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2ª FASE CIVIL 35º EXAME

Direito Civil
Direito das Coisas

Prof.ª Maitê Damé


2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé

2ª FASE OAB | CIVIL | 35º EXAME

Direito das Coisas


Prof.ª Maitê Damé

SUMÁRIO

01. Direito das Coisas ............................................................................................ 3


1.1 Posse – conceito ............................................................................................. 3
1.2 Posse – teorias justificadoras .......................................................................... 3
1.3 Efeitos da posse ............................................................................................ 14
1.4 Aquisição derivada ........................................................................................ 45

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso
preparatório para a 2ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as
respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas
acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em junho de 2022.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé

01. Direito das Coisas

Prof.ª Maitê Damé


@maitedame

1.1 Posse – conceito

Existe muita discussão acerca do conceito de posse. Alguns entendem ser um mero fato e,
outros, entendem ser um direito (é o que a maioria da doutrina entende). Neste sentido, Tartuce 1
afirma que:

Nessa linha igualmente me posiciono doutrinariamente. Isso porque a posse pode ser
conceituada como sendo o domínio fático que a pessoa exerce sobre a coisa. A partir
dessa ideia, levando-se em conta a teoria tridimensional de Miguel Reale, pode-se afirmar
que a posse constitui um direito, com natureza jurídica especial. Como dito no capítulo
anterior, a posse é um conceito intermediário, entre os direitos pessoais e os direitos reais.
Mas esse caráter híbrido não tem o condão de gerar a conclusão de que não constitui um
direito propriamente dito.

A posse é, pois, o domínio físico que alguém tem sobre a coisa, que vem a ser protegido
pelo Direito, sendo, portanto, concedido efeitos jurídicos a este domínio. Segundo Loureiro 2,
posse “é o exercício, em nome próprio, das prerrogativas inerentes a um direito real”, “é o
exercício de fato de um dos poderes inerentes à propriedade”. Assim, é domínio físico/fático
sobre a coisa, mas também direito, pois assim a lei reconhece.

1.2. Posse – teorias justificadoras

O conceito de posse vem explicado por duas grandes teorias justificadoras: a teoria
subjetivista de Savigny e a teoria objetivista de Jhering.

1
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 32. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
2
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 761.

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* Para todos verem: esquema

Teoria subjetivista ou subjetiva – corpus + animus domni:

• para esta teoria, a posse seria o poder físico sobre a coisa (corpus) e a vontade de
ser dono desta coisa (animus domni), ou seja, de ter a coisa para si próprio. No
exemplo da locação, o locatário de um imóvel tem o poder físico sobre a coisa, mas
não a intenção de tê-la para si.

Teoria objetivista – corpus:

• para esta teoria, a posse seria a disposição física da coisa, ou seja, o poder
físico/fático sobre a coisa, dispensando o “animus domni”, mas agindo, o agente,
com o intuito de explorar a coisa de forma econômica. Esta é a teoria adotada pelo
Brasil, pois o art. 1.196, CC, ao tratar da posse, prevê: “Considera-se possuidor todo
aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade”.

1.2.1 Posse x detenção

Necessário se faz, compreender o conceito de detenção, pois ele difere-se do conceito de


posse. Na posse, o sujeito que possui o domínio físico da coisa age como se dono fosse, pois
objetiva ter a coisa para si. Já na detenção, embora tenha o domínio físico da coisa, o sujeito
sabe que a coisa não é sua e pretende devolvê-la após o uso.
O art. 1.198, CC prevê que “considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de
dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas”. Assim o detentor tem a coisa em razão de uma situação de dependência
econômica ou de subordinação. Ex.: o capataz da fazenda tem a detenção do imóvel,
conservando a posse em nome do proprietário, em cumprimento de suas obrigações.
Tartuce3 ainda traz como exemplo de detenção, a situação de alguém que deixa seu carro
em um estacionamento. Nesta situação, a empresa, proprietária do estacionamento detém a
posse do veículo, em razão do contrato firmado entre o proprietário e o estacionamento (mesmo
que verbal). Já o manobrista (funcionário do estacionamento), este tem detenção do veículo, pois
exerce a posse em nome do estacionamento.
O detentor exerce a posse em nome de outrem. A ele, em nome próprio, não é permitido
exercer as ações possessórias, mas ele pode exercer o direito de defesa da posse alheira, por

3
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 40. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

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meio da autotutela4, nos termos do enunciado 493 das Jornadas de Direito Civil: “O detentor (art.
1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu
poder” (Enunciado n. 493).
Mas é possível transformar a detenção em posse, desde que rompida a subordinação,
conforme entendimento do enunciado n. 301 das Jornadas de Direito Civil: “É possível a
conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício
em nome próprio dos atos possessórios”.
O STJ tem entendimento firmado de que a ocupação indevida de bem público também se
configura em detenção: “Súmula 619, STJ. A ocupação indevida de bem público configura mera
detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e
benfeitorias”.
O mesmo Tribunal decidiu que no caso de um proprietário que deixa seu veículo na
concessionária para a realização de reparos, que a concessionária é detentora do bem, não
detendo sua posse e, com isto, não podendo retê-lo em caso de falta de pagamento pelo serviço
prestado. O STJ entendeu que a concessionária tem a detenção do veículo, que “ficou sob sua
custódia por determinação e liberalidade da proprietária, em uma espécie de vínculo de
subordinação” (STJ, REsp 1.628.385/ES, 3.ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j.
22.08.2017, DJe 29.08.2017).

3. Posse – classificação

Estudar a classificação da posse é importante em razão dos efeitos desta posse, pois,
conforme for ela de boa ou má-fé, justa ou injusta, direta ou indireta, serão os efeitos advindos
daí.

1.2.2 Posse direta e posse indireta – art. 1.197, CC


Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em
virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida,
podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

4
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 37. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

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* Para todos verem: esquema

A posse indireta é aquela exercida


A posse direta é aquela em que o através de outra pessoa. Trata-se
sujeito tem o controle material, de uma concessão, geralmente por
físico e imediato do bem. parte do proprietário, para que
Ex.: o locatário, no contrato de terceiro exerça a posse direta.
locação, exerce a posse direta do Ex.: o locador, no contrato de
imóvel, com autorização do locação, exerce a posse indireta do
locador. imóvel, e o locatário, a posse
direta.

Essas duas posses são coexistentes, ou seja, uma não anula a outra (art. 1.197, CC) e
ambas podem ser tuteladas.
Ex.: possuidor indireto (locador) pode utilizar-se dos interditos proibitórios para defesa de
seu direito contra terceiros, mas não pode exercer contra o possuidor direto (locatário), pois este
último exerce a posse em razão de um contrato (uma relação pessoal)5.
Ex.: o possuidor direto (locatário) pode exercer sua posse contra terceiros e, também,
contra o possuidor indireto, mesmo que este seja proprietário do imóvel.

1.2.3 Composse – art. 1.199, CC

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.

A composse ocorre quando existir uma posse comum sobre uma coisa, isto é, quando
duas ou mais pessoas possuírem o domínio fático da coisa. Neste caso, há um condomínio de
posse e este pode ser derivado da herança ou de ato inter vivos (contrato).
Cada compossuidor pode usar a coisa e exercer direitos possessórios contra terceiros, mas
não pode impedir que os demais compossuidores também a utilizem. Assim, tem-se como
exemplo a situação dos herdeiros, que, pela transmissão da herança (princípio da saisine)
recebem os bens que compõe o acervo hereditário como um todo unitário e indivisível (art. 1.791,
CC). Os herdeiros são compossuidores dos bens da herança. Podem usá-los durante o período

5
No caso de inadimplemento dos valores de aluguel, por exemplo, a ação cabível não é reintegração de posse,
mas sim, ação de despejo por falta de pagamento. Lembre-se que a posse direta é oriunda de um contrato de
locação.

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da indivisão (do óbito até a efetivação a partilha), mas não podem impedir que os outros herdeiros
também os usem.
O STJ decidiu em 2010 que os herdeiros podem manejar as possessórias, uns contra os
outros, sempre que houver turbação ou esbulho da posse de um dos herdeiros por parte dos
outros.
Princípio saisine. Reintegração. Composse. Cinge-se a questão em saber se o
compossuidor que recebe a posse em razão do princípio saisine tem direito à
proteção possessória contra outro compossuidor. Inicialmente, esclareceu o Min.
Relator que, entre os modos de aquisição de posse, encontra-se o ex lege, visto que, não
obstante a caracterização da posse como poder fático sobre a coisa, o ordenamento
jurídico reconhece, também, a obtenção desse direito pela ocorrência de fato jurídico – a
morte do autor da herança –, em virtude do princípio da saisine, que confere a transmissão
da posse, ainda que indireta, aos herdeiros independentemente de qualquer outra
circunstância. Desse modo, pelo mencionado princípio, verifica-se a transmissão da posse
(seja ela direta ou indireta) aos autores e aos réus da demanda, caracterizando, assim, a
titularidade do direito possessório a ambas as partes. No caso, há composse do bem
em litígio, motivo pelo qual a posse de qualquer um deles pode ser defendida todas
as vezes em que for molestada por estranhos à relação possessória ou, ainda,
contra ataques advindos de outros compossuidores. In casu, a posse transmitida é a
civil (art. 1.572 do CC/1916), e não a posse natural (art. 485 do CC/1916). Existindo
composse sobre o bem litigioso em razão do droit de saisine é direito do
compossuidor esbulhado o manejo de ação de reintegração de posse, uma vez que
a proteção à posse molestada não exige o efetivo exercício do poder fático – requisito
exigido pelo tribunal de origem. O exercício fático da posse não encontra amparo no
ordenamento jurídico, pois é indubitável que o herdeiro tem posse (mesmo que indireta)
dos bens da herança, independentemente da prática de qualquer outro ato, visto que a
transmissão da posse dá-se ope legis, motivo pelo qual lhe assiste o direito à proteção
possessória contra eventuais atos de turbação ou esbulho. Isso posto, a Turma deu
provimento ao recurso para julgar procedente a ação de reintegração de posse, a
fim de restituir aos autores da ação a composse da área recebida por herança.
Precedente citado: REsp 136.922-TO, DJ 16.03.1998” (STJ, REsp 537.363/RS, Rel. Min.
Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJRS), j. 20.04.2010).

A composse pode ser pro diviso ou pro indiviso. Quando os compossuidores possuírem
apenas uma fração ideal da posse, esta composse será pro indiviso, como no caso dos
herdeiros sobre os bens da herança, onde todos os herdeiros são detentores da posse sobre
uma fração ideal da coisa. No caso em que os compossuidores sabem, no plano fático, a parte
da coisa sobre a qual exercem a posse, está-se diante da composse pro diviso, como no caso
de dois sujeitos que exercem a posse sobre um terreno grande, um deles, na parte da frente e,
o outro, na parte dos fundos, havendo uma cerca que divide o terreno ao meio. Neste caso,
embora ambos exerçam a posse sobre o terreno, cada um está sobre uma porção real do imóvel.

1.2.4 Posse justa e injusta – art. 1.200, CC

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Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

A posse justa, conforme a redação do art. 1200, CC é aquela que não for violenta,
clandestina ou precária, ou seja, ela não ofende a previsão legal, tendo sido adquirida de forma
legítima e merecendo proteção legal. Trata-se de uma posse limpa.
A posse injusta, é aquela obtida de forma violenta, clandestina ou precária, de forma que
sua aquisição tenha sido ilícita, ou seja, viciada por ter sido adquirida por violação da lei. Assim,
a posse violenta é a retirada da coisa do antigo possuidor contra a sua vontade, “obtida por
meio de esbulho, for força física ou violência moral”6. A posse precária é aquela adquirida a
partir do abuso de confiança ou do abuso de direito, que resulta da “retenção indevida da coisa
que deve ser devolvida ao seu possuidor indireto”7. Por fim, a posse clandestina é aquela obtida
de forma oculta, às escondidas (não pública).
Os vícios (posse injusta) estão ligados ao momento de sua aquisição, de forma que até
podem deixar de existir.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.

Contudo, há entendimento que, mesmo nestes casos, a posse não deixa de ser injusta,
pois sua origem derivou de uma forma contrária a lei.

1.2.5 Posse de boa e má-fé – art. 1.201, CC

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que


impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé,
salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.

A posse de boa-fé é aquela na qual o possuidor acredita ser proprietário da coisa, por
ignorar existência de vício que impeça a aquisição da mesma. A boa-fé é do possuidor que, no
momento da aquisição da coisa não sabia que estava lesando o direito de alguém, ou seja, o

6
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 45. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
7
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 771.

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possuidor não tinha ideia de que existisse algum obstáculo que impedisse que ele viesse a
adquirir a propriedade da coisa.
A doutrina afirma que a boa-fé implica um “desconhecimento não culposo”, isto é, se o
indivíduo, na aquisição, recebeu a posse por um justo título, sem saber da existência de um
defeito que impedisse a aquisição da propriedade. Neste aspecto, Tartuce 8 afirma que:

[...] o possuidor de boa-fé é aquele que ignora os vícios que inquinam sua posse. Esses
vícios podem ser os da violência, os da clandestinidade ou os da precariedade, mas não
necessariamente, ou seja, os vícios estão presentes, mas são por ele desconhecidos. Daí, sua
ausência de consciência significar boa-fé subjetiva.

Assim, a existência de um justo título, pela redação do art. 1.201, parágrafo único, presume
a boa-fé (um contrato de promessa de compra e venda, uma cessão de direitos possessórios,
etc.). O enunciado 312 das Jornadas de Direito Civil traduz esta situação: “Pode ser considerado
justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad usucapionem,
observado o disposto no art. 113 do Código Civil”. Ainda, o enunciado 313 das Jornadas de
Direito Civil traz a previsão do instrumento de cessão de direitos como sendo justo título, embora
não exista a necessidade de estar a transmissão materializada por instrumento:

Considera-se justo título, para a presunção relativa da boa-fé do possuidor, o justo motivo
que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em
instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse.

Contudo, se ele não observou os deveres de cuidado que uma pessoa normal deveria ter,
se ele foi negligente quanto a aquisição da coisa, equipara-se a posse de má-fé. De má-fé é,
também, a posse em que o indivíduo sabia que sua conduta, ao adquirir a coisa, violava direito
de outrem, pois ele tinha consciência de sua conduta.
A posse de boa-fé pode transformar-se em posse de má-fé a partir do momento em que o
possuidor toma ciência do vício ou que possui a coisa indevidamente.

8
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 53. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

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Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em
que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente.

Assim, se o indivíduo sabe da existência de vício ou obstáculo à aquisição da propriedade


da coisa, sua posse torna-se de má-fé.
De se observar que a boa-fé é presumida, cabendo a parte contrária fazer prova da
existência de má-fé por parte do possuidor.
Por fim, pode-se dizer que a posse de má-fé é aquela em que o indivíduo sabe da
existência do vício, mas, ainda assim, toma a coisa para si, passando a exercer o domínio fático
sobre esta. Este possuidor não tem um justo título.

1.2.6 Posse com título e sem título

A posse com título é aquela na qual a transmissão da posse se deu, de um indivíduo para outro,
baseada em uma causa representativa, especialmente por um documento. De se observar que não se
exige a formalização deste documento, mas sim a existência de uma causa representativa da
transmissão da posse.

A posse sem título é quando inexiste (ou aparentemente não existe) esta causa representativa de
transmissão do domínio. Ex.: alguém que encontra uma faca com cabo de prata e ouro no meio do
campo e toma posse dela. O indivíduo não tinha a intenção de encontrar a faca, e, neste caso, não
havendo uma vontade relevante para que se perfectibilize o ato, torna este como um ato-fato jurídico
(não há uma vontade juridicamente relevante para a existência do ato).

1.2.7 Posse nova e posse velha

Esta classificação da posse, em razão do tempo de exercício, traz efeitos processuais, pelo
uso ou não, do procedimento previsto no art. 558 e seguintes do CPC/2015.

Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as


normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia
da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento,
não perdendo, contudo, o caráter possessório.

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A posse nova é aquela que conta com menos de ano e dia, ou seja, é a posse de até um
ano.
A posse velha é que possui, pelo menos, um ano e um dia.

1.2.8 Aquisição e transmissão da posse

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o


exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

A aquisição da posse ocorre no momento em que os poderes inerentes à propriedade


passam a ser exercidos pelo possuidor. Esta aquisição pode se dar de forma originária, quando
não houver qualquer vinculação entre a posse atual e a anterior, ou derivada, quando existir
uma transmissão da posse pelo antigo possuidor ao atual.
Importante observar que na aquisição derivada, a posse é transmitida nos mesmos moldes
em que foi adquirida pelo antigo possuidor:

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os


mesmos caracteres.

Significa dizer, então, que se a aquisição da posse se deu de forma viciada, os vícios
também são transmitidos ao atual possuidor, mesmo que ele esteja de boa-fé. Donizetti e
Quintella9 apresentam o seguinte exemplo:

Silvio, que havia furtado a coisa, vende-a a Helena. A posse de Silvio era injusta
(clandestina) e, por mais que Helena se torne possuidora de boa-fé, por desconhecer o
defeito da posse que lhe foi transmitida, terá posse injusta.

Assim, salvo prova em contrário, a posse mantém o mesmo caráter com o qual foi adquirida
(art. 1.203, CC).

1.2.9 Apossamento

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A aquisição originária ocorre pelo apossamento ou ocupação, quando o sujeito assume o


controle, o domínio fático da coisa.
Ex.: alguém que encontra um celular no lixo. Trata-se de um apossamento, pois o sujeito
adquire a posse daquela coisa de forma originária.
O apossamento também pode ocorrer pelo esbulho, quando alguém toma para si a coisa,
apoderando-se dela e retirando do domínio fático de outrem.

1.2.10 Tradição

A aquisição derivada ocorre pela tradição, ou seja, quando o antigo possuidor transmite ao
atual possuidor o domínio fático da coisa. A tradição independe de existência de documento
escrito transferindo a coisa, bastando a conduta de entregar (antigo possuidor) e receber (atual
possuidor) a coisa.
A tradição pode ser real – quando há a efetiva entrega da coisa pelo antigo possuidor –,
simbólica – quando a transmissão não é da coisa em si, mas de algo que represente a coisa
(chaves de um imóvel, por exemplo) – ou ficta – é a que ocorre por presunção, pela transmissão
de um documento, sem que exista qualquer contato com a coisa (inquilino que adquire, por
compra e venda, a propriedade do imóvel em que reside).

1.2.11 Constituto possessório

Trata-se de uma forma de aquisição derivada, pelo modo simbólico, pois a coisa não é
entregue de forma física, apenas simbólica, mas a posse é transmitida. Ocorre o constituto
possessório quando houver uma cláusula de convenção, pela qual o cedente, ainda que
transmita a coisa, permanece na posse dela, como possuidor, em nome do adquirente.
Ex.: o proprietário de um apartamento vende o imóvel, mas segue alugando o mesmo do
novo proprietário.

1.2.12 Quem pode adquirir a posse

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Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:


I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

A posse pode ser adquirida: pela própria pessoa e, neste caso, ocorrer diretamente ou por
seu representante; ou por terceiro, sem mandato de representação, dependendo, neste último
caso, de ratificação do ato por parte da pessoa em nome de quem se adquire.
A partir daí, verifica-se que o representante legal ou convencional da parte não é possuidor
da coisa, mas mero detentor (art. 1.198, CC).

1.2.13 Transmissão sucessória da posse

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os


mesmos caracteres.
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao
sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.

Uma vez que tenha ocorrido a morte, abre-se a sucessão e a herança é transmitida aos
herdeiros como um todo unitário e indivisível (princípio da saisine). Assim, na sucessão, quando
se está diante de uma sucessão a título universal, existe uma continuidade na posse, por parte
dos sucessores com relação ao falecido10. A posse é a mesma, transmitindo-se com todos os
vícios ou qualidades, ou seja, não se trata de nova posse, mas a mesma exercida pelo
antecessor.
Já na aquisição a título singular, o novo possuidor pode escolher entre continuar o tempo
da posse do antecessor ou iniciar nova posse. Ex.: aquele que adquire um imóvel por compra e
venda pode optar por somar sua posse à posse do antecessor/vendedor ou, então, zerar a
contagem e iniciar novo prazo de posse. De toda forma, a transmissão da posse ocorre com as
mesmas características anteriores.

10
Aqui vale observar que, tanto na sucessão legítima, quanto na sucessão testamentária (mesmo no caso do
legado que é sucessão a título singular), o sucessor continua a posse do falecido.

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1.2.4 Atos que não induzem posse

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.

Os atos de permissão ou tolerância não induzem posse. Este é o caso do detentor, que
conserva a posse em nome do dono (art. 1.198, CC).
De igual forma, os atos clandestinos ou violentos não autorizam a aquisição da posse.
Significa que nos casos de conflitos de terra, por exemplo, em que haja a tomada violenta da
posse da área, estes não poderão adquirir a posse, em razão da violência do ato. Contudo,
depois que cessar a violência ou a clandestinidade poderão eles adquirir a posse.
Assim, a proteção liminar nas ações possessórias, havendo violência e clandestinidade, só
ocorre quando estas datarem de menos de ano e dia, nos termos do art. 558, CPC/2015.

1.3. Efeitos da posse

O Código Civil estabelece, dos arts. 1.210 ao 1.222 os efeitos da posse. Tais efeitos podem
ser de ordem material ou processual.
Os efeitos materiais dizem respeito a percepção dos frutos e suas consequências, ao
direito a indenização e retenção das benfeitorias, as responsabilidades e ao direito de usucapião.
Já os efeitos processuais dizem respeito a possibilidade de utilização dos interditos
possessórios, as ações possessórias e a legítima defesa da posse e do desforço imediato.

1.3.1 Percepção dos frutos

Quanto a percepção dos frutos, deve-se, por primeiro, considerar se a posse é de boa ou
má-fé. Assim, o Código Civil prevê os seguintes dispositivos quanto ao recebimento (ou não) dos
frutos.

Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser
também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

14
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo


que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e
percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o
momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e
custeio.

O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos (colhidos). Já os frutos pendentes
(ainda não colhidos) devem ser restituídos, assim como aqueles que tenham sido colhidos por
antecipação. Já o possuidor de má-fé deve devolver todos os frutos colhidos ou pendentes, bem
como aqueles que deixou de colher por culpa sua (art. 1.216, CC), devendo, neste último caso,
ser responsabilizado no caso de perecimento dos frutos não colhidos por sua culpa (reparação
de danos – responsabilidade civil). Mas tem direito, o possuidor de má-fé a ser indenizado pelas
despesas de produção e custeio.
Os frutos naturais são aqueles provenientes da coisa principal (frutas, por exemplo). Estes,
tão logo sejam separados da coisa principal consideram-se colhidos.
Os frutos industriais são aqueles que derivam de uma atividade humana (tudo o que venha
a ser produzido em uma fábrica, por exemplo). Estes, assim, como os naturais, logo após
separados consideram-se colhidos.
Os frutos civis derivam de uma relação jurídica ou econômica (rendimentos de aplicações
financeiras, aluguel de imóveis, por exemplo). Estes são percebidos na data prevista para
vencimento do aluguel ou do “aniversário” da aplicação financeira.

1.3.2 Retenção e indenização das benfeitorias

Conforme estudado na parte geral, as benfeitorias são acessórios que se agregam a coisa
principal, ou seja, obras artificiais, realizadas pelo homem, na estrutura da coisa principal – já
existente – com o propósito de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. Estas benfeitorias podem
ser classificadas em necessárias, úteis e voluptuárias11.

11
São necessárias as benfeitorias realizadas para evitar um estrago iminente ou deterioração da coisa principal
(reparos realizados na viga; troca do telhado). São úteis aquelas realizadas com o objetivo de facilitar a utilização
da coisa (abertura de uma nova entrada para servir de garagem para a casa). São voluptuárias aquelas feitas para
o mero prazer, sem aumento da utilidade da coisa (decoração do jardim). Art. 96, CC.

15
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Quanto a relação entre o exercício da posse e as benfeitorias, os arts. 1.219 a 1.222, CC


também consideram a existência de uma posse de boa ou má-fé para autorizar (ou não) a
indenização e a retenção das benfeitorias:

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias


necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a
levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias
necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o
de levantar as voluptuárias.
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao
ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-
fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-
fé indenizará pelo valor atual.

Abaixo, um resumo, da relação entre as benfeitorias e a posse:

Benfeitorias necessárias.

• O possuidor de boa-fé tem direito a ser indenizado quanto a estas benfeitorias


(pelo valor atual) ou exercer o direito de retenção pelo valor delas. O possuidor
de má-fé tem direito de ser ressarcido apenas quanto a estas benfeitorias
(aquele que tiver o dever de indenizar tem direito de optar entre o valor atual da
coisa e o custo dela), não possuindo direito de retenção.

Benfeitorias úteis.

• O possuidor de boa-fé tem direito a ser indenizado quanto a estas benfeitorias


(pelo valor atual) ou exercer o direito de retenção pelo valor delas.

Benfeitorias voluptuárias.

• O possuidor de boa-fé tem direito a ser indenizado quanto a estas benfeitorias


ou de retirá-las, desde que não haja detrimento da coisa (que não haja a
desvalorização do imóvel, por exemplo), caso não lhes sejam pagas. O
possuidor de má-fé não tem direito a levantar as benfeitorias voluptuárias.

1.3.3 Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa

Os arts. 1.217 e 1.218, CC tratam da responsabilidade do possuidor com relação a perda


ou deterioração da coisa:

16
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Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa,
a que não der causa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa,
ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela
na posse do reivindicante.

Pela redação dos dispositivos, percebe-se que essa responsabilidade é somente do


possuidor de má-fé, que deverá indenizar o proprietário em razão da perda ou da deterioração
da coisa, mesmo que acidentais. Essa responsabilidade somente será afastada havendo prova
de que a perda ou deterioração ocorreria mesmo que a coisa estivesse na posse do reivindicante
(art. 1.218, 2ª parte).
Ex.: João se apossa do cavalo de Pedro. Neste caso, se o cavalo morrer na posse de João
por ter ingerido veneno, ele deverá indenizar a Pedro. Contudo, se a morte do animal ocorrer por
uma doença cardíaca grave, ou seja, mesmo que estivesse na posse de Pedro ele morreria, não
terá João o dever de indenizar. CUIDADO, pois, neste caso, depende de PROVA!

1.3.4 Usucapião

O principal efeito da posse é o direito de usucapião, ou seja, o exercício de posse de uma


coisa por certo tempo gera a chamada prescrição aquisitiva, que dá direito ao titular a pleitear a
propriedade da coisa através da pretensão de usucapião.

1.3.5 Proteção possessória

Dentro dos efeitos da posse encontra-se a possibilidade que o possuidor tem de se utilizar
das ações possessórias (ou interditos possessórios) para proteção e defesa de sua posse.
Importante observar que as ações possessórias tanto podem ser exercidas pelo proprietário
detentor da posse, como também por aquele que, embora não tenha a propriedade, se encontra
na posse da coisa.
Quanto a proteção possessória, o CC prevê os seguintes dispositivos:

17
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Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação,
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de
ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua
própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não
podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade,
ou de outro direito sobre a coisa.
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á
provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma
das outras por modo vicioso.
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra
o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.
Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às servidões não
aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio
serviente, ou daqueles de quem este o houve.

De se observar, contudo, que, em se tratando de ações, a parte de procedimento está


tratada no CPC (art. 554 e seguintes).
Assim, conforme a situação, é permitido ao possuidor defender sua posse, derivando daí
os nomes defesa em sentido estrito (evitar o incômodo da posse – turbação) e desforço imediato
(para recuperar a posse – esbulho). Assim, nascem as três principais ações possessórias: 12

Interdito proibitório

•Caso de ameaça ou risco ao exercício da posse do titular. Proteção de


perigo iminente.

Ação de manutenção de posse

•Caso de turbação ou perturbação à posse, ou seja, houve um atentado à


posse, mas sem retirá-la do possuidor. Preservação da posse.

Ação de reintegração de posse

•Caso de esbulho ou retirada da posse, quando o atentado se concretiza e o


possuidor é destituído da sua posse. Devolução da posse. Cabível sempre
que houver invasão, mesmo que parcial, do imóvel.

12
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 72. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

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Estas diferenciações são fundamentais para fins de exame da OAB, mas, processualmente
falando, existe o princípio da fungibilidade e da instrumentalidade das formas, ou seja, mesmo
que se ingresse com uma ação de manutenção e a ação adequada seja a de reintegração, será
processada (art. 554, CPC).

Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que
o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de
pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no
local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do
Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência
econômica, da Defensoria Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os
ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem
encontrados.
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação
prevista no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-
se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do
conflito e de outros meios.

Havendo várias pessoas no polo passivo das possessórias, será procedida citação pessoal
dos ocupantes encontrados no local e por edital dos demais. Haverá intimação do Ministério
Público e, caso envolva pessoas em situação de hipossuficiência econômica (como nos casos
de invasões de terras). Nestes casos, ainda, o juiz determinará a publicidade da existência da
ação e dos prazos processuais através de jornais, rádios, publicação em meio digital (no site do
Tribunal, por exemplo).
Importante, ainda, considerar que as ações possessórias adotarão o procedimento
especial, previsto no art. 554 e seguintes do CPC sempre que se tratar de ação de força nova
(art. 558, CPC). Considera-se de força nova as possessórias ingressadas dentro do prazo de
ano e dia (lembre-se da diferença entre posse nova e posse velha), cabendo medida liminar. Se
a posse for de mais de ano e dia, considera-se a possessória de força velha e, neste caso, não
cabe a respectiva liminar e deve-se utilizar o procedimento comum. Merece, ainda, destaque, a
previsão do art. 565, CPC, que permite a concessão de medida liminar, nas ações possessórias
coletivas, desde que realizada previamente uma audiência de conciliação.
Nas ações possessórias que tramitem pelo procedimento especial (de força nova), é
admitido cumulação de pedidos (art. 555, CPC) e, ainda, que seja imposta medida para evitar

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nova turbação ou esbulho ou cumprir a tutela provisória ou final (podendo ser requerida multa,
portanto):

Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:


I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e
adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.

As possessórias de força nova, que adotam o procedimento especial, possuem natureza


dúplice, permitindo ao réu de qualquer ação possessória que, em contestação, apresente pedido
contraposto, alegando que sofreu ofensa a sua posse, demandar a proteção desta e indenização
pelos prejuízos sofridos. Tartuce13 entende ser desnecessária a propositura de reconvenção
neste caso:

Esse pedido contraposto pode ser de proibição, de manutenção ou mesmo de


reintegração da posse em seu favor. Portanto, está totalmente dispensada a necessidade de
uma reconvenção para a aplicação das medidas previstas no art. 555 do Estatuto Processual em
vigor, entendimento que sempre prevaleceu quanto ao art. 922 do CPC/1973.

Nas ações possessórias não se permite propor ação de reconhecimento de domínio, salvo
contra terceira pessoa (art. 557, CPC). Se o réu provar a falta de idoneidade financeira do autor
para eventual sucumbência ou responsabilidade pelos danos, nos casos de manutenção ou
reintegração de posse, o juiz lhe concederá prazo de 5 dias para prestar caução, sob pena de
depósito da coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte hipossuficiente (art. 559, CPC).
Ainda, importante é a possibilidade prevista no art. 1.210, § 1º, CC, que permite a legítima
defesa da posse e o desforço imediato, como formas de autotutela ou autodefesa. Quando

13
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 80. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

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houver ameaça ou turbação viável a legítima defesa da posse. Havendo esbulho, cabe o
desforço imediato. Para que esses institutos possam ser utilizados, deve-se ter uma defesa
imediata, que o possuidor, ao agir, deve fazer dentro do limite do indispensável para
retomar/recuperar sua posse, evitando-se qualquer tipo de abuso. São considerados como
parâmetro o fim social e econômico, a boa fé objetiva e os bons costumes.
Contudo, sendo o caso de judicializar a demanda que discute a posse, o CPC, além das
disposições gerais quanto as ações possessórias, ainda apresenta disposições específicas para
cada as ações de manutenção e reintegração de posse e interdito proibitório.

Ações possessórias
Além das três típicas ações possessórias: manutenção e reintegração de posse e interdito
proibitório, existem outras formas de proteção da posse, o que será discutido neste item.

Reintegração de posse

A ação de reintegração de posse tem lugar quando a posse de alguém for esbulhada, ou
seja, quando de forma violenta, precária ou clandestina alguém retira a posse de outrem.
Os arts. 560 a 566, CPC fundamentam a ação de manutenção e reintegração de posse
para as ações de posse nova, ou seja, com menos de ano e dia. As ações de posse velha, com
mais de ano e dia, devem ser propostas pelo procedimento comum.
Segundo o art. 561, CPC o autor, na inicial, deve provar sua posse, o esbulho ou turbação
praticados, bem como a data em que ocorreu e a perda ou continuação da posse, embora
turbada. Recebendo a inicial e estando devidamente instruída, o juiz deferirá a liminar de
manutenção ou reintegração de posse independentemente da oitiva do réu. Não havendo a
devida instrução, o réu será citado para a audiência de justificação da posse, onde o autor deverá
prove/justifique a alegação de turbação ou esbulho (art. 562, CPC) e, considerando suficiente,
expedirá o mandado de manutenção ou reintegração (art. 563, CPC). Contra as pessoas jurídicas
de direito público não serão deferidas as liminares de reintegração e manutenção sem prévia
audiência.

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Independentemente de concessão da liminar, o autor deverá promover a citação do réu no


prazo de 5 dias, com prazo de contestação de 15 dias. No caso de audiência de justificação
prévia, o prazo de contestação conta da intimação da decisão que defere ou não a liminar.
Nos litígios coletivos de posse, quando a turbação ou o esbulho tiver ocorrido há mais de
ano e dia, o juiz deverá, primeiro, designar audiência de mediação, a ser realizada no prazo de
30 dias.
Além destas disposições específicas, devem ser observadas as disposições gerais sobre
as ações possessórias, previstas nos arts. 554 a 559, CPC.

Manutenção de posse

A ação de manutenção de posse tem lugar quando a posse de alguém for turbada, ou seja,
quando há um incômodo da posse. Significa que o possuidor segue exercendo a posse, mas
alguém está lhe importunando, incomodando no exercício desta posse.
Em termos de procedimento, devem ser analisados, tanto os arts. 560 a 566, CPC, os quais
fundamentam tanto a ação de manutenção, quanto a de reintegração de posse, para as ações
de posse nova (neste sentido, observar o que foi descrito no item relativo a reintegração de
posse). Além destas disposições específicas, devem ser observadas as disposições gerais sobre
as ações possessórias, previstas nos arts. 554 a 559, CPC.

Interdito proibitório

O interdito proibitório visa impedir a turbação ou o esbulho da posse. Utilizada quando


houver uma ameaça a posse, tendo como pedido principal uma abstenção (não atentar contra a
posse), ou seja, uma obrigação de não fazer, sob pena de incidência de multa (art. 567, CPC).

Nunciação de obra nova

A nunciação de obra nova, apesar de não prevista no CPC/2015 é uma ação que visa
impedir a continuação de obras no terreno vizinho que prejudiquem o possuidor ou proprietário
de uma coisa. Ex.: vizinho que inicia a construção de um muro fora do lugar, invadindo o terreno
alheio em alguns metros.

22
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Trata-se de ação possessória que adota o procedimento comum e, portanto, eventual


liminar deve observar os requisitos de concessão de tutela de urgência.

Ação de dano infecto

A ação de dano infecto visa prevenir que o vizinho que está demolindo seu prédio ou em
que haja um vício de construção, cause prejuízo ao autor. Visa uma espécie de caução por
eventuais danos futuros. Pouco usada na prática.
Segue o procedimento comum.

Embargos de terceiro

Os embargos de terceiro podem ser utilizados para a defesa da posse ou da propriedade


naquelas situações de turbação ou esbulho ocorridos via judicial (arresto, sequestro, penhora,
etc) e manejados por aqueles que não sejam parte no processo. Esta ação é de procedimento
especial dos arts. 674 a 681, CPC (neste aspecto, sugere-se a análise específica deste
procedimento especial).

Ação de imissão de posse

A ação de imissão de posse deve ser manejada por aquele que pretenda ingressar na
posse de um bem que nunca teve. Trata-se de uma ação petitória e não possessória.
Geralmente, decorre do direito de propriedade. Ex.: alguém que adquire em uma alienação
judicial um imóvel e não consegue tomar posse.

Ação publiciana

A ação publiciana também é uma ação petitória, que se fundamenta no domínio. Também
segue procedimento comum do CPC.

Perda da posse

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A perda da posse ocorre quando alguém deixa de agir como se dono/proprietário fosse.

Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor,
o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la,
é violentamente repelido.

A perda pode ocorrer de várias formas, mas quatro delas são as principais: derrelicção, ou
abandono voluntário da coisa; tradição, que é quando há a transmissão voluntária da posse a
terceiro; esbulho, que é quando a posse é tomada/subtraída do seu possuidor, contra sua
vontade; destruição da coisa, ou seja, quando a coisa deixa de existir.

II. Direitos reais


Loureiro14 conceitua os direitos reais como sendo aquele que “refere-se habitualmente
sobre um bem corpóreo determinado, em face do qual o titular exerce diretamente seu direito”.
O Código Civil estabelece, nos arts. 1.225 a 1.227 as disposições sobre os direitos reais.

Art. 1.225. São direitos reais:

I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões IV - o usufruto; V - o uso;

VII - o direito do
promitente
VI - a habitação; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese.
comprador do
imóvel;

XI - a concessão
XII - a concessão
de uso especial
de direito real de XIII - a laje.
para fins de
uso; e
moradia;

14
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 792.

24
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Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou


transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos
entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos
referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.

Possuem algumas características, as quais já foram mencionadas no item I (noções


introdutórias e conceituais), pelo que não será retomado. Traz-se, novamente esta referência
aos direitos reais, para fins de observar a ordem disciplinada pelo Código Civil e para que, a
partir daqui, sejam analisados de forma específica, os direitos reais previstos no art. 1.225, CC.
Importante observar que os direitos reais sobre coisas móveis são constituídos ou transmitidos
pela tradição (art. 1.226) e os direitos reais sobre bens imóveis através do registro do título
aquisitivo no Cartório de Registro de Imóveis (art. 1.227).

III. Propriedade
Propriedade – conceito

O direito de propriedade é um direito real que determina que uma coisa fica submetida a
vontade de uma pessoa, limitada pela lei e pela função social ou cláusulas derivadas da vontade
impostas sobre a coisa. Seu conceito está mais direcionado aos atributos do direito de
propriedade do que, propriamente, a uma definição. Este direito consiste em poder usar, gozar
e dispor do bem, podendo, também, reaver contra aquele que injustamente detenha ou possua.
Apenas para ilustrar, dos vários conceitos apresentados pela doutrina, Tartuce 15 entende que a
propriedade é

o direito que alguém possui em relação a um bem determinado. Trata-se de um direito


fundamental, protegido no art. 5.º, inc. XXII, da Constituição Federal, mas que deve
sempre atender a uma função social, em prol de toda a coletividade. A propriedade é
preenchida a partir dos atributos que constam do Código Civil de 2002 (art. 1.228), sem
perder de vista outros direitos, sobretudo aqueles com substrato constitucional.

15
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 133. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

25
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Como visto o direito de propriedade é direito fundamental, inscrito no art. 5.º, XXII, da CF
que pode ser oponível contra todos os membros da sociedade (direito erga omnes). Deve atender
a uma função social, em benefício da coletividade. Por fim, seu conceito/definição está
diretamente ligado aos atributos ou faculdades relativas à propriedade: usar, gozar, dispor e
reaver (art. 1.228, CC), sendo, portanto, um direito exclusivo do titular e complexo.

Atributos (poderes) da propriedade

Direito de uso, ou seja, utilização da coisa conforme as permissões legislativas, ou seja,


existem limites ao uso como, por exemplo, o direito de vizinhança, a desapropriação ou o
tombamento.
Direito de gozo ou fruição, ou seja, a possibilidade de retirar da coisa os frutos que ela
produz (sejam eles naturais ou civis), como, por exemplo, a locação de um imóvel.
Direito de disposição, ou seja, sendo o proprietário da coisa, poder transmiti-la a terceiro,
seja por ato entre vivos (compra e venda) ou causa mortis (testamento), seja de forma onerosa
(mediante pagamento) ou gratuita (negócio benéfico, sem pagamento).
Direito de reinvindicação, ou seja, possibilidade de, através de ação petitória, com
fundamento na propriedade, reivindicar a coisa de quem a detenha injustamente. A ação
reivindicatória é a ação petitória mais comum, tratando-se de ação real fundada no domínio.
Tartuce16 afirma que pode-se “afirmar que proteção da propriedade é obtida por meio dessa
demanda, aquela em que se discute a propriedade visando à retomada da coisa, quando terceira
pessoa, de forma injustificada, a tenha, dizendo-se dono”. Existe discussão acerca do prazo
prescricional da ação reivindicatória. Pela previsão do CC o prazo seria o do art. 205, CC, ou
seja, 10 anos a contar da violação do direito de propriedade. O STJ, contudo, tem entendido ser
imprescritível tal ação, tendo em vista seu caráter declaratório. Neste sentido, Tartuce 17 afirma:

16
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 135. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
17
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 136. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

26
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Na realidade, deve-se entender que a ação reivindicatória não é sujeita à prescrição ou


à decadência, embora se trate de ação real, porque o domínio é perpétuo e somente se extingue
nos casos previstos em lei e que serão estudados oportunamente. O efeito da ação
reivindicatória é de fazer com que o possuidor ou detentor restitua o bem com todos os seus
acessórios. Porém, se no caso concreto for impossível essa devolução, como nos casos de
perecimento da coisa, o proprietário terá o direito de receber o valor da coisa se o possuidor
estiver de má-fé, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

A ação reivindicatória é, pois, uma ação real, que visa a restituição da coisa, provando-se
que o proprietário tinha a posse e injustamente a perdeu. Esta ação segue o procedimento
comum.
Estes quatro atributos da propriedade: Gozar, Reivindicar, Usar e Dispor, são resumidos na
expressão GRUD. Se uma pessoa tiver todos estes atributos terá a propriedade plena. Contudo,
faltando algum deles ou, caso esses atributos sejam divididos entre duas ou mais pessoas,
haverá a propriedade restrita.

Propriedade – disposições preliminares

Os arts. 1.228 a 1.232, CC estabelecem as disposições preliminares acerca da propriedade.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e
o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso
de perigo público iminente.
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir
em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao


proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em
nome dos possuidores.
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes,
em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a
atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não
tenha ele interesse legítimo em impedi-las.
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens
referidos por leis especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de
emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação
industrial, obedecido o disposto em lei especial.
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao
seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.

O art. 1.228, caput traz os atributos da propriedade, os quais já foram estudados


anteriormente.
Já o § 1º determina que o direito de propriedade deve ser exercido conforme sua função
social, e o § 2.º proíbe a prática de atos que não tragam ao proprietário qualquer utilidade ou
comodidade e visem apenas prejudicar outrem, ou seja, o exercício da propriedade deve permitir
benefícios para o titular, mas, também, para a sociedade em geral. Diante disto, quando se fala
em função social da propriedade, deve-se pensar no “para que” da propriedade e, a partir daí
exercê-la observando os limites impostos pela lei como, por exemplo, a desapropriação por
necessidade ou utilidade pública ou, ainda, por interesse social.

EM SÍNTESE:
Em outras palavras, a propriedade deve servir para que a sociedade se mantenha
saudável, para que as pessoas tenham acesso aos bens de que necessitam e para que a
economia seja impulsionada, gerando empregos e renda. Em termos específicos, será
necessário analisar cada bem, para então descobrir qual é a sua função social.

Assim, ao mesmo tempo em que uma fazenda de 1000 hectares pode se prestar para o
cultivo de lavouras de soja, consorciada com a criação de gado, estando, com isto, cumprindo
com sua função social; uma mesma fazenda de 1000 hectares pode encontrar-se abandonada,
com sua casa em ruínas e tomada pelo mato, de forma a não cumprir com sua função social. Em

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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termos do § 2.º, poderia ser usado como exemplo a demolição de um casarão histórico
devidamente tombado. Este ato traz prejuízos a sociedade. Tartuce 18 ainda apresenta um
exemplo, tratando do § 2.º, onde um proprietário de apartamento faz festas em seu imóvel todas
as noites, e o excesso de barulho prejudica aos vizinhos. Esta situação envolve uma
responsabilidade civil objetiva.
O § 3.º do art. 1.228, CC trata das sanções pela inobservância da função social da
propriedade, através da desapropriação da coisa por necessidade ou utilidade pública ou
interesse social e da requisição no caso de perigo. A própria CF prevê no art. 5.º, XXV, a
possibilidade da desapropriação e da requisição de bens particulares.
Os §§ 4.º e 5.º do art. 1.228, CC tratam da chamada desapropriação privada por posse
trabalho, que, na realidade é a possibilidade de desapropriação de imóvel, quando se configurar
em área extensa que esteja sendo ocupada por um considerado número de pessoas, que
exerçam posse ininterrupta e de boa-fé por mais de 5 anos, tendo nela realizado obras e serviços
de interesse social e econômico relevante. Em situações como esta será o imóvel desapropriado,
fixada indenização justa, a ser paga ao proprietário pelos possuidores, que só adquirem a
propriedade com o pagamento e o registro da sentença no Cartório de Registro de Imóveis (ver
julgamento do STJ no caso conhecido como Favela Pullman).

Importante mencionar alguns enunciados das Jornadas de Direito Civil sobre essa temática.
Enunciado 82 - É constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade imóvel prevista nos §§ 4º e 5º
do art. 1.228 do novo Código Civil.
Enunciado 83 - Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder Público, não são aplicáveis as
disposições constantes dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil.
Enunciado 84 - A defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§
4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser argüida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios
responsáveis pelo pagamento da indenização.
Enunciado 240 - A justa indenização a que alude o § 5º do art. 1.228 não tem como critério valorativo,
necessariamente, a avaliação técnica lastreada no mercado imobiliário, sendo indevidos os juros
compensatórios.
Enunciado 241 - O registro da sentença em ação reivindicatória, que opera a transferência da
propriedade para o nome dos possuidores, com fundamento no interesse social (art. 1.228, § 5º), é
condicionada ao pagamento da respectiva indenização, cujo prazo será fixado pelo juiz.
Enunciado 304 - São aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do Código Civil às ações
reivindicatórias relativas a bens públicos dominicais, mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I
Jornada de Direito Civil, no que concerne às demais classificações dos bens públicos.
Enunciado 305 - Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do Código Civil, o Ministério
Público tem o poder-dever de atuar nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem
relevante interesse público, determinado pela natureza dos bens jurídicos envolvidos.

18
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 153. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Enunciado 306 - A situação descrita no § 4º do art. 1.228 do Código Civil enseja a improcedência do
pedido reivindicatório.
Enunciado 307 - Na desapropriação judicial (art. 1.228, § 4º), poderá o juiz determinar a intervenção
dos órgãos públicos competentes para o licenciamento ambiental e urbanístico.
Enunciado 308 - A justa indenização devida ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art.
1.228, § 5º) somente deverá ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas
públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa renda e desde que
tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os possuidores de baixa
renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil.
Enunciado 309 - O conceito de posse de boa-fé de que trata o art. 1.201 do Código Civil não se aplica
ao instituto previsto no § 4º do art. 1.228.
Enunciado 310 - Interpreta-se extensivamente a expressão "imóvel reivindicado" (art. 1.228, § 4º),
abrangendo pretensões tanto no juízo petitório quanto no possessório.
Enunciado 496 - O conteúdo do art. 1.228, §§ 4º e 5º, pode ser objeto de ação autônoma, não se
restringindo à defesa em pretensões reivindicatórias.

Já o art. 1.229, CC trata da extensão do direito de propriedade ou conteúdo da


propriedade, que abrange o solo e projeta-se tanto para o espaço aéreo, como, também, para
o solo, em altura e profundidade que sejam úteis ao exercício. Assim, embora possa construir
tantos andares quantos necessário ao uso do solo, não pode o proprietário, por exemplo, impedir
aviões de voarem sobre sua propriedade em altura que não lhe interesse.
O art. 1.230, CC determina que a propriedade do solo não abrange os recursos minerais,
potenciais de energia elétrica, etc. Estes, nos termos do art. 20, IX VIII e X, CF, pertencem à
União, permitindo ao proprietário do solo o uso dos recursos minerais de emprego imediato na
construção civil, desde que não se submetam à transformação industrial. Ex.: possibilidade de
extração de areia para construção civil, não podendo causar danos ambientais. Ex.: extração de
pedras para utilização em alicerce.

1. Propriedade plena e propriedade limitada

O art. 1.231, CC diz que se presume ser plena a propriedade, até que seja provada sua
limitação.

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Propriedade plena Propriedade restrita

• O proprietário da coisa reúne os atributos • O proprietário possui alguns atributos, mas,


de usar, gozar, dispor e reivindicar. em razão da incidência de algum ônus,
como, por exemplo, a hipoteca, a servidão,
o usufruto (direito real sobre coisa alheia),
não é plena sua propriedade ou, então, nos
casos de ser resolúvel a propriedade, em
face de condição ou termo. Nestes dois
casos (existência de ônus ou propriedade
resolúvel), um ou alguns atributos estão em
mãos de terceiros (direito real sobre coisa
alheia). Ex.: João é proprietário do imóvel
X. Paulo é usufrutuário do imóvel X.

A partir daí, pode-se dividir a propriedade em nua-propriedade e domínio útil. A nua-


propriedade pertence ao titular do domínio, ou seja, o proprietário, aquele que tem o bem
registrado em seu nome. Não possui os atributos do uso e fruição. Já o domínio útil refere-se
aos atributos de usar, gozar e dispor da coisa. Quando estes dois elementos estiverem sendo
titularizados pela mesma pessoa, haverá a propriedade plena.

1.3.6 Características do direito de propriedade

A propriedade tem características muito próximas das características dos direitos reais. A
propriedade possui características de ser um direito fundamental, constante no art. 5.º, XXII e
XXIII da CF, determinando sua proteção e sua função social. Como qualquer direito real é
oponível contra todos, ou seja, é erga omnes. O proprietário pode usar da coisa conforme seu
interesse, desde que não se oponha ao direito de terceiro e nem viole a lei. Assim, o proprietário
não deve tolerar a intromissão de terceiros em sua propriedade. É um direito exclusivo,
complexo, absoluto e perpétuo. A propriedade é o direito real mais complexo. Embora se fale
em direito absoluto, é certo que a propriedade pode ser relativizada em algumas situações, como
nos casos de desapropriação em razão do não cumprimento da função social. É um direito
exclusivo, pois uma coisa, por regra, pertence a uma pessoa, salvo nos casos de condomínio ou
copropriedade. O direito de propriedade é perpétuo, ou seja, independente do exercício, ou seja,
não sendo extinta pelo não uso, somente quando houver causa modificativa ou extintiva do direito
deixará de existir a propriedade (usucapião, por exemplo).

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1.3.7 Descoberta

Os arts. 1.233 a 1.237 do CC tratam da descoberta, que nada mais é do que o achado de
uma coisa alheia que esteja perdida.

Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou
legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o
encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente,
terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à
indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da
coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o
esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo
possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação
econômica de ambos.
Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou
possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo.
Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da
imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor
os comportar.
Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do
edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta
vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa
do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se
deparou o objeto perdido.
Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa
em favor de quem a achou.

Assim, quem encontrar, deverá restitui-la ao dono e a não devolução constitui crime de
“apropriação de coisa achada”. Se não souber quem é o dono, deverá entregar à autoridade
competente, que deverá dar conhecimento da descoberta através da imprensa. Se passados 60
dias da publicação da notícia ou do edital não aparecer o proprietário, o bem deverá ser levado
a hasta pública, deduzidos o valor da recompensa e despesas do descobridor e o saldo
pertencerá ao Município onde a coisa foi descoberta. Deve ser observado que aquela máxima
de que “achado não é roubado” não é de todo verdade, pois o descobridor, aquele que encontra
a coisa perdida, não se torna proprietário da coisa, pois lembre-se que o direito de propriedade
não se extingue pelo não uso.

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Contudo, o descobridor tem direito a receber uma recompensa que não pode ser inferior a
5% o valor da coisa, além do reembolso das despesas para a conservação da coisa e localização
do proprietário. Caso não haja o pagamento, o proprietário pode abandonar a coisa e, neste
caso, o descobridor pode adquirir a propriedade pela ocupação.
O descobridor não tem responsabilidade quanto aos danos sofridos pela coisa, salvo se
proceder com dolo, ou seja, se intencionalmente causar dano, devendo, neste caso, indenizar o
proprietário.

1.3.8 Formas de aquisição da propriedade imóvel

Assim como ocorre na posse, a propriedade pode ser adquirida de forma originária ou de
forma derivada. Tartuce19 apresenta um esquema sobre a aquisição da propriedade no qual é
possível se ter a visualização das formas:

ilhas
aluvião
Acessões avulsão
álveo abandonado
Formas plantações e construções
originárias
Usucapião
Formas de
aquisição a
propriedade
imóvel
Registro do título
Formas
derivadas
Sucessão
hereditária

A aquisição originária ocorre sem que a propriedade venha com as características


anteriores, sem que haja manifestação de vontade do antigo dono. Nesta modalidade, não existe
transmissão.

19
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 190. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.

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A aquisição derivada ocorre quando há manifestação de vontade do antigo dono,


transmitindo a propriedade a outra pessoa. Neste caso, a propriedade segue com as
características anteriores.

Formas Originárias
1.3.9 Acessão

Enquanto forma de aquisição originária refere-se ao direito do proprietário sobre tudo o que
for incorporado ao bem, ou seja,

[...] a acessão pode ser conceituada como um modo originário de aquisição do domínio
pelo aumento do volume ou do valor da coisa, de modo que ficará pertencendo ao
proprietário tudo aquilo que a ela aderir ou incorporar, tendo em vista o princípio geral do
direito que “o acessório segue o principal”. Destarte, o dono do principal também será dono
do acessório20.

Acessão é, pois, uma anexação de um bem acessório novo a um bem principal já


existente21. Pode ocorrer por formação de ilhas, aluvião, avulsão, abandono de álveo, plantações
e construções (art. 1.248, CC).

1.3.10 Formação de ilhas

Para fins do direito civil, as ilhas que se formarem em rios não navegáveis ou particulares,
pertencem ao domínio particular.

Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares


pertencem aos proprietá.rios ribeirinhos fronteiros, observadas as regras
seguintes:
I - as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos
terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas
testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais;
II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se
acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a
pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.

20
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 817.
21
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 756.

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Para explicar esse dispositivo, Donizetti e Quintella22 apresentam esquemas bastante


representativos:
No caso do inciso I, a divisão das ilhas que se formarem no meio dos rios, serão divididas
de forma proporcional aos proprietários ribeirinhos de ambas as margens, conforme esboço
abaixo.

No caso do inciso II, as ilhas formadas do meio para uma margem, pertencerão aos
proprietários daquela margem, proporcionalmente a sua testada, conforme esboço abaixo:

22
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 758-
759.

35
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Por fim, no caso do inciso III, as ilhas que se formarem em razão de um “novo braço do rio”
continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos da margem em que se constituíram,
conforme representação:

1.3.11 Aluvião

Aluvião são acréscimos formados por depósitos e aterros naturais de forma quase
imperceptível.

Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos


e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas
destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de
proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um
sobre a antiga margem.

Estes acréscimos formam-se em razão do desvio natural do leito de rios ou por depósito de
sedimentos e adere a propriedade do terreno em que houve o acréscimo, sem que haja o dever
de indenização por parte deste proprietário.

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1.3.12 Avulsão

Ocorre avulsão quando há um deslocamento natural, mas brusco de terras de um terreno,


que acaba se unindo a outro. Para que ocorra avulsão o deslocamento deve se dar por FORÇA
NATURAL VIOLENTA, ou seja, sem culpa do proprietário do imóvel de onde se desloca a terra.

Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de
um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo,
se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém
houver reclamado.
Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se
juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.

Neste caso, a propriedade pode ser adquirida de duas formas:

Se o proprietário do imóvel em que o deslocamento de terras se unir


indenizar o dono do imóvel do qual a porção de terras se deslocou;

Se, embora não indenizando, passar mais de um ano e ninguém


reclamar;

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Pela redação do parágrafo único, se o proprietário do imóvel em que as terras se uniram


não concordar em indenizar, mas concordar na retirada da parte acrescida, ele não adquire a
propriedade.

1.3.13 Abandono do álveo

Álveo abandonado ocorre quando um curso d’água muda seu curso, de forma natural.
Assim, o curso anterior (álveo) acaba sendo abandonado.

Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos


das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde
as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem
até o meio do álveo.

O álveo abandonado é dividido entre os terrenos marginais, através de uma linha


imaginária.

Plantações e construções
Como regra geral, a respeito das plantações e construções, que são bens móveis que
acedem ao imóvel por conduta humana, o art. 1.253, CC estabelece que elas se presumam feitas
pelo proprietário do terreno e a sua custa, salvo prova em contrário.

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Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo
proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas
ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor,
além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a
indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do
terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo,
mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes,
plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou
lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as
sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do
proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou
construtor.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em
proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a
propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e
responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a
desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o
construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção
à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte
e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima
parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e
danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida
e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que
nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.

Plantações e construções sempre acedem ao solo, ou seja, são bens acessórias, que não
vivem sem o principal. Desta forma, o art. 1.254, CC, estabelece que aquele que planta ou
constrói em terreno próprio, com materiais ou sementes alheias, tem o dever de indenizar o dono
pelo seu valor, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, no caso de ter agido de má-fé.
O art. 1.255, CC determina que aquele que usar suas sementes e materiais na plantação
ou construção em terreno alheio, perde estes para o proprietário do solo, podendo receber
indenização pelo valor respectivo se tiver agido de boa-fé. Ademais, se a plantação ou a
construção exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que plantou ou construiu
adquire a propriedade do solo, devendo indenizar o proprietário pelo valor ajustado ou, caso não
haja acordo, pelo valor fixado judicialmente.
O art. 1.256, CC determina que se ambas as partes (aquele que planta ou edifica em terreno
alheio e, também, o proprietário do solo) estiverem de má-fé, o proprietário do solo adquire a

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propriedade das acessões, mas deverá ressarcir o valor das mesmas. Considera-se de má-fé o
proprietário quando a atuação se deu em sua presença e sem impugnação.
Quando a construção invade o prédio vizinho em porção igual ou inferior a vigésima parte
deste, o art. 1.258, CC, prevê duas situações. Quando a construção for feita por o construtor de
boa-fé, este adquire a propriedade do solo invadido quando o valor da construção exceder o
valor do solo, devendo indenizar o valor da área e a desvalorização a remanescente. Ex.: Terreno
invadido que vale R$200.000,00; construção que vale R$50.000,00 e não ultrapassa a vigésima
parte do terreno invadido (10.000,00). Neste caso, deverá indenizar em R$10.000,00 e pela
desvalorização da área remanescente.
Neste mesmo caso, se o construtor estiver de má-fé e a construção ultrapassar
consideravelmente o valor da fração invadida, adquirirá a propriedade se pagar 10 vezes o valor
da área perdida e da desvalorização e, ainda, não for possível demolir a porção invasora sem
grave prejuízo para a construção. Ex.: Terreno invadido que vale R$200.000,00; construção que
vale R$500.000,00 e não ultrapassa a vigésima parte do terreno invadido (10.000,00). Neste
caso, deverá indenizar em R$10.000,00 + desvalorização da área remanescente = total x 10.
Quando a construção invade o prédio vizinho em porção superior a vigésima parte.
Também, neste caso, há a previsão de boa-fé e má-fé. Se o construtor age de boa-fé, ele adquire
a propriedade da porção invadida e indenizará o proprietário do terreno invadido em quantia que
corresponda a valorização que a construção terá pela invasão + indenização pelo valor da porção
invadida + desvalorização da área remanescente. Ex.: Terreno invadido que vale R$200.000,00.
Invasão foi de 50% do terreno (100.000,00). A área remanescente passou a valer (80.000,00),
tendo havido desvalorização da área remanescente de R$20.000,00. Construção que invadiu
valorizou R$80.000,00 a mais. Assim, o valor a ser pago é: 80.000 (valorização da construção)
+ 100.000 (área invadida) + 20.000 (desvalorização da área invadida) = 200.000. Se o construtor
estiver de má-fé, deverá demolir o que construiu e pagar perdas e danos em dobro.

Usucapião de bens imóveis

A usucapião é a forma mais comum de aquisição originária de propriedade. Quanto a ser


feminina ou masculina a palavra, isto não altera o instituto (o Código Civil de 2002 trata como “a
usucapião” e o Código Civil de 1916 tratava como “o usucapião”. Trata-se de forma de aquisição

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de propriedade ou outros direitos reais em face do decurso do tempo, condicionada a existência


de posse justa e com a observância dos requisitos de lei23.
Para que se configure o/a usucapião deve-se ter posse com a intenção de ser dono (posse
ad usucapionem), ou seja, não é somente comportar-se como se dono fosse, mas ter a intenção
de tornar-se proprietário. Esta posse deve ser mansa e pacífica, ou seja, sem oposição, deve ser
contínua (pelo prazo determinado pela lei, conforme a modalidade), nem pode conter vícios
(precária, clandestina ou violenta). Além da posse ad usucapionem, para a configuração da
usucapião, há que se ter o transcurso do lapso temporal prescrito em lei, o qual somente
começa a transcorrer quando houver posse mansa e pacífica (sem contestação e sem
interrupção). Necessário lembrar que, se a posse for violenta ou clandestina, após ano e dia dela,
convalesce o vício.

1.3.14 Usucapião extraordinária (art. 1.238 do CC)

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-
fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de
título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado
obras ou serviços de caráter produtivo.

Requisitos: posse ad usucapionem e lapso temporal de 15 anos. Dispensa a existência de


justo título e boa-fé.
Redução de prazo: O prazo poderá ser reduzido para 10 anos se o imóvel for utilizado
para moradia habitual ou se tiver sido realizado obra ou serviço de caráter produtivo.

1.3.15 Usucapião ordinária (art. 1.242 do CC)

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e


incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.

23
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 820.

41
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Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver
sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo
cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem
estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e
econômico.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado
obras ou serviços de caráter produtivo.

Requisitos: posse ad usucapionem, lapso temporal de 10 anos, justo título e boa-fé.


Redução de prazo: O prazo reduz-se para 5 anos se o imóvel tiver sido adquirido, de forma
onerosa, devidamente registrado e, posteriormente, tiver o registro cancelado e desde que os
possuidores tenham estabelecido lá sua moradia ou realizado investimentos de interesse social
e econômico.
Justo título. É um título hábil a transferir a propriedade. Não precisa ser, necessariamente,
um documento escrito, pois a sucessão hereditária é considerada justo título. STJ entende que
a promessa de compra e venda, mesmo não levada a registro, constitui-se de justo título.
Enunciado 86, Jornadas de Direito Civil - A expressão "justo título" contida nos arts.
1.242 e 1.260 do Código Civil abrange todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a transferir a
propriedade, independentemente de registro. Enunciado 302, Jornadas de Direito Civil - Pode
ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad
usucapionem, observado o disposto no art. 113 do Código Civil.
Boa-fé. Quando o possuidor desconhece eventuais vícios que maculam sua posse ou
quando não há vícios.

1.3.16 Usucapião especial rural

Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural
não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua
família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Esta modalidade de usucapião também é conhecida como usucapião constitucional, por ter
previsão no art. 191 da CF ou, ainda, de usucapião pro labore, por exigir produtividade.

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Requisitos: posse ad usucapionem, lapso temporal incontestado e ininterrupto de 5 anos,


área rural de até 50hectares, produtividade ou moradia, não ser proprietário de outro imóvel
urbano ou rural.

1.3.17 Usucapião especial urbana

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta
metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à
mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo
possuidor mais de uma vez.

Também chamado de usucapião constitucional, por estar previsto na Constituição


Federal, no art. 183.
Requisitos: posse ad usucapionem, lapso temporal incontestado e ininterrupto de 5 anos,
área urbana de até 250m², usada para moradia, não ser proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.

1.3.18 Usucapião especial urbana por abandono do lar conjugal

Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m²
(duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge
ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
§1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.

Introduzido no CC pela lei que institui o programa Minha Casa Minha Vida.
Requisitos: posse ad usucapionem exercida de forma direta; lapso temporal incontestado
e ininterrupto de 2 anos; área urbana de até 250m², usada para moradia (posse direta); do qual
o usucapiente seja proprietário em conjunto com ex-cônjuge ou companheiro que tenha
abandonado o lar; não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

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1.3.19 Usucapião especial urbana coletiva

Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco
anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos
e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural. (Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017)
§1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo,
acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz,
mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de
imóveis.
§3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,
independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de
acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.
§4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção,
salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos,
no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio.
§5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão
tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os
demais, discordantes ou ausentes.

O Estatuto das Cidades – lei 10.257/2001 – prevê a possibilidade da usucapião especial


urbana coletiva.
Requisitos: núcleos urbanos informais (aquele clandestino, irregular ou no qual não foi
possível realizar, por qualquer modo, a titulação de seus ocupantes, ainda que atendida a
legislação vigente à época de sua implantação ou regularização); posse ad usucapionem; lapso
temporal de 5 anos; área por possuidor, inferior a 250m²; não serem os possuidores proprietários
de outro imóvel urbano ou rural.
A pretensão de usucapião dos possuidores deve ser julgada por sentença, onde o juiz irá
determinar a formação de um condomínio indivisível entre os possuidores, e a cada um caberá
uma fração ideal igual na área do terreno, independentemente da área ocupada.

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1.4 Aquisição derivada


1.4.1 Do registro do título

A primeira forma e, talvez, mais corriqueira de aquisição derivada de propriedade seja o


registro do título. Para que a transmissão se efetive, não basta a celebração do contrato. É
necessário, também, o registro do título aquisitivo.

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título


translativo no Registro de Imóveis.
§1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido
como dono do imóvel.
§2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade
do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como
dono do imóvel.
Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao
oficial do registro, e este o prenotar no protocolo.
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado
reclamar que se retifique ou anule.
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel,
independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.

Daí deriva a máxima de que “quem não registra não é dono”, pois somente o registro do
título translativo é que a propriedade será adquirida. Enquanto não houver o registro, o imóvel
continua em nome do alienante e, caso ele, agindo de má-fé, aliene o imóvel a outra pessoa e
esta leve o título ao registro, esta adquirirá a propriedade e, o primeiro adquirente apenas poderá
demandar a responsabilização civil do alienante.

1.4.2 Da sucessão hereditária de bens imóveis

Segundo o art. 1.784, CC, no exato instante da morte do proprietário, seus bens, sua
herança, transmite-se aos herdeiros. Esta transmissão ocorre como um todo, unitário e indivisível
(art. 1.791, CC), e há a necessidade de realização da partilha da herança entre os herdeiros e o
registro dos formais de partilha para que se efetive a transmissão da propriedade no Registro de
Imóveis e reste regularizada a propriedade. Contudo, desde a morte do autor da herança, seus

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bens já são de propriedade dos sucessores (embora não tenha havido, ainda, a individualização
dos bens ou quotas parte).

1.4.3 Formas de aquisição da propriedade móvel. Formas originárias e derivadas

A aquisição da propriedade móvel pode se dar, assim como da propriedade imóvel, por
aquisição originária e derivada. São formas de aquisição da propriedade móvel: usucapião,
ocupação, achado de tesouro, tradição, especificação, confusão, comissão (comistão) e
adjunção.

Usucapião de bens móveis (arts. 1.260 a 1.262 do CC).

Os bens móveis também são sujeitos a aquisição originária através da usucapião. Existem
duas formas de usucapião: ordinária e extraordinária.

Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente
durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.
Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé.
Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e
1.244.

Usucapião ordinária.

• Prevista no art. 1.260, CC, exige posse ad usucapionem, lapso


temporal de 3 anos, justo título e boa-fé.

Usucapião extraordinária.

• Prevista no art. 1.261, CC, exige posse ad usucapionem, lapso


temporal de 5 anos. Não exige justo título e nem boa-fé.

1.4.4 Ocupação

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Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a
propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.

É quando alguém toma para si coisa que não tem dono, adquirindo, assim, sua propriedade.
Tanto pode ser objeto da ocupação uma coisa sem dono, como, também, uma coisa
abandonada. O requisito mais importante desta forma aquisitiva é a “coisa sem dono”. Ex.:
alguém que pesca um peixe no rio, adquire-lhe a propriedade.
Havendo dono, é coisa perdida. Ex.: alguém que encontra um livro e pega para si. Neste
caso, alguém esqueceu ou perdeu.
Se a coisa é sem dono, há justo título. Se a coisa é perdida ou esquecida (tem dono), não
há justo título (achado de coisa perdida = descoberta – art. 1.233, CC).

1.4.5 Achado do tesouro (arts. 1.264 a 1.266 do CC).

Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja
memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o
tesouro casualmente.
Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado
por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado.
Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o
descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o
descobridor.

Aquele que achar coisas de valor, preciosas, tesouros, que estejam ocultas e que não se
sabe ou não se tem memória de quem seja seu dono, adquire metade dos bens, pois a outra
metade é do proprietário do prédio onde o tesouro foi encontrado. Ex.: um pedreiro que está
demolindo uma parede e encontra uma pepita de ouro no meio dos tijolos.
Se o próprio proprietário do terreno ou prédio encontrar o tesouro (ou alguém a seu mando),
adquirirá a propriedade de todo o achado.
Por fim, o art. 1.266, CC regula o achado em terreno aforado. O aforamento refere-se a
enfiteuse, instituto que passou a ser proibido pelo CC/2002. Contudo, ainda existem enfiteuses
de Marinha, em terras na costa brasileira. Nestas situações há a divisão em domínio direto e
domínio útil. O domínio direito fica nas mãos do proprietário das terras e o domínio útil nas mãos
do enfiteuta. Este último poderá usar, fruir, dispor e reivindicar o bem, pagando um foro ou

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laudêmio. O tesouro será dividido por igual entre o descobridor e o enfiteuta ou integralmente
deste último se ele for o descobridor.

1.4.6 Da especificação (arts. 1.269 a 1.271 do CC)

Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver


espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior.
Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente,
será do especificador de boa-fé a espécie nova.
§1º Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve
de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima.
§2º Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura,
escritura e outro qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie
nova será do especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-
prima.
Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o
dano que sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § 1 o do artigo
antecedente, quando irredutível a especificação.

Ocorre especificação quando alguém, por seu trabalho, altera a coisa, transformando-a em
outra. Ex.: artista que transforma mármore em obra de arte.
Assim, se a matéria-prima (mármore) pertence ao artista (chamado de especificador), a
obra de arte (escultura) por ele desenvolvida lhe pertence.
A questão é saber quando a matéria-prima não pertence total ou parcialmente ao
especificador.
O art. 1269 estabelece que se a matéria-prima pertence parcialmente a terceiro, o
especificador adquire a propriedade.
Se a matéria-prima for totalmente alheia, o art. 1270 determina que o especificador de
boa-fé adquire a propriedade da espécie nova, desde que não possa desfazê-la, reconstituindo
a matéria ao estado anterior. Se for possível desfazer, o dono da matéria a reaverá. Não sendo
possível e tendo o especificador agido de má-fé, o dono da matéria adquire a propriedade da
espécie nova. Contudo, se o valor da espécie nova ultrapassar consideravelmente o valor da
matéria-prima, o especificador adquire a propriedade.
O proprietário da matéria-prima tem direito a ser indenizado pelos prejuízos sofridos.

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1.4.7 Da confusão, da comistão/comissão e da adjunção (arts. 1.272 a 1.274 do CC)

Art. 1.272. As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou


adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível
separá-las sem deterioração.
§1º Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo,
subsiste indiviso o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao
valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado.
§2º Se uma das coisas puder considerar-se principal, o dono sê-lo-á do todo,
indenizando os outros.
Art. 1.273. Se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-fé, à outra parte
caberá escolher entre adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu,
abatida a indenização que lhe for devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso
em que será indenizado.
Art. 1.274. Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à
confusão, comissão ou adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1.272 e 1.273.

Confusão é a mistura de substâncias, formando um líquido homogêneo. Comistão é a


mistura que forma um sólido homogêneo. Adjunção é a justaposição entre duas susbstâncias24.
Quando estas substâncias pertencem ao manipulador, lhes pertence o resultado/produto,
mas quando não lhes pertence, necessário considerar que:
Sendo possível a separação das substâncias, sem deterioração, cada uma segue
pertencendo ao seu dono. Se a separação não for possível ou ainda que seja, torne-se
dispendiosa, o produto – considerado indivisível – pertencerá aos donos das substâncias, em
condomínio, em fração proporcional ao valor da substância que lhe pertence.
Podendo-se considerar uma das coisas como principal, seu dono adquire a propriedade,
indenizando os demais. Ex.: cola e madeira para montar uma estante. A madeira é considerada
a matéria-prima principal e, portanto o dono da madeira adquire a propriedade da coisa, devendo
indenizar o proprietário da cola.
Havendo má-fé por parte daquele que mistura as substâncias alheias, o prejudicado pode
escolher entre adquirir a propriedade da coisa, pagando o que não for seu, deduzido do valor
que lhe pertence ou, então, renunciar ao bem que lhe pertencia e passou a formar um novo.
Neste último caso, receberá indenização do valor do bem móvel cuja propriedade renunciou.

24
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 771.

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1.4.8 Da tradição

Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes
da tradição.
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a
possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à
restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente
já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.
Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade,
exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for
transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer
pessoa, o alienante se afigurar dono.
§1º Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade,
considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.
§2º Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio
jurídico nulo.

A propriedade de coisas móveis transfere-se pela tradição/entrega da coisa, que pode ser
real (entrega da própria coisa), simbólica (entrega de algo que simbolize a coisa) ou ficta (que se
dá por presunção, por possuir a coisa em nome alheio e passar a pertencer em nome próprio).
Quanto ao art. 1267, Tartuce25 afirma que entende-se por tradição:

Quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório


(tradição ficta).

Quando o transmitente cede ao adquirente o direito à restituição da coisa,


que se encontra em poder de terceiro (tradição simbólica – traditio longa
manu).

Quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio


jurídico (tradição ficta – tradição brevi manu).

O art. 1268 determina que a tradição feita por terceiro que detém a coisa, mas não é
proprietário, não aliena a propriedade (traditio a non domino). Seria ineficaz tal alienação (terceiro

25
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 279. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020

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degrau da escala ponteana). Existe a exceção, prevista na parte final do caput, que se refere as
situações em que a coisa é ofertada em leilão, aparentando que o alienante seja o dono.

1.4.9 Da sucessão hereditária de bens móveis

Como a herança é transmitida como um todo unitário e indivisível, desde o óbito, não
importando se trata-se de bens móveis ou imóveis, deve-se considerar que a sucessão
hereditária é forma de aquisição derivada de bens móveis.

1.4.10 Perda da propriedade imóvel e móvel

Embora considere-se perpétuo o direito de propriedade, transmitindo-se com a morte do


titular aos seus herdeiros, existem modos de perder a propriedade, previstos no art. 1275, CC.
Artigos

Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
I - por alienação;
II - pela renúncia;
III - por abandono;
IV - por perecimento da coisa;
V - por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade
imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo
no Registro de Imóveis.
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não
mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem,
poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade
do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.
§1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá
ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União,
onde quer que ele se localize.
§2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando,
cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.

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1.4.11 Alienação

Por esta forma, ao mesmo tempo em que a propriedade é adquirida (por aquisição
derivada) por aquele que “compra”, é perdida por aquele que “vende”. Ex.: contrato de compra e
venda; troca/permuta; doação.
No caso de imóveis, há a necessidade de registro no Cartório de Registro de Imóveis para
efetivar a transmissão e, no caso de móveis, há a necessidade da tradição.

1.4.12 Renúncia

Ocorre quando o proprietário abre mão do seu direito. Ex.: renúncia da herança – art. 1804
e seguintes do CC. Para a eficácia da renúncia de bem imóveis, há que se ter o registro do título
renunciativo.

1.4.13Abandono

Ocorre quando o dono abandona a coisa, deixa ela com a intenção de não tê-la mais para
si. Também chamada de derrelicção, ou seja, ato praticado com a intenção de perder a
propriedade. A propriedade originária da coisa abandonada pode ser adquirida por ocupação
(móveis) ou por usucapião (móveis ou imóveis).
O art. 1276, § 2.º, CC estabelece, quanto aos bens imóveis, que haverá presunção do
abandono quando o proprietário, além da derrelicção, parar de pagar os impostos referentes ao
imóvel.

1.4.14 Perecimento da coisa

Ocorre quando a coisa, o bem, é perdido, ou seja, quando algum fenômeno excluir o objeto
do direito de propriedade do mundo fático. Ex.: uma casa que é demolida; um quadro que pega
fogo; o colar da Rose, jogado em alto mar em Titanic. Os direitos de propriedade sobre esses
bens são perdidos.

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1.4.15 Desapropriação

Ocorre quando o poder público, por necessidade, finalidade púbica ou interesse social
adquire a propriedade através do pagamento de justa e prévia indenização. A desapropriação é
revista no art. 5.º, XXIV, da CF. A desapropriação independe da vontade do proprietário,
podendo, apenas, discutir o valor da indenização.

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