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AO JUÍZO DA VARA ..

Processo n.

x, menor, nascida em, neste ato representada por seu genitor x,


vem, por seu procurador, interpor RECURSO DE APELAÇÃO contra a
sentença que julgou parcialmente procedente os pedidos, indeferindo a fixação
das despesas extraordinárias com material e uniforme escolar, medicamentos,
exames e consultas médicas, dentre outras, na presente Ação de Alimentos
ajuizada contra x,

Requer o recebimento do recurso com atribuição de efeito


suspensivo, com a imediata intimação da recorrida para, querendo, oferecer as
contrarrazões e, ato contínuo, sejam os autos, com as razões anexas,
remetidos ao Tribunal de Justiça do Paraná para os fins aqui aduzidos.

Termos em que pede deferimento.

RAZÕES RECURSAIS

Processo Principal n.

Juízo de Origem:

Apelante:

Apelada:

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara.
A sentença não merece ser mantida, razão pela qual o apelante
requer a sua reforma, consoante os argumentos apresentados a seguir.

1. PREPARO

O apelante deixa de efetuar o preparo, uma vez que já foi


concedido os benefícios de gratuidade da justiça pelo Juízo a quo.

2. DECISÃO APELADA E RAZÕES PARA SUA REFORMA

A sentença apesar de ter julgado parcialmente procedente os


pedidos, merece ser reformada, vez que indeferiu a fixação das despesas
extraordinárias com material e uniforme escolar, medicamentos, exames e
consultas médicas, dentre outras, vejamos:

“[...] deixo de obrigar a requerida ao pagamento de


metade das despesas extraordinárias, tais como com
uniforme e material escolar, bem como medicamentos, eis
que a prestação ordinária mostra-se suficiente e razoável
para cobrir também tais gastos, considerando, em
especial, que incidirá sobre o décimo terceiro salário”.

O que não deve prevalecer, pelas razões de fato e de direito a


seguir aduzidas.

O fato é que o instituto dos “alimentos” abrange muito mais do


que as despesas ordinárias propriamente ditas, sendo incluídas também,
todas as despesas extraordinárias e eventuais necessárias à sobrevivência
da alimentada, sob pena de sobrecarregar financeiramente um genitor em
detrimento do outro, por isso a reforma da sentença é medida que se impõe.

A fixação das despesas extraordinárias se apoia justamente


pela falta de previsibilidade quanto ao seu surgimento, característica
intrínseca de sua natureza, notadamente quando se trata de questões
afetas à educação e saúde, não sendo crível que os alimentos fixados
possa garantir qualquer gasto eventual e imprevisível da menor.
Exatamente por esse motivo, que quando da fixação do valor da
obrigação alimentícia, as despesas consideradas para a quantificação são
as despesas ordinárias. Isto é, as despesas normais, as comuns no dia a dia
e na vida de qualquer pessoa, e que podem perfeitamente ser previstas
quando da fixação do “quantum”.

No entanto, existem despesas com saúde e educação que,


por ocasião da fixação do valor dos alimentos, não existem e nem se
pode prever se irão existir, e o próprio fato de serem extraordinárias, ou
seja, não consideradas quando da fixação dos alimentos, já demonstra
que não estão abrangidas pela pensão alimentícia fixada em desfavor da
genitora.

Enfim, trata-se de despesas necessárias ao sustento e


sobrevivência dos filhos, e não incluídas naquele rol de despesas ordinárias a
serem satisfeitas pelos alimentos.

A respeito desse tema, diz a Constituição Federal, em seu


art. 229:

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar


os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de
ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade.

Na mesma orientação, o art. 22 da Lei n. 8.069/90, o Estatuto da


Criança e do Adolescente:

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e


educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir
as determinações judiciais.

O que se extrai do texto da Constituição e da Lei é que o


dever de sustento cabe a ambos os pais. Sob essa perspectiva, não tem
sentido algum imputar os gastos extraordinários apenas a um dos
genitores (no caso, ao genitor), especialmente quando esse gasto diz
respeito à saúde e educação das crianças e, consequentemente, à
própria sobrevivência delas.

Assim, as despesas extraordinárias com os filhos, que não são


abrangidas pelos alimentos, devem ser suportadas pelo pai e pela mãe
conjuntamente.

Nesse sentido, é o entendimento deste tribunal, conforme


comprova-se por meio do acordão anexo.

Essa compreensão se coaduna com o entendimento inserto nas


ementas dos acórdãos de vários tribunais, a seguir transcritas:

“ALIMENTOS. DESPESAS EVENTUAIS


E EXTRAORDINÁRIAS. CONTRIBUIÇÃO. É dever dos
genitores também contribuírem em igualdade de
proporção com
eventuais despesas extraordinárias dos filhos,
considerando que com o tempo novos gastos podem
ir surgindo e a necessidade dos menores ganhando
novas contornos imprevistos que devem ser
custeados pelos pais.” (TJ-RO, Apelação Cível
nº 7002569-72.2019.822.0009, Relator(a) do Acórdão:
Des. Marcos Alaor Diniz Grangeia, 2ª Câmara Cível,
Data de julgamento: 03/09/2020). (grifo nosso).

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE GUARDA,


ALIMENTOS E REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS –
DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS – AUSÊNCIA DE
FIXAÇÃO DE PERCENTUAL – INCLUSÃO -
POSSIBILIDADE – RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. Como cediço, em sede de tutela de urgência
fixam-se apenas os alimentos provisórios, ou seja, o
mínimo necessário para a subsistência digna e humana
do alimentado. Essa obrigação pode, inclusive, ser
revisada a qualquer tempo no curso do processo, desde
que seja comprovada a alteração das condições
financeiras do alimentante. Devidamente comprovadas,
devem ser incluídas as despesas extraordinárias dos
menores não previstas na fixação do quantum da
verba alimentar, devendo ser suportadas de forma
igualitária entre os genitores (50%), já que esse valor
engloba despesas como moradia, vestuário, educação e
saúde, ou seja, qualquer bem imprescindível a que seja
preservada a dignidade da pessoa humana do
alimentando. (TJ-MT 10059858120228110000 MT,
Relator: SEBASTIAO DE MORAES FILHO, Data de
Julgamento: 29/06/2022, Segunda Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 08/07/2022). (grifo nosso).
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE ALIMENTOS –
INCLUSÃO DAS DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS
COM SAÚDE E EDUCAÇÃO - MEDIANTE
COMPROVAÇÃO POR NOTA FISCAL OU
DOCUMENTO IDÔNEO – OBRIGAÇÃO DO APELADO
HONRAR COM 50% - DEVER DE ASSISTÊNCIA DOS
FILHOS - IMÓVEL - PARTILHA - USO EXCLUSIVO DE
IMÓVEL POR UM DOS EX-COMPANHEIROS -
ARBITRAMENTO DE ALUGUEL - TERMO INICIAL
DATA DA CITAÇÃO – HONORÁRIOS RECURSAIS
MAJORADOS – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. -
As despesas extraordinárias com a educação e
saúde dos menores, devem ser arcadas pelo apelado
na proporção de 50% dos gastos mediante
comprovação destes por meio de nota fiscal ou
documento idôneo, por parte da apelante, obrigação
esta oriunda do dever de assistência dos filhos
menores que cabe a ambos os pais. - O estado de
maNcomunhão não gera comodato gratuito entre os ex-
companheiros, sendo devido o arbitramento de aluguel a
título de indenização pela utilização exclusiva do imóvel
comum por uma das partes. Imperioso reconhecer o
direito da ex-companheira de ser indenizada pela
utilização exclusiva do imóvel comum do ex-casal, desde
a citação, no valor correspondente à sua quota-parte no
imóvel, considerando-se como base de cálculo o valor de
mercado de aluguel mensal do imóvel, deduzidas as
despesas de manutenção do bem, inclusive tributos,
suportados pela ex-companheiro. -Vencido em grau
recursal, de ofício, deve o Tribunal majorar os honorários
advocatícios, pelos serviços desempenhados pelo
profissional do direito, após a prolação da sentença de
piso. (TJ-MT - AC: 10017676220178110007 MT, Relator:
SEBASTIAO DE MORAES FILHO, Data de Julgamento:
22/04/2020, Segunda Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 06/05/2020). (grifo nosso).

APELAÇÃO CÍVEL. COBRANÇA. DESPESAS


EXTRAORDINÁRIAS COM A SAÚDE DO FILHO.
POSSIBILIDADE DE COBRANÇA. As despesas
extraordinárias com a saúde do filho, aquelas que
eram imprevisíveis na data da fixação do
pensionamento, não estão abrangidas pelos
"alimentos". O pagamento de tais despesas jamais
pode ser considerado mera "liberalidade" de parte do
genitor que paga - porquanto tal pagamento deriva
do dever e da obrigação de sustento que a
Constituição da República e o Estatuto da Criança e
do Adolescente impõem aos genitores. As despesas...
(TJ-RS - AC: 70041486747 RS, Relator: Rui Portanova,
Data de Julgamento: 18/08/2011, Oitava Câmara Cível,
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
23/08/2011). (grifo nosso).

AGRAVO DE INSTRUMENTO – CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA – DECISÃO QUE NÃO CONSIDEROU
COMO GASTOS EXTRAORDINÁRIOS AS DESPESAS
ODONTOLÓGICAS DO MENOR – GASTOS
EVENTUAIS QUE SE INSEREM NA RUBRICA
“DESPESAS EXTRAORDINÁRIAS” – DECISÃO
REFORMADA - AGRAVO PROVIDO. A questão
referente à inclusão dos gastos odontológicos não
merece maiores digressões, porquanto, inobstante não
tenha constado do acordo a expressão “despesa
odontológica”, por óbvio, referido gasto corresponde à
despesa extraordinária, o qual deve ser rateado pelos
genitores. O custeio da metade das despesas
médicas, farmacêuticas, escolares e odontológicas
afigura-se mais favorável à menor, uma vez que
atinente ao seu melhor interesse. Ademais, alimentos
são prestações que objetivam atender às
necessidades vitais e sociais básicas, tais como,
saúde, educação, alimentação, vestuário, habitação,
lazer, etc., ao passo que as despesas extraordinárias
são aquelas variáveis e esporádicas que devem ser
pagas mediante recibo ou nota fiscal e caso a menor
efetivamente precise das mesmas, o que é natural
ocorrer considerando se tratar de uma menor de 12
(doze) anos de idade. Em consonância com o Parecer
Ministerial, é de ser provido o recurso para
determinar que o recorrido arque, também, com
despesas extraordinárias relativas a tratamento
odontológico da menor, devidamente comprovados,
na proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada
um dos genitores. (TJ-MT 10071036320208110000 MT,
Relator: SEBASTIAO DE MORAES FILHO, Data de
Julgamento: 17/03/2021, Segunda Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 21/03/2021). (grifo nosso).

Dessa forma, resta evidente que as despesas extraordinárias


devem ser assumidas por pai e mãe, sob pena de sobrecarregar
financeiramente um genitor em detrimento do outro, por isso a reforma da
sentença é medida que se impõe.
3. PEDIDOS

Ante o exposto, a apelante requer:

a) O conhecimento do presente recurso nos seus efeitos ativo e


suspensivo, nos termos do art. 1.012 do CPC para fins de julgar procedente o
pedido interposto na peça;

b) A intimação da parte recorrida para, se manifestar, querendo,


nos termos do § 1º, art. 1.010 do CPC;

c) O provimento do recurso para reformar a decisão recorrida e


determinar que sejam partilhadas as despesas extraordinárias com material e
uniforme escolar, medicamentos, exames e consultas médicas, dentre outras,
que sejam partilhadas na proporção de 50% para cada genitor.

Termos em que pede provimento.

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