATIVO esquematizado
realizasse a apuração e cobrança dos créditos tributários.
Esse contrato foi posteriormente declarado nulo, sob o argumento de que o advogado
contratado não se enquadrava como sendo de “notória especialização” (art. 25, II, da Lei n.
8.666/93). Além disso, os serviços realizados deveriam ser feitos por servidores estatutários
e não por um escritório de advocacia particular.
Após o contrato ser declarado nulo, o referido advogado ajuizou ação cobrando os valores
correspondentes ao período em que o ajuste vigorou. Argumentou que, durante esse
tempo, prestou os serviços e que, se não recebesse por isso, haveria enriquecimento sem
causa por parte da Administração Pública.

O Município deverá pagar os valores cobrados?


NÃO.

Regra:
Se for reconhecida a nulidade do contrato administrativo por ausência de prévia licitação, a
Administração Pública, em regra, tem o dever de indenizar os serviços prestados pelo
contratado. Isso se justifica para evitar que haja um enriquecimento sem causa do poder
público, considerando que, durante esse período, beneficiou-se dos serviços do contratado.

Exceção no caso de má-fé do contratado:


Vale ressaltar, no entanto, que a regra acima possui uma exceção. Segundo o STJ, a
Administração Pública não terá o dever de indenizar os serviços prestados pelo contratado
na hipótese em que este tenha agido de má-fé ou concorrido para a nulidade do contrato.

A solução para essa questão encontra-se no parágrafo único do art. 59 da Lei n. 8.666/93:
Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente
impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de
desconstituir os já produzidos.
Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o
contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por
outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável,
promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

No caso concreto, entendeu-se que havia má-fé do contratado, uma vez que ele saberia da
ilegalidade da contratação, já que tinha passado por situação semelhante em outros
Municípios.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.394.161-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/10/2013.

O atraso na prestação de contas somente caracteriza improbidade administrativa se ficar


provado o dolo do administrador público
A configuração do ato de improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei n. 8.429/92
somente é possível se demonstrada prática dolosa de conduta que atente contra os princípios
da Administração Pública.
A ausência de prestação de contas, quando ocorre de forma dolosa, acarreta violação ao
Princípio da Publicidade.
Todavia, o simples atraso na entrega das contas, sem que exista dolo na espécie, não configura
ato de improbidade.
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Comentários A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no


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caso da prática de atos de improbidade administrativa. A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11,
um rol exemplificativo de atos que caracterizam improbidade administrativa.

INFORMATIVO esquematizado
Uma das grandes discussões sobre o tema é a seguinte:
Qual é o elemento subjetivo exigido para os atos de improbidade administrativa? Em outras
palavras, para que seja considerado ato de improbidade administrativa, é necessário que o
agente tenha praticado as condutas dos arts. 9º, 10 e 11 com dolo, ou basta que tenha
agido com culpa?

Houve durante algum tempo uma polêmica na doutrina, mas, atualmente, a questão está
pacificada no STJ:

Critério objetivo Critério subjetivo


Art. 9º – Atos de improbidade que importam enriquecimento Exige DOLO
ilícito do agente público
Art. 10 – Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário Pode ser DOLO ou, no
mínimo, CULPA
Art. 11 – Atos de improbidade que atentam contra princípios da Exige DOLO
administração pública

Desse modo, segundo iterativa (reiterada) jurisprudência do STJ, para que seja reconhecida a
tipificação da conduta do agente como incurso nas previsões da Lei de Improbidade
Administrativa, é necessária a demonstração do elemento subjetivo, consubstanciado pelo dolo
para os tipos previstos nos arts. 9º (enriquecimento ilícito) e 11 (violação dos princípios da
Administração Pública) e, ao menos, pela culpa nas hipóteses do art. 10º (prejuízo ao erário).

Feitas essas considerações, imagine a seguinte situação:


O prefeito atrasou a entrega da prestação de contas, razão pela qual o Ministério Público
ajuizou ação de improbidade contra ele, com fundamento no art. 11 da Lei n. 8.492/92.

Se o administrador público atrasa a entrega da prestação de contas, pratica improbidade


por violação aos princípios administrativos?
Como vimos acima, a configuração do ato de improbidade administrativa previsto no art. 11
da Lei n. 8.429/92 somente é possível se demonstrada prática dolosa de conduta que
atente contra os princípios da Administração Pública.
A ausência de prestação de contas, quando ocorre de forma dolosa, acarreta violação ao
Princípio da Publicidade.
Todavia, o simples atraso na entrega das contas, sem que exista dolo na espécie, não
configura ato de improbidade.
Logo, para que a referida ação seja julgada procedente, é indispensável que o MP prove o
dolo ou má-fé do autor.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.382.436-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/8/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO CIVIL

Cobrança de parcelas inadimplidas estabelecidas em contrato de crédito rotativo para custeio


de estudos universitários prescreve em 5 anos

A pretensão de cobrança de parcelas inadimplidas estabelecidas em contrato de crédito


rotativo para custeio de estudos universitários prescreve em vinte anos na vigência do
CC/1916 e em cinco anos na vigência do CC/2002.
Comentários Na vigência do CC/1916, a pretensão estava sujeita ao prazo prescricional do art. 177 do
referido código – vinte anos –, em razão da inexistência de prazo específico. No entanto,
com a entrada em vigor do CC/2002, impera regra específica inserta no art. 206, § 5º, I, do
CC/2002, que prevê o prazo prescricional quinquenal para a pretensão de cobrança de
dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular. É inadequada, portanto, a
incidência do prazo geral decenal previsto no art. 205 do CC/2002 – dez anos –, destinado
às hipóteses em que não existir prazo menor especial, previsto em algum dos parágrafos do
art. 206.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.188.933-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/8/2013.

Prescrição da ação de indenização contra seguradora por recusa em renovar contrato: 3 anos

Prescreve em três anos a pretensão do segurado relativa à reparação por danos sofridos em
decorrência da não renovação, sem justificativa plausível, de contrato de seguro de vida em
grupo, após reiteradas renovações automáticas.
Comentários Seguro em grupo
O Código Civil permite que o contrato de seguro seja feito em favor de uma coletividade de
pessoas. Nesse caso, ele é chamado de seguro em grupo ou coletivo:
Art. 801. O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou jurídica em
proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se vincule.

“No seguro coletivo, costuma-se segurar um conjunto de indivíduos, nominados ou somente


referidos, como os empregados de uma determinada empresa, ou pessoas ligadas a uma
referida entidade, as quais autorizam a confecção do contrato e o desconto em folha.”
(FARIAS, Cristiano Chaves de; FIGUEIREDO, Luciano; EHRHARDT JÚNIOR, Marcos; DIAS,
Wagner Inácio Freitas. Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 563).

Imagine agora a seguinte situação:


Determinado grupo de pessoas mantinha um seguro em grupo com a seguradora “Y”.
A duração desse seguro era anual e este já havia sido renovado 30 vezes.
Em determinado dia, a seguradora recusou-se, imotivadamente, a renovar o seguro.

A seguradora agiu conforme o direito?


NÃO. A seguradora, após todos esses anos de renovação, não pode recusar-se a renovar o
contrato sem uma justificativa técnica plausível. Nesses casos, há ofensa aos princípios da
boa fé objetiva, da cooperação, da confiança e da lealdade, orientadores da interpretação
dos contratos que regulam as relações de consumo (REsp 1073595/MG, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Segunda Seção, julgado em 23/03/2011).
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Os segurados poderão ajuizar uma ação de indenização contra a seguradora por causa da
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recusa?
SIM, é possível.

INFORMATIVO esquematizado
Qual é o prazo prescricional para essa demanda?
Tese da seguradora Tese dos segurados
1 ano, nos termos do art. 206, § 1º, II, CC: 3 anos, nos termos do art. 206, § 3º, V, CC:

Art. 206. Prescreve: Art. 206. Prescreve:


§ 1º Em um ano: § 3º Em três anos:
II - a pretensão do segurado contra o V - a pretensão de reparação civil;
segurador, ou a deste contra aquele,
contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de
responsabilidade civil, da data em que é
citado para responder à ação de
indenização proposta pelo terceiro
prejudicado, ou da data que a este
indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência
do fato gerador da pretensão;

Qual tese foi aceita pelo STJ?


O prazo de 3 anos.

Em regra, as ações relacionadas com seguro em grupo prescrevem em 1 ano, conforme


prevê o art. 206, § 1º, II, CC. Nesse sentido:
Súmula 101 do STJ: A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora
prescreve em um ano.

No caso em tela, contudo, a pretensão dos autores não é de recebimento da indenização


securitária contratada, mas sim de reparação pelos danos sofridos em decorrência da não
renovação do contrato de seguro de vida.
Verifica-se, assim, que a causa de pedir da indenização é a responsabilidade extracontratual
da seguradora, decorrente da alegada abusividade e ilicitude da sua conduta de não
renovar o contrato sem justificativa plausível, em prejuízo dos seus consumidores.
Logo, não se aplica o art. 206, § 1º, II, CC.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.273.311-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/10/2013.

A doença preexistente pode ser oposta pela seguradora ao segurado apenas se houver prévio
exame médico ou prova inequívoca da má-fé do segurado

No contrato de seguro de vida e acidentes pessoais, o segurado não tem direito à indenização
caso, agindo de má-fé, silencie a respeito de doença preexistente que venha a ocasionar o
sinistro, ainda que a seguradora não exija exames médicos no momento da contratação.
Comentários
Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro

Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex: risco de morte.

Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex: morte.


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Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora no qual estão
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previstos os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o


prêmio devido e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.
INFORMATIVO esquematizado
Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio
deve ser pago depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos
atuariais e o seu valor leva em consideração os riscos cobertos.

Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro).

Dever de declarar doenças preexistentes:


Quando a pessoa vai contratar um seguro de vida, ela tem o dever de declarar, de forma
verídica, o seu real estado de saúde.
Essa informação é fundamental para que a seguradora decida se aceitará realmente o
contratante e qual será o prêmio fixado.

Dever das seguradoras de exigir exames médicos:


Como cautela, as seguradoras devem exigir exames médicos do contratante.

Se a seguradora não exige os exames médicos no momento da contratação e, mais para


frente, quando o contratante falece, descobre-se que ele morreu por causa de uma doença
preexistente, a seguradora mesmo assim é obrigada a pagar a indenização aos
beneficiários?
SIM. Em regra, se a seguradora não realizou os exames no contratante, ela assumiu os
riscos por essa sua postura. Logo, mesmo que a pessoa morra em decorrência de uma
doença preexistente, a contratada deverá pagar o valor da indenização.

Exceção:
A seguradora poderá recusar o pagamento da indenização se ficar provado que o
contratante (segurado) agiu de má-fé.

Resumindo:
A seguradora que não exigiu exames médicos previamente à contratação, não pode
descumprir a obrigação indenizatória sob a alegação de que houve omissão de informações
pelo segurado quanto à doença preexistente, salvo quando ficar provado que o contratante
agiu de má-fé.

Nos termos da jurisprudência dominante deste Tribunal, a doença preexistente pode ser
oposta pela seguradora ao segurado apenas se houver prévio exame médico ou prova
inequívoca da má-fé do segurado. (...)
(AgRg no Ag 818.443/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 1º/3/2007)

Processo STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1.286.741-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
O ato de renúncia à meação que se enquadre na situação do art. 108 do CC não pode ser feito
por termo judicial nos autos do inventário, mas sim por escritura pública

A lavratura de escritura pública é essencial à validade do ato praticado por viúva consistente
na cessão gratuita, em favor dos herdeiros do falecido, de sua meação sobre imóvel
inventariado cujo valor supere trinta salários mínimos, sendo insuficiente, para tanto, a
redução a termo do ato nos autos do inventário.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
João faleceu deixando uma casa avaliada em 600 mil reais.
São herdeiros do falecido: Maria (cônjuge supérstite = sobrevivente), Hugo e Luiz (filhos).

Cônjuge = herdeiro e meeiro


Em nosso exemplo, Maria, além de herdeira, era também meeira.
Assim, ela tem direito à metade da casa como meeira (300 mil reais). A outra metade é a
herança deixada por João e que será dividida entre os três herdeiros: Maria, Hugo e Luiz.
Logo, cada herdeiro irá receber uma quota ideal correspondente a 100 mil reais.

Esquematizando:
Casa = 600 mil reais.
Metade da casa (300 mil) é meação do cônjuge e a outra (300 mil) é a herança.
Metade da casa dividida entre os três herdeiros (100 mil para cada).
Maria receberá a meação (300 mil) e mais um terço da herança. Total de Maria: 400 mil.
Hugo e Luiz receberão 100 mil reais cada.

Suponha que Maria quer renunciar em favor de Hugo e Luiz a sua meação na casa. Qual é a
forma pela qual deverá fazê-lo?
Escritura pública.

Se Maria quiser dispor de sua meação, ela precisará fazê-lo por meio de escritura pública,
conforme determina o art. 108 do CC:
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de
direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente
no País.

Com o intuito de reduzir os custos, o advogado de Maria propõe que ela faça a renúncia da
meação por meio de uma petição dirigida ao juiz no processo de inventário.

O interessante argumento do causídico foi o seguinte: a renúncia à herança pode ser feita
por meio de termo judicial nos autos do inventário (art. 1.806 do CC). O ato de renunciar a
meação equipara-se ao de renunciar a herança. Logo, é possível renunciar a meação por
escritura pública ou por termo judicial. Veja a redação do art. 1.806 do CC:
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou
termo judicial.

O raciocínio acima é admitido pela jurisprudência? É possível a cessão da meação por termo
judicial nos autos do inventário? A renúncia à meação equipara-se à renúncia à herança?
NÃO. O ato de renúncia à meação não pode ser equiparado ao de renúncia à herança
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porque são institutos diferentes.


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INFORMATIVO esquematizado
Herança Meação
A posse ou propriedade dos bens do de O patrimônio é de propriedade da viúva
cujus são transmitidas aos herdeiros em decorrência do regime de bens do
quando e porque aberta a sucessão casamento, independe da abertura da
(princípio da saisine). sucessão, e pode ser objeto de ato de
disposição pela viúva a qualquer tempo,
seja em favor dos herdeiros ou de
terceiros.
A renúncia à herança somente pode A renúncia à meação pode ocorrer mesmo
ocorrer depois de aberta a sucessão, antes de aberta a sucessão, considerando
quando a pessoa adquire a condição de que a meação é um direito que não surge
herdeira. por causa da morte.

Percebe-se que o ato de disposição patrimonial pretendido por Maria, ou seja, a cessão
gratuita da sua meação em favor dos herdeiros, configura uma verdadeira doação, inclusive
para fins tributários (STJ Ag 1165370, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 18.09.2009).

Em regra, a doação pode ser feita por escritura pública ou por instrumento particular (art.
541 do CC). Na hipótese em tela, deverá ser realizada por escritura pública em razão do
direito real doado ser superior a 30 salários mínimos, conforme determina o art. 108 do CC.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.196.992-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/8/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Contrato de penhor: é nula a cláusula que limite o valor da indenização na hipótese de eventual
furto, roubo ou extravio do bem empenhado

Em contrato de penhor firmado por consumidor com instituição financeira, é nula a cláusula
que limite o valor da indenização na hipótese de eventual furto, roubo ou extravio do bem
empenhado.
Comentários Penhor
Penhor é o direito real pelo qual o devedor ou terceiro transfere ao credor, em garantia do
débito, a posse de uma coisa móvel.
A coisa dada em penhor é “empenhada” ou “apenhada”.
Não se pode confundir penhor (garantia real) com penhora (ato do processo de execução).

Penhor de joias
A Caixa Econômica Federal oferece uma forma de conferir empréstimo de modo mais ágil e
sem burocracia. Trata-se do empréstimo com penhor.
A pessoa interessada em obter um empréstimo procura a CEF e obtém o empréstimo,
oferecendo, como garantia, joias, pedras preciosas, canetas, relógios etc.
Quando a pessoa paga o empréstimo, recebe de volta o bem empenhado.
Se o mutuário não quitar o empréstimo, a coisa apenhada é leiloada.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Pedro, precisando de dinheiro, resolve tomar um empréstimo na CEF e, como garantia,
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entrega o seu anel de formatura.


No contrato assinado, havia uma cláusula que dizia que, em caso de roubo, furto ou
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extravio da joia empenhada, a CEF deveria pagar ao mutuário, a título de danos materiais e
morais, o valor máximo de 1,5 vezes da quantia pela qual foi avaliado o bem. Ex: se o bem

INFORMATIVO esquematizado
tivesse sido avaliado em 10 mi reais, a CEF pagaria, no máximo, 15 mil reais de indenização.
Uma semana após Pedro dar o bem em garantia, houve um furto na agência da CEF e
levaram o anel, que estava guardado em um cofre.

A CEF deverá indenizar Pedro por esse furto?


SIM. O furto ocorrido deve ser entendido como fortuito interno, inerente à atividade
explorada pelo banco. Assim, a instituição financeira é responsável por furtos ou mesmo
roubos em seus cofres (REsp 1.250.997/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado
em 5/2/2013).

Essa cláusula que limita o valor da indenização é válida?


NÃO. O CDC prevê, em seu art. 51, I:
Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;

Segundo decidiu o STJ, no contrato de penhor celebrado com a Caixa, é notória a


hipossuficiência do consumidor, pois este, necessitando de empréstimo, apenas adere a um
contrato cujas cláusulas são inegociáveis, submetendo-se, inclusive, à avaliação unilateral
realizada pela instituição financeira. Vale ressaltar que, comumente, a avaliação é inferior
ao preço cobrado do consumidor no mercado varejista de joias.

Ao aceitar dar em penhor sua joia pessoal, o consumidor demonstra não estar interessado
em vender esse bem empenhado, preferindo transferir apenas a posse temporária dela à
instituição financeira, em garantia de um empréstimo. Pago o empréstimo, ele tem plena
expectativa de ter de volta seu bem. Isso revela que, em regra, o mutuário possui uma
relação afetiva com a coisa apenhada.

O que fazer, então, no caso concreto?


O juiz deverá reconhecer que a cláusula é nula de pleno direito, nos termos do art. 51, I, do
CDC, devendo condenar à CEF a pagar um valor justo de indenização, que atenda
estritamente aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
Deve-se salientar que, além dos danos materiais, a CEF deverá ser condenada a pagar
também danos morais, uma vez que, conforme já salientado, o consumidor que decide pelo
penhor assim o faz pretendendo receber o bem de volta, e, para tanto, confia que o
mutuante o guardará pelo prazo ajustado. Se a coisa empenhada fosse para o proprietário
um bem qualquer, sem nenhum valor sentimental, provavelmente o consumidor optaria
pela venda da joia, e, certamente, obteria um valor maior.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.395-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Se a criança ou adolescente viajar para o exterior na companhia de apenas um dos genitores,


será necessária autorização do outro com firma reconhecida

É lícita a conduta de companhia aérea consistente em negar o embarque ao exterior de criança


acompanhada por apenas um dos pais, desprovido de autorização na forma estabelecida no
art. 84 do ECA, ainda que apresentada autorização do outro genitor escrita de próprio punho e
elaborada na presença de autoridade fiscalizadora no momento do embarque.
Comentários O Estatuto da Criança e do Adolescente disciplina, em seus arts. 83 a 85, as regras que
envolvem a viagem de crianças e adolescentes. Veja abaixo o resumo das situações:

VIAGEM NACIONAL

SITUAÇÃO NECESSÁRIA AUTORIZAÇÃO?


Criança viajar com o pai e a mãe. NÃO
Criança viajar só com o pai ou só com a mãe. NÃO
NÃO
Criança viajar com algum ascendente (avô, bisavô).
(nem dos pais nem do juiz)
Criança viajar com algum colateral, maior de NÃO
idade, até 3º grau (irmão, tio e sobrinho). (nem dos pais nem do juiz)
Criança viajar acompanhada de uma pessoa maior SIM
de idade, mas que não seja nenhum dos parentes Será necessária uma autorização
acima listados (ex: amigo da família, chefe de expressa do pai, mãe ou
excursão, treinador de time). responsável (ex: tutor) pela criança.
SIM
Criança viajar sem estar acompanhada por uma
Será necessária uma autorização do
pessoa maior de idade.
juiz da infância e juventude.
Criança viajar desacompanhada de parentes para
comarca vizinha, localizada dentro do mesmo NÃO
Estado, ou para comarca que pertença à mesma (nem dos pais nem do juiz)
região metropolitana.
NÃO
Adolescente viajar desacompanhado de pais,
Adolescentes podem viajar pelo
responsável, parente ou qualquer outra pessoa.
Brasil sem autorização.

Relembrando:
Criança: até 12 anos incompletos.
Adolescente: pessoa entre 12 e 18 anos.

VIAGEM AO EXTERIOR

SITUAÇÃO NECESSÁRIA AUTORIZAÇÃO?


Criança ou adolescente viajar acompanhado do
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NÃO
pai e da mãe.
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Criança ou adolescente viajar com o seu


NÃO
responsável (ex: guardião, tutor ou curador).

INFORMATIVO esquematizado
SIM
Nesse caso, será necessária:
Criança ou adolescente viajar só com o pai ou só 1) autorização judicial; OU
com a mãe. 2) autorização expressa do pai ou
mãe que não for viajar, através de
documento com firma reconhecida.
Criança ou adolescente viajar desacompanhado
SIM
Criança ou adolescente viajar em companhia de
Nesse caso, será necessária:
terceiros maiores e capazes, designados pelos
1) autorização judicial; OU
genitores.
2) autorização expressa do pai e da
Em todos os outros casos (ex: avô, tio, irmão, mãe, com firma reconhecida.
chefe de excursão, treinador de time etc.).
Criança ou adolescente nascido no Brasil viajar em SIM
companhia de residente ou domiciliado no Necessária prévia e expressa
exterior. autorização judicial.

A não-observância das regras acima poderá ensejar a prática da infração administrativa


prevista no art. 251 do ECA:
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do
disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de
reincidência.

RESOLUÇÃO N. 131/2011-CNJ
O tema também foi regulamentado pela Resolução n. 131/2011 do CNJ. Se você estiver
prestando concursos para cartório, é importante ler a íntegra do documento.

Crianças ou adolescentes brasileiros residentes fora do Brasil


Segundo a Resolução n. 131/2011-CNJ, é dispensável autorização judicial para que crianças
ou adolescentes brasileiros residentes fora do Brasil, detentores ou não de outra
nacionalidade, viajem de volta ao país de residência, nas seguintes situações:
I) em companhia de um dos genitores, independentemente de qualquer autorização escrita;
II) desacompanhado ou acompanhado de terceiro maior e capaz designado pelos genitores,
desde que haja autorização escrita dos pais, com firma reconhecida.

Caso concreto julgado pelo STJ (com adaptações):


João e Maria possuem uma filha menor de idade. Maria e a filha foram viajar aos EUA. No
momento do embarque, a companhia aérea exigiu, para o embarque da filha, uma
autorização por escrito do pai da menor, com firma reconhecida.
João, que havia ido até o aeroporto levar sua filha para o embarque, fez uma autorização na
hora, de próprio punho, na presença do funcionário da companhia aérea e do agente de
Polícia Federal que foi chamado para acompanhar o caso.
Vale ressaltar que havia uma Portaria do juiz da infância e juventude autorizando que essa
autorização do pai ou mãe que não fosse viajar pudesse ser feita na hora, de próprio punho,
na presença das autoridades fiscalizadoras, no momento do embarque.
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Mesmo assim, a companhia aérea não aceitou o documento e não permitiu o embarque da
menor.
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Os pais ajuizaram ação de indenização por danos morais contra a empresa.

INFORMATIVO esquematizado
Qual foi o resultado?
O STJ negou a indenização pretendida.

Segundo o Tribunal, a conduta da companhia aérea de negar o embarque foi lícita.

Quando se tratar de viagem para o exterior, exige-se a autorização judicial, que somente é
dispensada se a criança ou o adolescente estiverem acompanhados de ambos os pais ou
responsáveis, ou, se viajarem na companhia de um deles, com autorização expressa do
outro por meio de documento com firma reconhecida (art. 84 do ECA).

A portaria expedida pela Vara da Infância e Juventude estabelecendo a possibilidade de


autorização do outro cônjuge mediante escrito de próprio punho não tem a aptidão de
suprir a forma legalmente exigida para a prática do ato.

O poder normativo da Justiça da Infância e da Juventude deve sempre observar o princípio


da proteção integral da criança e do adolescente e, sobretudo, as regras expressas do ECA.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.249.489-MS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 13/8/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Não deve ser apreciado o pedido de revogação de assistência judiciária gratuita formulado nos
próprios autos da ação principal

A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita?


SIM. É possível que ofereça uma impugnação (revogação) à justiça gratuita.
Esse pedido possui natureza jurídica de incidente do processo e deve ser feita em autos
apartados (§ 2º do art. 4º da LAJ).

E se a impugnação à justiça gratuita for formulada nos próprios autos (e não em autos
apartados)?
O juiz não deverá apreciar o pedido de revogação, mantendo, assim, o benefício da justiça
gratuita que já tenha sido concedido.
Isso porque o pedido formulado nos próprios autos da ação principal configura violação à Lei
n. 1.060/50, além de ser um erro grosseiro da parte.
Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: o
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos.

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


II – Benefício da gratuidade judiciária
I – Assistência jurídica integral e gratuita
(assistência judiciária gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e Isenção das despesas que forem necessárias
defesa jurídica, de forma integral e para que a pessoa necessitada possa
gratuita, a ser prestada pela Defensoria defender seus interesses em um processo
Pública, em todos os graus, dos judicial.
necessitados (art. 134 da CF).
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Regulada pela Lei Complementar 80/94. Regulada pela Lei n. 1.060/50.


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INFORMATIVO esquematizado
Lei n. 1.060/50
A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:
I - das taxas judiciárias e dos selos;
II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e
serventuários da justiça;
III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação
dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do
empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo
contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder
público estadual, nos Estados;
V - dos honorários de advogado e peritos.
VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado
pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.
VII – dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e
demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

Obs: a assistência judiciária não abrange a isenção do pagamento de multa por litigância de
má-fé (STJ RMS 15.600-SP).

Quem é considerado necessitado para os fins legais?


É aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família (art. 2º, parágrafo
único, da LAJ).

Quem está abrangido por ela?


Pessoas físicas (nacionais ou estrangeiras);
Pessoas jurídicas.

O que é necessário para que se obtenha?


A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária mediante simples afirmação, na
própria petição inicial (se for autora) ou na contestação (se for ré), de que não está em
condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo
próprio ou de sua família (art. 4º da LAJ).

Se a pessoa física faz essa declaração, há uma presunção relativa de que ela seja necessitada
Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos da lei,
sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais (art. 4º, § 1º, da LAJ).
Não é necessário que a pessoa física junte nenhuma prova de que é necessitada, sendo
suficiente essa afirmação.

Mesmo havendo essa presunção, o juiz pode indeferir o pedido?


SIM. Segundo o STJ, a afirmação de hipossuficiência, almejando a obtenção do benefício da
assistência judiciária gratuita, possui presunção legal juris tantum, ou seja, relativa,
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podendo o magistrado, com amparo no art. 5º, da Lei n.º 1.050/60, infirmar a
miserabilidade da requerente (AgRg no AREsp 121.135/MS, DJe 27/11/2012).
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Esse indeferimento pode ocorrer, inclusive, de ofício, ou seja, sem requerimento da parte
adversa (REsp 1196941/SP, DJe 23/03/2011).
INFORMATIVO esquematizado
Se o magistrado não estiver convencido da impossibilidade da parte de arcar com as custas
do processo, ele poderá exigir que sejam apresentados documentos?
SIM. O magistrado, antes de deferir o pedido, pode investigar a real situação financeira do
requerente da assistência judiciária gratuita (AgRg no AREsp 181.573/MG, DJe 30/10/2012).
Assim, o juízo, para perquirir sobre as reais condições econômico-financeiras do
requerente, poderá solicitar que este comprove nos autos que não pode arcar com as
despesas processuais e com os honorários de sucumbência (REsp 1196941/SP, DJe
23/03/2011).

No caso de o requerente do benefício ser pessoa jurídica, é necessário provar a


impossibilidade de arcar com as despesas do processo?
SIM. As pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos, para obterem os
benefícios da justiça gratuita, devem comprovar o estado de miserabilidade, não bastando a
simples declaração de pobreza.
Em outras palavras, para que a pessoa jurídica de direito privado obtenha o benefício da
justiça gratuita, é indispensável que demonstre (comprove) sua impossibilidade de arcar
com os encargos processuais, não sendo a ela aplicável a presunção de que trata o § 1º do
art. 4º da LAJ.
Súmula 481-STJ: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins
lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.

REQUERIMENTO DE JUSTIÇA GRATUITA


PESSOA FÍSICA PESSOA JURÍDICA
A parte gozará dos benefícios da Além de formular o requerimento de
assistência judiciária mediante simples justiça gratuita, a pessoa jurídica, com ou
afirmação de que não está em condições sem fins lucrativos, deverá demonstrar,
de arcar com os encargos processuais. com documentos, sua impossibilidade de
Em regra, não será necessário que o arcar com os encargos processuais.
requerente junte nenhum documento,
salvo se o juiz determinar.

Qual é o momento em que deverá ser formulado o pedido de justiça gratuita?


Normalmente o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do
autor) ou na contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da
jurisprudência é de que a assistência judiciária gratuita pode ser pleiteada a qualquer
tempo (REsp 1261220/SP, DJe 04/12/2012).

É possível requerer a assistência jurídica gratuita no ato da interposição do recurso?


SIM. O STF entendeu que seria cabível deferir-se a gratuidade antes da interposição ou
como pleito embutido na petição do recurso extraordinário, salvo se houvesse fraude,
como, por exemplo, quando a parte não efetuasse o preparo e, depois, requeresse que se
relevasse a deserção. O Min. Marco Aurélio afirmou que é plausível imaginar a situação de
uma pessoa que, no início do processo pudesse custear as despesas processuais e, no
entanto, depois de um tempo, com a mudança de sua situação econômica, não tivesse mais
condições de pagar o preparo do recurso, devendo, então, ter direito de pleitear a
assistência judiciária nessa fase processual (STF. 1ª Turma. AI 652139 AgR/MG, rel. orig.
Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 22/5/2012).
Se for formulado no momento do recurso, o requerimento de gratuitade deve ser feito em
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petição avulsa, que deverá ser processada em apenso aos autos principais, conforme
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previsto no art. 6º da LIA, e não no próprio corpo do recurso, constituindo erro grosseiro
essa prática (STJ. REsp 1229778/MA, DJe 13/12/2012).

INFORMATIVO esquematizado
A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita?
SIM. Isso é comumente chamado de “impugnação à justiça gratuita”, “impugnação à
concessão do benefício de assistência judiciária gratuita” ou revogação da justiça gratuita.
Esse pedido possui natureza jurídica de incidente do processo.
De acordo com a LAJ, a impugnação à justiça gratuita:
não suspende o curso do processo; e
deve ser feita em autos apartados (§ 2º do art. 4º).

E se a impugnação à justiça gratuita for formulada nos próprios autos (e não em autos
apartados)?
O juiz não deverá apreciar o pedido de revogação, mantendo, assim, o benefício da justiça
gratuita que já tenha sido concedido.
A Lei n. 1.060/50, em seus arts. 4º, § 2º e 7º c/c 6º, dispõe que a impugnação do direito à
assistência judiciária será feita em autos apartados.
Permitir que o pleito de revogação da assistência judiciária gratuita seja apreciado nos
próprios autos da ação principal resulta, além da limitação na produção de provas, em
indevido atraso no julgamento do feito principal, o que pode ocasionar prejuízos
irremediáveis às partes.
Desse modo, não deve ser apreciado o pedido de revogação de assistência judiciária
gratuita formulado nos próprios autos da ação principal, uma vez que isso configura
violação à Lei n. 1.060/50, além de ser um erro grosseiro da parte.
(STJ Corte Especial. EREsp 1286262/ES, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 19/06/2013).

O pedido de impugnação feito nos próprios autos poderá ser considerado pelo juiz como
mera irregularidade e, assim, ser apreciado?
NÃO. Não se pode entender que o processamento da impugnação nos próprios autos seja
mera irregularidade, pois a intenção do legislador foi a de evitar o tumulto processual,
determinando que tal exame fosse realizado em autos apartados, garantindo-se a ampla
defesa, o contraditório e o regular curso do processo. Assim, trata-se, como já dito, de erro
grosseiro, o que impede a sua apreciação (STJ EREsp 1286262/ES).
Processo STJ. Corte Especial. EREsp 1.286.262-ES, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 19/6/2013.

Réu que não concorda com processo distribuído por prevenção com base na conexão deverá
apresentar exceção de incompetência
A exceção de incompetência é meio adequado para que a parte ré impugne distribuição por
prevenção requerida pela parte autora com base na existência de conexão.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João ajuizou ação ordinária contra a empresa “XYZ”, processo que foi distribuído para a 2ª
Vara cível.
Pedro propôs ação ordinária contra João e, na petição inicial, pediu a distribuição por
dependência também para a 2ª Vara cível, alegando que a demanda era conexa com a ação
ajuizada por João contra a empresa “XYZ”.
João foi citado e entende que não há conexão no presente caso.

A alegação de inexistência de conexão deverá ser feita por meio de qual espécie de defesa?
Exceção de incompetência.
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Se o réu discordar de um processo que foi distribuído por prevenção requerido com base na
existência de conexão, deverá fazê-lo por meio de uma exceção de incompetência.
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Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.156.306-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/8/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Sentença ilíquida em restituição de PIS: liquidação por artigos

Em sede de execução contra a fazenda pública, far-se-á a liquidação por artigos na hipótese em
que, diante da insuficiência de documentos nos autos, for necessária a realização de análise
contábil para se chegar ao valor a ser restituído a título de contribuição ao PIS paga a maior.
Comentários LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Sentença deve ser líquida


Em regra, a sentença deve ser líquida.

O que é sentença líquida?


Apesar de existirem opiniões em sentido contrário, para o CPC, sentença líquida é aquela
que define o quantum debeatur, ou seja, é aquela que fixa o valor da obrigação devida.

Pode acontecer de ser prolatada uma sentença sem que conste o valor da condenação
(ilíquida)?
SIM. O ideal é que a sentença seja líquida. Em alguns casos, no entanto, pode ocorrer de
não ser possível se determinar o valor da condenação já na sentença. Nessas hipóteses,
deverá ser realizada a liquidação da sentença, conforme prevê o CPC:
Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação.

Desse modo, a liquidação da sentença é a etapa do processo que ocorre após a fase de
conhecimento e que se destina a descobrir o valor da obrigação (quantum debeatur)
quando não foi possível fixar essa quantia diretamente na sentença.

Objetivo da liquidação: descobrir o quantum debeatur e, assim, poder permitir o


cumprimento da sentença (execução).

Espécies de liquidação:
O CPC previu duas espécies de liquidação:
a) por arbitramento;
b) por artigos.

ESPÉCIES DE LIQUIDAÇÃO
POR ARBITRAMENTO POR ARTIGOS
Ocorre quando for necessária a realização Ocorre quando for necessário alegar e
de uma PERÍCIA para se descobrir o provar um FATO NOVO para se descobrir o
quantum debeatur. quantum debeatur.
É utilizada quando forem necessários
outros meios de prova para se determinar
o valor da condenação, além da perícia.

Obs: fato novo é aquele que não tenha sido


analisado e decidido durante o processo.
Não significa necessariamente que tenha
surgido após a sentença.
Novo = ainda não apreciado no processo.
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Ex: João estava construindo um prédio, Ex: Pedro foi vítima de infecção hospitalar.
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tendo essa construção causado danos na O juiz condena o hospital a pagar todas as
estrutura do imóvel vizinho. O juiz condena despesas que ele já teve por conta da

INFORMATIVO esquematizado
João a indenizar o réu. Na fase de infecção, bem como as que ainda terá após
liquidação, um engenheiro irá fazer um a sentença. Na fase de liquidação da
laudo dos prejuízos causados. sentença, Pedro irá alegar e provar os
gastos que teve após a sentença.

E a chamada “liquidação por cálculos”?


A denominada “liquidação por cálculos de contador” é aquela que exige mera operação
aritmética para se chegar ao quantum debeatur.
Antigamente, uma sentença que trazia uma condenação que necessitasse de cálculos
deveria ser obrigatoriamente remetida à contadoria do juízo, fazendo com que houvesse
um atraso na execução, tendo em vista a natural demora desse órgão (por conta do volume
de serviço) em apresentar os cálculos.
Pensando nisso, e a fim de agilizar o processo, o legislador, em 1994 (Lei n. 8.898), acabou
com a liquidação por cálculo.
Assim, atualmente, quando o quantum debeatur puder ser apurado mediante simples
cálculo aritmético (o que pode ser feito por programas gratuitos na internet) não será
necessária liquidação. O próprio credor deverá fornecer os cálculos que seriam feitos pela
contadoria.
Se o juiz achar que os cálculos apresentados pelo exequente podem estar errados, aí sim
será determinada a remessa dos autos à contadoria do juízo para exame.

Essa sistemática está prevista no art. 475-B do CPC:


Art. 475-B. Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo
aritmético, o credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta
Lei, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo.
(...)
§ 3º Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo
credor aparentemente exceder os limites da decisão exequenda e, ainda, nos casos de
assistência judiciária.
§ 4º Se o credor não concordar com os cálculos feitos nos termos do § 3º deste artigo, far-
se-á a execução pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora terá por base o valor
encontrado pelo contador.

Resumindo:
Não será necessária liquidação.
Quando a determinação do valor
Não é o contador do juízo quem faz o cálculo.
da condenação depender apenas
O próprio credor deverá apresentar a memória
de cálculo aritmético.
discriminada e atualizada do cálculo.
a) Quando o juiz desconfiar que a memória
O juiz deverá determinar que o apresentada pelo credor esteja errada;
cálculo seja feito pela contadoria b) Quando o credor for beneficiário da justiça gratuita
do juízo em duas situações: (presume-se que ele não pode contratar alguém
para fazer os seus cálculos).

Caso concreto julgado pelo STJ:


Determinada empresa ajuizou ação de repetição de indébito contra a União pedindo a
restituição de PIS pago a maior.
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O juiz sentenciou o pedido procedente, não especificando, contudo, o valor exato da


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condenação (sentença ilíquida, ou seja, sem o quantum debeatur).


Após o trânsito em julgado, a credora quer iniciar o procedimento de execução contra a

INFORMATIVO esquematizado
Fazenda Pública. No entanto, será necessária ainda a liquidação da sentença.
Para se apurar o quantum debeatur, percebe-se que haverá a necessidade de serem
juntados novos documentos que comprovem a movimentação contábil da empresa no
período discutido.

Nesse caso, qual a espécie de liquidação deverá ser realizada?


Liquidação por artigos.

Segundo decidiu o STJ, em sede de execução contra a fazenda pública, far-se-á a liquidação
por artigos na hipótese em que, diante da insuficiência de documentos nos autos, for
necessária a realização de análise contábil para se chegar ao valor a ser restituído a título de
contribuição ao PIS paga a maior.

No caso concreto, constatou-se que as planilhas que estavam nos autos eram insuficientes
para se chegar ao quantum debeatur, sendo necessária uma análise contábil para se
descobrir o valor de fato recolhido a maior.

Assim, será necessário alegar e provar o faturamento da empresa (base de cálculo para
apuração do PIS) e outros fatos relacionados com o balanço contábil.
Processo STJ. 1ª Seção. EREsp 1.245.478-AL, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 11/9/2013.

Estado descumpriu sentença transitada em julgado que determinou a inclusão de gratificação


em folha de pagamento: adimplemento por folha suplementar

Devem ser adimplidas por meio de folha suplementar – e não por precatório – as parcelas
vencidas após o trânsito em julgado que decorram do descumprimento de decisão judicial que
Advocacia tenha determinado a implantação de diferenças remuneratórias em folha de pagamento de
pública
servidor público.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro, servidor público estadual, entende que possui direito de receber, mensalmente, a
gratificação “D1”, criada em 2008, e que não é paga a ele.

Diante disso, em 2010, ajuizou uma ação contra o Estado-membro formulando os seguintes
pedidos:
a) que seja declarado que ele possui direito à referida gratificação desde o ano de 2008;
b) que seja o Estado-membro condenado a incluir, após o trânsito em julgado, a
gratificação mensal em sua remuneração;
c) que seja o Estado-membro condenado a pagar, retroativamente, o valor da gratificação
desde 2008 até o momento em que ela for incluída na sua remuneração (trânsito em
julgado).

Os três pedidos foram procedentes, tendo havido o trânsito em julgado em 04/02/2012.

Conforme o pedido “b”, após o trânsito em julgado, a gratificação deveria ser incluída na
remuneração mensal de Pedro. Ocorre que o Estado-membro, mesmo com a condenação,
somente fez essa inclusão em 04/12/2012, ou seja, 10 meses após.
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Os valores devidos a Pedro deverão ser pagos pelo Estado-membro por meio de precatório?
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INFORMATIVO esquematizado
Valores retroativos da gratificação: SIM
Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por
sentença judicial transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este
pagamento será feito sob um regime especial chamado de “precatório”. É o que
determina, como regra, o art. 100 da CF/88.
Assim, o autora terá que executar o Estado-membro segundo o demorado rito do art.
730 do CPC.

Valores relativos aos 10 meses que o Estado atrasou para implementar a gratificação: NÃO
Segundo decidiu o STJ, devem ser adimplidas por meio de folha suplementar (e não por
precatório) as parcelas vencidas após o trânsito em julgado que decorram do
descumprimento de decisão judicial que tenha determinado a implantação de
diferenças remuneratórias em folha de pagamento de servidor público.
O jurisdicionado, que teve seu direito reconhecido com trânsito em julgado, não pode
ser prejudicado pela inércia da Administração Pública em cumprir a sentença de
procedência.
Assim, decidiu o STJ que, descumprido o comando judicial existente no título judicial
exequendo, que determinou que o devedor implantasse as diferenças remuneratórias
devidas ao credor em folha de pagamento, o adimplemento dessas parcelas se dá por
meio de folha de pagamento suplementar, e não por precatório.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no Ag 1.412.030-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 27/8/2013.

É possível a emenda da inicial do MS para corrigir equívoco na indicação da autoridade coatora

Deve ser admitida a emenda à petição inicial para corrigir equívoco na indicação da
autoridade coatora em mandado de segurança, desde que a retificação do polo passivo não
implique alteração de competência judiciária e desde que a autoridade erroneamente indicada
pertença à mesma pessoa jurídica da autoridade de fato coatora.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João impetra um mandado de segurança contra o diretor de uma autarquia estadual.
A autoridade impetrada apresenta informações arguindo unicamente a sua ilegitimidade e
afirmando que não tem poderes para desfazer o ato, sendo competente o superintendente
da autarquia.

O juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito ou poderá permitir que o autor
emende a petição inicial e corrija o polo passivo da demanda, apontando o superintendente
como autoridade coatora?
É permitido que o autor do mandado de segurança faça a emenda da petição inicial para
corrigir equívoco na indicação da autoridade coatora, desde que atendidos dois requisitos:
a) a retificação do polo passivo não poderá implicar alteração de competência judiciária
(ex: se o MS foi impetrado em 1ª instância, não é possível alterar o polo passivo se a
competência passa a ser do Tribunal); e
b) a autoridade que é realmente competente deve pertencer à mesma pessoa jurídica
daquela que foi indicada erroneamente como coatora.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 368.159-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/10/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PENAL

Furto qualificado mediante escalada pode ser provado por outras provas além da perícia

Para que seja configurado o furto qualificado mediante escalada é dispensável a realização de
perícia, desde que existam outras provas que demonstrem a ocorrência da escalada (exs:
filmagem, fotos, testemunhos etc.).
Comentários No § 4º do art. 155, o Código Penal prevê espécies de furto qualificado.
Uma dessas hipóteses ocorre quando o agente pratica o furto por meio de escalada.
Art. 155 (...)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

O que caracteriza o furto mediante escalada?


Haverá furto mediante escalada quando o agente utilizar alguma via (caminho) anormal
para entrar ou sair do local onde será feita a subtração.
Vale ressaltar que a escalada aqui não significa necessariamente subir em algum lugar.
O sentido de escalada, para os fins do art. 155, § 4º, II, do CP é o de transpor um difícil
obstáculo.
É necessário que o autor do furto tenha feito uso de esforço físico incomum (fora do
ordinário) para vencer o obstáculo.
Assim, haverá furto qualificado mediante escalada se o agente transpor um muro muito
alto, mas também estará configurado o delito se ele entrar no imóvel por um túnel
subterrâneo construído para esse fim.
Ex: no famoso assalto ao Banco Central do Ceará, onde os ladrões fizeram um túnel
subterrâneo, seria possível caracterizar essa conduta como furto qualificado mediante
escalada (art. 155, § 4º, II, do CP).

Para a caracterização da qualificadora é necessária perícia?


SIM. Em regra, a qualificadora do crime de furto mediante escalada exige o exame pericial
para a sua comprovação, nos termos do art. 158 do CPP:
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Essa perícia é imprescindível? Para que seja configurado o furto qualificado mediante
escalada é indispensável a realização de perícia?
NÃO, é possível a condenação sem que haja perícia, desde que existam outras provas que
demonstrem a ocorrência da escalada. É o caso, por exemplo, de filmagem, fotos,
testemunhos etc.

Justamente por isso, a 5ª Turma do STJ decidiu que, ainda que não tenha sido realizado
exame de corpo de delito, pode ser reconhecida a presença da qualificadora de escalada do
crime de furto (art. 155, § 4º, II, do CP) na hipótese em que a dinâmica delitiva tenha sido
registrada por meio de sistema de monitoramento com câmeras de segurança e a
materialidade do crime qualificado possa ser comprovada por meio das filmagens e
também por fotos e testemunhos.
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Tema não pacífico


Ressalte-se que se trata de assunto ainda polêmico na jurisprudência do STJ, uma vez que
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há julgados afirmando que a perícia só é dispensável quando não puder ser realizada:

INFORMATIVO esquematizado
(...) A qualificadora da escalada somente pode ser aplicada ao crime de furto mediante
realização de exame pericial. Tendo em vista que se trata de infração que deixa vestígio, é
imprescindível a realização do laudo, por expressa disposição legal, cabendo destacar que a
sua substituição por outros meios probatórios apenas é possível quando não existirem mais
os vestígios ou não for possível a realização da perícia. (...)
(HC 223.890/MG, Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), 5ª Turma, julgado em 21/05/2013)

(...) Tratando-se o furto qualificado pela escalada, infração que deixa vestígio, é
indispensável a realização de perícia para a comprovação da qualificadora, a qual somente
pode ser suprida por prova testemunhal quando desaparecerem os vestígios de seu
cometimento ou estes não puderem ser constatados pelos peritos. Exegese dos arts. 158 e
167 do CPP. (...)
(HC 202.670/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 02/08/2012)

Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.392.386-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/9/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Vara da infância e juventude pode julgar estupro de vulnerável se previsto na lei estadual?

Lei estadual poderá determinar que o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) seja
julgado pela vara da infância e juventude (art. 145 do ECA), mesmo não tendo o art. 148 do ECA
previsto competência criminal para essa vara especializada?
1ª corrente: SIM. Decisões da 1ª Turma do STF e 5ª Turma do STJ.
2ª corrente: NÃO. Decisão da 6ª Turma do STJ.

Comentários Lei estadual de organização judiciária


A organização judiciária de cada Estado é matéria de competência do Poder Legislativo
estadual, mediante lei de iniciativa do Poder Judiciário local (art. 125, § 1º, da CF/88):

§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de


organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Em outras palavras, o Tribunal de Justiça de cada Estado envia à Assembleia Legislativa um


projeto de lei disciplinando a estrutura e as competências do Tribunal, das comarcas e de
cada vara, entre outros assuntos. Essa lei, quando aprovada, é chamada de Lei (ou Código)
de organização judiciária. É como se fosse uma Lei orgânica do Poder Judiciário estadual.

A Lei de organização judiciária possui uma relativa liberdade para disciplinar a competência
de cada juízo e vara. Assim, por exemplo, o Código de organização judiciária poderá prever
varas especializadas em crimes contra a ordem tributária, em crimes organizados, em
crimes de trânsito etc.

Varas especializadas e exclusivas da infância e juventude


O ECA previu, em seu art. 145, a possibilidade de os Estados criarem varas especializadas e
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exclusivas para tratar dos assuntos ali disciplinados. Essas varas ficaram conhecidas como
Página

“juizados da infância e juventude”. Veja a redação legal:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da
infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por
número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive
em plantões.

E qual é a competência das varas especializadas da infância e juventude?


O próprio ECA já afirma quais seriam as competências da vara especializada. Confira:
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato
infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à
criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,
aplicando as medidas cabíveis;
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à
criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.

Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é
também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou
guarda;
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao
exercício do poder familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de
outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e
óbito.

Os arts. 145 e 148 do ECA são inconstitucionais por violarem a competência dos Estados
para legislarem sobre a organização judiciária (art. 125, § 1º, da CF/88)?
NÃO. Isso porque o art. 145 do ECA não impôs uma obrigação aos Estados de que criassem
juizados da infância e juventude, estabelecendo apenas uma faculdade.
Assim, o art. 145 não cria varas judiciais, não define limites de comarcas nem estabelece um
número de magistrados a serem alocados nos Juizados da Infância e Juventude. Estes temas
seriam concernentes às peculiaridades e circunstâncias locais.
O mencionado artigo apenas faculta a criação dessas varas especializadas e o art. 148 do
ECA prevê as competências que tais juizados terão caso sejam criados.
Não há qualquer problema no fato de a lei federal sugerir aos Tribunais estaduais a criação
de órgãos jurisdicionais especializados. Vale ressaltar que, recentemente, o STF afirmou que
isso é constitucional, ao julgar válida a previsão do art. 33 da Lei Maria da Penha, que
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autoriza os Estados a criarem Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher


(Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).
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INFORMATIVO esquematizado
Competência da vara da infância e juventude para julgar estupro de vulnerável
No Rio Grande do Sul, a lei estadual previu que a vara da infância e juventude, além das
matérias previstas no art. 148 do ECA, teria competência também para julgar os réus
(adultos) que cometem o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, do CP).
Assim, a lei gaúcha ampliou as hipóteses de competência da vara da infância e juventude,
conferindo a possibilidade de ela julgar processos criminais, o que não é previsto no art. 148
do ECA.

Essa previsão da lei estadual é válida?


Existe polêmica sobre o assunto, havendo decisões nos dois sentidos:
SIM NÃO
1ª Turma do STF: HC 113102, Rel. Min. 6ª Turma do STJ:
Marco Aurélio, julgado em 18/12/2012. “(...) o ECA permitiu que os Estados e o
Distrito Federal possam criar, na estrutura
5ª Turma do STJ: HC 219.218/RS, Rel. Min. do Poder Judiciário, varas especializadas e
Laurita Vaz, julgado em 17/09/2013. exclusivas para processar e julgar
demandas envolvendo crianças e
Argumento principal: os Estados-membros adolescentes (art. 145). Todavia, o referido
são autorizados pelo art. 125, § 1º da diploma restringiu, no seu art. 148, quais
CF/88 a distribuir as competências entre as matérias podem ser abrangidas por essas
diversas varas. varas. Neste dispositivo, não há previsão
de competência para julgamento de feitos
criminais na hipótese de vítimas crianças
ou adolescentes. Dessa forma, não é
possível a ampliação do rol de competência
do juizado da infância e da juventude por
meio de lei estadual, de modo a modificar
o juízo natural da causa.” RHC 37.603-RS,
Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe
16/10/2013.

O tema ainda não é pacífico e será necessário aguardar mais um pouco para se ter plena
certeza da posição do STJ.
Processo STJ.
5ª Turma. HC 219.218/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 17/09/2013.
6ª Turma. RHC 37.603-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe 16/10/2013.

O magistrado não pode negar a concessão do indulto com base em pressupostos não previstos
no Decreto presidencial, sob pena de violar o princípio da legalidade

O Presidente da República editou um Decreto Presidencial concedendo o “indulto natalino”.


O juiz negou a concessão do indulto, afirmando que o condenado praticou falta grave.
Ocorre que essa falta grave foi praticada em período diverso daquele previsto no Decreto.
Desse modo, o STJ entendeu que não poderia ser negado o benefício ao condenado.
Para o Tribunal, na hipótese em que o Decreto Presidencial de comutação de pena estabeleceu,
como requisito para a concessão desta, o não cometimento de falta grave durante determinado
período, a prática de falta grave pelo apenado em momento diverso não constituirá, por si só,
motivo apto a justificar a negativa de concessão do referido benefício pelo juízo da execução.
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Comentários Vamos fazer uma breve revisão de anistia, graça e indulto:


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Anistia graça e indulto:


- São formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir.
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- Classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP).
- A anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso)
ou pelo Poder Executivo (nos dois últimos), no entanto, somente geram a extinção da
punibilidade com a decisão judicial.
- Podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

ANISTIA GRAÇA INDULTO


(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido pelo Concedidos por Decreto do Presidente da República.
Congresso Nacional, com a sanção
do Presidente da República (art. 48, Apagam o efeito executório da condenação.
VIII, CF/88), por meio do qual se
“perdoa” a prática de um fato A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
criminoso. Procurador Geral da República
Normalmente incide sobre crimes Advogado Geral da União.
políticos, mas também pode Ministros de Estado
abranger outras espécies de delito.
É concedida por meio de uma lei Concedidos por meio de um Decreto.
federal ordinária.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais
antes do trânsito em julgado benefícios só podem ser concedidos após o trânsito
(anistia própria) em julgado da condenação. Esse entendimento, no
depois do trânsito em julgado entanto, está cada dia mais superado, considerando
(anistia imprópria) que o indulto natalino, por exemplo, permite que
seja concedido o benefício desde que tenha havido
o trânsito em julgado para a acusação ou quando o
MP recorreu, mas não para agravar a pena imposta
(art. 5º, I e II, do Decreto 7.873/2012).
Classificação: Classificação
a) Propriamente dita: quando a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
concedida antes da condenação. b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a
b) Impropriamente dita: quando pena (comutação).
concedida após a condenação.
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer
a) Irrestrita: quando atinge condição.
indistintamente todos os autores b) Condicionado: quando impõe condição para sua
do fato punível. concessão.
b) Restrita: quando exige condição
pessoal do autor do fato punível. a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex:
Ex: exige primariedade. exige primariedade.
b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais
a) Incondicionada: não se exige
do agente.
condição para a sua concessão.
b) Condicionada: exige-se
condição para a sua concessão. Ex:
reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes comuns.


b)Especial: atinge crimes políticos.
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Extingue os efeitos penais Só extinguem o efeito principal do crime (a pena).


(principais e secundários) do crime.
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Os efeitos de natureza civil Os efeitos penais secundários e os efeitos de
permanecem íntegros. natureza civil permanecem íntegros.

O réu condenado que foi O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
anistiado, se cometer novo crime, indulto, se cometer novo crime, será reincidente.
não será reincidente.
É um benefício coletivo que, por É um benefício individual É um benefício coletivo
referir-se somente a fatos, atinge (com destinatário certo). (sem destinatário certo).
apenas os que o cometeram. Depende de pedido do É concedido de ofício
sentenciado. (não depende de
provocação).

Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos,
concedendo indulto. Esse Decreto é conhecido como “indulto natalino”

Caso concreto
O Presidente da República editou um Decreto Presidencial concedendo o “indulto natalino”.
O juiz negou a concessão do indulto, afirmando que o condenado praticou falta grave.
Ocorre que o Decreto previu que o condenado teria que cumprir todos os requisitos
(inclusive não ter cometido falta grave) durante determinado período e o reeducando
praticou a falta grave em momento diverso.
Desse modo, o STJ entendeu que não poderia ser negado o benefício ao condenado.
Para o Tribunal, na hipótese em que o Decreto Presidencial de comutação de pena
estabeleceu, como requisito para a concessão desta, o não cometimento de falta grave
durante determinado período, a prática de falta grave pelo apenado em momento diverso
não constituirá, por si só, motivo apto a justificar a negativa de concessão do referido
benefício pelo juízo da execução.
Com efeito, não cabe ao magistrado criar pressupostos não previstos no Decreto
Presidencial, para que não ocorra violação do princípio da legalidade.
Assim, preenchidos os requisitos estabelecidos no mencionado decreto, não há como
condicionar ou impedir a concessão da comutação da pena ao reeducando sob nenhum
outro fundamento, tendo a sentença natureza jurídica meramente declaratória.
Vale ressaltar, ainda, que o cometimento de falta grave não interrompe o prazo estipulado
como critério objetivo para concessão de comutação da pena caso o decreto presidencial
concessivo assim não preveja.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 266.280-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/8/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) É prerrogativa do membro do Ministério Público, no exercício de sua função, tomar assento à direita dos Juízes de
primeira instância ou do Presidente do Tribunal, Câmara ou Turma. ( )
2) É possível que o vício da ausência de motivação seja corrigido em momento posterior à edição dos atos
administrativos impugnados. ( )
3) (DPE/MA 2011 CESPE) Com relação ao que estabelece a Lei de Licitações acerca dos contratos administrativos,
assinale a opção correta. A declaração de nulidade do contrato, imputável ao contratado, exonera a
administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data da declaração. ( )
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4) (Promotor MP/RR 2012 CESPE) De acordo com o entendimento do STJ, o ato de improbidade administrativa
praticado pelo agente que deixe de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo se confunde com o atraso na
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prestação de contas, prescindindo-se, para o seu enquadramento na lei de improbidade, da demonstração do


elemento subjetivo (má fé ou dolo genérico) na conduta omissiva do agente político. ( )
INFORMATIVO esquematizado
5) (DPE/AC 2012 CESPE) Por suas características e natureza, as pessoas jurídicas sem fins lucrativos não necessitam
comprovar a insuficiência econômica para gozar da benesse da gratuidade da justiça. ( )
6) (DPE/SC 2012 FEPESE) Os cidadãos necessitados que fizerem jus ao benefício da assistência judiciária gratuita, prevista
na Lei Federal no 1.060, de 1950, deverão, necessariamente, optar por fazer uso do serviço da Defensoria Pública. ( )
7) (DPE/AC 2012 CESPE) O pedido de assistência judiciária gratuita formulado no curso da ação deve ser deduzido
em petição a ser proposta em separado e autuada em apenso aos autos principais, podendo a proposição no
corpo de petição de recurso ser considerada erro grosseiro. ( )
8) (DPE/MS 2012) A impugnação do direito à assistência judiciária suspende o curso do processo e será feita em
autos apartados. ( )
9) (Juiz TJBA 2012 CESPE) A assistência judiciária gratuita não pode ser concedida a pessoas jurídicas, e a declaração
de necessitado opera efeitos juris et de juri. ( )
10) (Promotor MP/RO 2010 CESPE) A assistência judiciária gratuita
A) independe de decisão judicial.
B) não isenta a parte do pagamento de custas cabíveis nos recursos.
C) é definida em razão do valor da causa, que não pode ultrapassar vinte salários mínimos.
D) não isenta a parte assistida do pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais em caso de derrota.
E) pode ser requerida no curso da ação.

11) (Promotor MP/RO 2010 CESPE) Para que sejam deferidos à pessoa jurídica os benefícios da assistência judiciária
gratuita, basta que a interessada declare não ter condições de arcar com as despesas inerentes ao exercício da
jurisdição. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. C 8. E 9. E 10. Letra E 11. E

JULGADO QUE NÃO FOI COMENTADO POR SER DE MENOR


RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS
DIREITO TRIBUTÁRIO. REPETIÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS E DA COFINS NA HIPÓTESE DE
CONTRIBUINTE VINCULADO À TRIBUTAÇÃO PELO LUCRO PRESUMIDO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C
DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
O contribuinte vinculado ao regime tributário por lucro presumido tem direito à restituição de valores –
referentes à contribuição para o PIS e à COFINS – pagos a maior em razão da utilização da base de cálculo
indicada no § 1º do art. 3º da Lei 9.718/1998, mesmo após a EC 20/1998 e a edição das Leis 10.637/2002 e
10.833/2003. De início, esclarece-se que o STF declarou inconstitucional o § 1º do art. 3º da Lei 9.718/1998,
isso porque a norma ampliou indevidamente o conceito de receita bruta, desconsiderando a noção de
faturamento pressuposta na redação original do art. 195, I, b, da CF. Assim, o faturamento deve ser
compreendido no sentido estrito de receita bruta decorrente da venda de mercadorias e da prestação de
serviços de qualquer natureza, ou seja, considerando a soma das receitas oriundas do exercício das atividades
empresariais. Entretanto, a reconhecida inconstitucionalidade não se estende às Leis 10.637/2002 e
10.833/2003, tendo em vista a nova redação atribuída ao art. 195, I, b, da CF pela EC 20/1998, prevendo que
as contribuições sociais pertinentes também incidissem sobre a receita. Além do mais, deve-se ressaltar que,
após a EC 20/1998 e a edição das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, o direito à repetição passou a ser
condicionado ao enquadramento no rol do inciso II dos arts. 8º e 10 das referidas leis, respectivamente, que
excluem determinados contribuintes da sistemática não-cumulativa, quais sejam: “as pessoas jurídicas
tributadas pelo imposto de renda com base no lucro presumido ou arbitrado”. Dessa forma, mesmo após as
mudanças legislativas mencionadas, o contribuinte vinculado à sistemática de tributação pelo lucro
presumido não foi abrangido pelos novos ditames legais, estando submetido à Lei 9.718/1998, com todas as
restrições impostas pela declaração de inconstitucionalidade no STF. Precedentes citados do STJ: AgRg no
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REsp 961.340-SC, Segunda Turma, DJe 23/11/2009; e REsp 979.862-SC, Segunda Turma, DJe 11/6/2010.
REsp 1.354.506-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/8/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
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Informativo 530 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.201.635-MG; REsp 1.114.605-PR.

ÍNDICE

Direito Administrativo
Servidor que é obrigado a pedir exoneração por interpretação equivocada de acumulação ilícita deverá
ser indenizado com base na extensão do dano e não na teoria da perda de uma chance.
Na ação de indenização por desapropriação indireta, os honorários periciais devem ser adiantados pela
parte que requer a realização da perícia.
O servidor público não pode ser designado para exercer atribuições diversas de seu cargo mesmo que
esteja presente o interesse público.

Direito Civil
Aplicação do art. 200 do CC para os casos de ação de indenização proposta contra o terceiro
responsável (art. 932 do CC).
Condômino que possui mais de uma unidade poderá votar quanto àquelas em que esteja adimplente
com relação à cota condominial.
DPVAT e situação que não constava como invalidez na lista do CNSP.
Em ação declaratória de inexistência de parentesco ajuizada por um irmão contra o outro, a recusa do
réu em se submeter ao DNA não gera presunção de inexistência do parentesco.

Direito do Consumidor
Consumidor por equiparação.
Roubo ocorrido em valet parking de restaurante.
Distrato da promessa de compra e venda e retenção de parte dos valores pagos pelo promitente
comprador.

Direito Notarial e Registral


No desmembramento de serventias, não há necessidade de consulta prévia aos titulares atingidos pela
medida.
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www.dizerodireito.com.br
Direito Empresarial
Contribuição previdenciária reconhecida por juiz trabalhista pode ser habilitada na falência sem CDA.

Direito Processual Civil


Honorários advocatícios no cumprimento de sentença não precisa levar em consideração a multa do
art. 475-J do CPC.
Empresa não pode recorrer contra a decisão do juiz que redireciona a execução fiscal contra o sócio.
Se houve um litisconsórcio passivo facultativo comum na ACP e apenas um dos demandados tiver foro
na Justiça Federal, esta não será competente para julgar os demais réus.

Direito Penal
É possível a condenação pelos arts. 90 e 96, I, da Lei 8.666/93 em concurso formal.

Direito Processual Penal


Magistrado que utiliza termos mais fortes contra o réu na sentença não é suspeito.

Direito Tributário
Cobrança de tarifa de esgoto e concessionária que realiza apenas uma das etapas do serviço de
esgotamento sanitário.
Isenção de IPI para pessoa com incapacidade total para direção de veículo comum.
É aplicável a pena de multa (e não de perdimento) no caso de subfaturamento de mercadoria
importada.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Servidor que é obrigado a pedir exoneração por interpretação equivocada de acumulação ilícita
deverá ser indenizado com base na extensão do dano e não na teoria da perda de uma chance

No caso em que o servidor público foi impedido irregularmente de acumular dois cargos públicos
em razão de interpretação equivocada da Administração Pública, o Estado deverá ser condenado e,
na fixação do valor da indenização, não se deve aplicar o critério referente à teoria da perda da
chance, e sim o da efetiva extensão do dano causado, conforme o art. 944 do CC.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Maria exercia dois cargos públicos.
Determinado dia, o órgão de controle interno da Administração Pública exarou um parecer
afirmando que os cargos ocupados pela servidora não se enquadravam em nenhuma das
hipóteses do art. 37, XVI, da CF/88 e que, portanto, ela deveria ser notificada para pedir
exoneração de um deles no prazo de 30 dias.
Após ser notificada, Maria pediu exoneração do segundo cargo, no qual recebia 2 mil reais.
Um ano depois, o órgão de controle interno reviu aquele posicionamento e passou a
entender que os cargos que eram ocupados pela servidora enquadravam-se na situação do
art. 37, XVI, “c”, da CF/88.
Ocorre que Maria já havia pedido exoneração.
Diante disso, Maria ajuizou uma ação de indenização contra o Estado pedindo a reparação
dos danos por ter sido obrigada a fazer a opção por um dos cargos públicos ocupados,
quando era possível a sua acumulação.
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Valor da indenização
A autora pediu, como valor da indenização, o dano material sofrido, ou seja, o valor da
remuneração que recebia até a provável idade de sua morte.
Em contestação, a PGE alegou que, em caso de sucumbência, o Estado deveria ser
condenado a pagar apenas uma indenização para a requerente a título de perda de uma
chance.

A questão chegou até o STJ. O que foi decidido?


Para o STJ, nesse caso concreto em que o servidor público foi impedido irregularmente de
acumular os cargos em razão de interpretação equivocada do Poder Público, o Estado
deverá ser condenado e, na fixação do valor da indenização, não se deve aplicar o critério
referente à teoria da perda da chance, e sim o da efetiva extensão do dano causado,
conforme o art. 944 do CC.

O que é a teoria da perda de uma chance?


Trata-se de teoria inspirada na doutrina francesa (perte d’une chance).
Segundo esta teoria, se alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca
uma oportunidade de obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja
indenização pelos danos causados.
Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima perca a
oportunidade de obter uma situação futura melhor.
Com base nesta teoria, indeniza-se não o dano causado, mas sim a chance perdida.

A teoria da perda de uma chance é adotada no Brasil?


SIM, essa teoria é aplicada pelo STJ, que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e
CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano
potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável
(REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009).

A teoria da perda de uma chance pode ser aplicada nas relações de direito público?
SIM, existem alguns Ministros do STJ que defendem que a teoria da perda de uma chance
poderia ser aplicada também nas relações entre o Estado e o particular. Nesse sentido: Min.
Mauro Campbell Marques e Min. Eliana Calmon.

E por que, no caso concreto, não poderia ser aplicada?


Na hipótese de perda da chance, o objeto da reparação é a perda da possibilidade de obter
um ganho como provável, sendo que “há que se fazer a distinção entre o resultado perdido
e a possibilidade de consegui-lo. A chance de vitória terá sempre valor menor que a vitória
futura, o que refletirá no montante da indenização.” (FILHO, Cavalieri. Programa de
Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2010).
Na situação em análise, o dano sofrido não advém da perda de uma chance, pois a
servidora já exercia ambos os cargos no momento em que foi indevidamente impedida de
fazê-lo, sendo este um evento certo, em relação ao qual não restam dúvidas. Não se trata,
portanto, da perda de uma chance de exercício cumulativo de ambos os cargos, porque isso
já ocorria, sendo que o ato ilícito imputado ao ente estatal gerou dano de caráter certo e
determinado, que deve ser indenizado de acordo com sua efetiva extensão (art. 944 do CC).
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.308.719-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/6/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Na ação de indenização por desapropriação indireta, os honorários periciais devem ser
adiantados pela parte que requer a realização da perícia
No âmbito de ação de indenização por desapropriação indireta, os honorários periciais devem
ser adiantados pela parte que requer a realização da perícia. Isso porque os arts. 19 e 33 do
CPC – que preveem a regra segundo a qual cabe à parte que requereu a prova pericial o ônus de
adiantar os respectivos honorários de perito – são plenamente aplicáveis à ação de
indenização por desapropriação indireta, regida pelo procedimento comum.
Comentários Conceito de desapropriação indireta
A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público) se apropria do bem de
um particular sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação, dentre
as quais a declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia.
Trata-se de um verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público.
A desapropriação indireta é também chamada de apossamento administrativo.

O que a pessoa faz no caso de desapropriação indireta?


Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade pública:
pode ser proposta uma ação possessória visando a manter ou retomar a posse do bem.
Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que houve
fato consumado e somente restará ao particular ajuizar uma “ação de desapropriação
indireta” a fim de ser indenizado. Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41:

Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser
objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de
desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

Ação de desapropriação indireta


Consiste, portanto, na ação proposta pelo prejudicado em face do Poder Público, que se
apossou do bem pertencente a particular sem observar as formalidades legais da
desapropriação.
Trata-se de uma ação condenatória, objetivando indenização por perdas e danos.
Também é chamada de “ação expropriatória indireta” ou “ação de ressarcimento de danos
causados por apossamento administrativo”.

Honorários do perito
Na ação de desapropriação indireta, é comum que a parte requeira a realização de perícia
para aferir o valor do bem.
O STJ decidiu que, nesse caso, os honorários periciais devem ser adiantados pela parte que
requer a realização da perícia. Isso porque os arts. 19 e 33 do CPC são plenamente
aplicáveis à ação de indenização por desapropriação indireta, considerando que esta é
regida pelo procedimento comum.

Art. 19. Salvo as disposições concernentes à justiça gratuita, cabe às partes prover as
despesas dos atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-lhes o pagamento
desde o início até sentença final; e bem ainda, na execução, até a plena satisfação do direito
declarado pela sentença.

Art. 33. Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver indicado; a do
perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando
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requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz.


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Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.343.375-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 5/9/2013.

INFORMATIVO esquematizado
O servidor público não pode ser designado para exercer atribuições diversas de seu cargo
mesmo que esteja presente o interesse público

A Administração Pública não pode, sob a simples alegação de insuficiência de servidores em


determinada unidade, designar servidor para o exercício de atribuições diversas daquelas
referentes ao cargo para o qual fora nomeado após aprovação em concurso.
Comentários Imagine a seguinte situação:
João foi aprovado em concurso público para o cargo de técnico judiciário.
Em razão da extrema necessidade do serviço, devidamente comprovada, ele foi lotado
como contador judicial, tendo, então, se insurgido contra esse ato.

A conduta do Poder Público foi correta?


NÃO. A Administração Pública não pode, sob a simples alegação de insuficiência de
servidores em determinada unidade, designar servidor para o exercício de atribuições
diversas daquelas referentes ao cargo para o qual fora nomeado após aprovação em
concurso.
O administrador deve agir de acordo com o que estiver expresso em lei, devendo designar
cada servidor para exercer as atividades que correspondam àquelas legalmente previstas.
Apenas em circunstâncias excepcionais previstas em lei – o que não ocorre na situação em
análise –, poderá o servidor público desempenhar atividade diversa daquela pertinente ao
seu cargo. Inexistindo as circunstâncias excepcionais, tem o servidor público o direito de ser
designado para exercer as atividades correspondentes ao cargo para o qual tenha sido
aprovado.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.248-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/8/2013.

A execução de decisão condenatória proferida pelo TCU, quando não houver inscrição em dívida
ativa, rege-se pelo CPC

A execução de decisão condenatória proferida pelo TCU, quando não houver inscrição em
dívida ativa, rege-se pelo CPC (e não pela execução fiscal).
Comentários O Tribunal de Contas da União é disciplinado pelos arts. 70 a 75 da CF/88 (Seção IX).
Os Tribunais de Contas dos Estados, por sua vez, são organizados pelas Constituições
estaduais. Contudo, por força do princípio da simetria, as regras do TCU também são
aplicadas, no que couber, aos TCE’s, conforme determina o art. 75 da CF:
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem
como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas
respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros.

No art. 71 da CF/88 estão elencadas as competências do TCU (que podem ser aplicadas
também aos TCE’s). De acordo com o inciso VIII do art. 71, o TCU (assim como os TCE’s)
pode aplicar multas aos administradores e demais responsáveis:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
(...)
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de
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contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa
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proporcional ao dano causado ao erário;

INFORMATIVO esquematizado
Assim, o Tribunal de Contas poderá aplicar multas ou determinar que o gestor faça o
ressarcimento de valores ao erário. Essa decisão da Corte de Contas materializa-se por meio
de um acórdão.

Caso o condenado não cumpra espontaneamente o acórdão do Tribunal de Contas e pague


os valores devidos, essa decisão poderá ser executada?
SIM. As decisões do Tribunal de Contas que determinem a imputação de débito
(ressarcimento ao erário) ou apliquem multa terão eficácia de título executivo extrajudicial,
nos termos do § 3º do art. 71 da CF/88. Logo, podem ser executadas por meio de uma ação
de execução de título extrajudicial.
Vale ressaltar que a decisão do Tribunal de Contas deverá declarar, de forma precisa, o agente
responsável e o valor da condenação, a fim de que goze dos atributos da certeza e liquidez.

A decisão do Tribunal de Contas precisa ser inscrita em dívida ativa?


NÃO. A finalidade de se inscrever o débito na dívida ativa é gerar uma certidão de dívida
ativa (CDA), que é um título executivo indispensável para o ajuizamento da execução.
Ocorre que o acórdão do Tribunal de Contas já é um título executivo extrajudicial por força
do art. 71, § 3º da CF/88 c/c o art. 585, VIII, do CPC.
Desse modo, não há necessidade de esse débito ser inscrito em dívida ativa.

A execução da decisão do Tribunal de Contas é feita mediante o procedimento da execução


fiscal (Lei n. 6.830/80)?
NÃO. O que se executa é o próprio acórdão do Tribunal de Contas (e não uma CDA). Assim,
trata-se de execução civil de título extrajudicial, seguindo as regras dos arts. 566 e ss do CPC.
Somente haverá execução fiscal se o título executivo for uma CDA. Nesse sentido:
(...) Consoante a orientação jurisprudencial predominante nesta Corte, não se aplica a Lei n.
6.830/80 à execução de decisão condenatória do Tribunal de Contas da União quando não
houver inscrição em dívida ativa. Tais decisões já são títulos executivos extrajudiciais, de modo
que prescindem da emissão de Certidão de Dívida Ativa - CDA, o que determina a adoção do rito
do CPC quando o administrador discricionariamente opta pela não inscrição. (...)
(REsp 1390993/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 10/09/2013)

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.390.993-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/9/2013.

DIREITO CIVIL

Aplicação do art. 200 do CC para os casos de ação de indenização proposta contra o terceiro
responsável (art. 932 do CC)

O termo inicial do prazo de prescrição para o ajuizamento da ação de indenização por danos
decorrentes de crime (ação civil ex delicto) é a data do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória, ainda que se trate de ação proposta contra empregador em razão de crime
praticado por empregado no exercício do trabalho que lhe competia.
Comentários João, na direção de veículo automotor, atropelou Pedro, causando-lhe lesões corporais.
Vale ressaltar que João era motorista da transportadora “A” e estava dirigindo o carro da
empresa para fazer uma entrega.
Esse fato pode ser analisado sob dois aspectos: o penal e o cível.
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Sob o aspecto penal: João pode responder pelo crime de lesão corporal culposa na direção
de veículo automotor (art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB).

INFORMATIVO esquematizado
Sob o aspecto cível: João e/ou a transportadora podem ser condenados a pagar indenização
pelos danos causados a Pedro (art. 927 e art. 932, III, do CC).

O julgamento criminal interfere na decisão cível?


Regra geral: NÃO. Como regra, a responsabilidade civil é independente da criminal. Trata-se
do princípio da independência das instâncias (art. 935, primeira parte, CC).

Exceções:
Essa independência é relativa (não é absoluta). Assim, em algumas hipóteses, o julgamento
criminal irá influenciar na decisão cível.

1) Se a decisão for condenatória: irá influenciar na decisão cível.


Um dos efeitos da condenação é tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime (art. 91, I, do CP). Logo, o juízo cível não poderá dizer que o fato não existiu ou que o
condenado não foi o seu autor. Transitada em julgado a sentença condenatória, ela poderá
ser executada, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano (art. 63 do CPP).

2) Se a decisão for absolutória: nem sempre irá influenciar na decisão cível.


Assim, mesmo o réu tendo sido absolvido no juízo penal, ele pode, em alguns casos, ser
condenado no juízo cível a indenizar a vítima. A absolvição criminal pode ocorrer por uma
das hipóteses do art. 386 do CPP.

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato infração penal;
IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;
V - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;
VI - existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22,
23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre
sua existência;
VII - não existir prova suficiente para a condenação.

Incisos I e IV: a sentença penal absolutória faz coisa julgada no cível.

Incisos II, III, V e VII: mesmo com a sentença penal absolutória, a pessoa pode ser
condenada no juízo cível.

Inciso VI: pode fazer coisa julgada no cível ou não, dependendo do caso (vide art. 188
do CC).

É comum que a ação cível e a ação penal tramitem paralelamente. Para evitar decisões
contraditórias, se a ação penal ainda não tiver sido julgada, o juízo cível poderá suspender a
ação de indenização enquanto aguarda o desfecho do processo penal:
Código de Processo Civil
Art. 265. Suspende-se o processo:
IV - quando a sentença de mérito:
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a) depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou inexistência


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da relação jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente;

INFORMATIVO esquematizado
§ 5º Nos casos enumerados nas letras a, b e c do n. IV, o período de suspensão nunca
poderá exceder 1 (um) ano. Findo este prazo, o juiz mandará prosseguir no processo.

No exemplo que demos acima, qual é o prazo prescricional para que Pedro (vítima do
atropelamento) ingresse com ação de indenização contra João (causador do dano) ou
contra a transportadora?
O prazo é de 3 anos, com base no art. 206, § 3º, V, do Código Civil:
Art. 206. Prescreve:
§ 3º Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;

O Código Civil prevê a suspensão do prazo prescricional para a ação de reparação civil (ação
de indenização) se o fato estiver sendo apurado no juízo criminal. Veja:
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

Voltando ao nosso exemplo:


O acidente ocorreu em 2007.
Foi instaurado processo criminal contra João e este foi condenado, com sentença transitada
em julgado em 2011.
Logo, o prazo para que Pedro ajuíze ação de indenização contra João (causador do dano)
somente se iniciou em 2011.

E o prazo prescricional contra a transportadora também ficou suspenso aguardando o


processo criminal? Aplica-se o art. 200 do CC também para a ação proposta contra o
empregador do causador do dano?
SIM. Segundo decidiu o STJ, é possível a extensão do art. 200 do CC para além do suposto
infrator, isto é, para as hipóteses de responsabilização de terceiro por fato de outrem (na
espécie, a responsabilização do empregador pelos atos do preposto).

Essa é a opinião também da doutrina:


“(...) não obstante a ação penal só se dirija contra os autores do dano, o prazo prescricional
ficará suspenso, também, para o ajuizamento da ação contra os responsáveis, já que na lei não
se encontra limitação desse efeito (art. 932 do CC)” (DUARTE, Nestor. Coord. Cezar Peluso.
Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 6ª ed. Barueri: Manole, 2012, p. 151).

Logo, o prazo para que a vítima ajuíze ação de indenização contra a transportadora também
somente se iniciou em 2011, data em que houve o trânsito em julgado da sentença
condenatória.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.135.988-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/10/2013.

Condômino que possui mais de uma unidade poderá votar quanto àquelas em que esteja
adimplente com relação à cota condominial

O condômino proprietário de diversas unidades autônomas, ainda que inadimplente em


relação a uma ou algumas destas, terá direito de participação e de voto relativamente às suas
unidades que estejam em dia com as taxas do condomínio.
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Comentários Conceito:
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Ocorre o condomínio edilício quando se tem a propriedade exclusiva de uma unidade


autônoma combinada com a copropriedade de outras áreas de um imóvel.

INFORMATIVO esquematizado
Ex1: prédio residencial com 6 andares e 2 apartamentos por andar. Tem-se um condomínio
edilício, considerando que cada dono do apartamento possui a propriedade exclusiva da sua
unidade autônoma (apartamento) e as áreas comuns do edifício (piscina, churrasqueira,
quadra de esportes etc.) pertencem a todos os condôminos.

Ex2: prédio comercial com várias salas. Se determinado advogado compra uma das salas
para servir como seu escritório, ele terá a propriedade individual sobre a sala (unidade
autônoma) e a copropriedade sobre as partes comuns (corredores, recepção etc.).

Direitos dos condôminos:


No art. 1.335 do CC estão previstos os direitos dos condôminos no condomínio edilício.
Repare no inciso III, que trata sobre o direito ao voto:
Art. 1.335. São direitos do condômino:
I - usar, fruir e livremente dispor das suas unidades;
II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a
utilização dos demais compossuidores;
III - votar nas deliberações da assembléia e delas participar, estando quite.

Desse modo, por expressa previsão legal, o condômino não poderá votar se estiver em
débito com as obrigações condominiais (cotas condominiais).

Proprietário de várias unidades e que esteja em débito com relação a algumas:


Imagine agora a seguinte situação:
João possui três apartamentos no edifício “Morar Bem” (apts. 501, 502 e 503).
Como ele possui três unidades, ele tem direito a três votos nas deliberações relacionadas
com o condomínio.
Foi convocada, então, uma assembleia geral do condomínio.
João compareceu e, quando ia votar, o síndico o impediu, afirmando que ele estava em
débito quanto à cota condominial referente ao apt. 501. Logo, estaria impedido de votar,
com fulcro no art. 1.335, I, do CC.

Agiu corretamente o síndico?


NÃO. Segundo decidiu o STJ, o condômino proprietário de diversas unidades autônomas,
ainda que inadimplente em relação a uma ou algumas destas, terá direito de participação e
de voto relativamente às suas unidades que estejam em dia com as taxas do condomínio.
É certo que o CC submete o exercício do direito de participar e votar em assembleia geral à
quitação das dívidas que o condômino tiver com o condomínio. Todavia, deve-se considerar
que a quitação exigida pelo art. 1.335, III, do CC para que o condômino tenha o direito de
participar das deliberações das assembleias com direito a voto refere-se a cada unidade.
Assim, conforme bem expôs a Ministra Relatora, considerando que as taxas condominiais
são devidas em relação a cada unidade, autonomamente considerada, a penalidade advinda
de seu não pagamento, consequentemente, também deve ser atrelada a cada unidade.

Logo, em nosso exemplo fictício, João teria direito a dois votos.


Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.375.160-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/10/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DPVAT e situação que não constava como invalidez na lista do CNSP

A vítima de dano pessoal causado por veículo automotor de via terrestre tem direito ao
recebimento da indenização por invalidez permanente prevista no art. 3º da Lei 6.194/1974 –
a ser coberta pelo seguro DPVAT – na hipótese em que efetivamente constatada a referida
Prática invalidez, mesmo que, na data do evento lesivo, a espécie de dano corporal sofrido – hoje
forense
expressamente mencionada na lista anexa à Lei 6.194/1974 (incluída pela MP 456/2009) –
ainda não constasse da tabela que, na época, vinha sendo utilizada como parâmetro para o
reconhecimento da invalidez permanente (elaborada pelo Conselho Nacional de Seguros
Privados – CNSP).
Comentários O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de
via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não.

Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo
automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do
DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os
seus respectivos herdeiros.

Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que
passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais
um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram
inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor
correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de
DPVAT por invalidez.
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o
culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a
indenização normalmente.

O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente
danos pessoais.

Quem custeia as indenizações pagas pelo DPVAT?


Os proprietários de veículos automotores. Trata-se de um seguro obrigatório. Assim,
sempre que o proprietário do veículo paga o IPVA, está pagando também, na mesma guia,
um valor cobrado a título de DPVAT.

O STJ afirma que a natureza jurídica do DPVAT é a de um contrato legal, de cunho social.

O DPVAT é regulamentado pela Lei n. 6.194/74.

Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei?


no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima)
no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500 (por vítima)
no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como
reembolso à cada vítima.

Como a indenização por invalidez é de até R$ 13.500, entende-se que esse valor deverá ser
proporcional ao grau da invalidez permanente apurada.
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O que é invalidez permanente para fins do DPVAT?


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Em um primeiro momento, a Lei n. 6.194/74 não previu o que seria invalidez permanente.
Diante dessa lacuna, o Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP elaborou uma tabela

INFORMATIVO esquematizado
com diversas situações que caracterizavam invalidez permanente.
A MP 451/2008 e, posteriormente, a Lei n. 11.945/2009 acrescentaram, então, um anexo à
Lei n. 6.194/74, prevendo expressamente, por meio de uma tabela, situações
caracterizadoras de invalidez permanente.

Essa lista prevista no anexo da Lei n. 6.194/74 é exaustiva ou exemplificativa?


Exemplificativa. Segundo afirmou, com acerto, o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, não é
possível prever, por meio de uma listagem de situações, todas as hipóteses de invalidez
permanente, total ou parcial, de forma que, em última análise, incumbe ao intérprete a
definição do conteúdo daquele conceito jurídico indeterminado.
Noutras palavras, as situações previstas na lista elaborada pelo CNSP, assim como as
presentes no anexo à Lei 6.194/74, constituem rol meramente exemplificativo, em contínuo
desenvolvimento, tanto pela ciência como pelo direito.
Portanto, o não enquadramento de uma determinada situação na lista previamente
elaborada não implica, por si só, a não configuração da invalidez permanente, sendo
necessário o exame das peculiaridades de cada caso concreto.

Caso concreto julgado pelo STJ


No caso dos autos, o autor, em decorrência de acidente de trânsito no ano de 2007, teve o
seu baço retirado por meio de cirurgia (esplenectomia).
Nessa época, como ainda não havia a lista anexa à Lei 6.194/74, era utilizada, como
parâmetro para a aferição da invalidez permanente e a proporção da cobertura do seguro
DPVAT a ser paga, a tabela de danos pessoais elaborada pelo CNSP.
A tabela do CNSP, porém, não previa a retirada cirúrgica do baço entre as hipóteses
configuradoras da invalidez permanente parcial.
Contudo, segundo decidiu o STJ, a retirada cirúrgica do baço em decorrência de acidente de
trânsito deve ser considerada hipótese de invalidez permanente, já que, a partir de 2009, a
situação passou expressamente a constar da tabela incluída na Lei n. 6.194/74.
A nova tabela, ainda que não vigente na data do acidente, pode e deve, em razão do
princípio constitucional da igualdade, ser utilizada como instrumento de integração da
tabela anterior, cujo rol, como visto, é meramente exemplificativo.
Nesse sentido, a consideração da nova tabela representa, na verdade, a consideração dos
critérios científicos que pautaram a sua elaboração, não havendo, com isto, aplicação
retroativa, mas apenas a sua utilização na interpretação da tabela anterior.
Assim, ainda que a perícia realizada nos autos tenha negado a invalidez permanente do
recorrente, a situação de invalidez deve ser reconhecida a partir da nova tabela que passou
a constar expressamente na lei.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.381.214-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/8/2013.

Em ação declaratória de inexistência de parentesco ajuizada por um irmão contra o outro, a


recusa do réu em se submeter ao DNA não gera presunção de inexistência do parentesco

No âmbito de ação declaratória de inexistência de parentesco cumulada com nulidade de


registro de nascimento na qual o autor pretenda comprovar que o réu não é seu irmão, apesar
ATENÇÃO
de ter sido registrado como filho pelo seu falecido pai, a recusa do demandado a se submeter a
exame de DNA não gera presunção de inexistência do parentesco, sobretudo na hipótese em
que reconhecido o estado de filiação socioafetivo do réu.
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Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:


Leandro e Ricardo são irmãos unilaterais por parte de pai (João).
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Quando João falece, inicia uma disputa pela herança e Leandro ajuíza uma ação com o

INFORMATIVO esquematizado
objetivo de declarar que João não era pai de Ricardo e anular o registro de nascimento
deste último. Na petição inicial, Leandro pede que seja realizada a prova pericial (exame de
DNA) para atestar, com certeza científica, a inexistência de filiação.
Em sua contestação, Ricardo refuta todos os argumentos de Leandro, traz diversas provas
de que João sempre o considerou como filho e recusa-se a fazer o exame de DNA.
Diante da recusa do réu em fazer o exame de DNA, o autor pede a procedência dos pedidos,
presumindo a inexistência de filiação. Para tanto, invoca o art. 231 do CC e, por analogia, a
súmula 301 do STJ.

Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá
aproveitar-se de sua recusa.

Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame


de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.

O argumento invocado pelo autor está correto? O fato de o réu ter se recusado a fazer o
exame de DNA é suficiente para que o juiz presuma que ele não seja filho do seu pai
registral?
NÃO. Em situação parecida com essa, o STJ decidiu que a recusa do réu em se submeter a
exame de DNA não gera presunção de inexistência do parentesco, sobretudo no caso
concreto em que restou reconhecido que havia também um estado de filiação socioafetiva
entre o réu e seu pai registral.
Em suma, na hipótese em apreço, a recusa do filho não pode gerar presunção de que ele
não seria filho biológico do pai constante no seu registro de nascimento.

Em longo e denso voto, o Min. Luis Felipe Salomão analisou os diversos aspectos envolvidos
no caso.

A manifestação espontânea do falecido pai de colocar o seu nome, na condição de genitor,


no registro do filho, é ato de vontade perfeito e acabado, gerando um estado de filiação
acobertado pela irrevogabilidade, incondicionalidade e indivisibilidade (arts. 1.610 e 1.613
do CC). Desse modo, para o STJ, “o reconhecimento espontâneo da paternidade somente
pode ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento, isto é, para que haja
possibilidade de anulação do registro de nascimento de menor cuja paternidade foi
reconhecida, é necessária prova robusta no sentido de que o ‘pai registral’ foi de fato, por
exemplo, induzido a erro, ou ainda, que tenha sido coagido a tanto” (REsp 1.022.763-RS,
Terceira Turma, DJe 3/2/2009).

Além disso, deve haver uma ponderação dos interesses em disputa, harmonizando-os por
meio da proporcionalidade ou razoabilidade, sempre se dando prevalência àquele que
conferir maior projeção à dignidade humana, haja vista ser o principal critério substantivo
na direção da ponderação de interesses constitucionais. Dessa forma, no conflito entre o
interesse patrimonial do irmão que ajuíza esse tipo de ação, para o reconhecimento de
suposta verdade biológica, e a dignidade do réu em preservar sua personalidade – sua
intimidade, identidade, seu status jurídico de filho –, deve-se dar primazia aos últimos.

Ademais, o STJ possui o entendimento de que, para a ação negatória de paternidade ter
êxito é necessário que, além de não haver vínculo biológico, também não poderá ter se
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formado vínculo socioafetivo entre pai e filho. Em outras palavras, para a ação negatória de
paternidade ser julgada procedente, seria necessário que ficasse provado que não havia
Página

paternidade socioafetiva. Portanto, o exame de DNA em questão serviria apenas para

INFORMATIVO esquematizado
discutir o aspecto biológico, não tendo utilidade no caso em apreço porque ficou provado
que entre o falecido pai e o filho havia relação socioafetiva de pai e filho. Logo, mesmo que
o exame de DNA comprovasse a inexistência de vínculo biológico, persistiria existindo a
filiação.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.115.428-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Consumidor por equiparação

Em uma relação contratual avençada com fornecedor de grande porte, uma sociedade
empresária de pequeno porte não pode ser considerada vulnerável, de modo a ser equiparada
à figura de consumidor (art. 29 do CDC), na hipótese em que o fornecedor não tenha violado
quaisquer dos dispositivos previstos nos arts. 30 a 54 do CDC.
Comentários Teoria finalista
O art. 2º do CDC prevê o seguinte:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.

Em regra, a jurisprudência do STJ afirma que o art. 2º deve ser interpretado de forma
restritiva e que deve ser considerado destinatário final tão somente o destinatário fático e
econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica.
Com isso, em regra, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim
entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição,
compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço (Min. Nancy
Andrighi).
Para ser considerada uma relação de consumo, o bem ou serviço não pode ter sido adquirido
com finalidade lucrativa ou para integrar a cadeia de produção (atividade negocial).
Essa é a aplicação da concepção finalista.

Teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada


Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a
jurisprudência do STJ também reconhece a necessidade de, em situações específicas,
abrandar o rigor desse critério para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre os
adquirentes e os fornecedores em que, mesmo o adquirente utilizando os bens ou serviços
para suas atividades econômicas, fique evidenciado que ele apresenta vulnerabilidade frente
ao fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada.
Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade
de se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa, mesmo sem ter adquirido o
produto ou serviço como destinatária final, possa ser equiparada à condição de
consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade.
Nesse sentido: REsp 1.195.642/RJ, Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 13/11/2012.
Em que consiste essa vulnerabilidade?
Segundo lição da Min. Nancy Andrighi (REsp 1.195.642-RJ), existem quatro espécies de
vulnerabilidade: a) técnica; b) jurídica; c) fática; d) informacional.
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Portanto, saber se um destinatário final de um produto ou serviço se enquadra no conceito


de consumidor é compreender, além da sua destinação, se a relação jurídica estabelecida é
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marcada pela vulnerabilidade daquele (pessoa física ou jurídica) que adquire ou contrata
produto ou serviço diante do seu fornecedor (Min. Villas Bôas Cueva).

INFORMATIVO esquematizado
Caso concreto julgado pelo STJ
No caso julgado pelo STJ, foi celebrado um contrato entre um fornecedor de máquinas de
xerox de grande porte e uma sociedade empresária de pequeno porte.
A empresa de pequeno porte, contratante, pediu para ser considerada consumidora,
invocando o art. 29 do CDC:
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as
pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

A 4ª Turma do STJ não concordou com a tese e afirmou que a empresa de pequeno porte
não poderia ser considerada vulnerável, de modo a ser equiparada à figura de consumidor
(art. 29 do CDC), uma vez que o fornecedor não violou quaisquer dos dispositivos previstos
nos arts. 30 a 54 do CDC.

Para o Min. Relator, o art. 29 está inserido nas disposições gerais do Capítulo V do CDC, que
se refere às “Práticas Comerciais”, e faz menção também ao Capítulo VI (capítulo seguinte),
que trata da “Proteção Contratual”.

Assim, para o reconhecimento da situação de vulnerabilidade, o que atrairia a incidência da


equiparação prevista no art. 29, é necessária a constatação de violação a um dos
dispositivos previstos nos arts. 30 a 54, que correspondem aos Capítulos V e VI, do CDC.

Nesse contexto, caso não tenha se verificado práticas abusivas na relação contratual
examinada, a natural posição de inferioridade do destinatário de bens ou serviços não
possibilita, por si só, o reconhecimento da vulnerabilidade.

Julgado que destoa da jurisprudência dominante do STJ


É importante que você conheça esse julgado da 4ª Turma porque algumas vezes o CESPE
cobra apenas um precedente isolado. No entanto, é preciso ressaltar que ele não reflete a
jurisprudência prevalecente no STJ. Isso porque, conforme explicado acima, o STJ adota a
teoria finalista mitigada, por meio da qual mesmo a pessoa jurídica não tendo adquirido o
produto ou serviço como destinatária final, pode ser equiparada à condição de
consumidora por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade.
Desse modo, não é necessário invocar o art. 29 do CDC para que a pessoa jurídica seja
considerada consumidora. Basta o art. 2º do Código, com a interpretação mitigada que é
conferida pelo STJ.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 567.192-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 5/9/2013.

Roubo ocorrido em valet parking de restaurante

Nesse julgado do STJ foram expostas duas conclusões importantes:

I – Na ação regressiva, devem ser aplicadas as mesmas regras do CDC que seriam utilizadas em
ATENÇÃO
eventual ação judicial promovida pelo segurado (consumidor) contra o restaurante
(fornecedor). Isso porque, após o pagamento do valor contratado, ocorre sub-rogação,
transferindo-se à seguradora todos os direitos, ações, privilégios e garantias do segurado em
relação à dívida contra o restaurante, de acordo com o disposto no art. 349 do CC.
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II – O restaurante que ofereça serviço de manobrista (valet parking) prestado em via pública
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não poderá ser civilmente responsabilizado na hipótese de roubo de veículo de cliente deixado
sob sua responsabilidade, caso não tenha concorrido para o evento danoso.
INFORMATIVO esquematizado
Comentários Imagine a seguinte situação:
Carlos e sua esposa foram jantar em badalado restaurante da cidade.
Chegando até o local, Carlos deixou seu carro com o manobrista do serviço de valet
oferecido pelo restaurante aos clientes.
Quando o manobrista estava estacionando o carro em uma rua que fica ao lado do
restaurante, foi abordado por um ladrão, que, mediante grave ameaça com arma de fogo,
roubou o automóvel.

Suponha que Carlos ajuíze uma ação contra o restaurante. Qual é o tipo de responsabilidade
que será analisada nessa demanda?
O juiz analisará se o restaurante tem ou não o dever de indenizar o cliente com base no
regime da responsabilidade objetiva. Isso porque o cliente é consumidor e o restaurante
caracteriza-se como fornecedor do serviço de manobrista.
Assim, o pedido de indenização será baseado na existência de uma relação de consumo e a
decisão será tomada tendo como análise o art. 14 do CDC, que trata sobre o fato do serviço:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
(...)
§ 3º - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Suponha agora uma situação diferente. Imagine que Carlos tivesse seguro e a seguradora
pagou a ele o valor do automóvel. Após indenizar o lesado, a seguradora ajuíza ação de
regresso contra o restaurante cobrando o valor pago a Carlos. Qual é o tipo de
responsabilidade que será analisada nessa demanda?
Também se trata de responsabilidade objetiva e a análise da procedência ou não do pedido
será feita com base no art. 14 do CDC.

Segundo decidiu o STJ, na ação regressiva devem ser aplicadas as mesmas regras que
seriam utilizadas caso o segurado (consumidor) tivesse proposto a ação contra o
restaurante (fornecedor). Isso porque, após o pagamento do valor contratado, ocorre sub-
rogação, transferindo-se à seguradora todos os direitos, ações, privilégios e garantias do
segurado, em relação à dívida, contra o restaurante, de acordo com o disposto no art. 349
do CC:
Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e
garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.

Em outras palavras, a seguradora, após pagar a indenização, passa a ter os mesmos direitos
que o segurado tinha. Logo, como o segurado poderia ter cobrado o restaurante com base
no art. 14, a seguradora também terá esse direito.

Vamos, então, agora à questão de fundo. O restaurante, que ofereceu o serviço de valet
deverá indenizar o cliente pelo roubo do veículo, fato que ocorreu quando o manobrista
encontrava-se estacionando o carro em uma via pública?
NÃO. O restaurante que ofereça serviço de manobrista (valet parking) prestado em via
pública não poderá ser civilmente responsabilizado na hipótese de roubo de veículo de
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cliente deixado sob sua responsabilidade, caso não tenha concorrido para o evento danoso.
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Mesmo no regime da responsabilidade objetiva, nem sempre o fornecedor será condenado


a indenizar a vítima. O art. 14, em seu § 3º, prevê causas de exclusão da responsabilidade.

INFORMATIVO esquematizado
Assim, no caso concreto, o fato de o veículo ter sido roubado caracteriza fato de terceiro
(culpa exclusiva de terceiro), afastando o dever de indenizar, nos termos do inciso II do § 3º
o art. 14 do CDC.
O roubo, embora previsível, é inevitável, caracterizando, nessa hipótese, fato de terceiro
apto a romper o nexo de causalidade entre o dano (perda patrimonial) e o serviço prestado.
Ressalte-se que, na situação em análise, inexiste exploração de estacionamento cercado
com grades, mas simples comodidade posta à disposição do cliente. É certo que a diligência
na guarda da coisa está incluída nesse serviço. Entretanto, as exigências de garantia da
segurança física e patrimonial do consumidor são menos contundentes do que aquelas
atinentes aos estacionamentos de shopping centers e hipermercados, pois, diferentemente
destes casos, trata-se de serviço prestado na via pública.

E se tivesse ocorrido um furto (ex: o manobrista estacionou o carro e, quando voltou para o
restaurante, o ladrão, sem ser percebido, conseguiu subtrair o veículo)?
Nesse caso, o restaurante deveria ser condenado a indenizar a vítima.
Conforme pontuou o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, nos serviços de manobristas (valets)
ofertados por restaurantes nas grandes cidades, deve-se estabelecer uma distinção entre a
ocorrência de furto ou roubo de veículo para efeito de responsabilidade civil.
Nas hipóteses de roubo, caracteriza-se o fato de terceiro ou a força maior, podendo-se
discutir apenas eventual concorrência do demandado, mediante uma prestação defeituosa
do seu serviço, para o evento danoso (fato exclusivo ou concorrrente).
Nas hipóteses de furto, em que não há violência, permanece a responsabilidade, pois o
serviço prestado mostra-se defeituoso, por não apresentar a segurança legitimamente
esperada pelo consumidor.

Se o restaurante ficasse dentro de um shopping, ele responderia mesmo em caso de roubo?


SIM.
A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos
em que a garantia de segurança física e patrimonial do consumidor é inerente ao serviço
prestado pelo estabelecimento comercial.
Assim, haverá responsabilidade mesmo em caso de roubos, se o evento ocorrer em
supermercados, bancos, shopping centers, enfim, empresas que fornecem estacionamentos
aos seus consumidores como técnica para captação de clientela, não apenas em face do
conforto, mas também da segurança oferecida, que se torna uma legítima expectativa do
público consumidor. Nesse sentido:
(...) De acordo com os ditames do Código de Defesa do Consumidor, os shoppings, hotéis e
hipermercados que oferecem estacionamento privativo aos consumidores, mesmo que de
forma gratuita, são responsáveis pela segurança tanto dos veículos, quanto dos clientes.
Aplicação, ainda, da inteligência da Súmula 130/STJ. (...)
(EREsp 419.059/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 11/04/2012)

(...)É dever de estabelecimentos como shoppings centers e hipermercados zelar pela


segurança de seu ambiente, de modo que não se há falar em força maior para eximi-los da
responsabilidade civil decorrente de assaltos violentos aos consumidores; (...)
(REsp 582.047/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 17/02/2009)

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.739-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 5/9/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Distrato da promessa de compra e venda e retenção de
parte dos valores pagos pelo promitente comprador

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda


imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção
integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumidor distratante.
Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudência entende que é justo e razoável que o vendedor
retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos
prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação,
comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o
imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.
A jurisprudência normalmente considera razoável a retenção, pelo promitente vendedor, de
um percentual que varia de 10% a 20% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido
ao promitente comprador.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João celebra contrato de promessa de compra e venda de um apartamento com
determinada construtora.
Uma das cláusulas do contrato, intitulada “Distrato” possuía a seguinte redação:
“7.1. Nas hipóteses de rescisão, resolução ou distrato da presente promessa de compra e
venda o promitente vendedor poderá reter até 80% do valor pago pelo promitente
comprador, a título de indenização, sendo restituído o restante.”

Essa cláusula é válida?


NÃO. É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda
imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção
integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumidor distratante.

Explico melhor.

O art. 53 do CDC veda a retenção integral das parcelas pagas:


Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em
prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno
direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do
credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do
produto alienado.

Desse modo, o art. 53 do CDC afirma que é nula de pleno direito a cláusula de decaimento.

O que é cláusula de decaimento?


Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as
prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplemente ou requeira o
distrato.

Devolução de uma parte ínfima das prestações pagas


Como o CDC foi expresso ao proibir a retenção integral do valor pago pelo adquirente, as
construtoras passaram a tentar burlar essa vedação legal e começaram a prever que, em
caso de distrato, seria feita a devolução das parcelas pagas, fazendo-se, contudo, a retenção
de determinados valores a título de indenização pelas despesas experimentadas pela
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construtora.
Ocorre que diversos contratos previram que essa devolução seria de valores ínfimos, ou
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seja, muito pequenos, ficando a construtora com a maior parte da quantia já paga pelo
adquirente.
INFORMATIVO esquematizado
Essa prática também foi rechaçada pela jurisprudência.

Assim, a devolução de uma parte ínfima das prestações também é vedada pelo CDC por
colocar o consumidor em uma situação de desvantagem exagerada:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

Mas a construtora poderá reter, em caso de distrato, uma parte do valor que já foi pago
pelo adquirente?
SIM. O STJ entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações
pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados,
notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e
corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual
utilização do bem pelo comprador.
A jurisprudência normalmente considera razoável a retenção, pelo promitente vendedor,
de um percentual que varia de 10% a 20% dos valores já pagos, devendo o restante ser
devolvido ao promitente comprador.

(...) É entendimento pacífico nesta Corte Superior que o comprador inadimplente tem o
direito de rescindir o contrato de compromisso de compra e venda de imóvel e,
consequentemente, obter a devolução das parcelas pagas, mostrando-se razoável a
retenção de 20% dos valores pagos a título de despesas administrativas (...)
(RCDESP no AREsp 208.018/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em
16/10/2012)

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.132.943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


No desmembramento de serventias, não há necessidade
de consulta prévia aos titulares atingidos pela medida
Na hipótese de desmembramento de serventias, não há necessidade de consulta prévia aos
titulares atingidos pela medida. Não há direito adquirido ao não desmembramento de serviços
notariais e de registro, conforme consolidado na Súmula 46 do STF.
Outorgado o direito de opção, previsto no art. 29, I, da Lei n. 8.935/94, fica evidenciada a
ausência de violação a direito líquido e certo.
Comentários O que é desmembramento da serventia notarial ou registral?
Desmembramento ocorre na hipótese de divisão da Comarca, ou seja, quando é criada uma
nova e igual serventia para a nova circunscrição judiciária. Assim, tem relação com comarca
nova (outro Município).

Desmembramento é diferente de desdobramento


Desdobramento é a criação de nova e igual serventia, oriundo de outra anterior, na mesma
comarca (dentro da mesma comarca).
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INFORMATIVO esquematizado
O titular da serventia desmembrada alegava que, antes de fazer o desmembramento, ele
teria que ser ouvido, sob pena de violação ao direito de defesa e ao contraditório. O STJ
acatou esse argumento?
NÃO. O STJ decidiu que, na hipótese de desmembramento de serventias, não há
necessidade de consulta prévia aos titulares atingidos pela medida.

Os titulares das serventias atingidas pelo desmembramento não têm direito de impedir que
o TJ faça o desmembramento. Assim não há direito adquirido ao não desmembramento de
serviços notariais e de registro. Com outras palavras, isso já foi consagrado pelo STF:
Súmula 46-STF: Desmembramento de serventia de justiça não viola o princípio de
vitaliciedade do serventuário.

O que o TJ precisa fazer, no caso de desmembramentos, é garantir que o titular da serventia


opte se deseja ficar com a serventia anterior ou com a serventia desmembrada. Esse direito
de opção é chamado pela doutrina de “preferência opcional” e está prevista no art. 29, I, da
Lei n. 8.935/94:
Art. 29. São direitos do notário e do registrador:
I - exercer opção, nos casos de desmembramento ou desdobramento de sua serventia;
No caso concreto, o titular da serventia não foi ouvido antes da decisão do TJ que
determinou o desmembramento. No entanto, após o desmembramento ter sido decidido,
foi garantido a esse titular o direito de opção. Logo, não houve violação do direito de
defesa, do contraditório ou de qualquer outro princípio constitucional.
Processo STJ. 2ª Turma. RMS 41.465-RO, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/9/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Contribuição previdenciária reconhecida por juiz trabalhista pode ser habilitada na falência sem CDA

É desnecessária a apresentação de Certidão de Dívida Ativa (CDA) para habilitação, em


processo de falência, de crédito previdenciário resultante de decisão judicial trabalhista.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada
Em uma reclamação trabalhista proposta por João (empregado) contra a empresa “A”, o
juiz trabalhista condenou a empregadora a pagar as verbas trabalhistas e também as
contribuições previdenciárias que incidiam sobre tais valores.
As verbas trabalhistas são devidas ao empregado. Já as contribuições previdenciárias são
verbas que deveriam ter sido recolhidas pela empresa e revertidas ao INSS. Desse modo,
são créditos que a empresa deverá pagar à autarquia previdenciária.

Falência
Caso a empresa não pague as verbas trabalhistas e as contribuições previdenciárias, a
providência normal que deveria ser adotada pelo juiz trabalhista seria a execução de tais
quantias (art. 114, VIII, da CF/88; art. 876, parágrafo único, da CLT).
Ocorre que essa sociedade empresária encontra-se em processo de falência. Logo, não
poderá haver execução no juízo trabalhista, uma vez que isso terá que ser feito no juízo
universal da falência.
Assim, em caso de empresas que estejam em processo de falência, a Justiça do Trabalho
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será competente para a ação de conhecimento (onde será apurado se existe débito e o seu
valor) e o juízo da falência será responsável pela cobrança de tais quantias apuradas.
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Confira julgado do STJ nesse sentido:

INFORMATIVO esquematizado
(...) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que, ultrapassada
a fase de acertamento e liquidação dos créditos trabalhistas, cuja competência é da Justiça
do Trabalho, os valores apurados deverão ser habilitados nos autos da falência ou da
recuperação judicial para posterior pagamento (...)
(AgRg no CC 130.138/GO, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, julgado em 09/10/2013)

Habilitação dos créditos


Diante disso, o empregado e o INSS deverão levar ao juízo da falência esses créditos que
foram reconhecidos no processo trabalhista. Esse procedimento é chamado de “habilitação
de créditos” e está previsto no art. 9º da Lei n. 11.101/2005:
Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1º, desta Lei
deverá conter:
I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de qualquer
ato do processo;
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de
recuperação judicial, sua origem e classificação;
III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem
produzidas;
IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento;
V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.
Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no
original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo.

Caso concreto
O INSS propôs, no juízo falimentar, a habilitação de seu crédito referente às contribuições
previdenciárias.
O juízo falimentar indeferiu a habilitação do crédito previdenciário, sob o argumento de que
a Fazenda Pública deveria ter inscrito em dívida ativa o valor da condenação imposta pelo
juízo trabalhista e ter apresentado a CDA (certidão de dívida ativa).
Em outras palavras, o juiz da falência entendeu que o INSS não poderia habilitar na falência
a própria sentença trabalhista, sendo indispensável uma providência anterior, qual seja, a
inscrição desse débito em dívida ativa.

Agiu corretamente o juiz da falência?


NÃO.
As contribuições previdenciárias são consideradas como uma espécie de tributo.
Em regra, os tributos que são devidos e não foram pagos pelo sujeito passivo devem ser objeto
de “lançamento tributário”, procedimento a ser realizado pelo Fisco. Após o lançamento, esse
débito tributário será inscrito em dívida ativa, gerando uma CDA, instante em que se torna um
crédito tributário que poderá ser exigido judicialmente pela Fazenda Pública.
Assim, em regra, é necessário o lançamento para que haja a constituição do crédito tributário.
Ocorre que, no caso das contribuições previdenciárias que forem reconhecidas pela Justiça
do Trabalho, não será necessário que com relação a elas haja um lançamento tributário a
ser realizado pelo Fisco.
Dito de outra forma, as contribuições previdenciárias que forem apuradas pelo juiz trabalhista
não precisam de novo lançamento tributário para serem executadas. É a própria sentença que é
executada pela Justiça Laboral e não o tradicional crédito constituído pela via administrativa do
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lançamento tributário. Isso ocorre por força de mandamento constitucional:


Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
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VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, “a”, e II, e seus

INFORMATIVO esquematizado
acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

A partir disso, o Min. Luis Felipe Salomão conclui que o crédito tributário poderá decorrer do:
do lançamento na via administrativa (hipótese tradicional, regulada pelo CTN); ou
da sentença da Justiça do Trabalho que reconhecer a existência de contribuições
previdenciárias devidas (hipótese excepcional, trazida pelo art. 114, VIII, da C/88).
Desse modo, como as contribuições previdenciárias já foram reconhecidas na sentença pelo
juiz trabalhista, já houve a constituição do crédito tributário, sendo desnecessário que haja
um procedimento administrativo de lançamento tributário. Isso já é suprido pela sentença
trabalhista.

Logo, foi indevida a exigência feita pelo juízo falimentar, sendo possível que o INSS habilite
o crédito tributário decorrente das contribuições previdenciárias apenas com a sentença
trabalhista.
Voto lapidar Para aqueles que quiserem se aprofundar sobre o assunto, recomendo a leitura do inteiro
teor do voto do Min. Luis Felipe Salomão, que é enriquecedor.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.170.750-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/08/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Honorários advocatícios no cumprimento de sentença não precisa levar em consideração a


multa do art. 475-J do CPC

A multa do art. 475-J do CPC não necessariamente integra o cálculo dos honorários
advocatícios na fase executiva do cumprimento de sentença.
Comentários Veja a seguinte situação hipotética:
“A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”. O juiz julga a sentença procedente,
condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”. “B” perdeu o prazo para a apelação, de
modo que ocorreu o trânsito em julgado.

O que acontece agora?


“A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença.

O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o
trânsito em julgado da decisão. Cabe ao credor o exercício de atos para o regular
cumprimento da decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao
devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e
atualizada (STJ REsp 940274/MS).

Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do


credor.

A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz?


O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias,
sob pena de o valor da condenação ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J.
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INFORMATIVO esquematizado
Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 475-J, é contado a partir de quando?
A multa de 10% prevista no artigo 475-J do CPC depende de intimação prévia do devedor,
ainda que na pessoa de seu patrono. Não basta que o devedor já tenha sido intimado
anteriormente da sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para
pagamento é necessária nova intimação.

A intimação para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou
seja, para o próprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de
publicação na imprensa oficial?
Não precisa haver intimação pessoal. A intimação pode ser realizada na pessoa do
advogado do devedor, por meio de publicação na imprensa oficial.

Essa multa pode ser aplicada em caso de execução provisória ou somente se houver trânsito
em julgado?
Essa multa é própria da execução definitiva, de modo que deve ter havido o trânsito em
julgado da sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da
multa prevista no art. 475-J do CPC (STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR).

Se o devedor não pagar no prazo de 15 dias, incide a multa de 10% e o que mais acontecerá?
O juiz, a requerimento do credor, que apresentará o demonstrativo do débito atualizado,
expedirá mandado para que sejam penhorados bens do devedor para satisfação do crédito.

Nesta fase, existe alguma forma de “defesa” do devedor?


Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada
impugnação.

Para que o devedor apresente impugnação é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é


necessário que haja penhora, depósito ou caução?
Sim. É necessária a garantia do juízo para o oferecimento da impugnação (STJ REsp
1.195.929-SP).

Pode haver a condenação de honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença?


Em outras palavras, o devedor poderá ser condenado a pagar novos honorários advocatícios
de sucumbência?
Sim. É cabível o arbitramento de honorários advocatícios na fase de cumprimento de
sentença.
Como é necessário que o credor faça um requerimento, por meio de advogado, para que
seja dado início à fase de cumprimento de sentença, o STJ entendeu que caberá a
condenação do devedor ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência, salvo
se ele decidir cumprir voluntariamente a obrigação.
Assim, se o credor iniciar a fase de cumprimento de sentença e o devedor, sendo intimado
para pagar em 15 dias, efetuar o pagamento, não haverá condenação em honorários.
Por outro lado, se o devedor for intimado para pagar, e não o fizer no prazo, será multado
em 10% e ainda terá que pagar, ao final, honorários advocatícios de sucumbência ao
advogado do credor.

No momento de calcular os honorários advocatícios da fase de cumprimento de sentença, o


juiz deverá levar em consideração a multa de 10%?
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O STJ decidiu que a multa do art. 475-J do CPC não necessariamente integra o cálculo dos
honorários advocatícios na fase executiva do cumprimento de sentença.
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INFORMATIVO esquematizado
Segundo o art. 20, § 4º do CPC, “nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão
fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do
parágrafo anterior”. Logo, não se exige que o juiz, obrigatoriamente, arbitre honorários
advocatícios em percentual vinculado ao valor da condenação.
Os honorários podem, inclusive, ser estipulados em valor monetário fixo que reflita a justa
remuneração do advogado.
Assim, é inócua a discussão acerca da inclusão ou não da multa do art. 475-J do CPC na base
de cálculo dos honorários devidos na fase de cumprimento de sentença.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.291.738-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/10/2013.

Empresa não pode recorrer contra a decisão do juiz que redireciona a execução fiscal contra o sócio

Em execução fiscal, a sociedade empresária executada não possui legitimidade para recorrer,
em nome próprio, na defesa de interesse de sócio que teve contra si redirecionada a execução.
Isso porque, consoante vedação expressa do art. 6º do CPC, ninguém poderá pleitear, em nome
próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.
Comentários Quando a Fazenda Pública ajuíza uma execução fiscal contra a “empresa” (rectius:
empresário ou sociedade empresária) e não consegue localizar bens penhoráveis, o CTN
prevê a possibilidade de o Fisco redirecionar a execução para algumas pessoas físicas que
tenham relação com a “empresa” e hajam atuado com excesso de poderes ou infração de
lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art. 135 do CTN:
Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações
tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

Os sócios, como regra geral, não respondem pessoalmente (com seu patrimônio pessoal)
pelas dívidas da sociedade empresária. Isso porque vigora o princípio da autonomia jurídica
da pessoa jurídica em relação aos seus sócios. A pessoa jurídica possui personalidade e
patrimônio autônomos, que não se confundem com a personalidade e patrimônio de seus
sócios. No entanto, se o sócio praticou atos com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos (art. 135, III), ele utilizou o instituto da personalidade jurídica
de forma fraudulenta ou abusiva, podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente
pelos débitos.

Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com o
Fisco não autoriza que os sócios paguem pela dívida com seu patrimônio pessoal. É
necessário que tenha praticado atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato
social ou estatutos (art. 135, III). Nesse sentido:
Súmula 430-STJ: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si
só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente.

Situações mais comuns em que ocorre o redirecionamento da execução fiscal para os sócios:
• Excesso de poderes;
• Infração à lei;
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• Ofensa ao contrato social ou ao estatuto da sociedade;


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• Dissolução irregular da sociedade;


• Dolo ou fraude do sócio.

INFORMATIVO esquematizado
Feitas essas considerações, imagine a seguinte situação adaptada:
A União ajuizou execução fiscal contra a pessoa jurídica “A”.
A empresa foi citada, mas não pagou o débito nem garantiu a execução.
O juiz determinou, então, a penhora de bens da sociedade empresária, não tendo, contudo,
sido localizado bens penhoráveis.
A Fazenda Pública pediu que o juiz reconhecesse que o sócio-gerente da empresa praticou
atos com infração à lei e que a execução fosse contra ele redirecionada.
O juiz acolheu o pedido da Fazenda Pública e determinou o redirecionamento da execução
contra o sócio-gerente.
Diante disso, a empresa interpôs agravo de instrumento impugnando essa decisão.

A sociedade empresária tinha legitimidade para interpor o recurso?


NÃO. Segundo decidiu o STJ, em execução fiscal, a sociedade empresária executada não
possui legitimidade para recorrer, em nome próprio, na defesa de interesse de sócio que
teve contra si redirecionada a execução. Isso porque, consoante vedação expressa do art.
6º do CPC, ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando
autorizado por lei.
Dessa forma, como não há lei que autorize a sociedade a interpor recurso contra decisão
que, em execução ajuizada contra ela própria, tenha incluído no polo passivo da demanda
os seus respectivos sócios, tem-se a ilegitimidade da pessoa jurídica para a interposição do
referido recurso.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.627-SP, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 9/10/2013 (recurso repetitivo).

Se houve um litisconsórcio passivo facultativo comum na ACP e apenas um dos demandados


tiver foro na Justiça Federal, esta não será competente para julgar os demais réus

Em ação civil pública ajuizada na Justiça Federal, não é cabível a cumulação subjetiva de
demandas com o objetivo de formar um litisconsórcio passivo facultativo comum, quando
ATENÇÃO apenas um dos demandados estiver submetido, em razão de regra de competência ratione
personae, à jurisdição da Justiça Federal, ao passo que a Justiça Estadual seja a competente
para apreciar os pedidos relacionados aos demais demandados.
Comentários O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte:
A Defensoria Pública de União ajuizou ação civil pública, com pedido de antecipação de
tutela, em face de 11 instituições financeiras, sendo 10 bancos privados e mais a Caixa
Econômica Federal.
Na ACP, a DPU afirmou que, em determinado ano, esses 11 bancos corrigiram de forma
equivocada os valores depositados nas cadernetas de poupança. Assim, pediu que as
instituições financeiras fossem condenadas a pagar aos seus clientes os valores decorrentes
da correção desses cálculos.

Onde foi proposta essa ação e por quê?


A demanda foi ajuizada na Justiça Federal. Segundo argumentou a DPU, havia um
litisconsórcio passivo no presente caso e a Justiça Federal seria competente em razão da
presença da Caixa Econômica como uma das rés. Isso porque a CEF é uma empresa pública
federal, o que atrai a incidência do art. 109, I, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
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I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
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as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

INFORMATIVO esquematizado
A DPU mencionou, ainda, o art. 2º da Lei da ACP (Lei n. 7.347/85):
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

De acordo com a Defensoria, o mencionado dispositivo, por se referir a “competência


funcional”, é apto a atrair a competência da Justiça Federal para julgar a causa por
completo, em razão da presença da CEF no polo passivo, indicada como litisconsorte.

A tese defendida pela DPU quanto à competência foi acatada pelo STJ? A Justiça Federal
será competente para julgar essa demanda na forma como proposta?
NÃO.

No caso em exame, o STJ entendeu que os poupadores das diversas instituições financeiras
– e as próprias instituições financeiras entre si – não possuem nenhuma relação que os
torne indissoluvelmente ligados. O que se tem na hipótese é a pluralidade de ações
ajuizadas contra uma pluralidade de réus, apenas se valendo o autor de um instrumento
formalmente único (uma única petição inicial). Em suma, trata-se de um litisconsórcio
facultativo comum.

No litisconsórcio facultativo comum, além de termos um cúmulo subjetivo (uma ação


proposta contra vários réus), temos também um cúmulo objetivo, ou seja, uma cumulação
de pedidos (pedido de condenação do banco X, Y, Z etc.). Ocorre que somente é permitida a
cumulação de pedidos se o juízo for igualmente competente para julgar todos os pedidos
(art. 292, § 1º, inciso II, do CPC).

No caso concreto, a Justiça Federal é competente para conhecer dos pedidos relacionados
com a CEF, mas não o é para os pedidos relacionados com os demais bancos.

Logo, a DPU deveria ter proposto a ação na Justiça Federal somente contra a CEF e a DPE
(ou outro legitimado da ACP) ajuizado a ação contra os demais bancos na Justiça estadual.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.120.169-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/8/2013.

DIREITO PENAL
É possível a condenação pelos arts. 90 e 96, I, da Lei 8.666/93 em concurso formal
Não configura bis in idem a condenação pela prática da conduta tipificada no art. 90 da Lei
8.666/1993 (fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório) em concurso formal
com a do art. 96, I, da mesma lei (fraudar licitação mediante elevação arbitrária dos preços).
Comentários Por conta de uma mesma licitação, o réu foi condenado pela prática dos delitos do art. 90 e
96, I, da Lei n. 8.666/93, em concurso formal:
Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o
caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para
outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
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Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instaurada para aquisição ou
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venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente:


I - elevando arbitrariamente os preços;
INFORMATIVO esquematizado
Diante disso, ele recorreu ao STJ afirmando que houve bis in idem porque o primeiro delito
já estaria abrangido pelo segundo.

O STJ concordou com a defesa?


NÃO. Para o STJ, NÃO configura bis in idem a condenação pela prática da conduta tipificada
no art. 90 da Lei n. 8.666/1993 (fraudar o caráter competitivo do procedimento licitatório)
em concurso formal com a do art. 96, I, da mesma lei (fraudar licitação mediante elevação
arbitrária dos preços). Isso porque se trata de tipos penais totalmente distintos.
Com efeito, enquanto no crime do art. 90 o agente busca eliminar a competição ou fazer
com que esta seja apenas aparente, no crime do art. 96, I, atinge-se diretamente a licitação,
elevando arbitrariamente os preços em prejuízo da Fazenda Pública.
Dessa forma, caracterizadas as duas espécies delitivas, um crime não estará absorvido pelo
outro.
Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.315.619-RJ, Rel. Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ-PR), julgado em
15/8/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Magistrado que utiliza termos mais fortes contra o réu na sentença não é suspeito

Para o STJ, a utilização de termos mais fortes e expressivos na sentença penal condenatória –
como “bandido travestido de empresário” e “delinquente de colarinho branco” – não configura,
por si só, situação apta a comprovar a ocorrência de quebra da imparcialidade do magistrado.
Comentários Na sentença penal condenatória, o juiz afirmou que o réu era um “bandido travestido de
empresário” e um “delinquente de colarinho branco”.
Diante disso, a defesa alegou que o magistrado, neste momento processual, teria revelado
ser suspeito para julgar o caso e que, por conta disso, deveria ser anulado o processo
criminal por ele conduzido.

O STJ acolheu a tese?


NÃO. Para o STJ, a utilização de termos mais fortes e expressivos na sentença penal
condenatória – como “bandido travestido de empresário” e “delinquente de colarinho
branco” – não configura, por si só, situação apta a comprovar a ocorrência de quebra da
imparcialidade do magistrado.
O discurso empolgado, a utilização de certos termos inapropriados em relação ao réu ou a
manifestação de indignação no tocante aos crimes não configuram, isoladamente, causas
de suspeição do julgador.
Ademais, essa situação não se enquadra como uma causa de suspeição de magistrado,
sendo certo que tais hipóteses são trazidas de forma taxativa no art. 254 do CPP, dispositivo
que não comporta interpretação ampliativa.

Obs: o STJ possui julgados afirmando que as causas de suspeição previstas no art. 254 do
CPP constituem-se em um rol taxativo. A doutrina majoritária, contudo, defende que a lista
de hipóteses de suspeição é exemplificativa e que as causas de impedimento é que seriam
taxativas. Nesse sentido: LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Niterói:
Impetus, 2013. Cuidado com esse tema nas provas.
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Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.315.619-RJ, Rel. Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ-PR), julgado em
15/8/2013.
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DIREITO TRIBUTÁRIO

Cobrança de tarifa de esgoto e concessionária que realiza apenas uma das etapas do serviço de
esgotamento sanitário

A concessionária de água e esgoto pode cobrar “tarifa de esgotamento sanitário” mesmo na


hipótese em que realiza apenas a coleta e o transporte dos dejetos sanitários, sem fazer o
tratamento final dos efluentes.
Assim, é legal a cobrança de tarifa de esgoto na hipótese em que a concessionária realize
apenas uma – e não todas – das quatro etapas em que se desdobra o serviço de esgotamento
sanitário (a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final de dejetos).
Comentários A concessionária presta o serviço de esgotamento sanitário no Município “X”.
Ocorre que a concessionária realiza a coleta e o transporte dos dejetos, mas não o
tratamento final dos efluentes (resíduos).

Pode a concessionária cobrar a “tarifa de esgotamento sanitário” mesmo realizando apenas


a coleta e o transporte dos dejetos, sem promover o seu tratamento final?
SIM. Para o STJ, a cobrança da tarifa não pressupõe a prestação integral do serviço de
esgotamento sanitário, sendo lícita quando realizada a coleta, a conexão e o escoamento
dos dejetos, ainda que sem tratamento final.

O art. 3º, I, b, da Lei n. 11.445/2007 trata sobre o serviço de esgotamento sanitário:


Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I - saneamento básico: conjunto de serviços, infra-estruturas e instalações operacionais de:
(...)
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações
operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos
sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;

O art. 3º, I, b, da Lei n. 11.445/2007 deixa claro que o serviço de esgotamento sanitário é
constituído por diversas atividades, dentre as quais a coleta, o transporte e o tratamento
final dos dejetos, mas não exigiu que somente exista o serviço público de esgotamento
sanitário na hipótese em que todas as etapas estejam presentes, nem proibiu a cobrança de
tarifa pela só prestação de uma ou algumas dessas atividades.

Assim, não pode o usuário do serviço, sob a alegação de que não há tratamento dos
efluentes, querer deixar de pagar a tarifa.

Além do mais, o art. 9º do Decreto 7.217/2010, que regulamenta a referida legislação,


confirma a ideia de que o serviço de esgotamento sanitário é formado por um complexo de
atividades, explicitando que qualquer uma delas é suficiente para, autonomamente,
permitir a cobrança da respectiva tarifa.

A efetivação de alguma das etapas em que se desdobra o serviço de esgotamento sanitário


representa dispêndio que deve ser devidamente ressarcido, pois, na prática, entender de
forma diferente inviabilizaria a prestação do serviço pela concessionária, prejudicando toda
a população que se beneficia com a coleta e escoamento dos dejetos, já que a finalidade da
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cobrança da tarifa é manter o equilíbrio financeiro do contrato, possibilitando a prestação


contínua do serviço público.
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Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.339.313-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/6/2013 (recurso repetitivo).

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Isenção de IPI para pessoa com incapacidade total para direção de veículo comum

Na aquisição de veículo automotor, tem direito à isenção de IPI o portador de periartrite e


artrose da coluna lombossacra na hipótese em que a enfermidade implicar limitação dolorosa
dos movimentos dos ombros, de modo a causar a incapacidade total para a direção de
automóvel sem direção hidráulica e sem transmissão automática.
Comentários O art. 1º da Lei n. 8.989/95 estabelece o seguinte:
Art. 1º Ficam isentos do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI os automóveis de
passageiros de fabricação nacional, equipados com motor de cilindrada não superior a dois
mil centímetros cúbicos, de no mínimo quatro portas inclusive a de acesso ao bagageiro,
movidos a combustíveis de origem renovável ou sistema reversível de combustão, quando
adquiridos por:
IV – pessoas portadoras de deficiência física, visual, mental severa ou profunda, ou autistas,
diretamente ou por intermédio de seu representante legal;

§ 1º Para a concessão do benefício previsto no art. 1º é considerada também pessoa


portadora de deficiência física aquela que apresenta alteração completa ou parcial de um
ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física,
apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou
ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou
adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções.

No caso concreto, o STJ reconheceu que determinada mulher tinha direito à isenção de que
trata o inciso IV c/c o § 1º por ser portadora de limitação dolorosa dos movimentos dos
ombros em virtude de periartrite e artrodese da coluna lombossacra.

A mulher apresentou, inclusive, Laudo Médico emitido por Junta Médica do DETRAN, o qual
atestou expressamente que ela possuía “total incapacidade para dirigir veículo comum”,
necessitando de veículo com direção hidráulica e transmissão automática.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.370.760-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 27/8/2013.

É aplicável a pena de multa (e não de perdimento)


no caso de subfaturamento de mercadoria importada
A pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei 37/66, incide nos casos de
falsificação ou adulteração de documento necessário ao embarque ou desembaraço da
mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único do art. 108 do mesmo diploma legal
destina-se a punir declaração inexata em seu valor, natureza ou quantidade da mercadoria
importada.
Assim, é aplicável a pena de multa (art. 108 do Decreto-Lei 37/1966) – e não a pena de
perdimento (art. 105, VI) – na hipótese de subfaturamento de mercadoria importada.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
A empresa importou um veículo dos EUA declarando que seu valor era 20 mil dólares para
fins de pagamento do imposto de importação.
Ocorre que a Receita Federal descobriu que houve subfaturamento na importação, ou seja,
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o valor declarado era inferior ao efetivamente pago pelo automóvel, que custou, de fato, 50
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mil dólares.
Diante disso, a RFB aplicou a pena de perdimento do veículo, com base no art. 105, VI, do

INFORMATIVO esquematizado
Decreto-Lei n. 37/1996:
Art.105 - Aplica-se a pena de perda da mercadoria:
VI - estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, se qualquer documento
necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado;

Agiu corretamente o órgão fazendário?


NÃO. Segundo o STJ, na hipótese de subfaturamento de mercadoria importada, a legislação
determina a aplicação da pena de multa, prevista no parágrafo único do art. 108 do
Decreto-Lei n. 37/1966 (e não a pena de perdimento do art. 105, VI). Confira o dispositivo:
Art.108. Aplica-se a multa de 50% (cinquenta por cento) da diferença de imposto apurada
em razão de declaração indevida de mercadoria, ou atribuição de valor ou quantidade
diferente do real, quando a diferença do imposto for superior a 10% (dez por cento) quanto
ao preço e a 5% (cinco por cento) quanto a quantidade ou peso em relação ao declarado
pelo importador.
Parágrafo único. Será de 100% (cem por cento) a multa relativa a falsa declaração
correspondente ao valor, à natureza e à quantidade.

Segundo a jurisprudência, a pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei n.


37/66, incide nos casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao
embarque ou desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único
do art. 108 do mesmo diploma legal destina-se a punir declaração inexata em seu valor,
natureza ou quantidade da mercadoria importada.

(...) 1. A pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei 37/66, incide nos
casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao embarque ou
desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único do art. 108 do
mesmo diploma legal destina-se a punir declaração inexata em seu valor, natureza ou
quantidade da mercadoria importada.
2. Se a declaração de importação for falsa quanto à natureza da mercadoria importada, seu
conteúdo ou quantidade, será possível aplicar, a par da multa, também a pena de
perdimento em relação ao excedente não declarado, tendo em vista o que dispõe o inciso
XII do art. 618 do Regulamento Aduaneiro vigente à época dos fatos (Decreto 4.543/02).
3. Todavia, quando a hipótese é exclusiva de subfaturamento, não há regra semelhante que
autorize a pena de perdimento, devendo ser adotada somente a norma específica, que é a
multa de 100% sobre a diferença apurada entre o valor real e o declarado, nos termos do
art. 108, parágrafo único, do DL 37/66.
4. No caso, segundo o arcabouço fático delineado na origem, houve apenas
subfaturamento, vale dizer, indicação de valores a menor para a operação de importação, o
que afasta a incidência da pena de perdimento.
5. Agravo Regimental não provido.
(AgRg no REsp 1341312/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª Turma, julgado em 06/11/2012)

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.240.005-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 5/9/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR
RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS
DIREITO TRIBUTÁRIO. CREDITAMENTO DE ICMS INCIDENTE SOBRE A ENERGIA ELÉTRICA UTILIZADA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC.
É possível o creditamento do ICMS incidente sobre a energia elétrica utilizada pelas empresas de
telefonia na prestação de serviços de telecomunicações.
De fato, o art. 19 da LC 87/1996 estabeleceu a não-cumulatividade do ICMS, prevendo a compensação do que
for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou “prestação de serviços” de transporte
interestadual e intermunicipal e “de comunicação” com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por
outro estado. Por sua vez, o art. 33, II, “b”, da LC 87/1996 dispõe que a entrada de energia elétrica em
estabelecimento implicará direito a crédito quando a energia tiver sido “consumida no processo de
industrialização”. Por seu turno, o art. 1º do Dec. 640/1962 equiparou os serviços de telecomunicações à
indústria básica para todos os efeitos legais. Por conseguinte, a Primeira Seção do STJ instituiu, no julgamento do
REsp 842.270-RS, DJe 26/6/2012, a compreensão de que o ICMS incidente sobre a energia elétrica consumida
pelas empresas de telefonia, que promovem processo industrial por equiparação, pode ser creditado para
abatimento do imposto devido quando da prestação de serviços. Na ocasião, entendeu-se, ademais, que a regra
constante do art. 1º do Dec. 640/1962 é inteiramente compatível com o CTN e com a legislação superveniente e
atual, continuando em pleno vigor o referido dispositivo legal, já que não foi revogado. Além disso,
considerando a definição de serviço de telecomunicações determinada pelo art. 60 da Lei 9.472/1997 (Lei Geral
de Telecomunicações) – segundo o qual serviço de telecomunicações é o conjunto de atividades que possibilita
a oferta de “telecomunicação”, qualificada, pelo § 1º do dispositivo, como a “transmissão, emissão ou recepção,
por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres,
sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza” –, percebe-se que a energia elétrica é um
insumo essencial e indispensável para a realização do processo, equiparável, em seus fundamentos, ao de
industrialização, que resulta na prestação do serviço de telecomunicações, o que legitima a incidência do
princípio da não-cumulatividade. Ademais, conforme firmado no voto-vista do Min. Castro Meira, ainda no
precedente mencionado, o art. 33, II, “b”, da Lei Complementar 87/1996 precisa ser interpretado conforme a
constituição, de modo a permitir que a não-cumulatividade alcance os três núcleos de incidência do ICMS
previstos no texto da Constituição (acirculação de mercadorias, a prestação de serviços de transporte e os
serviços de comunicação), sem restringi-la apenas à circulação de mercadorias, que, embora seja a vertente
central, não representa a única hipótese de incidência do imposto. Precedentes citados: REsp 842.270-RS ,
Primeira Seção, DJe 26/6/2012; e AgRg no AgRg no REsp 1.134.930-MS, Segunda Turma, DJe 19/12/2012.
REsp 1.201.635-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 12/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DOCUMENTOS APTOS A RESPALDAR AÇÃO RESCISÓRIA. RECURSO REPETITIVO
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Configuram documentos aptos a respaldar ação rescisória os microfilmes de cheques nominais emitidos
por empresa de consórcio que comprovem a efetiva restituição aos consorciados de valores por estes
cobrados na ação rescindenda, na hipótese em que esses microfilmes, apesar de já existirem na época da
prolação da sentença rescindenda, não puderam ser utilizados em tempo hábil, considerando a situação
peculiar estabelecida na comarca, na qual mais de duas mil ações foram ajuizadas contra a referida
empresa por consorciados, em sua maioria, domiciliados em outras partes do território nacional, tendo
sido a maior parte dos contratos firmado em outras unidades da Federação.
De fato, considerando as circunstâncias mencionadas, é razoável concluir que a concentração de demandas
tinha o único intuito de dificultar a defesa da empresa ré. Diante dessas circunstâncias, deve-se reconhecer
como caracterizada situação de efetiva impossibilidade de utilização dos microfilmes no curso do processo
originário. Tese firmada para fins do art. 543-C do CPC: "Em sede de ação rescisória, microfilmes de
30

cheques nominais emitidos por empresa de consórcio configuram documentos novos, nos termos do art.
485, VII, do CPC, aptos a respaldar o pedido rescisório por comprovarem que a restituição das parcelas
Página

pagas pelo consorciado desistente já havia ocorrido antes do julgamento do processo originário".
REsp 1.114.605-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/6/2013.

INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 531 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: EREsp 878.579-RS; REsp 1.251.331-RS; REsp
1.255.573-RS; REsp 1.365.433-MG.

ÍNDICE

Direito Administrativo
Candidato aprovado dentro do cadastro de reservas tem direito subjetivo à nomeação se forem criados
novos cargos?
Em ação de improbidade, o juiz pode conceder liminar inaudita altera parte para que o requerido fique
sem receber novas verbas do Poder Público.

Direito Civil
Condomínio tem legitimidade para ajuizar ação de nunciação de obra nova contra condômino que
realiza obra irregular.
Local onde será proposta a execução de alimentos.
Se a sentença fixa alimentos em valor inferior ao da decisão liminar, o novo parâmetro é que será
considerado para fins de prisão civil em caso de inadimplemento.
Não cabe prisão civil do inventariante em razão do descumprimento do dever do espólio de prestar
alimentos.

Direito Empresarial
Os créditos de honorários advocatícios estão sujeitos à recuperação judicial.
Não é cabível compensar débitos da falida com créditos da massa falida resultantes de ação revocatória
julgada procedente.

Direito Ambiental
Não gera dano moral a conduta do IBAMA de não autorizar a queimada de determinada área mesmo
que em anos anteriores isso tenha sido permitido.

Estatuto da Criança e do Adolescente


As escusas absolutórias (art. 181 do CP) podem ser aplicadas ao adolescente infrator.
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www.dizerodireito.com.br
Direito Processual Civil
O simples fato de a demanda principal ter sido julgada antes da oposição não é causa de nulidade.
De quem é a responsabilidade pela degravação dos depoimentos colhidos mediante carta precatória?
O credor tem o direito de recusar a proposta do executado para que seja invertida a ordem de penhora
do art. 655 do CPC, a não ser que haja alguma situação excepcionalíssima.
Juiz Federal pode declinar, de ofício, execução fiscal quando tiver sido proposta sem obedecer a regra
do art. 15, I, da Lei 5.010/66.

Direito Penal
O benefício do arrependimento posterior comunica-se aos coautores e partícipes que não tenham
participado da restituição da coisa ou da reparação do dano.
Em condenação por roubo não se pode fixar regime mais gravoso ao réu pelo simples fato de ele ter
apontado a arma para o rosto da vítima.
Tráfico de maquinário (art. 34).

Direito Processual Penal


As referências ou a leitura da decisão de pronúncia durante os debates no Júri somente acarretam
nulidade se forem feitas como argumento de autoridade.

Direito Tributário
Formação de CDA em caso de tributos sujeitos a lançamento de ofício não precisa de processo
administrativo prévio.
É inexigível a cobrança de FUNDAF (uma espécie de taxa) com base em atos regulamentares da RFB por
ofensa ao princípio da legalidade estrita.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Candidato aprovado dentro do cadastro de reservas tem direito subjetivo à nomeação se forem
criados novos cargos?

Neste julgado, o STJ decidiu que os candidatos aprovados em concurso público no cadastro de
reserva não têm direito subjetivo à nomeação, ainda que surjam novas vagas durante o prazo
de validade do certame, seja em decorrência de vacância nos quadros funcionais, seja em razão
da criação de novas vagas por lei. Isso porque, dentro do parâmetro fixado em repercussão
geral pelo STF, os candidatos aprovados em concurso público, mas inseridos em cadastro de
reserva, têm apenas expectativa de direito à nomeação.
Nesses casos, compete à Administração, no exercício do seu poder discricionário (juízo de
conveniência e oportunidade), definir as condições do preenchimento dos seus cargos vagos.

Obs: vale ressaltar que existem julgados em sentido contrário, ou seja, afirmando que o
candidato aprovado em concurso público dentro do cadastro de reserva, ainda que fora do
número de vagas originalmente previstas no edital do certame, terá direito subjetivo à
nomeação quando, durante o prazo de validade do concurso, houver o surgimento de novas
vagas, seja em razão da criação de novos cargos mediante lei, seja em virtude de vacância
decorrente de exoneração, demissão, aposentadoria, posse em outro cargo inacumulável ou
falecimento (STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 37.982/RO, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado
em 13/08/2013).
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Comentários Um dos temas mais polêmicos, atualmente, sobre Direito Administrativo diz respeito à
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existência ou não de direito subjetivo à nomeação de candidatos aprovados em concurso


público fora do número de vagas previsto no edital.
INFORMATIVO esquematizado
Vou tentar mostrar aqui a posição majoritária no STJ e no STF, ressaltando, contudo, que o
assunto ainda está longe de ser pacífico e pode acontecer de os próprios Tribunais ainda
mudarem o entendimento sobre o tema. Caso haja alguma alteração, você será avisado.

SITUAÇÃO 1
Candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação?
Em regra, SIM. O candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do
concurso público possui direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período
de validade do certame. Essa é a posição pacífica do STJ e STF.

Exceções:
O STF, ao analisar o tema em sede de repercussão geral, identificou hipóteses excepcionais
em que a Administração pode deixar de realizar a nomeação de candidato aprovado dentro
do número de vagas, desde que se verifique a ocorrência de uma situação com as seguintes
características (RE 598.099/MS, Pleno, DJe de 3.10.2011):
a) superveniência: os eventuais fatos ensejadores de uma situação excepcional devem ser
necessariamente posteriores à publicação do edital do certame público;
b) imprevisibilidade: a situação deve ser determinada por circunstâncias extraordinárias,
imprevisíveis à época da publicação do edital;
c) gravidade: os acontecimentos extraordinários e imprevisíveis devem ser extremamente
graves, implicando onerosidade excessiva, dificuldade ou mesmo impossibilidade de
cumprimento efetivo das regras do edital;
d) necessidade: a solução drástica e excepcional de não cumprimento do dever de
nomeação deve ser extremamente necessária, de forma que a Administração somente
pode adotar tal medida quando absolutamente não existirem outros meios menos gravosos
para lidar com a situação excepcional e imprevisível.

SITUAÇÃO 2:
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas (o concurso não previa cadastro de
reserva), mas durante o prazo de validade do concurso foram criados novos cargos, ele terá
direito subjetivo à nomeação?
Em regra, NÃO. O candidato aprovado fora do número de vagas não tem direito subjetivo à
nomeação, mesmo que surjam ou sejam criadas vagas durante o prazo de validade do
concurso. Assim, o fato de terem sido criados novos cargos enquanto ainda vigente o
concurso não obriga, por si só, a Administração a nomear o candidato aprovado fora do
número de vagas.
Somente existe direito subjetivo à nomeação dos candidatos aprovados dentro do número
de vagas inicialmente previsto no instrumento convocatório, restando à Administração o
exercício do seu poder discricionário para definir pela conveniência de se nomear os
candidatos elencados em cadastro de reserva.

(...) Os candidatos classificados em concurso público fora do número de vagas previstas no


edital possuem mera expectativa de direito à nomeação, nos termos do RE 598.099/MS,
julgado pelo Supremo Tribunal Federal. (...)
(STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 38.892/AC, Min. Benedito Gonçalves, julgado em 16/04/2013)

(...) A mera criação de novos cargos enquanto ainda vigente o concurso não garante, por si só, o
direito do candidato aprovado, mas não classificado dentre as vagas ofertadas, à nomeação.
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Tampouco obriga, a princípio, a administração a prorrogar o prazo de validade do concurso, ato


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discricionário, submetido ao juízo de oportunidade e conveniência administrativas.


(STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1263916/PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 14/08/2012)
INFORMATIVO esquematizado
Exceção:
O candidato aprovado fora do número de vagas do edital adquire direito subjetivo à
nomeação caso consiga comprovar que:
a) surgiram novas vagas durante o prazo de validade do concurso público; e
b) existe interesse da Administração Pública e disponibilidade orçamentária para preencher
essas vagas.

Exemplo dessa exceção: o concurso previu 10 vagas. Foram nomeados 10 candidatos, mas
um desistiu e o outro não conseguiu tomar posse por lhe faltar determinado requisito.
Logo, os candidatos classificados em 11º e 12º lugares passaram a ter direito subjetivo de
serem nomeados. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. AgRg no RMS 30.776/RO, Rel. Min.
Assusete Magalhães, julgado em 17/09/2013.

Vale ressaltar que “o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que a


contratação precária de terceiros durante o prazo de validade do certame, por si só, gera
direito subjetivo à nomeação para os candidatos aprovados dentro do número de vagas
disponibilizadas no concurso.” (STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1188144/GO, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 08/10/2013).

SITUAÇÃO 3:
Se o candidato foi para o cadastro de reserva previsto no edital e durante o prazo de
validade do concurso surgiram novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação?
Aqui a polêmica está mais acentuada, havendo duas correntes sobre o tema:

1ª corrente:
Em regra, SIM. Segundo vem decidindo o STJ, “a aprovação do candidato dentro do
cadastro de reserva, ainda que fora do número de vagas inicialmente previstas no edital do
concurso público, confere-lhe o direito subjetivo à nomeação para o respectivo cargo se,
durante o prazo de validade do concurso, houver o surgimento de novas vagas, seja em
razão da criação de novos cargos mediante lei, seja em virtude de vacância decorrente de
exoneração, demissão, aposentadoria, posse em outro cargo inacumulável ou falecimento.”
(STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 37.982/RO, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em
13/08/2013).
(STJ. 2ª Turma. RMS 38443/AC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
02/04/2013).

Exceções
Existem exceções? Em outras palavras, existem casos em que o candidato foi aprovado fora
do número de vagas, mas dentro do cadastro de reserva, e que ele não terá direito subjetivo
à nomeação mesmo tendo surgido novas vagas?
SIM, são as mesmas exceções previstas na situação 1.
Assim, o candidato aprovado dentro do cadastro de reservas poderá deixar de ser nomeado
mesmo que tenham surgido novos cargos caso se verifique uma situação superveniente,
imprevisível, grave e necessária.
Exemplo: não haverá direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado dentro do
cadastro de reservas mesmo que tenham surgido vagas na hipótese em que não houver
dotação orçamentária para a realização de nomeações. O reconhecimento da existência de
necessidade de servidores não garante, por si só, a nomeação de candidatos, se o
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orçamento desse ano não suporta o acréscimo de despesas.


Página

Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. RMS 37700/RO, Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
04/04/2013.
INFORMATIVO esquematizado
2ª corrente:
NÃO. A 1ª Seção do STJ entendeu que não. Segundo entendeu a Min. Eliana Calmon, os
candidatos aprovados em concurso público no cadastro de reserva não têm direito
subjetivo à nomeação, ainda que surjam novas vagas durante o prazo de validade do
certame, seja em decorrência de vacância nos quadros funcionais, seja em razão da criação
de novas vagas por lei. Isso porque, dentro do parâmetro fixado em repercussão geral pelo
STF, os candidatos aprovados em concurso público, mas inseridos em cadastro de reserva,
têm apenas expectativa de direito à nomeação. Nesses casos, compete à Administração, no
exercício do seu poder discricionário (juízo de conveniência e oportunidade), definir as
condições do preenchimento dos seus cargos vagos.
(STJ. 1ª Seção. MS 17.886-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 11/9/2013).

Penso que prevalece e seja mais acertada a 1ª corrente.


Processo STJ. 1ª Seção. MS 17.886-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 11/9/2013.

Em ação de improbidade, o juiz pode conceder liminar inaudita altera parte para que o
requerido fique sem receber novas verbas do Poder Público

Em uma ação de improbidade administrativa, é possível a concessão de liminar “inaudita


altera parte” determinando que o requerido fique proibido de receber novas verbas do poder
público, assim como benefícios fiscais e creditícios. Isso porque, ressalvadas as medidas de
natureza exclusivamente sancionatória – por exemplo, a multa civil, a perda da função pública
e a suspensão dos direitos políticos –, pode o magistrado, a qualquer tempo, com fundamento
no poder geral de cautela, adotar a tutela necessária para fazer cessar ou extirpar a atividade
nociva.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
O Ministério Público ajuizou ação de improbidade administrativa contra determinado réu
em virtude de ele manter contratos supostamente ilegais com a Administração Pública.
A improbidade administrativa é regida pela Lei n. 8.429/92.
Segundo a referida Lei, após a ação ser proposta, o juiz analisará a petição inicial e, estando
ela em devida forma, mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido para oferecer
manifestação por escrito dentro do prazo de 15 dias (§ 7º do art. 17). Isso é chamado de
“defesa prévia” ou “defesa preliminar”.

Providência requerida pelo MP


Ocorre que o Promotor de Justiça, na petição inicial, requereu que, antes de ser ordenada a
notificação do requerido, o juiz já determinasse que a Administração Pública não mais
repassasse novas verbas e benefícios fiscais e creditícios ao requerido.

A Lei n. 8.492/92 não prevê expressamente essa providência requerida pelo Parquet.
Mesmo assim, o juiz poderá determiná-la?
SIM. O STJ decidiu que, em uma ação de improbidade administrativa, é possível a concessão
de liminar “inaudita altera parte” (sem oitiva da parte contrária) determinando que o
requerido fique proibido de receber novas verbas do poder público, assim como benefícios
fiscais e creditícios. Isso porque, ressalvadas as medidas de natureza exclusivamente
sancionatória – por exemplo, a multa civil, a perda da função pública e a suspensão dos
direitos políticos –, pode o magistrado, a qualquer tempo, com fundamento no poder geral
de cautela, adotar a tutela necessária para fazer cessar ou extirpar a atividade nociva, a teor
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do que disciplinam os arts. 461, § 5º, e 804 do CPC, 11 da Lei 7.347/1985 e 21 da mesma lei,
Página

combinado com os arts. 83 e 84 do CDC.

INFORMATIVO esquematizado
Desse modo, embora o art. 17, § 7º, da LIA estabeleça como regra a prévia notificação do
acusado para se manifestar sobre a ação de improbidade, pode o magistrado,
excepcionalmente, conceder medida liminar sempre que verificar que a observância
daquele procedimento legal poderá tornar ineficaz a tutela de urgência pretendida.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.385.582-RS, Rel. Herman Benjamin, julgado em 1º/10/2013.

DIREITO CIVIL

Condomínio tem legitimidade para ajuizar ação de nunciação de obra nova contra condômino
que realiza obra irregular

Admite-se ação de nunciação de obra nova demolitória movida pelo condomínio contra
condômino, proprietário de apartamento, que realiza obra pela qual transforma sua unidade
em apartamento de cobertura.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Henrique, morador do último andar de um prédio residencial, iniciou uma obra para
transformar seu apartamento em cobertura.
Ocorre que a referida obra altera a fachada do edifício, contraria as normas municipais
sobre construções e coloca em risco as fundações do imóvel, que são bem antigas.

O condomínio pode tomar alguma providência? Qual?


Poderá ajuizar uma ação de nunciação de obra nova cumulada com ação demolitória,
pedindo a paralisação da obra e a destruição da parte já construída.

Ação de nunciação de obra nova


A ação de nunciação de obra nova serve para impedir que seja executada ou concluída uma
construção que viole:
as regras sobre direito de vizinhança (previstas no Código Civil);
as normas municipais sobre construções; ou
as limitações administrativas impostas sobre a propriedade particular.

Tal ação está prevista nos arts. 934 a 940 do CPC. Veja o que diz o art. 934:

Art. 934. Compete esta ação:


I - ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra nova em imóvel
vizinho lhe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado;
II - ao condômino, para impedir que o co-proprietário execute alguma obra com prejuízo ou
alteração da coisa comum;
III - ao Município, a fim de impedir que o particular construa em contravenção da lei, do
regulamento ou de postura.

Em nenhum dos incisos do art. 934 do CPC menciona-se o condomínio como sendo um dos
legitimados para essa ação. Mesmo assim isso é possível?
SIM. Apesar de o art. 934 não incluir o condomínio entre os legitimados para mover a ação
de nunciação de obra nova contra condôminos, o STJ admite essa legitimidade, sob o
argumento de que o referido artigo deve ser interpretado de forma teleológica, levando em
6

consideração que o condomínio possui evidente interesse de buscar as medidas necessárias


Página

para a defesa dos interesses da coletividade que representa.

INFORMATIVO esquematizado
Qual é a diferença entre ação de nunciação de obra nova e a ação demolitória?
A ação demolitória tem o mesmo objetivo da ação de nunciação de obra nova.
A diferença é que a ação de nunciação é proposta quando a construção ainda está na fase
de planejamento ou execução.
Já a ação demolitória é manejada quando a obra estiver concluída ou em fase de
acabamento.
Desse modo, a ação de nunciação de obra nova revela-se como uma tutela preventiva e a
demolitória como uma tutela repressiva. Nesse sentido: MARINONI e MITIDIERO, p. 850.

Se for proposta uma ação de nunciação de obra nova, mas a edificação já estiver concluída,
é possível que o juiz converta a demanda em ação demolitória?
SIM. Já houve precedente do STJ nesse sentido: “a diversidade de requisitos entre a ação de
nunciação de obra nova e a ação demolitória não impede possa ser feita a conversão de
uma em outra, quando erroneamente ajuizada” (REsp 851.013/RS, Rel. Min. Hélio Quaglia
Barbosa, Quarta Turma, julgado em 05/12/2006).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.374.456-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 10/9/2013.

Local onde será proposta a execução de alimentos

Em se tratando de execução de prestação alimentícia, o alimentando (credor) poderá escolher,


dentre quatro opções, o local onde irá ajuizar a execução:
ATENÇÃO
a) o foro do seu domicílio ou de sua residência;
b) o juízo que proferiu a sentença exequenda;
c) o juízo do local onde se encontram bens do alimentante sujeitos à expropriação; ou
d) o juízo do atual domicílio do alimentante.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro, menor impúbere, representado por sua mãe, ajuizou ação de alimentos em face de
seu genitor (João).
A demanda foi proposta na vara de família de Goiânia (GO), local de domicílio do menor
(art. 100, II, do CP).
O juiz julgou procedente o pedido e condenou João a pagar ao filho, mensalmente, o valor
de 2 mil reais a título de pensão alimentícia.
A sentença transitou em julgado.
Dois anos depois da sentença, Pedro e sua mãe se mudam para Campo Grande (MS).
A partir daí, João, que vinha cumprindo regularmente sua obrigação, decide não mais pagar
a pensão alimentícia.
Vale ressaltar que João também se mudou, estando atualmente, em Palmas (TO). Dizem,
contudo, que ele pensa em ir para Cáceres (MT), local onde possui duas fazendas e
centenas de cabeças de gado.
A mãe de Pedro procura a Defensoria Pública, que informa ser necessário o ajuizamento de
uma execução de alimentos contra João.

Nesse caso, onde deverá ser proposta a execução dos alimentos?


Segundo decidiu o STJ, o alimentando (credor) poderá escolher, dentre quatro opções, o
local onde irá ajuizar a execução:

Opção Fundamento legal (CPC)


a) o foro do seu domicílio ou de sua Art. 100. É competente o foro:
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II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a


residência;
Página

ação em que se pedem alimentos;


b) o juízo que proferiu a sentença Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á
perante:

INFORMATIVO esquematizado
exequenda; II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de
jurisdição;

Art. 575. A execução, fundada em título judicial, processar-


se-á perante:
II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de
jurisdição;
c) o juízo do local onde se encontram Art. 475-P (...)
Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo,
bens do alimentante sujeitos à o exeqüente poderá optar pelo juízo do local onde se
expropriação; ou encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual
domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos
do processo será solicitada ao juízo de origem.
d) o juízo do atual domicílio do Art. 475-P (...)
Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo,
alimentante. o exeqüente poderá optar pelo juízo do local onde se
encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual
domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos
do processo será solicitada ao juízo de origem.

Logo, em nosso exemplo, Pedro poderia propor a execução em uma das seguintes opções:
a) Campo Grande (MS);
b) Goiânia (GO);
c) Cáceres (MT);
d) Palmas (TO).

Por que o STJ entendeu que seria possível a existência dessas quatro opções, com base na
combinação dos referidos dispositivos?
Porque conforme esclareceu a Min. Nancy Andrighi, “o descumprimento de obrigação
alimentar, antes de ofender a autoridade de uma decisão judicial, viola o direito à vida
digna de quem dela necessita (art. 1º, III, da Constituição Federal). Em face dessa
peculiaridade, a interpretação das normas relativas à competência, quando o assunto é
alimentos, deve, sempre, ser a mais favorável aos alimentandos, sobretudo em se tratando
de menores, como na espécie, por incidência, também, do princípio do melhor interesse e
da proteção integral à criança e ao adolescente (art. 3º da Convenção sobre os Direitos da
Criança e art. 1º do ECA).”

A escolha de onde será proposta a execução é do credor e recairá, ou sobre o foro que lhe
permita satisfazer, de forma mais eficiente, sua necessidade, ainda que afastado de seu
domicílio, ou sobre o foro onde reside, que lhe exige menos esforço financeiro e, portanto,
lhe facilita promover a execução.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 118.340-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/9/2013.

Se a sentença fixa alimentos em valor inferior ao da decisão liminar, o novo parâmetro é que
será considerado para fins de prisão civil em caso de inadimplemento

Na hipótese de superveniência de sentença que fixa alimentos em quantia inferior aos


provisórios, a prisão civil do devedor somente pode ser admitida diante do não pagamento do
valor resultante do cômputo das prestações vencidas com base no novo valor estabelecido pela
sentença.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Alexandre ajuizou ação de alimentos em face de seu pai, João.
O juiz, em decisão liminar, fixou os alimentos provisórios em 5 salários mínimos.
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Após pagar alguns meses, João ficou inadimplente, razão pela qual Alexandre ingressou com
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a execução dos alimentos pedindo a prisão civil do devedor.

INFORMATIVO esquematizado
Nesse meio tempo foi sentenciada a ação de alimentos, condenando João a pagar 3
salários-mínimos.
João pagou, então, o que estava devendo, tendo como parâmetro, no entanto, 3 salários-
mínimos (o novo valor fixado na sentença) e não 5 salários-mínimos.
O juiz não aceitou e manteve a determinação da prisão de João.

A decisão do magistrado foi acertada?


NÃO. Na hipótese de superveniência de sentença que fixa alimentos em quantia inferior aos
provisórios, a prisão civil do devedor somente pode ser admitida diante do não pagamento
do valor resultante do cômputo das prestações vencidas com base no novo valor
estabelecido pela sentença.

Segundo decidiu o STJ, a prisão civil é medida coercitiva extrema, aplicável apenas em
situações de débito de pensão alimentícia, em razão da premissa de que a liberdade do
alimentante deve ser constrangida para garantir a sobrevivência do alimentando.

Por isso, ao decretar a prisão civil do devedor de alimentos, devem-se considerar as


peculiaridades do caso concreto, adequando-o à correta compreensão da norma jurídica.

Deve-se considerar, nesse contexto, que, por ocasião do arbitramento dos alimentos
provisórios, o binômio necessidade e possibilidade é examinado sumariamente, mediante
análise de cognição perfunctória. Já na prolação da sentença, o referido binômio é
apreciado sob um juízo cognitivo exauriente.

Assim, a medida da prisão civil, por ser extrema, não se revela como a via executiva
adequada (razoabilidade/proporcionalidade) para coagir o alimentante ao pagamento de
um valor fixado em sede de cognição perfunctória e correspondente a montante superior
ao arbitrado definitivamente em sentença, após ampla análise do conjunto probatório.
Portanto, a prisão civil de devedor de alimentos, no caso de fixação pela sentença de
alimentos definitivos em valor inferior aos provisórios, somente poderá ser admitida diante
do não pagamento com base no novo valor estabelecido pela sentença. A diferença de
valores deve ser buscada por meio de execução, conforme o rito do art. 732 do CPC (que
não gera prisão civil).
Processo STJ. 3ª Turma. HC 271.637-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/9/2013.

Não cabe prisão civil do inventariante em razão do descumprimento da obrigação do espólio de


prestar alimentos

Não cabe prisão civil do inventariante em razão do descumprimento da obrigação do espólio


de prestar alimentos.
ATENÇÃO
Comentários O que é a herança?
A herança é o conjunto de bens deixado pela pessoa falecida.
Caracteriza-se, por força de lei, como sendo bem imóvel, universal e indivisível.
A herança é formada automaticamente pela morte e somente será dissolvida quando
houver a partilha.

O que é o espólio?
O espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora dele.
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Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para praticar atos
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jurídicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herança) e tem legitimidade processual

INFORMATIVO esquematizado
(pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual) (FARIAS, Cristiano Chaves. et.
al., Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 1396).

Quem representa o espólio em juízo (quem age em nome do espólio)?


Se já houve inventário: o espólio é representado em juízo pelo inventariante.
Se ainda não foi aberto inventário: o espólio é representado pelo administrador
provisório (art. 985 do CPC).

Vale ressaltar que o inventariante é o responsável pela administração da herança, conforme


previsto no Código Civil:
Art. 1.991. Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a
administração da herança será exercida pelo inventariante.

Fixados estes conceitos, imagine a seguinte situação hipotética:


Luis ajuizou execução de alimentos sob o rito do art. 733 do CPC em face do espólio de
Januário (seu falecido pai), representado pela inventariante Madalena (esposa do morto),
pleiteando o recebimento de alimentos referentes aos meses de outubro, novembro e
dezembro, bem como os vencidos no curso do processo (Súmula 309 do STJ).
A inventariante foi citada para, em 3 dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou
justificar a impossibilidade de efetuá-lo.
Madalena apresentou, então, uma petição ao juiz justificando que o espólio não tem como
efetuar o pagamento da pensão alimentícia arbitrada porque os bens que compõem o
acervo hereditário não têm gerado renda.
O juiz entendeu que as justificativas apresentadas não eram suficientes e, então, decretou a
prisão civil de Madalena (§ 1º do art. 733 do CPC).
Foi interposto agravo de instrumento, tendo o TJ mantido a decisão do magistrado.
Diante disso, o advogado de Madalena impetrou habeas corpus no STJ em seu favor.

O que decidiu o STJ em um caso análogo a esse? O inadimplemento de pensão alimentícia


transmitida ao espólio pode acarretar a prisão civil de seu inventariante?
NÃO.

O CC/2002 previu que a “a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do


devedor” (art. 1.700).

O STJ interpreta que, apesar de existir esse dispositivo, o dever de prestar alimentos
continua sendo personalíssimo. Assim, os herdeiros irão responder pela obrigação até o
limite da herança, tendo em vista que a dívida é oriunda de obrigação pretérita do morto e
não originária dos herdeiros (arts. 1.792 e 1.997 e Enunciado 343 do CJF).

Além disso, a jurisprudência do STJ admite a transmissão da obrigação alimentar ao espólio


apenas nos casos em que, antes de a pessoa morrer, já havia estipulação, por sentença
judicial ou acordo prévio da obrigação alimentar, de modo a garantir a manutenção do
alimentando durante a tramitação do inventário.

(...) A obrigação de prestar alimentos só se transmite ao espólio quando já constituída antes


da morte do alimentante. (...) (STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 271.410/SP, Rel. Min. Sidnei
Beneti, julgado em 23/04/2013).
10

(...) Inexistindo condenação prévia do autor da herança, não há por que falar em
Página

transmissão do dever jurídico de prestar alimentos, em razão do seu caráter personalíssimo

INFORMATIVO esquematizado
e, portanto, intransmissível (...) (STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 981.180/RS, Rel. Min. Paulo
De Tarso Sanseverino, julgado em 07/12/2010).

Assim, não é possível, portanto, o ajuizamento de ação de alimentos em face do espólio, se


quando do falecimento do autor da herança (ex: pai do alimentando) não havia alimentos
fixados em acordo ou sentença em seu favor.

Em suma, o espólio tem a obrigação de pagar pelos alimentos desde que:


eles já estivessem fixados antes da morte; e
apenas até os limites das forças da herança.

Desse modo, para o STJ, apesar do art. 1.700 do CC, os alimentos continuam ostentando
caráter personalíssimo, de forma que, no que tange à obrigação alimentar, não há que se
falar em transmissão do dever jurídico (em abstrato) de prestá-los (REsp 1130742/DF, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 04/12/2012).

Nesse mesmo sentido, afirmou o Min. João Otávio de Noronha:


“(...) Não se pode confundir a regra do art. 1.700, segundo o qual a obrigação de prestar
alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, com a transmissão do dever jurídico de
alimentar, utilizada como argumento para a propositura da presente ação. Trata-se, na
verdade, de coisas distintas. O dever jurídico é abstrato e indeterminado e a ele se
contrapõe o direito subjetivo, enquanto que a obrigação é concreta e determinada e a ela
se contrapõe uma prestação.
Havendo condenação prévia do autor da herança, há obrigação de prestar alimentos e esta
se transmite aos herdeiros. Inexistente a condenação, não há por que falar em transmissão
do dever jurídico de alimentar, em razão do seu caráter personalíssimo e, portanto,
intransmissível. (...)” (REsp 775180/MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quarta Turma,
julgado em 15/12/2009).

O que se transmite, portanto, é a obrigação concreta já fixada antes da morte, mas não o
dever jurídico (em abstrato).

Justamente pelo fato de o dever de alimentar ser personalíssimo e instramissível é que o


STJ entende que não é possível a decretação de prisão civil do inventariante do espólio,
uma vez que a restrição da liberdade constitui sanção também de natureza personalíssima e
que não pode recair sobre terceiro, estranho ao dever de alimentar, como acontece com o
inventariante.
Processo STJ. 4ª Turma. HC 256.793-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Os créditos de honorários advocatícios estão sujeitos à recuperação judicial

Os créditos derivados de honorários advocatícios sucumbenciais estão sujeitos aos efeitos da


recuperação judicial, mesmo que decorrentes de condenação proferida após o pedido de
recuperação.
Comentários Imagine a seguinte situação:
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Em 2010, a empresa “A” ajuizou ação de cobrança contra a empresa “B”.


Página

Em 2012, a empresa “B” pediu e lhe foi deferida recuperação judicial.


Em 2013, a ação proposta por “A” foi julgada procedente, tendo “B” sido condenada, com

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trânsito em julgado.
“B” foi condenada também a pagar honorários advocatícios de sucumbência ao advogado
de “A”.
O advogado ingressou com um pedido cobrando os honorários e afirmando que eles
deveriam ser pagos como créditos extraconcursais.

O pedido do advogado deve ser aceito e os honorários pagos fora das limitações inerentes à
recuperação judicial?
NÃO. Para que o advogado cobre esses honorários advocatícios, ele terá que submetê-los às
regras da recuperação judicial. Isso porque os créditos derivados de honorários advocatícios
sucumbenciais estão sujeitos aos efeitos da recuperação judicial, mesmo que decorrentes
de condenação proferida após o pedido de recuperação.

Os honorários advocatícios, tanto os contratualmente pactuados como os de sucumbência,


possuem natureza alimentar.

Justamente por isso, quando são cobrados de empresas que estão em processo de falência
ou de recuperação judicial, os honorários advocatícios recebem o mesmo tratamento
dispensado aos créditos trabalhistas.

Os créditos de natureza trabalhista estão sujeitos aos efeitos da recuperação judicial. Logo,
seria injusto e desigual que os créditos resultantes de honorários advocatícios fossem
considerados créditos extraconcursais e fossem pagos sem obedecer à ordem de
preferências prevista na Lei n. 11.101/2005.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.377.764-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/8/2013.

Não é cabível compensar débitos da falida com créditos da massa falida resultantes de ação
revocatória julgada procedente

Os valores a serem restituídos à massa falida decorrentes da procedência de ação revocatória


não podem ser compensados com eventual crédito habilitado no processo de falência pelo réu
condenado.
Comentários Segundo ressaltou o Min. Luis Felipe Salomão, a compensação de créditos, embora prevista
no direito comum e também no direito concursal, há de ser aplicada com redobradas
cautelas quando se trata de processo falimentar, uma vez que significa a quebra da par
conditio creditorum, que deve sempre reger a satisfação das dívidas contraídas pela falida.

Operada a compensação, a Massa deixa de receber determinado valor (o que em si já é


prejudicial), ao passo que o credor é liberado de observar a respectiva classificação de seu
crédito (o que, por derradeiro, atinge também os interesses dos demais credores). Em
suma, a compensação de créditos no processo falimentar coloca sob a mesma dogmática
jurídica o pagamento de débitos da falida e o recebimento de créditos pela massa falida,
situações que ordinariamente obedecem a sistemas bem distintos.

A doutrina defende que as hipóteses legais que impedem a compensação do crédito


perante a massa não estão listadas exaustivamente no parágrafo único do art. 122 da Lei n.
11.101/2005:
12

Art. 122. Compensam-se, com preferência sobre todos os demais credores, as dívidas do
Página

devedor vencidas até o dia da decretação da falência, provenha o vencimento da sentença


de falência ou não, obedecidos os requisitos da legislação civil.

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Parágrafo único. Não se compensam:
I – os créditos transferidos após a decretação da falência, salvo em caso de sucessão por
fusão, incorporação, cisão ou morte; ou
II – os créditos, ainda que vencidos anteriormente, transferidos quando já conhecido o
estado de crise econômico-financeira do devedor ou cuja transferência se operou com
fraude ou dolo.

Assim, aplicam-se também ao direito falimentar as hipóteses que vedam a compensação


previstas no direito comum, como aquelas previstas nos arts. 368 a 380 do Código Civil. Logo,
não pode ser feita a compensação se isso resultar em prejuízo de direitos de terceiros (art. 380).

Desse modo, não é cabível compensar débitos da falida com créditos da massa falida
resultantes de ação revocatória julgada procedente, porque esta ação envolve o
reconhecimento de que houve uma situação de ilegalidade preestabelecida em prejuízo da
coletividade de credores, ilegalidade essa que não pode beneficiar quem a praticou, ao se
permitir a satisfação mais rápida de seu crédito mediante a compensação.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.121.199-SP, Rel. originário Min. Raul Araújo, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 10/9/2013.

DIREITO AMBIENTAL

Não gera dano moral a conduta do IBAMA de não autorizar a queimada de determinada área,
mesmo que em anos anteriores isso tenha sido permitido

Não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos concedendo autorizações para
desmatamento e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar o solo para
atividade agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o referido terreno integra área de
preservação ambiental.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
João é dono de uma imensa propriedade rural onde lá desenvolve a atividade agrícola.
Durante vários anos, João obteve autorização do IBAMA para fazer desmatamento e
queimada em sua propriedade a fim de preparar a terra para a agricultura.
Ocorre que, no presente ano, o IBAMA recusou-se a conceder a referida autorização, afirmando
que somente agora constatou que o terreno integra uma área de preservação ambiental.
Diante disso, o proprietário, sentindo-se lesado pelo fato de que a autorização já havia sido
concedida durante vários anos, ajuizou uma ação de indenização por danos morais contra o
IBAMA.

Em uma situação análoga a essa, o que decidiu o STJ? Há direito à indenização por dano
moral nesse caso?
NÃO. O STJ decidiu que não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos
concedendo autorizações para desmatamento e queimada em determinado terreno com a
finalidade de preparar o solo para atividade agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o
referido terreno integra área de preservação ambiental. Isso porque a negativa da
autarquia em conceder novas autorizações para queimada e desmatamento constitui a
harmonização de dois valores constitucionais supremos: de um lado, o desenvolvimento do
trabalho rural como fator de dignificação da pessoa humana, de erradicação da pobreza e
13

de valorização do núcleo familiar; de outro, a preservação do meio ambiente


ecologicamente equilibrado como condição de continuidade do desenvolvimento da
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própria atividade rural.

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O uso de fogo (queimadas) no meio ambiente traz inúmeras implicações negativas à
natureza, de forma que não se pode considerar que tal prática atenda à função social da
propriedade, especialmente os incisos I e II do art. 186 da CF/88:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

O art. 186 está perfeitamente harmonizado com os arts. 5º, XXII, e 225 da CF, não podendo
o agricultor deixar de preservar o meio ambiente sob o pretexto de que está exercendo seu
direito constitucional de propriedade. Isso porque, ao mesmo tempo em que o art. 225 da
CF prevê a titularidade coletiva do direito ao meio ambiente, determina também que é
dever de toda a sociedade defendê-lo e preservá-lo, nela incluído, portanto, o próprio
agricultor, que está constitucionalmente comprometido com a exploração sustentável da
agricultura.

O Min. Herman Benjamin explica que o agricultor é simultaneamente agente agressor do


meio ambiente e também titular do direito difuso à preservação ambiental contra suas
próprias técnicas agropastoris. Em outras palavras, ao mesmo tempo que tem que
preservar o meio ambiente, ele também é beneficiário da preservação da natureza.

Assim, não se legitima a pretensão indenizatória que busca responsabilizar o Poder Público
por proteger o próprio agricultor – na qualidade de titular coletivo do direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado – contra os danos provocados pelas suas próprias
técnicas de plantio.

Além disso, a simples vedação da utilização de técnica degradadora no preparo do solo não
impede que se dê continuidade à atividade agrícola com o uso sustentável de técnicas
alternativas à queima e ao desmatamento.

A excepcionalidade do emprego do fogo leva à inarredável conclusão de que se trata de


uma técnica de uso residual, subsidiário, devendo ser preferidas as formas de preparo do
solo que privilegiem a exploração agrícola sustentável.

O fato de, durante vários anos, ter sido concedida autorização para queimada e
desmatamento não gera um direito adquirido para o agricultor de que nos anos seguintes
também será deferido seu pedido. A negativa do IBAMA é legítima e está amparara pelo
poder de autotutela (Súmula 473 do STF), por meio do qual a Administração Pública busca
justamente recompor a legalidade do ato administrativo.

Por fim, ganha substancial relevo o princípio da supremacia do interesse público sobre o
privado, porque a limitação imposta pelo Poder Público quanto à forma de exploração da
propriedade constitui medida restritiva a um direito individual que, todavia, reverte
positivamente em favor de um direito de titularidade difusa – o meio ambiente.

Posto isso, a eliminação dos fatores de agressão ao meio ambiente, muito antes de obstar a
exploração agrícola ou mesmo reduzir sua produtividade, objetiva, justamente, garantir a
14

existência de condições futuras para a continuidade do desenvolvimento da atividade de


campo.
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Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.287.068-RR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/9/2013.

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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

As escusas absolutórias (art. 181 do CP) podem ser aplicadas ao adolescente infrator

No caso de ato infracional equiparado a crime contra o patrimônio, é possível que o


adolescente seja beneficiado pela escusa absolutória prevista no art. 181, II, do CP.
Comentários Veja o que dizem os arts. 181 e 183 do CP:
Art. 181. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.

(...)

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave
ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

As hipóteses previstas no art. 181 do CP são chamadas pela doutrina de “escusas


absolutórias”, “imunidades penais absolutas”, “imunidades penais materiais”, “causas de
impunibilidade absoluta”, “condições negativas de punibilidade” ou “causas pessoais de
exclusão de pena”.

O art. 181 se aplica aos crimes previstos no Título II do Código Penal, que trata sobre os
“crimes contra o patrimônio” (arts. 155 a 180).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Diogo, 16 anos, subtrai o relógio de ouro de seu pai, trocando-o, em seguida, por droga.
O adolescente praticou ato equiparado a furto, previsto no art. 155 do Código Penal.

Pode ser aplicado o art. 181, II ao presente caso?


SIM. Nos casos de ato infracional equiparado a crime contra o patrimônio, é possível que o
adolescente seja beneficiado pela escusa absolutória prevista no art. 181, II, do CP.

Não há razoabilidade em se prever uma imunidade absoluta ao sujeito maior de 18 anos


que cometa crime em detrimento do patrimônio de seu ascendente, e negar essa
possibilidade ao menor que, diante da mesma situação fática, pratique igual conduta.
Processo STJ. 6ª Turma. HC 251.681-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 3/10/2013.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O simples fato de a demanda principal ter sido julgada antes da oposição não é causa de nulidade

Não configura nulidade apreciar, em sentenças distintas, a ação principal antes da oposição,
quando ambas forem julgadas na mesma data, com base nos mesmos elementos de prova e nos
mesmos fundamentos.
Comentários Oposição
A oposição, como modalidade de intervenção de terceiros, ocorre quando um terceiro
ingressa em um processo afirmando que a ele pertence o direito ou o bem que está sendo
disputado pelo autor e pelo réu.

Exemplo:
João ajuizou ação reivindicatória contra Pedro afirmando que é o proprietário de
determinado imóvel.
Carlos, por sua vez, tendo notícia da existência dessa demanda, apresenta oposição
alegando que, na verdade, ele é quem é dono do bem.

Previsão
A oposição encontra-se prevista nos arts. 56 a 61 do CPC.
Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem
autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.

Oposição interventiva
Se a oposição for ajuizada até a data de realização da audiência de instrução, ela será
chamada de “oposição interventiva” e terá natureza de incidente do processo.
Nesse caso, a oposição será distribuída por dependência e autuada em apenso ao processo
já existente.
A partir daí, a oposição e a ação originária tramitarão conjuntamente e serão decididas em
uma mesma sentença.

Julgamento da oposição deve ocorrer antes da demanda principal


Diz-se que a oposição é prejudicial à ação principal. O que significa isso? Ora, se o pedido do
opoente for procedente, a demanda entre autor e réu fica prejudicada, perde interesse,
considerando que não adianta discutir a situação do autor e do réu, já que o titular do
direito é um terceiro.
Em nosso exemplo, se o juiz reconhecer que Carlos é o dono do imóvel, a disputa entre João
e Pedro fica prejudicada.
Por essa razão, o juiz deve primeiro julgar a oposição e, somente se ela for improcedente, passar
ao exame da lide entre autor e réu. Essa regra foi consagrada expressamente pelo CPC:
Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a oposição, desta conhecerá em
primeiro lugar.

Imagine agora a seguinte situação:


Em nosso exemplo, o juiz, após toda a instrução, proferiu duas sentenças:
Primeiro, julgou a demanda entre autor e réu, considerando procedente o pedido do autor
(João).
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Depois, no mesmo dia, proferiu outra sentença, apreciando a oposição e julgando


improcedente o pedido do opoente (Carlos).
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Perceba que o art. 61 do CPC foi descumprido, tendo havido dois equívocos por parte o
magistrado: 1) ele deveria ter julgado tanto a demanda principal como a oposição em uma

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única sentença, com capítulos diferentes; 2) a oposição deveria ter sido julgada antes da
demanda principal.

Houve nulidade pelo fato de o juiz ter descumprido o art. 61 do CPC e ter julgado, em duas
sentenças separadas, a demanda principal e, depois, a oposição?
NÃO. Não configura nulidade apreciar, em sentenças distintas, a ação principal antes da
oposição, quando ambas forem julgadas na mesma data, com base nos mesmos elementos
de prova e nos mesmos fundamentos.

De fato, houve descumprimento do art. 61 do CPC. No entanto, não houve nulidade por
conta desse simples desrespeito à técnica processual.

De acordo com a moderna ciência processual, deve-se colocar em evidência os princípios da


instrumentalidade e da ausência de nulidade sem prejuízo (“pas de nullité sans grief”).

Por conta desses princípios, o ato somente será considerado nulo se, além de formalmente
defeituoso, ele tiver deixado de realizar o escopo (finalidade) para o qual se destina e, por
esse motivo, causar prejuízo a uma das partes.

Ressalte-se que, no caso, tendo havido apenas a inversão da ordem de julgamento, não há
que se falar em prejuízo às partes, aplicando-se a regra do § 1º do art. 249 do CPC:
Art. 249 (...) § 1º O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a
parte.

Por outro lado, anular os julgamentos, determinando o retorno dos autos à origem para
prolação de uma única sentença em vez de duas, não traria benefício algum ao opoente
porque não seriam produzidas novas provas, realizadas novas audiências, apresentados
outros argumentos visando ao convencimento do juiz. Somente haveria uma alteração da
forma, sem qualquer modificação no conteúdo.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.221.369-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/8/2013.

De quem é a responsabilidade pela degravação dos depoimentos


colhidos mediante carta precatória?

De quem é a responsabilidade pela degravação dos depoimentos colhidos mediante carta precatória?
1ª corrente: 2ª corrente:
do juízo DEPRECANTE do juízo DEPRECADO
Foi o que decidiu a 1ª Seção do STJ no julgamento Foi o que decidiu a 2ª Seção do STJ no julgamento
do CC 126.770-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, em do CC 126.747-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
8/5/2013. em 25/09/2013.

Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:


Em um processo cível, o juízo da comarca de Ilhéus/BA expediu uma carta precatória para
que o juízo da comarca de Niterói/RJ ouvisse uma testemunha que lá reside.
O juízo deprecado (juízo da comarca de Niterói/RJ) ouviu a testemunha por meio de
17

gravação audiovisual e devolveu a carta precatória acompanhada de DVD contendo o


depoimento.
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O juízo deprecante (juízo da comarca de Ilhéus/BA), ao receber a carta, proferiu despacho


determinando que esta retornasse ao juízo deprecado com o objetivo de que lá (na
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comarca de Niterói/RJ) fosse feita a degravação do depoimento prestado pela testemunha
e, somente após isso, a carta retornasse.
Em outras palavras, o juízo deprecante afirmou que era uma obrigação do juízo deprecado
transcrever, para o meio físico (papel), o depoimento colhido por meio audiovisual.
O juízo deprecado não concordou.

Diante desse impasse quanto ao cumprimento da carta precatória, o que poderá fazer o
juízo deprecado?
Suscitar conflito negativo de competência. Isso porque a obrigação de ter que degravar ou
não os depoimentos colhidos é uma discussão relativa à amplitude da competência do juízo
deprecado no cumprimento de cartas precatórias. Logo, trata-se do debate de quem seria
competente para tal ato.

Quem irá julgar esse conflito?


O Superior Tribunal de Justiça, considerando que são juízes vinculados a tribunais diferentes
(art. 105, I, “d”, CF/88).

E qual é o entendimento do STJ sobre o tema: de quem é a responsabilidade pela


degravação dos depoimentos?

DE QUEM É A RESPONSABILIDADE PELA DEGRAVAÇÃO DOS DEPOIMENTOS?


1ª corrente: 2ª corrente:
do juízo DEPRECANTE do juízo DEPRECADO
Foi o que decidiu a 1ª Seção do STJ no Foi o que decidiu a 2ª Seção do STJ no
julgamento do CC 126.770-RS, Rel. Min. julgamento do CC 126.747-RS, Rel. Min.
Sérgio Kukina, em 8/5/2013. Luis Felipe Salomão, em 25/09/2013.

A primeira corrente parece ser a mais acertada e consentânea com a ideia de celeridade
processual. A regra é a de que os depoimentos colhidos por meio audiovisual nem precisem
de transcrição (art. 2º da Resolução 105/2010-CNJ). Isso porque exigir que haja sempre a
degravação provocará o fim das vantagens do sistema audiovisual, tendo em conta que,
segundo estudos realizados pelo CNJ, “para cada minuto de gravação leva-se, no mínimo,
10 (dez) minutos para a sua degravação” (texto da Resolução).

Se o juiz não se acostuma ou não gosta de analisar os depoimentos em meio audiovisual,


ele tem todo o direito de fazer a degravação, no entanto, isso deve ocorrer por conta
própria, não podendo obrigar o juízo deprecado a fazê-lo.

Apenas para complementar a informação, vale ressaltar que, no âmbito do processo penal,
existe uma previsão específica no § 2º do art. 405 do CPP dispensando expressamente a
transcrição caso o depoimento tenha sido colhido por meio audiovisual. Confira:
§ 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e
testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital
ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das
informações. (Incluído pela Lei nº 11.719/2008).
§ 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro
original, sem necessidade de transcrição. (Incluído pela Lei nº 11.719/2008).
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Corte especial do STJ


Diante da divergência entre a 1ª e a 2ª Seções, o STJ terá que pacificar o tema por meio de
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sua Corte Especial.


Processo STJ. 2ª Seção. CC 126.747-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/9/2013.

INFORMATIVO esquematizado
O credor tem o direito de recusar a proposta do executado para que seja invertida a ordem de
penhora do art. 655 do CPC, a não ser que haja alguma situação excepcionalíssima

É lícito ao credor recusar a substituição de penhora incidente sobre bem imóvel por
debêntures, ainda que emitidas por companhia de sólida posição no mercado mobiliário,
desde que não exista circunstância excepcionalíssima cuja inobservância acarrete ofensa à
dignidade da pessoa humana ou ao paradigma da boa-fé objetiva.
Comentários O procedimento para execução de quantia pode ser de duas formas:
a) Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
b) Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).

Tanto em um caso como no outro, o devedor é chamado em juízo para pagar o débito e,
caso não o faça, seus bens são penhorados.

O que é a penhora?
Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou
indiretamente, na satisfação do crédito executado.

Ordem de preferência
O CPC prevê uma ordem de preferência para penhora, ou seja, existem bens que devem ser
penhorados antes que outros. Essa lista de prioridades está prevista no art. 655 do CPC:
Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II - veículos de via terrestre;
III - bens móveis em geral;
IV - bens imóveis;
V - navios e aeronaves;
VI - ações e quotas de sociedades empresárias;
VII - percentual do faturamento de empresa devedora;
VIII - pedras e metais preciosos;
IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado;
X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
XI - outros direitos.

Em regra, somente poderão ser penhorados os bens do inciso II se não houver do inciso I e
assim sucessivamente. Não se pode penhorar um imóvel, por exemplo, se o executado tiver
um carro.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


Alexandre ajuizou ação de execução contra Ricardo, tendo sido penhorado um imóvel rural
pertencente ao devedor.
O executado peticiona ao juiz pedindo a substituição do imóvel penhorado por debêntures
emitidas pela Companhia Vale.
O exequente manifestou-se contrariamente à proposta.
A despeito disso, o magistrado concedeu a substituição, afirmando que os bens oferecidos
(debêntures emitidas por Companhia sólida e de prestigiosa posição no mercado mobiliário)
19

podem ser facilmente liquidados. Logo, aplicando-se o critério da proporcionalidade e o


princípio da menor onerosidade ao executado, argumentou que a substituição poderia ser
Página

autorizada. Argumentou, por fim, que o art. 655 do CPC fala em “preferencialmente” e não
em “obrigatoriamente”, de forma a indicar que a ordem legal pode ser invertida.

INFORMATIVO esquematizado
A decisão do juízo foi correta?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, o credor tem o direito de recusar a proposta do executado
para que seja substituída a penhora incidente sobre bem imóvel por debêntures, ainda que
emitidas por companhia de sólida posição no mercado mobiliário, a não ser que haja
alguma situação excepcionalíssima que justifique a substituição pretendida.

A Min. Nancy Andrighi explicou que o rol de bens do art. 655 do CPC tem por fundamento
teleológico a fixação de uma ordem preferencial de penhora de bens, ordenando-a de
acordo com a maior facilidade de se alcançar a legítima satisfação do crédito.

Muito embora o art. 655 utilize a expressão “preferencialmente”, o que indica que não se
trata de uma ordem legal rígida, é preciso esclarecer que a flexibilização dessa lista, sem a
concordância do credor, somente é admitida em situações excepcionalíssimas, nas quais se
verifique que a manutenção do critério legal irá gerar uma ofensa à dignidade da pessoa
humana ou à boa-fé objetiva.

No caso concreto, o STJ considerou que, apesar do inegável valor econômico e da


conversibilidade dos títulos ofertados em dinheiro, não havia motivo apto a justificar uma
imposição ao credor de satisfação de seu crédito por meio mais arriscado e não exigido em
lei. Portanto, ausente qualquer excepcionalidade que fundamente a imposição da inversão
da ordem preferencial de penhora, deve-se observar o interesse legítimo do credor na
manutenção da penhora do imóvel.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.186.327-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/9/2013.

Juiz Federal pode declinar, de ofício, execução fiscal quando tiver sido proposta sem obedecer a
regra do art. 15, I, da Lei 5.010/66

A execução fiscal proposta pela União e suas autarquias/fundações deve ser ajuizada perante o
Juiz de Direito da comarca do domicílio do devedor, quando esta não for sede de vara da justiça
federal (art. 109, § 3º da CF/88 e art. 15, I, da Lei n. 5.010/66).
ATENÇÃO Na hipótese em que, em razão da inexistência de vara da Justiça Federal na localidade do
domicílio do devedor, a execução fiscal tenha sido ajuizada pela União ou por suas
autarquias/fundações em vara da Justiça Federal sediada em local diverso, o Juiz Federal
poderá declinar, de ofício, da competência para processar e julgar a demanda, determinando a
remessa dos autos para o juízo de direito da comarca do domicílio do executado.
Comentários Execução fiscal
Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos
(tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.

Regras gerais sobre a competência na execução fiscal


Se a execução fiscal for proposta pelo Estado, pelo Município, ou por suas autarquias ou
fundações, a competência para julgar será da Justiça estadual.
Se a execução fiscal for ajuizada pela União, por autarquia ou fundação federal, a
competência para a causa será da Justiça Federal (art. 109, I, da CF/88).
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O CPC afirma que, em regra, a execução fiscal será proposta no foro do domicílio do réu; se
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não o tiver, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado (art. 578 do CPC).

INFORMATIVO esquematizado
A Fazenda Pública poderá escolher:
• o foro de qualquer um dos devedores, quando houver mais de um;
• o foro de qualquer dos domicílios do réu;
• o foro do lugar em que se praticou o ato ou ocorreu o fato que deu origem à dívida,
embora nele não mais resida o réu;
• o foro da situação dos bens, quando a dívida deles se originar.

Súmula 58-STJ: Proposta a execução fiscal, a posterior mudança de domicílio do executado


não desloca a competência já fixada.

Competência no caso de execução fiscal proposta pela União/entidade federal


Como vimos acima, se a execução fiscal for manejada pela União ou por
autarquia/fundação federal, a competência para julgar a causa será da Justiça Federal.
Vimos também que, em regra, a execução fiscal deve ser proposta no local em que o réu
tiver domicílio.
Ocorre que, em diversas cidades do país não existe Justiça Federal instalada.

Onde a União/entidade federal deverá propor a execução fiscal se o devedor for domiciliado
em uma cidade que não seja sede de Justiça Federal?
Nesse caso, a execução será proposta na Justiça ESTADUAL da comarca do domicílio do
devedor.
Ex: João mora em Presidente Figueiredo (município do Amazonas onde não há Justiça
Federal) e possui um débito tributário com a União inscrito em dívida ativa. Logo, a PFN irá
ajuizar a execução fiscal na comarca de Presidente Figueiredo, sendo esta julgada pelo Juiz
de Direito de lá.

O que autoriza o Juiz de Direito a julgar essas causas, que são de competência da Justiça
Federal?
A CF/88, que estabelece, em seu art. 109, § 3º, uma regra de delegação de competência:
§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados
ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado,
sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição,
a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça
estadual.

Assim, em determinados casos, Juízes de Direito (“Juízes Estaduais”) podem julgar causas
federais.

Requisitos para que uma causa federal seja julgada pelo juízo estadual:
a) A comarca não ser sede de vara da Justiça Federal;
b) A lei autorizar expressamente esta delegação.

A própria CF já deu uma autorização expressa: nas causas envolvendo instituição de


previdência social (INSS) e segurado ou beneficiário. Tais demandas tramitarão na justiça
estadual, desde que no domicílio do segurado ou beneficiário não exista justiça federal.

A Lei n. 5.010/1966 (Lei de organização da Justiça Federal) prevê alguns casos de delegação
de competência para a Justiça Estadual.
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Art. 15. Nas Comarcas do interior onde não funcionar Vara da Justiça Federal (artigo 12), os
Juízes Estaduais são competentes para processar e julgar:
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I - os executivos fiscais da União e de suas autarquias, ajuizados contra devedores


domiciliados nas respectivas Comarcas;

INFORMATIVO esquematizado
Desse modo, no caso de execução fiscal proposta pela União, se no domicílio do devedor
não houver vara da Justiça Federal, essa execução fiscal deve ser julgada pelo Juiz Estadual.

Quem julga os recursos contra as decisões proferidas pelo Juiz de Direito que estiver
julgando uma execução fiscal proposta pela União/entidade federal?
O Tribunal Regional Federal. O Juiz Estadual, nesse caso, está investido de competência
federal (encontra-se atuando como se fosse um Juiz Federal). Logo, os recursos que forem
interpostos deverão ser julgados pelo TRF.

A pergunta que surge agora é a seguinte:


Se o município do devedor não for sede da Justiça Federal e a União propuser a execução
fiscal na Justiça Federal mais próxima em vez de ajuizar a execução na Justiça Estadual da
comarca do réu, o juiz federal poderá, de ofício, julgar-se incompetente? Em nosso exemplo,
se a União manejar a execução na Justiça Federal de Manaus em vez de propor a ação na
Justiça Estadual de Presidente Figueiredo, o Juiz Federal de Manaus poderá, de ofício,
declinar a competência para a comarca de Presidente Figueiredo?
SIM.

Na hipótese em que, em razão da inexistência de vara da Justiça Federal na localidade do


domicílio do devedor, execução fiscal tenha sido ajuizada pela União ou por suas
autarquias/fundações em vara da Justiça Federal sediada em local diverso, o Juiz Federal
poderá declinar, de ofício, da competência para processar e julgar a demanda,
determinando a remessa dos autos para o juízo de direito da comarca do domicílio do
executado. Isso porque, nas comarcas do interior onde não funcionar vara da Justiça
Federal, os juízes estaduais são competentes para processar e julgar os executivos fiscais da
União e de suas autarquias ajuizados contra devedores domiciliados nas respectivas
comarcas (art. 15, I, da Lei n. 5.010/1966).

Desse modo, a decisão do juiz federal que declina da competência quando a norma do art.
15, I, da Lei n. 5.010/1966 deixa de ser observada não está sujeita à Súmula 33 do STJ (“a
incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”).

Deve-se aplicar aqui a conclusão que levou à edição da Súmula 40 do antigo Tribunal
Federal de Recursos (que foi substituído pelo STJ):
Súmula 40 do TFR: A execução fiscal da Fazenda Pública Federal será proposta perante o
Juiz de Direito da comarca do domicílio do devedor, desde que não seja ela sede de vara da
Justiça Federal.

Vale ressaltar que, em tais casos, a Fazenda Pública Federal não tem a opção de ajuizar a
execução fiscal na Justiça Federal. Trata-se de uma imposição legal a propositura na Justiça
Estadual do domicílio do réu.

Segundo relembrou o Min. Ari Pargendler, essa regra pretende facilitar tanto a defesa do
devedor quanto o aparelhamento da execução, que assim não fica, em regra, sujeita a
cumprimento de atos por cartas precatórias.
Atenção Muita atenção porque havia precedentes do próprio STJ em sentido contrário ao que foi
decidido. Contudo, a tendência é que prevaleça a posição acima exposta porque o presente
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julgamento foi proferido sob a sistemática do recurso repetitivo.


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Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.146.194-SC, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Ari
Pargendler, julgado em 14/8/2013 (recurso repetitivo).

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PENAL

O benefício do arrependimento posterior comunica-se aos coautores e partícipes que não


tenham participado da restituição da coisa ou da reparação do dano

Uma vez reparado o dano integralmente por um dos autores do delito, a causa de diminuição
de pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP, estende-se aos demais
coautores.
Comentários ARREPENDIMENTO POSTERIOR

O art. 16 do Código Penal prevê o seguinte:


Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de 1/3 a 2/3.

O arrependimento posterior é um benefício ou prêmio para estimular o agente a restituir a


coisa ou reparar os danos causados com sua conduta.

Requisitos:

1) O crime deve ter sido praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa.
Se o agente praticou violência contra a coisa: pode receber o benefício.
Se o agente praticou, culposamente, violência contra a pessoa (ex: lesão corporal no
trânsito): pode receber o benefício.
O art. 16 vale para todos os crimes com que ele seja compatível, sem distinção,
inclusive contra a Administração Pública. Assim, é errado pensar que o arrependimento
posterior aplica-se apenas para os crimes contra o patrimônio.

2) O agente, voluntariamente, deve ter reparado o dano ou restituído a coisa.


A reparação do dano ou restituição deve ser total ou pode ser parcial?
A doutrina afirma que o benefício somente deveria ser concedido em caso de reparação
integral.
Vale ressaltar, no entanto, que a 1ª Turma do STF decidiu que a incidência do
arrependimento posterior, contido no art. 16 do CP prescinde da reparação total do dano.
Em outras palavras, entendeu-se que a reparação poderia ser parcial (HC 98658/PR, red. p/
o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 9/11/2010).

3) Essa reparação ou restituição deve ter acontecido antes do recebimento da denúncia ou


queixa
Se for feita após o recebimento, o agente terá direito apenas à atenuante genérica prevista
no art. 65, III, “b”, do CP:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou
minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;

Redução: de 1/3 a 2/3


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Qual é o parâmetro para a redução?


A 1ª Turma do STF já decidiu que o juiz, ao definir o quanto da pena será reduzido, deverá
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levar em consideração a extensão do ressarcimento (se total ou parcial) e também o


momento de sua ocorrência. Assim, se a reparação for total e no mesmo dia dos fatos, a
INFORMATIVO esquematizado
redução deve ser a máxima de 2/3 (HC 98658/PR, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 9/112010).

Comunicabilidade no concurso de pessoas:


Imagine que João e José furtem 2 mil reais de Pedro.
João, antes do recebimento da denúncia, restitui o valor à vítima.

Nesse caso, tanto João como José serão beneficiados com a redução da pena?
SIM. Uma vez reparado o dano integralmente por um dos autores do delito, a causa de
diminuição de pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP, estende-se aos
demais coautores.

Qual é a justificativa?
A reparação do dano ou restituição da coisa tem natureza objetiva. Logo, comunica-se aos
demais coautores e partícipes, por força do art. 30 do CP:
Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo
quando elementares do crime.

Logo, interpretando o art. 30 a contrario sensu, ele está dizendo que as circunstâncias e
condições de caráter objetivo comunicam-se.

Para o Min. Relator, o juiz poderá aplicar frações de redução diferentes para cada coautor
ou partícipe. Segundo entendeu, a fração de redução será graduada conforme a atuação de
cada agente em relação à reparação efetivada. Assim, por exemplo, João (quem
efetivamente restituiu) poderia ter uma redução maior de pena do que José.
Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.187.976-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/11/2013.

Em condenação por roubo não se pode fixar regime mais gravoso ao réu pelo simples fato de ele
ter apontado a arma para o rosto da vítima

Em um crime de roubo, o juiz NÃO pode fixar regime prisional mais severo do que aquele
previsto no art. 33, § 2º, do CP utilizando como argumento o fato de a arma de fogo ter sido
apontada contra o rosto da vítima. Tal fundamentação não é válida porque essa conduta
caracteriza a "grave ameaça", elemento ínsito do crime de roubo.
Assim, não se pode fixar regime prisional mais gravoso com base em circunstâncias que são
próprias (naturais) do crime.
Comentários Existem três regimes penitenciários:
FECHADO SEMIABERTO ABERTO
Pena cumprida em Pena cumprida em colônia Pena cumprida em casa de
estabelecimento de agrícola, industrial ou albergado ou
segurança máxima ou estabelecimento similar. estabelecimento adequado.
média.

Fixação do regime inicial


O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, deverá fixar o regime no qual o condenado
iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade.
A isso se dá o nome de fixação do regime inicial.
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Os critérios para essa fixação estão previstos no art. 33 do Código Penal.


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INFORMATIVO esquematizado
O que o juiz deve observar na fixação do regime inicial?
O juiz, quando vai fixar o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade,
deve observar quatro fatores:
1) O tipo de pena aplicada: se reclusão ou detenção.
2) O quantum da pena definitiva.
3) Se o condenado é reincidente ou não.
4) As circunstâncias judiciais (art. 59 do CP).

Vamos esquematizar a aplicação desses quatro fatores:

FECHADO: se a pena é superior a 8 anos.

SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 e menor que 8 anos.


Se o condenado for reincidente, o regime inicial,
para esse quantum de pena, é o fechado.

RECLUSÃO
ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.
O regime inicial
Se o condenado for reincidente, o regime inicial,
pode ser:
para esse quantum de pena, será o semiaberto ou o fechado.
O que irá definir isso vão ser as circunstâncias judiciais:
Se desfavoráveis, vai para o fechado.
Se favoráveis, vai para o semiaberto.

Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto


aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se
favoráveis as circunstâncias judiciais.

FECHADO: nunca
Obs: alguns autores mencionam como exceção o art. 10 da Lei de
Crimes Organizados, mas esse dispositivo é inconstitucional.
DETENÇÃO
O regime inicial
SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 anos.
pode ser:

ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.


Se o condenado for reincidente, o regime inicial é o semiaberto.

Vimos acima que o regime inicial da detenção nunca será o fechado. No entanto, o
condenado que está cumprindo pena por conta de um crime punido com detenção poderá ir
para o regime fechado caso cometa falta grave e seja sancionado com a regressão?
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SIM, é possível. Nesse caso, no entanto, não estaremos mais falando em regime inicial.
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INFORMATIVO esquematizado
Atenção: o que vimos nesses dois quadros são as regras gerais.
Vamos agora fazer uma pergunta que reflete uma exceção a esse quadro:

É possível que seja imposto ao condenado primário um regime inicial mais rigoroso do que o
previsto para a quantidade de pena aplicada?
Ex: se uma pessoa for condenada a 6 anos de reclusão, pode o juiz fixar o regime inicial
fechado?
SIM, é possível, desde que o juiz apresente motivação idônea na sentença. É o que diz a
Súmula 719 do STF:
Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena
aplicada permitir exige motivação idônea.

O juiz pode fundamentar a imposição do regime mais severo no fato do crime praticado ser,
abstratamente, um delito grave? Ex: o juiz afirma que, em sua opinião, no caso de tráfico de
drogas o regime deve ser o fechado em razão da gravidade desse delito.
NÃO. Súmula 718-STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO
constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada.

O que é considerado, então, motivação idônea para impor ao condenado regime mais
gravoso?
As circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. Se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem
desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses dados para impor ao condenado
regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena aplicada.

Ex: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 6 anos de reclusão. Em regra, o
regime inicial seria o semiaberto. Ocorre que as circunstâncias judiciais foram
extremamente desfavoráveis a ele. Nesse caso, o juiz, fundamentando sua decisão nesses
dados, poderia impor a Paulo o regime inicial fechado.

Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de regime
inicial mais severo do que o previsto pela quantidade de pena? Ex: Paulo, réu primário, foi
condenado a uma pena de 6 anos de reclusão. As circunstâncias judiciais foram favoráveis.
Pode o juiz fixar o regime inicial fechado?
NÃO. Somente se consideradas as circunstâncias judiciais de forma desfavoráveis, com
fundamentos idôneos, é que se pode fixar regime prisional mais gravoso. Nesse sentido:
Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de
regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base
apenas na gravidade abstrata do delito.

Em um crime de roubo, o juiz pode fixar regime prisional mais severo do que aquele previsto
no art. 33, § 2º, do CP utilizando como argumento o fato de a arma de fogo ter sido
apontada contra o rosto da vítima?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, tal fundamentação não pode ser utilizada porque essa
circunstância caracteriza "grave ameaça", elemento ínsito do crime de roubo.
Assim, não se pode fixar regime prisional mais gravoso com base em circunstâncias que são
próprias (naturais) do crime.
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O art. 2º, § 1º da Lei n. 8.072/90 prevê que a pena por crime hediondo ou equiparado deve
ser cumprida inicialmente em regime fechado. Esse dispositivo é constitucional?
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NÃO. O Plenário do STF julgou essa previsão inconstitucional (HC 111840/ES, rel. Min. Dias
Toffoli, 27.6.2012).
INFORMATIVO esquematizado
O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex: tráfico de
drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também o regime
semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do art. 33, § 2º, alíneas b e c, do
Código Penal.
Assim, será possível, por exemplo, que o juiz condene o réu por tráfico de drogas a uma
pena de 6 anos de reclusão e fixe o regime inicial semiaberto.
Processo STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 349.732-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 5/11/2013.

A extorsão pode ser feita mediante ameaça de causar um prejuízo econômico à vítima

Pode configurar o crime de extorsão a exigência de pagamento em troca da devolução do


veículo furtado, sob a ameaça de destruição do bem.
Comentários O Código Penal prevê o crime de extorsão nos seguintes termos:
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

Em que consiste o crime:


O agente, usando de violência ou de grave ameaça, obriga outra pessoa a ter determinado
comportamento, com o objetivo de obter uma vantagem econômica indevida.
A vítima é coagida pelo autor do crime a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa.
Ex: “A” exige que “B” assine um cheque em branco em seu favor, senão contará a todos que
“B” possui um caso extraconjugal.
Ex2: Golpe do falso sequestro via celular. “A” (de um presídio em SP) liga para “B” (em
Brasília) e afirma que sua filha foi sequestrada exigindo, por meio de ameaças, depósito de
dinheiro em determinada conta bancária. Obs: o juízo competente é o do local onde estava
a pessoa que recebeu os telefonemas (STF ACO 889/RJ).

Se o agente ameaça causar um prejuízo econômico à vítima, ainda assim haverá extorsão?
A grave ameaça prevista no art. 158 pode ser econômica?
SIM. O STJ decidiu que a extorsão pode ser feita mediante ameaça de causar um prejuízo
econômico. Assim, não se exige que a ameaça se dirija apenas contra a integridade física ou
moral da vítima.
No caso concreto julgado, o agente estava com o carro da vítima e exigiu que ela fizesse o
pagamento a ele de determinada quantia em dinheiro. Caso o pedido não fosse atendido,
ele prometeu destruir o veículo.
Dessa forma, o STJ decidiu que pode configurar o crime de extorsão a exigência de
pagamento em troca da devolução do veículo furtado, sob a ameaça de destruição do bem.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.207.155-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/11/2013.

Diferenças entre extorsão e roubo:

Extorsão Roubo
O agente faz com que a vítima entregue a O agente subtrai a coisa pretendida
coisa (o verbo é constranger). (o verbo é subtrair).
Na extorsão há a tradição da coisa No roubo há a subtração da coisa
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(traditio). (concretatio).
A colaboração da vítima é indispensável. A colaboração da vítima é dispensável.
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Se a vítima não quiser fazer, não tem como Se a vítima não quiser fazer, existe como o
o agente fazer sozinho. agente fazer sozinho.
INFORMATIVO esquematizado
A vantagem buscada pelo agente pode ser A vantagem buscada (coisa alheia móvel) é
contemporânea ao constrangimento ou para agora (imediata).
posterior a ele.
A vantagem econômica indevida pode ser A vantagem econômica indevida somente
um bem móvel ou imóvel. pode ser um bem móvel.

Para você guardar, no entanto, a principal diferença entre os delitos está na necessidade ou
não de que a vítima colabore:
“No crime de roubo existe uma total submissão da vítima à vontade do agente. A subtração,
independentemente da vontade do ofendido, ocorrerá, haja vista que o agente pode,
mediante ato próprio, apoderar-se do objeto desejado. Na extorsão, ao contrário, é
evidente a dependência de um ato da vítima para a configuração do delito.” (HC
182.477/DF, Min. Jorge Mussi, julgado em 07/08/2012).

É possível reconhecer continuidade delitiva entre roubo e extorsão?


NÃO. A jurisprudência do STF e do STJ pacificou-se no sentido de que aos crimes de roubo e
de extorsão não se aplica o instituto da continuidade delitiva, considerando que não são
delitos da mesma espécie.

É possível reconhecer concurso material entre roubo e extorsão quando o agente, por meio
de mais de uma ação, pratica os núcleos dos verbos dos dois tipos penais?
SIM, segundo entendimento do STF e STJ. Ex: o agente, ameaçando a vítima com uma arma,
subtrai seu carro e dinheiro que ela tinha na bolsa. Em seguida, leva a vítima até um caixa
eletrônico e exige, mediante grave ameaça, que ela diga a senha de seu cartão,
conseguindo, então, efetuar saques em sua conta corrente. Haverá, nesse caso, concurso
material entre roubo e extorsão.

De acordo com o STJ, vê-se claramente a existência de duas ações praticadas pelo
criminoso. A primeira consistiu no ato de tomar para si os pertences encontrados em posse
da vítima. Logo em seguida, com desígnio distinto, obrigou-lhe a revelar a senha de sua
conta bancária e dirigir-se a um caixa eletrônico para sacar quantia em dinheiro. Muito
embora as ações tenham ocorrido em um curto espaço de tempo, não se pode falar em
ação única (HC 182.477/DF, Min. Jorge Mussi, julgado em 07/08/2012).

Principais pontos cobrados nas provas:

Elemento subjetivo:
É o dolo acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo específico).

Qual é o especial fim de agir?


O intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica.

Qual é o momento consumativo da extorsão?


Trata-se de crime FORMAL (também chamado de consumação antecipada ou resultado
cortado).
A extorsão se consuma no momento em que a vítima, depois de sofrer a violência ou grave
ameaça, realiza o comportamento desejado pelo criminoso.
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Consumação = constrangimento + realização do comportamento pela vítima

INFORMATIVO esquematizado
Atenção: o fato de a vítima ter realizado o comportamento exigido pelo agente não significa
que este tenha obtido a vantagem indevida. Ex: “A” exige que “B” assine um cheque em
branco em seu favor, senão contará a todos que “B” possui um caso extraconjugal. “B” cede
à chantagem e assina o cheque. Ocorre que, depois, arrepende-se e susta o cheque. Nesse
caso, houve consumação do delito mesmo sem ter o agente conseguido sacar o dinheiro.

Para fins de consumação não importa se o agente consegue ou não obter a vantagem
indevida. Essa obtenção da vantagem constitui mero exaurimento, que só interessa para a
fixação da pena.

Súmula 96-STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da


vantagem indevida.

Não se consuma o crime de extorsão quando, apesar de ameaçada, a vítima não se


submete à vontade do criminoso, ou seja, não assume o comportamento exigido pelo
agente. Nesse caso, haverá tentativa de extorsão.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.094.888-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 21/8/2012.

Caso julgado pelo STJ (com nomes fictícios):


João exigiu que Maria, sua ex-mulher, entregasse a quantia de 300 reais e, ainda, que
retirasse os boletins de ocorrência contra ele registrados, deixando-o ver os filhos nos finais
de semana. O agente prometeu matar Maria caso ela não fizesse o que ele ordenou.
A vítima não se submeteu à exigência, deixando de realizar a conduta que João procurava
lhe impor, tendo então buscado auxílio policial.
O Ministério Público alegou que o delito estava consumado e a defesa que se tratou de
mera tentativa.

O que decidiu o STJ?


Houve apenas tentativa de extorsão. Não se consuma o crime de extorsão quando, apesar
de ameaçada, a vítima não se submete à vontade do criminoso.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.094.888-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 21/8/2012.

Resumindo as etapas do crime:


Se o agente constrange a vítima, mas ela não faz o que foi Tentativa
exigido.
Se o agente constrange a vítima e ela faz o que foi exigido, mas
Consumado
não se consegue a vantagem econômica.
Se o agente constrange a vítima, ela faz o que foi exigido e se Consumado
consegue a vantagem econômica. (a obtenção da
vantagem é mero
exaurimento do delito)

Como vimos, essa distinção se o crime é formal ou material não tem importância
meramente acadêmica, sendo muito relevante na prática. Veja dois outros aspectos que
são diretamente influenciados pelo fato da extorsão ser crime formal:

Prescrição Flagrante
Se a extorsão fosse crime material, a Se a extorsão fosse crime material, o
29

prescrição somente começaria a correr na agente poderia ser preso no momento em


data da obtenção da vantagem indevida. que estivesse recebendo a vantagem.
Página

No entanto, como a extorsão é crime No entanto, como a extorsão é crime

INFORMATIVO esquematizado
formal, o prazo de prescrição tem início no formal, a prisão em flagrante deverá levar
dia em que o agente constrangeu a vítima em consideração o momento em que o
e esta fez o que foi exigido, não agente constrangeu a vítima. Se o
importando a data do recebimento da constrangimento for feito em um momento
vantagem. e a obtenção da vantagem em outro, o que
importa para o flagrante é o instante do
constrangimento.
Assim, se o agente constrangeu a vítima a
dar o seu cartão bancário e senha em um
dia e somente foi sacar a quantia três dias
depois, nesse momento do saque não
haverá mais flagrante.

Processo STJ. 6ª Turma. REsp 1.207.155-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/11/2013.

Tráfico de maquinário (art. 34)

Em dois precedentes, o STJ discutiu se o art. 34 da Lei de Drogas era ou não absorvido pelo art.
33. Foram expostas duas conclusões:

I – A prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei de Drogas absorve o delito capitulado no
art. 34 da mesma lei, desde que não fique caracterizada a existência de contextos autônomos e
coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta.
Assim, responderá apenas pelo crime do art. 33 (sem concurso com o art. 34), o agente que,
além de preparar para venda certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência, mantiver,
no mesmo local, uma balança de precisão e um alicate de unha utilizados na preparação das
substâncias. Isso porque, na situação em análise, não há autonomia necessária a embasar a
condenação em ambos os tipos penais simultaneamente, sob pena de “bis in idem”.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.196.334-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013.

II – Responderá pelo crime de tráfico de drogas (art. 33) em concurso com o art. 34 o agente
que, além de ter em depósito certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência para fins de
mercancia, possuir, no mesmo local e em grande escala, objetos, maquinário e utensílios que
constituam laboratório utilizado para a produção, preparo, fabricação e transformação de
drogas ilícitas em grandes quantidades. Não se pode aplicar o princípio da consunção porque
nesse caso existe autonomia de condutas e os objetos encontrados não seriam meios
necessários nem constituíam fase normal de execução daquele delito de tráfico de drogas,
possuindo lesividade autônoma para violar o bem jurídico.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 303.213-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 8/10/2013.
Comentários Antes de explicar o que foi decidido pelo STJ, é importante revisar o crime previsto no art.
34 da Lei de Drogas (Lei n. 1.343/2006):

TRÁFICO DE MAQUINÁRIO DE DROGA


Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a
qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção
30

ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal


ou regulamentar:
Página

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000
(dois mil) dias-multa.

INFORMATIVO esquematizado
Em que consiste o crime:
A pessoa comete esse crime quando fabrica, adquire, utiliza, transporta, oferece, vende,
distribui, entrega, possui, guarda ou fornece qualquer objeto destinado à produção de
drogas de forma ilícita.

Punição de atos preparatórios ao tráfico de drogas:


Em regra, os atos preparatórios de um delito não são punidos. A punição, normalmente, só
pode existir se o agente iniciou a prática de atos executórios (art. 14, II, do CP).
O legislador, no entanto, decidiu punir os atos preparatórios do delito de tráfico de drogas
(art. 33 da Lei n. 11.343/2006). Para isso, ele criou um tipo específico: o presente art. 34.
Desse modo, o que o art. 34 pune são os atos preparatórios do crime de tráfico de drogas.
Assim, antes que o sujeito inicie a execução do art. 33, ele já pode ser punido pelo art. 34.
Ex: João irá encomendar pasta base de cocaína de seu fornecedor para preparar
“trouxinhas” de cocaína e vender em seu bairro. Antes mesmo que ele faça a “encomenda”,
ele adquire sacos plásticos, barbantes, alicate, talco e uma balança de precisão,
instrumentos que ele irá utilizar para confeccionar a droga. Se João for preso com tais
objetos, não se poderá acusá-lo de tráfico de drogas, uma vez que não iniciou nenhum ato
de execução, ficando apenas na preparação. Contudo, poderá ser punido pelo art. 34, ora
em estudo.

Em regra, o crime do art. 34 é subsidiário em relação ao tráfico de drogas (art. 33):


Veja o que ensina Renato Brasileiro:
“(...) ocorrendo o crime principal de tráfico de drogas em um mesmo contexto fático,
afasta-se a aplicação do tipo subsidiário do art. 34 (lex primaria derogat lex subsidiariae). A
título de exemplo, se a polícia não conseguir localizar nenhuma quantidade de droga em um
laboratório clandestino durante a execução de um mandado de busca domiciliar, porém
encontrar uma balança de precisão com vestígios de cocaína, o agente deverá ser autuado
em flagrante delito pela prática do art. 34, porquanto demonstrado que tal aparelho era
utilizado na preparação de droga. No entanto, se a Polícia tiver êxito na apreensão de droga
e da balança de precisão, estaria tipificado apenas o crime do art. 33, caput, que teria o
condão de afastar a aplicação do soldado de reserva do art. 34.” (LIMA, Renato Brasileiro
de. Legislação Criminal Especial Comentada. Niterói: Impetus, 2013, p. 777-778).

Exemplo:
Carlos foi preso, em sua residência, com certa quantidade de cocaína destinada à venda.
Além da droga, o agente mantinha, no mesmo local, uma balança de precisão e um alicate
de unha utilizados na preparação das “trouxinhas” de cocaína.
O Ministério Público desejava a condenação do réu pelos delitos do art. 33 e 34 da Lei n.
11.343/2006, em concurso.
O STJ, contudo, decidiu que o acusado deveria responder apenas pelo crime de tráfico de
drogas (art. 33), ficando o delito do art. 34 absorvido.
O Min. Marco Aurélio Bellize assentou que “a prática do crime previsto no art. 33, caput, da
Lei de Drogas absorve o delito capitulado no art. 34 da mesma lei, desde que não fique
caracterizada a existência de contextos autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem
jurídico tutelado de forma distinta.”
Na situação em análise, entendeu-se que não há autonomia necessária a embasar a
31

condenação em ambos os tipos penais simultaneamente, sob pena de “bis in idem”.


Para o Min. Relator, deve ficar demonstrada a real lesividade dos objetos tidos como
Página

instrumentos destinados à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas,


sob pena de a posse de uma tampa de caneta (utilizada como medidor), atrair a incidência

INFORMATIVO esquematizado
do tipo penal em exame.
Relevante, assim, analisar se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em tela.
Na situação em análise, o STJ entendeu que, além de a conduta não se mostrar autônoma, a
posse de uma balança de precisão e de um alicate de unha não poderia ser considerada
como posse de maquinário nos termos do que descreve o art. 34, pois os referidos
instrumentos integram a prática do delito de tráfico, não se prestando à configuração do
crime de posse de maquinário.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.196.334-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013.

Pode haver concurso entre os arts. 33 e 34 se ficar demonstrada a autonomia das condutas
Exemplo:
Pablo foi preso, em sua residência, com certa quantidade de cocaína destinada à venda.
Além da droga, o agente mantinha, no mesmo local e em grande escala, objetos,
maquinário e utensílios que constituíam um verdadeiro “laboratório” utilizado para a
produção, preparo, fabricação e transformação de drogas ilícitas em grandes quantidades.
O Ministério Público pediu a condenação do réu pelos delitos do art. 33 e 34 da Lei n.
11.343/2006, em concurso.
O STJ concordou com o MP e decidiu que o acusado deveria responder pelos crimes de
tráfico de drogas (art. 33) e tráfico de maquinário (art. 34) em concurso.
Nessa situação, as circunstâncias fáticas demonstraram que havia verdadeira autonomia
das condutas, o que inviabilizava a incidência do princípio da consunção.
O princípio da consunção deve ser aplicado quando um dos crimes for o meio normal para a
preparação, execução ou mero exaurimento do delito visado pelo agente, situação que fará
com que este absorva aquele outro delito, desde que não ofendam bens jurídicos distintos.
Dessa forma, a depender do contexto em que os crimes foram praticados, será possível o
reconhecimento da absorção do delito previsto no art. 34 pelo crime previsto no art. 33.
Contudo, para tanto, é necessário que não fique caracterizada a existência de contextos
autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta.
Levando-se em consideração que o crime do art. 34 visa coibir a produção de drogas,
enquanto o art. 33 tem por objetivo evitar a sua disseminação, deve-se analisar, para fins
de incidência ou não do princípio da consunção, a real lesividade dos objetos tidos como
instrumentos destinados à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas.
Relevante aferir, portanto, se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em
tela quanto à coibição da própria produção de drogas.
Logo, se os maquinários e utensílios apreendidos não forem suficientes para a produção ou
transformação da droga, será possível a absorção do crime do art. 34 pelo do art. 33, haja
vista ser aquele apenas meio para a realização do tráfico de drogas (como a posse de uma
balança e de um alicate – objetos que, por si sós, são insuficientes para o fabrico ou
transformação de entorpecentes, constituindo apenas um meio para a realização do delito
do art. 33). Contudo, a posse ou depósito de maquinário e utensílios que demonstrem a
existência de um verdadeiro laboratório voltado à fabricação ou transformação de drogas
implica autonomia das condutas, por não serem esses objetos meios necessários ou fase
normal de execução do tráfico de drogas.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 303.213-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
8/10/2013.

Tipo misto alternativo


O delito do art. 34 é classificado com o tipo misto alternativo (também chamado de crime
32

de ação múltipla ou de conteúdo variado).


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Tipo simples: ocorre quando o legislador descreve apenas um verbo para tipificar a
conduta. Ex: art. 121 (matar alguém).

INFORMATIVO esquematizado
Tipo misto: é aquele no qual o legislador descreve dois ou mais verbos, ou seja, mais de
uma forma de se realizar o fato delituoso. Ex: o agente pratica o crime se fabricar,
adquirir, utilizar etc.

O tipo misto pode ser alternativo ou cumulativo.


Tipo misto alternativo: o legislador descreveu duas ou mais condutas (verbos). Se o
sujeito praticar mais de um verbo, no mesmo contexto fático e contra o mesmo objeto
material, responderá por um único crime, não havendo concurso de crimes nesse caso.
Ex: João adquire, na boca-de-fumo, uma máquina para fazer drogas, transporta-a para
sua casa e lá a utiliza. Responderá uma única vez pelo art. 34 e não por três crimes em
concurso.
Tipo misto cumulativo: o legislador descreveu duas ou mais condutas (verbos). Se o
sujeito incorrer em mais de um verbo, irá responder por tantos crimes quantos forem
os núcleos praticados. Ex: art. 242 do CP.

Maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à produção de drogas:


É muito difícil que exista uma máquina, aparelho ou instrumento que tenha sido idealizado
com a finalidade exclusiva de produzir drogas ilícitas.
Desse modo, para que o sujeito seja punido pelo art. 34 é preciso verificar se aquele
maquinário encontrado era destinado, no caso concreto, para o tráfico de drogas.
Ex: uma balança de cozinha não é um aparelho que tenha sido criado com o objetivo de
preparar droga. No entanto, se esta balança de precisão é encontrada, juntamente com
sacos plásticos, alicates e resquícios de substância que aparente cocaína, em um local que
parece um verdadeiro laboratório de produção de drogas, pode-se concluir que se trata de
instrumento destinado à preparação de “trouxinhas” de cocaína.

Sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:


Para que configure o delito é necessário que o maquinário seja destinado à produção de
drogas sem que o agente tenha autorização para isso ou agindo em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Dessa forma, se o agente tiver autorização, não há crime. Ex: em uma farmácia de
manipulação, existem diversos objetos destinados à produção de drogas (remédios). No
entanto, esse estabelecimento possui autorização e as drogas preparadas estão de acordo
com a determinação regulamentar dos órgãos competentes.

Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).

Sujeito passivo: coletividade (crime vago).

Bem jurídico: saúde pública.

Elemento subjetivo: é o dolo (sem qualquer finalidade especial).

Consumação
Para que o delito se consuma basta que o agente pratique qualquer das condutas narradas.

Crime permanente
Algumas condutas do art. 34 são permanentes. É o caso, por exemplo, de “possuir” e
33

“guardar”. Isso se mostra importante porque se o agente for encontrado guardando uma
máquina de fazer droga, como a conduta é permanente, ele estará, naquele momento, em
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estado de flagrante delito, podendo ser preso imediatamente, sem ordem judicial.

INFORMATIVO esquematizado
Crime equiparado a hediondo
Não há consenso. No entanto, para a maioria da doutrina e jurisprudência, o delito do art.
34 é crime equiparado a hediondo (art. 5º, XLIII, da CF/88).

Competência: em regra, trata-se de crime de competência da Justiça estadual.

Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.196.334-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

As referências ou a leitura da decisão de pronúncia durante os debates no Júri somente


acarretam nulidade se forem feitas como argumento de autoridade

O art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes não poderão, sob pena de
nulidade, fazer referências à decisão de pronúncia ou às decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
Isso não significa, contudo, que qualquer referência ou leitura da decisão acarretará,
obrigatoriamente, a nulidade do julgamento.
Na verdade, somente haverá nulidade se a leitura ou as referências forem feitas como
argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Daniel estava sendo julgado pelo Tribunal do Júri acusado da prática do delito de homicídio.
Durante os debates em Plenário, o Promotor de Justiça leu para os jurados a sentença de
pronúncia.
Imediatamente, o Defensor Público que fazia a assistência jurídica do réu impugnou essa
conduta e pediu que constasse em ata o referido fato.
O acusado foi condenado.
No recurso, como preliminar, a Defensoria arguiu a nulidade do julgamento, afirmando que
houve violação ao art. 478, I, do CPP:
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à
determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado;

Se MP ou defesa fizer a leitura ou alguma outra referência à decisão de pronúncia durante


os debates em plenário isso significará, obrigatoriamente, a nulidade do julgamento?
NÃO. As referências ou a leitura da decisão de pronúncia durante os debates em plenário
do Tribunal do Júri não acarretam, necessariamente, a nulidade do julgamento.
Somente haverá nulidade se a leitura ou as referências forem feitas como argumento de
autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.

O que é argumento de autoridade?


“Argumento de autoridade é uma falácia lógica que apela para a palavra de alguma
autoridade a fim de validar o argumento. Este raciocínio é absurdo, vista que a conclusão
34

baseia-se exclusivamente na credibilidade do autor da proposição e não nas razões que ele
tenha apresentado para sustentá-la. No âmbito do Júri, pode-se dizer que, ao invés de se
Página

valer da prova constante dos autos, as partes tentam formar o convencimento dos jurados
apelando para uma anterior decisão do juiz-presidente ou do Tribunal acerca do caso

INFORMATIVO esquematizado
concreto. Como os jurados são pessoas leigas, geralmente desprovidas de conhecimento
técnico, podem ser facilmente influenciados no sentido da condenação (ou absolvição) do
acusado se lhes for revelado o entendimento do juiz togado acerca do caso concreto. Daí a
importância de se vedar a utilização do argumento de autoridade.” (LIMA, Renato Brasileiro
de. Manual de Processo Penal. Vol. II. Niterói: Impetus, 2012, p. 487).

Exemplos:
Durante os debates em plenário, o Promotor de Justiça fala o seguinte para os jurados:
Situação 1: Situação 2
“Prezados jurados, hoje os senhores irão “Prezados jurados, na sentença de
julgar Fulano de Tal, que foi pronunciado pronúncia, o Dr. Sicrano, juiz de direito, que
pelo crime de homicídio qualificado por estudou muito e passou em concurso
motivo fútil, conforme podem ver na extremamente difícil, reconheceu que havia
sentença de pronúncia que foi entregue a indícios de que o réu aqui presente praticou
cada um de vocês.” um homicídio qualificado. Então, o juiz já
concordou com o Ministério Público.”
Nesta primeira hipótese, não há que se Neste segundo exemplo, há nulidade
falar em nulidade uma vez que a referência porque a referência à sentença foi feita
à sentença de pronúncia não foi feita como como argumento de autoridade.
argumento de autoridade. Utilizou-se o respeito e o prestígio da
Em outras palavras, não se utilizou a autoridade (magistrado) para convencer os
decisão do Poder Judiciário para jurados.
impressionar ou influenciar os jurados. O objetivo é passar aos jurados a
mensagem subliminar de que “se até o juiz,
que conhece as leis, disse que ele é
culpado, eu tenho que condenar”.

Processo STJ. 5ª Turma. HC 248.617-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/9/2013.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.235.899-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/11/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Formação de CDA em caso de tributos sujeitos a lançamento de ofício não precisa de processo
administrativo prévio

A ausência de prévio processo administrativo não enseja a nulidade da Certidão de Dívida


Ativa (CDA) nos casos de tributos sujeitos a lançamento de ofício.
ATENÇÃO Comentários Execução fiscal
PGE/PGM
Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos
(tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.

Petição inicial da execução fiscal deve vir acompanhado da CDA


Como vimos acima, a execução fiscal é a cobrança de créditos inscritos em dívida ativa.
Logo, a petição inicial da execução fiscal deverá vir instruída com a Certidão da Dívida Ativa.
35

Como é o procedimento até que seja feita a CDA?


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O contribuinte realiza o fato gerador do tributo (exs: adquire renda, faz uma doação, chega
no dia 01/01 sendo proprietário de um bem imóvel etc).

INFORMATIVO esquematizado
Quando o contribuinte realiza o fato gerador, ele se torna sujeito passivo de uma obrigação
tributária principal, ou seja, passa a ter a obrigação de pagar o tributo.
Diante dessa situação, o Fisco irá praticar um ato chamado de “lançamento tributário”, ou
seja, irá calcular o montante do tributo devido e notificar o contribuinte para que ele pague.
O lançamento confere exigibilidade à obrigação tributária.
Com o lançamento, a obrigação tributária transforma-se em crédito tributário.
Se o sujeito passivo não pagar o débito, esse crédito tributário será inscrito na dívida ativa.
A inscrição será feita por meio do termo de inscrição na dívida ativa e é realizado no “Livro
da Dívida Ativa” (atualmente, por óbvio, trata-se de um sistema informatizado).
Dessa inscrição, extrai-se a CDA (Certidão de Dívida Ativa), que é um título executivo
extrajudicial (art. 585, VII, do CPC).
Com a CDA, a Fazenda Pública pode ajuizar a execução fiscal contra o devedor.
Os requisitos da CDA estão previstos no art. 202 do CTN.

Procedimento Administrativo Fiscal (PAF)


O procedimento acima explicado, por meio do qual ocorre a constituição do crédito
tributário e a formação da CDA, é chamado de Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).
No âmbito federal, o PAF é regulado pelo Decreto n. 70.235/72 (que foi recepcionado pela
CF/88 como lei ordinária).
No âmbito dos Estados e Municípios, o PAF é regido por leis estaduais ou locais.

O PAF é sempre exigível para a inscrição do débito em dívida ativa?


NÃO. A jurisprudência entende que, no caso de tributos sujeitos a lançamento de ofício
(direto), não é necessária a realização de procedimento administrativo prévio para que o
débito seja inscrito em dívida ativa.

É o caso, por exemplo, do IPTU e das taxas municipais. O Município envia para o endereço
do contribuinte, por via postal ou entrega direta, o carnê de pagamento do tributo e isso já
significa a notificação do lançamento. Nesse carnê (que é, tecnicamente, uma guia de
recolhimento do tributo), constam as informações sobre o que está sendo cobrado. Se o
contribuinte não concordar com a cobrança, poderá impugná-la administrativa ou
judicialmente.

(...) no lançamento de ofício do IPTU, a Fazenda Pública possui todas as informações para a
constituição do crédito, não necessitando de processo administrativo fiscal em autos. Após
constituído, a Fazenda envia o carnê do IPTU ao contribuinte, o que equivale à notificação
do lançamento, e, recebida esta, abre-se o prazo para a impugnação. (...)
(STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1080522/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em
14/10/2008).

“(...) a remessa, ao endereço do contribuinte, do carnê de pagamento do IPTU é ato


suficiente para a notificação do lançamento tributário. (...)
(STJ. 1ª Seção. REsp 1111124/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 22/04/2009,
recurso repetitivo).

Súmula 397-STJ: O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao


seu endereço.
36

Assim, para o STJ, nos tributos com lançamento de ofício, a ausência de prévio processo
administrativo não enseja a nulidade da CDA, uma vez que só haverá processo
Página

administrativo se o contribuinte entender que foi incorreta a cobrança e, assim, impugnar o


lançamento.
INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar, ainda, que há uma presunção, em favor do Fisco, de que a notificação
enviada ao endereço do sujeito passivo ou do imóvel (no caso de IPTU), foi entregue ao
contribuinte. Se este alegar que não recebeu, terá o ônus de provar isso.
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 370.295-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/10/2013.

É inexigível a cobrança de FUNDAF (uma espécie de taxa) com base em atos regulamentares da
RFB por ofensa ao princípio da legalidade estrita
(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

São inexigíveis os valores cobrados de concessionária, com fundamento em atos


regulamentares da Receita Federal, a título de contribuição para o Fundo Especial de
Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização (FUNDAF).
Comentários FUNDAF significa Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de
Fiscalização e constitui-se em um tributo destinado a fornecer recursos para financiar o
reaparelhamento e reequipamento da Receita Federal e para custear o poder de polícia na
fiscalização aduaneira.

O STJ entende que os valores cobrados a título de contribuição para o FUNDAF têm
natureza jurídica de taxa (e não de preço público), tendo em vista que o seu pagamento é
compulsório e decorre do exercício regular de típico poder de polícia, conforme se afere do
art. 22 do Decreto-Lei 1.455/1976.

Sendo taxa, os valores cobrados para o FUNDAF estão sujeitos às limitações constitucionais
ao poder de tributar, entre as quais o princípio da legalidade estrita, previsto no art. 150, I,
da CF e no art. 97 do CTN.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:


I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57
e 65;
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no
inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;
IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos
artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou
para outras infrações nela definidas;
VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa
ou redução de penalidades.

Desse modo, pelo princípio da legalidade estrita, na norma instituidora do tributo (que deve ser
uma lei em sentido estrito), devem constar todos os aspectos da tipicidade tributária (aspecto
material, aspecto pessoal, aspecto espacial, aspecto temporal e aspecto quantitativo).
37

O FUNDAF encontra-se em desconformidade com o citado princípio, tendo em vista que os seus
Página

elementos constitutivos não estão previstos em lei, mas sim em atos regulamentares da Receita

INFORMATIVO esquematizado
Federal, tendo havido uma indevida delegação de competência prevista no Decreto-Lei
1.455/1978 e no Decreto 91.030/1985, os quais não subsistem, por força do disposto no art. 25
do ADCT, o qual expressamente revogou os dispositivos legais que delegavam a órgão do Poder
Executivo competência assinalada pela CF/1988 ao Congresso Nacional.

Logo, para que o FUNDAF fosse legítimo, seus elementos constitutivos deveriam estar
previstos em lei e não em atos infralegais.
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.275.858-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 19/9/2013.

JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR


RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXERCÍCIO DO JUÍZO DE RETRATAÇÃO PREVISTO NO ART. 543-B, § 3º, DO CPC.
Concluído no STF o julgamento de caso em que tiver sido reconhecida a repercussão geral, o exercício da
faculdade de retratação prevista no art. 543-B, § 3º, do CPC não estará condicionado a prévio juízo de
admissibilidade do recurso extraordinário anteriormente sobrestado no STJ. Precedentes citados: AgRg no
RE nos EDcl no AgRg no REsp 1.174.808-SC, Corte Especial, DJe 26/6/2013; AgRg no RE nos EDcl no AgRg no
REsp 1.145.138-RS, Corte Especial, DJe 28/5/2013; EDcl na QO nos EDcl no AgRg no REsp 972.060-RS,
Quinta Turma, DJe 12/4/2013; EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 971.644-RS, Quinta Turma, DJe
27/2/2013; e EDcl no Ag 1.069.923-RS, Sexta Turma, DJe 1º/10/2012.
EREsp 878.579-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/10/2013.

DIREITO CIVIL. TARIFAS DE ABERTURA DE CRÉDITO E DE EMISSÃO DE CARNÊ ATÉ 30/4/2008. RECURSO
REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Nos contratos bancários celebrados até 30/4/2008 (fim da vigência da Resolução 2.303/1996 do CMN), era
válida a pactuação de Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e de Tarifa de Emissão de Carnê (TEC), ressalvado
o exame de abusividade em cada caso concreto. Nos termos dos arts. 4º e 9º da Lei 4.595/1964, recebida
pela CF como lei complementar, compete ao Conselho Monetário Nacional (CMN) dispor sobre taxa de
juros e sobre a remuneração dos serviços bancários e ao Bacen fazer cumprir as normas expedidas pelo
CMN. Ao tempo da Resolução CMN 2.303/1996, a orientação estatal quanto à cobrança de tarifas pelas
instituições financeiras era essencialmente não intervencionista. A regulamentação facultava às instituições
financeiras a cobrança pela prestação de quaisquer tipos de serviços, com exceção daqueles que a norma
definia como básicos, desde que fossem efetivamente contratados e prestados ao cliente, assim como
respeitassem os procedimentos voltados a assegurar a transparência da política de preços adotada pela
instituição. A cobrança das tarifas TAC e TEC é, portanto, permitida se baseada em contratos celebrados até
o fim da vigência da Resolução 2.303/1996 do CMN, ressalvado abuso devidamente comprovado caso a
caso, por meio da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não
bastando a mera remissão aos conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do magistrado. Tese
firmada para fins do art. 543-C do CPC: “Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência
da Resolução CMN 2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão
de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em
cada caso concreto”.
REsp 1.251.331-RS e REsp 1.255.573-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 28/8/2013.

DIREITO CIVIL. TARIFAS DE ABERTURA DE CRÉDITO E DE EMISSÃO DE CARNÊ E TARIFA DE CADASTRO APÓS
30/4/2008. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
38

Não é possível a pactuação de Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e de Tarifa de Emissão de Carnê (TEC)
após 30/4/2008 (início da vigência da Resolução 3.518/2007 do CMN), permanecendo válida a pactuação
Página

de Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a


qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira.

INFORMATIVO esquematizado
Com o início da vigência da Resolução 3.518/2007 do CMN, em 30/4/2008, a cobrança por serviços
bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedida pelo Bacen. Em cumprimento ao disposto na referida resolução, o Bacen editou a
Circular 3.371/2007. A TAC e a TEC não foram previstas na Tabela anexa à referida Circular e nos atos
normativos que a sucederam, de forma que não mais é válida sua pactuação em contratos posteriores a
30/4/2008. Permanece legítima, entretanto, a estipulação da Tarifa de Cadastro, a qual remunera o serviço
de "realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e informações cadastrais, e
tratamento de dados e informações necessários ao inicio de relacionamento decorrente da abertura de
conta de depósito à vista ou de poupança ou contratação de operação de crédito ou de arrendamento
mercantil, não podendo ser cobrada cumulativamente" (Tabela anexa à vigente Resolução 3.919/2010 do
CMN, com a redação dada pela Resolução 4.021/2011). Ademais, cumpre ressaltar que o consumidor não é
obrigado a contratar esse serviço de cadastro junto à instituição financeira, pois possui alternativas de
providenciar pessoalmente os documentos necessários à comprovação de sua idoneidade financeira ou
contratar terceiro (despachante) para fazê-lo. Tese firmada para fins do art. 543-C do CPC: “Com a vigência
da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas
físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela
autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de
Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador.
Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da
autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e
a instituição financeira.”
REsp 1.251.331-RS e REsp 1.255.573-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 28/8/2013.

DIREITO CIVIL. POSSIBILIDADE DE FINANCIAMENTO DO IOF. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E
RES. 8/2008-STJ).
Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF)
por meio de financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais.
Não se discute que a obrigação tributária arrecadatória e o recolhimento do tributo à Fazenda Nacional são
cumpridos por inteiro pela instituição financeira, o agente arrecadador, de sorte que a relação existente
entre esta e o mutuário é decorrente da transferência ao Fisco do valor integral da exação tributária. Esse é
o objeto do financiamento acessório, sujeito às mesmas condições e taxas do mútuo principal destinado ao
pagamento do bem de consumo. Nesse contexto, o fato de a instituição financeira arrecadadora financiar o
valor devido pelo consumidor à Fazenda não padece de ilegalidade ou abusividade. Ao contrário, atende
aos interesses do financiado, que não precisa desembolsar de uma única vez todo o valor, ainda que para
isso esteja sujeito aos encargos previstos no contrato. Tese firmada para fins do art. 543-C do CPC: “Podem
as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio
de financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais.”
REsp 1.251.331-RS e REsp 1.255.573-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 28/8/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. LEVANTAMENTO PARCIAL DE DEPÓSITO JUDICIAL PELO


MUNICÍPIO.
Não caracteriza hipótese de conversão de depósito em renda (art. 156, VI, do CTN) – caso de extinção do
crédito tributário – o repasse aos municípios previsto no § 2º do art. 1º da Lei 10.819/2003. A Lei
10.819/2003 concede ao município que instituir fundo de reserva destinado a garantir eventual obrigação
de ressarcimento o repasse de parcela correspondente a 70% do valor dos depósitos em instituição
financeira referentes a créditos tributários controvertidos de competência municipal efetuados a partir de
sua vigência (arts. 1° e 2°). O repasse em questão configura hipótese de levantamento parcial sob a
condição resolutiva de que o contribuinte venha a ser vencedor no processo. Com efeito, estabelece o art.
39

4° da Lei 10.819/2003 que, "encerrado o processo litigioso com ganho de causa para o depositante,
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mediante ordem judicial, o valor do depósito efetuado nos termos desta Lei, acrescido da remuneração que

INFORMATIVO esquematizado
lhe foi originalmente atribuída, será colocado à disposição do depositante pela instituição financeira
responsável, no prazo de três dias úteis (...)".
REsp 1.365.433-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 5/9/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INEXISTÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO NO ÂMBITO DE AÇÃO


DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA.
No âmbito de ação de nunciação de obra nova movida por condomínio contra condômino objetivando a
paralisação e a demolição de construção irregular erguida pelo condômino em área comum para
transformar seu apartamento, localizado no último andar do edifício, em um apartamento com cobertura,
não há litisconsórcio passivo necessário com os condôminos proprietários dos demais apartamentos
localizados no último andar do edifício.Isso porque a situação em apreço não se enquadra nas hipóteses
previstas no art. 47 do CPC, considerando o fato de que o litígio não exige solução uniforme em relação aos
demais condôminos ocupantes do último andar do edifício.
REsp 1.374.456-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 10/9/2013.

DIREITO EMPRESARIAL. COMPENSAÇÃO NO PROCESSO FALIMENTAR.


Os valores a serem restituídos à massa falida decorrentes da procedência de ação revocatória não podem
ser compensados com eventual crédito habilitado no processo de falência pelo réu condenado. Isso porque
à ação revocatória subjaz uma situação de ilegalidade preestabelecida em prejuízo da coletividade de
credores, ilegalidade que não pode beneficiar quem a praticou, viabilizando satisfação expedita de seus
créditos. Nessa ordem de ideias, a ação revocatória, de eficaz instrumento vocacionado à restituição de
bens que escoaram fraudulentamente do patrimônio da falida, tornar-se-ia engenhosa ferramenta de
lavagem de capitais recebidos em desconformidade com a par conditio creditorum. Ademais, a doutrina
vem apregoando que as hipóteses legais que impedem a compensação do crédito perante a massa não
estão listadas exaustivamente no art. 46 do Decreto-Lei n. 7.661/1945 (correspondente, em parte, ao art.
122 da Lei n. 11.101/2005). Aplicam-se também ao direito falimentar as hipóteses que vedam a
compensação previstas no direito comum, como aquelas previstas nos arts. de 1.015 a 1.024 do CC de
1916, entre as quais se destaca a compensação realizada em prejuízo de direitos de terceiros (art. 1.024).
REsp 1.121.199-SP, Rel. originário Min. Raul Araújo, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/9/2013.

40
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INFORMATIVO esquematizado
INFORMATIVO esquematizado
Informativo 532 – STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: AgRg no REsp 1.273.009-RJ; REsp 1.305.637-PR; REsp
1.116.897-PR.

ÍNDICE

Direito Administrativo
Responsabilidade civil do Estado: possibilidade de ajuizamento da ação diretamente contra o servidor
público causador do dano.

Direito Civil
O espólio não tem legitimidade para ajuizar ação de indenização por danos morais decorrentes de
ofensa post mortem à imagem e à memória de pessoa.
Foro competente para ação objetivando o DPVAT.

Direito do Consumidor
Hospital que realiza transfusão de sangue observando todas as cautelas exigidas não é responsável pela
contaminação do paciente.
Hospital não pode cobrar dos pacientes de plano de saúde valor adicional para atendimentos realizados
pelos seus médicos fora do horário comercial.
É incabível a exigência de caução para atendimento médico-hospitalar emergencial.

Direito Empresarial
Os juros moratórios no caso de cobrança de cheque são contados desde a data da primeira
apresentação.

Direito Processual Civil


A parte deverá arguir a suspeição do perito no momento da sua nomeação.
A decisão a que se refere o § 6º do art. 273 do CPC tem natureza de tutela antecipada e não de
julgamento antecipado parcial da lide.
Em ação para fornecimento de medicamentos, o juiz pode determinar o bloqueio e sequestro de verbas
públicas em caso de descumprimento da decisão.
1

Seguro garantia não pode ser usado como caução em execução fiscal.
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MP tem legitimidade para ACP contra hospital para que este não exija cheque-caução e para que não
cobre valores adicionais de usuários de planos de saúde.

Direito Penal
O fato de a vítima não ter contribuído para o delito é circunstância judicial neutra e não implica o
aumento da pena.
Termo inicial da prescrição executória: data do trânsito em julgado da sentença para a acusação.
Somente poderá ocorrer prescrição executória se tiver havido o trânsito em julgado da condenação
para ambas as partes.
A subtração de objeto localizado no interior de veículo automotor mediante o rompimento do vidro
qualifica o furto (art. 155, § 4º, I, do CP).
Houve abolitio criminis no tocante à causa de aumento de pena previsto no art. 18, III, primeira parte,
da Lei 6.368/76 (antiga Lei de Tóxicos).

Direito Processual Penal


Competência para julgar o delito do art. 241-A do ECA.
Se não houver perito oficial, dois policiais com curso superior podem fazer a perícia.
Aplicação de sanção disciplinar na execução penal depende de processo administrativo prévio.
O rol de faltas graves é taxativo e a mudança de endereço do liberado condicional sem informar o juízo
não está lá prevista como falta grave.

Direito Tributário
Contribuinte que oferece garantia de sua obrigação tributária, antes mesmo da execução fiscal iniciar,
tem direito à certidão positiva com efeitos de negativa.
Não tem efeito suspensivo o pedido administrativo para anulação do crédito tributário feito após o
encerramento do procedimento administrativo.
O art. 11, I, da Lei 11.941/2009 não viola o princípio da isonomia ao prever que os bens penhorados do
devedor que adere ao parcelamento devem continuar constritos.

Direito Previdenciário
Tempo exercido pelo segurado, antes da Lei 8.213/91, na atividade rural, com registro em carteira
profissional, pode ser reconhecido para efeito de carência.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Responsabilidade civil do Estado: possibilidade de ajuizamento da ação diretamente contra o


servidor público causador do dano

Na hipótese de dano causado a particular por agente público no exercício de sua função, a
vítima tem a possibilidade de ajuizar a ação de indenização diretamente contra o agente,
contra o Estado ou contra ambos.
Obs: existe precedente do STF em sentido contrário.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Jomar, auditor de tributos estaduais, estava dirigindo o veículo oficial da SEFAZ, indo em
direção a uma empresa onde iria realizar uma fiscalização.
Como já estava atrasado, Jomar empreendeu alta velocidade e não viu quando Cristina
atravessava na faixa, razão pela qual acabou atropelando a pedestre, que sofreu inúmeras
2

lesões corporais.
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Cristina deseja ajuizar uma ação de indenização pelos danos materiais e morais que sofreu
com o acidente.

INFORMATIVO esquematizado
A vítima poderá propor a ação contra o Estado?
SIM. O Estado possui responsabilidade civil pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causem a terceiros. Trata-se de previsão expressa do art. 37, § 6º da CF/88:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

A responsabilidade do Estado, nesse caso, é OBJETIVA.


Assim, o lesado somente terá que provar:
O fato do serviço (conduta do agente público, sem precisar provar dolo ou culpa);
O dano sofrido;
O nexo de causalidade entre o fato e o dano.

A vítima poderá propor a ação diretamente contra o servidor causador do dano (e não
contra o Estado)?
1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM
A vítima somente poderá ajuizar a ação A vítima tem a possibilidade de escolher se
contra o Estado (Poder Público). Se este for quer ajuizar a ação:
condenado, poderá acionar o servidor que somente contra o Estado;
causou o dano. somente contra o servidor público;
O ofendido não poderá propor a demanda contra o Estado e o servidor público
diretamente contra o agente público. em litisconsórcio.
Para essa corrente, ao se ler o § 6º do art. Para essa corrente, o § 6º do art. 37 da
37 da CF/88, é possível perceber que o CF/88 prevê tão somente que o lesado
dispositivo consagrou duas garantias: poderá buscar diretamente do Estado a
a primeira, em favor do particular indenização pelos prejuízos que seus
lesado, considerando que a CF/88 agentes causaram. Isso não significa,
assegura que ele poderá ajuizar ação contudo, que o dispositivo proíba a vítima
de indenização contra o Estado, que de acionar diretamente o servidor público
tem recursos para pagar, sem ter que causador do dano.
provar que o agente público agiu com
dolo ou culpa; Dessa forma, quem decide se irá ajuizar a
a segunda garantia é em favor do ação contra o agente público ou contra o
agente público que causou o dano. A Estado é a pessoa lesada, não havendo
parte final do § 6º do art. 37, uma obrigatoriedade na CF/88 de que só
implicitamente, afirma que a vítima ajuíze contra o Poder Público.
não poderá ajuizar a ação diretamente
contra o servidor público que praticou A vítima deverá refletir bastante sobre qual
o fato. Este servidor somente pode ser é a melhor opção porque ambas têm
responsabilizado pelo dano se for vantagens e desvantagens.
acionado pelo próprio Estado, em ação
regressiva, após o Poder Público já ter Se propuser a ação contra o Estado, não
ressarcido o ofendido. terá que provar dolo ou culpa. Em
compensação, se ganhar a demanda, será
pago, em regra, por meio de precatório.
3

Se intentar a ação contra o servidor, terá o


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ônus de provar que este agiu com dolo ou

INFORMATIVO esquematizado
culpa. Se ganhar, pode ser que o referido
servidor não tenha patrimônio para pagar a
indenização. Em compensação, o processo
tramitará muito mais rapidamente do que
se envolvesse a Fazenda Pública e a
execução é bem mais simples.
Essa posição foi denominada de tese da Adotada pela 4ª Turma do STJ no REsp
dupla garantia, tendo sido adotada há 1.325.862-PR, Rel. Min. Luis Felipe
alguns anos em um precedente da 1ª Salomão, julgado em 5/9/2013.
Turma do STF (RE 327904, Rel. Min. Carlos É a posição também da doutrina
Britto, julgado em 15/08/2006). majoritária (exs: Celso Antônio Bandeira de
Melo, José dos Santos Carvalho Filho).

Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.325.862-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/9/2013.

DIREITO CIVIL

O espólio não tem legitimidade para ajuizar ação de indenização por danos morais decorrentes
de ofensa post mortem à imagem e à memória de pessoa

O espólio não tem legitimidade para buscar reparação por danos morais decorrentes de ofensa
post mortem à imagem e à memória de pessoa. A legitimidade, nesse caso, é dos herdeiros.
Comentários O que é a herança?
A herança é o conjunto de bens deixado pela pessoa falecida.
Caracteriza-se, por força de lei, como sendo bem imóvel, universal e indivisível.
A herança é formada automaticamente pela morte e somente será dissolvida quando
houver a partilha.

O que é o espólio?
O espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora dele.
Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para praticar atos
jurídicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herança) e tem legitimidade processual
(pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual) (FARIAS, Cristiano Chaves. et.
al., Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 1396).

Quem representa o espólio em juízo (quem age em nome do espólio)?


Se já houve inventário: o espólio é representado em juízo pelo inventariante.
Se ainda não foi aberto inventário: o espólio é representado pelo administrador
provisório (art. 985 do CPC).

Fixados esses conceitos, imagine a seguinte situação hipotética:


João, viúvo, pai de Hugo, José e Luiz, faleceu em decorrência de suposta falha no
atendimento hospitalar.
Foi aberto inventário, tendo Hugo sido nomeado como inventariante.
Os filhos decidem contratar um advogado para ajuizar uma ação de indenização contra o
hospital pelos danos morais e materiais que eles sofreram com a morte do genitor.
4

O advogado propõe a ação de indenização indicando como autor o espólio.


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INFORMATIVO esquematizado
O advogado agiu de maneira correta?
NÃO. O espólio não tem legitimidade para postular indenização pelos danos materiais e
morais supostamente experimentados pelos herdeiros, ainda que se alegue que os
referidos danos teriam decorrido de erro médico de que fora vítima o falecido.
Na situação exposta, o direito à reparação pelos danos causados com a morte é dos filhos
de João por conta de direito próprio deles (e não por um direito que tenha sido transmitido
com a herança). Assim, o direito à reparação pela morte de João nada tem a ver com a
herança (não foi um bem deixado pelo falecido com a sua morte). Logo, o autor da
demanda não deve ser o espólio.
Resumindo: o direito no qual se funda a ação é próprio dos herdeiros, e não um direito do
de cujus que foi transmitido.

Vejamos, ao contrário, duas situações em que a legitimidade seria do espólio:


O espólio teria legitimidade para ajuizar a ação se o direito à indenização pertencesse ao
falecido e tivesse sido transmitido aos herdeiros com a morte.

Ex1: suponhamos que, antes de João falecer, tenha sido publicada uma reportagem no
jornal atacando a sua honra. João ajuizou uma ação de indenização contra o periódico,
tendo, no entanto, morrido antes que a demanda fosse julgada. Nesse exemplo,
considerando a natureza patrimonial do direito de ação por danos morais, esse direito se
transmitirá aos herdeiros. Logo, o espólio possui legitimidade para suceder o autor na ação
de indenização, operando-se a substituição processual, nos termos do art. 43 do CPC.

Ex2: a reportagem foi publicada atacando a honra de João. Ocorre que não deu tempo de
ele tomar providências contra o periódico. Nessa hipótese, muito embora se reconheça o
caráter pessoal da referida ação, o STJ e a doutrina majoritária consideram que o direito de
ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da
vítima. Logo, o espólio tem legitimidade para intentar a ação de reparação por danos
morais. Nesse sentido é o art. 943 do CC e o Enunciado 454 do CJF.

Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a


herança.

Enunciado 454-CJF: Art. 943. O direito de exigir reparação a que se refere o art. 943 do
Código Civil abrange inclusive os danos morais, ainda que a ação não tenha sido iniciada
pela vítima.

Vale ressaltar que o direito de personalidade da pessoa morta não foi transmitido com a
herança. O direito da personalidade extinguiu-se com a morte do titular. O que se
transmitiu, nesse caso, foi apenas o direito patrimonial de requerer a indenização.

Agora, por fim, uma última hipótese:


Suponha que a reportagem atacando a honra de João foi publicada somente após a sua
morte. Nesse caso, será possível o ajuizamento de ação de indenização por danos morais?
Quem terá legitimidade para figurar no polo ativo: o espólio ou os herdeiros?
SIM, será possível a propositura de ação de indenização por danos morais. A legitimidade
ativa para essa demanda é dos herdeiros, nos termos do parágrafo único do art. 12 do CC:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
5

reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.


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Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida


prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou

INFORMATIVO esquematizado
colateral até o quarto grau.

Se o dano ocorre depois da morte do titular, não produz efeitos jurídicos ao morto.
Contudo, tal ofensa atinge, indiretamente, os familiares vivos da pessoa morta,
caracterizados como “lesados indiretos”. Assim sendo, os herdeiros, considerados como
“lesados indiretos” pelas ofensas devem propor a ação em nome próprio. Como explicam
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald:
“(...) é um direito reconhecido às pessoas vivas de ter salvaguardada a personalidade dos
seus parentes (e do cônjuge ou companheiro) falecidos, sob pena de afronta à sua própria
personalidade. Isto porque ao violar a honra, imagem, sepultura etc., de uma pessoa morta,
atinge-se, obliquamente (indiretamente, na linguagem do Código Civil), os seus parentes (e
o cônjuge ou companheiro) vivos.
Bem por isso, os lesados indiretos atuam em nome próprio, defendendo um interesse
próprio, consistente na defesa da personalidade de seus parentes (ou de seu cônjuge ou
companheiro) falecidos. Agem, pois, por legitimidade ordinária, autônoma, e não em
substituição processual.” (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de
Direito Civil. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 198)

Nessa última hipótese, o espólio poderia ingressar com ação de indenização por danos
morais?
NÃO. O espólio não tem legitimidade para buscar reparação por danos morais decorrentes
de ofensa post mortem à imagem e à memória de pessoa. Logo, a legitimidade é dos
herdeiros (e não do espólio). Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.209.474-SP, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/9/2013.

Quadro-resumo:
Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto O espólio é legitimado a
viva, tendo esta ajuizado ação de indenização, mas prosseguir na demanda.
falecido antes do trânsito em julgado.
Ofensa a direito da personalidade da pessoa enquanto O espólio é legitimado a propor
viva. Esta faleceu sem ter ajuizado a ação. a ação de indenização.
Os herdeiros (e não o espólio)
Ofensa à memória da pessoa já falecida. são legitimados para propor a
ação de indenização.
Os herdeiros (e não o espólio)
Dor e sofrimento causado pela morte da pessoa. são legitimados para propor a
ação de indenização.

Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.209.474-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/9/2013.

Foro competente para ação objetivando o DPVAT

Em ação de cobrança objetivando indenização decorrente de DPVAT, constitui faculdade do


autor escolher entre os seguintes foros para ajuizamento da ação:
Prática a) o do local do acidente;
forense
b) o do local do seu domicílio;
c) o do local do domicílio do réu.
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Comentários O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de
via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não.

INFORMATIVO esquematizado
Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo
automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do
DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os
seus respectivos herdeiros.

Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que
passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais
um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram
inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor
correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de
DPVAT por invalidez.
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o
culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a
indenização normalmente.

O DPVAT é regulamentado pela Lei n. 6.194/74.

Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei?


no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima)
no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500 (por vítima)
no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como
reembolso à cada vítima.

Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação:


Ricardo, que mora em Uberlândia (MG), sofreu um acidente de trânsito em Belo Horizonte
(MG), ficou com invalidez permanente e procurou extrajudicialmente a seguradora X,
devidamente credenciada, para receber seu DPVAT.
A seguradora, que é sediada em São Paulo (SP), negou o pagamento, alegando que faltaram
determinados documentos.
Em razão disso, Ricardo procura um advogado a fim de ajuizar uma ação contra a
seguradora.

Essa ação, que é de competência da Justiça Estadual, deverá ser proposta em qual comarca?
O autor poderá escolher, dentre três opções, o local onde irá ajuizar a ação:
a) no foro do local do acidente (art. 100, parágrafo único do CPC);
b) no foro do seu domicílio (art. 100, parágrafo único do CPC); ou
c) no foro do domicílio do réu (art. 94 do CPC).
Processo STJ. 2ª Seção. REsp 1.357.813-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/9/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Hospital que realiza transfusão de sangue observando todas as cautelas exigidas não é
responsável pela contaminação do paciente

O hospital que realiza transfusão de sangue observando todas as cautelas exigidas por lei não é
responsável pelo fato de o paciente ter sido contaminado com hepatite C, ainda que se
considere que essa contaminação ocorreu por conta do fenômeno da janela imunológica.
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Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:


Roberto realizou uma cirurgia e, após o procedimento, precisou receber uma transfusão de

INFORMATIVO esquematizado
sangue.
Algum tempo depois, foi diagnosticado que ele contraiu o vírus HCV (hepatite C) por conta
da referida transfusão de sangue.
Diante disso, Roberto ajuizou ação de indenização por danos morais contra o hospital,
afirmando que houve fato do serviço (o serviço foi defeituoso), nos termos do art. 14 do CDC:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.

Doador de sangue não tinha hepatite


Durante a instrução probatória, ficou comprovado que o doador do sangue utilizado na
transfusão não tinha hepatite C e que o hospital adotou todas as cautelas exigidas pelos
protocolos médicos e hospitalares.

Janela imunológica
Como os exames do doador, na época, deram negativo, chegou-se a conclusão de que,
quando ele foi fazer a doação do sangue, estava em um período de “janela imunológica”.
Janela imunológica é um período em que a pessoa já está contaminada pelo vírus e pode
transmiti-lo a outras pessoas, mas, apesar disso, os exames feitos ainda não conseguem
detectar a doença.
Assim, se a pessoa está no período da janela imunológica, o resultado do exame será um
falso negativo.

Nesse caso concreto, houve defeito na prestação dos serviços por parte do hospital?
NÃO. A 4ª Turma do STJ entendeu que o hospital, para permitir a transfusão de sangue,
adotou todas as cautelas razoáveis e possíveis, de modo a garantir a segurança do paciente.
Não se pode dizer que o hospital tenha incorrido em defeito na prestação dos serviços se a
contaminação ocorreu em virtude da “janela imunológica”.
A doutrina especializada esclarece que mesmo que se adotem todos os testes adequados à
análise sanguínea, ainda assim não é possível a eliminação total dos riscos de transfusão de
sangue contaminado.
Desse modo, o consumidor, ao fazer um procedimento de transfusão de sangue, deve saber
que não há absoluta segurança no procedimento por conta de limitações técnicas. Não se
pode responsabilizar o hospital caso ele adote todos os procedimentos recomendados e,
mesmo assim, haja a contaminação, uma vez que, segundo o estado atual da técnica, não
existe possibilidade de se eliminar por completo os riscos na transfusão.

Em seu voto, o excelente Min. Luis Felipe Salomão traz a opinião de doutrina abalizada
sobre o tema, valendo a pena fazer aqui duas transcrições:
“(...) Não se pode eliminar, aqui, o risco de transfundir sangue contaminado a um paciente
mesmo com a adoção das medidas adequadas à análise do sangue. Para minimizar essa
possibilidade, adotam-se medidas de triagem do doador, que não são todas infalíveis, eis
que dependentes da veracidade e precisão das informações por este prestadas.
Trata-se, como se vê, de um risco reduzido, porém não eliminável. Parece correto sustentar,
assim, que aquilo que o consumidor pode legitimamente esperar não é, infelizmente, que
sangue contaminado jamais seja utilizado em transfusões sanguíneas, mas sim que todas as
medidas necessárias à redução desse risco ao menor patamar possível sejam tomadas pelas
pessoas ou entidades responsáveis pelo processamento do sangue.” (FERRAZ, Octávio Luiz
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Motta Ferraz. Responsabilidade civil da atividade médica no código de defesa do


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consumidor. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 156).

INFORMATIVO esquematizado
“(...) embora haja especificidade e evolução da técnica, como vimos raramente será o ato
transfusional 100% seguro, em face do nível do conhecimento científico atual não afastar a
existência de riscos como aqueles produzidos pela chamada ‘janela imunológica’ que
produz falsos resultados negativos nos testes a que é submetido o sangue. Ademais, o
médico ao receitar uma transfusão de sangue compromete-se a utilizar todos seus
conhecimentos e meios disponíveis para obtenção de um resultado: a preservação da vida e
saúde do paciente. Não se obriga ele a alcançar o resultado em si, mesmo porque não lhe é
dado o poder de garantir o sucesso do ato. Assim, ensejando a transfusão de sangue uma
obrigação de meio, cumpre, em princípio àquele que busca indenização à prova da culpa ou
o dolo do demandado.” (MURIEL, Christine Santini. Aspectos juridicos das transfusões de
sangue. São Paulo: Revista dos Tribunais. Vol. 706. p. 30. Ago, 1994).

Em conclusão, o STJ afirmou que não era devida a indenização, considerando que o serviço
prestado não foi defeituoso.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.322.387-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/8/2013.

Hospital não pode cobrar dos pacientes de plano de saúde valor adicional para atendimentos
realizados pelos seus médicos fora do horário comercial

O hospital não pode cobrar, ou admitir que se cobre, dos pacientes conveniados a planos de saúde
valor adicional por atendimentos realizados por seu corpo médico fora do horário comercial.
Comentários O hospital não pode cobrar, ou admitir que se cobre, dos pacientes conveniados a planos de
saúde valor adicional por atendimentos realizados por seu corpo médico fora do horário
comercial.

A pedra de toque do direito consumerista é o princípio da vulnerabilidade do consumidor,


mormente no que tange aos contratos.

Nesse contexto, independentemente do exame da razoabilidade/possibilidade de cobrança


de honorários médicos majorados para prestação de serviços fora do horário comercial,
salta aos olhos que se trata de custos que incumbem ao hospital. Este, por conseguinte,
deveria cobrar por seus serviços diretamente das operadoras de plano de saúde, e não dos
particulares/consumidores.

Além disso, cabe ressaltar que o consumidor, ao contratar um plano de seguro de


assistência privada à saúde, tem a legítima expectativa de que, no tocante aos
procedimentos médico-hospitalares cobertos, a empresa contratada arcará com os custos
necessários, isto é, que haverá integral assistência para a cura da doença.

Essa cobrança de valores adicionais é iníqua (injusta) e aproveita-se da fragilidade do


consumidor, considerando que todos os custos já deveriam estar cobertos pelo preço
exigido da operadora de saúde. Assim, tal conduta caracteriza-se como manifestamente
abusiva, violando a boa-fé objetiva e o dever de probidade do fornecedor, sendo vedada
pelos arts. 39, IV, X, e 51, III, IV, X, XIII, XV, do CDC e 422 do CC.

Ademais, na relação mercantil existente entre o hospital e as operadoras de planos de


saúde, os contratantes são empresários – que exercem atividade econômica
profissionalmente –, não cabendo ao consumidor arcar com os ônus/consequências de
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eventual equívoco quanto à gestão empresarial.


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Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/9/2013.

INFORMATIVO esquematizado
É incabível a exigência de caução para atendimento médico-hospitalar emergencial

É incabível a exigência de caução para atendimento médico-hospitalar emergencial.


Comentários Caução para atendimento médico-hospitalar de emergência
Alguns hospitais, mesmo em caso de emergência, somente atendiam o paciente que lá
chegava se ele, ou algum de seus familiares, apresentasse um cheque-caução, nota
promissória, ou qualquer garantia que assegurasse que as despesas hospitalares seriam
pagas ao final do procedimento.

Essa exigência (que era comum, mas atualmente, rara) é válida?


NÃO.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) prevê que é prática abusiva o fato do
fornecedor de serviços se prevalecer da fraqueza do consumidor diante de um problema de
saúde. Confira-se:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade,
saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

O Código Civil de 2002, por sua vez, prevê o estado de perigo como vício de consentimento,
apto a gerar a anulabilidade do negócio jurídico. A doutrina civilista em peso classifica a
exigência de cheque-caução para atendimentos emergenciais em hospitais como típico
exemplo de estado de perigo.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa.

No âmbito do direito administrativo sancionador, a Agência Nacional de Saúde Suplementar


– ANS, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, possui a Resolução Normativa
n. 44, de 24 de julho de 2003, proibindo a prática nos seguintes termos:
Art. 1º Fica vedada, em qualquer situação, a exigência, por parte dos prestadores de
serviços contratados, credenciados, cooperados ou referenciados das Operadoras de Planos
de Assistência à Saúde e Seguradoras Especializadas em Saúde, de caução, depósito de
qualquer natureza, nota promissória ou quaisquer outros títulos de crédito, no ato ou
anteriormente à prestação do serviço.

Por fim, em 2012, foi editada a Lei n. 12.653, prevendo como crime (art. 135-A do CP) a
conduta de exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia como condição
para o atendimento médico-hospitalar emergencial.

No âmbito do STJ, mesmo antes da vigência da Lei n. 12.653/2012, já havia precedentes


condenando a prática e afirmando que é dever do estabelecimento hospitalar, sob pena de
responsabilização cível e criminal, prestar o pronto atendimento aos pacientes que lá
chegam em situação de emergência. Com a superveniência da Lei, somente é reforçada a
vedação.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/9/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL

Os juros moratórios no caso de cobrança de cheque são contados desde a data da primeira
apresentação

Os juros relacionados com a cobrança de crédito estampado em cheque são disciplinados pela
Lei do Cheque (Lei n. 7.357/85).
Segundo a referida Lei, os juros de mora devem ser contados desde a data da primeira
apresentação do cheque pelo portador à instituição financeira.
Não se aplica, portanto, a regra do art. 405 do CC, que conta os juros a partir da citação inicial.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João emitiu um cheque de 5 mil reais em favor de Pedro.
Em 02/02/2010, Pedro foi até o banco descontar o cheque, mas este não tinha fundos.
Em 2013, Pedro ajuíza ação de cobrança contra João, que é citado no dia 03/03/2013.
O juiz julgou procedente o pedido, condenando o réu a pagar o valor cobrado.
Na sentença, o magistrado consignou que os juros moratórios deveriam ser contados desde a
data da citação inicial do réu (03/03/2013), nos termos do art. 405 do CC e art. 219 do CPC.

O juiz acertou no momento da fixação do termo inicial dos juros de mora?


NÃO. Os juros de mora sobre a importância de cheque não pago são contados da primeira
apresentação pelo portador ao banco, e não da citação do sacador.
Logo, em nosso exemplo, os juros deveriam ser contados desde 02/02/2010.

Os juros relacionados com a cobrança de crédito estampado em cheque são disciplinados


pela Lei do Cheque (Lei n. 7.357/85).

Segundo a referida Lei, os juros de mora devem ser contados desde a data da primeira
apresentação do cheque pelo portador à instituição financeira, conforme previsto no art.
52, II (em nosso exemplo, no dia 02/02/2010).

Não se aplica, portanto, a regra do art. 405 do CC, que conta os juros a partir da citação
inicial.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.934-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/8/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


A parte deverá arguir a suspeição do perito no momento da sua nomeação

A parte não pode deixar para arguir a suspeição de perito apenas após a apresentação de laudo
pericial que lhe foi desfavorável.
A parte deverá arguir a suspeição do perito no momento da sua nomeação.
Comentários A parte não pode deixar para arguir a suspeição de perito apenas após a apresentação de
laudo pericial que lhe foi desfavorável.
Por se tratar de nulidade relativa, a suspeição do perito deve ser arguida na primeira
oportunidade em que couber à parte manifestar-se nos autos, ou seja, no momento da sua
nomeação, demonstrando o interessado o prejuízo eventualmente suportado, sob pena de
preclusão (art. 245 do CPC):
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Art. 245. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à
parte falar nos autos, sob pena de preclusão.
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Permitir que a alegação de irregularidade da perícia possa ser realizada pela parte após a
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publicação do laudo pericial que lhe foi desfavorável seria o mesmo que autorizá-la a
plantar uma nulidade, o que não se coaduna com o sistema jurídico pátrio, que rejeita o
venire contra factum proprium.
Processo STJ. 3ª Turma. AgRg na MC 21.336-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17/9/2013.

A decisão a que se refere o § 6º do art. 273 do CPC tem natureza de tutela antecipada e não de
julgamento antecipado parcial da lide

O STJ decidiu que a decisão a que se refere o § 6º do art. 273 do CPC, apesar de ser concedida
mediante técnica de cognição exauriente, continua sendo, por opção legislativa, uma hipótese
ATENÇÃO de tutela antecipada. Logo, por questão de política legislativa, não é apta a fazer coisa julgada
material.
Assim, o valor correspondente à parte incontroversa do pedido pode ser levantado pelo
beneficiado por decisão que antecipa os efeitos da tutela (art. 273, § 6º, do CPC), mas o
montante não deve ser acrescido dos respectivos honorários advocatícios e juros de mora, os
quais deverão ser fixados pelo juiz na sentença.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
A empresa X ajuizou uma ação contra a empresa Z cobrando um milhão de reais.
O juiz deferiu tutela cautelar determinando que a empresa Z depositasse o dinheiro
cobrado em uma conta judicial até que se aguardasse o pronunciamento final.
Após efetuar o depósito em juízo, a empresa Z apresentou contestação reconhecendo que
devia 200 mil reais e negando o restante do débito.
Desse modo, perceba que, quanto aos 200 mil reais, não há controvérsia, isto é, tanto o
autor como o réu concordam que são devidos. Não há lide quanto a esse ponto. A
controvérsia está nos 800 mil reais restantes. Somente quanto a essa parcela incontroversa
é que o juiz terá que decidir na sentença quem tem razão.

Levantamento do valor incontroverso


Depois da contestação da ré, a autora apresentou petição ao juiz requerendo o
levantamento do montante incontroverso.
O magistrado concordou com o pedido, fundamentando sua decisão no art. 273, § 6º do CPC:
Art. 273 (...)
§ 6º A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos
cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.

Assim, foi expedido, em favor da autora, um alvará judicial no valor de 200 mil reais.

Tese da autora
Ocorre que a empresa X não concordou com o fato de o juiz ter liberado apenas 200 mil
reais e afirmou que a esse valor deveria ser acrescido os honorários advocatícios e os juros
de mora.
A argumentação deduzida pela autora foi, mais ou menos, a seguinte:
Nos casos do art. 273, § 6º, do CPC, apesar da lei falar em “tutela antecipada”, o que se tem
é um reconhecimento parcial do pedido e um verdadeiro julgamento antecipado de parte
do mérito da demanda.
Assim, não se trata de tutela antecipada, porque essa parcela já é definitiva por ser
incontroversa. Não há nada mais para decidir em relação a essa parte da demanda, que se
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exauriu quando a ré reconheceu a procedência parcial do pedido.


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Dessa forma, a decisão que autoriza o levantamento da quantia incontroversa não é


proferida com cognição sumária, mas sim com cognição exauriente, capaz, inclusive, de

INFORMATIVO esquematizado
produzir coisa julgada material.
Por consequência, a execução dessa parte incontroversa é definitiva (e não provisória).
Sendo definitivo o julgado, não existe fundamento para retardar a incidência dos juros e dos
honorários quanto a essa parte do pedido.
Em suma, quanto aos 200 mil reais, o Poder Judiciário já reconheceu que a autora tem
direito. Quanto a essa parte da demanda, a requerente já se sagrou vencedora e o réu
sucumbiu. Logo, a autora tem direito de receber os honorários de sucumbência e o valor
principal (200 mil reais) acrescidos dos juros de mora devidos desde a citação inicial.

A tese apresentada pela autora é aceita pela doutrina? O § 6º do art. 273 do CPC é um caso
de tutela antecipada ou de julgamento antecipado da lide?

1ª corrente: JULGAMENTO ANTECIPADO 2ª corrente: TUTELA ANTECIPADA


Os processualistas mais modernos Por outro lado, uma segunda corrente
defendem que o § 6º do art. 273 do CPC sustenta que a regra do § 6º é sim uma
não é, propriamente, tutela antecipada, hipótese de tutela antecipada, tanto que
mas sim uma hipótese de julgamento está inserida dentro do art. 273 do CPC.
antecipado parcial da lide. Houve, portanto, uma opção legislativa.
A localização topográfica do § 6º está No sistema atual do CPC, não é possível
errada e não deveria ter sido prevista noimaginar que haja o fracionamento do
art. 273, mas sim no art. 330 do CPC. momento de decidir, ou seja, parte é
decidida no começo do processo e outra
parte somente no final. Em suma, o
processo brasileiro não admite “sentenças
parciais”.
Quando o juiz decide com base nesse § 6º Apesar de o juízo de verossimilhança ser
sua cognição é exauriente e está fundada mais forte do que nas demais hipóteses de
em juízo de certeza, sendo uma decisão tutela antecipada, é possível que, ao final
apta a gerar coisa julgada material. da demanda, o magistrado reformule seu
entendimento e revogue ou modifique a
decisão que havia concedido a tutela.

A decisão que aplica o § 6º é apta para A decisão que aplica o § 6º não é apta para
fazer coisa julgada material. fazer coisa julgada material, por força de
opção legislativa.

Pode ser executada definitivamente. A execução é provisória.


Nesse sentido: Nesse sentido:
Fredie Didier Júnior Teori Zavascki
Cássio Scarpinella Bueno Athos Gusmão Carneiro
Daniel Mitidiero Cândido Rangel Dinarmarco
Leonardo José Carneiro da Cunha
Joel Dias Figueira Júnior

Qual das duas correntes foi adotada pelo STJ?


A segunda.

Afirmou o Min. Rel. Ricardo Villas Bôas Cueva:


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“(...) não se discute que a tutela prevista no § 6º do artigo 273 do CPC atende aos princípios
constitucionais ligados à efetividade da prestação jurisdicional, ao devido processo legal, à
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economia processual e à duração razoável do processo, e que a antecipação em comento

INFORMATIVO esquematizado
não é baseada em urgência, nem muito menos se refere a um juízo de probabilidade (ao
contrário, é concedida mediante técnica de cognição exauriente após a oportunidade do
contraditório). Porém, como já dito, por questão de política legislativa, a tutela
acrescentada pela Lei nº 10.444/02 não é suscetível de imunização pela coisa julgada.
Assim sendo, não há como na fase de antecipação da tutela, ainda que com fundamento no
§ 6º do artigo 273 do CPC, permitir o levantamento dos consectários legais (juros de mora e
honorários advocatícios), que deverão ser decididos em sentença.”
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.234.887-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/9/2013.

Em ação para fornecimento de medicamentos, o juiz pode determinar o bloqueio e sequestro de


verbas públicas em caso de descumprimento da decisão

Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas eficazes à


efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar, até mesmo, o sequestro de
ATENÇÃO valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada
fundamentação.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Pedro é portador de uma grave doença e seu médico prescreveu determinado
medicamento que não é fornecido pela rede pública de saúde.
O paciente, por intermédio da Defensoria Pública, ajuíza ação ordinária contra o Estado-
membro pedindo o fornecimento desse medicamento.
O juiz defere a tutela antecipada determinado o fornecimento do medicamento no prazo de
5 dias. Na decisão, o magistrado alerta que, se o Poder Público não cumprir a medida, ele
irá determinar o bloqueio e o sequestro de verbas do Estado e a sua transferência para
conta corrente de titularidade do autor a fim de que ele mesmo compre o medicamento de
que precisa.

Indaga-se: o juiz pode fazer isso? Pode determinar ao Poder Público o fornecimento de
medicamento a portador de doença grave, sob pena de bloqueio ou sequestro de verbas
públicas?
SIM. É possível ao magistrado determinar, de ofício ou a requerimento das partes, o
bloqueio ou sequestro de verbas públicas como medida coercitiva para o fornecimento de
medicamentos pelo Estado na hipótese em que a demora no cumprimento da obrigação
acarrete risco à saúde e à vida do demandante.

O art. 461 do CPC preconiza:


Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

O juiz, para que a sua decisão tenha “força” e desperte no réu a ânsia de cumpri-la, deve
determinar alguma medida coercitiva. O § 5º prevê, exemplificativamente, algumas
medidas que poderão ser impostas. É certo que, além das ali listadas, o magistrado poderá
impor outras que julgue mais eficazes. Veja o dispositivo:
§ 5º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente,
poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a
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imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas,
desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de
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força policial.

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Vale ressaltar que o Poder Judiciário não deve compactuar com a desídia do Estado, que
condenado pela urgência da situação a entregar medicamentos imprescindíveis à proteção
da saúde e da vida de cidadão necessitado, revela-se indiferente à tutela judicial deferida e
aos valores fundamentais da vida e da saúde. Nesse sentido: AgRg no REsp 1002335/RS, Rel.
Min. Luiz Fux, DJe 22.09.2008.

Mas os bens públicos não são impenhoráveis? Isso não seria uma forma de penhora de bens
públicos? Ademais, não haveria uma quebra na regra dos precatórios?
Sim. No entanto, entendeu-se que o direito à saúde, garantido constitucionalmente (arts. 6º
e 196), deveria prevalecer sobre princípios de Direito Financeiro ou Administrativo.

O direito fundamental à saúde deverá prevalecer sobre os interesses financeiros da Fazenda


Pública, a significar que, no confronto de ambos, prestigia-se o primeiro em prejuízo do
segundo. Assim, o regime constitucional de impenhorabilidade dos bens públicos e da
submissão dos gastos públicos decorrentes de ordem judicial a prévia indicação
orçamentária deve ser conciliado com os demais valores e princípios consagrados pela
Constituição. Estabelecendo-se, entre eles, um conflito específico e insuperável, há de se
fazer um juízo de ponderação para determinar qual dos valores conflitantes merece ser
específica e concretamente prestigiado, sendo certo que o direito à saúde deverá ser
prestigiado (Min. Teori Zavascki em voto proferido no STJ, REsp. 840.912/RS, DJ de
23/04/2007).

Assim, se, no caso concreto, estiver demonstrada que a aquisição do medicamento é


medida urgente e impostergável para a saúde do autor, deve-se concluir que prevalece o
direito fundamental à saúde em detrimento da regra que diz que os recursos públicos são
impenhoráveis. Isso porque haveria um grande risco à vida do cidadão caso ele fosse
obrigado a aguardar o procedimento de execução por quantia certa contra a Fazenda
Pública, extremamente lento e burocrático.

O Relator, Min. Napoleão Nunes Maia Filho, ressaltou, no entanto, que o bloqueio e
sequestro de verbas públicas é medida que somente deve ser concedida em caráter
excepcional, onde haja nos autos comprovação de que o Estado não esteja cumprindo a
obrigação de fornecer os medicamentos pleiteados e de que a demora no recebimento
acarrete risco à saúde e à vida do demandante.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.069.810-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/10/2013 (recurso
repetitivo).

Seguro garantia não pode ser usado como caução em execução fiscal

O seguro garantia judicial não pode ser utilizado como caução em execução fiscal. Isso porque
não há norma legal disciplinadora do seguro garantia judicial, não estando essa modalidade de
caução entre as previstas no art. 9º da Lei 6.830/1980.
Comentários O que é a execução fiscal?
Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF,
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos
(tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa.
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Qual é a lei que regula a execução fiscal?


A execução fiscal é regida pela Lei n. 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC.
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Procedimento da execução fiscal
Vejamos algumas etapas do seu procedimento:

1) Petição inicial (art. 6º da LEF).

2) Despacho do juiz deferindo a inicial e determinando a citação do executado (art. 7º).

3) Citação do executado para, em 5 dias, pagar a dívida ou garantir a execução (art. 8º).

4) Depois de citado, o executado poderá:


a) pagar a dívida;
b) garantir a execução;
c) não pagar a dívida nem garantir a execução.

5) Se o devedor pagar, extingue-se a execução.

6) Se garantir a execução, poderá opor embargos à execução.

7) A garantia do juízo para que o executado ofereça os embargos poderá ser feita de três
modos:
a) o executado faz o depósito em dinheiro do valor cobrado;
b) o executado apresenta uma fiança bancária com relação ao valor cobrado;
c) é realizada a penhora de bens suficientes para pagar o valor executado.

É o que se pode extrair dos arts. 9º e 16 da LEF:


Art. 9º Em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos
indicados na Certidão de Dívida Ativa, o executado poderá:
I - efetuar depósito em dinheiro, à ordem do Juízo em estabelecimento oficial de crédito,
que assegure atualização monetária;
II - oferecer fiança bancária;
III - nomear bens à penhora, observada a ordem do artigo 11; ou
IV - indicar à penhora bens oferecidos por terceiros e aceitos pela Fazenda Pública.

Art. 16. O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados:


I - do depósito;
II - da juntada da prova da fiança bancária;
III - da intimação da penhora.

O seguro garantia judicial pode ser utilizado como caução em execução fiscal?
NÃO. O STJ entendeu que não há norma legal disciplinadora do seguro garantia judicial, não
estando essa modalidade de caução entre as previstas no art. 9º da Lei 6.830/1980. Logo, o
seguro garantia não pode ser utilizado como caução em execução fiscal.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.394.408-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/10/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
MP tem legitimidade para ACP contra hospital para que este não exija cheque-caução e para
que não cobre valores adicionais de usuários de planos de saúde

O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública cujos pedidos consistam
em impedir que determinados hospitais continuem a exigir caução para atendimento médico-
hospitalar emergencial e a cobrar, ou admitir que se cobre, dos pacientes conveniados a planos
de saúde, valor adicional por atendimentos realizados por seu corpo médico fora do horário
comercial.
Comentários O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública pedindo que
determinados hospitais deixem de exigir caução para atendimento médico-hospitalar
emergencial e de cobrar dos pacientes conveniados a planos de saúde valor adicional por
atendimentos realizados por seu corpo médico fora do horário comercial.

Os pedidos relacionam-se com a proteção de direitos do consumidor, uma das finalidades


primordiais do MP, conforme preveem os arts. 127 da CF e 21 da Lei 7.347/1985.

Além disso, tratando-se de interesse social compatível com a finalidade da instituição, o MP


tem legitimidade para mover ação civil pública em defesa dos interesses e direitos dos
consumidores difusos, coletivos e individuais homogêneos, conforme o disposto no art. 81
do CDC.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/9/2013.

DIREITO PENAL

O fato de a vítima não ter contribuído para o delito é circunstância judicial neutra e não implica
o aumento da pena

Se o comportamento da vítima em nada contribuiu para o delito, isso significa que essa
circunstância judicial é neutra, de forma que não pode ser utilizada para aumentar a pena
imposta ao réu.
Comentários Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP.
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes.
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.

Primeira fase (circunstâncias judiciais)


Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos
do crime, f) circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da
vítima.

Comportamento da vítima:
Segundo Mirabete, “estudos de Vitimologia demonstram que as vítimas podem ser
‘colaboradoras’ do ato criminoso, chegando-se a falar em ‘vítimas natas’ (personalidades
insuportáveis, criadoras de casos, extremamente antipáticas, pessoas sarcásticas, irritantes
[....])” (MIRABETE, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal. Parte Geral.
17

24ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 301).


Página

INFORMATIVO esquematizado
Ao fazer a dosimetria de um homicídio consumado, o juiz afirmou, na sentença, que o
comportamento da vítima em nada contribuiu para que ela viesse a ser morta. Logo, o
magistrado disse que isso deveria ser considerado como um fator negativo para o réu,
aumentando, assim, sua pena-base.

Agiu corretamente o juiz?


NÃO. Se o comportamento da vítima em nada contribuiu para o delito, isso significa que
essa circunstância judicial é neutra, de forma que não pode ser utilizada para aumentar a
pena imposta ao réu.
Conclui-se, portanto, que essa circunstância judicial “comportamento da vítima” nunca
poderá ser utilizada contra o réu. Haverá duas hipóteses possíveis:
Se a vítima, de algum modo contribuiu para o crime (ex: provocou o homicida): isso será
sopesado em favor do réu para reduzir sua pena base ou mantê-la no mínimo;
Se a vítima em nada contribuiu para o crime: essa circunstância será considerada como
neutra, não podendo ser utilizada para aumentar a pena do condenado.

Veja precedente recente do STJ:


(...)As instâncias ordinárias ao elevarem a pena-base além do mínimo legal por
considerarem que a vítima ao não contribuir para o ocorrência do delito era uma
circunstância prejudicial ao réu, divergiram da orientação já pacificada nesta Corte de que o
comportamento dela é uma circunstância neutra ou favorável quando da fixação da
primeira fase da dosimetria da condenação. (...)
(STJ. 5ª Turma. HC 278.045/AL, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 07/11/2013)

Processo STJ. 6ª Turma. HC 217.819-BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/11/2013.

Termo inicial da prescrição executória: data do trânsito em julgado da sentença para a acusação

O termo inicial da prescrição da pretensão executória é a data do trânsito em julgado da


sentença condenatória para a acusação, ainda que a defesa tenha recorrido e que se esteja
aguardando o julgamento desse recurso.
O art. 112, I, do CP foi recepcionado pela CF/88 e deve continuar sendo aplicado.
Comentários Conceito de prescrição:
Prescrição é a perda do direito do Estado de punir (pretensão punitiva) ou de executar uma
punição já imposta (pretensão executória) em razão de não ter agido (inércia) nos prazos
previstos em lei.

Existem duas espécies de prescrição:


I – Prescrição da pretensão punitiva, que pode ser:
I.a) Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita;
I.b) Prescrição superveniente ou intercorrente;
I.c) Prescrição retroativa

II – Prescrição da pretensão executória

Prescrição da pretensão executória (prescrição da condenação):


18

Ocorre quando o Estado perde o seu poder-dever de executar uma sanção penal já
Página

definitivamente imposta pelo Poder Judiciário em razão de não ter agido nos prazos
previstos em lei.

INFORMATIVO esquematizado
Cálculo da prescrição executória no caso de pena privativa de liberdade:
A prescrição da pretensão executória da pena privativa de liberdade é calculada com base
na pena concreta, fixada na sentença ou no acórdão, que já transitou em julgado e,
portanto, não pode mais ser alterada.

Termo inicial
Como vimos, o Estado tem um prazo máximo para fazer com que o réu condenado inicie o
cumprimento da pena. Caso não faça isso, ocorre a prescrição executória.
A pergunta é: a partir de que dia começa a correr esse prazo que o Estado tem para fazer
com que o condenado inicie o cumprimento da pena? Dito de outra forma: qual é o termo
inicial do prazo da prescrição da pretensão executória?
A resposta encontra-se no art. 112, I, do CP:
Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível
Art. 112. No caso do art. 110 deste Código (que trata da prescrição executória), a prescrição
começa a correr:
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que
revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;

Desse modo, segundo o art. 112, I, do CP, o termo inicial da prescrição executória é a data
do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação.

E se o MP não recorre, mas a defesa apresenta recurso?


Nesse caso, a sentença condenatória transitou em julgado para a acusação. Logo, segundo a
redação do art. 112, I, do CP, inicia-se a contagem do prazo de prescrição executória mesmo
ainda estando pendente a apreciação do recurso interposto pela defesa.

Veja o seguinte exemplo hipotético:


João foi condenado a 4 anos pela prática de roubo.
O Promotor de Justiça concorda com o veredito do juiz e não recorre, razão pela qual a
sentença condenatória transita em julgado para a acusação no dia 10/01/2006.
O advogado do réu apresenta recurso de apelação, de forma que, para a defesa, não houve
trânsito em julgado.

Qual é o prazo de prescrição executória se o réu for condenado a 4 anos?


A prescrição ocorrerá em 8 anos (art. 109, IV, do CP). Em outras palavras, se o réu for
condenado a 4 anos, o Estado tem o poder-dever de fazer com que esse condenado inicie o
cumprimento da pena em até 8 anos. Se passar desse prazo, o Estado perde o poder de
executar a sanção e o condenado não mais terá que cumprir a pena imposta.

Em nosso exemplo, quando se iniciou a contagem do prazo de prescrição executória


(levando-se em consideração a regra do art. 112, I, do CP)?
No dia 10/01/2006, data em que a sentença transitou em julgado para a acusação. Isso
significa que o Estado tinha um prazo de 8 anos para fazer com que o réu iniciasse o
cumprimento da pena.
Se o réu não começou a cumprir a pena até 10/01/2014, aconteceu a prescrição.
Essa é a regra que está presente no art. 112, I, do CP.
19

Crítica à regra do art. 112, I, do CP


A CF/88 prevê que ninguém poderá ser considerado culpado até que haja o trânsito em
Página

jugado da sentença penal condenatória (art. 5º, LVII). Por força desse princípio, não existe,

INFORMATIVO esquematizado
no Brasil, a execução provisória (antecipada) da pena. Assim, enquanto não tiver havido
trânsito em julgado para a acusação e para a defesa, o réu não poderá ser obrigado a iniciar
o cumprimento da pena. Se ainda estiver pendente de julgamento qualquer recurso da
defesa, o condenado não iniciará o cumprimento da pena porque ainda é presumivelmente
inocente (SF. Pleno. HC 84078, julgado em 05/02/2009).

Desse modo, perceba a seguinte situação que o art. 112, I, pode ocasionar:
se o réu for condenado, a defesa recorrer e o MP não, esse condenado não poderá
iniciar o cumprimento da pena enquanto estiver pendente o recurso;
apesar disso, já começa a correr o prazo da prescrição executória.

Diante desse paradoxo que pode ser ocasionado pela regra do art. 112, I, do CP, alguns
doutrinadores e membros do Ministério Público idealizaram a seguinte tese:
O início do prazo da prescrição executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito
em julgado para ambas as partes, ou seja, tanto para a acusação como para a defesa.
Não se pode dizer que o prazo prescricional começa com o trânsito em julgado apenas para
a acusação, uma vez que, se a defesa recorreu, o Estado não pode dar início à execução da
pena, já que ainda não haveria uma condenação definitiva.
Se há recurso da defesa, o Estado não inicia o cumprimento da pena não por desinteresse
dele, mas sim porque há uma vedação de ordem constitucional decorrente do princípio da
presunção de inocência. Ora, se não há desídia do Estado, não se pode falar em prescrição.

Veja o que escreveu o Min. Jorge Mussi sobre o tema:


“O termo inicial do prazo prescricional da pretensão executória, por sua vez, deve ser
considerado a data em que ocorre o trânsito em julgado para ambas as partes, porquanto
somente neste momento é que surge o título penal passível de ser executado pelo Estado,
em respeito ao princípio contido no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, sendo
forçosa a adequação hermenêutica do disposto no artigo 112, inciso I, do Código Penal, cuja
redação foi dada pela Lei n. 7.209/84, ou seja, é anterior ao atual ordenamento
constitucional.” (STJ HC 137.924/SP).

Essa tese que desconsidera a regra do art. 112, I, do CP é aceita pela jurisprudência?
NÃO. Houve alguns julgados antigos do STJ acatando essa tese, porém atualmente ela não é
mais aceita.
Assim, para o STJ, conforme determina o art. 112, I, do CP, o termo inicial da prescrição da
pretensão executória é a data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a
acusação, ainda que a defesa tenha recorrido e que se esteja aguardando o julgamento
desse recurso.

Principais argumentos da jurisprudência para rechaçar a tese:


O argumento de que se deveria aguardar o trânsito em julgado para ambas as partes
não tem previsão legal e contraria o texto do Código Penal.
Além disso, não se pode querer “corrigir” a redação do art. 112, I, do CP invocando-se o
art. 5º, LVII, da CF/88, porque nesse caso se estaria utilizando um dispositivo da
Constituição Federal para respaldar uma “interpretação” totalmente desfavorável ao
réu e contra expressa disposição legal.
Exigir o trânsito em julgado para ambas as partes como termo inicial da contagem do
lapso da prescrição da pretensão executória, ao contrário do texto expresso da lei, seria
20

inaugurar novo marco interruptivo da prescrição não previsto no rol taxativo do art. 117
do CP, situação que também afrontaria o princípio da reserva legal.
Página

Assim, somente com a devida alteração legislativa é que seria possível modificar o

INFORMATIVO esquematizado
termo inicial da prescrição da pretensão executória, e não por meio de "adequação
hermenêutica".
Vale ressaltar que o art. 112, I, do CP é compatível com a norma constitucional, não
sendo o caso, portanto, de sua não recepção.

STJ. 5ª Turma. HC 254.080-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/10/2013.
STF. 1ª Turma. HC 110133, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 03/04/2012.

Processo STJ. 5ª Turma. HC 254.080-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/10/2013.

Somente poderá ocorrer prescrição executória se tiver havido o trânsito em julgado da


condenação para ambas as partes

Em regra, o trânsito em julgado ocorre após a última decisão proferida no processo, mesmo
que ela tenha apenas confirmado que o recurso anterior era inadmissível.
A possibilidade de ocorrência da prescrição da pretensão executória surge somente com o
trânsito em julgado da condenação para ambas as partes.
Deve ser reconhecida a extinção da punibilidade com fundamento na prescrição da pretensão
punitiva, e não com base na prescrição da pretensão executória, na hipótese em que os prazos
correspondentes a ambas as espécies de prescrição tiverem decorrido quando ainda pendente
de julgamento agravo interposto tempestivamente em face de decisão que tenha negado, na
origem, seguimento a recurso especial ou extraordinário.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Em 12/02/2008, Fábio foi condenado pela prática do delito do art. 28 da Lei n.
11.343/2006, recebendo como pena a obrigação de prestar 70h de serviços à comunidade.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Considerando que o art. 28 da Lei de Drogas não prevê penas privativas de liberdade, qual é
o prazo de prescrição que deve ser aplicado para esse delito?
2 anos, nos termos do art. 30 da Lei n. 11.343/2006:
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no
tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

Voltando ao nosso exemplo:


Fábio foi condenado pelo art. 28 da LD.
O MP não recorreu, tendo havido o trânsito em julgado para a acusação.
A defesa interpôs apelação, que foi conhecida, mas improvida.
Em seguida, a defesa interpôs recurso extraordinário.
O TJ, ao fazer o juízo de admissibilidade, negou seguimento ao RE no dia 28/01/2009
(vale ressaltar que o RE era tempestivo, tendo sido negado por outro motivo).
Contra a decisão, o advogado manejou agravo de instrumento que é proposto
21

diretamente no STF.
O agravo de instrumento foi improvido, de modo que o STF confirmou a decisão do TJ,
Página

decidindo que, realmente, o RE não deveria ser conhecido. Essa decisão do STF foi
publicada no 31/05/2010.
INFORMATIVO esquematizado
Pergunta: qual é o dia do trânsito em julgado quando a última decisão do processo não
conheceu do recurso (recurso inadmissível)? O termo inicial será a data em que transitou em
julgado a decisão do STF ou este trânsito em julgado deverá retroagir ao dia em que
esgotou o prazo para o recurso contra o acórdão do TJ?
O STJ decidiu que o trânsito em julgado somente ocorreu após a decisão do STF.
Para o Min. Relator Marco Aurélio Bellizze, em regra, o trânsito em julgado somente ocorre
após a última decisão proferida no processo, ainda que esta tenha se restringido a não
admitir determinado recurso.
Existe uma única exceção a essa regra: no caso de o recurso não ter sido conhecido por
intempestividade. Se tivesse sido esse o motivo, mesmo a parte tendo apresentado agravo
de instrumento, já deveria ser considerado o trânsito em julgado.

Resumo:
O STJ afirmou que, em regra, o trânsito em julgado ocorre após a última decisão
proferida no processo, mesmo que ela tenha apenas confirmado que o recurso anterior
era inadmissível. No exemplo, o trânsito em julgado ocorreu em 31/05/2010.
Se o motivo pelo qual o TJ negou seguimento ao RE tivesse sido intempestividade, o
trânsito em julgado seria o da data em que acabou o prazo para o recurso. Logo, de
nada adiantaria o agravo de instrumento interposto em seguida pela parte.

Veja o trecho da ementa do julgado:


(...) 2. Não há dúvidas que o recurso manejado intempestivamente não tem o condão de
impedir o implemento do trânsito em julgado, o qual pode ser de pronto identificado, haja
vista se tratar de evento objetivamente aferível, sem necessidade de adentrar o próprio
mérito do recurso. Com efeito, ainda que submetido ao duplo juízo de admissibilidade,
inevitável o reconhecimento da intempestividade.
3. Caso não se cuide de prazo recursal, não é possível dar o mesmo tratamento ao juízo
negativo de admissibilidade dos recursos excepcionais, quando negado o seguimento por
outros motivos, pois se trata de juízo eminentemente subjetivo. Dessarte, ante a
instabilidade da decisão proferida, a qual efetivamente tem chances de ser revertida em
segundo juízo de admissibilidade, não há se falar em coisa julgada, mesmo considerada de
forma retroativa.
Imperativo registrar, ademais, que o juízo prévio de admissibilidade realizado pelas
instâncias ordinárias não vincula nem restringe a aferição dos pressupostos recursais a ser
realizado pelos Tribunais Superiores. Portanto, mostra-se temerário considerar que o
controle inicial, realizado pela instância recorrida, prevalece para fins de trânsito em julgado
sobre o exame proferido pela própria Corte competente.
4. Ademais, não sendo possível agregar ao primeiro juízo de admissibilidade o atributo da
imutabilidade, haja vista a interposição de recurso legalmente previsto no ordenamento
jurídico, de pronto se verifica a não ocorrência do trânsito em julgado. Com efeito, se a
principal característica da coisa julgada é a irreversibilidade da decisão, a ausência dessa
característica torna, a meu ver, evidente sua não ocorrência.
(...)
6. Outrossim, diante da impossibilidade de se iniciar o cumprimento da pena antes do
trânsito em julgado, em observância ao princípio da não culpabilidade, não há dúvidas que
a coisa julgada no processo penal se forma apenas após o exaurimento do prazo do último
recurso cabível, e não de forma retroativa, com a confirmação da não admissibilidade do
22

recurso excepcional. (...)


(REsp 1255240/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 19/09/2013)
Página

INFORMATIVO esquematizado
Voltando ao caso concreto:
A sentença condenatória foi publicada em 12/02/2008, tendo havido trânsito em julgado
para o MP.
No dia em que ocorreu o trânsito em julgado para a acusação, iniciou-se o prazo da
prescrição executória (art. 112, I, do CP).
O trânsito em julgado para a defesa somente ocorreu em 31/05/2010.
O prazo prescricional era de 2 anos (art. 30 da LD).

Houve prescrição?
SIM. A prescrição se implementou em 12/02/2010.

Qual foi o tipo de prescrição que ocorreu?


Prescrição da pretensão punitiva intercorrente.

Por que não é caso de prescrição executória?


A prescrição executória ocorre quando o Estado perde o seu poder-dever de executar uma
sanção penal já definitivamente imposta pelo Poder Judiciário em razão de não ter agido
nos prazos previstos em lei.
A prescrição executória somente se verifica se já havia trânsito em julgado para ambas as
partes (defesa e acusação).
No caso concreto, a prescrição ocorreu no dia 12/02/2010, momento em que ainda estava
pendente o recurso interposto pela defesa.
Logo, se não havia trânsito em julgado para acusação e defesa, não há que se falar em
prescrição executória (e sim em prescrição da pretensão punitiva).

Mas o art. 112, I, do CP afirma que, para se iniciar a contagem do prazo de prescrição
executória basta o trânsito em julgado para a acusação...
A regra do art. 112, I, do CP é contraditória em relação ao conceito de prescrição
executória.
O prazo da prescrição executória inicia-se com o trânsito em julgado para a acusação (art.
112, I, do CP), mas a efetiva prescrição executória só irá acontecer se quando esgotar o
prazo já tiver ocorrido o trânsito em julgado para ambas as partes.

Vou tentar ilustrar melhor com um exemplo:


Elias foi condenado pelo art. 28 da LD no dia 20/02/2010. MP não recorre e defesa
apresenta apelação. Isso significa que houve trânsito em julgado para a acusação e,
consequentemente, iniciou-se, em 20/02/2010, o prazo de prescrição executória, nos
termos do art. 112, I, do CP.

Hipótese 1:
A apelação é julgada em 25/02/2012 mantendo a sentença e a defesa não recorre.
Nesse caso, deve ser reconhecido que, em 20/02/2012, houve prescrição da pretensão
punitiva.
Não se trata de prescrição executória porque quando se implementou o prazo prescricional
(em 20/02/2012), ainda não havia ocorrido o trânsito em julgado para ambas as partes
(acusação e defesa).

Hipótese 2:
23

A apelação é julgada em 02/02/2012 mantendo a sentença e a defesa não recorre.


O TJ devolve os autos à 1ª instância para que o juiz designe audiência admonitória na qual o
Página

réu será instado a dar cumprimento da pena.


A audiência é designada para 02/03/2012.
INFORMATIVO esquematizado
O advogado do réu comparece à audiência e afirma que o réu não precisa cumprir a pena
imposta, considerando que houve prescrição.
Nesse caso, o magistrado deverá concordar com a defesa e reconhecer que, no dia
20/02/2012, houve prescrição executória.
Quando se implementou o prazo prescricional (em 20/02/2012), já havia ocorrido o trânsito
em julgado para ambas as partes (acusação e defesa).

Essa distinção entre a prescrição da pretensão punitiva e da prescrição executória é


meramente teórica ou possui relevância prática?
Há sim interesse prático na presente distinção por conta dos efeitos que cada uma dessas
espécies de prescrição acarreta. Vejamos:

Prescrição da pretensão punitiva Prescrição executória


Extingue todos os efeitos de eventual Extingue apenas a pena (efeito principal da
sentença condenatória já proferida. condenação).
Apaga a pena (efeito principal da Os efeitos secundários da condenação
condenação) e também os efeitos continuam valendo.
secundários (penais e extrapenais).
Não gera reincidência. Tem força para gerar reincidência.
Não serve como título executivo no juízo Serve como título executivo no juízo cível.
cível.
Em resumo, se for reconhecida a prescrição Com exceção da pena, persistem todas as
da pretensão punitiva, o réu não terá demais consequências negativas inerentes
qualquer consequência negativa. a uma condenação.

Desse modo, pode-se ver que é muito mais vantajoso ao réu a prescrição da pretensão
punitiva.
Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.255.240-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013.

A subtração de objeto localizado no interior de veículo automotor mediante o rompimento do


vidro qualifica o furto (art. 155, § 4º, I, do CP)

A conduta de violar o automóvel, mediante a destruição do vidro para que seja subtraído bem
que se encontre em seu interior - no caso, um aparelho de som automotivo - configura o tipo
ATENÇÃO penal de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo à subtração da coisa, previsto no art.
155, § 4º, inciso I, do CP.
Comentários O art. 155 do Código Penal prevê o crime de furto:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

No § 4º do art. 155, são previstas algumas espécies de furto qualificado.


Uma dessas hipóteses ocorre quando o agente pratica o furto mediante rompimento de
obstáculo.
Art. 155 (...)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
24

Imagine agora a seguinte situação:


Página

Maikon quebrou o vidro do carro com o objetivo de abrir o automóvel e de lá subtrair o


aparelho de som.

INFORMATIVO esquematizado
O Ministério Público ofereceu denúncia por furto qualificado (art. 155, § 4º, I, do CP).
Nas alegações finais, o Defensor Público afirmou que, segundo o entendimento da
jurisprudência, se o agente tivesse quebrado o vidro e levado o próprio veículo (em vez de
ter subtraído o som), ele iria responder apenas por furto simples (art. 155, do CP). Logo, não
se mostra razoável reconhecer como qualificadora o rompimento de obstáculo para furto
de objetos existentes no interior do veículo, e considerar como furto simples a subtração do
próprio veículo automotor, sob pena de violação dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. Ante o exposto, pediu a desclassificação da conduta para furto simples.

A tese da Defensoria Pública é aceita pelo STF e STJ?


NÃO.

Para o STJ e STF, a conduta de violar o automóvel, mediante a destruição do vidro para que
seja subtraído bem que se encontre em seu interior - no caso, um aparelho de som
automotivo - configura o tipo penal de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo à
subtração da coisa, previsto no art. 155, § 4º, inciso I, do CP.

(...) 1. A subtração de objetos localizados no interior de veículo automotor, mediante o


rompimento ou destruição do vidro do automóvel, qualifica o furto. Precedentes do
Supremo Tribunal Federal.
2. De rigor a incidência da qualificadora do inciso I do § 4º do art. 155 do CP quando o
agente, visando subtrair aparelho sonoro localizado no interior do veículo, quebra o vidro
da janela do automóvel para atingir o seu intento, primeiro porque este obstáculo
dificultava a ação do autor, segundo porque o vidro não é parte integrante da res furtiva
visada, no caso, o som automotivo. (...)
(EREsp 1079847/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 22/05/2013)

EMENTA Habeas corpus. Penal. Arrombamento de veículo automotor para furtar objeto.
Incidência da qualificadora do inciso I do § 4º do art. 155 do Código Penal. Precedentes.
Ordem denegada. 1. A jurisprudência da Corte está consolidada no sentido de que
“configura o furto qualificado a violência contra coisa, considerado veículo, visando
adentrar no recinto para retirada de bens que nele se encontravam” (HC nº 98.606/RS,
Primeira Turma, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJe de 28/5/10). 2. Ordem denegada.
(HC 110119, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 13/12/2011)

Processo STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.364.606-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 22/10/2013.

Houve abolitio criminis no tocante à causa de aumento de pena previsto no art. 18, III, primeira
parte, da Lei 6.368/76 (antiga Lei de Tóxicos)
Com o advento da Lei n.º 11.343/2006, que revogou expressamente a Lei n.º 6.368/1976, não
foi mantida a previsão de majorante pelo concurso eventual para a prática dos delitos da Lei de
Tóxicos, devendo ser reconhecida a abolitio criminis no tocante ao inciso III do art. 18 da
vetusta Lei nº 6.368/76.
Comentários Lei n. 11.343/2006
Atualmente, os crimes envolvendo drogas encontram-se previstos na Lei n. 11.343/2006,
que entrou em vigor no dia 08/10/2006.
25

Lei n. 6.368/76
Página

Antes da lei atual, os delitos relacionados com entorpecentes estavam tipificados na Lei n.
6.368/76.

INFORMATIVO esquematizado
A Lei n. 11.343/2006, em seu art. 75, revogou expressamente a Lei n. 6.368/76.

Art. 18, III, primeira parte, da Lei n. 6.368/76


O art. 18, III, primeira parte, da Lei n. 6.368/76 previa a seguinte causa de aumento:
Art. 18. As penas dos crimes definidos nesta Lei serão aumentadas de 1/3 (um terço) a 2/3
(dois terços):
III – se qualquer deles decorrer de associação (...)

Na vigência da Lei n. 6.368/76, tínhamos duas opções quanto ao concurso de pessoas:


Se duas ou mais pessoas se associassem, de forma estável e permanente, e praticassem
tráfico de entorpecentes: incidiam nos crimes dos arts. 12 e 14 da Lei n. 6.368/76;
Se duas ou mais pessoas se associassem, de forma eventual, e praticassem tráfico de
entorpecentes: incidiam no crime do art. 12 com a causa de aumento do art. 18, III, da
Lei n. 6.368/76.

E agora, com a Lei n. 11.343/2006?


Se duas ou mais pessoas se associarem, de forma estável e permanente, e praticarem
tráfico de entorpecentes: incidem nos crimes dos arts. 33 e 35 da Lei n. 11.343/2006;
Se duas ou mais pessoas se associarem, de forma eventual, e praticarem tráfico de
entorpecentes: incidem no crime dos art. 33 da Lei n. 11.343/2006, sem a causa de
aumento pelo concurso eventual.

Assim, a causa de aumento que era trazida pelo art. 18, III, primeira parte, da Lei n.
6.368/76 não foi repetida pela Lei n. 11.343/2006. O mero concurso eventual não é mais
punido pela atual Lei de Drogas.

Houve, portanto, abolitio criminis no tocante à causa de aumento de pena prevista no art.
18, III, primeira parte, da Lei n. 6.368/76.

Confira alguns precedentes:


(...) Com o advento da Lei n.º 11.343/2006, que revogou expressamente a Lei n.º
6.368/1976, não foi mantida a previsão de majorante pelo concurso eventual para a prática
dos delitos da Lei de Tóxicos, devendo ser reconhecida a abolitio criminis no tocante ao
inciso III do artigo 18 da vetusta Lei nº 6.368/76 (...)
(HC 220.589/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 13/12/2011).

(...) Verificada a abolitio criminis apenas com relação à majorante pelo concurso eventual
para a prática dos delitos da Lei de Tóxicos, pois a causa de aumento de pena prevista no
art. 18, inciso III, segunda parte, da Lei n. 6.368/76, não foi revogada pela Lei n.
11.343/06. (...) (EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg no Ag 1221240/DF, Rel. Min. Regina Helena
Costa, Quinta Turma, julgado em 08/10/2013).

Processo STJ. 6ª Turma. HC 202.760-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/11/2013.
26
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INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência para julgar o delito do art. 241-A do ECA

Não tendo sido identificado o responsável e o local em que ocorrido o ato de publicação de
imagens pedófilo-pornográficas em site de relacionamento de abrangência internacional,
competirá ao juízo federal que primeiro tomar conhecimento do fato apurar o suposto crime
de publicação de pornografia envolvendo criança ou adolescente (art. 241-A do ECA).
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
A Polícia Federal descobriu que determinado usuário do Orkut® estava postando imagens
pornográficas envolvendo crianças e adolescentes, conduta que configura crime previsto no
art. 241-A do ECA:
ECA/Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar
por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

O inquérito e as medidas cautelares estavam tramitando na Justiça Federal de São Paulo


(SP).

Ocorre que o Juízo Federal de São Paulo (SP) decidiu declinar a competência para a Justiça
Federal de Palmas (TO), considerando que a maioria dos acessos partiu daquela cidade,
conforme demonstrou o laudo da Polícia Federal. Invocou o art. 70 do CPP.

Por sua vez, o Juízo Federal de Palmas/TO suscitou conflito negativo de competência,
afirmando que a localização do réu era incerta e que a competência seria do lugar que
primeiro tomou conhecimento dos fatos, no caso, o juízo de SP. Afirmou, ainda, que a
competência para o crime era da Justiça Federal.

Vejamos algumas perguntas sobre esse caso:

Por que a competência é da Justiça Federal ou Estadual?


São duas as razões:
O art. 241-A do ECA é um crime previsto em tratado ou convenção internacional
(Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90);
A publicação do vídeo ou das imagens ocorreu no Brasil, no entanto, poderão ser
visualizados em qualquer computador do mundo. Verifica-se, portanto, a
transnacionalidade do delito.

Trata-se de entendimento consolidado no STJ:


(...) 3. No presente caso, há hipótese de atração da competência da Justiça Federal, uma vez
que o fato de haver um usuário do Orkut, supostamente praticando delitos de divulgação
de imagens pornográficas de crianças e adolescentes, configura uma das situações previstas
pelo art. 109 da Constituição Federal.
4. Além do mais, é importante ressaltar que a divulgação de imagens pornográficas,
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envolvendo crianças e adolescentes por meio do Orkut, provavelmente não se restringiu a


uma comunicação eletrônica entre pessoas residentes no Brasil, uma vez que qualquer
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pessoa, em qualquer lugar do mundo, desde que conectada à internet e pertencente ao


dito sítio de relacionamento, poderá acessar a página publicada com tais conteúdos

INFORMATIVO esquematizado
pedófilos-pornográficos, verificando-se, portanto, cumprido o requisito da
transnacionalidade exigido para atrair a competência da Justiça Federal. (...)
(CC 111.338/TO, Rel. Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 23/06/2010)

Quando se considera consumado o delito do art. 241-A do ECA?


Consuma-se no ato de publicação das imagens pedófilo-pornográficas, sendo indiferente a
localização do provedor de acesso à rede mundial de computadores onde tais imagens
encontram-se armazenadas ou a sua efetiva visualização pelos usuários.

Logo, em princípio, deveria ser aplicado o art. 70 do CPP para definir a competência
territorial.

Contudo, no caso concreto, havia uma dúvida quanto ao local do cometimento da infração,
pois não foi possível apurar de onde se partiu (local) a publicação das imagens e tampouco
o responsável pela divulgação das fotos contendo pornografia infantil, tendo em vista que o
perfil identificado foi acessado por usuários de múltiplas localidades do país.

Nesse contexto, pela regra contida no § 2º do art. 72 do CPP, firma-se a competência pela
prevenção, no caso, em favor do Juízo Federal de São Paulo (SP), onde as investigações
tiveram início:
Art. 72 (...) § 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será
competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato.

Processo STJ. 3ª Seção. CC 130.134-TO, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE), julgado em
9/10/2013.

Se não houver perito oficial, dois policiais com curso superior podem fazer a perícia

Verificada a falta de peritos oficiais na comarca, é válido o laudo pericial que reconheça a
qualificadora do furto referente ao rompimento de obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP)
elaborado por duas pessoas idôneas e portadoras de diploma de curso superior, ainda que
sejam policiais.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Francisco foi condenado a 2 anos de reclusão pela prática do art. 155, § 4º, I do CP (furto
mediante rompimento de obstáculo).
Vale ressaltar que, como não havia perito oficial na Comarca, o Delegado de Polícia nomeou
dois policiais para realizar a perícia no local e constatar o rompimento do obstáculo.
A Defensoria Pública recorreu para afastar a qualificadora, argumentando que a perícia
realizada no obstáculo não foi feita por perito oficial, conforme exige o art. 159, caput, do CP:
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

A tese defensiva foi aceita pelo STJ?


NÃO.

O procedimento adotado pelo Delegado está autorizado pelo § 1º do art. 159 do CPP:
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
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portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as


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que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

INFORMATIVO esquematizado
Além disso, não há nenhuma proibição de que as pessoas que façam a perícia sejam
policiais. O que é imprescindível é que possuam diploma de curso superior. Nesse sentido:
STJ. 5ª Turma. HC 245836/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/09/2013.
Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.416.392-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 19/11/2013.

Aplicação de sanção disciplinar na execução penal depende de processo administrativo prévio

Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução penal, é


imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor
público nomeado.
Comentários Normas disciplinares
O preso, seja ele definitivo ou provisório, deverá obedecer as normas disciplinares da
unidade prisional onde estiver recolhido.
A LEP prevê, inclusive, que o preso, assim que entra no presídio, deverá ser avisado sobre as
normas disciplinares que ali vigoram (art. 46).

O que acontece quando o preso descumpre uma norma disciplinar?


Nesse caso, dizemos que ele praticou uma falta disciplinar (arts. 49 a 52) e, por isso, deverá
receber uma sanção disciplinar (art. 53).

Faltas disciplinares
As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves.
Faltas leves e médias são previstas na legislação local (não se exige uma lei em sentido
formal, podendo ser um ato infralegal, como um regimento interno).
Faltas graves são previstas na própria LEP (arts. 50 a 52).

Sanções disciplinares
As sanções disciplinares estão previstas taxativamente no art. 53 da LEP. Não se admitem
outras punições que não estejam ali elencadas. Veja:
Art. 53. Constituem sanções disciplinares:
I - advertência verbal;
II - repreensão;
III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);
IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam
alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.
V - inclusão no regime disciplinar diferenciado.

Quem aplica as sanções disciplinares?


Em regra, é o diretor do estabelecimento prisional (por ato motivado).
Exceção: a inclusão no RDD (inciso V) somente poderá ser imposta por prévio e
fundamentado despacho do juiz das execuções penais.

Vale ressaltar, ainda, que, em caso de cometimento de falta de natureza grave,


determinadas consequências e sanções disciplinares são de competência do juiz da
execução penal. Exemplos: imposição da regressão de regime (art. 118, I), revogação de
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saída temporária (art. 125), perda dos dias remidos (art. 127) e a conversão de pena
restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 181, § 1º, d, e § 2º).
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INFORMATIVO esquematizado
Para que seja reconhecida a existência de falta disciplinar e aplicada a sanção respectiva, é
necessária a realização de processo administrativo?
SIM. Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado
constituído ou defensor público nomeado.

A própria LEP prevê a existência desse procedimento:


Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua
apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.
Parágrafo único. A decisão será motivada.

Quem conduz esse procedimento?


Em regra, o “processo” de apuração da falta disciplinar (investigação e subsunção), assim
como a aplicação da respectiva punição, é realizado dentro da unidade penitenciária, cuja
responsabilidade é do seu diretor.
Somente se for reconhecida, pelo diretor do estabelecimento prisional, a prática de falta
disciplinar de natureza grave, é que será comunicado ao juiz da execução penal para que
aplique determinadas sanções, que o legislador, excepcionando a regra, entendeu por bem
conferir caráter jurisdicional.

Nesse procedimento administrativo, o preso investigado terá que ser assistido por advogado
ou Defensor Público?
SIM. O direito de defesa do preso abrange não só a autodefesa, mas também a defesa
técnica, a ser realizada por profissional devidamente inscrito nos quadros da OAB ou
Defensor Público.
Vale ressaltar que não se aplica à execução penal a Súmula Vinculante 5 do STF, a qual
dispõe que “a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a Constituição”. Tal enunciado somente se aplica em caso de processos
administrativos de natureza cível.
Assim, no processo administrativo para apuração de sanção disciplinar, o preso deverá,
obrigatoriamente, ser assistido por advogado ou Defensor Público. Nesse sentido tem
decidido o STF:
Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Execução criminal. Prática de falta grave pelo
apenado. 3. Paciente que não foi acompanhado por defensor durante a realização dos atos
referentes ao processo administrativo-disciplinar. 4. Nulidade. Inobservância dos princípios
do contraditório e da ampla defesa. 5. Recurso conhecido e provido.
(RHC 104584, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 24/05/2011)

Processo STJ. 3ª Seção. REsp 1.378.557-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/10/2013 (recurso repetitivo).

O rol de faltas graves é taxativo e a mudança de endereço do liberado condicional sem informar
o juízo não está lá prevista como falta grave

A mudança de endereço sem autorização judicial durante o curso do livramento condicional,


em descumprimento a uma das condições impostas na decisão que concedeu o benefício, não
configura, por si só, falta disciplinar de natureza grave.
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Comentários Rol taxativo de faltas graves


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A Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) prevê um rol taxativo de situações que
configuram falta grave do condenado que esteja cumprindo pena privativa de liberdade:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei;
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.

Condições do livramento condicional


Quando o juiz das execuções penais concede o benefício do livramento condicional, ele
deverá especificar algumas condições que o condenado deverá cumprir.
No § 1º do art. 132 da LEP estão previstas as condições obrigatórias:
§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste.

No § 2º, por sua vez, são listadas condições facultativas, ou seja, que podem ou não ser
impostas a critério do magistrado:
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as
seguintes:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da
observação cautelar e de proteção;
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não freqüentar determinados lugares.

Imagine que o juiz imponha ao liberado condicional a obrigação de que ele comunique à
Justiça todas as vezes em que mudar de endereço. A despeito de ter sido informado sobre
essa obrigação, o liberado se muda e não informa ao juízo. Nesse caso, pode-se dizer que ele
praticou uma falta grave?
NÃO.

A mudança de endereço sem autorização judicial durante o curso do livramento


condicional, em descumprimento a uma das condições impostas na decisão que concedeu o
benefício, não configura, por si só, falta disciplinar de natureza grave. Isso porque essa
conduta não está prevista no art. 50 da LEP.

A mudança de endereço durante o curso do livramento condicional somente será


considerada falta grave se ficar evidenciado que o liberado fugiu, uma vez que, nesse caso,
a situação poderá ser enquadrada no inciso II do art. 50 da LEP:
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
(...)
II - fugir;
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Processo STJ. 6ª Turma. HC 203.015-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/11/2013.
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DIREITO TRIBUTÁRIO

Contribuinte que oferece garantia de sua obrigação tributária, antes mesmo da execução fiscal
iniciar, tem direito à certidão positiva com efeitos de negativa

O contribuinte pode, após o vencimento de sua obrigação e antes da execução fiscal, garantir o
juízo de forma antecipada mediante o oferecimento de fiança bancária, a fim de obter certidão
positiva com efeitos de negativa.
Comentários O contribuinte pode, após o vencimento de sua obrigação e antes da execução fiscal,
garantir o juízo de forma antecipada mediante o oferecimento de fiança bancária, a fim de
obter certidão positiva com efeitos de negativa.
De fato, a prestação de caução mediante o oferecimento de fiança bancária, ainda que no
montante integral do valor devido, não se encontra encartada nas hipóteses elencadas no
art. 151 do CTN, não suspendendo a exigibilidade do crédito tributário.
Entretanto, tem o efeito de garantir o débito exequendo em equiparação ou antecipação à
penhora, permitindo-se, neste caso, a expedição de certidão positiva com efeitos de
negativa.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no Ag 1.185.481-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/10/2013.

Não tem efeito suspensivo o pedido administrativo para anulação do crédito tributário feito
após o encerramento do procedimento administrativo

O pedido administrativo realizado pelo contribuinte de cancelamento de débito inscrito em


dívida ativa não suspende a exigibilidade do crédito tributário, não impedindo o
prosseguimento da execução fiscal e a manutenção do nome do devedor no CADIN.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
A Receita Federal entendeu que Marcos realizou o fato gerador de um tributo federal e, por
isso, fez o lançamento tributário e o notificou para pagar o valor devido.
Como o contribuinte não pagou nem impugnou administrativamente o lançamento, esse
crédito tributário foi inscrito na dívida ativa.
Depois disso, Marcos apresentou, administrativamente, um pedido para cancelamento da
inscrição em dívida ativa.
Sem que esse pedido de Marcos fosse apreciado, a União, por intermédio da Procuradoria
da Fazenda Nacional, ajuizou execução fiscal contra ele.
O devedor, agora réu, formulou pedido ao juiz para que a execução fiscal fique suspensa
enquanto se aguarda a apreciação de seu requerimento administrativo de cancelamento da
inscrição em dívida ativa.
Marcos alegou que ele não poderia estar sendo executado porque o crédito tributário
estaria suspenso, nos termos do art. 151, III, do CTN:
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário
administrativo;

O pedido feito ao juiz pode ser deferido? A execução deverá ser suspensa?
NÃO. O pedido administrativo realizado pelo contribuinte de cancelamento de débito
inscrito em dívida ativa não suspende a exigibilidade do crédito tributário, não impedindo o
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prosseguimento da execução fiscal e a manutenção do nome do devedor no CADIN.

Segundo decidiu o STJ, a leitura do art. 151, III, do CTN revela que não basta o mero protocolo
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de reclamações ou recursos para a suspensão da exigibilidade do crédito tributário.

INFORMATIVO esquematizado
A manifestação de inconformidade ("reclamações" ou "recursos"), para ser dotada de efeito
suspensivo, deve estar expressamente disciplinada na legislação específica que rege o
processo tributário administrativo.

Nesse contexto, a manifestação administrativa (é irrelevante o nome que se atribua, isto é,


"defesa", "pedido de revisão de débito inscrito na dívida ativa" ou qualquer outro) não
constitui "recurso administrativo", dele diferindo em sua essência e nos efeitos jurídicos.

O recurso é o meio de impugnação à decisão administrativa que analisa a higidez da


constituição do crédito e, portanto, é apresentado no curso do processo administrativo,
antes de o débito ser inscrito em dívida ativa, possuindo, por força do art. 151, III, do CTN,
aptidão para suspender a exigibilidade da exação.

A manifestação apresentada após a inscrição em dívida ativa (como foi o caso), nada mais é
do que o exercício do direito de petição aos órgãos públicos. É um simples direito de pedir.

Após ter se encerrado o procedimento administrativo, com a confirmação do lançamento e


a inscrição em dívida ativa, caso o devedor apresente algum requerimento pedindo a
anulação dos atos anteriores, tal pedido não terá efeito suspensivo, considerando que
existe uma presunção relativa de que o procedimento foi encerrado de acordo com os
parâmetros legais. Se fôssemos atribuir efeito suspensivo a esse pedido, haveria uma
subversão do ordenamento jurídico, pois se estaria conferindo ao administrado o poder de
duplicar ou "ressuscitar", tantas vezes quantas lhe for possível e/ou conveniente, o
contencioso administrativo.

Cabe ressaltar, a propósito, que inexiste prejuízo ao contribuinte porque a argumentação


apresentada após o encerramento do contencioso administrativo, como se sabe, pode
plenamente ser apreciada na execução fiscal.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.389.892-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/8/2013.

O art. 11, I, da Lei 11.941/2009 não viola o princípio da isonomia ao prever que os bens
penhorados do devedor que adere ao parcelamento devem continuar constritos

São constitucionais os arts. 10 e 11, I, segunda parte, da Lei n. 11.941/2009, que não exigem a
apresentação de garantia ou arrolamento de bens para o parcelamento de débito tributário,
embora autorizem, nos casos de execução fiscal já ajuizada, a manutenção da penhora
efetivada.
Comentários A Lei n. 11.941/2009 trata sobre o parcelamento de débitos tributários no âmbito federal.
Assim, as pessoas que tinham débitos tributários com a União, suas autarquias e fundações,
poderiam solicitar o pagamento parcelado da dívida em até 180 meses, desde que
obedecidos os demais requisitos e condições legais (art. 1º).

Existia a possibilidade de parcelamento tanto para os débitos tributários que ainda não
haviam sido inscritos em dívida ativa como também para aqueles já inscritos. O
parcelamento também era permitido mesmo que o devedor já estivesse sofrendo execução
fiscal.
33

No art. 11, I, a Lei estabelecia as seguintes regras:


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1) Para aderir ao parcelamento, o devedor não precisava apresentar garantia ou fazer

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arrolamento de bens;
2) Entretanto, se já houvesse execução fiscal ajuizada e se já tivessem penhorados bens do
devedor, esses bens continuariam penhorados mesmo ele tendo ingressado no
parcelamento.

Em suma, para que o devedor aderisse ao parcelamento não se exigia a apresentação de


garantia ou arrolamento de bens. No entanto, nos casos de execução fiscal já ajuizada, a
penhora efetivada deveria ser mantida.

Ex1: a União ajuíza uma execução fiscal contra a empresa “A” cobrando 100 mil reais de
tributos federais. Ainda não foi penhorado nenhum bem da pessoa jurídica. A ré decide
aderir ao parcelamento da Lei n. 11.941/2009. Não será necessário que a empresa “A”
apresente garantia ou faça o arrolamento de bens para ingressar no parcelamento.

Ex2: a União ajuíza uma execução fiscal contra a empresa “B” cobrando 100 mil reais de
tributos federais. Foi realizada a penhora de um caminhão pertencente à pessoa jurídica. A
ré decide aderir ao parcelamento da Lei n. 11.941/2009. O caminhão continuará
penhorado até que haja o pagamento de todas as parcelas e a consequente extinção do
crédito tributário.

Essa regra, por óbvio, desagradou os devedores tributários que já tinham seus bens
penhorados e, então, os advogados idealizaram a seguinte tese: ora, se o legislador
dispensou que o devedor apresentasse garantias para aderir ao parcelamento, ele também
deveria ter permitido a liberação dos bens penhorados daqueles que ingressaram no
parcelamento e que já haviam sofrido tal constrição. Percebe-se, portanto, que o art. 11, I,
segunda parte, da Lei n. 11.941/2009 é inconstitucional, por violar o princípio da isonomia,
já que trata de forma desigual os devedores.

A referida tese foi aceita pelo STJ?


NÃO. A Corte Especial do STJ decidiu que são constitucionais os arts. 10 e 11, I, segunda
parte, da Lei n. 11.941/2009, que não exigem a apresentação de garantia ou arrolamento
de bens para o parcelamento de débito tributário, embora autorizem, nos casos de
execução fiscal já ajuizada, a manutenção da penhora efetivada.

Conforme explicou o Min. Relator, não há infringência ao princípio constitucional da


isonomia tributária (art. 150, II, CF/88), porque a Lei estabelece um tratamento diferente
para situações que são diversas.

O devedor que ainda não chegou a ser executado ou que ainda não teve bens penhorados e
que, mesmo assim, decide procurar o parcelamento, revela-se, em princípio, menos
recalcitrante ao adimplemento da dívida tributária do que o devedor que já chegou a ter
contra si processo de execução e penhora, devedor este que, certamente, tem débito mais
antigo.

Desse modo, a garantia, no caso do devedor que já tem penhora contra si, deve realmente
ser tratada com maior cautela, em prol da Fazenda Pública.
Processo STJ. Corte Especial. AI no REsp 1.266.318-RN, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão
Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/11/2013.
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Tempo exercido pelo segurado, antes da Lei 8.213/91, na atividade rural, com registro em
carteira profissional, pode ser reconhecido para efeito de carência

É possível a concessão de aposentadoria por tempo de serviço/contribuição mediante o


cômputo de atividade rural com registro em carteira profissional em período anterior ao
advento da Lei 8.213/1991 para efeito da carência exigida pela Lei de Benefícios.
Comentários O § 2º do art. 55 da Lei n. 8.213/91 estabelece o seguinte:
§ 2º O tempo de serviço do segurado trabalhador rural, anterior à data de início de vigência
desta Lei, será computado independentemente do recolhimento das contribuições a ele
correspondentes, exceto para efeito de carência, conforme dispuser o Regulamento.

Mesmo com a redação desse § 2º, o STJ decidiu que é possível reconhecer, para efeito de
carência, o tempo exercido pelo segurado, antes da Lei n. 8.213/91, na atividade rural, com
registro em carteira profissional. Isso porque, na época, o empregador rural, juntamente
com as demais fontes previstas na legislação de regência, eram os responsáveis pelo custeio
do fundo de assistência e previdência rural (FUNRURAL).

Assim, o empregador rural deveria ter recolhido as contribuições. Se não o fez, o


trabalhador rural não pode ser responsabilizado por isso.

Ademais, na atual legislação, o parágrafo único do art. 138 da Lei n. 8.213/1991


expressamente considera o tempo de contribuição devido aos regimes anteriores à sua
vigência:
Parágrafo único. Para os que vinham contribuindo regularmente para os regimes a que se
refere este artigo, será contado o tempo de contribuição para fins do Regime Geral de
Previdência Social, conforme disposto no Regulamento.

Por fim, o art. 63 da Lei n. 4.214/1963 (Estatuto do Trabalhador Rural) determinava que os
contratos de trabalhos, se constantes de anotações em carteira profissional, não poderiam
ser contestados.

Diante disso, o STJ entendeu que é possível a concessão de aposentadoria por tempo de
serviço/contribuição mediante o cômputo de atividade rural com registro em carteira
profissional em período anterior ao advento da Lei n. 8.213/1991 para efeito da carência
exigida pela Lei de Benefícios.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.352.791-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 27/11/2013 (recurso repetitivo).

JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR


RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO ADMINISTRATIVO. RESERVA DE COTA-PARTE DE PENSÃO POR MORTE DE SERVIDOR PÚBLICO.


Não é possível reservar cota-parte de pensão por morte a fim de resguardar eventual beneficiário que
ainda não tenha se habilitado. Isso porque, somente após a habilitação, mesmo que tardia, é que a
Administração deverá realizar novo rateio do benefício entre os beneficiários concorrentes. Precedente
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citado: REsp 1.002.419-CE, Quinta Turma, DJe 28/9/2009.


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AgRg no REsp 1.273.009-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/10/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO EMPRESARIAL. EXECUÇÃO DE AVALISTA DE NOTA PROMISSÓRIA DADA EM GARANTIA DE CRÉDITO
CEDIDO POR FACTORING.
Para executar, em virtude da obrigação avalizada, o avalista de notas promissórias dadas pelo faturizado
em garantia da existência do crédito cedido por contrato de factoring, o faturizador exequente não precisa
demonstrar a inexistência do crédito cedido. Com efeito, ainda que as notas promissórias tenham sido
emitidas para garantir a exigibilidade do crédito cedido, o avalista não integra a relação comercial que
ensejou esse crédito, nem é parte no contrato de fomento mercantil. Na condição de avalista, questões
atinentes à relação entre o devedor principal das notas promissórias e a sociedade de fomento mercantil
lhe são estranhas. Isso decorre da natureza pessoal dessas questões e da autonomia característica do aval.
Assim, na ação cambial somente é admissível defesa fundada em direito pessoal decorrente das relações
diretas entre devedor e credor cambiários, em defeito de forma do título ou na falta de requisito
necessário ao exercício da ação.
REsp 1.305.637-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/9/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ÔNUS SUCUMBENCIAIS NA HIPÓTESE DE HABILITAÇÃO DE LITISCONSORTE EM


AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
Em ação civil pública que busque a tutela de direitos individuais homogêneos, a mera habilitação de
interessado como litisconsorte do demandante não enseja, por si só, a condenação do demandado a pagar
ônus sucumbenciais antes do julgamento final. Isso porque o pedido de intervenção no feito como
litisconsorte nada mais é do que um incidente processual, haja vista que o interessado, aproveitando-se do
poder de disposição em aderir ou não ao processo coletivo (art. 94 do CDC), solicita seu ingresso no feito,
na qualidade de litisconsorte facultativo ulterior. Não se está dizendo que o demandado não poderá ser
condenado nos ônus sucumbenciais, mas apenas que a definição do responsável pelo pagamento, com
análise do princípio da causalidade, ficará para momento futuro, qual seja, a prolação da sentença na ação
civil pública. Ademais, os arts. 18 da Lei 7.347/1985 e 87 do CDC consagram norma processual especial, que
expressamente afastam a necessidade de adiantar custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer
outras despesas para o ajuizamento de ação coletiva, que, conforme o comando normativo, só terá de ser
recolhida ao final pelo requerido, se for sucumbente, ou pela autora, quando manifesta a sua má-fé.
REsp 1.116.897-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/9/2013.

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INFORMATIVO esquematizado

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