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6 EFEITOS DA POSSE

Os efeitos da posse estão previstos nos arts. 1210-1222, CC. São eles:

– Proteção Possessória;
– Percepção dos Frutos;
– Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa;
– Indenização por benfeitorias;
– Direito de Retenção.

• PROTEÇÃO POSSESSÓRIA

Trata-se do principal efeito da posse. Divide-se em:

a) Legítima Defesa ou Desforço Imediato: autotutela

Possuidor, por seus próprios meios, poderá manter-se (Legítima Defesa) ou


restabelecer-se (Desforço Imediato) na posse.

Requisitos: Mal ameaçador à posse concreto desencadeado ou iminente;


Possuidor deve agir por sua própria força (sem apelar para autoridades); Possuidor deve
agir logo (imediatamente após a agressão ou logo que lhe seja possível agir); Reação
proporcional. Não preenchimento dos requisitos – crime de exercício arbitrário das próprias
razões (art. 345, CP).

Obs: Detentor pode praticar atos de legítima defesa e desforço imediato.

b) Ações ou Interditos Possessórios

As ações possessórias (previstas no art. 554 e ss, CPC) diferem-se das ações
petitórias. Enquanto que naquelas o objeto é a posse (não se discute a propriedade, via de
regra – Súmula 487, STF), nestas (ex.: reivindicatória) o objeto é a propriedade.

São elas:
– Ação de Reintegração de Posse: em caso de esbulho (posse é subtraída);
– Ação de Manutenção de Posse: em caso de turbação da posse (atos
preparatórios que antecedem o esbulho. Ex.: cortar as cercas);
– Interdito Proibitório: caso em que a posse é ameaçada (ameaça de esbulho
ou de turbação).

Tem-se dois Princípios que regem as ações possessórias:

• Princípio do Caráter Dúplice das Ações Possessórias

Previsto no art. 556, CPC. Via de regra, quem realiza o pedido em uma ação
judicial é o autor. Em contrapartida o réu, na sua contestação, apresenta a sua defesa.
Caso tenha interesse em fazer algum pedido que esteja ligado aos fatos da inicial, deve
ingressar com uma ação incidental denominada reconvenção.

Nas ações possessórias, entretanto, o réu pode (deve) fazer o pedido na própria
contestação, não havendo a necessidade de se propor a reconvenção. Esse é o caráter
dúplice das ações possessórias. Ex.: pedido de indenização de benfeitorias em uma ação
de reintegração de posse.

ATENÇÃO: Súmula 237/STF: “O usucapião pode ser arguido em defesa”.


EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO.

• Princípio da Fungibilidade das Ações Possessórias

Previsto no art. 554, CPC: “A propositura de uma ação possessória em vez de


outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela, cujos pressupostos estejam provados”.

Desse modo, não interessa o nome dado a ação, mas sim os fatos narrados na
peça vestibular e as provas contidas nesta.

Ademais, pode ocorrer uma alteração abrupta entre o ajuizamento da ação e a


análise do pedido pelo Juiz.
# Aspectos Processuais das Ações Possessórias

– Legitimidade ativa: possuidor (titular de posse plena, direta, indireta,


compossuidor, posse justa ou injusta, de boa-fé ou de má-fé, desde que haja/houve posse,
ou seja, detentor não possui legitimidade ativa). Será o esbulhado, o ameaçado ou o
turbado.

O proprietário sem posse pode ingressar com ação de imissão de posse ou ação
reivindicatória (dependerá do caso concreto), mas não poderá ingressar com ação
possessória, uma vez que jamais teve a posse.

Com relação à composse (em ambas as espécies: pro diviso e pro indiviso), os
compossuidores podem agir autonomamente, ou seja, um compossuidor pode ingressar
com ação possessória sem a presença ou anuência do outro. EXCEÇÃO: art. 73, § 2º, CPC
(“Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é
indispensável nos casos de composse ou de ato por ambos praticado”).

– Legitimidade passiva: autor do esbulho, da turbação ou da ameaça de esbulho


ou turbação ou terceiro que recebeu o bem esbulhado sabendo que o era (3º de má-fé,
forte art. 1.212, CC).

Em caso de 3º de boa-fé que adquire a posse de um bem esbulhado, este não


poderá ser réu na ação possessória, forte artigo acima mencionado. O esbulhado deverá
propor ação reivindicatória.

Rizzardo, todavia, entende que “quanto ao adquirente de boa-fé, pelo dispositivo,


não caberia a reintegração, e sim a reivindicação. No caso, porém, trata-se de posse. Não
se amparando no domínio a mesma, nem esta via seria admitida. A inadmissibilidade da
possessória, se houver boa-fé, não pode prevalecer. Interessa a origem da posse viciada”.
Este vem sendo o entendimento da doutrina e da jurisprudência (litisconsórcio passivo
necessário entre o de má-fé e o de boa-fé, uma vez que a sentença não pode gerar efeitos
a terceiros).

Cuidar questão MST!!!


– Pedido: com base no art. 555/CPC, há possibilidade de cumulação de pedidos
(perdas e danos, indenização dos frutos, imposição de medida necessária e adequada para
evitar nova turbação ou esbulho ou cumprir-se a tutela provisória ou final). Há divergência
doutrinária quanto à possibilidade de pleitear pedidos diversos (ex.: danos morais) dos
expressos no artigo acima citado. A doutrina majoritária entende ser possível, todavia, o
autor abrirá mão do rito especial e o feito passará a tramitar pelo rito ordinário. Já ao réu,
não há esta possibilidade, pois não tem poder de intervir na mudança do rito processual.

Se a ação possessória for intentada dentro de ano e dia da ocorrência do esbulho,


turbação ou ameaça, a mesma irá tramitar pelo rito especial previsto no art. 554 e seguintes,
CPC. Caso contrário, será pelo rito comum.

Sendo pelo rito especial, caberá o pedido liminar previsto no art. 562, do CPC. O
mesmo será deferido se a petição inicial estiver devidamente instruída, ou seja, se o autor
provar: a sua posse; a turbação, esbulho ou ameaça praticados pelo réu e sua data; a
continuação da posse, embora turbada ou ameaçada, na ação de manutenção e interdito
proibitório, a perda da posse, na ação de reintegração.

Quando a petição inicial cumprir seus requisitos, mas não convencer o Juiz, este
designará audiência de justificação prévia (não é necessário haver tal pedido expresso na
inicial, mas é conveniente já arrolar as testemunhas) para haver o saneamento do processo.
Somente o autor poderá produzir prova testemunhal nesta solenidade para comprovar as
suas alegações. Na oportunidade, será deferido ou indeferido o pedido liminar.

O réu é intimado para comparecer na audiência. Poderá contraditar a testemunha


e fazer perguntas. O não comparecimento daquele na solenidade não implica da
decretação da revelia.

O prazo para contestação é de 15 DIAS, contado da intimação da decisão que


deferir ou não a medida liminar (art. 564, do CPC) audiência de justificação prévia (havendo
esta) ou da audiência conciliatória (não havendo a audiência de justificação prévia).

OBS 1: Em ação possessória em face de pessoas jurídicas de direito público (arts.


41-42, CC), a audiência de justificação prévia é obrigatória em caso de pedido liminar (art.
562, § único, do CPC).
OBS 2: Tramitando a ação possessória pelo rito comum, obedecerá o disposto o
art. 334, do CPC. Caberá tutela provisória, mas com base nos arts. 300 (tutela de urgência:
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo) e 311 (tutela da evidência: independe da demonstração de
perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo quando ficar caracterizado o abuso
de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte), ambos do CPC.

– Valor da causa: celeuma doutrinária e jurisprudencial. A corrente majoritária


entende que o art. 292, inc. IV, CPC, deve ser aplicado analogicamente às ações
possessórias. Já a corrente minoritária (Rizzardo) entende que o valor da causa será o de
alçada, haja vista que não há como valorar a posse. Havendo também pedido de perdas e
danos, soma-se tal valor.

– Competência territorial: se a ação possessória tiver como objeto bem imóvel


(art. 47, § 2º, do CPC – foro da situação da coisa, tratando-se de competência absoluta).
Se for bem móvel (art. 46, CPC – em regra, foro de domicílio do réu, tratando-se de
competência relativa). O endereçamento da peça será para Vara Cível (atentar se houver
Vara especializada).

ATENÇÃO: Na ação possessória, não se discute a propriedade, mas, somente, a


posse. Todavia, a Súmula 487, STF, prevê que “Será deferida a posse a quem,
evidentemente, tiver o domínio, se com base nesta for disputada”. Contudo, tal súmula foi
editada no CC/16 que previa em seu art. 505 “Não obsta à manutenção, ou reintegração na
posse, a alegação de domínio, ou de outro direito sobre a coisa. Não se deve, entretanto,
julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer o domínio” (art. 1210,
§ 2º, NCC suprimiu a parte em itálico). Assim, não estaria mais vigente tal súmula.
Entrementes, ainda há decisões utilizando a mesma.

# Outras Ações que alguns doutrinadores consideram possessórias

As ações possessórias são em número de três: reintegração de posse,


manutenção de posse e interdito proibitório. Todavia, há certas ações que são utilizadas
para defender a posse, porém, NÃO são consideradas possessórias.
• Ação de Nunciação de Obra Nova ou Embargos de Obra Nova

Não está mais prevista no NCPC (estava prevista no art. 934, do CPC/73).
Compete esta ação ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra
nova em imóvel vizinho lhe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado;
ao condomínio, para impedir que o co-proprietário execute alguma obra com prejuízo ou
alteração da coisa comum; e, ao Município, a fim de impedir que o particular construa em
contravenção da lei do regulamento ou de postura.

É necessário erguimento da construção no prédio do nunciado (réu), resultando


ao prédio do nunciante (autor) prejuízos no seu imóvel.

OBRA NOVA é aquela que está em desenvolvimento, não cabendo a ação de


nunciação de obra nova quando a obra já está concluída. Quando a obra estiver em fase
de acabamento também não caberá mais a demanda, pois ela não será mais útil (faltará
interesse ao autor, pois ela visa à suspensão da obra – EMBARGAR A OBRA – a fim de
impedir danos que venham a ocorrer).

Sendo o pedido julgado procedente, o réu deverá pagar os danos decorrentes ao


autor, bem como demolir a obra.

O possuidor do bem (mesmo que não seja proprietário) tem legitimidade para
propor tal ação. Por tal razão, alguns doutrinadores mencionam se tratar de ação
possessória, o que é um equívoco, haja vista que a causa de pedir não é a posse, mas o
reforço desta (embargar a obra).

Terá legitimidade passiva para suportar a ação o dono da obra ou a pessoa por
conta da qual está a obra sendo erguida.

Para tipificar a nunciatória, é indispensável à pretensão da liminar. Visando a inicial


unicamente o desfazimento da construção já erguida, a ação que se desenha é a
demolitória, e não a nunciação de obra nova.
• Embargos de Terceiro

Previstos no art. 674 e seguintes, do CPC. Têm por escopo a defesa da posse dos
bens quando esta for esbulhada ou turbada por meio de atos judiciais (apreensão judicial).

Não se trata de ação possessória, uma vez que nos Embargos de Terceiro o
esbulho e a turbação decorrem de ATO LÍCITO (ato judicial), enquanto que naquela estes
decorrem de ato ilícito.

Têm legitimidade ativa: o senhor (proprietário) ou o possuidor do bem. EXCEÇÃO:


art. 1047, inc. II, CPC, o qual autoriza a legitimidade do credor; art.1046, § 2º CPC (espólio
com débito).

Ex.: X é credor hipotecário de Y, sendo que este deve R$70.000,00 a Z. Este


propõe uma ação de execução e indica à penhora o imóvel que é a garantia de X. Este é
intimado do ato, podendo permanecer inerte (a hipoteca é extinta) ou manifestar.
Comprovando a solvência do devedor (outros bens são penhorados e os embargos são
acolhidos) e comprovando a insolvência do devedor (concurso de credores. A dívida do
credor hipotecário vence automaticamente e ele receberá primeiramente com a hasta
pública – praça – do bem).

Os Embargos de Terceiro são possíveis de serem propostos preventivamente, ou


seja, não é necessário que haja a formalização da penhora com a expedição do mandado,
mas apenas com a ordem judicial para tanto.

Têm legitimidade passiva o exequente (sempre) e o executado (quando nomeou


o bem à penhora ou quando houver controvérsia com relação à titularidade do bem).

• Ação de Dano Infecto

Prevista no art. 1.277, do CC. Visa à defesa preventiva da propriedade, frente aos
possíveis prejuízos que podem advir do prédio vizinho, provocado pelo uso nocivo ou ruína
do mesmo. Como a causa de pedir não é a posse, não se configura ação possessória.

Tal ação visa à cessação do mau uso da propriedade. O réu deverá fazer ou deixar
de fazer alguma coisa.

Legitimidade ativa: qualquer morador do prédio que está com a segurança, a


saúde e o sossego perturbados.

Legitimidade passiva: aquele que faz o mau uso da propriedade.

• Ação de Imissão de Posse

Embora não prevista mais no CPC (anteriormente estava prevista no capítulo das
ações possessórias), a mesma ainda é utilizada, uma vez que não houve a eliminação do
direito subjetivo processual da ação que tenha por objetivo à imissão da posse.

Segue o procedimento comum.

Trata-se de uma ação petitória, uma vez que tem por base direito de propriedade.
Destina-se a dar a posse a quem, tendo o direito a ela, não a tem.

Legitimidade: PROPRIETÁRIO (SEM POSSE) X POSSUIDOR

Ex.: Contrato de promessa de compra e venda em que prevê que o promitente


comprador será imitido na posse do bem quando houver integralizado a totalidade do valor.
Integralizado este, o promitente vendedor recusa-se a imiti-lo na posse. Cabe ao promitente
comprador ação de imissão de posse, pois este NÃO TINHA POSSE ANTERIOR (por isso
não se trata de ação possessória).

Não é necessário que o proprietário esteja figurando como titular do bem junto ao
Cartório de Registro de Imóveis. Somente é necessário existir um contrato de compra e
venda em que exista uma obrigação contratual que não foi cumprida.

Na ação reivindicatória, o proprietário deve figurar como tal no registro da


propriedade. Nos casos em que se pode utilizar das duas demandas, é preferível utilizar a
imissão de posse, pois a matéria de defesa é menor.
c) Benfeitorias e Direito de Retenção

As benfeitorias classificam-se em: necessárias (evitam estrago iminente ou


deterioração da coisa principal), úteis (facilitam a utilização da coisa) e voluptuárias (por
mero deleite, prazer).

– Possuidor de boa-fé

Tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo, quanto a


estas, exercer o direito de retenção do bem, até que lhes sejam pagas. Quanto às
voluptuárias, poderá levantá-las, se não ocasionar danos ao bem, caso o reivindicante não
prefira ficar com elas, indenizando o valor. Na impossibilidade de levantá-las e no não
interesse do reivindicante quanto às benfeitorias voluptuárias, não será indenizado (ver
caso a caso: condição econômica das partes, benefício econômico revertido ao proprietário
e o tipo de benfeitoria realizada).

– Possuidor de má-fé

Tem apenas direito à indenização das benfeitorias necessárias, não tem direito de
retenção do bem até que o pagamento seja efetuado. Não pode levantar as voluptuárias.

Em resumo:

POSSUIDOR BOA-FÉ POSSUÍDOR MÁ-FÉ


NECESSÁRIAS Tem direito indenização e Tem direito indenização,
retenção mas não retenção
ÚTEIS Tem direito indenização e Não tem direito indenização
retenção e retenção
VOLUPTUÁRIAS Poderá ter direito Não tem direito indenização
indenização, mas não (e levantamento) e retenção
retenção

O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o


direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará
pelo valor atual.
d) Frutos (arts. 1214-1216, CC)

O fruto é aquilo que é produzido periodicamente e a sua retirada da coisa não


implica na diminuição da substância do bem. Ex.: frutas, cria de uma vaca.

Já o produto não é produzido periodicamente e a sua retirada implica na


diminuição substancial do bem. Ex.: pedras de uma pedreira.

Os frutos classificam-se em naturais (soja, arroz, etc), industriais (carros de uma


montadora) e civis (aluguéis, juros, etc).

Quanto ao momento da retirada da coisa, classificam-se em: pendentes (quando


ainda unidos à coisa que os produziu), colhidos/percebidos (depois de separados da coisa),
estantes (separados do bem e armazenados para a venda), percipiendos (os que deveriam
ter sido colhidos e não foram) e consumidos (os que não mais existem porque foram
utilizados ou consumidos).

– Possuidor de boa-fé

Tem direito aos frutos percebidos e aos consumidos. Não tem direito aos frutos
pendentes ao tempo em que cessou a boa-fé, tampouco aos colhidos antecipadamente, os
quais devem ser restituídos, deduzidas as despesas de produção e custeio.

OBS.: Frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos quando


separados do bem; os civis reputam-se percebidos dia por dia.

– Possuidor de má-fé

Responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por sua
culpa, deixou de perceber. Tem direito à dedução das despesas de produção e custeio, sob
pena de enriquecimento sem causa.

e) Responsabilidade pela Perda ou Deterioração da Coisa (arts. 1217-1218, CC)

– Possuidor de boa-fé
Não responde pela perda ou deterioração da coisa a que não der causa (desde
que não atue com dolo ou culpa, portanto).

– Possuidor de má-fé

Responde pela perda ou deterioração da coisa, ainda que acidentais (caso fortuito
ou força maior), salvo se provar que o dano sobreviria de igual forma se estivesse na posse
do efetivo proprietário/possuidor.

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