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19/10/23, 19:59 Onlist

6 – O ALIMENTANTE INADIMPLENTE: POSSIBILIDADE


DE PRISÃO CIVIL
Afigura-se como evidente em nosso país a importância emprestada aos
alimentos. Estes são, nos dias de hoje, créditos notadamente especiais;
embora possuam natureza civil podem ensejar privação de liberdade daquele
que os deve. Uma vez configurada a mora do alimentante poderão dar azo à
prisão civil, prevista inclusive em sede constitucional.

Um ponto que vem suscitando questionamentos é o que diz respeito à duração


dessa prisão, na verdade medida assecuratória, e não pena propriamente dita.
Neste sentir, diversos questionamentos podem ser colacionados, dentre os
quais os esposados pelos mestres Barbosa Moreira, Theodoro Júnior e Araken
de Assis. São posicionamentos divergentes entre si, mas todos defensáveis do
ponto de vista dogmático.

José Carlos Barbosa Moreira pondera que o prazo da prisão deve ser sempre
o previsto no art. 733 do CPC, já que teria derrogado, nesta parte, o disposto
no art. 1942 da Lei de Alimentos. Noutro sentir Humberto Theodoro Júnior43
afirma que no caso dos provisionais é de se aplicar o prazo previsto no art.
733 do CPC, logo de um a três meses, e, para os definitivos e provisórios, o
prazo do art. 19 da Lei de Alimentos.

Há ainda o entendimento defendido por Araken de Assis, que, a partir do


consignado no artigo 620 do CPC, pondera dever sempre se observar o menor
prazo (o da Lei de Alimentos), tendo em vista o preceito geral contido neste
artigo, pelo qual se diz que a execução deve ser processada de modo menos
gravoso ao devedor.

Aponta ainda – com base na Lei nº 6014/73, que adaptou ao novo Código de
Processo Civil as leis que menciona – “que continua em vigor o art. 19 da Lei
de Alimentos” , onde se prevê uma prisão menor que o art. 733 do CPC.

O argumento apresentado pelo professor Araken é, sem dúvida, robusto.


Contudo, não se deve perder de vista que a prisão civil do devedor de
alimentos é medida assecuratória e não pena. Não se deve confundir,
portanto, com a noção de execução, mesmo porque, uma vez pagos os
alimentos, cessa imediatamente tal medida. Ademais, não é qualquer
inadimplemento que interessa ao estudo da prisão civil do devedor de
alimentos, mas sim o inescusável.

Entendemos que o prazo, a despeito de todas as discussões aludidas, não


importa ser o maior ou o menor, mas sim o capaz de assegurar a efetividade
da medida pretendida: atender-se ao interesse do alimentando, necessitado,
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pois! Por isso, sendo necessário, que sejam os três meses a que se refere o
professor Barbosa Moreira, opção que fazemos em razão de nos parecer ser a
mais alinhada com a teleologia do instituto dos alimentos.

Como diz o jargão do programa Fome Zero, “quem tem fome tem pressa”, e se
o devedor o é por deliberalidade, não nos parece despropositado que a
medida assecuratória – e não pena, frise-se – seja a mais gravosa para o
devedor, ainda que aparentemente se possa vislumbrar contradição com o
artigo 620 do CPC.

No que se refere ao prazo mínimo de prisão, CPC e Lei de Alimentos divergem


na cominação de tal medida. No CPC está expresso que a prisão será
decretada pelo prazo de um a três meses, sendo a pena mínima cominada de
um mês, portanto. A Lei de Alimentos, contudo, não fixa prazo mínimo,
limitando-se a dizer que não excederá sessenta dias. Neste ponto, reiteramos
a alusão já feita, ou seja, a medida deve ser bastante para que se atenda ao
espírito da lei: o adimplemento da obrigação.

Dogmaticamente pode interessar ser um ou outro prazo, mas no mundo dos


necessitados que parece estar contida a obrigação alimentar esta discussão
doutrinária deve ceder lugar, sim, ao bom senso do julgador, que precisa
cuidar para que a medida seja a mais efetiva.

No que concerne às características da prisão decorrente do débito alimentar,


cabe reiterar não ser esta pena, mas sim meio de coerção para impelir o
devedor de alimentos a cumprir sua obrigação, segundo lição do mestre
Villaça, onde se lê que “a prisão por débito alimentar não é pena, mas meio
coercitivo de execução, para compelir o devedor ao pagamento da prestação
de alimentos. Esta prisão não existe, portanto, para punir o devedor, tanto que,
pagando-se o débito, a prisão será levantada.”

É preciso se levar em consideração que não é qualquer débito alimentar que


poderá ensejar a prisão civil do alimentante inadimplente. Prepondera na
jurisprudência o entendimento que apenas o débito referente aos últimos três
meses, contados da propositura da ação, podem ensejar o tomamento da
medida assecuratória em estudo. O débito que estiver fora deste contexto
temporal poderá sim ser cobrado, mas o será através da execução contra o
devedor solvente. Neste caso, a prescrição da pretensão executiva se
consuma em dois anos, consoante o artigo 206, § 2º do Código Civil vigente.

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