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Módulo Incidência e Crédito Tributário

IBET Goiânia, 12/08/22


Diogo Lima Reze/nde Rios

SEMINÁRIO I - ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS E REGRA-MATRIZ DE


INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

Questões
1. Que é isenção (vide anexo I)?
Conforme doutrina de Paulo de Barros colacionada no REsp: 1098981 PR
2008 (Anexo I): “as normas de isenção pertencem à classe das regras de
estrutura, que intrometem modificações no âmbito da regra-matriz de incidência
tributária. Guardando sua autonomia normativa, a norma de isenção atua sobre a
regra-matriz de incidência tributária, investindo contra um ou mais critérios
de sua estrutura, mutilando-os, parcialmente. Com efeito, trata-se de encontro
de duas normas jurídicas que tem por resultado a inibição da incidência da hipótese
tributária sobre os eventos abstratamente qualificados pelo preceito isentivo, ou que
tolhe sua consequência, comprometendo-lhe os efeitos prescritivos da conduta.
Se o fato é isento, sobre ele não se opera a incidência e, portanto, não há
que falar em fato jurídico tributário, tampouco em obrigação tributária. E se a
isenção se der pelo consequente, a ocorrência fáctica encontrar-se-á inibida
juridicamente, já que sua eficácia não poderá irradiar-se. O que o preceito de
isenção faz é subtrair parcela do campo de abrangência do critério do antecedente
ou do consequente, podendo a regra de isenção suprimir a funcionalidade da regra-
matriz tributária de oito maneiras distintas: (i) pela hipótese: i. 1) atingindo-lhe o
critério material, pela desqualificação do verbo; i. 2) mutilando o critério material,
pela subtração do complemento; i. 3) indo contra o critério espacial; i. 4) voltando-
se contra o critério temporal; (ii) pelo conseqüente, atingindo: ii.1) o critério pessoal,
pelo sujeito ativo; ii.2) o critério pessoal, pelo sujeito passivo; ii.3) o critério
quantitativo, pela base de cálculo; e ii.4) o critério quantitativo, pela alíquota."
(Paulo de Barros Carvalho, in" Direito Tributário - Linguagem e Método ", 2ª ed., Ed.
Noeses, São Paulo, 2008, pág. 521)

2. Elaborar quadro comparativo a respeito de: (i) isenção; (ii) imunidade; (iii) não
incidência; (iv) anistia; e (v) remissão.
i) Isenção tem por objetivo mutilar parcialmente um ou mais elementos da RMIT,
através do encontro da norma isentiva e a norma tributária. É disciplinada em
sede de lei ordinária. Exemplo: receitas não operacionais decorrentes da venda
do ativo imobilizado não compõe a base de cálculo da contribuição ao PIS. (art. 1º,
§3º, VI da Lei nº 10.637/02).
ii) As imunidades retiram, de maneira finita e determinada, a competência
tributária dos entes políticos. Tem previsão constitucional. Exemplo: é vedado
à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir imposto sobre
patrimônio, renda ou serviços, um dos outros (art. 150, inciso VI, alínea “a” da CF).
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iii) Não-incidência impede o legislador de criar um tributo através de um ato


ou fato que não esteja constitucionalmente previsto, em outras palvras, fora
da hipótese constitucional de incidência. Restringe a competência do legislador
para criar tributos, vez que veda a instituição de gravames que contenham fatos ou
atos não previstos constitucionalmente. Exemplo: tributar o ar que respiramos.
vi) Anistia é o perdão da falta cometida pelo infrator de deveres tributários e
também quer dizer o perdão da penalidade a ele imposta por ter infringido
mandamento legal. Ela retroage em vínculos obrigacionais de natureza
estritamente tributária, mas relacionados a sanções. Pode revelar o esquecimento
da infração que fez irromper a medida punitiva, tira a mancha de antijuridicidade do
evento que caracterizou a infração, podendo fazêlo de forma expressa ou tácita.
Ademais, traz em si, indiscutível caráter retroativo.
v) Remissão significa o perdão do débito do tributo, abrindo mão do seu
direito subjetivo de percebe-lo. Ela retroage em vínculos obrigacionais de
natureza estritamente tributária. Nunca incide no fato jurídico tributário.

Questão baseada nos ensinamentos de PBC.

3. A expressão “crédito tributário” utilizado no art. 175 do CTN tem o mesmo conteúdo
de significação para a isenção e para a anistia? Justificar.
Não, na isenção, a expressão “crédito tributário” significa o débito que
será constituído, é o débito em si. Por outro lado, para a anistia o “crédito
tributário” será aquele débito já existente o qual já foi cobrado pela
autoridade lançadora, como por exemplo o auto de infração, onde já foi
constituída uma penalidade por um ilícito tributário.
Conforme ensinamentos de PBC, o legislador traz um mesmo conceito para
duas situações distintas, ou seja, para o conceito de crédito de um tributo e crédito
de uma penalidade um só nome: crédito tributário.

4. Tratando-se de isenção com prazo certo, ou de isenção por prazo indeterminado,


responda: (i) equivalem, necessariamente, à isenção condicionada e à isenção
incondicionada, respectivamente? Quais critérios são utilizados nessas
classificações? (ii) a revogação da isenção, que reinstitui a norma tributária no
sistema, apenas restabelece sua eficácia ou requer a publicação de nova regra
tributária no ordenamento? Neste último caso, deverá ser respeitado o princípio da
anterioridade (nonagesimal / exercício)? Há direito adquirido (vide anexo II e III)?
i) A isenção condicionada é aquela que exige do sujeito passivo alguma
contrapartida de investimento para que se utilize o benefício fiscal. Aqui o
contribuinte terá uma serie de gastos para fazer jus à isenção. Por fim, a
condicionada não poderá ser revogada para aqueles que preenchem os
requisitos da lei, nos temos do CTN.
Ao contrário, a incondicionada, exige apenas a verificação dos requisitos
da lei, sem qualquer tipo de contraprestação. Aqui basta que exista pequena
capacidade contributiva, não se exigindo qualquer gasto ou investimento
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Os critérios adotados para tais subdivisões são os presentes nos artigos 176 a
179. Logo na leitura do “caput” do artigo 176 já é possível perceber as quatro
possibilidades: isenções que necessitam de condições a serem comprovadas pelo
receptor da norma (a contrario sensu também há aquelas que não impões
condições a serem comprovadas) já temos as isenções condicionadas e
incondicionadas; nota-se que o legislador abriu a possibilidade de se atribuir prazo
determinado a elas, característica que tange apenas a questão de duração, não
guardando relação com a existência ou não de condições para nascimento do
direito ao receptor da norma.
ii) A revogação da isenção reestabelece a eficácia da norma jurídica no
sistema, assim, a norma isentiva retirava da norma somente a sua eficácia, ou seja,
sua capacidadede produzir efeitos, não retira sua validade, o que levaria à
revogação da norma.
Neste último caso, a norma irá retornar novamente a eficácia, a isenção deve
ser sempre tratada de forma precária, deve ser sempre lida como um benefício
instituído pelo ente tributante.
Nos termos do CTN, as isenções sempre devem respeitar o princípio da
anterioridade. Não há direito adquirido.

5. Há distinção entre alíquota 0% e isenção? Os insumos isentos, não tributados e


tributados à alíquota 0%, adquiridos no processo de industrialização, conferem
direito ao crédito tributário? Por quê? Em caso afirmativo, qual critério deveria ser
utilizado para determinar o crédito presumido de IPI? Se o produto for adquirido da
ZFM, isso alteraria a resposta? Se sim, por quê? (Vide anexos IV, V, VI, VII, VIII e
IX)

Sim, apesar de terem o efeito prático, são diferentes pois na alíquota zero a
tributação ocorre normalmente, entretanto o valor do tributo a pagar é zero, assim
se modificou a alíquota de forma que o valor final fosse nulo.
Na isenção a tributação não ocorre, no momento imediatamente posterior ao
nascimento da obrigação tributária, a norma isentiva retira a eficácia da legislação
para que determinado fato seja tributável.
São meios extremamente semelhantes, em verdade, a razão de ser da alíquota
0 é o caráter parafiscal o poder executivo, podendo reduzir ou aumentar a alíquota
quase instantaneamente como forma de controle da economia, de modo a evitar o
burocrático e demorado meio do processo legislativo ou a edição de outra medida
provisória.
Em princípio esse crédito não poderia ser passível de utilização, ja que
indivíduo não tem o direito de se aproveitar de crédito que não possui, distorcendo
a cadeia tributária.
Porém, caso o produto chegue com créditos e saia isento, entendo que o
próximo passo não isento da cadeia tenha o direito a utilização desses créditos,
ideia esta refutada por parte da jurisprudência nacional.
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Entendo que tal forma de creditamento só poderia se dar em situações


especialmente previstas na legislação, na forma de crédito prêmio, como forma de
incentivar a produção ou até mesmo a exportação. O critério utilizado para
determinar o crédito presumido é o da sua não acumulação.
Caso o produto fosse adquirido na ZFM, haveria direito ao crédito tributário,
porque se trata de isenções concedidas e não de redução de alíquota.

6. Considerando o art. 155, §2º, II, alíneas “a” e “b” da CF, pergunta-se:

a) Existe isenção parcial? Redução de base de cálculo pode ser considerada hipótese
de isenção parcial?
Entendo não ser possível a isenção parcial, tendo em vista que a isenção é a
dispensa legal do pagamento de tributo, como não há a dispensa relacionada a
todo o tributo a ser pago, essa hipótese é apenas uma forma de redução do tributo
a ser pago, se equiparando a um desconto.

b) É possível lei estadual que determine a exigência do estorno do crédito do ICMS,


relativo à entrada de insumos, proporcional à parcela correspondente à redução da
base de cálculo do imposto incidente na operação de saída da mercadoria, com
fundamento no art. 155, § 2º, II, da CF/88? (Vide anexos X, XI e Parecer da
Procuradoria-Geral da República no RE n. 635.688/RS RG, de 09/12/11).
Entendo ser possível lei estadual que exija o estorno do crédito do ICMS
relativo à entrada de insumos, de forma proporcional à parcela
correspondente à redução da base de cálculo do imposto que incidirá na
operação de saída da mercadoria, dado que art. 155, §2º, II, da CF/88, restringe
o direito ao crédito, diferentemente como ocorre no caso do IPI.

7. A concessão de benefício fiscal relativo à isenção do ICMS incidente sobre a


aquisição de veículo automotor por deficiente físico demanda a aprovação por
convênio, nos termos do art. 155, §2º, XII, g, da CF, regulamentado pela Lei
Complementar 24/75? Caso considere a dispensa de convênio nesse caso, ela
poderá ser justificada pela garantia fundamental, cuja concessão do benefício visa
a assegurar? (Vide anexo XII e XIII).

O benefício fiscal de isenção do ICMS que incide sobre a aquisição de veículo


automotor por deficiente físico precisa de aprovação por convênio, conforme artigo
155, § 2º, inciso XII, “g”, CF, regulamentado pela Lei Complementar 24/75, pois a
aprovação do convênio pelos Estados e pelo DF é necessária para observar a
reserva constitucional do convênio como pressuposto legitimador, assim
como para evitar a guerra fiscal entre os entes federados.

8. Determinado Estado institui isenção de ICMS, com fundamento em convênio


CONFAZ, exclusivamente para operações realizadas pelo contribuinte atacadista
de determinado produto. A legislação (i) expressamente veda que essa isenção
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seja utilizada por estabelecimentos industriais e varejistas e (ii) nada fala sobre a
possibilidade de manutenção de crédito pelo atacadista. Qual o efeito prático desta
isenção para a cadeia do ICMS? Essa isenção é constitucional? Poderia o
estabelecimento atacadista renunciar à isenção tributária e decidir tributar
regularmente sua operação? Esse valor pago, em renúncia à isenção, seria tributo?
Há relação entre essa isenção tributária e o princípio da legalidade estrita tributária?
A isenção trazida pelo enunciado não possui efeito prático para a cadeia
do ICMS, pelo fato de ser disciplinada por um Convênio e não por uma Lei
Ordinária, é inconstitucional. Ademais, a legislação expressamente proíbe
que essa isenção seja utilizada pelos estabelecimentos industriais e
varejistas, razão pela qual o ICMS deverá ser cobrado nos termos da Lei.

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