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Acórdão: 0020001-82.2016.5.04.0721 (ROT)


Redator: CLEUSA REGINA HALFEN
Órgão julgador: 10ª Turma
Data: 25/09/2020

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO

Identificação

PROCESSO nº 0020001-82.2016.5.04.0721 (ROT)


RECORRENTE: VANUSA VANDA WRASSE DREWANZ
RECORRIDO: GREMIO FOOTBALL PORTO ALEGRENSE, SVS - ASSESSORIA ESPORTIVA -
EIRELI
RELATOR: CLEUSA REGINA HALFEN

EMENTA

ACIDENTE DO TRABALHO. NÃO COMPROVAÇÃO NOS AUTOS. INDENIZAÇÃO DE DANO


MATERIAL E REPARAÇÃO DE DANO MORAL INDEVIDAS. Não estando demonstrada nos
autos do processo a ocorrência do acidente do trabalho alegado, são indevidas a indenização de
dano material e a reparação de dano moral pleiteadas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da 10ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho


da 4ª Região: por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO DA
RECLAMANTE, restando prejudicada a arguição do reclamado, nas contrarrazões, de prescrição
total da presente ação.

Sustentação oral: *VÍDEO* Adv.: Benôni Canellas Rossi (PARTE: Gremio Football Porto
Alegrense) declinou.

Intime-se.

Porto Alegre, 24 de setembro de 2020 (quinta-feira).

RELATÓRIO

Inconformada com a sentença de improcedência da ação (Id c498002), proferida pela Juíza do
Trabalho Anita Job Lubbe, a reclamante interpõe recurso ordinário (Id e7c8921), versando sobre

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os seguintes itens: vínculo de emprego, acidente de trabalho, indenização de danos materiais e


reparação de dano moral. Com contrarrazões (contrarrazões da reclamada SVS - Assessoria
Esportiva - Eireli no Id af85419 e contrarrazões do reclamado Grêmio Football Porto Alegrense no
Id 496311b), vêm os autos conclusos para julgamento. Processo não submetido a parecer do
Ministério Público do Trabalho.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE

I - PRELIMINARMENTE

1. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL

O recurso ordinário é tempestivo (notificação no Id 6959baf e recurso no Id e7c8921) e a


representação, regular (procuração no Id 3c63ef7). As custas e o depósito recursal estão
dispensados. Não são noticiados fatos impeditivos ao direito de recorrer. Portanto, estão
preenchidos os pressupostos de admissibilidade do recurso. As contrarrazões também são
tempestivas (notificação no Id 20ae1ad, contrarrazões da reclamada SVS - Assessoria Esportiva -
Eireli no Id af85419 e contrarrazões do reclamado Grêmio Football Porto Alegrense no Id
496311b) e contam com regular representação nos autos (reclamada SVS - Assessoria Esportiva -
Eireli - procuração no Id a078311; reclamado Grêmio Football Porto Alegrense - procuração no Id
478f6c9).

II - MÉRITO

1. PRESCRIÇÃO TOTAL. PEDIDO FORMULADO PELO RECLAMADO GRÊMIO FOOTBALL


PORTO ALEGRENSE NAS CONTRARRAZÕES

O reclamado Grêmio Football Porto Alegrense argui, nas contrarrazões, a prescrição total da
ação, nos termos do art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, tendo em vista que já eram
ultrapassados mais de dois anos da data do falecimento do filho da reclamante, ocorrido em
18.10.2013, e a data de propositura do presente feito, em 04.01.2016. Postula seja pronunciada a
prescrição total da presente ação, nos termos do dispositivo constitucional invocado. Examina-se.

Trata-se de ação ajuizada em 04.01.2016, na qual a reclamante requer o reconhecimento do


vínculo de emprego entre o seu filho, Josué Alan Drewanz, falecido em 18.10.2013, vítima de
acidente ocorrido em 09.10.2013, e o reclamado Grêmio Football Porto Alegrense, no período de
15.04.2013 a 18.10.2013, bem como a condenação dos reclamados, de forma solidária, ao
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pagamento de indenização de dano material e de reparação de dano moral decorrentes do


infortúnio (petição inicial no Id bef9ae9). Considerando-se que o prazo prescricional previsto no
art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, se aplica ao direito de ação relativo aos créditos resultantes
das relações de trabalho, não incidindo sobre relações de natureza civil, a apreciação da
prescrição arguida pelo reclamado Grêmio Football Porto Alegrense depende da configuração de
vínculo de emprego entre o Clube demandado e o de cujus, razão pela qual se passa a analisar
essa matéria. Antes disso, registra-se que a prescrição pode ser arguida pela parte em qualquer
tempo e grau de jurisdição, na medida em que deve ser pronunciada de ofício pelo julgador da
causa.

2. VÍNCULO DE EMPREGO. ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO DE DANO MATERIAL


E REPARAÇÃO DE DANO MORAL

A reclamante não se conforma com a sentença, que julga improcedente o seu pedido de
reconhecimento de vínculo de emprego entre o seu filho, Josué Alan Drewanz, falecido em
18.10.2013, e o reclamado Grêmio Football Porto Alegrense, indeferindo, ainda, o seu pedido de
condenação dos reclamados, de forma solidária, ao pagamento de indenização de dano material e
reparação de dano moral decorrentes do acidente que o vitimou. Afirma que Josué desenvolvia,
de certa forma, a prática desportiva como atleta contratado pelo Clube de Futebol reclamado, de
modo que os contratos firmados servem apenas para simular a relação de emprego havida. Diz
ser incontroverso nos autos que o acidente ocorreu enquanto o de cujus cumpria determinação
dos reclamados para assistir aos jogos do Grêmio, a fim de verificar como funcionava o
procedimento tático do time de futebol. Destaca que o art. 29, § 6º, da Lei nº 9.615/1998, prevê a
obrigação do clube de futebol ou qualquer entidade desportiva de contratar seguro de vida para os
adolescentes a eles vinculados, o que não ocorreu no caso em exame. Defende que o art. 29, §
4º, da referida Lei é manifestamente inconstitucional. Busca a reforma da decisão monocrática.
Analisa-se.

A Magistrada da origem decide a controvérsia, sob os seguintes fundamentos (Id c498002 - pp. 2-
3):

[...]

1- DOS DANOS MORAIS E MATERIAIS

Postula a autora o pagamento de indenização por danos morais e materiais, em


razão do falecimento de seu filho, Josué Alan Drewanz, ocorrido em 18/10/2013, o
qual havia firmado contrato com a primeira reclamada em 15/04/2013. As
reclamadas contestam, requerendo a improcedência dos pedidos.

Vejamos:

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Inicialmente, ressalte-se que a hipótese dos autos se refere a contrato firmado


na modalidade de auxílio financeiro de atleta não profissional em formação,
conforme comprova o contrato de ID. ID. a3dc11c, firmado com a primeira
reclamada. A referida contratação é regida pelas Leis nº 9.615/98 e nº
12.395/11. O parágrafo 4º do art. 29 da Lei nº 9.615 estabelece o seguinte:

'Art. 29. § 4ºO atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor
de vinte anos de idade, poderá receber auxílio financeiro da entidade de
prática desportiva formadora, sob a forma de bolsa de aprendizagem
livremente pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado vínculo
empregatício entre as partes'.

Portanto, a despeito da tese da exordial, não há falar-se em vínculo de


emprego entre as partes, por ausência de previsão legal. Registre-se por
demasia que, ainda que assim não fosse, igualmente incabíveis as
indenizações pleiteadas pela autora, mormente porque o conjunto probatório
dos autos demonstra que o incidente ocorrido não se tratou de acidente de
trabalho. Nos termos do art. 19 da Lei nº 8.213/91, 'acidente de trabalho é o que
ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho
dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho'.

Em seu depoimento em Juízo, a autora relata que '[Josué] sofreu um acidente


quando estava em uma calçada no bairro Azenha; que isto ocorreu à tardinha em
uma quarta-feira, por volta de 18h30min/19h; que o filho da depoente estava, neste
dia, saindo de sua residência para ir para o bar chamado Petiscão, onde todos
assistiam jogos de futebol na televisão; que isto ocorria pois todos os meninos
amigos do filho da depoente se reuniam naquele bar para assistir partidas de
futebol; que o bar Petiscão fica na Av. Azenha, quase em frente à residência da
depoente e de seu filho'.

A seu turno, a testemunha Lissandro Carlotto Schultz, ouvida a convite da autora,


refere que 'estava junto com Josué no dia do acidente; (...) que lembra que era mais
ou menos 19h30min; (...) que depoente e Josué estavam saindo do apartamento de
Josué, no bairro onde fica o estádio Olímpico, e estavam indo para o Petiscão, que
é um restaurante, que iam para aquele restaurante assistir ao jogo do Grêmio na
televisão; (...) que não havia nenhuma orientação dentro do Grêmio para que
fossem obrigados a assistir ao jogo do Grêmio no Petiscão; que quem quisesse
poderia assistir em casa, mas não era obrigatório'.

Observe-se que o acidente de trânsito ocorrido sequer se enquadra em quaisquer


das hipóteses de equiparação a acidente de trabalho, listadas no art. 21 da Lei nº
8.213/91 [...].

Ante todo o exposto, nada a deferir. [...] (Grifa-se.)

Em face do princípio da primazia da realidade, o vínculo de emprego não depende da vontade dos
contratantes para se aperfeiçoar, pois a intenção das partes não se reveste de força vinculante
para a determinação da natureza jurídica dessa relação jurídica. Na lição de Ribeiro de Vilhena (in
Relação de Emprego: Estrutura Legal e Supostos), a relação de emprego independe da vontade
ou da interpretação negocial do prestador ou do credor do serviço, mas depende do conjunto de
atos/fatos por eles continuadamente desenvolvidos em razão daquela prestação. Assim, pois,

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essa relação terá em seus polos dois sujeitos que responderão pelas obrigações dela
decorrentes, em posições obrigacionais que se alternam, ora prestando, ora contraprestando. O
art. 2º da CLT traz o conceito de empregador, em definição sujeita a algumas críticas, superadas
pela doutrina, cujo teor se reproduz abaixo:

Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os


riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviços.

Já o art. 3º da CLT explicita os pressupostos do contrato de emprego, como sendo a prestação de


serviço de forma pessoal, subordinada, não eventual e mediante pagamento de salários. Logo,
para que seja reconhecido como tal, é necessário que haja a prestação de serviço de uma pessoa
física a outra, física ou jurídica, de forma não eventual, subordinada e mediante remuneração, ou
seja, para a relação configurar-se como de emprego deve ser intuitu personae, de caráter não
eventual (sem que se indague sobre seu tempo de duração ou até mesmo se o serviço foi
prestado de forma contínua ou não), com subordinação e mediante contraprestação (cuja
ausência, por si só, não afasta a caracterização da natureza empregatícia do vínculo, constituindo,
tão somente, possível débito do tomador que não tenha satisfeito o pagamento do serviço
prestado). Não menosprezando a importância de qualquer dessas características, merece
especial relevo a subordinação, por se tratar do traço peculiar que distingue a relação de emprego
de qualquer outra relação de trabalho. A natureza jurídica da subordinação decorre do poder
diretivo do empregador, a quem cabe orientar, fiscalizar e dirigir a prestação do trabalho e, em
consequência, aplicar advertências, punições e, até mesmo, extinguir o próprio contrato. Acerca
do ônus da prova, a CLT, com a redação dada pela Lei nº 13.467/2017, estabelece o seguinte:

Art. 818. O ônus da prova incumbe:

I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao reclamado, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do


direito do reclamante.

No caso concreto, a reclamante alega que seu filho, Josué Alan Drewanz, embora tenha sido
contratado mediante auxílio financeiro de atleta não profissional em formação, era na verdade
atleta profissional contrato pelo reclamado Grêmio Football Porto Alegrense, postulando o
reconhecimento do vínculo de emprego, no período de 15.04.2013 a 18.10.2013. O reclamado
Grêmio Football Porto Alegrense, por sua vez, sustenta que não há falar em vínculo empregatício
com o de cujus, com quem manteve contrato particular de auxílio financeiro, see tratando de atleta
não profissional em formação. Nesse contexto, na medida em que o demandado admite que o
filho da reclamante lhe prestava serviço, lhe compete o ônus da prova dos fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito vindicado (art. 818, II, da CLT), ônus do qual se desincumbe
a contento. Registra-se que o Clube de Futebol reclamado anexa aos autos "Contrato Particular
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de Auxílio Financeiro (Bolsa Aprendizagem) - Atleta Não Profissional em Formação" firmado entre
ele e o filho da autora, em 15.04.2013 (Id af2546c), na forma prevista na Lei nº 9.615/1998,
comprovando que a contratação se deu na modalidade não profissional. A propósito, o art. 3º, inc.
III e seu § 1º, inc. II, e o art. 29, § 4º, da referida Lei, preveem o seguinte:

Art. 3º. O desporto pode ser reconhecido em qualquer das seguintes


manifestações:

I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas


assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de
seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do
indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer;

II - desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades


desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos
praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na
preservação do meio ambiente;

III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e


regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de
obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de
outras nações.

IV - desporto de formação, caracterizado pelo fomento e aquisição inicial dos


conhecimentos desportivos que garantam competência técnica na intervenção
desportiva, com o objetivo de promover o aperfeiçoamento qualitativo e quantitativo
da prática desportiva em termos recreativos, competitivos ou de alta competição.

§ 1º O desporto de rendimento pode ser organizado e praticado:

I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração pactuada em contrato


formal de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva;

II - de modo não-profissional, identificado pela liberdade de prática e pela


inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de
incentivos materiais e de patrocínio.

[...]

Art. 29. A entidade de prática desportiva formadora do atleta terá o direito de assinar
com ele, a partir de 16 (dezesseis) anos de idade, o primeiro contrato especial de
trabalho desportivo, cujo prazo não poderá ser superior a 5 (cinco) anos.

[...]

§ 4º O atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor de


vinte anos de idade, poderá receber auxílio financeiro da entidade de prática
desportiva formadora, sob a forma de bolsa de aprendizagem livremente
pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado vínculo empregatício
entre as partes.

Como se observa, a Lei supratranscrita faculta à entidade de prática desportiva a contratação de


atleta não profissional em formação, sem que haja a configuração de vínculo de emprego entre as
partes. Além disso, não há qualquer elemento nos autos que demonstre que o filho da reclamante

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atuava de modo profissional, como alega, pelo o que se impõe a manutenção da sentença, no
tocante ao não reconhecimento de vínculo de emprego entre o de cujus, Josué Alan Drewanz, e o
reclamado Grêmio Football Porto Alegrense. Nesse sentido, citam-se os seguintes precedentes
deste Tribunal Regional, cujas ementas se transcrevem a seguir:

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMADO. VÍNCULO DE EMPREGO. ATLETA.


LEI 9.615/98.

Prática de desporto de rendimento, de modo não-profissional, nos termos do inciso


II do §1º do art. 3º da Lei nº 9.615/98. Vínculo de emprego inexistente. Recurso
provido.

(TRT da 4ª Região, 9ª Turma, 0021721-10.2016.5.04.0002 ROT, em 31/05/2019,


Desembargadora Maria da Graca Ribeiro Centeno)

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO. VÍNCULO DE EMPREGO. ATLETA. NÃO-


CONFIGURAÇÃO. 'Contrato de atleta não-profissional', executado nos termos em
que ajustado pelas partes, e autorizado legalmente, não configura vínculo de
emprego, pois verifica-se adequada a aplicação do inciso II, do artigo 3º, da Lei
9.615/98, no qual se enquadra a autora. Além disso, desatendidos os requisitos
previstos nos artigos 2º e 3º da CLT para o reconhecimento de vínculo de emprego
entre as partes. (TRT da 4ª Região, 4a. Turma, 0033500-25.2008.5.04.0201 RO, em
02/09/2010, Desembargador Fabiano de Castilhos Bertolucci - Relator. Participaram
do julgamento: Desembargador Hugo Carlos Scheuermann, Desembargador João
Pedro Silvestrin)

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO. VÍNCULO DE EMPREGO. ATLETA. NÃO-


CONFIGURAÇÃO. 'Contrato de atleta não-profissional', executado nos termos em
que ajustado pelas partes, e autorizado legalmente, não configura vínculo de
emprego, pois verifica-se adequada a aplicação do inciso II, do artigo 3º, da Lei
9.615/98, no qual se enquadra a autora. Além disso, desatendidos os requisitos
previstos nos artigos 2º e 3º da CLT para o reconhecimento de vínculo de emprego
entre as partes. (TRT da 4ª Região, 4a. Turma, 0033500-25.2008.5.04.0201 RO, em
02/09/2010, Desembargador Fabiano de Castilhos Bertolucci - Relator. Participaram
do julgamento: Desembargador Hugo Carlos Scheuermann, Desembargador João
Pedro Silvestrin)

No tocante à prescrição total do direito de ação, arguida pelo reclamado Grêmio Football Porto
Alegrense nas contrarrazões, não restando configurado vínculo de emprego entre o Clube
demandado e o filho da reclamante, incide no caso sub judice o prazo prescricional previsto no art.
206, § 3º, V, do CC, verbis:

Art. 206. Prescreve:

[...]

§ 3º Em três anos:

[...]

V - a pretensão de reparação civil;

[...].

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Sendo assim, considerando-se que transcorridos menos de 3 anos entre a data do falecimento do
filho da reclamante, em 18.10.2013, e a data de propositura da presente ação, em 04.01.2016,
inexiste prescrição total do direito de ação. No que diz respeito ao pleito da reclamante de
pagamento de indenização de dano material e reparação de dano moral decorrentes do acidente
que vitimou seu filho, frisa-se que o acidente de trabalho e as doenças ocupacionais e do trabalho
são disciplinados na Lei nº 8.213/1991, que os define nos termos abaixo reproduzidos, verbis:

[...]

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.
11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte
ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

[...]

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as


seguintes entidades mórbidas:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo


exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função


de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione
diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

Para fins previdenciários, também se compreende no conceito de acidente do trabalho, conforme


o art. 21, IV, "d", da Lei nº 8.213/1997, aquele sofrido pelo trabalhador no percurso da residência
para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive
veículo de propriedade do segurado. No ensinamento de Sebastião Geraldo de Oliveira, em sua
obra intitulada Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional, São Paulo LTr,
2013. p. 94, verbis:

[...]

A indenização por acidente do trabalho ou doença ocupacional, em princípio,


enquadra-se como responsabilidade extracontratual porque decorre de algum ato
ilícito do empregador, por violação dos deveres previstos nas normas gerais de
proteção ao trabalhador e ao meio ambiente do trabalho. Essa responsabilidade não
tem natureza contratual porque não há cláusula do contrato de trabalho prevendo
garantia de integridade psicobiofísica do empregado". A Constituição Federal de
1988, em seu artigo 7º, inciso XXVIII, assegura ao empregado o direito à
indenização por acidente do trabalho, de encargo do empregador, quando este
incorrer em dolo ou culpa.

Ainda, sinala-se que, no pedido de indenização de dano decorrente de acidente do trabalho ou


doença ocupacional equiparada é necessário averiguar, como em qualquer outro caso de
responsabilidade civil, a existência dos pressupostos legais, que são a existência do próprio dano

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e do nexo de causalidade entre o dano e a ação/omissão que o produziu, bem como o fator de
imputação, que decorre da lei ou do risco (responsabilidade objetiva ou responsabilidade subjetiva
- culpa). A propósito, frisa-se que o reconhecimento da responsabilidade civil em qualquer das
suas espécies, objetiva e subjetiva, não dispensa a relação de causalidade entre o dano e a
conduta do agente apontado como responsável pelo dever de indenizar, constituindo, segundo a
doutrina, a primeira questão a ser analisada em ações cujo objeto é a reparação civil. O exame
das circunstâncias e a culpa pelo acidente encerram, portanto, o cerne da questão recursal.

No caso dos autos, a condição de atleta não profissional do de cujus não exime, por si só, os
reclamados da responsabilidade pelo infortúnio, porquanto seria suficiente que o acidente tivesse
acontecido durante a prestação do serviço contratado no estabelecimento dos contratantes para
se perquirir acerca da sua responsabilidade pelo evento danoso. Isso porque, em que pese a
condição de atleta não profissional em formação do contratado, incumbe aos contratantes
fornecer e fiscalizar as condições de segurança necessárias à execução do serviço. Entretanto, é
incontroverso nos autos que o acidente ocorreu enquanto o filho da reclamante se deslocava entre
a sua residência e um bar localizado nas proximidades para assistir a um jogo de futebol em que
participava o Clube reclamado, o que é relatado pela própria reclamante, no seu depoimento
pessoal, consoante o trecho que se transcreve a seguir (Id 6057288 - Pág. 1):

[...] que quando a depoente e seu filho Josué Alan vieram para Porto Alegre, em
01/04/2013, ainda não tinham assinado nenhum contrato com a segunda reclamada
nem com o Grêmio; que seu filho estava em fase de seleção; que a depoente,
quando alugou o apartamento, em 01/04/2013, também não tinha assinado nenhum
contrato entre ela e os reclamados; que a depoente lembra que estava tudo
acertado com o professor André Mainardi que iriam acertar a papelada para depois
contratarem o filho da depoente; que André Mainardi era o professor da escolinha
de futebol da cidade de Agudo/RS, que a depoente e seu filho moravam em Paraíso
do Sul/RS; que a depoente lembra que Anchieta, olheiro do Grêmio, tinha assistido
a jogos do filho da depoente; que a depoente nunca falou com Anchieta, que soube
apenas pelo professor André Mainardi que Anchieta tinha assistidos aos jogos de
seu filho; que o filho da depoente sofreu um acidente quando estava em uma
calçada no bairro Azenha; que isto ocorreu à tardinha em uma quarta-feira,
por volta de 18h30min/19h; que o filho da depoente estava, neste dia, saindo
de sua residência para ir para o bar chamado Petiscão, onde todos assistiam
jogos de futebol na televisão; que isto ocorria pois todos os meninos amigos
do filho da depoente se reuniam naquele bar para assistir partidas de futebol;
que o bar Petiscão fica na Av. Azenha, quase em frente à residência da
depoente e de seu filho. (Grifa-se.)

Além disso, a testemunha Lissandro Carlotto Schultz, convidada a depor pelo reclamado Grêmio
Football Porto Alegrense, única ouvida no processo, declara (Id 6057288 - pp. 1-2):

[...] que mora no alojamento do Grêmio há 3 anos; que é jogador do Grêmio desde
2011; que era amigo de Josué Alan; que o depoente estava junto com Josué
no dia do acidente; que não lembra o dia da semana em que ocorreu o acidente;
que lembra que era mais ou menos 19h30min; que acha que era mês de outubro;
que depoente e Josué estavam saindo do apartamento de Josué, no bairro
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onde fica o estádio Olímpico, e estavam indo para o Petiscão, que é um


restaurante, que iam para aquele restaurante assistir ao jogo do Grêmio na
televisão; que na oportunidade, antes de atravessarem a rua, o depoente foi
acompanhar outro colega até uma parada de ônibus próxima e Josué e outro
colega foram atravessar a Rua; que no momento do acidente, o depoente
estava de costas e não viu o que aconteceu; que quando se virou, viu que o
outro colega estava chamando por socorro e aí o depoente atravessou a rua e
viu que Josué estava caído no chão e que um carro tinha batido em Josué,
mas não viu que carro, pois o trânsito continuava normal; que o depoente viu o
Josué caído na calçada e pediu para ninguém mexer em Josué e foi chamar a tia
Vanusa, mãe de Josué. Indagado pelo procurador do reclamante: que não havia
nenhuma orientação dentro do Grêmio para que fossem obrigados a assistir
ao jogo do Grêmio no Petiscão; que quem quisesse poderia assistir em casa,
mas não era obrigatório; que depoente e Josué nunca foram da mesma categoria;
que o depoente era da categoria sub14 e Josué, uma categoria abaixo; que o
depoente tem 18 anos; que não sabe informar se Josué recebia qualquer orientação
ou determinação do Grêmio para que assistisse aos jogos; que o depoente nunca
morou com Josué, mas como eram amigos, algumas vezes dormia no apartamento
de Josué e da mãe de Josué; que no dia do acidente, o depoente estava na casa de
Josué quando saíram juntos para ir ao Petiscão; [...]. (Grifa-se.)

Logo, o acidente que vitimou Josué Alan Drewanz não se deu enquanto ele prestava serviço para
os reclamados, tampouco no deslocamento entre a sua residência e o estabelecimento dos
contratantes, mas, enquanto se deslocava para um bar com amigos para assistir a um jogo de
futebol, o que não era exigido pelos reclamados, como ratifica o testemunho colhido nos autos,
não havendo como se atribuir aos demandados a responsabilidade pelo acidente ocorrido.
Ademais, o Ministério Público do Estado requereu o arquivamento do inquérito policial instaurado
para apurar o cometimento de eventual homicídio culposo pela condutora do veículo que atingiu o
filho da reclamante, o que foi acolhido pelo Juízo Cível, consignando que (Id d6fc8c1 - pp. 4-5):

[...]

Como visto, não há indicativos suficientes de que a condutora SABRINA DA SILVA


ALVES tenha incorrido em uma conduta imprudente, negligente ou imperita, uma
vez que trafegava de forma normal, quando veio a atropelar a vítima, que
intentou atravessar a via, repentina e distraidamente, mesmo com o sinal
semafórico desfavorável, e sem observar o fluxo de veículos, quebrando o
princípio da confiança.

[...]

Dessa forma, em que pese a gravidade do resultado - morte da vítima, menos de


idade - os elementos probatórios colhidos nos autos demonstram a
inexistência de uma conduta culposa por parte da condutora do veículo, a
qual não podia prever que o menor atravessaria a avenida sem observar o
fluxo de veículos, mesmo com o sinal semafórico desfavorável, correndo
entre os carros, 'brincando' com seus amigos. Assim, não se verifica tenha ela
deixado de observar o dever objetivo de cuidado que lhe era exigido, a caracterizar
a culpa, enquanto elemento subjetivo do tipo penal do artigo 302 da Lei nº 9.503/97.
(Grifa-se.)

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Sendo assim, além do acidente não ter ocorrido durante a prestação de serviço do de cujus aos
reclamados, tampouco no deslocamento entre a sua residência e o estabelecimento dos
contratantes, nos termos exigidos pela Lei nº 8.213/1991 para que se configure o acidente de
trabalho, as provas colhidas no referido inquérito policial demonstram que o infortúnio ocorreu por
culpa exclusiva da vítima, que atravessou a avenida de maneira repentina e distraída, mesmo com
o sinal semafórico desfavorável, e sem observar o fluxo de veículos. Desse modo, não há como
se estabelecer o nexo de causalidade entre o acidente ocorrido e a alegada ausência de medidas
preventivas por parte dos reclamados. E, considerando-se que a obrigação de indenizar, quer se
trate de dano moral, quer se trate de dano material, somente existe quando é demonstrado o nexo
de causalidade entre o dano e a ação ou a omissão do agente, cujo ilícito importe invasão da
esfera jurídica alheia, sem o consentimento do titular ou a autorização do ordenamento jurídico,
não há como se atribuir aos demandados responsabilidade subjetiva, ante a ausência dos
requisitos legais ensejadores do dever de reparação. Nada há a reformar na sentença de
improcedência e, diante disso, resta prejudicada a arguição do reclamado, nas contrarrazões, de
prescrição total desta ação, nos termos do art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, em razão de já
ter ultrapassado mais de dois anos da data do falecimento do filho da reclamante, ocorrido em
18.10.2013, e a data de propositura do presente feito, em 04.01.2016.

Nega-se, pois, provimento ao recurso ordinário da reclamante, restando prejudicada a arguição do


reclamado, nas contrarrazões, de prescrição total da presente ação.

III - PREQUESTIONAMENTO

Consideram-se prequestionados todos os dispositivos legais e entendimentos jurisprudenciais


invocados pelas partes, para todos os efeitos legais, conforme o disposto na Súmula nº 297, I, do
TST (Diz-se prequestionada a matéria ou questão quando na decisão impugnada haja sido
adotada, explicitamente, tese a respeito) e na OJ nº 118, da SDI-I, também do TST (Havendo tese
explícita sobre a matéria, na decisão recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa
do dispositivo legal para ter-se como prequestionado este).

CLEUSA REGINA HALFEN

Relator

VOTOS

PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:

DESEMBARGADORA CLEUSA REGINA HALFEN (RELATORA)

DESEMBARGADOR MARCELO GONÇALVES DE OLIVEIRA


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DESEMBARGADOR JANNEY CAMARGO BINA

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