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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

CURSO DE DIREITO

 CAMPUS MORRINHOS

TRABALHO AVALIATIVO PARA O SEGUNDO BIMESTRE DE 2022-1

“Interditos Possessórios”

ALUNOS:

DYOGLAS RIBEIRO DOS SANTOS

JOSÉ MAURO DA SILVA BORGES

MICHEL FERNANDES RIBEIRO

PROFESSORA

DENISE PINELI CHAVEIRO

MORRINHOS
2022
Introdução

Interditos Possessórios (Ações Possessórias) são ações que objetivam proteger a posse
de agressões ou ameaças injustas. No presente trabalho realizaremos a apresentação das
principais características destas ações, além de detalhar as hipóteses de cabimento, seus
fundamentos materiais, processuais e os procedimentos a serem adotados no curso processual.
O presente trabalho é composto por seis seções, sendo a primeira a presente
introdução. Na sequência abordaremos os fundamentos materiais e processuais das ações
possessórias. Na terceira seção serão apresentadas as características especiais. Na quarta seção
apresentaremos os procedimentos processuais. Por fim, apresentaremos uma breve conclusão
seguida das referências bibliográficas e dos anexos demandados:

Anexo I – Fluxograma dos Procedimentos em uma Ação Possessória


Anexo II – 10 questões objetivas sobre ações possessórias
Anexo III – Exposição do caso hipotético e Petição Inicial
Ações Possessórias – Fundamentos

Ações Possessórias – também conhecidas como Interditos Possessórios - são ações


que objetivam proteger a posse, tendo nesta seu fundamento: quem tiver a melhor posse, tem
o direito de ser mantido nela, independentemente de ser o proprietário do bem. Tal
diferenciação, entre posse e propriedade, é prevista no ordenamento: enquanto o art. 1.196 do
Código Civil prevê que possuidor é “...aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes à propriedade”, o art. 1.210 do mesmo Código estabelece, em
seu §2º, que “Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade
(...)”. Portanto, posse e propriedade são conceitos diferentes e o ordenamento jurídico
brasileiro tutela a ambos, sendo que as Ações Possessórias visam a proteção da posse, e não
da propriedade. Assim, iniciamos destacando que para ser qualificada como possessória a
ação deve estar fundada na posse do autor, a qual foi ou está em vias de ser agredida.

A manutenção ou retomada da posse de um bem pode se dar pela autotutela – prevista


no art. 1.210, §1º, do C.C. - ou por meio da jurisdição, sendo três as formas de ofensas
previstas no caput do art. 1.210 do C.C.: esbulho, turbação e ameaça. Esbulho é um ato de
usurpação que priva a vítima da posse de um bem. Turbação é definido como qualquer ato
contrário à posse de outrem. Por fim, ameaça é a iminente agressão contra a posse. Uma
vítima que teve seu bem tomado, sofreu esbulho. Outra que teve a cerca de sua propriedade
rural retirada e invadida pelo gado do vizinho, passa por turbação. Uma terceira vítima que
frequentemente tem sua chácara assediada por um grande proprietário de terras na região, que
inclusive invadiu as terras vizinhas, pode se ver ameaçada por violência iminente.

Contra as três ofensas à posse - esbulho, turbação e ameaça – são os três interditos
possessórios: reintegração de posse, manutenção de posse (art. 560 do C.P.C.) e interdito
proibitório (art. 567 e 568 do C.P.C.), respectivamente. É importante destacar que, por vezes,
e dada inexatidão dos limites entre elas, as três ofensas se confundem ou mesmo fluem – ex.:
o que era ameaça, se torna esbulho. Prevendo tal ocorrência, o Código de Processo Civil, em
seu art. 554, determina a fungibilidade das três ações possessórias, o que permite ao juiz
conceder forma de proteção diversa daquela postulada, sem que a sentença seja considerada
extra petita (quando o que é dado difere do que foi pedido):
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não
obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. [CPC]

Aqui já somos capazes de responder à questão fundamental inicial: quais são as


hipóteses de cabimento de ação possessória? Como vimos, interditos possessórios são ações
destinadas à manutenção ou retomada da posse ilegalmente destituída. Portanto, caberá ação
possessória quando, no caso concreto, tenha havido esbulho, turbação ou ameaça à posse
exercida pelo autor. Se o autor não demonstrar que exerceu posse sobre a coisa disputada
anteriormente à turbação, esbulho ou que exerce posse ameaçada, não fará jus à proteção
possessória. Portanto, o autor deverá provar que tinha a posse, que esta foi agredida ou
ameaçada e a data em que isso ocorreu.

Há outras categorias de ações para obtenção de posse, mas estas se fundamentam não
na posse. Como exemplo podemos citar:

 Ação de imissão de posse – quando alguém adquire um bem e deseja ingressar na


posse pela primeira vez, mas o alienante não lhe entrega a coisa. Não é ação
possessória, pois o autor nunca teve posse sobre a coisa disputada, fundamentando-se
na propriedade.
 Ação reivindicatória – quando o proprietário deseja reaver a posse da coisa que está
indevidamente com terceiro. Se fundamenta na propriedade do bem e no direito do
proprietário em retomar coisa sua que está indevidamente com terceiro.
 Ação de nunciação de obra nova – objetiva impedir a construção de obras novas em
imóveis vizinhos ou que coproprietário altere coisa comum.
 Embargos de terceiro – permite que terceiro recupere coisa objeto de apreensão
judicial indevida.

Características Especiais

Além da fungibilidade as ações possessórias têm outras características especiais, úteis


para distingui-las das demais ações: a) acumulação de pedidos; b) Natureza dúplice; c)
Impossibilidade de, no curso das possessórias, ser intentada ação de reconhecimento de
domínio; d) Liminar Própria. A seguir faremos uma breve apresentação de cada um destes
elementos;

a) da Cumulação dos Pedidos: O art. 327 do Código de Processo Civil permite, para os
processos em geral, a cumulação de vários pedidos, em um único processo contra o mesmo
réu, desde que os pedidos sejam compatíveis, o juízo seja competente e os procedimentos
sejam os mesmos. No caso das ações possessórias há previsão especial de acumulação de
pedidos no art. 555 do mesmo CPC, permitindo cumular condenação em perdas e danos,
indenização de frutos (quando a posse for de má-fé) e medidas preventivas de modo a evitar
nova turbação ou esbulho (a exemplo de multa cominatória), garantindo ainda o cumprimento
da tutela provisória ou final. Multa cominatória visa prevenir agressão ao direito de posse,
sendo o pedido principal em ações de interdito proibitório (remédio contra ameaça à posse) e
pedido cumulado nos demais casos (esbulho ou turbação).

b) da Natureza Dúplice: O art. 343 do C.P.C. permite ao réu reconvir para manifestar
pretensão própria. No caso das ações possessórias há previsão especial no art. 556 do C.P.C.
permitindo ao réu, na contestação, demandar contra o autor, alegando que este primeiramente
atentou contra sua posse e pedindo proteção possessória e indenização reparatória. Por tal
razão, os Interditos Possessórios têm caráter duplo, permitindo ao réu formular pedidos contra
o autor sem precisar reconvir. A limitação do réu em tal situação é a impossibilidade de pedir
liminar. A reconvenção, porém, pode ser necessária quando o réu desejar formular pedido
alheio aos previstos no art. 556, a exemplo de pedido de rescisão contratual.

c) Impossibilidade de, no curso das possessórias, ser intentada ação de reconhecimento de


domínio – enquanto durar a ação possessória (do ajuizamento ao trânsito em julgado) não se
admite ação de reconhecimento de domínio envolvendo as mesmas partes, sendo que, uma
eventual de domínio nesta situação será extinta sem resolução do mérito;

d) Liminar Própria – como veremos adiante, as ações possessórias de força nova admitem
liminar própria com requisitos específicos que dispensam perigo ou urgência, bastando a
demonstração de que houve esbulho ou turbação há menos de um ano e um dia;
Do Procedimento

Quando a propositura da ação possessória ocorrer em até um ano e um dia do esbulho


ou turbação, seguir-se-á o procedimento especial, também chamado de “ação de força nova”
(art. 558 do C.P.C.). Passado esse prazo, a ação será pelo procedimento comum, também
chamado “ação de força velha”.

É interessante destacar que no caso de tomada de posse por violência ou


clandestinidade, o prazo de ano e dia corre da cessação destas, na forma do art. 1.208 do C.C.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou


tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a
clandestinidade. [Código Civil]

Posse Clandestina é aquela obtida de maneira escondida ou acobertada, em um


momento de ausência do possuidor com relação à coisa. Assim, na forma do art. 1.208 não se
adquire posse por atos clandestinos ou violentos, mas somente a detenção.

Da Tutela Especial

Utilizado para ações possessórias de força nova, o procedimento especial tem na fase
inicial a possibilidade de deferimento de liminar especial que pode ser concedida de plano ou
após a audiência de justificação (art. 562 C.P.C). Como já nos referimos, a tutela especial nas
ações possessórias diferem das tutelas provisórias gerais – art. 297 do C.P.C – vez que aquela
inexige perigo ou urgência, bastando que se demonstre que a posse foi esbulhada ou turbada
dentro do prazo previsto para ação de força nova (art. 558 do C.P.C).

Quanto aos demais procedimentos, aplicar-se-á o procedimento comum, na forma do


art. 566 do C.P.C. Vide fluxograma no Anexo I do presente.
Conclusões
Concluímos assim a apresentação das principais características dos Interditos
Possessórios. Vimos as hipóteses de cabimento, seus fundamentos materiais e processuais
além dos procedimentos a serem adotados no curso processual. Longe de esgotar o tema,
buscamos apresentar as características que diferenciam tais ações das demais, sobretudo em
seu fundamento à priore contra intuitivo: a posse e não a propriedade.

Referências

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Ações Possessórias. In: GONÇALVES, Marcus


Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2016. Cap. 7.
p. 1205-1221. Versão Digital.
Anexo I – Fluxograma dos Interditos Possessórios

Anexo 1: Fonte: https://www.tjpi.jus.br/portaltjpi/wp-content/uploads/2018/03/VCIV-


Fluxogramas-dos-procedimentos-Possess%C3%83%C2%B3ria.pdf
Anexo II – 10 Questões sobre Interditos Possessórios com gabarito em negrito.

Ano: 2022 Banca: Unesc Órgão: Prefeitura de Laguna - SC Prova: Unesc - 2022 - Prefeitura
de Laguna - SC - Procurador Municipal
I- De acordo com a Lei nº 13.105/2015, acerca das ações possessórias, analise as
assertivas e identifique as corretas: I.A propositura de uma ação possessória em vez de
outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. II.O possuidor não tem
direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.
III.É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse,
demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor. É CORRETO o que se afirma em:
A I e III, apenas
B II, apenas.
C III, apenas.
D I, II e III, apenas.
E I, apenas.

Ano: 2022 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: DPE-PA Prova: CESPE / CEBRASPE -
2022 - DPE-PA - Defensor Público
II- De acordo com as regras procedimentais estabelecidas no Código de Processo Civil
para as ações possessórias coletivas de força velha, será obrigatória a
A intimação da Defensoria Pública para participar de audiência de conciliação, seja qual
for a qualidade das partes.
B apresentação de parecer técnico por parte de órgão público responsável pela política
agrária ou urbana do município onde se situe a área do conflito.
C designação de audiência de mediação, no prazo indicado em lei, antes da
apreciação de pedido de concessão de medida liminar.
D citação por oficial de justiça de todos aqueles que figurem no polo passivo, sendo
vedada a citação por edital de qualquer um dos réus.
E presença física do magistrado na área que é objeto do conflito, durante a instrução
processual, sob pena de nulidade do procedimento.

Ano: 2022 Banca: Quadrix Órgão: CRF-GO Prova: Quadrix - 2022 - CRF-GO – Advogado
III- O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação
possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive,
se for o caso, o domínio.
(X)Certo
( )Errado

Ano: 2022 Banca: FGV Órgão: TJ-AP Prova: FGV - 2022 - TJ-AP - Juiz de Direito
Substituto
IV- André, domiciliado em Macapá, ajuizou ação de reintegração de posse de imóvel de
sua propriedade, situado em Laranjal do Jari, em face de Paulo, domiciliado em
Santana. Considerando que a demanda foi intentada perante juízo cível da Comarca de
Macapá, o magistrado, tomando contato com a petição inicial, deve:

A declinar, de ofício, da competência em favor do juízo cível da Comarca de


Laranjal do Jari;
B declinar, de ofício, da competência em favor do juízo cível da Comarca de Santana;
C determinar a citação de Paulo, já reconhecendo que a competência é do juízo cível
da Comarca de Macapá;
D determinar a citação de Paulo e, caso este suscite a incompetência, ordenar a
remessa dos autos ao juízo cível da Comarca de Santana;
E reconhecer a incompetência do juízo cível da Comarca de Macapá e extinguir o
feito, sem resolução do mérito.

Ano: 2021 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público
V- Considere as assertivas I e II a respeito das ações possessórias:
 É lícita a cumulação de pedidos pelo autor com o objetivo de requerer a tutela
possessória cumulada com pedido de condenação do réu em perdas e danos e
indenização dos frutos. PORQUE
 II. Em regra, na pendência de ação possessória, é vedado tanto ao autor quanto
ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, salvo se a pretensão for
deduzida em face de terceira pessoa.
Sobre as asserções acima:
A As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
B A asserção I é uma proposição verdadeira, a II é uma proposição falsa e não é uma
justificativa correta da I.
C As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da
I.
D A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E As asserções I e II são proposições falsas.

Ano: 2021 Banca: FCC Órgão: MANAUSPREV Prova: FCC - 2021 - MANAUSPREV -
Procurador Autárquico
I- João, agindo com violência, invadiu terreno de Bruno, destruindo cercas de divisa para
lá se instalar. Ao saber da invasão, Bruno ajuizou ação de manutenção de posse e
requereu, além da manutenção de posse, a condenação de João em indenização por
danos materiais. Em contestação, João afirmou que, já tendo se apossado do imóvel, a
tutela possessória requerida por Bruno seria incabível, já que este deveria ter postulado
a reintegração de posse, não a manutenção. Ademais, alegou que seria proprietário do
terreno, o que igualmente obstaria o acolhimento de qualquer pretensão possessória de
Bruno. Por fim, requereu, além da improcedência do pedido inicial, a condenação de
Bruno ao pagamento de indenização por danos materiais. Nesta ação,
A o juiz deverá mandar Bruno emendar a petição inicial, e, se a emenda não for
realizada, indeferi-la, por inadequação da via eleita, pois, como já havia ocorrido esbulho,
a ação correta seria a de reintegração, não a de manutenção de posse.
B o pedido indenizatório formulado por Bruno não poderá ser conhecido, pois é
incompatível com o rito das ações possessórias.
C a alegação de propriedade não obstará a reintegração de posse, que pode ser
deferida, se preenchidos seus pressupostos, ainda que a parte haja proposto ação de
manutenção de posse.
D o juiz deverá indeferir a petição inicial, por inadequação da via eleita, pois, como já
havia ocorrido esbulho, a ação correta seria a de reintegração, não a de manutenção de
posse.
E o pedido indenizatório formulado por João não poderá ser conhecido, pois deveria,
necessariamente, ter sido objeto de reconvenção.

Ano: 2018 Banca: FAUEL Órgão: Prefeitura de São José dos Pinhais - PR Prova: FAUEL -
2018 - Prefeitura de São José dos Pinhais - PR – Advogado
II- Assinale a alternativa INCORRETA, a respeito das ações possessórias.
A No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de
pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e
a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério
Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da
Defensoria Pública.
B No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação
afirmado na petição inicial houver ocorrido há menos de ano e dia, o juiz, antes
de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência
de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias.
C O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse
poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante
mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso
transgrida o preceito.
D Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou
reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência,
responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para
requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa,
ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente.
E É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de condenação em perdas e danos.

Ano: 2021 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: MPE-AP Prova: CESPE / CEBRASPE -
2021 - MPE-AP - Promotor de Justiça Substituto
III- Luciano propôs uma ação judicial em desfavor de Pedro, para a defesa da posse de um
imóvel localizado na cidade de São Paulo. Em contestação, o requerido apresentou a
preliminar de ilegitimidade ativa, alegando que o autor não é proprietário do bem
imóvel objeto da lide, mas tão somente inquilino. Tendo como referência a situação
hipotética precedente, as disposições do CPC e o entendimento dos tribunais
superiores, assinale a opção correta, acerca das condições da ação e das regras que
regulamentam a ação possessória.
A O CPC adota expressamente a teoria da asserção, segundo a qual a análise das
condições da ação é feita pelo juiz com base nas alegações apresentadas na petição
inicial.
B Na qualidade de inquilino, Luciano não tem legitimidade para promover a referida
demanda.
C Nessa espécie de ação, a participação de cônjuge do autor ou do réu é sempre
indispensável.
D Na pendência da ação possessória proposta por Luciano, nem ele, nem Pedro
podem formular nova ação de reconhecimento de domínio, salvo em desfavor de
terceira pessoa.
E Não é lícita ao autor a cumulação de pedido possessório com condenação em perdas
e danos e indenização aos frutos, devido à natureza especial do procedimento.

Ano: 2021 Banca: FCC Órgão: DPE-BA Prova: FCC - 2021 - DPE-BA - Defensor (A)
Público (A)
IV- Sobre a ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas,
A a intervenção da Defensoria Pública como custos vulnerabilis representa os interesses
dos ocupantes citados por edital.
B a citação pessoal dos ocupantes poderá ser realizada na pessoa do representante ou líder
comunitário local.
C de acordo com o Código de Processo Civil, deve o oficial de justiça realizar a tentativa
de citação pessoal dos ocupantes por duas vezes, de modo que os não encontrados no local
serão citados por edital.
D quando o esbulho afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e
dia, antes da apreciação do pedido liminar, o juiz deverá designar audiência de
mediação para tentativa de solução pacífica do conflito.
E nas hipóteses em que não for autor da demanda, a intervenção do Ministério Público é
dispensável por envolver direitos disponíveis.

Ano: 2021 Banca: FCC Órgão: DPE-BA Prova: FCC - 2021 - DPE-BA - Defensor (A)
Público (A)
V- No litoral baiano, uma comunidade quilombola é citada de uma ação proposta pelo
Estado da Bahia com a finalidade de obter a reintegração de posse da área ocupada por
tal comunidade. Alega que se trata de uma área pública estadual, como reconhecido no
próprio título de registro da área, razão pela qual busca a tutela judicial, para o fim de
retirar os ocupantes de referida área. Essa ação
A deverá ser julgada improcedente, com a determinação para que o ente público proceda à
desapropriação do imóvel e emita a concessão real de uso, uma vez que o Estado não teria
competência para a concessão da titulação dominial, matéria reservada à apreciação
judicial.
B se fundamenta, em verdade, na alegação de domínio, o que constitui indevida
introdução de elemento petitório em demanda possessória, além de violar o direito
constitucional à propriedade das áreas ocupadas por quilombolas, pois competiria ao
próprio autor emitir referido título de domínio.
C será o meio idôneo para reconhecer a aquisição da propriedade da comunidade
quilombola por meio da usucapião, caso se provem presentes os requisitos para tal forma
de aquisição da propriedade.
D é uma típica ação possessória, em que se mostra irrelevante a discussão sobre a
propriedade do imóvel, de modo que a alegação de propriedade por parte da comunidade
quilombola não trará qualquer repercussão para o julgamento do mérito da demanda.
E deverá ser julgada procedente, para o fim de conceder à autora a reintegração de posse,
pois a lei veda expressamente a usucapião de bens públicos.
GABARITO:

I) A VI) C

II) C VII) B

III) Certo VIII) D

IV) A IX) D

V) A X) B
Anexo III – Exposição do caso hipotético e Petição Inicial

Caso Hipotético

BRUNO SANTOS, solteiro, residente em São Paulo -SP, é proprietário de um sítio


denominado “Sítio São José” localizado em Santos – SP, herdado de seu pai, EDUARDO
SANTOS, falecido há 3 (três) meses. Há 1 (um) mês, após finalizar o inventário dos bens do
pai e regularizar a transmissão da propriedade do sítio para seu nome, BRUNO SANTOS teve
a sua entrada no imóvel proibida por JORGE MENEZES E TEREZA ALMEIDA, cônjuges,
caseiros contratados por EDUARDO SANTOS há cerca de 3 (três) anos.
PROCURAÇÃO Ad Judicia Et Extra

OUTORGANTE: BRUNO SANTOS, brasileiro, casado, inscrito no CPF nº 000.000.000-01,


portador do RG n° 1111111-SSP/SC residente e domiciliado na rua 14, n° 625, setor Jardim
América, São Paulo -SP, CEP: 01153-000;

OUTORGADOS:

Dr. Dyoglas Ribeiro dos Santos, brasileiro, casado, Advogado, inscrito na OAB/SP sob o nº
021.592, endereço eletrônico dyoglas@advocaciaefetiva.com, com escritório profissional à
Avenida Senador Hermenegildo de Morais, nº650, São Paulo -SP, CEP: 01153-000

Dr. José Mauro da Silva Borges, brasileiro, Advogado inscrito na OAB/SP sob o nº
021.590, endereço eletrônico josemauro@advocaciaefetiva.com, com escritório profissional à
Avenida Senador Hermenegildo de Morais, nº650, São Paulo -SP, CEP: 01153-000

Dr. Michel Fernandes, brasileiro, casado, Advogado, inscrito na OAB/SP sob o nº 021.591,
endereço eletrônico michelfernandes@advocaciaefetiva.com, com escritório profissional à
Avenida Senador Hermenegildo de Morais, nº650, São Paulo -SP, CEP: 01153-000

PODERES GERAIS: o outorgante confere aos outorgados amplos poderes para o foro em
geral, com a cláusula ad judicia et extra, em qualquer Juízo, Instância ou Tribunal, podendo
propor contra quem de direito (vide cláusula restritiva abaixo) as ações competentes e
defender nas contrárias, seguindo umas e outras, até decisão final, usando os recursos legais
que se fizerem necessários e/ou oportunos. Conferindo-lhe, ainda, poderes especiais para
confessar, desistir, transigir, firmar compromissos ou acordos, receber e dar quitação, agindo
em conjunto ou separadamente, podendo ainda substabelecer está em outrem, com ou sem
reservas de iguais poderes, dando tudo por bom, firme e valioso. Especialmente para: propor
ação de reintegração possessória e reparatória em face do sr. JORGE MENEZES, brasileiro,
casado, caseiro, inscrito no CPF nº 000.000.000-02, portador do RG n° 2222222-SSP/SC, e
TEREZA ALMEIDA, brasileira, casada, caseira, inscrito no CPF nº 000.000.000-03, portador
do RG n° 3333333-SSP/SC, residentes e domiciliados no Sítio São José situado na região do
Corrião, Rio da Onça, Santos – SP

São Paulo, SP, 15 de junho de 2022._____________________________

Bruno Santos
CPF 000.000.000-01
AO MERITÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 25° VARA CÍVEL DA COMARCA DE
SANTOS ESTADO DE SÃO PAULO

BRUNO SANTOS, brasileiro, casado, inscrito no CPF nº 000.000.000-01, portador do


RG n° 1111111-SSP/SC residente e domiciliado na rua 14, n° 625, setor Jardim América, São
Paulo -SP, CEP: 01153-000, por seu procurador devidamente constituído, com endereço
profissional na Avenida Senador Hermenegildo de Morais, nº650, São Paulo -SP, CEP:
01153-000, onde recebe notificações e intimações, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, com fundamentos nos art. 319 e 554 a 566 do Código de Processo Civil, assim
como nos arts. 1.196 e 1.210 do Código Civil, propor a seguinte:

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE em face de ambos os cônjuges;


compondo, assim, litisconsórcio passivo, com substrato no paragrafo 2° do art. 73 e no inciso
I do art. 113, todos do Código de Processo Civil, JORGE MENEZES, brasileiro, casado,
caseiro, inscrito no CPF nº 000.000.000-02, portador do RG n° 2222222-SSP/SC, e TEREZA
ALMEIDA, brasileira, casada, caseira, inscrito no CPF nº 000.000.000-03, portador do RG n°
3333333-SSP/SC, residentes e domiciliados no Sítio São José situado na região do Corrião,
Rio da Onça, Santos – SP, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

 DOS MOTIVOS DE FATO

O autor, BRUNO SANTOS, enquanto herdeiro de EDUARDO SANTOS, seu genitor,


falecido há 3 (três) meses, como corrobora a certidão de óbito e, também, a certidão da
matricula do imóvel, documentos em anexo, é legítimo proprietário e possuidor do sítio no
valor aproximado de R$ 1.200.000,00 (um Milhão Duzentos Mil Reais), situado na região do
Corrião, Rio da Onça, Santos - SP, objeto da presente ação possessória.

Depois de encerrar o inventário dos bens patrimoniais deixados pelo seu ascendente e,
seguidamente, regularizar a transmissão da propriedade de imóvel para o seu nome, há 1 (um)
mês, em 10 de abril de 2022, numa visita, malgrado seja o autêntico dono, BRUNO SANTOS
foi impedido de entrar no sítio pelos réus, na qualidade de detentores (fâmulos da posse), uma
vez conservarem a posse em nome de EDUARDO SANTOS (e, agora, em nome de seu filho)
e em cumprimento às suas ordens e instruções, JORGE MENEZES E TEREZA ALMEIDA,
contratados a fim de que desempenhassem as funções de caseiro, há, aproximadamente, 3
(três) anos pelo falecido.

 DOS MOTIVOS DE DIREITO

À priori, e como requisito fundamental para ação possessória, cumpre registrar que, na
forma dos artigos 1.206 e 1.207 do C.C. o autor herdou e deu continuidade à posse que era de
seu pai, tendo legitimidade para defendê-la.

Como o autor, BRUNO SANTOS, com apoio no art. 1.196 do Código Civil (que,
nitidamente, adota a teoria objetiva de Rudolf Von Ihering), é possuidor do imóvel por ter “de
fato o exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade”, tem ele o direito de propor as
ações possessórias (ou interditos possessórios), diante da pratica de qualquer das 3 (três)
ofensas (em diferentes graus de gravidade) à posse, quais sejam, ESBULHO, TURBAÇÃO
OU AMEAÇA. Assim sendo, “in casu”, o art. 1.210 do referido diploma legal (“completado”
pelo art. 560 do Código de Processo Civil, que regula o exercício do direito em voga) garante
ao autor, BRUNO SANTOS, em face do ilícito possessório de esbulho praticado pelos réus,
JORGE MENEZES E TEREZA ALMEIDA, a restituição da posse do imóvel acerca do qual
se funda a demanda.

Nesse sentido, é de todo oportuno transcrever o entendimento do renomado


doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, que preleciona:

“ o esbulho consiste no ato pela qual o possuidor se vê privado da posse


mediante VIOLÊNCIA, CLANDESTINIDADE ou ABUSO DE
CONFIANÇA. Acarreta pois, a perda da posse.
Segundo MANUEL RODRIGUES, “há esbulho sempre que alguém for
privado do exercício da retenção ou fruição do objeto possuído, ou da
possibilidade de o continuar”.
Quer a perda resulte de VIOLÊNCIA, quer de qualquer outro vício, como a
CLANDESTINIDADE ou a PRECARIEDADE, cabe ao possuidor a ação de
reintegração de posse, a fim de ser restituído na posse da coisa (CC, art.
1.210).
Corresponde tal ação ao interdito ‘unde vi’ ou ‘recuperandae possessionis’, do
direito romano.” (Direito civil brasileiro, volume 5: direito das coisas. 13.ed
SÃO PAULO: Saraiva, Educação, 2018).

 DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO

É importante asseverar que o autor, BRUNO SANTOS, com fundamentos no


que determina o parágrafo 2° do art. 47 do Código de Processo Civil, propõe a
presente demanda “no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência
absoluta”, considerando que o imóvel “sub judice” se encontra situado na região do
corrião, Rio da onça, Santos – SP.

 DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS


Por todo o exposto, o autor pede, respeitosamente, a Vossa Excelência que:
1) Conceda, sem ouvir os réus, JORGE MENEZES E TEREZA ALMEIDA, liminar “re-
cuperandae possessionis”, expedindo, assim, mandado “In limine” de reintegração de
posse do imóvel litigioso situado na região do corrião, Rio da onça, Santos – SP, em
seu favor, restituindo-lhe o poder material (ora perdido) sobre o sítio.
2) Considere, caso Vossa Excelência repute necessária a audiência de justificação, nos
termos da 2º (segunda) parte do at. 562 do Código de Processo Civil, suficiente, espe-
dindo, como consequência, mandado de reintegração de posse em desfavor dos réus,
JORGE MENEZES E TEREZA ALMEIDA.
3) Condene, ao final, os réus, JORGE MENEZES E TEREZA ALMEIDA, à reintegra-
ção definitiva do bem imóvel, julgando totalmente procedente a presente ação posses-
sória.
4) Condene os réus, JORGE MENEZES E TEREZA ALMEIDA, ao pagamento dos va-
lores decorrentes da sucumbência, quais sejam, as despesas processuais e os honorá-
rios advocatícios previstos, respectivamente, no parágrafo 2° do art. 82 e no “caput” e
parágrafo 2º do art. 85, todos do Código de Processo Civil.
Ante o exposto, o autor requer a Vossa Excelência que:

5) Realize, por oficial de justiça, a citação de ambos os réus, JORGE MENEZES E TE-
REZA ALMEIDA, para que, querendo, apresentem a sua defesa, no prazo de 15
(quinze) dias, com base no at. 364 do Código de Processo Civil, sob pena de revelia
quanto à matéria de ato.
6) Designe a audiência de conciliação ou de mediação, com base no art. 334 do Código
de Processo Civil.
Protesta o autor provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
notadamente depoimento pessoal das partes, oitiva de testemunhas e juntada posterior de
documentos, os quais ficam desde já, requeridos.

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.200.000,00 (um Milhão Duzentos Mil Reais),


correspondendo ao valor do imóvel, para todos os efeitos legais.

Termos em que pede deferimento.

São Paulo, SP, 15 de Junho de 2022

Dr. José Mauro da Silva Dr. Michel Fernandes Dr. Dyoglas Ribeiro dos
Borges Ribeiro Santos
OAB-SP Nº 021.590 OAB-SP Nº 021.591 OAB-SP Nº 021.592

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