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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
Identificação
EMENTA
ACÓRDÃO
Sustentação oral: *VÍDEO* Adv.: Benôni Canellas Rossi (PARTE: Gremio Football Porto
Alegrense) declinou.
Intime-se.
RELATÓRIO
Inconformada com a sentença de improcedência da ação (Id c498002), proferida pela Juíza do
Trabalho Anita Job Lubbe, a reclamante interpõe recurso ordinário (Id e7c8921), versando sobre
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É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
I - PRELIMINARMENTE
II - MÉRITO
O reclamado Grêmio Football Porto Alegrense argui, nas contrarrazões, a prescrição total da
ação, nos termos do art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, tendo em vista que já eram
ultrapassados mais de dois anos da data do falecimento do filho da reclamante, ocorrido em
18.10.2013, e a data de propositura do presente feito, em 04.01.2016. Postula seja pronunciada a
prescrição total da presente ação, nos termos do dispositivo constitucional invocado. Examina-se.
A reclamante não se conforma com a sentença, que julga improcedente o seu pedido de
reconhecimento de vínculo de emprego entre o seu filho, Josué Alan Drewanz, falecido em
18.10.2013, e o reclamado Grêmio Football Porto Alegrense, indeferindo, ainda, o seu pedido de
condenação dos reclamados, de forma solidária, ao pagamento de indenização de dano material e
reparação de dano moral decorrentes do acidente que o vitimou. Afirma que Josué desenvolvia,
de certa forma, a prática desportiva como atleta contratado pelo Clube de Futebol reclamado, de
modo que os contratos firmados servem apenas para simular a relação de emprego havida. Diz
ser incontroverso nos autos que o acidente ocorreu enquanto o de cujus cumpria determinação
dos reclamados para assistir aos jogos do Grêmio, a fim de verificar como funcionava o
procedimento tático do time de futebol. Destaca que o art. 29, § 6º, da Lei nº 9.615/1998, prevê a
obrigação do clube de futebol ou qualquer entidade desportiva de contratar seguro de vida para os
adolescentes a eles vinculados, o que não ocorreu no caso em exame. Defende que o art. 29, §
4º, da referida Lei é manifestamente inconstitucional. Busca a reforma da decisão monocrática.
Analisa-se.
A Magistrada da origem decide a controvérsia, sob os seguintes fundamentos (Id c498002 - pp. 2-
3):
[...]
Vejamos:
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'Art. 29. § 4ºO atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor
de vinte anos de idade, poderá receber auxílio financeiro da entidade de
prática desportiva formadora, sob a forma de bolsa de aprendizagem
livremente pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado vínculo
empregatício entre as partes'.
Em face do princípio da primazia da realidade, o vínculo de emprego não depende da vontade dos
contratantes para se aperfeiçoar, pois a intenção das partes não se reveste de força vinculante
para a determinação da natureza jurídica dessa relação jurídica. Na lição de Ribeiro de Vilhena (in
Relação de Emprego: Estrutura Legal e Supostos), a relação de emprego independe da vontade
ou da interpretação negocial do prestador ou do credor do serviço, mas depende do conjunto de
atos/fatos por eles continuadamente desenvolvidos em razão daquela prestação. Assim, pois,
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essa relação terá em seus polos dois sujeitos que responderão pelas obrigações dela
decorrentes, em posições obrigacionais que se alternam, ora prestando, ora contraprestando. O
art. 2º da CLT traz o conceito de empregador, em definição sujeita a algumas críticas, superadas
pela doutrina, cujo teor se reproduz abaixo:
No caso concreto, a reclamante alega que seu filho, Josué Alan Drewanz, embora tenha sido
contratado mediante auxílio financeiro de atleta não profissional em formação, era na verdade
atleta profissional contrato pelo reclamado Grêmio Football Porto Alegrense, postulando o
reconhecimento do vínculo de emprego, no período de 15.04.2013 a 18.10.2013. O reclamado
Grêmio Football Porto Alegrense, por sua vez, sustenta que não há falar em vínculo empregatício
com o de cujus, com quem manteve contrato particular de auxílio financeiro, see tratando de atleta
não profissional em formação. Nesse contexto, na medida em que o demandado admite que o
filho da reclamante lhe prestava serviço, lhe compete o ônus da prova dos fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito vindicado (art. 818, II, da CLT), ônus do qual se desincumbe
a contento. Registra-se que o Clube de Futebol reclamado anexa aos autos "Contrato Particular
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de Auxílio Financeiro (Bolsa Aprendizagem) - Atleta Não Profissional em Formação" firmado entre
ele e o filho da autora, em 15.04.2013 (Id af2546c), na forma prevista na Lei nº 9.615/1998,
comprovando que a contratação se deu na modalidade não profissional. A propósito, o art. 3º, inc.
III e seu § 1º, inc. II, e o art. 29, § 4º, da referida Lei, preveem o seguinte:
[...]
Art. 29. A entidade de prática desportiva formadora do atleta terá o direito de assinar
com ele, a partir de 16 (dezesseis) anos de idade, o primeiro contrato especial de
trabalho desportivo, cujo prazo não poderá ser superior a 5 (cinco) anos.
[...]
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atuava de modo profissional, como alega, pelo o que se impõe a manutenção da sentença, no
tocante ao não reconhecimento de vínculo de emprego entre o de cujus, Josué Alan Drewanz, e o
reclamado Grêmio Football Porto Alegrense. Nesse sentido, citam-se os seguintes precedentes
deste Tribunal Regional, cujas ementas se transcrevem a seguir:
No tocante à prescrição total do direito de ação, arguida pelo reclamado Grêmio Football Porto
Alegrense nas contrarrazões, não restando configurado vínculo de emprego entre o Clube
demandado e o filho da reclamante, incide no caso sub judice o prazo prescricional previsto no art.
206, § 3º, V, do CC, verbis:
[...]
§ 3º Em três anos:
[...]
[...].
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Sendo assim, considerando-se que transcorridos menos de 3 anos entre a data do falecimento do
filho da reclamante, em 18.10.2013, e a data de propositura da presente ação, em 04.01.2016,
inexiste prescrição total do direito de ação. No que diz respeito ao pleito da reclamante de
pagamento de indenização de dano material e reparação de dano moral decorrentes do acidente
que vitimou seu filho, frisa-se que o acidente de trabalho e as doenças ocupacionais e do trabalho
são disciplinados na Lei nº 8.213/1991, que os define nos termos abaixo reproduzidos, verbis:
[...]
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.
11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte
ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
[...]
[...]
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e do nexo de causalidade entre o dano e a ação/omissão que o produziu, bem como o fator de
imputação, que decorre da lei ou do risco (responsabilidade objetiva ou responsabilidade subjetiva
- culpa). A propósito, frisa-se que o reconhecimento da responsabilidade civil em qualquer das
suas espécies, objetiva e subjetiva, não dispensa a relação de causalidade entre o dano e a
conduta do agente apontado como responsável pelo dever de indenizar, constituindo, segundo a
doutrina, a primeira questão a ser analisada em ações cujo objeto é a reparação civil. O exame
das circunstâncias e a culpa pelo acidente encerram, portanto, o cerne da questão recursal.
No caso dos autos, a condição de atleta não profissional do de cujus não exime, por si só, os
reclamados da responsabilidade pelo infortúnio, porquanto seria suficiente que o acidente tivesse
acontecido durante a prestação do serviço contratado no estabelecimento dos contratantes para
se perquirir acerca da sua responsabilidade pelo evento danoso. Isso porque, em que pese a
condição de atleta não profissional em formação do contratado, incumbe aos contratantes
fornecer e fiscalizar as condições de segurança necessárias à execução do serviço. Entretanto, é
incontroverso nos autos que o acidente ocorreu enquanto o filho da reclamante se deslocava entre
a sua residência e um bar localizado nas proximidades para assistir a um jogo de futebol em que
participava o Clube reclamado, o que é relatado pela própria reclamante, no seu depoimento
pessoal, consoante o trecho que se transcreve a seguir (Id 6057288 - Pág. 1):
[...] que quando a depoente e seu filho Josué Alan vieram para Porto Alegre, em
01/04/2013, ainda não tinham assinado nenhum contrato com a segunda reclamada
nem com o Grêmio; que seu filho estava em fase de seleção; que a depoente,
quando alugou o apartamento, em 01/04/2013, também não tinha assinado nenhum
contrato entre ela e os reclamados; que a depoente lembra que estava tudo
acertado com o professor André Mainardi que iriam acertar a papelada para depois
contratarem o filho da depoente; que André Mainardi era o professor da escolinha
de futebol da cidade de Agudo/RS, que a depoente e seu filho moravam em Paraíso
do Sul/RS; que a depoente lembra que Anchieta, olheiro do Grêmio, tinha assistido
a jogos do filho da depoente; que a depoente nunca falou com Anchieta, que soube
apenas pelo professor André Mainardi que Anchieta tinha assistidos aos jogos de
seu filho; que o filho da depoente sofreu um acidente quando estava em uma
calçada no bairro Azenha; que isto ocorreu à tardinha em uma quarta-feira,
por volta de 18h30min/19h; que o filho da depoente estava, neste dia, saindo
de sua residência para ir para o bar chamado Petiscão, onde todos assistiam
jogos de futebol na televisão; que isto ocorria pois todos os meninos amigos
do filho da depoente se reuniam naquele bar para assistir partidas de futebol;
que o bar Petiscão fica na Av. Azenha, quase em frente à residência da
depoente e de seu filho. (Grifa-se.)
Além disso, a testemunha Lissandro Carlotto Schultz, convidada a depor pelo reclamado Grêmio
Football Porto Alegrense, única ouvida no processo, declara (Id 6057288 - pp. 1-2):
[...] que mora no alojamento do Grêmio há 3 anos; que é jogador do Grêmio desde
2011; que era amigo de Josué Alan; que o depoente estava junto com Josué
no dia do acidente; que não lembra o dia da semana em que ocorreu o acidente;
que lembra que era mais ou menos 19h30min; que acha que era mês de outubro;
que depoente e Josué estavam saindo do apartamento de Josué, no bairro
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Logo, o acidente que vitimou Josué Alan Drewanz não se deu enquanto ele prestava serviço para
os reclamados, tampouco no deslocamento entre a sua residência e o estabelecimento dos
contratantes, mas, enquanto se deslocava para um bar com amigos para assistir a um jogo de
futebol, o que não era exigido pelos reclamados, como ratifica o testemunho colhido nos autos,
não havendo como se atribuir aos demandados a responsabilidade pelo acidente ocorrido.
Ademais, o Ministério Público do Estado requereu o arquivamento do inquérito policial instaurado
para apurar o cometimento de eventual homicídio culposo pela condutora do veículo que atingiu o
filho da reclamante, o que foi acolhido pelo Juízo Cível, consignando que (Id d6fc8c1 - pp. 4-5):
[...]
[...]
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Sendo assim, além do acidente não ter ocorrido durante a prestação de serviço do de cujus aos
reclamados, tampouco no deslocamento entre a sua residência e o estabelecimento dos
contratantes, nos termos exigidos pela Lei nº 8.213/1991 para que se configure o acidente de
trabalho, as provas colhidas no referido inquérito policial demonstram que o infortúnio ocorreu por
culpa exclusiva da vítima, que atravessou a avenida de maneira repentina e distraída, mesmo com
o sinal semafórico desfavorável, e sem observar o fluxo de veículos. Desse modo, não há como
se estabelecer o nexo de causalidade entre o acidente ocorrido e a alegada ausência de medidas
preventivas por parte dos reclamados. E, considerando-se que a obrigação de indenizar, quer se
trate de dano moral, quer se trate de dano material, somente existe quando é demonstrado o nexo
de causalidade entre o dano e a ação ou a omissão do agente, cujo ilícito importe invasão da
esfera jurídica alheia, sem o consentimento do titular ou a autorização do ordenamento jurídico,
não há como se atribuir aos demandados responsabilidade subjetiva, ante a ausência dos
requisitos legais ensejadores do dever de reparação. Nada há a reformar na sentença de
improcedência e, diante disso, resta prejudicada a arguição do reclamado, nas contrarrazões, de
prescrição total desta ação, nos termos do art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, em razão de já
ter ultrapassado mais de dois anos da data do falecimento do filho da reclamante, ocorrido em
18.10.2013, e a data de propositura do presente feito, em 04.01.2016.
III - PREQUESTIONAMENTO
Relator
VOTOS
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:
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