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DIREITO

PREVIDENCIÁRIO

FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Temas finais

1. Solidariedade no recolhimento de contribuições


previdenciárias

As contribuições previdenciárias são, indiscutivelmente, tributos. Assim já sedimentou


o Supremo Tribunal Federal (STF). Tem pertinência, aqui, o instituto da
responsabilidade tributária, previsto no art. 124 do Código Tributário Nacional (CTN).

Art. 124. São solidariamente obrigadas:

I – as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da
obrigação principal;

II – as pessoas expressamente designadas por lei.

Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de


ordem.

Tanto a lei de custeio quanto outras leis estabelecem hipóteses de solidariedade no


recolhimento de contribuições previdenciárias.

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Principal hipótese de solidariedade: prevista no art. 30, VI, VII e VIII, da
Lei nº 8.212/1991 (ou Lei de Custeio)

Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias


devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas: (...)

VI – o proprietário, o incorporador definido na Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de


1964, o dono da obra ou condômino da unidade imobiliária, qualquer que seja a forma
de contratação da construção, reforma ou acréscimo, são solidários com o construtor, e
estes com a subempreiteira, pelo cumprimento das obrigações para com a Seguridade
Social, ressalvado o seu direito regressivo contra o executor ou contratante da obra e
admitida a retenção de importância a este devida para garantia do cumprimento dessas
obrigações, não se aplicando, em qualquer hipótese, o benefício de ordem;

VII – exclui-se da responsabilidade solidária perante a Seguridade Social o adquirente


de prédio ou unidade imobiliária que realizar a operação com empresa de
comercialização ou incorporador de imóveis, ficando estes solidariamente responsáveis
com o construtor;

VIII – nenhuma contribuição à Seguridade Social é devida se a construção residencial


unifamiliar, destinada ao uso próprio, de tipo econômico, for executada sem mão-de-
obra assalariada, observadas as exigências do regulamento (...).

Como se pode verificar acima, está excluído da solidariedade o adquirente de prédio ou


unidade imobiliária que realizar a operação com empresa de comercialização ou
incorporador de imóveis. Ou seja, a lei excluiu o consumidor, que é uma pessoa alheia
ao contexto da obra, adquirindo a unidade. Esse adquirente está fora da
responsabilidade solidária. E a lei também prevê uma hipótese de isenção no inciso VIII
acima transcrito. Nesse contexto, não há sequer incidência de contribuições
previdenciárias.

1.2. A segunda hipótese de solidariedade se encontra no art. 30,


IX, da Lei de Custeio

IX – as empresas que integram grupo econômico de qualquer natureza respondem


entre si, solidariamente, pelas obrigações decorrentes desta Lei.

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O inciso IX é taxativo. Pela literalidade, basta que as empresas integrem um grupo
econômico que já se tornam solidariamente responsáveis. O Superior Tribunal de
Justiça (STJ), no entanto, interpretando essa disposição, no Recurso Especial nº
1.144.884/SC entende que só há solidariedade se o grupo econômico for utilizado como
subterfúgio para burlar o fisco. Com isso, a solidariedade somente surge a partir do uso
abusivo do grupo econômico. Vejamos:

(...) 4. Incide a regra do art. 124, inc. II, do CTN c/c art. 30, inc. IX, da Lei n. 8.212/91,
nos casos em que configurada, no plano fático, a existência de grupo econômico entre
empresas formalmente distintas mas que atuam sob comando único e compartilhando
funcionários, justificando a responsabilidade solidária das recorrentes pelo pagamento
das contribuições previdenciárias incidentes sobre a remuneração dos trabalhadores a
serviço de todas elas indistintamente(...) (REsp. nº 1.144.884/SC).

1.3. A terceira hipótese de responsabilidade solidária envolve os


contratos com a Administração Pública

Como regra geral (art. 71 da Lei nº 8.666/1993), o contratado é responsável pelos


encargos resultantes da execução do contrato.

Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários,


fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.

Entretanto, excepcionalmente, a Administração Pública pode responder por encargos


previdenciários. E quando isso ocorre? A lei diz que isso ocorrerá quando se tratar de
um contrato nos termos do art. 31 da Lei nº 8.212/1991 (contrato de cessão de mão-de-
obra para o Poder Público), in verbis:

Art. 31. A empresa contratante de serviços executados mediante cessão de mão de


obra, inclusive em regime de trabalho temporário, deverá reter 11% (onze por cento)
do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e recolher, em nome da
empresa cedente da mão de obra, a importância retida até o dia 20 (vinte) do mês
subsequente ao da emissão da respectiva nota fiscal ou fatura, ou até o dia útil
imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia, observado o
disposto no § 5º do art. 33 desta Lei.

No caso de cessão de mão-de obra, o Poder Público fica incumbido de proceder o


desconto de 11% e recolherá título de contribuição previdenciária patronal. Caso
contrário, a Administração responderá solidariamente pelas contribuições que deixar

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de reter.

1.4. Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO) e operador


portuário

Lei nº 9.719/1998, art. 2º (...)

§ 4º O operador portuário e o órgão gestor de mão-de-obra são solidariamente


responsáveis pelo pagamento dos encargos trabalhistas, das contribuições
previdenciárias e demais obrigações, inclusive acessórias, devidas à Seguridade Social,
arrecadadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, vedada a invocação do
benefício de ordem.

A Lei nº 9.719/1998 prevê que o órgão gestor de mão-de-obra e o operador portuários


são solidariamente responsáveis pelos encargos do trabalhador avulso.

1.5. Art. 25-A da Lei de Custeio (Lei nº 8.212/1991)

Art. 25-A. Equipara-se ao empregador rural pessoa física o consórcio simplificado de


produtores rurais, formado pela união de produtores rurais pessoas físicas, que
outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para
prestação de serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento
registrado em cartório de títulos e documentos.

Todos os produtores rurais integrantes de consórcios simplificados rurais são


solidariamente responsáveis.

1.6. Art. 48 da Lei de Custeio

Art. 48. A prática de ato com inobservância do disposto no artigo anterior, ou o seu
registro, acarretará a responsabilidade solidária dos contratantes e do oficial que lavrar
ou registrar o instrumento, sendo o ato nulo para todos os efeitos (Lei nº 8.212/1991).

Trata-se do caso de oficiais de cartórios e contratantes. O titular de cartório, quando for


praticar um ato da sua incumbência, deve exigir certidão de regularidade fiscal. Se o
oficial prossegue sem exigir a certidão de regularidade fiscal, responderão
solidariamente os contratantes e o oficial do cartório. Além disso, o ato praticado pelo
oficial será considerado nulo para todos os efeitos.

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1.7. Art. 13, caput, da Lei nº 8.620/1993

Art. 13. O titular da firma individual e os sócios das empresas por cotas de
responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos
débitos junto à Seguridade Social.

Esse artigo, no entanto, foi posteriormente revogado pela Lei nº 11.941/2009. Mas,
mesmo antes dessa revogação, para o período de vigência da norma, o STF reputou o
dispositivo inconstitucional (Recurso Extraordinário nº 562.276). Foram utilizados como
principais argumentos para que se assentasse a referida inconstitucionalidade:

a) Violação do art. 146, III, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988), pois trata de
responsabilidade tributária em descompasso com a lei complementar geral sobre a
matéria.
b) Impõe desconsideração da personalidade jurídica ex lege e meramente objetiva.
c) Descaracteriza a sociedade, ao estabelecer confusão entre os patrimônios das
pessoas jurídicas e físicas.
d) É irrazoável e inibe a iniciativa privada.

É importante conhecer o teor desse artigo apesar da sua revogação, na medida em que
milhares de execuções fiscais que ainda tramitam se baseiam nesse art. 13.

1.8. Gestor público

O art. 42 da Lei de Custeio (Lei nº 8.212/1991) estabelece que os administradores de


autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista que
se encontrarem em mora, por mais de 30 (trinta) dias no recolhimento das
contribuições, tornam-se solidariamente responsáveis pelo respectivo pagamento.

Art. 42. Os administradores de autarquias e fundações públicas, criadas e mantidas


pelo Poder Público, de empresas públicas e de sociedades de economia mista sujeitas
ao controle da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, que se
encontrarem em mora, por mais de 30 (trinta) dias, no recolhimento das contribuições
previstas nesta Lei, tornam-se solidariamente responsáveis pelo respectivo pagamento,
ficando ainda sujeitos às proibições do art. 1º e às sanções dos arts. 4º e 7º do Decreto-
lei nº 368, de 19 de dezembro de 1968.

Imaginemos, por exemplo, um gestor que tenha por incumbência descontar e recolher
contribuições previdenciárias de trabalhadores submetidos ao regime geral. Esse

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gestor em mora por mais de 30 dias se torna responsável solidário.

2. Arrecadação e cobrança das contribuições


previdenciárias

O grande divisor de águas aqui é a Lei nº 11.457/2007 (Lei da Super Receita). Antes
dessa lei, a Receita Federal procedia a fiscalização das contribuições de seguridade
social e a Fazenda Nacional procedia a cobrança. E o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) procedia a fiscalização e cobrança das contribuições previdenciárias em
sentido estrito. Com a Super Receita, tudo se unificou.

Hoje, a Receita Federal fiscaliza e constitui os créditos de todas as contribuições da


seguridade social, incluindo as contribuições previdenciárias. Em caso de débito,
eventual ação será proposta perante a Justiça Federal.

Mas sempre será na Justiça Federal essa cobrança? Não existe hipótese de
competência delegada na execução fiscal? Havia uma competência delegada nas
execuções fiscais no art. 15, I, da Lei nº 5.010/1966.

Art. 15. Nas Comarcas do interior onde não funcionar Vara da Justiça Federal (artigo
12), os Juízes Estaduais são competentes para processar e julgar:

I – os executivos fiscais da União e de suas autarquias, ajuizados contra devedores


domiciliados nas respectivas Comarcas.

Ocorre que essa norma foi revogada pela Lei nº 13.043/2014. Assim, não se exige mais
competência delegada em matéria de execução fiscal, sendo todas ajuizadas perante a
Justiça Federal, mesmo que a sede da Justiça Federal não corresponda à sede de
domicílio do devedor. Todavia, vale dizer que a extinção dessa competência opera ex
nunc, ou seja, para os processos novos.

E as contribuições previdenciárias decorrentes das sentenças proferidas pela


Justiça do Trabalho? Serão executadas de ofício pela própria Justiça do Trabalho,
prosseguindo como cobrança naquela Justiça especializada (art. 114, VIII, da CF/1988
c/c art. 43 da Lei nº 8.212/1991).

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

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VIII – a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e
seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.

Art. 43. Nas ações trabalhistas de que resultar o pagamento de direitos sujeitos à
incidência de contribuição previdenciária, o juiz, sob pena de responsabilidade,
determinará o imediato recolhimento das importâncias devidas à Seguridade Social”.

Tendo em vista a alteração promovida pela Lei nº 11.457/2007, o processo


administrativo relativo às contribuições previdenciárias passou a ser regido pelo
Decreto nº 70.235/1972, que dispõe sobre o processo administrativo fiscal na esfera
federal.

3. Compensação das contribuições previdenciárias

Tradicionalmente, a compensação era regida pelo art. 89 da Lei nº 8.212/1991, e não


pela regra geral dos tributos federais, contida no art. 74 da Lei nº 9.430/1996.

Art. 89. As contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do


art. 11 desta Lei, as contribuições instituídas a título de substituição e as contribuições
devidas a terceiros somente poderão ser restituídas ou compensadas nas hipóteses de
pagamento ou recolhimento indevido ou maior que o devido, nos termos e condições
estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.

Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em
julgado, relativo a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita
Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá utilizá-lo na compensação
de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por
aquele Órgão.

Dessa forma, quando regidas pelo art. 89 da Lei de Custeio, as contribuições


previdenciárias só poderiam ser compensadas com outras contribuições
previdenciárias, e não com tributos de natureza diversa. Tal regra era extraída do art.
89, § 2º, da Lei de Custeio (revogado pela Lei nº 11.941/2009), reforçado pelo art. 26,
parágrafo único, da Lei nº 11.457/2007 (revogado pela Lei nº 13.670/2018).

O problema reside no fato de que compensar contribuições previdenciárias com outros


tributos poderia descompensar o caixa previdenciário.

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Assim seguiu por muito tempo, até que a Lei nº. 13.670/2018 alterou a questão, ao
inserir o art. 26-A na Lei nº 11.457/2007, possibilitando a compensação de contribuição
previdenciária com outros tributos federais, desde que o Sujeito Passivo interessado na
compensação utilize o Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais,
Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial).

Art. 26-A. O disposto no art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996: (Incluído


pela Lei nº 13.670, de 2018.)

I – aplica-se à compensação das contribuições a que se referem os arts. 2º e 3º desta


Lei efetuada pelo sujeito passivo que utilizar o Sistema de Escrituração Digital das
Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), para apuração das
referidas contribuições, observado o disposto no § 1º deste artigo; (Incluído pela Lei nº
13.670, de 2018.)

II – não se aplica à compensação das contribuições a que se referem os arts. 2º e 3º


desta Lei efetuada pelas demais sujeitos passivos; e (Incluído pela Lei nº 13.670, de
2018.)

III – não se aplica ao regime unificado de pagamento de tributos, de contribuições e dos


demais encargos do empregador doméstico (Simples Doméstico). (Incluído pela Lei nº
13.670, de 2018.).

Ou seja, somente contribuições e outros tributos passíveis de acompanhamento e


gerenciamento pelo eSocial podem ser compensados nos termos do novo diploma. Isso
ocorre porque, por meio do eSocial, se permite o gerenciamento e compensação do
caixa tributário.

Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência


dos temas em provas de concursos públicos.
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