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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CADERNO DE PROCESSO CIVIL III

Aluna: Priscilla C. R. Dantas


Turma: CPIII A - 2 Semestre de 2018
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 1 - Prof. Hugo Penna


26/7/18

EMENTA:  Teoria Geral dos Procedimentos Especiais

 TEORIA GERAL DO PROCESSO:

Ramiro Podetti criou a ideia de TRILOGIA PROCESSUAL que abarca os seguintes


elementos:

(i) Jurisdição;
(ii) Ação; e
(iii) Processo.

Vejamos abaixo cada um desses elementos que compõem o conceito de Trilogia


Processual:

(i) JURISDIÇÃO: consiste no poder que o Estado tem de aplicar o direito a um


determinado caso, de forma a solucionar conflitos na sociedade. Em relação
a classificação da jurisdição tem-se a seguinte divisão:

 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA: jurisdição sem conflito (jurisdição


graciosa). Serve para que o juiz tome algumas providências
necessárias para a proteção de um ou ambos os sujeitos da relação
processual.

 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA: jurisdição com conflito, existência de


lide. O juiz afasta uma crise de certeza, para dizer quem tem razão
se réu ou autor.

(ii) AÇÃO: consiste no DIREITO DE PROVOCAR A PRESTAÇÃO JURISDICIONAL,


uma vez que a jurisdição é inerte.

O direito de ação tem fundamento no art. 5, XXXV da CF (inafastabilidade


da jurisdição). O direito de ação é autônomo, ou seja, não se relaciona com
o direito material.

Em contrapartida, os procedimentos especiais consistem em uma exceção


à autonomia do direito de ação, isso porque é o direito material que
justifica as ações especiais. Exemplo: ações possessórias se justificam pelo
direito material (posse).

Quais as condições da ação ou pressupostos processuais?

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O Prof. Fred Didier defende a tese que o direito de ação é autônomo e


abstrato, ele defende que não existem mais condições da ação. O CPC não
fala em condição de ação em momento algum.

A ausência de interesse de agir ou de legitimidade, portanto, não


representa mais ausência de condição da ação, mas sim, na verdade, trata-
se de ausência de pressupostos processuais. Assim, os pressupostos
processuais estão previstos no art. 17 do CPC, consistindo em “interesse de
agir” e “legitimidade”.

Art. 17 do CPC: “Para postular em juízo é necessário ter interesse e


legitimidade.”

Ausência de legitimidade e ausência de interesse de agir levam a extinção


do processo sem resolução do mérito.

Diante da alegação de ilegitimidade por parte do réu, o autor terá a opção


de substituir o réu por outra pessoa ou poderá incluir outra pessoa no polo
passivo.

O professor ressaltou que não há nenhuma relevância prática na distinção


entre ausência de condição da ação ou ausência de pressuposto processual.

(iii) PROCESSO: segundo Ada Pellegrini o processo é essencialmente teleológico,


um instituto flutuante, etéreo, ritualístico, sem qualquer vínculo lógico-
jurídico.

Segundo Sérgio Bermudes, processo é um CONJUNTO DE ATOS PROCESSUAIS.

Qual a diferença entre (i) processo e (ii) procedimento?

Enquanto o PROCESSO consiste no conjunto de atos processuais, o


PROCEDIMENTO é a forma, o rito, é maneira como se exteriorizam os atos
praticados na forma sequencial.

Exemplo: contestação no Juizado Especial pode se dar na forma oral (é a


forma) – trata-se, pois de procedimento. No processo comum, a contestação
deve ser necessariamente na forma escrita.

Quais as espécies de processo existentes no Processo Civil Brasileiro?

Destacam-se as seguintes modalidades de processo:

(i) PROCESSO DE CONHECIMENTO: é um processo de convencimento, ou


seja, é um processo em que as partes buscam do Poder Judiciário a
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declaração de quem tem razão. As decisões no âmbito do processo


de conhecimento podem ter cunho: (1) declaratório; (2)
condenatório ou (3) constitutivo.

(ii) PROCESSO DE EXECUÇÃO: é um processo em que se busca a


satisfação de uma obrigação pré-constituída. O processo de
execução depende de um título (título executivo judicial ou título
executivo extrajudicial).

(iii) PROCESSO CAUTELAR: é o processo que garante a efetividade de


outro processo. É o instrumento do instrumento, é o processo do
processo.

O procedimento especial faz parte de qual modalidade de processo?

Via de regra o procedimento especial é um PROCESSO DE CONHECIMENTO. Isso porque,


os procedimentos especiais são apenas tipos diferenciados de procedimento, e não de
processo. O tema dos procedimentos especiais encontra-se localizado no Livro relativo
ao processo de conhecimento, já que este pode ter procedimento comum ou um
procedimento especial.

Destaca-se, contudo, que nada impede que o procedimento especial também se


verifique em um processo de execução e processo cautelar.

Quais as espécies de procedimentos existentes?

Com o advento do CPC/15, não se fala mais em procedimento sumário, fala em


Procedimento Comum.

Assim, nos termos do art. 318 do CPC, o processo terá, via de regra, o procedimento
comum. A sua escolha, contudo, se dá de forma residual, ou seja, é aplicado
subsidiariamente diante dos procedimentos especiais. Isso porque se existe um
procedimento especial deve-se usá-lo.

Verifica-se, portanto, que o sistema adotado pelo legislador foi o de tratar


especificamente apenas dos PROCEDIMENTOS ESPECIAIS. Se a lei não o tratar como
especial, é porque o procedimento será comum. Quando não houver nenhum
procedimento especial, aí sim será usado o PROCEDIMENTO COMUM.

Os procedimentos especiais estão previstos no art. 539 a 770 do CPC e também na


legislação extravagante.

Porque alguns procedimentos são especiais e outros não?

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A razão pela qual a lei estabelece que determinados procedimentos são especiais e
outros não é de natureza material e não processual.

O que se leva em consideração é o direito material que se discutirá nos processos,


plasmando-se o procedimento de forma tal a melhor atender às suas exigências.

Quais os principais tipos de procedimentos especiais?

Como cada procedimento especial tem a sua peculiaridade, a legislação processual


tem de tratar de cada um deles, expressamente, indicando-lhes as especificidades.

É possível distinguir procedimentos inteiramente especiais, que se processam de forma


completamente distinta do procedimento comum, e há os que são especiais apenas no
início e depois prosseguem pelo comum.

Exemplo: na ação de exigir contas e de inventário, o procedimento distingue-se


inteiramente do comum. Já nas ações possessórias de força nova, a única
particularidade é a concessão de liminar, com ou sem audiência de justificação, na
fase inicial do processo. Ultrapassada essa fase, o procedimento torna-se comum.

Entre os principais procedimentos especiais de jurisdição contenciosa destacam-se:

 Ação de Consignação em Pagamento;


 Ação de Exigir Contas;
 Ações Possessórias;
 Ação de Inventário e Partilha;
 Embargos de Terceiros;
 Oposição;
 Ações de Família;
 Monitórias.

Destacam-se, ainda, a arbitragem e o procedimento do Juizado Especial Cível.

Quais as características dos procedimentos especiais?

Entre as características do procedimento especial destacam-se:

(i) TIPICIDADE: os procedimentos especiais devem estar previstos em lei;

(ii) LIMITAÇÃO DA COGNIÇÃO: no procedimento especial possessório há, por


exemplo, uma limitação nas matérias que podem ser apresentadas pelo
autor. Tem uma limitação de defesa também.

(iii) ESPECIFICIDADE: o procedimento especial está ligado diretamente ao


direito material. Ele visa regular um direito material próprio.
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(iv) CELERIDADE: o procedimento especial é mais célere. No caso das ações


possessórias, existe um ato para convencer o juiz para dar uma liminar
(audiência de justificação).

Cumpre, ainda, destacar que as regras do procedimento comum aplicam-se


subsidiariamente aos processos do procedimento especial.

É possível estabelecer mediação e conciliação em procedimento especial?

A matéria é controvertida, dividindo a doutrina:

CORRENTE 1) Parte da doutrina entende que é possível mediação e conciliação nos


procedimentos especiais sim, isso porque o art. 139, V do CPC consagra que incumbe
ao juiz a qualquer tempo autocomposição.

Art. 139 do CPC: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste


Código, incumbindo-lhe:
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente
com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais;”

CORRENTE 2) Parte da doutrina entende que não há mediação em procedimentos


especiais porque não há previsão expressa nesse sentido no novo CPC.

Há alguma nulidade no fato do juiz não designar a audiência de conciliação?

Haverá nulidade quando houver prejuízo (princípio da instrumentalidade). O fato de


não ter sido designada a audiência não vai trazer nulidade para aquele processo se não
houver prejuízo as partes.

Para que se configure a nulidade restar-se-á necessária prova do prejuízo a uma das
partes.

É possível intervenção de terceiros nos procedimentos especiais?

Sim! É possível a intervenção de terceiros no procedimento especial, salvo se houver


alguma restrição expressa.

Deve o autor na petição inicial indicar sua opção pelo procedimento especial?

O Prof. Fred Didier afirma que o autor deve, na petição inicial, indicar o tipo de
procedimento. É um direito potestativo do autor da ação.

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Se o autor for omisso sobre o procedimento na petição inicial, a sua omissão não
implica na escolha do procedimento comum. Se houver procedimento especial, o
procedimento especial deverá ser determinado pelo juiz. A omissão, portanto, não
enseja o procedimento comum.

Se o autor escolher o procedimento errado é possível a aplicação do Princípio da


Fungibilidade?

Se o autor escolher errado, dependendo do erro, poderá se aplicar o Princípio da


Fungibilidade, hipótese em que o juiz determinará o procedimento adequado,
aproveitando-se o ato realizado pela parte.

Se o erro cometido pelo autor for grotesco, então, nesse caso, o juiz poderá indeferir
a petição inicial, devendo extinguir o processo sem julgamento do mérito.

 PROCESSO CUMULATIVO E PROCEDIMENTO ESPECIAL:

A cumulação pode ser de dois tipos:

 CUMULAÇÃO SUBJETIVA: cumulação de sujeitos.

 CUMULAÇÃO OBJETIVA: cumulação de pedidos, reunião de dois ou mais


pedidos, ou de duas ou mais ações.

A cumulação objetiva por sua vez, pode ser dividida em:

1. CUMULAÇÃO SIMPLES: reúne pedidos independentes entre si. O julgamento de


um não interfere no julgamento do outro. Ex: pedido de dano material e dano
moral.

2. CUMULAÇÃO SUCESSIVA: há relação de prejudicialidade entre os pedidos.


Assim, o julgamento de um pedido prejudica o do outro. Ex: a oposição forma
uma cumulação objetiva sucessiva.

3. CUMULAÇÃO EVENTUAL: se dá diante de pedidos alternativos, ou seja, o autor


estabelece uma ordem entre os pedidos. Assim, se acolhido o pedido originário
se torna desnecessário a análise dos demais pedidos.

Quais os requisitos que autorizam a formulação da cumulação de pedidos?

Entre os REQUISITOS que autorizam a cumulação de pedidos, destacam-se:

1. Os pedidos devem ser compatíveis entre si. Essa ideia de compatibilidade tem
uma exceção, qual seja, pedidos eventuais;

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2. O juízo deve ser competente para julgar todos os pedidos formulados; e

3. Deve existir compatibilidade entre os procedimentos cumulados.

O CPC 2015 consagra que quando não houver compatibilidade entre os


procedimentos cumulados deverá ser adotado o procedimento comum. Essa
ideia não é absoluta, isso porque não é possível cumular, por exemplo, ação
coletiva com ação individual.

 QUESTÕES CONTROVERTIDAS:

Podem as partes modificar o procedimento especial?

Pelo CPC/73 a modificação do procedimento especial não era possível. Contudo, com
o advento do CPC/2015, em seu art. 190, houve permissão expressa para que as partes
estipulem mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e
convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou
durante o processo.

Pode o autor escolher o procedimento comum em detrimento do procedimento


especial?

Sim!! É possível a escolha do procedimento comum em detrimento do procedimento


especial, desde que não se caracterize prejuízo à parte demandada, conforme se
depreende da interpretação do art. 327, § 2 do CPC. Se essa escolha trouxer um
prejuízo ao réu, por exemplo, a escolha do procedimento comum em detrimento do
especial não será possível.

Assim, sempre que restar configurada a possibilidade de prejudicar o réu, o autor não
poderá optar pelo rito comum.

Resp 816.402/RS:
EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE MÚTUO. SFH. CUMULAÇAO DE DEMANDA
SUJEITA A RITO COMUM COM PRETENSAO À CONSIGNAÇAO EM PAGAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. 3. A norma processual segundo a qual o autor pode optar pelo
procedimento comum mesmo havendo previsão de procedimento especial (2º do art.
292 do CPC), não é de aplicação universal. Ela supõe, em primeiro lugar, que o direito
material em função do qual se criou o procedimento especial seja compatível com o
rito comum; e, em segundo lugar, que o procedimento especial tenha sido
estabelecido apenas no interesse do autor, e não do réu. Ora, no caso da ação
consignatória, além de ter rito especialmente amoldado à satisfação específica do
direito material de liberar-se da obrigação, sua adoção, na forma como estabelecida
a partir da reforma processual de 1994, é também de interesse do réu, não só por lhe
ser facultado levantar antecipadamente os depósitos (CPC, art. 899, 1º), mas
sobretudo porque poderá, ao final, obter tutela jurisdicional em seu favor (art. 899,
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2º). Trata-se de ação dúplice, em que a tutela em favor do réu é dada


independentemente de reconvenção, o que não ocorre no procedimento comum.
Assim, porque prejudicial ao réu, já não dispõe o autor da faculdade de optar pelo
rito comum, ao exercer a sua pretensão de consignar em pagamento. 4. Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido.”

A parte apresentou embargos à execução ao invés de embargos de terceiro. E agora?

A matéria é tratada no art. 317 do CPC. Antes de proferir a decisão sem resolução do
mérito, o juiz deverá determinar a parte a correção do vício, sob pena de se violar o
Princípio da Prevalência da Decisão de Mérito.

Art. 317 do CPC: “Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o


juiz deverá conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o
vício.”

O que acontece com os procedimentos do CPC/73, tais como procedimento especial


de depósito, nunciação de obra nova e usucapião que foram extintos pelo CPC/2015?

Para os procedimentos que deixaram de existir no Novo CPC, o art. 1046, §1 do CPC
prevê que as disposições do CPC/73 se aplicarão às ações propostas e não sentenciadas
até o início da vigência do Novo CPC.

Como os procedimentos especiais exaurem sua especialidade com a prolação da


sentença, foi bem o dispositivo ao manter os procedimentos especiais revogados até
esse momento procedimental (prolação da sentença).

Para esses casos específicos, o CPC de 73 continuará em vigência além de 1 ano de


vacatio legis, desde que o processo tenha se iniciado sob a vigência do CPC anterior.

Quanto aos procedimentos especiais previstos na legislação extravagante, ou seja, fora


do Código de Processo Civil, o §2 do art. 1046 do Novo CPC estabelece que
permanecem, em vigor as disposições que os regulam, sendo a tais procedimentos
especiais aplicados supletivamente o Novo CPC.

#QUESTÃOPROVA – MPRJ - 2018:


“A cláusula geral de negociação processual prevista no art. 190 do CPC autoriza que
as partes convertam qualquer espécie de procedimento especial em procedimento
comum?”
Reposta Oficial: Deverá ser abordada a distinção de classificação entre os
procedimentos especiais, podendo eles, nesse particular, se subdividirem em: (i)
opcionais/facultativos ou (ii) obrigatórios. Imprescindível, ainda, a
contextualização normativa com referências, no mínimo, aos art. 190 e 327, par. 2
do CPC.

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 Aos PROCEDIMENTOS ESPECIAIS OPCIONAIS (ex: mandado de segurança, ações


possessórias, Juizados Especiais Civeis, ação monitória e etc) se aplicam
irrestritivamente as potencialidades decorrentes da cláusula geral de
negociação.
 Aos PROCEDIMENTOS ESPECIAIS OBRIGATÓRIOS (ex: inventário, interdição,
desapropriação, falência) conduzem um regime diverso da aplicação da
cláusula geral de negociação processual, não se aplicando em regra, a
conversibilidade, salvo se a ampliar a garantia do núcleo essencial que
diferencia e justifica o procedimento especiail; nos demais casos a
irredutibilidade ao procedimento comum é ABSOLUTA.

CASOS CONCRETOS:

QUESTÃO 1)

Em uma determinada demanda, a parte autora, munida de prova escrita sem título
executivo, a qual demonstra a existência de obrigação de pagar, optou por ingressar
com uma demanda pelo procedimento comum. Citada, a parte ré alegou que a
demanda deveria ser extinta, uma vez que a parte autora deveria ter ingressado
com procedimento monitório. Acerca da teoria geral dos procedimentos especiais
quanto à escolha do procedimento pela parte autora, decida a questão de forma
fundamentada.

Resposta:

O procedimento, em regra, não pode ser objeto de escolha pelos litigantes. Contudo,
no caso em tela, excepcionalmente, o demandante pode optar, pois o procedimento
especial da ação monitória é convertido em rito comum em dado momento da
demanda.

Esta hipótese, que ocorre na ação monitória, sugere que o procedimento especial não
é tão específico assim, de modo que o interessado poderia optar pelo mesmo ou já
diretamente pelo rito comum desde o seu limiar.

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Aula 2 - Prof. Rodolfo Hartmann


06/08/18

EMENTA:  Ação de Consignação em Pagamento.

 AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO:

A consignação é um mecanismo previsto na lei civil, de que pode se valer o devedor


que queira se desonerar-se e que esteja em dificuldades para o fazer: (i) seja porque
o credor recusa-se a receber ou a dar quitação; (ii) seja porque está em local
inacessível ou ignorado; (iii) seja ainda porque existem duvidas fundadas a respeito de
quem deve legitimamente receber o pagamento.

As hipóteses de consignação estão previstas no art. 335 do CC compreendendo:

 Recusa do credor em receber ou dar quitação;


 Impossibilidade do credor receber porque é incapaz;
 Dúvida a respeito de quem deva legitimamente receber;
 Existência de litígio sobre o objeto do pagamento.

O rol do art. 335 não é taxativo, pois a consignação será possível sempre que o devedor
quiser pagar e houver óbice para que o faça.

Quais os bens que podem ser consignados?

A consignação é feita com o deposito, que pode ser JUDICIAL ou EXTRAJUDICIAL, de


dinheiro ou de outro bem qualquer, que seja objeto da obrigação, podendo ser móvel
ou imóvel.

Exemplo: consignação de chaves de um imóvel, que o devedor pretende restituir e o


credor se recusa a receber.

Somente as obrigações de fazer ou não fazer que não podem ser extintas por
consignação.

Até que momento é possível requerer a consignação em pagamento?

A consignação em pagamento é cabível até quando há mora do credor, provocada pela


recusa em receber o pagamento ou em dar a quitação ou pela omissão em ir buscar o
pagamento, quando isso lhe competir.

Qual a diferença entre obrigação quesível (“quérable”) e obrigação portável


(portable)?

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A OBRIGAÇÃO QUESÍVEL é aquela em que incumbe ao credor mandar receber no tempo,


lugar e condições devidos, e ele não o faz.

A OBRIGAÇÃO PORTÁVEL é aquela em que a iniciativa é do devedor, que deve procurar


o credor, no tempo, lugar e condições devidos, para efetuar o pagamento.

As obrigações, via de regra, são quesíveis, salvo previsão contratual em sentido


contrário.

O devedor tem o direito de liberar-se da obrigação. Se a dívida é quesível e o credor


não o procura para receber, na forma convencionada, haverá a possibilidade de
consignar o pagamento. Se a obrigação é portável, ele só poderá consignar se, tendo
buscado o credor para fazer o pagamento, não conseguiu, seja porque houve recusa,
seja porque o credor está em local desconhecido.

Se o devedor estiver em mora ainda assim ele poderá consignar?

Mesmo em mora o devedor poderá consignar. Ele terá que oferecer ao credor o valor
da dívida, mais os encargos decorrentes da mora como juros e correção monetária.

Existem duas hipóteses em que o credor poderá recusar o pagamento, quais sejam:

(i) Quando o pagamento não for mais útil ao credor;


(ii) Quando o credor já tiver ajuizado ação em decorrência da mora.

É possível, em ação de consignação em pagamento, discutir a validade de uma


cláusula contratual abusiva?

SIM!!! A ação de consignação não tem por fim declarar a nulidade de cláusula
contratual, mas nela pode haver o reconhecimento incidenter tantum de um abuso
contratual, capaz de repercutir sobre o quantum debeatur.

 PROCEDIMENTO DA CONSIGNAÇÃO:

São dois os tipos de ação de consignação de pagamento:

(i) Ação Fundada na Recusa em Receber do Credor; e


(ii) Ação Fundada na Dúvida sobre a Titularidade do Crédito.

Passemos a análise de cada um dos procedimentos:

(i) CONSIGNAÇÃO FUNDADA NA RECUSA EM RECEBER:

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Qual o foro competente na ação de consignação fundada na recusa em receber?

Se a obrigação é portável, então, a ação deverá ser proposta no foro do domicílio do


réu (credor). Se a obrigação for quesível a ação deverá ser proposta no domicílio do
autor (devedor). A competência em ambas as hipóteses é relativa podendo ser
derrogada quando as partes instituírem outro foro.

Quem tem legitimidade ativa e passiva na ação de consignação?

Tem legitimidade ativa quem pode fazer o pagamento, ou seja, o devedor. Se tiver
falecido, o espólio, enquanto não tiver havido partilha, ou os herdeiros, depois dela.

O pagamento também pode ser feito por terceiro interessado ou por terceiro não
interessado, desde que o faça por conta e ordem do devedor (art. 304 do CC)

Tem legitimidade passiva aquele que pode receber e dar quitação, ou seja, o credor,
seus sucessores ou herdeiros.

É possível depósito extrajudicial?

O depósito extrajudicial só pode ter por obrigação em dinheiro. É opção do devedor,


que antes de ingressar em juízo, pode depositar o valor em estabelecimento bancário
situado no lugar do pagamento, em conta com correção monetária, cientificando o
credor por carta com aviso de recebimento.

Recebida a carta, o credor tem prazo de 10 dias para manifestar sua recusa. Não
havendo recusa, reputa-se o devedor liberado da obrigação, ficando o dinheiro
depositado a disposição do credor. Aqui não terá havido ação de consignação em
pagamento, mas apenas consignação extrajudicial.

Se houver recusa manifestada pelo credor, o devedor ou interessado deverá ajuizar a


ação de consignação em pagamento no prazo de 1 mês, instruindo a petição inicial
com a prova do deposito e da recusa pelo credor. O prazo de 1 mês corre da data em
que o devedor toma ciência da recusa pelo credor.

Caso a ação não seja proposta no prazo, o depósito fica sem efeito e poderá ser
levantado pelo devedor. Isso não impede que o devedor oportunamente oponha ação
de consignação. Não é possível ao devedor fazer nova consignação extrajudicial, do
mesmo valor, se ele já foi recusado pelo credor anteriormente.

Proposta a ação em 1 mês, o devedor está livre das consequências da mora, como
juros, salvo se a sentença for julgada procedente.

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Vejamos abaixo o procedimento da ação de consignação fundada na recusa em


receber:

 PETIÇÃO INICIAL: na PI o autor indicará quantia ou a coisa oferecida. O autor


poderá apresentar o deposito extrajudicial como anexo a PI ou poderá requerer
o deposito do valor ou da coisa em 5 dias. Nada impede que, em vez de requerer
o depósito, o autor já o comprove, no momento do ajuizamento da ação. Caso
esteja em mora, deve depositar o valor do débito com todos os encargos.

Em se tratando de PRESTAÇÃO SUCESSIVA, será possível sim a ação em


consignação de pagamento, nos termos do art. 541 do CPC.

Art. 541 do CPC: “Tratando-se de prestação sucessivas, consignada uma


delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo sem mais
formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 dias
contados da data do respectivo vencimento.”

Se forem 20 parcelas mensais, soma-se as parcelas, no limite de 12 meses, para


calcular o valor da causa, nos termos do art. 292 do CPC. Mesmo que a inicial
não fale das prestações periódicas, o juiz terá que analisar, nos termos do art.
323 do CPC. Lembrar que tem pedidos implícitos, que devem ser expressos na
sentença.

A consignação extrajudicial não se aplica quando houver dúvida sobre o credor


a receber.

Até que momento se pode fazer a consignação quando se tratar de parcelas


periódicas?

Há controvérsia sobre até quando as parcelas periódicas podem ser consignadas


no mesmo processo, se até a sentença ou até o trânsito em julgado.

Ainda há controvérsia no STJ, mas na maioria das seções prevalece o


entendimento de que pode haver a consignação ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO.

Se o juiz já deu sentença, e o credor continua recusando o recebimento do


pagamento, nesse caso, trata-se de SENTENÇA DETERMINATIVA que impõe uma
obrigação de trato sucessivo. Logo que se teve a sentença e o ato foi praticado
no mesmo modelo anterior, essa sentença é valida mesma para evento futuro.
O devedor deverá comunicar o juiz e poderá depositar o valor, por exemplo, na
conta do credor, mesmo sem a concordância do credor. Se foi algo que já foi
ajuizado não há necessidade de ação autônoma.

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 RECEBIMENTO INICIAL E CITAÇÃO DO RÉU: citação do réu somente será


determinada se o autor tiver feito o depósito da coisa ou valor devidos. Se não
tiver feito no momento da propositura da ação, o juiz lhe dará 5 dias para fazer.

A omissão do deposito implica extinção do processo sem resolução de mérito,


pois não há consignação sem oferta e o deposito daquilo que o devedor entende
devido.

O réu/ credor é citado para receber o valor ou a coisa depositada ou para


oferecer contestação. Se o credor for desconhecido deverá ser feita citação por
edital.

Se o credor (réu) aceitar o valor ou a coisa depositada, extingue-se o processo


com resolução do mérito, condenando o réu ao pagamento de custas e
honorários advocatícios.

 CONTESTAÇÃO:

Se o réu/credor não aceitar a oferta do autor/devedor, deverá oferecer


contestação em 15 dias. As principais matérias que o réu pode alegar em
contestação estão previstas no art. 544 do CPC. Esse rol não é taxativo,
podendo o réu/credor alegar outras matérias.

Admite-se a Reconvenção em ação de consignação em pagamento. Não há óbice


procedimental já que, feito o depósito, a consignação seguirá o procedimento
comum. Em caso de alegação de insuficiência de depósito, a consignação
seguirá o procedimento comum. Em caso de alegação de insuficiência de
depósito, a consignação será dúplice, o que tornará desnecessário ao
réu/credor reconvir para postular eventual diferença. A reconvenção poderá
ser apresentada para que o réu formule outras pretensões conexas, que não a
de condenação ao pagamento do saldo.

 INSUFICIÊNCIA DE DEPÓSITO: nos termos do art. 545 do CPC, o autor/devedor


intimado para manifestar-se sobre a alegação de insuficiência poderá
completar o depósito no prazo de 10 dias. Assim, pode ser que no meio do
caminho o devedor se convença que o valor correto a ser pago é o valor alegado
pelo credor/réu. Se o autor fizer o depósito do complemento, o juiz julgará
procedente a consignação e liberará o devedor, mas acarretará ônus de
sucumbência – custas e honorários advocatícios – ao autor devedor, já que o
valor por ele oferecido era mesmo insuficiente.

Outra peculiaridade da consignação em que a defesa estiver fundada na


insuficiência do deposito é que ela terá CARÁTER DÚPLICE.

Art. 545 do CPC: “Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor


completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação cujo
inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.

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§ 1 - No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a


coisa depositada, com a consequente liberação parcial do autor,
prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.
§ 2 - A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará,
sempre que possível, o montante devido e valerá como título executivo,
facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após
liquidação, se necessária.”

 FASE INSTRUTÓRIA E DECISÓRIA: julgada procedente a consignação, o juiz


declarará extinta a obrigação, condenando o réu ao pagamento de custas e
honorários advocatícios. O juiz poderá autorizar o réu ao levantamento da coisa
ou valor depositado, descontando-se aquilo que for devido ao autor em razão
de custas e honorários.

Se o juiz julgar improcedente a ação, o depósito inicial não terá efeito


liberatório e poderá ser levantado pelo autor, salvo nos casos de insuficiência,
em que o réu/credor poderá levantá-lo, havendo liberação parcial.

A sentença que acolhe a consignação é DECLARATÓRIA, pois se limita a declarar


a extinção da obrigação. Nos casos de insuficiência de depósito, ela terá
natureza declaratória, no que se refere à extinção parcial do débito, e caráter
condenatório, quanto ao saldo remanescente que puder ser apurado.

(ii) CONSIGNAÇÃO FUNDADA EM DÚVIDA QUANTO À TITULARIDADE DO CRÉDITO:

Nesse caso não há recusa do credor em receber, mas sim duvida a respeito de quem
tenha essa qualidade. A motivação para essa ação é afastar o risco de pagar a pessoa
errada, com o que não se obterá o efeito liberatório da obrigação.

Para que seja cabível essa ação é preciso que a dúvida seja razoável, séria e fundada.

Exemplo: com o falecimento do credor podem surgir dúvidas a respeito de quem seja
o legítimo sucessor;ou podem surgir questões decorrentes de uma cláusula obscura ou
mal redigida em um contrato, que não permita identificar a quem é devido o
pagamento.

Vejamos abaixo o procedimento da ação de consignação fundada em dúvida quanto à


titularidade do crédito.

 PETIÇÃO INICIAL: a ação será ajuizada em face de TODOS aqueles que tenham
a possibilidade de ser reconhecidos como credores. O autor/devedor deverá
fundamentar sua dúvida a respeito de quem deva ser o feito pagamento. O juiz
somente indeferirá a inicial, se inexistir dúvida sendo a titularidade do credito
evidente e indiscutível.

 DEPÓSITO E CITAÇÃO: se o autor não efetuar o depósito da quantia ou coisa já


de início, o juiz determinará que o faça em 5 dias. Somente depois, será
16
Emerj CPIII-A Processo Civil

determinada a citação dos réus. Se o deposito não for feito, o processo será
extinto sem resolução do mérito.

 RESPOSTAS DOS RÉUS: o art. 548 do CPC estabelece as várias posturas dos réus:

 Se nenhum dos réus/credores aparecer em juízo, a lei determina que o


deposito feito pelo autor converta-se em ARRECADAÇÃO DE COISAS VAGAS,
aplicando-se o procedimento do art. 746 do CPC. O deposito ficará para a
Fazenda Pública se não aparecer credor.

 Se apenas um dos potenciais credores aparecer em juízo reclamando a


coisa para si: os que não apareceram ficaram revéis, e o juiz presumirá que
aquele credor que apareceu é o verdadeiro credor. O juiz dará a sentença
reconhecendo o direito do credor levantar os valores.

 Se dois ou mais potenciais credores aparecem postulando o levantamento,


de acordo com o art. 548, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a
obrigação, continuando o processo unicamente entre os presuntivos
credores, (exclui-se do processo o autor) caso em que se observará o
procedimento comum. Para que o juiz libere o autor é preciso que o
deposito seja suficiente. Do contrário o autor será instado a complementá-
lo no prazo de 10 dias. Há divergência doutrinária sobre a natureza jurídica
desse ato que declara efetuado o depósito e extinta a obrigação. Parte da
doutrina sustenta que esse ato tem natureza de DECISÃO INTERLOCUTÓRIA,
sob fundamento de que o que se segue não é um novo processo, mas
continuação do anterior, o recurso adequado seria, portanto, o AGRAVO DE
INSTRUMENTO. Por outro lado, outra parte da doutrina entende que o ato
teria natureza de SENTENÇA, sendo, cabível, portanto, APELAÇÃO.

Entao, como visto acima, quando dois ou mais credores comparecem


reclamando o deposito, o juiz extinguirá a obrigação do devedor, e o
excluirá, prosseguindo-se apenas entre credores, para que se decida a
quem compete o levantamento. O juiz proferirá a sentença na qual não
apenas, liberará o devedor, como identificará a quem compete o
levantamento.

Por fim, destaca-se que a ação consignatória tem um procedimento que é considerado
pela jurisprudência um PROCEDIMENTO OPCIONAL. Tendo em vista que a parte pode
discutir valor, a jurisprudência entende que o autor pode discutir os valores no
procedimento especial ou no procedimento comum.

#IMPORTANTE:
 Ação de consignação em que o devedor quer só pagar (não se discute o valor)
– nesse caso tem-se uma ação consignatória em pagamento com
procedimento especial.
 Ação de Consignação em que se quer discutir o valor da obrigação – tem
precedente jurisprudencial no sentido de que, a critério do autor, ele poderá
pedir a revisão no procedimento comum ou no procedimento especial, quem
17
Emerj CPIII-A Processo Civil

define é o demandante. Salvo se cair na mão de um juiz que entenda que


terá que entrar com outra ação (ação revisional) para discutir os valores,
não podendo ser feito pela via da consignação.

TABELA DO CONCURSEIRO:

CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL CONSIGNAÇÃO JUDICIAL


 O devedor deposita a quantia devida  O devedor propõe ação de
em estabelecimento bancário oficial consignação em desfavor do credor ou
situado no lugar do pagamento, em dos possíveis credores, requerendo o
conta com correção monetária, depósito da quantia ou da coisa
cientificando-se o credor por carta devida, a ser efetivado no prazo de 5
com aviso de recebimento, assinado dias contados do deferimento.
prazo de 10 dias para a manifestação
de recusa.

CASOS CONCRETOS:

Questão 1)

Neusa ingressou com ação de revisão de financiamento cumulada com ação de


consignação em face do Banco Poupa a Jato S. A. Neusa está mensalmente
depositando judicialmente valor que entende devido acerca do financiamento o
qual pretende que seja revisionado. O Banco réu requereu o levantamento das
quantias depositadas, observando que, apesar de tratar-se de valores muito inferior
àqueles que entende devidos, trata-se de valores incontroversos. Decida a questão
de forma fundamentada.

Resposta:

Sim, em se tratando de valores incontroversos, o depósito poderá ser levantado, nos


termos do art. 545, par. 1 do CPC. A demanda prosseguirá em relação a discussão do
restante do valor.

18
Emerj CPIII-A Processo Civil
Aula 3 - Prof. Rodolfo Hartmann
06/08/18

EMENTA:  Ação Monitória.

 AÇÃO MONITÓRIA:

O procedimento da ação monitória gera um intenso debate acadêmico. A Ação


monitória está compreendida nos art. 700 ao 702 do CPC, sendo disciplinado como um
processo de conhecimento, só que um procedimento especial de jurisdição
contenciosa.

Qual o principal objetivo da ação monitória?

Esse procedimento tem por objetivo principal formar rapidamente um título executivo
judicial.

A ideia da monitória é permitir ao credor de uma obrigação de pagar, de entregar


coisa, ou de obrigação de fazer ou não fazer, que esteja munido de prova escrita não
dotada de força executiva, obter mais rapidamente o título executivo judicial, quando
o devedor não apresentar resistência.

É um PROCEDIMENTO ESPECIAL OPCIONAL. O professor entende que, via de regra, se a


lei estabelece um procedimento especial, este deverá ser abordado, de forma que não
se pode escolher o procedimento.

Existem, contudo, situações em que a própria lei permite escolha, tal como, no
procedimento de juizado especial cível, em que o autor pode escolher entre o juízo
cível e o juizado.

O procedimento monitório tem um procedimento especial no início e posteriormente


virá procedimento comum. Normalmente a jurisprudência, permite, em tais casos a
opção pelo demandante se quer seguir com o procedimento especial ou o procedimento
comum.

Esse procedimento da ação monitória não é tão específico assim, isso porque ele se
inicia como especial e depois ele se transforma em procedimento comum, logo, nesse
caso, o autor poderá escolher. É considerado, portanto, um procedimento opcional.

Aquele que propõe a ação monitória, pode ser credor de uma obrigação de pagar, ou
de uma obrigação de fazer ou não fazer.

O autor da monitória deverá ter em seu poder uma prova escrita sem força de título
executivo. A prova escrita não precisa ter necessariamente a assinatura do devedor,
mas tem que ter uma prova escrita.

19
Emerj CPIII-A Processo Civil

Atenção ao art. 785 do CPC, é novidade legislativa, em que a parte pode, mesmo com
um titulo executivo, abrir mão da execução e entrar com o ação de conhecimento. É
um artigo que na prática não se aplica.

Quais os requisitos da ação monitória?

O principal requisito é a PROVA ESCRITA. A ação monitória requer necessariamente


uma prova escrita.

Exemplo: cheque que perde a força executiva, ainda assim, é documento hábil para
que a parte entre com a ação monitória. O cheque não prescreve nunca, o que
prescreve é a força executiva do cheque, agora, mesmo sem força executiva, a
obrigação pode ser exigida em uma ação de conhecimento.

Súmula 299 do STJ: “É admissível a ação monitória fundada em cheque


prescrito.”

Súmula 247 do STJ: “O contrato de abertura de crédito em conta-corrente,


acompanhando demonstrativo do débito, constitui documento hábil para o
ajuizamento de ação monitória.”

Art. 700, §1 do CPC: A prova escrita pode consistir em prova oral


documentada, produzida antecipadamente nos termos do art. 381.”

Já tem orientação do STJ admitindo como prova escrita até mesmo conversa em e-
mail para efeitos de ação monitória.

Quem figura no polo ativo da ação monitória?

Pode figurar no polo ativo da ação monitória tanto pessoa física quanto pessoa jurídica.

Quem figura no polo passivo da ação monitória?

No CPC/73 entendia-se que não era cabível ação monitória contra incapaz, isso porque
teria que ter curador, MP e etc, e que supostamente essas circunstancias tirariam a
velocidade do procedimento monitório.

Nos termos do art. 700, caput, do CPC a monitória somente compreende DEVEDOR
CAPAZ.

É possível ação monitória em desfavor da Fazenda Pública?

Sim!!! Nesse sentido é a Súmula 339 do STJ e o art. 700, § 6 do CPC.


20
Emerj CPIII-A Processo Civil

Súmula 339 do STJ: “É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública”

Art. 700, § 6 do CPC: “É adimissivel ação monitória em face da Fazenda


Pública.”

 PROCEDIMENTO DA AÇÃO MONITÓRIA:

Petição inical deve observar os requisitos do art. 319 do CPC. Destaca-se que a
audiência de conciliação não é prevista no procedimento da ação monitória. O juiz
poderá até designar em razão do caso concreto, mas não é obrigatório.

Súmula 531 do STJ: “Em ação monitória fundada em cheque prescrito,


ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico
subjacente à emissão da cártula.”

O procedimento é mais simplificado no que diz respeito a petição inicial, não há


necessidade de discutir o fato gerador do título de crédito.

O juiz em um primeiro momento poderá determinar a emenda da inicial, indicando


precisamente o que deverá ser corrigido. Se a parte não emendar a petição, o juiz
proferirá a sentença de indeferimento (sentença terminativa – art. 485 do CPC). O juiz
poderá julgar também pela improcedência liminar (art. 332 do CPC – sentença de
mérito pelo art. 487 do CPC).

Se tudo correr na normalidade, o juiz vai dar o cite-se (natureza de despacho) e nesse
mesmo momento ele também estará expedindo o MANDADO INICIAL, que consiste em
ORDEM para o devedor cumprir a obrigação.

Qual a natureza jurídica dessa ordem?

Existe discussão sobre a natureza jurídica dessa ordem.

CORRENTE 1) Parte da doutrina entende que essa ordem tem natureza jurídica de
“SENTENÇA” – com fundamento no art. 9 do CPC que cria três exceções em que o
contraditório prévio é mitigado.

Art. 9 do CPC: “Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que
ela seja previamente ouvida.
Parágrafo Único: o disposto no caput não se aplica:
III – à decisão prevista no art. 701.”

CORRENTE 2) Parte da doutrina, inclusive o prof. Hartmann, entende que o mandado


inicial não tem natureza de sentença, mas sim de DECISÃO INTERLOCUTÓRIA e a partir
dai o réu seria citado.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

É possível citação por edital na ação monitória?

SIM!!! A sumula 414 do STJ entende que cabe citação por edital em ação monitória,
portanto, todas as modalidades de citação são possíveis.

Qual o nome da defesa na ação monitória?

A defesa em sede de ação monitória é chamada de EMBARGOS MONITÓRIOS. Se o


devedor não apresentar os embargos no prazo de 15 dias, pelo CPC art. 701, § 2, esse
ato já virá título executivo.

Esses embargos monitórios devem ser oferecidos independentemente de garantia do


juízo.

O devedor terá 15 dias para pagar, parcelar ou embargar. Se apresentar embargos, os


embargos monitórios ficam dentro dos mesmos autos. O embargo monitório, nos
termos do art. 702 do CPC, deve ser apresentado na forma de contestação.

Notem que os embargos à execução são diferentes, pois eles ficam em apenso porque
criam um novo processo, um processo de conhecimento. Esses embargos à execução
têm forma de petição inicial.

Se o devedor quiser cumprir a obrigação, ele terá como estímulo ISENÇÃO APENAS DE
CUSTAS. Cumprindo a obrigação em 15 dias o devedor fica desonerado das custas, mas
ainda assim TERÁ QUE PAGAR OS HONORÁRIOS, nos termos do art. 701, par. 1 do CPC.

Dentro dos 15 dias, o devedor poderá fazer uma proposta de parcelamento do


pagamento. O credor será consultado sobre esse parcelamento.

Note que já existe previsão legal expressa de parcelamento no caso de execução, 30%
a vista e 6 parcelas mensais sucessivas, nos termos do art. 916 do CPC.
Independemente do juiz deferir o pedido de parcelamento, a parte tem que
providenciar o pagamento das parcelas, porque as vezes o juiz demora a decidir.

O art. 916, § 7 do CPC prevê que o disposto no artigo não se aplica a cumprimento de
sentença, mas permite esse mesmo parcelamento em monitória.

É cabível parcelamento do art. 916 do CPC em ação monitória e na execução de título


extrajudicial, mas não é cabível esse parcelamento em execução de sentença.

Se não apresentar os embargos monitórios a sentença na ação monitória não tem


julgamento, ela apenas converte o mandado inicial em título executivo.

22
Emerj CPIII-A Processo Civil

Existe revelia em sede de ação monitória se o devedor não apresentar os embargos


monitórios?

Na ação monitória não existe o fenômeno revelia, porque se o devedor não apresentar
os embargos, o juiz não julga. Aqui trata-se do fenômeno da CONTUMÁCIA, ou seja, o
demandado não apresentou embargos monitórios, não há presunção de veracidade a
favor do autor. A contumácia gera como consequência a conversão do mandado inicial
em executivo, que os juízes estão fazendo por sentença e que o CPC diz que não
precisa, nos termos do art. 701, §2 do CPC.

Depois que o réu apresenta os embargos, o procedimento especial vai ser convertido
em procedimento comum, em que se verificará a réplica, julgamento antecipado do
mérito, saneamento, AIJ e caminha-se para a sentença ser proferida.

É cabível reconvenção na ação monitória?

A RECONVENÇÃO é uma ação conexa. A reconvenção é cabível na mesma peça da


contestação, só que o texto da reconvenção, mesmo dentro da contestação, tem que
ter “cara” de petição inicial, inclusive, com valor dado a causa na reconvenção. No
mesmo processo tem-se duas ações e dois pedidos. A reconvenção gera o fenômeno da
cumulação de pedidos.

Se perder o prazo da reconvenção é cabível uma petição inicial de ação conexa com
distribuição por dependência.

Se for apresentada reconvenção na ação monitória é porque o procedimento especial


converterá em procedimento comum, nos termos do art. 327 do CPC. Resultado prático
tudo vai virar procedimento comum.

Súmula 292 do STJ: “Reconvenção é cabível na ação monitória após a


conversão em procedimento ordinário.”

Art. 702, § 6 do CPC: “Na ação monitória admite-se a reconvenção, sendo


vedado oferecimento de reconvenção à reconvenção.”

A apresentação dos embargos gera a suspensão da decisão do art. 701. Uma vez
apresentado os embargos, o autor terá 15 dias para se manifestar e aí segue o rito do
procedimento comum. Ao final o juiz proferirá uma sentença, sendo cabível apelação.

É cabível ação rescisória nas ações monitórias?

Sim!! É cabível AÇÃO RESCISÓRIA, nos termos do art. 701, §3 do CPC.

23
Emerj CPIII-A Processo Civil

TABELA DO CONCURSEIRO:

ATITUDES RÉU CONSEQUÊNCIAS


Paga ou efetua  O réu que, cumprindo espontaneamente a obrigação, ficará
entrega do bem isento do pagamento de custas processuais (art. 701, par. 1 do
CPC)

Mantem-se inerte  Haverá a conversão automática do mandado monitório em


título executivo judicial (art. 701, par. 8 do CPC)

Apresenta  Uma vez apresentados os embargos ao mandado monitório,


embargos que independem de garantia do juízo e são processados nos
mesmos autos, o rito se converte automaticamente em
procedimento comum (art. 702 do CPC).

 SÚMULAS AÇÃO MONITÓRIA:

SÚMULA REDAÇÃO
Súmula 531 STJ  Em ação monitória fundado em cheque prescrito ajuizada
contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico
subjacente à emissão da cártula.

Súmula 504 STJ  O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do


emitente de nota promissória sem força executiva é
quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.

Súmula 503 STJ  O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do


emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a
contar do dia seguinte à data de emissão estampada na
cártula.

Súmula 384 STJ  Cabe ação monitória para haver saldo remanescente oriundo
de venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente.

Súmula 339 STJ  É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública.

Súmula 299 STJ  É admissível ação monitória fundada em cheque prescrito.

Súmula 292 STJ  A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão


do procedimento em ordinário.

Súmula 282 STJ  Cabe a citação por edital em ação monitória.

Súmula 247 STJ  O contrato de abertura de crédito em conta corrente,


acompanhado do demonstrativo de débito, constitui
documento hábil para ao ajuizamento da ação monitória.

CASOS CONCRETOS)

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Questão 1)

Renata, servidora pública, ingressou com ação monitória em face da Fazenda


Pública pleiteando determinado crédito, trazendo aos autos prova escrita sem
eficácia de título executivo. A Fazenda não apresentou Embargos à ação monitória.
Responda fundamentadamente as seguintes questões:
A) Pode ser proposta ação monitória em face da Fazenda Pública?
B) Como deverá proceder o magistrado diante da não manifestação da Fazenda
Pública? Caso a Fazenda tivesse interposto Embargos à ação monitória tempestivos,
o que aconteceria com a demanda?

Resposta:

A – Sim, é possível ação monitória em face da Fazenda, nos termos da Súmula 339 do
STJ e art. 700, par. 6 do CPC.

B – Nos termos do art. 701, par. 4 do CPC a não manifestação da Fazenda implica na
constituição de título executivo judicial, independetemente de formalidade, sendo
certo que deverá ser observada a regra da remessa necessária nos termos do art. 496
do CPC. Se a Fazenda apresentar embargos suspenderá a eficácia da decisão até o
julgamento.

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Emerj CPIII-A Processo Civil
Aula 4 - Prof. Alexandre Câmara
30/07/18

EMENTA:  Ações Possessórias.

 AÇÕES POSSESSÓRIAS ou INTERDITOS POSSESSÓRIOS:

Inicialmente precisamos distinguir os conceitos de:

(i) Direito de posse; e


(ii) Direito à posse.

O DIREITO DE POSSE consagra que a posse como um direito subjetivo. A própria posse
é uma posição jurídica que merece ser protegida. O direito de posse é chamado pelos
civilistas de IUS POSSESSIONIS.

Por sua vez, o DIREITO À POSSE consagra o direito de se tornar possuidor. O direito à
posse é chamado de IUS POSSIDENDIS.

A posse é um fato ou é um direito?

Existe um fato chamado posse e existe um direito chamado posse. Todo direito
subjetivo se origina de um fato. Esse fato que enseja a origem ao direito é chamado
de fato constitutivo de um direito, ou seja, é o fato do qual o direito se origina.

A questão aqui é que o fato “posse” é constitutivo do direito de posse. O direito de


posse (ius possessionis) é um direito que merece proteção. A posse é um fato, mas a
posse também é um direito, logo do “fato posse” se origina o “direito de posse”. Quem
trouxe esse conceito foi Ihering.

As AÇÕES POSSESSÓRIAS são mecanismos processuais que tutelam o DIREITO DE POSSE.


Isso é chamado pelos civilistas de IUS POSSESSIONIS.

As AÇÕES PETITÓRIAS, por sua vez, são mecanismos que tutelam o DIREITO À POSSE.
Isso é chamado pelos civilistas de IUS POSSIDENDIS.

Nesse sentido, por influência do Ihering, estabelecemos uma separação absoluta entre
os processos possessórios e os processos petitórios.

Qual a diferença entre processos possessórios e processos petitórios?

Nos processos possessórios não se pode discutir o ius possidendis, neles só se discute o
ius possessiones.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Assim, nos processos possessórios não se discute o direito a posse, só se discute o


direito de posse. Nos processos possessórios não se discute propriedade, só se discute
posse.

A ação, para ser qualificada como possessória, tem de estar fundada na posse do autor,
que foi, está sendo, ou encontra-se em vias de ser agredida. Não interessa se o bem é
propriedade dele, mas se ele tem ou teve posse, e se ela lhe foi tirada de forma
indevida.

O réu pode alegar usucapião como defesa em uma ação possessória?

Nos processos possessórios a usucapião não pode ser alegada como defesa, pois nos
processos possessórios não se pode alegar propriedade.

Assim, a usucapião como forma de forma de defesa pode ser alegada nos processos
petitórios, mas não nos processos possessórios.

AÇÕES POSSESSÓRIAS AÇÕES PETITÓRIAS


 Direito de Posse;  Direito à Posse;
 Ius Possessionis; e  Ius Possidendis; e
 Propriedade não pode ser alegada  Propriedade pode ser alegada na
como forma de defesa. ação petitória.

Art. 557 do CPC: “Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao


autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto
se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a
alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa.”

Em relação ao art. 557 do CPC cumpre destacar o Enunciado 65 do FPPC:

Enunciado 65 do FPPC: O art. 557 do projeto não obsta a cumulação pelo


autor da ação reivindicatória e da ação possessória, se os fundamentos
forem distintos.

Quais as espécies de ações possessórias existentes no nosso ordenamento jurídico?

Existem três espécies de ações possessórias, quais sejam:

1. Interdito Proibitório;
2. Ação de Reintegração de Posse; e
3. Ação de Manutenção de Posse.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

O ajuizamento dessas ações irá depender de se tratar de: (i) LESÃO ou (i) AMEAÇA DE
LESÃO à posse.

Em breve síntese, se o caso for de “ameaça de lesão à posse” deverá ser ajuizada a
ação de Interdito Proibitório. Contudo, se o caso for de “lesão concreta a posse”,
então, deverá ser ajuizada a Ação de Reintegração de Posse ou Ação de Manutenção
de Posse.

Assim, o que permite identificar qual a ação adequada é o tipo de agressão que a posse
sofreu.

Quais os tipos de agressão que a posse pode sofrer?

A posse pode sofrer três tipos de agressão. Vejamos:

(i) ESBULHO: ocorre a perda do bem pela vítima para o autor da agressão. Exemplo:
invasão de terra em que o possuidor é expulso da coisa;

(ii) TURBAÇÃO: pressupõe a prática de atos materiais concretos de agressão à posse,


mas sem desapossamento da vítima. Exemplo: agressor que entra
frequentemente no terreno da vítima para roubar frutas ou agressor que destrói
o muro do imóvel da vítima.

(iii) AMEAÇA: não há atos materiais concretos, mas o agressor manifesta a intenção
de consumar a agressão. Exemplo: sem terras que se postam na frente de fazenda
com armas ameaçando invadir o imóvel.

Vejamos abaixo cada uma das modalidades de ações possessórias:

O INTERDITO PROIBITÓRIO é o tipo adequado de ação possessória quando ainda não


houve agressão, ou seja, quando houve tão somente a AMEAÇA à posse. Tem, portanto,
um caráter preventivo e não repressivo.

O autor não pedirá ao juiz a expedição de mandado possessório, mas sim a fixação de
multa, de forma a desanimar o réu de perpetrar a agressão que ele ameaça realizar.

Destaca-se que a ameaça tem que ser séria, a ponto de provocar o temor fundado de
injusta agressão à posse.

Exemplo: A é fazendeiro e verifica a formação de um grupo de sem terras ao lado de


sua fazenda se movimentando no sentido de que irão invadir suas terras. A posse já
está sendo ameaçada, logo, “A” pode tomar uma medida preventiva para se proteger
da ameaça de agressão à posse. Ele pode demandar uma medida que proíba os sem-
terras de invadir a fazenda. Como aqui o que se busca é uma proibição, essa demanda
ficou conhecida como INTERDITO PROIBITÓRIO. Esse interdito é preventivo, ou seja, o
réu está proibido de causar uma lesão à posse de alguém.
28
Emerj CPIII-A Processo Civil

A MULTA COMINATÓRIA é o pedido principal nas ações de interdito proibitório, cujo


caráter é sempre preventivo, já que só há uma ameaça.

Agora, pode acontecer também do fazendeiro somente se dar conta do problema


depois de a lesão ter se concretizado, ou seja, depois da invasão dos sem-terra ter
ocorrido. Aqui não adiantam medidas preventivas, aqui buscam-se medidas repressivas
pois a lesão à posse já ocorreu.

Nessas situações a posse pode sofrer dois tipos de lesão já mencionadas acima:

(i) ESBULHO: perda total da posse; e


(ii) TURBAÇÃO: perda parcial.

Esses dois conceitos muitas vezes se confundem. A forma de não confundi-los é se fazer
uma análise qualitativa e não quantitativa dos mesmos.

Qual a diferença em termos qualitativos entre esbulho e turbação?

Para entender a diferença entre esbulho e turbação vejamos os seguintes exemplos:

Exemplo 1: A tem uma fazenda. B invadiu e ocupou apenas um pedaço da fazenda. Isso
é esbulho porque A perdeu por completo a posse desse pedaço da fazenda. Mesmo que
B não tenha ocupado a fazenda inteira, em relação à área ocupado, o “A” perdeu
totalmente a posse. Assim, verifica-se que o ESBULHO não tem que ser sobre o terreno
inteiro de A, pode ser sobre apenas parte da propriedade, mas desde que não se tenha
mais a posse completa daquela área esbulhada. Nesse caso, será cabível Ação de
Reintegração de Posse.

Exemplo 2: A tem uma fazenda com um pasto e vários bois nesse pasto. O vizinho
também cria gado, e resolveu arrebentar a porteira da fazenda de A de forma que sua
boiada entrou no pasto de A e ocupou todo o pasto de A. Com a invasão, no pasto de
A agora tem cabeças de gado tanto de A quanto do vizinho. Veja que, nesse exemplo,
apesar do vizinho estar exercendo a posse no terreno inteiro (tem boi do vizinho no
terreno inteiro de A), o vizinho está exercendo a posse junto com o dono, logo será
caso de TURBAÇÃO e não de esbulho. Aqui será cabível Ação de Manutenção de Posse.

Em síntese:

 Se houve ESBULHO e o indivíduo ficou sem posse (mesmo que não seja de toda
a propriedade ou coisa), será cabível AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.

 Se houve TURBAÇÃO e o indivíduo tem alguém exercendo a posse junto com


ele, perturbando ele, será cabível AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE.

29
Emerj CPIII-A Processo Civil

TIPO DE AÇÃO POSSESSÓRIA TIPO DE AGRESSÃO À POSSE


INTERDITO PROIBITÓRIO  Ameaça de lesão à posse
 Caráter Preventivo
 Multa Cominatória
REINTEGRAÇÃO DE POSSE  Lesão concreta à posse
 Caráter Repressivo
 Ocorre em caso de ESBULHO (perda da
posse)

MANUTENÇÃO DA POSSE  Lesão concreta à posse


 Caráter Repressivo
 Ocorre em caso de TURBAÇÃO (exercício
conjunto e indevido da posse – não há perda
da posse)

Ainda sobre o tema abaixo segue tabela sobre a distinção entre ação de força nova e
ação de força velha.

 PECULIARIDADES CABÍVEIS AS 3 AÇÕES POSSESSÓRIAS:

Vejamos abaixo algumas peculiaridades em relação as ações possessórias:

1. FUNGIBILIDADE:

A matéria está tratada no art. 554 do CPC. Diante da possível dúvida sobre a natureza
da agressão à posse, o legislador optou por considerar fungíveis as ações possessórias.

Assim, nos termos do art. 554 do CPC, essas 3 ações são fungíveis entre si, ou seja, se
ajuizar a ação possessória errada, o juiz dará continuidade ao processo. Contudo, essa
fungibilidade só existe entre ações possessórias.

Art. 554 do CPC: “A propositura de uma ação possessória em vez de outra


não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.”

A fungibilidade consiste, portanto, em uma flexibilização do princípio da adstrição do


juiz ao pedido, permitindo que o juiz conceda medida diversa da postulada.

A fungibilidade ocorrerá basicamente em duas circunstâncias:

(i) Quando a parte qualificar a agressão de determinada maneira e o juiz


entender que a qualificação adequada é outra;
(ii) Quando no curso do processo um tipo de agressão se transformar em outro.

Note que se entrar equivocadamente com ação petitória quando na verdade deveria
ser ação possessória, nesse caso, não há falar em fungibilidade.

30
Emerj CPIII-A Processo Civil

2. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS:

A questão da cumulação de pedidos nas ações possessórias está prevista no art. 555 do
CPC, sendo permitido ao autor da ação cumular ao pedido possessório os seguintes
pedidos:

 Reparação de Danos:
 Indenização dos Frutos; e
 Imposição de Medida para evitar novas agressões à posse: multa cominatória.

O que há de peculiar é que haverá cumulação de pedidos sem prejuízo do procedimento


especial, sem que o autor possa postular a liminar possessória que será estudada mais
adiante.

Art. 555 do CPC: “É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:


I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida
necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.”

Cumulação que não importa perda da Cumulação que importa em adoção do


especialidade do procedimento procedimento ordinário

Nos termos do art. 555 do CPC, é lícito Cumulação de qualquer outro pedido, a
ao autor cumular ao pedido possessório o exemplo do pedido possessório com o
de: pedido de rescisão contratual.
I – condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos;
III – cominação de pena para caso de nova
turbação ou esbulho;
IV – cominação de pena para
cumprimento da tutela provisória ou
final.

3. NATUREZA DÚPLICE:

O art. 556 do CPC permite ao réu, na contestação, alegar que foi ofendido em sua
posse, demandando proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes
da turbação ou esbulho cometido pelo autor.

Esse dispositivo atribui as ações possessórias CARÁTER DÚPLICE pois autoriza o réu a
formular pedidos contra o autor, na contestação, sem reconvir.

Exemplo: divisas entre 2 imóveis não são muito claras. O autor acha que está sendo
esbulhado, e o réu, por sua vez, pensa que é o autor quem está desrespeitando as
31
Emerj CPIII-A Processo Civil

divisas. Proposta a ação, o réu, na contestação, pode alegar que é a vítima, e postular
ao juiz que conceda a ele a reintegração de posse. O réu poderá cumular na
contestação os pedidos indicados no art. 555 do CPC, só não poderá pedir liminar, já
que o procedimento somente permite que seja postulado pelo autor.

É cabível reconvenção nas ações possessórias?

Em regra, não caberá reconvenção na ação possessória, em razão justamente do


caráter dúplice. Mas não se pode afastá-la quando o réu formular contra o autor algum
pedido, que preencha os requisitos do art. 343 do CPC, mas não esteja entre aqueles
do art. 555 do CPC.

Exemplo: o réu poderá reconvir para postular rescisão ou anulação do contrato.

4. EXCEÇÃO DO DOMÍNIO:

A Exceção do Domínio consiste na possibilidade de o réu se defender, com êxito, na


ação possessória, alegando a qualidade de proprietário do bem.

Não é possível em nosso ordenamento jurídico, em nenhuma circunstância, a exceção


do domínio, e o réu não pode, com sucesso, defender-se invocando a sua condição de
proprietário. O juiz deverá ater-se à posse, sem pronunciar-se a respeito da
propriedade. Está superada, portanto, a Súmula 487 do STF.

5. IMPOSSIBILIDADE DE, NO CURSO DA POSSESSÓRIA, SER INTENTADA AÇÃO DE


RECONHECIMENTO DE DOMÍNIO:

O art. 557 do CPC estabelece que na pendência de ação possessória é vedado, tanto
ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a
pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.”

Esse dispositivo mostra a preocupação do legislador em separar o juízo possessório do


juízo petitório.

Assim, na pendencia da ação possessória – portanto – desde o seu ajuizamento até o


trânsito em julgado – não se admite ação de reconhecimento de domínio, envolvendo
as mesmas partes. Verifica-se que a proibição é temporária: concluída a ação
possessória, aquele que quiser propor ação dominial poderá fazê-lo. Mas se o fizer,
pendente a possessória, o processo será extinto sem resolução do mérito.

Exemplo: A é possuidor de um bem e B é o proprietário. Se B quiser reaver o bem


deverá propor ação reivindicatória em face de A. Mas, se B, em vez disso, for até o
imóvel e toma-lo a força, A poderá ajuizar contra ele ação possessória, porque B,
embora proprietário, perpetrou esbulho. Não adianta B alegar em sua defesa a sua
condição de dono, já que não mais se admite a exceção do domínio no Brasil. Ele não
poderá ajuizar ação reivindicatória contra A, enquanto a possessória estiver pendente.
32
Emerj CPIII-A Processo Civil

Comprovado o esbulho, o juiz acolherá a possessória e mandará B restituir o bem a A.


Só então, B poderá ajuizar, em face de A, ação reivindicatória para reaver a coisa por
meios legítimos.

 PROCEDIMENTO DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS:

Existem dois tipos de ação possessória: (i) a de FORÇA NOVA e (ii) FORÇA VELHA.

Adotamos no Brasil um sistema que distingue entre ações possessórias de (i) FORÇA
NOVA (procedimento especial) e (ii) FORÇA VELHA (procedimento comum).

Qual a diferença entre ações possessórias de força nova e de força velha?

Dizer que uma ação é de FORÇA NOVA é dizer que ela seguirá o PROCEDIMENTO
ESPECIAL. Isso significa que ela terá um procedimento diferente do comum. A
diferença é só uma: no procedimento especial das ações possessórias de força nova
existe a previsão de uma MEDIDA LIMINAR (ocorre no começo do processo).

Dizer que uma ação é de FORÇA VELHA é dizer que ela irá seguir o PROCEDIMENTO
COMUM.

Nos termos do art. 558 do CPC, o que definirá se uma ação possessória é de força nova
ou força velha é o PRAZO.

Se a ação possessória for proposta dentro do prazo de 1 ano e 1 dia – inclusive (contado
da data que ocorreu o esbulho ou turbação), será uma ação possessória de força nova
e seguirá o procedimento especial.

Se a ação possessória for proposta depois do prazo de 1 ano e dia (ou seja após o prazo
de 1 ano e 2 dias) será caso de ação possessória de força velha e seguirá o procedimento
comum.

Se a data do esbulho for 30 de julho de 2018, a ação possessória força nova pode ser
proposta até 31 de julho de 2019. A partir de 1 de agosto de 2019 será ação possessória
por força velha.

Art. 558 do CPC: “Regem o procedimento de manutenção e de reintegração


de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta
dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o
procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.”

O transcurso do prazo de 1 ano e 1 dia não tem relevância na qualificação da posse,


mas sim no procedimento da ação possessória. Isso porque passado o prazo não mais
seguirá o procedimento especial, mas sim o procedimento comum.

33
Emerj CPIII-A Processo Civil

Porque nas ações possessórias por força nova tem-se a figura da LIMINAR?

A ação por força nova é aquela intentada dentro do prazo de 1 ano e 1 dia da data do
esbulho ou turbação. O que caracteriza é o procedimento especial, em que há a
possibilidade de LIMINAR PRÓPRIA, com requisitos específicos.

O que torna especial o procedimento na ação possessória de força nova é a fase inicial,
com a possibilidade de deferimento de liminar, que pode ser concedida de plano ou
após a audiência de justificação.

A LIMINAR das ações possessórias por força nova é tratada no art. 561 e 562 do CPC.

Nos termos do art. 561 do CPC o autor tem que provar a posse, ou seja, ele tem que
provar que sofreu o esbulho ou turbação e que isso aconteceu em até 1 ano e 1 dia. Se
a prova documental é suficiente para provar isso tudo, será muito provável que o autor
tenha razão. Se o autor conseguir provar tudo isso na petição inicial por meio de
documentos, o juiz deverá, desde logo, deferir a reintegração de posse, mesmo sem
ouvir o réu.

Se a prova documental que acompanhou a inicial foi insuficiente para a formação de


um juízo de fortíssima probabilidade, o juiz deverá indeferir a liminar e, na sequência,
marcar a AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO.

Quando pode ser deferida a liminar?

A liminar típica das ações possessórias é deferida sempre antes da ouvida do réu, ANTES
QUE TENHA TIDO A OPORTUNIDADE DE OFERECER RESPOSTA.

A liminar poderá ser deferida:

 DE PLANO: assim que apresentada a inicial desde que esteja instruída e


comprovados os requisitos do art. 561 do CPC, ou seja, se o autor provar a sua
posse, a turbação ou esbulho praticado pelo réu, a data da turbação ou esbulho,
a continuação da posse ou da perda da posse. A liminar será dada antes que o
réu seja citado.

Diante do exposto no art. 564 do CPC não se realiza, na ação possessória de


força nova, a audiência preliminar de conciliação, e o prazo para a contestação
começa a contar, não havendo audiência de justificação da posse, da juntada
aos autos do aviso de recebimento ou mandado de citação cumpridos.

Não é muito comum que a liminar seja deferida de plano pois tendo a posse
aspectos fáticos, nem sempre é possível, com a inicial, trazer todos os
elementos para o convencimento do juiz.

34
Emerj CPIII-A Processo Civil

 APÓS A AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO: se o juiz quiser maiores esclarecimentos


para apreciar a liminar será designada audiência de justificação. Sua finalidade
é dar ao autor a oportunidade de produzir provas dos requisitos da medida
liminar. Com frequência, somente com prova oral se poderá apurar se o autor
tem ou teve mesmo a posse.

Pode o juiz indeferir de plano a liminar?

Não. O juiz ou irá deferir a liminar ou deverá marcar necessariamente a audiência de


justificação. Nessa audiência somente o autor leva testemunha. O CPC determina que
o réu seja citado antes, assim o réu pode participar da audiência, mas ele não pode
levar as testemunhas dele. É uma audiência unilateral, somente se ouve o autor. Isso
não ofende o contraditório, pois oportunamente o réu será ouvido, e terá oportunidade
de se manifestar. Haverá contraditório diferido.

Realizada a Audiência de Justificação e colhida essa prova testemunhal, o juiz deverá


deferir ou indeferir a liminar. O juiz pode deferir a liminar sem a audiência, mas se
não houver elementos suficientes para provar, o juiz deve marcar a audiência de
justificação.

Pode o juiz determinar a audiência de justificação de ofício ou somente diante de


requerimento pelo autor?

Há controvérsia na doutrina a respeito, mas prevalece o entendimento de que, se


houve o requerimento de liminar, está implícito o pedido de que o juiz, caso não a
conceda de plano, designe a audiência de justificação.

Nos termos do Ag 113.817/SP, ainda que o autor não peça expressamente a audiência
de justificação, o juiz poderá designá-la, sem que sua decisão seja extra petita.

Cabe recurso da decisão que indeferir a liminar?

A liminar é apreciada em decisão interlocutória, logo o recurso adequado será o


AGRAVO DE INSTRUMENTO (art. 1015, I do CPC).

Caso a liminar seja deferida, o réu poderá postular ao relator que conceda efeito
suspensivo; caso a liminar seja indeferida, caberá ao autor pedir o efeito ativo.

Interposto o agravo o juiz poderá sempre fazer o juízo de retratação.

De quando começa a contar o prazo para a contestação do réu?

35
Emerj CPIII-A Processo Civil

O prazo para contestar será de 15 dias a partir da JUNTADA DO AVISO DE RECEBIMENTO


OU MANDADO DE CITAÇÃO CUMPRIDO, quando não houver justificação prévia; ou a
PARTIR DA INTIMAÇÃO DO RÉU a respeito da decisão sobre a liminar, se a audiência
tiver sido realizada.

A única particularidade do procedimento especial é a fase inicial, até a contestação.


A partir dela, o procedimento será o comum, em caso de acolhimento do pedido, o
juiz determinará a expedição de mandado de reintegração ou manutenção de posse.

Qual a natureza jurídica da liminar na ação possessória de força nova?

Essa liminar é uma forma de proteger o autor, mas não é a proteção definitiva, isso é
tutela provisória, essa liminar não exige a demonstração de urgência.

Assim, a NATUREZA JURÍDICA dessa liminar concedida no âmbito de uma ação


possessória de força nova é de TUTELA DE EVIDÊNCIA.

Qual a diferença entre (i) a liminar em uma tutela de urgência e (ii) liminar deferida
em uma ação possessória de ação nova?

A liminar deferida na ação possessória de força nova, conquanto antecipe a providência


possessória postulada, tem requisitos muito diferentes da tutela antecipada genérica
prevista na Parte Geral.

A tutela antecipada genérica exige a verificação dos elementos que evidenciem o


fumus boni iuris e o periculum in mora. Sem esses requisitos, a tutela será negada.
Como se exige risco de dano, essa medida é considerada tutela de urgência.

Já a liminar possessória não exige perigo nem urgência, mas somente que o autor
demonstre, em cognição sumária, que tinha a posse e foi esbulhado ou turbado, há
pelo menos 1 ano e 1 dia.

OBS: No interdito proibitório não se fala em força nova ou força velha e por isso, no
interdito sempre se aplicará o procedimento especial. Art. 568 do CPC. Consiste em
um dever jurídico de não fazer, sendo aplicável, inclusive, multa.

AÇÃO DE FORÇA NOVA AÇÃO DE FORÇA VELHA


 Ação intentada dentro do prazo de  Ação intentada depois do prazo de 1 ano
1 ano e 1 dia do ato violador da e 1 dia do ato violador da posse;
posse;  Segue o rito comum, não perdendo,
 Segue o rito especial (art. 554 e contudo, o caráter possessório;
seguintes do CPC);  Para a concessão da tutela liminar
 Para a concessão de tutela liminar possessória, será necessário que o
possessória própria, o autor deverá requerente demonstre a coexistência
provar os requisitos do art. 561 do dos requisitos do art. 300 do CPC, de
36
Emerj CPIII-A Processo Civil

CPC. Não se faz necessário provar modo que deverá demonstrar não apenas
aqui o fumus boni iuris e o a probabilidade do seu direito (fumus
periculum in mora. boni iuris), mas ainda a coexistência do
periculum in mora para que lhe seja
outorgada a proteção provisória, ou
eventualmente os requisitos do art. 311.

CAIU EM CONCURSO!!!
O possuidor injusto pode propor ação possessória?

A ação possessória poderá ser ajuizada por qualquer tipo de possuidor: direto ou
indireto, natural ou civil, justo ou injusto.

Exemplo: A é esbulhado por B, logo a posse de B é injusta em relação a A. Mas se,


posteriormente, C tentar tomar a coisa à força de B, agora a posse de B será justa em
relação a C. Por isso, B poderá ajuizar ação possessória em face de C, ainda que, em
relação a A, a posse dele seja injusta.

Cabe ação possessória contra a Fazenda Pública?

SIM!!! É cabível a ação possessória contra a Fazenda Pública, mas desde que a Fazenda
tenha se apossado indevidamente de bens alheios. Há, contudo, 2 ressalvas:

 Art. 562, parágrafo único do CPC: contra as pessoas jurídicas de direito público
não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem previa audiência
dos respectivos representantes judiciais. Esse dispositivo não veda liminares
contra a Fazenda, mas exige que primeiro se ouçam os representantes judiciais.

 A Fazenda poderá ocupar a área e dar uma finalidade pública. Nesse caso, em
razão do princípio da supremacia do interesse público, o possuidor e o
proprietário perderão a coisa mais serão ressarcidos dos prejuízos sofridos. O
proprietário poderá entrar com ação de desapropriação indireta.

 LITÍGIO COLETIVO PELA POSSE DE IMÓVEL:

O CPC/2015 trouxe uma novidade em relação as ações possessórias, qual seja, um


remédio no caso das invasões coletivas.

Foram estabelecidas algumas regras específicas para processos possessórios que


versam sobre litígios coletivos.

Assim, nas invasões perpetradas por grande número de pessoas cuja identidade é
desconhecida da vítima. Se não puder ser apurada, a ação poderá ser proposta CONTRA
TODOS INDISTINTAMENTE, SEM QUE SE IDENTIFIQUE UM A UM. Nesse caso, todos os
invasores são réus, formando-se um LITISCONSÓRCIO PASSIVO E NECESSÁRIO.
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Emerj CPIII-A Processo Civil

O art. 554, §1 do CPC manda que, no caso de figurar, no polo passivo, um grande
número de pessoas, seja feita a CITAÇÃO PESSOAL DOS QUE FOREM ENCONTRADOS NO
LOCAL E, POR EDITAL, DOS DEMAIS. O oficial de justiça procurará os ocupantes no local
por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados. Determina-se ainda
que o juiz dê ampla publicidade sobre a existência da ação e dos respectivos prazos
processuais, podendo-se valer, para tanto, de anúncios em jornal, rádio, cartazes na
região e outros meios.

Nos casos de grandes invasões, deverá haver intimação do Ministério Público e,


havendo pessoas hipossuficientes economicamente, também deverá intimar a
Defensoria Pública.

É necessária a realização de audiência de mediação nessas ações possessórias em


razão de invasão coletiva?

Art. 565 do CPC, antes do juiz examinar o pedido de liminar, o juiz deverá designar
audiência prévia de mediação. Para essa audiência o MP deverá ser intimado e também
a Defensoria no caso de hipossuficientes. Ademais, nos termos do par. 4 do art. 565 do
CPC também serão convocados para participar dessa audiência os órgãos responsáveis
pela política agrária da União, Estados ou Município respectivamente.

Em caso de invasão coletiva por invasores integrantes do MST (Movimento dos Sem
Terra) é cabível citação do MST?

O prof. Alexandre Câmara entende que, por mais que membros integrantes do MST
tenham invadido a terra, não é cabível a citação do MST pois ele não tem legitimidade,
uma vez que ele não tem a posse da terra. Ele poderá participar, no máximo, como
amicus curiae.

Nos termos do §1 do art. 565 do CPC, se o juiz deferir a liminar, então, o autor terá 1
ano da data da distribuição para executar a liminar, sob pena de perder a eficácia,
pois muitas vezes o autor faz isso como forma de pressão. Assim, se o autor não
executar a liminar no prazo de 1 ano, ela perderá a sua eficácia.

Art. 565, § 1 do CPC: “Concedida a liminar, se essa não for executada no


prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz
designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º deste artigo.”

Atenção ao § 5 do art. 565 do CPC, essa regra de audiência de mediação se aplica


também aos processos petitórios.

Art. 565, § 5 do CPC: “Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre


propriedade de imóvel.”

38
Emerj CPIII-A Processo Civil

O § 3 do art. 565 do CPC diz que sempre que for necessário o juiz pode ter que
comparecer pessoalmente ao lugar do conflito. No interior, por exemplo, tem muito
conflito possessório, o juiz do interior deverá comparecer ao lugar em que está
ocorrendo o conflito. O juiz tem que ir ao local sim, pois a sua principal função é
defender e proteger os direitos fundamentais das pessoas.

Art. 565, § 3 do CPC: O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio


quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela
jurisdicional.

#QUESTÃOCONCURSO – MPRJ – 2018:


Pergunta: O Município do RJ busca compelir centenas de pessoas, ligadas ao
Movimento de Moradores Sem Teto (MMST), a desocuparem imóvel público de
natureza urbana e ressarcirem os danos causados ao patrimônio público. Para essa
finalidade pergunta-se:
a) Seria adequado propor ação coletiva em face do MMST? Justifique de acordo
com os limites da coisa julgada;
b) O MP pode ingressar como litisconsorte no polo passivo? Justifique,
considerando a legitimidade e o interesse.

Resposta Oficial:
a) A admissibilidade da denominada ação coletiva passiva é um tema
controvertido em sede doutrinária, mas a jurisprudência admite sua
propositura em face de grupos ou associações de fato, desde que
demonstrados o interesse e a representatividade adequada. Nesse caso,
deve-se discutir se a coisa julgada coletiva vinculará ou não os membros do
grupo, no caso de procedência, que poderão rediscuti-la em ações
individuais, se a decisão lhes for desfavorável. Há quem defenda na
doutrina, entretanto, a eficácia erga omnes, a fim de garantir a utilidade
da ação coletiva passiva.
b) Em tese, quaisquer dos legitimados para a tutela coletiva poderão também
figurar como réus. No caso do MP, entretanto, além das outroas situações
legitimantes, há que se aferir o interesse de seu ingresso no polo passivo, no
caso concreto, tendo em vista a sua intervenção obrigatória como fiscal da
ordem jurídica.

 SÚMULAS AÇÕES POSSESSÓRIAS:

SÚMULA REDAÇÃO
Súmula 228 STJ  É inadmissível o interdito proibitório para a proteção de
direito autoral.

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

39
Emerj CPIII-A Processo Civil

Em ação de reintegração de posse de imóvel, de força nova, o magistrado indeferiu


de plano a medida liminar, considerando não estarem provados os requisitos para
sua concessão, sendo desnecessária a realização de audiência de justificação. O
autor agravou da decisão alegando que a medida liminar foi indeferida
erroneamente, já que estava evidente o esbulho alegado. Pergunta-se: Correta a
decisão do magistrado? Resposta fundamentada.

Resposta:
A lei estabelece que o juiz deverá: (i) deferir a liminar de plano se atendidos todos os
requisitos do art. 561 do CPC ou (ii) marcar a audiência de justificação para que o
autor possa ter a oportunidade de produzir provas dos requisitos da medida liminar.

Assim, no caso em tela, o juiz não agiu de forma correta uma vez que não estando
demonstrados de plano os requisitos para a concessão da liminar possessória, é
obrigatória a designação de audiência de justificação. O juiz errou ao indeferir de
plano a liminar sem designar audiência de justificação.

Agravo de Instrumento N.0049035-07.2012.8.19.0000: “Direito Processual


Civil. Reintegração de Posse. Procedimento Especial. Ajuizada a demanda,
pode o juiz ou conceder a medida liminar ou designar a audiência, a
depender de seu grau de convencimento acerca do esbulho alegado.
Decisão agravada que designou a audiência de justificação, após o que
apreciará o requerimento. Busca de elementos de convencimento. Recurso
a que se nega seguimento por sua manifesta improcedência.”

40
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 5 - Prof. Guilherme Hartmann


08/08/18

EMENTA:  Embargos de Terceiro.


 Oposição.

 EMBARGOS DE TERCEIROS:

A base legal dos Embargos de Terceiros está prevista nos arts. 674/681 CPC.

O tema procedimentos especiais está no livro I do processo de conhecimento.

Rito é sequência de atos processuais. O rito especial é a sequência de atos processuais


especiais.

Em regra, vigora o princípio da “cogência” dos procedimentos especiais, ou seja,


havendo procedimento especial ele deverá ser aplicado.

Qual a finalidade dos Embargos de Terceiros?

Os Embargos de Terceiros tem por finalidade liberar o bem de 3o ameaçado ou atingido


por um ato de apreensão judicial.

Nos embargos de terceiros, esse 3o vai se valer de uma ação - uma petição inicial -,
perante um processo já pendente (distribuição por dependência) com o foco de liberar
o bem que foi atingido.

Exemplo: Processo entre João e Maria. Em tese, quem responde por uma dívida é o
devedor. Quem tem responsabilidade patrimonial é o devedor. A Ação é entre João e
Maria, mas penhoram o meu bem, que não tem nada a ver com a dívida. Para liberar
esse bem, faço uso dos embargos de terceiro.

A ausência de responsabilidade patrimonial é a causa de pedir do embargante. O


pedido é a liberação do bem e a causa de pedir é a ausência de responsabilidade
patrimonial.

Palavra muito importante para entender embargos de 3o: REPONSABILIDADE


PATRIMONIAL.

Quais os requisitos para ajuizamento dos Embargos de Terceiros?

Entre os requisitos para ajuizar Embargos de terceiro destacam-se:

(i) EXISTÊNCIA DE UM TERCEIRO: 3o é aquele que não é parte. Está fora do


processo e irá intervir. Juridicamente (tecnicamente) não é intervenção de

41
Emerj CPIII-A Processo Civil

terceiro, pois ele cria um processo incidente ao processo originário. O 3o


ajuíza uma ação. Cria-se um processo incidente.

(ii) EXISTÊNCIA DE UM PROCESSO PENDENTE: tem que ter um processo


pendente, ou seja, um processo já tramitando. O 3o (embargante) irá fazer
uma petição inicial e irá distribuir por dependência no processo principal
(art. 676). Sem processo pendente, não se cogita de embargos de terceiro.
Podemos até enquadrar os embargos de terceiro como uma ação acessória
que segue a principal (art. 61).

Cuidado! Aqui temos um ponto que muita gente confunde: muitos acham que tem que
ter uma restrição judicial oriunda de uma execução. Contudo, esse processo pendente
não precisa ser uma execução, pode ser um processo de conhecimento. Logo, os
embargos de terceiro não é processo acessório exclusivamente de uma processo de
execução, pode ser acessório a um processo de conhecimento. É possível embargos de
terceiro em qualquer processo (não só de execução).

Sofrer CONSTRIÇÃO OU AMEAÇA DE CONSTRIÇÃO (art. 674): CPC/15 usou termo


genérico. Sofrer constrição = seu bem é atingido por um ato do juiz daquele processo
pendente. Pode ser uma penhora, um arresto, um arresto cautelar, um sequestro,
qualquer tipo de constrição judicial.

Exemplo 1: alguém morreu e arrola o seu bem no processo de inventário. Cabe


embargos de terceiro.

Exemplo 2: Sociedade X respondendo por uma dívida. Os bens do sócio só serão


atingidos em caso de desconsideração da PJ. Se penhora bem do sócio sem
desconsideração, por dívida da sociedade, cabe embargos de terceiro.

Quem tem legitimidade ativa pode propor os embargos de terceiro?

Nos termos do art. 674 do CPC tem legitimidade ativa para propor embargos de
terceiros o PROPRIETÁRIO ou POSSUIDOR.

Art. 674, §1 do CPC: “os embargos podem ser de 3o proprietário ou


possuidor.”

Nesse ponto, já podemos identificar uma das diferenciações entre os embargos de 3o


e as ações possessórias, pois só possuidor pode entrar com ação possessória, nos
embargos de 3o pode ser proprietário ou possuidor.

Importante: no caso de possuidor ser embargante (propor os embargos), temos que


pensar num caso que alguém tem posse, mas não propriedade, pois se ele for possuidor
E proprietário, ele se encaixa na hipótese em que o “proprietário” ajuíza a ação.

42
Emerj CPIII-A Processo Civil

 Exemplo em que o 3o é proprietário: Processo entre João e Maria. Penhoram o meu


bem (sou proprietário), que não tem nada a ver com o processo deles. Posso opor
embargos de 3o.

 Exemplos em que 3o é meramente possuidor: Bens que ainda não foram levados a
registro. Bens oriundos de promessa de Compra e Venda: Processo entre João e Maria.
Penhoram um bem meu, que acabei de comprar, mas ainda não levei esse bem pra ser
registrado.

Súmula 84 STJ: É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em


alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda
que desprovido do registro.

Pretensão de excluir da penhora bem doado, mas ainda não registrado: Processo de
execução entre João (exequente) e Maria (executada). Eu ganho um apartamento de
Maria, antes do ajuizamento da ação de execução contra Maria, mas ainda não levei o
apartamento a registro. Portanto, já tenho a posse, mas ainda não tenho a
propriedade. Penhoram esse meu apartamento, que nada tem a ver com o processo de
João e Maria. Posso ajuizar embargos de 3o como possuidor.

REsp. 223424/GO: PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. DOAÇÃO VERBAL


ANTERIOR AO AJUIZAMENTO DA EXECUÇÃO CONTRA O DOADOR. COMPROVAÇÃO.
POSSE EM FAVOR DOS DONATÁRIOS. ADMISSIBILIDADE. FONTE DO § 1º DO ART.
1.046, CPC. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICO-GRAMATICAL. RECURSO PROVIDO. I - Os
embargos de terceiro, destinados à proteção da posse, constituem via hábil para
debater-se pretensão de excluir da penhora bem adquirido por doação não levada
a registro. II - No confronto entre dois direitos pessoais, deve-se prestigiar o dos
donatários que se acham na posse do bem, salvo, por óbvio, se realizada a
alienação em fraude contra credores ou de execução. III - Prestando-se os
embargos de terceiros à defesa do "simples possuidor" (art. 1.046, § 1º, CPC), é
de prestigiar-se a posse dos donatários, que restou provada. O registro, se
imprescindível para a comprovação do domínio, não se faz necessário para provar
a condição de possuidor. (REsp 223.424/GO, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 14/09/1999, DJ 25/10/1999, p. 94)

Art. 674, §2 do CPC: Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:

I: cônjuge ou companheiro tem legitimidade, seja para defender seus bens


particulares, seja para defender sua meação (dependendo do regime de bens do
casamento/união estável). Se atingiu a meação do cônjuge, teremos que ter a
possibilidade de se valer de embargos de terceiro.

Súmula 134 STJ: Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do


executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação.

Ler art. 842 CPC  se houver penhora de imóvel ou direito real sobre imóvel, tem que
intimar o cônjuge daquele que teve o bem penhorado.

43
Emerj CPIII-A Processo Civil

Essa intimação é uma forma de permitir que o cônjuge possa se valer de embargos de
3o. Esse artigo é uma prevenção do código, uma facilidade. Se for penhora sobre bem
móvel do executado, não precisa intimar o cônjuge, mas ele tem direito à embargos
de 3o.

E se o bem penhorado for indivisível?

O cônjuge do executado só tem direito à meação. Só protege a meação (50%), mas se


bem é indivisível, como faz?

Art. 843 prevê a solução: o equivalente à quota parte recairá sobre o produto da
alienação do bem.

Portanto, o bem será alienado e a meação do cônjuge será dada a ele.

Parágrafo 1o reserva ao cônjuge a preferência, logo, ele pode adjudicar o bem.

Portanto, o bem indivisível que for penhorado vai a leilão e a quota parte da meação
irá para o cônjuge (ou o cônjuge adjudica).

Se o cônjuge é também executado, obviamente não cabe embargos de 3o, ele tem que
se valer da via própria  se ele assumiu a dívida, é devedor, não cabe embargos de
3os, mas sim via própria.

AgInt no AREsp 790350/ES: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. CÔNJUGE. EMBARGOS DE TERCEIRO. MEAÇÃO.
LEGITIMIDADE. DÍVIDA. BENEFÍCIO DA FAMÍLIA. SÚMULA N. 7/STJ. DECISÃO
MANTIDA. 1. O cônjuge só será parte legítima para opor embargos de terceiro
quando não tiver assumido juntamente com seu consorte a dívida executada, caso
em que, figurando no polo passivo do processo de execução como corresponsável
pelo débito, não lhe é legítimo pretender eximir seu patrimônio como "terceiro".
Precedente da Corte Especial do STJ. 2. "Tratando-se de dívida contraída por um
dos cônjuges, a regra geral é a de que cabe ao meeiro o ônus da prova de que a
dívida não beneficiou a família, haja vista a solidariedade entre o casal" (AgRg no
AREsp n. 427.980/PR, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 18/2/2014, DJe 25/2/2014). 3. Na espécie, o acórdão proferido na
origem consignou que o autor não conseguiu afastar a presunção de
corresponsabilidade pela dívida cobrada, declarando sua ilegitimidade para opor
embargos de terceiros. Para se alterar o desfecho conferido ao processo, seria
necessário reexaminar a prova dos autos, o que é inviável em recurso especial, a
teor da Súmula n. 7/STJ. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no
AREsp 790.350/ES, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 06/04/2017, DJe 18/04/2017)

44
Emerj CPIII-A Processo Civil

Portanto, em suma: O cônjuge tem legitimidade para entrar com embargos de 3o.
 Se o cônjuge também é devedor, se ele assumiu a dívida junto com o outro
cônjuge, a doutrina costuma dizer que ele não tem legitimidade para entrar
com embargos de 3o, pois é devedor. Ele deve entrar com defesa própria =
embargos à execução ou impugnação ao cumprimento de sentença.
 Se o cônjuge não é devedor junto com seu marido/esposa, ele somente quer
defender sua meação, ele pode, com base no art. 674 e súmula 134 STJ, opor
embargos de 3o.

Inciso II: adquirente de bem cuja constrição decorreu de decisão que declara a
ineficácia da alienação realizada em fraude à execução  Ex.: João está lendo jornal
e vê um bem à venda nos classificados. Ele compra o bem. Contudo, existe um processo
contra o vendedor (quem vendeu o bem pro João) e o juiz declara a fraude à execução,
atingindo o bem que João comprou. Como João pode se defender? Embargos de 3o,
alegando que é 3o de boa-fé.

Fazer remissão do art. 674, parágrafo 2o, inciso II para art. 792, parágrafo 4o.

Inciso III: quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte. Boa pergunta de prova!!!! O
NCPC criou o incidente de desconsideração da PJ para atingir o bem dos sócios, como
se fosse o contraditório prévio necessário para atingir o bem de 3o. A dívida é da PJ,
mas um vez instaurado o incidente de desconsideração da PJ, tem que citar o sócio.
Citado o sócio, ele pode se defender no incidente. Se ele não for citado, ele não se
defendeu e, portanto, ele não pode sofrer constrição dos seus bens pessoais, cabendo
embargos de 3o.

Fazer remissão do art. 674, parágrafo 3o, inciso III para art. 135, que fala que tem
que instaurar incidente para desconsiderara PJ e citar o sócio

Inciso IV: o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de
direito real de garantia, caso não tenha sido intimado.

Ex.: João é credor hipotecário - alguém lhe deu um bem imóvel em garantia. No curso
de um processo judicial, penhoram esse bem. Ocorre que para o bem ser levado à
leilão, João tem que ser intimado (Art. 799, I, art. 804 e art. 889, V CPC). E se ele não
for intimado? Como ele pode defender a sua preferência, a sua garantia? Através de
embargos de 3o. Caso ele tenha sido intimado, aí está fora do cabimento dos embargos
de 3o, ele tem que exercitar a preferência no processo (art. 1499, inciso VI CC). Se ele
NÃO for intimado, ele não pôde exercitar a sua garantia, logo, tem um vício e ele pode
se valer dos embargos de 3o para alega-lo.

Quem tem legitimidade passiva em embargos de terceiro?

45
Emerj CPIII-A Processo Civil

A Legitimidade Passiva é tratada no art. 677, parágrafo 4 do CPC

Não tínhamos artigo sobre isso. Havia discussão sobre quem deveria ser embargado
(réu) nos embargos de 3o.

Art. 677, § 4 do CPC: “Será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de


constrição aproveita, assim como o será seu adversário no processo
principal quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial.”

O Art. 677, parágrafo 4o estabelece um critério da utilidade/interesse. Contudo, se


pararmos para pensar, normalmente o ato de constrição aproveita ambas as partes do
processo principal, pois o devedor quer se livrar da dívida e credor quer receber o
dinheiro. Portanto, aproveita ambos.

Por essa logica do art. 677, parágrafo 4o, teríamos um LITISCONSÓRCIO PASSIVO.

É dispositivo que tem que ser interpretado.

Comumente, na prática, figura como embargado a parte que indicou o bem a penhora.
Se foi o executado (devedor) que indicou o bem, ele que será o embargado. Se foi o
exequente (credor) que indicou aquele bem à penhora, o embargado será ele. Em
geral, aquele que indica o bem à penhora é que figurará como embargado.

Pela lógica da lei, pelo critério do interesse, forma-se um litisconsórcio passivo


necessário, pois sempre interessará a ambos. Contudo, na prática, não é assim.

Qual a relevância dessa discussão? Na prática, nenhuma, pois o que importa é a questão
da sucumbência. Colocar ambos no polo passivo não tem relevância prática, pois ambos
já estão no processo principal.

Quanto à sucumbência, a SÚMULA 303 DO STJ, diz que quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com a sucumbência. Portanto, mesmo que coloque ambos no polo
passivo (devedor e credor), somente quem deu causa (indicou o bem à penhora) que
irá arcar com as despesas de sucumbência, por isso, dizemos que na prática, colocar
como embargos ambos ou somente quem deu causa à constrição, não tem relevância.

Súmula 303 STJ: em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida
deve arcar com os honorários advocatícios

Não é incorreto falar em litisconsórcio passivo necessário.

Qual o procedimento dos embargos de terceiro?

O embargos de 3o é uma ação. Portanto, tem que ter uma petição inicial (Art. 677) e
será distribuído por dependência.

46
Emerj CPIII-A Processo Civil

O embargado será citado.

Importante: Essa citação, em geral, pode se dar na pessoa do procurador (advogado)


do embargado - pois ele normalmente já tem advogado nos autos da ação principal.

Exceção: A citação só será pessoal (na pessoa do próprio embargado) se o embargado


não tiver advogado na ação principal.

Questão de prova: Esse advogado não precisa ter poderes especiais para receber essa
citação, pois a lei já o outorga.

A partir daí o rito é comum.

Tem contestação no prazo de 15 dias (art. 679).

Se os embargos forem procedentes, a sentença terá caráter desconstitutiva.

Qual a diferença entre Embargos de 3 e Embargos à Execução?

 EMBARGOS À EXECUÇÃO: constituem a defesa do executado no processo de


execução, tendo causa de pedir distinta (art. 917). Ex.: alega excesso de
execução; que bem é impenhorável; que é parte ilegítima.

 EMBARGOS DE TERCEIRO: quem tem legitimidade não é o executado, é um 3


que esta fora do processo. Além disso, eles podem ser opostos tanto no processo
de conhecimento como no processo de execução. A causa de pedir dos
embargos de 3o é própria: liberar o bem.

Qual a diferença entre Embargos de Terceiro e Ação Possessória?

Legitimidade:

 Ações Possessórias: só podem ser ajuizadas pelo possuidor, só quem tem a


posse pode ajuizar ação possessória.

 Embargos de Terceiro: já nos embargos de 3o, tanto o possuidor quanto o


proprietário (ainda que não tenha a posse) podem se valer dos embargos de
3o.

Razão da ação:

 Ações Possessórias: as ações possessórias decorrem de uma moléstia à posse


praticada por particular ou pelo poder público.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

 Embargos de Terceiros: só são cabíveis em caso de esbulho judicial, no caso de


uma apreensão judicial, logo, tem que ter um processo pendente que molestou
a sua posse.

Finalidade da ação:

 Acões Possessórias: visam assegurar a posse, proteger a posse.

 Embargos de Terceiros: visam a liberação do bem, somente indiretamente


protegendo a posse.

 SÚMULAS EMBARGOS DE TERCEIRO:

SÚMULA REDAÇÃO
Súmula 303 STJ  Em embargos de terceiros quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com os honorários advocatícios.

Súmula 195 STJ  Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude
contra credores.

Súmula 134 STJ  Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge


do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de
sua meação.

Súmula 84 STJ  É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em


alegação de posse advinda de compromisso de compra e venda
de imóvel, ainda que desprovido do registro.

 OPOSIÇÃO:

A Oposição tem por base legal os arts. 682 ao 686 do CPC.

A oposição é um novo procedimento especial no processo de conhecimento. No CPC/73


ela era uma intervenção de 3os.

CPC/15 não trouxe grandes modificações a não ser transformar a oposição em um


procedimento especial.

A oposição é uma ação. Cria uma ação incidente, criando um outro processo, que pode
ser julgado em conjunto com processo originário.

A oposição envolve a figura do opoente e dos opostos. Tem uma ação entre autor e
réu, e o terceiro, que será o opoente, vai distribuir uma ação, colocando no polo
passivo autor e réu da ação originária. Ex.: Processo entre A e B. C, o oponente, ajuíza
uma nova ação (oposição) que tem como réus A e B.

Quem tem legitimidade passiva na ação de oposição?

48
Emerj CPIII-A Processo Civil

Art. 683 CPC  aqui não há discussão, há litisconsórcio passivo necessário: ambas as
partes da ação originária.

Exemplo: A e B discutindo a propriedade de um imóvel. C entende que o imóvel não é


nem de A, nem de B, mas seu. C terá que distribuir uma ação por dependência
(oposição) e colocar no polo passivo ambas as partes do processo originário (A e B), o
que caracteriza o litisconsórcio necessário passivo.

Aqui não tem dúvida de que é LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.

Qual a finalidade da oposição?

A oposição é uma demanda autônoma incompatível com a demanda originária com o


objeto de abreviar a solução da pendência sobre a titularidade da coisa ou direito
sobre o qual controvertem autor e réu.

Autor e réu controvertem sobre a propriedade de um imóvel. O 3o acha que o bem é


dele. O que ele pode fazer?

Aguardar a solução da causa e promover ação posterior contra o vencedor.

Oposição em razão da economia processual  antes da solução final, o 3o


interveniente fala que não é nem de X nem de Y, é dele. Ele não intervém para auxiliar
um ou outro (pois seria assistência), mas sim para dizer que o bem é dele. Ele coloca
no polo passivo da oposição autor e réu da ação originária. Em tese, o legislador
permitiu essa demanda incidental, para que tudo seja julgado em uma demanda só.

Não é obrigado o 3o se valer da oposição.

Qual o procedimento da oposição?

Petição inicial com todos os requisitos necessários do art. 319, naquilo que guardar
compatibilidade.

Distribuição por dependência ao processo originário (art. 683, parágrafo único).

Como é ação, os demandados serão citados.

Mesma peculiaridade dos embargos de 3o: a citação será na pessoa de seus advogados
(art. 683, parágrafo único). Não precisa de procuração com poderes especiais. Se não
tem advogado na ação principal, tem que citar pessoalmente = embargos de 3o.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Quais os limites para a oposição? É possível oposição após o trânsito em julgado da


ação principal?

Não, pois não tem mais processo pendente para entrar com a oposição.

O art. 682 caput coloca outro marco: até ser proferida a sentença.

Oposição só pode se dar até a sentença da ação originária.

Se houver recurso de apelação? Cabe oposição na 2a instância? Não. Doutrina diz que
seria uma supressão de instância. Por isso o art. 682 fala “até a prolatação da
sentença”.

(i) Oposição antes da AIJ:

Se a oposição se der antes da AIJ, ela será apensada à ação originária e julgada em
conjunto. Juiz resolve ambas as ações juntas. Teremos o que doutrina chama de
sentença formalmente una e materialmente complexa  uma só sentença, um só
papel, mas julgando duas causas (art. 685).

Tem relação de prejudicialidade? Sim. A oposição deve ser julgada antes (art. 686).

(ii) Oposição após a AIJ:

Se a oposição se der após a AIJ, já teve produção de prova, aplica art. 685 parágrafo
único  suspende curso do processo.

Doutrina diz que se a oposição vem muito tarde (mas sempre antes da sentença), ainda
haverá o regramento de competência funcional, ou seja, distribuição por dependência
(mantém a lógica de regra de competência funcional), porém há desnecessidade de
apensamento dos autos.

Ou seja: se for a oposição tardia, não necessariamente ocorrerá apensamento nos autos
e sentença única para elas.

De acordo com o professor, o art. 685 parágrafo único fala isso por “vias tortas”.

O Juiz pode adaptar isso: analisando se vale a pena julgar junto ou não.

Qual a diferença ente embargos de terceiros e a oposição?

A OPOSIÇÃO é restrita ao processo de conhecimento. O terceiro quer discutir a


titularidade do bem.

50
Emerj CPIII-A Processo Civil

A AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO pode se dar tanto na ação do processo de


conhecimento, como no processo de execução. O opoente se opõe ao objeto principal
da causa pendente. Opoente é “o do contra”. Já o embargante, nos embargos de 3o,
só visa liberar o seu patrimônio. Não quer discutir se o objeto principal da causa
pendente é verdadeira ou não.

Oposição reflete questão prejudicial à questão principal da causa pendente (se é do


opoente não é dos opostos). Se procedente a oposição a ação originária é
improcedente. Já nos embargos de 3o não há relação de prejudicialidade. A
procedência dos embargos de 3o somente gera a liberação do bem, não influindo no
julgamento da questão meritória do processo pendente.

Obs.: via de regra não cabe ações de rito especial em juizado.  enunciado 8 do
FONAJE.

 TABELA DO CONCURSEIRO:

OPOSIÇÃO
DEFINIÇÃO  Ação prejudicial em que o terceiro postula em juízo o bem
ou direito sobre o qual controvertem autor e réu.

LIMITAÇÃO  A oposição deve ser apresentada até que seja proferida a


TEMPORAL sentença (art. 682 do CPC).

PROCEDIMENTO  O opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos


exigidos para a propositura da ação. Distribuída a oposição
por dependência, serão os opostos citados, na pessoa de
seus advogados, para contestar no prazo de 15 dias;
 Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido,
contra o outro prosseguirá o opoente;
 Admitido o processamento, a oposição será apensada aos
autos e tramitará simultaneamente à ação originária, sendo
ambas julgadas pela mesma sentença (art. 685);
 Se a oposição for proposta antes da AIJ, o juiz suspenderá o
curso do processo ao fim da produção de prova, salvo se
concluir que a unidade da instrição atende melhor ao pr. da
duração razoável do processo.

ESPÉCIES  Oposição Autônoma: é a oposição oferecida depois de


iniciada a AIJ, sendo distribuída por dependência em razão
de conexão;
 Oposição Interventiva: é a oposição apresentes antes da AIJ.

PREJUDICIALIDADE  Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação originária


e a oposição, desta conhecerá em primeiro lugar (art. 686
do CPC).

51
Emerj CPIII-A Processo Civil

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

Ana Paula interpôs embargos de terceiros, nos autos da execução fiscal em que o
Estado do Rio de Janeiro move contra RioCAR indústria Ltda. e Rodolfo, cônjuge de
Ana Paula. Ana Paula fundamenta seus embargos no fato de que o sr. oficial de
justiça compareceu até a sua residência para cumprir mandado de penhora e arrolou
os bens residenciais encontrados no seu domicílio. A embargante afirma que é
indevida a ameaça da constrição dos seus bens. O magistrado determinou a extinção
dos embargos com fundamento de ausência de interesse processual. Ana Paula
recorreu da decisão. Decida a questão de forma fundamentada.

Resposta:

O caso fala em “arrolou”, sem deixar claro se penhora foi feita ou não. Nesse caso,
temos que considerar ambas as hipóteses e responder de acordo com cada uma delas.

Se foi feita a penhora cabe embargos de 3o, pois há constrição. Se não foi feita a
penhora, simplesmente arrolou, é mera ameaça. Aí vem o “x” da questão: Cabe
embargos de 3os preventivos/inibitórios? Antes havia muita discussão, contudo, com o
CPC/15 a resposta está no texto da lei agora.

O art. 674 fala em “constrição ou ameaça de constrição”. Logo, cabem embargos de


3os em caso de ameaça de constrição (turbação ou esbulho). Seria um esbulho judicial,
pois a constrição/ameaça de constrição é judicial. Interessante usar esse termo:
esbulho/turbação judicial.

Repare: nas ações possessórias temos a sensação de injustiça em razão de uma


clandestinidade. Nos embargos de 3o não. Aqui (nos embargados de 3o) a injustiça vem
diretamente do Estado.

REsp. 1019314/RS: “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO PREVENTIVO.


ART. 1.046, DO CPC. AMEAÇA. CABIMENTO. 1. Os embargos de terceiro voltam-se
contra a moléstia judicial à posse, que se configura com a turbação, o esbulho e
a simples ameaça de turbação ou esbulho. 2. A tutela inibitória é passível de ser
engendrada nas hipóteses em que o terceiro opôs os embargos após ter os bens de
sua propriedade relacionados à penhora pelo Sr. oficial de justiça em ação de
execução fiscal. 3. É cediço na Corte que os embargos de terceiro são cabíveis de
forma preventiva, quando o terceiro estiver na ameaça iminente de apreensão
judicial do bem de sua propriedade. 4. A ameaça de lesão encerra o interesse de
agir no ajuizamento preventivo dos embargos de terceiro, máxime à luz da
cláusula pétrea da inafastabilidade, no sentido de que nenhuma lesão ou ameaça
de lesão escapará à apreciação do judiciário (art. 5º, inciso XXXV, da CF). 5.
Recurso especial desprovido. (REsp 1019314/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe 16/03/2010).”

52
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 6 - Prof. Alexandre Câmara


31/07/18

EMENTA:  Inventário e Partilha

 INTRODUÇÃO:

Com a morte, termina personalidade civil do homem, tem início a sua sucessão e ocorre
a transmissão aos seus herdeiros, legítimos ou testamentários, dos bens.

Por força do PRINCÍPIO DA SAISINE (art. 1784 do CC), essa transmissão opera-se no
momento do falecimento. Mesmo assim, é preciso fazer o INVENTÁRIO e a posterior
partilha de bens, para que a situação fique regularizada.

O patrimônio do de cujus – o que inclui ativos e passivos – comporá uma massa indivisa,
que receberá o nome de ESPÓLIO. O Espólio não tem personalidade jurídica, mas a lei
lhe atribui a capacidade de ser parte.

Enquanto não houver partilha, o espólio figurará em todas as ações de cunho


patrimonial, que versem sobre os interesses da massa.

 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES INVENTÁRIO & PARTILHA:

O procedimento do inventário e partilha é um PROCEDIMENTO BIFÁSICO, ou seja,


divide-se em duas fases, quais sejam:

 FASE 1: consiste na FASE DO INVENTÁRIO em que se identificam os bens, os


sucessores, o quinhão a que cada um tem direito.

 FASE 2: consiste na FASE DE PARTILHA, em que os bens identificados são


divididos entre os sucessores.

O Procedimento de Inventário e Partilha tem uma característica: é um procedimento


documental, em que só se admitem provas documentais. Questões que envolvam
outros meios de prova não podem ser resolvidos no processo de inventário e partilha.

Exemplo: no meio de processo surge um herdeiro desconhecido que alega ser filho do
falecido. Nesse caso, a paternidade deverá ser resolvida em outro processo. Essas
questões que serão tratadas em outro processo são chamadas de QUESTÕES DE ALTA
INDAGAÇÃO. São questões que não podem ser solucionadas no processo do inventário
e da partilha, devem ser resolvidas em um processo separado.

Em que consiste o Contrato de Inventário e Partilha?

53
Emerj CPIII-A Processo Civil

O Contrato de Inventário e Partilha está tratado no art. 610, §1 do CPC e poderá ser
celebrado, por meio de escritura pública, sempre que todos os interessados estejam
de acordo e que NÃO existam incapazes, nem tampouco testamento.

Trata-se, pois, de um negócio jurídico realizado por Escritura Pública. A lei exige que
os contratantes (todos eles) estejam assistidos por advogado. É celebrado em cartório.

Isso é possível quando todos os interessados são civilmente capazes e concordes, não
havendo testamento.

A celebração do contrato de inventário e partilha é obrigatória se atendidos os


requisitos da lei? Se todos os herdeiros forem capazes, não houver testamento,
ficam eles obrigados a celebrar o contrato mesmo que queiram fazer o inventário e
a partilha no Judiciário?

O tema é objeto de debate doutrinário, com reflexo jurisprudencial.

O CNJ editou uma resolução, a RESOLUÇÃO 35 DO CNJ que afirma que o contrato de
inventário e partilha é opcional.

Só que essa resolução não poderia disciplinar essa matéria, pois essa matéria deveria
ser regulada por lei e não por resolução. Essa resolução é formalmente
inconstitucional, porque o CNJ não pode regulamentar isso.

Em que pese a Resolução do CNJ sobre a matéria, existem, atualmente, na doutrina


duas correntes sobre o tema:

CORRENTE 1) Parte da doutrina (Freddie Didier) entende que a celebração do contrato


de inventário e partilha é facultativa, com base no art. 610, par. 1 do CPC, pois o
dispositivo usa o termo “poderão”, tratando-se, portanto, de uma faculdade das
partes.

CORRENTE 2) Corrente capitaneada por Cristiano Chaves entende que nos casos em
que a lei admite a escritura pública não se pode ir ao Judiciário. Se pode ser feito
extrajudicialmente, então, o processo judicial não é necessário, se não é necessário
falta interesse, se não tem interesse, não pode ter processo, por falta de condição da
ação.

Sobre o tema há, ainda, o Provimento 21 de 2017 da Corregedoria do TJRJ que


estabelece que ainda que haja um testamento, se TODOS os interessados forem
capazes e estiverem de acordo o juiz pode autorizar a celebração do negócio jurídico
por Escritura Pública.

Esse Provimento da Corregedoria é de uma ilegalidade assustadora. A lei é expressa ao


dizer que somente pode ser feito contrato de inventário e partilha por escritura pública
se não houver testamento, aí vem um ato administrativo (provimento administrativo)
54
Emerj CPIII-A Processo Civil

que fala o oposto da lei, estabelecendo que mesmo existindo um testamento ainda
assim pode celebrar o contrato por meio de escritura pública. Isso é um completo
absurdo na opinião do prof. Alexandre Câmara!

Exemplo:
A falece deixando testamento, e o testamento instituía como herdeira uma terceira
pessoa que não era herdeira necessária. Os herdeiros necessários querem fazer por
Escritura Pública. A herdeira do testamento afirmou expressamente que não queria
fazer por Escritura Pública. O juiz do caso disse que ela não tinha que opinar e
autorizou o ato extrajudicial, ou seja, autorizou a celebração do contrato de inventário
e partilha mesmo havendo um testamento e mesmo a herdeira não concordando com
a celebração do contrato. Um completo absurdo. O juiz rasgou a lei segundo Câmara.

Qual a diferença entre espólio e inventário?

O INVENTÁRIO é um processo judicial. Já o ESPÓLIO é uma massa patrimonial indivisível


que se constitui quando alguém morre e que vai existir até que acabe o processo de
inventário e partilha. Essa massa não tem personalidade jurídica, mas tem capacidade
de ser parte.

Atenção!!!! O espólio não é formado só pelo ativo, é formado pelo passivo também,
pois dívida se transmite.

O espólio tem capacidade de ser parte?

Sim!!! O espólio tem capacidade de ser parte e é o inventariante quem representa o


espólio em juízo.

Se não tem inventariante, quem representa o espólio é o ADMINISTRADOR PROVISÓRIO,


ou seja, aquele que estiver temporariamente na posse dos bens do espólio.

O Administrador Provisório não é nomeado pelo juiz, mas identificado de acordo com
o art. 1797 do CC, que atribui a função, sucessivamente, ao cônjuge ou companheiro,
se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão, ao herdeiro que estiver na
posse e administração dos bens e, se houver mais de um nessas condições, ao mais
velho; ao testamenteiro ou pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das
indicadas anteriormente ou quando tiverem sido afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.

IMPORTANTE! CAIU EM CONCURSO!!


Em que consiste o inventário negativo?

O INVENTÁRIO NEGATIVO não tem previsão legal, sendo uma criação doutrinária. Sua
finalidade é permitir que os herdeiros demonstrem que o de cujus faleceu sem deixar
55
Emerj CPIII-A Processo Civil

nenhum bem, o que pode ser de grande relevância para que sejam afastados eventuais
credores. Isso porque as dívidas do de cujus não podem ultrapassar as forças da
herança: é possível que todos os bens por ele deixados sejam consumidos no
pagamento de seus débitos. Se ainda assim, restarem dívidas, o patrimônio pessoal dos
herdeiros não responderá por elas.

Por isso pode ser interessante aos herdeiros demonstrar que o de cujus não deixou bem
nenhum e que eles, sucessores, nada receberam, para, com isso, desobrigarem-se
frente aos credores.

CAIU EM CONCURSO!!!
Existem bens que não precisam ser inventariados?

Os bens previstos na Lei 6858 de 80 são bens que não precisam ser inventariados com
a morte do de cujus.

Art. 1 da Lei 6858/80: “Os valores devidos pelos empregadores aos


empregados e os montantes das contas individuais do FGTS e do PIS-PASEP,
não recebidos em vida pelos respectivos titulares, serão pagos, em cotas
iguais, aos dependentes habilitados perante a Previdência Social ou na
forma da legislação específica dos servidores civis e militares e, na sua
falta, aos sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial,
independentemente de inventário ou arrolamento.”

Verifica-se, portanto, que os bens aqui arrolados poderão ser levantados por simples
alvará judicial, independentemente de inventário. A competência é da Justiça
Estadual, nos termos da Súmula 161 do STJ.

 LEGITIMIDADE ATIVA PARA INVENTÁRIO & PARTILHA:

Quem tem legitimidade para requerer a abertura do inventário?

A legitimidade para requerer a abertura do inventário vem tratada nos arts. 615 e 616
do CPC. Há um legitimado prioritário e um legitimado concorrente.

O LEGITIMADO PRIORITÁRIO é a pessoa que estiver na posse e administração do espólio,


por essa razão, considerado seu administrador provisório.

Além dele, o art. 616 estabelece uma lista de LEGITIMADOS CONCORRENTES:

 Aquele que estiver na posse e administração do espólio;


 Cônjuge ou companheiro supérsiste (sobrevivente);
 Herdeiro;
 Legatário;
 Testamenteiro;
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 Cessionário do herdeiro ou legatário;


 Credor do Herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
 MP se houver incapazes;
 Fazenda Pública, quanto tiver interesse (a Fazenda, na verdade, sempre terá
interesse por conta do imposto a recolher); e
 Administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da
herança ou do cônjuge e companheiro.

 INVENTARIANTE:

O inventariante substitui o administrador provisório e é nomeado pelo juiz para atuar


no processo de inventário e partilha ajudando o juiz na administração do espólio.

Não há nenhum óbice a que aquele que vinha exercendo a função de administrador
provisório seja nomeado juiz.

O juiz deverá observar a ordem do art. 617 ao realizar a nomeação do inventariante.

Art. 617 do CPC: “O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:


I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio
ou se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro
de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar a
função.”

Em que consiste a figura do inventariante dativo?

Os dois últimos incisos do art. 617 do CPC (inventariante judicial e a pessoa estranha
idônea) são inventariantes que não tem interesses pessoais nos bens. Eles são
nomeados pela falta de outro – são chamados de INVENTARIANTES DATIVOS. Assim, os
inventariantes dativos são inventariantes nomeados de forma residual (quando não há
nenhum da lista do art. 616) não tendo eles interesse pessoal nos bens.

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O inventariante dativo tem, contudo, uma particularidade: de acordo com o art. 75,
§1 do CPC sempre que for caso de inventário com inventariante dativo, TODOS os
SUCESSORES serão intimados no processo no qual o espólio seja parte.

Quais as funções do inventariante?

As funções do inventariante estão previstas no art. 618 do CPC. Vejamos:

Art. 618 do CPC: “Incumbe ao inventariante:


I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele,
observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1º;
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que
teria se seus fossem;
III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais;
IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os
documentos relativos ao espólio;
V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver;
VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante
ou excluído;
VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz
lhe determinar;
VIII - requerer a declaração de insolvência.”

Pode o inventariante ser removido ou destituído da função?

O inventariante perderá o cargo quando for removido ou destituído.

A REMOÇÃO ocorrerá como punição ao inventariante que não cumprir a contento as


suas funções, deixando de praticar atos que lhe incumbia. O art. 622 do CPC enumera
as hipóteses de remoção, sendo o rol exemplificativo. O inventariante será intimado
para defender-se em 15 dias e produzir provas. Se o juiz determinar a remoção,
nomeará outro em substituição, cabendo ao removido cumprir o estabelecido no art.
625 do CPC. A decisão que determina a remoção é uma decisão interlocutória, sendo
cabível agravo de instrumento.

A DESTITUIÇÃO se verificará não em razão de culpa, mas em decorrência de um fato


externo ao processo, não ligado ao exercício da função, mas que impede o
inventariante de a continuar exercendo. Exemplo: se ficar gravemente doente, ou se
for condenado criminalmente.

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Em que consiste o alvará judicial?

O art. 619 do CPC traz outras incumbências do inventariante, só que essas


incumbências do art. 619 só acontecerão depois que o juiz ouvir os interessados e
somente se o juiz autorizar. A essa autorização chama-se de ALVARÁ JUDICIAL.

O inventariante somente poderá realizar essas incumbências do art. 619 do CPC


mediante autorização do juiz, por meio do alvará judicial dado pelo juiz do inventário.

Art. 619 do CPC: “Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os interessados


e com autorização do juiz: [alvará judicial]
I - alienar bens de qualquer espécie;
II - transigir em juízo ou fora dele;
III - pagar dívidas do espólio;
IV - fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento
dos bens do espólio.”

 COMPETÊNCIA:

Os inventários de bens situados no Brasil são de competência exclusiva da Justiça


Brasileira, nos termos do art. 23, II do CPC, o que veda a homologação pela STJ de
sentença estrangeira sobre o assunto.

A competência para processar e julgar inventários e partilhas é dada pelo art. 48 do


CPC.

Art. 48 do CPC: O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o


competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento
de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha
extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o
óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é
competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do
espólio.

 PROCEDIMENTO DO INVENTÁRIO & PARTILHA:

Quais os tipos de procedimentos existentes no inventário e partilha?

Existem 3 tipos de procedimentos do inventário, sendo eles:

(i) PROCEDIMENTO TRADICIONAL: arts. 610 a 658 do CPC;


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(ii) ARROLAMENTO SUMÁRIO: art. 659 do CPC; e

(iii) ARROLAMENTO COMUM: art. 664 do CPC.

Ao Arrolamento Sumário e ao Arrolamento Comum aplicam-se supletivamente as regras


do Inventário Tradicional.

Focaremos na aula de hoje no estudo do Procedimento Tradicional, ou seja, do


Procedimento do Inventário Tradicional.

(i) PROCEDIMENTO TRADICIONAL DE INVENTÁRIO & PARTILHA:

O Procedimento Tradicional do inventário e partilha se divide em duas fases, quais


sejam: (i) Fase de Inventário e (ii) Fase de Partilha.

Passemos ao estudo de cada uma dessas fases:

1. FASE DO INVENTÁRIO:

O processo de inventário começa pela PETIÇÃO DE REQUERIMENTO INICIAL, que deve


anexar o atestado de óbito.

Esse requerimento tem que ser formulado dentro de um prazo de 2 meses a contar da
abertura da sucessão, nos termos do art. 611 do CPC. Se passar o prazo, não acontece
nada, ou seja, do ponto de vista do direito processual, o não cumprimento desse prazo
não enseja nenhuma consequência. Contudo, se o processo não se instalar em 2 meses,
incide uma multa sobre o imposto de transmissão.

O juiz, na sequência, nomeia o INVENTARIANTE. Nomeado o inventariante ele tem que


assinar o COMPROMISSO DE INVENTARIANÇA. Esse é o momento em que ele assume o
encargo de ser inventariante.

Assinado o termo de compromisso, o inventariante vai apresentar em 20 dias as


primeiras declarações, ou seja, ele vai fazer uma petição listando todos os sucessores
e os bens, identificando-os. O nome oficial disso é “PRIMEIRAS DECLARAÇÕES”.

Na sequência, serão citados todos os interessados que ainda não fazem parte do
processo.

Além disso, tem que intimar a Fazenda Pública, e o MP se houver herdeiro incapaz ou
ausente, ou do testamenteiro se houver testamento, nos termos do art. 626 do CPC.

Feitas todas as intimações, todos os sujeitos terão prazo de 15 dias para se manifestar
sobre as primeiras declarações. O juiz terá que decidir sobre eventuais impugnações.

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Decididas eventuais impugnações, o juiz determinará que se faça eventual AVALIAÇÃO


DOS BENS DO ESPOLIO. A avaliação será feita por perito. Só se dispensa a avaliação se
TODOS os herdeiros concordarem com os valores dos bens.

Feita a avaliação dos bens, os interessados têm 15 dias para se manifestar sobre ela e
o juiz vai decidir eventual impugnação à avaliação. Proferida essa decisão sobre
alguma impugnação à avaliação, virão as “últimas declarações”.

Nas ÚLTIMAS DECLARAÇÕES o inventariante vai ratificar ou retificar as primeiras


declarações. As ultimas declarações são muito importante por um detalhe relacionado
a SONEGAÇÃO DE BENS. A lei é expressa ao dizer que só se pode imputar ao
inventariante a sonegação depois das ultimas declarações. Enquanto o inventariante
não fizer as últimas declarações, a ele não poderá ser imputada a condenação por
sonegação de bens.

Apresentadas as últimas declarações os interessados podem se manifestar em 15 dias.


Depois disso o juiz determina que se promova o CÁLCULO DO TRIBUTO. Existe um
tributo que tem que ser pago que é o ITD. No processo do inventário quem calcula o
valor a ser pago a título de imposto de transmissão é o Judiciário. Os autos vão ao
contabilista judicial e o contabilista faz o cálculo. Apresentado o cálculo as partes têm
5 dias para se manifestar. Na sequência vem uma decisão que se chama “JULGAMENTO
DO CÁLCULO DO TRIBUTO”. Cabe agravo de instrumento dessa decisão.

A decisão do julgamento do cálculo do tributo é muito importante porque define o


valor do tributo, e porque ela é ato final da fase de inventário. Com esse ato, se sabe
quem são os herdeiros, quais são os bens, o valor dos bens e o que tem que pagar de
imposto. Encerra-se aqui a fase do inventário.

EM SUMA: A Fase de Inventário segue os seguintes marcos:

 Petição Inicial de Requerimento;


 Nomeação do Inventariante;
 Assinatura do Termo de Inventariança pelo inventariante;
 Apresentação das “Primeiras Declarações”;
 Citação dos interessados;
 Impugnações dos interessados às Primeiras Declarações;
 Avaliação dos Bens do Espolio;
 Impugnação dos interessados a avaliação;
 Apresentação das “Últimas Declarações”;
 Manifestação dos Interessados quanto às Últimas Declarações;
 Cálculo do ITD pelo contabilista judiciário;
 Manifestação das Partes em 5 dias sobre o cálculo do tributo;
 Decisão quanto ao Julgamento do Cálculo do Tributo.

Cumpre ainda destacar dentro dessa fase a “colação”. A COLAÇÃO consiste no ato pelo
qual os descendentes que concorrem à sucessão de ascendente comum são obrigados
a conferir as doações e dotes que receberam em vida, sob pena de sonegados, com a

61
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finalidade de igualar suas legítimas e a do cônjuge sobrevivente (art. 2003 e 2004 do


CC).

Os ascendentes podem fazer doações a seus descendentes. Mas isso é considerado


ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA (art. 554 do CC), como se o antecessor estivesse
antecipando ao sucessor a entrega de bens da herança. Com o falecimento, será
necessário que aquele que as recebeu em vida do autor da herança traga os bens à
colação, para que sejam abatidos de sua parte na herança, igualando-se os quinhões.

O art. 2010 e 2011 dispensam alguns bens da colação, como os gastos ordinários do
ascendente com o descendente, enquanto menor, na sua educação e etc. São
dispensadas de colação ainda as doações remuneratórias.

Cumpre destacar que qualquer herdeiro poderá reclamar, do beneficiado, a colação


dos bens que recebeu, sob pena de ação de sonegados.

Como é feito o pagamento das dívidas do de cujus?

Outro incidente que pode ocorrer no inventário, quando o falecido tiver deixado
dívidas é o PAGAMENTO DAS DÍVIDAS. Nesse sentido, o espólio responde pelas dívidas
até que haja a efetivação da partilha, caso em que a obrigação passará aos herdeiros,
respeitadas as forças da herança.

Na fase de inventário são declaradas as dívidas deixadas pelo de cujus, que deverão
ser pagas pelo espólio, de sorte que a partilha recaia apenas sobre o patrimônio
remanescente.

Quando a dívida já estiver vencida, o credor poderá habilitá-la no próprio inventário.


Ele comprovará a existência do débito e seu valor. O ato que julga a habilitação do
crédito tem natureza de sentença e deve ser objeto de apelação.

Se a dívida ainda não estiver vencida, o credor pode pedir ao juízo a reserva de bens,
que permanecerá eficaz pelo mesmo prazo. Mas este só começará a correr a partir do
vencimento.

O procedimento de habilitação no inventário é facultativo, já que o credor pode optar


por desde logo ajuizar ação de cobrança.

Para o pagamento das dívidas será consumida primeiro a parte dos herdeiros, pois os
legados têm preferência. Somente se insuficiente se poderão consumir os bens legados.

2. FASE DE PARTILHA:

A partilha tem início depois de concluída a fase de inventário, apurados quais os bens
que efetivamente compõem a herança, os herdeiros, e o quinhão que cabe a cada um.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Na fase de partilha pegam-se os bens e dividem-se entre os herdeiros. Essa segunda


fase começa com os pedidos de quinhão.

As partes podem apresentar em 15 dias o seu PEDIDO DE QUINHÃO. Essa é a hora de se


pedir o que se quer. Cada herdeiro pode pedir determinado bem. As vezes dá para
conciliar os interesses dos herdeiros. Se der para conciliar, o juiz deverá conciliar.

O juiz proferirá uma decisão que se chama “DELIBERAÇÃO SOBRE A PARTILHA”


estabelecendo critérios da partilha, observando, dentro do possível, os pedidos de
quinhão feito pelos herdeiros.

Proferida essa decisão os autos são encaminhados ao PARTIDOR para ESBOÇO DE


PARTILHA. É um rascunho da partilha, é uma primeira sugestão da partilha. Esse esboço
de partilha vai para os autos e os interessados tem 15 dias para se manifestar.

O juiz então havendo impugnação decide e determina que se faça o LANÇAMENTO DA


PARTILHA nos autos. Quem faz o lançamento da partilha nos autos é o partidor.

Lançada a partilha nos autos chega o momento em que é preciso comprovar o


PAGAMENTO DO IMPOSTO. Enquanto não se provar o pagamento do imposto o juiz não
poderá proferir a sentença. Só pode proferir a sentença depois de comprovado o
pagamento do imposto. Ao final o juiz profere a sentença.

Transitado em julgado a sentença serão expedidos os FORMAIS DE PARTILHA. O formal


de partilha é um documento que possibilita a prática de atos registrais. O formal de
partilha é entregue ao herdeiro após o trânsito em julgado da sentença.

Como se apura o valor do bem em uma partilha?

A partilha deverá ser calculada pelo valor dos bens no momento da abertura da
sucessão e não no momento em que a partilha é feita.

O art. 639, parágrafo único do CPC estabelece que o valor para a conferência será o
dos bens na data da abertura da sucessão.

Em que consiste a sobrepartilha?

A SOBREPARTILHA foi prevista no art. 669 do CPC, como mecanismo de partilha de


bens, após o julgamento da partilha originária. Os bens que devem ser sobrepartilhados
são: os sonegados; os que integram a herança, mas que só foram descobertos depois
da partilha, os litigiosos, assim como os de liquidação difícil ou morosa e os situados
em lugar remoto da sede do juízo em que se processo o inventário.

 CUMULAÇÃO DE INVENTÁRIOS ou INVENTÁRIO CONJUNTO:

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Emerj CPIII-A Processo Civil

O inventário conjunto foi previsto no art. 672 do CPC. A lei trouxe a possibilidade de
CUMULAÇÃO DE INVENTÁRIOS nas seguintes hipóteses:

(i) Quando os sucessores forem os mesmos, ou seja, identidade de pessoas


entre as quais devem ser repartidos os bens. Aqui a ligação é entre os
herdeiros.

Exemplo: cara morreu sem deixar herdeiros necessários e deixou tudo para
Joao e José que são primos. Um tio de Joao e José também morreu e deixou
todo o patrimônio para Joao e José. João e José podem fazer um processo
só para inventariar os bens de ambos os de cujus.

(ii) Quando se tratar de heranças deixadas pelos 2 cônjuges ou companheiros.


Aqui a ligação é entre os falecidos.

Exemplo: A tem 2 filhos. Imagine que A se separa e casa com outra mulher
que também tem 2 filhos do primeiro casamento. A e a mulher morrem em
um acidente de avião. Os herdeiros de A não são herdeiros do cônjuge,
contudo poderá haver um inventário conjunto em razão da ligação entre os
cônjuges.

(iii) Quando uma partilha depender da outra.

Exemplo: A morreu deixando 2 filhos. Instaura-se o inventário para dividir.


No curso do processo um dos filhos morre deixando herdeiros. A partilha dos
bens desse filho que morreu dependerá da partilha do falecido A. Nesse
caso reúne tudo em um processo só.

Nesse caso, se a dependência for parcial, por haver outros bens, o juiz
poderá determinar a tramitação separada, se melhor convier ao interesse
das partes e à celeridade processual.

Concluído o estudo do Procedimento Tradicional do Inventário, passemos ao estudo


dos dois últimos procedimentos de inventário:

(ii) ARROLAMENTO COMUM:

O Arrolamento Comum está previsto no art. 664 do CPC e será observado quando os
bens do inventariante forem de BAIXO VALOR, ou seja, ATÉ 1000 SALÁRIOS MÍNIMOS,
independentemente da existência de herdeiros incapazes ou da divergência entre os
interessados.

O Arrolamento Comum consiste em uma FORMA SIMPLIFICADA DE INVENTÁRIO, prevista


para a hipótese dos bens do espólio serem de pequeno valor, até o limite de 1000
salários mínimos.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Não há necessidade de acordo entre os interessados, nem é preciso que sejam todos
maiores ou capazes. Basta que o valor não ultrapasse o teto previsto em lei.

O procedimento do arrolamento comum é bastante simplificado. O art. 664 do CPC


traz as principais regras, mas, havendo omissão legal, será aplicável, supletivamente,
o procedimento do inventário comum.

O procedimento de arrolamento comum não é faculdade das partes; assim, verificado


que o valor não ultrapassa o montante mencionado, a adoção será cogente.

(iii) ARROLAMENTO SUMÁRIO:

O Arrolamento Sumário é forma ainda mais simplificada de inventário, a ser observada


quando todos os herdeiros forem maiores e capazes, e estiverem de acordo, seja qual
for o valor dos bens. O Arrolamento Sumário está previsto no art. 659 do CPC.

A abertura do inventário no arrolamento sumário deve ser requerida em conjunto por


todos os herdeiros ou apenas um com o consentimento dos demais, o que tornará
dispensável a citação, pois estarão todos representados nos autos. Se algum herdeiro
for incapaz ou estiver desaparecido, haverá inventário comum. Havendo herdeiros
capazes, será preciso que os cônjuges também outorguem procuração, já que a
partilha amigável tem caráter negocial e exige a outorga uxória, ressalvado o regime
de separação total.

O imposto de transmissão será objeto de lançamento administrativo, conforme


dispuser a legislação tributária, não ficando as autoridades fazendárias adstritas aos
valores dos bens do espólio, atribuídos pelos herdeiros. Por isso a Fazenda Pública não
precisa ser citada, bastando que seja intimada da sentença homologatória, para tomar
as providências e cobrar o que entender devido. Por isso esse procedimento é mais
simples.

Qual a diferença entre o Arrolamento Comum e o Arrolamento Sumário?

Não se deve confundir o arrolamento comum com o arrolamento sumário.

O ARROLAMENTO COMUM consiste em uma forma simplificada de inventário, a ser


adotada quando o valor dos bens é pequeno.

O ARROLAMENTO SUMÁRIO, por sua vez, constitui forma ainda mais simplificada de
inventário, a ser observada quando todos os herdeiros forem maiores e capazes, e
estiverem de acordo. A rigor, não haveria necessidade de ingresso em juízo, já que
preenchidos tais requisitos, o inventário e a partilha podem ser feitos por Escritura
Pública. Mas os interessados podem preferir a via judicial, caso em que se valerão do
arrolamento sumário. Aqui o valor dos bens é irrelevante, bastando que haja acordo
entre os herdeiros, e que eles sejam todos capazes.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

A existência de testamento não impede o arrolamento sumário, desde que respeitadas


as vontades do testador. Nesse caso, haverá intervenção do MP que será intimado dos
atos do processo.

TABELA DO CONCURSEIRO:

INVENTÁRIO JUDICIAL INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL


 Será judicial, obrigatoriamente, se  Se todos os herdeiros forem maiores,
houver incapz ou testamento. capazes e concordes, poderá o
inventário e partilha realiar-se por
escritura pública.

 É aquele requerido pelos interessados  É processado perante autoridade


à autoridade judicial. administrativa, o tabelião de notas.

 É indispensável quando houver:  Poderá ser realizado quando não


a) Testamento; houver interessados incapazes e for
b) Interessados Incapazes. consensual.

Súmula Redação

Súmula 542 STF  Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-Membro,


como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do
inventário.

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

No processo de inventário de Rui, os herdeiros Arlindo e Edgar ingressaram com


incidente de remoção da inventariante Elvira, companheira de Rui. Alegam que esta
vem praticando atos incompatíveis com o encargo, deixando de administrar
corretamente os bens do espólio com o não pagamento de tributos incidentes sobre
os bens, além de não ter apresentado as primeiras declarações no prazo de vinte
dias previsto em Lei, e de ter sonegado bens. Requerem, deste modo, que Arlindo
seja nomeado inventariante. Em defesa, Elvira comprovou que não incorreu em
nenhuma das hipóteses previstas em Lei para ser removida, e demonstrou que
requereu a dilação do prazo de 20 dias, o que foi deferido pelo juízo e que não
poderia incorrer em sonegação, pois ainda não houve a descrição dos bens. Decida
a questão abordando os dispositivos pertinentes para fundamentar a decisão.

Resposta:

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Emerj CPIII-A Processo Civil

No caso em tela, não há falar em sonegação por parte da Elvira pois a sonegação
somente pode ser imputada após as ultimas declarações. Elvira não tinha feito ainda
as últimas declarações, uma vez que o juiz prorrogou o prazo das primeiras
declarações, logo, não é possível imputar a Elvira à sonegação de bens.

Agravo de Instrumento 0053741-28.2015.8.19.0000: “Direito Processual


Civil e Direito das Sucessões. Remoção de Inventariante. Decisão que
julgou improcedente requerimento de remoção da inventariante. Falta de
Pagamento de impostos dos bens arrolados no inventário incapaz de
caracterizar desídia da inventariante, ao menos neste momento, a
justificar a sua remoção. Não há que se falar em sonegação de bens antes
das últimas declarações, conforme previsto no art. 621 do CPC. Ausencia
de demonstração de desídia da inventariante, ou descumprimento das
funções previstas nos arts. 618 e 619 do CPC. Condutas que não se
enquadram nas hipóteses previstas no art. 622 do CPC. Recurso
desprovido.”

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 7 - Prof. Alexandre Câmara


31/07/18

EMENTA:  Noções Gerais sobre Procedimentos de Jurisdição Voluntária.

 NOÇÕES GERAIS SOBRE PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA:

Qual a natureza jurídica da jurisdição voluntária?

A questão mais discutida a respeito da jurisdição voluntária é a sua natureza. Vejamos


abaixo as posições doutrinárias existentes sobre o tema:

CORRENTE 1) Corrente defendida por Humberto Theodoro Jr entende que a jurisdição


voluntária tem NATUREZA ADMINISTRATIVA. Essa corrente é defendida pela Teoria
Clássica. Segundo os defensores dessa teoria a jurisdição voluntária é uma atividade
administrativa pois é atividade administrativa que é desenvolvida em um procedimento
administrativo conduzido por um juiz. Ademais nesse procedimento somente constam
interessados, não existindo litígio, não tendo a decisão proferida pelo juiz o condão de
atingir a imutabilidade.

CORRENTE 2) Segundo essa corrente a jurisdição voluntária tem natureza de ATIVIDADE


JURISDICIONAL, uma vez que há, de fato, o exercício da jurisdição, eis que se trata de
atividade desempenhada por membro do Poder Judiciário.

OBS: Segundo o prof. Alexandre Câmara, a jurisdição voluntária é considerada


verdadeira jurisdição, não tendo natureza administrativa. Contudo, no livro do prof.
Rodolfo Hartmann destaca-se que a corrente majoritária é a que defende que a
jurisdição voluntária tem natureza administrativa. Na prova tratar da divergência.

Em que consiste a jurisdição voluntária?

A JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA é atividade jurisdicional exercida quando o pedido feito é


de integração de um negócio jurídico de direito privado.

Para Moacyr Amaral Santos, a jurisdição voluntária deve ser compreendida como
administração pública dos interesses privados.

Exemplo: acordo consensual de separação envolvendo menores é processo de


jurisdição voluntária. Isso porque o negócio celebrado entre os cônjuges somente é
eficaz se o juiz homologar. Ou seja, o acordo consensual feito somente terá eficácia
se homologado pelo juiz.

Assim, a jurisdição voluntária não serve para que o juiz diga quem tem razão, como
nos processos de jurisdição contenciosa, mas sim para que tome determinadas
providências necessárias para a proteção de um ou de ambos os sujeitos da relação
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processual. É possível que na sentença da jurisdição voluntária ambas as partes se


beneficiem da decisão, o que não ocorre na sentença de jurisdição contenciosa.

Há uma tendência mundial, inclusive no Brasil, de DESJUDICIALIZAÇÃO DA JURISDIÇÃO


VOLUNTÁRIA, de forma que alguns atos sejam resolvidos extrajudicialmente, passando,
por exemplo, a ser resolvidos em cartório e não mais pelo juiz. Exemplos de atos
extrajudiciais: contrato de inventário e partilha celebrado no cartório, o divórcio
consensual sem menores envolvidos e etc.

Qual a natureza jurídica de uma sentença em processo de jurisdição voluntária?

Toda a sentença de jurisdição voluntária tem NATUREZA CONSTITUTIVA. Isso porque


na sentença constitutiva, além da declaração do direito, há a constituição de novo
estado jurídico, ou a criação ou a modificação de relação jurídica. Exemplo: divórcio.

Quais as características da jurisdição voluntária?

Entre as principais CARACTERÍSTICAS da jurisdição voluntária destacam-se:

(i) Mitigação do Princípio da Inércia: o juiz pode, em muitos casos, dar início
aos processos de ofício, como na abertura e cumprimento de testamentos
e arrecadação da herança jacente;
(ii) Substitutividade;
(iii) Atua direitos preexistentes (ainda que a sentença seja constitutiva);
(iv) Não se forma a coisa julgada material. A coisa julgada material é um
fenômeno típico da jurisdição contenciosa;
(v) Não se fala em partes, mas sim interessados;
(vi) Procedimento, em regra, é mais sumário que o dos processos de jurisdição
contenciosa;
(vii) Não se aplica o princípio da legalidade estrita, como estabelece o art. 723,
parágrafo único do CPC. O juiz não é obrigado a observar o critério da
legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar
mais conveniente ou oportuna (equidade).

 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA:

Estes procedimentos de jurisdição voluntária observam, em regra, uma mesma


sequência, que pode variar de acordo com uma maior especialização do assunto.

Qual o rito básico ou geral dos procedimentos de jurisdição voluntária?

O RITO BÁSICO destes procedimentos estão no CPC (art. 719 – 725) que em síntese
estabelece que:

69
Emerj CPIII-A Processo Civil

 O procedimento de jurisdição voluntária se inicia com requerimento do


interessado ou do MP ou da Defensoria Pública instruída com os documentos
necessários;
 Na sequência citam-se todos os interessados para responder em 15 dias. Intima-
se o MP para que se manifeste sobre interesse público primário apto a ensejar
a sua participação. A intimação do MP é pressuposto de validade do processo
(art. 279 do CPC). Também a Fazenda Pública deverá ser intimada se tiver
interesse no processo;
 Havendo necessidade de provas elas serão produzidas nos mesmos moldes que
ocorre nos procedimentos de jurisdição contenciosa;
 Juiz então profere sentença no prazo impróprio de 10 dias, sendo-lhe
autorizado decidir por EQUIDADE. A sentença comporta recurso de apelação e
não irá gerar coisa julgada material.

Há, ainda, a regra prevista no art. 725 do CPC que estabelece as causas que deverão
ser processadas de acordo com o RITO BÁSICO acima transcrito. Vejamos:

Art. 725 do CPC: “Processar-se-á na forma estabelecida nesta Seção o


pedido de:
I - emancipação;
II - sub-rogação;
III - alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou
adolescentes, de órfãos e de interditos;
IV - alienação, locação e administração da coisa comum;
V - alienação de quinhão em coisa comum;
VI - extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do usufrutuário,
do termo da sua duração ou da consolidação, e de fideicomisso, quando
decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que caracterizar
a condição resolutória;
VII - expedição de alvará judicial;
VIII - homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza
ou valor.
Parágrafo único. As normas desta Seção aplicam-se, no que couber, aos
procedimentos regulados nas seções seguintes.

Quais os temas que o CPC trouxe como procedimentos especiais de jurisdição


voluntária?

No capítulo que trata de jurisdição voluntária o CPC elencou os seguintes


procedimentos:

(i) Notificação e Interpelação: art. 726-729 do CPC;


(ii) Alienação Judicial: art. 730 do CPC;
(iii) Divórcio Consensual e Separação Consensual, Extinção Consensual da União
Estável e da Alteraçao do Regime de Bens do Matrimonio: art. 731 a 734;
(iv) Testamento e Codicilo: art. 735-737 do CPC;
70
Emerj CPIII-A Processo Civil

(v) Herança Jacente: art. 738-743 do CPC;


(vi) Bens do Ausente: art. 744-745 do CPC;
(vii) Coisas Vagas: art. 746 do CPC;
(viii) Interdição: art. 747-763 do CPC;
(ix) Organização e Fiscalização das Fundações: art. 763- 765 do CPC; e
(x) Ratificação de Protestos Marítimos e dos Processos Testemunháveis
formados a Bordo: art. 766-770 do CPC.

Todos esses temas são procedimentos de jurisdição voluntária. [LER OS ARTIGOS DO


CPC]

Quem participa do processo de jurisdição voluntária?

Participam necessariamente do processo de jurisdição voluntária TODOS OS


INTERESSADOS.

Exemplo: em um divórcio consensual, participam ambos os cônjuges. Isso resulta da


garantia constitucional do contraditório.

Em quais casos de jurisdição voluntária o Ministério Público deverá intervir?

O MINISTÉRIO PÚBLICO somente participará nos casos previstos no art. 178 do CPC.

Art. 178 do CPC: “O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30


(trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas
em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:
I - interesse público ou social;
II - interesse de incapaz;
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si
só, hipótese de intervenção do Ministério Público.

A Fazenda Pública deverá participar dos processos de jurisdição voluntária?

A FAZENDA PÚBLICA será chamada a se manifestar sempre que tiver interesse no caso.

Assim, se o processo de jurisdição voluntária envolver interesse da Fazenda, do Estado,


então, nesse caso, a Fazenda deverá participar, sob pena de nulidade.

O processo de jurisdição voluntária é decidido por sentença. Da sentença caberá


apelação.

71
Emerj CPIII-A Processo Civil

IMPORTANTE!!!
Pode haver jurisdição por equidade no Estado Democrático de Direito?

A EQUIDADE permite ao juiz decidir de acordo com critérios pessoais, mesmo que de
forma contrária ao que reza a lei.

A lei autoriza o juiz a decidir por equidade, nos termos do art. 723, parágrafo único
c/c art. 140, parágrafo único do CPC.

Art. 723 do CPC: “O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias.


Parágrafo único: O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade
estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais
conveniente ou oportuna.”

Art. 140 do CPC: “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna
ou obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em
lei.”

O CPC autoriza o juiz, em caso de jurisdição voluntária, se considerar mais conveniente


e oportuno, a proferir uma decisão que não dá ao caso a solução estabelecida por lei
(como se a lei fosse uma espécie de sugestão), mas sim aquilo que o juiz acredita ser
o mais correto.

Assim, dentro desse contexto de equidade, se o juiz achar que a solução da lei não é
a mais justa, ele poderá dar uma solução alternativa baseada na equidade, podendo
decidir de forma diferente.

A matéria, contudo, é complexa e divide a doutrina da seguinte forma:

CORRENTE 1) A CORRENTE POSITIVISTA (defendida por Hans Kelsen e outros) entende


ser possível decisões por equidade em certas situações. Assim, para os positivistas, em
alguma medida, o juiz poderá decidir por equidade, conforme seu próprio juízo de
conveniência e oportunidade.

CORRENTE 2) A CORRENTE PÓS-POSITIVISTA (defendida por Ronald Dworkin) não


admite as decisões por equidade, sob pena de se instaurar uma enorme insegurança
jurídica.

Essa discussão está intrinsicamente ligada a questão do ATIVISMO JUDICIAL. Isso


inclusive já foi discutido no STF. O Ministro Barroso, por exemplo, é ativista. Ele
entende que o Judiciário deve atuar de forma mais ativa, defendendo, portanto, uma
postura positivista. Ele consagra que a Suprema Corte além do papel contra
majoritário, tem outros papeis, inclusive, o papel representativo e um papel
iluminista. Nem sempre o ativismo é para melhor. Muitas vezes o ativismo é para pior.

72
Emerj CPIII-A Processo Civil

Qual a crítica que é feita a jurisdição voluntária por EQUIDADE?

Quando se admite que uma decisão seja proferida discricionariamente, se admite que
diante de uma mesma situação coexistam duas ou mais soluções, sendo todas
juridicamente legítimas.

Para muitos doutrinadores isso é um problema porque ao admitir discricionariedade


decisória, se está dizendo qual das soluções adotada é indiferente para o Direito. O
Direto no Estado Democrático não pode admitir a indiferença. A decisão do juiz não
pode ser indiferente. Para os que criticam a jurisdição por equidade o direito não
pode conviver com a indiferença, sob pena de se criar uma situação de insegurança
jurídica.

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)
Ametista, Rubi e Safira alegam ser proprietárias da Empresa Confecções Preciosas
S.A., que se encontra extinta, exercendo a sócia Rubi o cargo de Liquidante da
Empresa. Após várias tentativas para saber a quantidade de ações que a extinta
empresa possuía da Empresa Light S/A, as sócias ingressaram com uma demanda de
Jurisdição Voluntária, na qual pretendem a concessão de alvará judicial para
viabilizar o resgate e a liquidação de ações da Empresa Light S/A pertencentes à
empresa extinta, viabilizando o levantamento pelos seus sócios dos valores
apurados. Ocorre que, solicitadas as informações à Empresa Light S/A, esta afirmou
que não consta em seus registros a existência de ações ordinárias escriturais em
nome da Empresa Preciosa S.A. Diante da resistência da Light S.A., o magistrado
extinguiu a demanda sem resolução do mérito. Pergunta-se: Está correta a decisão
do magistrado? Resposta fundamentada.

Resposta:

Correta a decisão do magistrado. Isso porque a demanda de jurisdição voluntária tem


como característica principal o fato de que não há lide entre as partes. Até porque na
jurisdição voluntária não há instrução processual, não podendo a causa ser de alta
complexidade.

No caso em tela, verifica-se que há ponto controvertido entre as demandantes e a


Light, de modo que é necessário uma fase de conhecimento para desvendar tal ponto
controvertido, o que não é possível em uma demanda de jurisdição voluntária.

Nesse sentido, agiu corretamente o magistrado ao extinguir a demanda sem resolução


do mérito, porque a via eleita é via inadequada.

Apelação Civel 0010683-88.2014.8.19.0006: Direito Processual Civil. Alvará


Judicial. Procedimento de Jurisdição Voluntária previsto no art. 719 e
73
Emerj CPIII-A Processo Civil

seguintes do CPC que não se coaduna com a existência de controvérsia, a


qual torna necessária a observância de ampla defesa e do contraditórioo
das partes interessadas, o que não ocorreu no presente caso. O alvará
judicial é um procedimento de jurisdição volunta´ria que noa se coaduna
com a existência de controvérsia sobre a existência do direito invocado.
Existindo resistência do terceiro, os demandantes devem buscar a
satisfação da sua pretensão através de procedimento contencioso.
Inadequação da via eleita. Recurso Desprovido.

74
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aulas 8 - Prof. Rodolfo Hartmann


01/08/18

EMENTA:  Juizados Especiais Cíveis (Estadual e Federal) e Juizado


Especial da Fazenda Pública.
 Noções Gerais.
 Princípios Informadores.

Os Juizados Especiais Cíveis constituem mecanismos de facilitação do acesso à justiça,


pois permitem que determinados litígios, que talvez não fossem levados ao Judiciário
antes, possam sê-lo.

Nesse sentido, o principal objetivo dos Juizados Cíveis é permitir que certas demandas
que jamais seriam propostas pudessem sê-lo. Para alcançar tal fim, o Juizado se vale
de um procedimento muito simplificado, regido pela informalidade, de custos muito
menores e mais célere.

Passemos a uma breve análise do “Microssistema dos Juizados Especiais”.

 MICROSSISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS:

O Princípio do Microssistema consagra a ideia de que não necessariamente uma lei


contemplará resposta a todas as questões, muitas vezes há uma lacuna na lei que
deverá ser suprida por outra lei pertencente ao microssistema. Verifica-se o que a
doutrina consagra como “DIÁLOGO DAS FONTES” entre as diversas leis que compõem o
microssistema.

Nesse sentido, o MICROSSISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS é composto basicamente por


3 leis:

 Lei 9099/95 (Lei do Juizado Especial Estadual);


 Lei 10.259/01 (Lei do Juizado Federal); e
 Lei 12.153/09 (Lei do Juizado Fazendário).

Exemplo de aplicação do Microssistema dos Juizados:


A Lei 9099, em seu art. 38, estabelece que não há necessidade de relatório na
sentença. Por sua vez, o tema da desnecessidade de relatório na sentença não encontra
previsão na Lei dos Juizados Federais. Contudo, em razão do microssistema dos
juizados, adota-se a mesma regra prevista no art. 38 da Lei 9099 aos Juizados Federais.
Assim, as sentenças proferidas no âmbito dos Juizados Federais também não precisam
ter relatório.

Qual o fundamento legal dos Juizados Especiais Cíveis?

Os Juizados Especiais Cíveis encontram fundamento no art. 98 da CF que assim


estabelece:
75
Emerj CPIII-A Processo Civil

Art. 98 da CF: “A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados


criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas
cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas
hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por
turmas de juízes de primeiro grau;

A primeira lei que surgiu foi a Lei 9099/95 que regula os Juizados Estaduais. É uma lei
federal que estruturou o Juizado Especial Cível e também o Criminal. Foi feita por
meio de uma lei federal pois a lei trata de procedimento. A Lei 9099 regulou os
Juizados Especiais Cíveis, instalados na Justiça Estadual.

A Lei 9099 trouxe acessibilidade à Justiça, eliminando alguns entraves burocráticos.

Os JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS CÍVEIS têm um teto de até 40 SALÁRIOS MÍNIMOS.


Estes Juizados também não se prestam a julgar causas fazendárias, ou seja, proíbe-se
interesse fazendário nesses juizados.

Na sequência, criou-se a Lei 10.259/01 que implantou os Juizados Federais que são
integrantes da Justiça Federal. No Juizado Especial Federal é possível o interesse
Fazendário.

O JUIZADO FEDERAL foi estruturado permitindo causas de interesse fazendário, porém,


sempre no polo passivo, ou seja, a União e Fazenda não podem ser demandantes, mas
sempre demandados nesses juizados. Ademais, o teto do Juizado Federal é de até 60
SALÁRIOS MÍNIMOS.

Muitos doutrinadores passaram a defender, com base no microssistema, que se a Lei


do Juizado Federal alterou certos parâmetros, isso deveria ser utilizado também no
Juizado Estadual. Esse tema, contudo, não vingou, ou seja, manteve-se o Juizado
Estadual com 40 salários mínimos e sem Fazenda Pública.

Posteriormente, editou-se a Lei 12.153/09 que criou o JUIZADO ESTADUAL


FAZENDÁRIO. Essa lei também é uma lei federal e ela é muito semelhante a lei do
Juizado Federal. Isso porque a Lei 12.153 também tem TETO DE 60 SALÁRIOS e também
permite causas envolvendo a Fazenda Pública.

 PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS ESPECIAIS:

Para que o Juizado Especial pudesse alcançar a sua finalidade, era necessário que fosse
regido por princípios compatíveis com a facilitação do acesso à Justiça.

O sistema processual do Juizado é regulado por princípios próprios previstos no art. 2


da Lei 9099/95.

76
Emerj CPIII-A Processo Civil

Art. 2 da Lei 9099: “O processo orientar-se-á pelos critérios de oralidade,


simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando,
sempre que possível a conciliação ou transação.”

Os mesmos princípios são válidos para o Juizado Federal e Juizado Fazendário.

Vejamos abaixo os princípios informadores dos Juizados:

1. PRINCÍPIO DO MICROSSISTEMA DOS JUIZADOS:

De acordo com o Princípio do Microssistema prevalece o diálogo das fontes devendo


ser aplicado supletivamente qualquer das leis dos Juizados no caso de omissão de
normas próprias. Ademais, como o Juizado Especial constitui um microssistema, as
regras do CPC só poderão ser aplicadas supletivamente na omissão de normas próprias,
e desde que não ofendam o sistema e os princípios dos Juizados.

Passemos abaixo a um tema que envolve o principio do microssistema dos juizados e


tem relação com a tutela provisória de urgência.

Cabe tutela provisória de urgência nos Juizados?

No caso dos Juizados Estaduais, a Lei 9099 não faz menção expressa em relação a
possibilidade de tutelas provisórias de urgência.

Contudo, no caso dos Juizados Federais e dos Juizados Fazendário já há permissão


expressa quanto a possibilidade de provimentos de urgência (vide art. 4 da Lei
10.259/01 e art. 3 da Lei 12.153/09).

Art. 4 da Lei 10.259: “O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das


partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano
de difícil reparação.”

Art. 3 da Lei 12.153: “O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das


partes, deferir quaisquer providências cautelares e antecipatórias no curso
do processo, para evitar dano de difícil ou de incerta reparação.”

Dessa maneira, como existe previsão expressa no trato dos provimentos provisórios,
tanto no Juizado Federal quanto no Fazendário, tais normas é que devem prevalecer,
aplicando-se, portanto, o diálogo das fontes e o Princípio do Microssistema dos
Juizados, de forma que também nos Juizados Especiais Estaduais seja possível a
concessão de tutelas de urgência, em que pese a ausência de dispositivo sobre a
matéria na Lei 9099. Com isso o Microssistema dos Juizados permaneceria íntegro,
possibilitando que aqueles processos de competência dos Juizados Estaduais também
tenham um modelo para análise de tutelas de urgência.

77
Emerj CPIII-A Processo Civil

Conclui-se, pois que os três Juizados permitem a tutela antecipada, o que será
diferente é o recurso cabível.

Quais os requisitos da tutela de urgência?

São 3 os requisitos da tutela de urgência:

1. Probabilidade do Direito;
2. Reversibilidade dos Efeitos; e
3. Risco de Dano ou de Perigo de Dano.

Esses 3 requisitos são os mesmos tanto nas Varas Cíveis quanto nos Juizados Especiais.

O processamento da tutela provisória do CPC é diferente do processamento da tutela


provisória no Juizado.

Se a parte pedir tutela antecipada em vara cível e o réu não agravar o processo é
extinto e a liminar fica estável. A forma de mudar a decisão estabilizada é por meio
de uma nova ação, na mesma vara, com uma nova petição inicial.

No microssistema dos Juizados não se tem o agravo de instrumento, além do que no


Juizado Estadual nem todo mundo pode ser autor desta ação para revogar ou mudar a
tutela estabilizada (art. 304), logo nenhum Juizado segue o procedimento da tutela
antecipada e da tutela cautelar do CPC.

O procedimento da liminar nos Juizados Especiais é simplificado. A parte pede a


liminar, o juiz defere ou indefere, o processo segue, ou seja, não tem estabilidade até
o juiz sentenciar.

Quais os recursos cabíveis nos Juizados no caso de impugnação da liminar (tutela de


urgência)?

Tanto o Juizado Federal quanto o Juizado Fazendário preveem expressamente a


possibilidade de interposição de RECURSO no caso de impugnação da liminar. Contudo,
a lei não fala qual o recurso e prazo. Faz-se necessário, portanto verificar o Regimento.
O Regimento irá dizer qual o recurso e prazo. Nas Turmas Recursais do Juizado Federal
o recurso é chamado de “MEDIDA DE URGÊNCIA”.

Nesse sentido, pode-se afirmar que contra qualquer decisão em sede de Juizado
Federal e de Juizado Fazendário é cabível o MANDADO DE SEGURANÇA na TURMA
RECURSAL, EXCETO a decisão em sede de tutela de urgência/liminar pois a lei
expressamente prevê RECURSO.

Vejamos os dispositivos que tratam do tema:

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Art. 5 da Lei 10.259/01: “Exceto nos casos do art. 4o, somente será
admitido recurso de sentença definitiva.”

Art. 4 da Lei 12.153/09: “Exceto nos casos do art. 3o, somente será
admitido recurso contra a sentença.”

Nos Juizados Estaduais NÃO há previsão de recurso para impugnar a decisão da liminar.
Em que pese a ausência de disposição específica autorizando o uso de algum recurso,
havendo inconformismo, este deverá ser manifestado pela via do MANDADO DE
SEGURANÇA. Esse MS será utilizado com uma finalidade próxima de recurso, e,
portanto, o MS deverá ser impetrado perante a TURMA RECURSAL do Juizado.

2. PRINCÍPIO DA ORALIDADE:

O art. 2 da Lei 9099 prevê a possibilidade de apresentar a inicial e a contestação


oralmente. Contudo, essa oralidade não é plena, pois parte dos atos realizados
oralmente têm que ser reduzidos a termo.

Assim, verifica-se que boa parte dos atos é oral, e apenas o essencial é reduzido a
termo. O resto pode ficar gravado em fita ou equivalente, conforme o art. 13, §2 da
Lei 9099.

Art. 13 da Lei 9099: “Os atos processuais serão válidos sempre que
preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os
critérios indicados no art. 2º desta Lei.
§ 3 - Apenas os atos considerados essenciais serão registrados
resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou
estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou
equivalente, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão.

Entre exemplos da oralidade nos Juizados Especiais destacam-se:

 Inicial pode ser apresentada oralmente na Secretaria do Juizado;


 O mandato ao advogado pode ser verbal, salvo se contiver poderes especiais;
 A contestação pode ser apresentada oralmente;
 A prova oral não é reduzida a escrito;
 Os embargos de declaração podem ser opostos oralmente.

Art. 36 da Lei 9099 estabelece que a prova oral não será reduzida a termo (escrita).

Art. 36 da Lei 9099: “A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a
sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos depoimentos.”

No Juizado Estadual como o juiz leigo é quem faz a audiência, ele acaba reduzindo a
termo para que depois o juiz possa ler e assinar a sentença.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

3. PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE E DA INFORMALIDADE:

No processo tradicional verifica-se uma multiplicidade de formas e solenidades, o que


torna o processo moroso.

No Juizado Especial busca-se a informalidade e a simplicidade. A instrumentalidade


das formas é consagrada no art. 13, caput da Lei 9099/95.

A simplicidade e informalidade do procedimento se evidenciam por uma redução


substancial de termos e escritos do processo, com a adoção de mecanismos
diferenciados. Há inúmeras simplificações na petição incial, citação, resposta do reu,
colheita de provas, nos julgamentos e recursos.

O professor mencionado que o Juizado não usa o mecanismo da carta precatória, ou


seja, qualquer meio idôneo de comunicação poderá ser utilizado, não precisa da
burocracia da carta precatória. Pode ser por e-mail, de juízo a juízo. Isso porque, no
âmbito do Juizado vigora o critério da simplicidade e da informalidade.

Art. 13, § 2 Lei 9099: Os atos processuais serão válidos sempre que
preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os
critérios indicados no art. 2º desta Lei.
§ 2 - A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada
por qualquer meio idôneo de comunicação.

A intimação também pode ser por qualquer meio idôneo de comunicação, intimação
por whatsapp, intimação por telefone. Agora, se for caso de citação, tendo em vista
que o vício na citação é vicio grave, pois não convalida, é causa de anulação do
processo, deve-se ser mais criterioso com a formalidade no caso de citação. O
professor, por exemplo, não faz citação por whatsapp no Juizado em que atua.

4. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL E CELERIDADE:

No Juizado Especial busca-se uma celeridade e até uma certa economia processual
quando se tem atos que podem ser concentrados. Exemplo: existe a possibilidade da
fazer tudo em uma única audiência (ou seja na mesma audiência de conciliação fazer
a AIJ).

A ECONOMIA PROCESSUAL consagra que se deve tentar obter, sempre com o menor
esforço possível, os resultado almejados. Por sua vez, a CELERIDADE, nos Juizados, é
ainda mais destacada, pois está entre as suas finalidades dar uma solução mais rápida
aos litígios em geral.

Quais os mecanismos presentes na Lei 9099 que permitem afirmar a celeridade e


economia processual?

80
Emerj CPIII-A Processo Civil

A Lei 9099 vedou os incidentes que pudessem implicar em demora ou retardo do


processo, tais como:

 Não cabe reconvenção, o que tornou o processo do Juizado mais ágil;


 Não se admite intervenção de terceiros, salvo o incidente de desconsideração
da PJ;
 Não se admite a prova pericial.

Tudo isso contribuiu para uma maior celeridade nos Juizados. Justamente em razão da
celeridade dos Juizados e da concentração de atos é que a CF, em seu art. 98, se refere
ao procedimento dos Juizados como PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO.

Em que consiste o Procedimento Sumaríssimo dos Juizados Especiais?

De acordo com o CPC o procedimento a ser adotado nos juízos cíveis é o “comum”.

No caso específico dos Juizados, a CF, prevê que seja observado um rito mais
concentrado, nominado de “RITO SUMARÍSSIMO”.

Importante destacar que nos processos que tramitam perante o Juizado Especial,
apenas o rito sumaríssimo poderá ser empregado, com exclusão de todos os demais,
inclusive os especiais (ex: procedimento monitório).

Somente na ausência de regras mais específicas nestas leis regentes é que se poderá
empregar de maneira subsidiária o rito comum.

É cabível ação rescisória nos Juizados?

Não é cabível ação rescisória nos Juizados, nos termos do art. 59 da Lei 9.099/95.

Art. 59 da Lei 9099/95: “Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas
ao procedimento instituído por esta Lei.”

Contudo, o prof Alexandre Câmara e outros defendem que é possível utilizar a ação
rescisória em processo oriundo Juizado Especial em algumas situações. Com efeito, se
o STF prover ou desprover RE interposto de decisão de Turma Recursal, com resolução
do mérito da causa, o efeito substitutivo fará com que este acórdão substitua o
anterior, transformando-se em título executivo judicial. Nesse sentido, a própria CF
autoriza o STF a julgar ação rescisória dos seus própios acórdãos, não fazendo qualquer
ressalva de ele ter sido proferido ou não em processo iniciado em Juizado Especial.
Assim, sob esta ótica, não poderia esta restrição constante em lei ordinária (art. 59 da
Lei 9099) criar uma restrição que não existe no texto constitucional.

Como é a contagem dos prazos nos Juizados Especiais? Dias úteis ou dias corridos?

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Em sede de JUIZADO FEDERAL e TURMA RECURSAL FEDERAL é muito comum usar DIAS
ÚTEIS.

Contudo, o JUIZADO ESTADUAL DO RJ tem aplicado DIAS CORRIDOS. Mas, note que isso
pode variar de Juizado para Juizado.

É cabível a intervenção de terceiro nos Juizados?

O art. 10 da Lei 9099 consagra que não cabe intervenção de terceiro nos Juizados
Estaduais.

Art. 10 da Lei 9099: “Não se admitirá, no processo, qualquer forma de


intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio.”

Contudo, o art. 1062 do CPC consagra que é possível a intervenção de terceiro, na


modalidade de desconsideração da PJ, em Juizado Especial.

Art. 1062 do CPC: “O incidente de desconsideração da personalidade


jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais.”

Assim, em regra, não é cabível intervenção de terceiro em Juizado Especial, SALVO a


DESCONSIDERAÇÃO DA PJ.

É mais uma vertente da celeridade e da economia processual dos Juizados Especiais.

 COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS:

(i) COMPETÊNCIA NO JUIZADO ESTADUAL:

Em se tratando de Juizado Especial Estadual, a parte pode escolher entre ajuizar a


ação na vara cível ou no juizado especial estadual – é o que se chama de
OPCIONALIDADE, salvo para aqueles que são expressamente proibidos de litigar em
Juizado Estadual pela Lei 9099 (como o preso, o incapaz e etc). A competência do
Juizado Estadual é caso, portanto, de COMPETÊNCIA OPCIONAL.

A maioria da doutrina chama de COMPETÊNCIA CONCORRENTE ou “ABSOLUTA


OPCIONAL” uma vez que caberá a parte escolher onde ajuizar a demanda (se no
Juizado ou no Juizo Cível).

A competência dos Juizados (todos eles) pode ser em razão do valor e em razão da
matéria.

O Juizado Estadual tem competência sob duas modalidades:

82
Emerj CPIII-A Processo Civil

 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO CONTEÚDO ECONÔMICO: causas de até 40 salários


mínimos; e

 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DE MATÉRIA: destacando-se as seguintes matérias


previstas no art. 3 da Lei 9099/95:

(i) Possessória limitada até 40 salários;


(ii) Despejo para uso próprio; e
(iii) Matérias previstas no art. 275, II do CPC/73 (matérias utilizadas no
antigo procedimento sumário) – combinar com o art. 1063 do CPC.

Nesses casos o rito a ser observado é o Sumarissímo de modo que não há que se aplicar
o procedimento específico para a ação de despejo ou mesmo para as possessórias.
Contudo, alguns juízes entendem que pode seguir tanto o procedimento do juizado
(sumarissímo) como o procedimento especial se for uma ação possessória por exemplo.

O teto de 40 salários mínimos poderá ser ultrapassado nos Juizados Especiais


Estaduais?

O teto de 40 salários deverá ser calculado no momento da propositura da ação. Pode


acontecer de eventualmente ultrapassar o teto, em razão de eventuais multas e
correção moentária estabelecidas pelo juiz. Quando ultrapassar o teto o seguinte
racional deverá ser observado:

Se a causa tratar de demanda possessória não poderá ultrapassar o teto de 40 salários.


Isso porque o próprio legislador deixou bem claro (no art. 3 da Lei 9099) que os bens
não poderiam ter valor superior a este limite. Nas demais matérias (art. 275, II do
CPC/73 e nas ações de despejo para uso próprio) não haverá essa limitação, de modo
que é possível que existam demandas nos Juizados Estaduais com valores superiores
ao teto de 40 salários.

Art. 3 da Lei 9099: “O Juizado Especial Cível tem competência para


conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor
complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
[CPC/73]
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao
fixado no inciso I deste artigo.”

Art. 275, II do CPC/73: “Observar-se à o procedimento sumário:


II – nas causas, qualquer que seja o valor:
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condomínio de quaisquer quantias devidas ao
condomínio;
83
Emerj CPIII-A Processo Civil

c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;


d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente
de veículo, ressalvados os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários de profissionais liberais, ressalvado o
disposto em legislação especial;
g) que versem sobre revogação de doação;
h) nos demais casos previstos em lei.
Parágrafo Único: este procedimento não será observado nas ações relativas
ao estado e à capacidade das pessoas.”

(ii) COMPETÊNCIA NO JUIZADO FEDERAL:

A competência do Juizado Federal é ABSOLUTA, o que significa dizer que a parte não
poderá escolher se irá ajuizar a demanda no Juizado Federal ou na Juízo Cível Federal.
Nesse sentido, o art. 3 da Lei 10.259 estabelece que sendo um demanda de até 60
salários mínimos a parte deverá necessariamente ingressar com a ação no Juizado
Especial Federal.

Muitas partes costumam manipular o valor da causa, conforme o demandante queira


ou não ingressar perante o Juizado Federal, o que deve ser analisado com bastante
cuidado pelo juiz. Por esse motivo, o juiz poderá alterar de ofício o valor da causa
quando perceber que o mesmo está sendo manipulado para ofender normas processuais
que tutelam matérias de ordem pública.

O Juizado Federal, portanto, consagra a competência utilizando o critério do valor, só


que para demandas de até 60 salários.

Há também um rol de matérias que não podem ser abordadas no Juizado Federal, todas
elas previstas na lei, tais como aquelas envolvendo imóveis da Uniao, anulação do ato
administrativo (exceto os de natureza previdenciária ou de lançamento fiscal).

Ademais, destaca-se que o valor de até 60 salários mínimos deve ser analisado por
demandante. Exemplo: dois autores em litisconsórcio facultativo: A pede 40 salários
mínimos, B pede 50 salários mínimos, esses valores não serão somados, eles serão
analisados individualmente. O teto de 60 salários deve ser computado individualmente
pela parte envolvida.

Quem decide conflito de competência entre o Juizo Federal e o Juizado Especial


Federal?

Nos termos da Súmula 428 do STJ: “Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os
conflitos de competência entre Juizado Especial Federal e Juizo Federal na mesma
Seção Judiciária.

84
Emerj CPIII-A Processo Civil

(iii) COMPETÊNCIA NO JUIZADO FAZENDÁRIO:

A competência no Juizado Fazendário também é ABSOLUTA, nos termos do art. 2, par.


4 da Lei 12.153.

No Juizado Fazendário a competência é regulada primordialmente em razão do valor,


para demandas que não ultrapassem 60 salários, mas com restrição de algumas
matérias, como por exemplo ações de desapropriação, de divisão e demarcação de
terras, execuções fiscais e etc.

 LEGITIMIDADE NOS JUIZADOS:

(i) LEGITIMIDADE ATIVA:

Nos JUIZADOS ESTADUAIS a legitimação ativa pode pertencer às pessoas físicas capazes
(excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas), bem como as
microempresas, as pessoas jurídicas qualificadas como organização civol de interesse
público, bem como as sociedades de crédito ao microempreendedor. Admite-se
também o litisconsórcio.

Quem não pode ajuízar ação no Juizado Especial Estadual?

Nos termos do art. 8 ao 11 da Lei 9099, existem certas pessoas que não tem
legitimidade ativa para vir ao Juizado, como o incapaz, o preso, as PJs de direito
público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil. Também
não se permite pessoas absolutamente capazes cessionárias de pessoa jurídica de
grande porte.

A pessoa jurídica de pequeno porte pode ser autora no Juizado, nos termos do art. 8,
par. 1 da Lei 9099. Uma empesa de grande porte não pode ajuizar ação no Juizado
Especial.

Esse raciocínio é semelhante no JUIZADO FEDERAL. Assim, nos Juizados Federais, a


legitimidade ativa é praticamente a mesma, pertencendo as pessoas físicas capazes e
as microempresas e empresas de pequeno porte, nos termos do art. 6, I da Lei 10.259.

Já no Juizado Fazendário há idêntica disposição, nos termos do art. 5, I da Lei 12.153.


Não havendo, contudo, restrição para demandas ajuizadas pelos incapazes, ou mesmo
os presos.

(ii) LEGITIMIDADE PASSIVA:

Nos JUIZADOS ESTADUAIS, a legitimidade passiva é ampla, somente não podendo nela
figurar as mesmas pessoas que também não podem ser demandantes (tais como o
85
Emerj CPIII-A Processo Civil

incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da


União, a massa falida e o insolvente civil.

Nos JUIZADOS FEDERAIS, no art 6 da Lei 10.259/11) que prevê que podem ser
demandadas a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais. Admite-se
outros legitimados passivos não especificados, desde que em litisconsórcio. É possível,
portanto, que no polo passivo de uma demanda do Juizado Federal figure a Uniao,
Estados ou Município.

Nos JUIZADOS FAZENDÁRIOS, os réus podem ser os Estados, DF, os Territórios e


Municípios, assim como autarquias, fundações, empresas públicas a eles vinculadas.
Será sempre a Fazenda Pública.

Precisa de advogado nos Juizados Especiais?

Existe uma regra no JUIZADO ESTADUAL que não precisa ter advogado até 20 salários
mínimos. Acima de 20 salários precisa de advogado. Contudo, em se tratando de
recurso ou para contra razoar aí tem que ter advogado mesmo que o valor seja inferior
a 20 salários.

Nos JUIZADOS FEDERAL E FAZENDÁRIO não há norma a esse respeito. A interpretação


mais corriqueira é de que até 60 salários mínimos não precisa de advogado, só que
para recorrer e contra razoar tem que ter advogado.

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

Em sede de Juizado Especial, Viviane ingressou com ação indenizatória em face de


Banco Royal S.A e Vendedora de Carros Ltda. A demanda foi julgada procedente,
porém, o banco réu entendeu que a sentença estava obscura quanto à aplicação da
condenação por danos morais, uma vez que não foi determinado se a obrigação seria
solidária, subsidiária ou individual entre as duas rés. Assim, quatro dias após a
publicação da sentença, o Banco interpôs Embargos de Declaração, o qual teve o
provimento negado. O banco réu interpôs Recurso Inominado no 10º dia útil após a
publicação de tal decisão. Sabendo-se que foi considerada a contagem em dias úteis
e que o âmago da questão não se refere a esse ponto, responda se o Recurso
Inominado deverá ser admitido? Responda, de forma fundamentada, observando as
regras processuais no Código de Processo Civil.

Resposta:

O CPC de 2015 trouxe no art. 1065 a alteração do art. 50 da Lei 9099. Desta forma, os
Embargos de Declaração passam a interromper o prazo para interposição de Recurso.

86
Emerj CPIII-A Processo Civil

Observando que a contagem do prazo foi alterada pelo CPC, deverá ser admitido o
Recurso Inominado.

Art. 1065 do CPC: O art. 50 da Lei 9099 de 95, passa a vigorar com a
seguinte redação:

Art. 50 da Lei 9099: Os embargos de declaração interrompem o prazo de


interposição de recurso.

Pela legislação anterior seria intempestivo, so que pela nova legislação interrompe,
nos termos do art. 1065 do CPC que alterou a redação do art. 50 da Lei 9099/95.

Art. 219 do CPC: Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou


pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Aulas 9 e 10 - Prof. Rodolfo Hartmann


01/08/18

EMENTA:  O Processo no Juizado Estadual;


 O Processo no Juizado Federal;
 O processo no Juizado da Fazenda Pública.

As aulas 9 e 10 foram compiladas em uma única aula do caderno.

 PROCEDIMENTO DOS JUIZADOS:

A lei dos Juizados Estaduais criou um procedimento mais enxuto comparado com o rito
ordinário.

Qual o procedimento do Juizado Especial Estadual previsto na Lei 9099/95?

A Lei 9099 traz um procedimento chamado de Sumaríssimo, que consagra os seguintes


marcos:

 Petição Inicial;
 Citação;
 Audiência de Conciliação;
 Audiência de Instrução e Julgamento (apresenta a resposta no início da AIJ); e
 Sentença.

Qual o procedimento do Juizado Especial Federal previsto na Lei 10.259/01?

A Lei 10.259/01, por sua vez, quase não trata de procedimentos. Ela é menor que a
Lei 9099. Ela não prevê muitas regras sobre procedimento.

Nesse sentido, os Juizados Federais começaram a usar o procedimento da Lei 9099 que
se mostrou ineficiente, uma vez que tornou o Juizado Federal em um instrumento
moroso. Isso porque a Fazenda Pública era parte no processo. Contudo, tendo em vista
que existia uma resistência enorme da Fazenda Pública em fazer acordos, as audiências
de conciliação se tornavam inócuas e o processo se tornava muito moroso. E por isso,
a doutrina começou a apregoar o Princípio da Adaptabilidade.

O PRINCÍPIO DA ADAPTABILIDADE permite ao juiz adaptar o procedimento buscando


atender um interesse maior de celeridade e eficiência.

Art. 2 da Lei 9099: “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade,


simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando,
sempre que possível, a conciliação ou a transação.”

88
Emerj CPIII-A Processo Civil

Os juízes dos Juizados Federais começaram a não mais marcar a a audiência de


conciliação, e marcavam direito a AIJ, pois nunca havia conciliação e o processo se
tornava moroso.

Nos Juizados Federais existem muitas questões de direito. Na maioria dos processos
não há prova oral, a maioria dos processos trata de questão de direito e aí verificou-
se que era marcada uma AIJ basicamente só para colher a contestação do réu. Mais
uma vez, tornava o processo mais moroso.

Ocorreu, então, uma mudança de procedimento no Juizado Federal, adaptando-se esse


procedimento para ficar mais eficiente levando em consideração peculiaridades da
Fazenda Pública em juízo:

Entre os marcos do procedimento adotado nos JUIZADOS FEDERAIS destacam-se:

 Petição Inicial;
 Citação para a ré (Fazenda Pública) responder em 30 dias;
 Contestação da ré;
 Realização da AIJ (se for o caso); e
 Sentença.
*** Quando tem Fazenda Pública envolvida não se realiza audiência de
conciliação. E a AIJ somente é marcada se pedir prova oral ou se o juiz entender
necessário.

Esse procedimento adaptado não está previsto na Lei do Juizado Federal, mas é o que
ocorre na prática. Adaptou-se o procedimento no Juizado Federal para refletir suas
peculiaridades, sendo, portanto, diferente do procedimento no Juizado Estadual.

Qual o procedimento do Juizado Especial Fazendário previsto na Lei 12.153/09?

O procedimento adaptado pelo Juizado Federal também se aplica aos Juizados


Especiais Fazendários. Assim, o procedimento dos Juizados Especiais Fazendários é
similar aos dos Juizados Federais.

 PROCESSAMENTO NOS JUIZADOS:

Vejamos abaixo cada um dos marcos que compõem o procedimento nos Juizados
Especiais:

(i) PETIÇÃO INICIAL:

A petição inicial pode ser apresentada de forma oral ou escrita, devendo observar o
art. 14 da Lei 9099 que traz seus requisitos.

Há uma simplificação dos requisitos exigidos pelo CPC para a petição inicial. Admite-
se o PEDIDO GENÉRICO na petição inicial do Juizado, nos termos do art. 14, §2 da Lei

89
Emerj CPIII-A Processo Civil

9099, porém a sentença do Juizado deve ser determinada, ou seja, é VEDADA A


PROLAÇÃO DE SENTENÇA ILÍQUIDA, nos termos do art. 38, parágrafo único da Lei 9099.
Isso porque não há liquidação de sentença nos Juizados. No momento de sentenciar já
deve ter a liquidação dos cálculos.

Pelo CPC o dano moral deve ser determinado – tem que dizer o quanto de dano moral
se pretende obter. No Juizado Especial, contudo, pode se fazer um PEDIDO GENÉRICO
DE DANOS MORAIS, não precisa especificar o valor dos danos morais.

Art. 14 da Lei 9099: “O processo instaurar-se-á com a apresentação do


pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.
§ 1º Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível:
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes;
II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta;
III - o objeto e seu valor.
§ 2 - É lícito formular pedido genérico quando não for possível determinar,
desde logo, a extensão da obrigação.
§ 3 - O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado,
podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários impressos.

É possível a cumulação de pedidos na petição inicial?

É admitida a cumulação de pedidos em sede de Juizado, devendo o valor da causa ser


calculado de acordo com o CPC (art. 292).

Destaca-se, contudo, que nos Juizados Federais e Fazendários, cada pedido não pode
isoladamente ultrapassar o teto de 60 salários mínimos, muito embora isso possa
ocorrer quando houver cumulação de pedidos, sem que haja declínio da competência
ou extinção do processo. [CAI EM CONCURSO!!!]

Até que momento é possível emendar a petição inicial nos Juizados?

A Lei 9099 não traz um prazo para realização da emenda a petição inicial, logo
aplicando-se o CPC o prazo pode ser de 15 dias (art. 321 do CPC) ou o juiz pode
determinar outro prazo.

Existe, contudo, entendimento (enunciado do TJRJ) que o autor pode corrigir a petição
inicial ATÉ O INÍCIO DA AIJ. Isso porque é na AIJ que é apresentada a defesa do réu.

Apresentada a petição inicial ocorre a distribuição. Como regra a distribuição é livre,


mas eventualmente a distribuição é dirigida quando a parte já ajuizou o processo e
mesmo foi extinto sem resolução do mérito. Adota-se o art. 286 do CPC de 2015. É
caso de distribuição dirigida, distribuição por prevenção.

90
Emerj CPIII-A Processo Civil

O juiz poderá determinar a emenda da petição se verificar vício sanável. Se o vício for
insanável ou se a parte não tiver corrigido o vicio após determinação judicial, então,
nesse caso, ocorrerá o INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. A sentença de
indeferimento é SENTENÇA TERMINATIVA, com base no art. 485 do CPC. A parte,
então, poderá refazer a petição inicial, corrigir o vício e entrar com novo processo.

As hipóteses de indeferimento da petição inicial estão no art. 330 do CPC c/c art. 485,
I do CPC.

Pode ocorrer também a IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO que é prevista no art. 332
do CPC, cuidando de situação em que o magistrado já se encontra autorizado a
proferir, de plano, a SENTENÇA DEFINITIVA (art. 487, I do CPC), mas apenas para os
casos de improcedência, praxe esta que pode ser aplicado em qualquer Juizado
(Estadual/Federal/Fazendário).

Exemplo: se o autor fizer um pedido que contraria súmula do STF ou contraria


precedente em recursos repetitivo, será hipótese de improcedência liminar do pedido,
com fundamento no art. 332 do CPC. Essa decisão é definitiva, aqui tem-se o
julgamento do mérito, aqui é o caso de art. 487 do CPC.

(ii) CITAÇÃO DO RÉU:

Passada a fase da petição inicial, estando tudo “tranquilo”, o juiz determinará a


citação do réu, nos termos do art. 18 da Lei 9099.

A citação poderá ser realizada pela VIA POSTAL ou MANDADO PELO OFICIAL DE JUSTIÇA
(no caso de Juizado Especial Estadual).

No Juizado Federal e Fazendário a citação normalmente é feita pela via eletrônica


porque a Fazenda está sempre no polo passivo.

É possível citação pelo escrivão nos Juizados?

A CITAÇÃO PELO ESCRIVÃO não tem nenhuma incompatibilidade com o juizado. A


citação pelo escrivão consiste naquela hipótese em que o réu descobriu o processo
pela internet e vai até o cartório, por conta própria, ocasião em que o servidor atende
e cita o réu no balcão. A citação se dá pelo escrivão ou pelo diretor de secretaria. Isso
é novidade do CPC/2015, então, pode cair em concursos!!!!

CAI EM CONCURSO!!!
É possível citação por edital nos Juizados?

NÃO!!! A lei do Juizado proíbe CITAÇÃO POR EDITAL, nos termos do art. 18, § 2 da Lei
9.099. Isso se aplica a qualquer Juizado. Isso porque o edital tem uma burocracia, gera

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Emerj CPIII-A Processo Civil

custo, precisa de intervalo de 20 dias entre as publicações e isso tudo conspira contra
a base principiológica dos Juizados (celeridade).

Tendo em vista que não é possível a citação por edital nos Juizados, se o réu não for
localizado o processo deverá ser extinto.

Cabe citação por hora certa em Juizado?

Quanto a citação por hora certa, diante do silêncio normativo, não se vislumbra óbice
para a sua realização neste rito sumaríssimo, que também ocorre na citação por meio
eletrônico.

Sobre o tema da citação por hora certa, existem DOIS ENUNCIADOS NO TJ RIO que
merecem destaque: o primeiro enunciado estabelece que NÃO cabe CITAÇÃO POR
HORA CERTA nos Juizados do Rio. O segundo enunciado, por sua vez, estabelece que
se o oficial desconfiar que o réu está se ocultando, então, poderá considerar presumida
a citação do réu.

Ainda, de acordo com o art. 19 da Lei 9099, as intimações serão feitas na forma
prevista para citação, ou POR QUALQUER OUTRO MEIO IDÔNEO DE COMUNICAÇÃO.

(iii) AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO:

Nos Juizados Estaduais o demandado é citado para comparecer a uma audiência de


conciliação, que será conduzida por conciliador ou juiz leigo, tendo como objetivo
primordial o acordo entre as partes.

Se o autor não comparecer o processo será extinto, salvo se o não comparecimento se


der em razão de força maior. A ausência do réu gera revelia, o que permitirá que o
juiz profira sentença na sequencia.

A AUDIÊNCIA NÃO É OBRIGATÓRIA, ao contrário do que prevê o CPC. Esse entendimento


é ratificado pelo fato de se verificar que nos Juizados Federais e Fazendários essas
audiências sequer são designadas, pois muitas vezes o direito envolvido não comporta
transação.

Há a possibilidade dessa audiência ser convertida em AIJ, caso a conciliação não tenha
sido obtida e desde que o mandado de citação tenha previsto tal possibilidade (art. 27
da Lei 9099).

(iv) RESPOSTA DO RÉU:

A resposta do réu se encontra no art. 30 e 31 da Lei 9099 e deve ser apresentada no


início da AIJ. A resposta é sempre por contestação. Todas as teses defensivas devem
ser alegadas na contestação, com exceção do impedimento e suspeição que deverão
ser alegadas por uma peça específica que terão tramitação regular perante os Tribunais
e não perante as Turmas Recursais.
92
Emerj CPIII-A Processo Civil

Em termos de resposta do réu nos Juizados, temos os seguintes prazos:

 JUIZADO ESTADUAL: a resposta do réu é no início da AIJ.

 JUIZADO FEDERAL: resposta é em 30 dias da citação.

 JUIZADO FAZENDÁRIO: na prática, os juízes estão dando 30 DIAS para a Fazenda


Pública se defender, uma vez que o art. 7 estabelece que a Fazenda deve ser
citada com antecedência mínima de 30 dias da audiência. Nesses Juizados, a
audiência de conciliação pode ser convolada em AIJ e aí nesse momento que o
réu apresentará a defesa, devendo, ser observado o prazo de 30 dias. Se
convolar a conciliação em AIJ, o réu apresentará a defesa nesse momento.

É cabível reconvenção em sede de contestação proposta nos Juizados?

Não!!! O art. 31 da Lei 9099 preve que não é cabível a RECONVENÇÃO em Juizados.
Isso porque com a reconvenção traz-se matéria fática nova aos autos, conspirando
contra o procedimento extremamente concentrado dos Juizados.

Em que pese ser proibida a reconvenção, admite-se, contudo, o PEDIDO


CONTRAPOSTO. Esse pedido contraposto em alguns aspectos lembra a reconvenção.

Qual a diferença entre reconvenção e pedido contraposto?

Tanto a reconvenção quanto o pedido contraposto decorrem do direito de ação. Há


necessidade de provocação pela parte. Outra semelhança é que agora pelo CPC de
2015 a reconvenção e o pedido contraposto vem dentro da mesma peça, ou seja, vem
na contestação.

O PEDIDO CONTRAPOSTO É LIMITADO, uma vez que o réu não pode inovar no pedido,
devendo se basear nos MESMOS FATOS ALEGADOS NA INICIAL. A reconvenção, por sua
vez, é diferente, uma vez que o autor afirma X e o réu quando reconvem pode
apresentar um fato modificativo, impeditivo, ou seja, o réu apresenta um fato novo,
mas tal fato deve ser conexo.

EM SUMA: o pedido contraposto é muito mais limitado, pois ele se baseia nos mesmos
fatos da petição inicial, enquanto a Reconvenção pode trazer fato novo, mas que tem
que ser conexo com os fatos apresentados na inicial.

No Juizado Federal e Fazendário é extremamente raro o pedido contraposto. Isso


porque a Uniao, Estado e Municipio e a Fazenda são legitimados passivos no Juizado,
eles não podem exercer direito de ação e o pedido contraposto é justamente o
exercício de direito de ação. No Juizado Estadual, contudo, é muito mais frequente o
pedido contraposto pois envolve pessoas físicas. Logo, nada impede que um deles

93
Emerj CPIII-A Processo Civil

apresente pedido contraposto, já que o particular possui legitimidade para exercer o


direito de ação.

(v) AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO:

No Juizado Estadual primeiro marca a AIJ para apresentar a defesa e depois é que o
processo vai para sentença.

No Juizado Federal, por sua vez, primeiro apresenta a defesa e se houver necessidade
de prova oral aí sim marca-se a AIJ.

Todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não especificados em lei,
podem ser utilizados nos Juizados Especiais. E essas provas sejam típicas ou atípicas
serão produzidas em AIJ.

Quem conduz a Audiência de Instrução e Julgamento nos Juizados?

O juiz togado pode conduzir a AIJ nos 3 Juizados.

O juiz leigo só faz AIJ no Juizado Estadual e Fazendário. Nos Juizados Federais não há
a figura do juiz leigo, muito embora a AIJ possa ser realizada por conciliador (art. 16
c/c art. 26 da Lei 12.153)

O conciliador pode reduzir a termo prova oral no Juizado Fazendário e Juizado Federal.

Quando foi criada a Lei 12.153/09 (Juizado Fazendário) estabeleceu-se a possibilidade


do conciliador reduzir a termo prova oral e depoimento pessoal, para melhor
encaminhamento dos seus trabalhos de conciliação. Note que a redação não diz que o
conciliador conduzirá AIJ, mas o texto dá margem a essa interpretação quando fala
que ele poderá reduzir a termo a prova oral.

No art. 26 da Lei 12.153 existe previsão de que isso também se aplica ao Juizado
Federal.

A AIJ é o momento próprio para produção de prova, principalmente prova oral. O art.
32 da Lei 9099 admite todos os meios de prova, desde que sejam moralmente legítimos.

O art. 36 da Lei 9099 estabelece que a prova oral não precisa ser reduzida a termo na
AIJ, o que também imprime uma maior celeridade aos processos, muito embora as
partes possam se sentir prejudicadas quanto a algo mencionado pela testemunha que
não tenha constado em ato. Em tais casos, os membros da Turma Recursal poderão,
no momento do julgamento do recurso inominado, sobrestá-lo para que a prova oral
seja refeita e agora com a devida redução a termo.

É admissível prova pericial em Juizado?

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Não há nenhum artigo nas Leis de Juizados dizendo que não cabe prova pericial. Na
verdade, aqueles que defendem que não cabe prova pericial alegam que isso fere a
base principiológica dos Juizados. Isso porque nos Juizados temos o princípio da
simplicidade e isso não se coaduna com a prova pericial.

Por isso muitos juízes do Juizado Estadual entendem pelo indeferimento da prova
pericial. Existe uma jurisprudência defensiva rechaçando a prova pericial nos Juizados
Estaduais.

Contudo, no Juizado Federal e Fazendário é muito frequente a prova pericial, desde


que não seja prova pericial complexa. Até se usa o argumento de que NÃO é cabível
prova pericial complexa, mas uma prova pericial simples é admitida, principalmente
no Juizado Federal que tem competência previdenciária, em que se discute benefício
previdenciário por invalidez.

Nos casos em que realmente for necessária prova pericial complexa, há na doutrina
quem defenda o declínio da competência do Juizado em prol do juízo cível.

Destaca-se, ainda, que o art. 35 da Lei 9099 permite a consulta de técnicos para
questões que requerem conhecimento mais específico.

(vi) DA SENTENÇA NOS JUIZADOS:

A sentença no Juizado não tem relatório, ela tem fundamentação e o dispositivo.


Embora não tenha relatório, o primeiro parágrafo é um micro relatório para introduzir
o texto.

O CPC exige uma fundamentação exaustiva por parte do juiz (art. 489, par. 1 do CPC).
Não há nenhum obstáculo para que, mesmo no Juizado, a fundamentação seja
exaustiva. Decisão tem que ser bem fundamentada. Não basta o juiz colocar uma
ementa, não basta colocar a Súmula, ele terá que fundamentar bem a sentença,
mesmo em sede de Juizado. Isso porque uma boa fundmanetação legitima a atividade
jurisdicional e permite que a parte ao recorrer tenha uma melhor base para defender
o seu direito.

O dispositivo do Juizado é similar ao dispositivo de uma sentença normal, com algumas


peculiaridades.

A SENTENÇA NO JUIZADO NÃO TEM CONDENAÇÃO EM CUSTAS E HONORÁRIOS. Aquele


que perder, se quiser recorrer (recurso inominado), somente nesse momento terá que
recolher as custas. Se a pessoa que recorrer perder também na Turma Recursal, nesse
momento serão fixados os honorários, nos termos do art. 55 da Lei 9099.

Em que consiste o Critério da Dupla Sucumbência?

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Emerj CPIII-A Processo Civil

O CRITÉRIO DA DUPLA SUCUMBÊNCIA se aplica no caso dos Juizados e consiste no fato


de que aquele que recorrer somente pagará honorários advocatícios no momento em
que perder o recurso no Turma Recursal, ou seja, a parte tem que perder na sentença
e perder também na Turma Recursal. Somente nesse momento ele terá que arcar com
os honorários advocatícios.

Quem tem gratuidade de justiça e perdeu no Juizado e na Turma Recursal, também


será condenado a pagar honorários, observando-se os percentuais previstos no art. 85,
par. 2 do CPC, isento por hora desse recolhimento, nos termos do art. 98, par. 3 do
CPC que prevê que vencido o beneficiário da gratuidade de justiça as obrigações ficam
em condição suspensiva da exigibilidade e somente serão executadas dentro de 5 anos.

A matéria é tratada no art. 55 da Lei 9099. Vejamos:

Art. 55 da Lei 9099: A sentença de primeiro grau não condenará o vencido


em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de
má-fé. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e
honorários de advogado, que serão fixados entre dez por cento e vinte por
cento do valor de condenação ou, não havendo condenação, do valor
corrigido da causa.
Parágrafo único. Na execução não serão contadas custas, salvo quando:
I - reconhecida a litigância de má-fé;
II - improcedentes os embargos do devedor;
III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso
improvido do devedor.

É cabível a remessa necessária nas sentenças proferidas em sede de Juizado Especial


Federal ou Fazendário?

Não haverá remessa necessária nas decisões proferidas em sede de Juizado Especial
Federal ou Fazendário, nos termos do art. 13 da Lei 10259 e art. 11 da Lei 12.153.

#IMPORTANTE!!!
A regra prevista no art. 503, §1 do CPC, que estabelece que eventual questão
prejudicial interna já deverá constar imediatamente no próprio dispositivo do ato
decisório, de forma a gerar coisa julgada formal e material independentemente de
qualquer requerimento das partes neste sentido, não se aplica em sede de Juizados.
Isso porque não é possível aplicar tal regra em processos em que há restrição
probatória, que é justamente o que ocorre com os processos que tramitam em
Juizado, em razão da impossibilidade de produção de prova pericial de maior
complexidade. Logo, a regra prevista no art. 503, §1 do CPC somente se aplica em
Juízos Cíveis, não se aplicando em juizados.

(vii) RECURSOS NOS JUIZADOS ESPECIAIS:

96
Emerj CPIII-A Processo Civil

A cadeia de recursos cabíveis das decisões dos Juizados Especiais é formada pelos
seguintes recursos:

a) Embargos de Declaração;
b) Recurso Inominado;
c) Agravo Interno;
d) Recurso Extraordinário;
e) Agravo aos Tribunais Superiores.

Vejamos abaixo cada um desses recursos e suas peculiaridades:

a) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO:

Os embargos de declaração deem ser interpostos em 5 dias da decisão, não precisando


de preparo.

De acordo com o CPC, os embargos de declaração tem 4 finalidades, buscando SANAR:

 Omissão;
 Contradição;
 Obscuridade; e
 Correção de Erro Material (Ex: erro na grafia do nome da parte).

Pelo CPC, art. 1065 do CPC, os ED passaram a ter EFEITO INTERRUPTIVO quanto ao
prazo para o uso dos demais recursos.

Exemplo: se a parte interpor os ED no 4 dia, o prazo do próximo recurso é interrompido,


ou seja, o prazo volta integral, são mais 10 dias que é o prazo do recurso inominado.
Esse art. 1065 alterou a norma do art. 50 da Lei 9099

b) RECURSO INOMINADO:

As sentenças proferidas no Juizado Estadual ou no Fazendário desafiam recurso


inominado no prazo de 10 dias, qualquer que seja o seu teor.

Há uma peculiaridade no Juizado Federal, uma vez que não cabe recurso inominado
para impugnar sentença terminativa, nos termos do art. 5 da Lei 10.259/01. O recurso
inominado só é cabível em sentença de mérito.

Se o juiz do Juizado Federal entender que falta pressuposto processual, não tem como
a parte recorrer. A parte deverá refazer a PI e entrar novamente no Juizado Federal.

Existe entendimento que até caberia recurso inominado em uma sentença terminativa
que nega a jurisdição. Isso na verdade é quando se tem uma sentença terminativa com
base no art. 485, V do CPC. O juiz interpretou que ofende coisa julgada. Quando a
sentença é baseada no art. 485, vc não pode repetir a ação. Isso é negativa de

97
Emerj CPIII-A Processo Civil

jurisdição. Nessas hipóteses até vem sendo cabível o recurso inominado nos Juizados
Federais.

Em regra, o recurso inominado tem que ter preparo.

O juiz do Juizado pode fazer a admissibilidade do recurso inominado?

De acordo com o art. 1010, par. 3 do CPC o juiz da vara cível não faz mais juízo de
admissibilidade da apelação.

O recurso inominado seria o “equivalente” ao recurso de apelação nos Juizados. Assim,


tendo em vista que a lei dos Juizados não fala nada de admissibilidade, deve-se seguir
o processamento da apelação. Nos Juizados Federais estão seguindo o CPC, ou seja,
caberá a Turma Recursal fazer a admissibilidade do Recurso Inominado e não ao juiz
togado.

Assim, apresentado o recurso inominado por uma parte, a outra parte deverá ser
intimada para apresentar suas contrarrazões e, na sequencia, os autos serão remetidos
à Turma Recursal, que irá analisar a admissibilidade.

c) AGRAVO INTERNO:

Na Turma Recursal é admitido o julgamento proferido monocraticamente (art. 932 do


CPC).

Cabe recurso dessa decisão monocrática do relator no caso de Recurso Inominado?

SIM!!! Pelo CPC/15 é cabível o AGRAVO INTERNO. Só que o CPC/2015 tambem consagra
que todos os agravos, inclusive os agravos regimentais, onde quer que estejam
previstos, serão interpostos em 15 dias, nos termos do art. 1070 do CPC.

ATENÇÃO!! Pode ter Regimento de Turma Recursal prevendo o prazo de 5 dias para
esse Agravo Interno, mas por força do art. 1070 deve ser usado o prazo de 15 dias para
esse agravo. Em que pese o CPC determinar o prazo de 15 dias, é recomendável ao
advogado da parte considerar o prazo do Regimento da Turma Recursal.

O agravo interno é levado pelo relator ao órgão colegiado, é uma forma de completar
a vontade do órgão colegiado. O agravo interno força a manifestação dos demais
integrantes do órgão colegiado.

EM REGRA, o agravo interno não dá direito a sustentação oral. Contudo, o art. 937,
parg. 3 do CPC prevê situações excepcionais em que se permite a sustentação oral. Se
o agravo interno é provido e o recurso inominado é admitido, o advogado poderia fazer
a sustentação oral.

98
Emerj CPIII-A Processo Civil

Em que consiste a DECISÃO MONOCRATICA REFERENDADA?

As Decisões Monocráticas Referendadas acontecem somente na Turma Recursal


Federal, não sendo caso de agravo interno, funciona como um acórdão pois a decisão
monocrática é ratificada pelos demais integrantes da Turma.

O relator apresenta as decisões monocráticas aos demais membros, se eles ratificam


as decisões, tem-se a decisão referendada, essa decisão monocrática virou um acordao
com o nome de DECISÃO MONOCRÁTICA REFERENDADA. Em termos de gestão não há
agravo interno pois já é um acordão e não se perde o tempo com a sustentação oral.
Isso ocorre geralmente em decisões baseadas em súmulas, em precedentes anteriores.

A ratio é evitar o agravo interno, e evitar a sustentação oral, de forma que o processo
fique mais eficiente e ágil, ganhando-se em termos de gestão. O STF ratifica essa rotina
de trabalho dos Juizados Federais.

d) RECURSO EXTRAORDINÁRIO:

Da decisão da Turma Recursal é cabível recurso extraordinário. A Turma Recursal é


órgão revisor, não é Tribunal, por isso não cabe recurso especial.

Súmula 640 do STF: “É cabível recurso extraordinário contra decisão


proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma
recursal de Juizado Especial.

Súmula 203 do STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida
por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.

e) AGRAVO AOS TRIBUNAIS SUPERIORES:

O Recurso Extraordinário é interposto no Tribunal de origem. Se o RE for inadmitido


na origem, o próximo recurso dependerá do fundamento da inadmissão, nos termos do
art. 1030, par. 1 e 2 do CPC. Poderá caber agravo interno (art. 1021) ou agravo
extraordinário (art. 1042) dependendo do motivo de inadmissão.

Depois do extraordinário será possível o recurso de EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA, cuja


finalidade é eliminar divergência interna no STF (entre as turmas do STF). O Embargos
de divergência será julgado pelo PLENO do STF. E depois que o Pleno julgar, será
cabível EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

Em regra, pela cadeia recursal o STJ e TJ/TRF não participam como instâncias revisoras
do microssistema do Juizado.

É cabível recurso de decisão interlocutória em sede de Juizado Especial Estadual?

Não é cabível recurso de decisão interlocutória em sede de Juizado Estadual.


99
Emerj CPIII-A Processo Civil

Em tese, pode ser interposto Mandado de Segurança. A Turma Recursal é quem julga
o MS. Existe, contudo, uma exceção, qual seja, a alegação de incompetência pela
parte. Se o juiz do Juizado, ao proferir sentença, afirmar que o Juizado é competente,
será cabível o Recurso Inominado que vai para a Turma Recursal.

Se a Turma Recursal julgar o recurso e entender que o Juizado não tem competência,
em tese, caberia recurso extraorindário do acórdão da Turma, mas a jurisprudência
tem orientação no sentido de que deve-se interpor MS para impugnar a decisão da
Turma, apenas por esse fundamento - competência.

O MS é usado no TJ ou TRF por acordao da Turma, tão somente nesses casos de decisões
sobre competência. Isso porque é necessário decisão de um órgão externo para analisar
tão questão. O tema tem que ser exclusivamente competência. Qualquer outra
hipótese não seria cabível o MS. Da decisão do Tribunal que denegar o MS é cabível
RECURSO ORDINÁRIO ao STJ – ROC (Recurso Ordinário Constitucional). Por esse
mecanismo, os Tribunais podem até participar do dia-a-dia dos Juizados.

 NOVIDADES DO CPC: IRDR e ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA:

O CPC 2015 trouxe como novidade a ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA. A Assunção de


Competencia pode em qualquer tribunal. O IRDR somente pode nos Tribunais
inferiores.

A Assunção de Competencia tem caráter preventivo. Já o IRDR ocorre quando o


Judiciário já esta entulhado de processos sobre o mesmo assunto.

O IRDR é de Tribunal Local e quando o IRDR é instaurado, os processos daquela base


territorial ficam sobrestados. A decisão do TJ e a decisão do TRF em IRDR cria um
PRECEDENTE VINCULANTE LOCAL, sendo obrigatório esse precedente e o CPC fala que
a decisão do TRF ou do TJ vincula os Juizados Especiais.

O que acontece se a decisão do Juizado for contrária a uma decisão vinculante local
do TJ ou do TRF?

Pelo CPC seria possível uma decisão do IRDR vincular juiz de Juizado, nos termos do
art. 985, I do CPC, se aplicando também em Juizados Especiais. A ratio disso é que se
é uma questão de direito ela deve ser padronizada tanto na vara cível como também
no juizado.

Se o Juizado não aplicar a tese vinculante local na sentença, a parte poderá recorrer
por meio do RECURSO INOMINADO a Turma Recursal ou, ainda, usar a via processual
chamada de RECLAMAÇÃO. A parte terá que usar os dois mecanismos, pois se só usar a
reclamação, a decisão fará coisa julgada, e já tendo feito coisa julgada não caberáa
reclamação. Logo, o advogado deverá se valer desses dois instrumentos, o recurso

100
Emerj CPIII-A Processo Civil

inominado para que a decisão não transite em julgado e a reclamação para questionar
o fato da decisão do Juizado não ter observado o precedente vinculante local.

Súmula 734 do STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em


julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo
Tribunal Federal.

A RECLAMAÇÃO É UMA AÇÃO AUTÔNOMA, NÃO É RECURSO. A reclamação deverá ser


interposta no Tribunal que criou o precedente vinculante que foi desrespeitado, nos
termos do art. 987 e 988 do CPC. Se o precedente vinculante foi criado pelo TJ, a
reclamação devera ser interposta no TJ.

A Lei do Juizado Estadual não permite a participação do STJ. No Juizado Estadual não
se chega no STJ. Agora no Juizado Federal e Fazendário criaram um mecanismo, um
incidente de uniformização de lei federal, que permite a participação do STJ.

Como funciona esse mecanismo de incidente de uniformização da lei federal?

O tema é regulado nos arts. 14 da Lei 10.259 e art. 18 da Lei 12.153.

O objetivo do INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL é


sanar uma divergência detectada entre turmas recursais distintas, sejam elas
localizadas no mesmo território ou Estado.

Se as turmas recursais estiverem localizadas no mesmo território, o dissídio será


resolvido por um órgão que reúna as Turmas divergentes, sob a presidência de um juiz
coordenador.

Casos as turmas sejam localizadas em territórios distintos, este incidente será


solucionado por uma TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO, sob a presidência do
Coordenador de Justiça Federal. Se nesse julgamento for contrariado o posicionamento
sumulado ou dominante do STJ, caberá ainda um requerimento ao STJ para que o
mesmo resolva a controvérsia. Portanto, o STJ acaba participando do Juizado Federal
e Fazendário de alguma forma.

Reitera-se que este incidente não existe nos Juizados Estaduais, razão pela qual deve-
se utilizar a via processual da reclamação, diante de uma turma recursal que afronte
orientações do STJ.

Como se pode imaginar houve uma chuva de “reclamações” no STJ sobre decisões de
Juizados Estaduais contrariando orientações do STJ. O STJ teve que criar obstáculos
para a interposição dessas reclamações. Por esse motivo criaram a Resolução 3 de 2016
prevendo que se o Juizado, as Turmas Recursais não seguirem jurisprudência do STJ,
agora, SERÁ CABÍVEL RECLAMAÇÃO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL. Essa resolução
tem viés de ilegalidade, pois viola o 988 do CPC.
101
Emerj CPIII-A Processo Civil

Em razão disso, muitos desembargadores de Tribunais Locais para a sucitar um conflito


de competência, conflito entre TJ e STJ. Quem julga esse conflito? O STF. O STF vem
julgando no sentido de que não cabe o conflito sob o fundamento de que o STJ é
composto por 33 membros (1/3 vem do TJ). O TJ é inferior hierárquico ao STJ, então,
tem que respeitar o que o STJ decide. Logo se o STJ diz que a competência é do TJ,
não é cabível o conflito de competência, devendo prevalecer a interposição da
RECLAMAÇÃO no Tribunal de Justiça Local quando se tratar de decisão de Juizado
Estadual que contrariar orientação do STJ.

Cabe ação rescisória em sede de Juizado?

Nos termos do art. 59 da Lei 9099 é vedada ação rescisória em qualquer processo que
inicie a tramitação perante um Juizado Especial. Assim, ainda que presentes qualquer
hipótese prevista em um dos incisos do art. 485, o interessado não disporá da via da
ação rescisória.

Respeitável doutrina (prof. Alexandre Camara) entende, contudo, ser possível a ação
rescisória em um caso excepcional: se o STF prover ou desprover RE interposto de
decisão da Turma Recursal, com resolução do mérito da causa, o efeito substitutivo
fará com que este acordão substitua o anterior, transformando-se em título executivo
judicial. Contudo, a própria CF (art. 102, I, j) autoriza que o STF julgue ação rescisória
dos seus próprios acórdãos, não fazendo resslava de ele ter sido proferido ou não em
processo iniciado no Juizado Especial. Assim, sob esta ótica, não poderia esta restrição
constante em lei ordinária (art. 59 da Lei 9099) criar uma restrição que não existe em
texto constitucional.

 EXECUÇÃO NOS JUIZADOS:

(i) EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA NO JUIZADO ESTADUAL:

Caso seja o cumprimento de uma sentença que imponha obrigação de pagar, o seu
procedimento se encontra em norma própria (art. 52 da Lei 9099/95), que estabelece
ser um processo sincrético, pois a execução de título judicial será considerada como
uma segunda etapa. Mas, para que haja o seu início, é imprescindível que o interessado
apresente um requerimento (art. 52, IV da Lei 9099).

Esse requerimento/peça deverá estar subscrito por um advogado se o valor em


execução for superior a 20 salários.

Não vem sendo autorizada a instauração de execução provisória em sede de Juizado


Especial Estadual, pois há dispositivo que seja primeiro aguardado o trânsito em
julgado da sentença para que, somente após, se inicie o seu cumprimento.

Vem sendo permitida a inclusão de multa de 10% prevista no art. 523, par. 1 do CPC.

102
Emerj CPIII-A Processo Civil

Em seguida o executado será intimado, devendo se defender por meio de embargos


(art. 52, IX da Lei 9099).

Caso seja uma execução por quantia certa lastreada em titulo executivo extrajudicial,
o procedimento passa a ser fixado em conformidade com o art. 53 da Lei 9099.

Se o devedor não for localizado, mas os bens forem encontrados, não será possível a
realização do arresto de que trata o CPC, pois esta providencia demandaria a
necessidade de publicação de editais, o que é proibido na presente sede (art. 18, par.
2 da Lei 9099).

De acordo com a Lei 9099 somente após a realização da penhora é que será designada
audiência de conciliação, ocasião em que os embargos poderão ser oferecidos (art. 53,
par. 1 da Lei 9099).

(ii) EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA NO JUIZADO FEDERAL E FAZENDÁRIO:

Sendo a obrigação de pagar reconhecida como titulo judicial, este procedimento será
disciplinado por normas próprias (art. 17 da Lei 10259 e art. 13 da Lei 12.153) que
dispensam requerimento da parte interessada para o seu início. Assim, bastará
aguardar o transito em julgado da decisão para o início do seu cumprimento, nos
termos dos citados dispositivos.

Saiu a sentença, que permite recurso inominado, aguarda-se o trânsito em julgado. O


inicio da fase 2, de execução da sentença, pode se dar até de ofício. O juiz remete os
autos ao contador judicial, na sequência intimam-se as partes para manifestação em
5 dias. Quando o contador apresenta o cálculo, se as partes não impugnarem, o juiz já
requisita o RPV (requisição de pequeno valor), mas se o valor ultrapassar o teto do
Juizado em razão dos juros e correção, pode se requisitar precatório. Quando o juiz
requisita eletronicamente, os valores são liberados em no máximo 60 dias e aí o próprio
cartório já costuma a dar baixa na requisição.

Alguns Estados não estão pagando Precatório e RPV. Nesses casos o caminho é
SEQUESTRO DE VERBA PÚBLICA. É idêntico a penhora on line.

TABELA RESUMO DOS JUIZADOS:

JUIZADO ESTADUAL JUIZADO FAZENDÁRIO JUIZADO FEDERAL


(ESTADUAL)
 Lei 9099/95;  Lei 12.153/09;  Lei 10.259/01;
 Teto de até 40 salários;  Teto de 60 salários;  Teto de 60 salários;
 Fazenda não participa;  Fazenda participa;  Fazenda pode participar;
 Competência Opcional;  Competência Absoluta;  Competência Absoluta;
 É cabível tutela de  É cabível expressamente  É cabível expressamente
urgência com liminar (tutela de liminar (tutela de
fundamento no urgência), havendo urgência), havendo
microssistema. A lei não previsão expressa de previsão expressa de

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Emerj CPIII-A Processo Civil

prevê recurso, logo recurso no caso de recurso no caso de


caberá mandado de impugnação da decisão impugnação da decisão da
segurança da decisão da da liminar. liminar;
liminar;  Prazo contados em dias  Prazos contados em dias
 Juizados do RJ contam [úteis]; úteis;
os prazos em dias  Não é cabível  Não é cabível intervenção
corridos; intervenção de terceiro, de terceiro, salvo
 Não é cabível salvo incidente de incidente de
intervenção de terceiro, desconsideração de PJ; desconsideração de PJ;
salvo incidente de  Até 60 salários não  Até 60 salários não precisa
desconsideração de PJ; precisa de advogado, de advogado, salvo em
 Até 20 salários não salvo em caso de recurso caso de recurso e para
precisa de advogado, e para contra-razoar; contra-razoar;
salvo em caso de recurso  Resposta do réu tem que  Resposta do Réu em 30
e para contra-razoar; ser em 30 dias da dias da citação;
 Resposta do réu no início citação;  NÃO é cabível recurso
da AIJ;  Cabível recurso inominado de sentença
 Cabível recurso inominado de qualquer terminativa, somente
inominado de qualquer sentença em 10 dias; sendo cabível em
sentença (10 dias);  Não cabe ação sentença definitiva
 Não cabe ação rescisória; (exceção: sentença
rescisória; terminativa fundada no
art. 485, V do CPC);
 Não cabe ação rescisória;

CASO CONCRETO – TEMA 9

Questão 1)

Fábio promoveu perante o Juizado Especial Cível demanda de cobrança de seguro


relativo a dano suportado em razão de acidente de veículos. O réu aduziu, em sua
resposta, que os valores pleiteados ultrapassavam o limite previsto no inciso I do
artigo 3° da Lei n° 9.099/95. Pergunta-se: O Juizado Especial Cível tem competência
para o processo e julgamento de uma demanda que apresente as peculiaridades
descritas acima? Resposta fundamentada.

Resposta:

Sim, quando é pela matéria o Juizado pode ultrapassar 40 salários, exceto matéria
possessória. Nos termos do art. 1063 do CPC/2015 deve se aplicar o art. 275, II do
CPC/73. Nesse sentido, a cobrança de seguro relativo a dano suportado em razão de
acidente de veículos é de competência dos juizados, nos termos do art. 1063 do
CPC/2015 c/c art. 275, II, e do CPC/73

CASO CONCRETO - TEMA 10)

104
Emerj CPIII-A Processo Civil

Questão 1)

Henrique ingressou com ação monitória em face do Estado do Rio de Janeiro em um


Juizado Especial da Fazenda Pública. Alegou que exercia a função de Agente de
Segurança Penitenciária, tendo solicitado o pagamento administrativo de valores
referentes ao cargo em comissão que exerceu em determinado período. Afirmou
que houve o reconhecimento de dívida por parte do Secretário de Estado de
Administração Penitenciária, conforme ato administrativo publicado no D.O.,
juntado aos autos. A Sentença julgou extinto o processo sem resolução de mérito,
sob o fundamento de que não são admissíveis ações monitórias perante os Juizados
Especiais, em razão da natureza especial do procedimento. Pergunta-se: Correta a
decisão? Resposta fundamentada.

Resposta:

A demanda foi proposta em Vara de Fazenda Pública de até 60 salarios. O TJ entendeu


que a causa era de competência do Juizado Fazendário, e que no Juizado Fazendário
não seria cabível ação monitória, em razão da natureza especial do procedimento.
Seria, na verdade, aplicável o procedimento sumaríssimo do Juizado Fazendário.

TJRJ Apelação 0109480-51.2013.8.19.0001: Ação Monitória. Sentença de


extinção sem julgamento de mérito, com fulcro no art. 267, IV do CPC,
entendendo pela competência absoluta do Juizado Especial da Fazenda
Pública. Inconformismo do autor. Entendimento jurisprudencial no sentido
de que não são admissíveis ações monitórias perante Juizados Especiais,
em razão da natureza especial do procedimento. Provimento do recurso,
na forma do art. 557, par. 1-A do CPC para anular sentença, a fim de que
os autos retornem à Vara de Origem, para regular prosseguimento.

ASSIM, NÃO SÃO ADMISSÍVEIS AS AÇÕES MONITÓRAS NO JUIZADO ESPECIAL, EM RAZÃO


DA NATUREZA ESPECIAL DO PROCEDIMENTO.

105
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 11 - Prof. Stephania Cortes


06/08/18

EMENTA:  Procedimentos da Lei 8245/91


 Ações Locatícias:
(i) Ação de Despejo;
(ii) Ação Consignatória de Pagamento de Alugueis;
(iii) Ação Revisional de Aluguel; e
(iv) Ação Renovatória de Locação.

A Lei 8245/91, a partir do art. 58 e seguintes, regulamenta as AÇÕES LOCATÍCIAS. O


art. 58 da Lei 8245/91 traz as regras gerais das ações locatícias.

Art. 58 da Lei 8245/91: “Ressalvados os casos previstos no parágrafo único


do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e
acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação,
observar - se - á o seguinte:
I - os processos tramitam durante as férias forenses e não se suspendem
pela superveniência delas;
II - é competente para conhecer e julgar tais ações o foro do lugar da
situação do imóvel, salvo se outro houver sido eleito no contrato;
III - o valor da causa corresponderá a doze meses de aluguel, ou, na
hipótese do inciso II do art. 47, a três salários vigentes por ocasião do
ajuizamento;
IV - desde que autorizado no contrato, a citação, intimação ou notificação
far - se - á mediante correspondência com aviso de recebimento, ou,
tratando - se de pessoa jurídica ou firma individual, também mediante
telex ou fac-símile, ou, ainda, sendo necessário, pelas demais formas
previstas no Código de Processo Civil ;
V - os recursos interpostos contra as sentenças terão efeito somente
devolutivo.”

O recurso previsto no inciso V tem EFEITO DEVOLUTIVO, ou seja, não há a suspensão


dos efeitos da sentença locatícia. Assim, se a sentença determinar o despejo, por mais
que a parte tenha recorrido, o despejo será implementado.

Quais são as ações previstas na Lei de Locações?

São 4 as ações previstas na Lei de Locação:

(i) Ação de Despejo;


(ii) Ação Consignatória de Pagamento de Alugueis;
(iii) Ação Revisional de Aluguel; e
(iv) Ação Renovatória de Locação.

106
Emerj CPIII-A Processo Civil

O art. 58 se aplica apenas as 4 ações locatícias ou a qualquer outro procedimento


que envolva contrato de locação?

A matéria é objeto de divergência na doutrina, destacando-se as seguintes posições:

CORRENTE 1) Nagib Slab Filho entende que as regras do art. 58 da Lei de Locação se
aplicam a toda e qualquer ação com repercussão locatícia.

CORRENTE 2) Capanema, por sua vez, entende que o art. 58 da Lei de Locação se aplica
apenas as ações locatícias expressamente previstas na lei de locação – interpretação
restritiva. Trata-se, pois, de rol exaustivo.

Passemos à analise de cada uma das ações previstas na Lei de Locação:

 AÇÃO DE DESPEJO:

A ação de despejo está prevista no ART. 59 DA LEI DE LOCAÇÃO. O rito aplicável é o


RITO COMUM. A ação de despejo deverá ser compatibilizada com o rito comum, nos
termos do art. 318 do CPC.

A ação de despejo tem por finalidade principal a desocupação do imóvel objeto da


locação.

Qual a natureza da ação de despejo?

A ação de despejo é ação de NATUREZA PESSOAL, IMOBILIÁRIA e DESCONSTITUTIVA,


manejada pelo locador, que tem por finalidade a desocupação do imóvel pelo
locatário.

Quem é legitimado ativo na ação de despejo?

O autor da ação de despejo pode ser tanto:

(i) o locador; ou
(ii) o sublocador, na condição de quem tem a posse, nos termos do art. 13 da
Lei de Locação.

Quais as razões que podem ensejar a ação de despejo?

A ação de despejo pode se dar pelas seguintes razões:

 Descumprimento contratual (art. 22 e 23 da Lei de Locação);


 Falta de Pagamento (art. 62 da Lei de Locação);
107
Emerj CPIII-A Processo Civil

 Exigência feita por autoridade pública;


 Denuncia Vazia em Contrato Indeterminado (art. 47, III e art. 52, II da Lei de
Locação); e
 Retomada para o uso próprio.

É possível LIMINAR em sede de ação de despejo?

A finalidade da ação de despejo é a DESOCUPAÇÃO IMEDIATA DO IMÓVEL (em até 15


DIAS) e isso pode se dar por meio de LIMINAR, nas hipóteses EXEMPLIFICATIVAS do art.
59, par. 1 da da Lei de Locação.

Art. 59, § 1 da da Lei de Locação: “Com as modificações constantes deste


capítulo, as ações de despejo terão o rito ordinário.
§ 1 - Conceder - se - á liminar para desocupação em quinze dias,
independentemente da audiência da parte contrária e desde que prestada
a caução no valor equivalente a três meses de aluguel, nas ações que
tiverem por fundamento exclusivo:
I - o descumprimento do mútuo acordo (art. 9º, inciso I), celebrado por
escrito e assinado pelas partes e por duas testemunhas, no qual tenha sido
ajustado o prazo mínimo de seis meses para desocupação, contado da
assinatura do instrumento;
II - o disposto no inciso II do art. 47, havendo prova escrita da rescisão do
contrato de trabalho ou sendo ela demonstrada em audiência prévia;
III - o término do prazo da locação para temporada, tendo sido proposta a
ação de despejo em até trinta dias após o vencimento do contrato;
IV - a morte do locatário sem deixar sucessor legítimo na locação, de
acordo com o referido no inciso I do art. 11, permanecendo no imóvel
pessoas não autorizadas por lei;
V - a permanência do sublocatário no imóvel, extinta a locação, celebrada
com o locatário.
VI - o disposto no inciso IV do art. 9o, havendo a necessidade de se produzir
reparações urgentes no imóvel, determinadas pelo poder público, que não
possam ser normalmente executadas com a permanência do locatário, ou,
podendo, ele se recuse a consenti-las;
VII - o término do prazo notificatório previsto no parágrafo único do art.
40, sem apresentação de nova garantia apta a manter a segurança
inaugural do contrato;
VIII - o término do prazo da locação não residencial, tendo sido proposta a
ação em até 30 (trinta) dias do termo ou do cumprimento de notificação
comunicando o intento de retomada; [AÇÃO RENOVATÓRIA]
IX - a falta de pagamento de aluguel e acessórios da locação no
vencimento, estando o contrato desprovido de qualquer das garantias
previstas no art. 37, por não ter sido contratada ou em caso de extinção
ou pedido de exoneração dela, independentemente de motivo.

108
Emerj CPIII-A Processo Civil

A Lei regulamenta DOIS TIPOS DE AÇÃO DE DESPEJO:

(i) uma ação com fundamento no art. 60 da Lei de Locação;


(ii) outra ação com fundamento no art. 62 da Lei de Locação.

Nos termos do art. 62 da Lei de Locação é possível:

(i) CUMULAÇÃO SUBJETIVA: quando se coloca junto com o locatário seu fiador,
nos termos do art. 62, II da Lei de Locação; e

(ii) CUMULAÇÃO OBJETIVA: em que se cumula o pedido de desocupação do


imóvel com o pedido de pagamento dos alugueis atrasados.

O que a lei de locação dispõe sobre a PURGA DA MORA?

A PURGA DA MORA é abordada em dois dispositivos da Lei de Locação, quais sejam:

(i) art. 59, par. 3; e


(ii) art. 62, II.

A purga da mora prevista no art. 59 da Lei de Locação tem por finalidade AFASTAR A
DESOCUPAÇÃO DO IMÓVEL.

Por outro lado, a purga da mora prevista no art. 62, II tem por finalidade AFASTAR A
RESCISÃO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO.

Verifica-se, ainda, a hipótese de EMENDA DA MORA se o locador alegar que a oferta


não é integral, justificando a DIFERENÇA, o locatário poderá complementar o depósito
no prazo de 10 dias, contado da intimação, que poderá ser dirigida ao locatário, a
requerimento do locador.

É cabível a audiência de conciliação nos litígios sobre locação?

Sim!! A Audiência de Conciliação (art. 334 do CPC) é cabível na ação de despejo com
fundamento no art. 59, caput da Lei de Locação. Isso porque o caput do art. 59
estabelece que as ações de despejo seguirão o RITO COMUM, observados as
modificações constantes do capitulo próprio.

Caso seja aplicada a regra do art. 334 do CPC, quando começa a contar o prazo de
15 dias da purga da mora? Será útil purgar a mora antes da audiência?

Nesse caso será necessária a flexibilização judicial procedimental – art. 139, VI do CPC.

109
Emerj CPIII-A Processo Civil

CORRENTE 1) Corrente defendida por Roque entende que após a purga da mora, o
locatário não teria nada para acordar na audiência do art. 334. Inviabilizaria a chance
de acordo.

CORRENTE 2) Corrente defendida por MAzzola entende que o prazo de 15 dias,


contados da citação, para evitar que o réu opte pela audiência somente para a
procrastinação do pagamento do débito.

As hipóteses de liminar do art. 59 são consideradas hipóteses de tutela de urgência


antecipada ou consubstanciam uma tutela de evidencia?

Fred Diddier entende que todas as hipóteses do art. 59 da Lei de Locação são hipóteses
de TUTELA DE EVIDÊNCIA, em consonância com o art. 311 do CPC. Há apenas um juízo
de probabilidade, não se verifica a urgência.

Existem porém aqueles que entendem que é uma TUTELA ANTECIPADA, então, nesse
caso seria hipótese de TUTELA ANTECEDENTE, em que poderá ocorrer a estabilização
se o locatário/réu não recorrer. Esse tema ainda não foi pacificado na doutrina (art.
304 e 1015 do CPC).

Qual a natureza da sentença em uma ação de despejo?

O art. 63 da Lei de Locação trata da SENTENÇA. A sentença na lei de locação tem


NATUREZA MISTA.

Isso quer dizer que a sentença na ação de despejo pode ser:

 EXECUTIVA LATO SENSO: depende de instauração de ação própria;

 DESCONSTITUTIVA: para rescindir o contrato;

 CONDENATÓRIA: condenando o réu a pagar alugueis ou multa, por exemplo;

 MANDAMENTAL: obrigação de fazer e atribui multa coercitiva.

Passemos agora ao estudo da ação consignatória de pagamento de alugueis.

 AÇÃO CONSIGNATÓRIA DE PAGAMENTO DE ALUGUERES:

A Ação Consignatória de Pagemento de Alugueis é baseada em um procedimento


especial previsto no ART. 67 da Lei de Locação c/c art. 539 do CPC.

Quem é o legitimado ativo para a ação consignatória de pagamento de alugueis?

110
Emerj CPIII-A Processo Civil

O LOCATÁRIO é o legitimado ativo para propor a ação de consignação de alugueres.

Qual a natureza da ação de consignação de pagamento de alugueis?

É uma ação de natureza PESSOAL, IMOBILIÁRIA e DECLARATÓRIA, na qual o locatário


pretende a liberação da dívida locatícia, através de consignação em pagamento (art.
304 e 334 e 335 do CC).

Quais os requisitos que o autor precisa demonstrar na ação de consignação em


pagamento de alugueis?

Entre os requisitos a serem demonstrados pelo autor destacam-se:

(i) Recusa do Credor; e


(ii) Dificuldades criadas pelo credor para receber o pagamento.

É possível o pagamento de depósito extrajudicial ao devedor de alugueis na


consignatória de alugueis?

Sim!!! O locatário poderá fazer um depósito extrajudicial, aplicando-se


subsidiariamente o art 539 do CPC. O depósito extrajudicial somente será possível nos
casos da PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA.

É possível também a ENTREGA DE CHAVES na consignatória locatícia, e isso será feito


em juízo.

É admissível reconvenção em sede de ação consignatória de alugueis?

SIM!!! É admissível a reconvenção na ação consignatória de pagamento de alugueis,


nos termos do art. 67, IV. Pode-se falar em ampliação subjetiva, por força da aplicação
supletiva do art. 343 §3º CPC/15.

Quais os efeitos do depósito judicial feito pelo locatário?

Os efeitos do depósito estão abordados no art. 67, II da Lei de Locação. Vejamos

 Liberação da dívida em prol do devedor;


 Cessação dos juros moratórios (art. 396 do CC); e
 Transferência dos riscos para o credor (Art. 337 do CC).

Passemos ao estudo da terceira ação prevista na Lei de Locação:

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Emerj CPIII-A Processo Civil

 AÇÃO REVISIONAL DE ALUGUEL:

A ação revisional tem por finalidade a revisão do valor de reajuste conforme a


atualização do valor locatício de mercado. A ação revisional se presta tanto para o
locador quanto para o locatário. Qualquer um dos dois poderá pedir o reajuste do
valor.

Qual a natureza jurídica da ação revisional de aluguel?

A Ação Revisional é ação de NATUREZA PESSOAL, IMOBILIÁRIA E CONSTITUTIVA, que


tem por finalidade a obtenção de reajuste nos valores pagos a título de alugueres em
razão da defasagem imobiliária.

Qual o momento adequado para se pedir a ação revisional?

Para se pedir uma ação revisional tem que esperar pelo menos 3 ANOS depois do
contrato firmado, para aferir essa defasagem, nos termos do art. 19 da Lei de Locação.

Esse prazo pode ser interrompido quando há um ajuste ou acordo. Se for feito novo
acordo há a INTERRUPÇÃO DO PRAZO, ou seja, o prazo começa a contar do zero.

Contudo, parte da doutrina entende que se as partes fizeram um acordo que não
tratava expressamente da revisão do imóvel conforme valor de mercado, então, nesse
caso, não há falar em interrupção do prazo de 3 anos da ação revisional.

Qual o rito procedimental da ação revisional?

É o rito previsto na Lei de Locação, mas aplica-se também o rito do art. 1049, parágrafo
único do CPC.

Em que consiste o aluguel provisório?

O ALUGUEL PROVISÓRIO está previsto no art. 68, II, “A” da Lei de Locação.

Nesse sentido, a regra do aluguel provisório será diferente a depender de quem pediu
o reajuste. Vejamos:

1) Quando o Locador for o autor da ação revisional: o ALUGUEL PROVISÓRIO não


poderá ultrapassar 80% do valor pedido; e

2) Quando o LOCATÁRIO for o autor da ação revisional: o ALUGUEL PROVISÓRIO


não poderá ser inferior a 80% do aluguel vigente.

Passemos finalmente ao exame da última ação contemplada na Lei de Locação.


112
Emerj CPIII-A Processo Civil

 AÇÃO RENOVATÓRIA:

A Ação Renovatória está prevista no artigo 71 da Lei de Locação. Essa ação somente
poderá ser ajuizada quando se tratar de locação de IMÓVEIS NÃO RESIDENCIAIS, ou
seja, imóveis que se destinam ao comércio (art. 51 da Lei de Locação).

O principal objetivo da ação renovatória é a proteção do ponto empresarial, quando


observados os requisitos legais.

Quais os requisitos da ação renovatória?

Os requisitos da ação renovatória estão previstos no art. 51 e 71 da Lei de Locação,


destacando-se:

 Contrato por escrito com prazo determinado;


 O prazo mínimo do contrato ou a soma dos prazos ininterruptos deve ser de 5
anos;
 Locatário esteja exercendo a mesma atividade há pelo menos 3 anos;

A ação renovatória deverá ser instruída com todos os documentos da locação e demais
documentos que comprovem o atendimento dos requisitos acima mencionados.

Qual a natureza jurídica da ação renovatória?

A Ação Renovatória tem natureza jurídica de ação constitutiva que tem por finalidade
a renovação compulsória do contrato de aluguel não residencial.

A contestação, em sede de ação renovatória, diz respeito a ideia de que o direito de


renovação não é absoluto, então o locador pode sim se opor, nos termos do art. 72 da
Lei de Locação.

Os alugueis provisórios estão previstos no art. 72, par. 4 da Lei de Locação.

IMPORTANTE!!!
Qual o prazo decadencial no caso de ação renovatória de locação?

O art. 51, par. 5 da Lei de Locação traz o prazo decadencial da ação renovatória.
Vejamos:

Art. 51,§ 5 da Lei de Locação: “Do direito a renovação decai aquele que não
propuser a ação no interregno de um ano, no máximo, até seis, no mínimo,
anteriores à data da finalização do prazo em vigor.”

113
Emerj CPIII-A Processo Civil

Súmula 482 do STF: “O locatário, que não for sucessor ou cessionario do que o
precedeu na locação não pode somar os prazos concedidos a este, para pedir a
renovação do contrato, nos termos do Decreto 24.150”

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

Bernardo, locador de imóvel, ingressou com ação revisional em face do seu locatário
- Victor - e requereu que o magistrado estipulasse um valor a título de aluguel
provisório. O magistrado arbitrou, antes da audiência, a título de aluguel
provisório, um determinado valor que correspondia a 90% do valor do pedido. Em
defesa, Victor alegou que Bernardo não poderia pedir a revisão de aluguel, já que
não havia acordo entre as partes. Ressaltou que o magistrado não poderia ter fixado
o valor antes da audiência e que o valor fixado não poderia ser superior a 50% do
valor do pedido. Diante dos fatos narrados, decida a questão de forma
fundamentada.

Resposta:

O Locador se submete ao art 68, II, “a” da Lei de Locação, tendo, portanto, direito a
pedir a revisão do valor da locação. No caso em tela, o magistrado extrapolou o limite
de 80% estabelecido na lei de locação, uma vez que determinou um aumento de 90%
sobre o valor da locação.

Para pedir a ação revisional tem que ter passado 3 anos conforme o art. 19 da Lei de
Locação.

Por fim, destaca-se que o enunciado da questão menciona que as partes fizeram um
“acordo”, tema este que encontra divergência na doutrina. Vejamos:

CORRENTE 1) Maria Helena Diniz entende que se houve qualquer acordo de reajuste
do valor, há prejuízo da contagem do prazo trienal, que passa a ser contado novamente
para propor a revisional.

CORRENTE 2) O STJ, no REsp 594.965, entendeu que se o acordo não reajusta conforme
o valor de mercado, não afasta a eventual defasagem do aluguel, não prejudicando,
portanto, o prazo trienal.

114
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 12 - Prof. Marco Antônio


03/08/18

EMENTA:  Processos Coletivos.


 Noções Gerais.
 Ação Civil Pública.

 MICROSSISTEMA DA TUTELA COLETIVA:

No Direito Brasileiro temos um verdadeiro microssistema de tutela coletiva. No Brasil,


falhou a tentativa de se criar um Código Brasileiro de Processos Coletivos, uma vez que
os projetos de lei acabaram sendo arquivados.

Como não temos um Código de Processo Coletivo, tivemos a criação das tutelas
coletivas por meio de leis esparsas. Essas leis não conseguiram ser exaustivas no
tratamento da tutela coletiva.

Exemplo: a ação civil pública é uma lei que tem 20 artigos, logo é muito difícil de se
exaurir todos os temas dentro de 20 artigos.

Criou-se na doutrina o chamado “MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA”. As leis que


regulamentam a tutela coletiva formam um sistema entre si que procura sanar as
omissões legislativas sempre que possível.

Quai as leis que compõem o microssistema da tutela coletiva?

Entre as principais leis que compõem o microssistema da tutela coletiva destacam-se:

 Lei 4717/65 (Lei da Ação Popular);


 Lei 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública);
 Lei 8078/90 (Código de Defesa do Consumidor);
 Lei 12.016/09 (Lei de Mandado de Segurança Coletivo);
 Lei 8429/92 (Lei Ação Civil Pública de Improbidade);
 Lei 10257/01 (Lei de Usucapião Popular); e
 Lei 13.300 (Lei de Mandado de Injunção Coletivo).

O rol acima elencado é TAXATIVO?

Trata-se de rol exemplificativo. Por isso que criou-se o microssistema de forma a sanar
omissões das leis que compõem o microssistema.

Nesse sentido, o art. 21 da Lei 7347/85 já prevê que as regras do CDC serãao aplicadas
para a Ação Civil Pública.

115
Emerj CPIII-A Processo Civil

Art. 21 da Lei 7347/85: “Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses


difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título
III da lei que institui o Código de Defesa do Consumidor.”

Qual lei que regulamenta mais profundamente a tutela coletiva?

Entre todas as leis pertencentes ao microssistema, a que mais regulamenta a tutela


coletiva é o Código de Defesa do Consumidor.

Quais os principais exemplos de aplicação do microssistema da tutela coletiva pelo


STJ?

Entre os exemplos de aplicação do Microssistema pelo STJ destacam-se:

1. PRESCRIÇÃO PARA AS AÇÕES CIVIS PÚBLICAS: a lei da ACP não traz


regulamentação de prazo prescricional. Só que há alguns anos surgiu uma
discussão muito forte sobre esse tema, em especial, as ACPs que discutiam os
expurgos inflacionários dos planos econômicos da década de 80 – não se aplicou
o CDC pois este foi editado em 1990.

Nesse sentido, o Código Civil de 2002 consagra que se o prazo prescricional já


tinha passado da metade continuaria sendo o prazo prescricional do CC/16. As
teses das ações civis públicas consagravam o prazo prescricional de 20 (do
CC/1916). O STJ adotou as teses dos bancos de que pela teoria do microssistema
deveria ser aplicada o prazo prescricional de 5 anos - na omissão da Lei da ACP
aplica-se a Lei da Ação Popular.

Esse julgado é exemplo de aplicação do microssistema das tutelas coletivas e


foi muito criticado porque o prazo prescricional usado foi o de 5 anos e não o
de 20 anos que seria o prazo utilizado no caso de um processo individual.

2. REEXAME NECESSÁRIO NA ACP POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:


embargos de divergência julgados no RESP 1220667. A Lei de ACP não trata de
reexame necessário. No CPC o reexame necessário é uma prerrogativa da
Fazenda no art. 496 do CPC. A Lei da ACP é omissa. O STJ pacificou em 2017
nesses embargos de divergência que pela Teoria do Microssistema aplica-se à
ação civil pública por ato de improbidade administrativa a remessa necessária
prevista na Lei da Ação Popular. Isso porque na ação popular a remessa
necessária se aplica em prol da coletivade e não da Fazenda.

Sobre a questão da remessa necessária cumpre destacar que o STJ (INFO 612)
entendeu que não se aplica a remessa necessária nas ações que versem sobre
direitos individuais homogêneos. O STJ entendeu que Ação Popular veio para
tutelar direitos difusos e direitos coletivos em sentido estrito, mas não para a
tutela de direitos individuais homogêneos.
116
Emerj CPIII-A Processo Civil

 DIREITOS TUTELÁVEIS:

As ações coletivas tutelam certos direitos, sendo fundamental diferenciar esses


direitos pois isso influenciará nos procedimentos a serem aplicados.

Quais as espécies de direitos tuteláveis em ações coletivas?

O Art. 81 do CDC traz as espécies de direitos tuteláveis pelas ações coletivas, quais
sejam:

1. Direitos Difusos;
2. Direitos Coletivos; e
3. Direitos Individuais Homogêneos.

Passemos a análise e estudo de cada um desses direitos tuteláveis pelas ações


coletivas:

1. DIREITOS DIFUSOS:

Os Direitos Difusos são direitos TRANSINDIVIDUAIS, INDIVISÍVEIS com TITULARES


INDETERMINADOS ligados entre si por circunstâncias fáticas.

Direitos transindividuais significa que é um direito de grupo, ou seja, que ultrapassava


o caráter individual.

Direitos indivisíveis são direitos em que não é possível definir qual a parcela de cada
titular.

Os Titulares são indeterminados, ou seja, não há de plano um rol especificado de


titulares. Isso não significa que não se possa defini-los.

Esses titulares são ligados entre si por circunstâncias fáticas, ou seja, é irrelevante
existir relação jurídica entre os titulares para caracterizar um direito difuso.

Exemplo: Direito ao Meio Ambiente Equilibrado

2. DIREITOS COLETIVO STRICTU SENSU:

Os Direitos Coletivos Strictu Sensu são direitos TRANSINDIVIDUAIS, INDIVISÍVEIS, cujos


TITULARES SÃO GRUPO, categoria ou classe de pessoas ligados entre si ou com o
causador do dano por uma relação jurídica base.

Qual a diferença entre os direitos difusos e direitos coletivos stricto senso?

117
Emerj CPIII-A Processo Civil

A diferença está basicamente no grupo de titulares que será atingido pelo direito
tutelável.

No direito coletivo strictu sensu é um grupo, categoria ou classe que é ligado entre si.
É diferente do direito difuso em que não há relação jurídica entre o grupo de titulares.

Exemplo: Imagine ato do Tribunal que estabelece que só poderão advogar em 2


instancia advogados com mais de 1.65m. Esse ato do Tribunal viola o livre exercício
profissional de uma categoria determinada, viola uma categoria, aqui seria caso de
direito coletivo stricto sensu.

3. DIREITO INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS:

São os direitos de origem comum. Os direitos individuais homogêneos são direitos


INDIVIDUAIS, DIVISÍVEIS, de ORIGEM COMUM.

O direito individual homogêneo é um direito que recebe um tratamento coletivo dado


a origem comum daquele direito. São direitos ligados a algum evento que gerou aquele
direito comum para a coletividade.

São direitos acidentalmente coletivos, pois na sua essência não são coletivos, mas sim
são coletivos porque um acidente gerou aquele direito.

Exemplos:
 Queda do Avião que mata muitos passageiros. As famílias das vítimas passam a
ter direito de indenização, são direitos que são individuais e divisíveis pois para
cada familia será um direito diferente. Existe uma origem comum daquele
direito.

Como identificar em uma prova qual espécie de direito coletivo tutelado?

Tem que olhar para a pretensão dos direitos coletivos tutelados. Tem que olhar para
os pedidos da demanda para ver qual a espécie de direito coletivo aplicável.

Exemplo: acidente de Mariana. Proposta ACP pelo MP que pediu: (i) recomposição do
meio ambiente naquela localidade e (ii) reparação de danos para as famílias atingidas
pelo acidente. Nesse caso o direito que deu ensejo a demanda foi um direito difuso,
so que a demanda tem dois pedidos, sendo cada um deles de uma espécie de direito
coletivo diferente. Assim, o pedido de recomposição do meio ambiente é direito
difuso, enquanto que a reparação dos danos de cada lesado é direito individual
homogêneo.

 AÇÃO CIVIL PÚBLICA:

A Lei de Ação Civil Pública é a Lei 7347 tem por objeto buscar a reparação de danos
(em dinheiro ou obrigação de fazer ou não fazer), funcionado como uma ação de

118
Emerj CPIII-A Processo Civil

responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao


consumidor, a bens e direito de valor artístico, estético, histórico e paisagístico, a
qualquer outro interesse difuso ou coletivo, por infração de ordem econômica, à ordem
urbanística, à honra e a dignidade de grupos raciais, étnicos e religiosos ao patrimônio
público e social.

Não será cabível ação civil pública em pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
possam ser individualizados.

O STJ entende que essa lei não fica circunscrita a reparação de danos. Nesse sentido,
seria viável uma ACP para, por exemplo, para anular um ato.

 LEGITIMIDADE PARA PROPOR ACP:

O art. 5 da Lei da ACP prevê um rol de legitimados à propositura das ações civis
públicas. Esse rol é semelhante ao art. 82 do CDC. A lógica do legislador é o
estabelecimento de REPRESENTANTES adequados para o direito, a isso se chama
LEGITIMADOS ESPECÍFICOS.

A doutrina dominante entende que trata-se de LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA, ou


seja, trata-se de defesa de direito alheio em nome próprio.

Art. 5 da Lei 7347: “Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação
cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia
mista
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio
público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à
livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou
ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
§ 1 - O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei.
§ 2 - Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos
termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das
partes. [...]”

Esses legitimados também possuem legitimidade extraordinária passiva?

A matéria é objeto de divergência na doutrina. Vejamos abaixo as posições sobre o


tema:

119
Emerj CPIII-A Processo Civil

CORRENTE 1) A corrente mais tradicional entende que não seria possível ação coletiva
passiva, isso porque o art. 5 da Lei da ACP estabelece legitimidade para PROPOR a
ação coletiva e não legitimidade para ser réu.

CORRENTE 2) Entendimento majoritário (capitaneado por Ada Pellegrini) afirma que é


possível sim que haja legitimidade extraordinária passiva. Isso porque o par. 2 do art.
5 da Lei de ACP estabelece que essas pessoas podem estar no polo passivo na medida
em que a lei permite que haja litisconsortes de qualquer das partes no polo passivo.
Ademais, o art. 83 do CDC estabelece que são admissíveis todas as espécies de ações,
essas ações podem ter também legitimado extraordinário no polo passivo.

Art. 83 do CDC: “Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por


este Código são amdissíveis todas as espécies de açõe capazes de propiciar
sua adequada tutela.”

Exemplo: caso de greve de servidores da sáude, serviço essencial. O Estado pode


propor ação de dissidio de greve em face dos servidores. Essa ação é uma ação proposta
pelo Estado visando obter o reconhecimento da ilegalidade da greve e o retorno do
serviço. Essa ação é proposta em face do sindicato que esta na defesa de direito da
categoria. É exemplo em que se vê uma legitimidade coletiva passiva. Seria impossível
chamar todos os servidores no polo passivo, logo colaca-se o sindicato no polo passivo.

 COMPETÊNCIA PARA ACP:

O art. 2 da Lei de ACP prevê que é o FORO DO LOCAL DE OCORRÊNCIA DO DANO que
tem COMPETÊNCIA FUNCIONAL para a causa.

Porque o art. 2 da ACP chama de competência funcional e não de competência


territorial?

Na verdade, a expressão competência funcional significa que um foro é o mais


adequado para a causa com exclusão de qualquer outro, ou seja, que a competência
territorial da ACP é COMPETENCIA ABSOLUTA, porque se quis aproximar o juiz do
evento. É melhor que o juiz esteja próximo das fontes de prova, para que o processo
ande o mais rápido possível.

Em caso de dano regional, que atinja mais de um muncípio, qual o foro deverá ser
aplicado?

O DANO REGIONAL é o dano que atinge diversos municípios diferentes. Nesse caso,
aplica-se o art. 93, II do CDC que prevê que, em se tratando de dano regional, a
competência será do foro da capital do Estado ou do DF.

120
Emerj CPIII-A Processo Civil

Art. 93 do CDC: “Ressalvada a competência da Justiça Federal, é


competente para a causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito
local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos
de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de
Processo Civil aos casos de competência concorrente.”

Destaca-se, que no caso do dano regional, a competência será da capital do Estado


APENAS se a capital do Estado for um dos locais afetados pelo dano.

Se a capital do Estado não for afetada pelo dano, então, nesse caso a competência
será de qualquer um dos municípios afetados pelo dano.

Exemplo: caso de Mariana que foi proposto no município de origem do dano pois ali
seria mais fácil de colher prova.

E no caso de dano nacional, qual o foro competente para propor a ACP?

O DANO NACIONAL consiste no dano que atinge muitos municípios de diferentes


regiões, em uma quantidade significativa de Estados. Sobre o tema, o STJ entende que
há uma COMPETÊNCIA CONCORRENTE entre as capitais dos Estados envolvidos e o DF.

 LITISPENDÊNCIA NA ACP:

Existe a possibilidade de litispendência entre ações civis publicas coletivas e ações


individuais?

Não!!!! A Lei da ACP é omissa quanto a esse tema, logo, pelo microssistema (art. 21
da Lei de ACP) iremos buscar a solução para tal questão no art. 104 do CDC. E o art.
104 do CDC prevê que não há possibilidade de litispendência.

Art. 21 da Lei de 7347: “Aplicam-se à defesa dos interesses difusos,


coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da
lei que institui o Código de Defesa do Consumidor.”

Art. 104 do CDC: As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do


parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações
individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a
que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores
das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta
dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

121
Emerj CPIII-A Processo Civil

Não há litispendência pois são ações com objetos diferentes. A abrangência do pedido
é diferente, isso porque o pedido da ação coletiva é para abrangência de todos os
lesados, enquanto que nas ações individuais a abrangência é mais restrita.

Tendo em vista que não é possível a litispendência, pode o autor da ação individual
integrar a lide coletiva?

SIM!!! O autor individual pode se valer da ação coletiva, desde que no prazo de 30 dias
da ciência da ação coletiva, ele proponha a suspensão de sua ação individual. O autor
individual tem 30 dias para requerer em seu processo que haja suspensão de sua ação,
contados 30 dias da ciência nos autos de seu processo da existência da ação coletiva.

Na prática, o próprio réu da demanda pode noticiar nos autos a existência da ação
coletiva, ou ainda, muitas vezes, o próprio juiz da ação coletiva remete um ofício para
os juízes das ações individuais, informando sobre a existência da ação coletiva.

Em que consiste o sistema do OPT IN e OPT OUT e FAIR NOTICE das ACP?

Como mencionado acima, o autor individual poderá optar entre aderir a ação coletiva
ou não.

Se ele optar por integrar a ação coletiva, tem-se aquilo que a doutrina americana
chama de OPT IN.

Por outro lado, se o autor da demanda individual optar por continuar com a lide
individual, tem-se o que a doutrina chama de OPT OUT.

Tendo em vista que a coisa julgada da ACP pode vir a beneficiar o autor, é uma questão
de estratégia ele definir se vai ou não se valer da tutela coletiva.

O FAIR NOTICE, por sua vez, consiste na necessidade de que haja uma notificação
adequada do autor da ação individual.

O STJ, em mais de uma ocasião (INFO 413), mitigou a aplicação desse art. 104 do CDC,
ou seja, ele consagrou em mais de uma ocasião que é possível DE OFICIO o juiz
determinar a suspensão das ações individuais, sob o fundamento de que deve ser
aplicado subsidiariamente o mesmo sistema aplicável aos RECURSOS REPETITIVOS.

Pelo sistema dos recursos repetitivos opera-se uma suspensão dos processos que tratam
da mesma questão de direto. Nesse sentido, o STJ entendeu que aplica-se a mesma
sistemática no caso das ações individuais quando houver ação coletiva sobre o mesmo
tema.

122
Emerj CPIII-A Processo Civil

Esse entendimento do STJ é muito criticado, pois tal decisão é vista como violadora da
legalidade, uma vez que o art. 104 é claro ao permitir a parte a escolha por suspender
ou não a ação individual.

 SENTENÇA NA ACP:

A sentença na ação coletiva pode ser uma sentença genérica ou não, a depender da
espécie de direito em jogo. Vejamos:

(i) DIREITOS DIFUSOS E DIREITOS COLETIVOS STRICTU SENSU: como são direitos
transindividuais indivisíveis, a reparação se destina à comunidade ou grupo.

Assim, a sentença que acolhe o pedido será uma SENTENÇA ESPECÍFICA, ou


seja, a sentença estabelecerá de forma específica o valor para a reparação
do dano.

Exemplo: vazamento na Baia de Guanabara que levou a uma ACP Ambiental.


A sentença condenou a reparação no exato valor do dano.

(ii) DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS: a sentença não pode ser líquida e


certa defenindo um valor total, a sentença será uma SENTENÇA GENÉRICA.
É uma sentença ilíquida, ela vai condenar a reparar, mas não vai dizer o
valor.

Exemplo: no caso do acidente de avião, a sentença condena os danos de


forma genérica.

 COISA JULGADA NA ACP:

Vejamos abaixo tabela contendo resumo da coisa julgada nas ações de tutela coletiva.

ESPÉCIE DE DIREITO LIMITE SUBJETIVO DA CJ MODO DE PRODUÇÃO DA CJ


DIREITOS INDIVIDUAIS Faz coisa julgada INTER CJ é PRO ET CONTRA. Incide
PURO PARTES (art. 506 do CPC) indepentemente do resultado
do processo (seja no resultado
favorável ou seja no resultado
contrário).
DIREITOS DIFUSOS Faz CJ ERGA OMNES. CJ é SECUNDUM EVENTUM
(art. 103, I do CDC) PROBATIONIS. Vai se produzir
sobre toda a comunidade,
salvo na improcedência por
falta de provas.
DIREITOS COLETIVOS Faz CJ ULTRA PARTES CJ é SECUNDUM EVENTUM
STRICTU SENSU (atinge as partes e alguns PROBATIONIS
(ART. 103, II do CDC) terceiros – grupo ou
categoria defendida).

123
Emerj CPIII-A Processo Civil

DIREITOS INDIVIDUAIS Faz CJ ERGA OMNES CJ é SECUNDUM EVENTUM


HOMOGÊNEOS (direito de toda e qq LITIS (porque é CJ erga omnes
(ART. 103, III do CDC) pessoa que se enquadre na apenas na procedência do
origem comum). pedido). Assim, é a CJ que
depende do resultado da
demanda porque a CJ somente
se opera na procedência do
pedido e não na
improcedência.

 EXECUÇÃO NA ACP:

A execução de sentença em sede de DIREITO DIFUSO E DIREITO COLETIVO STRICTU


SENSU deverá ser conduzida pelo próprio legitimado coletivo e o valor indenizado
beneficiária um FUNDO (fundo para reparação desse dano), nos termos do art. 13 da
Lei da ACP.

Art. 13 da ACP: “Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo


dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério
Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.
§ 1 - Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado
em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária
§ 2 - Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado
por ato de discriminação étnica nos termos do disposto no art. 1o desta
Lei, a prestação em dinheiro reverterá diretamente ao fundo de que trata
o caput e será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica,
conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial,
na hipótese de extensão nacional, ou dos Conselhos de Promoção de
Igualdade Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão
regional ou local, respectivamente.”

Em se tratando de execução de sentença em sede de DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO,


nos termos dos arts. 97 e 100 do CDC, a liquidação e execução será feita de forma
individual, observando-se o prazo de 1 ano. Se no prazo de 1 ano não houver
liquidações individuais ou se elas forem insuficientes, ai se terá a liquidação coletiva.

Art. 97 do CDC: A liquidação e a execução de sentença poderão ser


promovidas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de
que trata o art. 82.

Art. 100 do CDC: Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de


interessados em número compatível com a gravidade do dano, poderão os
legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução da indenização
devida.

124
Emerj CPIII-A Processo Civil

Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo


criado pela Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985.

Essas liquidações individuais tem natureza de AÇÃO.

SÚMULA AÇÕES COLETIVAS


Súmula 490 STJ  A dispensa de reexame necessário, quando o valor da
condenação ou do direito controvertido for inferior a 60
salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas.

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

Ana ingressou com uma demanda em face do Estado do Rio de Janeiro no ano de
2014, visando ao recebimento da gratificação "XYZ", instituída através de decreto-
lei no ano de 2008, à qual faria jus por ter trabalhado no período de 2000 a 2015.
Requereu que tais valores fossem apurados em liquidação de sentença. Em defesa,
o Estado alegou que a servidora não fazia jus ao benefício, pois a servidora
encontra-se inativa desde o ano 1999 e que o beneficio somente foi estendido aos
servidores inativos através de Lei no ano de 2013. Ocorre que Ana é beneficiária da
decisão proferida nos autos da Ação Civil Pública que condenou o Estado a
implementar, para os inativos, a mencionada gratificação. Tal decisão transitou em
julgado em 05 de abril de 2010. Acerca da coisa julgada, decida a questão de forma
fundamentada.

Resposta:

No caso em tela, a Ana já era beneficiária de uma sentença transitado em julgado,


logo ela deveria ter buscado a liquidação da sentença coletiva.

Na verdade, ela teria que averiguar se já tinha uma execução pelo legitimado coletivo,
se não tivesse, ela poderia promover a execução.

Tendo em vista que já se tinha uma sentença transitado em julgado do processo


coletivo, verifica-se impedimento ao processo individual, devendo a ação individual
ser extinta sem resolução de mérito (falta de interesse de agir /inadequação da via
eleita) pois a coisa julgada se estenderia para ela.

Apelação Civel 0010452-58.2014.8.19.0007: Apelação Cível. Direito


processual. Gratificação "Nova Escola". Demanda individual pretendendo o
recebimento dos valores referentes à gratificação, sendo que tal direito
já havia sido reconhecido em demanda coletiva transitada em julgado.
Limites subjetivos da coisa julgada. Extensão in utilibus da coisa julgada
do processo coletivo, na forma do art. 103 do CDC. Coisa julgada que

125
Emerj CPIII-A Processo Civil

impede o prosseguimento do processo individual. Extinção do processo sem


resolução do mérito. Recurso prejudicado.

126
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 13 - Prof. Marco Antônio


03/08/18

EMENTA:  Ação Popular.

A Açao Popular está prevista na Lei 4717/65, consagrando-se em verdadeira tutela


coletiva para o exercício da cidadania. Isso porque, por meio da ação popular, busca-
se a proteção a certos bens coletivos, em favor da comunidade.

Qual a base legal da ação popular?

A base legal da Ação Popular é o art. 5, LXXIII da CF e a Lei 4717/65

Art. 5 da CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Qual a finalidade da ação popular?

É uma ação coletiva para a ANULAÇÃO de certos atos lesivos a bens jurídicos coletivos.
Seu cabimento tem FINALIDADE CONSTITUTIVA NEGATIVA.

Destaca-se, ainda, uma segunda finalidade prevista no art. 11 da Lei 4717/65, qual
seja, a FINALIDADE CONDENATÓRIA. A sentença que anular o ato também condenará
os responsáveis nas reparações dos danos.

Trata-se, pois, de PEDIDO IMPLÍCITO, ou seja, decorre da lei, a parte não precisa
formular porque a própria lei já traz para a demanda esse pedido. Ainda que a ação
popular não peça a condenação em perdas e danos, está deverá ser abarcada na
sentença em razão da previsão na lei.

Art. 11 da Lei 4717: “A sentença que, julgando procedente a ação popular,


decretar a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de
perdas e danos os responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele,
ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de dano,
quando incorrerem em culpa.”

Quais são os bens jurídicos coletivos tutelados na AP?

127
Emerj CPIII-A Processo Civil

O art. 5, LXXIII da CF traz alguns dos bens jurídicos coletivos, destacando-se a


MORALIDADE ADMINISTRATIVA, o MEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO HISTÓRICO, entre
outros.

A Lei da Ação Popular também menciona os bens jurídicos, quais sejam:

Art. 1 da Lei 4717/65: “Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do
Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de
sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas
de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja
criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de
cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de
quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos

 CABIMENTO DA AÇÃO POPULAR:

A doutrina consagra que ação popular será cabível quando a lesão decorrer de um ato
que seja: (i) ilegal e (ii) lesivo.

O ATO ILEGAL é aquele que ofende não só a lei, mas ofende o ordenamento jurídico
como um todo.

O ATO LESIVO é aquele que lesiona alguns dos bens jurídicos coletivos tutelados por
ação popular.

O STJ pacificou o entendimento que a lesão pode ser patrimonial ou extra-patrimonial.

 LEGITIMIDADE PARA AÇÃO POPULAR:

(i) LEGITIMIDADE ATIVA:

A legitimidade ativa está prevista no art. 5, LXXIII da CF, ou seja ela é exercida por
QUALQUER CIDADÃO.

Cidadão é pessoa no gozo de direitos políticos. O gozo dos direitos políticos se verifica
mediante comprovante de votação da última eleição ou certidão de quitação eleitoral,
nos termos do art. 1, par. 3 da Lei 4717.

Pessoa Jurídica pode propor ação popular?

Não!! Súmula 365 do STF estabelece que as PJs não podem propor ação popular.

128
Emerj CPIII-A Processo Civil

Súmula 365 do STF: “Pessoa Jurídica não tem legitimidade para propor
ação popular.”

Pode o promotor de Justiça propor ação popular?

O Promotor poderá propor ação na qualidade de cidadão e não na qualidade de membro


do MP. Isso porque o MP não pode propor a ação popular, uma vez que o MP não tem
legitimidade originária para tal fim, possuindo apenas legitimidade extraordinária
subsidiária, nos termos do art. 9 da Lei de 4717. Nesse sentido, o MP poderá prosseguir
com a ação popular nos casos de abandono ou desistência pelo cidadão da ação
popular.

Art. 9 da Lei 4717: “Se o autor desistir da ação ou der motivo à absolvição da
instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º,
inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do
Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação
feita, promover o prosseguimento da ação.”

(ii) LEGITIMIDADE PASSIVA:

O art. 6 da Lei da AP aborda a questão do legitimado passivo, uma vez que se tem um
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO por força de lei.

Esse litisconsórcio será unitário quanto a anulação do ato, mas quanto a condenação a
decisão será diferente.

Entre os legitimados passivos destacam-se:

 Pessoa Jurídica em nome de quem o ato foi praticado. Pela redação do art. 1
da Lei 4717 pode ser pessoa jurídica de direito privado que receba de alguma
forma recursos públicos e não somente pessoa jurídica de direito publico.

 Beneficiários do Ato também devem ser legitimados passivos pois se o ato for
anulado isso afeta a sua esfera jurídica.

Exemplo: Ação Popular para atacar dispensa de licitação em caso em que


deveria ter sido feita a licitação. Serão réus: (i) pessoa jurídica de direito
público que contratou; (ii) pessoa jurídica contratada, ou seja, o beneficiado
(empresa que se beneficou com a dispensa da licitação) e (iii) os responsáveis
pelo ato (autoridades PFs responsáveis).

Art. 6 da Lei de 4717: A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas
e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o
ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra
os beneficiários diretos do mesmo.

129
Emerj CPIII-A Processo Civil

A pessoa jurídica em nome de quem o ato foi praticado tem uma peculiaridade uma
vez que poderá: (i) se defender como réu; (ii) se abster de se defender ou (iii) passar
para o lado do autor.

Se a PJ resolveu atuar ao lado do autor, ela continua dando causa a demanda, logo ela
poderá sofrer consequências como sucumbência porque ela deu causa ao ato. Ela só
não vai ter que reparar dano porque ela é lesada.

 PROCEDIMENTO DA AÇÃO POPULAR:

O art. 7 da Lei de 4717 consagra o procedimento ordinário, só que este foi extinto,
logo deve-se interpretar que deverá ser seguido o PROCEDIMENTO COMUM na ação
popular.

Ademais, o art. 7, IV da Lei da AP consagra regra especial de prazo para contestar – de


20 DIAS (e não de 15 dias como no CPC), prorrogável por mais 20 dias em casos de
dificuldade de produção de prova documental. É um benefício que será concedido em
favor de todos os réus.

Exemplo: a Fazenda para fazer jus ao prazo de 40 dias de contestação terá que
requerer expressamente, isso porque não se aplica a regra do CPC, nesse caso, mas
sim a regra do art. 7, IV do CPC. A Fazenda terá de requerer se quiser se beneficiar.
Os demais prazos aplicáveis a Fazenda deverão observar os prazos previstos do CPC
quando a Lei de AP for omissa.

Como funciona a remessa necessária na ação popular?

No CPC a remessa necessária é uma garantia da Fazenda, nos termos do art. 496 do
CPC, de forma a garantir a análise pelos Tribunais de todas as decisões que forem
contrárias à Fazenda.

Já na Ação Popular, no art. 19, temos uma regra especial. A REMESSA NECESSÁRIA se
dará nos casos de CARÊNCIA DE AÇÃO (extinção sem resolução de mérito) ou
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

Nesses casos, mesmo a Fazenda se consagrando vencedora haverá a remessa


necessária. Isso porque o duplo grau de jurisdição na ação popular vai se dar na DEFESA
DA COLETIVIDADE e não da Fazenda. Essa sentença terá de ser confirmada pelo
Tribunal.

Como será a coisa julgada na ação popular?

A COISA JULGADA na ação popular esta prevista no art. 16 da Lei de 4717, ou seja, terá
EFICÁCIA ERGA OMNES, nos limites da competência territorial do órgão prolator, salvo
se for julgado improcedente por falta de provas. Porque se houver uma improcedência

130
Emerj CPIII-A Processo Civil

por falta de provas, qualquer cidadão poderá entrar com uma nova ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.

Pode haver litispendência entre Ação Popular e Ação Civil Pública ou entre ações
coletivas?

Para responder essa questão faz-se necessário entender o seguinte exemplo:

Imaginemos uma ação (ação1) proposta pelo MP. Essa ação proposta pelo MP é em
favor dos consumidores de serviço bancário por conta de cobrança de tarifa abusiva.
Posteriomente foi proposta outra ação pela associação de defesa de direitos bancários,
com o mesmo pedido, mesma causa de pedir, mesmo banco réu. Há litispendência ou
conexão entre essas ações? Pensando à luz do CPC, poderia-se alegar que há CONEXÃO,
nos termos do art. 337 , par. 2 do CPC, em razão da Teoria da Triplice Identidade, só
que nesse exemplo o autor é diferente.

Entretanto, a nossa doutrina majoritária entende que verifica-se hipótese de


LITISPENDÊNCIA entre essas ações, porque nas ações coletivas a doutrina diz que
devemos mitigar a teoria da tríplice identidade. A teoria da triplice identidade não
deve ser aplicada de forma estrita, pois como temos diferentes legitimados, não se
deve olhar para a figura do autor, mas sim para aqueles que ele substitui e para os
demais elementos da ação. Mitiga-se a teoria da tríplice identidade.

O STJ tem julgados em que aplicou a tese da litispendência entre 2 ações coletivas
quando se tem os mesmos elementos da ação e eles defendem a mesma coletividade,
mesmo a ação tendo sido proposta por diferentes autores, o que mitiga a Triplice
Identidade.

Se tem litispendência, a segunda ação deveria ser extinta. Ocorre que parte da
doutrina (Fredie Didier) defende que se deve aplicar a reunião dessas ações e não a
extinção da segunda ação. Acaba que se aplica a consequência jurídica da conexão,
embora se diga que é caso de litispendência.

Cabe ação popular para atacar uma lei?

Depende!!! LEIS DE CARÁTER NORMATIVO não podem ser atacadas por ação popular.
Porém, existem LEIS DE EFEITOS CONCRETOS (que são apenas formalmente leis), mas
são materialmente atos administrativos e por isso essas leis podem ser atacadas por
meio da ação popular.

Exemplo: lei que autoriza alienação de bem publico. O autor popular alega que isso é
lesivo a determinado bem jurídico, pois é bem de área proteção ambiental, podendo
causar dano ao meio ambiente. É possível atacar por meio de ação popular, pois trata-
se de lei de efeito concreto, de matéria materialmente administrativa.

131
Emerj CPIII-A Processo Civil

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

Renata, residente e eleitora no município de "X", ingressou com ação popular para
postular a anulação de atos supostamente lesivos ao patrimônio do Município "Y". O
juiz considerou que, como a cidadã possuía domicílio eleitoral no Município "X",
careceria de legitimidade ad causam para a propositura de ação popular que tivesse
por objeto a impugnação de atos lesivos ao patrimônio do Município "Y". Pergunta-
se: correto o entendimento do nobre julgador? Resposta fundamentada.

Resposta:

O juiz não agiu de forma correta, porque a legitimidade prevista no art. 5, LXXIII da
CF é a legitimidade do cidadão e ela não está atrelada ao seu domicílio eleitoral. A
questão de olhar para a sua capacidade eleitoral, é só para averiguar se ele tem o
status de cidadão, se ele está no gozo de seus direitos políticos e tal fato deve ser
comprovado por meio de certidão da justiça eleitoral, ou por meio do comprovante de
votação da última eleição.

Resp 1242800: Agravo de instrumento - Açao popular - Autor popular com


domicílio eleitoral em outro município - irrelevância - comprovada a
condiçao de cidadao - título eleitoral - legitimidade ativa ad causam -
decisao mantida - recurso improvido.

132
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 14 - Prof. Felipe Borring


27/07/18

EMENTA:  Ação de Improbidade Administrativa

 AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:

A Lei 8428/92, conhecida como Lei de Improbidade Administrativa (LIA) resultou do


comando do art. 37, §4 da CF.

Art. 37, §4 da CF: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão


dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
ação penal cabível.”

A LIA tem papel fundamental no controle jurisdicional dos agentes públicos no Brasil,
nas 3 esferas do poder. A probidade administrativa é exigência fundamental do Estado
Democrático Brasileiro.

Improbidade significa desonestidade, representa um ilícito civil e político.

O que pode ser tutelado por via da ação de improbidade administrativa?

Os interesses tutelados pela LIA são essencialmente DIFUSOS, embora possam ter uma
dimensão individual própria. Por isso, o seu controle jurisdicional é feito por meio de
uma ação que tem natureza coletiva.

A ação de improbidade administrativa deve coexistir dentro do microssistema da tutela


coletiva, como instrumento de controle da atividade administrativa, juntamente com
a Ação Civil Pública, Ação Popular e Mandado de Segurança Coletivo.

Pode a defensoria pública entrar com uma ação de improbidade administrativa?

A matéria é controvertida, existindo duas correntes sobre o tema:

CORRENTE 1) A lei de improbidade coloca como legitimado o MP, mas pode se aplicar
a ação civil pública subsidiariamente. A lei de ação civil pública afirma que a
defensoria tem legitimidade para entrar com a ação civil pública. Logo, parte da
doutrina entende que a defensoria pode sim entrar com a ação de improbidade
administrativa, sob o fundamento de aplicação do microssistema da tutela coletiva
(estatutos da tutela coletiva). Esse microssistema pressupõe o diálogo das fontes entre
todas as normas de tutela coletiva.

CORRENTE 2) Há, contudo, a parte da doutrina que entende que a defensoria não pode
ajuizar ação de improbidade, pois ela não consta do rol dos legitimados para

133
Emerj CPIII-A Processo Civil

ajuizamento da ação na lei de improbidade administrativa. Prevalece na jurisprudência


uma visão sectária em que cada ação tem seu regime próprio.

O que qualifica uma ação de improbidade administrativa?

É o pedido. Nas demais ações coletivas pode-se pedir anulação do ato lesivo ao
patrimônio público e ressarcimento aos cofres públicos.

Na ação de improbidade administrativa além dos pedidos acima mencionados é


possível, alternativamente, conforme a gravidade das condutas, pedir também a
aplicação das sanções políticas previstas no art. 12 da Lei de Improbidade.

Quais as sanções políticas previstas na LIA?

Em breve síntese, a LIA prevê as seguintes sanções políticas:

(i) Perda da função pública;

(ii) Suspensão de direitos políticos de 8 a 10 anos;

(iii) Proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou


incentivos fiscais ou creditícios, diretos ou indiretamente, ainda que por
intermédio de PJ da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 10 anos.

(iv) Essas sanções políticas também têm implicação na esfera eleitoral, por
conta das modificações consagradas na Lei de Ficha Limpa (LC 64/1990 com
a redação dada pela LC 135/2010) podendo implicar, inclusive, na
inelegibilidade do político, nos termos da lei da ficha limpa.

Art. 1 da Lei de Ficha Limpa: “São inelegíveis:


I – para qualquer cargo ...
1 – os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão
transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato
doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio
público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o transito em
julgado até o transcurso do prazo de 8 anos após o cumprimento da pena.”

Toda a condenação por improbidade administrativa irá acarretar necessariamente


nas consequências previstas na Lei de Ficha Limpa?

Existe controvérsia na doutrina se toda a condenação por improbidade irá ensejar as


consequências previstas na Lei da Ficha Limpa. Isso porque a lei fala em condutas
dolosas, sendo certo que as condutas descritas na LIA podem ser praticadas a título de
CULPA.
134
Emerj CPIII-A Processo Civil

Majoritariamente, entende-se que é preciso a ocorrência de DOLO, conforme se


depreende do julgado abaixo:

RE 044.34.2012.6;25.0021 TRE/SR: “Recurso. Registro de candidatura.


Eleições 2012. Pleito Majoritário. Condenação por ato doloso de
improbidade administrativa. Confirmação de sentença em segundo grau.
Configuração de dano ao erário. Reconhecimento da inelegibilidade
prevista no art. 1, inciso I, alínea I, da LC 64/90, com as alterações
introduzidas pela LC 135/10 (Lei da Ficha Limpa). Desprovimento do
recurso.”

Assim, o entendimento atual é o de que se o indivíduo é condenado por improbidade


administrativa (conduta dolosa) automaticamente o indivíduo estará inelegível para se
candidatar.

Quais os atos de improbidade elencados pela LIA?

O rol dos atos de improbidade está disposto nos arts. 9 ao 11 da LIA. São notadamente
enumerativos. Como exemplo de ato de improbidade que não se encontra
expressamente nos incisos dos arts. 9 ao 11 é a improbidade ambiental (entendimento
do STJ pela possibilidade pela prática de ato de improbidade envolvendo violações de
normas ambientais).

Vejamos abaixo os atos de improbidade elencados na LIA:

1. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO: art. 9 da LIA estabelece que constitui ato de


improbidade administrativa o enriquecimento do agente público em razão do
seu exercício funcional: receber bens, viagens, vantagens, aceitar empregos
privados e etc. Para configurar ato de improbidade que gere enriquecimento
ilícito o agente deve agir com dolo. Independe de lesão, mas exclui a pena de
ressarcimento se não houver dano ao erário (STJ, REsp 1.412.214-PR,j). Além
disso, poderá ser uma ação ou omissão que cause enriquecimento ilícito.

2. LESÃO AO ERÁRIO: art. 10 da LIA representa o ato de improbidade


administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades.

É o único caso que pode ser punido por dolo ou culpa, sendo irrelevante o
enriquecimento ilícito, bastando a lesão ao erário, muito embora possam ser
configurados os dois. A doutrina costuma afirmar que o dano deve ser ao erário
(patrimônio financeiro), e não ao patrimônio público (é uma expressão utilizada
de forma mais ampla, pois existe patrimônio público paisagístico, cultural).

Um dos casos relevantes de lesão ao erário é aquele previsto no art. 10, VIII, o
qual trata da frustração da licitude do processo licitatório.
135
Emerj CPIII-A Processo Civil

O STJ tem entendido que o dano ao erário nesse caso deve ser efetivo, não
podendo ser uma lesão meramente presumida ou não comprovada, salvo no
caso previsto no inciso VIII, frustração da licitude do processo licitatório, em
que o dano será presumido (in re ipsa) na medida em que o Poder Público perde
a oportunidade de contratar melhor proposta (STJ, no REsp 1671366/SP, j.
28/11/2017; REsp 1624224/RS, j. 01/03/2018).

3. CONCESSÃO OU APLICAÇÃO INDEVIDA DE BENEFÍCIO FINANCEIRO OU TRIBUTÁRIO


(ISS – LC 116): previsto no art. 10 – A da LIA. É um caso bem recente de
improbidade trazido pela lei complementar nº 157/16, que é a Concessão ou
aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário, especificamente para
imposto municipal, exigindo-se o dolo para sua configuração.

4. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: de acordo com o art.


11 da LIA, é ato de improbidade administrativa aquele que atenta contra os
princípios da administração: violar regras de competência, retardar ou deixar
de praticar atos de oficio, revelar segredo, negar publicidade, frustrar a
licitude de concurso público, deixar de prestar contas.

Nesse caso, se exige apenas o dolo genérico, não sendo necessário o dolo
específico. Os princípios violados podem ser expressos ou implícitos. Independe
de enriquecimento e da lesão, pois é do tipo residual. (STJ, REsp 1532378/SP,
j. 12/12/2017).

Para fins de curiosidade existe ATO DE IMPROBIDADE PREVISTO NO ESTATUTO


DA CIDADE (LEI 10257/01), no art. 52, porém não há definição de sanções,
devendo se conjugar com as punições previstas na lei de improbidade, para
verificar qual tipo de ato de improbidade se enquadraria para então aplicar a
sanção correta.

É importante ressaltar o entendimento do STJ e STF no sentido de que não se confunde


improbidade com simples ilegalidade. A improbidade é a ilegalidade tipificada e
qualificada pelo elemento subjetivo da conduta do agente. (STJ, AgRg no REsp
1355136/MG, j. 16/04/2015).

O doutrinador Fábio Medina Osório se utiliza de uma expressão bastante interessante


a respeito desse tema que diz “se toda ilegalidade gerasse uma improbidade, então
toda concessão de ordem em mandado de segurança em que o juiz reconhece um ato
ilegal por parte da administração pública, acabaria gerando uma ação de improbidade
contra aquela autoridade”. Isso se configuraria um exagero, uma
desproporcionalidade.

O STJ costuma dizer que a ação de improbidade não costuma punir o agente
incompetente e inábil, mas sim aquele agente que é corrupto e que age de má-fé.

Outro ponto importante a ser mencionado é que na ação de improbidade administrativa

136
Emerj CPIII-A Processo Civil

NÃO HÁ RESPONSABILIDADE OBJETIVA, ainda que o réu seja uma pessoa jurídica (STJ,
AgRg no REsp 1500812/SE, j 25/05/2015; AgRg no REsp 968.447/PR, 1ª T., J.
16/04/2015). Contudo, cabe destacar que a responsabilidade objetiva é vista naqueles
atos de corrupção (conforme a nova lei de corrupção) praticados por pessoa jurídica.

Quais os mecanismos especiais para combater atos de improbidade?

Entre os mecanismos para combater os atos de improbidade destacam-se:

(i) Indisponibilidade de Bens: a LIA prevê que a lesão ao patrimônio público


deve ser integralmente ressarcida (art. 5) e o enriquecimento ilícito,
desfeito (art 6). Para tanto, a autoridade administrativa ou o MP podem
requerer, ainda na fase de investigação, a indisponibilidade dos bens do
indiciado (art. 7).

O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer


ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da
herança.

(ii) Apresentação de declaração de patrimônio: A posse e o exercício dos


agentes públicos ficam condicionados à apresentação periódica de
declaração de bens e valores que compõem o patrimônio privado, a fim de
ser arquivada no serviço de pessoal competente.

 PROCESSO ADMINISTRATIVO INVESTIGATÓRIO:

A LIA prevê um processo administrativo para apuração dos atos apontados como
ímprobos e aplicação de sanção (Art. 14 e 16). Qualquer pessoa pode e o agente
público deve representar para a autoridade competente (art. 14) ou para o MP (art.
22) para instaurar esse procedimento, voltado a apurar a prática de ato de
improbidade.

A autoridade administrativa rejeitará a representação em despacho fundamentado


se esta não contiver qualificação, ou as informações sobre o fato e a sua autoria e
a indicação das provas de que tenha conhecimento. A rejeição da representação,
no entanto, não impede a representação, pelos mesmo fatos, ao MP.

Apesar da identificação do denunciante ser requisito da representação admite-se


majoritariamente a DENÚNCIA ANÔNIMA (STJ-RMS 32065/PR). A representação
falsa, no entanto, configura crime (art. 19).

Por outro lado, os processos para apuração da improbidade administrativa também


podem ser instaurados de oficio pela administração. No caso de instauração pelo
MP, ele seguira estrutura do inquérito civil público.

137
Emerj CPIII-A Processo Civil

A representação será processada, no caso de servidores federais, na forma prevista


nos art. 148 a 182 da Lei 8112/90 e, em se tratando de servidor militar, de acordo
com os respectivos regulamentos disciplinares. A comissão processante dará
ciência do procedimento ao MP e ao Tribunal ou Conselho de Contas.

O MP ou Tribunal de Contas poderá, a requerimento, designar representante para


acompanhar o procedimento administrativo.

Como se dá o pedido de sequestro de bens?

Havendo FUNDADOS INDÍCIOS DE RESPONSABILIDADE a comissão representará ao MP


ou a procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação
do sequestro de bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou
causado dano ao patrimônio público (art. 16).

O pedido de sequestro será processado como ação cautelar preparatória (art. 17


da LIA e art. 305 e 310 do CCP) e poderá incluir também o pedido de investigação,
exame e bloqueio de bens, contas bancarias, aplicações financeiras mantidas pelo
indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais (art. 16, §2).

Se ao final do processo administrativo, submetido ao contraditório, ficar constada


a ocorrência da improbidade administrativa, as sanções serão aplicadas em
conformidade com as legislações administrativas pertinentes. Assim, as sanções
previstas no art. 12 da LIA só serão aplicáveis por meio de processo judicial.

Quem são os legitimados ativos para apuração da Improbidade Administrativa?

Nos termos do art. 17 da LIA, a investigação ou ação de improbidade administrativa


será feita pelo MP ou pela pessoa jurídica interessada.

A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações necessárias à


complementação do ressarcimento do patrimônio público.

Também se considera pessoa jurídica interessada o ente tributante que figurar no


polo ativo da obrigação tributária de que tratam o § 4 do art. 3 e o art. 8 da LC 116
de 2003.

Quem são os legitimados passivos da ação de improbidade?

Qualquer agente público, servidor ou não, que pratica atos ímprobos contra a
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do DF, dos Municípios, de Território, (...) de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual, poderá
138
Emerj CPIII-A Processo Civil

ser alvo de um processo administrativo ou réu na ação de improbidade


(LEGITIMIDADE PRÓPRIA)

O parágrafo único do art. 1 diz que estão também sujeitos as penalidades da LIA os
atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba
subvenção, benefício ou incentivo fiscal ou creditício, de órgão público bem como
daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com
menos de 50% do patrimônio ou da receita anual.

O art. 2 da LIA esclarece que é considerado como agente público todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no art. 1.

Em que consiste a legitimidade imprópria na ação de improbidade


administrativa?

A LEGITIMIDADE IMPRÓPRIA está prevista no art. 3 da LIA. Tal dispositivo permite


também que a investigação ou a ação de improbidade administrativa seja proposta
em face daquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para
prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta ou
indireta. Ex: ação de improbidade contra diretor de ONG.

Há quem defenda que, dependendo do pedido, a pessoa jurídica interessada


também poderá figurar como réu na ação de improbidade administrativa. Isso é
reforçado, indiretamente pelo art. 17, par. 3 da LIA, que fala que a pessoa jurídica
de direito público pode se abster de contestar a demanda e migrar para o polo
ativo (LEGITIMAÇÃO BIFRONTE).

O entendimento majoritário consagra que não se trata de litisconsórcio necessário,


mas é importante colocar o Estado no polo passivo da ação de improbidade em
razão de ampliação da investigação.

De quem é a competência para as ações de improbidade administrativa?

Como toda ação coletiva, a ação de improbidade deve ser proposta no foro do local
onde o dano está ocorrendo ou deva ocorrer, que tem competência absoluta para
julgá-la.

A ação de improbidade administrativa possui natureza cível. Logo, em tese, ela


deverá ser julgada na primeira instância. A ação de improbidade tem que ser
proposta perante o juízo com competência fazendária.

139
Emerj CPIII-A Processo Civil

Ocorre que em 2002, foi editada a Lei 10.628/12 que alterou o art. 84 do par. 2 do
CPC que consagrou foro por prerrogativa de função para a ação de improbidade.
Essa regra foi considerada inconstitucional pelo STF.

Posteriormente, o STF acolheu, via reclamação 2138/DF, a tese de que aos agentes
políticos sujeitos aos crimes de responsabilidade da Lei 1079/50 não respondem
por improbidade administrativa (ne bis in idem).

Na esteira desse posicionamento, a Corte Especial do STJ (Rcla 2.790/SC)


reconheceu que:

1. Os agentes políticos se submetem à LIA, com exceção do Presidente da


República;
2. Existe foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade
administrativa.

Posteriormente, o STF acolheu a tese de que a competência para julgar ação de


improbidade administrativa proposta contra Ministro do STF é do próprio STF.

Em 2013 o STJ voltou atrás e solidificou o entendimento de que não existe foro por
prerrogativa de função em ações de improbidade administrativa, mesmo se propostas
contra agentes políticos que são julgados penalmente no STJ (AgRg Rcl 12.514-MT).

Por fim, o STF reconheceu que não existe foro por prerrogativa nas ações de
improbidade administrativa (nem para o presidente). [CONFIRMAR]

 REUNIÃO DE PROCESSOS:

Segundo o art. 17, § 5 da LIA a propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para
todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
mesmo objeto. Nos termos do art. 59 do CPC, considera-se prevento o juízo onde a
petição inicial foi primeiro registrada ou distribuída.

 ESTRUTURA PROCEDIMENTAL DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:

O art. 17 da LIA afirma que a ação de improbidade administrativa terá o “rito


ordinário”.

Assim, com a edição do CPC, o rito passa a ser o comum previsto no art. 318 e seguintes
do Código. Apesar disso, a natureza desse rito é especial, em razão das regras
presentes nos dispositivos.

 ESTRUTURA DA FASE POSTULATÓRIA:

O art. 17, §7 e 8 da LIA diz que o requerido será notificado para oferecer manifestação
por escrito, com documentos, no prazo de 15 dias. Prossegue afirmando que, recebida
a manifestação, o juiz, em 30 dias, fundamentadamente, rejeitará a ação, se

140
Emerj CPIII-A Processo Civil

convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da


inadequação da via eleita.

Diante da previsão de uma FASE DE DEFESA PRÉVIA, no início do processo, parece ser
mais adequado, após o recebimento da petição inicial, aplicar o rito comum, sem a
realização da audiência do art. 334 do CPC. Seria incongruente fazer uma audiência
dessas, após a apresentação da manifestação. Além disso, o art. 17, § 9 da LIA aduz
que o réu será citado para contestar.

Questão de Concurso) 😊😊😊


Em determinada ação de improbidade administrativa, a parte ré, em defesa
preliminar, indicou elementos que afastariam de plano a existência da improbidade
administrativa. Diante de tal fato, o magistrado rejeitou a petição inicial e extinguiu
o processo. Inconformada, a parte autora apelou da decisão alegando que a sentença
não tinha fundamentos suficientes para embasar a decisão e que não foi obedecido o
devido processo legal. Como deverá ser julgado o apelo?

Resposta:
“Nos termos do art. 17, § 7 e 8 da Lei 8429/92, a defesa preliminar é o momento
oportuno para que o acusado indique elementos que afastem de plano a existência de
improbidade administrativa, a procedência da ação ou a adequação da via eleita.
Assim, somente nesses casos poderá o juiz rejeitar a petição inicial. Existindo indícios
de atos de improbidade nos termos dos dispositivos da LIA, sendo adequada a via eleita,
cabe ao juiz receber a inicial e dar prosseguimento ao feito. Não há ausência de
fundamentação a postergação para a sentença final da análise da matéria de mérito.
Ressalta-se, ainda, que a fundamentação sucinta não caracteriza ausência de
fundamentação (AgRg ARESP 668.749/SP).”

Trata-se de uma fase de defesa prévia (de natureza judicial-administrativa), inspirada


no procedimento de crimes funcionais (art. 531 e 515 do CPP). Na verdade, não há
notificação, mas citação da demanda e intimação do prazo para se defender com
advogado. Após, o juiz pode acolher a defesa se convencido da inexistência do ato de
improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita.

O tema é polêmico, mas o entendimento majoritário é que a rejeição da demanda,


antes de recebida a petição a inicial, tem natureza de sentença terminativa (não se
poderia falar em resolução de mérito antes do recebimento da exordial).

Na hipótese de rejeição por inadequação da via eleita, no entanto, a posição é


pacífica, que não haverá resolução de mérito.

A posição de que a rejeição da demanda por inadequação da via eleita é feita sem
resolução do mérito é reforçado pelo par. 11 do art. 17 da LIA, que diz que em qualquer
fase do processo, reconhecida a inadequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá
o processo sem julgamento do mérito.

141
Emerj CPIII-A Processo Civil

O par. 10 do art. 17 consagra que da decisão que receber a petição inicial caberá
agravo de instrumento.

A jurisprudência tem flexibilizado a obrigatoriedade da realização da fase de defesa


prévia, assinalando que a sua dispensa não enseja a nulidade do processo (AgRg ARESP
484423/MS).

 INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO:

Como ocorre com todas as ações coletivas, o MP, se não intervir no processo como
parte na ação de improbidade administrativa, atuará, obrigatoriamente, como fiscal
da ordem jurídica sob pena de nulidade.

 EFEITOS DA SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA:

Nos termos do art. 18 da LIA, a sentença que julgar procedente o pedido de reparação
de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento
ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo
ilícito. Isso ocorrerá ainda que ela não seja parte no processo.

Somente após o trânsito em julgado da sentença de procedência é possível a aplicação


das sanções políticas cominadas. Os efeitos eleitorais, no entanto, previstos na Lei da
Ficha Limpa, são aplicáveis quando da confirmação da condenação por órgão
colegiado.

 PRAZO PRESCRICIONAL:

A prescrição na ação de improbidade administrativa está prevista no art. 23 da LIA e


vai depender da situação posta pela lei.

Via de regra, os atos de improbidade administrativa prescrevem em 5 anos.

Qual o termo inicial do prazo prescricional nos atos de improbidade envolvendo


agentes políticos?

No caso de agente político detentor de mandato eletivo ou de ocupantes de cargos em


comissão e de confiança, inicia com o fim do mandato ou cargo (Lei nº 8.429/92, art.
23, I; STJ, AgRg no REsp 1411699/SP, DJ 19/02/2015).

No caso de agente político reeleito, o prazo de prescrição inicia com o término do


último mandato (STJ, ArRg no AREsp 161.420/TO, j. 03/04/2014; REsp 1290824/MG, j.
19/11/2013).

Se o prefeito for eleito e pratica ato de improbidade no primeiro ou no segundo ano e


é reeleito, a prescrição para a ação de improbidade inicia-se depois do término do
142
Emerj CPIII-A Processo Civil

último mandato. Isso vale também para vereador, mas há um problema quanto aos
vereadores, deputados e senadores, pois eles podem ser reeleitos por várias vezes.

Maria Sylvia Di Pietro questiona essa situação, entendendo que seria um excesso,
porque para esses agentes que ficam sempre renovando seus mandatos, ficaria quase
que imprescritível a ação de improbidade.

O entendimento do STJ em relação a essa situação é no sentido de o prazo prescricional


da ação de improbidade inicia sempre do término do último mandato, incluindo nesse
caso os vereadores (STJ, REsp 1666029/SP, j. 19/09/2017).

Qual o termo inicial do prazo prescricional nos atos de improbidade envolvendo


ocupantes de cargo efetivo ou emprego público?

No caso de titulares ocupantes de cargo efetivo ou emprego público, o prazo de


prescrição de improbidade é o mesmo para as sanções disciplinares puníveis com
demissão, quando ocupante de cargo efetivo ou emprego (art. 23, II).

No âmbito federal, conforme art. 142 da Lei nº 8.112, o prazo é de 5 (cinco) anos, a
iniciar de quando conhecido o fato ou prazo da lei penal, interrompido quando aberta
a sindicância ou instaurado o PAD, voltando a correr por inteiro quando encerrado.

Com relação ao prazo da lei penal, no caso de ato de improbidade, da infração


disciplinar que também é tipificada como crime, o prazo da lei penal independe da
propositura da ação penal, portanto, aplica-se a prescrição em abstrato.

Qual o termo inicial do prazo prescricional nos atos de improbidade envolvendo


empregados que não são ocupantes de cargos efetivos ou emprego público?

Há uma lacuna em relação à questão dos empregados, boa parte da jurisprudência


entende que deve se aplicar por analogia o mesmo prazo dos servidores efetivos.

Qual o termo inicial do prazo prescricional nos atos de improbidade envolvendo


terceiros?

Para os terceiros, aplica-se o mesmo termo inicial para o agente público que praticou
o ato ímprobo.

Por fim, conta-se 5 (cinco) anos da data da apresentação à Administração Pública da


prestação de contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1º (art.
23, III).

 IMPRESCRITIBILIDADE DAS AÇÕES DE RESSARCIMENTO: [TEMA DO MOMENTO!!! –


VIDE INFO 909 STF]
143
Emerj CPIII-A Processo Civil

Outra discussão bastante importante é quanto à imprescritibilidade das ações de


ressarcimento.

Essa discussão surgiu devido ao art. 37, § 5 da CF afirmar que a lei deverá prever prazos
prescricionais para os atos de improbidade, com exceção das ações de ressarcimento.

A partir disto, discute-se na doutrina se esse trecho final do parágrafo estaria


excepcionando as ações de ressarcimento da incidência da prescrição ou ao contrário,
as ações de ressarcimento se submeteriam a uma legislação especial, o que não
significaria que elas seriam imprescritíveis.

As ações de ressarcimento são ou não são imprescritíveis?

Como visto acima, a regra é que as ações de improbidade prescrevem em 5 anos.


Existe, contudo, uma exceção, qual seja: o ressarcimento ao erário em casos de atos
de improbidade praticados dolosamente. (INFO 909 do STF!!!). O fundamento para isso
está na parte final do art. 37, par. 5 da CF.

Art. 37, par. 5 da CF: “A lei estabelecerá os prazos da prescrição para ilícitos
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário,
ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.”

O STF entendeu, portanto, que as ações de ressarcimento ao erário envolvendo atos


de improbidade administrativa são IMPRESCRITÍVEIS. No entanto, o STF fez uma
exigência a mais que não está prevista no art. 37, par. 5 da CF. O STF afirmou que
somente são imprescritíveis as ações de ressarcimento envolvendo atos de improbidade
administrativa praticados DOLOSAMENTE.

Assim, se o ato de improbidade administrativa causou prejuízo ao erário, mas foi


praticado com CULPA, então, nesse caso, a ação de ressarcimento será prescritível e
deverá ser proposta no prazo do art. 23 da LIA. Os atos de improbidade CULPOSOS
estão previstos no art. 10 da LIA.

A imprescritibilidade também se aplica para os casos de ressarcimento de outros


ilícitos civis?

Não!!! O par. 5 do art. 37 da CF deve ser lido em conjunto com o par. 4, de forma que
ele se refere apenas aos casos de improbidade administrativa.

Se fosse realizada uma interpretação ampla da ressalva final contida no par. 5, isso
faria com que toda e qualquer ação de ressarcimento movida pela Fazenda Pública
fosse imprescritível, o que seria desproporcional.

144
Emerj CPIII-A Processo Civil

A prescrição é instituto importante para se garantir a segurança e estabilidade das


relações jurídicas e da convivência social.

Desse modo, a ressalva final do par. 5 do art. 37 da CF deve ser interpretada de forma
estrita e não se aplica para danos causados ao Poder Público por força de ilícitos civis.

Nesse sentido, em julgado de 2016 o STF solidificou o entendimento da


prescritibilidade das ações de reparação de danos decorrentes de ilícito civil. Por
exemplo, se um veículo do exército ou da União sofre uma batida por um terceiro e a
União entrar com uma ação contra este incide a prescrição nesse caso. Segundo o STF,
a ação decorrente de ilícito civil é prescritível, só será imprescritível se o ato for de
improbidade ou criminal.

RE 669069/MG de 2016: “É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda


Pública decorrente de ilícito civil. Dito de outro modo, se o Poder Público sofre
um dano ao erário decorrente de um ilícito civil e deseja ser ressarcido, ele deverá
ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em lei.

Outro caso prático em que foi alegada a imprescritibilidade em ações da União exigindo
ressarcimento de prejuízos pela exploração ilegal de recursos minerais, haja vista que
estes para serem explorados devem ter autorização da Agência Nacional da Mineração,
se não houver, é considerado ato ilícito, gerando ressarcimento a União.

O STJ vem nessa mesma linha de entendimento afirmando que a pretensão de


ressarcimento de danos ao erário que não decorre de ato de improbidade prescreve
em 5 (cinco) anos (STJ, EREsp 662.844/SP, Dje 01/02/2011, AgInt no AREsp
981.278/SP, j. 12/09/2017).

O prazo prescricional para a ação de improbidade é, em regra, de 5 (cinco) anos, salvo


a imprescritibilidade da pretensão de ressarcimento (STJ, AgRg no AREsp 622.765/PE).

TIPO DE AÇÃO PRESCRIÇÃO


Ação de reparação de danos à Fazenda  é PRESCRITÍVEL (RE 669069/MG)
Pública decorrentes de ILÍCITO CIVIL
Ação de ressarcimento decorrente de ato  é PRESCRITÍVEL (prazo do art.
de improbidade administrativa praticado 23 da LIA)
com CULPA
Ação de ressarcimento decorrente de ato  é IMPRESCRITÍVEL (par. 5 do art.
de improbidade administrativa praticada 37 da CF)
com DOLO

 DAS PENAS POR ATOS DE IMPROBIDADE:

Consta no art. 12 da lei de improbidade, que as sanções por atos de improbidade


administrativa independem das penais, civis ou administrativas. Conforme uma
mudança de 2009, acolhendo decisões reiteradas do STJ, previu-se que as sanções
previstas nos incisos do art. 12 da lei de improbidade administrativa não precisam ser
145
Emerj CPIII-A Processo Civil

cumulativas, podem ser aplicadas isoladamente conforme o caso, aplicando-se o


princípio da proporcionalidade, a depender da gravidade do ato de improbidade.

Exemplo: Se o sujeito pratica um ato de lesão ao erário, se for uma lesão leve, o juiz
não está obrigado a aplicar a pena mais grave, como a perda do cargo público ou a
suspensão dos direitos políticos.

Contudo, não há liberdade do julgador quanto ao ressarcimento integral do dano,


doloso ou culposo (art. 5º) e perdimento dos bens ou valores acrescidos ao patrimônio
(art. 6º).

Assim, essa proporcionalidade na aplicação da pena de improbidade tem limites, não


podendo deixar de aplicar a pena de ressarcimento integral do dano, quando houver,
ou perdas de bens ou valores que foram somados ao patrimônio.

Os incisos I a IV do art. 12 da LI preveem as penas conforme o tipo de ato praticado


(tipificados nos arts. 9, 10, 10-A e 11) e a gradação da pena deve levar em conta a
extensão do dano e o proveito patrimonial (parágrafo único do art. 12 da lei de
improbidade).

Existe outra limitação quando ao princípio da proporcionalidade aplicado pelo juiz. O


magistrado muito embora não esteja obrigado a aplicar todas as penas, não poderá
aplicar as penas abaixo do mínimo legal.

A discussão que se estabeleceu no STJ é quanto à possibilidade de aplicação da pena


de improbidade pelo juiz abaixo do mínimo legal. Isso porque algumas penas tem uma
gradação variável, por exemplo, suspensão dos direitos políticos (3 a 5 anos, 5 a 8 anos
e 8 a 10 anos), proibição de contatar com o poder público (3, 5 e 10 anos), multa. Em
todos esses casos o juiz não poderá aplicar a pena abaixo do patamar legal.

Com relação à perda da função pública e suspensão dos direitos políticos, só pode
aplicar a pena com trânsito em julgado (art. 20). Segundo o STJ, a sanção da perda do
cargo público não é relacionada ao cargo ocupado ao tempo do trânsito em julgado,
mas sim àquele que serviu de instrumento para a prática da conduta ilícita.

Exemplo1: Se um determinado sujeito tinha um cargo quando cometeu o ato de


improbidade e mudou de cargo público depois e o trânsito em julgado da ação de
improbidade se deu neste último, o agente não perderá o cargo.

Exemplo2: Prefeito pratica ato de improbidade, depois do término do mandato é


aprovado em um concurso ou volta a exercer o cargo público que tinha antes, essa
pena de perda do cargo público não poderá atingir o cargo que ele ocupa atualmente.

Outra questão interessante também foi o reconhecimento pelo STJ da competência da


autoridade administrativa para impor pena de demissão a servidor público em razão
da prática de ato de improbidade, independentemente de provimento jurisdicional.

146
Emerj CPIII-A Processo Civil

No âmbito do processo administrativo disciplinar, a autoridade administrativa pode


impor a pena de demissão de perda do cargo de servidor público que pratica ato de
improbidade, pois essa pena foi praticada no âmbito do PAD, independente da pena
aplicada pelo juiz no processo judicial de ação de improbidade, com respeito à
independência de instâncias.

É possível a aplicação do Princípio da Insignificância às ações de improbidade?

Outra questão que gera muita polêmica aos operadores do Direito Administrativo é a
possibilidade de se aplicar ou não o princípio da insignificância às ações de
improbidade.

Muitos defendem que não se aplica, pelo fato de se aplicar a crimes contra a
Administração Pública e, portanto, por analogia, não se deveria aplicar também o
princípio da insignificância nos casos de improbidade.

No entanto, há julgados no STJ datados de 2015 de relatoria do Ministro Napoleão


Nunes Maia que entende pela aplicabilidade do princípio da insignificância nas ações
de improbidade (STJ, REsp 1536895/RJ, j. 15/12/2015; AgRg no REsp 968.447/PR, 1ª
T., j. 16/04/2015). Porém, outros Ministros entendem ser inaplicável como pode se
depreender dos julgados do STJ, MS 21.715/DF, 1ª S., j. 23/11/2016; AgRg no REsp
20.747/SP, 1ª T, Dje 23/11/2011.

Da leitura da ementa do julgado do STJ, MS 21.715/DF, 1ª S., j. 23/11/2016, a priori


parece que o STJ entende pela inaplicabilidade do princípio da insignificância, ou seja,
não está claro se o STJ afirma que não aplica a nenhum caso de improbidade ou se o
princípio da insignificância não se aplicaria ao ato de improbidade tratando do MS em
específico.

Há juristas que interpretam esse julgado entendendo que o STJ apenas diz que não se
aplicaria a insignificância naquele caso especifico e que isso não significaria que não
se aplicaria nos demais casos. Assim, não se tem um entendimento pacífico no STJ a
respeito da temática da aplicação do princípio da insignificância nos casos de
improbidade.

Ademais, a aplicação das sanções independe da ocorrência de dano ao patrimônio


público, salvo quanto à pena de ressarcimento, da aprovação ou rejeição das contas
pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas (art. 21).

Com relação à responsabilidade do sucessor, este poderá responder apenas nas ações
de ressarcimento ou perda de bens, até os limites do valor da herança (art. 8º da lei
de improbidade).

A proibição do direito de contratar com a Administração Pública, o STJ entendeu pela


possibilidade de o juiz modular para restringir a esfera municipal do local do dano,
para que essa pena de proibição de contratar não abranja todo e qualquer ente da
147
Emerj CPIII-A Processo Civil

Administração Pública, por exemplo, um prefeito municipal que pratica um


determinado ato de improbidade que “aos olhos do juiz” não é tão grave e o magistrado
juiz entende modular o princípio da proporcionalidade.

 DO PROCESSO NA LEI DE IMPROBIDADE:

Quanto às questões processuais temos no art. 17, § 1º da Lei de Improbidade a vedação


a transação, acordo ou conciliação. Esse artigo é muito criticado, pois na prática tem
sido realizado acordos, inclusive o Ministério Público tem entendimento pela
possibilidade a depender do caso e de sua gravidade. Porém, o que interessa para os
concursos é saber a vedação do art. 17, § 1º da Lei de Improbidade. [VAI CAIR NA
PROVA!!!]

Estando a inicial em ordem, o juiz atua o processo de improbidade e oportuniza a


defesa prévia em 15 (quinze) dias. Esse procedimento somente se aplica para as ações
de improbidade típicas, propriamente ditas, não se aplicando as ações de
responsabilidade civil, por exemplo, para anular ato administrativo e obter
ressarcimento dos danos, ou seja, não se aplica a outras ações.

Mesmo que haja ausência de notificação prévia por parte do juiz, o STJ tem entendido
que não há nulidade se não houver prejuízo (STJ, REsp 1233629/SP, j. 14/6/11; REsp
1184973/MG, j. 16/9/10; REsp 1536913/SP, j. 8/8/2017).

Recebida a manifestação da defesa pelo juiz, ele poderá tomar as seguintes medidas:

a) Rejeita, em decisão fundamentada, em caso de inexistência de ato de improbidade


administrativa, improcedência, inadequação da via eleita (art. 17 § 8º). Cabendo neste
caso, o recurso de apelação por parte do autor, geralmente o Ministério Público ou a
pessoa jurídica interessada.

b) Recebe a ação de improbidade e cita o réu (art. 17, §9º), dessa decisão de
recebimento caberá recurso de Agravo de Instrumento (art. 17, § 10).

Quanto ao recebimento da inicial o STJ entende que é possível o recebimento quando


há indícios de cometimento de atos de improbidade (in dubio pro societate). Muito
embora alguns doutrinadores como Fábio Medina Osório critiquem a existência da
máxima in dubio pro societate no recebimento seja da ação penal, seja na ação de
improbidade. O entendimento do STJ é em sentido contrário.

Depois do recebimento da inicial, a única análise do mérito antes de terminar o


processo que o juiz faz é no recebimento e no prosseguimento da ação de improbidade
após a defesa prévia. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de
ação de improbidade está sujeita a reexame necessário conforme dispõe o Informativo
nº 607 do STJ.

No que tange à instrução e a prova, há outro julgado do STJ que admite prova
emprestada de ação penal, inclusive decorrente de interceptação telefônica, se

148
Emerj CPIII-A Processo Civil

garantido o contraditório e ampla defesa (STJ, AgRg no REsp 1299314/DF, j.


23/10/2014). Portanto, quanto aos honorários e custas, ressalta-se que estes não
cabem ao autor da ação, salvo na ocorrência de má-fé.

CASOS CONCRETOS:

Questão 1)

Neusa ingressou com ação de revisão de financiamento cumulada com ação de


consignação em face do Banco Poupa a Jato S. A. Neusa está mensalmente
depositando judicialmente valor que entende devido acerca do financiamento o qual
pretende que seja revisionado. O Banco réu requereu o levantamento das quantias
depositadas, observando que, apesar de tratar-se de valores muito inferior àqueles
que entende devidos, trata-se de valores incontroversos. Decida a questão de forma
fundamentada.

Resposta:

Quando o juiz julga a defesa preliminar, esse julgamento tem que ser superficial, ele
vai verificar se essa situação é evidente seja para rejeitar seja para apurar em
definitivo se houve ou não ato de improbidade administrativa. A fundamentação
robusta tem que ficar reservada para a sentença final.

O STJ tem algumas decisões dizendo que pode prescindir de defesa previa, ou seja,
assinalando que a sua dispensa não enseja a nulidade do processo (AgRg no ARESP
484423/MS)

149
Emerj CPIII-A Processo Civil
Aula 15 - Prof. Felipe Borring
27/7/18

EMENTA:  Mandado de Segurança Individual

 MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL:

O âmbito de incidência do Mandado de Segurança é RESIDUAL, ou seja, o MS serve para


proteger direito líquido e certo, não amparado por HC ou HD, quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público.

O MS é ao mesmo tempo uma ação constitucional e uma garantia constitucional, ou


seja, é um remédio constitucional e uma garantia constitucional.

Art. 5, LXIX da CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público;”

A CF/88 inovou quando consagrou o MS COLETIVO.

Art. 5, LXX da CF: “O mandado de segurança coletivo por ser impetrado por:
a) Partido político com representação no Congresso Nacional;
b) Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída
e em funcionamento há pelo mesmo um ano em defesa dos interesses de seus
membros ou associados.”

A CF em termos de MS coletivo se limitou a falar do cabimento do MS e legitimidade,


deixando para a legislação infraconstitucional regular o resto.

Qual a estruturação teórica do MS?

O MS representa um instrumento de prestação de tutela diferenciada, com COGNIÇÃO


RESTRITA, em que se verifica uma LIMITAÇÃO NO PLANO HORIZONTAL, uma vez que só
se pode analisar questão de DIREITO LÍQUIDO E CERTO devendo a prova ser PRÉ-
CONSTITUÍDA e base documental.

Trata-se de uma ação civil (não penal) com PROCEDIMENTO ESPECIAL SUMARIZADO com
reduzida fase instrutória.

150
Emerj CPIII-A Processo Civil

Existe uma diminuta fase instrutória no MS, que seria a fase de exibição de
documentos. A única fase instrutória que pode ter no MS é a prestação de informações
complementares na petição inicial por meio de exibição de documentos.

Em que consiste a cognição restrita do MS?

No PLANO VERTICAL, tem-se o que a doutrina chama de COGNIÇÃO EXAURIENTE


(pautada em um JUÍZO DE CERTEZA) - se relacionando com a profundidade da cognição.
Qualquer coisa abaixo da cognição exauriente é chamada de COGNIÇÃO SUMÁRIA
(pautada em um JUIZO DE APARÊNCIA).

No PLANO HORIZONTAL, tem-se a COGNIÇÃO PLENA e qualquer coisa abaixo da


cognição plena é chamada de COGNIÇÃO LIMITADA.

Nesse sentido, o mandado de segurança não é via adequada para discutir questões que
dependam de comprovação de fatos que desafiam cognição exauriente.
[IMPORTANTE!!!!!]

Em que consistem as “Técnicas de Especialização dos Procedimentos Especiais” ?

Toda vez que se faz um procedimento especial parte-se do rito comum, ou seja, faz-
se uma modificação do rito comum para criar um rito especial e essas modificações
podem ser agrupadas em diferentes técnicas. Essas técnicas são denominadas de
“Tecnicas de Especialização dos Procedimentos Especiais”.

Quando se fala em sumarização do procedimento significa comprimir o procedimento.


No caso do MS houve uma compressão do procedimento, por meio da eliminação da
fase instrutória (salvo o pedido de informações adicionais sobre a prova pré-
constituída)

Qual o procedimento/rito do Mandado de Segurança?

O MS tem um RITO SUMARIZADO com SUPRESSÃO DA FASE INSTRUTÓRIA.

Assim, o MS tem fase postulatória (que pode ter o pedido de informação com exibição
de documentos) e fase decisória.

Quais as “modalidades” de MS existentes?

O Mandado de Segurança se divide nas seguintes modalidades:

151
Emerj CPIII-A Processo Civil

(i) MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO: será impetrado quando o ato


inquinado ainda não produziu todos os seus efeitos. Tem natureza de tutela
inibitória, ou seja, voltado a evitar que o dano venha a ocorrer.

(ii) MANDADO DE SEGURANÇA REPRESSIVO: será impetrado quando o dano já


está ocorrendo.

Há, ainda, uma outra classificação, qual seja:

(i) MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA AÇÃO: no caso de MS impetrado em razão


de AÇÃO (conduta comissiva) de Autoridade Coatora, deverá ser observado
o prazo de 120 dias previstos no art. 23 da Lei 12.016/2009.

(ii) MANDANDO DE SEGURANÇA CONTRA OMISSÃO: no caso de MS impetrado em


razão de omissão da Autoridade Coatora, o prazo para interposição do MS
se renova a cada dia que a omissão existir.

Qual a natureza jurídica do MS?

O Mandado de Segurança é um REMÉDIO CONSTITUCIONAL (ações previstas na CF para


proteção de direitos e garantias fundamentais) posto à disposição de toda pessoa física
ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou universalidade reconhecida por lei,
para a proteção de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não amparado por
HC ou HD, lesado ou ameaçado de lesão, por meio de ato de autoridade.

Qual o conceito de direito líquido e certo?

O DIREITO LÍQUIDO E CERTO é o direito que o impetrante alega ser seu, cuja existência
e delimitação são manifestas e seu exercício é possível no momento da impetração (MS
repressivo) ou em momento futuro (MS preventivo).

Esse direito deve ser comprovável de plano (prova pré-constituída) por meio de prova
documental apresentada junto à exordial ou a ser apresentada por ordem de exibição,
nos termos do art. 6, par. 1 da Lei 12.016/09.

Em que consiste o ato de autoridade?

O ATO DE AUTORIDADE é toda a manifestação, ação ou omissão do poder público ou


de seus delegados no desempenho de sua função, abarcando, inclusive, a pessoa física
que exerce o cargo público e com poderes decisórios que exerceu o abuso de poder.

A pessoa/ autoridade pública objeto dessa ação deve ser aquela que tem
definitivamente o poder decisório e não meramente executório.

152
Emerj CPIII-A Processo Civil

O art. 1, §2 da Lei de MS consagra que NÃO cabe MS dos ATOS DE GESTÃO COMERCIAL
praticados pelos administradores e empresas públicas, de sociedade de economia mista
e de concessionária de serviço público.

O que vai determinar o cabimento do MS nesses casos é o regime jurídico a que o ato
está submetido:

Súmula 333 do STJ: “Cabe mandado de segurança contra ato praticado em


licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa
publica.”

A norma abstrata aqui é o regime jurídico a que o ato inquinado está submetido. Assim
se for um regime público e o ato tiver sido praticado em abuso de poder será cabível
o MS.

É necessário o esgotamento da instância administrativa para impetrar o MS?

Existe até hoje discussão sobre o cabimento de MS em face de atos dos quais caibam
recursos administrativos com efeito suspensivo, independentemente de caução.

Parte da doutrina sustenta que não é necessário o esgotamento da instância


administrativa para usar o MS. Em geral não se exige o esgotamento da via
administrativa.

Contudo, o STF pacificou o entendimento de que se a via administrativa tiver uma


estrutura recursal própria, e o recurso administrativo tiver efeito suspensivo, exige-se
o exaurimento da via administrativa. Ex: recursos no CADE.

MS 32538: “Não se concederá mandado de segurança quando se tratar de ato do


qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de
caução. Com base nessa previsão legal – expressa no artigo 5º, inciso I, da Lei
12.016/2009 – o ministro Teori Zavascki negou seguimento (julgou inviável) ao
Mandado de Segurança (MS) 32538, impetrado pela Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) em favor de seus associados. O MS
questionava os efeitos de ato Tribunal de Contas da União (TCU) que determinava
aos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) o ressarcimento à União de valores
pagos aos magistrados trabalhistas relativos ao índice de 11,98% da Unidade Real
de Valor (URV) incidente sobre o auxílio-moradia, incorporado à Parcela Autônoma
de Equivalência (PAE). A partir de informações trazidas aos autos, o ministro Teori
afirmou que houve a apresentação de recurso administrativo, com efeito
suspensivo, contra o acórdão impugnado. “Os efeitos do ato coator [do TCU]
encontravam-se suspensos quando da impetração do mandado de segurança no
STF, em 4 de novembro de 2013, por conta da interposição de recurso por parte
do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CJST)”, destacou o ministro,
ressaltando que o ato questionado não era exequível à época da impetração do

153
Emerj CPIII-A Processo Civil

MS. Além de negar seguimento ao mandado de segurança, o relator revogou


liminar que suspendia os efeitos da decisão do TCU.”

Nesse sentido, a Súmula 429 deverá ser flexibilizada, pois é uma súmula da década de
60. Essa súmula somente será aplicada quando se verificar que o processo
administrativo não protege a pessoa, não tem contraditório pleno.

Sumula 429 do STF: “A existência de recurso administrativo com efeito


suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da
autoridade.” – [súmula é anterior a lei do MS que em seu art. 5, I prevê
justamente o oposto]

É cabível MS contra decisão judicial?

SIM!!! O MS somente será cabível contra decisão judicial que não comporte recurso
com efeito suspensivo.

Exemplo: decisão interlocutória que não caiba agravo de instrumento ou outros


recursos.

O MS contra ato judicial será julgado por órgão hierarquicamente superior ao órgão
que proferiu o ato objeto de impugnação. Contudo, em se tratando de Juizado
Especial, nos termos da Sumula 376 do STJ, o MS deverá ser julgado por Turma
Recursal.

Súmula 376 do STJ: Compete a turma recursal processar e julgar o


mandado de segurança contra ato de juizado especial.

Observações:

 Não cabe ação rescisória no Juizado Especial. Alguns autores entendem que
caberia ação anulatória. O entendimento majoritário é de que não cabe MS de
decisão em Juizado Especial.

 MS é cabível nos casos de sobrestamento de causas em decorrência do


acolhimento do IRDR, da Repercussão Geral e dos Recursos Repetitivos. É
possível fazendo um “distinguishing” (mostrando que sua causa é diferente das
demais que estão sobrestadas) pela via do MS.

CASO CONCRETO:

Questão 1)

Arlindo, militar inativo, impetrou mandado de segurança tendo em vista que teve
reduzido o seu auxílio invalidez. Fundamentou seu pedido no princípio da
irredutibilidade de vencimentos e por isso ocorreu a violação de direito líquido e
154
Emerj CPIII-A Processo Civil

certo. A segurança foi concedida, porém, a União recorreu da decisão. Antes de ser
julgado o recurso Arlindo falece, deixando herdeiros. Os herdeiros pretendem a
habilitação na demanda. Pergunta-se: é possível os herdeiros sucederem Arlindo no
mandado de segurança? Resposta fundamentada.

Resposta:

Não é possível que os heredeiros sucedam Arlindo no MS. Os herdeiros terão que entrar
com uma ação própria.

155
Emerj CPIII-A Processo Civil

Aula 16 - Prof. Stephania Cortes


07/08/18

EMENTA:  Mandado de Segurança Coletivo.


 Mandado de Injunção.

Abordaremos inicialmente os aspectos gerais do MS. Na sequência analisaremos os


aspectos e detalhes do Mandado de Segurança Coletivo.

 INTRODUÇÃO AO MANDADO DE SEGURANÇA:

O MS Inidvidual e o MS Coletivo são remédios constitucionais previstos no art. 5, LXIX


e LXX da CF. Constituem garantias essenciais fundamentais, garantias processuais de
todo e qualquer cidadão jurisdicionado. Os remédios constitucionais são
procedimentos especiais previstos em lei extravagante.

O MS é remédio constitucional apto a tratar de direito líquido e certo do jurisdicionado


que não esteja amparado por HC e HD.

O MS Coletivo encontra-se regulamentado no art. 21 da Lei 12.016/09.

Quem pode impetrar MS?

O MS pode ser impetrado para garantir um direito subjetivo individual, abrangendo,


também, direitos difusos, direitos coletivos e direitos transindividuais homogêneos.

Qualquer pessoa física ou pessoa jurídica que sofrer violação ou justo receio de
violação por parte de autoridade pública, nos termos do art. 1 da Lei 12.016 poderá
impetrar o MS.

Qual a classificação do MS?

O MS pode ser de dois tipos:

(i) MS REPRESSIVO: quando o ato já foi praticado e quer-se suspender o ato


praticado; e

(ii) MS PREVENTIVO: com caráter inibitório, na iminência da prática de um ato


ilegal pela autoridade coatora, pode-se impetrar um MS preventivo (contra
ato futuro).

Quais os requisitos específicos para impetração do MS?

Entre os requisitos que se aplicam tanto a MS individual quanto ao MS coletivo


destacam-se:
156
Emerj CPIII-A Processo Civil

(i) PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA: a ausência desse requisito gera indeferimento da


petição inicial. É a prova que existe antes da instauração da demanda. A
petição inicial já deve vir com a prova documental (direito líquido e certo).

(ii) ATO DE AUTORIDADE PÚBLICA: o ato que gerou a lesão deve ter sido
realizado por uma autoridade pública.

 Atentar para o conceito “alargado” de autoridade pública previsto no


art. 1, par. 1 do CPC (“equiparação à autoridade pública”); e

 A Súmula 510 do STF permite que seja impetrado MS até mesmo no caso
de autoridade em exercício de competência delegada.

(iii) ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER: o ato da autoridade pública deve ser


ilegal ou com abuso de poder.

 PECULIARIDADES DO MS COLETIVO:

Quais interesses podem ser tutelados em MS Coletivo?

Atenção pois deve-se ampliar a intepretação do art. 21 da Lei 12.016. Isso porque no
caso do MS, o art. 21 estabelece que o MS Coletivo deve ser ajuizado para proteger
somente dois direitos, quais sejam: (i) os DIREITOS COLETIVOS e (ii) os DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. Ocorre que esse dispositivo deve ter sua intepretação
ampliada para incluir também os DIREITOS DIFUSOS, nos termos do art. 81 caput e
parágrafo do CDC por meio de aplicação do MICROSSISTEMA PROCESSUAL COLETIVO.

Fazer remissão do parágrafo único do art. 21 da Lei 12.016 para o art. 81 do CDC e
para o art. 21 da Lei de Ação Civil Pública, que permite a aplicação do microssistema.

Quem tem legitimidade para impetrar um MS Coletivo?

No processo individual a legitimidade é em regra ordinária. Mas essa não é a regra nos
processos coletivos, uma vez que opera-se a substituição processual e a legitimação
extraordinária.

O MS tem por objetivo proteger os direitos transindividuais. Aqui opera-se o fenômeno


da SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL, nos termos do art. 18 CPC.

A substituição processual é o fenômeno pela qual opera-se a LEGITIMAÇÃO


EXTRAORDINÁRIA - alguém está, em nome próprio, defendendo interesse alheio.

Art. 18 do CPC: Ninguem poderá pleitear direito próprio em nome alheio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
157
Emerj CPIII-A Processo Civil

Parágrafo Único: Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir


como assistente litisconsorcial.

São LEGITIMADOS ATIVOS para impetrar MS Coletivo:

(i) Partido Político;


(ii) Organização Sindical;
(iii) Entidade de Classe;
(iv) Associação legalmente constituída há mais de 1 ano;
(v) MP; e
(vi) Defensoria Pública.

Destaca-se que é necessário demonstrar a PERTINÊNCIA TEMÁTICA SUBJETIVA entre o


objeto do mandado de segurança coletivo e os objetivos institucionais do (i) sindicato;
(ii) entidade de classe ou (iii) associação.

O MP e Defensoria são LEGITIMADOS CONGLOBANTES pois sua legitimação advém de


previsão constitucional.

Art. 21 da Lei 12.016: O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por
partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e
em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e
certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos
seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para
tanto, autorização especial.
Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os
decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade
ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

MSC – 0004342-66.2017.4.02.000 (TRF2 2017.00.00.004342-7): “Para beneficiar-


se da ação coletiva, é imprescindível a filiação até ao menos o trânsito em julgado
da ação de conhecimento, que se deu em 20/06/2015. 6. Ocorre que, na hipótese
vertente, verifica-se que os instituídos da pensão ostentavam a condição de praça,
na graduação de cabo, não podendo portanto ser filiado a AME-RJ tendo em vista
que a associação tem por objeto apenas a defesa de interesses dos Oficiais
Militares.

Quem são os legitimados passivos no MS Coletivo?

158
Emerj CPIII-A Processo Civil

Os LEGITIMADOS PASSIVOS do MS Coletivo podem ser: (i) a autoridade coatora e (ii) o


órgão público (PJ) ao qual a autoridade está vinculada.

A PJ vinculada poderá ingressar no polo passivo, é uma opção, uma faculdade – não é
litisconsórcio necessário, mas sim caso de LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO.

Como a competência é definida em sede de MS Coletivo?

A doutrina consagra a COMPETÊNCIA FUNCIONAL, ou seja, a competência é definida


em razão da função e hierarquia da autoridade coatora (SEDE FUNCIONAL DO LOCAL
EM QUE EXERCE SUAS ATRIBUIÇÕES). Essa competência é ABSOLUTA, cujo vício não
poderá ser convalidado.

O STF, contudo, no RE 627.709, entendeu possível manter a competência territorial


em prol do jurisdicionado, em prol da facilitação do acesso à justiça pelo
jurisdicionado.

RE 627.709:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA. CAUSAS AJUIZADAS CONTRA A UNIÃO.
ART. 109, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. CRITÉRIO DE FIXAÇÃO DO FORO
COMPETENTE. APLICABILIDADE ÀS AUTARQUIAS FEDERAIS, INCLUSIVE AO
CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA - CADE. RECURSO CONHECIDO
E IMPROVIDO. I - A faculdade atribuída ao autor quanto à escolha do foro
competente entre os indicados no art. 109, § 2º, da Constituição Federal para
julgar as ações propostas contra a União tem por escopo facilitar o acesso ao Poder
Judiciário àqueles que se encontram afastados das sedes das autarquias. II – Em
situação semelhante à da União, as autarquias federais possuem representação
em todo o território nacional. III - As autarquias federais gozam, de maneira geral,
dos mesmos privilégios e vantagens processuais concedidos ao ente político a que
pertencem. IV - A pretendida fixação do foro competente com base no art. 100,
IV, a, do CPC nas ações propostas contra as autarquias federais resultaria na
concessão de vantagem processual não estabelecida para a União, ente maior, que
possui foro privilegiado limitado pelo referido dispositivo constitucional. V - A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem decidido pela incidência do
disposto no art. 109, § 2º, da Constituição Federal às autarquias federais.
Precedentes. VI - Recurso extraordinário conhecido e improvido.”

O art. 7 da Lei 12.016 traz, por sua vez, todo o procedimento que se segue após a
distribuição da petição inicial.

Art. 7 da Lei 12.016: Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe
a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que,
no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;

159
Emerj CPIII-A Processo Civil

II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa


jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para
que, querendo, ingresse no feito;
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver
fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da
medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do
impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o
ressarcimento à pessoa jurídica.
§ 1 - Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar
caberá agravo de instrumento, observado o disposto na Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil .
§ 2 - Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a
compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores
públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza. [CAI MUITO EM CONCURSO]
§ 3 - Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada,
persistirão até a prolação da sentença.
§ 4 - Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para
julgamento.
§ 5 - As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas neste
artigo se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts. 273 e 461
da Lei no 5.869, de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo Civil .

MUITO IMPORTANTE!!!! 😊😊😊


Qual o âmbito de abrangência territorial de sentenças coletivas no MS Coletivo?

Uma matéria que levanta discussão acadêmica diz respeito a abrangência territorial
das sentenças coletivas em MS Coletivo. Note que a Lei do MS não traz dispositivo sobre
esse tema, então, a resposta deverá partir de uma interpretação do art. 16 da Lei de
ACP (aplicação do principio do microssistema coletivo)

Vejamos abaixo explicação brilhante do “DIZER O DIREITO”:

O art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85) estabelece o seguinte:

Art. 16 da Lei ACP: “A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado
poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
(Redação dada pela Lei nº 9.494/97)

Esse artigo foi alterado pela Lei nº 9.494/97, com o objetivo de RESTRINGIR A EFICÁCIA
SUBJETIVA DA COISA JULGADA, ou seja, ele determinou que a coisa julgada na ACP
deveria produzir efeitos apenas dentro dos limites territoriais do juízo que prolatou a
sentença.
160
Emerj CPIII-A Processo Civil

Em outras palavras, o que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação
civil pública não produz efeitos no Brasil todo. Ela irá produzir efeitos apenas na
comarca (se for Justiça Estadual) ou na seção ou subseção judiciária (se for Justiça
Federal) do juiz prolator.

A doutrina critica bastante a existência do art. 16 e afirma que ele não deve ser
aplicado por ser inconstitucional, impertinente e ineficaz.

Resumo das principais críticas ao dispositivo:

 Gera prejuízo à economia processual e pode ocasionar decisões contraditórias


entre julgados proferidos em Municípios ou Estados diferentes;
 Viola o princípio da igualdade por tratar de forma diversa os brasileiros (para
uns irá "valer" a decisão, para outros não);
 Os direitos coletivos “lato sensu” são indivisíveis, de forma que não há sentido
que a decisão que os define seja separada por território;
 A redação do dispositivo mistura “competência” com “eficácia da decisão”, que
são conceitos diferentes. O legislador confundiu, ainda, “coisa julgada” e
“eficácia da sentença”;
 O art. 93 do CDC, que se aplica também à Lei de ACP, traz regra diversa, já
que prevê que, em caso de danos nacional ou regional, a competência para a
ação será do foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, o que indica que
essa decisão valeria, no mínimo, para todo o Estado/DF.

Para o STJ, o art. 16 da Lei de ACP é válido? A decisão do juiz na ação civil pública
fica restrita apenas à comarca ou à seção (ou subseção) judiciária do juiz prolator?

NÃO!!! A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve
ficar limitada ao território da competência do órgão jurisdicional que prolatou a
decisão. STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
24/10/2016. [VAI CAIR NO CONCURSO!!!]

Interessante também transcrever trecho do voto do Min. Luis Felipe Salomão, no REsp
1.243.887/PR (STJ. Corte Especial, julgado em 19/10/2011):

“A bem da verdade, o art. 16 da LACP baralha conceitos heterogêneos - como coisa


julgada e competência territorial - e induz a interpretação, para os mais
apressados, no sentido de que os "efeitos" ou a "eficácia" da sentença podem ser
limitados territorialmente, quando se sabe, a mais não poder, que coisa julgada -
a despeito da atecnia do art. 467 do CPC - não é "efeito" ou "eficácia" da sentença,
mas qualidade que a ela se agrega de modo a torná-la "imutável e indiscutível". É
certo também que a competência territorial limita o exercício da jurisdição e não
os efeitos ou a eficácia da sentença, os quais, como é de conhecimento comum,
correlacionam-se com os "limites da lide e das questões decididas" (art. 468, CPC)

161
Emerj CPIII-A Processo Civil

e com as que o poderiam ter sido (art. 474, CPC) - tantum judicatum, quantum
disputatum vel disputari debebat. A apontada limitação territorial dos efeitos da
sentença não ocorre nem no processo singular, e também, como mais razão, não
pode ocorrer no processo coletivo, sob pena de desnaturação desse salutar
mecanismo de solução plural das lides. A prosperar tese contrária, um contrato
declarado nulo pela justiça estadual de São Paulo, por exemplo, poderia ser
considerado válido no Paraná; a sentença que determina a reintegração de posse
de um imóvel que se estende a território de mais de uma unidade federativa (art.
107, CPC) não teria eficácia em relação a parte dele; ou uma sentença de divórcio
proferida em Brasília poderia não valer para o judiciário mineiro, de modo que ali
as partes pudessem ser consideradas ainda casadas, soluções, todas elas,
teratológicas. A questão principal, portanto, é de alcance objetivo ("o que" se
decidiu) e subjetivo (em relação "a quem" se decidiu), mas não de competência
territorial.”

Como fica a coisa julgada nas ações coletivas?

A sentença coletiva tem o regime jurídico diferente do processo individual. A coisa


julgada no processo coletivo é diferente. A regra no processo individual é a de que a
CJ é interpartes (art. 502 do CPC).

De acordo com o art. 22 da Lei 12.016, no mandado de seguraça coletivo, a sentença


fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo
impetrante.

Os efeitos da coisa julgada nas ações coletivas está contemplado nos art. 103 do CDC.

Art. 103 do CDC: “Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença
fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova,
na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo
improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior,
quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do
art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar
todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo
único do art. 81.
§ 1 - Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão
interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo,
categoria ou classe.
§ 2 - Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do
pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como
litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.
162
Emerj CPIII-A Processo Civil

§ 3 - Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o


art. 13 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações
de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas
individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o
pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à
liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4 - Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal
condenatória.

Qual o prazo para impetração do MS?

Prazo para impetração do MS está previsto no art. 23 da Lei 12016:

Art. 23 da Lei 12016: “O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-


á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do
ato impugnado.”

O art. 219 do CPC 2015 prevê que "na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei
ou pelo juiz, computar-se-ão somente os DIAS ÚTEIS".

Este art. 219 do CPc/15 é aplicado para o prazo do mandado de segurança? A partir
de agora o prazo de 120 dias deverá ser contado em dias úteis?

 REGRA: NÃO. O art. 219 aplica-se apenas aos prazos processuais, ou seja,
àqueles prazos para a prática de atos dentro do processo. O prazo de
impetração do MS, em regra, não é processual, de forma que ele DEVE SER
CONTADO DE FORMA CORRIDA (e não em dias úteis).

 EXCEÇÃO: no caso de MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL, o prazo


máximo para impetração será contado em DIAS ÚTEIS. Isso porque neste caso
ele terá natureza processual já que corre dentro do processo. Assim, por
exemplo, se é prolatada uma decisão judicial irrecorrível, a parte prejudicada
terá 120 dias úteis para impetrar mandado de segurança.

A posição acima é defendida por CUNHA, Leonardo Carneiro da Cunha em seu livro a
Fazenda Pública em Juízo.

A doutrina majoritária entende que NATUREZA JURÍDICA do prazo de 120 dias é


DECADENCIAL. Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.

Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe


o prazo para o mandado de segurança.

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que, se o marco final do prazo do MS
terminar em sábado, domingo ou feriado, deverá haver prorrogação para o primeiro

163
Emerj CPIII-A Processo Civil

dia útil seguinte. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção. MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 08/09/2010.

Em regra, o prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o prejudicado toma


ciência do ato coator praticado.

(...) “Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a
partir da expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas
sim do momento em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a
jurisprudência do STJ de que o prazo decadencial no mandado de segurança tem
início na data em que o interessado teve ciência inequívoca do ato atacado. (...)
REsp 1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2008.

Vale ressaltar, no entanto, que, se a pessoa estiver sendo prejudicada por uma omissão
do Poder Público poderá impetrar o MS a qualquer tempo enquanto perdurar a omissão.
Persistindo a omissão, o prazo renova-se dia a dia.

 SÚMULAS MANDADO DE SEGURANÇA:

SÚMULAS REDAÇÃO
Súmula 632 STF  É constitucional lei que fixa prazo de decadência para
impetração de MS.

Súmula 631 STF  Extingue-se o processo de MS se o impetrante não promove, no


prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.

Súmula 630 STF  A entidade de classe tem legitimidade para o MS ainda quando
a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da
respectiva categoria.

Súmula 629 STF  A impetração do MS coletivo por entidade de classe em favor


dos associados independe de atorização destes.

Súmula 626 STF  A suspensão da liminar em MS, salvo determinação em contrário


da decisão que a deferir, vigorará até o transito em julgado da
decisão definitiva de concessão de segurança, ou, havendo
recurso, até a sua manutenção pelo STF, desde que o objeto da
liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da
impetração.

Súmula 625 STF  Controversia sobre a matéria de direito não impede a concessão
de MS.

Súmula 512 STF  Não cabe condenação de honorários de advogado na ação de MS.

Súmula 510 STF  Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência


delegada, contra ela cabe o MS ou medida judicial.

164
Emerj CPIII-A Processo Civil

Súmula 474 STF  Não há direito liquido e certo, amparado pelo MS, quando se
escuda lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada
constitucional pelo STF

Súmula 430 STF  Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe


o prazo para o MS.

Súmula 429 STF  A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo


não impede o uso do MS contra omissão da autoridade.

Súmula 392 STF  O prazo para recorrer de acordão concessivo de segurança


conta-se da publicação oficial de suas conclusões, e não da
anterior ciência à autoridade para cumprimento da decisão.

Súmula 272 STF  Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão
denegatória de MS.

Súmula 271 STF  Concessão de MS não produz efeitos patrimoniais, em relação


ao período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria.

Súmula 269 STF  O MS não é substituivo de ação de cobrança.

Súmula 268 STF  Não cabe MS contra decisão judicial com trânsito em julgado.

Súmula 267 STF  Não cabe MS contra ato judicial passível de recurso ou
correição.

Súmula 266 STF  Não cabe MS contra lei em tese.

Súmula 248 STF  É competente, originariamente, o STF, para MS contra ato do


Tribunal de Contas da União.

Súmula 101 STF  O MS não substitui a ação popular.

Súmula 376 STJ  Compete a Turma Recursal processar e julgar MS contra ato de
juizado especial.

Súmula 333 STJ  Cabe MS contra ato praticado em licitação promovida por
sociedade de economia mista ou empresa pública.

Súmula 105 STJ  Na ação de MS não se admite condenação em honorários


advocatícios.

Passemos agora ao estudo do Mandado de Injunção.

 MANDADO DE INJUNÇÃO:

O MI também remédio constitucional colocado à disposição do jurisdicionado em caso


de ausência de uma norma regulamentadora referida na CF. É possível que a parte
prejudicada pela ausência daquela norma, possa impetrar o Mandado de Injunção para
exigir que seu direito fundamental seja concretizado.

165
Emerj CPIII-A Processo Civil

Sempre que um direito (em sentido amplo) não puder ser exercido pelo titular em
razão de ainda não ter sido editada norma regulamentadora, este interessado poderá
ingressar com uma ação chamada de "mandado de injunção" pedindo que o Poder
Judiciário reconheça que o Poder Público está em mora e, então, supra a falta dessa
lei ou ato normativo e possibilite o pleno exercício do direito.

Qual a base legal do Mandado de Injunção?

O MI encontra respaldo na CF, no art. 5, LXXI da CF.

Art. 5, LXXI da CF: “Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de


norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;”

Ademais, o MI encontra respaldo infraconstitucional na Lei 13.300/2016.

Destaca-se que no art. 12 da Lei 13.300 há expressa previsão ao MANDADO DE


INJUNÇÃO COLETIVO.

Qual a natureza das normas constitucionais?

Para compreender o MI faz-se necessário inicialmente o estudo da natureza das normas


constitucionais.

As normas constitucionais têm natureza de:

(i) NORMA PLENA: a norma tem aplicabilidade sozinha, por si só, não precisa
de complementação;

(ii) NORMA CONTIDA: norma em que a aplicabilidade está restrita, contida em


outra norma constitucional; e

(iii) NORMA LIMITADA: norma que depende de uma norma infraconstitcuinal


para implementação, ou seja, para sua aplicabilidade.

O MI é utilizado quando se está diante de uma NORMA CONSTITUCIONAL LIMITADA. Ex:


direito de greve.

Exemplos de Normas Limitadas em que caberia MI:

 Art. 5, LXXI da CF;


 Art. 37, VII da CF – direito de greve (MI 708 do STF);
 Art. 40, par. 4, III da CF – aposentadoria especial;
 Art. 144, par. 9 c/c art. 39, par. 4

166
Emerj CPIII-A Processo Civil

 Art. 145, III, pr. 1 da CF; e


 Art. 174 da CF

O Poder Judiciario quando julga o MI declara a omissão legislativa, podendo, ainda,


determinar outras medidas para resguardar o direito subjetivo da parte.

Quais as espécies de mandado de injunção existentes?

Existem duas espécies de mandado de injunção:

 MI INDIVIDUAL: proposto por qualquer pessoa física ou jurídica, em nome


próprio, defendendo interesse próprio, isto é, pedindo que o Poder Judiciário
torna viável o exercício de um direito, liberdade ou prerrogativa seu e que está
impossibilitado pela falta de norma regulamentadora.

 MI COLETIVO: proposto por legitimados restritos previstos na Lei, em nome


próprio, mas defendendo interesses alheios. Os direitos, as liberdades e as
prerrogativas protegidos por mandado de injunção coletivo são os
pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas
ou determinada por grupo, classe ou categoria (art. 12, parágrafo único, da
LMI). O mandado de injunção coletivo não foi previsto expressamente pelo
texto da CF/88, mas mesmo assim sempre foi admitido pelo STF e atualmente
encontra-se disciplinado pela Lei nº 13.300/2016.

Quais as espécies de ausência de norma regulamentadora que podem ensejar o MI?

Essa falta da norma regulamentadora pode ser:

 TOTAL: quando não houver norma alguma tratando sobre a matéria;

 PARCIAL: quando existir norma regulamentando, mas esta regulamentação for


insuficiente e, em virtude disso, não tornar viável o exercício pleno do direito,
liberdade ou prerrogativa prevista na Constituição.

Qual a natureza da norma regulamentadora que pode ensejar o MI?

O MI só cabe quando houver falta de norma regulamentadora, ou seja, de um ATO


NORMATIVO DE CARÁTER GERAL E ABSTRATO.

O ato normativo que está faltando pode ser de duas espécies:

 ADMINISTRATIVO: quando o responsável pela sua edição é um órgão, entidade


ou autoridade administrativo. Ex: um decreto, uma resolução administrativa
etc.

167
Emerj CPIII-A Processo Civil

Se o que estiver faltando for um ato administrativo material, não será caso de
mandado de injunção.

 LEGISLATIVO: quando o direito constitucional está inviabilizado pela falta de


uma lei.

Qual a diferença entre Mandado de Injunção e Ação Direta de Inconstitucionalidade


por Omissão?

Em linhas gerais, a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão diz respeito a um


processo de controle abstrato de constitucionalidade.

O MI, por sua vez, protege um direito concreto que diz respeito a lesão do direito
subjetivo da parte.

MANDADO DE INJUNÇÃO ADI POR OMISSÃO


Trata-se de processo no qual é discutido A finalidade é declarar que há uma
um direito subjetivo. A finalidade é omissão, já que não existe determinada
viabilizar o exercício de um direito. Há, medida necessária para tornar efetiva
portanto, controle concreto de uma norma constitucional.
constitucionalidade. Estamos diante, portanto, de processo
objetivo, em que há controle abstrato de
constitucionalidade.
Cabível quando faltar norma Cabível quando faltar norma
regulamentadora de direitos e liberdades regulamentadora relacionada com
constitucionais e das prerrogativas qualquer norma constitucional de
inerentes à nacionalidade, à soberania e eficácia limitada.
à cidadania.
Legitimados no MI individual: pessoas Os legitimados da ADI por omissão estão
naturais ou jurídicas que se afirmam descritos no art. 103 da CF/88.
titulares dos direitos, das liberdades ou
das prerrogativas.
MI coletivo: estão previstos no art. 12 da
Lei nº 13.300/2016.
A competência para julgar a ação Se relacionada com norma da CF/88:
dependerá da autoridade que figura no STF.
polo passivo e que possui atribuição para Se relacionada com norma da CE: TJ.
editar a norma.
Reconhecido o estado de mora Declarada a inconstitucionalidade por
legislativa, será deferida a injunção omissão, o Judiciário dará ciência ao
para: Poder competente para que este adote
I - determinar prazo razoável para que o as providências necessárias.
impetrado promova a edição da norma
regulamentadora;
168
Emerj CPIII-A Processo Civil

II - estabelecer as condições em que se Se for órgão administrativo, este terá um


dará o exercício dos direitos, das prazo de 30 dias para adotar a medida
liberdades ou das prerrogativas necessária.
reclamados ou, se for o caso, as Se for o Poder Legislativo, não há prazo.
condições em que poderá o interessado
promover ação própria visando a exercê-
los, caso não seja suprida a mora
legislativa no prazo determinado.

Quem são os legitimados ativos para impetrar o Mandado de Injunção Individual?

No rol dos LEGITIMADOS ATIVOS para impetrar o mandado de injunção individual


destacam-se qualquer indivíduo ou pessoa jurídica que tiver seu direito obstado pela
falta da norma regulamentadora.

O art. 3º da Lei do MI, ao reconhecer legitimidade ativa às pessoas "que se afirmam


titulares", adota a "TEORIA DA ASSERÇÃO".

Para essa teoria, a legitimidade ad causam deve ser analisada à luz das afirmações
feitas pelo autor na petição inicial, devendo o julgador considerar a relação jurídica
deduzida em juízo in status assertionis, isto é, à vista do que se afirmou.

Em outras palavras, se o autor afirma que é titular daquele direito, para fins de
legitimidade deve-se tomar essa afirmação como sendo verdadeira.

Ao final do processo, pode-se até reconhecer que ele não é realmente titular, mas aí
já será uma decisão de mérito. Para fins de reconhecimento de legitimidade e
processamento da ação, basta que o autor se afirme titular.

Quem são os legitimados ativos para impetrar o Mandado de Injunção Coletivo?

Os legitimados ativos do mandado de injunção coletivo estão previstos no art. 12 da


LMI e variam de acordo com a tutela requerida. Vejamos:

LEGITIMADO SITUAÇÃO
quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a defesa da ordem jurídica, do
MINISTÉRIO PÚBLICO
regime democrático ou dos interesses sociais ou
individuais indisponíveis.
PARTIDO POLÍTICO para assegurar o exercício de direitos, liberdades
(com representação no e prerrogativas de seus integrantes ou
Congresso Nacional) relacionados com a finalidade partidária.
ORGANIZAÇÃO SINDICAL, para assegurar o exercício de direitos, liberdades
ENTIDADE DE CLASSE OU e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte
ASSOCIAÇÃO de seus membros ou associados, na forma de seus
169
Emerj CPIII-A Processo Civil

(legalmente constituída e em estatutos e desde que pertinentes a suas


funcionamento há pelo menos 1 finalidades, dispensada, para tanto, autorização
ano) especial.
quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a promoção dos direitos humanos e
DEFENSORIA PÚBLICA a defesa dos direitos individuais e coletivos dos
necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º
da CF/88.

Quem são os legitimados passivos para impetrar o Mandado de Injunção?

São considerados LEGITIMADOS PASSIVOS para impetrar MI:

(i) o Poder;
(ii) o órgão; ou
(iii) a autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora, nos
termos do art. 3 da Lei 13.300/16.

Exemplos:

1. Se já houver projeto de lei tramitando, mas este ainda não ter sido votado,
temos aí uma mora do Poder Legislativo em deliberar o assunto. Trata-se da
chamada inertia deliberandi. Logo, o mandado de injunção será contra o
Congresso Nacional.

2. Algumas outras vezes, a norma faltante é um ato normativo infralegal (exs: um


decreto, uma resolução, uma instrução normativa). Em tais hipóteses, o
mandado de injunção deverá ser impetrado contra o órgão ou autoridade que
tenha a atribuição para editar o mencionado ato. Ex: mandado de injunção
contra o CONTRAN pela não-edição de uma determinada resolução de trânsito.

Há certa discussão na doutrina sobre quem pode figurar no polo passivo do MI. Vejamos:

 STF: entende que somente o órgão omisso deve figurar no polo passivo.
 Bermudes e Barbosa Moreira: órgão omisso + pessoa jurídica a quem incumbe a
prestação do direito em litisconsórcio.
 Barroso: somente a pessoa jurídica que iria implementar o direito subjetivo,
sob pena de se ferir a Separação dos Poderes.

Qual a competência em termos de mandado de injunção?

A competência para julgar a ação de MI dependerá da autoridade que figura no polo


passivo e que possui atribuição para editar a norma.

170
Emerj CPIII-A Processo Civil

A CF delimita a atuação de Tribunais no julgamento do mandado de injunção. Vejamos:

 Art. 102, I, “q” – STF;


 Art. 102, II, “a” – STJ;
 Art. 105, I, “h” – STJ; e
 Art. 121, par. 4, V – TRE

Competência Quando a atribuição para elaborar a norma for


do(a)(s):
Presidente da República
Congresso Nacional
Câmara dos Deputados
STF Senado Federal
(art. 102, I, "q") Mesas da Câmara ou do Senado
Tribunal de Contas da União
Tribunais Superiores
Supremo Tribunal Federal.
órgão, entidade ou autoridade federal, excetuados os
STJ casos de competência do STF e dos órgãos da Justiça
(art. 105, I, "h") Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da
Justiça Federal.
Juízes e Tribunais Justiça órgão, entidade ou autoridade federal nos assuntos de
Militar, Justiça Eleitoral, sua competência.
Justiça do Trabalho
órgão, entidade ou autoridade federal, se não for
assunto das demais "Justiças" e desde que não seja
autoridade sujeita à competência do STJ.
Juízes Federais e TRFs Ex: compete à Justiça Federal julgar MI em que se alega
omissão do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) na
edição de norma de trânsito que seria de sua atribuição
(STJ MI 193/DF).
órgão, entidade ou autoridade estadual, na forma como
Juízes estaduais e TJs
disciplinada pelas Constituições estaduais.

Qual o recurso cabível no caso de indeferimento de MI?

Em relação aos recursos cabíveis a CF estabelece que:

 Compete ao STF julgar, em RECURSO ORDINÁRIO, o mandado de injunção


decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a
decisão (art. 102, II, "a", da CF/88).

 Compete ao TSE julgar o recurso interposto pelo autor contra a decisão do TRE
que denegar mandado de injunção (art. 121, § 4º, V).

171
Emerj CPIII-A Processo Civil

Ademais, a Lei 13.300/17 no parágrafo único do art. 6 estabelece a possibilidade de


interposição de AGRAVO, com prazo de 5 dias.

É cabível LIMINAR em sede de mandado de injunção?

Não!!! A Lei nº 13300 não prevê a possibilidade de concessão de medida liminar. Antes
da regulamentação, o STF já possuía precedentes afirmando não ser cabível liminar.

Qual a eficácia objetiva da decisão em sede de mandado de injunção?

Um dos pontos mais polêmicos a respeito do mandado de injunção diz respeito aos
efeitos da decisão que julga esta ação. Sobre o tema, existem diversas correntes.

A Lei 13.300 determina, como regra, a aplicação da CORRENTE CONCRETISTA


INDIVIDUAL INTERMEDIÁRIA.

 1 ETAPA: Se o juiz ou Tribunal reconhecer o estado de mora legislativa, será


deferida a injunção (= ordem, imposição) para que o impetrado edite a norma
regulamentadora dentro de um prazo razoável estipulado pelo julgador.

 2 ETAPA: Se esgotar o prazo fixado e o impetrado não suprir a mora legislativa,


o juiz ou Tribunal deverá:

(i) estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das


liberdades ou das prerrogativas reclamados; ou
(ii) se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação
própria visando a exercê-los.

O juiz ou Tribunal não precisará adotar a primeira providência (fixar prazo) e já poderá
passar direto para a segunda etapa, estabelecendo as condições, caso fique
comprovado que já houve outro(s) mandado(s) de injunção contra o impetrado e que
ele deixou de suprir a omissão no prazo que foi assinalado nas ações anteriores.

Em outras palavras, se já foram concedidos outros mandados de injunção tratando


sobre o mesmo tema e o impetrado não editou a norma no prazo fixado, não há razão
lógica para estipular novo prazo, devendo o juiz ou Tribunal, desde logo, estabelecer
as condições para o exercício do direito ou para que o interessado possa promover a
ação própria (art. 8 da Lei 13300)

Vejamos o texto do art. 8, que é o ponto mais importante da Lei nº 13.300/2016:

Art. 8 da Lei 13300: “Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a


injunção para:
I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma
regulamentadora;

172
Emerj CPIII-A Processo Civil

II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades


ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o
interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a
mora legislativa no prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do
caput quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de
injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma.

Como fica a eficácia subjetiva da decisão em sede de mandado de injunção?

(i) MANDADO DE INJUNÇÃO INDIVIDUAL: em regra, a decisão terá eficácia


subjetiva limitada às partes (art. 9).

(ii) MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO: em regra, a sentença fará coisa julgada


limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe
ou da categoria substituídos pelo impetrante (art. 13).

Excepcionalmente, será possível conferir eficácia ultra partes ou erga


omnes. A Lei nº 13.300/2016 afirma que poderá ser conferida eficácia ultra
partes ou erga omnes à decisão, quando isso for inerente ou indispensável
ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da
impetração (art. 9, § 1). Essa possibilidade se aplica tanto para o MI
individual como para o o MI coletivo (art. 13).

Em que consiste a ação de revisão em sede de mandado de injunção?

A Lei do MI, em seu art. 10, prevê a possibilidade de ser proposta AÇÃO DE REVISÃO da
decisão concessiva do mandado de injunção.

Art. 10 da Lei 13300: “Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão poderá
ser revista, a pedido de qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes
modificações das circunstâncias de fato ou de direito.
Parágrafo único. A ação de revisão observará, no que couber, o procedimento
estabelecido nesta Lei.”

Cuidado, pois não se trata de ação rescisória!!! O objetivo da ação de revisão não é
desconstituir a coisa julgada que foi formada, mas sim o de rediscutir a aplicabilidade
da decisão oferecida pelo Poder Judiciário diante da modificação das circunstâncias
de fato e de direito.

A revisão da decisão está condicionada à comprovação de que houve uma MUDANÇA


RELEVANTE NAS CIRCUNSTÂNCIAS DE FATO OU DE DIREITO que motivaram a solução
dada pelo Poder Judiciário.

173
Emerj CPIII-A Processo Civil

Caso a ação de revisão seja julgada procedente, os efeitos jurídicos já produzidos pela
decisão no MI permanecem hígidos.

Será competente para a ação de revisão o juízo que proferiu a decisão no mandado de
injunção.

O MI que foi julgado improcedente por falta de provas poderá ser proposto
novamente?

O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a renovação da


impetração, desde que fundada em outros elementos probatórios (art. 9, § 3).

Por fim, destaca-se que o rito e procedimento do mandado de injunção é semelhante


ao MS estudado no início da aula.

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

Determinada entidade de classe impetrou mandado de segurança coletivo em defesa


de interesses de seus membros, o qual foi denegado pelo órgão competente,
havendo tal decisão transitado em julgado. É cabível a posterior propositura de
ação, de rito comum, individualmente, por qualquer dos membros da entidade, para
pedir o reconhecimento do direito que alega e compreendido no pedido formulado
no anterior mandado segurança coletivo?

Resposta:
A principal questão é identificar se o MS foi denegado por: (i) suficiência de prova ou
(ii) insuficiência de prova.

Se o MS COLETIVO FOI DENEGADO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS, ou seja, por ausência


de prova pré-constituída, haverá indeferimento da inicial com a extinção do MS
coletivo sem resolução de mérito (art. 10 c/c art. 19 da Lei MS Coletivo). Logo, cada
parte poderá entrar com ação individual.

Art 10 da Lei 12.016: A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada,
quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos
legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração.

Art. 19 da Lei 12.016: A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança,


sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie
os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.

Se o MS COLETIVO FOI DENEGADO POR SUFICIÊNCIA DE PROVAS, ai aplica-se o art. 22


do MS, ou seja, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou
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Emerj CPIII-A Processo Civil

categoria substituídos pelo impetrante e eles não poderão entrar com novas ações pois
houve julgamento de mérito. Fundamento Jurídico: art. 22 da LMS + Art. 21 da LACP +
Art. 90 do CDC + Art. 103 do CDC.

Nesse sentido, vejamos abaixo a posição dos doutrinadores Aluisio Mendes e Freddie
Didier sobre o tema:
Aluisio Mendes: “Em sede de MS Coletivo, a falta de comprovação dos fatos
alegados, deve conduzir à sentença meramente terminativa, sem
julgamento de mérito. Por outro lado, havendo julgamento com suficiência
de provas, haverá coisa julgada pro et contra, tanto nos casos de
procedência como de improcedência do pedido, nos termos do art. 22 da
Lei.” [ou seja, não poderão entrar com nova ação]

Freddie Didier: Entende que, mesmo que haja julgamento do mérito (com
suficiência de provas), se a decisão do MS Coletivo for contrária ou
prejudicial a parte, ela poderá sim entrar com nova ação (individual), sob
o fundamento de que não se pode restringir individualmente um direito
fundamental.

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Emerj CPIII-A Processo Civil
Aula 17 - Prof. Rodolfo Hartmann
02/08/18

EMENTA:  Arbitragem

A ARBITRAGEM é um instituto que busca encerrar os litígios, sem recorrer ao Poder


Judiciário, encontrando-se positivada na Lei 9307/96.

O instituto da arbitragem compreende os seguintes “elementos”:

 Convenção de Arbitragem: (gênero)


 Cláusula Compromissória: (espécie)
 Compromisso Arbitral: (espécie)

Vejamos abaixo cada um desses elementos que compõem o instituto da Arbitragem:

(i) CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM:

A Convenção de Arbitragem é um “GÊNERO” de negócio jurídico do qual são espécies


a cláusula compromissória e o compromisso arbitral, de acordo com o artigo 3º da lei
de arbitragem brasileira:

Art. 3 da Lei 9307: "As partes interessadas podem submeter a solução de


seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim
entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.”

Com o novo CPC, a convenção de arbitragem só levará à extinção do processo se o réu,


em contestação, arguir a preliminar (art. 337, X, e §§ 5º e 6º).

Art. 337 do CPC: “Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


X – convenção de arbitragem.”

Art. 337, §6 do CPC: “A ausência de alegação de existência de convenção


de arbitragem, na forma prevista neste capítulo, implica aceitação da
jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.”

(ii) CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA:

A cláusula compromissária é instituída previamente entre as partes estabelecendo


como competente o juízo arbitral. É clausula inserida em um contrato dizendo que
havendo discordância as partes ajustam que não irão ao Judiciario, que o litígio será
resolvido por arbitragem.

A definição legal de cláusula compromissória está prevista no art. 4º, caput, da Lei n
9307/96.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

Art. 4 da Lei 9307:A cláusula compromissória é a convenção através da qual


as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os
litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

A cláusula compromissória, portanto, é a deliberação das partes, ao celebrarem um


contrato cujo objeto seja direito patrimonial disponível, no sentido de que eventual
dúvida ou conflito de interesses que venha a surgir durante a sua execução seja
submetida ao juízo arbitral.

Tal cláusula nasce junto com o contrato principal, pode estar nele inserida ou
estipulada em documento apartado que a ele se refira, e, em todo caso, deve ser
escrita, como dispõe o artigo 4º, § 1º, da Lei nº 9.307/1996. Deve-se frisar, ainda, que
a cláusula é uma medida nitidamente preventiva.

A nulidade do contrato decretada em juízo implica nulidade da cláusula


compromissória nele inserida?

Não!!! Prevê o art. 8 da Lei de Arbitragem, que a cláusula compromissória é AUTÔNOMA


em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade do contrato
não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.

As partes podem, na cláusula compromissória, reportarem-se ou escolherem as regras


de algum órgão arbitral institucional ou de entidade especializada, caso em que a
arbitragem será instituída e processada de acordo com tais regras. Igualmente, as
partes podem estabelecer, na cláusula ou em outro documento, a forma
convencionada para instituição da arbitragem, desde que tal instituição não contrarie
normas de ordem pública e o interesse social.

Não havendo o prévio acordo sobre a forma da arbitragem, a parte interessada


manifestará à outra o seu interesse em dar início à arbitragem, convocando-a, nos
termos do art. 6 da Lei de Arbitragem para firmar o COMPROMISSO ARBITRAL.

Se a parte convocada não comparece ou, comparecendo, recusa-se a firmar o


compromisso, a outra parte poderá propor a demanda prevista no art. 7 da Lei de
Arbitragem, perante o Judiciário.

O art. 7 prevê que, existindo a cláusula compromissória e havendo resistência quanto


à instituição da arbitragem, poderá o interessado requerer a citação da outra parte
para comparecer em juízo para que seja lavrado o compromisso arbitral, designando o
juiz audiência para esse fim. A sentença que julgar procedente o pedido valerá como
compromisso arbitral.

(iii) COMPROMISSO ARBITRAL:

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Emerj CPIII-A Processo Civil

O compromisso arbitral tem por objetivo definir as regras da arbitragem, tais como: o
tempo da arbitragem, o numero de árbitros, o procedimento, a Câmara, entre outras
regras.

Quais as espécies de compromisso arbitral existentes?

Conforme dispõe o art. 9 da Lei de Arbitragem, o compromisso pode ser de duas


espécies, a saber:

(i) Judicial; e
(ii) Extrajudicial.

O COMPROMISSO ARBITRAL JUDICIAL é chamado também de ENDOPROCESSUAL. Refere-


se a um conflito já ajuizado perante o Poder Judiciário. Nesse caso, o compromisso
arbitral é firmado, por termo nos autos do processo judicial, perante o juízo ou tribunal
onde corre a demanda. Após a assinatura do compromisso arbitral pelas partes,
encerra-se as funções do juiz, pois quem decidirá será o árbitro.

Já o COMPROMISSO ARBITRAL EXTRAJUDICIAL pode ser chamado de EXTRAPROCESSUAL.


Caso não exista um processo judicial ajuizado, as partes podem firmar um compromisso
arbitral extrajudicial. Nesse caso, celebra-se o compromisso arbitral por escritura
pública ou particular, assinado pelas partes e por duas testemunhas, determinando o
árbitro e/ou câmara arbitral responsável pela solução do conflito e as demais regras
da arbitragem. Uma vez aperfeiçoado o compromisso extrajudicial, a ação não poderá
mais ser ajuizada, salvo nos casos expressos em lei

Qual a diferença entre a cláusula compromissória e o compromisso arbitral?

Enquanto o compromisso arbitral é contrato definitivo, perfeito e acabado, a cláusula


compromissória é apenas contrato preliminar, em que as partes prometem efetuar
contrato definitivo de compromisso, caso apareçam dúvidas a serem dirimidas.

No mundo empresarial é comum que no mesmo contrato, além da cláusula


compromissória, as partes já pactuem todas as condições do compromisso arbitral.
Nesse caso, o contrato firmado pelas partes conterá tanto a cláusula compromissória
quanto o compromisso arbitral.

É cabível recurso da sentença arbitral?

A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da


sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui
TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL.

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Emerj CPIII-A Processo Civil

É facultado a parte, nos termos do art. 30 da Lei de Arbitragem, no prazo de 5 dias a


contar do recebimento da notificação ou da ciência pessoal da sentença arbitral,
mediante comunicação à outra parte, solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que
corrija qualquer erro material da sentença e esclareça alguma obscuridade, dúvida ou
contradição da sentença proferida, ou se promuncie sobre o ponto omitido a respeito
do qual devia se manifestar a decisão. O parágrafo único do art. 30, diz que o árbitro
do tribunal arbitral decidirá, no prazo de 10 dias, aditando a sentença arbitral e
notificando as partes.

Esse recurso se assemelha aos EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, mas esse nome não deve
ser aplicado a realidade da sentença arbitral, uma vez que a Lei de Arbitragem não
menciona dessa forma.

O vencedor da arbitragem promoverá execução e o devedor pode apresentar defesa,


impugnação à execução.

O art. 33 da Lei de Arbitragem estabelece que é possível ajuizar uma AÇÃO


ANULATÓRIA DO PROCEDIMENTO ARBITRAL. Essa ação tem um prazo de 90 dias a contar
do recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou final, ou da decisão
do pedido de esclarecimentos.

Se perder o prazo de 90 dias para açaõ anulatória, nos termos do art. 33, §3 da Lei de
Arbitragem ainda será possível alegar a matéria em sede de execução judicial, por
meio de IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.

É o que a doutrina chama de TEORIA DA DUPLA PORTA, uma vez que é possível alegar
o vício da sentença arbitral em dois momentos diferentes: (i) na ação anulatória, em
1 grau de jurisdição; ou (ii) por meio de impugnação ao cumprimento de sentença, em
sede de execução.

Qual a natureza jurídica da arbitragem?

A matéria é objeto de divergência na doutrina. Vejamos as posições sobre o tema:

CORRENTE 1) Corrente que defende a TEORIA PUBLICISTA ou JURISDICIONAL segundo a


qual a arbitragem tem VERDADEIRO CARÁTER JURISDICIONAL, logo a sentença arbitral
faz coisa julgada. Isso porque a lei outorgou poderes ao árbitro para dirimir os conflitos
de interesse das partes. Nessa linha, os árbitros são considerados verdadeiros juízes,
de fato e de direito, de modo que a arbitragem é uma “jurisdição de caráter privado”,
tendo a sentença arbitral eficácia e força de título executivo judicial.

CORRENTE 2) Corrente adepta da TEORIA PRIVATISTA ou CONTRATUAL que defende


que a arbitragem tem CARÁTER DE EQUIVALENTE JURISDICIONAL, ou seja, tem caráter
contratual, não fazendo coisa julgada. A arbitragem é tão somente um negócio
jurídico, uma vez que ao árbitro seria conferida a função de solucionar o conflito, no
entanto, sem o poder de executar e impor a sentença às partes, que é monopólio do
179
Emerj CPIII-A Processo Civil

Estado. Ou seja, a decisão do árbitro seria, em essência, a extensão do acordo


celebrado entre as partes.

Em que consiste a carta arbitral e qual a sua finalidade?

Se o devedor não cumprir a sentença arbitral, a sentença deverá ser executada. Ela
será executada perante o juiz togado. Isso se dará por meio da CARTA ARBITRAL. Não
havendo cumprimento da sentença arbitral, o credor deverá procurar o Judiciário.

Se o devedor alegar vício no procedimento arbitral ou vício na sentença arbitral, ele


deverá apresentar sua impugnação, nos termos do art. 33, par. 3 da Lei de Arbitragem.

O juiz togado não entrará no exame de mérito da sentença arbitral, ele poderá analisar
vício e nulidade, mas nunca adentrará no mérito da sentença. Se a sentença arbitral
for nula, então, o juiz togado poderá anular o procedimento arbitral.

Imaginemos que o contrato tem apenas a clausula compromissória. Se a parte se


recusar a fazer o compromisso arbitral, a outra parte poderá pedir no Judiciário que
se conclua o compromisso arbitral. A sentença do juiz valerá como compromisso
arbitral. Se tiver o recurso de apelação dessa sentença, a apelação é só no efeito
devolutivo, nos termos do art. 1012, § 1, IV do CPC. Enquanto a apelação está sendo
julgado, a arbitragem já pode ser processada.

A arbitragem acabou dando mais trabalho ao Judiciário. Isso porque se a pessoa se


recusa a fazer o compromisso arbitral, tem que se fazer 1 processo para instituir a
arbitragem. Resolveu o problema, tem a possibilidade de instituir carta arbitral. Depois
a parte que perdeu poderá ajuizar ação anulatória e por fim, se for executar, tem que
ser no Judiciário. Em suma, o procedimento arbitral que foi pensado inicialmente para
reduzir a carga processual do Judiciário, acabou sobrecarregando o Judiciário.

CASOS CONCRETOS)

Questão 1)

Vaz Empreendimentos S.A. e Contente Enterprise S.A. celebraram contrato de


empreitada para a construção de pequena central hidrelétrica no Estado do Rio de
Janeiro. O contrato previa que a apuração fosse efetuada em procedimento
arbitral.Em 23/06/2014, a barragem construída por Contente Enterprise S.A. teria
se rompido, causando significativos prejuízos. Vaz Empreendimentos S.A acionou o
juízo arbitral escolhido por ambas as partes em cláusula compromissória e requereu
a apuração dos fatos ocorridos. O juiz arbitral deferiu o pedido de oitiva do
Presidente da Contente Enterprise S.A como testemunha. Tendo em vista o não
comparecimento do Presidente da empresa Contente Enterprise S.A, pergunta-se.
O que deve o Juiz arbitral fazer para conduzir coercitivamente a testemunha à
próxima sessão? Resposta fundamentada.

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Resposta:

O juiz arbitral não tem poder constritivo, logo ele deverá utilizar CARTA ARBITRAL, ou
seja, requerer a cooperação do juiz estatal, conforme dispõe o art. 237, IV do CPC e
art. 22, par. 2 da Lei 9307.

A carta arbitral deve preencher os requisitos do art. 260, par. 3 do CPC.

A carta arbitral é instrumento de cooperação entre a jurisdição arbitral e a jurisdição


estatal para conferir efetividade às decisões proferidas pelo juízo arbitral.

No caso em tela, o juiz arbitral deverá solicitar a cooperação do juiz togado, por meio
da carta arbitral, para que a testemunha possa ser conduzida coercitivamente.

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