Tema I
Notas de Aula1
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Aula proferida pelo professor Rodrigo Jacobina Botelho, em 10/11/2008.
Veja que este dispositivo é altamente coerente, pois traz para a reserva legal todos os
eventos que, de uma ou de outra forma, guardam alguma relação com a vida do crédito
tributário. Vejamos, então, cada hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito
tributário.
proteção deste só será veiculada em momento posterior à efetiva lesão a tal direito, o prazo então será
prescricional. No direito tributário, o prazo para constituir o crédito é decadencial porque a sua efetivação não
depende de lesão qualquer: o meio de constituição do crédito – a efetuação do lançamento – é surgido desde
quando a própria obrigação é surgida. Já o prazo para cobrar o crédito só começa a correr quando há o
inadimplemento, pois desta lesão surge a pretensão resistida ao recebimento, a ser perseguido em execução
fiscal.
Vale consignar que os efeitos da prescrição ou decadência são muito próximos no direito tributário (e
somente aqui): ambos extinguem o direito e a ação que o garante, por pura opção legislativa. Veja o artigo
156, V, do CTN:
Repise-se: estas hipóteses impedem que o credor reclame seu crédito, mas não que o
constitua. Vejamos cada caso.
1.1.1. Moratória
consideração características individuais, a individual, por óbvio, faz exatamente isto: ela se
estabelece exatamente por considerar características peculiares de indivíduos, ou grupos de
indivíduos, tais como os ocupantes de determinada região, por exemplo.
Quando se fala em moratória em caráter geral, trata-se a pessoa atingida por ela
como beneficiado; quando se está falando em moratória de cunho individual, o termo
empregado para se referir ao sujeito é interessado. Isto porque, uma vez que a moratória
individual elenca características próprias do sujeito para que ele tenha-a concedida, é
necessário que ele se movimente para requerê-la, comprovando o cumprimento das
características – sendo interessado na concessão, portanto.
O meio pela qual a moratória geral é concedida é a lei, de forma inconteste, pela
simples lógica de que não há qualquer manifestação administrativa de nenhum interessado.
Já na moratória individual, há a necessária manifestação administrativa do interessado, que
deve comprovar, em procedimento administrativo, o cumprimento dos requisitos para as
obtenção, o que acaba gerando um despacho administrativo de reconhecimento deste
cumprimento. Seria este despacho meio hábil para a concessão, ou é necessária lei que
conceda a moratória?
O despacho que reconhece o cumprimento dos requisitos tem natureza meramente
declaratória, não servindo-se à constituição da moratória. Ele simplesmente diz que, do
exame dos elementos apresentados pelo interessado, há preenchimento das condições para
obtenção do benefício, o qual só é concedido por meio de lei, somente a lei podendo
constituir o benefício.
Mas veja uma peculiaridade: uma vez reconhecido o cumprimento dos requisitos,
surge para o interessado o direito público subjetivo ao benefício, ou seja, é oponível à
Fazenda Pública seu direito à moratória, concessão que é vinculada para a Fazenda. Há,
então, direito adquirido à moratória individual quando preenchidos os requisitos que a
conformam. Assim se depreende do artigo 155 do CTN:
Mas veja que é preciso extremo cuidado na exegese deste dispositivo. O que ele
dispõe é uma leitura que melhor se esclarece se feita de forma transversa: ele estabelece, de
fato, que há direito adquirido se todos os requisitos forem – e se mantiverem – cumpridos
pelo interessado. Se descumpre os requisitos em momento ulterior, mesmo os tendo
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Veja que o artigo fala em revogação mas, conceitualmente, se trata mesmo é de anulação esta carência
superveniente de requisitos para obtenção da moratória individual. Isto porque a revogação é uma invalidação
por inconveniência ou inoportunidade do ato, o que não é o caso: carente de requisitos de validade, o ato de
concessão é anulado, e não revogado.
As hipóteses que podem ser abarcadas pela moratória são apenas as previstas no
artigo 154 do CTN:
O STJ resolveu uma outra questão diretamente referente a este tema, no verbete 112
de sua súmula: o depósito deve ser feito necessariamente em dinheiro. Veja:
Aliás, esta súmula extrai conceito bem pleno do depósito que suspende a
exigibilidade: deve ser integral e em dinheiro, e ponto; do contrário, não se suspende a
exigibilidade.
ela mesma uma causa autônoma da suspensão, baseada apenas no fumus boni juris e no
periculum in mora – e não no depósito, que assumiria natureza de contra-cautela,
inadmissível neste caso.
Veja que há caso em que o depósito é uma medida que se faz imperativa, mas não
como condição para a liminar. Há casos que, das hipóteses de suspensão, apenas o depósito
se demonstra hábil e segura forma de suspender o crédito. Há um exemplo peculiar desta
possível situação: um navio de carga destinado a outro país, por problemas técnicos, vem a
aportar no Brasil. As mercadorias que transporta não têm a documentação de entrada no
Brasil, pelo que os fiscais aduaneiros suscitam a adequação de sua estada aqui por meio do
regime de admissão temporária, que é dedicado exatamente à permanência de bens aqui
por tempo limitado (não sendo lógico tratá-los como importação comum). Admitido
temporariamente, é estabelecido prazo para saída do território nacional. Suponha-se, no
entanto, que haja algum problema, e este navio venha a exceder o prazo de autorização,
sem que se tenha requerido a prorrogação do prazo de permanência: o regulamento
aduaneiro, neste caso, trata a mercadoria como importada, e por isso lavra todos os autos de
infração possíveis sobre ela.
A empresa proprietária do navio, impetrando mandado de segurança, pede liminar
de suspensão do crédito tributário, ao argumento de que não se tratam de bens importados,
mas de mera irregularidade na prorrogação do prazo. O juiz, neste caso, verifica que a
empresa não tem qualquer vínculo de estabilidade no Brasil – não tem registro aqui, nem
sequer representante –, e vê-se diante da desconfortável situação de suspender a
exigibilidade de um crédito sem ter qualquer garantia de que a empresa será adimplente, em
eventual improvimento do mandamus. Neste caso, e somente assim, a exigência do
depósito como contra-cautela é possível, mas trata-se de situação excepcionalíssima.
A previsão desta causa de suspensão veio para sanar outra discussão prévia à edição
da LC 104/01: sendo a liminar do mandamus uma causa suspensiva, também o seria a
antecipação de tutela em outras ações?
Havia quem interpretasse restritivamente o inciso referente à liminar do mandamus,
defendendo que outras medidas similares não teriam o condão de suspender a exigibilidade
do crédito. Contudo, a corrente mais forte, à época, era a que estendia a possibilidade de
suspensão às demais medidas de urgência em outras ações, principalmente porque, à época
da redação do inciso IV deste artigo 151 do CTN, somente a liminar em mandado de
segurança existia, não se podendo pensar que o legislador deveria prever novas medidas de
urgência que surgiriam.
É claro que esta corrente triunfou, tanto que a LC 104/01 preferiu estabelecer
expressamente esta causa de suspensão.
Tendo sido depositado algum valor, imagine-se que a ação seja extinta sem
resolução de seu mérito. Imagine-se que seja uma ação de consignação em pagamento (mas
o raciocínio vale também para o mandado de segurança): o que se faz com o valor
depositado?
Tem ganhado corpo o entendimento de que se há depósito, este sempre será
convertido em renda, extinguindo a obrigação tributária na forma do artigo 156 do CTN,
alvo de estudo adiante. Contudo, esta posição é um tanto radical, especialmente para casos
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
A ordem não deve ser concedida, porque a lavratura do auto de infração se presta a
possibilitar a constituição do crédito tributário, o que não se abala pela realização da
suspensão de sua exigibilidade. O crédito deve ser constituído, e ter a sua exigibilidade
suspensa. Após o pagamento de todas as parcelas, no entanto, haverá simples extinção
natural do crédito que foi regularmente constituído.
Tema II
Notas de Aula6
“Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que
conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em
que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa.”
porque não se está criando nova hipótese de suspensão, mas apenas garantindo a emissão
de um documento mediante a salvaguarda de interesse fazendário (pois é claro que esta
medida cautelar apenas adianta o procedimento, com as contraditas que lá seriam cabíveis,
inclusive quanto ao interesse no bem ofertado ou não). A respeito, veja o REsp 897.169:
É claro que o fato de a medida ser reputada como cabível não significa que o bem
ofertado será necessariamente aceito: sofrerá o crivo normal a que estaria sujeito na
execução fiscal.
Surge uma questão: é possível a caução com títulos da dívida pública?
Estes títulos foram rechaçados com base em diversos argumentos, especialmente a
prescrição e a sua falta de liquidez. O cálculo de alguns destes títulos é virtualmente
impossível, motivo pelo qual não foi admitida a caução por meio destes títulos. Há algum
tempo atrás, houve uma fraude no mercado baseada em um falso parecer atribuído à
Fundação Getúlio Vargas, que supostamente calculava o valor atual destes títulos, alguns
com mais de um século de existência, sendo ainda mais clara a falta de liquidez destes
títulos.
A cautelar de caução, claramente preparatória, tem que ação por principal? A
questão é controvertida: há quem a entenda uma cautelar satisfativa, sem demanda por ação
principal; entretanto, o Judiciário vem admitindo que a ação principal venha sendo uma
ação anulatória do crédito tributário, que comporte a discussão de tudo aquilo que
discutiria em sede de embargos à execução fiscal. Mas há ainda quem entenda que a ação é
a própria execução fiscal, sem que o prazo de ajuizamento seja fulminante da cautelar
deferida, porque a ação é dada à Fazenda. Sobre este último entendimento, veja o que o STJ
diz no REsp 885.075:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O depósito deve ser indeferido por falta de interesse nesta medida jurisdicional,
porque o sujeito pode depositar o que quiser, a qualquer tempo: o depósito é voluntário,
independendo de qualquer autorização para tanto.
Questão 2
Resposta à Questão 2
a) Sim, e a caução pode ser feita nas hipóteses do artigo 11 da Lei 6.830/80:
Questão 3
Resposta à Questão 3
c) Se a decisão tem efeitos ex tunc, opera um retorno ao status quo ante, e é como
se a suspensão jamais houvesse existido. Sendo assim, são devidos juros e
multa. O momento, regra geral, é desde o surgimento do indébito tributário.
Tema III
Monetária. Taxa SELIC. Outras taxas. Posição do STJ e Lei Complementar nº 118/05. Decadência e
Prescrição do direito de pleitear a restituição; 6. Questões controvertidas. Jurisprudência. Doutrina.
Notas de Aula7
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Aula proferida pelo professor Camilo Fernandes da Graça, em 11/11/2008.
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Bom exemplo da evolução deste paradigma, da extinção das obrigações, é a admissão, recente, de que haja
até mesmo a prescrição intercorrente como meio hábil para pôr fim à obrigação. É tema a ser visto adiante.
O CTN parece ter delimitado às hipóteses do próprio codex tributário, ou seja, nem
mesmo da legislação tributária como um todo. Diante desta redação, parece que o CTN
quer taxativo o rol do artigo 156, assim, como o do artigo 151, referente às suspensões do
crédito tributário.
Contudo, esta lista do artigo 156 vem sendo alterada, por leis complementares
hábeis para tanto. Bom exemplo é a dação em pagamento, modalidade de extinção sempre
propugnada pela doutrina, mas que só passou a ser admissível quando incluída no
dispositivo pela Lei Complementar 104/01.
Mas há ainda uma certa mitigação a esta intenção taxativa do CTN que vem da
própria lógica de alguns institutos. Exemplo disso é a confusão: modalidade do direito civil,
que não se encontra neste artigo 156, tem sido aplicada pela jurisprudência, em respeito à
incongruência que haveria se não fosse causa de extinção do crédito tributário (se imporia à
Fazenda, tolamente, pagar a si mesmo um crédito qualquer). A respeito, veja a ementa do
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 117.895, do STJ:
Afora a confusão, porém, o rol do artigo 156 do CTN parece esgotar as hipóteses de
exclusão do crédito tributário. Vejamos, então, cada uma das modalidades.
1.1. Pagamento
O CC, no artigo 322, diz exatamente o contrário do inciso I deste artigo 158:
Quanto ao local do pagamento, então, segundo o artigo 159 do CTN, a dívida é paga
no domicílio do sujeito passivo, se a legislação tributária 9 em geral (normalmente a que o
faz é a legislação específica do tributo) não prevê de forma diversa. Quanto ao tempo do
pagamento, o artigo 160 do CTN reputa que o prazo é de trinta dias, se não houver outro
previsto na legislação tributária.
O artigo 161 do CTN é bastante importante, e merece uma leitura detalhada:
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Rememorando, legislação tributária é termo empregado no CTN para açambarcar todos os meios
normativos hábeis ao tratamento dos tributos, como dispõe o artigo 96 do CTN:
Quando o CTN quer dizer que há reserva de lei, em sentido estrito, ele se utiliza do termo lei, e não
da expressão legislação tributária. Assim traça, por exemplo, a reserva legal estabelecida no artigo 97 do
CTN:
Se o devedor não adimplir em tempo, porque estava sob consulta, não se aplicam
multas ou juros de mora.
Pelo ensejo, vejamos aqui três conceitos mencionados e que são recorrentemente
usados, que demandam um esclarecimento breve a fim de facilitar o entendimento do tema:
o de correção monetária, o de multa moratória e o de juros de mora.
Correção monetária é o meio pelo qual se pretende restaurar o valor da moeda, que
normalmente se corrói com o processo inflacionário.
Juros de mora é meio de remuneração do capital de outrem que se está utilizando. É
o “aluguel” do dinheiro, meio pelo qual a utilização de capital de alguém por outrem é
remunerada. Nos tributos, os juros de mora são remuneratórios, mas são devidos em razão
do atraso, porque ao se deixar de entregar à Fazenda o dinheiro que deveria integrar o
erário, se estaria usando o dinheiro que já seria do erário, e se faz necessária a remuneração
deste dinheiro. Mas há uma tese, minoritária, que defende que se o dinheiro ainda não
passou às mãos do fisco, ainda pertence ao devedor, e nada há que se remunerar o uso de tal
valor, vez que é dinheiro próprio.
O inciso I do artigo supra define que o débito que o sujeito passivo deve como
contribuinte é imputado primeiramente, e somente em seguida se aproveita o valor pago a
mais para quitar débitos em que o sujeito figura como responsável tributário.
O inciso II dispõe simples e literal ordem de preferência de espécies tributárias,
tendo sido respeitado, antes, o previsto no inciso I. Veja que esta ordem leva em conta a
característica da retributividade dos tributos, sendo os tributos que assumem esta natureza
preferencialmente imputados no pagamento.
Os incisos III e IV são ainda mais literais, dispensando comentários.
entre municípios: se, neste caso, cada um dos municípios emitir cobrança de IPTU, por
exemplo, é claro que o devedor não é obrigado perante ambos os entes federativos, e para
desobrigar-se sem riscos de ser considerado inadimplente, poderá consignar em pagamento
àquele que entender devido, ajuizando a ação para que o Judiciário resolva qual dos entes
absorve aquela área (devendo, por segurança, ajuizar a ação no foro do município que
usualmente o tributava em tributos municipais).
A ação de consignação é uma actio duplex: é uma ação de natureza dúplice, na qual,
ainda que o réu não ofereça uma reconvenção, ele obterá da sentença de improcedência do
pedido do autor algum efeito positivo, favorável a si, colocando-o na posição de recebedor
da prestação jurisdicional. Veja que, se a improcedência da consignatória for causada pela
insuficiência do valor, basta que o réu conteste a ação para que haja o efeito da
consolidação do valor faltante, a ser por ele executado. Estratificando-se o valor que é
realmente devido, a diferença entre este e o depósito realizado poderá ser, inclusive,
executada pelo credor, réu da consignatória. Não por acaso, a sentença de improcedência,
nestes moldes, é uma das raríssimas exceções em que, mesmo sendo declaratória negativa,
poderá ser executada pelo credor pelo valor faltante que foi identificado no processo, a teor
do artigo 899, § 2º, do CPC, in verbis:
“Art. 899. Quando na contestação o réu alegar que o depósito não é integral, é
lícito ao autor completá-lo, dentro em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a
prestação, cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.
§ 1o Alegada a insuficiência do depósito, poderá o réu levantar, desde logo, a
quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação parcial do autor,
prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.
§ 2o A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre
que possível, o montante devido, e, neste caso, valerá como título executivo,
facultado ao credor promover-lhe a execução nos mesmos autos.”
“Súmula 71, STF: Embora pago indevidamente, não cabe restituição de tributo
indireto.”
“Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência
do respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido
o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este
expressamente autorizado a recebê-la.”
Quem suporta os ônus tributários, aqui, é o contribuinte de fato, e por isso seria ele
quem deveria reaver o que pagou erradamente. Ocorre que a relação jurídico-tributária
formal só existe entre a Fazenda e o contribuinte de direito; não havendo relação entre o
contribuinte de fato e o fisco, não se admite o pedido de restituição do indébito por parte
deste – o STJ entende-o como figura estranha à relação jurídica tributária, como se pode ver
na ementa do REsp 983.814:
“Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que
denegar a restituição.
Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial,
recomeçando o seu curso, por metade, a partir da data da intimação validamente
feita ao representante judicial da Fazenda Pública interessada.”
duas correntes disputando a resposta a esta pergunta. A primeira defende que o Judiciário é
inafastável, diante da previsão constitucional do artigo 5º, XXXV, da CRFB:
“(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
(...)”
“Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja
legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio
exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida
autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado,
expressamente a homologa.
§ 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue o
crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento.
Os cinco anos deste dispositivo contam-se desde a data do fato gerador, como ali
está expresso, se a lei não fixar prazo diverso. Repare, agora, que o artigo 168, I, do CTN
dispõe que a ação de restituição corre em prazo máximo de cinco anos desde a extinção do
crédito tributário; sendo assim, como a extinção tácita do crédito tributário em tributos
lançados por homologação se dá em cinco anos, a ação de repetição e indébito deste tributo
contaria com até dez anos desde a ocorrência do fato gerador: há um marco inicial do prazo
para a homologação, que é o surgimento do fato gerador – cinco anos desde então, na forma
do artigo 154, § 4º –, e um dies a quo do prazo decadencial de cinco anos para repetir
eventual indébito, marcado na data em que se operar a homologação, momento de extinção
definitiva do crédito tributário, na forma do artigo 168, I – homologação que, se for tácita,
levará cinco anos. Esta é a suma da tese dos “cinco mais cinco”.
Tracemos um esquema gráfico:
Fato gerador
Pagamento antecipado, a Homologação Decadência do direito
qualquer tempo (extinção do (irrelevante, quanto aos de repetir o indébito
crédito tributário) prazos)
Cinco anos
Ocorre que, sendo tida por lei meramente interpretativa, como este artigo 3º se
anuncia, a LC 118/05 poderia ter sido aplicada retroativamente, pois mera interpretação não
exige respeito à irretroatividade. Todavia, sabiamente, o STJ, neste aspecto, não acolheu a
pretensão do fisco, por entender que mesmo assim constando do texto, esta norma não é
meramente interpretativa e, como inovação legislativa, só poderia valer dali em diante, sem
retrotrair-se, como se vê no EREsp 1.042.754:
n. 118/05, ocorrida aos 9 de junho de 2005, aplica-se a sistemática dos "cinco mais
cinco"; b) no que concerne aos recolhimentos efetuados após o advento da Lei
Complementar n. 118/05, aplica-se o prazo prescricional de cinco anos, e não mais
a tese dos "cinco mais cinco".
Embargos de divergência providos.”
Casos Concretos
Questão 1
empresa postulou junto à Receita Federal que fosse reconhecido o pagamento indevido e
restituído o seu montante.
A Receita Federal reconheceu o pagamento indevido e decidiu, quanto à
restituição, em face da legislação em vigor, o seguinte:
a) efetuar a restituição à ATLAS, em conseqüência de ter reconhecido o pagamento
anterior como indevido e diante do princípio que veda o enriquecimento ilícito;
b) realizar a restituição à ATLAS, pois a empresa é o contribuinte de direito;
c) não efetuar a restituição à ATLAS, enquanto ela não provar que, tendo
transferido o encargo financeiro do tributo a terceiro, este expressamente a
autoriza a receber tal quantia;
d) efetuar a restituição a quem foi o adquirente e contribuinte de fato;
e) não efetuar a restituição, por se tratar de equívoco insuscetível de correção na
esfera administrativa, somente podendo ser reparado judicialmente por ação
repetitória.
Analise cada uma das possíveis decisões acima, e decida sobre sua adequação, ou
não, ao caso concreto.
Resposta à Questão 1
a) Para que seja possível esta hipótese, é necessário que o contribuinte de fato
autorize a restituição, vez que quem suportou o ônus do tributo foram os
contribuintes de fato, adquirentes dos produtos de Atlas;
Questão 2
Resposta à Questão 2
por isso não há que se extinguir o feito. No CTN, a matéria encontra expressão no artigo
164, e a jurisprudência encara a discussão do quantum como matéria admissível na
consignação em matéria tributária. A respeito, veja a ementa do REsp 659.779:
Questão 3
Uma empresa que exerce atividade industrial pagou o IPI - Imposto sobre Produtos
Industrializados, durante certo período, com base em alíquota superior à legalmente
devida.
Poderá pedir a restituição do quantum recolhido a maior? Em quais condições?
Qual a ação própria para tal fim? Qual rito procedimental tem essa ação e quais os
fundamentos do pedido?
Justifique as respostas e cite os dispositivos legais aplicáveis.
Resposta à Questão 3
A sede tributária desta ação é o artigo 166 do CTN, ao que se aduz a previsão da
súmula 546 do STF. Poderá requerer repetição do indébito, em face da Fazenda, e nas
condições do artigo 166 do CTN: provando que suportou de fato o ônus, de forma
autônoma, ou, tendo repassado o ônus ao contribuinte de fato, de forma autorizada por este.
A ação é a de repetição de indébito, que corre em rito ordinário (ou sumário, ratione
valorem), sendo o pedido calcado na causa remota da relação tributária, e na causa próxima
da cobrança indevida, fundamentado na legalidade tributária e na vedação ao
enriquecimento indevido.
Tema IV
Notas de Aula10
1.1. Compensação
“Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja
estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a
compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou
vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública.
Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará,
para os efeitos deste artigo, a apuração do seu montante, não podendo, porém,
cominar redução maior que a correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês
pelo tempo a decorrer entre a data da compensação e a do vencimento.”
Repare que a autorização à compensação foi bastante tímida nesta lei, bem como
nas que depois dela vieram a criar novas hipóteses. Ficou bastante restrito o uso da
compensação, na verdade, porque, ao contrário do CTN, que autoriza (se a lei
regulamentar) a compensação de qualquer crédito particular perante a Fazenda, ali se vê
que os créditos compensáveis são de umas poucas espécies, resumindo-se, de fato, à
10
Aula proferida pelo professor Camilo Fernandes da Graça, em 11/11/2008.
“Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito
em julgado, relativo a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da
Receita Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá utilizá-lo na
compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições
administrados por aquele Órgão.
§ 1o A compensação de que trata o caput será efetuada mediante a entrega, pelo
sujeito passivo, de declaração na qual constarão informações relativas aos créditos
utilizados e aos respectivos débitos compensados.
§ 2o A compensação declarada à Secretaria da Receita Federal extingue o crédito
tributário, sob condição resolutória de sua ulterior homologação.
§ 3o Além das hipóteses previstas nas leis específicas de cada tributo ou
contribuição, não poderão ser objeto de compensação mediante entrega, pelo
sujeito passivo, da declaração referida no § 1o:
I - o saldo a restituir apurado na Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda
da Pessoa Física;
II - os débitos relativos a tributos e contribuições devidos no registro da
Declaração de Importação.
III - os débitos relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da
Receita Federal que já tenham sido encaminhados à Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional para inscrição em Dívida Ativa da União;
IV - o débito consolidado em qualquer modalidade de parcelamento concedido
pela Secretaria da Receita Federal - SRF;
V - o débito que já tenha sido objeto de compensação não homologada, ainda que a
compensação se encontre pendente de decisão definitiva na esfera administrativa; e
VI - o valor objeto de pedido de restituição ou de ressarcimento já indeferido pela
autoridade competente da Secretaria da Receita Federal - SRF, ainda que o pedido
se encontre pendente de decisão definitiva na esfera administrativa.
§ 4o Os pedidos de compensação pendentes de apreciação pela autoridade
administrativa serão considerados declaração de compensação, desde o seu
protocolo, para os efeitos previstos neste artigo.
§ 5o O prazo para homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo
será de 5 (cinco) anos, contado da data da entrega da declaração de compensação.
§ 6o A declaração de compensação constitui confissão de dívida e instrumento
hábil e suficiente para a exigência dos débitos indevidamente compensados.
§ 7o Não homologada a compensação, a autoridade administrativa deverá
cientificar o sujeito passivo e intimá-lo a efetuar, no prazo de 30 (trinta) dias,
contado da ciência do ato que não a homologou, o pagamento dos débitos
indevidamente compensados.
§ 8o Não efetuado o pagamento no prazo previsto no § 7 o, o débito será
encaminhado à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para inscrição em Dívida
Ativa da União, ressalvado o disposto no § 9o.
§ 9o É facultado ao sujeito passivo, no prazo referido no § 7o, apresentar
manifestação de inconformidade contra a não-homologação da compensação.
Vê-se, em suma, que a compensação é bastante restrita, hoje, mas quando cabível,
certamente é a melhor alternativa à extinção do crédito, especialmente se confrontada com
a alternativa da repetição do indébito, pois o contribuinte, ao invés de ter que encarar a
repetição e a subseqüente via crucis pelo recebimento do precatório, resolve desde logo sua
situação.
O REsp 746.574, abordando as hipóteses do artigo 66 da Lei 8.383/91, trouxe uma
interpretação inovadora da compensação, referente ao momento em que pode ser argüida:
admitiu a possibilidade de requerimento de compensação em sede de embargos à execução
fiscal. Veja:
1.2. Transação
“Art. 171. A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos ativo e
passivo da obrigação tributária celebrar transação que, mediante concessões
mútuas, importe em determinação de litígio e conseqüente extinção de crédito
tributário.
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para autorizar a transação
em cada caso.”
A transação só pode ser autorizada em lei, como já se viu no artigo 97, VI, do CTN.
É um instituto bastante pouco factível, pela só razão de que o contribuinte não tem
muitas armas para que a Fazenda se interesse em com ele transacionar. A obrigação
tributária é ex lege, em todos os seus aspectos, o que permite apenas que o contribuinte se
insurja contra a legalidade do ato, mas sem muitas chances de transacionar.
Para efeito de ilustração, imagine-se que haja fundadas dúvidas, tanto do
contribuinte quanto do fisco, sobre um determinado quantum de tributação: é caso em que
poderão, se a lei permitir, transacionar e chegar a um consenso. Mas repita-se: é situação
rara, pois havendo discordância, a Fazenda sempre tende a fazer prevalecer seu
entendimento, cabendo ao contribuinte apensa questionar, litigiosamente, a legalidade da
exação.
É importante perceber que a transação importa em renúncia a direito público, e por
isso é que demanda lei que a autorize.
1.3. Remissão
A remissão, que só vem autorizada por lei, consiste na extinção do principal, dos
consectários e das penalidades referentes a um tributo, se for total; mas pode ser parcial,
liberando o devedor de apenas parte dos seus encargos.
A remissão atende a diversos requisitos para que não recaia, como diz Ricardo Lobo
Torres, em um privilégio odioso, algo que não se justifica. Se a regra geral – que é o
recolhimento do tributo – será excepcionada, esta deve o ser sob fundamentos legítimos,
justificadamente criando este privilégio, pois do contrário é uma exceção, um privilégio
injustificado.
Veja que as hipóteses deste artigo 172 são bastante subjetivas, e a sua aplicação
deve ser bem cautelosa. Hipótese bem comum e razoável é a do inciso III: créditos há que,
de tão diminutos, os seus procedimentos de cobrança são mais dispendiosos do que o
próprio crédito a ser recebido, caso em que a remissão se demonstra a melhor solução.
A remissão não se confunde com a isenção, que é forma de exclusão do crédito
tributário, e não de extinção. Excluir o crédito é deixar de constituí-lo, deixar de realizar o
lançamento tributário – na remissão, perdão, o crédito já foi constituído. Da mesma forma,
a anistia, que também é exclusão do crédito, na qual se deixa de constituir apenas o crédito
referente a penalidades referentes ao crédito principal.
contraditório, mas não significa que o processo deva obrigatoriamente ser instituído pela
administração. Apenas a via judicial é de existência inafastável.
“(...)
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes;
(...)”
Esta introdução foi necessária porque o que mais se discute, neste tópico, é a
constitucionalidade das condicionantes recursais da via administrativa, o famigerado
depósito recursal.
Em meados de 1990, surgiu, por meio de uma medida provisória, a necessidade de
que o litigante em via administrativa, para recorrer à segunda instância administrativa,
depositasse trinta por cento do montante discutido. Instado a se manifestar sobre a
constitucionalidade deste recurso, o STF entendeu-o perfeitamente constitucional, em
primeiro momento.
Amenizando a pressão sobre os contribuintes, o artigo 33 do Decreto 70.235/72, no
§ 2º, transformou esta condicionante em mero arrolamento de bens e direitos equivalentes a
estes trinta por cento. Mas ainda mais recente foi a alteração promovida pela ADI 1.976-7,
na qual o STF firmou o entendimento de que este depósito, ou o arrolamento dos bens, é
inconstitucional, acabando por extirpar o § 2º do ordenamento. Veja este artigo 33 com as
respectivas alterações tachadas:
“Art. 33. Da decisão caberá recurso voluntário, total ou parcial, com efeito
suspensivo, dentro dos trinta dias seguintes à ciência da decisão.
Parágrafo único. No caso em que for dado provimento a recurso de ofício, o prazo
para interposição de recurso voluntário começará a fluir a partir da ciência, pelo
sujeito passivo, de decisão proferida no julgamento do recurso de ofício.
§ 1o No caso de provimento a recurso de ofício, o prazo para interposição de
recurso voluntário começará a fluir da ciência, pelo sujeito passivo, da decisão
proferida no julgamento do recurso de ofício.
§ 2o Em qualquer caso, o recurso voluntário somente terá seguimento se o
recorrente arrolar bens e direitos de valor equivalente a 30% (trinta por cento) da
exigência fiscal definida na decisão, limitado o arrolamento, sem prejuízo do
seguimento do recurso, ao total do ativo permanente se pessoa jurídica ou ao
patrimônio se pessoa física.
§ 3o O arrolamento de que trata o § 2 o será realizado preferencialmente sobre bens
imóveis.
§ 4o O Poder Executivo editará as normas regulamentares necessárias à
operacionalização do arrolamento previsto no § 2o.”
Outra importante discussão neste tema é se poderia ou não o próprio fisco socorrer-
se do Judiciário para impugnar decisão administrativa irreformável que lhe tenha sido
desfavorável – ou seja, sua própria decisão.
Há duas teses. A tese fazendária defende, em suma, que a inafastabilidade do
Judiciário, prevista constitucionalmente, estende-se também à Fazenda, e por isso a
discussão não poderia deixar de ser apreciada judicialmente. A segunda corrente, ao
contrário, defende que não há interesse processual nesta ação judicial, porque se estaria
impugnando decisão por si própria proferida – nemo potest venire contra factum proprium.
E mais: esta segunda tese argumenta que, como a decisão administrativa é causa de
extinção do crédito tributário, sua discussão estaria tendo o condão de reviver,
arbitrariamente, o crédito que já fora extinto.
É claro que se a decisão for contrária ao contribuinte, esta discussão não se suscita.
O Judiciário está sempre à sua disposição.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Se a compensação for pleiteada hoje, é possível, diante da redação dada pela Lei
10.637/02, mas se requerida sob a vigência da Lei 8.383/91, não seria admissível. Antes de
1990, então, sequer poderia ser compensado qualquer tipo de crédito.
Há ainda a possibilidade de se ajuizar mandado de segurança como forma de
garantir a compensação tributária, como garante a súmula 213 do STJ:
“Súmula 213, STJ: O mandado de segurança constitui ação adequada para a
declaraçãodo direito à compensação tributária.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Resposta à Questão 3
Tema V
Extinção do crédito Tributário III 1. Prescrição. Artigo 174 do CTN; 2. Conceito; 3. Analogia com o Direito
Civil; 4. Questões controvertidas. Jurisprudência. Doutrina.
Notas de Aula11
1. Prescrição e decadência
“Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos,
contados da data da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
A matéria é dada à reserva de lei complementar, como dispõe o artigo 146, III, “b”,
da CRFB, sendo de conteúdo materialmente complementar.
“Art. 45. O direito da Seguridade Social apurar e constituir seus créditos extingue-
se após 10 (dez) anos contados:
(...)”
Ocorre que estas previsões foram tidas por inconstitucionais, porque aviltavam
diretamente a reserva de lei complementar constitucionalmente imposta ao tema, gerando a
recente edição da súmula vinculante 8:
Fora da esfera tributária, não há nenhum problema em que leis ordinárias fixem
prazos prescricionais ou decadenciais, ou tratem da matéria de qualquer forma. Bom
exemplo é o do FGTS, contribuição trabalhista sem natureza tributária, que pode seguir
legislação alheia ao CTN, e o faz, sendo o seu prazo prescricional de trinta anos, segundo a
súmula 210 do STJ:
“Súmula 210, STJ: A ação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve
em trinta (30) anos.”
Quando a dívida não-tributária não receber prazo prescricional específico, qual será
o prazo aplicável, vez que a regra é a prescritibilidade?
A jurisprudência, por muito tempo, entendeu que se aplicava o prazo geral de dez
anos, do artigo 205 do Código Civil:
“Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo
menor.”
Atualmente, porém, para as matérias administrativas mas não tributárias, o STJ tem
entendido que se aplica analogicamente o prazo do artigo 1º do Decreto 20.910/32, também
de cinco anos:
sequer começou a correr, e o decadencial já não mais está em curso. Mas veja que o
processo administrativo pode demorar muitos anos, o que gera uma situação de estranheza,
até agora insolúvel, em que nenhum dos prazos corre, e o crédito não é extinto por décadas.
Na Lei de Execuções Fiscais há uma previsão específica, no artigo 2º, § 3º, que
dispõe o seguinte:
Mas veja que a Lei 6.830/80 é lei ordinária. Esta interrupção por cento e oitenta dias
da prescrição, então, só se pode aplicar para créditos de natureza não-tributária, pois os
créditos fiscais de natureza tributária não podem ser regulamentados em lei ordinária – o
tratamento da prescrição tributária é reservado a lei complementar.
Quanto à interrupção da prescrição, o CTN traz, no parágrafo único do já transcrito
artigo 174, uma série de causas interruptivas. A primeira causa de interrupção é o despacho
do juiz que ordenar a citação em execução fiscal, o famoso despacho liminar de conteúdo
positivo, receptivo da inicial. Esta redação atual, que define como marco interruptivo o
“cite-se”, é recente, vez que anteriormente se exigia a efetiva citação para tanto. E veja que,
ajuizada a ação de execução fiscal, se o juiz demorar unilateralmente a expedir o “cite-se”,
o fisco não será prejudicado. A súmula 106 do STJ explica:
“Súmula 106, STJ: Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora
na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o
acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.”
Diga-se, esta súmula é aplicável a qualquer ação judicial, e não apenas à execução
fiscal. E é claro que se a demora for imputável ao autor da ação, a prescrição se imporá.
Interrompida a prescrição ordinária, não tem reinício a contagem de seu prazo: não
passa, de imediato, a correr a chamada prescrição intercorrente. Este prazo somente
começará a correr quando se verificar, após o curso da execução fiscal, a inércia do credor
em haver seu crédito. Sobre esta prescrição intercorrente, veja o que dispõe o artigo 40 da
Lei 6.830/80:
Esta prescrição intercorrente também pode ser decretada de ofício, mas com a
necessidade de prévia oitiva da Fazenda.
A interrupção da prescrição vale para o devedor e para os seus co-responsáveis,
ainda que estes não figurem nos pólo passivo da execução. Após a interrupção pelo “cite-
se”, aí sim, correm cinco anos para a execução dos co-responsáveis, em eventual
redirecionamento da execução.
Em síntese: há cinco anos para ajuizamento da ação; expedido o “cite-se”,
interrompe-se o curso da prescrição. Durante a execução e por um ano após o arquivamento
da execução infrutífera, o prazo não corre. Desde o fim deste um ano, corre novamente o
prazo de cinco anos, da prescrição intercorrente. Paralelamente, corre, desde o “cite-se”, o
prazo de cinco anos para redirecionar a execução para os co-responsáveis.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
para serem repetidos. Sendo estas as regras gerais, se o pedido de repetição foi feito em
2008, assim está a situação de cada crédito: os créditos de 2005 e 2006 ainda não sofreram
prescrição da repetição; os de antes de 2005 até 1998, ainda encontram-se sob escora dos
dez anos, e igualmente não prescreveram. Portanto, todos os créditos são exigíveis em
repetição, exceto o ano de 1997 – o único prescrito, vez que corridos dez anos até a petição
de repetição.
Ignácio, portanto, tem direito à repetição dos tributos pagos em todos os anos,
exceto 1997.
Questão 2
Resposta à Questão 2
A questão resume-se a definir se o artigo 2º, §3º, da Lei 6.830/80 é ou não aplicável.
No caso, há aplicabilidade clara: os créditos reclamados são de natureza não-tributária, e
por isso são alvo desta suspensão de cento e oitenta dias (diferentemente dos créditos
tributários, inalcançáveis por esta lei ordinária). Sendo assim, suspenso o curso
prescricional, realmente não estão prescritos, e a Fazenda está correta.
Veja o que diz o STJ sobre o tema, no REsp 652.482:
que "a suspensão prevista no § 3º, deste art 2º, assim como a interrupção do art. 8º,
§ 2º, todos da LEF, são ineficazes em relação às dívidas de natureza tributária,
sujeitas às normas do art. 174 do CTN. Mas a suspensão e a interrupção têm
eficácia em relação às dívidas de natureza não-tributária" (cf. "Código Tributário
Nacional Comentado", Coordenador VladImir Passos de Freitas, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004, p. 713). Recurso especial improvido.”
Questão 3
FÁBIO MAURO é réu em execução fiscal promovida pelo IBAMA para cobrança
de multa administrativa por transportar madeira serrada sem a indispensável guia
florestal. Em sua defesa, alega a prescrição do crédito, tendo em vista que se passaram
mais de 5 (cinco) anos da constituição do mesmo. A autarquia retruca, ao argumento de
que a impugnação do réu só se aplica aos créditos tributários, motivo pelo qual, no caso,
deve-se aplicar o Código Civil. Responda fundamentadamente, em no máximo 15 (quinze)
linhas, a quem cabe razão.
Resposta à Questão 3
Tema VI
Extinção do crédito Tributário IV 1. Decadência. Artigos 173 do CTN; 2. Conceito; 3. Analogia com o
Direito Civil; 4. Questões controvertidas. Jurisprudência. Doutrina.
Notas de Aula12
1. Prescrição e decadência
Casos Concretos
Questão 1
Em autos de execução que lhe move a Fazenda Nacional, JOÃO CARLOS, em sua
defesa, alega a decadência do crédito tributário tendo em vista que a Fazenda lhe cobra
créditos não recolhidos a título de Imposto de Renda desde o ano de 1995, em desacordo
com o art. 173 do CTN.
A Fazenda, por sua vez, alega que o crédito postulado encontra-se abarcado pelo
período de exigibilidade previsto na jurisprudência reiterada do STJ de que a constituição
do crédito tributário, em tributos lançados por homologação, é de 10 (dez) anos.
Responda, fundamentadamente, a quem cabe razão.
Resposta à Questão 1
Cabe razão a João Carlos, sendo certa a alteração da concepção da tese dos “cinco
mais cinco”, na jurisprudência. O fisco conta apenas com cinco anos desde o pagamento, e
esta questão está hoje pacificada, estando prescrito o crédito se não exigido neste tempo,
sendo hoje irrelevante a data da homologação. Havendo o pagamento antecipado, aplica-se
o prazo do artigo 150, § 4º; não havendo pagamento, aplica-se o artigo 173 – nunca os dois.
In casu, aplica-se simplesmente o artigo 173 do CTN.
Veja, a respeito, o REsp 879.058 e a súmula 219 do antigo TFR:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema VII
Notas de Aula13
Então, na consignação, não se quer discutir a exação propriamente dita, mas sim
alguns aspectos específicos, nada tendo a ver com a ação anulatória, em que se realiza o
montante integral. Nesta, a pretensão é anular a exação, por algum motivo – demonstrando
intenção em não pagar aquilo que se entende indevido. Não é comum depósito integral na
consignação, pela razão lógica que se o intento do devedor consignante é liberar-se, o fisco
não recusará a integralidade do que está exigindo: não há lógica nesta recusa.
O depósito integral, então, tem sede natural na ação anulatória. Diz-se, portanto, que
tem uma natureza dúplice: serve para suspender a exigibilidade do crédito tributário, e
acautelar os interesses da Fazenda. Cumular o depósito como requisito para a antecipação
da tutela é ignorar a primeira função, de suspensão do crédito, que a antecipação assume de
14
Em verdade, esta arbitrariedade está em vias de se tornar uma realidade normativa, pois há projeto de lei em
tramitação, que deve ser aprovado, que vincula a concessão da antecipação da tutela ao depósito integral.
forma autônoma: ambos, sozinhos, podem suspender a exigibilidade, não havendo previsão
legal para condicionar a antecipação ao depósito15.
Vale dizer que a liminar em mandado de segurança não padece desta vinculação,
sendo realmente encarada como causa autônoma de suspensão da exigibilidade. Todavia, o
fisco ainda tem um argumento que extingue muitos mandamus em matéria tributária: se a
questão não for puramente de direito, o fisco alegará que é necessária dilação probatória, e
que por isso o writ é via inadequada.
O depósito, então, serve como condição para discussão da exação, e não como
pagamento judicial do crédito tributário exigido. Sendo assim, uma conclusão seria óbvia:
se o processo, se a ação anulatória, não tiver seu mérito resolvido, ou seja, se o processo for
extinto por qualquer motivo sem análise do mérito, a lógica comandaria que o contribuinte
depositante levantasse o montante depositado. Todavia, em mais uma posição que causa
estranheza, o STJ vem entendendo que, mesmo sem resolução do mérito, o depósito se
converte em renda, extinguindo o crédito que se pretendia discutir (que, lembre-se, não
chegou a ser discutido, pois o mérito não foi perscrutado). O contribuinte, neste caso, que
ajuíze uma ação de repetição de indébito, pois seu depósito estará perdido.
Em síntese: para suspender a exigibilidade, demanda-se o depósito integral (o qual
tem sido exigido como requisito à antecipação da tutela, que a rigor é um motivo autônomo
de suspensão da exigibilidade). Depositado, o depósito é convertido em renda, quer seja a
ação anulatória julgada improcedente, quer seja extinta sem resolução do mérito – o
contribuinte somente levantará o depósito se sua ação for julgada procedente. Sendo
convertido em renda, nada mais resta ao contribuinte senão ajuizar uma ação de repetição
de indébito. Esta é a estranha interpretação atual desta dinâmica, na jurisprudência, como se
pode ver na ementa do REsp 929.782:
Vale dizer que este é um novo posicionamento do STJ, que antes entendia que
apenas a sentença meritória de improcedência permitia a conversão do depósito em renda.
Há duas leis que tratam dos depósitos judiciais e da sua conversão em renda. Em
esferas estadual e distrital, aplica-se a Lei 11.429/06, que dispõe, no seu artigo 1º, que:
15
Esta vinculação que a jurisprudência tem realizado viola, a bem da verdade, o devido processo legal, o
contraditório e a ampla defesa, pois se o CTN traz hipóteses alternativas, condicionar uma a outra é impedir
que aquele que não tem dinheiro para efetuar o depósito possa obter a suspensão da exigibilidade do seu
débito por meio da antecipação da tutela.
2. Pagamento
“Súmula 360, STJ: O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos
sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a
destempo.”
“Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que
denegar a restituição.
Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial,
recomeçando o seu curso, por metade, a partir da data da intimação validamente
feita ao representante judicial da Fazenda Pública interessada.”
Esta ação anulatória não se confunde com a ação anulatória do lançamento, regida
pelo Decreto 20.910/32, que conta com prazo prescricional de cinco anos, como dispõe o
artigo 38 da Lei de Execuções Fiscais:
Optando pela ação judicial de repetição de indébito, o prazo prescricional desta ação
é de cinco anos, o que consta do artigo 168 do CTN:
16
A vantagem da via administrativa é sair do rito dos precatórios, se procedente a repetição e o crédito for de
pequena monta (até trinta salários para os municípios, quarenta para os estados e sessenta para a União).
Todavia, é raro que a Fazenda devolva o valor, mesmo se o contribuinte estiver claramente no direito.
Na repetição de indébito, o sujeito passivo deve pedir que a Fazenda inclua no valor
a ser restituído17 tanto os juros quanto a correção monetária. Pelo ensejo, vejamos os
conceitos destes consectários, e outros correlatos.
17
A natureza jurídica do valor a ser restituído na repetição de indébito encontra divergências: para Hugo de
Brito Machado, este valor tem natureza de tributo; para Ricardo Lobo Torres, este valor tem natureza de
indenização.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O fisco está com a razão. O depósito assume, de fato, esta natureza dúplice, e
mesmo que a ação seja julgada sem sequer ser analisado o mérito, o depósito será
convertido em renda. Sequer é possível o levantamento parcial, como requerido.
A respeito, veja o REsp 574.034:
1. A garantia prevista no art. 151, II, do CTN tem natureza dúplice, porquanto ao
tempo em que impede a propositura da execução fiscal, a fluência dos juros e a
imposição de multa, também acautela os interesses do Fisco em receber o crédito
tributário com maior brevidade, porquanto a conversão em renda do depósito
judicial equivale ao pagamento previsto no art. 156, do CTN encerrando
modalidade de extinção do crédito tributário.
2. Permitir o levantamento do depósito judicial sem a anuência do Fisco significa
esvaziar o conteúdo da garantia prestada pelo contribuinte em detrimento da
Fazenda Pública.
3. Precedentes no sentido de que "sem precedência anuência da parte ré, o
levantamento autorizado na Segunda Instância, na verdade, significou antecipada
desconstituição da composição judicial sujeita ao reexame pedido na apelação.
Ajustado, pois, que os valores depositados suspendiam a exigibilidade do crédito
litigioso (art. 151, II, CTN), o levantamento por provocação unilateral de uma das
partes, com a modificação do statu quo, via oblíqua, equivaleu à antecipada
desconstituição do título sentencial."
4. Recurso especial provido.”
Questão 2
Resposta à Questão 2
Há duas correntes sobre o tema: a primeira, majoritária, defende que é incabível esta
ação, por dois fundamentos: carece de interesse, vez que a Fazenda não pode socorrer-se do
Judiciário contra suas próprias decisões – nemo potest venire contra factum proprium; e
que a decisão administrativa irreformável extingue o crédito tributário, na forma do artigo
156 do CTN.
A segunda corrente, fazendária, alega que o Judiciário é inafastável, pelo que a ação
seria admissível. Há até mesmo um parecer normativo, de número 1.087/04, da
Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, que autoriza seus procuradores a ajuizarem esta
ação judicial. Ademais, o princípio da isonomia, aplicável também em favor das pessoas
jurídicas de direito público, como já decidiu o STF, assim também comandaria. Ainda, há
súmulas de conselhos de contribuintes que vedam que estes conselhos julguem matéria
constitucional, o que demandaria necessariamente o acesso ao Judiciário quando a matéria
fosse desta ordem.
Pela corrente majoritária, veja o que diz o STJ, no REsp 572.358:
Tema VIII
Notas de Aula18
1. Isenção
18
Aula proferida pelo professor Cláudio Carneiro Bezerra Pinto Coelho, em 13/11/2008.
tributária se rege pela teoria dualista, em que a obrigação tributária surge do fato gerador,
mas o crédito surge do lançamento.
Daí surgem duas correntes para definir o que seja a isenção. A primeira defende que
seja uma dispensa legal do pagamento, enquanto a segunda a entende como uma hipótese
definida como não-incidência legal, nos termos acima conceituados. Vejamos os
argumentos de cada uma.
A primeira corrente, majoritária, adotada pelo STF e STJ, encara a isenção como
uma lei que dispensa o pagamento do tributo. Isto significa que ocorre o fato gerador, mas a
lei se interpõe entre este e o lançamento, impedindo que este se consume, acarretando a
dispensa do pagamento. De outro lado, há a corrente que parte da doutrina adota, que
entende que na isenção sequer ocorre fato gerador, ou seja, é uma não-incidência legal, em
que a lei de isenção serve para deixar bem claro que um determinado fato não é imponível.
Debalde a disputa conceitual, a verdade é que a conseqüência prática é a mesma.
Dispensa legal do pagamento ou não-incidência legal, o resultado é a não tributação.
Entretanto, há um momento em que a adoção de um ou outro conceito tem enorme
relevância: é na revogação da isenção que as correntes causam efeitos tremendamente
díspares.
Veja: segundo a primeira corrente, a lei que determina a isenção, se revogada,
significa que sobre aquele fato gerador que ocorreu, mas havia dispensa do pagamento, não
havendo lançamento, passará a não mais ter o lançamento impedido, ou seja, revogar a
dispensa de pagamento não é criar tributo novo, tampouco majorar o tributo. É apenas fazer
o tributo que sempre existiu retornar ao estado de normalidade, qual seja, o estado em que
deve ser pago. O efeito da adoção desta primeira corrente, do STF e do STJ, é que a
revogação da isenção opera efeitos imediatos, não se sujeitando a qualquer anterioridade
pela simples razão de que o tributo não é novo, nem é majorado: é o mesmo tributo que
sempre existiu e agora não mais tem seu pagamento dispensado.
Para esta primeira corrente, então, o artigo 104, III, do CTN, não foi recepcionado
pela CRFB de 1988:
“Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que
ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o
patrimônio ou a renda:
I - que instituem ou majoram tais impostos;
II - que definem novas hipóteses de incidência;
III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais
favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178.”
É claro que a doutrina, que adota a segunda corrente, critica violentamente esta
posição das cortes superiores. Adotando a segunda corrente, que trata a isenção como
hipótese de não-incidência legal, a revogação deste benefício significaria a criação de um
novo tributo, pela simples razão de que só a partir daquele momento é que o fato gerador
passa a existir. Por isso, para esta corrente, a anterioridade deve ser respeitada, e não há
nada de errado no artigo 104, III, do CTN, que é perfeitamente compatível com a CRFB.
Todavia, repita-se: a corrente jurisprudencial, predominante, é de que a isenção é
simples dispensa legal do pagamento, em que ocorre o fato gerador, mas o crédito tributário
é excluído pela lei que o isenta. Neste diapasão, o conceito de isenção é modalidade de
exclusão do crédito tributário prevista em lei (que dispensa o pagamento ou determina não-
incidência, a depender da corrente adotada).
Há, no entanto, três situações que a doutrina categoriza como exceções a esta regra
da vedação às isenções heterônomas. Em que pese serem normalmente tratadas como
exceções, não o seriam exatamente fugas à regra geral da vedação, como se verá, mas como
a doutrina e a jurisprudência as denomina exceções, assim o faremos.
As hipóteses excepcionais em que se verifica a exceção à vedação são as seguintes:
aquelas concedidas em tratados internacionais; as que se referem ao ICMS na exportação;
e as que se referem ao ISSQN na exportação, sendo que as duas últimas vêm
respectivamente consignadas nos artigos 155, X, “a”, e 156, § 3º, II, ambos da CRFB:
“Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(...)
X - não incidirá:
a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços
prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento
do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores;
(...)”
tributos dos estados e municípios. Ocorre que o tratado internacional não é uma lei federal:
é um ato composto por um decreto legislativo e um decreto presidencial, que são os atos
responsáveis pela internalização do tratado ao ordenamento – e que desde então estaria
habilitado a conceder tal isenção. Exemplo recorrente na doutrina é o Mercosul, assim
como o Gate (acordo geral de taxas e tarifas, que deu origem à OMC). Segundo a teoria
dualista moderada da internalização dos tratados, que nosso ordenamento adota, apesar de
chegar à ordem jurídica como uma lei ordinária, em regra, o tratado não é um ato da União
federal: é um ato da República Federativa, ou seja, é um ato nacional, é um ato da
Federação como um todo – e sendo assim, todos os entes federativos o estariam
subscrevendo, e não apenas a União.
É por isso que se poderia dizer que não se trata, de fato, de uma exceção à vedação
da isenção heterônoma: como o tratado é um ato nacional, significa que o ente federativo
menor, instituidor do tributo que está sofrendo a dispensa do pagamento, também
participou da concessão desta isenção, nem que seja de forma indireta. Tendo tomado parte
na concessão, é uma isenção autônoma, portanto.
Esta teoria é melhor abordada em um estudo indutivo. Imagine-se que uma lei
municipal tenha concedido isenção tributária de IPTU para deficientes físicos locomotores.
Sabendo disso, os deficientes físicos visuais, através de sua associação, ingressam com
ação judicial requerendo a mesma isenção, ao argumento de atenção à isonomia. Esta
isenção deverá ser estendida aos deficientes visuais?
Antes de se responder a esta questão, note-se que esta isenção é uma clara aplicação
da teoria da personificação do tributo. O IPTU é um tributo real, que em nada guarda
relação com o proprietário do bem, mas tão somente com as condições do imóvel. Ao tomar
características pessoais do contribuinte em consideração, o imposto que seria estritamente
objetivo e impessoal, se torna pessoal.
Esta teoria tem sido admitida como forma de promoção da justiça tributária.
Personalizar o tributo não é violação a qualquer concepção constitucional do sistema
tributário.
Respondendo à questão proposta, a resposta é negativa. Isto porque o artigo 111, II,
do CTN, determina expressamente que as concessões de isenção são interpretadas de forma
absolutamente restrita, literal19, e sendo assim, não se pode estender uma isenção a qualquer
um que não esteja estritamente açambarcado na expressão da lei que outorga a isenção.
Veja:
19
A interpretação estrita traz outra conseqüência: a alta especificidade da isenção. Se a lei isentiva não
mencionar que os consectários ou quaisquer outros tributos acoplados a um determinado tributo que teve
isenção outorgada, não pode o contribuinte presumir que estes estão por ela englobados. Como exemplo, se há
isenção do IPTU de um imóvel, é somente este tributo que estará excluído, e não os demais, como taxas de
coleta de lixo, ou contribuições e melhoria referentes ao mesmo imóvel. Da mesma forma, a isenção só se
opera sobre tributos existentes quando da sua concessão.
Vislumbra-se então uma situação peculiar. De fato, a extensão da isenção não será
possível, mas há, ao mesmo tempo, uma real violação à isonomia: há, mesmo, a
inconstitucionalidade alegada pelos deficientes visuais não contemplados pela isenção.
Como solucionar esta incongruência, se o juiz não pode agir como legislador positivo,
estendendo a isenção? Deverá ser declarada inconstitucional a lei de outorga da isenção?
Esta seria, realmente, a medida técnica, mas a injustiça é flagrante: por não se poder
estender a isenção à categoria que dela careceria, se estará retirando um benefício de
categoria que dela precisa tanto quanto. Para solucionar esta circunstância peculiar, surgiu
no ordenamento o conceito de inconstitucionalidade imperfeita: como o Judiciário não
pode determinar ao legislador que inclua a categoria desfavorecida no escopo da lei, mas se
declarar a lei inconstitucional aquela categoria que tem o benefício será tremendamente
prejudicada, o Judiciário tem uma só saída, qual seja, julgar a lei “condicionalmente”
inconstitucional, no seguinte molde: se a lei, em determinado prazo estipulado pelo juízo,
preencher os requisitos que a tornem constitucional (no exemplo dado, se a lei for alterada
de forma a premiar a isonomia), ela será mantida no ordenamento como constitucional; se
neste prazo fixado o Legislativo não promover a alteração necessária a tornar a lei
constitucional, a lei será, de fato, retirada do ordenamento, por ser inconstitucional – com
todos os efeitos nefastos para a categoria que por ela era beneficiada.
A isenção é subjetiva, por óbvio, quando seu campo de afecção incide sobre
pessoas; a objetiva, ao contrário, alveja coisas, objetos. Como exemplo, a isenção de ICMS
sobre determinada mercadoria é objetiva; a isenção de tributos para ex-combatentes de
guerra é subjetiva.
Pode haver, sem problema algum, a isenção mista, que seja incidente sobre um
determinado objeto, para determinado perfil de contribuintes.
Há isenções que são concedidas sem que seja exigido do contribuinte beneficiado
nenhum tipo de encargo, nenhum ônus patrimonial – são as isenções gratuitas. Ao
contrário, quando a isenção demanda, para sua concessão, que o contribuinte beneficiado
arque com algum tipo de contrapartida de natureza patrimonial, trata-se da isenção onerosa.
O tratamento dispensado a cada tipo é diverso. O artigo 178 do CTN traz a nota:
Toda isenção deve ser outorgada em lei específica, como dispõe o artigo 176 do
CTN, usque artigo 150, § 6º, da CRFB:
“Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(...)
§ 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
(...)
XII - cabe à lei complementar:
(...)
g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal,
isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.
(...)”
O motivo desta deliberação ser necessária é evitar a guerra fiscal que este tributo
pode gerar, pois a isenção unilateralmente concedida de ICMS pode atrair empresas para
determinado Estado, prejudicando o equilíbrio econômico.
Assim, não pode um Estado conceder isenção por meio de lei, mas sem convênio
que autorize tal isenção. O problema que se suscita é o seguinte: pode o ente federativo,
com base no convênio que autorizou a isenção, e somente nele, outorgar a isenção sem lei
que a ampare, mediante simples decreto do Executivo?
Há dois posicionamentos. A posição fazendária é de que é possível, pois o que o
artigo 155, § 2º, XII, “g”, da CRFB exige é a regulamentação em lei complementar 20 da
feitura dos convênios, da deliberação, e não a própria outorga da isenção, e mais: o § 6º do
artigo 150 da CRFB excepciona justamente o caso dos convênios, como se pode ver na
parte final de sua redação, supra. Assim, mero decreto seria hábil a conceder a isenção
conveniada, e esta é a posição majoritária.
Há, porém, tese contrária, minoritária, mas com doutrina de peso a seu lado, que
reputa necessária a lei concedente da isenção conveniada, não podendo vir em decreto. O
fundamento é que, como o ICMS é um tributo que comporta acirrada guerra fiscal, e
justamente para isso se criou a restrição da necessidade do convênio, esta restrição deve
cumular-se com a reserva legal, pois do contrário perde força a limitação à guerra fiscal.
Aqui cabe mencionar, brevemente, o que seria legalidade consentida, especialmente
no direito tributário. Vê-se que, especialmente na seara tributária, a lei é exigida em quase
20
O artigo 34, § 8º, do ADCT, e as Leis Complementares 24/75 e 87/96, tratam desta matéria.
tudo que se observe. Isto porque a lei assume duas vertentes: a formal, natureza de norma, e
a consentida, que é justamente a participação do povo no processo democrático, o que se
faz por meio da lei. O povo concede aos seus representantes o poder de legislar, e a
legalidade preserva a vontade do povo – o que tem especial relevância na tributação, meio
de subsistência do Estado democrático.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
b) Neste caso, não: a exclusão deve ser prévia ao lançamento. Fosse remissão,
seria de imediato, mas isenção só no exercício seguinte (artigo 177, II, CTN).
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema IX
Exclusão do Crédito Tributário II 2. Modalidade de exclusão: 2.2. ANISTIA 2.2.1 Conceito. Natureza
jurídica. Classificação; 2.2.2. Diferença entre remissão e anistia, 2.2.3. Questões controvertidas.
Jurisprudência. Doutrina.
Notas de Aula21
Por conceito, excluir o crédito tributário é evitar que este se constitua. Esta é a
concepção que se depreende do CTN. Mas os conceitos tributários são muito imprecisos,
em disparidade gritante com o que o direito privado já vem assentando há séculos. Por
exemplo, entender que o lançamento é constitutivo do crédito tributário – e é mesmo, não
se discute –, sob a ótica do conceito civilista de ato constitutivo é uma aberração: significa
que, antes do lançamento, nada havia, o que não é verdade: a obrigação tributária surgira já
no fato gerador. Isto gera a absurda situação de uma obrigação sem crédito: se o lançamento
é constitutivo do crédito, como quer o CTN, a obrigação que a este antecedera é uma
obrigação sem crédito correspondente – sendo que obrigação e crédito são duas faces de
uma mesma moeda, inseparáveis, como informa o estudo civilista de onde se originam
todos os conceitos da seara obrigacional.
É fato, então, que o crédito tributário vem a reboque da obrigação tributária. A fim
de compatibilizar as concepções tributária e civil, pode-se dizer que o crédito tributário, que
já existia desde o surgimento da obrigação, ainda não estava pronto e acabado, por assim
dizer: com a obrigação, ainda não está documentado, não permitindo, portanto, ao
contribuinte pagá-lo ou ao fisco exigi-lo. E este é o verdadeiro papel do lançamento:
estratificar o crédito oriundo da obrigação tributária. Assim deve ser lida a expressão
“constituir o crédito tributário”.
21
Aula proferida pelo professor Camilo Fernandes da Graça, em 14/11/2008.
Não é sem bases, portanto, que existem duas correntes sobre a natureza jurídica do
lançamento, a dualista e a unicista. Há uma parcela que entende que a obrigação tributária
surge com o fato gerador; dali é realizado o lançamento, e só então surge o crédito
tributário. Para esta, o lançamento é declaratório da obrigação tributária, e constitutivo do
crédito tributário – é a corrente dualista. De outro lado, há uma parcela que defende que a
obrigação tributária, quando nasce, já faz nascer também o crédito tributário, e o
lançamento seria meramente uma declaração da obrigação e do crédito tributário, apenas se
prestando a revelar o crédito em concreto, transformando-o em tributo. Para esta, o
lançamento tem natureza declaratória tanto da obrigação quanto do crédito tributário – é
a corrente monista, ou unicista.
O CTN é dualista. Veja o artigo 142 do CTN:
De qualquer forma, é certo que o crédito se torna exigível apenas depois de feito o
lançamento. É exigível, e pode ser pago, mas ainda não é exeqüível: só poderá ser
executado depois que for inscrito na dívida ativa.
Dito tudo isso, voltemos à exclusão do crédito. Se a exclusão é deixar de constituir o
crédito, é equivalente a dizer, para a corrente adotada no CTN, que é deixar de efetuar o
lançamento. E este é o conceito clássico da exclusão. Todavia, na análise da primeira
modalidade de exclusão, da isenção, a doutrina mais moderna vem entendendo que é
necessária uma interpretação normativa do instituto, baseada no concurso das leis referentes
ao tributo: primeiro, há a lei geral de incidência, que diz o que é o fato gerador do tributo;
em seguida, há a lei isentante, que não apenas impede que seja feito o lançamento, mas sim
retira do campo da hipótese de incidência aquele fato que era imponível, ou seja, elide a
natureza de fato gerador das hipóteses que isenta (sem revogar a lei geral, por óbvio). O
fato deixa de ser considerado fato gerador, e sequer há surgimento de obrigação tributária.
Repita-se, esta é a corrente mais moderna: a corrente clássica entende que há fato gerador,
sem haver, no entanto, possibilidade de lançamento.
Já tendo sido abordada a isenção, primeira modalidade de exclusão, passemos ao
estudo da anistia, outra modalidade de exclusão altamente relevante.
2. Anistia
§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o
crédito dela decorrente.
(...)”
Mesmo havendo este imbróglio, em que o legislador diz que tributo não é sanção,
mas coloca sanções como parcela da obrigação tributária principal, esta é a realidade, um
tanto paradoxal, do sistema atual.
Dito isso, a anistia é o perdão da infração cometida, e, como conseqüência, há a
elisão da penalidade pecuniária imposta: passa a ser exigida apenas a parcela
essencialmente tributária do crédito tributário.
Excluir o crédito tributário é impedir que seja feito o lançamento tributário, como
dito. Seguindo-se esta linha, a anistia, enquanto modalidade de exclusão, somente poderá
alcançar as penalidades que ainda não foram lançadas. Imagine-se, entretanto, a seguinte
situação: dois contribuintes, nas mesmas condições, praticaram infrações idênticas. Na
dinâmica da tributação, o fisco já lançou o crédito e a penalidade para um deles, mas ainda
não o fez para o outro. Ocorre que, neste interregno, quando um já tinha seu débito lançado
e outro ainda não, vem uma lei que concede anistia de tais penalidades. Seguindo a regra,
apenas aquele cujo lançamento está pendente será beneficiado pela anistia, havendo patente
avilte à isonomia. É por esta grave incongruência que Luciano Amaro conclui que, ainda
que o tributo e a penalidade já tenham sido lançados, em casos assim a anistia poderá
alcançar o que já foi lançado, mesmo que signifique deturpar o próprio conceito de
exclusão do crédito tributário.
O artigo 180 do CTN determina que a anistia só pode ser concedida mediante lei, o
que já é previsto no artigo 97, VI, do mesmo diploma, que exige lei stricto sensu. Veja:
Outro aspecto claro no artigo 180, supra, é o alcance temporal da anistia: esta só
elide as penalidades que já foram impostas, por óbvio, pois se se tratasse de um perdão
prospectivo, de penalidades pró-futuro, o instituto seria um salvo conduto para a prática de
infrações. De fato, se assim fosse, operaria efeitos de verdadeira revogação da sanção,
deixando de considerar ilícita uma determinada conduta, vez que já seria perdoada no seu
nascedouro.
O inciso I do artigo em comento veda concessão de anistia a penalidades que, além
de sanção tributária, sejam merecedoras de sanção penal. Além disso, impede que condutas
ardilosas sejam beneficiadas por este instituto: presente vício daqueles ali elencados, a
anistia é vedada.
O inciso II é um tanto estranho. Veja: este dispositivo nada mais faz do que repetir a
vedação do inciso I, mas considerando concurso de pessoas. Mas repare o absurdo: no
inciso I, não há qualquer ressalva à vedação da anistia; no inciso II, o legislador permitiu
que disposição em contrário pudesse mitigar a vedação da anistia, ou seja: fraudando
sozinho, o agente jamais terá anistia; fraudando em conluio, pode haver lei que permita ser
anistiado.
A legalidade exigida para a concessão da anistia é ainda delimitada na CRFB, que
no artigo 150, § 6º, exige lei específica, que é aquela dedicada exclusivamente à matéria,
sem tratar de outros assuntos:
A anistia geral é aquela que alcança todos que dela possam se beneficiar, sem que
seja necessário nenhum ato por parte destes beneficiários. A própria lei já concede o
benefício em caráter geral, indistinto, para todos os contribuintes de determinado tributo.
A anistia pode ser concedida também de forma limitada, como prevêem as alíneas
“a”, “b” e “c” deste artigo 181. As hipóteses são bem literais.
A alínea “d”, por sua vez, mesmo nomeada como limitada, se trata de anistia
condicional, que é a mais comum: é quando o fisco perdoa da sanção o contribuinte que
adimplir a obrigação principal original. Alguns autores consideram esta anistia uma forma
de transação, através da qual se pretende extinguir o crédito tributário: o fisco abre mão da
penalidade, e o contribuinte abre mão de eventual impugnação.
A anistia limitada ou condicionada, ao contrário da geral, que é automática, depende
da atuação do interessado junto ao fisco, na forma do artigo 182 do CTN:
“Art. 182. A anistia, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada
caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento com a qual o
interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos
requisitos previstos em lei para sua concessão.
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido,
aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema X
Notas de Aula22
“Art. 184. Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens, que
sejam previstos em lei, responde pelo pagamento do crédito tributário a totalidade
dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, seu
espólio ou sua massa falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de
inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus
ou da cláusula, excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declare
absolutamente impenhoráveis.”
Ignorando esta previsão do CPC, o CTN trata tais bens como penhoráveis, e assim
ocorre, de fato. Assim, o CTN só considera absolutamente impenhoráveis os bens arrolados
nos incisos II e seguintes deste artigo.
Vale dizer que este artigo foi todo alterado na reforma operada pela Lei 11.382/06.
Alteração emblemática, por exemplo, é a do inciso X, que impõe limitador à penhora on
line da poupança. Relevante, aqui, é o artigo 185-A do CTN, que trouxe a penhora on line
para a sede tributária:
23
Vale dizer, o conceito de família, hoje, é absolutamente volúvel e casuístico, podendo ser considerada
família qualquer célula estável de pessoas, havendo reconhecimento até mesmo de família unipessoal, ou seja,
uma pessoa sozinha há de merecer esta proteção, vez que o direito fundamental de habitação também lhe
acode.
“Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza
ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação
do trabalho ou do acidente de trabalho.
Parágrafo único. Na falência:
I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às importâncias
passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com
garantia real, no limite do valor do bem gravado;
II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos
decorrentes da legislação do trabalho; e
III – a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados.”
“Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de
credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário
ou arrolamento.
Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas
jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
I - União;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata;
III - Municípios, conjuntamente e pró rata.”
O artigo 187, supra, determina que a cobrança do crédito tributário não se altera,
mesmo quando há instauração do processo falimentar: cobra-se por meio da execução
fiscal. Isto significa que a execução fiscal foge ao juízo universal da falência, como se vê
no artigo 76 da Lei 11.101/05:
“Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.”
O STF já foi instado a se manifestar sobre esta circunstância, entendendo que não há
qualquer inconstitucionalidade neste concurso de preferências. Há, neste sentido, a súmula
563 da Corte Suprema, sendo que se refere ao artigo da Constituição passada que continha
esta mesma redação do artigo 19, III, da atual Carta Magna:
A ordem atual, então, coloca os créditos tributários em ponto bem mais distante da
classificação anterior. É óbvio, entretanto, que, o fisco não abriu mão de sua preferência
sem contrapartidas, pelo que a LC 118/05 contemplou diversas medidas compensatórias à
Fazenda, tais como o fim da aplicação da tese dos “cinco mais cinco”, a necessidade apenas
do “cite-se” para que a prescrição se interrompa, ao invés da citação válida, como antes,
dentre outras. Pelo ensejo, o artigo 185 do CTN merece uma análise detalhada, porque ele é
um dos dispositivos que se alterou como medida de contrapartida para a Fazenda. Veja:
Os artigos 189 a 193 do CTN traçam mais algumas situações especiais, e são bem
explícitos, bastando a mera leitura:
“Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos
os tributos.”
“Art. 193. Salvo quando expressamente autorizado por lei, nenhum departamento
da administração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, ou dos
Municípios, ou sua autarquia, celebrará contrato ou aceitará proposta em
concorrência pública sem que o contratante ou proponente faça prova da quitação
de todos os tributos devidos à Fazenda Pública interessada, relativos à atividade
em cujo exercício contrata ou concorre.”
Casos Concretos
Questão 1
Indique cinco (5) privilégios da Fazenda Pública na execução dos seus créditos.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
2) Sim: ao INSS, como autarquia federal, da União, com base no artigo 187 do
CTN.
Tema XI
Notas de Aula24
24
Aula proferida pela professora Carolina Barbosa Lima, em 17/11/2008.
massa falida; e a execução fiscal ajuizada antes, contra a empresa, que vem a ter falência
supervenientemente decretada.
A primeira, execução da massa falida, corre normalmente, mas sem se permitir a
penhora de nenhum de seus bens: dá-se apenas a penhora no rosto dos autos, que é
praticamente uma reserva de quinhão no processo falimentar. Esta impossibilidade de
penhora se faz presente pela necessidade de se observar a ordem dos créditos, pois mesmo
correndo independente, a execução fiscal não subverte a ordem hoje estabelecida na
falência.
A outra hipótese é a execução prévia à falência: se a quebra se dá no curso da
execução, esta terá seguimento, mas o crédito só será satisfeito quando da divisão entre os
credores da falência, observando-se a ordem de preferência. Haverá a execução fiscal, o
leilão, a arrematação, mas o crédito apurado, ao invés de ser entregue à Fazenda exeqüente,
será remetido ao juízo falimentar, somado ao ativo a ser partilhado pelo quadro de credores
da falência.
A falência tem uma série enorme de peculiaridades, cujo estudo aprofundado tem
sede em outro momento. Há algumas particularidades, porém, que têm pertinência imediata
aqui; assim é o artigo 124 da Lei 11.101/05:
“Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a
decretação da falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não
bastar para o pagamento dos credores subordinados.
Parágrafo único. Excetuam-se desta disposição os juros das debêntures e dos
créditos com garantia real, mas por eles responde, exclusivamente, o produto dos
bens que constituem a garantia.”
Ocorre que esta previsão da Lei de Recuperação de Empresas não foi repetida ou
admitida pela Lei Complementar 118/05, o que torna esta previsão inaplicável para o
crédito tributário, vez que a lei ordinária não tem o condão de alterar as previsões
tributárias. Neste sentido, mas sobre outro dispositivo similar, veja o que diz o STJ, no
REsp 404.657:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Tema XII
Administração Tributária 1. Conceito; 2. Fiscalização tributária: 2.1. Dever de informar, sigilo comercial,
sigilo profissional e sigilo fiscal; 2.2. Sigilo bancário. LC 105/2001. Cruzamento de informações. CPMF;
2.3. Poderes de fiscalização tributária. Auxílio da força pública. Excesso de exação. Restrições às
autoridades fazendárias; 3. Questões judiciais controvertidas. Jurisprudência. Doutrina.
Notas de Aula25
Veja que o dispositivo estabelece que a legislação tributária regula a matéria, e não
a lei, remetendo à diferenciação, já traçada, entre lei em sentido estrito e legislação
tributária, gênero amplo. Para fins de fiscalização tributária, então, é ampla a aptidão
normativa, sempre compatível com a CRFB e o CTN.
A fiscalização tributária não encontra barreiras subjetivas: qualquer pessoa pode ser
fiscalizada, nos termos do parágrafo único deste artigo 194 do CTN.
O artigo 195 do CTN dispõe, por sua vez, que o acesso aos objetos de fiscalização é
amplamente franqueado aos responsáveis por procedê-la. Veja:
“Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer
disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias,
livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos
comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.
25
Aula proferida pela professora Carolina Barbosa Lima, em 17/11/2008.
Este artigo tem origem histórica peculiar. No antigo Código Comercial, havia um
dispositivo que estabelecia sigilo absoluto sobre os livros do comerciante, os quais não
poderiam ser devassados nem mesmo pela fiscalização tributária, denotando a amplitude do
liberalismo vigente à época. O artigo 195, supra, veio justamente a alterar esta concepção:
hoje, ao contrário, não é preciso sequer que haja suspeita de irregularidades para que o
acesso a todos os dados, pela fiscalização, seja viabilizado. O STF sumulou a matéria, dada
sua relevância, no enunciado 439:
Luis Flávio Gomes tece severa crítica ao subjugo do contribuinte ao fisco, nesta
questão do fornecimento de informações, por entender que se trata, esta cooperação
forçada, de hipótese de obrigação à auto-incriminação, o que a CRFB veda expressamente.
Diz este doutrinador que se o contribuinte se negar a cooperar ou franquear acesso, até
poderá o fisco valer-se da força policial, mas não haverá qualquer crime por parte do
fiscalizado.
O artigo 196 do CTN estabelece o chamado princípio documental da fiscalização
tributária:
É aqui que reside o chamado termo de início de ação fiscal. Este documento tem
basicamente duas funções: a formação de procedimento escrito para que haja, tanto para a
Fazenda quanto para o contribuinte, a plena ciência de todos os atos, possibilitando o
contraditório; e a segunda função, bem pragmática, é que a partir da lavratura deste termo
cessa a possibilidade de que o contribuinte realize a denúncia espontânea, não mais
podendo obter os benefícios desta denúncia (elisão das sanções tributárias).
O artigo 197 do CTN estabelece quem são os obrigados a prestar informações ao
fisco:
passou a cruzar dados referentes a períodos anteriores a esta lei, até cinco anos antes, pela
prescrição dos anteriores. O argumento da Fazenda calcava-se no artigo 144 do CTN:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Aqui se percebe que a Fazenda está se valendo de meios não previstos na legislação
para a cobrança de seu crédito, o que os torna ilegais. O fisco deve se valer da execução
fiscal para tanto, e não de medidas restritivas inventivas, como esta. Está correta a
contribuinte.
Veja o que disse o STJ no REsp 16.953:
Questão 2
Resposta à Questão 2
XII, e LIV do artigo 5º da CRFB. No HC 24.577, o STJ estabeleceu que a Fazenda poderia
obter tais dados, mediante ordem judicial:
Questão 3
Resposta à Questão 3
O STJ tem entendido que o ISS é devido ao município onde o serviço foi prestado,
ou seja, onde se localiza o tomador do serviço. Ocorre que, por vezes, a menor alíquota de
um município acaba por atrair identificações fraudulentas, fazendo com que empresas
declarem serem sediadas em municípios cuja alíquota é menor. Como o município que crê
ser a sede real não pode fiscalizar a área de outro município, surge esta questão que é
debatida na casuística: é impossível ao município extrapolar seus limites, na fiscalização
tributária.
O STJ no REsp 73.086, assim se posicionou:
Tema XIII
Notas de Aula26
1. Dívida ativa
nosso sistema, que é cópia do modelo francês, não é completamente compatível com a
lógica sistêmica de nosso ordenamento. Isto porque na França há tribunais executivos
fiscais, órgãos cujas decisões fazem coisa julgada. Aqui, a unidade jurisdicional impede que
decisões administrativas façam coisa julgada, pois nosso sistema geral de jurisdição, de
base notadamente inglesa, vige sob a unidade jurisdicional – o que torna todo o
procedimento administrativo quase uma perda de tempo, quando o Judiciário precisar ser
provocado.
Como dito, a primeira idéia que se tem quando se fala em execução fiscal é
cobrança judicial de crédito tributário, mas há que se atentar que a execução fiscal tem duas
vertentes: a cobrança de créditos tributários, e a cobrança de créditos não-tributários. Como
exemplo destes últimos, as multas administrativas, que não são tributárias e são cobradas
em execução fiscal.
Esta diferença é relevante porque os créditos tributários são regidos pelo CTN, mas
os não-tributários são regidos pela Lei de Finanças Públicas, Lei 4.320/64, bastante alterada
pela Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar 101/00, mas ainda em vigor,
inclusive tendo sido recepcionada no sistema constitucional com status de lei
complementar.
Sendo assim, é fundamental identificar a natureza do crédito executado para se
buscar corretamente a norma atinente à execução fiscal que se estiver analisando. Mesmo
por isso, a Lei de Execução Fiscal, Lei 6.830/80, repete bastantes dispositivos do CTN, pois
toda execução fiscal é pautada nela, seja qual for a natureza do crédito, e se não fossem
repetidos alguns dispositivos do CTN, os créditos não-tributários escapariam, na sua
execução, ao alcance destas normas, vez que não se sujeitam ao CTN.
Atente-se, porém, que a Lei de Execução Fiscal é uma lei ordinária, e como tal tem-
se que observar que não pode haver ingerência das normas nela previstas sobre os créditos
tributários, no que forem conflitantes com o CTN, em função da reserva de lei
complementar, prevista no artigo 146 da CRFB, especialmente no inciso III:
Por isso, há uma série de discussões envolvendo artigos desta lei e a execução fiscal
de créditos tributários, que estariam alheios a algumas previsões da lei ordinária. Tudo que
vier previsto nesta lei que não for contemplado no CTN de alguma forma, é matéria de
aplicabilidade controvertida.
O conceito de dívida ativa vem desde 1964, quando o artigo 39 da Lei 4.329/64 o
previu. Veja a redação original e a atual este dispositivo, dada pelo Decreto-Lei 1.735/79,
pela ordem:
Em atenção a esta conceituação, o artigo 201 do CTN veio tratar da dívida ativa
tributária:
“Art. 201. Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa natureza,
regularmente inscrita na repartição administrativa competente, depois de esgotado
o prazo fixado, para pagamento, pela lei ou por decisão final proferida em processo
regular.
Parágrafo único. A fluência de juros de mora não exclui, para os efeitos deste
artigo, a liquidez do crédito.”
Veja que a inscrição em dívida ativa só pode ser realizada se o prazo para
pagamento estiver esgotado. Isto acaba por criar uma área cinzenta entre o inadimplemento
e a execução, e esta área nebulosa merecerá atenção especial neste estudo, adiante.
Os artigos 1º e 2º da Lei 6.830/80 merecem uma leitura:
O artigo 2º, § 3º, da Lei 6.830/80, supra, dispõe que a inscrição na dívida ativa
suspende o prazo prescricional por cento e oitenta dias. Era comum que a Fazenda alegasse
esta suspensão, de forma a postergar a prescrição do crédito tributário. Mas veja que a
constitucionalidade desta suspensão é controvertida. Se o crédito em questão for não-
tributário, não há qualquer discussão: a lei a ele se aplica, pois estes créditos não têm seu
tratamento reservado a lei complementar. Todavia, se se tratar de crédito tributário, a
discussão é ferrenha, na medida que, como se disse, é matéria dada à reserva de lei
complementar, e a Lei 6.830/80 é ordinária.
O entendimento hoje dominante é que este dispositivo não pode ser aplicado aos
créditos tributários, exatamente ao argumento de que há reserva de lei complementar a ser
“Art. 8º - O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida
com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou
garantir a execução, observadas as seguintes normas:
(...)
§ 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a prescrição.”
Este dispositivo contrariava o artigo 174 do CTN, que dispunha, antes da alteração
promovida pela Lei Complementar 118/05, que a prescrição se interrompia com a citação, e
não com o mero “cite-se”. Repetia-se a discussão, e a conclusão era a mesma: quem
defendia haver reserva de lei complementar aos créditos tributários neste aspecto, defendia
inaplicável a previsão da Lei e Execução Fiscal, sendo dedicada apenas aos créditos não-
tributários; quem defendia não ser matéria reservada, defendia sua aplicação em qualquer
execução fiscal. Hoje, entretanto, esta discussão não tem mais sentido, porque o artigo 174,
parágrafo único, I, do CTN, foi alterado pela LC 118/05, estando em consonância com esta
previsão da Lei 6.830/80:
“Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos,
contados da data da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
(...)”
Outra comparação que pode ser feita é entre o artigo 202 do CTN, que trata dos
requisitos para inscrição na dívida ativa, diante do artigo da Lei de Execuções Fiscais que
também apresenta estes requisitos, o já transcrito artigo 2º, § 5º: são muito similares. Veja:
“Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que
conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em
que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa.”
Esta ação cautelar de caução tem sido admitida amplamente, por ser inegável
medida de justiça. E veja que esta ação tem duas vantagens, uma lícita e outra de moral
questionável: além da já mencionada incidência do artigo 206 do CTN, o bem nomeado, se
aceito, pode ter seu valor tremendamente depreciado, à época da execução fiscal, quando o
fisco será bastante prejudicado.
A jurisprudência do STJ acolheu o cabimento desta ação.
3. Execução fiscal
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Está correta a Fazenda. Nos tributos lançados por homologação, o contribuinte que
tinha que entregar a declaração em data limite, cumpria o prazo sem atenção à correta
declaração, contando que poderia depois fazer declaração retificadora com pagamento do
valor correto a posteriori, pretendendo assim receber os benefícios da denúncia espontânea.
Ocorre que a declaração é confissão de dívida, e como tal, assume natureza de lançamento
imediato. Por isso, a inscrição na dívida ativa é perfeitamente admissível, assim como a
executiva fiscal subseqüente.
Em síntese: tributo lançado por homologação, declarado pelo contribuinte e não
recolhido aos cofres públicos, prescinde de lançamento, podendo ser diretamente inscrito
em dívida ativa.
O STJ, no REsp 770.161, assim se posicionou, bem como, em relação à denúncia
espontânea, a súmula 360 do STJ:
“Súmula 360, STJ: O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos
sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a
destempo.”
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XIV
Certidão negativa 1. Conceito; 2. Espécies. Tipo; 3. Hipóteses do CTN; 4. Certidão negativa na legislação
previdenciária; 5. Questões judiciais controvertidas. Jurisprudência. Doutrina.
Notas de Aula27
“(...)
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;
27
Aula proferida pelo professor Cláudio Carneiro Bezerra Pinto Coelho, em 18/11/2008.
(...)”
Segundo o artigo 205, parágrafo único, do CTN, combinado com o artigo 5º,
XXXIV, “b”, esta certidão tem prazo para ser emitida, de dez dias:
“Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo,
quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento
do interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de
sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a
que se refere o pedido.
Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que
tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do
requerimento na repartição.”
Veja que o artigo fala já da certidão negativa, o que é um dos efeitos que a certidão
pode assumir. A definição da situação de regularidade fiscal do contribuinte é exatamente
qual será este efeito que a certidão terá, demonstrando qual será a situação do contribuinte
perante o fisco.
A certidão pode assumir três efeitos diversos: positiva, negativa, ou positiva com
efeitos de negativa. A certidão positiva é a que indica que o contribuinte está inadimplente
perante o fisco, e é esta que a Fazenda extrai com o fito de ajuizar a execução fiscal do
crédito por tal documento apontado, tornado título executivo.
A certidão negativa, ao contrário do que se poderia pensar, não significa que o
contribuinte não tem débitos com a Fazenda: significa apenas que ele não tem débitos já
inscritos na dívida ativa, podendo haver débitos ainda em fase de constituição, e ainda não
inscritos.
A certidão positiva com efeitos de negativa, por sua vez, é aquela descrita no artigo
206 do CTN:
“Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que
conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em
que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa.”
A primeira situação que autoriza a emissão desta certidão é quando o débito existe
mas ainda está em curso o seu prazo de pagamento. Ultrapassada a data de vencimento, se o
contribuinte pagar seu débito, a certidão se tornará negativa; se inadimplir, será certidão
positiva pura.
A segunda hipótese que autoriza esta certidão é quando há já ajuizada a executiva
fiscal, mas já há também a garanta do juízo: há a penhora de bens que asseguram o crédito.
A terceira hipótese, por fim, é aquela em que haja vigente alguma causa de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário, na forma do artigo 151 do CTN, já bem
abordado.
De posse da certidão negativa ou da positiva com efeitos de negativa, o contribuinte
se apresenta idôneo perante a Fazenda, e por isso pode com ela contratar, bem como
participar de licitações. Havendo certidão positiva, o contribuinte é inadimplente, e como
tal sofre as restrições imponíveis a sua situação de irregularidade.
A certidão positiva com efeitos de negativa permite ao contribuinte fazer quase tudo
que a negativa o faz, mas não tudo. Não permite, por exemplo, que este dê baixa no registro
da sociedade.
Um comentário que precisa ser feito diz respeito à falência e à recuperação judicial
de empresas, sendo necessária a leitura dos artigos 191 e 191-A do CTN:
“Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos
os tributos.”
O artigo 191-A não dispõe que a recuperação será iniciada apenas quando estiverem
quitados todos os tributos; dispõe que o encerramento da recuperação será feito apenas
quando quitados os débitos tributários, tal como a extinção das obrigações, que vem
prevista no artigo anterior. O termo “concessão de recuperação” deve assim ser
interpretado, porque do contrário jamais se instaurará um procedimento de recuperação, vez
que os créditos tributários são sempre presentes no passivo ensejador da necessidade da
recuperação.
O artigo 130 do CTN trata de responsabilidade por sucessão, referente a bens
imóveis, e é relevante para o estudo das certidões. Veja:
“Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a
propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a
taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de
melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste
do título a prova de sua quitação.
Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre
sobre o respectivo preço.”
Na parte final do caput se lê que a certidão negativa referente aos tributos ali
tratados afasta a sucessão tributária sobre bens imóveis. Mesmo que a cobrança de créditos
que venham a existir futuramente não seja afastada pela certidão negativa, se o adquirente
tem a certidão negativa, ele não se sub-roga na dívida tributária que existia ao tempo da
aquisição, mesmo que se tratem, como se tratam, de dívidas propter rem. Isto porque se na
celebração do negócio jurídico de aquisição do imóvel havia a certidão negativa anexada à
escritura, significa que o adquirente houve o bem para si crendo não haver créditos
tributários devidos.
Destarte, mesmo que na certidão negativa da dívida ativa conste a ressalva de que
os créditos poderão ser cobrados, isto significa que serão cobrados, neste caso, do
alienante, e não do adquirente, que não se sub-rogou em tais débitos.
Isso tudo demonstra que a certidão negativa nem sempre dá quitação plena dos
débitos no momento em que é emitida, porque neste caso, por exemplo, mesmo que o
adquirente não possa ser demandado, o eventual crédito persiste contra o alienante.
O parágrafo único deste artigo supra é também relevante, pois denuncia a natureza
de aquisição originária da propriedade que se atribui à aquisição em hasta pública: quando
for dado o valor da arrematação pelo adquirente, a dívida se sub-roga é neste preço pago, e
não no bem vendido. Quem arca com o débito tributário é aquele que recebeu o produto da
arrematação, ou seja, o fisco retém o valor do crédito devido e só repassa ao antigo
proprietário o eventual saldo.
“Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta
e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:
(...)
§ 3º - A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como
estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
(...)”
“(...)
§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou
expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.
(...)”
Resumindo, as Leis 8.212/91 e 8.213/91 são leis que tratam de vários assuntos sobre
matéria previdenciária, entre eles a exigência de certidões previdenciárias e o prazo
prescricional e decadencial diferenciado, de dez anos, para tais créditos. Quanto aos prazos
diferenciados, o STF entendeu que os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91 são inconstitucionais,
editando inclusive a súmula vinculante 8 sobre o tema. O fundamento usado para tanto foi
justamente a invasão de reserva de lei complementar.
“Art. 45. O direito da Seguridade Social apurar e constituir seus créditos extingue-
se após 10 (dez) anos contados:
(...)”
Sob este mesmo fundamento, discute-se se a lei ordinária poderia exigir certidões
não previstas pelo CTN. Neste caso, a jurisprudência se posiciona no sentido de que o
artigo 195, § 3º, da CRFB, permite a previsão em lei ordinária expressamente, não havendo
a mesma inconstitucionalidade que a súmula vinculante 8 do STF identificou.
Mudando o assunto, surge outra questão: o que ocorre com o processo de execução
se se descobrir que a certidão da dívida ativa que o instruiu contém uma nulidade
insanável? Como esta certidão não pode ser apenas trocada, a execução deverá ser extinta,
na forma do artigo 267, IV, do CPC – falta de pressuposto processual válido.
E se a certidão da dívida ativa for emitida com dolo ou fraude que prejudique a
Fazenda? O artigo 208 do CTN assim dispõe:
“Art. 208. A certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha erro
contra a Fazenda Pública, responsabiliza pessoalmente o funcionário que a expedir,
pelo crédito tributário e juros de mora acrescidos.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não exclui a responsabilidade criminal e
funcional que no caso couber.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A ordem deve ser deferida. A obtenção da certidão positiva com efeitos de negativa
é direito do contribuinte, quando preenche os requisitos, sendo ato vinculado da
administração. No caso, a inscrição no Refis significa que há o parcelamento tributário,
havendo suspensão do crédito tributário, sendo então caso enquadrado no artigo 206 do
CTN, determinando que é devida a emissão da dita certidão – sua negativa indevida é ato
de coação ilegal, e o writ merece provimento.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Uma coisa é o pedido de certidão, que é direito líquido e certo do contribuinte; outra
coisa é o efeito que esta certidão terá. Neste sentido, caso não haja nenhuma das hipóteses
do artigo 206 do CTN, e exista o débito, a certidão será positiva, salvo se na ação (mandado
de segurança ou ação anulatória, por exemplo) for deferida uma liminar ou antecipação de
tutela com o efeito de suspender a exigibilidade do crédito.
Sendo assim, negativa a certidão não será, tampouco se enquadrando, ao que tudo
indica, como caso de certidão positiva com efeitos de negativa, pois o mero ajuizamento de
ações judiciais não suspende a exigibilidade. A ordem, então, deve ser denegada.
A respeito, veja o que diz o TJ/RJ na apelação em mandado de segurança
2004.001.18232: