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Direito Penal IV – Prof.

Hermann Herschander – 01/10

Art. 244 – Continuação

Tipo objetivo: O tipo penal prevê três condutas:

A) Deixar sem justa causa de prover a subsistência da vítima: Subsistência


são os meios necessários para a pessoa sobreviver, ou seja, alimentação, vestuário,
saúde. Não inclui diversão, educação etc.

- São os meios necessários apenas à sobrevivência.

B) Deixar de socorrer ascendente ou descendente gravemente enfermo: Já


vimos quais são as vítimas do crime. Quando se refere a ascendente ou
descendente, a lei fala em deixar prestar socorro para afastar a enfermidade grave.
A lei não pune aquele que deixa de socorrer vítima que sofre de enfermidade leve.

C) Deixar de pagar pensão alimentícia fixada judicialmente: A lei criminaliza o


não pagamento de pensão alimentícia em sua integralidade. Portanto, o devedor de
alimentos é obrigado a pagá-la inteira, sem distinguir a finalidade desse pagamento

O par. único prevê ainda a conduta de abandonar emprego para deixar de


recolher a pensão alimentícia.

Em todas as condutas, só haverá crime quando o agente as pratica "sem


justa causa". Por isso, quando houver justa causa para deixar de suprir a
subsistência, ou deixar de socorrer, ou deixar de pagar a pensão, não haverá crime.

Exemplo: O agente se torna insolvente, impossibilitado de agir.

- Em todas as suas formas, o crime é omissivo próprio. Ou seja, o tipo penal


descreve uma omissão

Tipo subjetivo: É o dolo, a vontade de se omitir ciente de que tinha o dever


de agir.
Consumação: O crime se consuma quando o agente deixa de agir, devendo
agir. Trata-se de crime permanente (a sua consumação se prolonga no tempo) pois
enquanto ele não assistir à vítima, o crime continua se consumando.

- O crime não admite tentativa (nenhum crime omissivo próprio a admite); ou


o agente se omite, e o crime está consumado, ou ele atua e não há crime.

Art. 249 – Subtração de Incapazes

É crime contra o poder parental, a tutela ou a curatela.

Sujeito ativo: É qualquer pessoa, inclusive o pai ou mãe (desde que


destituídos da guarda do menor).

Exemplo: O cônjuge separado ou divorciado subtrai o filho que estava sob a


guarda, judicialmente estabelecida, do outro cônjuge.

- Isso está expressamente previsto no § 1º.

Sujeito passivo: É a coletividade e, também, o menor subtraído ou a pessoa


submetida a tutela ou curatela.

Tipo objetivo: A conduta é subtrair, ou seja, levar sem autorização de um


lugar para outro.

- A concordância do menor ou do interdito é irrelevante; ela afasta o crime,


pois a incapacidade torna essa concordância inválida.

- Se o agente não subtrair, mas induzir o menor a fugir de quem tem a guarda
dele, o crime será outro, a do art. 248 do CP.

Tipo subjetivo: É o dolo genérico (não se exige nenhuma finalidade


específica do agente). Se, por exemplo, a finalidade for propiciar uma vida melhor
para o menor, o crime continuará existindo.
Consumação: O crime se consuma com a subtração do menor. O crime é
permanente: enquanto o menor não for devolvido, o crime estará se consumando.

O crime é expressamente subsidiário (a pena é aplicada "se o fato não


constitui elemento de outro crime”).

Exemplo: Se a finalidade for privar da liberdade o crime será sequestro (art.


148) e não este. Ou, se a finalidade for exigir dinheiro para resgate, o crime será
extorsão mediante sequestro (art. 159) etc.

Perdão judicial: É uma hipótese em que a lei autoriza o juiz a não impor
pena, é causa extintiva da punibilidade.

- A lei permite o perdão judicial (§ 2º) se o menor for restituído pelo agente
sem ter sofrido maus tratos.

TÍTULO VIII
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA

Art. 250 – Incêndio

O crime de incêndio é um dos crimes de perigo comum (coloca em risco


número indeterminado de pessoas) ao lado, por exemplo, dos crimes de explosão
(art. 251) ou de uso de gás tóxico ou asfixiante (art. 252)

Os crimes de perigo comum consumam-se com a mera ocorrência do risco,


independentemente da ocorrência do resultado danoso.

- O objeto jurídico é incolumidade (a condição de não sofrer lesão) pública.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa.

Sujeito passivo: A coletividade e os titulares dos bens em perigo.


Tipo objetivo: A causar, ou seja, provocar, dar causa ao incêndio. Não basta
haver o incêndio para o crime se configure, é preciso que ele exponha a perigo a
vida ou a integridade física ou o patrimônio de número indeterminado de pessoas.

O perigo é concreto, ou seja, é preciso ser provado. Isso se fará


necessariamente através de uma perícia que comprove que o fogo poder ter-se
alastrado, colocando em risco outras pessoas ou bens. Esse perigo deve se dirigir a
todo um número indeterminado de pessoas.

Exemplo: O incêndio em uma casa isolada não configura este crime, pois ele
coloca em risco somente eventuais moradores. Nesse caso, poderá haver crime de
dano (ou, se ele quis matar, por exemplo, crime de homicídio, tentado ou
consumado).

Observação: Nos casos de perigo abstrato, o risco advindo da conduta é


presumido por lei como, por exemplo, dirigir embriagado. Já, no perigo concreto, o
risco deverá ser comprovado.

Tipo subjetivo: O crime é punido tanto na forma dolosa (caput) em que o


agente quer provocar incêndio, como na forma culposa (§ 2º), na qual ele não quer
nem assume o risco de causar incêndio, mas o faz por imprudência, negligência ou
imperícia.

- O dolo é de causar incêndio, provocando o risco. Se o dolo for matar


alguém, ou lesionar, ele responderá por homicídio (tentado ou consumado) ou
lesões corporais (tentadas ou consumadas), que absorvem o incêndio.

Consumação: Ocorre quando se verifica a situação de perigo comum, a


tentativa é admissível.

Exemplo: O agente coloca fogo num local onde ele pode se alastrar,
causando perigo comum, mas o fogo é extinto antes que ocorra esse perigo. Nesse
caso, ele responde por tentativa.
Formas majoradas (aumento de pena de 1/3 descrito no § 1º):

I – Intuito de obter vantagem pecuniária: Ex: o agente quer demolir a


própria casa, e ao invés disso, para poupar dinheiro, incendeia.

Observação: se o agente incendeia o bem para obter seguro, o crime não é


este, mas sim a fraude contra seguro, que é uma forma de estelionato (art. 171 par
2o, V do CP).

II – Incêndio incêndio em determinados lugares, onde o perigo é mais


acentuado

Formas qualificadas dos crimes de perigo comum (inclusive incêndio) -


art. 258: São crimes qualificados pelo resultado:

A) Se o crime é doloso e resulta lesão corporal grave ou morte, o aumento é


de metade ou o dobro

- Neste caso, não há dolo de matar nem de ferir. O crime é preterdoloso (dolo
na conduta antecedente e culpa no resultado subsequente).

Exemplo: O agente tem dolo de causar incêndio (e não de ferir ou matar),


mas a sua conduta acaba provocando a morte ou lesões graves em alguém

Exemplo²: O agente querendo apenas provocar incêndio põe fogo numa


casa, sem verificar se havia alguém ali, supondo ele que não havia. No entanto, uma
pessoa estava lá e sofre lesão grave ou morre

- Dolo no antecedente incêndio e culpa no resultado subsequente lesão grave


ou morte. Ele receberá a pena do incêndio aumentada.

B) Se o crime de perigo comum é culposo e resulta, também culposamente


lesão grave ou morte o aumento será menor.

Observação: Em nenhuma hipótese do art. 258 há dolo no resultado lesão


grave ou morte, porque se houver, o agente responde por lesão corporal grave (art.
129 par. 1 e 2) ou homicídio qualificado (art. 121 par. 2)
Art. 267 – Epidemia

Sujeito ativo: Qualquer pessoa.

Sujeito passivo: A coletividade e as pessoas infectadas.

Tipo objetivo: A conduta é causar (epidemia) mediante propagação de


germes patogênicos.

Epidemia é uma doença que surge rapidamente e acomete simultaneamente


grande número de pessoas (epidemia é uma espécie de pandemia; pandemia é a
epidemia que se alastrou por vários países).

Patogênico é aquilo que causa doença. São germes aptos a causar doença.
Causar é dar causa, provocar. Não se trata do agente infectado durante pandemia
em curso e que, dolosa ou culposamente, transmite a doença para uma ou mais
pessoas.

– É o agente que, numa situação de epidemia ainda não estabelecida


concretamente, causa esse estabelecimento, propagando os germes.

Consumação: O crime se consuma quando ocorre a epidemia, ou seja,


quando se contamina grande número de pessoas. Podendo ser cometido por
omissão, isto é, quando o agente, tendo o dever de evitar o resultado, se omite. A
tentativa é possível na forma dolosa (crimes culposos não admitem tentativa).

Exemplo: O agente sabendo que tem um vírus altamente transmissível, quer


ou assume o risco de difundi-lo (dolo direto ou eventual) e vai a um estádio cheio.
No entanto, a epidemia não ocorre. Ele responde por tentativa.

Elemento subjetivo: Pune-se o crime tanto na forma dolosa (caput) como na


forma culposa (§ 2º, em que o agente causa a epidemia por imprudência,
negligência ou imperícia).
Crime qualificado pelo resultado morte (§ 1º): É a hipótese em que o
agente dolosamente provoca a epidemia e ao menos uma pessoa vem a morrer.

Essa qualificadora só aplica à epidemia dolosa, pois o § 1º se refere apenas


ao caput (epidemia dolosa) e não ao § 2º (epidemia culposa)

- O crime é preterdoloso: Há dolo de causar epidemia, e a morte ocorre por


culpa. Se o agente quis ou assumiu o risco de provocar morte, ele responde por
epidemia mais homicídio.

- Na forma culposa da epidemia, não há crime qualificado pelo resultado


morte. O agente responde por epidemia culposa mais homicídio culposo.

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