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finanças públicas
A atuação do Poder Legislativo
Sumário
1. Introdução. 2. A previdência estabeleci-
da na Constituição de 1988 e o desequilíbrio
financeiro do sistema. 3. O processo de reforma
da Previdência Social. 3.1. Emenda 20: o que o
Governo queria e o que conseguiu efetivar. 3.2.
Emendas 41 e 47: a hora e a vez dos servidores
públicos. 4. Tópicos especiais em Previdência.
4.1. Fator Previdenciário. 4.2. Débitos Previden-
ciários dos Municípios. 5. Considerações finais.
1. Introdução
A Previdência Social, historicamente,
iniciou sua evolução num regime privado e
facultativo característico das associações de
empregados, passando depois aos regimes
de seguros sociais obrigatórios, em que já
transparece a intervenção do Estado. Atu-
almente, o sistema de seguridade social, já
custeado em parte pelo Tesouro Nacional,
Meiriane Nunes Amaro é Consultora Legis- vive no dilema de aumentar os riscos cober-
lativa do Senado Federal. Mestre em Economia tos, melhorar suas prestações, universalizar
pela Universidade de Brasília e pós-graduada em sua cobertura, porém sem poder arcar com
Direito Legislativo pela UNILEGIS. Especialista gastos crescentes.
em economia do trabalho e previdência social. O Welfare State gerou a mentalidade de
Atuou como assessora direta dos relatores da Re- que o Estado deveria participar ativamente
forma da Previdência Social no Senado Federal. na promoção de benefícios sociais. Vários
Fernando B. Meneguin é Consultor Legisla- dos sistemas previdenciários existentes no
tivo do Senado Federal. Doutor em Economia
mundo foram desenhados com base nesse
e Mestre em Economia do Setor Público pela
Universidade de Brasília. Especialista em eco- pensamento. No entanto, a idealização
nomia do trabalho e previdência social. Atuou inicial desses regimes previdenciários não
como assessor direto dos relatores da Reforma acompanhou as mudanças ocorridas na
da Previdência Social no Senado Federal. sociedade, implicando seu colapso com
Fonte: Giambiagi & Além, 1999, pág. 229. Boletim Estatístico da Previdência Social – vol. 5 no 12, vol. 6 no 10,
vol. 7 no 6, vol. 8 no 12, vol. 9 no 12, vol. 10 no 12, vol. 11 no 12, vol. 12 no 12, vol. 13 no 12, vol. 14 no 12.
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O art. 198 da Constituição Federal previu o finan- a evolução das despesas com benefícios
ciamento do sistema único de saúde pelo orçamento do INSS, cujo valor, nos 21 anos seguintes
da seguridade social das três esferas de poder. à aprovação da Constituição, subiu de
Brasília a. 47 n. 187 jul./set. 2010 93
2,5% do PIB em 1988, para 7,8% do PIB res que, anteriormente, haviam contribuído
em 2009. para o RGPS.
É fácil perceber que o agravamento do Houve, inicialmente, uma ilusão de equi-
desequilíbrio ocorreu a partir dos anos líbrio financeiro, uma vez que o número de
1990. Tal situação foi resultado não ape- aposentados era pequeno, não ocasionando
nas da significativa expansão da despesa gastos com benefícios, enquanto que, pelo
previdenciária, como também do menor lado da receita, havia um fluxo de novos
crescimento do PIB e do aumento do de- recebimentos. No entanto, o alívio inicial
semprego e da informalidade, que afetam foi corroído pelos encargos com benefícios
negativamente a receita do sistema. de funcionários que começavam a consti-
Com relação ao regime de previdência tuir o estoque de aposentados e agravado
do funcionalismo público, denominado pela inexistência de fundos de reserva nos
Regime Próprio de Previdência do Servidor regimes próprios de previdência.
Público (RPSP), este tem semelhanças com Outro tema diretamente relacionado
o regime de repartição simples do INSS, com o déficit previdenciário é o reajuste
embora existam diferenças básicas. Assim do salário mínimo. Como se sabe, desde a
como no RGPS, também há descompasso promulgação da Constituição Federal de
entre o que se arrecada e o que se paga a 1988, o salário mínimo tornou-se o piso
título de benefícios previdenciários. Como para os benefícios da seguridade social. Isso
exemplo, em 2009, o Governo Central pa- significa que, a todo aumento do salário
gou cerca de R$ 67 bilhões aos aposentados mínimo, os benefícios previdenciários que
e pensionistas enquanto recolheu contribui- se encontram entre o valor antigo e o novo
ções no montante de R$ 9,2 bilhões2. piso nacional recebem um incremento.
Essa situação deve-se, em grande parte, Cabe ressaltar que, nos últimos anos, o
à forma como foi estruturada a seguridade salário mínimo subiu bem acima da infla-
dos servidores públicos na Constituição de ção. Entre 2001 e 2010, o valor do piso nacio-
1988. Até os anos 80, além dos servidores nal aumentou 74,58% em termos reais.
estatutários, a administração pública fe- Feita esta abordagem inicial, os tópicos
deral, estadual e municipal era composta seguintes retornarão com mais detalhes
por grande contingente de servidores cuja acerca de alguns dos assuntos tratados
relação de trabalho era regida pela CLT. aqui, enfatizando todo o processo de refor-
Os servidores estatutários, por sua vez, mulação da previdência e alguns resultados
não contribuíam para a aposentadoria, mas obtidos.
apenas para a cobertura de pensões e, ainda
assim, com alíquotas insuficientes.
Após a promulgação da Constituição
3. O processo de reforma da
de 1988, a maior parte dos celetistas foi Previdência Social
convertida em estatutários com a institui-
ção do Regime Jurídico Único, que previa 3.1. Emenda 20: o que o Governo
também a possibilidade da existência de queria e o que conseguiu efetivar
regimes próprios de previdência no âm- Uma retrospectiva do processo de re-
bito da União, Estados, Distrito Federal e formulação da previdência social brasileira
Municípios. Os Estados e o Distrito Federal nos conduz a março de 1995, quando o texto
e grande parte dos Municípios adotaram inicial da reforma da previdência foi enca-
esta política, assumindo a responsabilidade minhado pelo Poder Executivo ao Congres-
pelo passivo previdenciário desses servido- so Nacional. Em 16 de dezembro de 1998, a
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Não está computada a contribuição patronal proposição foi aprovada e consubstanciada
da União. na Emenda Constitucional no 20 (Emenda