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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2024.0000126303

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2327615-52.2023.8.26.0000, da Comarca de Jundiaí, em que é agravante
ORLANDO MENEGASSI, é agravado DORMER TOOLS S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 13ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:Deram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores NELSON JORGE


JÚNIOR (Presidente) E SIMÕES DE ALMEIDA.

São Paulo, 22 de fevereiro de 2024.

FRANCISCO GIAQUINTO
relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 42408


AGRV. Nº: 2327615-52.2023.8.26.0000
COMARCA: JUNDIAÍ
AGTE.: ORLANDO MENEGASSI
AGDA.: DORMER TOOLS S/A
INTDA.: LATINA COMERCIAL E IMPORTADORA LTDA EP

*AGRAVO DE INSTRUMENTO Execução de título


extrajudicial Decisão rejeitou impugnação à penhora de
valor bloqueado em conta bancária do executado
Jurisprudência do STJ com anotação de interpretação
extensiva do art. 833, X, do CPC, reconhecendo-se a
impenhorabilidade diversa da caderneta de poupança, até o
limite de 40 salários mínimos, alcançando também a conta
corrente ou fundo de investimento, ou guardados em papel-
moeda Valor penhorado não atinge o limite de 40 salários
mínimos Necessidade do desbloqueio do valor constrito
Recurso provido.*

Cuida-se de agravo de instrumento interposto de decisão de fls. 58


em execução de título extrajudicial movida pela agravada em face do agravante e outra, que
rejeitou impugnação à penhora de valores bloqueados em conta bancária do executado.

Agrava o executado, alegando que o valor penhorado é oriundo de


seu benefício previdenciário, verba protegida pela impenhorabilidade. Menciona previsão
do art. 833 do CPC, salientando pela impossibilidade de manutenção do bloqueio
determinado. Pugna pelo provimento do recurso.

Recurso que se processa com efeito suspensivo e respondido (fls.


73/78).

É o relatório.

VOTO.

Trata-se de agravo de instrumento de decisão em execução de título


extrajudicial movida pela agravada em face do agravante e outra, que rejeitou impugnação à
penhora de valores bloqueados em conta bancária do executado.

A agravada move execução de título extrajudicial face do agravante


e outra com base em instrumento particular de confissão de dívida, executando-se o valor de
R$354.610,33 (fls. 16/23).

Realizadas pesquisas Sisbajud foi bloqueada a quantia de R$


1.854,45, em conta bancária do agravante executado (fls. 29/36).

Agravo de Instrumento nº 2327615-52.2023.8.26.0000 - 42408 - M 2


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O executado agravante apresentou impugnação à penhora


postulando o desbloqueio da quantia, por se tratar de valor recebido de sua aposentadoria,
verba protegida pela impenhorabilidade prevista no art. 833 do CPC (fls. 37/41).

A decisão agravada rejeitou a impugnação à penhora sendo assim


fundamentada (fls. 58):

“Considerando os documentos ora juntados aos autos, DEFIRO


ao coexecutado ORLANDO MENEGASSI o benefício da gratuidade processual. Anote-se
e observe-se.
Trata-se de pedido de desbloqueio formulado pelo coexecutado em
que alega a impenhorabilidade do numerário por se tratar de benefício previdenciário.
A exequente manifestou-se requerendo o não acolhimento do
pedido.
Razão assiste à exequente.
Da análise dos extratos bancários juntados aos autos pelo
coexecutado, constata-se que a conta, objeto da constrição judicial, não se destina,
apenas, ao recebimento de seu benefício previdenciário.
Há vários créditos em referida conta que são de origem de pessoa
física, via PIX.
Logo, não sendo a conta corrente destinada apenas ao
recebimento de benefício previdenciário, INDEFIRO o pedido de desbloqueio, uma vez
que não comprovada a alegada impenhorabilidade.
Decorrido o prazo para recurso da presente decisão e desde que
apresentado o formulário próprio, expeça-se MLE em favor da exequente.
Sem prejuízo, requeira a exequente o que de direito em termos de
prosseguimento do feito.
No silêncio, aguarde-se provocação em arquivo.
Intime-se.”

Pelo meu voto dá-se provimento ao recurso.

Evidencia-se a impenhorabilidade dos valores bloqueados via


Sisbajud em conta bancária em nome do executado agravante, inviabilizando a manutenção
da penhora dos valores online constritos.

O art. 833, X, do CPC, prevê a impenhorabilidade de valores


depositados em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos.

A regra da impenhorabilidade visa garantir à parte meios de


subsistência, procurando proteger o mínimo necessário para a manutenção e subsistência do
devedor e sua família.

O STJ, em interpretação extensiva, reconhece a impossibilidade da


penhora de valores até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos existentes também em
conta corrente, fundos de investimento ou guardados em papel-moeda.

Sobre o tema, oportuna a transcrição de precedente do STJ

Agravo de Instrumento nº 2327615-52.2023.8.26.0000 - 42408 - M 3


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analisando a matéria à luz do Código de Processo Civil de 1973, de teor semelhante.


Salienta-se a alteração do posicionamento jurisprudencial sobre o tema, onde se reconheceu
que a proteção legal da pequena economia alcançava quantias encontradas em conta-
corrente, fundos de investimento ou mesmo armazenadas em papel-moeda.

A propósito confira-se:

“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL.


PENHORA DE SALÁRIO. ALCANCE. APLICAÇÃO FINANCEIRA. LIMITE DE
IMPENHORABILIDADE DO VALOR CORRESPONDENTE A 40 (QUARENTA)
SALÁRIOS MÍNIMOS.
1. A Segunda Seção pacificou o entendimento de que a remuneração protegida pela regra
da impenhorabilidade é a última percebida - a do último mês vencido - e, mesmo assim,
sem poder ultrapassar o teto constitucional referente à remuneração de Ministro do
Supremo Tribunal Federal. Após esse período, eventuais sobras perdem tal proteção.
2. É possível ao devedor poupar valores sob a regra da impenhorabilidade no patamar de
até quarenta salários mínimos, não apenas aqueles depositados em cadernetas de
poupança, mas também em conta-corrente ou em fundos de investimento, ou guardados
em papel-moeda.
3. Admite-se, para alcançar o patamar de quarenta salários mínimos, que o valor incida
em mais de uma aplicação financeira, desde que respeitado tal limite.
4. Embargos de divergência conhecidos e providos”. (Recurso Especial nº 1.330.567-RS,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, j. em 10.12.2014)

Não destoa a jurisprudência deste Tribunal:

“PENHORA - Execução - Decisão que indeferiu o desbloqueio pleiteado pela agravante -


Agravante que alega tratar-se de verba alimentar - Valores depositados em conta corrente
- Orientação recente do E. STJ - Proteção primitiva dada às cadernetas de poupança
estendida a outros depósitos - Desbloqueio de valores até o limite de 40 (quarenta)
salários mínimos - Art. 649, IV e X, do CPC/1973 e art. 833, X do CPC/2015 - Recurso
provido." (Agravo de Instrumento nº 2026636-13.2016.8.26.0000 Rel. Des. J. B. Franco de
Godoi, 23º Câmara de Direito Privado, j. em 27/04/2016);

BEM MÓVEL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL E REPETIÇÃO DE INDÉBITO.


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA. VALORES DEPOSITADOS EM
CONTA BANCÁRIA. ALEGAÇÃO DE IMPENHORABILIDADE, POR SE TRATAR DE
VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR. INCIDÊNCIA DO ARTIGO 833, X, DO
CPC-2015. AGRAVO PROVIDO. Segundo a orientação jurisprudencial da 2ª Seção do C.
Superior Tribunal de Justiça, a norma do artigo 649, X, do Código de Processo Civil de
1973 (que corresponde ao artigo 833, X, do CPC-2015) deve ser interpretada de forma
extensiva para se reconhecer que a impenhorabilidade no limite de até quarenta salários
mínimos compreende “não apenas os valores depositados em cadernetas de poupança,
mas também em conta-corrente ou em fundos de investimento, ou guardados em papel-
moeda”. Daí a impossibilidade de prevalecer a constrição. A penhora incidiu sobre valor
depositado em conta corrente bancária e alcançou montante inferior a esse limite; logo,
inadmissível a sua persistência”. (Agravo de Instrumento nº 2059365- 92.2016.8.26.0000
Rel. Des. Antonio Rigolin, 31º Câmara de Direito Privado, j. em 26/04/2016);

Agravo de Instrumento nº 2327615-52.2023.8.26.0000 - 42408 - M 4


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“Agravo de instrumento. Penhora/bloqueio online. Valor existente em conta corrente.


Orientação do E. STJ que acena para uma interpretação extensiva do inciso X do art. 649
do CPC, para alcançar modalidades de investimentos distintas da caderneta de poupança,
tendo em vista que a ratio legis da referida norma é proteger a pequena reserva
financeira do devedor de execuções que possam comprometer a sua subsistência e a de
sua família - Embargos de Divergência no RESP n. 1.330.567/RS. Valor constrito que
não excede o limite legal. Irrelevância que a quantia esteja depositada em caderneta de
poupança, conta corrente ou qualquer outro tipo de investimento, ressalvado eventual
abuso, fraude ou má-fé do devedor, não comprovados no caso em apreço.
Impenhorabilidade reconhecida. Recurso provido”. (Agravo de Instrumento nº
2254342-21.2015.8.26.0000, Rel. Des. Cauduro Padin, 13º Câmara de Direito Privado, j. em
11/01/2016).

Na hipótese, data vênia, a penhora on line atingiu quantia (R$


1.854,45) que se caracteriza também como pequena economia legalmente protegida,
constatando-se que o valor total constrito não atingiu a margem estabelecida no art. 833, X,
do CPC, inviabilizando a manutenção do bloqueio.

Ademais, não se evidencia as hipóteses de exceção à


impenhorabilidade de que trata o art. 833, §2º, CPC (penhora para pagamento da prestação
alimentícia ou de importância excedente a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, não
comportando acolhimento a constrição pretendida pela agravada.

Portanto, caso de reconhecer-se a impenhorabilidade do valor


bloqueado do agravante, sem tangenciar a natureza de tal verba.

Por tais fundamentos, dá-se provimento ao recurso.

FRANCISCO GIAQUINTO
RELATOR

Agravo de Instrumento nº 2327615-52.2023.8.26.0000 - 42408 - M 5

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