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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA (UEPB)

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS (CCJ)


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
DIREITO PENAL III
PROFESSOR: LUCIANO DE ALMEIDA MARACAJA

AMANDA GERJOY DA COSTA TORREÃO


GABRIEL DE MOURA BRITO
MARIA IOHALLY BEZERRA SILVA
VANESSA PINHEIRO JORGE
VICTOR MARIANO ARAUJO DIAS

APROPRIAÇÃO INDÉBITA E ESTELIONATO

CAMPINA GRANDE - PB
MAIO DE 2023
SUMÁRIO

SUMÁRIO 2

1. APROPRIAÇÃO INDÉBITA 3
1.1 INFORMAÇÕES GERAIS 3
1.2 APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA 6
1.3 APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA 9
DA NATUREZA
1.4 APROPRIAÇÃO DE TESOURO 11
1.5 APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA 13

2. ESTELIONATO 14
2.1 INFORMAÇÕES GERAIS 14
2.2 DUPLICATA SIMULADA 17
2.3 ABUSO DE INCAPAZ 19
2.4 INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO 20
2.5 FRAUDE NO COMÉRCIO 21
2.6 OUTRAS FRAUDES 23
2.7 FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE 24
SOCIEDADE POR AÇÕES
2.8 EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT" 25
2.9 FRAUDE À EXECUÇÃO 26

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26

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1. APROPRIAÇÃO INDÉBITA

1.1 INFORMAÇÕES GERAIS

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de quem tenha a posse


ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º: A Pena é aumentada de ⅓ (um terço), quando o agente recebeu a
coisa:
I- Em depósito necessário;
II- Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro, ou depositário judicial;
III- Em razão de ofício, emprego ou profissão.

O delito de apropriação indébita consiste em apropriar-se, ou seja, o agente toma para


si coisa alheia móvel, e passa a agir como se fosse o próprio dono do bem, do qual tem posse
ou detenção. Estes conceitos advém do código civil, com a posse sendo definida no artigo
1196, no qual define o possuidor como aquele que detém o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade; já a definição de detenção está presente no artigo 1198
do código civil, no qual defini-se o agente detentor com aquele, que se acha na relação de
dependência para com o outro, e portanto conserva a posse em nome deste e em cumprimento
de ordens ou instruções suas. Para que o delito ocorra, devem ser atendidos alguns requisitos:

1) A vítima, ou seja, o dono do bem, deve entregá-lo voluntariamente. a posse ou


detenção deve ser legítima, de forma expressa ou tácita pelo seu detentor, e também
sem o uso de violência, grave ameaça ou fraude, pois se utilizar os dois primeiros
meios, configura-se o crime do artigo 157, e caso utilize o segundo meio, configura-se
o crime do artigo 171. Também não deve haver intenção pretérita de ficar com a coisa.

2) Posse ou detenção deve ser desvigiada: a vítima deve confiar ao agente a posse ou
detenção da coisa sem vigiar ou fiscalizar o agente. Caso, por exemplo, um
funcionário de um determinado estabelecimento se apropria de mercadorias, com a
displicência do patrão, configura-se crime de furto, dado que a apropriação ilegal é
anterior a obtenção, sendo obtida sem confiança dada de forma voluntária pelo patrão.

3) A Ação deve recair sobre coisa alheia móvel: a coisa apropriada de forma indébita,
deve ser deslocada de um local para o outro.

4) Inversão do ânimo da posse: o agente deve agir como dono da coisa, com a
inversão com atos de disposição (Ex: compra e venda) e na recusa de restituir a coisa.

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Cabe a reflexão nessa temática de apropriação indébita, sobre a inclusão de
apropriação de coisas fungíveis nesse crime, havendo divergências quanto a essa temática.
Doutrinadores, como Damásio de Jesus, defendem que não há apropriação indébita, pois
têm-se a definição de bem fungível, como aquele dado em depósito ou empréstimo, e devendo
ser restituídas em espécie, qualidade e quantidade, havendo ainda a transferência de domínio,
e portanto não havendo delito, pois a coisa não pertence mais ao dono.Todavia, há posições
contrárias a esta, que consideram apropriação indébita a apropriação de coisa fungível, como
é o caso do STJ, no qual o bem fungível não é um empecilho para a tipificação do crime, dado
que basta apenas a entrega espontânea e a inversão de ânimo para que ele aconteça.

Feito toda essa definição sobre apropriação indébita, cabe definir, portanto, que o bem
jurídico tutelado é o patrimônio da vítima, que é transferido ao agente de forma espontânea, e
este pela posse ou detenção, passa a agir como se dono fosse, e não havendo lesão de
propriedade, pois o proprietário da coisa pode se beneficiar dela ainda, quando ela é
devolvida.

Quanto aos sujeitos do crime, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, se
configurando crime comum. O sujeito passivo é a pessoa atingida em seu patrimônio pela
indevida apropriação, podendo ser pessoa física ou jurídica, e não necessariamente deve ser
quem entregou o bem , podendo ser terceiro a quem mandou entregar ao sujeito ativo de
confiança.

O elemento subjetivo da conduta, ou voluntariedade é o dolo, representado na vontade


do agente em se apropriar de coisa alheia móvel, no entanto o agente não deve ter desde de o
início de ficar com a coisa. Parte da doutrina, afirma ser indispensável a finalidade especial
da conduta, pela ausência no caput, de expressões “com o fim de”, porem doutrinadores
defendem a existência de tal finalidade especial, sendo imprescindível sua presença para esse
grupo, como defende por exemplo Magalhães Noronha , no qual a ausência da finalidade
especial, pode levar a confundir com outros crimes, como é o caso do exercício arbitrário das
próprias razões, no caso do agente se julgar como dono da coisa, e não apenas se apropriar de
forma temporária dela.

A consumação do delito ocorre com a transformação do bem recebido pelo agente em


posse ou detenção dele, em seu próprio bem como se fosse seu dono, praticando atos como se
fosse dono, e sendo incompatíveis com a restituição da coisa, não se exigindo a prestação de

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contas prévias para caracterizar a apropriação indébita. Apesar de divergências doutrinárias é
possível a tentativa, também aplicando-se o princípio da insignificância se o bem for
minimamente lesado, e a conduta do agente de pequena reprovabilidade e irrelevante
periculosidade oficial.

I- Se o agente recebeu em depósito necessário: O artigo 647 do código civil, define


depósito necessário como aquele atribuído na função legal ou na ocorrência de calamidades
públicas, com o artigo 249, ainda incluindo o depósito por equiparação. Todavia, tais
hipóteses mencionadas, geram divergências doutrinárias sobre a abrangência delas, no
referido inciso do artigo 168 do código penal, havendo três correntes de pensamento quanto a
isso: Os que defendem apenas a abrangência do depósito necessário em ocasião de
calamidade pública, pois se o depósito for para funcionário público, o crime será de peculato,
punido pelo artigo 312 do código penal, por causa da especialidade do cargo (Esta posição é a
adotada pela maioria da doutrina, como Nelson Hungria); a segunda corrente defende a
abrangência total, pois basta que o depósito seja legal para a ocorrência da apropriação
(Posição defendida pro Noronha, por exemplo); e a terceira corrente, que irá especificar a
forma e como a coisa foi recebida pelo funcionário público para que ocorra a configuração do
crime, no qual se o depósito for em razão do cargo, irá se configurar como peculato, todavia
se for recebido no particular será apropriação indébita recebida em depósito judicial, e o
depósito por equiparação responde pelo inciso III (em razão da profissão), se coadunando
com a primeira corrente, mas especificando a conduta do funcionário público.

II- Em razão da qualidade pessoal do agente: Quando o juiz nomeia o particular como
depositário, que no caso se enquadram o tutor, o curador, o síndico, o inventariante, o
testamenteiro, ou o depositário judicial.

III- Em razão do cargo, ofício, emprego ou função: o agente recebe a coisa em razão
da atividade que ele exerce.

A Ação penal do crime de apropriação indébita é pública incondicionada.

A Modalidade para que o crime ocorra pode ser comissiva ou omissiva, praticando a
primeira com as ações do agente como se ele fosse dono da coisa, já na segunda modalidade a
prática se concretiza com a não devolução da coisa solicitada pelo dono.

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1.2 APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

Art. 168 A - Deixar de repassar à previdência social as contribuições


recolhidas dos contribuintes, no prazo ou forma legal ou convencional:
Pena- reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º- Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I- recolher no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada
à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a
segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II- recolher contribuições devidas à previdência social que tenham
integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à
prestação de serviços;
III- pagar benefícios devido a segurado, quando as respectivas cotas ou
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2º - É extinta a punibilidade se o agente espontaneamente, declara,
confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e
presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 3 º - É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a
de multa se o agente for primário e bons antecedentes, desde que:
I - tenha promovido após o início da ação fiscal e antes de oferecida a
denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios; ou
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou
inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como
sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

O crime de apropriação indébita previdenciária, consiste em deixar de repassar à


previdência social, os valores dos contribuintes, destinados a ela, no prazo e forma legal
(previdência oficial) ou convencional (previdência privada). Diferencia-se esse delito de
apropriação indébita, pois esta tem que haver a inversão do ânimo da posse (crime comissivo)
da coisa para se configurar como crime de apropriação indébita, e na apropriação indébita
previdenciária basta que o agente deixe de repassar à previdência social, o valor da
contribuição, sem necessariamente precisar de ato comissivo do agente. Ademais, têm-se no
crime de apropriação indébita, uma relação bilateral, composta pelo proprietário, que confia o
bem de forma espontânea e desvigiada, e o agente, que se aproveita da relação de confiança
para agir como dono da coisa.

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Já o crime de apropriação indébita previdenciária, a relação é trilateral, o contribuinte
que deposita a sua parte na contribuição previdenciária, o agente representante da
administração da pessoa jurídica, que deixa de repassar a contribuição, e a previdência social,
que é receptor da contribuição previdenciária.

Há divergência doutrinária sobre o crime ser comissivo ou omissivo, com a maioria


da doutrina defendendo que o crime é apenas omissivo, pois sua conduta típica é deixar de
repassar ao órgão previdenciário o valor do contribuinte, de acordo com os prazos e formas de
depósito estabelecidos em lei.

O crime é instantâneo e subsistente, sendo portanto admitido a continuidade delitiva


do crime, sendo os atos autônomos entre eles, quando em meses consecutivos o agente deixa
de repassar a contribuição ao órgão previdenciário, sendo considerado para a fração de
aumento de pena, a quantidade de atos omissivos, sendo o mínimo de ⅙ para dois delitos e o
máximo de ⅔ para 7 delitos ou mais, podendo ainda ser cometido pelo mesmo agente, com
atuação empresas distintas, mas que pertencem ao mesmo grupo. Assim, diante de todo o
exposto o bem jurídico tutelado pelo artigo 168 A do código penal é o patrimônio daqueles
que fazem parte do seguridade social, precisamente o previdenciário.

Quanto aos sujeitos do delito, o sujeito ativo é a pessoa que tem o dever legal de
repassar à previdência social, a contribuição recolhida dos contribuintes, e por falta de
previsão legal não se pune a pessoa jurídica, mas apenas os seus administradores. O sujeito
passivo do delito é a previdência social, podendo ainda concorrer os segurados lesados pela
atitude do agente.

O elemento subjetivo ou voluntariedade do delito, é a atitude dolosa, que consiste na


vontade do agente em não repassar à previdência social a contribuição advinda dos
contribuintes, dentro do prazo e forma estabelecida em lei. Quanto à finalidade especial do
agente, a maioria da doutrina defende que ela é dispensável, bastando apenas a omissão para a
configuração do delito, sendo ratificada decisão pelo STJ e STF.

Há divergências quanto à consumação do delito, com a corrente dominante, inclusive


fundamentada com decisão do STJ, defendendo, que o crime é material, e a consumação se dá
pelo seu resultado naturalístico, ou seja, a mera omissão do agente em não repassar a
contribuição previdenciária, que gera o locupletamento do agente e o efetivo prejuízo à previ-

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dência, mas não se tipifica essa espécie de crime antes do lançamento definitivo do tributo, tal
como fundamenta a súmula vinculante 24 do STF. Porém, outro grupo de doutrinadores
defendem ser um crime formal, previsto no artigo 168 A do código penal, com a consumação
ocorrendo independentemente da locupletamento do agente e do prejuízo a previdência,
bastando apenas a omissão no repasse da contribuição. A tentativa não é possível por se tratar
de crime omissivo, não sendo possível fracionar o delito (os que defendem ser um crime
misto, admitem a tentativa).

Diante de todo o exposto sobre o delito de apropriação indébita previdenciária, ainda


há formas assemelhadas a eles, previstas no § 1º:

I - O Agente (público ou não), não repassa os valores da contribuição devida pelo


segurado, dentro do prazo legal, também incluindo outra importância destinada à
previdência social, quando por exemplo determinado empregado de uma empresa,
recebe benefício previdenciário indevidamente, podendo haver com a devolução
desconto do seu salário, bem como o empresário cumprir a ordem de desconto, mas
não fazer o repasse, tal como defende o artigo 91 da lei 1.212/91.

II - O contribuinte comercializa o valor da contribuição devida, em razão da


manutenção dos funcionários, mas não promove o recolhimento, obtendo assim dupla
vantagem, pois o agente, pois recuperou no momento da venda um montante, que não
foi escriturado como despesa.

III - O contribuinte empresário deixa de repassar ao empregado contribuição


previdenciária, por exemplo, o salário família, que já foi reembolsado pela previdência
social.

O §2º do referido artigo, trata da extinção de punibilidade, que sofreu diversas


modificações, antes aplicando-se o art. 34 da lei 9.249/95, que tornava extinta a punibilidade
no momento em que o agente pagasse o valor devido antes do recebimento da denúncia.
Todavia, com o advento da lei 9.983/2000, a extinção da punibilidade passou a ocorrer, nos
seguintes casos: autodenúncia (o agente declara e confessa a dívida); o agente efetua
espontaneamente o pagamento do tributo devido; e antes do início da execução fiscal.

Com a lei 10.684/2003, e baseado em entendimento do STF, o pagamento do tributo a


qualquer tempo gera a extinção de punibilidade. A lei 11.941/2009 previu a política de
parcelamento extintiva de punibilidade dos tributos devidos, sendo também suspensa a
pretensão punitiva antes do recebimento da denúncia e o STF julgou possível o pagamento
mesmo após o trânsito em julgado da ação, sendo esta posição reiterada com lei 10.684/03.

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Outrossim, cabe falar do §3º do artigo 168 A, que fala sobre a faculdade do perdão
judicial ou aplicação apenas da pena de multa ou outra prestação pecuniária, e desde que o
agente seja primário e tenha bons antecedentes, nos seguintes casos:

I - O agente promove o pagamento dos débitos previdenciários, após o início da


execução fiscal, mas antes do recebimento da denúncia.

II - No caso de apropriação de quantia incapaz de movimentar a máquina pública para


receber o montante devido, com o poder judiciário, estabelecendo quantias mínimas
para poder instaurar o processo de execução, admitindo em alguns casos o princípio da
insignificância, no qual a jurisprudência fixou o valor mínimo de 10 mil reais, mas
parte diverge da aplicação deste, pois burlam pagamentos tributários, como por
exemplo, importação clandestina de mercadorias, que continuam a dar prejuízo ao
erário.

Há ainda o §4º, acrescentado pela lei 13.606/18, no qual o valor das contribuições
parceladas, inclusive os acessórios, caso seja superior ao estabelecido administrativamente, e
sendo o mínimo para ajuizar execuções fiscais, impede o perdão judicial, e aplica -se a pena
pecuniária, que é a pena de multa.

Por fim, a ação penal desse delito é pública incondicionada.

1.3 APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA


DA NATUREZA

Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por
erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

O delito ocorre quando o agente se apropria de coisa alheia móvel que veio ao poder
do mesmo por erro, caso fortuito ou força da natureza. O bem jurídico tutelado nesse caso é o
direito de posse/propriedade, é, portanto, um crime contra o patrimônio.

O sujeito ativo desse crime pode ser qualquer pessoa (comum). Já o sujeito passivo é
específico, sendo ele o proprietário do bem móvel, podendo ser tanto pessoa física quanto
pessoa jurídica.

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Para se consumar o crime deve haver o conhecimento de que o objeto chegou ao
agente por erro, caso fortuito ou força da natureza de forma espontânea e mesmo assim o
sujeito ativo decide permanecer com a coisa, agindo como dono do objeto. O agente tenta,
portanto, inverter o título da posse, se recusando a devolver o bem que não é seu por direito
ou se desfazendo do bem como se fosse dono. Ele transforma a posse em propriedade.

A tentativa é possível quando o agente se passa por dono do bem e tenta de alguma
forma se desfazer do mesmo, mas é surpreendido. Deve ser analisado caso a caso para
entender se houve tentativa ou não com base na maneira pela qual o agente praticou a infração
penal.

Como informado, essa apropriação pode ocorrer de três formas:

● Por Erro: pode ocorrer o erro quanto à pessoa - a vítima transfere uma determinada
quantia na conta bancária do sujeito passivo (João), porém tinha como objetivo enviar
esse dinheiro para outra pessoa de mesmo nome (sujeito homônimo). Houve erro de
pessoa e portanto aquele que recebeu a quantia deverá devolver o valor, caso contrário
responderá pelo delito presente no caput do Art. 169.

O erro também pode ser quanto ao objeto - o agente deveria receber um colar banhado
a ouro mas acaba recebendo um colar de ouro legítimo por erro do sujeito passivo.
Este, ao perceber o erro tenta realizar a troca para entregar o pedido correto ao agente
mas o mesmo não aceita, se apossando do bem que não lhe pertence e comete,
portanto, o crime de apropriação por erro.

Por fim, o erro pode ser quanto à obrigação - o agente recebe o pagamento de uma
quantia já paga anteriormente pela vítima ou uma quantia maior que o valor devido.
Sabendo desse erro, cabe ao sujeito ativo devolver o que não lhe é devido, caso não
devolva cometerá apropriação por erro.

● Por Caso Fortuito: chega a propriedade do agente um animal por meio de um buraco e
aproveitando-se disso, o agente vende tal animal como se fosse dono do mesmo.
Dessa forma responde o agente pelo delito de apropriação de coisa havida por caso
fortuito.

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● Por Força da Natureza: objeto encontra o agente por meio de uma força maior advinda
da natureza. Exemplo: enchente que transbordou diversos objetos na cidade e que, por
conta da correnteza, chegou até a casa do agente um cofre onde foram encontrados 20
mil reais. Sabendo que tal valor não o pertence, deve o agente devolver para pessoa
certa ou para as autoridades locais para não ser sancionado por apropriação de coisa
havida por força da natureza.

O elemento subjetivo do caput do art. 169 é o dolo, não havendo previsão legal para a
modalidade culposa. O agente deve ter o conhecimento de que a coisa está em sua posse e que
pertence a terceiro para que ocorra a apropriação por erro, caso fortuito ou força da natureza.
Se o agente não tem conhecimento, não há crime.

O delito pode ocorrer de forma comissiva, quando o agente se desfaz da coisa alheia
como se fosse dono. Ou de forma omissiva quando o agente se recusa a devolver a coisa
alheia que veio a seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza, quando solicitado por
seu legítimo dono. Nesse crime a pena que incorre é a de detenção, de 1 mês a 1 ano ou
pagamento de multa, sendo, portanto, caracterizado como um crime de menor potencial
ofensivo.

1.4 APROPRIAÇÃO DE TESOURO

Parágrafo único - Na mesma pena incorre:


I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em
parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio;

Na apropriação de tesouro incorre a mesma pena prevista para o delito do caput do


Art. 169 e tem como ação principal a apropriação de tesouro, em todo ou em parte,
encontrado em prédio alheio.

Essa norma penal é considerada em branco, isso porque vale-se da definição do


Código Civil para ter validade, exige complementação de um componente que não está na
matéria penal. Nesse caso, a definição de tesouro e a quem ele pertencerá encontra-se nos
Arts. 1.264, 1.265 e 1.266 do Código Civil. Vejamos:

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Do Achado de Tesouro
Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono
não haja memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o
que achar o tesouro casualmente.
Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio,
se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não
autorizado.
Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por
igual entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele
mesmo seja o descobridor.

De acordo com o Código Civil, portanto, será tesouro o depósito antigo de coisa
preciosa, que não se tem memória do dono e que esteja oculto. A lei esclarece também que o
proprietário do imóvel em que é encontrado o imóvel sempre terá direito ao tesouro, seja em
parte ou o todo.

Vale ressaltar que aquele que encontra o tesouro só tem direito à parte se o encontra
por acaso. Se o tesouro é encontrado pelo proprietário do imóvel, por alguém que o mesmo
contratou ou por pessoa que busca em seu imóvel sem devida autorização, o tesouro será
inteiramente do proprietário do imóvel.

Nesse delito, o bem jurídico tutelado é o patrimônio, o direito de propriedade à quota


do tesouro descoberto que tem direito o proprietário do prédio. O sujeito ativo desse crime é
comum, podendo ser qualquer pessoa, e o sujeito passivo é necessariamente o proprietário do
imóvel onde foi encontrado o tesouro.

O delito se consuma no momento em que o agente, ao encontrar o tesouro, se apropria


do mesmo, total ou parcialmente, não dando ao proprietário do prédio a quota pertencente ao
mesmo. É possível a tentativa dessa infração penal. Deve-se ser considerada a situação
concreta de cada caso para compreender se o ato realizado é comissivo ou omissivo. Ademais,
o elemento subjetivo do crime é o DOLO, não havendo previsão da modalidade culposa.

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1.5 APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA

Parágrafo único - Na mesma pena incorre:


II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no
art. 155, § 2º.

Na apropriação de coisa achada incorre novamente a mesma pena disposta no caput do


art. 169 e os elementos contidos na infração penal são: a conduta de se apropriar de coisa
alheia perdida, de forma total ou parcial e não ter a atitude de restituir tal coisa no prazo de 15
dias ao dono da coisa ou à alguma autoridade local.

O crime se consuma quando o agente não entrega à autoridade competente ou ao


legítimo dono a coisa perdida no prazo estipulado pelo código penal. Esse delito é, portanto,
um crime à prazo, já que está condicionado ao decurso do prazo de 15 dias, mesmo que o
agente já tenha decidido antes disso que não irá restituir ao dono da coisa. Vale ressaltar que
para esse crime só é relevante a coisa perdida, outras coisas, como coisa de ninguém, coisa
abandonada e coisa esquecida, não configuram previsões para esse tipo penal.

De acordo com Bento Faria, as coisas perdidas "são as que se encontram em lugar
público ou de uso público, em condições tais que façam presumir, fundadamente, o seu
extravio".

Essa norma penal tem também previsão no Código Civil, nos arts. 1.233 e 1.234,
recompensando aquele que restituir coisa achada. Vejamos:

Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se
não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo
antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do
seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e
transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.

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Os bens jurídicos tutelados nesse crime são a posse e o direito de propriedade,
podendo qualquer pessoa ser sujeito ativo ou passivo do crime, desde que o sujeito ativo
encontre a coisa perdida do sujeito passivo e dela se aposse.

O elemento subjetivo desse crime é o dolo, não havendo previsão da modalidade


culposa. Ademais, por conta do decurso do tempo necessário para a consumação do crime, o
mesmo é caracterizado como omissivo próprio e por isso não admite tentativa. Isso porque
apenas encontrar coisa perdida é um indiferente penal, surgindo o dolo apenas quando o
agente deixa de restituir a coisa alheia no prazo de 15 dias.

Além dos arts. 168 e 169, no capítulo sobre apropriação indébita também temos o
art.170, que discute sobre a diminuição da pena, podendo se aplicar a todos os crimes
previstos neste capítulo. De acordo com o art. 170, deve o juiz aplicar ao réu o benefício de
diminuir a pena de um a dois terços ou aplicar somente a pena de multa, se a coisa tomada é
de pequeno valor e se o réu é primário.

Por fim, vale ressaltar que a pena prevista para os delitos do art. 169 são de natureza
pública incondicionada, sendo indiferente a manifestação do ofendido para o prosseguimento
do ato processual.

2. ESTELIONATO

2.1 INFORMAÇÕES GERAIS

Atos ilícitos devastam o mundo contemporâneo, sendo visto que existem diversos
crimes na sociedade e suas formas de prática, como uma forma de combate, se torna
necessária a criação de leis, códigos e penalidades para quem os pratica. Um desses delitos é o
Estelionato, neste texto está exposto um breve debate sobre esse crime.

O estelionato está presente no Código Penal Brasileiro, em seu artigo 171, como
pode-se analisar logo a seguir:

“Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo


alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, de 500mil réis a 10contos de réis.”

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Em primeiro plano, esse crime acontece quando alguém obtém um enriquecimento
ilícito, em prejuízo alheio, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento, de
modo breve, é obter vantagens financeiras sobre o prejuízo de outra pessoa. Além disso,
compreende-se que existem dois sujeitos, o ativo, aquele que pratica a ação e se beneficia
sobre o dano de outro indivíduo, sendo representado pelo estelionatário e o passivo, a vítima
do golpe. Pode-se observar que o estelionato é considerado um crime contra o patrimônio,
sendo o bem jurídico tutelado, a propriedade e os bens.

Em segundo plano, a consumação do ato ilícito ocorre quando o sujeito ativo se


apropria dos bens da vítima, ou seja, a partir do momento em que o agente passivo é lesado
em seu patrimônio, o crime é realizado de fato, além disso, a tentativa também pode ocorrer,
sendo analisada em casos onde o estelionatário inicia a fraude, mas não consegue consumá-la
por circunstâncias alheias à sua vontade, para se tornar mais fácil o entendimento pode-se
analisar o seguinte exemplo: Um estelionatário se dirige até uma loja de sua cidade, por meio
de um golpe ou de uma enganação contra o vendedor, ele consegue se apoderar de um crédito
no estabelecimento, sendo possível duas situações; primeira, a tentativa, o agente não utilizou
o crédito, ou seja, não foram analisados prejuízos ao proprietário do local e por outro lado, a
consumação, através desse crédito, traz prejuízos financeiros a terceiros.

Em continuação, segundo Silvia Giovanelli Sandrini em sua publicação no site


Jusbrasil, pode-se analisar que, “O crime de estelionato é considerado simples por ofender
apenas um bem jurídico tutelado: o patrimônio.”, visto assim a sua classificação doutrinária.
Ademais, no artigo 171 do Código Penal, discorre sobre a pena, deve ser aplicada durante um
período de um a cinco anos em relação a reclusão, compreendida como uma das forma mais
severa de condenação, sendo possível casos em que o juiz pode substituir a pena de reclusão
pela de detenção e também diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de
multa.

Além do que foi debatido, para que o crime se consuma é necessário a análise da
ocorrência de quatro elementos: Fraude, correspondendo a um meio enganoso para a
concretização do crime; Erro, caracterizado pela falsa percepção da realidade, o erro é a
consequência provocada pela fraude; Resultado duplo, a obtenção de vantagem ilícita com o
prejuízo alheio; e Dolo, condiz com o desejo do agente em realizar a ação por livre vontade.

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Em relação às modalidades especiais, estão presentes no §2° do artigo 171 do Código
Penal, prevendo os atos ilícitos como:

Disposição de coisa alheia como própria, ocorre quando o estelionatário já em posse


do bem alienado, realiza a ação de vender ou dispõe de coisa alheia como se fosse própria,
deste modo, recebendo vantagens sobre isso;

I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa


alheia como própria;

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria, em casos como esse, o bem é


de fato do estelionatário e lhe pertence, mas por algum motivo o imóvel não está disponível,
desta forma, encobrindo informações consideradas necessárias para o contrato ser firmada sem
erros, o agente omite os fatos e realiza o acordo, sendo considerado como crime apenas
quando o contrato for efetuado;

II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria


inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias;

Defraudação de penhor, compreende-se que quando um bem estar no estado de


penhor, esse corresponde a uma forma de garantia, seja de pagamento ou de outros modos de
assegurar a finalização do contrato sem prejuízos, este delito se caracteriza pelo fato do
estelionatário, por alienação ou não, defraudar a posse e deste modo, prejudica terceiros e a
garantia estabelecida anteriormente;

III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por


outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Fraude na entrega de coisa, o estelionatário apresentando a condição de entregador


do bem, pratica a ação de alienar o que deveria ser entregue;

IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que


deve entregar a alguém;

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro, também conhecida


como fraude contra seguros, entende-se para obter benefícios, o sujeito ativo destrói coisas
próprias, por exemplo, um carro ou se lesiona em busca da indenização garantida pelo seguro;

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V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o
próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro;

Fraude no pagamento por meio de cheque, conhecidos como o crime do cheque sem
fundo, ocorre quando no momento do saque do valor acordado entre as partes, a conta do
titular não tinha dinheiro suficiente para a finalização do acordo sem prejuízos;

VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do


sacado, ou lhe frustra o pagamento.

Fraude eletrônica, de modo breve, corresponde a delitos que ocorrem através de


meios tecnológicos, como computadores e telefones, o estelionatário com posse de
informações sobre a vítima realiza diversas ações delituosas, em casos assim, a pena é mais
rígida sendo estabelecida como reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

Por fim, no artigo 171 do Código Penal em seu §4°, discorre sobre o estelionato contra
idosos ou vulneráveis, em casos assim, existe o aumento da pena, como pode ser lido a seguir:

§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 ao dobro, se o crime é cometido contra


idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso.

Em síntese, o crime de estelionato é estabelecido como o delito em que um agente se


beneficia financeiramente sobre outro sujeito, lhe conduzindo ao erro para que isso ocorra.
Além disso, é importante destacar que este crime está presente na sociedade atual e deve-se ter
atenção para não ser vítima de atos fraudulentos.

2.2 DUPLICATA SIMULADA

Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não


corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço
prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada
pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou
adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei
nº 5.474. de 1968)

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O crime de duplicata simulada é previsto no artigo 172, parágrafo 2º, do Código Penal
Brasileiro. Esse dispositivo legal trata de uma modalidade de falsidade documental,
relacionada à emissão de duplicatas falsas ou simuladas.

A duplicata é um título de crédito utilizado em operações comerciais de compra e


venda de mercadorias a prazo. Ela representa uma obrigação de pagamento por parte do
comprador e é emitida pelo vendedor, com base em uma fatura ou nota fiscal. A falsificação
ou simulação deste documento configura o crime de duplicata simulada.

Para que o crime de duplicata simulada seja configurado, é necessário que haja a
emissão de uma duplicata sem que tenha ocorrido a efetiva venda de mercadorias ou a
prestação de serviços correspondentes. Em outras palavras, a duplicata é emitida sem que
exista uma relação jurídica válida entre o vendedor e o comprador.

A emissão da duplicata simulada tem como objetivo principal obter vantagem ilícita,
enganando terceiros e prejudicando a economia. Essa prática criminosa pode envolver
diversas condutas fraudulentas, tais como a falsificação de assinaturas, a inserção de
informações falsas ou a emissão de duplicatas sem respaldo em operações comerciais reais.

O infrator está sujeito à pena de reclusão, que pode variar de um a cinco anos, além do
pagamento de multa. É importante ressaltar que o crime de duplicata simulada é considerado
um delito de natureza grave, dada a sua lesividade ao mercado e à confiança nas relações
comerciais.

Além das consequências penais, a prática de duplicata simulada acarreta prejuízos


econômicos significativos. Ela pode causar danos tanto para os credores legítimos, que podem
ter seus créditos questionados ou prejudicados, como para os devedores, que podem ser
cobrados indevidamente por dívidas inexistentes.

Diante disso, é fundamental que as empresas adotem medidas de segurança e controle


rigorosas para evitar a ocorrência de duplicatas simuladas. A conferência criteriosa de
documentos, a verificação de autenticidade das informações e a manutenção de registros
precisos são práticas que contribuem para prevenir esse tipo de crime e proteger a integridade
das relações comerciais.

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Em suma, o crime de duplicata simulada é uma forma de falsidade documental que
prejudica a ordem econômica e a confiança nas transações comerciais. A sua tipificação no
Código Penal Brasileiro visa coibir condutas fraudulentas e preservar a segurança jurídica nas
operações de crédito, com penalidades severas para aqueles que o praticam.

2.3 ABUSO DE INCAPAZ

Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão


ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem,
induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico,
em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

O artigo 173 do Código Penal Brasileiro é um dispositivo legal que aborda o crime de
abuso de incapazes. Ele estabelece que é crime abusar, em proveito próprio ou alheio, da
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outra
pessoa, induzindo qualquer um deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em
prejuízo próprio ou de terceiro.

Esse artigo visa proteger indivíduos considerados incapazes, como menores de idade,
pessoas com alienação mental ou debilidade mental, que se encontram em uma posição de
vulnerabilidade em relação à compreensão das consequências de seus atos.

O abuso de incapazes ocorre quando alguém se aproveita da situação de fragilidade e


vulnerabilidade dessas pessoas para obter benefícios indevidos ou causar danos, manipulando
suas necessidades, paixões, inexperiência ou condição mental debilitada. Isso pode ocorrer,
por exemplo, quando alguém se aproveita da ingenuidade de um menor para ludibriá-lo a
praticar um ato que resulte em prejuízo material ou moral, seja para si mesmo ou para
terceiros.

A prática desse tipo de crime revela uma conduta abusiva, caracterizada pelo
aproveitamento da incapacidade do outro para fins egoístas ou prejudiciais. É uma afronta à
dignidade e aos direitos fundamentais das pessoas incapazes, que merecem ser protegidas e
respeitadas em sua condição vulnerável.

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O artigo 173 do Código Penal busca coibir essa conduta criminosa e impor
penalidades aos responsáveis por esses abusos. As penalidades previstas variam de acordo
com a gravidade do caso, considerando as circunstâncias específicas e os danos causados. O
juiz responsável pela análise do processo estabelecerá a pena adequada dentro dos limites
previstos na legislação.

2.4 INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO

Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da


simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo
ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo
saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

O Artigo 174 do Código Penal Brasileiro aborda a questão do abuso da inexperiência


ou da simplicidade ou inferioridade mental de outra pessoa com o objetivo de obter vantagem
pessoal ou para terceiros. Especificamente, esse artigo se refere a situações em que alguém é
induzido a participar de jogos, apostas ou especulações com títulos ou mercadorias, sabendo
ou devendo saber que tais operações são prejudiciais.

O cerne deste artigo reside na proteção dos indivíduos vulneráveis, que podem ser
facilmente explorados devido à sua falta de conhecimento ou habilidades específicas, bem
como à sua ingenuidade ou limitações mentais. A lei reconhece que tais pessoas estão em
desvantagem em relação àqueles que têm conhecimento e experiência nessas áreas, e busca
coibir o abuso dessa situação para evitar danos financeiros e emocionais.

O primeiro elemento do crime abordado pelo Artigo 174 é o abuso da inexperiência,


simplicidade ou inferioridade mental de outra pessoa. Isso implica na exploração consciente
ou negligente da vulnerabilidade do indivíduo, com a intenção de obter vantagem pessoal ou
para terceiros. A lei reconhece que é moralmente condenável e legalmente inaceitável tirar
proveito de alguém que não tem o conhecimento ou discernimento necessário para
compreender plenamente as implicações de suas ações.

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O segundo elemento é a indução da pessoa a se envolver em jogos, apostas ou
especulações com títulos ou mercadorias. Essas atividades são mencionadas especificamente
no artigo, pois são conhecidas por serem arriscadas e podem levar a perdas financeiras
significativas. A lei busca evitar que pessoas menos experientes ou com limitações mentais
sejam atraídas para essas práticas enganosas por meio de artifícios e manipulações.

Por fim, o artigo estabelece que o infrator deve saber ou pelo menos deveria saber que
a operação em questão é ruinosa. Isso significa que a pessoa que abusa da vulnerabilidade
alheia não pode alegar desconhecimento sobre os riscos envolvidos na atividade em que induz
o indivíduo a participar. O conhecimento da rugosidade da operação pode ser comprovado por
meio de informações objetivas e acessíveis ao infrator no momento da indução.

2.5 FRAUDE NO COMÉRCIO.

Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou


consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou
deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de
metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de
menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal
de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.

O Artigo 175 do Código Penal Brasileiro aborda o crime de enganar o adquirente ou


consumidor no exercício de atividade comercial. Esse artigo busca proteger os consumidores
contra práticas desonestas por parte de comerciantes, estabelecendo as condutas criminosas e
suas respectivas penalidades.

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O Inciso I do Art. 175 descreve a primeira forma de engano, que consiste em vender
mercadoria falsificada ou deteriorada, apresentando-a como verdadeira ou perfeita. Essa
conduta visa ludibriar o consumidor, levando-o a adquirir um produto que não corresponde às
características alegadas pelo vendedor. Nesses casos, os comerciantes vendem mercadorias
adulteradas, falsificadas ou em estado de deterioração, enganando os consumidores quanto à
sua qualidade. A pena para essa conduta é de detenção, variando de seis meses a dois anos, ou
multa.

O Inciso II do artigo aborda outra forma de engano, na qual o comerciante entrega


uma mercadoria diferente daquela que foi acordada com o consumidor. Isso ocorre quando o
vendedor substitui a mercadoria originalmente combinada por outra, sem o conhecimento ou
consentimento do comprador. Essa ação enganosa visa obter vantagens financeiras indevidas
às custas da confiança do consumidor. A pena estabelecida é a mesma do Inciso I, ou seja,
detenção de seis meses a dois anos, ou multa.

O §1º do Art.175 trata de uma situação específica relativa à alteração da qualidade ou


peso de metal em uma obra encomendada. Também menciona a troca de uma pedra
verdadeira por uma falsa ou de menor valor, bem como a venda de falsas como se fossem
verdadeiras. Ainda fala da venda de metal de tipo inferior como se fosse precioso. Essas ações
são mais graves, resultando em uma pena de reclusão, que varia de 1 a 5 anos, além de multa.

O § 2º do Art. 175 estabelece que é aplicável ao crime descrito neste artigo o disposto
no art. 155, §2º. Isso significa que as disposições referentes ao furto qualificado são aplicáveis
​ao crime de enganar o adquirente ou consumidor no exercício de atividade comercial, caso
ocorram circunstâncias que qualificam o delito.

Em resumo, o Artigo 175 do Código Penal Brasileiro tem o objetivo de proteger os


consumidores de práticas comerciais desonestas. Ele criminaliza a venda de mercadorias
falsificadas ou deterioradas como se fossem verdadeiras ou perfeitas, bem como a entrega de
mercadorias diferentes das acordadas. Além disso, o artigo aborda a alteração de qualidade ou
peso em obras encomendadas e a venda de pedras falsas ou metais de qualidade inferior como
se fossem autênticos. Essas condutas são punidas com detenção ou reclusão, dependendo da
gravidade do engano, além de multa. A legislação busca garantir a confiança nas relações
comerciais e proteger os consumidores de práticas fraudulentas.

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2.6 OUTRAS FRAUDES.

Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou


utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o
pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz
pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

O Artigo 176 do Código Penal Brasileiro trata do crime de tomar refeição em


restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem ter recursos
financeiros para efetuar o pagamento. Esse artigo visa coibir condutas de pessoas que, de
forma consciente, se utilizam de serviços de estabelecimentos comerciais sem a capacidade de
arcar com os custos.

De acordo com o artigo, a pena estabelecida para esse crime é de detenção, variando
de quinze dias a dois meses, ou multa. Isso significa que o infrator pode ser condenado a
cumprir pena de prisão por um período determinado ou pagar uma quantia em dinheiro
estipulada pelo juiz.

É importante ressaltar que o crime previsto no Artigo 176 só pode ser processado
mediante representação. Isso significa que a vítima ou o estabelecimento comercial
prejudicado deve apresentar uma queixa formal às autoridades competentes para que o
processo criminal seja iniciado. Sem a representação da parte lesada, o crime não é passível
de punição.

Além disso, o parágrafo único do artigo menciona que o juiz, de acordo com as
circunstâncias do caso, tem a possibilidade de deixar de aplicar a pena. Isso significa que o
juiz pode considerar fatores como a situação financeira do infrator, a existência de eventual
arrependimento, a reparação do dano ou qualquer outra circunstância relevante para decidir
sobre a aplicação da pena. Essa é uma medida que visa proporcionar um tratamento mais
adequado e justo diante das peculiaridades de cada caso.

Em síntese, o Art. 176 do Código Penal tem o propósito de coibir comportamentos nos
quais pessoas se utilizam de serviços de estabelecimentos comerciais, como restaurantes,
hotéis ou meios de transporte, sem possuírem recursos financeiros para efetuar o pagamento.

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Essa conduta é considerada crime e pode resultar em detenção ou multa, desde que
haja a representação por parte da vítima. O juiz, considerando as circunstâncias, tem a
possibilidade de não aplicar a pena, levando em conta diversos aspectos do caso em questão.

2.7 FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADE


POR AÇÕES

Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em


prospecto ou em comunicação ao público ou à assembléia, afirmação falsa sobre
a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui
crime contra a economia popular.
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a
economia popular:
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em
prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao público ou à
assembléia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou
oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove falsa cotação;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em
proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia
autorização da assembléia geral;
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da
sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em
penhor ou em caução ações da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com
este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou
conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a
funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa
informação ao Governo.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, e multa, o
acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para outrem, negocia o voto
nas deliberações de assembléia geral.

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O crime de Fraudes e abusos na fundação ou administração de uma sociedade por ações
ocorre quando uma pessoa, durante a criação ou administração de uma sociedade por ações,
comete fraudes ou abusos para obter vantagens indevidas. Isso pode incluir falsificação de
documentos, manipulação de informações contábeis, ocultação de ativos ou passivos, desvio
de recursos, entre outros atos ilícitos que visam prejudicar a sociedade, seus acionistas ou
terceiros interessados. No artigo 177 do Código Penal, se trata do crime de falsidade
ideológica, estabelece que é crime inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
deveria ser escrita em documento público ou particular, com o objetivo de prejudicar direito,
criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Essa conduta pode
estar relacionada à prática de fraudes na fundação ou administração de uma sociedade por
ações, como a manipulação de informações financeiras e contábeis, tendo pena de reclusão,
podendo ser de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia
popular.

2.8 EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT"

Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo


com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

A emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant" é por sua vez um crime


que se refere à emissão indevida de um documento chamado "warrant" ou conhecimento de
depósito, que é utilizado para comprovar a existência de um bem depositado em determinado
local. A emissão irregular desse documento ocorre quando alguém o emite falsamente, sem
que o bem tenha sido efetivamente depositado ou quando não se tem autorização para fazê-lo.
É uma forma de fraude que pode ser utilizada para enganar terceiros, obter crédito ou
manipular transações comerciais.

O artigo 178 do Código Penal trata do crime de Falsificação de Documento Público.


Ele estabelece que é crime fabricar, falsificar, alterar ou emitir documento público falso, com
o objetivo de usá-lo como verdadeiro ou para fins fraudulentos. Esse tipo de conduta pode
estar relacionado à emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant", onde docu-

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mentos falsos são emitidos para representar a existência de mercadorias armazenadas em
depósito ou para fins de garantia de um empréstimo e com pena de reclusão, de um a quatro
anos, e multa.

2.9 FRAUDE À EXECUÇÃO

Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou


danificando bens, ou simulando dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo Único - Somente se procede mediante queixa.

O crime de fraude à execução ocorre quando uma pessoa age de forma fraudulenta
para evitar o cumprimento de uma execução judicial, que é o processo pelo qual os bens de
um devedor são utilizados para pagar uma dívida. Nesse caso, o indivíduo tenta ocultar ou
transferir seus bens de forma ilícita, com o objetivo de evitar que sejam utilizados para
satisfazer o credor. Essa prática prejudica a efetividade do processo judicial e pode resultar em
sanções legais. Ainda no artigo 179 do Código Penal trata do crime de Fraude à Execução.

Ele estabelece que é crime realizar atos fraudulentos com o objetivo de prejudicar a
execução de uma dívida ou evitar que os bens do devedor sejam utilizados para satisfazê-la.
Essa conduta pode incluir a venda ou transferência de bens para terceiros, constituição de
ônus ou gravames sobre os bens ou a simulação de dívidas. A fraude à execução pode estar
relacionada a casos em que há a tentativa de evitar o pagamento de dívidas por parte dos
responsáveis pela administração de uma sociedade por ações. A pena desse crime é a
detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Procede somente mediante queixa.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL, Senado Federal. Código PENAL


GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Especial, Volume III | Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2015.
“Estelionato: classificação doutrinária.” Jusbrasil, https://www.jusbrasil.com.br/artigos/
estelionato-classificacao-doutrinaria/437247547.

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