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Data:26/02/2019

Turma:CPI A 1 2019
Tema:CP02.01.05 - Pessoa Jurídica. Diferença entre Pessoa jurídica e Pessoa formal (Entes Despersonalizados).
Natureza jurídica da pessoa jurídica. Efeitos e controvérsias da personificação. Classificação na CF/88 e no CC/02.
Pessoa Jurídica ou Coletiva. Fundações: Conceito. Fases de elaboração e extinção. Capacidade de fato da pessoa
jurídica. Princípio da especialização. Teoria da aparência. A personalidade Judiciária.

1ª - Questão:
Manuel Grun, associado da AAIRJ - Associação dos Artistas Impressionistas do Rio
de Janeiro -, questiona judicialmente determinada deliberação tomada em
assembleia. Na ocasião, ficou estabelecido o aluguel de determinado imóvel, a fim de
que fossem realizadas exposições quinzenais. O autor se insurge contra tal decisão,
por entender que a viabilidade financeira da referida associação pode ficar
comprometida e que o ato não tem espeque legal.
O autor argumenta que o peso de seu voto fora reduzido à importância mínima, o que
produziu um desfecho injusto e incompatível com a inteligência legislativa que cuida
desse tipo de pessoa jurídica - cujo viés é, em sua essência, democrático e
participativo.
O autor afirma que, embora o art. 55 do Código Civil permita a categorias especiais
de sócios, tal diferenciação não compreende as votações, uma vez que o mesmo
dispositivo estabelece que os associados devem ter direitos iguais. Por esses motivos,
Manuel Grun pede a anulação da decisão tomada em assembleia, além da
insubsistência da cláusula do estatuto que diferencia o voto na hipótese de
deliberação acerca de aluguel de imóvel para exposições.
Em contestação, a AAIRJ alega que a exclusão do direito de votar não se confunde
com a possibilidade de haver critérios diferenciadores do voto, desde que essa
posição obedeça ao estatuto e à categoria em que está inserido o associado, como
pode se observar na conjetura apresentada. Ademais, a AAIRJ ressalta que o próprio
autor age de maneira contraditória, porque, ao participar de deliberações anteriores,
demonstrou concordar com o estatuto.
Decida a questão de maneira fundamentada. Observe o máximo de 15 linhas.

Resta razão ao autor. Os associados devem ter iguais direitos, mas o


estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais (CC, art. 55).
Todavia, como bem aduz o enunciado 577 da VII Jornada de Direito Civil
do CJF, a possibilidade de instituição de categorias de associados com vantagens
especiais admite a atribuição de pesos diferenciados ao direito de voto, desde que
isso não acarrete a sua supressão em relação a matérias previstas no art. 59 do CC.
Justifica-se:

O direito de voto e o de representação em assembleias é apontado


por Pontes de Miranda como modalidades de direitos específicos
preferentes. Somente haverá a possibilidade de estipulação de
padrões diversificados de voto quando em contraste com os direitos
específicos gerais de que são titulares todos os indivíduos. O poder de
veto da escolha de administradores seria um bom exemplo. O CO
2002 tratou no art. 59 das competências da assembleia geral para
alterar o estatuto, mediante um quórum em que considerados todos

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os integrantes, sem qualquer menção à possibilidade de exclusão de
voto de alguma categoria. Ou seja, o voto é direito comum a todos os
associados quanto às matérias deliberadas em assembleia e, ao que
tudo indica, não era admitida a sua exclusão em 1916, e continua a
não ser em 2002. A liberdade de associação não autoriza, assim, que
a representação seja fulminada mediante a exclusão de um direito
comum a todas as categorias, conforme o art. 58 CO. Importante
esclarecer, todavia, que uma coisa é a vedação da exclusão do direito
de voto, outra bem diversa é a previsão de critérios diferenciadores de
voto, segundo a categoria do associado. Para efeito de controle
normativo dos padrões deliberativos, basta investigar se o associado
concordou previamente com a configuração de alguma especificidade
do seu voto, se o ato constitutivo o previu ou se constou da própria
deliberação permitida por ele (art. 58 do CO). Estes balizadores da
definição dos critérios diferenciados de voto devem guardar estrita
observância com elementos justificadores do discrímen concebido.

Nessa linha de intelecção é o entendimento do STJ, ex vi o REsp


650.373-SP:
Informativo nº 0494 - Período: 26 de março a 3 de abril de 2012.
QUARTA TURMA. LITISCONSÓRCIO. ASSOCIAÇÃO. DIREITO DE
VOTO.
O cerne da controvérsia diz respeito à declaração de nulidade de
cláusulas estatutárias que conferiram direito exclusivo de voto aos
sócios fundadores da Associação recorrente e limitaram
temporalmente a permanência dos associados efetivos na entidade,
em virtude de alegada violação ao disposto no art. 1.394 do CC/1916.
(...). No mérito, concluiu-se que todos os sócios efetivos da associação
devem ser considerados, não como sócios a título precário, mas sim
como sócios que, além de possuir direito a voto, têm também o de
convocar, comparecer e participar efetivamente das assembleias
gerais ordinárias e extraordinárias, devendo, para tal fim, delas ter
ciência prévia. De modo que todas as cláusulas estatutárias objeto da
demanda mostram-se nulas de pleno direito, uma vez que violam
frontalmente o art. 1.394 do antigo diploma civil, o qual se reveste da
qualidade de norma cogente norteadora dos princípios básicos de
todas as sociedades civis que, sem eles, estariam a mercê do
autoritarismo dos detentores do poder de comando, situação
dissonante da boa convivência exigida entre pessoas que devem ser
tratadas em condição de igualdade entre si. Na mesma linha, o voto
desempate do Min. Antonio Carlos Ferreira salientou que o poder de
auto-organização das associações sem fins lucrativos não é absoluto
e que, na hipótese, trata-se de uma associação anômala, em que um
grande número de associados contribui com sua força de trabalho e
dedicação, muitas vezes de forma exclusiva e com dependência
econômica, concluindo que essa atipicidade da relação existente entre
associado e associação permite a intervenção jurisdicional visando a
alteração das regras estatutárias da associação. Com isso,
acompanhou a divergência, entendendo que, à luz das peculiaridades
do caso, inviável, com base no antigo Código Civil, a exclusão do
direito de voto dos sócios. Com essas e outras considerações, a

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Turma, por maioria, por violação ao dispositivo supracitado, declarou
nulas as cláusulas puramente potestativas, entre elas, a exclusão do
direito de voto, a existência de sócios precários com mandato de um
ano e a possibilidade de exclusão de sócios efetivos dos quadros da
entidade por força de decisão de assembleia cujos membros são os
componentes da diretoria formada exclusivamente pelos sócios
fundadores. Precedentes citados do STF: RE 74.820-SP, DJ
11/4/1997; do STJ: REsp 161.658-SP, DJ 29/11/1999; REsp 20.982-
MG, DJ 22/3/1993; REsp 291.631-SP, DJ 15/4/2002, e AgRg no AgRg
no Ag 652.503-RJ, DJ 8/10/2007. REsp 650.373-SP, Rel. originário
Min. João Otávio de Noronha, Rel. para o acórdão Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 27/3/2012.

2ª - Questão:
Mário, por meio de testamento, institui fundação com o escopo de atuar na área de
saúde pública, visando à erradicação de determinada doença, que vitimava grande
parte da população da cidade em que vivia. Instituída a fundação, esta atuou por cinco
anos no combate e prevenção da doença, a qual foi completamente erradicada da
localidade, perdendo a fundação, assim, a finalidade para a qual foi instituída. Os
herdeiros de Mário, seus filhos, vivendo em situação de miséria, ingressaram com
ação para que o patrimônio da fundação fosse repassado a estes, já que perdeu a
pessoa jurídica a finalidade para a qual foi criada. Argumentaram os herdeiros que
estavam atravessando uma difícil situação, sendo que Mário, se vivo fosse,
naturalmente concordaria com a pretensão dos filhos, não importando a medida
prejuízos para a sociedade, já que a fundação cumpriu o escopo que justificou sua
criação. Supondo o silêncio do estatuto quanto ao destino dos bens da fundação,
como o aluno resolveria a questão?
Fazer referência ao(s) dispositivo(s) legal(is) aplicável(eis).

No caso em tela, ainda que se tenha extinta a finalidade da fundação, os


bens e patrimônios incorporados para a sua criação, não poderão passar para os
herdeiros do criador, salvo se o ato constitutivo assim fizer, ademais, como não foi o
caso, os bens da fundação deverão ser incorporados a outra fundação que verse
sobre o mesmo objeto qual seja, a erradicação de determinada doença, como se extrai
do artigo 69 do Código Civil.
3ª - Questão:
Segundo se depreende do artigo 44 do Código Civil, as fundações são pessoas jurídicas
de direito privado, sendo livre a criação, organização, a estruturação interna e o
funcionamento. Com base nessa natureza de direito privado e lastreado em norma
estatutária a diretoria da Fundação X alienou componentes de seu acervo patrimonial a
sociedade empresária Z Ltda., o que aparentemente se desvirtua da vontade do
instituidor.
Essa alienação é válida?

No caso em exame, a alienação entre a fundação e a sociedade


empresária Z, será válida, desde que a referida alienação e verba, seja revertida e

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destinada aos fins que a fundação tem como objetivo, do contrário, seria desvio de
valor, o que ensejaria na nulidade da alienação.

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