Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ...

ª VARA CÍVEL
DA COMARCA DE .../....
Teoria e Prática no Direito de Família

Processo n.º ...


(NOME DO EXECUTADO), devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe,
que lhe move (NOME DO EXEQUENTE), por seus procuradores que esta subscrevem, vem
à presença de Vossa Excelência apresentar JUSTIFICATIVA AO INADIMPLEMENTO DOS
ALIMENTOS dizendo e requerendo o que segue:
I – PRELIMINARMENTE
I.I – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
INICIALMENTE, requer a V. Exª. seja deferido o benefício da Gratuidade de Justiça, com
fulcro na lei 1.060/50, com as alteraçõ es introduzidas pela Lei 7.510/86, bem como
disposto no art. 98 do CPC, por nã o ter o executado condiçõ es de arcar com as custas
processuais e honorá rios advocatícios sem prejuízo do seu pró prio sustento, conforme
declaraçã o de pobreza que se aduna.
II – BREVE SÍNTESE DA OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA
Trata-se de execuçã o movida pelo exequente, em face do nã o pagamento do pactuado no
processo n.º ..., que tramitou perante à Vara Adjunta da Direçã o do Foro desta Comarca.
Em audiência conciliató ria realizada em .../../... foi firmado que o executado pagaria a
quantia de ...% do salá rio mínimo, sendo depositado em conta corrente n.º ..., ag. ..., Banco ....
Todavia, diferentemente do que faz crer o exequente, nã o trata-se de inadimplemento
deliberado e intencional, mas pela impossibilidade de adimplir na integralidade, sendo que
o seu cumprimento acarretaria em sérios prejuízos ao sustento da família do executado,
uma vez que nã o percebe grande monta.
III – DA SITUAÇÃO ECONÔMICA DO DEVEDOR
O nã o pagamento é decorrência exclusiva de uma situaçã o imprevisível e que acometeu o
executado à total impossibilidade na continuidade da obrigaçã o alimentícia, sendo que
restou fazendo parcialmente, a fim de evitar maiores prejuízos ao seu filho.
Ocorre que o devedor reside com sua companheira (...) e seu filho (...), que hoje encontra-se
com ... anos de idade.
Atualmente, o executado trabalha como ... na empresa ..., situada na Rua ..., sendo que sua
renda líquida perfaz a quantia de R$ ... (...).
Por sua vez, sua companheira labora como ... auferindo a renda mensal de R$ ... (...).
Em vista disso, o rendimento do devedor nã o é capaz de suprir a integralidade de suas
despesas mensais, sendo que acaba prejudicando tanto a quitaçã o dos débitos alimentares
em favor do executado, quanto as despesas da casa.
Para melhor elucidar o caso, o devedor possui os seguintes gastos:
Alimentos.................................................................................................... R$ ...
Á gua (média).............................................................................................. R$ ...
Luz (média)..................................................................................................R$ ...
Aluguel........................................................................................................ R$ ...
Internet....................................................................................................... R$ ...
Despesas com a casa.............................................................................................................. R$ ...
Despesas com combustível (média)....................................................................................................... R$ ...
Pensã o Alimentícia.................................................................................................. R$ ...
TOTAL..................................................................................... R$ ...
Destaca-se que o executado nã o soube precisar quanto gasta em combustível, contudo,
tendo em vista o endereço de sua residência e o local de seu trabalho, facilmente o devedor
gasta em média de R$ ... (...) ou mais.
Portanto, o Executado nã o agiu de tal forma por desídia, porquanto deixou de efetuar os
pagamentos em virtude da modificaçã o de sua capacidade econô mica, uma vez que, hoje,
nã o reside em imó vel pró prio, tendo de arcar com varias despesas dentre elas, aluguel,
á gua, luz, alimentaçã o, despesas com seu filho (...).
Assim, o executado está acobertado por excludente de responsabilidade, pois sua situaçã o
econô mico-financeira o impossibilita de cumprir satisfatoriamente a obrigaçã o alimentar
dos meses vencidos, bem como vem pagando os alimentos da forma que dá , a fim de evitar
maiores prejuízos ao seu filho.
Por fim, urge salientar que a companheira do devedor encontra-se realizando exames e
fazendo uso de medicamento, tendo em vista lesã o no ombro direito, bem como avaliaçõ es
cardioló gicas, pois está sofrendo de fortes dores o que poderá incapacita-la de realizar o
seu labor.
IV – DA JUSTIFICATIVA
Conforme visto, a situaçã o econô mica do devedor encontra-se difícil, restando inviável a
quitação dos valores solicitados de forma imediata e integral, sendo de extrema
importâ ncia a compreensã o deste Juízo e do exequente na realizaçã o do pagamento de
forma parcelada, bem como se comprometendo o devedor de efetuar o pagamento integral
da parcela alimentar a partir do pró ximo mês.
Ademais, o executado nã o se opõ e a realizaçã o de audiência de conciliaçã o, a fim de
solucionar a questã o sub judice, uma vez que é do interesse do executado a quitaçã o dos
valores, bem como o arquivamento do presente processo.
URGE SALIENTAR que a manutençã o da prisã o poderá acarretar em sérios prejuízos tanto
ao grupo familiar do executado, quanto ao cumprimento da obrigaçã o alimentar em
comento, uma vez que o devedor encontra-se registrado na empresa ... sendo que tal
empresa é famosa pela rotatividade de seus funcioná rios, portanto, eventual prisã o do
devedor poderá custar o seu trabalho, o que inviabilizará a satisfaçã o da obrigaçã o
alimentar, bem como na apresentaçã o de demanda revisional, vez que alterará
significativamente na possibilidade de prestar alimentos.
Segundo interpretaçã o do art. 1.694, § 1º do Có digo Civil, o valor da pensã o deve ser
arbitrado levando em consideraçã o o binô mio necessidade/possibilidade. Necessidade de
quem recebe os alimentos e possibilidade de quem os deve prover.
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem
para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada. (GRIFO NOSSO)

Desta forma, o executado está acobertado por excludente de responsabilidade, tendo em


vista que sua capacidade econô mica o impossibilita de cumprir satisfatoriamente a
obrigaçã o alimentar dos meses vencidos, sem desfalque do necessá rio ao seu sustento.
Além disso, a prisã o do executado é medida extrema e nã o solucionará o problema do
débito alimentar, tendo em vista que provavelmente perderá seu trabalho, bem como
deixará de auferir renda nos dias/meses que estiver recolhido.
Excelência, a prisã o civil por débito alimentar é justificá vel apenas quando cumpridos
alguns requisitos, como nas hipó teses em que for indispensá vel à consecuçã o do
pagamento da dívida; para garantir, pela coaçã o extrema, a sobrevida do alimentando; e
quando a prisã o representar a medida de maior efetividade com a mínima restriçã o aos
direitos do devedor. A ausência desses requisitos retira o cará ter de urgência da prisã o
civil, que possui natureza excepcional.
Em vista disso, a parte exequente nem ao menos informou o devedor do eventual débito
extrajudicialmente, sendo que ao perceber o débito logo ingressou com pedido de prisã o do
executado.
Assim, a prisã o no presente caso nã o deve prosperar, uma vez que o devedor nunca deixou
de pagar a prestaçã o alimentar, contudo o fez nas forças de seus rendimentos, portanto,
pagando o quanto podia mensalmente.
Diante disso, o exequente nunca restou em estado de necessidade, ao passo de que o
executado sempre efetuou depó sitos de valores em conta da genitora do credor, sendo que
eventual diferença nã o deve ter o condã o de determinar a prisã o do devedor.
A jurisprudência determina que para a decretaçã o da prisã o por débito alimentar deve ser
analisado o caso concreto, ao passo que eventual encarceramento do executado poderá
acarretar em danos excessivos, tanto ao grupo familiar atual do devedor, quanto ao
alimentando, tendo como melhor medida a cobrança dos valores por meios executó rios
comuns, in verbis:
HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS. MEDIDA EXCEPCIONAL. 1 - A prisão civil por dívida
de alimentos é medida coercitiva de natureza excepcional e que subverte a lógica das relações obrigacionais
segundo a qual a execução, em regra, é essencialmente patrimonial. Objetiva-se com essa modalidade de prisão
o cumprimento ágil de prestação de caráter alimentar, sendo certo que sua decretação deve ser fundamentada
no caso concreto, devendo-se analisar também a necessidade, adequação e a possibilidade de eficácia da
medida. 2 - Tendo em vista que o encarceramento é uma técnica de coerção que tem por objetivo somente
satisfazer as necessidades prementes do alimentado, depositado o valor exigido não se verifica a situação de
urgência que justifique a aplicação da medida coativa, devendo o ressarcimento ser objeto de cobrança pelos
meios ordinários de execução previstos no Código de Processo Civil, sem prejuízo de nova decretação da prisão
civil em virtude de eventual saldo remanescente ou de novo inadimplemento da obrigação alimentícia. ORDEM
CONCEDIDA. LIMINAR CONFIRMADA. (TJ-GO - HC: 00155202520198090000, Relator: CARMECY ROSA MARIA
ALVES DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 22/03/2019, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ de 22/03/2019)
(GRIFO NOSSO)

Por sua vez, o doutrinador Yussef Said Cahali entende que


a falta de pagamento da pensão alimentícia não justifica, pura e simplesmente, a medida extrema da prisão do
devedor, havendo que se examinar os fatos apontados pelo alimentante em sua justificação, pois a prisão civil por
dívida de alimentos é medida excepcional, que somente deve ser empregada em casos extremos de contumácia,
obstinação, teimosia, rebeldia do devedor que, embora possua os meios necessários para saldar a dívida, procura
por todos os meios protelar o pagamento judicialmente homologado.

Outrossim, cumpre notificar que o executado quando podia depositava valores a maior,
isto, quando estava em situaçã o econô mica mais favorá vel, assim, junta-se aos autos alguns
meses de 2018 e 2019 que o devedor depositou tais valores.
Com fulcro no art. 5º, LXVII da Constituiçã o Federal preconiza que somente poderá ser
preso por débito alimentar aquele que deixar de prestar de forma voluntá ria e inescusá vel,
ou seja, tornando ilegal a prisã o no caso sub judice, uma vez que o executado tentou honrar
com suas obrigaçõ es, todavia nã o o fez na forma integral por sérias privaçõ es de ordem
econô mica pela qual está passando.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável
de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; (GRIFO NOSSO)

Ressalta-se que, apesar da impossibilidade pecuniá ria do pagamento da pensã o alimentícia


fixada, o executado sempre auxiliou seu filho com ajuda financeira, quando possuía algum
dinheiro extra.
Portanto, com base nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, requer a
desconsideraçã o do pedido de prisã o civil do devedor, sendo tal medida prejudicial à
satisfaçã o da obrigaçã o alimentar, bem como ao sustento da família do executado, que
continuará com os mesmos gastos mensais, mas sendo suportado apenas pela companheira
do devedor, devendo ser buscado outros meios para a satisfaçã o do débito alimentar.
V – DOS PEDIDOS
Face ao exposto, requer:
a) Seja a presente recebida e processada nos moldes de praxe, surtindo seus jurídicos e
legais efeitos;
b) Seja acolhida a presente justificação, levando em consideraçã o a argumentaçã o
expendida, surtindo todos os efeitos legais da decisã o, sendo que eventual determinaçã o de
prisã o acarretaria em prejuízo no cumprimento da obrigaçã o alimentar e no sustento da
família do executado;
c) Que seja aprazada audiência conciliató ria, uma vez que o executado tem a intensã o em
satisfazer o referido débito, contudo da forma menos onerosa e prejudicial ao sustento de
sua família, assim, a forma parcelada dos débitos em atraso é o que melhor se aplica;
d) O deferimento da gratuidade da justiça, uma vez que o executado é pessoa pobre e nã o
possui condiçõ es de arcar com as custas do processo e honorá rios advocatícios;
e) A condenaçã o do exequente ao pagamento das custas processuais e honorá rios
advocatícios;
f) A produçã o de todos os meios de prova admitidos em lei, em especial a documental,
pericial e testemunhal.
Nesses termos,
Pede Juntada e Deferimento.
Local e Data.
ADVOGADO - OAB/...

Banco de Peças Online

Você também pode gostar