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ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
O ponto principal de qualquer comunicação é o objetivo de quem vai se comunicar, no caso, o emissor. O
emissor quer ser entendido exatamente do jeito que ele quis passar a informação. Se não houver um pronto
entendimento, ou seja, se o entendimento for demorado, a comunicação será prejudicada, chamamos isso se RUÍDO
NA COMUNICAÇÃO.
O ruído na comunicação ocorre dentro da própria língua e pode ser por falta de traquejo, por cansaço,
pronúncia errada etc.
Mas também pode ocorrer um ruído na comunicação que seja externo, como uma interrupção por causa de
uma porta batendo.
O emissor é o ponto de partida, sendo aquele que pretende redigir o texto. Ele tem que ser extremamente
cuidadoso e detentor de uma série de conhecimentos básicos, principalmente da língua portuguesa.
O emissor precisa saber muito bem a quem se destina a sua mensagem, quem é seu destinatário. Visto que
diferentes destinatários precisam de diferentes tipos de comunicação.
O código pode ser verbal, quando acontece por meio de palavras, no nosso caso, em língua portuguesa. Esse
código também pode ser por gráfico, números, emojis etc., ou seja, em linguagem não verbal.
O veículo que transporta a informação do emissor ao destinatário é o canal (exemplo: se estou lendo, o canal
é o papel). Lembrando que o canal sempre se dá “por meio de” e nunca “através de”.
De acordo com a intenção que o emissor tem ao transmitir a mensagem, a função da linguagem muda.
Na linguagem jurídica a maioria dos textos tem como função convencer ou conquistar o destinatário para que
ele aceite a ideia ou opinião transmitida. Quanto mais fundamentos dermos, maior veracidade ganha o texto e melhor
se convence o destinatário.
A sentença tem três partes: o relatório que apenas traz os fatos e o contexto, depois temos a argumentação
que é onde o juiz irá expor os fundamentos que usará para basear sua decisão e o dispositivo que é a sentença
propriamente dita.
Outra característica é a objetividade, ou seja, ir direto ao assunto, uma economia processual. As peças
processuais não são consideradas mais importantes por terem maior número de laudas e sim por serem mais
objetivas. A objetividade é uma forma de respeitar o destinatário da mensagem, visto que o tempo é algo muito
importante.
Lembrando de usar sempre os vocábulos jurídicos corretos. Por exemplo, ninguém entra com uma ação, a
pessoa ajuíza a ação; a ação não corre, ela tramita.
PARALELISMO SINTÁTICO E SEMÂNTICO
OBS. Toda vez que você em um texto puder fazer uma enumeração por meio de algarismo romano, o sinal adequado
é o travessão, que é maior que o hífen.
Em uma construção textual de qualidade só se pode reunir elementos que sejam de mesma natureza. Os
elementos têm que ter a mesma natureza sintática e mesma natureza textual.
Exemplo 1: Nas minhas férias visitei vários lugares: Bangu, Nova Iguaçu, Paris e Holanda.
Note que no exemplo acima há quebra do paralelismo semântico, isso porque misturam-se cidades, com
municípios e com países. O paralelismo sintático é tema de grande incidência de erro por parte dos candidatos.
Essa construção é muito errada. O “e” no meio da frase consagra um elemento aditivo, e tem que colocar dois
elementos de mesma natureza. No exemplo há uma estrutura nominal e uma estrutura oracional, mostrando quebra
de paralelismo.
Queria duas coisas: sua presença e sua ajuda. [Aqui há paralelismo sintático].
Queria duas coisas: que você estivesse presente e (que) nos ajudasse.
Exemplo 3: Gosto de banana, laranja e maçã. [eu gosto das 3 coisas juntas, de 1 coisa só]
ATENÇÃO!!!!
O curso vai de 8 a 5.
De segunda a Sábado.
Da Segunda ao Sábado.
Exemplos:
▪ Alugar, Compra e Vender Imóveis; [predicação idêntica – verbos de mesma natureza, todos eles têm
a mesma predicação]
▪ Identificar, refletir e aprender com problemas. [verbos de natureza diferente, ou seja, predicação
distinta para cada verbo]
▪ Identificar problemas, refletir sobre eles e com eles aprender.
▪ Identificar problemas, refletir sobre eles e resolvê-los.
Só existe uma hipótese em que o complemento de um verbo transitivo indireto for uma oração.
▪ Necessito de sua ajuda. [objeto indireto]
▪ Necessito (de) que você me ajude [objeto indireto oracional]. Nessa hipótese, sendo objeto indireto
oracional, a preposição DE é opcional.
▪ Venho de Friburgo. [o verbo vir é verbo intransitivo, o lugar é um adjunto adverbial de origem]
[Friburgo = de onde venho]
▪ Falo de Friburgo. [o verbo fala é intransitivo, de friburgo é um adjunto adverbial de assunto]
▪ Quando ele voltou à terra natal, seu pai havia falecido há cinco anos.
▪ Quando ele voltou à terra natal, seu pai tinha falecido havia cinco anos.
PARALELISMO SINTÁTICO
Tem a ver com a análise sintática. Os termos da oração (sujeito, predicativo, adjunto adnominal, objeto) e as
orações (coordenadas, subordinadas, reduzidas).
Exemplo: São funções do Banco Central: a emissão de moedas; a fiscalização do sistema financeiro; o controle
da moeda. Observe que toda a base da enumeração – emissão, fiscalização e controle – são substantivos, ou seja,
núcleos da função sintática. Perceba que todas as funções estão com seus artigos, pois quando eu uso o artigo “a” na
frente de emissão, sou obrigada a colocar o artigo em todos.
Em nome da objetividade e da economia linguística, os artigos poderiam vir a ser retirados. Exemplo: São
funções do Banco Central: emitir moedas; fiscalizar o sistema financeiro; controlar a moeda.
a) Não se trata de defender a intervenção do Estado na economia ou que o Estado volte a controlar as taxas de câmbio.
→ As conjunções coordenativas “ou”, “e”, “mais”, só podem ligar coisas iguais.
▪ No caso, o que viria a seguir deveria ser um objeto direto também, mas ao invés disso o emissor errou
e fez uma oração subordinada substantiva direta “que o Estado volte...”. Para ser um paralelismo,
deveriam ser duas orações subordinadas substantivas diretas ou dois objetos diretos.
▪ Poderia ser “ou a volta do controle estatal nas taxas de câmbio” ou trocar a primeira parte para “não
se trata de defender que o Estado intervenha na economia ou volte a controlar as taxas de câmbio”.
No caso de optar pela segunda mudança, em nome da economia linguística, devemos retirar o
segundo “que”.
▪ “de filmes de terror” é um objeto indireto e o restante da frase é uma oração objetiva indireta.
▪ Consertando: “O acusado gosta muito de filmes de terror e de notícias de violência” ou “O acusado
gosta muito de filmes de terror, de notícias de violência” ou “O acusado gosta muito de assistir a filmes
de terror e de ouvir notícias de violência”.
c) As pesquisas revelam grande número de indecisos e que pode haver segundo turno na eleição presidencial.
▪ Consertando: “As pesquisas revelam grande número de indecisos e possibilidade de segundo tuno na
eleição presidencial” ou “As pesquisas revelam que terá grande número de indecisos e pode haver
segundo turno na eleição presidencial”.
g) É comum vermos, nas esquinas brasileiras, crianças pedindo esmolas ou que limpam vidros de carros.
▪ Consertando: “É comum vermos, nas esquinas brasileiras, crianças pedindo esmolas e limpando vidros
de carros” ou “É comum vermos, nas esquinas brasileiras, crianças que pedem esmolas ou limpas
vidros de carros.”
h) Fiquei com medo de seu tom de voz ao se dirigir a mim e quando me ameaçou em público.
▪ Consertando: “Fiquei com medo de o seu tom de voz ao se dirigir a mim e ao me ameaçar em público”
i) Recomendou aos Ministérios economizar energia e que elaborassem planos de redução de despesas.
k) Obedecer às leis de trânsito é necessário, importante e traz benefícios à segurança de todo motorista.
l) Não devemos adotar medidas precipitadas e que comprometam o andamento de todo o programa.
o) O atleta brasileiro vencedor da maratona foi seguido pelo atleta argentino e do atleta uruguaio.
▪ Consertando: “O atleta brasileiro vencedor da maratona foi seguido pelo atleta argentino e pelo
uruguaio”
p) Pedida a prisão de candidato e empresário. Ambos têm duas semanas para recorrer.
▪ Consertando: “Pedida a prisão de candidato e de empresário. Ambos têm duas semanas para recorrer”
ou “Pedida a prisão do candidato e do empresário. Ambos têm duas semanas para recorrer”
Quanto mais se esforçava para obter bons resultados, mais era reconhecido por todos.
Aja sempre desta forma, seja em situações formais, seja em ocasiões informais.
Cuidado no trânsito é bom para ambos os lados, tanto para o motorista quanto para o pedestre.
Não gostei de sua atitude: primeiro porque não cabia à situação; segundo porque a todos desagradou.
Se por um lado a situação parece mudar, por outro, não vejo perspectiva por parte de ninguém.
O interventor tem obrigação não só de apurar a fraude mas também de punir os culpados.
Exemplos:
Li e não gostei de seu relatório. → o certo seria “Li e não gostei dele”
Entramos e saímos do Fórum imediatamente. → O certo é: Entramos no fórum e dele saímos imediatamente. “do
fórum” é um adjunto adverbial de lugar, só que quem entra, entra EM e quem sai, sai DE algum lugar.
Ocorreram manifestações a favor e contra a decisão do STF. → O certo é: ocorreram manifestações a favor da
decisão do STF e contra ela.
Quero e necessito muito de sua ajuda. → O certo é: Quero sua ajuda e dela necessito muito
Ouvi falar, mas não assisti ao debate. → O certo é: Ouvi falar do debate, mas a ele não assisti.
Muitas pessoas reconhecem e despertam para o valor dos alimentos. → O certo é: muitas pessoas reconhecem o
valor dos alimentos e despertam para isso.
Ainda não era hora de fazer menção, apossar-se ou empregar tais argumentos. → o certo é: ainda não era hora de
fazer menção a tais argumentos, apossar-se deles ou empregá-los.
Certifico e dou fé que a testemunha ZZZZ não foi encontrada. → O certo é: Certifico que a testemunha zzz não foi
encontrada. Disso dou fé.
Importante era a adesão ao evento e que o horário fosse cumprido: queríamos obter e dar continuidade aos
bons resultados. → O certo é: Importante era a adesão ao evento e o cumprimento do horário: queríamos obter os
bons resultados e a eles dar continuidade.
Indispensável o investimento naquelas ações e que o mercado as valorizasse, a fim de alcançarmos e nos
orgulharmos de nossa independência financeira. → O certo é: indispensável o investimento naquelas ações e a
valorização pelo mercado, a fim de alcançarmos a nossa independência financeira e disso nos orgulharmos.
Gosto de uva, da laranja, do mamão. → o certo é: gosto de uva, laranja, mamão ou gosto da uva, da laranja,
do mamão.
A festa acontecerá com ou sem você → nesse caso a frase não chega a estar errada, mas a intenção dela é
focada na preposição e quando se diz “a festa acontecerá com você ou sem você” o foco se desloca para o “você”.
Ambas as frases estão gramaticalmente corretas, o que muda é a intenção do emissor.
A torcida brigou antes e depois do jogo → a mesma explicação do exemplo acima. Tanto essa frase quando
esta: “A torcida brigou antes do jogo e depois do jogo”. Estão corretas gramaticalmente, o que se altera é a intenção
do emissor.
Trabalhamos de 8 a 10h.
Quando estudamos muito para o vestibular, espera-se fazer boas provas. (errado)
O soldado conseguiu completar toda a prova, mas passa mal ao cruzar a linha de chegada. (errado)
▪ O soldado conseguiu completar toda a prova, mas passou mal ao cruzar a linha de chegada.
▪ O soldado consegue completar toda a prova, mas passa mal ao cruzar a linha de chegada.
• O presidente visitou Paris, Londres e Roma. Nessa última capital, esteve com o Papa.
O presidente brasileiro discute com os Estados Unidos as novas propostas sobre a defesa do clima. (errado)
• O presidente brasileiro discute com o presidente americano as novas propostas sobre a defesa do
clima.
Se o ponto final pertence à citação, fica dentro das aspas. Exemplo: “Tudo vale a pena se a alma não é
pequena.”
A contrario sensu (transcrição é parte do período), o sinal de pontuação que encerra o texto fica excluído das
aspas, isto é, depois delas. Exemplo: Certo autor definiu o tato como “a parte não dita do que se pensou”.
Aspas simples (‘ ’): destaque de palavra, expressão ou frase dentro de uma transcrição. Exemplo: Osvaldo
Ferreira de Melo (1998) aponta para a “necessidade de os indivíduos contarem com a certeza de que seus direitos
‘garantidos’ pela ordem jurídica sejam efetivos”. Exemplo: “O ideal é o falante ser ‘poliglota’ na sua língua.”
Pontos de interrogação ou exclamação integrantes da citação ficam dentro das aspas. Exemplo: Uma
pergunta deve orientar os redatores: “O que eu quero com meu texto?” (O ponto da transcrição vale para o período.)
Aspas na transcrição de parágrafo(s). Exemplo: “Que a sentença seja compreensível a quem apresentou a
demanda e se enderece às partes em litígio. A decisão deve ter caráter esclarecedor e didático. Destinatário de
nosso trabalho é o cidadão jurisdicionado, não as academias jurídicas, as publicações especializadas ou as instâncias
superiores. Nada deve ser mais claro e acessível do que uma decisão judicial bem fundamentada.”
Exemplo: “A linguagem usada nos tribunais brasileiros, embora seja a norma culta da língua portuguesa, não
é de fácil entendimento para a maioria dos cidadãos.
O jargão dos operadores do Direito é chamado ‘juridiquês’, isto é, linguagem técnica incompreensível
para quem utiliza, na maior parte do tempo, o coloquial.
[...] a Associação dos Magistrados Brasileiros lançou uma campanha para acabar com os textos
rebuscados. Um comitê da AMB foi designado para promover a reeducação linguística dos juízes, advogados e até
de membros do Ministério Público.”
OBS. Aspas também são usadas para destacar palavras estrangeiras (“impeachment”) ou seu significado
(“impedimento”), neologismos (“Inobstante”), gírias (“corno”), nomes de livros ou legendas (“Os Lusíadas” foram
escritos no século XVI. O lema de nossa bandeira é “Ordem e Progresso”.); para marcar ironia (“inteligentíssimo”),
palavra escrita propositadamente de maneira incorreta (“poblema”), termo não muito preciso para o contexto
(“através” do tio, do D.O.); para indicar o discurso direto (“Parabéns!”); na referência às alíneas (“a”, “b”). No caso de
estrangeirismos, a tendência é substituir as aspas pelo itálico.
II- TRAVESSÃO:
- Empregos de hífen:
- Empregos de travessão:
III- PARÊNTESE(S):
Inserem no texto uma explicação, um exemplo, uma circunstância incidental, uma reflexão, um comentário
ou uma observação. Exemplo: Naquele mês (dezembro), não chovera sequer um dia.
(*) O asterisco entre parênteses chama a atenção do leitor para alguma observação ou nota explicativa.
O advérbio latino sic, significando “assim”, “desse jeito”, é usado entre parênteses ou colchetes (forma
preferível), depois de palavra(s) com grafia incorreta ou inadequada para o contexto. É usado internacionalmente para
indicar ao leitor que aquilo que acabou de ler, por mais estranho ou errado que pareça, é assim mesmo que deve ficar.
Deve ser escrito em negrito ou itálico, entre colchetes, pois os colchetes representam a pontuação recomendada para
qualquer intromissão no texto que se lê: [sic] ou [sic]:
Exemplo: “A vítima tinha seis filhos, sendo que [sic] três eram menores.”
Incluem, ainda, no texto, letra, número de caráter enumerativo: (a), (b), (c); 1), 2), 3) etc.
O ponto e vírgula separa com maior independência os elementos. O ponto e vírgula é empregado no caso de
paralelismo estrutural.
a) má distribuição de renda;
b) falta de planejamento urbano;
c) saneamento básico ineficiente; e
d) ..........
O problema é quando se coloca o ponto e vírgula. para separar os elementos dentro do mesmo período.
Se em uma sequência de elementos, um deles estiver vírgula interna, todos os demais elementos serão
separados com ponto e vírgula.
A vírgula antes do E não é errada. Existem casos obrigatórios de vírgula antes do E. Existem 4 hipóteses de
vírgula antes do E:
4. Polissíndeto: síndeto é sinonimo de conjunção, logo é o emprego de várias conjunções. Como recurso
argumentativo é altamente eficaz.
Exemplo: Ele raptou, agrediu, violentou e matou a vítima. [sequência cronológica]
Ele raptou, e agrediu, e violentou, e matou.
Exemplo: Ela foi ao shopping e comprou: blusa, casaco, meia, cinto e bolsa.
Ela foi ao shopping e comprou: blusa, e casaco, e meia, e cinto e bolsa. RECURSO ESTILÍSTICO DE
PERSUASÃO
ATENÇÃO:
Cuidado!!! MAS e PORÉM não são idênticos. Onde se coloca o MAS não se coloca o PORÉM.
Assim, temos que o MAS só existe em posição inicial. E o PORÉM jamais pode ser usado em posição inicial,
somente aparece em posição medial ou final.
A comunicação é essencial em todos as relações sociais. Inclusive, a depender do tipo de comunicação, a relação com
a sociedade muda. Comunicar-se é abrir-se, revelar-se.
A teoria da comunicação exige um estudo aprofundado sobre os elementos que participam da comunicação. Esse
estudo é denominado de linguística e engloba quaisquer formas de comunicação.
A formação da linguagem se dá pelo aperfeiçoamento de determinadas estratégias (símbolos, gestos, formas de falar),
não estando restrita à formação de palavras. Os indígenas, por exemplo, usam a fumaça e o toque de tambor como
forma de comunicação.
Nesse sentido, o discurso pode e deve ser enxergado como a forma de arrumação/organização desses símbolos que
compõem a linguagem. Ele nada mais é do que uma forma de e apresentar ao outro mediante determinada forma de
comunicação com o intuito de transmitir determinada mensagem. Sob esse viés, a língua portuguesa é mero
instrumento através do qual o discurso pode se construir.
Por conseguinte, “discurso” pode ser definido como a forma de se comunicar com uma plateia, em que o emissor
assume uma postura. Ao se comunicar, o indivíduo investe-se de um personagem, apresentando-se de forma
verdadeira ou falaciosa, com o intuito de transmitir determinada mensagem.
Segundo a professora, nas Fake News (também chamadas de pós-verdades) temos pessoas que desejam algo e
manipulam a forma de comunicação mediante expressões ou discursos falaciosos. Aqui, por meio de uma determinada
escolha de palavras, busca-se induzir uma grande parte da sociedade a fazer o que se quer e levar pessoas a pensarem
como eu desejo que elas pensem.
Por sua vez, os influenciadores podem ser definidos como pessoas que, se apropriando de recursos linguístico,
conseguem influenciar pessoas. O ato de influenciar é o ato de persuadir. A técnica de influenciar utiliza-se de palavras
especialmente escolhidas para conduzir pessoas a acreditarem naquele influenciador. Essas palavras, muito bem
escolhidas, são denominadas de modalizadores, o que estudaremos adiante.
Verifica-se, assim, que o discurso é uma forma de assumir determinado papel e que a escolha de cada palavra
empregada é importante para que esse discurso agrade o público em geral.
Atenção! Não confundir linguagem com discurso. Quando eu estou falando de gramática como um código, estou no
patamar da linguagem; quando crio novas formas de comunicação, estamos diante do discurso (ex. emprego do artigo
neutro).
Nesse diapasão, quando eu começo a criar formas de falar para agradar a plateia, saímos do campo da linguagem e
ingressamos no campo do discurso, da argumentação. Nesses casos, a palavra não é importante, mas sim o discurso
que você quer transmitir através de seu uso. Tudo o que irá ser utilizado no discurso deverá ser muito bem escolhido
para que se possa influenciar alguém.
Ferdinand de Saussure, linguista e filósofo suíço, começou a observar a comunicação e a perceber seu poder de
dominação. Durante seus estudos, ele consagrou que a comunicação é composta de 6 (seis) elementos essenciais,
quais sejam:
O linguista Ferdinand percebeu que dentro da necessidade de se comunicar, haveria de ter esses elementos. Além
disso, foi o responsável por sinalizar que a linguagem poderia ter um cunho verdadeiro ou falso.
Além disso, o autor foi o pioneiro em diferenciar enunciado de enunciação, ao dispor que tudo o que sai da
comunicação deve ser denominado de enunciação, enquanto o enunciado deve ser o termo empregado para
descrever a reunião de palavras que possui um sentido: a mensagem que chega ao receptor.
Em outras palavras, enunciação é qualquer tipo de mensagem emitida pelo emissor ao receptor. Desse modo, ainda
que usemos símbolos ou gestos (semiótica), isso será denominado de enunciado, mas não poderá ser chamado de
enunciação, porquanto essa última pressupõe o emprego da linguagem verbal. Portanto, temos que:
• Enunciação é qualquer coisa que se transmita. Desse modo, inclui a linguagem verbal e a não verbal (semiótica
– ciência das linguagens sem palavras).
• Enunciado é o que a pessoa efetivamente diz (linguagem verbal). Por sua vez, a semiótica é uma ciência da
linguagem sem palavras (linguagem não-verbal).
➢ Aquele que enuncia. Exemplo: O médico falar algo para você sobre doenças ou uso de máscaras tem um peso
maior do que se uma pessoa do povo falasse. Isso porque essa pessoa carrega um elemento de autoridade
que acaba por aumentar seu nível de persuasão. Ainda, se a pessoa exerce sobre a outra papel de confiança,
esse enunciado terá outro peso no discurso.
➢ A quem se dirige: o enunciado, a depender da plateia, tem pesos distintos. Exemplo: Um professor dirigindo
mensagem a criancinhas tem um peso diferente do professor que dirige às palavras a adultos, já que menores
são mais manipuláveis. Exemplo²: adultos analfabetos são mais manipuláveis do que adultos com ensino
superior.
➢ O espaço e lugar em que o enunciado é emitido.
➢ Momento de ocorrência do enunciado. Exemplo: Discurso de Bolsonaro no contexto de 13 anos de PT teve
um peso maior em sua eleição.
Vemos, assim, que a forma de emprego das palavras pode claramente alterar seu sentido e mudar o discurso. Inclusive,
o uso de modalizadores, que estudaremos adiante, é o emprego de determinada palavra com o intuito de atrair o
receptor da mensagem, como se fosse uma isca ou perfume – que busca encantar o leitor e fazê-lo ater-se à
comunicação. Um exemplo nítido de modalizador são as anedotas: breve história, de final engraçado e às vezes
surpreendente, cujo objetivo é provocar risos ou gargalhadas em quem a ouve ou lê.
Exemplo:
- Dizem que todos temos um lado bonito.
- Então tu deves ser um círculo.
O estudo do emprego das palavras é de suma importância, sobretudo para profissões como a dos jornalistas, em que
há o imperativo de atrair o público à leitura daquilo que está sendo escrito. Segundo a professora, essa carreira usufrui-
se muito da vagueza das palavras, justamente com o intuito de permitir que o leitor se identifique com o discurso que
ele preferir.
Exemplo: Quando a professora pergunta a seus alunos “vocês vieram de carro hoje?”, há uma vagueza na
interpretação que ela quis dar a isso. Por esse motivo, o aluno A poderia responder “Por quê? Você está oferecendo
carona?”; o aluno B poderia dizer “Por quê? Você quer carona?” e; o aluno C poderia dizer “Por quê? Você está levando
algo que precisa de carro?”.
Por fim, cumpre salientar que a importância de compreender a linguística na magistratura reside no fato de que o juiz
deve sempre se preocupar com a marca linguística empregada. Em uma sentença, por exemplo, traz maior
imparcialidade o emprego de “julga-se” ao invés de “julgo”.
O termo enunciação se refere à atividade social e interacional por meio da qual a língua é colocada em funcionamento
por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se
escreve). O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos da linguagem, assim como tantas
outras noções, a de enunciação apresenta variações na forma como é definida, conforme a abordagem teórica em
que seja tomada.
Bakhtin (linguista russo), Benveniste (linguista francês) e Ducrot estão entre os autores mais citados relativamente a
essa noção. A despeito das variações no modo como essa concepção é tratada teoricamente, normalmente ela é
tomada em relação direta com a noção de enunciado, pois, "sem o dizer, ou seja, sem a enunciação, não há o dito,
isto é, não há o enunciado".
A compreensão do enunciado – que pode ser oral, escrito ou organizado por meio de múltiplas semioses (termo
utilizado para designar o processo de significação, produção de significados não-verbais) – pressupõe sempre a
situação de enunciação (o dito).
Segundo Benveniste, a enunciação possui três elementos: ego hic nunc - eu aqui agora (o quem provocador, o lugar e
o tempo).
Esses três elementos formam o sentido da enunciação. Sem ele nada acontece! Mas, o que faz a comunicação
acontecer é a compreensão do outro. Para isso, é preciso que os sujeitos comunguem dos mesmos elementos mínimos
de comunicação, como a mesma língua, o mesmo canal, o mesmo contexto. É da compreensão que vêm as orientações
para o sentido do enunciado. Aliados a isso estão os outros requisitos: valores sociais, circunstâncias, sexo, educação
etc.
(i) quem enuncia (seu papel social e conhecimentos partilhados com o enunciatário);
(ii) a quem se dirige (seu papel social e conhecimentos partilhados com o enunciador);
(iii) onde ocorre (lugar físico: sala de aula, cantina, p. ex.; espaço institucional: escola, tribunal, igreja, p. ex.);
(iv) quando ocorre, entre inúmeras outras condições.
Isso significa, ainda, que o enunciado, embora se revele numa materialidade linguística, pois dela depende, não é uma
realidade da língua; é uma realidade do produto da enunciação (o dito) = discurso (palavras sem sentido não realizam
comunicação).
Assim, palavras não trazem sentido à comunicação se não forem percebidas num contexto (situação). As anedotas são
exemplos clássicos disso, pois usam palavras com sentidos múltiplos forçando o interlocutor a buscar o sentido correto
para o contexto.
Veja uma outra situação cotidiana: Isso garante que uma oração como “Você veio de carro hoje?”, por exemplo, uma
vez materializada em um enunciado, possa ser compreendida de diferentes formas. Assim, quando a mãe de um aluno
pergunta à professora “Você veio de carro hoje?”, esse enunciado, para ser compreendido, dependerá, além de
conhecimentos linguísticos, dos diferentes fatores contextuais que integram a situação de enunciação. Tais fatores
determinarão que o enunciado seja interpretado, dentre outras opções de sentido que podem ser projetadas, (i) como
uma oferta de carona da mãe à professora, (ii) ou como um pedido de carona da mãe à professora, ou ainda, (iii) um
indício de que a mãe quer avaliar se a professora tem como transportar para casa um grande pacote. O sentido do
enunciado depende, portanto, do contexto da enunciação.
Esses e outros aspectos devem ser considerados no trabalho com o texto em sala de aula, de forma que os alunos
sejam levados a: (i) reconhecer diferentes formas de enunciados, conforme a natureza dos enunciadores nos textos
lidos (narrador, personagens, autor de livro didático, jornalista ou outros), (ii) identificar as marcas linguísticas que
sinalizam esses enunciadores nos textos, bem como os enunciatários ali construídos e (iii) recorrer a diferentes
elementos da situação de enunciação para produzir sentido.
(a linguagem o protótipo da semiótica e seu estudo iluminaria princípios aplicáveis a outros sistemas de signos. A
escola oposta defende a existência de um sistema metasigno, sendo a linguagem simplesmente um dos vários códigos
para significação comunicante, citando como exemplo os meios pelos quais as crianças aprendem sobre seu ambiente
mesmo antes de dominarem uma linguagem. Qualquer que seja o ponto de vista, uma preliminar definição da semiose
é qualquer ação ou influência para sentido comunicante pelo estabelecimento de relações entre signos que podem
ser interpretados por alguma audiência)
Técnicas do Discurso:
a) Discurso Dominante: aquele que fala interage com a sua plateia, ele escuta outras vozes. O emissor dominante
agrada a sua plateia. As mensagens do emissor agradam a plateia e o convencimento é automático. No
discurso dominante o emissor é eleito, é admirado. Não há imposição. Há polifonia (muitas vozes participam
do discurso).
b) Discurso Autorizado: é o receptor do discurso dominante. É aquele que elege o discurso dominante. Repete-
se e confirma-se o dominante.
c) Discurso Autoritário: é aquele em que não se aceita a polifonia, o emissor está em monólogo o tempo todo.
A argumentação utilizada pelo emissor é apodítica, não se permite que o outro coloque uma opinião ao
contrário. O emissor é imposto, não é eleito, ele não é amado, ele é temido.
d) Discurso Subservil: é aquele pronunciado pelas pessoas que não tem voz, que aceitam por imposição. É o
discurso do receptor humilhado que aceita o discurso autoritário. Ex: sou pobre, mas sou limpinho.
e) Discurso Amoroso: é espécie de discurso dominante, mas se tem o carinho, emprega emoção. É o discurso
que se dá entre familiares, por exemplo. Chama- se a pessoa na sua intimidade. O discurso amoroso emprega
emoção, carinho, busca amizade. Diante do discurso amoroso, tem-se o discurso autorizado.
f) Discurso Lúdico: esse discurso busca também a polifonia, por meio de brincadeira.
g) Discurso Sedutor: o discurso busca convencer para obter vantagens maléficas (ex: crime de estelionato). Usa-
se a persuação e a dialética para obter vantagens maléficas.
h) Discurso Científico ou Filosófico
- No campo da ciência há um monólogo, não há troca com ninguém, determina-se por meio de
experimentos a veracidade do pensamento, transforma-se a descoberta em monólogo, em que só há
uma verdade.
- No campo da filosofia, por sua vez, há um discurso provocador, convidase o outro a pensar, não há
monólogo.
4. Conceito de Diálogo:
Todas as vezes que estivermos diante de enunciador e enunciatário, necessariamente estaremos diante de um diálogo.
Diálogo é uma comunicação feita entre duas partes – comunicador e comunicatário. Pela teoria da comunicação,
qualquer tipo de mensagem ou de comunicação entre duas ou mais pessoas sempre será dialógica, porquanto sempre
teremos a figura de quem emite a mensagem e de quem a recebe. Por outro lado, quando se tem uma voz só falando
para ela mesma, dá-se um monólogo.
Dentro desse dialogismo, teremos o momento em que ocorre o diálogo. Se estiveram falando de terceiro que não
participa do diálogo, o denominaremos de “referente” (de quem se fala). Portanto, podemos ter as seguintes figuras:
Nossa língua se apropriou de alguns pronomes, ou seja, palavras que substituem o substantivo que indica quem é essa
pessoa ou coisa que está exercendo a comunicação. Exemplo: ele/ela, tu, -la ou -lo, etc.
Esclarecido isso, urge sinalizar que, para compreendermos o "dialogismo", é preciso verificarmos como se dá a
comunicação. Segundo Saussure (linguista e filósofo suíço), na sua Teoria da Comunicação, quando a comunicação
ocorre, alguns elementos sempre estão presentes: o enunciador (emissor), o enunciatário (receptor), o código (língua
dominada pelas partes), o canal (meio pelo qual se dá a comunicação), mensagem (informação que se pretende enviar)
e contexto (situação/ideologia). Os elementos da comunicação formulam um DIÁLOGO, no qual o emissor é
representado pelo "eu", quem fala, enviando uma mensagem para o "tu", quem escuta e processa a mensagem. Ao
responder (enunciação), o "tu" se transforma no "eu" que agora é quem fala e envia mensagens. Como podemos
observar, esse processo comunicativo é contínuo no jogo dos papéis. Fora da ação desse diálogo está o "ele", de quem
se fala, pois não há fala do "ele" no diálogo.
Assim, quando o receptor recebe uma mensagem do emissor, ele deverá decodificá-la, interpretá-la e, em seguida,
enviará seu feedback, sua resposta, tornando-se o enunciador.
Entretanto, o diálogo não é um fenômeno exclusivo de dois indivíduos; no campo da comunicação, várias formas de
diálogo são construídas todo o tempo, face aos vários sujeitos, situações e sentidos da vida.
Para Mikhail Bakhtin o dialogismo é a condição da enunciação (do que se diz), bem como o meio pelo qual se reproduz
a linguagem com um determinado sentido. Todos os textos são dialógicos porque são resultantes do "embate", do
confronto de muitas "vozes" sociais. O dialogismo desdobra-se em dois aspectos:
❖ O da interação verbal entre enunciador e enunciatário do texto (nenhuma palavra é nossa, mas traz em si a
perspectiva de outra(s) voz(es));
❖ O da intertextualidade (incorporação de um texto em outros que se tangem, que dialogam entre si, que são
ou podem ser ou afins, que possuem elementos comuns), textos e contextos no interior de um enunciado.
Assim, em suma, o dialogismo pressupõe a troca de informação entre pessoas de uma sociedade para conduzir o
comportamento de toda a sociedade.
Modalidades de Dialogismo:
➢ MONOFONIA: uma voz só fala. Está no monólogo. Desse modo, no dialogismo é possível que o emissor assuma
papel de receptor, sem que haja feedback.
➢ POLIFONIA: quando mais de uma voz fala. Está na dialética, está no discurso dominante, no discurso sedutor,
no discurso amoroso.
➢ INTERTEXTUALIDADE: é forma de diálogo entre textos, isto é, a incorporação de um texto em outro texto, por
possuírem elementos comuns ou terem contextos parecidos. Isso ocorre, por exemplo, quando o juiz coloca
uma jurisprudência em sua sentença, ou quando cita determinado doutrinador.
Polifonia:
Como vimos, a polifonia trata de uma característica presente em certos tipos de texto, nos quais se deixam entrever
muitas vozes (enunciadores e ideologias), por oposição aos textos monofônicos (próprio de uma só "pessoa"), que
escondem ou tentam esconder os diálogos que os constituem. Nos romances de Balzac, por exemplo, manifestam-se
as vozes da aristocracia, da burguesia e da pequena burguesia. Essas vozes têm traços sociológicos/ideológicos
diferentes.
Numa dissertação, por exemplo, várias vozes se constituem a partir de suas ideologias (teses, antíteses e síntese).
Como uma das partes da sentença judicial é a fundamentação, baseada na dissertação, temos a "sentença judicial"
como um texto polifônico. É possível perceber claramente as 3 (três) vozes que compõem a lide (situação contexto):
a do autor, a do réu e a do magistrado.
Intertextualidade:
“A intertextualidade é o processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado,
seja para transformá-lo”. De maneira geral, pode-se dizer que há três tipos de intertextualidade: a citação, a alusão e
a estilização. A intertextualidade é um dos principais fatores de coerência de um texto na medida em que, para o
processamento cognitivo (produção/recepção) de um texto recorre-se ao conhecimento prévio de outros textos.
A Intertextualidade será definida por Beaugrande e Dressler como um dos principais fatores de coerência de um texto
na medida em que, para o processamento cognitivo (produção/recepção) de um texto, recorre-se ao conhecimento
prévio de outros textos. A intertextualidade pode ser de forma ou de conteúdo (Koch, 1996):
✓ Intertextualidade de forma ocorre quando o produtor de um texto repete expressões, enunciados ou trechos
de outros textos, ou então o estilo de determinado autor ou de determinados tipos de discurso. Exemplo de
intertextualidade de forma pode ser detectada entre a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias e trechos do
Hino Nacional Brasileiro e da Canção do Expedicionário:
✓ Intertextualidade de Conteúdo, pode-se dizer que é uma constante: os textos de uma mesma época, de uma
mesma área de conhecimento, de uma mesma cultura etc, dialogam necessariamente uns com os outros. Essa
intertextualidade pode ocorrer de maneira explícita ou implícita. No primeiro caso, o texto contém a indicação
da fonte do texto primeiro, como acontece com o discurso relatado; as citações e referências no texto
científico; resumo e resenha; traduções; retomadas da fala do parceiro na conversação face-a-face, etc. Já no
caso da intertextualidade implícita não se tem indicações da fonte, de modo que o receptor deverá ter os
conhecimentos necessários para recuperá-la; do contrário não será captar a significação implícita que o
produtor pretende passar. É o caso de alguns tipos de ironia, da paródia, de certa paráfrases, etc.
Um outro exemplo claro da intertextualidade é justamente a jurisprudência em uma sentença: aqui busca-se
uma decisão que tenha o mesmo teor do assunto que estamos tratando. A jurisprudência é uma
intertextualidade de conteúdo por citação.
OBS: Não havendo indicação da fonte do texto original, caberá ao receptor, através de seu conhecimento de
mundo, não só descobri-la como detectar a intenção do produtor do texto ao retomar o que foi dito por
outrem. As matérias jornalísticas de um mesmo dia ou de uma mesma semana - quer do mesmo jornal, quer
de jornais diferentes, quer, ainda, de revistas semanais -, noticiários de rádio e TV - normalmente “dialogam”
entre si, ao tratarem de um fato em destaque (intertextualidade de conteúdo).
A intertextualidade se estabelece também quando nos “apropriamos” de provérbios e ditos populares em nossas
conversas ou em nossos textos escritos, endossando-os ou revertendo a sua forma e/ou o seu sentido.
Romano de Sant’Anna distingue intertextualidade das semelhanças da intertextualidade das diferenças. No primeiro
caso, o das semelhanças, há uma adesão ao que é dito no texto original, no segundo caso, o das diferenças, representa-
se o que foi dito para propor uma leitura diferente e/ou contrária. A repetição pura e simples, bem como a paráfrase
pertencem ao primeiro tipo; já a paródia, a ironia, a concessão ou concordância parcial (em que se “acolhe” os
argumentos contrários para, em seguida apresentar argumentos decisivos capazes de destruí-los) são exemplos do
segundo tipo. Exemplos:
a) “Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturanos de Veneza” (Murilo Mendes - Canção do
Exílio)
b) “É verdade que o presidenciável X tem um discurso interessante, como afirmam muitos analistas políticos. No
entanto, se examinarmos mais a fundo seus pronunciamentos, verificaremos que ele não tem um projeto
consistente de governo”
Espécies de Intertextualidades:
Comumente, no mundo jurídico, a citação é utilizada como um argumentação por autoridade. Argumento de
autoridade é comportamento psicológico em que se tem o reforço de alguém que é expert no assunto.
2. ALUSÃO: aqui não são citadas as palavras do outro texto, mas reproduzem-se construções sintáticas em que
certas figuras são substituídas por outras. Em outras palavras, aqui remete-se a outro texto, mas por meio do
emprego de palavras próprias, sem citação direta.
Geralmente é empregado para fazer uma referência ou uma comparação a outro texto. Veja-se o exemplo:
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida.
(Gonçalves Dias, Canção do exílio)
“Senhoras: Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre-nos, iniciar estas linhas de saudade
e muito amor com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo – a maior do universo no dizer de seus prolixos
habitantes – não sois conhecidas por “icamiabas”, voz espúria, senão que pelo apelativo de Amazonas; e de vós se afirma cavalgardes
belígeros ginetes e virdes da Hélade clássica [...}
Exemplo²: Emprego de determinadas expressões sempre utilizadas por determinada pessoa. Exemplo: Brasil
está lascado! (Gil) ou “Beijinhos, Beijinhos!” (Camila do BBB) – Utilizar na seguinte frase: “Não há mais vacina
para a CoronaVac! Meu Deus, onde iremos chegar? O Brasil está lascado!”. “Não há vacina. Acho que não terá
jeito e precisarei me mudar para Portugal. Beijinhos, Beijinhos!”.
Atenção! Na prova vai cair uma questão: “faça um texto empregando a técnica da intertextualidade.” O enunciado
deve te dar duas fontes (dois textos). Se falar em intertextualidade no enunciado já sabe que ele quer CITAÇÃO, em
que se tem que fazer um texto dissertativo e usar a técnica de argumento de autoridade. No enunciado vai te dar duas
opiniões, e pede para fazer um texto mesclando os dois textos, citando jurisprudências, outros julgados. É só lembrar
de CITAÇÃO.
4. Discurso:
O dialogismo é gênero que, como vimos, se subdivide em monofonia, polifonia e intertextualidade. Desse modo,
admite-se que se tenha diálogos/conversas consigo mesmo, não precisando haver um receptor distinto do emissor.
Essa realidade não se aplica ao discurso. Segundo a professora, dentro do discurso é necessário termos minimamente
um “di”: emissor e receptor. Não é possível dialogar sozinho quando a intenção do indivíduo é discursar. Isso porque
o discurso deve ser compreendido como um conjunto de ideias organizadas por meio da linguagem de forma a influir
no raciocínio, ou quando menos, nos sentimentos do ouvinte ou leitor. Ou seja, é uma exposição metódica sobre certo
assunto.
Vimos que discursar é assumir um papel. Não faz sentido fingir que você não é “eu” ou assumir o papel de outrem a
se comunicar consigo mesmo. Assim, para ter discurso, é necessário que haja uma plateia e, portanto, quando se tem
um discurso, está-se diante de uma polifonia.
OBS. Apesar de não ser possível um discurso no caso de monofonia, excepcionalmente será possível que exista apenas
uma voz: nos casos em que existam outros receptores ouvindo, mas eles estejam impedidos de emitir sua própria voz.
Exemplo: Eu sou tão agressiva na minha fala, que a outra pessoa não consegue responder, mas apenas ouvir. Nesse
caso, a minha voz está engolindo a sua e tem uma falsa aparência de que não existe outra voz, mas ela está lá.
Além do significado acima oposto, outro significado corrente, muito usado entre os linguistas, cientistas sociais e
estudiosos da Comunicação - como Michel Foucault e Émile Benveniste -, porém menos difundido, é do o discurso
como algo que sustenta e ao mesmo tempo é sustentado pela ideologia de um grupo ou instituição social. Ou seja, ele
é baseado em um conjunto de pensamentos e visões de mundo derivados da posição social desse grupo ou instituição
que permitem que esse grupo ou instituição se sustente como tal em relação à sociedade, defendendo e legitimando
sua ideologia, que é sempre coerente com seus interesses.
O termo discurso é ainda reivindicado por linguistas, psicólogos, antropólogos e sociólogos de diversas orientações
teóricas. Assim, ora aparece associado a perspectivas cognitivistas, ora a concepções interacionistas, pragmáticas etc.
Há ainda aproximações do termo discurso com conceitos como o de texto e o de gênero textual, sendo que nas
abordagens mais textuais a ideia de unidade semântica do texto se apresenta como fator relevante. Na visão de Trask
(2006, p. 84), é o fato de um dado texto escrito ou falado ser conexo que o caracteriza como discurso. Nesse sentido,
são importantes as noções de coesão e coerência, oriundos da Linguística Textual.
A diversidade de acepções em que se emprega a noção de discurso resulta em que perspectivas teóricas bastante
distintas e até antagônicas façam uso corrente do termo. É assim que além da tradição francesa de Análise do Discurso
e das teorias enunciativas - como a de Benveniste - outras orientações, majoritária e originalmente de
institucionalização anglo-saxônica e americana, tais como a Linguística Textual, a Sociolinguística Interacional, a
Análise da Conversação, dentre outras, apliquem frequentemente o termo em seus próprios campos,
reconceitualizando-o de acordo com seus respectivos referenciais teóricos. Parte da confusão em torno da ideia de
discurso pode ser explicada pela afirmação de Maingueneau (2008) de que em algumas disciplinas a noção é tomada
como objeto, ao passo que em outras se configura como ponto de vista.
O segundo significado apontado anteriormente não deve ser confundido com as noções de texto e de enunciado, pois,
enquanto estes se referem principalmente a uma manifestação específica e concreta da linguagem, o discurso é algo
que vai além dos textos e enunciados que se baseiam nele. O discurso dá sustentação aos enunciados e ao mesmo
tempo é reforçado pelos enunciados que o realizam, mas nunca poderá se restringir a um enunciado específico nem
poderá existir sem esses enunciados.
O símbolo do Feminismo, um dos diversos discursos ideológicos De meados do século XX até os dias de hoje,
consolidaram-se três maneiras distintas de empregar o discurso: como demarcação dos campos do saber, seja ele
prático ou teórico. É o que queremos dizer, por exemplo, com o discurso do jornalismo, o discurso da física, entre
outros. Como demarcação de planos ideológicos (o discurso marxista e o discurso fundamentalista, por exemplo). omo
demarcação de planos históricos ou epistemológicos (é caso dos discursos renascentista, iluminista, geneticista,
criacionista etc).
Aristóteles, ao longo do Organon, acaba tipificando quatro espécies de discurso, segundo sua finalidade, ordenando-
os segundo o grau de rigor que o método produz. A concepção de discurso tratada por Aristóteles se liga mais à
primeira acepção da palavra, conforme explicado anteriormente.
O discurso lógico, que é o método pelo qual se atinge a uma certeza no qual o axioma resultante é tido como
verdadeiro e indubitável, pode ser produzido mecânica ou eletronicamente por engenhos e tem indispensável
aplicação, principalmente, na matemática.
O discurso dialético, que embora não objetive alcançar a certeza absoluta, tenta obter a máxima probabilidade de
certeza e veracidade que se verifica da síntese entre duas afirmações antagônicas, a saber a tese e sua antítese.
Já no discurso retórico não há o menor comprometimento na busca da verdade, nem da sua demonstrável
probabilidade. Aqui o orador ou escritor objetiva apenas convencer o ouvinte ou leitor de que sua tese é certa ou
verdadeira, utilizando-se do modo de falar, dos gestos e até da maneira de se vestir como fatores para influenciá-lo
ou persuadi-lo.
No discurso poético o grau de certeza ou veracidade nada importa, ou melhor, até pode laborar contra o discurso
posto que aí a razão é abandonada em favor da ficção ou da fantasia. Neste método o que é influir na emoção e não
no raciocínio do ouvinte ou leitor, como modo de impressioná-lo.
Segundo a concepção do linguista francês Émile Benveniste, o discurso é a expressão da língua como instrumento de
comunicação.
Benveniste foi responsável pelo desenvolvimento da Teoria Enunciativa, em que define enunciação como a
necessidade de referir pelo discurso. A enunciação é entendida como um processo pelo qual o sujeito do discurso
mobiliza a língua por sua própria conta, ela converte a língua em discurso pelo emprego que o locutor faz dela,
semantizando-a. Simplificando, a enunciação é a discursivização da língua.
Dentro desse conceito surge o sujeito do discurso, tido como centro de referência interna, do qual emergem marcas
de pessoa (eu – tu), de ostensão, espaço e tempo, representadas por pronomes. Definem-se o locutor, quem fala, e o
alocutário, o outro para quem se fala, além da não pessoa “ele”, qualquer um ou qualquer coisa de que se fala no
discurso. Essas formas pronominais não remetem à realidade nem a posições objetivas no espaço e no tempo
remetem unicamente à enunciação que as contém. Cria-se então uma realidade de discurso, original e fundamental.
A dimensão semântica proposta pelo linguista trata da língua colocada em uso por um locutor e diferencia-se do
caráter estruturalista da obra de Saussure, em que o sujeito se encontra na fala e não constitui objeto da linguística.
Uma das principais críticas ao conceito benvenistiano de discurso vem de Michel Pêcheux, em sua obra Semântica e
discurso, na qual afirma que esse conceito funda-se em distorções individuais, escapando do processo de produção
por uma variedade ilimitada própria da fala, tornando-se um avatar dela.
Em A Ordem do Discurso, de 1970, Michel Foucault analisa a formação e manutenção dos discursos baseando-se nos
tensionamentos de poder e controle social.
Para o autor, o discurso atravessa todos os elementos da experiência, pois o discurso está em todo conjunto de formas
que comunica um conteúdo, qualquer seja a linguagem à qual pertençam. Segundo Foucault, mais importante que o
conteúdo dos discursos, é o papel que eles desempenham na ordenação do mundo: um discurso dominante tem o
poder de determinar o que é aceito ou não numa sociedade, independentemente da qualidade do que ele legitima. O
discurso dominante não está comprometido com uma verdade absoluta e universal. Pelo contrário, é ele que produz
a verdade (logo, esta é arbitrária), que legitima um certo campo de enunciados e marginaliza outros - num processo
que o autor chama de partilha da verdade.
Para Foucault, haverá sempre um desnível entre os discursos; haverá sempre um discurso constrangendo os demais a
se restringirem à verdade que ele estabelece. Logo, não importa a substância daquilo que um discurso profere, e sim
o seu posicionamento nessa malha de tensões sociais.
Aquilo que pode ser dito ou feito em uma sociedade é definido por critérios muito mais arbitrários que propriamente
orientados por um significado maior, uma fundamentação conceitual sólida. Importa apenas o que o discurso
dominante estabelece como verdade, em favor de sua manutenção.
Discurso Referencial:
É aquele que se pretende neutro e verdadeiro, fazendo o possível para assumir um caráter científico. Com foco no
referente, naquilo para que um enunciado remete, esse tipo de discurso busca legitimar-se descrevendo os fatos com
impessoalidade a fim de transmitir a ideia de que a realidade não está sendo mediatizada. Muito comum no trabalho
jornalístico, para se consolidar ele faz uso de três estratégias – a desembreagem enunciativa, a ancoragem e a
objetivação. Esta última é a materialização dos dados, conceitos e ideias a fim de facilitar sua compreensão utilizando-
se, por exemplo, de gráficos e tabelas.
Processo de construção do efeito pretendido, ou seja, da persuasão. O objetivo é fornecer subsídios linguísticos
atinentes à argumentação àqueles que mais frequentemente escrevem e formam o discurso jurídico: juízes e
advogados. A análise a respeito de uma sentença monocrática que, sob sua aparente monofonia, visa a solucionar um
caso proposto, e no plano profundo, a transmitir uma segunda mensagem mais atinente à moral que à simples
aplicação da lei.
Nesse contexto comprovadamente polifônico – influenciado também pelo discurso dos advogados das partes
envolvidas – é importante ressaltar ainda a formação discursiva que envolve o texto analisado.
Levanta-se ainda a hipótese de que a tipologia verbal escolhida para expressar uma ideia (sendo o verbo de ação,
processo, ação-processo ou estado) possa alterar o efeito argumentativo pretendido no discurso. Assim, ganha
relevância no trabalho o modo como o aspecto verbal influencia o discurso do juiz. Tendo seu arcabouço teórico
ancorado nas propostas de BAKHTIN (apud BARROS, 1999), quanto à análise do discurso, e na teoria de TESNIÈRE,
quanto à centralidade do verbo, o objetivo deste trabalho é fornecer aos aplicadores do direito uma reflexão acerca
da importância da boa organização sintático-semântica de um texto para que a argumentação obtenha sucesso, ou
melhor, para que seu ponto de vista seja acatado pelos enunciatários.
1) Pressupostos operacionais:
Uma sentença judicial monocrática, em que se baseia a análise apresentada, é aquela proferida por um só juiz (mono-
= único e –cracia = poder; autoridade) em primeira instância ao final de um processo em que duas partes afirmam ter
direitos/deveres que se contrapõem. Ao juiz é dado o poder de decidir a respeito da demanda. A ele cabe determinar
a quem assiste a razão.
Nesse momento, merece alguns instantes de reflexão a ideia de representação do real. O juiz só toma conhecimento
do fato real conforme o que é apresentado por cada uma das partes, ou seja, através de textos. Ele não viu o fato
acontecer na realidade – e, se viu, é considerado suspeito para julgá-lo, pois seu ponto-de-vista influenciará na decisão,
o que não pode acontecer – e, além disso, é impossível repeti-lo no contexto real de ocorrência, com todas as
circunstâncias que o envolveram. Mesmo que haja um filme, os contextos anteriores e posteriores ao fato, e que
podem/devem influenciar na decisão, são desconhecidos. Na verdade, são as palavras de cada parte que vão levar o
fato ao conhecimento do julgador – e a forma como essas palavras serão apresentadas é muito importante para levar
o juiz ao convencimento. Percebe-se, já neste início de reflexão, que o discurso do juiz estará “contaminado” pelo
discurso das partes e das testemunhas, que lhes forneceram o material de contato com o real.
Ainda merece destaque a formação discursiva em que se inserem todos sujeitos envolvidos na enunciação desse
discurso. Enquanto se trata da sentença em primeira instância, pode-se considerar que todos – juiz, partes e
testemunhas – inserem-se em uma mesma, ou pelo menos bem semelhante, formação discursiva. São valores éticos
e morais que acabam entrando na discussão de uma forma ou de outra e que em primeira instância devem ser mais
próximos, devido até à proximidade espacial e temporal entre o fato acontecido e a decisão.
2) Organização Textual:
A sentença apresenta-se formalmente dividida em três partes: relatório, fundamentação e decisão, que podem
aparecer demarcadas ou não.
No relatório encontra-se a narração dos fatos conforme foram apresentados no decorrer do processo. É uma paráfrase
da representação da realidade apresentada pelas partes. É nesse sentido que se pode aproximar o discurso jurídico
do discurso científico: primeiro, por lidar com fatos reais e, segundo, pela possibilidade de ser parafraseado, conforme
BROOKS e RICHARDS (apud SANT’ANNA, 1991, p. 19/20). Encontram-se nesse trecho enunciados sinônimos ou
semanticamente equivalentes aos dos textos de cada uma das partes, que passaram pela interpretação do enunciador
e, portanto, não são mais puros.
Assim, aqui há uma paráfrase interpretativa; um resumo cuja forma de apresentação (enunciados escolhidos e sua
sintaxe) já antecipa a decisão exposta adiante. Percebe-se nitidamente que o enunciador do texto tem sua criatividade
tolhida: é impossível – e ilegal – que os fatos sejam expostos de forma diferente daquela apresentada pelas partes,
sob pena de se alterar os próprios fatos. Além disso, os textos das partes são o material de que o enunciador dispõe
para formar sua convicção e nada mais pode ser acrescentado a não ser o que já foi apresentado pelas partes. Dessa
forma, percebe-se que essa parte do texto é profundamente influenciada pelo texto do outro.
Não é um texto puro, mas sim um intertexto. O relatório toma aproximadamente 20% das 13 folhas que compõem a
sentença e narra a seguinte história: trata-se de uma indenização por danos morais proposta por um professor (autor
no processo), reprovado em concurso para provimento de cargo de Professor Titular. Segundo o autor, a reprovação
ocorreu em virtude de perturbações psicológicas causadas por um membro da banca (réu), que lhe questionou a
respeito da possível existência de superfaturamentos em procedimentos de compras de materiais enquanto
coordenador de um grupo de pesquisa. É uma narração simples dos fatos tal como contados pelas partes, incluindo
referência à páginas do processo em que as afirmações podem ser encontradas.
A fundamentação apresenta a lei pertinente ao caso. Como o enunciador deve cingir-se obrigatoriamente à lei e às
suas interpretações apresentadas pelos grandes mestres, chegando a citá-las textualmente, a influência de outros
textos também é presente e, com eles, aparece a intertextualidade. A subjetividade do enunciador pode começar a
aparecer, surgindo um misto entre o texto próprio e o texto do outro, até chegar à conclusão.
Na fundamentação, há alusões a páginas do processo, como acontece também no relatório. Porém, onde antes as
alusões tinham a função de fornecer material real para estabelecer o fato, agora sua função é fornecer a prova para a
convicção do enunciador. Citam-se documentos juntados ao processo, o texto integral da comissão de sindicância que
apurou as denúncias de superfaturamento (que toma outros 20% do texto total), declarações das partes e de
testemunhas, textos dos advogados das partes e, finalmente, grandes juristas. Outros fatos são acrescentados com o
escopo de detalhar o caso apresentado genericamente no relatório, para que não restem dúvidas a respeito da decisão
a ser proferida.
Percebe-se, desse modo, que a fundamentação vai sendo construída num crescendo lógico: inicia-se com referências
aos fatos concretos; depois passa a depoimentos de testemunhas e provas concretas; em seguida apresenta a
legislação pertinente ao caso; posteriormente refere-se a interpretações jurídicas dos grandes mestres; e, no
entremeio, apresenta o posicionamento particular do enunciador, antecipando a decisão final no decorrer da
fundamentação.
A decisão é a parte da sentença em que logicamente o texto desemboca, depois do confronto entre real e ideal, ou
seja, entre o que de fato aconteceu como desvio em relação ao que é prescrito como regra de convivência social. O
texto é simples e apresenta tão somente a improcedência da ação, juntamente da condenação da parte vencida. É
uma parte meramente formal, cujo texto não tem liberdade formal e, portanto, não existe sujeito, mas apenas o
preenchimento de uma fórmula semelhante a todas as sentenças. É o assujeitamento encontrado em sua essência.
3) Ilusão Referencial:
Assim como em outros tipos de discurso, no discurso jurídico o sentido do discurso não tem uma relação biunívoca
com a significação intertextual da sua produção. Conforme BLIKSTEIN (apud BARROS & FIORIN, 1999, p. 45), o texto
parece estar tratando da solução de um problema real, quando profundamente seu objetivo é manifestar-se a respeito
da questão moral que permeia o caso. O enunciador apresenta, mesmo que inconscientemente, uma alternância entre
a estrutura superficial e a estrutura profunda do intertexto, entre um referente ilusório (superficial) e as “reais”
intenções (profundo) do enunciador.
No texto em análise, o referente ilusório é aquele apresentado no relatório, ou seja, a existência de dano moral. É esse
caso que deve ser resolvido: merece o autor uma indenização pelo fato de ter sido reprovado em concurso público,
após as calúnias de um dos membros da banca? O inciso V do artigo 5º da Constituição Federal Brasileira assegura “o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.
A resposta a essa questão está diretamente ligada a uma outra: caberia ao membro da banca propor questão atinente
à moral do candidato? Não se trata de questionar a existência ou não do superfaturamento arguido. Trata-se de
analisar a lisura de procedimentos do professor. Se a resposta a esta questão for afirmativa, então a indenização não
é devida. E para respondê-la, então, recorre-se a um plano mais profundo, em que se encontra uma questão moral,
muito mais ampla e discutível. Nesse ponto percebe-se o desvencilhamento do texto do outro, a inserção do sujeito
no discurso: “O réu formulou perguntas que interessavam ao campo do CONHECIMENTO CIENTÍFICO como também
aquelas outras que interessavam ao campo da SABERORIA. É o resgate do primado ético, é a preocupação com o que
é elementar. (…) Por isso, a conduta do réu foi ética!” O ponto de exclamação utilizado aparece ainda como outro
recurso argumentativo: o que apela à emoção, depois de todo um desenvolvimento lógico, calcado em
documentações. É uma discussão de valores que se estabelece no texto, em que o referente profundo buscado pelo
enunciador é a ética e a moral. E para corroborar seu ponto de vista quanto à ética, o enunciador cita autores
renomados.
4) Expedientes Argumentativos:
Quanto ao relatório, ou seja, à parte inicial do texto em tela, dos 39 verbos encontrados, 53,8% são verbos ativos,
23,2% são processivos, 10,2% são ativoprocessivos e 12,8% são estativos. Ou seja, a dinamicidade é presença
incontestável no relatório, como se espera que aconteça em uma narração. Além disso, importante é anotar o aspecto
verbal: em todos os verbos dinâmicos, o aspecto é pontual e perfectivo, enquanto que nos verbos estativos, o aspecto
é durativo e imperfectivo.
Quanto à fundamentação, (parte que realmente contém a argumentação) percebe-se uma organização específica do
texto, que tem o objetivo de não só apreciar a questão jurídica apresentada à análise, mas também de apresentar a
indignação gerada no enunciador quanto à questão ética. Esse objetivo subjacente aparece nas entrelinhas do texto,
mas serão aqui examinados.
Os três primeiros parágrafos da fundamentação encarregam-se de apresentar detalhamento dos fatos expressos no
relatório, passando a integrar o último deles o relatório da Comissão Sindicante (num total de 4 folhas). Tendo sido
desconsiderado o texto da sindicância, transcrito por completo na sentença a título de prova, nota-se que os verbos
são dinâmicos na sua totalidade enquanto apresentam novos fatos (não apresentados no relatório) imprescindíveis à
solução da demanda. No momento da apreciação dos fatos, os verbos passam a ser estativos, como se pode perceber
no fragmento abaixo transcrito:
“O Prof. E** (fl. 952) disse que o réu se dirigiu ao autor afirmando ter este superfaturado a compra de materiais
importados destinados ao G**. Entretanto, seu depoimento tem a nítida preocupação em favorecer os interesses do
autor, nesta demanda, reflexo da coparticipação com o autor em dezenas de obras listadas às fls. 61/63, 70/72, 76,
79/82, além de outras peculiaridades consignadas às fl. 446/453, com ênfase para o seu ingresso no I** em 1993 e no
G** em meados de 1994. Como anotado a fl. 975 ‘quase toda a carreira do Prof. E** foi desenvolvida em estreita
colaboração com o autor’.”(sic)1
Os verbos iniciais são todos dinâmicos (disse; se dirigiu; afirmando; ter superfaturado). A partir de entretanto, a
conjunção adversativa responsável pela alteração na direção do discurso, os verbos diminuem e aumenta o número
de nomes abstratos, que, em última análise, se relacionam diretamente com verbos de acordo com suas propriedades
lexicais. Segundo BORBA (1996: 86 e ss.), a partir da nominalização a característica de tempo se perde, mas o aspecto
continua inalterado, sendo possível, assim, analisar-se a estatividade (que se caracteriza pelo aspecto imperfectivo e
durativo, como já citado): preocupação, participação, peculiaridades, colaboração são nomes que expressam o
aspecto imperfectivo, indicando ação durativa.
A partir do quarto parágrafo, transcrito abaixo, inicia-se um misto de apresentação de detalhes com a análise que deve
ser procedida: Os termos de declarações do autor e de diversas testemunhas constam de fls. 438/467, os quais
forneceram à Comissão de Sindicância dados à formação de juízos de valor autorizadores da instauração de
procedimento administrativo. A conclusão daquela foi tão-apenas quanto à falta e à autoria, enquanto o procedimento
administrativo concluirá sobre a culpa e a pena.
Os verbos constam e forneceram apresentam maior detalhamento: são dinâmicos (fazem parte da narração),
enquanto o enunciado subsequente é estativo (foi) e contém nomes abstratos (conclusão, falta, autoria) que, como
se ressaltará adiante, têm aspecto que conduz à estatividade. Até o décimo terceiro parágrafo, o texto segue nesse
ritmo, num crescendo em direção à estatividade. Vão sendo apresentados documentos do processo para comprovar
os novos detalhes e testemunhos consagrados para comprovar as análises.
A conclusão surge nos dois últimos parágrafos: o décimo quarto que explica a desnecessidade de análise dos outros
argumentos apresentados pelas partes, e o décimo quinto que apresenta a improcedência do pedido e a condenação
do autor.
5. Modalizadores Discursivos:
O uso que fazemos da língua em nossas ações de comunicação é sempre mediado por intenções: explicitar certeza,
dúvida, obrigatoriedade, sentimentos, entre outros. Esse propósito está tão presente em nosso dia a dia que se
materializa na estrutura de nossa língua.
Ducrot, professor de filosofia e linguista francês do século XX, foi quem fundamentou essa ideia e afirmou que a língua
é fundamentalmente argumentativa, uma vez que, ao interagirmos, seja pela fala, seja pela escrita, estamos
imprimindo nossas ideias e argumentos pretendidos. Dessa forma, pensando que a argumentação é característica
intrínseca às relações humanas, nós, do Brasil Escola, preparamos um texto para apresentar as marcações
argumentativas.
Os elementos que atuam como indicadores de argumentação são denominamos de modalizadores discursivos. Eles
são os encarregados de evidenciar o ponto de vista assumido pelo falante e assegurar o modo como ele elabora o
discurso. Como foi apresentado anteriormente na introdução do texto, são várias as intenções que explicitamos em
nossas interações diárias e, por isso, há tipos diversos de modalizadores discursivos. Como afirmam Castilho e
Castilho1 (1993, p. 217), diferentes recursos linguísticos estão a serviço dessa ação argumentativa: modos verbais,
verbos auxiliares, adjetivos, advérbios, entre outros.
Portanto, a modalização é técnica de discurso em que se escolhe as melhores palavras para persuadir. Temos os
seguintes tipos de modalizações:
A) Modalização Epistêmica:
“(...) expressa uma avaliação sobre o valor de verdade e as condições de verdade da proposição” (1992, p.222).
Compreende três subclasses:
- Os Asseverativos:
• Afirmativos: realmente, evidentemente, naturalmente, efetivamente, claro, certo, lógico, sem dúvida,
mesmo, entre outros.
• Negativos: de jeito nenhum, de forma alguma.
B) Modalização Deôntica:
C) Modalização Afetiva:
“Verbaliza as reações emotivas do falante em face do conteúdo proposicional, deixando de lado quaisquer
considerações de caráter epistêmico ou deôntico” (1993, p. 222).
Além dessas classificações, também é possível dividir as técnicas de modalização em três modalidades:
❖ MODALIZAÇÃO NEUTRA: o juiz é imparcial e se manifesta de forma neutra. Ex: autor provou sua tese.
❖ MODALIZAÇÃO POSITIVA: o juiz elogia uma das partes. Ex: o sábio autor conseguiu com muito custo provar
sua difícil tese. Aqui é nítida a parcialidade do juiz, uma vez que fica claro que ele “prefere” a tese do autor.
❖ MODALIZAÇÃO NEGATIVA: o juiz critica uma das partes. Ex: o desidioso autor só conseguiu, por sorte, provar
sua fácil tese.
A modalização, todavia, pode ser mais explícita ou mais contida. Exemplos de modalização:
Argumento é uma série de proposições a que chamamos de premissas que visam a explicar ou justificar uma outra
proposição a que chamamos conclusão. Usamos essas proposições para se chegar a um raciocínio a que chamamos
de conclusão (=tese).
Portanto, antes de adentrar os tipos de argumento, impende sinalizar o que é premissa. Segundo o professor, esta é
qualquer afirmação que, no campo de construção do silogismo, chegará a uma construção lógica.
O silogismo é uma construção tripartida formada por premissa maior + premissa menor + conclusão, sendo essa última
a soma lógica das duas primeiras. A premissa maior são os valores que servem como parâmetro para avaliar e julgar
tudo na vida. A premissa menor, por sua vez, são os fatos. Assim, quando pegamos os fatos e o analisamos sob o viés
de determinado valor, chegaremos a uma conclusão. No entanto, se analisarmos esse fato com outros valores,
chegaríamos a conclusões diferentes.
Portanto, os argumentos que serão expostos nada mais são do que estratégias potenciais em abstrato. O uso,
eficiência e aplicação de um raciocínio a eles dependerá sempre do seu auditório particular e universal. Isso porque o
tipo de escolaridade, o local e o tempo influenciam nos valores e na cultura dos indivíduos e, portanto, influenciam
nas premissas maiores. Desse modo, é necessário buscar o que será eficiente e o que não será eficiente nas premissas
maiores. Se procurarmos uma premissa maior que não encontra eco na sociedade, a sua conclusão será claramente
ineficaz.
O silogismo é uma estrutura em abstrato, presente em qualquer estratégia argumentativa. No entanto, o que garantirá
o sucesso da argumentação é perceber qual é a premissa maior e qual argumento será mais eficiente tendo em mente
determinado auditório a que se pretende chegar. Inclusive, isso não tem relação com repertório e inteligência, mas
com habilidade.
2) Espécies de Argumento:
1. Argumento de Reciprocidade:
É aquele que se funda no estabelecimento de uma relação de simetria entre duas situações e que visa a aplicar o
mesmo tratamento a duas situações correspondentes.
Ex. 1: Se não é vergonhoso para vós vendê-los, também não é para nós comprá-los. Ex. 2: O que é honroso aprender
também é honroso ensinar. Ex. 3: Se cabe aos pais dar proteção e abrigo aos filhos enquanto estes puderem ser
considerados dependentes, da mesma forma caberá aos filhos a responsabilidade de prover as condições de
sobrevivência dos pais quando estes, eventualmente, atravessarem uma situação em que se puder considerá-los
dependentes
Ademais, estribam-se nesse princípio os argumentos que indicam:
- Equivalência - (ex.: trabalho igual, salário igual);
- Empatia - (ex.: Queria ver se você tivesse um filho morto por um menor.);
- Correspondência - (ex.: Não faça aos outros o que não queres que te façam).
Tenha cuidado porque ele pode se confundir com outros argumentos semelhantes, como a analogia. No entanto, no
caso da analogia (ou comparação), trabalha-se com alguma coisa que tangencia a reciprocidade, mas não é a mesma
coisa. A reciprocidade exige a simetria entre duas situações. Quando você compara duas coisas, mas elas não são
simétricas, não é argumento de reciprocidade. No entanto, a reciprocidade tem um quê de comparação, porque para
você encontrar que as situações são recíprocas, você precisa comparar.
Cuidado com a expressão “o mesmo tratamento” porque ele não significa necessariamente igualdade, mas sim que
usaremos o mesmo parâmetro para apurar dois indivíduos, duas situações, dois objetos, etc. Veja-se:
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
A mesma situação vivida por João é vivida por Teresa e Raimundo, embora eles não amem a mesma pessoa.
Em outras situações, a simetria de situação pode ser evocada, com o único objetivo de poder negá-la. Ex. Levy, se eu
tivesse sabido que eras tão rico... Não te amo, mas serias tu, em vez de Raymond, que me terias desposado e eu teria
te enganado com ele, até o dia que, de tanto te roubar, quando pudéssemos ficar muito felizes juntos sem ti, eu te
teria largado. Mas tudo aconteceu de um modo diferente: sou mulher dele e, mesmo que fosses ainda mais rico, nem
por ouro nem por prata eu enganaria meu Raymond contigo.
Exemplo²: Além das previsões legais para o aborto, a jurisprudência construiu a possibilidade de o anencefálico sofrer
aborto. Assim, na medida em que o feto anencefálico já teve autorização para realização do aborto e não passa pelo
princípio da legalidade e da anterioridade por não ter chances de sobrevivência extracorpórea, o feto anacrônico
também deve ter esse mesmo direito, porquanto não há vida quando o feto nasce.
2. Argumento Por Comparação:
O argumento por comparação tem como finalidade precípua o cotejamento entre duas entidades, fatos ou
acontecimento, os quais se encontram congregados numa mesma classe, para demonstrar determinada
homogeneidade entre ambos. Assim, ao criar um vínculo entre realidades diferentes, o propósito é que haja entre elas
a transferência de qualidades de uma para a outra, seja para inferiorizá-la, seja para elevá-la.
Se for estabelecida uma comparação entre duas coisas que não são da mesma classe, essa comparação peca por falta
de simetria, de coerência, de razoabilidade. Em verdade, diz-se que, nessas situações, falta o chamado “paralelismo”,
que pode ser sintático, semântico ou ideológico. Dessa forma, não dá para comparar uma pessoa com uma viagem,
por exemplo, sendo errado falar “Eu gosto da Ana tanto quanto gosto de viajar para a Grécia” – essa comparação não
seria razoável e não estaria estabelecendo um parâmetro de proporcionalidade.
Atenção! Na língua existe uma figura de linguagem denominada de “metáfora”, mas essa busca comparar entidades
diferentes para enfatizar determinado atributo de uma pessoa. Seria o caso de falarmos “João é forte como um touro”.
Aqui essa comparação é entre seres de classes diferentes. Do ponto de vista da linguagem literal, isso é incorreto. No
entanto, no ponto de vista de figura de linguagem, não haveria problemas.
Um exemplo de ausência de paralelismo sintático é o que se verifica na seguinte frase: “Eu gosto de viajar e conhecer
pessoas”. Aqui temos o verbo “gostar” acompanhado de dois elementos (“viajar” e “conhecer”) que completam seu
sentido e que são unidos por um conector aditivo “e”. No entanto, o primeiro deles está com um conector e o segundo
não. Por esse motivo, como o tratamento dado a uma deve também ser dado a outra, o correto seria colocar a frase
“eu gosto de viajar e de conhecer pessoas” ou, então, não conectá-las.
Algumas considerações:
➢ O argumento por comparação é muito mais marcado pelos conectores do que pelo conteúdo propriamente
dito, por isso não se confunde com o argumento de reciprocidade.
➢ Deve ser estabelecida uma relação entre institutos, entidades ou fatos de mesma classe. OBS. Essa proibição
de argumentação está pensando no paralelismo sintático, semântico ou ideológico das construções frasais,
isto é, na literalidade das palavras. Sabemos que, como figura de linguagem, uma metáfora é autorizada.
➢ São marcadores de argumentos de comparação: Enquanto, do que, como, que, tal qual, tão, tanto, enquanto;
Lembrar, parecer, assemelhar, dar uma ideia.
Exemplo de argumento por comparação: Enquanto países como a Inglaterra e o Canadá tem leis que protegem as
crianças da exposição ao sexo e a violência na televisão, no Brasil, não há nenhum controle efetivo sobre a
programação. Assim, não é de surpreender que muitos brasileiros estejam defendendo alguma forma de censura
sobre a TV aberta.
QUESTÃO DE PROVA: Elabore um argumento por comparação contra ou a favor da descriminalização das drogas.
Reposta: Enquanto drogas como álcool e cigarro causam maior dependência e são permitidas por lei, outras drogas
mais leves que não são tão prejudiciais ao organismo humano, inclusive, recomendadas para fins terapêuticos, são
criminalizadas. Assim, as drogas mais leves deveriam ser descriminalizadas.
- Argumento por simetria: é uma comparação que estabelece uma desproporção. Afinal, para estabelecer que
uma coisa é diferente da outra, você deve comparar as duas. “Toda simetria passa pela comparação, mas nem
toda comparação é simétrica”.
- Argumento de comparação: é um argumento que analisa duas situações, em regra buscando aproximá-las
por meio de uma comparação. É uma analogia. Conectores: Que; do que (depois de mais, menos, maior,
menor, melhor e pior); qual (depois de tal), quanto (depois de tanto), como, assim como, bem como, como
se, que nem. Que, do que (relacionados a mais, menos, maior, menor, pior), qual (relacionado a tal), como
(relacionado a tal, tão e tanto), como se etc.
- Argumento de reciprocidade: aqui temos um argumento que também efetua uma comparação, mas
sobretudo para estabelecer uma desproporção, uma diferença entre eles. Conectores: à medida que, ao passo
que, à proporção que, enquanto, quanto mais, quanto menos.
✓ Se dele for possível extrair uma ideia de proporcionalidade, é argumento por reciprocidade.
✓ Se houver elemento de comparação no sentido estrito, é argumento por comparação ou por analogia.
OBS. As questões anteriores de prova já pediram tanto o argumento de comparação quanto de simetria. No entanto,
nunca houve questão para diferenciá-los, já que eles são extremamente próximos, sendo algo que fica mais no campo
da doutrina.
As provas costumam te dar o nome do argumento e um tema e pedem para produzir um pequeno parágrafo
defendendo uma tese sobre o assunto por meio dele. Ou te dão um argumento pronto e pedem para você identificar
ali qual o tipo de argumento.
OBS. É preciso saber empregar o argumento por comparação com propriedade. Caso contrário, ele pode ser facilmente
minimizado. Exemplo de erro: Nazismo e comunismo são iguais, uma vez que ambos eram regimes totalitários e
causaram a morte de milhões de pessoas (Veja, 26.02.14).
Quando se diz que nazismo e comunismo são iguais, temos uma falta de cuidado em trabalhar conceitos históricos tão
relevantes e com diferentes valores. Não se deve fazer isso, sob pena do seu argumento ser minimizado e, por vezes,
desqualificado.
Caso concreto:
Antônio das Couves e Maria Antonieta, casados há mais de dez anos, por motivo de infidelidade conjugal de Maria, divorciaram-se
consensualmente. Da união entre Antônio e Maria resultou o nascimento de Artur, que à época do divórcio estava com cinco anos de idade.
Ainda na vigência do casamento, Antônio foi presenteado por sua sogra com um cachorro da raça Shih Tzu.
Logo após o divórcio, Antônio ajuizou ação de guarda na qual formulou pedido de antecipação dos efeitos da tutela para obter a guarda
compartilhada do filho do casal, bem assim pediu a guarda unilateral do cachorro que ganhara de sua sogra.
Maria Antonieta, em sua contestação, sustenta que o pedido de guarda compartilhada de Antônio não merece prosperar, uma vez que ela
deveria ficar com a guarda de Artur por ser a genitora. Afirma ainda que, após o divórcio do casal, Artur ficou morando com ela, pois Antônio
passou a residir e trabalhar em cidade geograficamente distante de onde ela mora, o que impossibilitaria o exercício da guarda de Artur de
forma compartilhada.
Demais disso, Maria alega que o pedido de guarda unilateral do cachorro é juridicamente impossível, pois o animal é considerado um bem
semovente. Subsidiariamente, sustenta que tanto ela quanto seu filho Artur desenvolveram intenso sentimento de afeto pelo cachorro do ex-
casal, que o animal é considerado um integrante do núcleo familiar e que, portanto, também teria direito a exercer a guarda do cachorro, de
sorte que, quanto este, a guarda deveria ser compartilhada.
Em réplica, Antônio sustenta que a distância, por si só, não seria empecilho, para exercer a guarda do seu filho Artur e que, em verdade, Maria
estaria influenciando seu filho para que ele não quisesse visitar o seu pai, o que caracterizaria alienação parental.
A equipe multidisciplinar do juízo não constatou a caracterização de alienação parental por parte de Maria (fls. XX-XX).
Responsa, fundamentadamente, como deve ser julgado o caso.
R: Comparar a guarda de animais e guarda de filhos é algo cada vez mais frequente no judiciário. Fala-se até em
alimentos para animais domésticos.
No caso concreto, o parâmetro para a discussão sobre a guarda de animais é de que eles fazem parte da família,
porquanto desenvolvem afeto no núcleo familiar. Assim, a comparação entre pessoas da mesma família e pessoas
com animais sugere que a comparação entre o instituto da guarda de filhos com o instituto da guarda de animais deva
ser similar. Ou seja, tudo aquilo que já foi utilizado para a guarda de filhos deve ser usado como parâmetro para se
discutir a guarda de animais. Assim, aqui o interessante é utilizar o argumento por comparação/analogia: “Assim como
na guarda dos filhos, a guarda dos animais envolvem sentimentos de afeto e de parentesco (...)”. Segundo o professor,
o argumento por comparação é indispensável, já que todos os parâmetros de comparação estão presentes na guarda
dos filhos. “Não por outro motivo, entre conflitos familiares, a competência para discutir a guarda de animais deve ser
da Vara de Família”. Outro exemplo de argumento por comparação que poderia ser aplicado: “Para os filhos, a guarda
alternada não é recomendada por quase ninguém da doutrina, por criar o chamado “filho mochileiro”. No entanto,
para os animais, ela pode ser aplicada, porque, aparentemente, os aspectos psicológicos que se aplicam às crianças
não se aplicam aos animais”.
Em regra, os argumentos por comparação e por analogia são tidos como sinônimos. No entanto, existem alguns
doutrinadores que os diferenciam, firmando que o argumento por analogia é um argumento que se baseia não no
princípio da identidade, mas na experiência e na similitude. Exemplo:
Assim, enquanto o argumento por comparação se funda no Princípio da Identidade (compara-se para dizer que é
semelhante ou compara-se para dizer que é diferente, existindo sempre dois elementos – A= B ou A # B), a analogia
se baseia na experiência: A está para B, assim como C está para D. Existe uma equivalência entre A e o B e entre C e
D. Portanto, existem 4 elementos no argumento por analogia.
QUESTÃO DE PROVA: Componha um parágrafo em que se empregue algum recurso de persuasão, modalização ou argumento por analogia,
indicando-o, discutindo a proibição do uso de roupas vermelhas em visitas a presidiários.
Reposta 1 – MODALIZAÇÃO: Não obstante a Constituição Federal assegurar o direito à liberdade de expressão aos brasileiros, pesquisas
realizadas por especialistas em carceragem asseguram que o uso de roupas vermelhas causa INEQUÍVOCA agitação e revolta nos presos. Logo,
de forma a assegurar um ambiente pacífico nos presídios, faz-se necessário proibir o uso de roupas vermelhas em dias de visita a presidiários.
Reposta 2 – ARGUMENTO POR ANALOGIA: A vida de um preso no presídio é como a vida de uma alma penada no inferno. Pesquisas apontam
que a cor vermelha causa angústia e revolta nas pessoas, pois remete a sangue e a morte. Isso posto, deve-se proibir o uso de roupas vermelhas
em dias de visita a presidiários para amenizar a angústia e sofrimento dos presos no cárcere.
Atenção! Deve-se tomar cuidado para não fazer uma analogia errada, como a que se verifica abaixo:
Para evitar erros como esse, devemos buscar responder aos seguintes questionamentos antes de aplicar o referida
tipo de argumentação:
- É um argumento?
- Qual é a conclusão?
- Qual é a comparação?
- Quais são as semelhanças?
- Será que um princípio geral se aplica realmente aos dois lados?
- O argumento é forte ou válido?
A parte não é fração de um conjunto, mas símbolo dele, ou ainda, mais precisamente, é equivalente ao todo,
representa-o. Nesse tipo argumentativo, a parte contém o todo, é o todo. Em figuras de linguagem, esse processo
equipare-se ao da metonímia.
Portanto, aqui pega-se uma fração (um indivíduo, por exemplo) e a coloca como o todo. É como se a pessoa não fosse
apenas a representação do conjunto, mas sim como se ele fosse o conjunto. Ex: Um policial é pego por corrupção e a
pessoa fala “a polícia é extremamente corrupta”. Aqui as ações de um indivíduo foram tidas como as ações de toda a
classe policial.
Segundo o professor, esse é o tipo de argumento que pode tender para uma generalização falaciosa. Então deve-se
tomar um extremo cuidado ao usufruir-se desse tipo argumentativo. Afinal, o todo pode ser uma coisa diferente do
que a soma das partes.
• Dependentes → aplicam-se ao todo, mas não necessariamente às partes. (Ex.: Se o carro é caro,
necessariamente todas as suas peças são caras?)
• Independentes → aplicam-se às partes, mas não necessariamente ao todo. (Ex.: Se alguns policiais são
corruptos, necessariamente toda a polícia é corrupta?)
Obs.: Só se pode transferir uma propriedade do todo para as partes e vice-versa, quando ela for absoluta e, além disso,
independente da estrutura.
Ex.: O sódio e o cloro são tóxicos. Logo, o cloreto de sódio é tóxico. (falso)
Ex.: Todas as peças dessa máquina são de aço; logo, essa máquina é de aço. (verdadeiro)
O trabalho neste argumento é inverso do anterior, porque o raciocínio correto passa a ser demonstrar que o todo é a
soma das partes, ou seja, a soma é a relação que sustenta o todo. Assim, o que não faz parte de nenhuma espécie não
faz parte do gênero.
Portanto, aqui você pressupõe que, por ser o todo de determinada forma, a parte também o é. Ademais, como no
caso anterior, aqui também deve-se tomar cuidado para não cairmos em afirmações generalizantes e falaciosas, sem
consistência argumentativa. Por exemplo, se um carro é caro, não significa-se que todas as suas peças que o compõem
são caras.
Exemplos:
- Tentar sustentar que uma comunidade está à mercê das drogas (ou de bandidos etc), listando e quantificando
exaustivamente os bairros que acusam o fato, ou que alguém apresenta uma boa (ou má) conduta social
produzindo versões boas (ou más) de atos isolados.
- Nosso time é imbatível. Cada um dos nossos jogadores conseguirá se destacar mais que qualquer jogador do
time adversário.
Esse tipo de argumento tem especial importância no Direito, porque caracteriza uma presunção jurídica que diz que
o valor de uma ato revela o valor da pessoa.
No fundo, temos a ciência de que o bandido que mata também pode ser aquele que já ajudou uma mãe em situação
de necessidades. Esses lados diferentes de uma mesma pessoa fazem parte da complexidade da pessoa humana. No
entanto, não é raro que relacionemos atos com pessoas, fazendo com que a pessoa seja seus atos. É muito comum e
argumentativamente eficiente no direito fazer isso.
Exemplo: Mãe do Henry tirou uma selfie na delegacia com um sorriso de canto de boca e foi em um cabelereiro. Esse
ato fez com que ela parecesse uma mulher fria e narcisista. A construção argumentativa aqui pegou um fato, o leu
dentro daquele contesto e impregnou ela com um comportamento que aquele fato revela. A partir de agora, a defesa
desconstruir essa frieza que foi a ela atribuída será muito difícil.
Exemplo²: Os atos praticados por Karol Koncá no BBB passaram a representar a sua pessoa no mundo exterior.
Consequentemente, ela foi tida como maléfica e imediatamente cancelada.
A forma com a qual se relaciona um ato a uma pessoa pode ter fundamento técnico, moral ou advir do contexto.
7. Argumento de Probabilidade
Reflete o próprio senso comum. A probabilidade condicional é a probabilidade de acontecer X, dado que aconteceu Y.
Exemplo: A chance de Beto e Alice estarem morando juntos, dado que são casados, parece bem alta. Afinal, a
coabitação é quase que indispensável em um matrimônio.
De modo diverso, qual a probabilidade de Beto e Alice serem casados, dado que moram juntos? Nesse caso, o
argumento não seria tão forte, já que eles podem simplesmente estar dividindo o aluguel, serem irmãos ou serem
companheiros.
Alguns autores dizem que é idêntico ao argumento de reciprocidade. No entanto, aqui tem mais relação com o que o
homem médio faria no lugar da pessoa, enquanto na reciprocidade é mais um caminho de retribuição entre partes
(“se eu te trato desse jeito, esse deve ser o mesmo jeito que você deve me tratar”).
Assim, a reciprocidade tem relação com a comparação com pessoa específica. A probabilidade, por sua vez, diz
respeito àquilo que é razoável e que está no senso comum pela experiência compartilhada daquele grupo. Ou seja,
tem mais relação com o que a sociedade supõe sobre determinada situação, haja vista o que geralmente acontece
com o homem médio dentro de determinado contexto.
- Causa é o fato determinante, aquilo que tem um fator de indispensabilidade. “Se isso aconteceu, com certeza
aquilo também acontecerá”.
- Fator é o fato que pode levar ou não a alguma consequência, ainda que ela seja algo recorrente. “Se isso
acontecer, normalmente aquilo acontece, mas não necessariamente acontecerá”.
Exemplo: “A pobreza está muito vinculada com a criminalidade. Não à toa 80% dos encarcerados são pobres.
No entanto, como não temos 100% dos encarcerados sendo pobres, não é possível dizer que a pobreza é a
causa, mas sim um fator recorrente nas hipóteses da prática de crime”.
Causa ≠ antecedente
O argumento a partir as consequências consiste em defender ou refutar a veracidade de uma declaração apelando às
consequências que ela teria se fosse verdadeira (ou falsa).
Aqui você tem a consequência e o argumento pragmático é aquele que tenta encontrar as causas. Esse é o papel do
delegado em uma investigação.
Ex: O menino foi morto sob as circunstâncias A, B e C. A partir desses dados, os delegados tentarão encontrar as causas
de sua morte e o culpado.
Ex.: uma semana após a implantação do Código Nacional de Trânsito, em 1998, os jornais divulgaram uma estatística
que comprovava um decréscimo de acidentes com vítimas da ordem de 56%. Essa estatística serviu de tese de adesão
inicial para a tese principal: a de que o novo Código era uma coisa boa.
No argumento pragmático, defende-se uma dada ação, levando em conta os efeitos que ela produz. Nesse tipo de
argumento, os fins justificam os meios.
Obs.: O argumento pragmático ou por consequência deve ser utilizado com cuidado, pois quando é levado ao extremo,
sem que seja balizado por valores, pode-se justificar tudo, mesmo as ações mais repulsivas:
É aquele que postula que casos semelhantes têm que ter um tratamento semelhante.
Exemplo: A condição de político preso não dá a ninguém o gozo de regalias inacessíveis aos outros. A menos, ironizam
os juízes, que se consagre a existência de dois grupos condenados: um “digno de sofrer e passar por todas as agruras
do cárcere” e outro, “o qual deve ser preservado de tais efeitos negativos” (Sem regalias na Papuda, editorial, o Estado
de S. Paulo 30.11.2013).
Atenção! O tratamento paritário pode ser suscitado por alguém na argumentação do direito. Ele se parece muito com
o argumento por analogia. Também se aproxima da questão da proporcionalidade. No entanto, ele não é qualquer
comparação por proporcionalidade: é o argumento que postula tratamento idêntico (ou distinto) para pessoas em
contexto semelhante (ou em contexto diferente). É basicamente a defesa da aplicação da máxima “tratar os iguais
como iguais e os desiguais como desiguais na medida de suas desigualdades”.
Este argumento é tipicamente jurídico e tem estrita relação com o princípio da legalidade. Contudo, é também
utilizado pelo argumentante para trabalhar jurisprudências e doutrinas, transformando-lhes o sentido de maneira
lógica, para adequar-se a uma tese qualquer, pela interpretação pela via inversa.
Esse argumento versa que, se existe uma regra X e uma coisa não se insere dentro dela, seu tratamento deve ser
oposto/contrário.
Exemplo: O art. 27 do Código Penal dispõe que os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis. Assim, a
contrário sensu, os maiores de dezoito anos são criminalmente responsáveis.
Atenção! Essa argumentação deve ser construída com muita atenção, pois pode tender ao engordo.
A metáfora é uma comparação em que os nexos comparativos foram retirados. Exemplo: “Maria é uma gata”. Se gata
for um animal, estamos usando o sentido denotativo da palavra. No entanto, se Maria não for um animal, essa palavra
“gata” estará com sentido deslocado (sentido conotativo), sendo nítida metáfora.
Por outro lado, se eu colocasse “Maria é bonita como uma gata”, o gata estaria tempo um sentido denotativo, ainda,
porque está-se comparando Maria a um animal.
Figuras de linguagem:
Se subdividem em:
• Figuras de Palavras
• Figuras de Sintaxe: aquelas que trabalham com o deslocamento na frase, ou seja, mexe com a função das
palavras.
• Figuras de pensamento: são recursos mais ligados à efeitos que irão produzir.
Para a linguagem jurídica, pelo seu caráter persuasivo, as figuras de pensamento são as mais utilizadas.
Segundo o professor, não é necessário gravar a nomenclatura das figuras de linguagem, mas sim compreender como
elas devem ser empregadas no dia-a-dia.
a) Alusão:
É importante que o outro conheça a alusão a que você se refere para compreendê-la. Assim, quando aludidmos a
outro fato, é importante que o outro tenha noção do que se fala.
Segundo o professor, é cada vez maior a distância entre aquilo que é dito no cotidiano e o correto. Exemplo: É muito
comum que se diga que alguém fez apologia ao crime. No entanto, a palavra “apologia” não demanda a preposição
“a”, mas sim “de”. Exemplo²: Utilização do verbo preferir “eu prefiro mais isso do que aquilo”. “Preferir mais” já é um
equívoco porquanto preferir já é um comparativo. Além disso, prefere-se algo a outra, e não do que outra, como é
coloquialmente empregado. Portanto, sobretudo em avaliações, devemos nos atentar em trazer para a escrita o
português nacional corrigido.
Quando falamos em regência, não podemos confundir a ideia de regência com predicação. Algumas palavras possuem
regência, mas não predicação. Quando falamos em predicação, estamos nos preocupando com a classificação dos
verbos em transitivos diretos, indiretos ou intransitivos. Um verbo intransitivo é classificado como aquele que não
pede complemento, mas podemos ter um verbo desse tipo acompanhado de preposição, por ser unido a uma palavra
que demanda.
Preposição é classe de palavras invariável, sem função sintática, com papel de unir termos.
A regência é a preposição que o verbo e o nome pedem, independentemente da função sintática ou da predicação
verbal.
“Está na hora de as crianças dormirem”. Criança é sujeito de dormir. As orações se dividem em sujeito e predicado.
Portanto, sujeito não pode ter preposição, já que ele não pode estar subordinado a uma outra função. Desse modo,
não pode haver sujeito preposicionado.
O verbo pode ter complemento ou não. Se tiver, é transitivo. Se não tiver, é intransitivo. Os verbos que pedem
complemento sem preposição, são transitivos diretos. Os que pedem com, são transitivos indiretos. Os verbos que
pedirem dois complementos, sendo um com preposição, são denominados de verbos transitivos diretos e indiretos.
“Fomos à praia ontem”. Praia não é complemento do verbo, já que ela é mero advérbio de lugar. “Ir” é intransitivo.
No entanto, a regência do verbo “ir” demanda a preposição “a”.
“Ele comprou os livros”. Quem compra, compra alguma coisa.
Quem obedece, obedece a alguém. Assim, o verbo obedecer sempre pede preposição “a”. A predicação é necessitada
de um complemento com preposição e a regência estabelece que essa é justamente o “a”.
Quem comunica, comunica algo a alguém. O “algo” será o objeto direto e o “a alguém”, objeto indireto. Além do “a”,
também é possível comunicar alguém de algo. Nesse caso, a pessoa ficará sendo objeto direto e a coisa, objeto
indireto. “Comuniquei a turma do resultado”. Na reforma, as duas opções são aceitas. Isso é chamado de dupla
transitividade e acaba resultando nessa dupla regência.
Verbo de ligação é aquele que simplesmente estabelece a ligação entre o sujeito e o predicado, sendo que esse último
irá indicar uma mudança de estado, uma qualidade, uma situação que esteja vinculado diretamente ao sujeito – sobre
como ele é, como ele está ou como ele se comporta: e não necessariamente sobre uma ação dele.
O verbo de ligação, diferente do verbo de ação que constitui o predicado verbal, deixa de ser o mais importante – ele
simplesmente faz a ligação entre sujeito e predicado. Exemplos:
“O menino estava contente” – aqui o verbo não tem papel algum no significado – ele só faz a ponte entre o sujeito e
o predicado.
“Ele permaneceu quieto durante a sessão” – o verbo aqui só complementa as circunstâncias em torno do estado, sem
qualquer papel marcante.
Uma coisa importante de se dizer em nosso cenário contemporâneo e que não é nos informado no ensino médio e
fundamental é a relação entre os tipos de verbos e a voz passiva.
Segundo o professor verbo transitivo direto tem esse nome porque ele transita diretamente para a voz passiva. Assim,
todo verbo transitivo direto faz a voz passiva. Exemplo: Ele comprou os livros → Os livros foram comprados por ele.
Diferentemente, os verbos transitivos indiretos não podem ser transformados em voz passiva. Veja-se: Ele gostou dos
livros → Os livros foram gostados por ele.
Apesar disso, muitas pessoas, coloquialmente, formulam frases incorretas, como “Eles obedecem ao chamado” → “o
chamado foi obedecido por eles”. Essa frase não poderia ter sido formulada: ou deveria ter mudado o verbo para
direto, como “o chamado foi respeitado por eles” ou deveria ser utilizada outra construção verbal, tal como
“obedeceu-se ao chamado”.
Exemplo² errôneo: Ele obedeceu à lei → a norma foi obedecida. Isso está errado. Para construção de voz passiva,
dever-se-ia empregar outro verbo, transitivo direto, que admite essa tipo de formulação.
Ver 27-28 mins.
Atenção! Algumas pessoas entendem que a evolução da sociedade fez com que se tornasse possível a voz passiva de
verbos transitivos indiretos. No entanto, o professor entende que isso está na seara da linguagem coloquial e,
portanto, não deve ser empregada em provas.
Seguindo, cumpre apontar que existem verbos com regência problemática.
O primeiro verbo que traz dificuldade na regência é o verbo “assistir”, que traz alguns significados possíveis:
No sentido de dar assistência: pode ser tido como verbo transitivo direto ou indireto. No entanto, o professor informa
que o utilizaremos apenas como verbo transitivo direto, a fim de evitar a confusão com “assistir” na acepção de ver.
Assim, a correta utilização seria “a enfermeira assistiu o doente”. Isso tem o intuito de evitar ambiguidade. Se
colocássemos “ela assistiu ao doente”, não iríamos saber se ela ajudou ao doente ou se ela apenas o ficou observando.
No sentido de ver: é sempre verbo transitivo indireto. Exemplo: “Assistimos ao jogo”.
No caso do verbo assistir, nem sempre ele poderá ser transformado em voz passiva. Nos casos em que ele está sendo
empregado no sentido de “ver”, por exemplo, não será possível tal transformação. Diferentemente, quando for
utilizado no sentido de dar assistência (e ter a pessoa optado pelo emprego desse verbo como transitivo direto),
teremos a possibilidade de conversão à voz passiva.
Exemplo de frase errada: Assistimos ao filme → O filme foi assistido
Como vimos, verbos transitivos indiretos não admitem a voz passiva. Para corrigimos, poderíamos colocar “o filme foi
visto”, porquanto o verbo ver é transitivo direto.
Por fim, o verbo “assistir”, no mundo jurídico, também pode ter o sentido de morar. Nesse caso, temos um verbo
intransitivo. Apesar disso, pede, como regência, o “em”. Exemplo: Assistimos no Rio de Janeiro.
Existe, ainda, um outro sentido de “assistir” que foi recém incorporado e significa caber. Exemplo: Assiste a ele o
direito de fazer tal coisa”. Nesse caso, também será verbo transitivo indireto, porém demandando-se a preposição
“a”.
Outro ponto é que, em regra, verbos transitivos diretos viram o pronome “o/a”, enquanto verbos transitivos indiretos
tornam-se pronomes “-lhe/-lhes”. No entanto, o verbo “assistir” não admite “lhe”. Assim, na frase “nós assistimos ao
jogo”, deve-se empregar “Nós assistimos a ele” ao invés de “Nós o assistimos” ou “Nós assistimos-lhe”.
Passando-se ao verbo agradar, ele também tem duas predicações, cada qual com um sentido determinado. Eu posso
agradar com sentido de fazer agrado (transitivo direto) ou com sentido de ser agradável (transitivo indireto).
Quando se faz um agrado, a pretensão é receber algo em troca. Exemplo: O pai agradou o menino. Aqui o pai agradou
seu filho provavelmente para ele não chiar ou porque fez algo bom. Assim, o verbo assume transitividade direto, e é
possível formular a frase em seu aspecto de voz passiva: “o menino foi agradado pelo pai”.
Quando se é agradável, não há o intuito de receber nada em troca. Exemplo: A minha fala agradou ao público. Aqui o
público gostou do que a pessoa disse, mas seu discurso não tinha nenhuma intenção por detrás.
Atenção! “O chefe agradou a secretária” X “O chefe agradou à secretária”: quando temos a versão sem crase, estamos
diante de assédio moral, porque o verbo assume o papel de transitivo direto, significando agradar com sentido de
obter algo em troca.
Outra palavra que tem regência especial é aspirar.
Se significar “sorver o ar” ou “inspirar”, é verbo transitivo direto.
Exemplo: Ele aspirou o aroma da flor.
Se significar “desejar” ou “almejar”, é verbo transitivo indireto.
Exemplo: Ele aspirou ao sucesso do empreendimento.
Avisar, certificar, cientificar, comunicar, informar e prevenir (a maior parte com ideia de comunicação) são verbos
transitivos diretos e indiretos. Portanto, podem ser objeto direto ou indireto a pessoa ou a coisa. Segundo o professor,
o correto a se fazer, nesses casos, é optar pelas construções que não gerem ambiguidades.
Exemplo: Cientificaram a moça do concurso X Certificaram o concurso à moça. Na primeira, não dá para saber se a
moça é do concurso ou se ela foi cientificada sobre o concurso. Portanto, o segundo caso seria melhor, a fim de evitar
ambiguidade.
Apesar de falarmos errado informalmente, o verbo “implicar” sempre será um verbo transitivo direto. Quem implica,
implica algo – não havendo preposição. Assim, a construção “Isso implicou na existência de aranhas” está errada.
Morar, residir e situar-se são verbos intransitivos, que demandam preposição “em”, e não a preposição “a”, apesar de
muitos errarem sobre esse emprego. Assim, o correto é “Ela mora na avenida Copacabana”, “Residimos na Rua
Siqueira Campos”, “O curso situa-se na rua Siqueira Campos”.
Obedecer são sempre verbos transitivos indiretos. Obedecer a alguém. Portanto, preposição “a”. Não admite-se
construção em voz passiva. Exemplo: Obedeci ao chamado.
Pagar e perdoar, em relação à coisa, são verbos transitivos diretos. Nesse caso, portanto, não possuirão preposição.
Exemplo¹: Ele pagou a mensalidade. Ele pagou-a.
Exemplo²: Perdoamos os pecados. Perdoamo-los.
Por serem verbos transitivos diretos, é possível voz passiva. Exemplo: A mensalidade foi paga.
No entanto, serão verbos transitivos indiretos quando em relação à pessoa, com preposição “a”.
Exemplo¹: Ele pagou ao José. Ele lhe pagou.
Exemplo²: Perdoei ao rapaz. Perdoei-lhe.
Por serem transitivos indiretos, não é possível a voz passiva. Exemplos vedados: “José foi pago por ele” ou o “rapaz foi
perdoado”.
Ainda, quando tais verbos tiverem dois complementos, assumirão a postura de verbo transitivo direto e indireto. O
direto sempre será a coisa e o indireto, a pessoa. Assim, uma frase correta seria “perdoei as dívidas ao rapaz”.
Existem algumas regências inventadas no Brasil por má tradução dos intérpretes da língua.
Exemplo: Agradecer em inglês é “thank for”. Quando isso foi adaptado, o intérprete achou que seria “agradeço por”.
No entanto, o correto é agradecer algo a alguém e, portanto: “Eu agradeci o presente aos amigos. “Eu agradeci a vinda
aos convidados.
Atenção! Os verbos transitivos diretos ou indiretos seguem a regra do nome. Desse modo, os transitivos diretos
sempre virão antes dos indiretos. Não seria correto, portanto, dizer “Eu agradeci aos amigos o presente”.
Preferir é sempre verbo transitivo direto e indireto, e demanda a preposição “a”. Prefere-se uma coisa a outra.
Exemplo: Prefiro o inglês ao alemão.
Exemplo²: Prefiro massa a carne.
Proceder pode ter dois sentidos:
Se for no sentido de “dar andamento”, será verbo transitivo indireto.
Exemplo: Procedeu à realização do sorteio.
Se for no sentido de “ter origem”, será verbo transitivo indireto.
Exemplo: A palavra procede do árabe,
Portanto, jamais será possível fazer voz passiva com esse verbo.
“Querer” também é verbo que pode ter dois sentidos:
Se tiver o sentido de desejar, será verbo transitivo direto.
Exemplo: Ele queria muito o cargo.
Se tiver o sentido de “querer bem”, será verbo transitivo indireto.
Exemplo²: Ele queria muito à amiga.
Como é possível inferir, é a presença da crase que determina o sentido da frase.
Responder também pode ter dois sentidos:
Será transitivo direto, em relação ao que respondeu.
Exemplo: Ele respondeu que sim.
Será verbo transitivo indireto, em relação ao que dá resposta.
Exemplo: Ele respondeu à carta
Exemplo²: Respondemos às suas solicitações.
Visar:
Será transitivo direto, quando o sentido for “mirar” ou “pôr visto”.
Exemplo: Ele visou o alvo certeiramente.
Exemplo²: O gerente visou o documento.
Será transitivo indireto, com o sentido de desejar.
Exemplo: visamos ao bem da sociedade.
Por ser intransitivo, pode-se fazer sujeito indeterminado, mas nunca voz passiva. Exemplo: Visou-se ao bem da
sociedade.
Com estruturas nominais, preposição é obrigatória. No entanto, com estruturas verbais a preposição é facultativa.
Portanto, uma frase com objeto indireto oracional pode vir sem preposição. Ou seja, se o objeto indireto for a oração,
a preposição será opcional.
II. Crase:
Crase é uma palavra que vem do grego e significa fusão. Aqui se tem duas vogais iguais. Gramaticalmente, um “a” será
preposição e outro, regência.
O primeiro é sempre a preposição. O segundo pode ser:
a) Artigo definido (a/as):
Aplica-se a regra do “em”. Formula-se uma frase qualquer a se verificar se o lugar tem ou não pronome. Se você diz
“Estou na Bahia”, então é vou à Bahia. Diferentemente, se você diz “Volto de Curitiba”, então é vou a Curitiba.
OBS. Se você adiciona uma palavra especificadora, a formulação passará a ser sempre com crase. Veja-se: “Vou à
progressiva Curitiba” (= volto da progressiva Curitiba).
2- Vou à terra ou a terra:
O circo é o maior espetáculo da terra. Se significar mundo, é com letra minúscula. Se significar o maior dentre as
galáxias, é com letra maiúscula.
Exemplo: Vou à Terra dos meu avós.
Obs. entrando algum especificador, ela ganhará sempre crase.
3- Vou a casa ou à casa:
Em regra, quando refere-se a sua casa, não temos artigo. No entanto, quando tivermos a ideia de outra coisa, teremos
artigo e possível formação de crase.
4- Vou a ou à minha casa:
Quando temos um pronome possessivo, ele admite ou não a preposição. Assim, a escolha de crase será opcional,
facultativa.
OBS. Se colocarmos o artigo no plural, haverá crase
5- Ele se referiu à Claudia ou a Claudia
Nesse caso, o uso da crase é uma situação facultativa. No entanto, se a gente coloca a crase, entende-se que temos
uma maior relação de proximidade com a pessoa. Por outro lado, quando não se usa o acento é porque está-se diante
de alguém com quem não se tem muita intimidade.
Personalidades históricas, dado o distanciamento, são sempre referidas sem artigo.
Esse fenômeno foi ocultado em Niterói.
6- Ele escreve a Jorge Amado ou à Jorge Amado.
Se o sentido for “à moda de”, “ao estilo de”, “à maneira de”, haverá crase. Diferentemente, se ele está escrevendo
“para Jorge Amado”, não haverá acento de crase.
Obs. “Frango a passarinho” não subentende a expressão à moda de e, portanto, não há crase. Da mesma forma, “bife
a cavalo” não tem crase.
7- Vendeu a ou à vista:
Quando se compra a prazo, não há crase, porque prazo é palavra masculina. No entanto, como a construção frasal
não fica com “ao”, muitos poderiam crer que seria “compra a vista”, isto é, sem crase. No entanto, o macete do
masculino aqui não funciona em virtude da necessidade de coibir a ambiguidade. Falando-se “comprar a vista”,
poderia o receptor entender que a pessoa comprou a visão de outrem. Portanto, nessa situação, a crase será exigida,
ficando “comprar à vista”.
8- Crase nas locuções:
Existem várias locuções, sempre femininas, que quando começam com “a”, colocaremos crase.
Algumas considerações:
- Nas locuções adverbiais que indicam lugar, tempo, modo ou instrumento, sempre haverá crase
9- Com horas: