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Capítulo V

Da apropriação indébita
Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Aumento de pena

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:

I - em depósito necessário;

II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,


testamenteiro ou depositário judicial;

III - em razão de ofício, emprego ou profissão.


Artigos complementares
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.

Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode


substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.
Artigos complementares
Reincidência

Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de


transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 64 - Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da


pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos,
computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer
revogação; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.(Redação dada pela Lei nº


7.209, de 11.7.1984)
Bem jurídico tutelado
● Inviolabilidade do patrimônio
● "A transferência da coisa deve ser feita a título precário, com a obrigação de
restituí-la ou de fazer dela uso determinado, por isso que a apropriação
indébita é uma ofensa ao direito de propriedade e não ao direito de posse."
Galdino Siqueira, Direito Penal brasileiro; Parte Especial, 1924, p. 723.
● Os direitos reais de garantia, como o penhor, também estão protegidos
penalmente.
● A posse não é tutelada.
Bem jurídico tutelado
● "...quando as coisas fungíveis são entregues, não para guardar, mas para
serem transmitidas a terceiro, ou para outro fim determinado pelo dominus [...]
são suscetíveis de apropriação indébita."
Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, cit. v. 7, p.134.
Sujeitos do crime
● Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa que tenha a posse ou a detenção
legítima de coisa alheia móvel.
● Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou jurídica, titular do direito patrimonial
atingido pela ação tipificada; em regra é o proprietário, e, excepcionalmente o
mero possuidor, quando a posse direta decorra de direito real de garantia.
Pressuposto da apropriação indébita
● Anterior posse lícita da coisa alheia, da qual o agente se apropria
indevidamente. A posse deve preexistir ao crime.
● A tradição da coisa deve ser voluntária, livre e consciente.
● A posse não pode estar viciada por violência, fraude ou erro, pois trataria-se
de posse ilícita - inadequação típica.
Tipo objetivo: adequação típica
● Apropriar-se é tomar para si, passando a agir como se dono fosse da coisa
alheia de que tem posse ou detenção.
● O dolo é subsequente à posse da coisa.
● Se o sujeito ativo age de má fé, mantendo em erro a vítima, que entrega a
coisa ludibriada, pratica o crime de estelionato.
Tipo subjetivo: adequação típica
● Dolo: constituído pela livre e consciente de apropriar-se de coisa alheia móvel
de que tem a posse em nome de outrem, ou, em outros termos, a vontade
definitiva de não restituir a coisa alheia ou desviá-la de sua finalidade.
Consumação e tentativa
● A consumação da apropriação indébita coincide com o momento em que o
agente, por ato voluntário e consciente, inverte o título da posse exercida
sobre a coisa, passando a dela dispor como se proprietário fosse.
● O animus rem sibi habendi precisa ficar demonstrado à saciedade. Se o
agente não manifesta a intenção de ficar com a res, o dolo da apropriação
indébita não se aperfeiçoa.
● Consuma-se, enfim, com a inversão da natureza da posse, caracterizada por
ato demonstrativo de disposição da coisa alheia ou pela negativa em
devolvê-la.
Consumação e tentativa
Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição


legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias


alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Consumação e tentativa
● Possível tentativa
Classificação doutrinária
● Crime comum (divergência doutrinária)
● Material (exige resultado naturalístico representado pela diminuição do
patrimônio da vítima)
● Comissivo ou omissivo
● Doloso
● De forma livre
● Instantâneo
● Unissubjetivo
● Plurissubsistente
Formas majoradas de
apropriação indébita
Causas de aumento de pena (majorantes) no Parágrafo primeiro do
art. 168
Coisa recebida em depósito necessário
Código Civil
Art. 647 É depósito necessário:
I - o que se faz em desempenho de obrigação legal;
II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a
inundação, o naufrágio ou o saque.

● Inciso I - depósito legal, quando decorre de expressa previsão normativa.


Inciso II - depósito miserável
Coisa recebida em depósito necessário
● O depósito necessário disciplinado no inciso I do parágrafo primeiro do art. 168 é apenas
aquele conhecido como miserável. Está excluído o depósito legal, podendo configurar
peculato (quando se tratar de funcionário público) ou outro crime, que pode até ser a
apropriação indébita majorada por outro fundamento (e não pelo depósito necessário).

Peculato

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do


dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Coisa recebida em depósito necessário
● Fundamento da majorante: vulnerabilidade do sujeito passivo, que ficou à
mercê do depositário.
Qualidade pessoal do agente: tutor, curador,
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial.
● Rol taxativo
● Fundamento da majorante: o sujeito ativo viola também deveres inerentes ao
cargo ou função que desempenha. Gera uma expectativa de segurança e
seriedade.
● Tutor: aquele que tem o dever de orientar, reger e educar menor não sujeito
ao "poder familiar". ( judicialmente constituídos)
● Curador: quem exerce as mesmas funções do tutor, mas em relação a pessoas
maiores declaradas incapazes. ( judicialmente constituídos)
Qualidade pessoal do agente: tutor, curador,
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial.

● Síndico: Denominação que era dada ao encarregado da administração da


falência de acordo com a antiga Lei das Falências. Atualmente, a Lei das
Falências prevê que o administrador judicial é quem exerce essa função. (NÃO
ABRANGE)
● Liquidatário: pessoa escolhida pelos credores de terceiro para administrar
bens do devedor até o final do rateio ou pagamento. Código das sociedades
comerciais, art. 51.
Qualidade pessoal do agente: tutor, curador,
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial.

● Inventariante: administra o espólio até o final do julgamento da partilha.


● Testamenteiro: incumbido de promover o cumprimento das disposições de
última vontade do de cujus.
● Depositário judicial: funcionário encarregado de receber em depósito a
guarda de móveis, jóias, títulos de crédito, etc. Se for funcionário público
responderá por peculato.
Em razão de ofício, emprego ou profissão.
● Fundamento da majorante: o sujeito ativo viola deveres inerentes de sua
qualidade profissional-funcional. Ação criminal facilitada decorrente de sua
profissão.
Elementares do crime
● Precedente, posse ou detenção
● Coisa alheia móvel
● Apropriação
● Dolo
Pena e ação penal
● A ação penal é pública incondicionada, salvo nas hipóteses do art. 182,
quando será condicionada à representação.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste
título é cometido em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
● Haverá isenção de pena se for praticado contra ascendente, descendente ou
cônjuge (na constância da sociedade conjugal).
Algumas considerações e jurisprudência
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur182056/false

● Não se pode confundir apropriação indébita com inadimplemento contratual.

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