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Gabinete do Desembargador Carlos Roberto Fávaro

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5190685-18.2021.8.09.0000


COMARCA DE GOIÂNIA

AGRAVANTES: ALLAN GUIMARÃES E VALÉRIA ALVES MESQUITA


AGRAVADO: ESPÓLIO DE CONSTANTINO DE OLIVEIRA GUIMARÃES
RELATOR: DES. CARLOS ROBERTO FÁVARO

VOTO

Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, dele conheço.

Conforme relatado, cuida-se de Agravo de Instrumento interposto por ALLAN


GUIMARÃES e VALÉRIA ALVES MESQUITA, inconformados com a decisão
proferida pelo Juiz de Direito da 2ª Vara de Sucessões da Comarca de Goiânia, Dr.
Fernando de Mello Xavier, no pedido de “Alvará Judicial Incidental”, formulado em
desfavor do ESPÓLIO DE CONSTANTINO DE OLIVEIRA GUIMARÃES.

Em proêmio, cumpre reportar que o agravo de instrumento é recurso secundum


eventum litis e deve limitar-se ao exame do acerto ou desacerto do que ficou
soberanamente decidido pelo juízo singular, não podendo extrapolar o âmbito para
matéria estranha ao ato judicial vergastado, não sendo lícito ao juízo ad quem
antecipar-se sobre o julgamento do mérito da demanda, sob pena de suprimir um grau
de jurisdição.

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Com efeito, a medida de urgência, nos termos do disposto no artigo 300 do Código de
Processo Civil, possui como requisitos a relevância do direito invocado e o perigo de
dano ou o receio de ineficácia do provimento final de mérito.

Vale dizer que a lei processual exige, daquele que pretende ser beneficiado com a
tutela de urgência, a demonstração de elementos de informação que conduzam à
probabilidade do direito de suas alegações, o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo decorrente da demora na prestação jurisdicional e a reversibilidade
dos efeitos antecipados.

Não se quer com isto afirmar ser necessária prova capaz de formar juízo de certeza.
Basta que o interessado junte aos autos elementos de informação consistentes,
robustos, aptos a proporcionar ao julgador o quanto necessário à formação de um
juízo de real probabilidade (e não possibilidade) a respeito do direito alegado.

No presente caso, a demanda versa sobre o ato judicial que indeferiu, em sede de
tutela de urgência, o pedido antecipação de parcela do quinhão hereditário aos
recorrentes, como medida de subsistência.

Importante observar que a referida antecipação de quinhão hereditário, pleitada pelos


autores, ora recorrentes, tem sido admitida como medida excepcional dentro do
processamento do inventário e da partilha, quando se presta ao custeio das
necessidades básicas de herdeiros e cônjuges/companheiro supérstites, como saúde,
alimentação, educação, lazer, dentre outros, com nítido caráter de verba alimentar, nos
termos do parágrafo único do art. 647 do CPC.

Nesse diapasão, do compulso dos autos, mostra-se incontroverso a condição de


herdeiro de ALLAN GUIMARÃES, em relação ao inventariado CONSTANTINO DE
OLIVEIRA GUIMARÃES, de forma que herdará maior quinhão diante de testamento, o
qual o de cujus o indicou como beneficiário da parte disponível (mov. 01, doc. 06).

De igual modo, observa-se a existência de reconhecimento de união estável, em sede


liminar, de VALÉRIA ALVES MESQUITA, na decisão proferida nos autos de nº
5188038.28.2020.8.09.0051 (mov. 01, doc. 04), não havendo que se falar em sua
ilegitimidade recursal no atual estágio processual, visto que não há nenhuma decisão
modificadora.

Coerente com esse entendimento, verifica-se que os agravantes se encontram como


dependentes no imposto de renda do inventariado CONSTANTINO DE OLIVEIRA
GUIMARÃES (mov. 01, doc. 5, dos autos de origem), o que presume a ausência de

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rendimentos próprios superiores ao limite de isenção, além de inferir, por ora, a
impossibilidade de se manterem sem acesso aos frutos ou bens do inventariado.

Dessa forma, observa-se que o procedimento de inventário é oneroso e demorado,


impedindo, muitas vezes, o acesso dos herdeiros dependentes a bens deixados pelo
falecido, atingindo as necessidades pessoais e à própria mantença, como verifico no
presente caso, segundo as despesas mensais apresentadas nos autos de origem
(matrícula de faculdade, condomínio, telefones, plano de saúde, entre outros),

Como se não bastasse tal fato, é de se invocar, ainda, o princípio da igualdade entre
filhos, de modo que, se houve o deferimento de valor mensal ao herdeiro Luiz
Henrique Rodrigues Guimarães, a título de ajuda de custo para ajudar em seu curso
universitário, no Alvará nº 5118907-63.2020.8.09.0051, razão não há para que o
recorrente ALLAN GUIMARÃES não se sujeite às mesmas condições.

E na mesma linha de raciocínio, verifica-se, ainda, que cota parte devida somente ao
agravante ALLAN GUIMARÃES, na condição de herdeiro e sucessor testamentário,
supera 4.000.000,00 (quatro milhões de reais), montante muito superior ao valor que
será adiantado, levando à conclusão de que a liberação autorizada na decisão em
discussão em nada prejudicará qualquer outro herdeiro, tampouco o pagamento de
eventuais dívidas do espólio.

Dessarte, não vislumbro que haverá prejuízo aos outros herdeiros e credores o
adiantamento de legítima, visto que, ao final, deverá ser feita compensação dos
valores antecipados em favor dos agravantes, para apuração do quinhão que estes
efetivamente devam receber.

Noutra quadra, é patente a existência perigo de dano irreparável ou de incerta


reparação, uma vez que trata-se de verba alimentar para mantença, tendo em vista a
condição de dependência dos agravantes.

Por derradeiro, não há que se falar em irreversibilidade da medida, uma vez que os
valores adiantados serão compensados.

Nesse espectro, o provimento do agravo de instrumento é medida que se impõe.

Ao teor do exposto, CONHEÇO do recurso e DOU-LHE PROVIMENTO, a fim de


deferir o pedido de antecipação de quinhão hereditário por meio de alvará, que será
expedido mensalmente, no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) aos agravantes,

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até a finalização do inventário, com a observância de que os valores adiantados serão
atualizados e compensados.

É o voto.

Goiânia, 10 de agosto de 2021.

DES. CARLOS ROBERTO FÁVARO


RELATOR
Datado e Assinado digitalmente conforme Resolução nº 59/2016

1008/CR

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO.


ALVARÁ. ADIANTAMENTO DE QUINHÃO HEREDITÁRIO.
TUTELA DE URGÊNCIA. REQUISITOS PREENCHIDOS.
DECISÃO REFORMADA. 1. O agravo de instrumento é recurso
secundum eventum litis e deve limitar-se ao exame do acerto ou
desacerto do que ficou soberanamente decidido pelo juízo
singular, não podendo extrapolar o âmbito para matéria estranha
ao ato judicial vergastado, não sendo lícito ao juízo ad quem
antecipar-se sobre o julgamento do mérito da demanda, sob pena
de suprimir um grau de jurisdição. 2. A antecipação de quinhão
hereditário tem sido admitida como medida excepcional dentro do
processamento do inventário e da partilha, quando se presta ao
custeio das necessidades básicas de herdeiros e
cônjuges/companheiro supérstites, como saúde, alimentação,
educação, lazer, dentre outros, com nítido caráter de verba
alimentar, nos termos do parágrafo único do art. 647 do CPC. 3.
Na espécie, restou configurado que o adiantamento do quinhão
hereditário é destinado a verba alimentar, o qual é corroborado
pela condição de dependência dos agravantes com o
inventariado em seu imposto de renda. 4. Por fim, não há que se
falar em irreversibilidade da medida, uma vez que os valores
adiantados serão compensados, bem como em prejuízo aos
outros herdeiros e credores. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E PROVIDO.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 5190685.18,


acordam os componentes da quarta Turma Julgadora da Primeira Câmara Cível do
egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer
do agravo e lhe dar provimento, nos termos do voto deste Relator.

Votaram, com o relator, Desembargador Fernando de Castro Mesquita e o Dr. Sérgio


Mendonça de Araújo em substituição ao Desembargador Luiz Eduardo de Sousa.

Presidiu a sessão o Desembargador Carlos Roberto Fávaro.

Fez-se presente, como representante da Procuradoria Geral de Justiça, a Drª. Estela


de Freitas Rezende.

Goiânia, 10 de agosto de 2021.

DES. CARLOS ROBERTO FÁVARO


RELATOR

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