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2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem

Direito Civil – direito das Sucessões | Prof. Maitê Damé

2ª FASE CIVIL 35º EXAME

Direito Civil
Direito das Sucessões

Prof.ª Maitê Damé

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2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
Direito Civil – direito das Sucessões | Prof. Maitê Damé

2ª FASE OAB | CIVIL | 35º EXAME

Direito das Sucessões


Prof.ª Maitê Damé

SUMÁRIO

01. SUCESSÃO EM GERAL ................................................................................. 3

02. SUCESSÃO LEGÍTIMA ................................................................................. 59

03. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA .................................................................... 79

04. INVENTÁRIO E PARTILHA ......................................................................... 110

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso
preparatório para a 2ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as
respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas
acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em junho de 2022.

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01. Sucessão em geral

1.1 Abertura da sucessão

A sucessão se abre com o óbito. No exato momento da morte há a abertura da sucessão


e a transmissão da herança (bens, dívidas, créditos e obrigações) deixada pelo falecido aos
herdeiros (princípio da saisine) – art. 1.784.
Não há herança de pessoa viva, embora possa ocorrer a sucessão do ausente.

* Para todos verem: esquema

Que o de cujus
tenha falecido
Pressupostos
da sucessão
Que lhe
sobreviva o
herdeiro

Se o autor da herança estiver vivo, não há sucessão. Assim, só se abre a sucessão


havendo óbito real ou presumido.
Em termos de morte civil, existem três modalidades:
* Para todos verem: esquema

b) morte c) morte
presumida sem presumida com
a) morte real;
declaração de declaração de
ausência; ausência.

a) Morte real

Aquela que se dá com corpo presente, ou seja, existe a materialidade (morte natural, por
atropelamento, por um tiro, cerebral...). Neste caso, necessário um laudo médico, atestando a
morte, para a elaboração do registro do óbito.

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b) Morte presumida sem declaração de ausência

Via de regra é preciso que haja a apresentação do atestado de óbito para que possa ser
considerada aberta a sucessão. Contudo, há casos em que a morte é presumida, quando, por
exemplo, o corpo do de cujus não é encontrado em razão de, por exemplo, ter desaparecido em
um naufrágio ou incêndio, de forma a impossibilitar a constatação da morte via atestado de óbito:
- Desaparecimento do corpo da pessoa, sendo extremamente provável a morte de quem
estava em perigo de vida;
- Desaparecimento de pessoa envolvida em campanha militar ou feito prisioneiro, não
sendo encontrado até dois anos após o término da guerra.

Art. 7. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:


I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois
anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento.

Nestes casos, após buscas e averiguações poderá ser requerida a declaração judicial da
morte presumida, quando, na sentença, deverá constar a data provável do falecimento 1.

c) Morte presumida com declaração de ausência

Ao lado da morte natural, o legislador previu a morte presumida do ausente (art. 6.º).
Considera-se ausente aquele que desaparece de seu domicílio sem dar notícias, sem deixar
representante ou procurador para administrar-lhe o patrimônio, conforme art. 22:

Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz,
a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e
nomear-lhe-á curador.

Considerando que há uma presunção da morte do ausente, podem os herdeiros darem


abertura ao processo sucessório. A lei prevê três fases2: curadoria dos bens do ausente,
sucessão provisória e sucessão definitiva.

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Na fase de curadoria dos bens do ausente, em ação que deve ser proposta pelo MP ou
pelo interessado (qualquer sucessor), será nomeado um curador para guardar os bens do
ausente (art. 744, CPC/2015).
* Para todos verem: esquema

Serão
curadores

Curador dativo
Cônjuge ou
Pais o ausente Descendentes (pessoa idônea
companheiro
e de confiança)

Uma vez que tenham sido arrecadados os bens do ausente, o art. 745, CPC/2015
determina que seja publicado edital na internet, no site do Tribunal de Justiça e na plataforma de
editais do CNJ, onde deverá permanecer por 1 ano. Não havendo site, a publicação deve ocorrer,
de dois em dois meses, no órgão oficial e na imprensa da Comarca.
Passado 1 ano da arrecadação dos bens do ausente e da nomeação do curador, a
sucessão provisória poderá ser aberta pelos herdeiros. Se o ausente tiver deixado representante,
o prazo para abertura da sucessão provisória é de 3 anos após a arrecadação. Essa é a previsão
do art. 26, CC:

Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados
requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.

O CPC/2015, contudo, traz a previsão, no § 1.º do art. 745, que o edital fará a previsão de
prazo e, no final deste prazo, é que poderá ser requerida a abertura da sucessão provisória.

§ 1º Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a abertura da


sucessão provisória, observando-se o disposto em lei.

A doutrina tem entendido que se aplica a disposição do CPC e não do CC (que prevê a
contagem de 1 ano a partir da arrecadação).
Poderão requerer a abertura da sucessão provisória:

Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:
I - o cônjuge não separado judicialmente;
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

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A sentença de abertura da sucessão provisória só produz efeitos após 180 dias da sua
publicação na imprensa, ou seja, o trânsito em julgado desta sentença possui prazo especial e
diferente do geral (art. 28, CC).

Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito
cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado,
proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens,
como se o ausente fosse falecido.
§ 1º Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão
provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.
§ 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias
depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória,
proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819
a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos
bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos
pela União.

Após este prazo é possível a abertura de eventual testamento e do inventário para partilha
dos bens. Para que os herdeiros ingressem na posse dos bens do ausente, deverão dar garantia,
através de penhor ou hipoteca dos seus bens (art. 30). Os que não puderem dar as garantias
não receberão o patrimônio, que ficará sob a administração do curador. Contudo, o cônjuge, os
descendentes e ascendentes poderão ingressar na posse, independentemente da garantia.

Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da
restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.
§ 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida
neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa
garantia.
§ 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de
herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou
hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.
Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e
passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que
de futuro àquele forem movidas.

Os herdeiros têm direito a percepção dos frutos dos bens. Se descendente, ascendente
ou cônjuge, percebem todos os frutos. Os demais sucessores, somente a metade.

Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente,
fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros
sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o
disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar
anualmente contas ao juiz competente.

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Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e
injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de
meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria.
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente,
considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele
tempo.

Se o ausente reaparecer durante a sucessão provisória, o patrimônio lhe é devolvido.

Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a


posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando,
todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a
seu dono.

Se depois de passados 10 anos da abertura dessa sucessão provisória (sentença) o


ausente não tenha retornado ou não tenha sido confirmada sua morte, os herdeiros poderão
requerer a sucessão definitiva (art. 37 a 39). A sucessão definitiva também pode ser requerida
se restar comprovado que o ausente conta com mais de 80 anos e que não há notícias dele há
mais de 5 anos.

Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da
sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o
levantamento das cauções prestadas.
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta
oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.

Se o ausente retornar nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, terá direito
aos bens no estado em que se encontram, os sub-rogados em seu lugar ou o preço que os
herdeiros tiverem recebido pelos bens alienados. O § 4.º do art. 745, CPC/2015 determina que
no retorno do ausente deverão os sucessores provisórios ou definitivos serem citados para
contestar:

§ 4º Regressando o ausente ou algum de seus descendentes ou ascendentes para


requerer ao juiz a entrega de bens, serão citados para contestar o pedido os sucessores
provisórios ou definitivos, o Ministério Público e o representante da Fazenda Pública,
seguindo-se o procedimento comum.

Se o ausente não retornar dentro do prazo de 10 anos, os bens serão definitivamente dos
herdeiros.

Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva,
ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens

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existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que


os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois
daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e
nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao
domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições,
incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal.

Trata-se de uma exceção do sistema sucessório, “tendo em vista que se admite a abertura
de sua sucessão simplesmente em razão de seu desaparecimento, sem que se tenha certeza
de seu falecimento”3.

1.2 Momento da transmissão da Herança - Comoriência (Art. 8º CC)

Com a morte, como visto, transmite-se a herança, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários (art. 1.784), conforme a ordem da vocação hereditária (art. 1.829) ou, a sua falta,
a herança será recolhida pelo Município, Distrito Federal ou União (art. 1.844).
A transmissão da herança ocorre no exato momento da morte do de cujus, havendo a
necessidade que os herdeiros posteriormente aceitem a herança, vindo a tornar definitiva a
transmissão que já havia ocorrido, conforme disposto no art. 1.784.
Como se verificou, é preciso que o herdeiro sobreviva ao autor da herança (GONÇALVES,
2012, p. 36). Contudo, existem casos em que ambos falecem em condições que não há como
se precisar qual faleceu primeiro (em um acidente de carro com morte instantânea, por exemplo).
A isso se dá o nome de comoriência, questão que se encontra prevista no art. 8.º do
Código Civil:

Art. 8. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo precisar
quem precedeu aos demais, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

A importância da comoriência é regular os casos em que se torna impossível reconhecer


quem faleceu primeiro, para fins de transmissibilidade dos direitos hereditários. Roberto
Gonçalves (2012, p. 36) afirma que quando

[...] duas pessoas morrem em determinado acidente, somente interessa saber qual delas
morreu primeiro se uma herdeira ou beneficiária da outra. Do contrário, inexiste qualquer
interesse jurídico nessa pesquisa. O principal efeito da presunção da morte simultânea é

3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 34.

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que, não tendo havido tempo ou oportunidade para a transferência de bens entre os
comorientes, um não herda do outro.

No caso de comoriência a sucessão de cada um deve ser regulada como se o comoriente


jamais houvesse existido. Nenhuma das pessoas atingidas sucederá a outra: por ficção jurídica
é como estas pessoas nunca tivesse existido. Não há transferência de bens e direitos entre os
comorientes.

EXEMPLO:

Num mesmo acidente morrem marido e mulher sem filhos. Com a regra, a sucessão de
cada um é regulada como se o comoriente jamais tivesse morrido. Venosa demonstra a vital
importância da comoriência:

[...] já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no direito sucessório.
Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à mulher; se ambos não tivessem
descendentes ou ascendentes, e a mulher falecesse depois, a herança iria para os
herdeiros dela, ou seja, seus colaterais. O oposto ocorreria se provasse que a mulher
falecera antes. Tal situação pode ocorrer em casos de catástrofes, acidentes ou mesmo
por coincidência. Para evitar os entraves das presunções de pré-morte, portanto, o Código
presume comoriência, isto é, o falecimento conjunto (VENOSA, 2012, p. 13)

Não sendo possível a prova da sobrevivência de nenhum deles, os herdeiros do marido


herdarão o que era dele; e os da mulher, o que era dela. Entre os comorientes, não há
transferência de direitos, isto é, nenhum pode suceder o outro, mas devem ser chamados a
sucessão os herdeiros daqueles que faleceram, 50% cada. Os bens serão herdados,
respectivamente, por seus parentes, na ordem da vocação hereditária do art. 1.829 CC.
O Enunciado 610 das Jornadas de Direito Civil prevê que em casos de comoriência de
ascendente e descendente, haverá o direito de representação aos descendentes. Isto também
ocorre em caso de comoriência de irmãos, quando haverá o direito de representação aos filhos
dos irmãos.

Enunciado n. 610 da Jornada de Direito Civil: Nos casos de comoriência entre ascendente
e descendente, ou entre irmãos, reconhece-se o direito de representação aos
descendentes e aos filhos dos irmãos.

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1.3 Transmissão da Herança - Princípio da Saisine

O art. 1.784, CC afirma que havendo a morte, abre-se a sucessão e a herança transmite-
se desde logo aos herdeiros. A disposição legal reafirma o direito/princípio da saisine.
A sucessão mortis causa se abre com a morte do autor da herança. No exato momento
do falecimento, o domínio e a posse da herança transmitem-se aos herdeiros legítimos e
testamentários, mantendo o título, conteúdo e objeto. No momento da morte ocorre a abertura
da sucessão hereditária. O acervo patrimonial do falecido transmite-se aos herdeiros
independentemente de qualquer formalidade (desde logo, portanto).

ATENÇÃO
Para que haja transmissão é preciso que: a) o herdeiro exista ao tempo da morte;
b) que a esse tempo não seja incapaz de herdar – a capacidade sucessória é verificada no
momento da morte.

Com a morte, extingue-se a personalidade civil e, por óbvio, a existência da pessoa natural
(art. 6.º), bem como a capacidade para ser titular de direitos e obrigações. Assim, pelo princípio
da saisine a posse da herança se transmite desde logo aos herdeiros. Segundo Tartuce (2012,
p. 9), no momento da morte ocorre a delação (oferecimento da herança), segundo a qual os
bens do falecido transferem-se ao patrimônio dos herdeiros. Trata-se do período existente entre
a abertura da sucessão e a aceitação ou renúncia da herança.
No caso da aceitação, o efeito é retroativo à data do óbito. A aquisição dos direitos não
ocorre com a aceitação, mas sim com a morte do autor da herança. A aceitação é apenas uma
confirmação do direito do herdeiro, mas trata-se de um ato essencial, já que ninguém pode ser
herdeiro contra sua vontade (VENOSA, 2012, p. 15). Havendo renúncia, entende-se que o
renunciante jamais foi herdeiro.
A importância de saber o momento da morte é para que seja definida a lei que regula a
sucessão e a capacidade (legitimidade) para suceder, nos termos do art. 1.787, CC:

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da
abertura daquela.

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Tartuce (2012, p. 7) traz um exemplo para deixar clara a questão da capacidade para
suceder (e também para testar):

Determinado marido elabora um testamento deixando a parte disponível de seus bens à


sua esposa e, posteriormente, em razão de esclerose, torna-se absolutamente incapaz.
Em razão da doença, a esposa o abandona, vindo ele a falecer cinco anos depois do
divórcio do casal. No caso descrito, o testador era capaz no momento da elaboração do
testamento e sua incapacidade superveniente não retira a validade do testamento (art.
1.861, CC). Sua esposa tinha legitimidade para receber a herança quando o testamento
foi feito, mas perdeu-a no momento da abertura, pois já se encontrava divorciada. Não
será herdeira, portanto.

Desta forma, a capacidade de suceder é a do tempo da abertura da sucessão (momento


da morte) e, além disto, o lugar onde se abre a sucessão é o do último domicílio do de cujus.
Nestes termos:

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

Efeitos que derivam do princípio da saisine

a) A herança transfere-se como um todo unitário, independentemente que sejam vários


herdeiros (art. 1.791), de modo que no período compreendido entre a abertura da sucessão pelo
falecimento do de cujus até o momento em que houver a partilha, a herança é indivisível e o
direito dos herdeiros será exercido em condomínio (co-herdeiros) (GONÇALVES, 2012, p. 39).
Aqui aplicam-se as regras de condomínio.
b) O inventariante tem a posse direta e os demais herdeiros a posse indireta, mas
uma não anula a outra, conforme art. 1.197, CC, já que ambos ostentam a condição de
possuidores (GONÇALVES, 2012, p. 39-40). Como as regras são do condomínio, um herdeiro
não pode impedir o outro de usar o bem.
c) O herdeiro que sobreviver ao de cujus faz sua a herança por ele deixada. Ainda que
numa fração de segundo. Ele incorpora ao seu patrimônio deixado pelo morto (GONÇALVES,
2012, p. 41).
d) Comoriência – em razão da transmissão imediata da herança (princípio da saisine) é
importante fixar o momento exto da morte.

1.4 Lugar em que se abre a sucessão

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A sucessão abre-se no local do último domicílio do falecido (art. 1.785, CC) (regra).

Exceções

1. Falecido sem domicílio certo: situação de bens (art. 48, §único, I, CPC/2015)

2. Falecido sem domicílio certo e com bens em lugares diferentes = local de qualquer dos bens
(art. 48, § único, II, CPC/2015)

3. Falecido com pluralidade de domicílio = qualquer deles (art. 71, CC)

ATENÇÃO
Deve-se destacar que o CPC/15 alterou a questão da competência, não importando
mais o local do óbito para a definição do lugar em que se abre a sucessão.

* Para todos verem: esquema

Lugar do último
domicílio do de
Regra
cujus - art. 48,
CPC/15

Se o autor da
Lugar de abertura herança não Situação dos bens -
da sucessão possuía domicílio art. 48, § único, I, CPC/15
certo

Autor da herança
No local de
sem domicílio certo
Exceção qualquer dos bens -
e com bens em
art. 48, § único, II, CPC/15
lugares diferentes

Pluralidade de
Qualquer deles (o
domicílios - art. 71,
mais conveniente)
CC

ESTRANGEIRO:

Na sucessão de bens de estrangeiros, há uma disciplina especial. No caso de bens de


estrangeiros, situados no Brasil, aplica-se, via de regra, a lei do último domicílio do falecido (lei
estrangeira), salvo se a lei brasileira for mais favorável ao cônjuge ou filhos brasileiros (o
benefício é para situações em que o falecido for casado com brasileiro ou tiver filhos brasileiros).

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Significa dizer que a lei protege o direito do cônjuge e dos descendentes em prejuízo de outros
herdeiros (ascendentes, colaterais).

1.5 Espécies de sucessão

O art. 1.786 define que a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.

a) Legítima
Decorre da lei; obedece a ordem da vocação hereditária (1.829) - ab intestato (bens fora
do testamento, testamento nulo) – art. 1.788. A sucessão legítima será sempre a título universal,
pois os herdeiros recebem a totalidade dos bens do falecido, ou, uma fração ideal (não
localizada) do patrimônio. Desta forma, os herdeiros participam da totalidade do ativo e do
passivo.

b) Testamentária
Decorre da manifestação da última vontade - bens abarcados pelo testamento (é válido
apenas sobre a quota disponível – 50% da sua parte). O falecido não tem o poder de dispor
livremente e integralmente do seu patrimônio. Havendo herdeiros necessários (cônjuge,
ascendentes e descendentes – 1.845), fica limitado pela liberdade de testar disposta no art.
1.789, CC. O poder de dispor integralmente só ocorre na hipótese de herdeiros facultativos.

c) Simultânea:
A sucessão será simultaneamente legítima e testamentária quando houver testamento e
o extinto tiver herdeiros necessários.

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* Para todos verem: quadro comparativo


RESUMO

Havendo herdeiros necessários, sem


testamento
Sucessão legítima Havendo herdeiros necessários, com
testamento que tenha caducado ou sido
declarado nulo

Testamentária Havendo testamento ou legado


Quando houver herdeiros necessários e, ao
Simultânea
mesmo tempo, testamento válido

d) Sucessão a título universal e singular


Título universal: o herdeiro é chamado a suceder na totalidade da herança, fração ou
porcentagem. Pode ocorrer tanto na sucessão legítima como na testamentária.
Título singular: quando a transferência é de bens determinados a pessoas determinadas.
Ocorre, apenas, na sucessão testamentária (quando o testador deixa um legado).

e) Sucessão contratual
Apesar de não existir herança de pessoa viva (art. 426), é possível a sucessão contratual,
sendo vedado o pacto sucessório. Porém, excepcionalmente, podem em vida, a teor do art.
2.018, os ascendentes partilharem o seu patrimônio entre os descendentes por escritura pública
(com anuência de todos os descendentes):

Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última
vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários.

f) Sucessões irregulares
Sucessão irregular ou anômala é aquela que não obedece às normas próprias e à ordem
da vocação hereditária. A CF/88 estabelece, no art. 5.º, XXXI o benefício ao cônjuge ou filhos
brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil, permitindo a aplicação da
lei pessoal do de cujus, se mais favorável.

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1.6 Espécies de sucessores

Herdeiro ou sucessor é aquele que será beneficiado com o patrimônio deixado pelo
falecido. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário.

a) Herdeiro legítimo
O herdeiro legítimo é o que consta na ordem da vocação hereditária, indicada pela lei. Art.
1.829, CC. Classificam-se como necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge) e
facultativos (colaterais). É chamada a sucessão que resulta da lei.
- Necessários (legitimário ou reservatário):
É o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC), isto é, todo
parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação (ou
renúncia). Os herdeiros necessários não podem ser privados por disposição de última
vontade. Sua existência impede que o testador disponha a totalidade de seus bens. A eles
é reservada a legítima (metade da herança).
Segundo o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens da
herança (legítima). A legítima corresponde, portanto a metade dos bens da herança
deixada pelo falecido, após a retirada da meação (se houver) e pagas as dívidas e
despesas de funeral. Assim, ao lado da expressão herdeiros necessários surge a ideia de
legítima e de porção disponível, conceitos que estão todos interligados.
Nesse sentido, o art. 1.789 afirma que havendo herdeiros necessários “o testador só pode
testar a metade da herança”. Não existindo herdeiros necessários (ascendente, descendente e
cônjuge) o testador pode dispor de 100% de seus bens.

ATENÇÃO
Durante a vida há liberdade de alienar, onerosamente, todo patrimônio existente, não
deixando nada de herança. O que não pode haver é doação de todo patrimônio ou excedendo a
parte da liberdade para um dos filhos.

Nesse caso, algumas hipóteses podem ocorrer:


a) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro, em detrimento dos
demais, não mencionando que essa doação sai da sua parte disponível → o herdeiro que

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recebeu deverá, no inventário, trazer esses bens recebidos por doação a colação, descontando
da sua quota parte (entende-se como adiantamento de legítima);
b) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro, mencionando que se
trata da sua parte disponível, não poderá exceder ¼ do patrimônio do casal (no caso de
comunhão universal, ou seja, ½ de meação e ½ de herança – dessa ½ da herança, somente a
½ (¼ do patrimônio, portanto) pode ser disponível).

CÁLCULO DA LEGÍTIMA

O art. 1.847 traz a forma de cálculo da legítima. A legítima é calculada sobre a meação do
falecido, representada pelos bens existentes a época da abertura da sucessão.

Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da
sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o
valor dos bens sujeitos a colação.

O cálculo da legítima é feito a partir do ativo da herança, ou seja, sobre a herança líquida,
descontadas as dívidas e despesas de funeral. Devem, ainda, ser adicionados os bens sujeitos
à colação.
Patrimônio de R$ 100.000,00
Regime de bens: comunhão universal
Cônjuge sobrevivente = meação → 50% → R$ 50.000,00
Herança = 50% → R$ 50.000,00
Dívidas do de cujus = R$ 10.000,00
Funeral = R$ 5.000,00
Total de despesas = R$ 15.000,00
50.000,00 – 15.000,00 = 35.000,00
Parte disponível = ½ → R$ 35.000,00 / 2 = 17.500,00
Legítima = a outra metade + eventuais bens doados em vida como adiantamento de legítima.

LIBERDADE DE TESTAR - ART. 1.789

Sem herdeiros necessários = liberdade plena de testar


Com herdeiros necessários = apenas 50% da herança (excluída meação). A outra metade
constitui-se da legítima dos herdeiros. Deve ser respeitada a metade disponível aos herdeiros
necessários - art. 1846, CC.

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E COMO SE CALCULA O VALOR PASSÍVEL DE SER TESTADO? O valor da parte


disponível (o que importa é o valor da avaliação e não o número de bens existentes) será definido
nos termos do art. 1.847, CC.
Após a avaliação será definido se o testador se manteve dentro da parte disponível. Se
houver excesso, haverá redução conforme as disposições dos arts. 1.966 a 1.968, CC:

Art. 1.966. O remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, quando o testador só em


parte dispuser da quota hereditária disponível.
Art. 1.967. As disposições que excederem a parte disponível reduzir-se-ão aos limites
dela, de conformidade com o disposto nos parágrafos seguintes.
§ 1º Em se verificando excederem as disposições testamentárias a porção disponível,
serão proporcionalmente reduzidas as quotas do herdeiro ou herdeiros instituídos, até
onde baste, e, não bastando, também os legados, na proporção do seu valor.
§ 2º Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de preferência, certos
herdeiros e legatários, a redução far-se-á nos outros quinhões ou legados, observando-se
a seu respeito a ordem estabelecida no parágrafo antecedente.
Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito a redução, far-se-á esta
dividindo-o proporcionalmente.
§ 1º Se não for possível a divisão, e o excesso do legado montar a mais de um quarto do
valor do prédio, o legatário deixará inteiro na herança o imóvel legado, ficando com o
direito de pedir aos herdeiros o valor que couber na parte disponível; se o excesso não for
de mais de um quarto, aos herdeiros fará tornar em dinheiro o legatário, que ficará com o
prédio.
§ 2º Se o legatário for ao mesmo tempo herdeiro necessário, poderá inteirar sua legítima
no mesmo imóvel, de preferência aos outros, sempre que ela e a parte subsistente do
legado lhe absorverem o valor.

* Para todos verem: esquema

Herança Meação
Herança é o patrimônio e dívidas que sobram após a exclusão da meação. Ex.: regime de
CUB. Dos 100% do patrimônio pertencente ao casal, 50% é meação e 50% é herança (sobre
estes 50% é que será calculada a liberdade de testar).
Nesse sentido, a legítima é o limitador do poder de dispor. A legítima é sagrada e
inatingível (art. 1.961).

Facultativos:

Ao lado dos herdeiros necessários, encontram-se os facultativos, que são os colaterais


até 4º grau. A existência de herdeiros facultativos não impede a disposição em testamento de

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todos os bens pelo testador, assim considerado a sua parte disponível.

b) Herdeiro testamentário ou instituído:


É o herdeiro nomeado ou instituído, designado pelo testador por ato de última vontade
como uma parte do acervo, sem individualização de bens.

Legatário:

É o contemplado em testamento com coisa certa e determinada, singularizada, precisa.

1.7 Herança e espólio

A herança é conjunto patrimonial que é transmitido em razão do falecimento de alguém.


Deve-se destacar que a herança inclui tanto os bens, quanto os créditos e dívidas existentes em
nome do falecido.
A herança constitui o espólio, que é o titular do patrimônio. O espólio é um ente
despersonalizado, uma massa patrimonial ou universalidade de coisas, até a individualização
pela partilha. É utilizado sob o prisma processual. Ao espólio é reconhecida legitimidade ativa e
passiva e o seu representante é o inventariante ou, antes de sua nomeação, pelo administrador
provisório (art. 75, VII, CPC/2015).
O espólio responde pelas dívidas do falecido até a partilha e dentro dos limites da
herança. O espólio tem legitimidade para propor ação de despejo de imóveis de propriedade do
falecido. Após a partilha, cada herdeiro responderá pela dívida, dentro das forças de seu quinhão.
Realizada a partilha, o espólio deixa de existir, pois desaparece a universalidade patrimonial.

1.8 Herança como um todo unitário e indivisível

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O art. 1.791 dispõe que a “herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários
sejam os herdeiros”, aplicando-se as regras do condomínio. Trata-se da noção de
indivisibilidade.
Uma vez aberta a sucessão, esta é considerada um bem imóvel, mesmo que nos bens
deixados não existam imóveis (apenas móveis e automóveis, por exemplo) (art. 80, II, CC).
Noção de imobilidade.
Em razão disto, prevê o art. 1.793, CC que apenas por escritura pública pode haver a
transmissão da herança (escritura pública de cessão de direitos hereditários). Trata-se de
requisito essencial para a validade do ato jurídico. Além disto, há a necessidade de outorga do
cônjuge do herdeiro, para a validade do ato (art. 1.647., I, CC).

Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-
herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.

São firmadas duas ideias fundamentais do direito sucessório:

a) a devolução unitária da herança aos herdeiros: efeito translativo, se opera de plano,


nascendo a indivisibilidade da herança, que diz respeito à posse e ao domínio dos bens
transmitidos.
b) a noção de indivisibilidade do monte hereditário: da abertura até o momento da
partilha a herança permanece em condomínio, um todo unitário e indivisível até o transito em
julgado da partilha.
A indivisão inicia no momento da abertura da sucessão, que é considerada como um todo
unitário e indivisível. Com a partilha, haverá a individualização da quota parte de cada herdeiro,
quando, cada um, passará a administrar seu quinhão. Depois de julgada a partilha o art. 2.023
determina que o direito de cada herdeiro fica circunscrito aos bens do seu quinhão.
Contudo, enquanto não operada a partilha, os herdeiros são todos coproprietários e co-
possuidores da herança, tendo a regulação de seus direitos, conforme as disposições relativas
ao condomínio. Assim, como se trata de um condomínio, cada herdeiro tem os mesmos direitos
e deveres com relação ao todo, de modo que um herdeiro não tem mais ou menos direitos ou
deveres sobre bens específicos da herança. Significa dizer que nenhum herdeiro pode “se
apossar” de um bem determinado, em detrimento dos demais herdeiros. Neste caso, qualquer
herdeiro que se sentir prejudicado pode se utilizar das ações possessórias para assegurar sua
posse (arts. 1.825 e 1.827, CC).

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A partir dessa noção de indivisibilidade, pergunta-se, é possível que algum herdeiro aliene
a herança? Sim, cada herdeiro pode alienar ou ceder, mas somente sua quota ideal, ou seja,
pode transferir a terceiro seu quinhão, mas não pode ser transferida parte certa e determinada
da herança. É nesse sentido a disposição do art. 1.793, § 2.º, CC: “é ineficaz a cessão, pelo
coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente”.
Neste caso, se o herdeiro alienar sua quota parte sobre o bem X, esta cessão só terá eficácia
se, com a partilha, o herdeiro, de fato, receber o bem X.
Mas, como são aplicadas as regras do condomínio, o coerdeiro pode alienar, respeitando
a preferência estabelecida no art. 504, CC.

1.9 Cessão de direitos hereditários

O art. 1.793 prevê que toda a herança ou parte dela (quota) é suscetível de alienação
(onerosa ou gratuita). O titular dos direitos hereditários, desde o momento da abertura da
sucessão, goza da faculdade dispositiva. Com a abertura da sucessão instaura-se a o
condomínio sucessório entre os herdeiros legítimos e testamentários (art. 1.784). Antes da morte
não é possível a cessão, pois o direito brasileiro veda o chamado pacto sucessório (contrato que
tem como objeto a herança de pessoa viva) – arts. 426 e 166, II e VII, CC. A forma de transmissão
destes direitos é a cessão. O cedente (herdeiro legítimo ou testamentário) transfere a qualidade
hereditária patrimonial.
A efetiva transferência do direito só se opera com a partilha (trânsito em julgado, registrado
no CRI). Porém, o cessionário se investe instantaneamente nos direitos alienados, devendo,
quando da abertura do inventário, se habilitar.
O Herdeiro único e universal pode ceder, também, no todo ou em parte. Se for
universal, o herdeiro-cedente nada mais terá a ver com a herança (persiste, é óbvio, sua
responsabilidade perante o cessionário até a efetividade do título hereditário: partilha
averbada).

Forma e objeto
O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel e, nesse sentido, para que seja
realizada a cessão, deve ser feita por escritura pública, com outorga uxória como condição de

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validade do negócio jurídico (art. 1.793; art. 1.647, I; art. 166, IV).
A escritura deve estipular se a cessão é feita de forma gratuita ou onerosa; se estão sendo
cedidos todos os direitos hereditários ou somente de parte do quinhão; etc.
O objeto do contrato são os direitos hereditários.
O cedente: deve ter capacidade para alienar; garante a existência da herança, não sua
extensão.
O cessionário (aquele que adquire): recebe a herança no estado em que se encontra,
correndo o risco de ser mais ou menos, dependo da existência de dívidas; sub-roga-se nos
direitos do cedente, como se fosse ele próprio.
A cessão não pode ser feita quanto a um bem determinado, mas somente quanto à quota
parte do herdeiro cedente, sem individualização. Isto se dá em razão da indivisibilidade da
herança (todo unitário), de forma que é ineficaz a cessão de bem individualizado (art. 1.793, §
2.º, CC).

§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem
da herança considerado singularmente.

Não quer dizer que a cessão não possa ser feita, mas dependerá da concordância dos
demais herdeiros. Ex.: “cede para Fulano de Tal os direitos hereditários que tem por falecimento
de XXX, sobre o imóvel Y”. Dependerá da concordância/liberalidade dos demais co-herdeiros.
Isto acontece, normalmente, quando os herdeiros fizeram a partilha de forma amigável, dividindo
entre eles os bens existentes.

Direito de acrescer

A cessão realizada abrange apenas os direitos hereditários existentes no momento da


cessão. Se depois de realizada houver, em favor do cedente, substituição ou direito de acrescer
(em razão de renúncia de um co-herderio, p. e.x.), os direitos daí resultantes não estarão
compreendidos na cessão realizada anteriormente (GONÇALVES, 2012, p. 58).

Direito de preferência do coerdeiro

O herdeiro cedente, conforme art. 504, caput e § 1º, deve dar ciência aos herdeiros

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condôminos, para exercício de prelação (preferência). Nesse sentido, o art. 1.794, CC traz
a determinação de que:

Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à
sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.

Caso não tenha sido dado o direito de preferência à algum coerdeiro, este poderá, nos
termos do art. 1.795, CC, exercer este direito a posteriori:

Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado
o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias
após a transmissão.

Este direito deverá ser exercido em até 180 dias após a ciência da alienação. E se mais
de um herdeiro quiser exercer o direito de preferência? Neste caso, segundo Tartuce (2012, p.
18), deverá o quinhão cedido ser distribuído entre eles, na proporção de suas quotas hereditárias:

Art. 1.795. Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre
eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias.

Outros aspectos relevantes da cessão:

▪ A Escritura Pública de Cessão não está sujeita ao registro imobiliário. Não existe a coisa
em concreto, falta o pressuposto da especialidade, pois o objeto da cessão é a transferência de
direitos e não da propriedade.
▪ A cessão deve ser juntada aos autos do inventário. O cessionário pode manifestar-se no
inventário (deverá se habilitar). Se for único herdeiro, pode requerer a adjudicação do bem
cedido. Pode ser nomeado inventariante. Pode requerer a abertura do inventário.
▪ Quando for feito inventário extrajudicial, pode-se realizar a cessão de direitos no mesmo
dia da escritura de inventário. Basta que todos os impostos (transmissão) estejam pagos.
▪ Pela força dos § § 2º e 3º do art. 1.793, o cedente não responde pela evicção, a menos
que ceda bens inexistentes, ou que não lhe pertençam, em relação à sua quota-parte. Esta regra
decorre do princípio da indivisibilidade da herança e do caráter aleatório da cessão.

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▪ A cessão depende da anuência conjugal (na hipótese de casados) porque a cessão é


translativa. Havendo resistência do cônjuge ou companheiro em anuir à cessão, possível a busca
do suprimento judicial de consentimento. Exceção: art. 1.647: alienar, fazer doação, prestar
fiança ou aval (Regime da Separação de Bens);
▪ O cessionário, responde como responderia o cedente, pelo passivo da herança (até o
limite do quinhão).
▪ A cessão pode sofrer desconstituição Judicial, quando eivada de qualquer dos vícios de
consentimentos;
▪ A ação anulatória deve ser promovida em autos próprios. Pode ocorrer a suspensão do
inventário ou não (depois de decidida a questão, faz-se, então, uma sobrepartilha).
▪ Os direitos testamentários ou legatários podem ser transferidos por cessão.
▪ Quando o cônjuge cede a totalidade, chamamos de cessão da universalidade de Bens
que compõe a meação. O cônjuge sobrevivo pode ceder parcialmente.

1.10 Responsabilidade dos herdeiros

Enquanto não realizada a partilha, o espólio responde pelas dívidas do falecido (art. 597,
CPC/2015), tendo o espólio, representado pelo inventariante, capacidade para ser parte (art. 12,
V, CPC/2015).
O art. 1.792 prescreve que o herdeiro tem responsabilidade somente no limite das forças
da herança, incumbindo-lhe a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demonstrando o valor dos bens herdados. Contudo, para que o herdeiro não responda por
dívidas superiores às forças da herança, terá de comprovar o excesso, salvo se houver inventário
demonstrando o valor dos bens herdados (art. 796, CPC/2015). Como o inventário é um
levantamento dos bens, créditos e débitos existentes em nome do falecido, apura-se o valor das
dívidas e o valor dos bens necessários ao pagamento delas. Só serão partilhados os bens ou
valores que restarem após o pagamento das dívidas existentes (GONÇALVES, 2012, p. 54).

1.11 Abertura do Inventário – art. 1.796

23
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O art. 1.796 prevê que 30 dias após a abertura da sucessão deve-se instaurar o inventário.
O CPC/2015 prescreve no art. 611 o prazo de dois meses a contar do óbito (abertura da
sucessão) para a instauração do inventário. O art. 616 do CPC/2015 arrola outras pessoas que
têm legitimação concorrente.
A inobservância do prazo pode acarretar sanção de natureza fiscal, com a imposição de
multa sobre o imposto, conforme súmula 542, STF. No caso do Rio Grande do Sul não há
nenhum tipo de sanção. Essa multa é, quase sempre, relevada pelo juízo do inventário. CADA
ESTADO REGULA A APLICAÇÃO DESTA SANÇÃO 4.
O foro competente para a propositura do inventário é o mesmo do lugar da abertura da
sucessão:

Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão, instaurar-se-á


inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo competente no lugar da sucessão,
para fins de liquidação e, quando for o caso, de partilha da herança.

1.12 Administração provisória da Herança

Como regra, a administração da herança compete ao inventariante. Contudo, do momento


em que é aberta a sucessão até a nomeação e compromisso do inventariante, a administração
provisória fica a cargo do espólio, que é o administrador provisório (art. 613, CPC/2015).

Art. 613. Até que o inventariante preste o compromisso, continuará o espólio na posse do
administrador provisório.

O administrador provisório está na posse da herança e representa o espólio ativa e


passivamente, devendo trazer ao acervo os frutos dos bens do espólio (art. 614, CPC/2015):

Art. 614. O administrador provisório representa ativa e passivamente o espólio, é obrigado


a trazer ao acervo os frutos que desde a abertura da sucessão percebeu, tem direito ao
reembolso das despesas necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo
ou culpa, der causa.

Mas quem será o administrador provisório? O art. 1.797, CC traz o rol daqueles que podem
ser administradores provisórios:

4
São Paulo: Lei Estadual 10.705/2000; Minas Gerais: Lei Estadual: 14.941/2003; Maranhão: Lei Estadual
.912/1998.

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Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá,


sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um
nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.

Questão que não é pacífica é a obediência ou não a esta ordem. Há decisões que
flexibilizam e permitem que a nomeação do administrador provisório seja distinta desta ordem
do art. 1.797, CC. Outras, contudo, entendem que deva ser, rigorosamente, obedecida.

1.13 Vocação hereditária - Capacidade para suceder - Art.


1.787

Aptidão para tornar-se herdeiro (VENOSA, 2012, p. 50) de uma determinada herança.
Esta capacidade/aptidão é avaliada no momento da abertura da sucessão (morte do autor da
herança – princípio da saisine). O herdeiro, no momento da morte, deve ostentar essa condição.
EXEMPLO 1: Se o autor da herança falecer hoje e deixar um herdeiro e, amanhã, entrar
em vigor lei nova retirando deste a condição de herdeiro, a nova lei não o atingirá, pois já lhe
havia sido transmitido os direitos de posse e domínio.
EXEMPLO 2: Se a abertura da sucessão tiver ocorrido antes da CF/88, que igualou os
direitos sucessórios dos filhos adotivos aos biológicos, se o de cujus tiver deixado um filho
adotivo e o falecimento tiver ocorrido antes da vigência da CF/88, o filho adotivo não herdará
(GONÇALVES, 2012, p. 40). Diferente será se o falecimento ocorrer após a entrada em vigor da
CF/88. Neste caso, o filho adotado herdará da mesma forma que o biológico.
O art. 1.798 trata da legitimidade para suceder, estabelecendo que aqueles que estiverem
vivos ou concebidos no momento da abertura da sucessão serão legitimados a receber a
herança.

Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da


abertura da sucessão.

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Segundo Tartuce (2012, p. 23), o art. 1.798, CC trata da sucessão legítima, admitindo
como herdeiro legítimo somente a pessoa natural e não a jurídica.
A partir daí, vem à tona a questão do nascituro. Salienta Gonçalves que os “nascituros
podem ser, assim, chamados a suceder tanto na sucessão legítima como na testamentária,
ficando a eficácia da vocação dependente do seu nascimento. Podem, com efeito, ser indicados
para receber deixa testamentária” (GONÇALVES, 2012, p. 69). Assim, nascendo com vida, os
efeitos retroagem a data da concepção. Se nascer o feto morto, não terá direitos, será como se
nunca tivesse existido. Assim, os direitos do nascituro são subordinados a condição resolutiva,
ou seja, nascimento com vida (TARTUCE, 2012, p. 24). Da mesma forma, caducam as
disposições testamentárias que beneficiam pessoas já falecidas (a deixa testamentária volta para
a sucessão legítima).
Mas para que tenha direitos, já deve estar o embrião implantado no útero materno? Se for
uma situação de fecundação in vitro haverá direitos sucessórios reservados ou não? De início é
preciso que fique claro que não há uma uniformidade ou unanimidade, nem na doutrina, nem na
jurisprudência.
Há quem entenda que apenas o nascituro (o embrião já implantado no útero materno –
com gravidez comprovada) poderá suceder legitimamente e não o embrião. Nesse sentido:
Euclides de Oliveira e Sebastião Amorim afirmam que se deve exigir a implantação no útero
materno para que possa haver o regular desenvolvimento com vida (TARTUCE, 2012, p. 24).
Em sentido contrário, há os que levam em consideração o art. 1.597, CC, que dispõe que
se presumem concebidas na constância do casamento as pessoas nascidas a qualquer tempo,
em se tratando de embriões excedentários, fecundados por fertilização homóloga. Neste caso:
Zeno Veloso afirma que mesmo após a morte do pai, havendo a implantação do embrião e sendo
a gestação levada a termo, o nascimento com vida e a aquisição da personalidade fazem com
que este filho seja herdeiro, porque considera-se que estava concebido quando o genitor faleceu
e, além disto, há a questão da igualdade trazida pelo art. 227, § 6.º, CF (TARTUCE, 2012, p. 25).
A III Jornada de Direito Civil, realizada em 2004, aprovou o enunciado 267, do Conselho
da Justiça Federal e do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:

Enunciado n. 267 da Jornada de Direito Civil: art. 1.798: A regra do art. 1.798 do Código
Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de
reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a
nascer, cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição de
herança.

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Desta forma, entende o STJ que embrião também é considerado sucessor legítimo. Para
que alguém possa suceder, não basta invocar a ordem da vocação hereditária. Devem ser
preenchidas algumas condições (VENOSA, 2012, p. 53):

Condições para invocar a ordem de vocação hereditária

Deve ser pessoa: animais não podem suceder. O que pode haver é o testador impor ao
herdeiro testamentário um encargo de cuidar de um animal específico

Deve estar viva: pode já estar concebido na época da morte e terá direito se nascer com vida
e, então, tornar-se herdeiro desde a concepção

Deve ser capaz: é a aptidão para herança, a legitimação. Assim, não basta existir no momento
da morte, tem de ser legítimo, pois se o autor da herança tiver deixado descendentes os
ascendentes, mesmo que vivos, não serão legítimos.

Não pode ter sido declarado indigno: aquele que praticar atos contra o autor da herança, que
sejam presumidos incompatíveis com os sentimentos de afeição real ou presumida

a) Legitimação para suceder por testamento


O art. 1.799, CC traz a previsão daqueles que são legitimados a suceder por testamento,
além daquelas já existentes ou concebidas o momento da abertura da sucessão (nascituro):

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:


I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de
fundação.

No inciso I, o legislador abre exceção à regra geral, possibilitando que filhos não
concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que estas estejam vivas quando da
abertura da sucessão, venham a ser herdeiros testamentários. É a chamada prole eventual ou o
concepturo.
Mas, se, por exemplo, o testador instituir cláusula no testamento, contemplando o filho
não concebido de sua filha (seu eventual neto, portanto) e, quando a sucessão for aberta sua
filha estiver morta, caducará a disposição testamentária.

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Dispõe o art. 1.800, CC que depois de feita a partilha os bens serão entregues a um
curador nomeado pelo juiz:

Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão confiados,
após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz.
§ 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa cujo filho o
testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas indicadas no art. 1.775.
§ 2º Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, regem-se
pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que couber.
§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos
e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador.
§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro
esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos
herdeiros legítimos.

Deve ser destacado o § 4.º, que estabelece que se até dois anos após a abertura da
sucessão não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados caberão aos herdeiros
legítimos.
Quem deve existir no momento da morte do autor da herança são os pais do beneficiado,
não este, que, na hipótese, sequer precisa estar concebido (GONÇALVES, 2012, p. 73).

ATENÇÃO
Também deve ser salientado que essa disposição do art. 1799, I, do Código Civil,
aplica-se tanto a filhos biológicos, quanto a filhos adotivos, em razão da igualdade estabelecida
pela Constituição Federal, no art. 227, §6º.

Com relação aos filhos havidos em razão de inseminação artificial, a questão é


diferenciada (e, de certa forma, injusta). Gonçalves (2012, p. 75) explica bem a situação:

Em princípio não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi concebido por
inseminação artificial post mortem, uma vez que a transmissão da herança se dá em
consequência da morte (CC, art. 1.784) e dela participam as “pessoas nascidas ou já
concebidas no momento da abertura da sucessão” (art. 1.798).
A questão, no entanto, é tormentosa e cabe à doutrina e à jurisprudência fornecer
subsídios para sua solução. A doutrina brasileira se inclina no sentido de negar legitimação
para suceder aos filhos havidos por métodos de reprodução assistida, quer na hipótese
de a morte do ascendente preceder à concepção, quer na de implantação de embriões
depois de aberta a sucessão. Solução favorável à criança ocorreria se houvesse
disposição legislativa favorecendo o fruto de inseminação post mortem.
[...]
[...]se o Código Civil de 2002 trata os filhos resultantes de fecundação artificial homóloga,,
posterior ao falecimento do pai, como tendo sido “concebidos na constância do
casamento”, não se justifica a exclusão de seus direitos sucessórios. Entendimento
contrário conduziria à aceitação da existência, em nosso direito, de filho que não tem

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2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
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direitos sucessórios, em situação incompatível com o proclamado no art. 227, § 6.º, da


Constituição Federal.

O inciso II, do art. 1.799, CC permite que também as pessoas jurídicas possam ser
beneficiadas no testamento. Desta forma, qualquer pessoa pode ser contemplada no testamento,
tanto física quanto jurídica, simples ou empresária, de direito público ou privado.
O inciso III, do art. 1.799, CC permite que o testador beneficie uma fundação que, nos
termos do art. 62, pode ser criada por escritura pública ou testamento. Neste último caso,
segundo Gonçalves (2012, p. 77), “por ainda não existir a pessoa jurídica idealizada pelo
testador, aberta a sucessão os bens permanecerão sob a guarda provisória da pessoa
encarregada de instituí-la, até o registro de seus estatutos, quando passará a ter existência
legal”.
A doutrina admite que o testador deixe bens para uma pessoa jurídica existente de fato,
mas não de direito. São os casos das sociedades de fato, nos termos do art. 986, CC. O que se
deve perceber é que estas pessoas jurídicas existem, já estão atuando, ainda que não tenham
seus documentos constitutivos registrados. O que não se permite é que o testador beneficie
pessoa jurídica que, sequer existe de fato.
Se, contudo, os bens destinados para constituir a fundação forem insuficiente e o testador
não dispuser de forma diversa, deverão os bens serem destinados a outra fundação que tenha
finalidade igual ou semelhante (art. 63, CC). OBSERVAÇÃO: Já caiu questão no exame de
ordem sobre esta situação!

b) Pessoas que não podem ser nomeados herdeiros testamentários, nem legatários

O art. 1.801 menciona que outras pessoas não podem ser nomeadas herdeiras, nem
legatárias:

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou
os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim
como o que fizer ou aprovar o testamento.

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2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
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Essas incapacidades passivas ocorrem em razão de serem consideradas suspeitas. No


inciso I a exclusão se dá por suspeição. No inciso II, da mesma forma, para garantir a segurança
da vontade do testador, evitando influência das testemunhas. O concubino do testador casado
também não pode figurar na sucessão (III) – concubinato = relação não eventual entre homem e
mulher impedidos de casar. O inciso IV veda ser instituído como herdeiro ou legatário o tabelião
ou escrivão, enfim, a autoridade perante quem se fizer ou aprovar o testamento. O intuito também
é proteger e assegurar a vontade livre do testador.

c) Simulação de contrato oneroso e interposição de pessoa

O art. 1.802 dispõe:

Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas
a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.

Assim, mesmo com as proibições dos arts. 1.801, 1.798, 1.799, I, se forem contempladas
pessoas neles constantes, de forma direta ou mediante simulação, as disposições
testamentárias serão NULAS.

A nulidade da deixa testamentária pode revestir-se de duas formas: a) o testador


dissimulada a liberalidade sob a aparência de contrato oneroso; ou b) recorre a interposta
pessoa para beneficiar o proibido de suceder (GONÇALVES, 2012, p. 84).

Para exemplificar a situação:


a) o testador confessa ser devedor de obrigação inexistente, ou alega ter prometido à
venda certo bem, afirmando já ter recebido o preço acordado;
b) o testador utiliza um “testa de ferro” para realizar a operação que tinha em mente;
c) o testador, com intenção de beneficiar a concubina, institui o pai da mulher,
beneficiando-a, indiretamente.
É lícita, contudo, a deixa ao filho do concubino, se também o for do testador (art. 1.803).

1.14 Aceitação da herança

30
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Com o falecimento abre-se a sucessão e a transmissão opera-se desde logo. A aceitação


revela a anuência do beneficiário em receber a herança. Assim, o recebimento da herança é
facultativo, pois o beneficiário poderá deliberar (aceitar ou renunciar) seu direito. A aceitação
(ou adição) da herança é o ato pelo qual o herdeiro concorda com a transmissão dos bens do de
cujus, que ocorreu, por lei, no momento da abertura da sucessão.

OBSERVAÇÃO
Enquanto não manifesta a aceitação, entrementes, não é definitiva a transmissão, no
que foi claro o Código Civil em seu art. 1804. Embora se dê transmissão imediata, a aceitação
vem a ser uma confirmação da aquisição que se dá a partir da abertura da sucessão.

ESPÉCIES DE ACEITAÇÃO

O art. 1.805, estabelece as duas formas de aceitação: expressa e tácita.


a) Expressa - É a manifestada por escrito, público ou particular, de que o beneficiário
deseja receber a herança.
b) Tácita - É a que prevalece (Art. 1805, segunda parte, CC). A aceitação tácita resulta
de qualquer ato que demonstre a intenção de aceitar a herança, atos compatíveis com caráter
de herdeiro:

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a) Se o herdeiro cede seus direitos hereditários;

b) Se o herdeiro nomeia advogado e se faz representar como tal no inventário

c) Se o herdeiro concorda com a avaliação ou contesta;

d) Se o herdeiro efetua cobrança de dívidas do espólio;

e) Se requer a abertura do inventário;

f) Quando paga dívida dos de cujos com numerário proveniente do espólio;

g) Quando doa bens da herança

g) Que pratica atos que vão além de simples atos de conservação e administração e que impliquem,
necessariamente, a intenção de aceitar

i) O silêncio do herdeiro, quando notificado para manifestar-se (art. 1807)

Art. 1805, §1º, CC: “não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos, como o funeral
do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda interina”. Esses atos
são praticados de forma altruísta, sem o intuito de aceitar a herança.

* Para todos verem: esquema

Administração e guarda
Atos oficiosos
provisória
• Praticados de forma • praticados pelo herdeiro para
desinteressada, com objetivo atender a uma necessidade
de prestar favor premente, sem intenção de
tê-los para si

Art. 1805, §2º, CC: a cessão pura e simples para os demais coerdeiros também não
importa aceitação da herança – equivale a uma renúncia (GONÇALVES, 2012, p. 91).
c) Presumida - É o que ocorre no caso do art. 1807, CC, quando algum interessado em
saber se o herdeiro aceita ou não a herança faz requerimento ao juiz, após passados 20 dias da
abertura da sucessão, para que lhe intime a dizer, em prazo não superior a 30 dias, se aceita ou

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não a herança (GONÇALVES, 2012, p. 91). Nesse caso, o silêncio é interpretado como
manifestação da vontade (aceitação presumida).
Percebe-se, então, que a aceitação tácita difere da presumida, pois a última depende
da provocação de um terceiro interessado, enquanto que a primeira resulta “de atos
próprios da qualidade de herdeiro”.
* Para todos verem: esquema

Quem seriam os interessados?

Os demais herdeiros

As pessoas que, em caso de não aceitação, serão promovidas à condição de herdeiros

Algum credor

FORMA QUE A PESSOA MANIFESTA A ACEITAÇÃO

a) Direta: oriunda do próprio herdeiro;


b) Indireta: quando alguém faz pelo herdeiro. Pode acontecer em algumas hipóteses:
- Oriunda de sucessores (art. 1809, CC): se o herdeiro falecer antes de aceitar a herança
impede a transmissão desta a seus sucessores. Neste caso, transmite-se a eles o direito de
aceitá-la ou repudiá-la. Contudo, se para o recebimento da herança deve ser implementada uma
condição (diploma universitário, p. ex.), se falecer o herdeiro antes da realização da condição, o
direito hereditário é como se nunca tivesse existido e, portanto, os sucessores do herdeiro não
poderão aceitar por ele.
EXEMPLO: A falece e deixa dois sucessores: B e C. Antes que houvesse a aceitação da
herança por estes, B falece e deixa os herdeiros X e Y. Neste caso, X e Y:
• Podem recusar a herança do avô e aceitar a do pai;
• Podem recusar a do pai;
• Não podem recusar a do pai e aceitar a do avô – seria, de certa forma, um aceite
“parcial” da herança!

→ Mandatários: é possível haver renúncia ou aceitação da herança por procuração.


→ Tutor ou curador: representantes do incapaz, mediante autorização judicial (art. 1748,
II, CC).

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→ Credores: não poderá haver renúncia com prejuízo aos credores. Nesse caso, os
credores poderão aceitar a herança em nome do renunciante, a fim de evitar a fraude (art. 1.813,
CC). Neste caso os credores, com autorização do juiz do inventário, aceitam a herança, recebem
o quinhão hereditário do renunciante (na proporção da dívida) e, havendo saldo, os demais
bens/valores serão entregues aos demais herdeiros que seriam beneficiados com a renúncia. O
saldo não será devolvido ao renunciante.
c) Aceitação parcial ou condicional: Não pode haver aceitação parcial. Nesse sentido,
temos que interpretar o art. 1808, caput e §1º, CC, pois trata da questão de um mesmo herdeiro
ser:
→ Herdeiro universal de um título e;
→ Legatário de um título singular.

Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo.
§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou,
aceitando-a, repudiá-los.

Assim, considerando que se trata de modalidades de sucessão distintas, nada impede


que o beneficiário renuncie ou não aceite integralmente a uma sucessão, conservando a outra.
Ele renuncia a toda herança e aceita o legado por inteiro, ou renuncia a todo o legado, aceitando
toda a herança.
O herdeiro ao continuar na posse dos bens, ocupa o lugar do de cujus em todas “as
relações jurídicas, sub-rogando-se em seus direitos e obrigações”.
O que lhe é vedado é aceitar parcialmente a herança. (A segunda parte do § 1º do art.
1.808 é que permite a renúncia parcial). Portanto, não pode o sucessor aceitar a herança sob
determinada condição (aceita, mas se não tiverem dívidas a serem pagas).

IRREVOGABILIDADE DA ACEITAÇÃO

O Código Civil, em seu art. 1.812, define a irrevogabilidade da aceitação e de renúncia.


Assim, realizada a aceitação (expressa ou tácita ou presumida) não haverá possibilidade de
revogar tal ato, de modo que a aceitação gera efeitos imediatos e definitivos.

ANULAÇÃO DA ACEITAÇÃO

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Assim, depois de realizada a aceitação, se for verificado que o aceitante não é o herdeiro,
como por exemplo, chamar-se à sucessão os colaterais e, depois, verificar-se a existência de
filhos, deverá ser declarada a ineficácia da aceitação, devolvendo-se a herança a quem de
direito. Se, contudo, o inventário já tiver sido julgado, como homologação da partilha, apenas
com a ação de petição de herança é que será possível reivindicar o que lhe cabe.

1.15 Renúncia da herança – Art. 1.806, CC

É o ato solene pelo qual a pessoa, chamada à sucessão de outra, declara que não aceita.
O herdeiro não é obrigado a aceitar a herança. A recusa de recebê-la chama-se renúncia ou
repúdio. Os efeitos da renúncia retroagem a data da abertura da sucessão. Não se presume,
pois é negócio formal e não está sujeita a condição ou termo.

ATENÇÃO
A renúncia tem como característica: unilateralidade, gratuidade, irretratabilidade,
formalidade. Não é possível haver promessa de renúncia.

Segundo o art. 1.806, CC, deve ser feita por instrumento público ou termo nos autos,
sendo, portanto, vedada a renúncia tácita. Necessita de uma ação, de uma atividade por parte
do herdeiro renunciante. Trata-se, pois, de negócio solene.
O art. 1808 do Código Civil NÃO ADMITE CONDIÇÃO OU TERMO na renúncia, ou
seja, ela é essencial, pura e simples.
EXEMPLO: Escritura pública de renúncia: por meio desta escritura pública de renúncia,
Joãozinho renuncia a herança de Carlinhos, para que Marquinhos seja beneficiado. Nesse caso,
se o herdeiro renunciante declarar que deseja beneficiar outro herdeiro, a hipótese não é de
renúncia, mas de cessão de direitos hereditários.

ATENÇÃO
Não existe renúncia em favor de alguém. Se alguém renunciar em favor de outrem,
trata-se de transmissão = cessão de direitos.

DISTINÇÃO ENTRE OS TIPOS DE RENÚNCIA

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→ Abdicativa: é a verdadeira renúncia, pura, simples, sem condição, é dizer que não
quer, sem indicar favorecido. Essa renúncia opera-se em favor do monte.
→ Translativa: o herdeiro que renuncia em favor de determinada pessoa, o que implica
em transmissão da herança, envolvendo duas declarações de vontade: aceitação e alienação
simultânea. A renúncia existe apenas no nome, pois se trata de cessão de direitos hereditários.

REQUISITOS DA RENÚNCIA PARA SER VÁLIDA

Para validade da renúncia são indispensáveis alguns pressupostos ou requisitos, como:


a) expressa; b) instrumento público ou termo judicial; c) capacidade civil plena (não pode
renunciar aquele que for incapaz, nem por seu representante legal - curador, a menos que
obtenha a autorização judicial); d) só é válida após a abertura da sucessão; e) sendo casado o
herdeiro, há a necessidade da anuência do cônjuge, salvo se casado em separação convencional
de bens; f) retroage à data da abertura da sucessão; g) não pode prejudicar credores (neste
caso, eles podem requerer ao juiz para aceitar em nome do renunciante); h) a parte do herdeiro
renunciante acresce aos herdeiros de mesma classe; i) incompatível com a representação.

EFEITOS DA RENÚNCIA

Muitas são as implicações do ato de renunciar, irradiando alguns efeitos, em especial, a


exclusão do herdeiro renunciante de forma ampla e definitiva.
a) Exclusão, da sucessão, do herdeiro renunciante: o RENUNCIANTE é tratado como
se nunca tivesse sido herdeiro (retroage à data da abertura da sucessão, ou seja, desde o
óbito). O renunciante é afastado da sucessão (art. 1.810 e 1811). NÃO CABE, PORTANTO,
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO.

ATENÇÃO
Enunciado n. 575 da Jornada de Direito Civil: Concorrendo herdeiros de classes
diversas, a renúncia de qualquer deles devolve sua parte aos que integram a mesma
ordem dos chamados a suceder.

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b) direito de acrescer: a parte do renunciante passa imediatamente à dos outros


herdeiros da mesma classe, nos termos do art. 1810, CC.
* Para todos verem: esquema

De cujus

C-
A B
Renunciante

A e B recebem a cota de “C” – A herança será divida em duas partes.

c) Se ele for o único descendente e renunciar, a renúncia não atinge aos herdeiros da
próxima classe (art. 1.810, segunda parte). Com isto, se o renunciante for filho único e tiver filhos,
estes serão os herdeiros (os netos do falecido). Nesse caso, os netos herdam em condição
própria, caso esses não existam, são convocados os ascendentes, seguindo-se a ordem legal.

* Para todos verem: esquema

De cujus

H L

d) Renúncia e representação são incompatíveis (art.1.811). Se o renunciante vier a


falecer, os seus herdeiros não herdam. Inexiste direito de representação. Os descendentes do
de cujus não podem representar o renunciante na sucessão do ascendente, salvo se ele for o
único herdeiro de sua classe ou se todos os herdeiros de mesma classe renunciarem.

* Para todos verem: esquema

37
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A e B recebem a DE
cota de “C”. CUJUS

A B C Herdeiro renunciante

Herdeiros de C: não
herdam
H L M

e) Se todos os herdeiros da mesma classe renunciarem, os filhos (netos do autor da


herança) serão chamados a suceder por direito próprio, por cabeça (art. 1811, CC). Neste caso,
mesmo que o falecido tiver deixado vários filhos, todos renunciantes, e cada um deles com
quantidade diversa de filhos, cada neto do autor da herança receberá em partes iguais, como se
os seus pais jamais tivessem existido (serão, todos eles, herdeiros de mesma classe e, neste
caso, não há diferença no percentual da herança). Se ele for o único descendente e renunciar,
essa renúncia não atinge aos netos, que herdam em condição própria, caso esses não existam,
são convocados os ascendentes...

DE A, B e C = herdeiros
CUJUS renunciantes X, H, L e Y herdam por
direito próprio ou
A B C cabeça. Não há
diferença de
percentual na herança,
neste caso.
X H L Y

f) SE A RENÚNCIA FOR LESIVA AOS CREDORES, aplica-se o art. 1813, de forma que
o credor poderá aceitar a herança pelo renunciante. Satisfeito o débito, havendo saldo, este será
devolvido ao monte, para repartir entre os demais herdeiros.

RENÚNCIA DE LEGADO E HERANÇA

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Há diferença entre a renúncia de herança legítima e testamentária. No segundo caso,


havendo renúncia ao testamento, se houver substituto, este receberá. Do contrário, será
devolvido à massa. O art. 1.947, CC permite que o testador indique um substituto no testamento,
caso o beneficiário não aceite a herança ou legado:

Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário nomeado,
para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a herança ou o legado,
presumindo-se que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda que o
testador só a uma se refira.

Com isto, se houver substituto, havendo renúncia por parte do beneficiário, o substituto
herdará. Se não houver (ou o substituto também renunciar), a herança ou legado deixados por
testamento deverá ser partilhada.
De qualquer forma, na sucessão testamentária, a renúncia do herdeiro acarreta a
caducidade da instituição, salvo se o testador tiver indicado substituto (CC, art. 1.947) ou houver
direito de acrescer entre os herdeiros (art. 1.943).

IRREVOGABILIDADE DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA

Art. 1812, CC – São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança. A


renúncia é irrevogável, a não ser que se comprove que o renunciante obrou por um vício que
aderiu a sua vontade. Nesse caso, se o ato de consentimento encontra-se viciado é anulável.
A renúncia é, também, irretratável, não admite revogação, pois, tratando-se de ato
jurídico unilateral. É um ato solene e se aperfeiçoa no momento da emissão da vontade, gerando
seus efeitos. ELA SE OPERA RETROATIVAMENTE.
É claro, como qualquer ato jurídico, proveniente de erro, dolo ou violência pode sofrer a
sanção de invalidade (é anulável a renúncia). OBS: art. 1813.
Nesse caso, ocorrerá a invalidade absoluta se não tiver sido feita por escritura pública ou
termo judicial, quando feita por pessoa absolutamente incapaz, não representada e sem
autorização judicial; e relativa, quando proveniente de erro, dolo ou coação, a ensejar a anulação
do ato por vício de consentimento, ou quando realizada sem a anuência do cônjuge, se o
renunciante for casado em regime que não seja o da separação absoluta de bens.

QUADRO COMPARATIVO
Renúncia Cessão

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Antes de aceitar a herança Após aceitar a herança


Escritura pública ou termo nos autos Somente por escritura pública
Expressa Expressa
Não pode haver renúncia em favor de
pessoa determinada – operada a renúncia A cessão é em benefício de pessoa ou
a quota parte divide-se entre os demais pessoas determinadas
herdeiros
Repúdio total da herança Cessão pode ser parcial ou total
Irrevogável Irrevogável
Admite retratação em caso de vício de
vontade – mas e caso de anulação ou -
nulidade
Cedida a herança e havendo direito de
Renunciada a herança, a parte do acrescer ou substituição, o cedente segue
renunciante acresce a dos demais tendo direitos (a cessão é apenas dos
bens existentes à época da cessão)
Cessionário assume a posição
Renunciada a herança, o herdeiro fica equiparável a de herdeiro e este segue
como se nunca tivesse existido tendo direitos sobre direito de acrescer e
substituição

1.16 Excluídos da sucessão – art. 1.814 a 1.818, CC

A sucessão hereditária está assentada em uma razão de ordem ética: a existência de


afeição entre o falecido e o herdeiro. Este último deve manter um sentimento de gratidão e/ou
respeito à pessoa do de cujus. A inexistência ou a quebra desta afetividade, através da prática
de atos de desapreço e menosprezo contra o autor da herança ou atos delituosos, torna o
herdeiro indigno de receber os bens deixados pelo falecido.

1.16.1 Indignidade – ART. 1.814

A indignidade é uma sanção civil que acarreta na perda do direito sucessório por parte do
herdeiro que venha a cometer os atos expressos no art. 1.814, CC.
No caso de prática de atos atentatórios ao de cujus, o legislador cria uma pena, que
consiste na perda da herança. Aplica-se ao sucessor legítimo e/ou sucessor legatário
(testamentário) que houver praticado ato de ingratidão.

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O art. 1.814, CC traz expressas as causas que importam na exclusão do herdeiro


considerado indigno. Trata-se de situações taxativas, não se admitindo qualquer tipo de
interpretação expansiva, que se dão em razão de:
* Para todos verem: esquema

Atentados contra
a vida

Hipóteses de
Atentados conra
exclusão da
a honra
sucessão

Atentados contra
a liberdade do de
cujus

Não se admitem outros casos. A matéria não admite INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA


OU ANALÓGICA. O reconhecimento da indignidade deverá ser porfiado em ação própria,
estritamente, nas hipóteses legais.

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I – que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente
ou descendente;
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em
crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro.
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de
dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

I – é o de homicídio, tentado ou consumando, cometido pelo herdeiro contra o autor


da herança.

Como se vê, – pela própria redação do inciso – o reconhecimento da indignidade


independe de anterior condenação do indigno no juízo criminal.
A prova dessa indignidade pode ser feita no cível. É a mais grave das causas apontadas
pelo legislador, pouco importando os motivos.
A pena é aplicada aos que praticaram homicídio doloso ou tentativa contra o autor da
herança e seus parentes sucessíveis.
A prova do fato e da culpabilidade é feita no curso da ação civil. Não é preciso que já
tenha havido condenação criminal. Contudo, se já tiver sido condenado no crime, não mais se

41
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discute no cível sobre quem é o autor do fato (a sentença penal transitada em julgado faz coisa
julgada no cível). Também, se o autor do fato tiver sido absolvido no criminal, não poderá ser
declarado indigno no juízo cível.
Além da sanção cível – exclusão por indignidade – o autor dos atos atentatórios contra a
vida do autor da herança ou ascendentes ou descendentes seus, sofrerá, ainda, as sanções
penais cabíveis.
E se houver sentença criminal absolvendo o réu (herdeiro), por inimputabilidade? E se o
juiz, absolver o réu pela inexistência do fato?
Nestes casos, a sentença criminal faz coisa julgada no cível, ou seja, civilmente a exclusão
ou a tentativa desta não surtirá efeitos (art. 935, CC). Portanto, a sentença do juízo criminal
impede que no cível se reconheça a indignidade.
Por outro lado, verifica-se que a lei exige que o homicídio seja voluntário. Exclui-se,
portanto, o homicídio culposo, decorrente de imprudência, imperícia e negligência. O dolo é
essencial para o reconhecimento da exclusão do herdeiro.

II – a hipótese retrata caso de denunciação caluniosa (art. 339, CP), da calúnia (art.
138), injuria (art. 139) e difamação (art. 140, CP). APENAS NA FORMA CONSUMADA – não
existe, neste caso, tentativa

O que diz o art. 339 do CP: “dar causa a instauração de investigação criminal ou processo
judicial contra alguém,(...) imputando-lhe a prática de crime que sabe ser inocente”.
Denunciação caluniosa.
Nos casos de calúnia, injúria e difamação ocorre o mesmo.
Pergunta-se: É necessária a condenação do herdeiro para se reconhecer a indignidade?
O que importa é, sem dúvida, saber se o herdeiro deu causa à ação penal contra o falecido.

III – Neste caso a lei visa garantir a plena liberdade de disposição do de cujus.

Inibir é cercear a livre disposição dos bens. Obstar é impedir a livre disposição. Em ambos
os casos, a conduta do herdeiro importa em indignidade. Trata-se, aqui, da fraude, do dolo e
da coação, denominados de atos inibitórios, que interferem na vontade do autor herança. Ora,
se o herdeiro pratica atos inibitórios abusando da confiança do testador ou falsificando a

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manifestação de vontade, deve responder pelo ato, ensejando o afastamento da sucessão pelo
reconhecimento da indignidade, em autos apartados. Algumas situações fáticas:

Herdeiro constrange o de cujos a testar

Herdeiro impede-o de revogar testamento anterior

Herdeiro suprime testamento cerrado ou particular dele

Herdeiro elabora testamento falso

Herdeiro, cientemente, pretende fazer uso de testamento falsificado

PROCEDIMENTO PARA OBTENÇÃO DA EXCLUSÃO – AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INDIGNIDADE
O reconhecimento da indignidade pressupõe uma declaração judicial (art. 1.815), de forma
que será proclamada por sentença, em regra, em ação promovida pelos interessados. Deve,
portanto, haver uma ação declaratória intentada com o objetivo de excluir o herdeiro da herança,
possibilitando o devido contraditório e a ampla defesa do herdeiro excluído.
O legitimado para propor a ação declaratória é qualquer interessado na sucessão. Assim,
admite-se a propositura por coerdeiro, Município, Distrito Federal ou União, na falta de
sucessores legítimos e testamentários. Havendo interesse público, o Ministério Público pode
propor a ação:

ATENÇÃO
Enunciado n. 116 da Jornada de Direito Civil: O Ministério Público, por força do art.
1815 do novo Código Civil, desde que presente o interesse público, tem legitimidade para
promover ação visando à declaração da indignidade de herdeiro ou legatário.

Não tem interesse, contudo, aquele que não tiver benefício direto com a exclusão.
EXEMPLO: Quando o excluído tiver filhos, em razão do disposto no art. 1.816, CC, os irmãos do
indigno não terão legitimidade para propor a ação, pois não se beneficiarão com sua exclusão.
Trata-se de ação de interesse privado, mas, quando houver interesse público, admite-se
a legitimidade do Ministério Público. Neste sentido o enunciado 115, CJF/STJ:

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ATENÇÃO
O Ministério Público, por força do art. 1815 do Código Civil, desde que presente
o interesse público, tem legitimidade para promover a ação visando à declaração de
indignidade de herdeiro ou legatário.

A ação declaratória de indignidade só pode ser proposta após a morte do autor da


herança, pois antes não existe a sucessão. Com isto, há que se dizer que o herdeiro excluído
chega a receber a herança (pelo princípio da saisine). A eficácia da sentença, instaurado o amplo
contraditório, retira a qualidade de herdeiro: efeitos ex tunc (retroativo).
O prazo para a propositura da ação é de 4 anos contados da abertura da sucessão –
art. 1.815, § 1.º, CC.

EFEITOS DA INDIGNIDADE – ART. 1816 CC

a) são pessoais os efeitos da exclusão – a condenação não passa da pessoa do


excluído. Se o excluído tiver filhos, estes herdarão em seu lugar, pois é como se o excluído fosse
morto antes da abertura da sucessão. O fundamento é de que a pena não passa da pessoa do
condenado. Desta forma, os herdeiros do indigno sucedem por representação.

* Para todos verem: esquema

De H – Herdeiro indigno.
cujus A e B – herdarão por representação (no lugar de seu pai,
como se ele nunca tivesse existido).
Com isto:
X – Recebe 1/3
Y – Recebe 1/3
X Y H A e B – dividem o 1/3 que caberia a seu pai.

A B

Se, contudo, não houverem herdeiros descendentes do indigno (se, no caso acima, A e B
não existissem), a parte do indigno será partilhada entre os herdeiros de mesma classe, que
herdarão por direito próprio. Neste caso, X e Y herdariam, cada um, 50% dos bens deixados.
No caso da sucessão testamentária, se houver substituto, este herdará. Do contrário,
voltará para o monte partilhável.

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b) os efeitos da sentença retroagem à data da abertura da sucessão: embora se


reconheça que o indigno receber a herança no momento da abertura da sucessão, com a
sentença, os efeitos retroagem até esta data, de forma que o legislador determina que o indigno
seja considerado premorto (com isto, não há a incidência de imposto sobre a quota parte do
indigno, ou seja, se este tiver filhos, não haverá ITCD sobre o seu recebimento e ITBI sobre a
transmissão para seus filhos).

c) perda dos frutos e rendimentos: nos termos do art. 1.817, §único, o herdeiro excluído
deve restituir os frutos e rendimentos que tenha obtido até a declaração de indignidade, mas tem
direito a ser ressarcido das despesas com a conservação dos bens.

d) perda do usufruto e da administração dos bens que couberem aos filhos: com a
declaração de indignidade, se o excluído tiver filhos, estes serão os beneficiários da herança. O
art. 1.689, I e II, CC, prevê que os pais são os administradores e usufrutuários dos bens dos
filhos. Neste caso, sendo declarado indigno, o genitor perderá este direito. Se assim não fosse,
poderia tirar proveito dos bens da herança, da qual foi afastado por ingratidão.
Se o indigno é considerado um morto civil, para efeitos sucessórios, é natural que se lhe
retire a administração e o usufruto dos bens. Art. 1.816, § único.

VALIDADE DOS ATOS PRATICADOS PELO HERDEIRO APARENTE

O herdeiro indigno, como já afirmado, até o trânsito em julgado da sentença declaratória


de indignidade é considerado herdeiro legítimo. Desta forma, o art. 1.817, CC, prevê que os atos
de alienação onerosa realizados a terceiros de boa-fé, praticados antes da sentença de exclusão
são válidos. Cabe aos herdeiros prejudicados demandar, contra o excluído, indenização por
perdas e danos. NESTE CASO OS EFEITOS DA SENTENÇA SÃO EX NUNC – não
retroagem!!! (No geral a sentença retroage a data do óbito – privilégio da boa-fé).
Contudo, esta validade do ato dependerá de haver boa-fé do adquirente e, ainda, do ato
ter sido realizado a título oneroso. Se, contudo, tiver ciência da indignidade e, ainda assim,
adquirir o bem, deverá devolvê-lo. E, ainda, da mesma forma, se o ato for gratuito.

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REABILITAÇÃO DO INDIGNO – ART. 1.818, CC

O Código Civil admite expressamente a possibilidade de reabilitação do herdeiro pelo


autor da herança, através de testamento ou outro ato autêntico.
Trata-se de perdão. Sabem-se os sentimentos: PAI É PAI, MÃE É MÃE. Pode ocorrer que
o autor da herança, em vida, queira que o autor da ingratidão, não seja excluído, muito embora
tenha sido caluniado, injuriado, etc... Exclui-se, evidentemente, o homicídio, pela lógica do
impossível.
Este perdão é solene, porque a lei diz: ATO AUTÊNTICO OU TESTAMENTO, de forma
que deve ser expresso, embora não exista a exigência de palavras sacramentais. A reabilitação
do herdeiro pelo perdão, uma vez concedida, é irretratável.
Mesmo que o testamento seja anulado, a cláusula que reabilita o indigno permanece
válida.
Ato autêntico é qualquer declaração, por instrumento público, não se admitindo a validade
da escritura particular, cartas, declarações verbais ou de próprio punho, ainda que corroboradas
por testemunhas.
E se o ofendido após o ato de indignidade contemplar o herdeiro, por via testamentária?
Aqui, evidentemente, o herdeiro está reabilitado. Não há a necessidade de que exista a
expressão “perdoo o indigno”, ou algo equivalente, mas tão somente disposições que indiquem
o perdão. A redação do parágrafo único do art. 1.818, CC. O ato de perdão é inequívoco. Não
existe perdão tácito.
Então temos que o perdão, ou melhor, a reabilitação pode ser:

* Para todos verem: esquema

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Expressa

Reabilitação
Tácita - mas por via
testamentária
contemplando o
herdeiro

1.16.2 Deserdação

A deserdação é uma causa de exclusão pela qual o autor da herança, através de


disposição de última vontade – testamento – exclui de sua sucessão o herdeiro necessário que
tenha praticado atos moralmente censuráveis e previstos na lei civil.

ATENÇÃO
Só se aplica aos herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuges)
que ficam privados de sua legítima, sem atingir a meação.

Trata-se de uma pena civil que é aplicada pelo próprio autor da herança, através de
testamento.

Causas da deserdação – art. 1.814, art. 1.962 e art. 1.963, cc

Os arts. 1.814, 1.962 e 1.963 trazem as causas da deserdação. Dispõe o art. 1.814, CC:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente
ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em
crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de
dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

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Além destas, também autorizam a deserdação as causas previstas no art. 1.962 e 1.963,
CC:
▪ Ofensas físicas: não bastam ameaças. A violência dever ser real e efetiva. Ato
voluntário do filho contra o pai. Ainda que tenha acarretado somente lesões corporais de
natureza leve e independentemente de condenação criminal. Aplicam-se ao caso as
excludentes de ilicitude.
▪ Injúrias graves: devem ser dirigidas diretamente contra o testador. Não se justifica
a deserdação quando a ofensa atinge aos seus familiares. Contudo, a injúria contra o cônjuge
ou companheiro é passível de deserdação (art. 1.814, II). O adjetivo grave deve ser considerado
e a gravidade será avaliada conforme o caso concreto: cartas, bilhetes, gestos obscenos,
condutas.
▪ Relações ilícitas com a madrasta ou padrasto: podem criar um ambiente
prejudicial para a paz familiar. Não exige relações sexuais. Pode ser atos lascivos, libidinagem,
intimidade, luxúria, etc.
▪ Desamparo, abandono, falta de assistência: pode abranger a falta de assistência
moral, material ou espiritual.

Requisitos de eficácia da deserdação

O art. 1.964 afirma que somente com a declaração expressa da causa é que a deserdação
poderá ser ordenada via testamento. Fazendo-se a interpretação deste dispositivo com o art.
1.961, CC, tem-se que são requisitos para a deserdação:
a) Existência de herdeiros necessários: a deserdação constitui-se da exclusão do
herdeiro necessário (descendente, ascendente ou cônjuge), sendo o único meio legal de afastá-
los da sucessão.
b) Testamento válido: a deserdação não produz efeitos quando o testamento é nulo,
revogado ou caduco. O testamento é a única forma de haver a deserdação. Não se admite outra
forma. A deserdação deve ser expressa, embora não haja expressões sacramentais. O perdão
ao deserdado só pode ser concedido em novo testamento.
c) Expressa declaração de cláusula prevista em lei: as causas estão no art. 1.814,
1.962 e 1.963, CC. O rol é taxativo. Não se admitem outras causas não previstas. O testador
deve mencionar no testamento o motivo, a causa que o leva a deserdar o herdeiro.

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d) Propositura de ação ordinária: para que a deserdação seja ultimada, não basta a
simples declaração via testamento. Deve haver, ainda, uma ação ordinária, promovida pelo
beneficiário pela deserdação do herdeiro, que prove a veracidade da causa alegada pelo
testador, nos termos do art. 1.965 do Código Civil.

Efeitos da deserdação

O art. 1.816, CC afirma que os efeitos da exclusão são pessoais. Apesar de não haver
previsão expressa para a deserdação, aplica-se este mesmo dispositivo, tendo em vista que o
objetivo da indignidade e da deserdação é o mesmo.
* Para todos verem: esquema

Privação em todo ou parte, da legítima, sendo o deserdado havido como se morto fosse

É de índole pessoal a sanção

Aos ascendentes não cabe a representação

Os descendentes recolhem a herança por direito de representação

Diferenças entre indignidade e deserdação


* Para todos verem: quadro comparativo
Indignidade Deserdação
Decorre de lei, que prevê a sanção nos
Decorre da vontade do autor da herança
casos de prática de atos previstos no art.
que, em testamento, pune o responsável
1841, CC
Resulta de causa impessoal, lastreando- Advém da vontade direta e expressa do
se na vontade presumida testador
Só pode ocorrer na sucessão
É instituto de sucessão legítima, ainda testamentária, pois depende do
que também possa alcançar o legatário testamento, com expressa declaração de
causa (art. 1964)
Pode atingir todos os sucessores Só atinge os herdeiros necessários
(legítimos, testamentários ou legatários) (descendentes, ascendentes e cônjuge)
Sua efetivação se dá por ação judicial,
proposta por terceiros interessados, em A deserdação se dá por testamento, com
ação própria e obtida mediante sentença expressa declaração da causa (art. 1964_
judicial
Não comporta perdão, pois o ato
Admite reabilitação, mediante perdão do
correspondente é praticado em
ofendido
testamento (ato de última vontade)
Nem sempre os fatos são anteriores à Os suportes fáticos são anteriores à
morte do autor da herança morte do autor da herança

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AÇÃO DE DESERDAÇÃO – ART. 1.965

Conforme afirmado, para que haja a deserdação, além da declaração no testamento, nos
termos do art. 1.964, deve ser proposta uma ação visando a confirmação da veracidade da causa
alegada pelo testador. Sem esta comprovação é ineficaz a deserdação.
Tal ação deve ser proposta pelo herdeiro instituído ou pelo herdeiro que aproveitará a
deserdação.
A ação deve ser proposta dentro de 4 anos (parágrafo único), contados da data da
abertura do testamento; passado esse prazo, é herdeiro naturalmente.

1.17 Herança jacente e herança vacante - Art. 1.819 a 1.823

A herança sempre deve ser entregue aos sucessores do falecido. Se ocorrer de o falecido
ter falecido e não deixar descendentes, esta herança será recolhida pelo Município, Distrito
Federal ou União, dependendo de onde estejam localizados os bens. Contudo, para que isto
ocorra, devem ser observados alguns procedimentos.
Quando se abre a sucessão e o de cujus não deixou herdeiros, nem testamento
conhecido, diz-se que a herança é jacente (art. 1.819).
A herança JAZ enquanto não se apresentam herdeiros do falecido para reclamá-la. Assim,
o Estado determina, para evitar o perecimento da herança, que haja a sua arrecadação para
que, ao fim, seja entregue aos herdeiros que se apresentem e tenham legitimidade para suceder.
Somente depois de realizadas as diligências legais, ainda não aparecerem herdeiros, é
que a herança será declarada vacante, para o fim de ser incorporada ao patrimônio do Poder
Público.
Existem, portanto, duas fases: a jacência e a vacância.
HERANÇA JACENTE: Assim, quando aberta a sucessão verifica-se que o de cujus não
deixou testamento, nem tem herdeiros, diz-se que a herança é JACENTE (art. 1.819, CC).
Mesmo quando haja herdeiro sucessível, enquanto não se souber da sua existência, a herança
será jacente.
HERANÇA VACANTE: depois que o Estado arrecadou os bens, com o intuito de impedir
o perecimento da riqueza, depois de realizadas as diligências a fim de verificar a existência de

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herdeiros, se restar demonstrado não existirem herdeiros sucessíveis, a herança jacente será
declarada VACANTE.

CASOS DE JACÊNCIA:

Para que se configure a jacência deve haver – art. 1.819, CC:


a) Ocorrência do óbito;
b) Sem deixar testamento conhecido ou ser este caduco. Neste caso, tem-se duas
situações:
Sem testamento:
a. Inexistência de herdeiros conhecidos
b. Renúncia da herança por todos os herdeiros
Com testamento
c. Herdeiro instituído ou testamenteiro não existir ou não aceitar a herança
d. Falecido não tiver herdeiros necessários.
c) Sem deixar herdeiro legítimo (art. 1829);
d) Com herdeiros que renunciaram;
e) Com herdeiros ausentes (ou, com beneficiários não conhecidos).

Há, ainda, a hipótese de ser considerada jacente a herança na qual o de cujus testou para
o filho concebido, mas ainda não nascido, seus bens. Neste caso, falecendo o testador e ainda
não tendo nascido a criança, a herança será declarada jacente e recolhida, até o nascimento
com vida do beneficiário. É possível, neste caso, que seja retirado valor para a manutenção da
gestação da mãe, se ela não tiver meios de subsistência.

ARRECADAÇÃO DA HERANÇA JACENTE

Se o autor da herança não tiver deixado herdeiros, o patrimônio não pode ficar “solto”, de
forma que devem haver medidas para proteção e arrecadação do patrimônio. Cabe, então, ao
juiz da Comarca em que tiver domicílio o finado tomar tais providências (art. 738 e ss.,

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CPC/2015). A guarda e administração dos bens ficará a cardo de um curador, nos termos do art.
739, CPC/2015:

Art. 739. A herança jacente ficará sob a guarda, a conservação e a administração de um


curador até a respectiva entrega ao sucessor legalmente habilitado, ou até a declaração
de vacância.

Cabe ao curador:

Art. 739, § 1º Incumbe ao curador:


I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do Ministério Público;
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a arrecadação de
outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão.
§ 2o Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161.

Durante a arrecadação o juiz ou a autoridade policial que estiver cumprindo a diligência


(art. 740, § 2.º, CPC/2015) fará a inquirição dos vizinhos do falecido, visando descobrir sua
qualificação, existência de outros bens e o paradeiro de seus sucessores.
A arrecadação será suspensa se aparecerem o cônjuge, companheiro ou herdeiro do
falecido para reclamar os bens (§ 6.º, art. 740, CPC/2015).
Finalizada a arrecadação, serão expedidos editais, nos termos do art. 741, CPC/2015 –
na internet, site do tribunal e na plataforma do CNJ, devendo permanecer por 3 meses. Em não
havendo o site, a publicação deverá ocorrer na imprensa da Comarca, por 3 vezes, com
intervalos de 1 mês entre cada uma.
Havendo herdeiro habilitado, a arrecadação converte-se em inventário (art. 741, § 1.º, §
3.º, CPC/2015).

DECLARAÇÃO DE VACÂNCIA

Não havendo herdeiro habilitado, após um ano da publicação do edital, a herança será
declarada vacante (art. 743, CPC/2015).
Será VACANTE a herança quando, depois de todas as diligências, inclusive com a
publicação de editais, passado um ano, não houverem herdeiros sucessíveis habilitados. Há

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uma exceção: se todos os chamados a suceder renunciarem a herança, será, desde logo,
declarada vacante (art. 1.823, CC), sem que haja a fase de jacência.
Uma vez sendo declarada, por sentença, a vacância, o cônjuge, companheiro ou herdeiros
só poderão reclamar seu direito através de ação de petição de herança (art. 743, § 2.º,
CPC/2015).
Após a declaração de vacância, podem os credores pedir o pagamento das dívidas
reconhecidas, nos limites da força da herança (art. 1.821, CC + art. 741, § 4.º, CPC/2015).
Mas essa declaração de vacância não faz com que os bens da herança se incorporem,
desde logo, ao patrimônio do Município ou Distrito Federal (se localizados nos seus territórios)
ou à União (se localizados em território federal). Para tanto, o art. 1.822, CC prevê o prazo de 5
anos da abertura da sucessão.
O Código não deixa dúvida sobre a exclusão dos colaterais da sucessão se não
habilitarem até a sentença de vacância – art. 1.822, § único. Os demais herdeiros têm o
prazo de 5 anos.

1.18 Petição de herança - art. 1.824 a 1.828, CC

A petição de herança é uma ação, oferecida pelo herdeiro preterido, no sentido de que lhe
seja deferida a quota parte que lhe cabe, por direito. Trata-se, pois, do meio jurídico pelo qual o
herdeiro (excluído por qualquer razão – não se sabia da existência, por exemplo) pode se utilizar
para garantir sua condição e o acesso aos bens deixados pelo falecido (art. 1824, CC)
A ação visa, portanto, o reconhecimento da qualidade de herdeiro e a satisfação quanto
ao acervo hereditário, ou seja, contemplar o herdeiro – autor da ação – com sua quota parte na
herança. Necessita, contudo de uma ação de estado, ou seja, de uma ação que objetive a
declaração do parentesco.

* Para todos verem: esquema

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O reconhecimento judicial
da qualidade de herdeiro
ou a condição de herdeiro
(qualidade sucessória)
A petição de herança tem
dúplice objetivo
A proclamação do princípio
de que, sendo vários
herdeiros, qualquer deles
pode demandar a
totalidade da herança

Pode ocorrer, por qualquer razão, que algum herdeiro não seja relacionado no inventário
e na partilha. Nesse caso, sua condição jurídica de herdeiro não é reconhecida (filho a ser
reconhecido de uma relação extraconjugal do de cujus).
Nesse caso, para que esse herdeiro possa ter seu direito reconhecido e, então, receber
parcela que lhe cabia na universalidade, deverá ingressar com uma ação judicial. Esse é o caso
da petição de herança.

EXEMPLOS:
1. Alguém que se aposse ilegalmente da herança ou de parte dela;
2. Herança que é recolhida por parentes mais afastados do falecido e o interessado é de
grau mais próximo, de classe preferencial;
* Para todos verem: esquema

Bisneto 1.1
Neto1
Bisneto 1.2
De cujus

Filho 1
Neto2 Bisneto 2.1
Filho 2 – “não se
sabe da existência” Neto3

Filho 1 = pré-morto.
Filho 2 = desaparecido – não se sabe da existência
Neto 1, 2 e 3 = herdarão por direito próprio, pois a classe anterior (dos filhos) não existe =
1/3 para cada um.
Neto 1 = pré-morto → sua quota parte será divida entre Bisneto 1.1 e 1.2.

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Quanto o Filho 2 for “descoberto”, terá direito de pleitear a herança (sua quota parte).
Neste caso, ficará com a ½ da herança e a outra ½ será dividida entre os herdeiros de Filho 1.

3. A herança é distribuída entre os herdeiros legítimos, e aparece testamento do de cujus,


em que outra pessoa é nomeada herdeira;
4. O filho não reconhecido ingressa com ação de investigação de paternidade e, de forma
cumulada, com a petição de herança.

Ação de petição de herança x ação reivindicatória

Petição de herança: persegue-se o quinhão, sem especificar os bens. Tem, portanto,


caráter universal.
Reivindicatória: o objetivo é buscar o próprio bem, ou seja, coisas individualizadas. Tem
caráter singular.
Outro esclarecimento feito é a diferenciação entre a ação de petição de herança e a ação
reivindicatória. Lembremos que naquela o que se quer é a restituição da universalidade da
herança – por isso também chamada de ação universal em conformidade com o disposto no art.
1825 -, enquanto nesta o objeto é coisa determinada. Logo, a ação reivindicatória é o
instrumento correto para o legatário.
* Para todos verem: quadro comparativo

Petição de herança Reivindicatória


Universal Singular
Pretende a devolução da herança como Pretende a devolução de coisas
um todo ou em quota ideal destacadas, singulares e determinadas
Visa o reconhecimento da qualidade de Visa o reconhecimento do direito de
herdeiro propriedade sobre determinada coisa
Proposta pelo herdeiro a ser reconhecido Proposta pelo legatário, por exemplo

LEGITIMIDADE PARA PROPOR A AÇÃO

LEGITIMIDADE ATIVA: A lei fala: “o herdeiro pode”, isto significa, que o herdeiro legítimo
ou testamentário ostenta a qualidade, a titularidade ativa.

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LEGITIMIDADE PASSIVA: Será réu nessa ação, aquele que estiver na posse da herança
como se fosse herdeiro, aparentando uma qualidade e assumindo a posição de herdeiro, sem o
ser verdadeiramente.

EFEITOS DA SENTENÇA

Reconhecida a qualidade hereditária do autor da petição de herança, transmite-se a


titularidade do patrimônio deixado em seu favor. Com a procedência da ação e o trânsito em
julgado há o reconhecimento da ineficácia da partilha em relação ao autor da ação, sendo
dispensada sua anulação. Bastará o requerimento de retificação da partilha realizada
anteriormente.
Esses efeitos também são diferentes com relação ao possuidor de boa e má-fé e quanto
ao terceiro adquirente:

POSSUIDOR

Aquele que possua os bens, com o julgamento da petição de herança, deverá devolvê-
los, com todos os acessórios. Responderá por perdas e danos e pelos frutos que tiver colhido,
salvo direito de retenção, se estiver de boa-fé.

Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo,
fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado o disposto nos arts.
1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há de aferir pelas
regras concernentes à posse de má-fé e à mora.

Assim, se o possuidor for de boa-fé: Será de boa-fé a posse do herdeiro aparente que
a houver adquirido acreditando ser verdadeiramente o herdeiro (art. 1.201, CC).
a) tem direito aos frutos percebidos (1214), devendo restituir os pendentes e os colhidos
por antecipação (1215);
b) os frutos naturais ou industriais reputam-se percebidos e colhidos (art. 1215);
c) não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa (art. 1217);

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d) tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo levantar as


voluptuárias (art. 1219).

Já o possuidor de má-fé

a) Art. 1216, CC – pelos frutos colhidos e percebidos (e pelo que deixou de perceber por
culpa);
b) responde pela perda e deterioração da coisa, a que não der causa (art. 1218);
c) não tem direito de retenção de benfeitorias (nem levantar as voluptuárias); as
necessárias serão ressarcidas (art. 1218, 1220, 1222).

TERCEIRO ADQUIRENTE

A questão que se discute é se a alienação feita pelo herdeiro aparente é válida ou não.

Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em poder de terceiros,
sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro aparente
a terceiro de boa-fé.

O Dispositivo regula a hipótese do bem não se encontrar nas mãos do possuidor, mas de
terceiros.
Se a alienação tiver sido feita a título gratuito, os bens devem ser devolvidos ao herdeiro,
de imediato.
Contudo, se o negócio tiver sido realizado pelo terceiro adquirente e pelo herdeiro
aparente a título oneroso, se o adquirente estiver de boa-fé, será válido o negócio.

HERDEIRO APARENTE (ART. 1.817CC)

É aquele que recebe a herança como se fosse o titular desse direito, ou seja, reputa-se
ser aquele o herdeiro, porém, não o é.
Exemplos:

57
2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
Direito Civil – direito das Sucessões | Prof. Maitê Damé

1) pessoa que entra na posse dos bens, sem saber que existiam outros herdeiros de grau
mais próximo;
2) na hipótese de herdeiro testamentário, cujo testamento é invalidado.
3) a posse de herdeiros, quando há posterior reconhecimento de outro em Ação de
Investigação de Paternidade.
4) Se herdeiro (aparente), cumpriu a vontade do testador (com bona fide), tem seus atos
protegidos (terceiro adquirente de boa-fé).
O art. 1.828 prevê que o herdeiro aparente de boa-fé tem seus atos protegidos por lei em
benefício de terceiros de boa-fé:

Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não está obrigado
a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de proceder
contra quem o recebeu.

O artigo prevê duas hipóteses:


a) Se o herdeiro aparente pagou um legado, não responde (alguém deveria cumprir a
vontade do testador).
b) Cabe ao verdadeiro herdeiro, a possibilidade de buscar do legatário o que (este)
recebeu indevidamente.

ESSA DICA É DA PROFE... SE LIGA JAGUARA


Consequência dos atos praticados pelo herdeiro aparente quanto ao terceiro de
boa-fé: art. 1824, parágrafo único, do Código Civil – São eficazes as alienações feitas a
título oneroso pelo herdeiro aparente de boa-fé.
OBS: Não há título gratuito, somente oneroso – art. 1828, Código Civil

PRAZO PARA PROPOSITURA DA AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA

Muito embora a Súmula 149 do STF atribui o caráter de imprescritibilidade à ação de


investigação de paternidade, a petição de herança está limitada ao prazo prescricional de 10
anos (art. 205, CC). Inicia-se a correr o prazo prescricional com a data da abertura da sucessão.
Lembrando que todas suspensões e interrupções prescricionais aplicam-se nesse caso e que a
prescrição não corre contra pessoas absolutamente incapazes – só começa a correr quando
completar 16 anos, passando a ser relativamente incapaz.

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2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
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02. SUCESSÃO LEGÍTIMA

A sucessão legítima é subsidiária da sucessão testamentária. Nestes termos, o art. 1.788,


CC dispõe:

Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros
legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no
testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.

Cumpre destacar, que a sucessão pode ser legítima e testamentária e, muito embora a
primeira tenha caráter subsidiário por força do disposto no artigo 1.788 é aquela que na prática
tem universal ocorrência. Com isto, a existência de testamento não exclui a sucessão
testamentária.
* Para todos verem: esquema

Quando o falecido
não tiver deixado
testamento

Quando o falecido
Haverá sucessão deixou testamento
legítima apenas sobre parte
de seus bens

Quando o falecido
deixou testamento,
mas esse caducou ou
foi declarado nulo

De resto, o chamamento dos sucessores é por classes, quando a mais próxima exclui a
mais remota, nos termos dos artigos 1.833, 1836, § 1º e 1.840, CC, em relação absoluta e
preferencial, com as exceções apontadas (direito de representação, indignidade, deserdação,
renúncia).

2.1 Ordem da vocação hereditária - arts. 1.829 a 1.850

Com o falecimento do de cujus, a herança transmite-se desde logo aos herdeiros. Mas
esse chamamento ocorre através de uma sequência, denominada ordem da vocação

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2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
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hereditária. Há, portanto, uma relação preferencial, quando uns excluem os outros de classe
subsequente.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este
com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança
não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

* Para todos verem: esquema

1. Descendentes e o
cônjuge (dependendo
do regime de bens)

2. Ascendentes e o
cônjuge (independente
Verifica-se, pois, a do regime de bens)
existência de quatro
classes de herdeiros
3. Cônjuge (sozinho)

4. Colaterais até o 4º
grau e companheiro

Nesse sentido, os arts. 1.833, 1.836, § 1.º e 1.840, CC dispõe:

Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos,
salvo o direito de representação.

* Para todos verem: esquema

“A” (falecido)

“B” – Filho vivo (descendente) – “C” – Filho vivo (descendente) –


recebe 50% da herança recebe 50% da herança

“D” – neto vivo – não herda

60
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Desta forma, se “A”, solteiro, falece, deixando filho e pai vivos, a sucessão regular-se-á
da seguinte forma: o filho recebe toda a herança do pai e, seu avô (pai do falecido), nada
receberá, pois a classe mais próxima exclui a mais remota.

* Para todos verem: esquema

Pai vivo (ascendente)

“A” (falecido)

“B” – Filho vivo (descendente) –


recebe 100% da herança

Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em


concorrência com o cônjuge sobrevivente.
§ 1º Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção
de linhas.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o
direito de representação concedido aos filhos de irmãos.

Os herdeiros parentes sucedem ou por direito próprio, ou por direito de representação, ou


por direito de transmissão.
a) Sucessão por cabeça ou direito próprio: Sucessão por CABEÇA ocorre quando
todos os herdeiros são do mesmo grau. Cada herdeiro do mesmo grau corresponde uma quota
igual na herança. A herança é dividida entre todos os herdeiros aos quais é deferida
b) Sucessão por estirpe: sucessão de graus diversos: Sucessão por
ESTIRPE concorre, na sucessão, descendentes que tenham com o de cujus graus de
parentesco diferentes, ou quando a partilha, em vez de se fazer igualmente entre pessoas, faz-
se entre certos grupos de descendentes, grupos constituídos pelos descendentes do herdeiro do
grau mais próximo. A sucessão por estirpe dá-se na linha reta descendente, excepcionalmente,
na linha transversal, mas nunca na linha reta ascendente.).

61
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* Para todos verem: esquema

De cujus

Filho 1
– Recebe por direito próprio – por cabeça.
Pré-morto

Neto 1.1 Neto 1.2 – Recebem por representação do FILHO 1 (pré-morto). Trata-
se de herança por estirpe.

c) Sucessão por linha: verificada no caso de haver ascendente da linha paterna e da


linha materna, concorrendo à sucessão na herança conjuntamente, e em igualdade de
condições. Obs: cada linha recebe metade do patrimônio, independente de haver dois
ascendentes em um lado e dois no outro.
* Para todos verem: esquema

Avô Paterno
Falecido

Pai (falecido)
Avó Paterna

Avô Materno
Mãe (falecida
Avó Materna

DESCENDENTES

Os filhos herdam por direito próprio, por cabeça ou per capita, recebendo quotas iguais e,
os netos herdam por estirpe, a não ser que todos os filhos já faleceram. Nesse caso, os netos,
por estarem no mesmo grau, herdam por cabeça ou direito próprio (sucessão avoenga).

* Para todos verem: esquema


EXEMPLOS:
1. Por direito próprio:
Cada filho receberá ¼. Filho 1
Falecido

Filho 2
Filho 3
Filho 4
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Além disto, na linha descendente, os de grau mais próximo, excluem os mais remotos:
* Para todos verem: esquema

A (falecido

B - filho - C - filho -
recebe 50% recebe 50%

D - neto - E - neto - F - neto -


nada recebe nada recebe nada recebe

2. Por estirpe:
* Para todos verem: esquema

Neto 1.1
Filho 1
Pré-morto
De cujus Neto 1.2
Filho 2

O filho 2 receberá ½ - por direito próprio. Os netos receberão a outra metade, em razão
do filho 1 ser pré morto – por estirpe (representação).

3. Por direito próprio (dos netos):


* Para todos verem: esquema

Neto 1.1
Filho 1 –
Falecido

falecido
Neto 1.2

Neto 2.1
Filho 2 –
falecido
Neto 2.2

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Cada neto receberá ¼ da herança – por direito próprio.

Assim:
• Filhos – sucedem por cabeça.
• Netos – sucedem por estirpe. Se, contudo, os filhos forem todos falecidos, os netos
herdarão por cabeça, por serem todos de mesmo grau.

ASCENDENTES
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes. Não se admite o
direito de representação na linha ascendente (art. 1.852).
§ 1º - mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas;
* Para todos verem: esquema

Pai
Falecido
sem filhos
Mãe

Se, contudo, A falece, deixando a mãe viva e sendo o pai premorto, mesmo que tenha
avós paternos vivos, sua mãe recolherá toda a herança.

No caso do Pai falecido, a Mãe herda


toda a herança do filho/de cujus, pois
Avô Paterno
não há direito de representação na
Pai – falecido sucessão dos ascendentes.
Falecido
Avó Paterna
sem filhos
Mãe

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§ 2º - linha paterna e materna (metade)


* Para todos verem: esquemas
A – falecido

Avô Materno– 25%


Mãe – premorta
Avó Materna– 25%
Neste caso, cada um recebe 25%.

Avô Paterno– 25%


Pai – premorto
Avó Paterna– 25%

Avô Paterno
Pai - falecido Neste caso, os avós paternos
receberão a ½ da herança e a avó
sem filhos

Avó Paterna
Falecido

materna a outra ½.
Avô Materno -
falecido
Mãe - falecida
Avó Materna

Sucessão ascendente – ad infinitum – pais, avós, bisavós


Não existe Direito de Representação (art. 1.852 veda).
Assim, se não houver prole, herdam os genitores do falecido, em partes iguais.
CÔNJUGE/COMPANHEIRO SOBREVIVENTE (observar que o STF declarou
inconstitucional o art. 1.790, CC).
A ordem da vocação hereditária do art. 1.829 coloca o cônjuge sobrevivente como
herdeiro concorrente com descendentes e ascendentes e, na falta destes, como herdeiro da
totalidade da herança.
Assim, traz a grande inovação do Código em matéria de sucessões, em relação à
condição do cônjuge: a concorrência com descendentes (no Regime da Comunhão Parcial, com
bens particulares, etc..) e a concorrência com ascendentes (desimportando o regime de bens).

CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTES: condicionado ao regime.

A concorrência do cônjuge sobrevivente com os descendentes do de cujus vai depender


do regime matrimonial de bens. Não haverá concorrência se o cônjuge sobrevivente tiver sido
casado (com o falecido) pelo regime da comunhão universal de bens (1.667) ou pelo regime da

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separação obrigatória (1.641), ou se, no regime da comunhão parcial (1.658), o autor da herança
não houver deixado bens particulares. Neste sentido, ver o enunciado 270 das Jornadas de
Direito Civil.

ATENÇÃO
Enunciado n. 270 da Jornada de Direito Civil: o art. 1829, inc. I, só assegura ao cônjuge
sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no
regime de separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aquestos, o falecimento possuísse bens particulares, hipóteses em que a
concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente
entre os descendentes.

CONCORRÊNCIA COM ASCENDENTES: independente do regime.

REQUISITOS PARA QUE O CÔNJUGE SEJA HERDEIRO – ART. 1.830, CC

O cônjuge herda os bens deixados pelo falecido. Contudo, o art. 1.830 estabelece os
requisitos para tanto:

Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao


tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato
há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente.

a) Abertura da Sucessão não estavam separados judicialmente: Consumada a


dissolução (separação ou divórcio) desaparecia o direito sucessório entre eles. Sucessão
pressupõe vínculo conjugal.
b) Nem separado de fato há mais de 2 anos: Salvo quando com a convivência se tornara
impossível e não houve a culpa do sobrevivente. Contudo, a EC 66/2010 aboliu a discussão da
culpa no direito de família. Desta forma, deve-se entender, quanto a este dispositivo que,
havendo separação fática (independentemente do prazo), o cônjuge sobrevivente não herdará.
A previsão do prazo de 2 anos estava vinculada a exigência deste prazo para a realização do
divórcio direto. Como a EC 66/2010 possibilita a realização do divórcio tão logo tenha havido o
rompimento do casal, entende-se, com base em Tartuce (2012, p. 151) que este prazo não mais
deve ser considerado.

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CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE COM OS DESCENDENTES


O art. 1.829, I estabelece que:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este
com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança
não houver deixado bens particulares;

O que se verifica é que o critério utilizado pelo legislador para definir a concorrência ou
não com os descendentes é o regime de bens que regia do casamento do autor da herança e o
cônjuge sobrevivente.
A regra é, então, que haja a concorrência do cônjuge sobrevivente com os descendentes do autor
da herança. Existem, contudo, exceções.

REGIMES EM QUE O CÔNJUGE SOBREVIVENTE NÃO HERDARÁ

a) Regime da comunhão universal de bens: 1ª exceção:


Neste regime de bens, todos os bens, presentes e futuros, dos cônjuges, assim como as dívidas,
se comunicam. Neste caso, como o cônjuge sobrevivente é meeiro (tem direito a metade do patrimônio
por direito), não há razão para concorrência.
EXEMPLO:
* Para todos verem: esquema
Sem
ascendentes
- Patrimônio de R$100.000,00
De cujus Cônjuge
- Meação: R$ 50.000,00
- Legítima: R$ 50.000,00
A
- A = R$ 25.000,00
- B = R$ 25.000,00
B

OBSERVAÇÃO: Neste Regime (CUB) não é justificável a meação e a parte legítima.


A meação é de 50% de todos os bens (onerosos e gratuitos), não importando a data e a
forma de aquisição.

b) Regime de Separação Obrigatória de Bens: 2ª exceção - Art. 1.641 – 1.687


A segunda hipótese excetuada pelo legislador (art. 1.829, inc. II) é aquela em que o regime
adotado do casamento foi o da Separação Obrigatória de bens, por força da lei. Neste caso,
aplica-se a súmula 377 do STF, de forma que, ao final do casamento (por morte ou divórcio),

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haverá a comunicação do patrimônio adquirido de forma onerosa durante a união. Desta forma,
o cônjuge sobrevivente terá direito a meação destes bens. Há discussão, quanto a aplicação da
súmula, sobre a necessidade de prova do esforço comum ou não. Não há uniformidade
jurisprudencial. Desta forma, o cônjuge sobrevivente receberá a metade dos bens comuns e,
quanto aos particulares, não terá direito a nada.

c) Comunhão Parcial: sem bens particulares: 3ª exceção


Sem bens particulares, não há concorrência (regra geral). O cônjuge sobrevivente não
concorre com os descendentes, porque é meeiro, quando o autor da herança não houver deixado
bens particulares (bens doados, havidos por inventário ou legado, ou adquiridos antes do
casamento).

REGIMES EM QUE O CÔNJUGE SOBREVIVENTE HERDARÁ

a) Separação convencional de bens – há a concorrência


No regime da separação convencional, há pacto antenupcial e os cônjuges definem a
incomunicabilidade do patrimônio, ou seja, cada um conserva o seu patrimônio particular.
Contudo, apesar de haver uma separação absoluta dos patrimônios, com o falecimento de um,
o outro será herdeiro, em concorrência com os descendentes.

b) Comunhão Parcial de Bens com bens particulares: há concorrência


Se o autor da herança deixar bens particulares, o cônjuge sobrevivente concorre com os
descendentes.
A questão que se impõe e tem demonstrado muito polêmica, com dissensões,
desarmonia, divergências e críticas da doutrina, diz respeito ao montante da concorrência que
pode ser expresso na seguinte indagação: “o cônjuge terá a sua quota calculada sobre todo
espólio, ou somente com relação aos bens particulares deixados pelo falecido?”

1.ª corrente – concorrência apenas sobre bens particulares


Esta é a posição MAJORITÁRIA da doutrina (ver enunciado 270 das Jornadas de Direito
Civil). O cônjuge, neste caso, receberia, apenas parte dos bens particulares e não da totalidade

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da herança, ou seja, seria meeiro dos bens comuns e herdeiro, em concorrência com os
descendentes, dos bens particulares.

EXEMPLO:
* Para todos verem: esquemas

• 10.000 de bens particulares


De cujus Cônjuge • 100.000 de bens comuns
• Cônjuge = 50% bens comuns +
concorrência sobre bens particulares
• Filhos = 25% dos bens comuns para
A B cada um + 1/3 dos bens particulares –
art. 1.832, CC.

Cônjuge
Meação – 50% sobre bens comuns
De cujus Cônjuge Herança – ¼ (25%) sobre bens
particulares
Filhos
A B C D
Bens comuns = ¼ para cada
Bens particulares = 18,75% para cada

2.ª corrente – concorrência sobre toda a herança


Sustenta que além de meação sobre os bens onerosos, o cônjuge herda em concorrência
com os descendentes sobre a totalidade da herança, em virtude do princípio da indivisibilidade
da herança.

EXEMPLOS:
Patrimônio: R$ 10.000,00 (particulares)
R$ 100.000,00 (aqüestos)
Herança: R$ 60.000,00 (50 +10).

* Para todos verem: esquema

De cujus Cônjuge
Cônjuge = 50% de meação + ¼ do total
em concorrência
A B C Filhos = ¼ da herança

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De cujus Cônjuge Art. 1.832


Cônjuge = 50% de meação + 1/4 da
A B C D E herança em concorrência
Filhos = dividem ¾ da herança = 15% para
cada um

c) Regime de participação final nos aquestos (art. 1.672 CC)


Embora não expressamente previsto, nesse regime, ocorre a concorrência. A opção por
este regime deve ser elaborada através de pacto antenupcial. Neste caso, a partilha assemelha-
se aos casos de comunhão parcial de bens:
* Para todos verem: esquema

a) Havendo bens particulares e aquestos: participação (espécie de


meação) sobre os aquestos e concorrência sobre bens particulares

Havendo bens particulares e não havendo aquestos: concorrência sobre


os bens particulares, sem participação

Havendo apenas aquestos: apenas participação sem concorrência

QUINHÃO DO CÔNJUGE QUE CONCORRE COM DESCENDENTES:

O art. 1.832, estabelece a proporção da concorrência do cônjuge sobrevivente com os


descendentes:

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge
quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à
quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

Há duas situações diferentes: filiação comum e filiação exclusiva do autor da herança.


Desta forma, a concorrência ficará da seguinte forma:

ATENÇÃO
Filhos comuns: herdarão em partes iguais (até 3 filhos) ou, se tiver mais de 3 filhos (4,
por exemplo), o cônjuge sobrevivente herdará, no mínimo 1/4 da herança.

70
2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
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Filhos exclusivos do autor da herança: o cônjuge sobrevivente herda em partes iguais


(independentemente do número de filhos)

Se os descendentes forem exclusivos do autor da herança, não sendo descendentes


comuns, o cônjuge sobrevivente não terá direito à ¼ da herança (bens particulares), cabendo-
lhe, tão somente, quinhão igual ao que couber a cada um dos filhos.
Isto aplica-se, também, nos casos em que houver concorrência com herdeiros netos.
Exemplo:
* Para todos verem: esquema

A – falecido

Cônjuge de A
– recebe 1/4

B – filho C – filho
premorto premorto

D – neto – E – neto –
recebe 1/4 recebe ¼

F – neto –
recebe 1/4

Neste caso ter-se-á sucessão por cabeça e não por representação.

ATENÇÃO
Filhos comuns e filhos exclusivos do autor da herança = filiação híbrida: o cônjuge
sobrevivente herda em partes iguais (independentemente do número de filhos). Neste caso,
mesmo havendo filhos comuns, não lhe é reservada a quarta parte da herança.

CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE COM OS ASCENDENTES

Enunciado n. 527 da Jornada de Direito Civil: Na concorrência entre o cônjuge e os


herdeiros do de cujus, não será reservada a quarta parte da herança para o sobrevivente
no caso de filiação híbrida.

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O art. 1.829, II prevê a concorrência do cônjuge sobrevivente com os ascendentes do


autor da herança, INDEPENDENTEMENTE DO REGIME DE BENS ESCOLHIDO:
a) com ascendente em 1º grau – 1/3
b) metade: se houver um só ascendente ou maior for o grau.
* Para todos verem: esquema

Cônjuge
sobrevivente Cônjuge sobrevivente = meação + 1/3
Pai (1/3) Pai = 1/3
De cujus Mãe = 1/3

Mãe (1/3)

Avó paterna
Cônjuge
Pai
sobrevivo
- Avós maternos (não herdam)
Avô paterno
De cujus - Pai = ½
Avó materna
- Cônjuge = meação + ½ da herança
Mãe falecida
Avô materno

CÔNJUGE COMO HERDEIRO DA TOTALIDADE DOS BENS

O Cônjuge sobrevivente, na falta de descendentes e ascendentes, recolhe a totalidade da


herança (e a meação): (deve estar casado). Exige-se que a relação matrimonial não estivesse
rompida no momento da abertura da sucessão.
O Cônjuge é herdeiro concorrente (necessário) com descendente e ascendente; é
herdeiro exclusivo (necessário), quando não há descendente e nem ascendente. O cônjuge
exclui os colaterais da sucessão.
Sucessão ao Cônjuge (repete o art. 1.603, III) é chamado à totalidade da herança, a
totalidade do acervo, qualquer que tenha sido o regime de bens.

DIREITO REAL DE HABITAÇÃO

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O art. 1.831, CC estabelece o direito real de habitação para o cônjuge sobrevivente,


independentemente do regime de bens:

Art. 1.831 Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado,
sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela
natureza a inventariar.

Este direito é extensivo ao companheiro, nos termos do Enunciado 117 das Jornadas de
Direito Civil:

Enunciado n. 117 da Jornada de Direito Civil. O direito real de habitação deve ser estendido ao
companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei n. 9278/96, seja em razão da
interpretação analógica do art. 1831, informado pelo art. 6, caput, da CF/88.

Poderá haver renúncia ao direito real de habitação por parte do cônjuge/companheiro


sobrevivente sem que, com isto, perca o direito de participação na herança. Neste sentido, ver
Enunciado 271 das Jornadas de Direito Civil:

Enunciado n. 271 da Jornada de Direito Civil. O cônjuge pode renunciar ao direito real de habitação
nos autos do inventário ou por escritura pública, sem prejuízo de sua participação na herança.

Neste caso, mesmo que o bem seja deferido, pelo inventário, a outro herdeiro, caberá ao
cônjuge o direito real de habitação, sendo, então, vedada a venda deste imóvel (desde que seja
o único daquela natureza a inventariar).

d) Colaterais - até 4.º grau – arts. 1.839 e 1.840, CC


Os colaterais não são herdeiros necessários, mas sim, facultativos, de forma que, para
excluí-los da sucessão basta que o autor da herança disponha do patrimônio via testamento.
Desta forma, havendo sucessão do colateral, o patrimônio será deferido na seguinte ordem:
1º) os irmãos (parentes em 2º grau);
2º) sobrinhos (parentes em 3º grau);
3º) tios (parentes em 3º grau);
4º) colaterais em 4º grau.

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IRMÃOS BILATERAIS E UNILATERAIS

Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais,
cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.

* Para todos verem: esquema

A – irmão
descendentes, nem cônjuge

bilateral
Sem ascendentes, nem

B – irmão Multiplique os dois herdeiros


bilateral
bilaterais 2x2 = 4 e some os
C – irmão unilaterais + 2 = 6. Neste caso,
unilateral os herdeiros bilaterais receberão
D – irmão 2/6 e os unilaterais, 1/6.
unilateral

E – falecido.

Irmãos germanos ou bilaterais: mesmo pai e mãe;


Unilaterais: só pai ou a mãe;
Na sucessão colateral há a representação, ainda que de forma excepcional quando é
permitido que os filhos de irmãos representem o premorto (art. 1.840, CC).
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o
direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
Neste caso, o sobrinho, representando o pai pré-morto (irmão do de cujus), herda por
estirpe. Apenas o(s) filho(s) de irmãos do morto podem representar os pais (os netos, não
pode, conforme art. 1.840).
Irmãos herdam para direito próprio (cabeça), enquanto seus descendentes por
representação (por estirpe).

2.2 Herdeiros necessários

O art. 1.845, CC estabelece quem são os herdeiros necessários:

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.


* Para todos verem: esquema

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Descendentes

Herdeiros necessários Ascendentes

Herdeiros necessários são os que não podem ser afastados da sucessão legítima por
vontade do autor da herança. Possuem a garantia da legítima.
Legítima: a porção (a metade) que a lei reserva aos Herdeiros Necessários, sobre o
acervo existente, quando da abertura da Sucessão.
* Para todos verem: esquema

Descendentes

Necessários Ascendentes

Cônjuge
Herdeiros
legítimos

Colateral até o
4.º grau
Facultativos

Companheiro

CLÁUSULAS RESTRITIVAS

O autor da herança, conforme determina o art. 2.014, CC pode definir quais os bens e
valores que comporão os quinhões hereditários de cada herdeiro:

Art. 2.014. Pode o testador indicar os bens e valores que devem compor os quinhões hereditários,
deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá, salvo se o valor dos bens não corresponder às
quotas estabelecidas.

Contudo, existindo cônjuge sobrevivente, essa estipulação feita pelo de cujus em


testamento será apenas uma sugestão, pois o cônjuge sobrevivente tem preferência na escolha
dos bens a serem partilhados.

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Além disso, o autor da herança não pode estabelecer cláusulas de inalienabilidade,


impenhorabilidade e incomunicabilidade sobre os bens da legítima sem que haja justa causa. É
o que dispõe o art. 1.848, CC.

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador
estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade,
sobre os bens da legítima.
§ 1º Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima em outros
de espécie diversa.
§ 2º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens
gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus
dos primeiros.

Assim, apenas se houver justa causa é que essas cláusulas poderão ser estabelecidas
pelo de cujus via testamento. Essa justa causa deve ser trazida pelo de cujus no testamento.
EXEMPLO: incomunicabilidade, pois o cônjuge do herdeiro necessário é um
caçador/caçadora de dotes, porque o cônjuge do herdeiro possui filho fora do casamento e, em
razão do regime da comunhão universal, esse filho acabará por herdar o patrimônio do de cujus,
etc. Inalienabilidade e incomunicabilidade, pois o herdeiro é consumidor compulsivo e aposta em
jogos de azar, etc.

Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou
algum legado, não perderá o direito à legítima.

* Para todos verem: esquema

Legítima: conssite na metade dos bens do autor da herança, no óbito.

Quato disponível: é a metade da herança, com liberdade de testar

Regra simples: o herdeiro necessário herda a legítima e pode receber a quota disponível, por testamento
(parte disponível ou legado)

DOAÇÕES: enquanto não ultrapassar a “quota disponível”, é válida, sem necessidade de


colacionar por ocasião do inventário; ao contrário, as doações, que se adicionam ao valor dos
bens, para cálculo de legítima (1.847).
Assim, uma mesma pessoa pode ser, na mesma sucessão, herdeira legítima e
testamentária.

COLATERAIS: EXCLUSÃO SEM CONTEMPLAR

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Supremacia dos herdeiros necessários sobre os facultativos: colaterais.


Regra: Se os colaterais não forem contemplados pelo testador (e se, a quota disponível
beneficiar outros), estarão excluídos da Sucessão. É uma forma indireta de deserdação (sem
ação e sem complicação).
Herdeiros Facultativos: liberdade de testar é absoluta; a totalidade do patrimônio por ser
objeto de testamento.

COLAÇÃO (ART. 2.002 A 2.012 CC/02)

Colacionar é conferir os bens e valores recebidos antes da abertura da sucessão de forma


a garantir a igualdade da legítima.

2.3 Direito de representação

Existem duas maneiras diferentes de suceder:


a) Por direito próprio/cabeça;
b) Por representação.
O direito de representação é restrito e ocorre quando a lei chama certos parentes do
falecido a suceder em seu lugar, assumindo todos os direitos que ele teria se vivo fosse, ou seja,
chama outrem a herdar em lugar de parente mais próximo do autor da herança, porém premorto,
ausente ou incapaz de suceder (GONÇALVES, 2012, p. 216). Nestes casos, se opera a vocação
indireta na sucessão legítima.
O chamado a suceder, neste caso, receberá por estirpe.
Herança por cabeça: filhos herdam por direito próprio sempre. Quando o herdeiro é o
legitimado a herdar por ele mesmo, pois está no mesmo grau dos demais.
Herança por estirpe: por representação. Quando, na mesma sucessão, concorrem
diferentes classes/graus de herdeiros.

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REPRESENTAÇÃO NA LINHA DESCENDENTE

O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas nunca na ascendente.


Não vivendo o filho do de cujus, necessariamente herdarão os netos deste último, que são os
filhos daquele. Os filhos herdam por cabeça, ao passo que os netos (representantes) herdam
por estirpe. Na hipótese de todos os filhos já terem falecido, herdando unicamente os netos, a
herança reparte-se em quinhões iguais – os netos herdam por direito próprio, pertencendo à
mesma classe.

LINHA COLATERAL/TRANSVERSAL

Apenas na hipótese de filhos do irmão do falecido (sobrinhos do autor da herança) que


concorrem com os outros irmãos deste - herdam por estirpe. Só herdarão por cabeça se todos
os irmãos do autor da herança forem falecidos. O sobrinho neto não pode representar, a
limitação legal é intransponível.
Enquanto na linha descendente o direito de representação é ilimitado; que inexiste na
linha ascendente, na linha colateral, excepcionalmente, pode ocorrer.
* Para todos verem: esquema

Irmãos germanos ou bilateral Irmãos unilaterais

• Mesmo pai e mesma mãe • Só pai ou a mãe em comum.


São irmãos paternos ou
consanguíneos e maternos ou
uterinos

POSIÇÃO
* Para todos verem: esquema

O irmão unilateral recebe metade do que receberá o irmão bilateral

Os filhos de irmão unilateral (sobrinhos do "de cujus") recebem metade do


que receberão os tios

Os filhos de irmão unilateral recebem metade do que receberão os filhos de


irmãos germanos

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LINHA ASCENDENTE

O direito de representação se dá na linha reta descendente; mas nunca na linha


ascendente. Se um filho, ao falecer, deixa o pai vivo e a mãe já se encontra falecida, sem
quaisquer herdeiros descendentes, o progenitor vivo será contemplado com toda herança. Os
progenitores maternos nada herdarão.

NA EXCLUSÃO DA SUCESSÃO

A pena ou punição restringe-se à pessoa do indigno ou deserdado, não se estendendo a


estranhos, ou aos parentes, que poderão representá-los.

NA RENÚNCIA

Não há direito de representação. Porém, se todos os herdeiros da classe renunciarem, os


filhos dos herdeiros renunciantes virão ao inventário por direito próprio, recebendo a herança por
cabeça, isto porque, o ato do renunciante tem caráter pessoal, não se estendendo aos filhos.

3. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

3.1 Conceito

▪ Se alguém falece sem deixar testamento → sucessão legítima (sucessão por força de
lei) → obedece a ordem da vocação hereditária.
▪ Se o testamento não compreender todos os bens do testador ou o testamento for
invalidado ou caducar → também haverá sucessão legítima.
▪ Sucessão testamentária → representa a vontade do testador.
▪ Se não foi feito testamento, presume-se que a pessoa tenha concordado com a ordem
da vocação hereditária.
▪ Sucessão legítima → representa, portanto, a vontade presumida do testador.

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▪ Contudo, do ponto de vista quantitativo, no Brasil, prevalece a sucessão legítima (há a


limitação da liberdade de testar).

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens,
ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
§ 2o São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o
testador somente a elas se tenha limitado.
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo.
* Para todos verem: esquema

Capacidade de
testar

Requisitos de Capacidade de
validade jurídica do receber do herdeiro
testamento instituto ou legatário

Ato jurídico
revestido das
formalidade legais

Mas essa noção do art. 1.857 limita a vontade do testador a disposições de caráter
patrimonial. Contudo, sabe-se que o testamento serve, também, para disposições de caráter
diferente do patrimonial:
* Para todos verem: esquema

Reconhecimento de filhos fora do casamento (art. 1609, III, CC)

Nomeação de tutor para filho menor (art. 1729, § único)

Reabilitação do indigno (art. 1818, CC)

Instituição de fundação (Art. 62 CC)

Imposição de cláusulas restritivas se houver justa causa (art. 1848, CC)

Possibilidade de dispor sobre o tipo de tratamento de saúde - Enunciado 528 da Jornada de


Direito Civil

3.2 Características

80
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a) Ato personalíssimo: é privativo do autor da herança. Não se admite testamento por


procuração.
b) Ato revogável (mudado a qualquer tempo): a expressão revogável é mais adequada e
correta; é a principal característica dos testamentos. A revogabilidade é da essência do
testamento.
c) Negócio jurídico unilateral: aperfeiçoa-se com a vontade única do testador. Não há a
necessidade de manifestação da vontade do beneficiário.
d) Unipessoal: um só agente pode testar, num só ato. O testamento de mão comum é
defeso em lei, visa garantir a liberdade das disposições e evitar o pacto sucessório - proibido art.
1.863 CC. Assim é vedado o testamento conjuntivo (mão comum), feito por duas ou mais
pessoas, seja simultâneo (disposição conjunta para beneficiar terceira pessoa), recíproco
(instituindo benefícios mútuos) ou correspectivo (disposições em retribuição de outras
correspondentes). Nada impede, contudo, que o casal faça cada um seu testamento em que um
deixa os bens para o outro. O que não pode é isso ser feito em um mesmo ato. Podem fazer,
no mesmo momento, mas em atos diferentes.
e) Solene: é um negócio jurídico não apenas formal, mas provido de formalidades
essenciais, prescritas em lei. A solenidade assegura a existência, a validade e a eficácia. O
formalismo constitui garantia e salva-guarda à liberdade de testar. Exceção: testamento
nuncupativo (de viva voz), admissível como espécie de testamento militar (art. 1.896).
f) Gratuito: não exige do contemplado qualquer correspectivo, contrapartida ou
reciprocidade, ou seja, não há vantagens para o testador. Mesmo que haja encargo para o
beneficiário, o testamento segue sendo gratuito. Está contida na unilateralidade. Não existe
contra-prestação (exigível). Entretanto, o herdeiro responde pelas dívidas (arts. 1.792 e 1.821).
g) Revogável: a vontade testamentária é essencialmente revogável (art. 1.969), é ato de
última vontade, desde que não tenha sido modificado; A revogabilidade é conceito legal e da
essência do testamento. É irrenunciável a liberdade de revogar ou modificar o testamento. Toda
renúncia é considerada não escrita. Pode, contudo, o testador, modificar o testamento a qualquer
momento e quantas vezes quiser (art. 1.858). Exceção: o testamento é irrevogável com relação
a cláusula na qual eventualmente o testador tenha reconhecido filho fora do matrimônio (art.
1.609, III). Se houverem vários testamentos sucessivos, feitos pelo mesmo testador, com seu
falecimento, terá validade apenas o último, a não ser que sirva para completar o anterior.

81
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h) Patrimonialidade não necessária: serve para dispor de parte ou de todo patrimônio


(parte disponível), bem como para instituir herdeiros, deserdá-los ou retratar a deserdação
(1.857, § 2º).
i) Ato causa mortis: a morte do testador é condição de eficácia do testamento, com
imediata abertura do processo sucessório. Assim, o testamento só produz efeitos com a morte
do testador. A abertura da sucessão é essencial para o cumprimento das disposições contidas
no testamento.

3.3 Capacidade para testar - art. 1.860

A capacidade testamentária pode ser ativa (quem pode dispor) ou passiva (quem pode
adquirir por testamento). A capacidade do agente é requisito de validade do testamento. O art.
104 do CC trata da validade do negócio jurídico:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Além desses requisitos gerais, para o testamento ainda são exigidos os requisitos da
inteligência e da vontade, de compreender e de querer, ou seja, a possibilidade de compreender
o caráter e os efeitos do ato e querer praticá-los.
A regra, portanto, é a capacidade e a incapacidade é a exceção, de forma que a
capacidade se presume e a incapacidade se prova.
Nesse sentido, o art. 1.860 dispõe:

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem
pleno discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.

O dispositivo legal dispõe sobre os que não podem testar, por não terem discernimento,
de forma que se subentende que todos os demais possuem capacidade para testar. Assim,

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podem testar os cegos e os analfabetos, por exemplo. A norma do art. 1.860 é restritiva e só
abrangem os casos específicos, não permitindo interpretação extensiva.

3.4 Incapacidade para testar (art. 1.860)

São os casos que mais ocupam os tribunais.


a) Em razão da idade: os menores de 16 anos, por serem absolutamente incapazes não
podem testar. Não possuem maturidade e firmeza suficiente para dispor de seus bens. É nulo o
testamento elaborado por menor de 16 anos.
Os relativamente incapazes (maiores de 16 anos) podem testar, mesmo sem a
assistência do representante legal. Essa desnecessidade de assistência dos pais ou
representantes legais para o feitio do testamento se dá em razão de que o testamento é
personalíssimo e só o maior de 16 anos mesmo poderá fazer o testamento.
b) Por falta de discernimento: aquelas pessoas que não tem discernimento não são
amentais, ou seja, se encontram, momentaneamente, fora de seu juízo perfeito, em razão de
uma patologia (arteriosclerose, excessiva pressão arterial, etc), embriaguez, uso de
entorpecente, etc. Trata-se de uma situação transitória.
c) Incapacidade testamentária dos relativamente incapazes: os relativamente
incapazes são proibidos de testar, exceto os maiores de 16 anos, cujo § único do art. 1.860 prevê
a possibilidade. Não podem testar, portanto os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, por não
terem consciência dos atos praticados. O surdo mudo só não testa se não conseguir expressar
sua vontade. O surdo, mas não mudo, poderá testar, conforme art. 1.866.
d) Hipóteses não geradoras da incapacidade: exceto as hipóteses previstas no art.
1.860, todas as pessoas podem fazer testamento válido. A idade avançada, por exemplo, não é
suficiente para negar a capacidade testamentária. O que determina a incapacidade testamentária
é a falta de discernimento. Deve-se destacar que, em razão do Estatuto da Pessoa com
Deficiência, houve alteração dos arts. 3.º e 4.º do CC. Sendo assim, os deficientes mentais não
são mais incapazes podendo, portanto, testar.

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OBSERVAÇÕES

a) A capacidade deve ser verificada no momento da elaboração do


testamento

Na dúvida, decide-se pela validade do ato, em respeito ao princípio


do in dubio pro capacitate

Os tribunais (STF, especialmente) têm entendido que para


decretação da nulidade de testamento deve haver prova
inequívoca da incapacidade do testador.

MOMENTO EM QUE SE EXIGE A CAPACIDADE – CAPACIDADE SUPERVENIENTE


(ART. 1.861)

A capacidade, o juízo perfeito deve existir na época da elaboração do testamento. Neste


instante que deve ser aferida.
Se no momento de realizar o testamento o testador tinha lucidez, o ato será válido, mesmo
que perca o juízo após a lavratura do ato. Se, contudo, no momento de realizar o testamento o
testador estava embriagado, por exemplo, mesmo que no dia seguinte esteja curado, o
testamento será nulo. Neste caso, somente testando novamente para que o ato não seja nulo
(ver art. 169, CC – o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação).

Impugnação da validade do testamento (art. 1.859)

A validade do testamento só pode ser discutida/questionada após a morte do testador.


Enquanto estiver vivo, não há o que se discutir, mesmo porque o testamento pode ser alterado.
Assim, prevê o art. 1.859 que se extingue em 5 anos o prazo para impugnar a validade do
testamento, contando da data do seu registro. O lapso quinquenal é contado da Ação de

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Registro, Abertura e Cumprimento do Testamento (arts. 735 a 737 do CPC/2015). A ação de


Registro só pode ser proposta a partir do óbito.
Por sua vez, o art. 1.909 afirma que são anuláveis as disposições testamentárias que
sejam viciadas por erro, dolo ou coação, extinguindo-se em 4 anos o direito de anular a
disposição a partir do momento em que o interessado tiver conhecimento do erro.
Significa dizer, portanto, que, ainda que se trate de um testamento nulo (realizado sem a
observância da forma legal ou que o testador deliberou mediante dolo) só pode ser anulado até
4 anos após a ciência do vício.

3.5 Formas ordinárias de testamento

Art. 1.862 – testamento ordinário: público, particular e cerrado; Art. 1.886 –testamentos
especiais: marítimo, aeronáutico e militar.
Se o testamento não for feito através das formas e solenidades estabelecidas na lei, O
ATO SERÁ NULO DE PLENO DIREITO, SEM PRODUZIR QUALQUER EFEITO (art. 104, III). O
que se percebe, portanto, é que ao lado do casamento, o testamento é um dos atos mais solenes
do direito brasileiro, não admitindo outra forma que não a prevista em lei. Neste caso, aplica-se
o art. 166, IV - não revestir a forma prescrita em lei, de forma que será inválido o testamento que
não observar a forma prescrita em lei.

a) Testamento conjuntivo (ou de mão comum) – art. 1.863


Quando duas pessoas, como marido e mulher, fazem conjuntamente, no mesmo ato e no
mesmo instrumento, o testamento, dispondo de seus bens. Esta espécie de testamento é vedado
pelo direito brasileiro, nos termos do art. 1.863, CC.

Formas de testamento conjuntivo

Simultâneo: quando os testadores contemplam terceiros

Recíproco: testadores instituem um ao outro. O que sobreviver fica com todo o patrimônio

Correspectivo: quando o benefício outorgado por um dos testadores ao outro retribui vantagem
correspondente

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Não se impede, porém, que, SEPARADAMENTE, marido e mulher façam testamento um


para o outro. Pode até ser na mesma data, com termos semelhantes, mas em ATOS DISTINTOS,
separados.
b) Testamento público – Arts. 1.864 a 1.867, CC
O testamento público é aquele escrito pelo Tabelião de Notas, no Tabelionato, nos termos
das declarações prestadas pelo testador. O Tabelião pode servir-se de notas, minuta ou
apontamentos do testador para realizar a escritura, devendo, para sua validade, haver a
presença de duas testemunhas durante todo o ato.
Diz-se PÚBLICO não apenas por estar registrado no livro de notas, mas também porque
é feito perante duas testemunhas. Logo, não é reservado, nem sigiloso, podendo qualquer
pessoa dele tomar conhecimento.

REQUISITOS – ART. 1.864 CC

1) Lavratura do ato notarial pelo Tabelião: o ato é privativo do notário (tabelião) ou seu
substituto legal.
2) Presença de testemunhas – (número = 2): as testemunhas devem presenciar todo o
ato e ter capacidade plena.
3) Leitura do Testamento: tão logo seja redigito o testamento, este deve ser lido pelo
Tabelião, na presença do testador e das testemunhas ou pelo testador, na presença do Tabelião
e das testemunhas. Esse requisito é fundamental e serve para que se verifique a coincidência
da vontade do testador e o que se encontra expresso no testamento. Deve ser feito em ato
contínuo, de forma que as testemunhas acompanhem todo o processo (declaração do testador,
redação e leitura). No caso do cego (art. 1.867) a leitura deve ser feita duas vezes: uma pelo
Tabelião e outra por uma das testemunhas (designada pelo testador). Não pode fazer testamento
público o surdo e o surdo-mudo. Podem fazê-lo o surdo, o analfabeto, o cego e o alfabetizado.
4) Assinaturas: depois de lido o testamento, deve ser coletada a assinatura do testador,
das testemunhas e do Tabelião.

CUMPRIMENTO, REGISTRO E ABERTURA DO TESTAMENTO

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Realizado o testamento público, deve-se, com o falecimento do testador, se realizar o


registro do testamento. Isto é feito através de uma ação judicial através da qual o portador do
traslado do testamento (ou de uma certidão) pede ao juiz que determine o cumprimento do
mesmo. Art. 736, CPC/2015.

c) Testamento cerrado – Arts. 1.868 a 1.875, CC


O testamento cerrado é aquele pelo qual o testador elabora o termo (ou alguém a seu
rogo e pelo testador assinado), com caráter sigiloso, que depende de instrumento de aprovação
do Tabelião, realizado na presença do testador e duas testemunhas, seguindo-se do seu
fechamento e costura do instrumento, sendo o documento entregue ao testador.
Só tem eficácia com a lavratura do auto de aprovação, pelo tabelião, na presença de 2
testemunhas.
Art. 1.872 – O testador deverá saber ler, pois precisa ter meios de se certificar que, no
caso de terceiro redigir o testamento a seu rogo, seguiu corretamente e fielmente as suas
instruções. Neste caso, o testador pode não saber escrever, mas, necessariamente, deve saber
ler.
Art. 1.873 – O surdo-mudo pode fazer testamento cerrado, desde que escreva e assine.

REQUISITOS DO TESTAMENTO CERRADO

O art. 1.868, CC estabelece os requisitos e formalidades do testamento cerrado. O


testamento cerrado se compõe de algumas fases:
a) A elaboração do testamento: O Tabelião pode escrever e aprovar o testamento
(1.870). Assinatura do testamento é imprescindível. Entrega ao Tabelião, acompanhado de 2
testemunhas. Requer a lavratura do auto de aprovação (art. 1.869).
b) Entrega do testamento: O testamento deve ser entregue pessoalmente pelo testador
ao tabelião, constituindo-se de ato personalíssimo, não admitindo a utilização de portador.
c) Participação das testemunhas: As testemunhas participam do ato de entrega do
testamento, mas não precisa que conheçam o seu conteúdo.
d) Lavratura do auto de aprovação pelo Tabelião: Depois de aprovado, o auto de
aprovação será lido pelo oficial e assinado pelas Testemunhas, Testador e Tabelião. O auto de

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aprovação deve vir, conforme o art. 1.869, CC, logo após a última palavra do testador. A
solenidade de aprovação deve ser feita sem interrupções.
e) Cerramento: Trata-se da última fase do testamento cerrado. O tabelião dobra a cédula
e costura-a com cinco pontos de retrós e lança pingos de lacre sobre cada um. Se houver o
rompimento do lacre pelo testador, não terá validade o testamento. Se for feito o rompimento
contra a vontade do testador, deverão os interessados demonstrar ao juiz tal fato, para que não
anule o ato.

ABERTURA, REGISTRO E CUMPRIMENTO DO TESTAMENTO CERRADO

O art. 1.875, CC dispõe acerca da abertura, registro e cumprimento do testamento


cerrado. Assim, falecendo o testador, deverá o testamento ser apresentado ao juiz que o abrirá,
o fará registrar e determinará seu cumprimento. Deve-se observar, portanto, que, quem abre a
cédula testamentária devidamente cosida é o juiz. Será extraída cópia autêntica do testamento
para juntar ao inventário.
Art. 735, CPC/2015 = se não houver vício externo que o torne suspeito de nulidade ou
falsidade, o juiz abre o testamento e mandará que o escrivão leia na presença do apresentante.
Depois de ouvido o MP, estando tudo nos conformes, o juiz mandará registrar, arquivar e cumprir
o testamento. Uma vez registrado o testamento, deverá o testamenteiro (indicado ou dativo)
assinar o termo de testamentaria.
Testamento dilacerado (1.972): ter-se-á como revogado. É o risco desta modalidade de
testamento: uma deterioração ou dilaceramento acidental.

d) Testamento particular – Art. 1.876/1.880


O testamento particular ou hológrafo é aquele no qual o testador elabora o ato de
disposição de última vontade de próprio punho (ou digitado e impresso), sendo assinado pelo
testador e lido para três testemunhas, que também o subscreverão. As testemunhas terão o
dever de, com a morte do testador, confirmar a autenticidade do testamento.

* Para todos verem: esquema

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Requisitos e formalidades do testamento particular - art. 1.876

Deve ser escrito e assinado pelo testador;

Inquirição das testemunhas em juízo (confirmação do testamento)

Pode ser feito em idioma estrangeiro;

A lei permite que terceira pessoa redija, pois pode ser datilografado;

Se for escrito a mão, deverá ser feito pessoalmente pelo testador;

Uma testemunha pode confirmar (Leite, 393)

Leitura e assinatura de 3 testemunhas.

Em circunstâncias excepcionais, declaradas na cédula (art. 1.879, CC), pode o juiz admitir
o testamento particular, de próprio punho, sem as formalidades legais. Este testamento perderá
a eficácia se, em 90 dias subsequentes ao fim das circunstâncias excepcionais, não for elaborado
testamento ordinário (Enunciado 611 das Jornadas de Direito Civil).

ATENÇÃO
Enunciado n. 611 da Jornada de Direito Civil: O testamento hológrafo simplificado,
previsto no art. 1879 do Código Civil, perderá sua eficácia se, nos 90 dias subsequentes ao fim
das circunstâncias excepcionais que autorizam a sua confecção, o disponente, podendo fazê-lo,
não testar por uma das formas testamentárias ordinárias.

PUBLICAÇÃO E CONFIRMAÇÃO DO TESTAMENTO PARTICULAR

O art. 1.877, CC determina que, falecido o testador, o testamento deve ser publicado em
juízo, sendo citados os herdeiros legítimos. Neste processo, as três testemunhas serão inquiridas
pelo juízo e, havendo o reconhecimento da autenticidade, o juiz confirmará e determinará seu
cumprimento.

89
2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
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Art. 737, CPC/2015: com o falecimento do testador deverá haver o requerimento de


registro do testamento. Poderão requerê-lo o herdeiro, legatário, testamenteiro ou outra pessoa,
detentora da cédula testamentária. O herdeiro que não tiver requerido a publicação do
testamento deverá ser intimado (§ 1.º). Uma vez que esteja tudo nos conformes e ouvido o MP,
o juiz confirmará o testamento.

e) Testemunhas instrumentárias

A atuação das testemunhas no testamento tem a função de conferir validade ao ato.


Em princípio, todas as pessoas capazes, podem ser testemunhas. Contudo, o art. 228,
CC determina as pessoas que não podem ser testemunhas (cuidado com as alterações do
Estatuto da Pessoa com Deficiência):

Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:


I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de
alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1º Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento das
pessoas a que se refere este artigo.
§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com as
demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistida.
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

f) Codicilos – Art. 1.881/1.885


Toda pessoa capaz de testar pode dispor em codicilo. É um ato de última vontade pelo
qual o testador dispõe sobre questões mais pessoais ou sobre bens de pequeno valor.
O objeto do codicilo é inferior ao do testamento, sendo, portanto, limitado. Não pode
instituir herdeiro ou legatário, efetuar deserdações, legar imóveis ou disposições patrimoniais de
valor considerável.

O codicilo pode ser usado para:


* Para todos verem: esquema

90
2ª Fase Civil 35º Exame da Ordem
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Destinar coisas de pouca monta, pouco valor;

Pode conter nomeaçaõ ou substituiçõa de testamenteiro;

Disposição sobre enterro

Legar joias, móveis e roupas de pouco valor, de seu uso pessoal;

Reconhecer filho havido fora do matrimônio;

Indicação de divisas e limites;

Liberalidade não pode ultrapassar 10% do acervo imobiliário.

FORMAS

É hológrafo, simplificado; sem formalidades;

É válido ditalografado, desde que datado e assinado pelo testador;

Não exige testemunhas;

Pode ser escrito por meios mecânico (jurisprudência dominante)

Deve ser escrito pelo disponente ou por terceiro;

Não exclui a forma pública, embora indique a particular.

EXECUÇÃO

As mesmas regras do testamento particular. Se público ou cerrado, segue-se as normas


de execução destes (art. 737, § 3.º, CPC/2015).
Art. 1885 – Se fechado, para manter secreto, a abertura se processa como o testamento
cerrado: será aberto pelo juiz que fará registrar.

CONSEQUÊNCIAS

91
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Art. 1.882 – O codicilo pode ser autônomo, ou pode existir como parte integrante de um
testamento.

Não revoga testamento. Por este é revogável (art. 1884)

É revogável por outro codicilo;

Mais de um codicilo: na dúvida, vale a última disposição

É válido exista ou não testamento;

Sendo o codicilo parte integrante ou complementar do testamento, anulado ou revogado este,


deixa de existir aquele;

As regras de capacidade no testamento valem para o codicilo.

3.6 Formas especiais de testamento

Além das formas ordinárias de testamento previstas (público, cerrado e particular), o CC


prevê formas especiais de testamento, as quais não podem ser livremente escolhidas pelas
pessoas (como nas formas ordinárias), mas sim são determinadas por circunstâncias e situações
excepcionais nas quais se encontra a pessoa que pretende manifestar sua vontade. Estes
testamentos tem como características a redução das formalidades, em razão da presença destas
circunstâncias ou situações excepcionais.

Art. 1.886. São testamentos especiais:


I - o marítimo;
II - o aeronáutico;
III - o militar.
Art. 1.887. Não se admitem outros testamentos especiais além dos contemplados neste
Código.

Seu registro e cumprimento se dará de acordo com o art. 737, § 3.º, CPC/2015,
obedecendo as regras do testamento particular.

a) Marítimo
É a declaração de última vontade, feita a bordo de navios, embarcações: em alto mar.
Pode ser feito pelos tripulantes ou pelos passageiros (art. 1.888). Justifica-se em caso de
emergência e necessidade. Não prevalece se a embarcação estiver em local onde o testador

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poderia ter desembarcado e testado de forma ordinária (art. 1.892). Caducará se o testador não
morrer em viagem, nem nos 90 dias subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa
fazer, na forma ordinária, outro testamento (art. 1.891).

Requisitos do testamento marítimo

Viagem realizada em navio nacional (extensão do território nacional)

Navio de guerra ou mercante (transporte de pessoas de um ponto a outro)

Testador esteja a bordo do navio

Cédula testamentária seja registrada no diário de bordo

Testamento fique sob a guarda do comandante

FORMAS

Na forma do público ou cerrado

Exige apenas duas testemunhas

Será lavrado, em regra, pelo comandante

Se o testador não puder assinar, alguém assina a rogo

O registro do testamento será no diário de bordo: parágrafo único, do art. 1888

b) Aeronáutico: Arts. 1.888 e 1.889


É aquele feito por quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial,
perante pessoa designada pelo comandante. É feito por perante pessoa designada pelo
Comandante. A garantia da entrega ao Comandante é o registro no diário de bordo. A integridade
do testamento fica sob guarda do Comandante.

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Forma testamento aeronáutico: público ou cerrado, nos termos do art. 1888 do CC

Requisitos do testamento aeronáutico: os mesmos do marítimo

Observação: O comandante não se envolve na elaboração do testamento pois está conduzindo


a aeronave

CADUCIDADE: EFEMERIDADE

Art. 1.891 – Caducará: Tem eficácia temporal e condicional:


a) Não morrer na viagem;
b) 90 dias subsequentes ao desembarque não testar da forma ordinária
c) É nulo o testamento feito em portos – neste caso, poderia ser feito através de uma
forma ordinária de testamento. Tem que ser em alto mar (Art. 1892).
O prazo de caducidade: 90 dias após o último desembarque: no fim da viagem. Perde a
eficácia: 90 dias (não três meses). Se o testador ficar impedido de fazer pela foram ordinária
(doença), valerá a disposição( prova).

c) Militar – Art. 1.893


É o realizado pelo militar e outras pessoas a serviço das Forças Aéreas em campanha
(médicos, enfermeiros, engenheiros...), que estejam participando de operações de guerra dentro
ou fora do país. Justifica-se pela excepcionalidade da situação.
* Para todos verem: esquema

Requisitos do testamento militar

Que a força esteja "em campanha" (dentro ou fora do país) - mesmo missão de paz

Que o testador esteja participando da guerra, em campanha, sem possibilidade de se afastar para
realizar o testamento pela forma ordinária

Qualquer pessoa envolvida - civil ou militar

Que não haja, no local, um tabelionato onde o tetador possa dispor de seus bens através de testamento
público

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FORMAS DE TESTAMENTO MILITAR

PÚBLICO

• O comandante da tropa ou diretor do hospital ou oficial de saúde funcionará como tabelião. Lavrado
perante duas testemunhas ou por três, caso o testador não saiba assinar (uma dela assinará a rogo)

CERRADO

• O testador entregará o escrito, devidamente assinado, ao oficial de patente mais acima, que o datará,
indicará o lugar em que lhe foi apresentado, assinando-o com as duas testemunhas, devolvendo-o ao
apresentante

NUNCUPATIVO

• É feito de viva voz, perante duas testemunhas, por alguém que está empenhada em combate ou ferida,
ou seja, a pessoa está exposta a risco de vida e impossibilitada de usar a forma escrita. Se finda a
guerra ou testador convalescer, cessarão os motivos que autorizam esta norma de testamento.

As declarações são feitas a duas testemunhas: que devem escrevê-las e confirmar em


juízo. É exceção e possui o risco, pois se o testador falecer, ficará nas mãos das
testemunhas.

CADUCIDADE: ART. 1.895

a) Noventa dias possa fazer da forma ordinária. Caduca da mesma forma que o marítimo.
b) Não era prazo de eficácia se apresentar as formalidades prescritas(art. 1.895):
segurança e definitividade. Não caducará.

3.7 Disposições testamentárias em geral - Art. 1.897/1.911

As disposições testamentárias contemplarão unicamente pessoas naturais ou jurídicas.


Inadmissível a contemplação de animais. São de natureza:
* Para todos verem: esquema

PESSOAL:
nomeação de tutor,
reconhecimento de
Natureza das filho, etc
disposições
testamentárias
PATRIMONIAL:
referente aos bens

95
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a) Interpretação do testamento
Quando da interpretação das cláusulas testamentárias, deve-se atentar para buscar a
verdadeira intenção do testador, ainda que não tenha se saído bem com as palavras escritas. É
nesse sentido a determinação do art. 1.899, CC.

b) Regras proibitivas
• Nomeação a termo: Art. 1898
A designação do tempo: é vedada, com exceção do Fideicomisso. É cláusula não escrita.
A herança se transmite imediatamente, a partir do óbito. Aberta a sucessão o herdeiro não tem
o que aguardar.
Reafirma o princípio da saisine – a herança transmite-se com a morte.
Nesse caso, não há o prejuízo da nomeação em si, mas sim da designação do termo
(inicial ou final).
• Instituição de herdeiro sob condição captatória: Art. 1.900, I
Não admite nenhuma espécie de pacto sucessório (vedação de contrato que tenha por
objeto herança de pessoa viva – art. 426, CC).
Essa condição captatória “é a que representa um induzimento, mediante nomeação e
favorecimento de outrem, como herdeiro, para que este também inclua o captador, ou terceiro,
em suas disposições testamentárias, como beneficiário” (Gonçalves, p. 331).
EXEMPLO: lego tal quantia para Fulano se ele me contemplar em seu testamento.
EXEMPLO: deixo a Fulano, que instituo como meu herdeiro, o quanto ele me transmitir
em seu testamento.
Essa vedação é em razão de que a instituição de herdeiro deve ser através da plena
liberdade e vontade do testador e, sendo possibilitada essa hipótese, poderia haver influência do
captador sobre o testador.

• Referência a pessoa incerta: Art. 1.900, II


Não há como ser cumprido um ato de disposição de última vontade se o beneficiário não
puder ser identificado. Nesse sentido, não é válida a disposição testamentária em que conste:
“benefício meus amigos” ou “benefício a pessoa mais digna da cidade”. Trata-se de expressões
vagas, de forma que não há como precisar quem é a pessoa que o testador pretende beneficiar.

96
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Quanto mais claro, melhor será. Contudo, não é preciso indicar o nome da pessoa, desde
que existam características possíveis de identificar o beneficiário.
EXEMPLO: deixo x% dos meus bens para o primeiro filho da minha irmã Fulana, que
nascer após a minha morte.

• Beneficiar pessoa incerta, a ser identificada por terceiro: Art. 1.900, III
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido, mas sim do
terceiro, que determinaria quem seria beneficiado.

• Beneficiar ao herdeiro, ou a outrem, da prerrogativa de fixar o valor do legado: Art.


1.900, IV
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido. Quem deve
fixar o valor do legado é o testador e não terceiro, ainda que a sua ordem.
EXEMPLO: A, B e C são meus herdeiros, cada um com a proporção que Fulano decidir.

• Beneficiar às pessoas indicadas nos arts. 1.801 e 1.802: Art. 1.900, V

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou
os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim
como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas
a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.

c) Regras permissivas
• Nomeação pura e simples: art. 1897
Puro e simples: não tem condição suspensiva e nem resolutiva. Não há qualquer encargo,
condição ou contraprestação.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, que receberá x% da minha herança.
• Nomeação sob condição: art. 1897
Condição é acontecimento futuro e incerto do qual depende a eficácia do negócio jurídico.
Ex.: deixo minha casa para Marcelo se ele me sobrevier.

97
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Se houver uma condição suspensiva a aquisição do direito pelo herdeiro dependerá do


implemento da condição. O implemento da condição terá efeito retroativo (ex tunc). Se não
houver o implemento da condição, a cláusula testamentária caducará.
Ex.: Fulano receberá “x valor” mensal enquanto for estudante de direito
Neste caso, havendo uma condição resolutiva, se Fulano parar de estudar, não mais
receberá o valor definido pelo testador.
• Nomeação com a imposição de encargo: art. 1897
A herança pode vir subordinada a um encargo que o beneficiário deverá cumprir, caso
aceite a herança.
Ex.: instituo Fulano como meu herdeiro, que receberá x% do meu patrimônio, com o
encargo de alimentar Cicrano até os 24 anos de idade.
Há discussão doutrinária e jurisprudencial quanto ao descumprimento do encargo e a
perda da validade da disposição testamentária. A maioria da doutrina entende que, descumprido
o encargo, os interessados deverão propor ação judicial para que seja declarada a ineficácia da
deixa testamentária.

• Disposição motivada: art. 1897


É possível a nomeação de herdeiro por certo motivo. O testador ao nomear alguém como
seu beneficiário não é obrigado a indicar o motivo, mas, caso queira, não pode haver a confusão
com obrigação modal (de encargo), pois se trata de fatos passados.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, pois foi ele quem salvou a vida do meu filho no
acidente de carro sofrido em 2006.

• Disposição com cláusulas de inalienabilidade: art. 1.911


O art. 1.911 dispõe sobre a possibilidade de o testador estabelecer ônus ou gravame sobre
os bens que integram a herança. Essa cláusula de inalienabilidade que pode ser imposta, traz
como consequência a impenhorabilidade e a incomunicabilidade desses bens.
Trata-se, portanto, da transferência do domínio de forma limitada.
Quando se faz a interpretação do art. 1.911 em conjunto com o art. 1.848, verifica-se que
a restrição imposta ao testador de justa causa, refere-se tão somente a imposição de cláusulas
para a legítima. Quanto ao testamento ou legado, não há a imposição de justa causa.

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3.8 Invalidade das disposições testamentárias

O TESTAMENTO É ATO SOLENE E FORMAL – tais exigências são para a segurança e


proteção do testador, contra o abuso da influência alheia.
Se o testamento não for apresentado, o juiz pode determinar a sua busca e apreensão.

* Para todos verem: esquema

Estabelecer a
autenticidade do
testamento em relação a
terceiros e asseguras as
de última vontade;

A invalidade por vício de


Distinguir a verdadeira
forma obedece a tríplice
finalidade: vontade do de cujus

Proteger o de cujus
contra decisões
precipitadas

3.9 Rompimento do testamento

Ocorre a ruptura do testamento quando “há a superveniência de uma circunstância


relevante, capaz de alterar a manifestação de vontade do testador, como, verbi gratia, o
surgimento de um herdeiro necessário” (Gonçalves, p. 457)
Enquanto a revogação depende da vontade do testador, o rompimento independe de sua
vontade, sendo determinado pela lei.

a) Superveniência de descendente sucessível (Art. 1.973)


EXEMPLO: ação de investigação de paternidade procedente posterior ao testamento,
sem o conhecimento prévio do testador.
A existência de qualquer filho quando da feitura do testamento afasta a caducidade,
mesmo que, após, surjam outros.

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HIPÓTESES

Nascimento posterior de filho ou outro descendente.

Aparecimento de descendente que o testador supunha falecido ou cuja existência ignorava.


Se o testador sabia da existência do herdeiro e, ainda assim, testou, o testamento subsiste.

Reconhecimento voluntário ou judicial do filho, ou a adoçõa, posteriores à lavratura do


testamento.

b) Surgimento de herdeiros necessários ignorados, depois do testamento (Art.


1.974)
Surgimento, depois do feitio do testamento, de outros herdeiros necessários, que o
testador não conhecia.
c) Subsistência do testamento se conhecida a existência de herdeiros necessários
(Art. 1.975)
Se o testador dispõe somente de sua metade disponível, a exclusão dos herdeiros
necessários não implica na ruptura do testamento.
Se o testador avançou na legítima do herdeiro necessário de que tinha conhecimento, o
testamento não se rompe, mas reduz-se a liberalidade, para o efeito de restaurar por inteiro a
quota legalmente reservada.

3.10 Revogação do testamento

CADUCIDADE: o ato perde a validade por uma causa que o esvazia, ou em razão de um
fato que lhe retira o objeto.
NULIDADE: há um vício, embora as consequências sejam idênticas: deixa de existir a
disposição testamentária, ou se invalida, ou perde todo o efeito. Entretanto, a nulidade depende
de declaração judicial, enquanto a revogação é ato unilateral.
REVOGAÇÃO: O testamento é essencialmente revogável. Trata-se de mudança na
redação feita pelo próprio testador.

a) Espécies de revogação

100
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REVOGAÇÃO EXPRESSA: dá-se mediante a confecção de novo testamento, onde é


indispensável mencionar a revogação do anterior, ou parte dele. Observa-se a mesma
solenidade para a celebração (art. 1.969 CC). Não é necessário que a revogação seja efetuada
por outro testamento da mesma modalidade, mas, necessariamente, tem de ser feita por outro
testamento. Ex: testamento marítimo pode revogar público; cerrado pode revogar particular.
REVOGAÇÃO TÁCITA: decorre do surgimento de novo testamento, cujos dizeres e o
conteúdo apresentam-se incompatíveis com o anterior. Ante a contradição, permanece sempre
a disposição mais recente. O simples fato de existir novo testamento não significa que tenha
revogado o anterior. Ambos podem coexistir, desde que não sejam contraditórios, ou seja, desde
que se complementem.
b) Formas de revogação
Segundo o art. 1.970, CC, a revogação do testamento pode se dar de forma total ou
parcial.
* Para todos verem: esquema

Declara-se em novo
testamento a revogação
Total do anterior, não fazendo
qualquer limitação ou
reserva.
Formas de revogação
de testamento

Limita-se ao tópico
Parcial
atingido.

A revogação de um testamento, mas existindo outro, sem que a este haja alguma
referência, leva a concluir quanto à revogação de apenas um, perdurando o outro.
A revogação do testamento de reconhecimento de filho é válida. Contudo, revoga-
se o testamento, não a declaração de reconhecimento – esta é intangível – única forma
irrevogável do testamento.
O novo testamento não atinge os legados, pois estes são especificações dos bens.

c) Efeitos da revogação
Priva-se o testamento de qualquer eficácia, se total, ou da eficácia na parte atingida, se
parcial;
Passa a vigorar a sucessão (legítima) hereditária, em todos os seus efeitos.
d) Anulabilidade – nulidade do testamento

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Tal como em todo negócio jurídico, a vontade do testador é válida e eficaz se isenta de
erro, dolo ou coação.
Tais vícios nodoam, comumente, disposições testamentárias, mas também podem
manchar o próprio testamento. Bem pode ocorrer que alguém teste sob coação ou dolo.
Provado o vício da vontade, deve ser anulado o testamento, a requerimento do
interessado.
O erro, obstáculo e a violência física determinam a nulidade e não a simples a nulidade
do testamento, visto que determinam a falta de vontade, não sendo, rigorosamente, vícios de
consentimento.
Certas formas testamentárias excluem a possibilidade de ocorrência de alguns vícios de
vontade.

* Para todos verem: esquema

Nos motivos

O erro determina
a anulabilidade Na designação
quando se dá

Na indicação dos
bens

Nulificam por duas razões: o testamento é um ato personalíssimo (art. 1.858) e,


unilateral (art. 1.863).
A disposição testamentária deve resultar de uma vontade livre de qualquer influência ou
pressão, interna ou externa.
Haja dolo, ou simplesmente pacto sucessório nas disposições captatória, a instituição está
viciada, porque contraria a liberdade essencial às disposições de última vontade, e transforma
em convocação o que a lei quer que seja espontânea manifestação unilateral.

3.11 Legados – art. 1.912 e seguintes, CC.

* Para todos verem: esquema

102
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Destinação de bens a
título particular, singular

Prédio, cifra em
Legados dinheiro, automóvel,
etc;

Coisa certa e
determinada deixada a
alguém via testamento
ou codicilo

a) Situações ou classificação
Legado de coisa alheia – não pode o testador legar coisa certa que não lhe pertença no
momento da abertura da sucessão (art. 1.912).
Exceções:
Art. 1.912 – será válido o legado de coisa alheia, se a coisa, mesmo não pertencendo ao
testador na época do testamento, após o testamento, vier a integrar o patrimônio do testador.
Art. 1.913 – o testador determina que o herdeiro entregue bem seu (dele herdeiro) a
terceira pessoa. Trata-se, na verdade, de um encargo que, se não cumprido, equivale à renúncia.
Legado de crédito. Art. 1.918 – trata-se de uma cessão de crédito, em que o legatário
substitui o testador e primitivo credor e pode promover a respectiva cobrança.
Legado de alimentos. Art. 1.920 – engloba o sustento, a cura, o vestuário e a casa,
enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. Via de regra, cabe ao testador
fixar o valor. Caso não o faça, o Juiz deverá fixar estes alimentos, atendendo para as forças da
herança e para as necessidades do alimentário. Exemplo: compelir herdeiro a pagar alimentos a
terceiros.

b) Nulidade por incapacidade do herdeiro ou legatário


São nulas as disposições em favor de incapazes de suceder, ainda quando simulem a
forma de contrato oneroso ou os beneficiem por interposta pessoa, o pai, a mãe, os
descendentes e o cônjuge do incapaz (art. 1.802 CC). Ex.: não podem suceder as pessoas
definidas no art. 1.801.

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c) Direito de pedir
Desde a morte do testador o legatário tem direito de pedir a coisa deixada por legado,
verificar art. 1.923 CC.

d) Caducidade dos legados – Arts. 1.939 e 1.940


A caducidade está no plano da eficácia, ou seja, quando algo fica inútil, sem efeito. No
caso da caducidade dos legados, ocorre quando alguma situação, alheia a vontade do autor da
herança, tira a eficácia da disposição testamentária. Não se confunde, portanto, com revogação,
quando depende de uma manifestação de vontade do autor da herança.
Formas de caducidade dos legados – Hipóteses de caducidade – art. 1.939:

* Para todos verem: esquema

Herdeiro ou legatário
pré-morto

Um dos beneficiários
Caducidade dos
recusa sua parte na
legados herança e abre mão do
Art. 1939, CC
legado

Quando o herdeiro é
afastado por qualquer
causa de exclusão por
indignidade

3.12 Direito de acrescer entre herdeiros e legatários – art. 1.941 CC

Ocorre quando o testado contempla vários beneficiários no testamento, deixando para


todos a mesma herança, em porções não determinadas e um deles vem a faltar.
O direito de acrescer ocorre, também, no direito das coisas (art. 1.411, CC), como nos
casos em que o usufruto é constituído em favor de duas ou mais pessoas. Nestes casos,
havendo o usufruto simultâneo (e deve estar expresso no documento), a parte do usufrutuário
que falecer, acrescerá ao do sobrevivo. Ex.: imóvel com usufruto para o casal João e Maria, de
forma simultânea (50% para cada). Neste caso, falecendo João, o usufruto será 100% de Maria.

104
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Este direito de acrescer, no caso do direito sucessório, ocorre apenas na sucessão


testamentária, pois na sucessão legítima o direito de representação impede a aplicação deste
instituto, salvo os casos de direito de renúncia.
Desta forma, o direito de acrescer, na sucessão testamentária, ocorrerá na hipótese do
art. 1.941, CC ou, ainda, no caso do art. 1.942, CC – quando os nomeados em conjunto
receberem uma só coisa (legado) ou quando esta não puder ser dividida sem risco de
desvalorização.
Portanto, não haverá o direito de acrescer quando o testador tiver deixado, de forma
expressa, a especificação do quinhão de cada co-herdeiro ou co-legatário (um terço, metade,
etc). Se isto ocorrer, a quota do herdeiro ou legatário que não quiser ou não puder aceitar a
sucessão testamentária será devolvida aos herdeiros legítimos – art. 1.944, CC.
O direito de acrescer também não ocorre no caso de haver substituição. Ex.: deixo 10%
do meu patrimônio para João e Carla e, em substituição de qualquer deles, para Fernando. Se
João ou Carla não quiserem ou não puderem aceitar, Fernando herdará.
Para que ocorra o direito de acrescer, alguns pressupostos ou requisitos devem estar
presentes, ou seja: o autor da herança deve nomear vários herdeiros ou legatários na mesma
disposição testamentária, sem estipular as porções de cada um. Além disso, um dos herdeiros
indicados deve ter a impossibilidade de herdar. Não pode haver indicação de substituição
testamentária. Se houver, o substituto herda no lugar daquele que não puder ou não existir mais.
Existem três tipos de disposições conjuntas:
a) Conjunção real – re tantum – quando os instituídos são chamados para suceder na
mesma coisa por frases distintas. Ex.: Deixo o imóvel X a José. Deixo o imóvel X a João.
b) Conjunção mista – re et verbis – quando a designação dos beneficiários é feita na
mesma frase, para a mesma coisa. Ex.: Deixo o imóvel X a José e a João.
c) Conjunção verbal – verbis tantum – neste caso há a designação dos beneficiários na
mesma disposição, e, ainda, a especificação do quinhão de cada um. Ex.: Deixo o imóvel X para
José e para João, metade para cada um.

3.13 Substituições testamentárias

O testador pode, além de estabelecer o beneficiário de seu testamento, instituir o


substituto, ou seja, a pessoa que, na impossibilidade do herdeiro testamentário (ou legatário) de

105
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herdar (seja por já ser falecido ou por não aceitar a herança, p.ex.), herdará em seu lugar. É o
que estabelece o art. 1.947, CC:

Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário nomeado,
para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a herança ou o legado,
presumindo-se que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda que o
testador só a uma se refira.

Existem duas hipóteses de substituição: vulgar e a fideicomissária.

a) Substituição vulgar

Quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocupar o lugar do herdeiro ou
legatário que não quiser ou não puder aceitar o benefício.
Trata-se de uma instituição condicional (que só ocorre que o beneficiário não puder ou
não quiser receber) e subsidiária (só produz efeitos se a disposição principal não produzir
efeitos). Estabelece a vocação direta, pois o substituto herda diretamente do falecido.

A substituição vulgar pode ser

Simples ou singular: um só substituto para um ou muitos herdeiros instituídos

Coletiva ou plural: quando há mais de um substituto a ser chamado simultaneamente

Recíproca: quando são nomeados dois ou mais beneficiários estabelecendo que


reciprocamente se substituem. Neste caso, herdeiros recolherão a cota do que faltar

O substituto assume o lugar do substituído, com os mesmos direitos e deveres, sujeitando-


se, inclusive, a condição ou encargo imposto ao substituído.

b) Substituição fideicomissária – 1.951 e ss.

Trata-se das situações nas quais o testador estabelece um beneficiário, mas com a
incumbência de, após, por sua morte, ou em vida, transmitir o bem a outra pessoa, inclusive sob
certa condição.

106
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O fideicomisso, previsto nos artigos 1.951 e seguintes do Código Civil, só pode ser
instituído através de testamento (Enunciado 529 das Jornadas de Direito Civil). Além disto, só
pode beneficiar pessoa ainda não concebida a época do óbito do instituidor (art. 1.952, CC). Se
a pessoa nomeada como fideicomissária já for viva no momento do óbito do autor da herança, o
fideicomisso resolve-se. O fideicomissário recebe a nua propriedade e o fiduciário fica com o
usufruto do bem (§ único do art. 1.952, CC).

* Para todos verem: esquema

O instituidor,
Fideicomitente
testador, doador

Quem recebe o
Figuras de
Fiduciário (ou bem, para, após,
substituição
gravado) efetuar a
fideicomissária
transmissão

Pessoa que recebe


Fideicomissário (ou
o bem quando da
substituto)
morte do fiduciário

O testador fixa o tempo do fideicomisso: vitalício (até a morte do fiduciário); a termo (em
tempo prefixado pelo testador) ou condicional (se depender de implementação de alguma
condição resolutiva).
Trata-se de uma vocação dupla, pois tanto o fiduciário, quanto o fideicomissário se tornam
titulares da herança. O fiduciário enquanto estiver vivo ou não ocorrer a condição ou termo. O
fideicomissário após estes períodos.
O fiduciário recebe, nos termos do art. 1.953, CC, a propriedade da herança. Contudo,
essa propriedade é restrita e resolúvel. Há o registro dela no Cartório de Registro de Imóveis,
com a imposição da cláusula de fideicomisso.
Se o fiduciário renunciar a herança, pode o fideicomissário aceitar (art. 1.954, CC). Pode
o fiduciário aceitar e o fideicomissário renunciar a herança. Neste caso, o fideicomisso caduca e
a propriedade do fiduciário deixa de ser resolúvel (torna-se plena) (art. 1.955, CC). Isto também
ocorre se o fideicomissário morrer antes do fiduciário ou antes de realizar-se a condição
estabelecida no testamento, caduca o fideicomisso e a propriedade consolida-se nas mãos do
fiduciário (art. 1.958, CC).

107
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ATENÇÃO
Há direito de acrescer (art. 1956, CC): Se o fideicomissário aceitar a herança ou legado
terá direito de receber, também, aquilo que acresceu aos fiduciários.

É proibido o fideicomisso sucessivo, ou seja, não pode o testador deixar o bem para A,
com o dever de, com sua morte, transmitir para B e este, para C. A cláusula não será totalmente
nula. Quando A falecer, B adquirirá a propriedade do bem. O art. 1.959 estabelece que são nulos
os fideicomissos além do segundo grau.

3.14 Redução das disposições testamentárias

A liberdade de testar é relativa, pois havendo herdeiros necessários, o testador só poderá


dispor da metade da herança. Assim, para resguardar a legítima, a lei permite a redução das
disposições testamentárias. Desta forma, toda vez que as disposições testamentárias
ultrapassarem a quota disponível do testador, poderão ser reduzidas. Não causa a nulidade, nem
é hipótese de anulação do testamento, bastando que se reduza as disposições testamentárias.
Assim, deve-se apurar o valor total do patrimônio na data da abertura da sucessão,
abatidas as dívidas e despesas de funeral, adicionando-se os bens sujeitos a colação (art. 1.847,
CC). A partir deste momento, o valor líquido é divido em duas metades – uma delas a legítima e
a outra, a parte disponível. Os valores que ultrapassarem a metade disponível devem ser
reduzidos, proporcionalmente, nos termos do art. 1.967, CC.

ORDEM

Herdeiro instituído (ou proporcionalmente, se houver mais de um)

Legatário - na proporção de seu valor

Redução das dotações (começando pela mais nova ou proporcionalmente se


foram na mesma data)

O testador pode, ainda, estabelecer forma diferente para a redução (§ 2.º):

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§ 2o Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de preferência, certos


herdeiros e legatários, a redução far-se-á nos outros quinhões ou legados, observando-se
a seu respeito a ordem estabelecida no parágrafo antecedente.

Em se verificando excederem as disposições testamentárias a porção disponível, será


proporcionalmente reduzidas as quotas do herdeiro ou herdeiros instituídos, até onde bastem, e,
não bastando, também os legados, na proporção de seu valor. Ex. Se alguém tem 2 filhos faz
uma disposição a favor de um no montante de 60%, a redução ocorre em 10%.
Se o testador, prevenindo o caso de redução, dispuser que se inteirem, de preferência,
certos herdeiros ou legatários, a redução far-se-á nos outros quinhões ou legados, observando-
se ao seu respeito a ordem estabelecida na regra anterior.

3.15 Testamenteiro

Testamenteiro é o executor do testamento. É a pessoa que o de cujus encarrega de fazer


cumprir suas disposições de última vontade. A ele cabe registrar o testamento (art. 1.979, CC),
cumprir a disposição testamentária e/ou garantir/zelar pelo seu cumprimento (art. 1.980, CC),
defender a validade do testamento. Deve exercer tal tarefa no prazo de 180 dias a contar do
óbito do autor da herança (art. 1.983, CC).
Testamentária: conjunto de funções que são realizadas pelo testamenteiro, o complexo
de direitos e obrigações.
A nomeação do testamenteiro é facultativa, mas dá direito àquele que exerce a função de
receber o prêmio ou vintena que será fixador livremente pelo testador. Se não o fizer, o juiz fixará,
dentre os limites de 1 a 5% da herança líquida. No caso do herdeiro testamentário (instituído ou
legatário) que também seja nomeado testamenteiro, este tem a faculdade de escolher entre o
prêmio (1 a 5%) ou a herança ou legado (o que lhe for mais favorável).
Se não houver testamenteiro nomeado, o cumprimento do testamento deverá ser dado
pelo cônjuge ou companheiro sobrevivente ou por qualquer herdeiro. Se não houver
testamenteiro, o juiz nomeará dativo, obedecendo a ordem (§ 4.º, art. 735, CPC/2015).

PERDA DO PRÊMIO - ART. 1989, CC

O testamenteiro perde o direito à vintena quando é removido e não cumprir o testamento

Quando faz despesas ilegais

Quando é negligente ou prevaricador

Quando não iventariar os bens (por culpa). O novo testamenteiro receberá o prêmio.

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04. Inventário e partilha

4.1 Inventário

Aberta a sucessão com o falecimento do autor da herança, seu patrimônio é, desde logo,
transmitido aos herdeiros legítimos e testamentários, de acordo com o art. 1.784, CC. Como a
herança é transmitida “como um todo unitário”, é preciso que seja feita a individualização de cada
quota parte dos herdeiros, a fim de terminar com o estado de comunhão. Nesse sentido, deve-
se instaurar o processo de inventário, para que seja possível realizar a partilha dos bens e
individualização dos quinhões hereditários.
Inventário significa achar, encontrar. Utilizada juridicamente no sentido de enumerar e
catalogar aquilo que “foi encontrado”, que pertence, neste caso, ao falecido.
O procedimento de inventário é previsto no art. 610 e seguintes do CPC/2015.

4.2 Inventário negativo

Mesmo que não existam bens, é possível que seja feito o processo de inventário. Serve,
tão somente, para comprovar que aquele que faleceu não possui bens a inventariar.
Exemplo: art. 1.523, I – causa suspensiva – viúvo que não deu partilha aos filhos não deve
casar – regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, I). É possível que esta penalidade
não seja imposta se restar comprovado que não haverá prejuízo aos filhos. A forma de fazer
essa prova é o inventário negativo.
Exemplo: art. 1.792, CC: responsabilidade dos herdeiros, conforme os limites da herança.
Se os herdeiros nada receberem, mas o falecido deixar dívidas, não terão eles responsabilidade
quanto ao pagamento das mesmas. Contudo, cabe e eles fazer prova disto, através do inventário
negativo.
Será dada abertura ao inventário, feita a pesquisa de bens e a sentença judicial declarará
a inexistência de bens a serem partilhados.

110
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4.3 Inventário conjunto

Em situações excepcionais é possível que seja realizado o inventário de duas pessoas ao


mesmo tempo, no mesmo processo, visando a economia processual. HIPÓTESES: art. 672,
CPC/2015 – identidade de herdeiros, herança deixada pelos dois cônjuges ou companheiros ou
dependência de uma das partilhas em relação à outra.

4.4 Dispensa de Inventário

Dependendo dos bens que componham o acervo hereditário o inventário pode ser
dispensado – Lei 6.858/80 - Pagamento, aos Dependentes ou Sucessores, de Valores Não
Recebidos em Vida pelos Respectivos Titulares – FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço) e PIS-PASEP (Fundo de Participação) – art. 666, CPC/2015.
→ Alvará judicial: em sendo necessário o levantamento de importâncias em dinheiro ou
venda de algum bem antes de completado o inventário, é possível que as partes façam
requerimento em juízo de alvará judicial para tal fim. Normalmente a justificativa utilizada é o
pagamento das custas do inventário, impostos, taxas, etc.

4.5 Inventário Judicial

O inventário judicial é divido em três espécies, qual sejam:


* Para todos verem: esquema

Inventário judicial Art. 610 a 658 do


pelo rito tradicional CPC/15

Inventário judicial
pelo rito do
Inventário judicial arrolamento Art. 659 do CPC/15
sumário

Inventário judicial
pelo procedimento
do arrolamento Art. 664 do CPC/15
comum

a) Inventário judicial pelo rito ou procedimento tradicional abertura do inventário

111
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O art. 611, CPC/2015 prevê que o inventário deve ser aberto dentro de dois meses a
contar do falecimento e terminar nos 12 meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar o prazo,
de ofício ou a requerimento da parte. Caso esse prazo não seja cumprido, haverá sanção de
natureza fiscal (aplicação de multa). Na prática, ao menos no RS, esses prazos não são
obedecidos e não há qualquer aplicação de multa em razão do descumprimento. Outros Estados,
contudo, fazem a previsão de incidência de multa sobre a avaliação do patrimônio (em torno de
20%).

LEGITIMIDADE PARA REQUERER O INVENTÁRIO

Art. 615, CPC/2015: quem estiver na posse e administração do espólio deve dar abertura
ao inventário. Esse, contudo, não necessariamente, será o inventariante, pois da abertura do
inventário até a nomeação do inventariante haverá um administrador provisório. Podem, ainda,
requerer o inventário: o cônjuge ou companheiro, herdeiro, legatário, testamenteiro, cessionário,
credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança, MP, Fazenda Pública ou o administrador
judicial da falência do herdeiro, legatário, autor da herança, cônjuge ou companheiro supérstite
(art. 616, CPC/2015).
A ação de abertura do inventário deve ser instruída com a certidão de óbito do de cujus e
procuração para o advogado.
O requerimento de abertura do inventário será instruído com a certidão de óbito do de
cujus (obrigatório – art. 615, § único, CPC/2015) e procuração outorgada ao advogado que
assina a petição.

Requerimento de abertura do inventário poderá conter

Certidão de casamento do de cujus

Cédula testamentária

Certidão de nascimento, ou outro documento, dos herdeiros

Certidão dos imóveis, etc

112
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FORO COMPETENTE

O foro competente para processamento do inventário é o foro do último domicílio do de


cujus, mesmo que os herdeiros residam em localidade diversa (arts. 1.785 e 1.796, CC e art. 48,
CPC/2015).

ADMINISTRADOR PROVISÓRIO

Até que seja nomeado inventariante e este preste compromisso, a administração da


herança ficará a cargo do administrador provisório nomeado pelo juiz (art. 613, CPC/2015). Este
tem a função de representação do espólio, devendo trazer ao acervo frutos percebidos, tendo
direito de ser reembolsado pelas despesas necessárias. Responde por danos a que der causa
(art. 614, CPC/2015).

NOMEAÇÃO DE INVENTARIANTE

Ingressando os herdeiros com o processo do inventário, o juiz despachará e nomeará o


inventariante, que prestará compromisso e as primeira declarações (prazo de 20 dias) (art. 620,
CPC/2015). A função do inventariante é administrar os bens do espólio, sendo seu representante
legal até que a partilha seja efetivada.
A ordem preferencial5 de pessoas que podem ser nomeadas inventariante é trazida pelo
art. 617, CPC/2015:

Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:


I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro
ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge
ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do
espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a
herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.

5
O STJ entendeu que esta ordem é preferencial e não absoluta (REsp 402.891)

113
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Depois de escolhido o inventariante pelo juiz, deverá prestar compromisso em 5 dias, de


bem e fielmente desempenhar o cargo (art. 617, § único, CPC/2015).

ATENÇÃO
O compromisso de inventariante poderá ser assinado por procurador, desde que
com poderes especiais para assinatura do termo de compromisso de inventariante (art.
150 do CPC/15)

As atribuições do inventariante estão dispostas nos arts. 618 e 619, CPC/2015, de onde
se destacam as principais: representação do espólio, administrador dos bens, prestar as
primeiras declarações, juntar aos autos documentos e certidões necessários.
O inventariante pode ser removido do encargo nos casos previstos no art. 622, CPC/2015.
Como o inventariante realiza um múnus público, pode ser removido a qualquer momento, se
comprovada a prática de determinados fatos, descritos no art. 622, CPC/2015:

Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:


I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas infundadas ou se
praticar atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem
dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de cobrar dívidas
ativas ou se não promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.

Essa enumeração é exemplificativa, podendo haver casos outros em que o juiz entenda
que é caso de remoção do inventariante. Contudo, a simples demora no término do inventário
não justifica a remoção. Para que isto ocorra, deve a demora ter se dado por culpa do
inventariante.
O procedimento para remoção do inventariante está constante nos arts. 623 a 625,
CPC/2015.

PRIMEIRAS DECLARAÇÕES

Com a nomeação do inventariante, deverá prestar as primeiras declarações no prazo de


20 dias. Essas primeiras declarações deverão conter (art. 620, CPC/2015):

114
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I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o lugar em que


faleceu e se deixou testamento;
II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos herdeiros e,
havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos respectivos dados pessoais, o
regime de bens do casamento ou da união estável;
III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado;
IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio, inclusive aqueles
que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios que nele forem encontrados,
descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se encontram,
extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos títulos, números das
matrículas e ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais distintivos;
d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas, declarando-se-
lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de sociedade,
mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a origem da
obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.

ATENÇÃO
Via de regra, quando se dá abertura ao inventário, se for consensual, já são prestadas
as primeiras declarações, com a informação de todos os herdeiros (qualificação completa,
endereço, parentesco, juntada de todos os documentos, avaliação já apresentada e a forma de
partilha)

As primeiras declarações devem ser prestadas por petição, firmada por procurador com
poderes especiais (a procuração do advogado deve constar, expressamente, poderes para
prestar as primeiras declarações) (art. 620, § 2.º, CPC/2015).

CITAÇÃO DOS INTERESSADOS

Após as primeiras declarações os interessados (cônjuge ou companheiro e herdeiros)


deverão ser citados (pelo correio - § 1.º), havendo a intimação do Ministério Público, se houver
herdeiro incapaz, da Fazenda Pública e o testamenteiro, caso haja testamento (art. 626,
CPC/2015).
Essa citação é dispensada se todos os herdeiros já estiverem representados nos autos
ou se comparecerem espontaneamente.

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FASE DE IMPUGNAÇÕES

Concluídas as citações as partes poderão impugnar alguma declaração prestada pelo


inventariante, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 627, CPC/2015.
Se a impugnação for julgada procedente, o juiz determinará que as declarações sejam
retificadas.
Em caso de haver uma questão que demande produção de provas que não a documental,
especialmente no que se refere ao art. 627, III, CPC/2015 – contestar a qualidade de herdeiro –
o juiz deverá remeter o impugnante para as vias ordinárias (dilação probatória) e suspender o
inventário (art. 627, § 3.º, CPC/2015).

AVALIAÇÃO DOS BENS INVENTARIADOS

Em seguida será feita a avaliação dos bens, com a remessa dos autos para a Fazenda
Estadual, a fim de que estabeleça o valor dos bens e realize o cálculo do imposto de transmissão
causa mortis (ITCD) – arts. 629 e 630, CPC/2015.

ÚLTIMAS DECLARAÇÕES

Depois de aceita a avaliação dos bens ou resolvidas possíveis impugnações à avaliação,


o inventariante deverá prestar as últimas declarações (art. 636, CPC/2015), quando poderá
descrever bens que, porventura tenham sido esquecidos (mesmo que por desconhecimento). As
partes serão ouvidas sobre as últimas declarações, podendo alegar a sonegação de bens pelo
inventariante somente depois da última declaração feita por ele, de que não existem outros bens
a inventariar (art. 621, CPC/2015).

PAGAMENTO DOS IMPOSTOS

Feitas as últimas declarações, é feito o cálculo do imposto, que deverá ser pago (art. 637,
CPC/2015).

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Nessa fase, devem ser juntadas certidões negativas de débitos municipais, estaduais e
federais. Para tanto, deverão estar quitados os IPTUs, ITRs, e outros impostos incidentes sobre
os bens do de cujus.

b) Inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário

É uma forma simplificada de inventário-partilha, quando todos os herdeiros são maiores,


capazes e a partilha é amigável.
Nesse caso, quando da abertura do inventário já são juntados todos os documentos
necessários, prova da quitação do imposto, partilha, etc, e o juiz apenas homologa, nos termos
do art. 2.015, CC.
Como é um procedimento sumário, é desburocratizado e, nesse sentido, o art. 660,
CPC/2015 dispensa a lavratura de termos de quaisquer espécies.

c) Inventário judicial pelo rito ou procedimento do arrolamento comum


Esta modalidade está estabelecia no art. 664, CPC/2015 e aplica-se aos casos em que o
valor dos bens do espólio for inferior a 1.000 salários mínimos, quando haverá a dispensa de
avaliação, sendo indicado o valor pelo inventariante nas suas declarações. Neste caso, não
importa existência ou não de consenso, mas sim o valor do patrimônio.

4.6 Inventário administrativo

A lavratura da Escritura Pública de Inventário trata de uma forma facultativa. Não há


obrigatoriedade da partilha extrajudicial. Assim, se todos forem capazes e concordes, o
inventário e a partilha poderão ser feitos no Tabelionato de Notas (art. 610, § 1.º, CPC/2015).

REQUISITOS/PRESSUPOSTOS

Todos capazes (capacidade de todos os interessados) e de acordo (ausência de


litigiosidade). Não pode envolver incapazes, nem existir testamento. Objetiva desburocratizar e
agilizar o procedimento judicial de inventário e partilha. O enunciado 600 das Jornadas de Direito
Civil diz que após o registro do testamento, poderá ser feito inventário extrajudicial.

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Enunciado n. 600 da Jornada de Direito Civil: Após registrado judicialmente o testamento


e sendo todos os interessados capazes e concordes com os seus termos, não havendo
conflito de interesses, é possível que se faça o inventário extrajudicial

Se o testamento já foi anulado, pode ser feito o inventário extrajudicial, fazendo constar
da Escritura as informações da ação anulatória transitada em julgado.
Os herdeiros e meeiros são representados por advogado (indispensável, conforme art.
610, § 2.º, CPC/2015) e devem assinar a Escritura.
Se por todos reconhecida a União estável do falecido, poderá o companheiro sobrevivente
promover o inventário extrajudicial. Do contrário, via judicial e com reconhecimento.
A opção pela via extrajudicial, poderá, inclusive, ser solicitada durante o trâmite do
procedimento judicial do inventário (arrolamento), mediante a suspensão ou desistência.
Na via judicial existe a fixação da limitação em face da competência territorial: local do
óbito/último domicílio do de cujus. No âmbito extrajudicial, a escolha do Tabelião é liberalidade
das partes, não se condicionando ao domicílio, situação dos bens ou local do óbito.

4.7 Sonegados

O inventariante tem o dever de prestar as primeiras e últimas declarações, onde deve


indicar, pormenorizadamente, os herdeiros, bens, dívidas, obrigações, etc, que pertencem ao
espólio. Caso o inventariante ou algum herdeiro omita bens que sabe existirem, estará
cometendo o ato de sonegação, ou seja, a ocultação maliciosa de bens que pertencem ao
espólio.
Neste caso, o sonegador está sujeito as penas de sonegação, ou seja, ao herdeiro que
sonegar – perderá o direito que teria sobre o bem, devendo restituí-lo, bem como aos seus frutos;
se o sonegador for o inventariante, ainda será removido da inventariança. A pena é civil.
Remoção do inventariante (art. 622, VI, CPC/2015) e perda do bem sonegado, que é imposta
por sentença.

4.8 Do pagamento das dívidas

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O espólio responde pelas dívidas do falecido, mas feita a partilha, cada herdeiro
responderá, dentro do limite de seu quinhão (art. 796, CPC/2015).

* Para todos verem: esquema

Despesas
funerárias

Vintena do
testamenteiro
Encargos da
herança
Dívidas do
falecido

Cumprimento
dos legados

Antes da partilha, podem os credores pedirem ao juiz o pagamento das dívidas vencidas e
exigíveis (art. 642, CPC/2015).

4.9 Colação

O instituto da colação visa igualar a legítima dos herdeiros necessários. Ocorre quando
um descendente (filho, neto, bisneto, etc) tiver recebido, em vida, doação de bens do falecido
(ou quando represente algum herdeiro que tenha recebido doação em vida). Art. 2.002, CC.
Deve-se destacar que o art. 544, CC estabelece que a doação de ascendentes a
descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança.
E é a partir daí que surge a necessidade da colação.

Art. 621, § único, CPC/2015 – os bens a serem colacionados terão seu valor calculado
pelo valor do tempo da abertura da sucessão (para óbitos ocorridos após a entrada em vigor
desta lei). No caso de óbitos ocorridos antes de março de 2016, aplica-se a regra do art. 2004 –
O valor da colação é aquele atribuído na liberalidade; se não tiver valor, por ocasião da partilha,
se estimará o valor da época da liberalidade (os bens serão avaliados com base no valor do
tempo da liberalidade); as benfeitorias, frutos e rendimentos são do donatário, “que responde

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pelos danos e perdas que eles sofrerem” (§§1º e 2º, do art. 2004). Observar que há o Enunciado
119 das Jornadas de Direito Civil que faz a seguinte previsão:

Enunciado n. 119 da Jornada de Direito Civil: Para evitar o enriquecimento sem causa, a colação será
efetuada com base no valor da época da doação, nos termos do caput do art. 2004, exclusivamente na
hipótese em que o bem doado não mais pertença ao patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda
integrar seu patrimônio, a colação se fará com base no valor do bem na época da abertura da sucessão, nos
termos do art. 1014 do CPC, de modo a preservar a quantia que efetivamente integrará a legítima quando
esta se constituiu, ou seja, na data do óbito (resultado da interpretação sistemática, do art. 2004 e seus
parágrafos, juntamente com os arts. 1832 e 884 do Código Civil.

Existe a possibilidade de que o ascendente dispense o descendente da colação,


mencionando, na escritura pública de doação que a mesma sai de sua parte disponível – art.
2.005, CC. Essa dispensa pode ocorrer, também, através de testamento (art. 2.006, CC).
Caso haja a dispensa da colação, mas a doação extrapole a parte disponível – calculada
no momento da disposição – estará ela sujeita a redução ao limite em que o doador poderia
dispor. Art. 2.007, CC.

4.10 Partilha

Terminado o inventário (arrolamento, descrição, indicação dos bens), os bens devem ser
partilhados. É através da partilha que haverá a individualização da quota hereditária de cada
herdeiro, terminando com o condomínio e a indivisão estabelecidos no momento da transmissão
da herança.
Se houver apenas um herdeiro, providencia-se a adjudicação dos bens, pois não haverá
partilha dos bens, nem divisão, de forma que poderá haver o inventário simplificado.
Procedimento: ver arts. 647 a 658, CPC/2015

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LEGITIMAÇÃO PARA REQUERER A PARTILHA

LEGITIMIDADE: interessados (art. 2013)

Credores

Herdeiros

Cessionários

Legatários

Testamentários

Qualquer herdeiro pode requerer

FORMA DE PARTILHA – ARTS. 2.014 e 2.015


* Para todos verem: esquema

Escritura
pública

Termo nos
Forma de
autos do
partilha
inventário
Escrito
particular
homologado

A partilha amigável pode ser formulada, tanto no inventário como no arrolamento.


a) Inter vivos: por escritura pública ou testamento.
b) Pos morten: no curso do inventário ou do arrolamento, na forma do art. 2015.

PLANO DE PARTILHA

Melhor critério: bom senso, equilíbrio, igualdade possível.


Sempre que os herdeiros divergirem as partes formularão ao juiz pedido de quinhão e o
juiz deliberará. Deverá ser apresentado o esboço da partilha que deverá ser efetivada pelo juiz.

PARTILHA EM VIDA

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A partilha em vida é aquela feita pelo pai ou qualquer ascendente, via escritura pública ou
testamento, mas que não pode prejudicar a legítima dos herdeiros necessários. Art. 2.018, CC

SOBREPARTILHA - ART. 2022


a) Os bens sonegados ficam sujeitos a sobrepartilha;
b) Quaisquer outros que se tiver ciência após a partilha.

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