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Advocacia Imobiliária:

demandas judiciais e
procedimentos
administrativos

Pós-Graduação “lato sensu”


Profª. Dra. Núbia Elizabette de Paula
Pós-Graduação “lato sensu” | Advocacia Imobiliária: demandas judiciais e
procedimentos administrativos
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Unidade I
AÇÕES POSSESSÓRIAS
Aula 3

Classificação da posse
A) Quanto ao tempo:

 Posse Nova: É a que conta menos de um ano e um dia.

 Posse Velha: É a que conta com um ano e um dia ou mais.

Quais os efeitos, quais as consequências jurídicas da posse? São muitas, é


por isso que precisamos estudar a posse.

Vejamos os efeitos da posse, no aspecto temporal:

a) Direito à legítima defesa, ou desforço imediato, ou autodefesa


da posse do § 1o do 1210.

CC, Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em


caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência
iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
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§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou


restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos
de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse.

Se o possuidor não age “logo” precisa recorrer ao Poder Judiciário,


para não incidir no 345 do Código Penal. Os limites desta autodefesa
são os mesmos da legítima defesa do direito penal, ou seja, deve-se
agir com moderação mas usando os meios necessários.

b) Direito aos interditos: interdito é uma ordem do Juiz e são três


as ações possessórias que se pode pedir ao Juiz quando o possuidor
não tem sucesso através do desforço imediato. Esta matéria é de
interesse processual, vocês vão aprofundar esse assunto em processo
civil, mas eu considero prudente adiantar alguma coisa. A previsão
está no art. 554 a 568, CPC.

1) Ação de Interdito Proibitório: é uma ação preventiva usada pelo


possuidor diante de uma séria ameaça a sua posse (ex.: os jornais
divulgam que o MST vai invadir a fazenda X nos próximos dias).
O dono (ou possuidor, ex.: arrendatário/locatário) da fazenda
ingressa então com a ação e pede ao Juiz que proíba os réus de
fazerem a invasão sob pena de prisão e sob pena de multa em
favor do autor da ação. (Art. 567 a 568, CPC/15):

CPC/15, Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo


receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure
da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em
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que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o


preceito.

2) Ação de Manutenção de Posse: esta ação é cabível quando houve


turbação, ou seja, quando já houve violência à posse (ex.:
derrubada da cerca, corte do arame, cerco à fazenda, fechamento
da estrada de acesso).

O possuidor não perdeu sua posse, mas está com dificuldade


para exercê-la livremente conforme os exemplos. (Art. 560 a 566,
CC).

O possuidor pede ao Juiz para ser mantido na posse, para que


cesse a violência e para ser indenizado dos prejuízos sofridos.

3) Ação de Reintegração de Posse: esta ação vai ter lugar em caso


de esbulho, ou seja, quando o possuidor efetivamente perdeu a
posse da coisa pela violência de terceiros.

O possuidor pede ao Juiz que devolva o que lhe foi tomado. Esta
ação cabe também quando o inquilino não devolve a coisa ao
término do contrato, ou quando o comodatário não devolve ao
término do empréstimo.

CPC/15, Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na


posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.

Estas três ações cabem para defender móveis e imóveis, sendo


fungíveis, ou seja, se o advogado erra a ação não tem problema pois
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uma ação pode substituir a outra (ex.: entra com o interdito mas
quando o Juiz vai despachar já houve esbulho, não tem problema,
554, CPC/15), além disso o direito é mais importante do que o
processo. Se sua posse foi violada e o direito protege a posse das
pessoas, existe uma ação para garantir essa proteção, afinal o direito
é mais importante do que o processo. Para qualquer direito existe
uma ação (processual) para assegurar, garantir, esse direito.

Outra coisa muito importante: estas ações devem ser propostas no


prazo de até um ano e um dia da agressão (art. 558, CPC/15), pois
dentro deste prazo o Juiz pode LIMINARMENTE determinar o
afastamento dos réus que só tem detenção; após esse prazo, o invasor
já tem POSSE VELHA e o Juiz não pode mais deferir uma liminar, e
o autor vai ter que esperar a sentença que demora muito.

Art. 558, CPC/15 - Regem o procedimento de manutenção e de


reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a
ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho
afirmado na petição inicial.

Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o


procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Por isso é preciso agir dentro do prazo de um ano e um dia


(DETENÇÃO ou POSSE NOVA) para se obter uma grande eficácia
na prática.

Se o réu tem POSSE VELHA, o Juiz deve negar a liminar, mantendo


o estado de fato, até que após formar todo o processo o Juiz julgue o
estado de direito (Súmula 487 STF).
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Súmula, 487, STF - Será deferida a posse a quem, evidentemente,


tiver o domínio, se com base neste for ela disputada.

O proprietário sempre vence o possuidor, afinal a posse é um fato


provisório e a propriedade é um direito permanente.1

FACULDADES INERENTES AO DOMÍNIO

A) Usar (jus utendi): é a possibilidade conferida ao proprietário para que ele possa
se servir da coisa e ter a mesma à sua disposição.

Para a doutrina mais moderna, aquele que tem o direito de usar também poderia
extrair da coisa os seus frutos naturais.

USO JURÍDICO X USO MATERIAL DA COISA

O uso jurídico não deve ser confundido com o uso material da coisa. Se o
proprietário resolve transmitir somente o uso do bem a um terceiro, ele poderá
instituir um direito real de uso (Arts. 1.412 e seguintes, CC/02).

Mas será possível transferir o uso da coisa para terceiro sem instituir direito
real, como por exemplo, através de contratos como a locação, o comodato e o
arrendamento.

1 MENEZES, Rafael de. Direitos Reais – Efeitos da Posse. UFSC Website, 16 nov. 2011. Disponível em:
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/direitos-reais-efeitos-da-posse
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B) Gozar (jus fruendi): é a faculdade que o proprietário tem de extrair frutos e


produtos do bem que ele titulariza (art. 1.232 c\c art. 92, CC/02).

Do art. 92 se extrai o princípio da gravitação jurídica, ou seja, o bem acessório


seguirá o destino do bem principal. Os frutos e produtos têm natureza de bens
acessórios, podendo o proprietário do bem principal extraí-los.

Frutos e produtos são expressões que não se equivalem. Os frutos são aqueles
acessórios que se retira da coisa com periodicidade, sem gerar esgotamento do bem
principal. Os frutos podem ser naturais (retirados diretamente da natureza),
industriais (quando o homem usa os frutos naturais e os trabalha) ou civis (aluguéis,
juros remuneratórios ou compensatórios). Os produtos não são retirados de maneira
periódica, mas de uma só vez, pois geram o esgotamento do bem principal. Ex.:
minerais. Não existe direito real de gozo, sendo certo que se quiser transferir o poder
de fruição para um terceiro, necessariamente ele irá agregado ao direito de uso,
criando o usufruto, ou então a servidão.

C) Dispor (jus dispoendi ou jus abutendi): é a faculdade que o proprietário tem de


alterar a substância da coisa por meio dos denominados atos de disposição.

A disposição de um bem pode ser material ou jurídica. Quando se fala em


disposição material do bem, o proprietário estará alterando a própria consistência
daquele bem (coisa móvel), ou seja, fará com que o bem seja abandonado “res
derelicta” (coisa abandonada) - não deve confundir com “res nullius”, que é a (coisa
que nunca teve dono) ou destruído, visto que esta também é um ato considerado de
disposição material.
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Já os atos de disposição jurídica são chamados de alienação. Normalmente,


quando temos atos de disposição jurídica, o proprietário estará transferindo a
própria titularidade do bem ou relativizando a sua própria propriedade. A alienação
pode ser total (ex.: compra e venda) ou parcial (ex.: hipoteca; instituição do bem de
família convencional). Além disso, a alienação poderá ser gratuita ou onerosa.

DISPOSIÇÃO MATERIAL = ABANDONO (res derelicta) ou DESTRUIÇÃO

DISPOSIÇÃO JURÍDICA = ALIENAÇÃO (atos de disposição jurídica).

RES DERELICTA = COISA ABANDONADA

RES NULLIUS = COISA QUE NUNCA TEVE DONO

D) Reivindicar (“jus persequendi” ou “reivindicatio”) (art. 1.228, CC/02): é a


pretensão nascida a partir da violação de um direito de propriedade,
possibilitando-se, assim, ao titular reaver a coisa do poder de quem quer que
injustamente a possua ou a detenha.

A ação que instrumentaliza a pretensão de reivindicar é a ação reivindicatória.


Quando se fala em ação reivindicatória, entra-se naquilo que a doutrina gosta de
denominar de juízo petitório (jus possidendi): é aquela ação que busca dar ao
proprietário aquilo que ele perdeu; a posse.

No juízo petitório a causa de pedir é a lesão no direito de propriedade, e o


pedido será a posse, fundamentado no direito de propriedade. Logo, na ação
reivindicatória se discute posse.
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No juízo possessório (jus possessionis) temos as ações possessórias, também


chamadas de interditos possessórios. A causa de pedir é a lesão (esbulho, turbação
ou ameaça) no direito de ser possuidor. Já o pedido é para retornar ao estado de
possuidor; a posse.

Assim sendo, na ação possessória se quer a mesma coisa que na ação


reivindicatória, ou seja, posse. Mas os fundamentos apresentados para tanto serão
diversos. O proprietário, sendo também possuidor, poderá ajuizar tanto uma ação
possessória quanto uma ação reivindicatória.

Juízo Petitório Ação Juízo Possessório Ações


reivindicatória possessórias

Violação ao direito Possuidor que teve sua posse


Causa de pedir
subjetivo de propriedade. violada por um ato de esbulho,

Pedido Posse turbação


Posse ou ameaça.

HIPÓTESE DE CABIMENTO DA AÇÃO POSSESSÓRIA E


REIVINDICATÓRIA

1º Caso: Quando o sujeito for, ao mesmo tempo, proprietário e possuidor do bem -


Thiago é o proprietário registral de um lote e reside com sua família,
sendo também um possuidor. A Fernanda, vendo que o imóvel está vazio,
o invade. O Thiago tinha ido passar férias na Bahia e, quando retorna,
encontra a Fernanda no imóvel. Thiago deverá intentar qual ação para
reaver a posse do bem? Ação reivindicatória ou ação possessória.
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Assim, quando o sujeito for, ao mesmo tempo, proprietário e possuidor do


bem, se houver lesão, poderá ingressar tanto com a reivindicatória quanto com a
possessória (uma ou outra), já que tem fundamento jurídico para ambas.

Sob o ponto de vista da efetividade processual, a possessória será melhor,


pois:

1) a liminar satisfativa só exige os dois requisitos clássicos, fumus boni juris


e periculum in mora ;

2) o rito é especial, sendo mais célere:

3) a prova da condição de possuidor é mais simples que a prova da


condição de proprietário; e

4) hoje, no âmbito da possessória, não mais se discute direito de


propriedade. Na ação possessória está vedada a defesa com base no
direito de propriedade – vedação à exceção de domínio – “(exceptio
proprietatis” ou “ exceptio domini)”. Art.1210 § 2º, CC/02; Enunciado nº
79 CJF; Informativo 543, STJ (Resp.1.203.144).

2º Caso: O proprietário que perdeu a posse - Thiago é proprietário de um lote, com


registro em seu nome, mas anos em que não vai ao imóvel. Assim,
Fernanda passa a ocupar o referido bem. Thiago, devidamente avisado,
não fez nada para retomar o bem. Se o proprietário sabe que seu imóvel
foi invadido, mas se abstém de retomá-lo imediatamente, segundo os arts.
1.223 e 1.224, ocorrerá a PERDA DA POSSE. Neste caso, não terá direito
aos efeitos da posse, só lhe restando a via da reivindicatória para reaver o
bem. O proprietário não possuidor ingressará com uma ação
reivindicatória contra o possuidor não proprietário.
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3º Caso: O possuidor que não é proprietário - qualquer agressão à posse, neste caso,
só poderá ensejar ação possessória, já que não há fundamento para a
reivindicatória. Se a injusta agressão à posse for promovida pelo
proprietário na defesa de sua condição, ainda assim o possuidor sairá
vitorioso na possessória (valorização da posse em detrimento do direito de
propriedade).

Lembrando que a finalidade da ação possessória NÃO É gerar um juízo


definitivo sobre quem irá permanecer com o bem. A finalidade é trazer uma
pacificação social imediata, “apagando-se o incêndio”.

Ainda é importante ressaltar que o que foi decidido na ação possessória não
fará coisa julgada no âmbito da ação reivindicatória, pois as causas de pedir são
diversas.

IMPORTANTE: Existe fungibilidade entre as diversas ações possessórias (Art.


920, CPC). Porém, não há fungibilidade entre reivindicatória (juízo petitório) e
possessória (juízo possessório), pois as causas de pedir são diversas.

Nos vemos na próxima Unidade!


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MENEZES, Rafael de. Direitos Reais – Efeitos da Posse. UFSC Website, 16 nov. 2011.
Disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/direitos-reais-efeitos-da-
posse

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