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Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) de Direito da 2ª Vara da Família e Sucessões da

Comarca de Piracicaba/SP.

Processo n. 0010372-47.2022.8.26.0451

GUILHERME HENRIQUE DO NASCIMENTO, já qualificado nos autos, vem,


respeitosamente à presença de Vossa Excelência, JUSTIFICAR A IMPOSSIBILIDADE DO
PAGAMENTO DA PENSÃO ALIMENTÍCIA, com fulcro no art. 528 e seguintes do Código
de Processo Civil c/c art. 5º, inciso LXVII da Constituição Federal de 1988, pelos fatos e
fundamentos que passa a expor:

DA TEMPESTIVIDADE

A citação do genitor foi realizada no dia 16 de dezembro de 2022,


conforme mandado juntado a fls. 31, sendo, portanto, tempestiva a presente justificativa,
considerando a interrupção dos prazos processuais entre 20 de dezembro de 2022 e 20 de
janeiro de 2023.

DA GRATUIDADE

O executado declara para todos os fins de direito e sob as penas da lei que
não possui condições de arcar com as custas e despesas processuais sem prejuízo do seu
próprio sustento e de sua família, requerendo, portanto, os benefícios da gratuidade da justiça,
nos termos do art. 5º LXXIV da CF/88 c/c a Lei n. 1.060/50.

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DOS FATOS

Trata-se de cumprimento de sentença oriundo dos autos n. 1005085-


23.2021.8.26.0451, no qual a exequente alega o descumprimento do acordo por parte do
executado no que tange ao pagamento dos débitos fixados à título de pensão alimentícia no
valor de R$ 1.112,62 (um mil cento e doze reais e sessenta e dois centavos).

Destarte, pugna pelo pagamento da quantia supra, requerendo a prisão do


executado caso não haja quitação dentro prazo legal.

Em que pese as alegações da exequente, o executado em nenhum momento


deixou de realizar os pagamentos relativos ao acordo firmado, tanto que na própria petição da
exequente é mencionado que “não vem honrando com a quantia acordada [...] a quantia é
referente aos últimos meses”. (fls. 02).

Ainda assim, até o presente momento a exequente não apresentou a


memória dos cálculos referente ao débito que alega estar em atraso, nem sequer mencionou
quais são os meses em que o executado não realizou o pagamento.

Inclusive na manifestação do Ministério Público a fls. 19, foi solicitado


pelo E. Promotor de Justiça a emenda à inicial, pedido esse que não foi atendido pela parte
autora.

Tem-se então que a presente ação é inepta, pois não preenche os requisitos
necessários estabelecidos no art. 319 do Código de Processo Civil, devendo ser indeferida.

Não obstante, caso a alegação supra não comporte acolhimento por Vossa
Excelência, o executado tem plena ciência da sua responsabilidade como pai e também sabe
dos custos relativos à criação do menor, tais como alimentos, fraldas, roupas, lazer, educação
etc.

Ocorre que, no presente momento, o executado encontra-se desempregado,


fazendo “bicos” como motoboy e tem passado por grandes dificuldades financeiras, não tendo

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condições de quitar a quantia executada em sua integralidade, pois o valor pleiteado está fora
dos seus padrões financeiros.

Sendo assim, propõe pagar os alimentos atrasados em 10 (dez) parcelas


mensais de R$ 111,62 (cento e onze reais e sessenta e dois centavos), a partir do mês de
fevereiro de 2022, a serem depositadas em conta da titularidade da genitora.

DO DIREITO
Segundo art. 1.694 do Código Civil, o valor da pensão deve ser arbitrado
levando em consideração o binômio necessidade/possibilidade. Necessidade de quem os
recebe e possibilidade de quem deve prover.

Art. 1.694, §1º do Código Civil: “Os alimentos devem ser fixados na
proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada.”

Dessa forma, o executado está acobertado por excludente de


responsabilidade, tendo em vista que sua capacidade econômica o impossibilita de cumprir
satisfatoriamente a obrigação alimentar dos meses vencidos, sem desfalque do necessário ao
seu sustento. Como já mencionado, o executado encontra-se desempregado e sobrevive
fazendo “bicos” de entregador/motoboy.

Nesse sentido, importante frisar que a prisão do executado é medida


extrema e não solucionará o presente, tendo em vista que não há condições alguma do
pagamento integral da dívida, já que o executado ganha menos de um salário mínimo.

Assim também dispõe a nossa Carta Magna, em seu art. 5º, inciso LXVIII:
“Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel.”

Portanto, mister que a prisão seja moderadamente utilizada, não podendo


no presente caso ensejar a decretação da prisão por dívida de alimentos parcialmente
adimplida.

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Como asseverado alhures, a prisão civil decorrente de aplicação do rito do
art. 528 do Código de Processo Civil é medida extrema, que somente deve ser decretada
quando não esteja havendo qualquer pagamento, de forma a trazer prejuízo ao alimentando.

De acordo com as lições de Luiz Guilherme Marinoni:

“Caso o inadimplemento decorra de justificativa legítima ou de causa


involuntária (como caso fortuito ou de força maior), não se poderá recorrer
à prisão civil. Assim, se o devedor encontrar-se impossibilitado de cumprir
a prestação por que, por exemplo, não dispõe de recursos em razão de estar
desempregado, ou por causa da iliquidez do patrimônio, descabe a
aplicação da medida [...].” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART,
Sérgio Cruz. Execução. 5 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013).

Sobre o tema, assim também é o entendimento no Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE ALIMENTOS


– INSURGÊNCIA CONTRA DECISÃO QUE DECRETOU A
PRISÃO CIVIL DO EXECUTADO – PRISÃO QUE não resolve o
problema do inadimplemento, ao contrário, o encarceramento
não só colabora para que o passado continue em aberto, assim
como inviabiliza o presente e compromete o futuro –
ALIMENTANTE PROPÔS O PARCELAMENTO DO DÉBITO
EM CONFORMIDADE COM SUA REALIDADE FINANCEIRA,
PORÉM NÃO FOI ACEITA PELA EXEQUENTE E NAÕ PODE
SER IMPOSTA PELO PODER JUDICIÁRIO - DECISÃO
PARCIALMENTE REFORMADA – RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO (TJSP;  Agravo de Instrumento
2249059-70.2022.8.26.0000; Relator (a): Erickson Gavazza
Marques; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Privado; Foro de
São José do Rio Preto - 1ª Vara de Família e Sucessões; Data do
Julgamento: 12/12/2022; Data de Registro: 12/12/2022);

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ALIMENTOS. EXECUÇÃO. PRISÃO CIVIL DO EXECUTADO.
INADMISSIBILIDADE. PAGAMENTO PARCIAL DO DÉBITO
EXEQUENDO. COAÇÃO EXTREMA QUE DEVE
RESERVAR-SE AO COMPORTAMENTO OMISSO E
RENITENTE DO DEVEDOR DE ALIMENTOS. DECISÃO
AFASTADA. RECURSO PROVIDO.  (TJSP;  Agravo de
Instrumento 2244974-41.2022.8.26.0000; Relator (a): Vito
Guglielmi; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Privado; Foro
Regional IV - Lapa - 2ª Vara da Família e Sucessões; Data do
Julgamento: 29/11/2022; Data de Registro: 29/11/2022);

EXECUÇÃO – Alimentos – Prisão civil – Embora se afigure, à


primeira vista, medida necessária a constranger o devedor a
adimplir a obrigação alimentar, a prisão não se revela a mais
adequada ao caso em exame – Situação financeira excepcional
do devedor, não sendo razoável que destine à alimentanda
praticamente a totalidade de seus parcos rendimentos como
catador de recicláveis – Hipótese em que, inobstante a
persistência de débito alimentar, a liberdade do agravante deve
ser preservada – Prisão afastada – Agravo provido.  (TJSP;
Agravo de Instrumento 2219278-37.2021.8.26.0000; Relator
(a): Luiz Antonio de Godoy; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Itápolis - 2ª Vara; Data do Julgamento: 17/12/2021;
Data de Registro: 17/12/2021).

Ademais, como não há nos autos nenhuma comprovação pela exequente


referente aos débitos em atraso, não há que se impor a prisão civil do executado, pois,
conforme já estabelecido no art. 528, §7º do CPC e na Súmula 309 do Superior Tribunal de
Justiça, o débito alimentar que autoriza a prisão é o que compreende até 03 (três) prestações
anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

Nessas condições, a prisão perdeu seu sentido efetivo, pois não busca
socorrer filho que necessite do auxílio em caráter de urgência, mas tão somente constranger o

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genitor ao pagamento. Com isso, cabe à exequente exigir os valores em atraso por meio do
procedimento comum, previsto no §8 do art. 528 do Código de Processo Civil.

Esclarece, por fim, que no mesmo acordo firmado restou estabelecido que
a guarda seria exercida unilateralmente pela genitora, contudo, o genitor teria assegurado o
direito de visita à criança (fls. 12). Ocorre que, desde o final de 2022, o executado tem sido
impedido de visitar a criança, o que indica que a genitora, além de tentar constranger o
executado à prisão também tem dificultado a convivência da criança com o próprio pai, o que
é considerado ilegal segundo a Lei 1.2318/10 que trata da alienação parental.

“Art. 2º. Considera-se ato de alienação parental a interferência na


formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento
ou à manutenção de vínculos com este.”

Parágrafo único.  São formas exemplificativas de alienação parental,


além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,
praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:  
[...]
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor.

Sendo assim, considerando as alegações de fato e direito ora expostas e,


verificada a impossibilidade absoluta por parte do executado em realizar o pagamento do valor
pleiteado pela exequente, pugna pelo acolhimento da presente Justificativa.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

A) Seja a presente inicial declarada inepta, nos termos do art. 330, I, do CPC, com a
consequente extinção do feito sem julgamento do mérito, consoante art. 485, inciso I,
do mesmo diploma legal;

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B) Rejeitada a preliminar acima, requer seja a presente Justificativa acolhida e afastada a
prisão do executado, pois conforme demonstrado, o mesmo encontra-se desempregado
e não possui condições financeiras para adimplir a dívida cobrada em sua
integralidade;
C) Que seja acolhida a proposta de pagamento dos alimentos em execução em 10 (dez)
parcelas mensais de R$ 111,62 (cento e onze reais e sessenta e dois centavos), a partir
do mês de fevereiro de 2022 a ser depositada na conta bancária da genitora;
D) Que seja julgado improcedente o pedido de condenação do executado ao pagamento
de ônus sucumbenciais, bem como honorários advocatícios, por ser pessoa pobre nos
termos da Lei 1.060/50.
Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos,
especialmente através de prova testemunhal.

Termos em que,
Pede e aguarda deferimento.

Piracicaba, 22 de janeiro de 2023.

Mariana Cristina Zago


OAB/SP 472921

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