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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.21.228290-9/001 Númeração 5015315-


Relator: Des.(a) Geraldo Augusto
Relator do Acordão: Des.(a) Geraldo Augusto
Data do Julgamento: 25/01/2022
Data da Publicação: 26/01/2022

EMENTA: APELAÇÃO - EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS - MAIORIDADE


ALCANÇADA - ALTERAÇÃO DO BINÔMIO LEGAL - CAPACIDADE
FINANCEIRA DO ALIMENTANTE - NECESSIDADE DO ALIMENTADO -
REDUÇÃO VISANDO À RESTAURAÇÃO DO EQUILÍBRIO -
POSSIBILIDADE.

Em princípio, ainda que já considerado maior e capaz civilmente, não


perderá o filho, automaticamente, quando atingir a maioridade, o direito aos
alimentos recebidos do pai. Tal permanece até que se comprove
concretamente a desnecessidade e a sua possibilidade de sustentar-se.

Deve o julgador, atento às circunstâncias do caso concreto, avaliar a


situação atual e econômica das partes, e, em atenção ao binômio
necessidade/ possibilidade, adequar os alimentos visando à manutenção do
equilíbrio na relação havida entre as partes.

Provada a ocorrência de modificação da situação econômico-financeira do


alimentante, sobretudo em análise conjunta com outros elementos trazidos
aos autos, a redução do encargo se justifica, ainda que em pleito de
exoneração de alimentos.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.21.228290-9/001 - COMARCA DE UBERABA -


APELANTE(S): L.L.V. - APELADO(A)(S): G.H.F.V.

ACÓRDÃO

(SEGREDO DE JUSTIÇA)

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de

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Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,


em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. GERALDO AUGUSTO

RELATOR

DES. GERALDO AUGUSTO (RELATOR)

VOTO

Trata-se de apelação interposta em face da sentença que, nos autos da


ação de Exoneração de Alimentos, julgou improcedente o pedido inicial,
mantendo, por conseguinte, a obrigação estabelecida no título original.
Condenando o autor ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor dado à ação; suspensa a
exigibilidade diante da concessão dos benefícios da assistência judiciária
gratuita.

Irresignado recorre o autor, visando à reforma da decisão de origem,


argumentando, em síntese, que, ao contrário da fundamentação utilizada na
vergastada sentença, o pedido formulado pelo apelante em sede de
alegações finais, para a redução do valor da pensão alimentícia, conquanto
não tenha sido formulado na exordial, não se trata de pretensão nova; que,
conforme o entendimento jurisprudencial dominante, o pleito para a redução
da pensão está compreendido no pedido principal, mais abrangente, da
exoneração dos alimentos; que foi demonstrado por meio de depoimento
pessoal, bem como através da prova documental juntada aos autos que a

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possibilidade de o apelante prestar os alimentos na forma originária se


deteriorou drasticamente e que a necessidade da parte apelada foi
incisivamente reduzida; que o autor passa por severas dificuldades
financeiras, vivenciadas pelas restrições causadas pela pandemia do Covid-
19; que ficou evidenciado, ainda, que o filho atingiu a capacidade civil plena e
possui condições de exercer atividade remunerada, uma vez que é pessoa
saudável, estando apto ao trabalho; que o curso frequentado pelo apelado é
em período noturno, o que não o impede de exercer atividade remunerada.
Requer, assim, seja provido o recurso para readequar-se o valor dos
alimentos para o patamar próximo de 10% do salário mínimo vigente.

Contrarrazões, em síntese, pelo desprovimento do recurso.

É o relatório.

Conhece-se do recurso, presentes os requisitos à sua admissibilidade.

Examine-se o mérito.

De plano, tem-se que provada a ocorrência de modificação da situação


econômico-financeira do alimentante, sobretudo em análise conjunta com
outros elementos trazidos aos autos, a redução do encargo se justifica, ainda
que em pleito de exoneração de alimentos.

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Ultrapassada essa questão, verifica-se que o pleito recursal restringe-se


à redução do encargo outrora fixado ao patamar de 10% (dez por cento) do
salário mínimo.

Pleiteou o apelante a exoneração da pensão alimentícia paga em favor


de seu filho, argumentando, em resumo, que este atingiu a maioridade,
podendo trabalhar para prover o seu próprio sustento. Em sede de alegações
finais, ressaltou, ainda, que passa por severas dificuldades financeiras,
vivenciadas pelas restrições causadas pela pandemia do Covid-19, sendo
certo que a função que exercia à época da fixação originária - colaborador
em uma Congregação Evangélica - sofreu significativo impacto ante a
determinação de fechamento e restrições de funcionamento dos templos
religiosos.

Houve por bem o MM. Juiz de Direito "a quo" julgar improcedente o
pedido exoneratório.

Ante a inteligência do art. 1.695 do Código Civil, tem-se que somente são
devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes,
nem pode prover pelo seu trabalho a própria mantença, e aquele, de quem
se reclamam pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu
sustento.

Embora o STJ já tenha afirmado que o advento da maioridade extingue o


pátrio poder, tal motivo não resulta no fim da obrigação de prestar alimentos,
ainda restando o parentesco entre pai e filho. Neste sentido, também se
manifesta a súmula 358 do STJ:

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"O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade


está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios
autos."

Alguns autores e parte da jurisprudência incluem na categoria da


necessidade presumida o filho estudante até que atinja 24 (vinte e quatro)
anos. Entretanto, atingida a maioridade e extinta a presunção legal da
necessidade, caberá ao filho o ônus da prova de que é estudante e que não
pode prover as suas necessidades de subsistência e educação, por si, em
razão dos estudos. Nesse sentido:

"A obrigação alimentar em razão do parentesco é vitalícia e recíproca,


entretanto, a presunção de necessidade do filho é inversa. Presume-se que,
com a maioridade e a extinção do poder familiar, a pessoa não mais
necessita ser alimentada pelo pai, cabendo-lhe, neste caso, comprovar que
ainda necessita do sustento." (CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das
Famílias, p.654, 3ª. Ed.).

Ressalte-se, por oportuno, que em hipóteses como a dos autos, a


despeito de ter havido pleito exoneratório, não há óbice à concessão de
redução do encargo, como medida judicial alternativa, pois o objetivo a ser
alcançado é a manutenção do equilíbrio orientado pelo princípio da
necessidade/possibilidade/proporcionalidade.

Isto é, devem ser analisadas as circunstâncias que se apresentam diante


da nova situação fática trazida aos autos, para que às partes sejam impostas
obrigações e prestação alimentícia condizente com a realidade exposta.

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Feitas essas considerações, verifica-se que o ônus alimentar restou


fixado, em favor do apelado, no ano de 2014, no importe correspondente a
50% (cinquenta por cento) do salário mínimo (f.16 - documento único).

No caso concreto dos autos, vê-se que o alimentando G.H.F.V. (nascido


em 09/03/1999 - 22 anos - f.15-documento único) já é maior de idade;
restando alegado nos autos que se encontra matriculado no curso superior
de Tecnologia em Gestão Financeira (acompanha atestado de matrícula de
f.144 - documento único).

Assevera-se, no entanto, que o requerido não comprovou que a


frequência no referido curso inviabilizaria o exercício de atividade laborativa;
considerando-se, principalmente, transcorrer no período noturno.

Outrossim, não há qualquer prova de inaptidão do apelado para o


trabalho, tanto que, conforme documento de f.80-documento único, laborou
nas Lojas Americanas no período de 20/06/2018 a 23/10/2019.

Por outro lado, conforme acima relatado, o apelante, que é pastor, alega
que a pandemia lhe causou severas dificuldades financeiras, devido ao
fechamento dos templos religiosos.

Da análise dos elementos carreados aos autos, portanto, demonstrado


restou que, embora o apelado tenha atingido a

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maioridade, este se encontra matriculado em instituição de ensino superior; o


que obviamente lhe gera gastos e corrobora a necessidade de manutenção
dos alimentos. Sobretudo para que este tenha o auxílio financeiro necessário
à conclusão de seus estudos e, consequentemente, a possibilidade de
inserção no mercado de trabalho, visando à independência financeira.

Entretanto, conforme asseverado, há que se levar em consideração o


fato de que não restou comprovado que a realização do curso inviabilizaria o
exercício de atividade laborativa; ônus que incumbia ao requerido.

No caso dos autos, não obstante o pleito de total procedência do pedido


inicial não se justifique; verifica-se que a modulação do encargo se impõe,
para que se mantenha o equilíbrio desejado; sendo devida, portanto, a
reforma da d. sentença.

Assim, faz-se necessária a análise do quantum fixado, da necessidade e


possibilidade das partes em recebê-los ou oferecê-los, visando, assim, à
manutenção do equilíbrio pretendido pelo princípio maior contido no binômio
necessidade/ possibilidade.

Destarte, justifica-se a reforma da sentença, para, julgando-se


parcialmente procedente o pleito inicial, reduzir o encargo alimentar para o
patamar de 30% (trinta por cento) do salário mínimo por mês.

Acrescenta-se, por oportuno, que a redução deve nortear-se pelo

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equilibro almejado na relação havida entre credor/filho e devedor/pai, levando


-se em consideração todas as circunstâncias fáticas que reflitam na esfera de
capacidade e necessidade daqueles.

Cumpre salientar, por fim, que o valor da pensão alimentícia não é


imutável e, havendo alteração na situação financeira de quem os recebe ou
na de quem os fornece, pode o interessado reclamar a sua redução,
majoração ou exoneração.

Com tais razões, DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, para,


reformando-se a d. sentença primeva, julgar parcialmente procedente o pleito
inicial, reduzindo-se o encargo alimentar para o patamar de 30% (trinta por
cento) do salário mínimo por mês.

Sem honorários recursais.

DES. ARMANDO FREIRE - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. WASHINGTON FERREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO"

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