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1- INFRATORAS BUSCAM SONHO DE CONSUMO

“COR-DE-ROSA”
Meninas de rua vagam na Vila Mariana em busca de celulares e lentes coloridas
Perfil psicológico das infratoras mostra a mesma situação de rua experimentada por suas
mães e até avós.
Eliane Trindade de São
Paulo

Alisante de cabelo e lentes de contato coloridas são itens visados nos arrastões protagonizados
por meninas de rua, com idade entre 9 e 15 anos, nas lojas da Vila Mariana, na Zona Sul de São
Paulo.
“Quero ser bonita, tia”, disse uma delas para a conselheira tutelar Ana Paula Borges, 29, em uma
das mais de vinte vezes em que foi encaminhada para atendimento pela polícia no último ano.
Negras e mulatas de cabelos crespos, elas dizem querer alisar as madeixas para ficarem bonitas
conforme o padrão de beleza estabelecido. Usam os produtos na rua.
A mudança do visual chega à cor dos olhos. Elas furtaram um kit de lente de contato verde de R$
100. Como não dava para todas ficarem com duas lentes cada, dividiram o pacote. Algumas usavam
só uma lente ao serem levadas recentemente à delegacia.
Nas fotos do grupo que ilustram o dossiê das sete garotas no Conselho Tutelar da Vila Mariana,
as meninas fazem pose de modelo. Usam casacos rosa e acessórios.
“Como toda criança e adolescente, querem consumir, comer e passear no shopping. Elas pedem.
Se não ganham, furtam”, afirma Ana Paula.
Elas circulam nos metrôs Paraiso e Ana Rosa em busca dos ícones do consumo infanto-juvenil:
celulares, especialmente os cor-de-rosa.
“Pego o celular das lourinhas que já olham pra mim com medo”, diz a garota negra, gorro rosa.
Ela tem 11 anos, não se acha bela. “Bonita, eu? Olha a cor da minha pele”, corta, diante do elogio.
O perfil psicológico e socioeconômico do grupo foi desenhado ao longo de uma série de contatos
com conselheiros tutelares e monitores do programa Presença Social nas Ruas, da prefeitura.
Todas elas têm um histórico de abandono há gerações. “As mães delas viveram a mesma
realidade de rua”, diz Kátia de Souza, conselheira.
“É uma segunda e até terceira geração na rua. É como se fosse hereditário”, confirma Ana Paula.
Famosas
Desde o início de julho, os furtos das meninas na região começaram a chamar a atenção Atraídas
pela repercussão, outras crianças resolveram fazer o mesmo.
Segunda-feira, cinco meninas e dois meninos fizeram um arrastão num hotel, do Paraíso.
Levados ao Conselho Tutelar da Vila Mariana, promoveram também um quebra-quebra no local.
Um terceiro grupo também agiu no Itaim Bibi (zona oeste) na última terça.
TRINDADE, Eliane. Folha de São Paulo, 28 ago. 2011. Disponível
em:
http://wwww1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2808201101.htm.
Acesso em: 19 jan.
2015.

1 - De acordo com a notícia, por que, nos arrastões promovidos pelas meninas, os itens mais
visados são alisante de cabelo e lentes de contato?
Porque as meninas querem ficar bonitas de acordo com o padrão de beleza estabelecido.
2 - Pelo que se pode deduzir pela leitura da notícia, qual é o padrão de beleza estabelecido pela
sociedade?
Cabelos lisos e pele e olhos claros.
3 - Que argumento é dado pela conselheira tutelar para justificar a ação das meninas?
Elas querem consumir, como toda criança. Elas pedem e, se não ganham, furtam.
4 - De acordo com o texto, qual é o ícone do consumo infanto-juvenil?
Celulares, especialmente os cor-de-rosa.
5 - Releia o parágrafo a seguir:
“Pego o celular das lourinhas que já olham pra mim com medo”, diz a garota negra, gorro rosa.
Ela tem 11 anos, não se acha bela. “Bonita, eu? Olha a cor da minha pele”, corta, diante do elogio.
- Levante uma hipótese: Por que razões a garota não se considera bonita?
Resposta pessoal.
6 - Em relação ao perfil psicológico e socioeconômico do grupo, que semelhança foi encontrada
entre as garotas?
Todas elas tem um histórico de abandono há gerações. As mães e, em alguns casos, as avós
também viveram a mesma realidade.
7 - Que consequências decorreram do fato de os arrastões das meninas terem se tornado famosos?
Atraídas pela repercussão, outras crianças resolveram fazer o mesmo.

2 - PAZ SOCIAL
Está provado que a violência só gera mais violência. A rua serve para a criança como uma escola
preparatória. Do menino marginal esculpe-se o adulto marginal, talhado diariamente por uma
sociedade violenta que lhe nega condições básicas de vida.
Por trás de um garoto abandonado existe um adulto abandonado. E o garoto abandonado de hoje
é o adulto abandonado de amanhã. É um círculo vicioso, em que todos são, em menor ou maior
escala, vítimas. São vítimas de uma sociedade que não consegue garantir um mínimo de paz social.
Paz social significa poder andar na rua sem ser incomodado por pivetes. Isso porque num país
civilizado não existe pivete. Existem crianças desenvolvendo suas potencialidades. Paz é não ter
medo de sequestradores. É nunca desejar comprar uma arma para se defender ou querer se refugiar
em Miami. É não considerar normal a ideia de que o extermínio de crianças ou adultos garanta a
segurança.
Entender a infância marginal significa entender por que um menino vai para a rua e não à escola.
Essa é, em essência, a diferença entre garoto que está dentro do carro, de vidros fechados, e aquele
que se aproxima do carro para vender chiclete ou pedir esmola. E essa é a diferença entre um país
desenvolvido e um país de Terceiro Mundo.
É também entender a História do Brasil, marcada por um descaso das elites em relação aos
menos privilegiados. Esse descanso é simbolizado por uma frase que fez muito sucesso na política
brasileira: caso social é caso de polícia.
A frase surgiu como uma justificativa para o tratamento dado ao trabalhador no começo do
século. Em outras palavras, é a mesma postura que as pessoas assumem hoje em relação à infância
carente e aos meninos de rua.
DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os direitos
humanos no Brasil. 16. Ed. São Paulo: Ática, 1993.
1 - Segundo Gilberto Dimenstein, “a violência só gera mais violência”. Qual é o primeiro
argumento do texto que apoia essa afirmação?? Em seu caderno, reproduza-o com redação própria.
A rua serve para o menino abandonado como preparação para se transformar em um adulto
marginal. Assim o descaso, a violência da sociedade em relação aos meninos de rua é responsável
por gerar adultos violentos.
2 - Por que tanto adulto quanto menores abandonados são vítimas da sociedade?
Porque a sociedade não consegue garantir o mínimo de paz social, para que todos tenham
oportunidade de viver de maneira digna.
3 - Segundo o articulista, o que significa “paz social”? Explique sem copiar as palavras do texto.
Paz social é viver sem sentir pavor de tudo e de todos, tanto de crianças que roubam ou agridem,
quanto de sequestradores. Entender que não é saindo do país ou exterminando essas pessoas que se
alcançará a segurança.
4 - Procure no dicionário o significado da palavra “pivete” e copie-o em seu caderno. Em seguida,
explique a diferença entre “pivete” e “crianças desenvolvendo suas potencialidades”.
“pivete”: menino crescido; menino esperto; menino que rouba e geralmente vive nas ruas, ou que
trabalha para ladrões. “pivete” é um menino bandido; crianças “desenvolvendo suas
potencialidades” são as que estudam e têm acesso ao mundo da cultura, no sentido mais amplo da
palavra, àquilo que desperta sua curiosidade e auxilia sua formação.
5 - Relacione “infância marginal” com “países desenvolvidos” e “países subdesenvolvidos”.
Em países desenvolvidos, as crianças estudam e brincam; a infância marginal é mais comum em
países subdesenvolvidos, onde as crianças, em vez de estudarem e brincarem, são obrigadas a
trabalhar, em subempregos ou semiescravidão, ou a praticar crimes para sobreviverem.
6 - Segundo o texto, o Brasil se insere em que tipo de país? Por quê? Justifique sua resposta.
O Brasil é um país em desenvolvimento, mas como não há igualdade de oportunidades, muitas
crianças trabalham para ajudar suas famílias; outras para garantir o próprio sustento, já que, muitas
vezes, não têm família; dessa forma, não usufruem dos direitos da infância que as leis garantem,
como brincar e ter acesso à educação, sem poder se preparar para o futuro.
7 - O texto é composto de seis parágrafos. Resuma cada um deles em uma única frase.
1º parágrafo: A violência contra a criança marginalizada gera mais violência, pois ela é a
responsável pelo futuro adulto violento e marginal.
2º parágrafo: A sociedade é responsável pela criança e pelo adulto abandonado.
3º parágrafo: Paz social é achar anormal o extermínio de adultos e crianças, desejar mudar de
país e viver sem tranquilidade.
4º parágrafo: Infância marginal é comum em países pobres e subdesenvolvidos, onde só algumas
crianças vão a escola, as excluídas ficam nas ruas e têm de mendigar para sobreviver.
5º parágrafo: Esse descaso em relação aos menos favorecidos é próprio da História do Brasil.
6º parágrafo: A sociedade enxerga a situação da criança no Brasil como responsabilidade da
polícia, e se esquece de que o abandono da infância é um problema social.
8 - No primeiro parágrafo, o artigo se refere à rua; no último, também. Explique qual é a ligação
entre o que se diz no começo e o que se diz no fim do texto.
A rua é o lugar em que as crianças abandonadas se tornam delinquentes, isto é, é a “escola” da
marginalidade, estabelece-se aí o círculo vicioso: a sociedade abandona os menores carentes e essas,
mais tarde, devolvem a ela a “lição” aprendida: a violência.
03- O CARIOCA E A ROUPA
[...] Deu-se comigo outro dia uma experiência engraçada: fui ao centro da cidade de blusa, coisa
que me aconteceu várias vezes, mas só então acrescida de um pormenor que introduziu um caráter
inédito à situação: levava debaixo do braço uma pasta de papéis, feita de nylon.
Sim, pela primeira vez fui à cidade de blusa e pasta. Qualquer um desses fatores quase nada
significa isoladamente; reunidos, alteraram radicalmente o tratamento que me deram todas as
pessoas desconhecidas.
Quando tomei um táxi, vi que o motorista torceu a cara, mas não percebi o que se passava, pois
experimentei semelhante má vontade em outras circunstâncias. Reparei também certa estranheza do
motorista quando lhe dei de gorjeta o troco, mas permaneci opaco ao fenômeno social que se
realizava. Em um restaurante comum, sentei-me para almoçar. O garçom, que até então eu não vira
mais gordo, tratou-me com uma intimidade surpreendente e, em vez de elogiar os pratos pelos quais
eu indagava, entrou a diminuí-los: “aqui a gororoba é uma coisa só; serve para encher o bandulho”.
Não sou de raciocínio rápido mas, em súbita iluminação, percebi, com todo o prazer da novidade,
que eu estava vestido de mensageiro: pasta e blusa. Ao longo da tarde, fui compreendendo que, até
hoje, não tinha a menor ideia do que é ser um mensageiro. Pois eu lhes conto. Um mensageiro é,
antes de tudo, um triste. Tratado com familiaridade agressiva pelos epítetos de “amigo”, “chapa” e
“garotão”, o que há de afetivo nestes nomes é apenas um disfarce, pois atrás deles o tom de voz é de
comando. “quer deixar o papai trabalhar, garotão”, disse-me o faxineiro de um banco, cutucando-
me os pés com a ponta da vassoura.
Entendi muitas outras coisas humildes: o mensageiro não tem direito a réplica; é barrado em
elevadores de lotação ainda não atingida; posto a esperar sem oferecimento de cadeira; atendido
com um máximo de lentidão; olhado de cima para baixo; batem-lhe com vigor no ombro para pedir
passagem; ninguém lhe diz “obrigado” ou “por favor”; prestam-lhe informações em relutância; as
mulheres bonitas sentem-se ofendidas com o olhar de homenagem do mensageiro; os vendedores
lhe dizem “não tem” com um deleite sádico.
Foi uma incursão involuntária à natureza de uma sociedade dividida em castas. Preso à minha
classe e a algumas roupas, dizia o poeta, vou de branco pela rua cinzenta. No fim da tarde, eu já
procedia como um mensageiro, só me aproximando dos outros com precauções e humildade,
recolhendo de meu rosto qualquer veleidade de um sorriso inútil, jamais correspondido. Dentro de
mim uma vontade de sofrer. Por todos os mensageiros do mundo, meus irmãos. Por todos os meus
irmãos para os quais a humilhação de cada dia é certa como a própria morte. Porque o pior de tudo
é que as pessoas não sorriam. O pior é que ninguém sorri para os mensageiros.
CAMPOS, Paulo Mendes. Crônicas. São Paulo:
Ática,
1982. (Para gostar de
ler,5).
1 – Esse texto foi escrito há algum tempo. Estar “vestido de mensageiro” corresponde a que
profissão hoje em dia?
Essa profissão corresponde à profissão de office boy, boy (há também a forma aportuguesada
“bói”) ou contínuo. Hoje. Normalmente, quem realiza as funções do mensageiro é a motoboy.
2 - Segundo o texto, o motorista do táxi “torceu a cara” ao narrador da história. Em sua opinião, que
razões ele teria para fazê-lo?
Ele, talvez, estivesse imaginando que o “mensageiro” não teria dinheiro para pagar a corrida; ou
que ele não iria ganhar gorjeta, pois “mensageiros” não devem ter dinheiro de sobra.
3 - O garçom não destratou o “mensageiro”. Entretanto, o narrador sentiu que o tratamento a ele
oferecido era inadequado. O que teria sido desagradável no episódio com o garçom?
O narrador não gostou da inesperada intimidade do garçom, bem como das palavras
desagradáveis que ele utilizou para se referir à comida, como “gororoba” e “bandulho”.
4 - Você acha que o “mensageiro” sofreu discriminação? Justifique sua resposta.
A discriminação fica explícita no tratamento que o narrador recebe do motorista, do garçom e do
faxineiro. No 4º parágrafo, o narrador enumera outras várias situações em que ele viveu o
preconceito sofrido pelos mensageiros.
5 - “Entendi muitas outras coisas humildes”, afirma o narrador. De acordo com o texto, quais são
elas?
Foram as situações descritas pelo narrador no 4º parágrafo, como não ter direito a réplica;
Ser barrado em elevadores; esperar sem que uma cadeira seja oferecida; ser atendido com lentidão;
ser olhado de cima para baixo, etc.
6 - Você acha que, nos dias de hoje, os mensageiros sofrem essas mesmas discriminações?
Justifique sua resposta.
Resposta pessoal.
7 - Ao escrever a frase “Pois eu lhes conto”, o autor se refere a quem? Com que intenção ele fez
esse tipo de referência?
Refere-se ao leitor. A intenção é aproximar-se mais do leitor.

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