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Descrição
Propósito
Compreender as ações possessórias e alguns efeitos nodais da posse, pertinentes à indenização por
benfeitorias e ao direito de retenção, bem como as formas de contenção das perturbações patrimoniais
decorrentes do direito de vizinhança e as hipóteses de lesão à propriedade vizinha, permitirá que o operador
do direito utilize os meios adequados para proteger o direito fundamental à propriedade.
Preparação
Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos o seu vade mecum, especialmente o Código Civil (Lei 10.406,
de 10 de janeiro de 2002).
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31/05/2023, 14:03 Ações possessórias e proteção da posse por outros meios
Objetivos
Módulo 1
Ações possessórias
Módulo 2
Módulo 3
Introdução
O conceito de possuidor é extraído do art. 1.196 do Código Civil (CC), que dispõe que “considera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade”.
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Desse modo, conclui-se que a posse, em si mesma considerada, deve ser vista como fato; mas,
analisada em seus efeitos, configura-se em direito, porquanto dela resultam prerrogativas para o
possuidor, dentre elas os interditos possessórios, que independem de título dominial.
Veja que, para ser possuidor, basta que haja o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade. Tais prerrogativas dominiais constam do art. 1.228 do CC, segundo o qual “o
proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha”.
Então, se a posse nasce como uma situação de fato de gozo, uso ou disposição, significa que
independe de qualquer direito prévio que a legitime.
É exatamente por esse motivo que se diz que mesmo o ladrão, desprovido de qualquer título, pode
valer-se de ações possessórias para defender a sua posse das agressões de terceiros. Nesse passo,
igualmente, se um sujeito, por circunstâncias da vida, adentra determinado terreno, sabendo que não
lhe pertence, e monta sua casa ali, a princípio, não tem direito nenhum, mas, a partir do momento que
passa a exercer atos inerentes ao domínio, nasce para ele um direito possessório que será protegido
pelo ordenamento jurídico.
Note que, se a proteção da posse se mostra viável sem que esteja fundada em outro direito, isso
demonstra o caráter autônomo da posse. É óbvio que muitas vezes nasce de um título, como no caso
do locatário que tem a posse advinda do contrato de locação. Mas pode ser que não haja direito
fundante algum e mesmo assim tenha a posse tutelada.
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1 - Ações possessórias
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de listar os principais meios processuais para a
tutela da posse.
Noções introdutórias
A posse se traduz em situação fática que o ordenamento jurídico protege como direito subjetivo autônomo
em relação à propriedade, de modo que a ela se reconhecem diversas consequências jurídicas próprias.
A maior parte da doutrina indica como um dos principais efeitos da posse o direito aos interditos
possessórios, isto é, à tutela da posse, chamada proteção interdital, abrangendo as ações possessórias e a
permissão de autotutela para a defesa do direito (desforço pessoal – §1º, a seguir transcrito), de que se
podem valer qualquer possuidor, independentemente do caráter da posse.
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Os interditos possessórios consistem, essencialmente, em meios processuais que o possuidor pode utilizar
para a defesa de sua posse. Nessas ações de juízo possessório, distintas do juízo petitório, discute-se
apenas posse, e não a titularidade dominial, razão pela qual se justifica o §2º.
Com efeito, é preciso diferenciar, no ponto, o juízo possessório (ius possessionis) e o juízo petitório (ius
possidendi). Em ações possessórias, está-se no âmbito do juízo possessório, em que se disputa apenas o
ius possessionis, nada havendo se falar sobre o título jurídico que possa ter originado aquela posse. Isso
porque eventual debate sobre título jurídico diz respeito ao ius possidendi, de juízo petitório (ação
reivindicatória).
No cerne das ações possessórias haverá a determinação sobre qual sujeito detém a
melhor posse, havendo a chamada vedação à exceção de domínio no bojo de tais
demandas.
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No mesmo passo, na forma da legislação processual, enquanto pendente a ação possessória, qualquer das
partes litigantes, seja autor ou réu, não poderá propor ação de reconhecimento de titularidade, exceto se a
pretensão for deduzida em face de terceira pessoa ou se o fundamento da posse, para ambos os lados
litigantes, for o domínio.
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Ação de manutenção de posse
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Ação de reintegração de posse
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Interdito proibitório
Basta que haja turbação, esbulho e ameaça da posse, respectivamente, para que seja admitida a defesa da
posse.
Vale logo explanar que todas as mencionadas ações possuem traços comuns, explanados em tópico
próprio.
Observe que na turbação, o indivíduo ainda exerce posse, mas não em sua plenitude como outrora fazia,
pois está sendo atrapalhado por outrem. Verifica-se, nesse sentido, verdadeira dificuldade de praticar os
atos que realizava anteriormente, causada pelo turbador.
Também nomeada moléstia da posse, a turbação não exclui o conteúdo de posse de forma completa.
Ocorre, aqui, tão somente a perturbação do exercício das faculdades inerentes ao domínio. Então, o
possuidor, ao fim e ao cabo, conserva parcial poder de fato sobre a coisa.
Dessa forma, faz-se a demolição de obra, por exemplo, obstativa da plena posse do sujeito, seja em seu
aspecto quantitativo como qualitativo.
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Atenção
Note-se que o esbulho se diferencia da turbação porque nesta há apenas um incômodo, uma moléstia; já no
esbulho ocorre a própria exclusão da situação possessória.
O esbulho é a perda injusta da posse, seja por ato violento, clandestino ou precário, por meio do qual se
despoja o possuidor do exercício de fato de um dos poderes dominiais.
É a situação na qual invadem a casa de determinado sujeito, colocando-o para fora; ou quando
sorrateiramente, durante uma viagem de legítimo possuidor, uma família entra na residência, às escondidas,
passando a se autoproclamar possuidor.
Enfatiza-se que o esbulho também pode ocorrer ante a abuso da confiança, como no caso do comodato em
que finda o prazo de validade sem devolução do bem por parte do comodatário – situação que enseja o
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Comentário
Tal situação do comodato difere-se diametralmente se a hipótese perfectibilizar locação. Isso porque, caso
o locatário, nada obstante instado a desocupar o bem ao término da locação, assim não o faça, deve-se
ajuizar necessariamente ação de despejo, na forma do art. 5º da Lei 8.245/91: “seja qual for o fundamento
do término da locação, a ação do locador para reaver o imóvel é a de despejo”.
Nesses casos, com o interdito, pleiteia-se a tutela contra vindoura turbação ou esbulho mediante
determinação judicial com a fixação de astreinte, possuindo a demanda nítido caráter inibitório, porquanto
objetiva a prevenção do ilícito possessório:
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na
posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente,
mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária
caso transgrida o preceito.
O mero receio não se afigura suficiente para desencadear o interdito proibitório, havendo de se fazer
presente verdadeira ameaça, iminente e grave suficiente, dentro de um parâmetro de futuridade próxima.
Ocorrendo a turbação ou o esbulho durante o curso do interdito, este se converte, conforme o caso, em
manutenção ou reintegração de posse. A título exemplificativo, pense no possuidor notificado a desocupar o
bem no prazo assinalado, sob pena de invasão ou demolição das acessões e benfeitorias realizadas.
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A ação de imissão na posse pode ser intentada pelo sujeito que tem direito à posse, embora jamais a tenha
titularizado diretamente. Isto é, aqui, deve-se apresentar título de propriedade devidamente transcrito no
Registro Geral de Imóveis, fundamentando o direito a efetivar-se na posse especificamente no título
dominial (jus possidendi).
Outra ação de natureza petitória, fundada no título, diz respeito à ação reivindicatória (jus possidendi), para a
situação de o proprietário que já teve posse em outro momento e que, agora, almeja recuperá-la com
fundamento dominial.
Ao passo que a ação de imissão na posse serve para aquele que jamais a teve, a ação reivindicatória
funciona para o proprietário que já foi possuidor anteriormente, ambas fundadas no domínio.
Nesse aspecto, imitir significa tomar posse de um bem que nunca se teve, despojando pretéritos
possuidores, mediante a expedição de mandado de imissão de posse.
Imagine o comprador que pagou todo o preço, mas não recebeu as chaves do seu apartamento, ficando
impossibilitado de iniciar o exercício da posse.
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A legislação processual em vigor, no art. 538, menciona a ação epigrafada, determinando que “não cumprida
a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e
apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel”.
Bens móveis
Bens imóveis
Em outra via processual, a ação de embargos de terceiro também serve para a defesa da posse. Trata-se da
demanda interposta pelo sujeito que não é parte em determinado processo, mas que, mesmo assim, finda
por ter algum bem bloqueado por ordem judicial equivocada, conforme art. 674 do CPC:
quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre
bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo,
poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro.
Exemplo
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Suponha um indivíduo que tem seus bens penhorados em processo movido contra terceiro, sem nenhuma
ligação com a causa. Por meio dessa ação, o proprietário aduz seu domínio, evitando perder a posse do
bem.
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Características gerais das ações possessórias
No vídeo a seguir, o professor Diego Brainer discorre sobre as características gerais das ações
possessórias. Vamos assistir!
Fungibilidade
Admite-se que o juiz tome uma ação por outra, expedindo mandado possessório pertinente e idôneo à
causa apresentada em juízo. Ou seja, nos termos do art. 554 do CPC, “a propositura de uma ação
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possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados”.
Duplicidade
No tocante à natureza dúplice, possibilita-se que, no mesmo processo, o autor se torne réu, revertendo-se os
polos da demanda. Essa é a dicção do art. 556 do CPC, segundo o qual “é lícito ao réu, na contestação,
alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos
prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor”.
Além das considerações anteriores, é fundamental compreender outros aspectos, tais como:
Cumulação de pedidos;
Terceiro adquirente;
Cumulação de pedidos
É possível cumular os pedidos de tutela possessória e de indenização por perdas e danos, facultando-se ao
autor, também, requerer a imposição de medida necessária e adequada para assegurar o efetivo
cumprimento do mandado possessório, bem como para evitar nova turbação ou esbulho (CPC, art. 555).
Posse nova
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Posse velha
Com o passar do tempo, consolida-se a aparência da titularidade em favor do possuidor. Dessa maneira,
dificulta-se a tutela possessória quando houver posse velha. Contudo, segue a possessória de força nova
com procedimento especial – que permite liminar em favor do autor (CPC, art. 558), ao passo que a ação
de força velha, ajuizada após lapso de ano e dia, segue com o procedimento comum.
Terceiro adquirente
Sobre o debate do terceiro adquirente, segundo os termos constantes do art.1.212 do CC, “o possuidor pode
intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo
que o era”.
Quanto ao segundo ponto, porém, parece intuitivo, como uma reprimenda à má-fé daquele que recebeu a
coisa ciente de sua origem ilícita, que apenas o receptor de má-fé seja assim responsabilizado. Nesse
passo, se o terceiro adquirente estiver de boa-fé, deve-se homenagear a teoria da aparência.
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A viabilidade de regularizar a demanda apenas quanto aos réus que foram encontrados e
identificados no local do litígio, admitindo-se a citação por edital dos demais.
Todo esse cuidado do legislador depreende-se da dimensão social de tais litígios coletivos, sobretudo a
envolver o direito social à moradia (CRFB/88, art. 6º), quase sempre adunado ao debate sobre ocupações
coletivas.
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Enfatiza-se requisito qualitativo, sem o qual, em regra, não se verifica possível a possessória. Isso, pois, para
a tutela contra a privação total da posse (esbulho), parcial (turbação) ou pelo simples receio (ameaça), é
imprescindível que a tomada pelo esbulhador/turbador seja, em qualquer caso, injusta.
Exemplo
Se o sujeito não paga as prestações devidas em um negócio jurídico com garantia fiduciária, ressai óbvio
que não pode utilizar ação possessória, uma vez que a perda, in casu, seria justa.
A título excepcional, todavia, mesmo quem tem posse injusta pode manejar tais ações: por exemplo, a
posse do ladrão é injusta em relação à vítima, mas justa quanto ao resto da sociedade – por mais estranho
que possa soar. E isso se deve ao atributo da relatividade dos vícios possessórios.
Nessa mesma perspectiva, ninguém mais pode ajuizar possessória ação contra o ladrão, a não ser a própria
vítima ou alguém legitimamente interessado.
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Questão 1
João Melo propõe ação de manutenção de posse em razão de turbação em área imobiliária de sua
propriedade. Antes mesmo da citação do réu esbulhador, seu vizinho, Antonio Pereira, consuma o
esbulho, invadindo a área que pertence a João Melo. Nesse caso,
o juiz poderá conhecer do pedido como ação reintegratória de posse, sem necessidade
A de ajuizamento de nova ação, outorgando a proteção correspondente, se provados os
fatos, tudo com fundamento no princípio da fungibilidade processual.
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o autor, João Melo, precisará ajuizar nova ação, uma vez que os fundamentos fáticos da
B ação reintegratória de posse são diversos dos da ação de manutenção, vigorando a
respeito o princípio da congruência ou vinculação.
o autor necessitará propor nova demanda porque o pedido é diverso nas duas ações,
C
em respeito ao princípio da congruência ou adstrição.
a ação inicial deverá ser aproveitada, mas o juiz precisará designar audiência de
D justificação, necessariamente, antes da concessão de eventual liminar, vigorando o
princípio da eventualidade.
Questão 2
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O prazo de ano e dia para reintegração de posse pelo rito especial inicia sua contagem,
D
em caso de clandestinidade do ato de violação da posse, da data da ciência do esbulho.
Segue a possessória de força nova com procedimento especial – que permite liminar em favor do autor
(CPC, art. 558), ao passo que a ação de força velha, ajuizada após lapso de ano e dia, segue com o
procedimento comum, contando-se, pois do conhecimento do esbulho clandestino. Vale dizer que a
imissão na posse é demanda petitória, inexistindo entre ela e as possessórias qualquer tipo de
fungibilidade, uma vez que as causas de pedir são distintas.
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Pense na hipótese do sujeito que, previamente à ciência da ação judicial, fez várias obras em determinado
imóvel.
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home
A modalidade de benfeitoria (necessária, útil ou voluptuária)
home
O caráter da posse (se de boa-fé ou má-fé)
Aquele que possui boa-fé faz jus à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis,
podendo exercer o direito de retenção.
Quanto às benfeitorias voluptuárias, o possuidor de boa-fé tem o direito de levantá-las, quando puder fazê-lo
sem detrimento da coisa. O possuidor de má-fé somente tem direito de ressarcimento pelas benfeitorias
necessárias, não lhe assistindo direito de retenção da coisa, nem o direito de levantar as benfeitorias
voluptuárias.
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As benfeitorias são tudo o que é acrescentado ao imóvel ou móvel. Relembre-se, pois, que podem ser:
Necessárias
São imprescindíveis para a conservação da coisa; que são indispensáveis para evitar a ruína da coisa.
Úteis
Trazem apenas uma maior utilidade para o bem, um melhor aproveitamento da coisa.
Voluptuárias
Têm o objetivo de melhorar a recreação do bem ou enfeitá-lo; incrementar seu padrão estético.
§ 1º São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual
do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
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§ 3º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Nessa perspectiva, no tocante aos vícios subjetivos, a posse de boa-fé encontra-se prevista no art. 1.201 do
CC, a seguir apresentado:
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo
prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
Perceba que a boa-fé aludida no dispositivo é subjetiva, que diz respeito ao estado psicológico do sujeito.
Ainda à luz do ditame legal, a boa-fé é real quando o possuidor ignora obstáculo para a aquisição da
propriedade (caput) ou a boa-fé é presumida quando o possuidor tem um justo título (parágrafo único).
O justo título nada mais é que uma causa representativa que tenha fundamento no ordenamento jurídico,
referenciado no Enunciado 302 da IV Jornada de Direito Civil do CJF, como “o ato capaz de transmitir a
posse ad usucapionem, observado o disposto no art. 113, CC”, o qual trata da boa-fé objetiva (“Os negócios
jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”).
No mesmo sentido, do Enunciado 303 da IV Jornada de Direito Civil do CJF, extrai-se que “considera-se justo
título, para a presunção relativa da boa-fé do possuidor, o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada
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Exemplo
Um contrato válido e eficaz é justo título (locação, comodato, depósito e compromisso de compra e venda
de imóvel registrado ou não na matrícula), seja materializado por instrumento público ou particular.
Ressalta-se que o justo título traz uma presunção relativa ou iuris tantum da boa-fé, que admite, portanto,
prova em contrário.
Na posse de má-fé, ao revés, o possuidor não ignora obstáculo para a aquisição da propriedade e,
igualmente, não tem o justo título, como ocorre com o invasor do imóvel de terceiro, que tem posse injusta e
de má-fé.
Atenção
Em regra, a posse justa equivale à posse de boa-fé, enquanto a posse injusta equivale à posse de má-fé, mas
não necessariamente. A título excepcional, a posse pode ser injusta e de boa-fé, como na situação em que
um bem é roubado e depois vendido para um terceiro que ignora o crime praticado. A posse desse terceiro é
injusta e de boa-fé.
Dessa maneira, a realização de benfeitoria necessária, como de conservação do bem ou para evitar que se
destrua, e de benfeitoria útil, que aumenta a utilidade da coisa, como a construção de um quarto novo na
casa, ou de uma garagem anexa, asseguram ao possuidor de boa-fé o direito à indenização.
Por sua vez, as benfeitorias voluptuárias, servidas ao mero deleite, recreação e fins estilísticos, como
confecção de obras de jardinagem, podem ser retiradas pelo possuidor de boa-fé, desde que seu
levantamento não cause o perecimento da coisa principal.
Isso significa dizer que o proprietário tem o direito de incorporá-las ao seu patrimônio, mediante reembolso
das quantias despendidas, mas pode escolher não o fazer, situação que cumpriria ao possuidor de boa-fé
levá-las consigo.
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Isso porque as benfeitorias necessárias possuem natureza imprescindível para a higidez do bem, assim
como para a sua conservação adequada, de sorte que mesmo o proprietário haveria de realizá-las caso
estivesse em posse do bem. Por esse motivo, deixar de indenizar inclusive o possuidor de má-fé abalaria as
razões funcionais que vedam o enriquecimento sem causa.
Quanto às benfeitorias úteis, por não se afigurarem indispensáveis, mostra-se plenamente viável imaginar
que o legítimo proprietário jamais quisesse fazê-las – inclusive pelo fato de não suportar tais
melhoramentos de utilidade financeiramente. Portanto, não faria qualquer sentido deferir sua indenização
ao possuidor de má-fé, que valoriza a coisa, ao fim e ao cabo, para o proprietário, mas ante a sua completa
revelia.
No tocante ao possuidor de má-fé, sequer pode-se falar em levantamento das benfeitorias úteis porque:
O próprio CC veda tal atitude quanto às benfeitorias voluptuárias (art.1.220, in fine), de modo
que com muito mais razão estariam vedadas as úteis (as voluptuárias servem tão somente
para aformoseamento e as úteis ensejam verdadeiras utilidades à coisa).
Pior: como forma de tratar de modo diferenciado os possuidores a partir de sua qualidade subjetiva, porque
age com consciência de que pratica ato ilícito, também o valor dessas indenizações será mais gravoso ao
possuidor que se mostra ciente de que outro sujeito possuía melhor posse que a sua.
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Possuidor de má-fé
O possuidor de má-fé, de verdadeiro direito potestativo do retomante, optará entre o valor atual e o
custo das benfeitorias necessárias – muito provavelmente o que for menor.
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Possuidor de boá-fé
No que diz respeito ao possuidor de boa-fé, convém levar em consideração que as valorizações
supervenientes se lhe aproveitem, havendo de se referir a indenização, sempre, ao valor atual das
benfeitorias, já monetariamente atualizado.
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Direito de retenção por benfeitorias
No vídeo a seguir, o professor Diego Brainer fala sobre os aspectos gerais do direito de retenção por
benfeitorias. Vamos assistir!
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Com efeito, possibilita-se reter a coisa em seu poder até o pagamento do reembolso pelas quantias
despendidas em benfeitorias exclusivamente dessas naturezas. Isto é, permite-se que o possuidor
permaneça no bem até ser cabalmente indenizado, tratando-se dessa forma o direito de retenção de
legítimo meio de garantia, comumente utilizado nas obrigações em geral, de que se vale o sujeito para a
satisfação de seu crédito.
Muito se discute no Brasil sobre a natureza jurídica do direito de retenção (se real ou pessoal), sendo certo
que independe de qualquer convecção prévia, pois emerge da lei. Vejamos:
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Em defesa de sua natureza pessoal, autores alegam que os direitos reais são taxativos e que, em virtude de
não haver menção ao direito de retenção no art.1.225 do CC, não haveria se tratar da prerrogativa como de
índole real.
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Por outro lado, diz-se que o direito de retenção possui oponibilidade erga omnes e que seria hábil a conferir
poder direto e imediato sobre a coisa, atributos que aproximariam a prerrogativa dos direitos reais.
Apesar do debate, processualmente, sempre o direito de retenção deve ser suscitado na contestação ou nos
embargos à execução (CPC, art. 917, IV), momento oportuno para que o demandado oponha ao retomante
as benfeitorias que houver realizado e todos os esclarecimentos devidos, como o estado anterior da coisa, o
custo das benfeitorias, o valor atual e a valorização do bem decorrente das intervenções realizadas no
imóvel.
A esse respeito, vejamos os direitos que existem para o possuidor de boa-fé e para o de má-fé:
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Possuidor de boa-fé
O possuidor de boa-fé não pode reter benfeitorias voluptuárias, havendo apenas o direito de
levantá-las, uma vez que seria demasiado gravoso que se impedisse a efetiva retomada do
imóvel apenas em virtude de benfeitorias de deleite e aformoseamento.
Possuidor de má-fé
Ao possuidor de má-fé inexiste tal direito, sequer no que tange às benfeitorias necessárias.
Quanto a estas, há apenas direito à indenização, inexistindo qualquer permissivo legal para
efetuar a retenção sobre o que se fez de má-fé. Conjuga-se funcionalmente, aqui, tanto a
vedação ao enriquecimento sem causa, de um lado, e o repúdio à posse de má-fé, de outro.
A relevância do caráter subjetivo da posse para a solução de tais questões salta aos olhos. Mas não fica
apenas neste ponto. Também para a disciplina da percepção dos frutos e pela responsabilização pela perda
ou deterioração da coisa, a boa-fé ou má-fé determinam a solução:
Boa-fé
Nesse passo, caso algo aconteça com o bem enquanto estiver com o possuidor, aplica-se o art.1.217 do CC,
de acordo com o qual “o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não
der causa”. Dessa forma, não havendo dado causa – culpa – ao dano, não há de se falar em
responsabilização, caso esteja na posse de boa-fé.
Má-fé
Ao revés, segundo acepção do art. 1.218 do CC, “o possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração
da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do
reivindicante”. Logo, mesmo que o dano seja acidental, isto é, sem culpa, haverá a responsabilização.
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Quanto aos frutos, mitiga-se a regra segundo a qual os frutos pertencem aos proprietários, criando-se
perspectiva de prevalência ao interesse do possuidor de boa-fé. Vejamos:
Na situação de um possuidor colher frutos e posteriormente o bem ser retomado por outrem, o que
estiver de boa-fé “tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos” (CC, art. 1.214, caput).
Continua o dispositivo legal prevendo que “os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé
devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também
restituídos os frutos colhidos com antecipação” (CC, art. 1.214, parágrafo único).
O possuidor de má-fé, todavia, “responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos
que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito
às despesas da produção e custeio” (CC, art. 1.216).
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A segunda diz respeito à compensação entre o dano sofrido e a benfeitoria realizada, situação
preceituada no art.1.221 do CC, de acordo com o qual “as benfeitorias compensam-se com os
danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem”.
vicção
Refere-se à perda da coisa em virtude de um comando judicial.
A compensação constitui modalidade de extinção das obrigações, que se leva a efeito com o encontro de
dois créditos recíprocos entre credor e devedor, impedindo gastos com demandas entre as mesmas partes
e obrigações fungíveis.
Na hipótese tratada pelo dispositivo epigrafado, o possuidor de boa-fé tem direito à indenização pelas
benfeitorias necessárias e úteis, mas, no mesmo passo, também se afigura responsável pela perda e
deterioração da coisa que der causa. Isto é, ocorrem em noção de simultaneidade as situações descritas
nos já transcritos arts.1.219 e 1.217 do CC, respectivamente.
Aqui, como os valores das benfeitorias e da destruição, a priori, são ilíquidos, demandam avaliação e perícia
prévias para apuração, para que se chegue ao ajuste de contas. Desse modo, deve-se internalizar a
compensação mencionada no art.1.221 do CC, não propriamente como a prevista no art. 369, segundo o
qual “a compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis”.
Eventualmente, remanesce o saldo líquido em favor do que detinha crédito de maior valor.
No tocante ao possuidor de má-fé, ele também pode pugnar pela compensação quanto às benfeitorias
necessárias que houver realizado.
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Questão 1
O valor de indenização das benfeitorias será, em qualquer caso, o valor de custo e não o
D
atual.
O possuidor de má-fé somente tem direito de ressarcimento pelas benfeitorias necessárias, não lhe
assistindo direito de retenção da coisa, nem o direito de levantar as benfeitorias voluptuárias. Essa é a
intelecção do art. 1.220, segundo o qual “ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de
levantar as voluptuárias”.
Questão 2
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Contra o terceiro que recebeu a coisa esbulhada, ainda que não soubesse que o era,
C
pode o possuidor intentar ação de esbulho ou de indenização.
Conforme dispõe o art. 1.219 CC, o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias
necessárias e úteis; quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, o possuidor de boa-fé tem o direito
de levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo
valor das benfeitorias necessárias e úteis. Vale frisar que não cabe indenização contra o terceiro de
boa-fé que adquire bem a non domino.
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Do direito de vizinhança
O direito de vizinhança, previsto nos arts.1.277 e ss. do CC, possui como escopo regular as relações entre os
vizinhos, tudo com objetivo de manter relação social pacífica e prevenir conflitos. Esse ramo do direito civil é
encarregado de evitar interferências indiretas ou mediatas sobre a propriedade alheia, garantindo que o
exercício das prerrogativas dominiais por cada um não cause prejuízos ao outro.
Com o incremento populacional nas áreas urbanas, as demandas de vizinhança passaram a ser
extremamente comuns, em virtude da própria interligação física existente entre os bens imóveis.
Nesse sentido, pelo fato de serem numerosos os exemplos em que o uso de um imóvel atinge de alguma
forma o imóvel vizinho, cada vez mais relevante se faz compreender a sistemática protetiva estabelecida na
legislação pátria para essas situações. De início, vale transcrever o art. 1.277 do CC:
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Dica
Para a incidência das regras do direito de vizinhança, não se exige que os imóveis sejam contíguos,
bastando que haja qualquer espécie de interferência de um em outro (todo prédio contíguo é
necessariamente vizinho, mas nem todo prédio vizinho é necessariamente contíguo).
O que se depreende da própria literalidade do art.1.227 do CC, é que tanto o proprietário quanto o possuidor
possuem legitimidade para instar o Judiciário pelo uso anormal da propriedade. Não importa, aqui, nem
mesmo o título da posse, se justa ou injusta, de boa-fé ou má-fé.
Para a caracterização do uso como anormal, o Estado-Juiz utiliza parâmetros como o limite de tolerância
razoável da intervenção posta para o caso concreto a partir da região em que se localiza o bem, a
destinação econômica do bairro e as peculiaridades casuisticamente consideradas.
Desse modo, quando a atividade causadora dos problemas de vizinhança apresenta interesse público, como
ocorre nas zonas industriais, estabelecem-se mecanismos de diminuição das repercussões das atividades
nocivas, resguardando-se o interesse de todos sem soluções de descontinuidades drásticas.
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Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as
interferências forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou
o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho indenização cabal.
Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá
o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis.
Podem surgir afrontas à segurança, saúde ou sossego de vizinhos, ou problemas específicos relacionados a
árvores limítrofes, à passagem forçada, à passagem de cabos e tubulações, ao regime jurídico das águas,
ao limite entre prédios, ao direito de tapagem e de construir.
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No mesmo sentido, dispõe o Código sobre a propriedade dos frutos caídos em terreno alheio,
ao aduzir, no art.1.284, que “os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono
do solo onde caíram, se este for de propriedade particular”.
Regula-se, também, a situação da passagem forçada para acesso de imóveis encravados, isto
é, sem acesso à via pública, nascente ou porto, cf. art. 1.285 do CC: “o dono do prédio que não
tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização
cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se
necessário”.
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Vale enfatizar, ainda, o direito de tapagem, segundo o qual, na forma do art.1.297 do CC, “o
proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano
ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois
prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-
se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas”.
Descreveu-se legislativamente o aproveitamento das águas que se comunicam entre imóveis diversos,
destacando-se os seguintes dispositivos do Código Civil, de 10 de janeiro de 2002:
O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm naturalmente do
superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior
do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior.
Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí colhidas, correrem dele para o
inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer. [...]
É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos proprietários prejudicados,
construir canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito,
indispensáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo considerável à
agricultura e à indústria, bem como para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a
drenagem de terrenos [...].
Finalizando, o Código tratou do direito de construir, que, nada obstante constitua faculdade inerente ao
domínio, deve ser levado a efeito em observância aos direitos de vizinhança.
Quanto à viabilidade construtiva, sem prejuízo das normas administrativas adjacentes, fixou o legislador,
com a finalidade precípua de assegurar mínima proteção à intimidade, sem comprometer a necessidade de
iluminação natural e arejamento dos imóveis, que “é defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda,
a menos de metro e meio do terreno vizinho” (CC, art. 1.301, caput), e que, “as janelas cuja visão não incida
sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não poderão ser abertas a menos de setenta e cinco
centímetros” (§1º), estando ressalvadas apenas “as aberturas para luz ou ventilação, não maiores de dez
centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas a mais de dois metros de altura de cada
piso” (§2º).
Nos imóveis localizados em zona rural, a distância mínima será de três metros para a construção de
qualquer tipo de edificação (CC, art.1.303). Vejamos, no próximo tópico, as formas de proteção a
perturbações quanto ao uso nocivo da propriedade, bem como os instrumentos de contenção de algumas
situações especiais de lesões vizinhas, todas a ultimar vilipêndios patrimoniais à propriedade, por vulnerar
seu conteúdo econômico consubstanciado nas prerrogativas dominiais plenas.
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Ações protetivas a perturbações e lesões vizinhas
No vídeo a seguir, o professor Diego Brainer comenta sobre ações protetivas a perturbações e lesões
vizinhas. Vamos assistir!
A tutela contra o exercício anormal da propriedade e por violações a espécies particulares de direitos dos
vizinhos pode se dar por diferentes formas.
Com efeito, os interditos clássicos, até então apresentados, bem como as ações petitórias, não são os
únicos meios de defesa.
A ação de dano infecto decorrente, sobretudo, do direito de vizinhança, intenta que o vizinho não pratique
atos que possam atrapalhar a posse alheia. Trata-se do instrumento mais comum relacionado ao direito de
vizinhança, quando o proprietário do imóvel estiver sofrendo (ou com justo receito de sofrer) danos em
razão do exercício nocivo da propriedade alheia.
Exemplo
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Às vezes, o vizinho está fazendo uma obra que pode turbar a posse do outro; está podando árvore de forma
irregular, porque situada no terreno contíguo.
Visa-se, por meio da ação de dano infecto, evitar que a atuação de um vizinho cause
danos ao outro, tutelando-se a inteireza da propriedade e também a posse.
Assim, na hipótese de ruina do prédio vizinho, o que abarca qualquer obra realizada no prédio alheio que
ameace a estabilidade do imóvel próprio, o proprietário ou possuidor poderá exigir tanto demolição,
reparação ou caução, conforme o caso, segundo acepção do art.1.280 do CC, segundo o qual “o proprietário
ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando
ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente”.
Pode o vizinho prejudicado, também, valer-se de uma ação cominatória, voltada a compelir o proprietário
interferente a cumprir seu dever de não produzir ou cessar a interferência, mediante o pleito para que o Juiz
fixe uma multa processual, para ser paga enquanto não houver adequado cumprimento de determinada
obrigação.
Atenção
A ação de nunciação de obra nova, que vinha disciplinada no antigo Código de Processo Civil, deixou de
constar expressamente prevista no CPC atual, razão pela qual seus efeitos devem ser perseguidos por meio
de antecipação dos efeitos da tutela em demandas de outras matizes.
No entanto, nada impede a utilização de ações ordinárias de obrigação de fazer e de obrigação de não
fazer.
Quanto à ação demolitória, especificamente no que tange à abertura de janela, terraço ou varanda, o CC, no
art.1.302, instituiu o prazo de ano e dia da construção da obra para que o proprietário exija o desfazimento
da abertura devassadora. Do contrário, não observado o prazo legal, cria-se a chamada servidão de janela,
que pressupõe o respeito à distância legal entre a abertura e as novas construções lindeiras.
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O proprietário pode, no lapso de ano e dia após a conclusão da obra, exigir que se
desfaça janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio; escoado o prazo, não
poderá, por sua vez, edificar sem atender ao disposto no artigo antecedente, nem
impedir, ou dificultar, o escoamento das águas da goteira, com prejuízo para o prédio
vizinho. Parágrafo único. Em se tratando de vãos, ou aberturas para luz, seja qual for a
quantidade, altura e disposição, o vizinho poderá, a todo tempo, levantar a sua
edificação, ou contramuro, ainda que lhes vede a claridade.
Dessa forma, o proprietário que teve sua intimidade devassada pela obra, após o escoamento do prazo
decadencial aludido, não poderá construir muro ou qualquer outra forma de vedação sem respeitar a
distância de metro e meio ou 75 centímetros, conforme o caso, salvo quando se tratar de vãos ou aberturas
para luz, e não janelas
No caso das árvores limítrofes e da propriedade dos frutos, é possível manejo de demandas para que
certifiquem o enraizamento dos troncos ou para delimitar o regime de copropriedade, hipótese em que serão
partilhados os frutos e as despesas relativas à acessão natural comum. Além disso, para garantir o direito
de corte de poda dos ramos que adentram terreno de outrem, não é exigida qualquer notificação prévia ou
demonstração de dano, havendo o direito referenciado qualquer que seja o título que fundamenta a posse.
Sobre os frutos, enquanto na árvore estiverem, pertencerão ao proprietário do bem onde constam as raízes.
Porém, se caírem naturalmente, pertencerão ao proprietário do solo em que caírem. Se, todavia, houver
indevida interferência para que os frutos caiam, perde-se o direito, viabilizando-se o ajuizamento de
demanda protetiva.
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Imperioso explanar que, quanto à tapagem, as sebes vivas, árvores ou plantas que se encontrem na linha
divisória não podem ser cortadas ou arrancadas por ação exclusiva de uma das partes confinantes,
exigindo-se, sempre, comum acordo (CC, art. 1.297, §2º).
As colocações de ofendículas (vidro ou cerca elétrica) em divisórias também desafia controle funcional que
pode ser levado ao Judiciário.
Na espécie de passagem de cabos e tubos, assim como na construção de canais em prédios alheios para a
condução da água (direito de aqueduto), pode-se exigir a realização de obras de segurança, quando
observado grave risco de comprometimento do bem, como estabelece o art.1.287 do CC.
No que tange à demarcatória, se houver controvérsia quanto à linha divisória existente, deve-se proceder à
busca dos títulos de propriedade para determinar os lindes entre os prédios. Se não for possível, contudo,
lançam-se os critérios havidos no art.1.298 do CC, de acordo com o qual “sendo confusos, os limites, em
falta de outro meio, se determinarão de conformidade com a posse justa; e, não se achando ela provada, o
terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão cômoda,
se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro”.
Atenção
Esclarece-se que o direito de ingresso de prédio vizinho também se afigura fonte de contendas entre
vizinhos, estando previsto no art.1.313 do CC, “quando indispensável à reparação, construção, reconstrução
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ou limpeza de sua casa ou do muro divisório; apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se
encontrem casualmente”.
Por fim, em todo o qualquer caso, faculta-se sempre o ajuizamento de ação indenizatória, fundada nos
ditames da responsabilidade civil, remédio geral reservado pela nossa ordem jurídica à reparação dos danos
sofridos.
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Questão 1
Norma alugou um apartamento no primeiro andar de um prédio e, dois dias após sua mudança, sentiu-
se incomodada por ruído excessivo. Apurou o fato e descobriu que o ruído advinha de um assoalho de
madeira instalado em apartamento do terceiro andar. Considerando essa situação hipotética, assinale a
opção correta.
Norma deve procurar a locadora, para que esta proponha a ação cabível, já que detém
A
apenas a posse do bem e esta é uma questão de vizinhança.
A ação cabível deve versar sobre direito de vizinhança, sendo que a responsabilidade
B
pelo distúrbio deve ser apurada sob o critério objetivo.
Não existe, nessa hipótese, típica situação que envolva direito de vizinhança, até porque
C
os andares do prédio não são confinantes.
O barulho que incomoda Norma, na verdade, constitui um ato ilícito que desencadeia
D responsabilidade civil, independentemente da aplicação das regras do direito de
vizinhança.
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A hipótese deve ser tratada sob o crivo do direito de vizinhança, contudo, apurado que
E quem construiu o assoalho foi o antigo proprietário do apartamento, este deve
responder pelo caso.
A possuidora também detém legitimidade para o ajuizamento da ação; ademais, a ação diz respeito a
direito de vizinhança, nada obstante não haja contiguidade.
Questão 2
João é vizinho de uma indústria poluente, tendo ajuizado ação de natureza cominatória, para fazer
cessar a emissão de gases, julgada improcedente, porque a indústria se localiza em local permitido e
não haveria como diminuir os incômodos. A sentença transitou em julgado, mas passados alguns anos,
surgiram equipamentos capazes de eliminar drasticamente a poluição. Nesse caso, João
não poderá exigir a redução das emissões poluentes, mas se alienar seu imóvel, o novo
A
proprietário poderá formular essa pretensão, inclusive judicialmente.
não poderá exigir a redução das emissões poluentes, porque prevalece a coisa julgada a
B
favor da proprietária da indústria.
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Considerando que se trata de um interesse público, já que o fato envolve uma indústria, entende-se que
deve haver mecanismos que amenizem repercussões das atividades nocivas, buscando defender o
interesse de todos sem recorrer a soluções que interrompam as atividades industriais de forma
drástica. Ademais, os novos equipamentos representam fato novo.
Considerações finais
Como vimos, muitas são as formas de proteção da posse, direito subjetivo reconhecido em nosso
ordenamento e que possui importância nodal na dinâmica imobiliária cotidiana.
Para tal fim, usam-se precipuamente as demandas possessórias clássicas, quais sejam: ação de
manutenção de posse, ação de reintegração de posse e interdito proibitório.
De toda sorte, como explanado, outras ações servem, igualmente, de forma mediata, à tutela possessória,
efeito principal da posse, mesmo algumas consideradas petitórias, isto é, fundadas no título jurídico de
propriedade.
Nesse passo, mencionaram-se ações como a de imissão na posse, quando não há posse anterior, e a
reivindicatória, que exige o contrário, além dos chamados embargos de terceiros.
Posteriormente, passou-se a tratar da situação em que o sujeito realiza benfeitorias no imóvel que possui,
mas, posteriormente, vem a perdê-lo. No ponto, considerando a presença marcante da boa-fé animando o
estado subjetivo da posse, garante-se ao possuidor indenização por benfeitorias úteis e necessárias, bem
como, quanto às voluptuárias, o direito de levantá-las, quando obviamente isso puder ser feito sem
detrimento da coisa.
Por fim, estudaram-se as possíveis violações às prerrogativas dominiais – incluindo a posse – havidas no
direito de vizinhança, apresentando como principal demanda a chamada ação de dano infecto, exatamente
manejada para coibir o uso anormal de propriedade e para conter perigos iminentes.
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Podcast
Agora com a palavra o professor Diego Brainer, relembrando tópicos abordados em nosso estudo. Vamos
ouvir!
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qualificação da posse com base em sua historicidade e na orientação adotada em cada sistema jurídico.
Leia o texto Competência para as ações possessórias e veja como Elpídio Donizetti aborda a competência
para as ações possessórias nos termos da jurisprudência.
Referências
AZEVEDO. Á. V. Comentários ao Novo Código Civil. v. 7. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
GOMES, O. Direitos Reais. 21. ed. Atualizado por Luiz Edson Fachin. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
TEPEDINO, G.; MONTEIRO FILHO, C. E. do R.; RENTERIA, P. Fundamentos do Direito Civil – Direitos Reais, v.
5. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
SCHREIBER, A. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
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