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EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

Processo nº 5215479-33.2022.8.21.0001

VAGNER DE OLIVEIRA, já qualificado nos autos da ação em epígrafe, atuando


em causa própria, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo
5º, LXIX e artigo 4º da Lei 1.533/51, ajuizar

MANDADO DE SEGURANÇA

Contra decisão proferida pela MM. JUÍZO DO 5º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO FORO CENTRAL DA
COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS, nos autos do processo nº 5215479-33.2022.8.21.0001,
requerendo seja este mandado devidamente admitido e processado e, ao final, julgado
procedente, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DO PRAZO DECADENCIAL

A decisão irrecorrível que configura ato ilegal e abusivo foi proferida em


02/05/2023. Não há, portanto, que se cogitar de superação do prazo decadencial do presente
remédio – 120 (cento e vinte) dias – uma vez que não decorreram os dias. Dessa forma, requer
a análise do mérito do mandamus.

II – BREVE RELATO DOS FATOS

Trata-se de cobrança referente aos honorários advocatícios em face de MARIA


LUIZA RODRIGUES SOARES DE OLIVEIRA . Ocorre que já foram empregados os meios disponíveis
para o cumprimento da obrigação disposta nos autos, entretanto, todos restaram infrutíferos.

Em razão disso, considerando que o débito exequendo é de origem alimentar há o


dever e responsabilidade do juízo de determinar medidas indutivas para assegurar o efetivo
cumprimento de ordem judicial, motivo pelo qual houve o requerimento da penhora da pensão

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de Maria Luiza.

Após a contadoria judicial atualizado o débito e essa ação perdurar 5 anos, tentado
bloqueio de valores em conta, após procura de veículos e nada encontrar, o Juízo determinou
a penhora de 30% da pensão da ré.

Após isso, a mesma que até então não havia se manifestado no processo, embargou
a execução.

Todavia, o Juízo acolheu parecer da juíza leiga a fim de dar procedência aos
embargos à execução opostos por MARIA LUIZA RODRIGUES SOARES DE OLIVEIRA,
determinando a liberação dos valores bloqueados/penhorados em favor da ora embargada.
Além disso, determinou ser encaminhado à contadoria para elaboração de cálculo do valor
efetivamente devido. Todavia, o autor não concorda com tal decisão, motivo pela qual ajuíza o
presente mandado.

III – DO DIREITO

Inicialmente, destaca-se a Súmula Vinculante nº 47, a qual aduz que:

“Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante


principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja
satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor,
observada ordem especial restrita aos créditos dessa natureza”.

Conforme analisa-se os honorários advocatícios possuem caráter de verba


alimentar, motivo pelo qual é imprescindível que ocorra o pagamento dos mesmos. Ocorre que
o magistrado afirmou que apesar de os honorários possuírem caráter alimentar, os mesmos
não se equiparam à previsão legal.

Ora Excelência, é impera informar que há entendimento consolidado de que os


mesmos são verbas alimentares, equiparando-se, dessa forma, a previsão legal estabelecida,
vejamos:

AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. SÚMULA N. 283/STF.


ART. 833, §2º, DO CPC. PENHORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VERBA
ALIMENTAR. 1. “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida
assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles”.

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(Súmula n. 283/STF). 2. O STJ consolidou entendimento no sentido de que os
honorários advocatícios são considerados verba alimentar, inclusive para fins do
disposto no art. 833, §2º, do CPC/2015, sendo possível a penhora de verbas
remuneratórias para o seu pagamento. 3. Agravo interno a que se nega provimento.

(STJ – AgInt no REsp: 1820961 SP 2019/0171429-6, Relator: Ministra MARIA ISABEL


GALLOTTI, Data de Julgamento: 20/04/2020, T4 – QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 24/04/2020.

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PENHORABILIDADE. HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS. VERBA ALIMENTAR. PERCENTUAL DE 30%. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. 1. As turmas integrantes da Segunda Seção desta Corte Superior
firmaram entendimento de que “honorários advocatícios são considerados verba
alimentar, sendo possível a penhora de verbas remuneratórias para o seu
pagamento” (EDcl nos EAREsp 387.601/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
CORTE ESPECIAL, julgado em 26/2/2015, DJe de 4/3/2015). 2. Os honorários
advocatícios, contratuais ou sucumbenciais têm natureza alimentícia, sendo, assim,
possível a penhora de 30% dos rendimentos da recorrida para seu pagamento. 3.
Agravo interno a que se nega provimento.

(STJ – AgInt no REsp: 1703312 RJ 2017/0262181-1, Relator: Ministro LÁZARO


GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), Data de
Julgamento: 23/08/2018, T4 – QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
29/08/2018).

Consoante a isso, o artigo 833, §2º, do CPC, prevê a exceção da impenhorabilidade


dos proventos de pensão, na medida em que o débito exequendo é de natureza alimentar, nos
termos do artigo 85, §14, do CPC, sendo, portanto, possível o deferimento do pedido de
penhora de 30% da pensão percebida pela impetrada.

Vejamos o entendimento:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. HONORÁRIOS

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ADVOCATÍCIOS. NATUREZA ALIMENTAR DA VERBA. PENHORA DE PROVENTOS.
POSSIBILIDADE. LIMITAÇÃO. – Os honorários advocatícios têm natureza alimentar,
o que autoria a penhora de verbas remuneratórias para o seu pagamento, mediante
a aplicação do artigo 833, §2º, do Código de Processo Civil – A penhora de proventos
autorizada na execução de verba alimentar pode ficar limitada a 30% (trinta por
cento) da verba alimentar sujeita à execução, como forma de garantia de
subsistência do executado e seus familiares.

(TJ – MG – AGT: 10000084784065009 MG, Relator: Luiz Carlos Gomes da Mata, Data
de Julgamento: 30/11/2018, Data de Publicação: 14/12/2018)

Ocorre que em decisão o magistrado alegou não ser possível a penhora da pensão,
uma vez que é destinado à sobrevivência da impetrada. Todavia, dessa forma, o juízo a quo não
analisou a situação do ora impetrante, pois o valor que lhe é devido é destinado a sobrevivência
do mesmo.
Assim, como trata-se de valor destinado a sobrevivência do ora impetrante, é
autorizada a penhora da pensão da executada a fim de sanar com a obrigação devida. Nesse
sentido, é o entendimento:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – PENHORA SOBRE


PROVENTOS DE APOSENTADORIA – POSSIBILIDADE EM SE TRATANDO DE
COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – DÉBITO DE NATUREZA ALIMENTAR
– RECURSO PROVIDO. É possível a penhora de proventos de aposentadoria, em se
tratando de débito de natureza alimentar, tal como os honorários advocatícios.
Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

(TJ – MT – AI: 00831677320168110000 MT, Relator: CLEUCI TEREZINHA CHAGAS


PEREIRA DA SILVA, Data de Julgamento: 30/11/2016, TERCEIRA CÂMARA DE
DIREITO PRIVADO, Data da Publicação: 07/12/2016)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VERBA ALIMENTAR. PENHORA. PROVENTOS.
POSSIBILIDADE. Consoante entendimento sufragado pelo c. Superior Tribunal de
Justiça, os honorários advocatícios, sejam os contratuais ou os sucumbenciais,

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possuem natureza alimentar, motivo pelo qual mostra-se possível a penhora de
proventos para assegurar o pagamento.

(TJ – DF 07035627720188070000 DF 0703562-77.2018.8.07.0000, Relator:


CARMELITA BRASIL, Data de Julgamento: 13/06/2018, 2ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE: 20/06/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada).

Cabe destacar ainda que em outro despacho em processo idêntico do mesmo autor,
com os mesmos pedidos no Foro de Esteio/RS, sob o nº 9000902-34.2016.8.21.0014, o Juízo
entende que:

“A penhora do salário para pagamento dos honorários


advocatícios, verba esta de natureza alimentar, é admitida
quando esgotados os meios visando a localização de bens
da parte devedora. A propósito, sobre o tema, vale referir
o julgado assim ementado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA DE


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. FASE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NATUREZA ALIMENTAR DO
CRÉDITO EXEQÜENDO. PENHORA DE PERCENTUAL DO
SALÁRIO DO DEVEDOR, ANTE A INEXISTÊNCIA DE
PATRIMÔNIO PARA A SATISFAÇÃO DO DÉBITO
EXEQÜENDO. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO, EM
PARTE. (Agravo de Instrumento Nº 70073593709, Décima
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana
Maria Nedel Scalzilli, Julgado em 03/08/2017)

Ademais, a ré recebe uma pensão mensal de quase R$ 8.000,00, motivo pelo qual
pode arcar com suas dívidas quitá-las de forma que não prejudique o ora recorrente. Dessa
forma, amparado no artigo 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal, é possível concessão do
mandado de segurança para proteger direito líquido e certo.

Salienta-se que se trata de direito líquido e certo, uma vez que é de direito do
impetrante o recebimento de seus honorários advocatícios. Nesse sentido, é cabível a penhora
da pensão da impetrada, a fim de que se tenha o pagamento dos honorários do impetrante.
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IV – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer que se digne Vossa Excelência a:

a) Recebimento e concessão do mandado de segurança determinando, assim,


que a penhora da autoridade impetrada a fim de que se obtenha o valor dos
honorários advocatícios;
b) Notificação da impetrada para, querendo, responda ao presente mandado de
segurança;

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Porto Alegre/RS, 23 de maio de 2023.

Vagner de Oliveira

OAB/RS 95.946

Assinado digitalmente.

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DOCUMENTO ASSINADO POR DATA


Vagner de Oliveira 14/07/2020 14h24min

Este é um documento eletrônico assinado digitalmente conforme Lei Federal


nº 11.419/2006 de 19/12/2006, art. 1º, parágrafo 2º, inciso III.

Para conferência do conteúdo deste documento, acesse, na internet, o


endereço https://www.tjrs.jus.br/verificadocs e digite o seguinte

www.tjrs.jus.br número verificador: 0001045443951

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